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Família e Autismo:
Reflexões psicanalíticas com os pais de crianças autistas
Família e Autismo:
Reflexões psicanalíticas com os pais de crianças autistas
Apoio
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Família e Autismo:
Reflexões psicanalíticas com os pais de crianças autistas
2021
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FICHA CATALOGRÁFICA
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A Dissertação de Mestrado intitulada: “ FAMÍLIA E AUTISMO: REFLEXÕES
PSICANALÍTICAS COM OS PAIS DE CRIANÇAS AUTISTAS”, elaborada por
TELMA MARIA DUARTE RODRIGUES, foi apresentada e aprovada m 01 de Setembro
de 2021, perante a banca examinadora composta pela Profa Dra Hilda Rosa Capelão
Avoglia (Presidente/UMESP), Profa Dra Miria Benincasa Gomes ( Titular / UMESP) , e
Profa Dra Cristina Keiko Inafuku de Merletti (Titular/UNIB II).
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Ao meu pai, José (in memoriam), sua força mora em
mim agora
cuidado ao outro
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AGRADECIMENTOS
À Prof. Dra Hilda Rosa Capelão Avoglia, minha mestra desde a graduação, por todo
ensinamento, acolhimento, confiança e por ter acreditado na realização dessa pesquisa.
À Carla Colombo, pela imensa paciência em participar da parte mais “braçal” desse
trabalho, pela amizade, confiança e toda parceria na clínica.
À AME pelo acolhimento e aprendizado. Ao Araújo pela confiança e por toda a equipe e
amigos que fiz nessa jornada, como: Ana Carol, Claudia A., Maria Inês, Clarissa, Larissa,
Elizane, Viviane, Michele C., Dra Heloisa, Karina, Tatiana, Ana Lúcia, Márcia, Lilian e
Rodrigo.
À Ana Lúcia Rabello pela amizade, pelas trocas de conhecimento, aprendizado e por sua
leitura dedicada a esse texto.
À Michele Roman Faria, pela sua marca na minha clínica, pela sua generosidade em
ensinar e compartilhar. E por todo o grupo de estudo de Lacan, estudioso, atento, forte,
em seguidas e plena terça-feira as 7h30 (Ana Lucia, Rinalda, Dani, Cinthia, Carol,
Tomoe, Izabel, Sueli, Mario, Matheus, Samantha e Laura)
As amigas e analistas, Paula Berti, Mariana Muraro, Rita Soares e Louise Silva, em
momentos tão difíceis nessa jornada, meu trabalho não existiria se vocês não tivessem
presentes.
Aos amigos Leandro Santos, Bruno Fedri, Eduardo Costa, Eduardo Marchesi, Márcio A.
Rocha, Fábio Noda, Camila Nappi, Patricia C. Leung, Adriana Tirado, Caroline Lima,
Ximena Ortega e toda equipe da Auta de Souza, pela marca da presença de vocês, das
trocas afetivas, e do aprendizado ao longo de diferentes caminhos da vida.
À minha analista Nina Leite Araújo, por me fazer escutar esse desejo.
À Elis Ap. de Castro Souza, sem a sua presença esse trabalho não teria prazo, nem entrega.
Obrigada pela sua organização e amizade.
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RESUMO
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ABSTRACT
Rodrigues, T.M.D. (2021) - Family and Autism. Psychoanalitic reflexions with parents
of autistic children. Masters dissertation (105 pages). Graduate program in health
psychology university.
The psychoanalytic clinic of children with autistic spectrum disorder (asd) raises many
concerns and questions about the possibilities of clinical management.
The initial complaints brought to psychoanalysts by parents and/or guardians indicate the
presence of anguish and mourning feelings regarding to the loss of the ideal child, after
receiving the diagnosis as well as during the child´s treatment.
Therefore, this research aimed to analyze the monitoring of parents during the
psychological treatment of their child diagnosed with asd. This is a qualitative, descriptive
and documentary research using clinical method.
For that, 5 medical records were used, randomly selected, from an interdisciplinary clinic
in the east region of são paulo. The medical records referred to children aged between 2
and 10 years old, assisted in the period from 2014 to 2017.
The collected material was analyzed from the articulation between the contributions of
psychoanalysis and child psychiatry to the autism clinic. The analyzed results indicated
that the parents, when narrating, historicizing and subjectifying their stories and the
suffering through the diagnosis, enable the autistic child to find a place of desire in their
parents.
Psychoanalysis, being willing to listen to and welcome the "foreigners", and not
eliminating it, enables familiar aspects to produce new meanings about what was
presented so strangely.
The study made it possible to contribute to clinical and institutional practice aiming at the
development of parents´ reinterpretation of their autistic children, promoting new senses
of health for the family.
