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América
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31/07/2019
Num de seus textos mais famosos, o antropólogo Claude Lévi-Strauss (aquele que,
Bárbaros e Civilizados: as reações da esquerda à vitória de Donald Trump – Senso Incomum
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Commons-pepa-garcia-copie.jpg)
Escrito em 1952, o ensaio “Raça e História” fora-lhe encomendado pela UNESCO, para
integrar uma coleção de brochuras destinadas a combater o racismo, no contexto de uma Europa
do pós-guerra então traumatizada com o horror nazista, àquela altura muito fresco na memória
de todos.
Na parte em que aborda o fenômeno do etnocentrismo – a noção segundo a qual apenas o meu
grupo étnico é culturalmente pleno –, o estruturalista francês faz as seguintes observações sobre
a etimologia e a semântica das noções de bárbaro e selvagem:
“Na Antiguidade, por exemplo, confundia-se tudo o que não fazia parte da cultura grega
(posteriormente greco-romana) sob a denominação ‘bárbaro’; a civilização ocidental usaria
mais tarde o termo ‘selvagem’ no mesmo sentido. Por detrás desses epítetos, esconde-se a
mesma opinião. É provável que a palavra ‘bárbaro’ se refira, etimologicamente, à confusão
e inarticulação do canto dos pássaros, em oposição ao valor significante da linguagem
humana. E ‘selvagem’ quer dizer ‘da selva’, evocando também um modo de vida animal,
por oposição à cultura humana. Em ambos os casos, expressa-se a recusa de admitir o
próprio fato da diversidade cultural; prefere-se lançar para fora da cultura, na natureza,
tudo o que não se conforma às normas que regem a vida de quem julga.”
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De acordo com o dicionário
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Merriam-Webster de etimologia, bárbaro teria origem
Bárbaros e Civilizados: as reações da esquerda à vitória de Donald Trump – Senso Incomum
Voilá! As primeiras reações de alguns dos nossos comentaristas de esquerda à decisão soberana
do povo americano apenas confirmam aquilo que muitos de nós, aqui no Senso Incomum,
temos sublinhado: para a intelligentsia esquerdista, o não-intelectual não passa de um bárbaro
ou um selvagem.
À primeira vista, a observação pode parecer hiperbólica, mas, até o fim deste artigo, espero
convencer o leitor de que ela é mais literal do que aparenta. Tratemos, antes, de uma questão
preliminar.
Acho que ninguém tem dúvidas de que a eleição de Trump, tido por muitos na imprensa como
representante da extrema-direita (existiria, aliás, uma direita que não seja extrema aos olhos dessa
imprensa?), contrariou brutalmente as expectativas dos nossos assim chamados “especialistas”
midiáticos. Em face dessa contrariedade, muitos se deixaram tomar pela raiva. Maldito povo,
maldita democracia! – muitos pareceram pensar.
(http://sensoincomum.org/wp-content/uploads/2016/11/Lono.jpg)
Pois bem. Tendo divinizado o povo, o intelectual de esquerda, quando decepcionado, tende a
crispar-se num ou noutro de dois estados de espírito opostos, que chamaremos, grosso modo,
de demofobia (do grego, “medo do povo”) e demofilia (“amor ao povo”). Eles não são
sensoincomum.org/2016/11/10/barbaros-civilizados-esquerda-trump/ 3/19
mutuamente
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excludentes, eBárbaros
um mesmo indivíduo pode transitar de um ao outro em questão de
e Civilizados: as reações da esquerda à vitória de Donald Trump – Senso Incomum
minutos.
Há bons exemplos no Brasil de manifestações demofóbicas surgidas logo após uma decepção
amorosa – demofílica – do intelectual de esquerda com o seu povo. Vejamos dois deles: Eliane
Brum e José Celso Martinez Corrêa.
Já o velho Zé Celso – que, coitado, até hoje tenta desesperadamente chocar a burguesia, posto
que suas dionisíacas pelancas já não escandalizem sequer mocinhas de interior – afirmou em
2015 não gostar das manifestações anti-PT realizadas à época. “Falta vermelho na bandeira
brasileira” (https://www.youtube.com/watch?v=lebZbGEHgck), opinou o vetusto dramaturgo,
acrescentando que o país – referia-se ele à maioria anti-petista – estaria tomado por um “delírio
fascista”. “Porque também há fascismo popular”, explicou.
