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2018 04.

9 — CARLOS ASP GALERIA SUPERFÍCIE


03.11 CARLOS PASQUETTI
CLÓVIS DARIANO
JESUS ESCOBAR
MARA ÁLVARES
ROMANITA DISCONZI
TELMO LANES
VERA CHAVES BARCELLOS

NERVO ÓPTICO
CONCEITUALISMO E
EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70
CARLOS ASP SETEMBRO 2018 GALERIA SUPERFÍCIE TEXTO DE APRESENTAÇÃO
CARLOS PASQUETTI
CLÓVIS DARIANO
JESUS ESCOBAR
MARA ÁLVARES
ROMANITA DISCONZI
TELMO LANES
VERA CHAVES BARCELLOS

NERVO ÓPTICO ANA ALBANI


O uso experimental da fotografia e o interesse pelo potencial Em abril de 77, o grupo agora constituído por Carlos Pas-
artístico e poético da imagem – técnica, analógica, reprodutível, quetti, Carlos Asp, Clóvis Dariano, Mara Alvares, Telmo Lanes
CONCEITUALISMO E DE CARVALHO1 fixa ou em movimento – desempenharam um papel relevante
no estabelecimento de uma concepção contemporânea de arte
e Vera Chaves Barcellos lança uma publicação em forma de
cartazete colecionável, denominada Nervo Óptico. Concebido,
EXPERIMENTAÇÃO no sul do Brasil, especialmente em Porto Alegre, durante os
anos 1960 e 1970. Para alguns jovens artistas do período, em
produzido e financiado pelos próprios artistas, o Nervo Óptico
era impresso em off-set, P&B, com tiragem em torno de mil
NOS ANOS 70 sua maioria estudantes ou egressos do Instituto de Artes da exemplares, 32x22cm, destinado à distribuição gratuita e apre-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a máquina fotográ- sentado como uma “publicação aberta a divulgação de novas
fica seria empunhada para atingir o coração de um circuito forte- poéticas visuais”, tendo sido realizado em treze edições entre
04.8 — mente marcado pela tradição gráfica e pelo desejo de filiação ao abril de 1977 e setembro de 1978. A linguagem principal era a
cânone modernista, no qual um mercado (ainda) emergente pa- fotografia e a exploração tipográfica. A proposta consistia em
03.11 recia contribuir para acomodar o gosto conservador do público.
Os ecos libertários de 68 ainda reverberavam, enquanto o
que cada número/edição do cartazete apresentasse um trabalho
especialmente concebido para este veículo, realizado por um
2018 rock sacudia os corpos animados pelo espírito da contracultura. artista integrante do grupo idealizador ou convidado. Na época,
A realidade da violência imposta pelo regime militar, porém, um artigo do crítico Frederico Morais para o jornal O Globo, ao
cobrava seu preço e a liberdade crítica ou ativista da arte deveria fazer menção ao “grupo” Nervo Óptico termina por consolidar
manifestar-se por signos e linguagens cifradas. Neste cenário, a a denominação coletiva conferida aos movimentos e ações dos
ironia configurou-se como uma ferramenta potente empregada artistas assim reunidos, mesmo que cada um mantivesse uma
pelos artistas para o exercício da crítica e da desconstrução poética e uma produção específica.
de verdades estabelecidas, sendo ao mesmo tempo capaz de O campo das artes visuais/plásticas, especialmente em sua
driblar o aparato da censura vigente. Pelas margens e pelas fen- configuração moderna, é marcado pela ideia de trabalho e de
NOTAS das do sistema, os signos de uma cultura urbana cada vez mais autoria individual. A formação de grupos ou a ação em forma de
complexa manifestavam-se em proposições artísticas alinhadas coletivo geralmente é assumida enquanto estratégia temporária,
1
Historiadora da arte e mostra coletiva, sem a ao debate internacional e conectadas em redes de artistas destinada a afirmar ou difundir determinados objetivos estéti-
professora no Instituto participação de Carlos ramificadas por contatos em diferentes países latino-americanos co-políticos. O propósito de investir em uma arte de vanguarda
de Artes UFRGS. Pasquetti, na galeria da e do leste europeu. – convém lembrar que este era o termo empregado nos anos
Pinacoteca do Instituto
2 de Artes da UFRGS. Em meados dos anos 70, decididos a movimentar o circuito 70 para designar posicionamentos artísticos voltados ao expe-
Em dezembro de 1976, Em 1994 no contexto de arte, alguns artistas inquietos investiram em encontros para rimentalismo e ao debate conceitual – a partir de Porto Alegre