(http://sensoincomum.org/wp-
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Para o intelectual de esquerda, o homem do povo não é um sujeito situado no mesmo plano que
ele, alguém dotado de igual capacidade de agência e auto-reflexão. O homem do povo é, sempre
e em qualquer circunstância, um objeto: ora de estudo, ora de interesse, ora de pena, e ora
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também
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– eis a questão! – de raiva. O intelectual espera que o homem do povo reaja de acordo
Bárbaros e Civilizados: as reações da esquerda à vitória de Donald Trump – Senso Incomum
com certos estímulos, e fica absolutamente perplexo quando isso não ocorre, o que nos traz de
volta ao problema lévi-straussiano do etnocentrismo.
(http://cvpravc.com.br/?
ref=sensoincomum&utm_source=afiliadosensoincomum)
Chamou-me atenção especial um tipo particular de análise que a classe falante ‘progressista’
começou a esboçar assim que Trump se sagrou presidente. Caio Blinder, do Manhattan
Connection, a quem, junto com Guga Chacra, eu atribuí a notável capacidade de errar todos os
prognósticos políticos que faz (nisso eles são perfeitamente infalíveis), foi quem o expressou de
maneira mais direta, em tom virulentamente demofóbico:
“Espero dias sombrios para os EUA e para o mundo. O povo gritou de forma selvagem
contra o status quo e foi ouvido. Mas, o voto tem consequências. Americanos e resto dos
habitantes do planetinha, apertem os cintos” (ver aqui
(http://www.caioblinder.com/2016/11/09/rasgado/)).
Flávio Gordon
@flaviogordon
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Dito assim, como quem não
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quer nada, a observação poderia passar despercebida, confundida
Bárbaros e Civilizados: as reações da esquerda à vitória de Donald Trump – Senso Incomum
com mera manifestação acalorada de elitismo nova-iorquino. É também isso, mas há método
nesse elitismo.
Só fui atinar para o sentido mais profundo do que Blinder estava dizendo quando topei com
uma análise parecida, mas avançada num tom bem mais sereno e aparentemente tolerante – um
tom, dir-se-ia, mais demofílico. Achei-a no comentário da socióloga Esther Solano, co-autora de
um livrinho de apologia aos Black Blocs (já comentado aqui no Senso
(http://sensoincomum.org/2016/10/20/livro-black-blocs-esther-solano/)), e que recentemente
envolveu-se em polêmicas na televisão e no rádio. Escreveu Solano em seu Facebook:
É curioso e significativo que dois intelectuais de esquerda tenham usado a mesma palavra: grito.
Creio que esse e outros termos semelhantes serão muito repetidos daqui em diante em
referência ao voto dos americanos em Trump.
Da forma com que é empregada pelos dois comentadores, a palavra tem claramente o sentido de
algo que foi produzido de maneira reativa e desarticulada, como numa resposta mecânica a uma
situação aflitiva, quase uma interjeição. Enquanto o intelectual se expressa de maneira articulada
sensoincomum.org/2016/11/10/barbaros-civilizados-esquerda-trump/ 6/19
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auto-consciente, o povo emite um som, um ruído que lhe brota da garganta quase que à sua
Bárbaros e Civilizados: as reações da esquerda à vitória de Donald Trump – Senso Incomum
revelia. Quando vota, o intelectual fala; o povo, grita. Talvez pudéssemos acrescentar: urra,
guincha, grasna, bale etc. – produz, enfim, alguma coisa que é da ordem da natureza, não da
cultura. Alguma coisa selvagem e bárbara, como o bar-bar-bar dos infelizes não-helênicos.
A esse bicho inconsolável que grita – que “tem medo porque sente seu estilo de vida ameaçado”
(diz Solano), que “gritou de forma selvagem” (diz Blinder) –, a esquerda quer agora estender a
sua generosa mão, como um voluntário da SUIPA recolhe um cãozinho abandonado.
Resta que, se apurassem melhor os ouvidos, nossos opinadores esquerdistas notariam que isto a
que chamam de “grito” é, na verdade, expressão da vontade de indivíduos auto-conscientes. Ao
negar-lhes essa condição, o que a esquerda faz não é outra coisa que, na expressão de Lévi-
Strauss, “lançar para fora da cultura, na natureza, tudo o que não se conforma às normas que
regem a vida de quem julga”.
Para quem tenha olhos de ver, é evidente que o povo americano não está gritando na direção da
esquerda, mas, ao contrário, virando-lhe as costas e falando – falando! – do seu repúdio às
arbitrariedades que o totalitarismo esquerdista, manifesto sobretudo na polícia politicamente
correta e nas ações dos assim chamados SJW (“Social Justice Warriors”), tem imposto ao
mundo, tornando-o caótico e inseguro.
(http://sensoincomum.org/wp-
content/uploads/2016/11/dont-tread-on-me.jpg)
—————
(//sensoincomum.org/2019/03/06/revista-senso-incomum-05-compreendendo-governo-bolsonaro/)
Flávio Gordon tem 37 anos, é carioca, casado, doutor em antropologia social, escritor, tradutor e autor do blog "O Brasil e o Universo:
crônicas sobre a surrealidade política e cultural brasileira" (http://obrasileouniverso.blogspot.com.br). Twitter: @flaviogordon Facebook:
https://www.facebook.com/flavio.gordon
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31/07/2019 Bárbaros e Civilizados: as reações da esquerda à vitória de Donald Trump – Senso Incomum
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Eu já tenho uma opinião diferente sobre o mesmo fenômeno. Mas antes gostaria de citar que
desconfio de coincidências. Já identifiquei muito mais que dois "intelectuais", somente, se referindo
ao "grito das massas". Muito déjà vu pós eleições americanas. Coincidências demais, inclusive nas
palavras que expressaram lamúria e choros. Parece que todos os tais "intelectuais" receberam um
discurso pronto, para se lamuriarem e chorarem a vontade sobre ele. Um certo site, de propriedade
de um certo trio, não me deixa mentir, pois estão a todo momento 'antagonizando' a vitória de
Trump.
Isso, para mim, não leva a aceitar que esses indivíduos são "intelectuais". Acho errôneo e perigoso
continuar a taxar tais criaturas dessa maneira. Para mim, não existem dúvidas, são meramente
'puppets'. Ou na melhor (e mais realista) das hipóteses: vigaristas. A "inteligência" desses
intelectuais não é deles. Entretanto nota-se que a inteligência realmente existe. Impossível negar.
A verdadeira inteligência por trás de tamanha cultura [esquerdista] ainda não mostrou a
verdadeira face.
Não tenho previsão para o que reserva o resultado do "grito" e do futuro com Trump governando a
1º potência nuclear do mundo. Mas sinto-me estranhamente satisfeito com a vitória dele, até
mesmo pela relação que ele mantém para com a 2º potência nuclear do mundo. Afinal de contas,
sabemos do estrago que uma arma nuclear proporciona. Imaginem milhares dessas armas... nas
mãos de muçulmanos!
Obviamente que as esquerdas tinham outras intenções. E isso eu posso prever: vamos ter MUITO
trabalho para se livrar do pensamento esquerdista. A vitória de Trump é somente a vitória de uma
batalha.
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Se é ignorância, não podemos dizer que tais indivíduos são "intelectuais". E tenho certeza
que as esquerdas NÃO podem usar o crachá da ignorância, dado o histórico das suas ações.
sensoincomum.org/2016/11/10/barbaros-civilizados-esquerda-trump/ 9/19
31/07/2019 Muitas evidências inquestionáveis
Bárbaros nas suas
e Civilizados: as reações agendas.
da esquerda Asdeesquerdas
à vitória Donald Trumpde hojeIncomum
– Senso gritam, urram e
choram os seus ódios contra a humanidade. E tais ódios estão em tudo o que ela produz e
toca: livros, artigos, discursos..... e ações!
Já a maldade... bem, temos certeza de que o mundo está repleto de gênios pervertidos. E
para nós, aqui no Brasil, 13 anos foram o suficiente para testemunharmos as perversidades
e as degenerações das quais esses "intelectuais" sofrem.
Concordo. Não podemos mais dar ares de justificativa para esses degenerados. Não são
"intelectuais" coisa nenhuma! São criminosos, disfarçados. Assim como o nazismo
transformou-se em um crime de guerra, as esquerdas devem passar, também, pelo
julgamento da história.
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EG • 3 anos atrás
Excelente análise Flávio !
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29/07/2019
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31/07/2019 O siteBárbaros
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e Civilizados: as reações da Contato (http://sensoincomum.org/contato/)
à vitória de Donald Trump – Senso Incomum
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