acontece a exposição dos estudos sobre debater a produção, as condições de exibição, as instituições e envolvia pensar e agir em uma perspectiva ampliada de trocas e
Atividades Continuadas a história do grupo,
no Museu de Arte do realiza-se a mostra o mercado. Conexões nervosas. Experimentações no estúdio intercâmbios. A produção coletiva do cartazete Nervo Óptico
Rio Grande do Sul, antológica Nervo fotográfico. Arte ambiental. Exposições coletivas. Caminhos – ainda que cada edição divulgasse o trabalho específico de um
com o lançamento do Óptico – Poéticas cruzados. Estrada. Filme Super-8. Prêmio no Salão de Artes artista – buscava atingir o duplo objetivo de aliar expressão à
Manifesto assinada Visuais, na Pinacoteca
por Carlos Pasquetti, do Instituto de Artes da Visuais. Outras conversas. Desenho também, por que não? comunicação “além fronteiras” regionais e mesmo nacionais.
Carlos Asp, Clóvis UFRGS, com obras de Mapa astral. Outro cigarro. Em fins de 1976, Carlos Pasquetti, Carlos Pasquetti, Carlos Asp, Clóvis Dariano, Telmo Lanes,
Dariano, Jesus Escobar, Carlos Pasquetti, Carlos Clovis Dariano, Carlos Asp, Jesus Escobar, Mara Alvarez, Mara Alvares e Vera Chaves também realizaram quatro expo-
Mara Alvares, Romanita Asp, Clóvis Dariano,
Disconzi, Telmo Mara Alvares, Telmo
Romanita Disconzi, Telmo Lanes e Vera Chaves Barcellos sições coletivas entre 1976 e 19782 , além de compartilharem um
Lanes e Vera Chaves Lanes, Vera Chaves propõem o evento “Atividades Continuadas” ao Museu de Arte espaço como laboratório de proposições artísticas. A expe-
Barcellos. Em janeiro Barcellos e curadoria/ do Rio Grande do Sul, concebida como uma mostra de objetos, rimentação fotográfica pode ser apontada como a tônica do
de 1977, o mesmo pesquisa de Ana Albani.
grupo, sem a presença Em comemoração
imagens, livros de artistas, textos e fotografias. Um Manifesto é grupo, mas a produção dos artistas vinculados ao Nervo Óptico
de Jesus Escobar é aos 40 do Nervo redigido e apresentado de modo performático através de uma extrapola este recorte, abrangendo livros de artista, instalações,
convidado a inaugurar Óptico, em 2016 e leitura coletiva. O texto – que também foi divulgado através da objeto, filmes em Super-8 e investindo em interferências e
o Centro Cultural em 2017 foram realizadas
Alegrete, RS, ocasião duas exposições
imprensa – argumentava em defesa de uma concepção de arte miscigenações entre linguagens, suportes e meios. Muito bem
em que realizam uma retrospectivas, no promotora do pensamento crítico, voltada à experimentação, recebida no período, especialmente entre o público especiali-
atividade urbana com Centro Cultural São aos processos e ao engajamento participante do espectador. zado, parte significativa dos trabalhos produzidos no contexto
participação do público. Paulo e na Sala dos
Em novembro deste Pomares, em Viamão/
Para os signatários do Manifesto, a produção artística não po- do grupo Nervo Óptico permaneceu nos acervos pessoais ou
ano o grupo composto RS, promovidas deria ser reduzida ao estatuto de mercadoria. Mais do que uma em poucas instituições de Porto Alegre. A presente exposi-
por Carlos Pasquetti, pela Fundação Vera crítica ao mercado (de arte) que recém ensaiava seus primeiros ção, realizada na Galeria Superfície, representa uma singular e
Carlos Asp, Clóvis Chaves Barcellos. passos no sistema artístico brasileiro, os artistas sinalizavam uma valiosa proposição de contato com essa produção dos anos 70
Dariano, Mara Alvares,
Telmo Lanes e Vera atitude cuidadosa em relação ao protagonismo do poder eco- que mantém até hoje sua potência artística e sua capacidade de
Chaves Barcellos – o nômico em um meio no qual as instituições culturais eram ainda afetar o público alta frequência e de forma radical.
mesmo que produz bastante frágeis estruturalmente.
o cartazete Nervo
Óptico – apresenta sua
produção na Galeria
Eucatexpo e, por fim,
em 1978 ocorre a última
NERVO ÓPTICO SETEMBRO 2018 GALERIA SUPERFÍCIE ANDAR TÉRREO E SUPERIOR
CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Nervo Óptico Nervo Óptico

1 Sem Título 3 Sem Título (Grupo do


Déc. 70 Sarampo)
Fotografia 1977
30 × 40 cm Fotografia
30 × 24 cm

Nervo Óptico Nervo Óptico

2 Sem Título 4 Sociedade Anônima


Déc. 70 1978
Fotografia Fotografia
30 × 40 cm 35 × 50 cm
NERVO ÓPTICO SETEMBRO 2018 GALERIA SUPERFÍCIE ANDAR TÉRREO E SUPERIOR
CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Carlos Pasquetti,
Clóvis Dariano,
5 Fernanda Cony e Mara
Álvares

Triacantho
1975/2018
Crayon e carvão vegetal
sobre impressão em
papel algodão
Políptico de 6
148 × 79 cm cada

Carlos Pasquetti e Vera Chaves Barcellos


Clóvis Dariano
6 7 Gestos
Procissão 1977
Déc. 70 Fotografia sobre
Fotografia gelatina de prata
12,5 × 18,7 cm 70 × 50 cm
NERVO ÓPTICO SETEMBRO 2018 GALERIA SUPERFÍCIE ANDAR TÉRREO E SUPERIOR
CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Vera Chaves Barcellos Vera Chaves Barcellos

8 Da Capo 10 Epidermic Scapes


1979 1977/2018
Impressão offset sobre Pigmento mineral sobre
papel papel
Livro contendo 7 Políptico de 20
páginas 25 × 30 cm cada
34 × 12,5 cm

Vera Chaves Barcellos

9 Testart I
1974
Impressão offset sobre
papel
Envelope contendo 7
páginas soltas
24 × 16 cm cada
Ed. 500

Vera Chaves Barcellos

11 One Way, Two Ways


1975
Fotografia sobre
gelatina de prata
21 × 70 cm
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CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Vera Chaves Barcellos, Vera Chaves Barcellos


Flavio Pons e Claudio
12 Goulart 15 Maras
1977/2009
On Ice Fotografia
1978 63 × 47,5 cm
Fotografia
105 × 105 cm cada

Vera Chaves Barcellos Vera Chaves Barcellos Vera Chaves Barcellos

13 14 Keep Smiling Keep Smiling 2 16 1 Estudo para Dissolução


1977 1977 da Imagem
Fotografia sobre Fotografia sobre 1977
gelatina de prata gelatina de prata Fotografia sobre
33,5 × 33,5 cm 33,5 × 33,5 cm gelatina de prata
35,5 × 25,5 cm
NERVO ÓPTICO SETEMBRO 2018 GALERIA SUPERFÍCIE ANDAR TÉRREO E SUPERIOR
CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Clóvis Dariano Clóvis Dariano Clóvis Dariano

17 18 A Parte pelo Todo A Parte pelo Todo 23 1 Castigos Corporais


1978 1978 1979
Crayon Conté sobre Crayon Conté sobre Fotografia
fotografia fotografia 42 × 45 cm
60 × 50 cm 60 × 50 cm

Clóvis Dariano Clóvis Dariano

19 20 A Parte pelo Todo A Parte pelo Todo


1978 1978
Crayon Conté sobre Crayon Conté sobre
fotografia fotografia
60 × 50 cm 60 × 50 cm

Clóvis Dariano Clóvis Dariano Clóvis Dariano Clóvis Dariano

21 22 A Parte pelo Todo A Parte pelo Todo 24 25 Castigos Corporais Castigos Corporais
1978 1978 1979 1979
Crayon Conté sobre Crayon Conté sobre Fotografia Fotografia
fotografia fotografia 40 × 30 cm 40 × 30 cm
60 × 50 cm 60 × 50 cm

Clóvis Dariano Clóvis Dariano

26 27 Sem Título, da série Sem Título, da série


"Quando o Objeto "Quando o Objeto
Cria Personagens Cria Personagens
Alegóricos" Alegóricos"
Déc. 70/2016 Déc. 70/2016
Fotografia Fotografia
67,5 × 42,5 × 3 cm 62,7 × 42,5 × 3 cm
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CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Clóvis Dariano Clóvis Dariano e


Telmo Lanes
28 Sugestão de 31
Movimentos para Um Dia Eu Volto
Ocupar Espaço 1978
1976 Fotografia
Fotografia 32 × 21 cm
Livro contendo 8
páginas
28,5 × 33 cm

Clóvis Dariano

29 Sugestão de
Movimentos para
Corpos
1976
Nanquim sobre
fotografia
Livro contendo 8
páginas
28,5 × 33 cm

Clóvis Dariano Clóvis Dariano

30 Sugestão de Espaço 32 Paisagem Sobre


para Liberdade de Paisagem – Cena de
Movimentos Mar
1976 1977
Fotografia Fotomontagem
Livro contendo 5 54,5 x 78 cm
páginas
28,5 × 33 cm
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CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Mara Álvares Mara Álvares

33 Jogo de Esconder 35 Adansônia III


em 6 Toques, da série 1977-1978
"Adansônia" Fotografia
1976 65 × 53 cm
Fotografia
45 × 43 cm

Mara Álvares Mara Álvares Mara Álvares

34 Adansônia II 36 37 Pictografias Pictografias


1977 1978 1978
Fotografia Fotografia Fotografia
46 × 43 cm 26,5 × 19 cm 26 × 18,5 cm
NERVO ÓPTICO SETEMBRO 2018 GALERIA SUPERFÍCIE ANDAR TÉRREO E SUPERIOR
CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Carlos Pasquetti Telmo Lanes

38 Sem Título 6 40 Nó no Estômago, da


1978 série "Modado"
Filme Super 8 1976
3’28’’ Tecido, madeira e
plástico
69 × 96 cm

Carlos Pasquetti Telmo Lanes

39 Espaços para 41 Senhor Simetria, da


Esconderijo série "Modado"
1973/2018 1976
Fotografia Tecido, madeira e
Díptico plástico
29 × 24 cm cada 81 × 161 cm
NERVO ÓPTICO SETEMBRO 2018 GALERIA SUPERFÍCIE ANDAR TÉRREO E SUPERIOR
CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Telmo Lanes Telmo Lanes

42 Indicção 44 Golpe de Vista no Pão-


1976 de-Açúcar
Fotografia sobre 1977
Eucatex Gouche sobre impresso
70 × 70 cm 39 × 27 cm

Telmo Lanes Telmo Lanes

43 Íntimo Exterior 45 Aventura Inerte 2


1978 1975-1977
Fotografia Giz pastel sobre
34 × 23 cm fotografia
30 × 40 cm
NERVO ÓPTICO SETEMBRO 2018 GALERIA SUPERFÍCIE ANDAR TÉRREO E SUPERIOR
CONCEITUALISMO
E EXPERIMENTAÇÃO
NOS ANOS 70

Telmo Lanes Carlos Asp

46 Transmissão Mexida 48 1 Sem Título


1975 Déc. 70/2016
Fotografia Acrílica sobre papel
Tríptico corrugado
12 × 9 cm 237,5 × 236,5 cm
16 × 13 cm
12 × 9 cm

Telmo Lanes Carlos Asp

47 Transmissão Mexida 49 Breves Memórias


1975 1976
Fotografia Caixa de papelão
Livro contendo 15 recortada com colagem
páginas e desenho
25 × 24 × 5 cm 11,5 × 11,5 × 5,1 cm
Galeria Superfície REALIZAÇÃO
Rua Oscar Freire, 240 Galeria Superfície
01426-000
São Paulo DIREÇÃO
SP Gustavo Nóbrega

CURADORIA
Gustavo Nóbrega

TEXTO/PESQUISA
Ana Albani de Carvalho

PRODUÇÃO
Luiz Pataro
Maria Júlia Braz

IMAGENS
Galeria Superfície
Fundação Vera
Chaves Barcellos

PROJETO GRÁFICO
Margem

Publicação em
ocasião da exposição
Nervo Óptico –
Conceitualismo e
experimentação nos anos
70 de 4 Setembro a 3
Novembro de 2018

© Galeria Superfície.
Todos os direitos
reservados.

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