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Lista de Quadros
10
Lista de Siglas
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 15
1. INTRODUÇÃO 17
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 21
2.1. Autismo por sua origem: as cartas que apresentaram o novo olhar para o
Autismo 21
2.1.1 – O Autismo e a Medicina: do Autismo da esquizofrenia ao Transtorno do
Espectro Autista 27
2.1.2 – O Autismo pela Psicanálise: reflexões e teóricos 31
2.2.- Família e histórico social 41
2.2.1 – A família pela perspectiva da psicanálise 44
2.2.1 – Família e o filho “estrangeiro” – o Autismo 47
2.3 Clínica psicanalítica e o tratamento das crianças com TEA 50
2.3.1 - À direção de tratamento com o sujeito Autista e a família: caminhando pela
psicanálise. 52
3. OBJETIVOS 54
3.1 Geral 54
3.2 Objetivos Específicos 54
4. MÉTODO 55
4.1 Delineamento 55
4.2 Participantes 56
4.3 Local 56
4.4 Instrumentos 57
4.5 Procedimentos 57
4.5.1 Para a coleta de dados 57
4.5.2 Para a análise de dados 58
4.6 Procedimentos éticos 58
4.7 Critérios de inclusão 59
4.8 Critérios de exclusão 59
4.9 Riscos 59
4.10 Benefícios 60
5. RESULTADOS 61
5.1 Descrição dos Casos 61
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5.1.1 - Caso 1 – Os pais de Luis – “em busca de um lugar melhor, meu lugar ao sol” 61
5.1.2 - Caso 2/3 - Os irmãos – Joaquim e Manoel: vem juntos, mas separam os pais.
64
5.1.3 Caso 4 – Carlos, o menino (des)controle da mãe 65
5.1.4 Caso 5 – Max, uma quase amizade 67
6. DISCUSSÃO 69
6.1- Análise do Casos 69
6.1.1 – Caso Luis e seus pais 69
6.1.2 - Análise dos casos 2/3 – Joaquim e Manoel 72
6.1.3 - Análise dos casos 4 – Carlos 74
6.1.4 - Análise do caso 5 – Max 75
6.2 Síntese das Análises dos Casos 75
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 79
REFERÊNCIAS 80
Anexos 87
Anexo A (TCLE) 88
Anexo B (caae) 90
Anexo C (descrição dos casos clinicos) 94
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Demora
que ele (ela) vai aguentar esperar? mas nem isso se perguntam.
rachadura de uma rocha, no fundo da terra onde elas costumam ficar até
eu espero você.
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Noemi Jeffe)
APRESENTAÇÃO
psiquiatras infantis que me ensinaram sobre a questão do “não olhar” de uma criança,
quando o “olhar não está para você”, a criança pode não só estar triste ou no seu mundo
fantasioso, mas pode estar precisando de ajuda psicológica, ainda mais se houver algum
Infância e Adolescência (IPPIA), Dra. Amélia Vasconcellos, “se uma criança não brinca,
ela não está bem, o brincar é o mundo dela, a maneira dela de conversar conosco” (sic),
transcorriam desde estar com crianças que não falavam e pareciam escolher o canto da
sala para ficarem isoladas, até as que falavam, mas seu olhar não fazia laço comigo e a
brincadeira não acontecia. A força da frase ‘crianças que não brincam precisam de apoio
psicológico’ e das repetições do não brincar das crianças um desejo de saber para além
do que via foi ocasionado, concomitante com um eco, me trouxe a escolha de não ficar
apenas no IPPIA. E nesse momento, junto com a minha análise, me deparo com a
psicanálise lacaniana, um novo jeito de pensar que ainda não reconhecia em mim mesma.
(AME). Com essa Instituição pude fazer uma brincadeira no seu nome, transformando
AME em Mãe, pois foi a partir daí que iniciei a escuta do meu próprio desejo: a clínica
a gravidade e angústia do diagnóstico, necessita da escuta dos pais e familiares pois são
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esses que trazem as primeiras queixas, as observações desde os primeiros instantes que
com os pais e com o reconhecimento de quem são, ou lugares deles na relação dessa
Escrever não foi uma tarefa fácil, acredito que falar ou expressar as palavras
parecem que fazem mais sentidos. Na escrita, a inibição, o receio, os sentimentos que
dissertação de mestrado.
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1. INTRODUÇÃO
primeira observação sobre o que é Transtorno do Espectro Autista (TEA) no seu filho e
possível de ser encontrado em alguns estudos (Xavier, Marchiori, & Schwatzman, 2019).
Martão (2009) demonstra em seu estudo que alguns pais de crianças autistas, após
dificuldades de lidar com esse sofrimento marcado pela dor e luto, que ocasionam
por esse diagnóstico. Entretanto, um estudo realizado na cidade de São Paulo, revelou
que a partir da aproximação dos de pais com educadores de crianças com transtornos
deficiência ou alteração em seu filho, repercussões na vida pessoal dos pais são aparentes
cuidados por essa criança (Hurlbutt, 2011). Na maioria das vezes, quem assume o papel
de cuidador é a figura feminina, e essa costuma relatar que, após o diagnóstico, além dos
hábitos da estrutura familiar (Misquiatti, Britto, Ferreira, & Assumpção Junior, 2015).
clínico, e sua observação é dada pelos comportamentos da criança e relato dos pais e
familiares, além disso pode ser identificado na primeira infância, principalmente antes
dos 3 anos de idade e permanece pela adolescência e vida adulta (Silva & Elias, 2020).
transtorno, ocorreu pela inclusão e melhora nas bases de estudos epidemiológico com
Diagnóstico (DSM- IV, 1992) como apontado por Jerusalinsky (2012), mas ainda é uma
questão a ser discutida, pois apesar do autismo ser uma doença infantil revelada por Léo
muitas mudanças vem ocorrendo desde essa época tanto no campo do saber da medicina,
desenvolvimento de estudos sobre Genética e Neurologia que não podem ser negados,
informações tão precisas, entretanto, em 2015, entra em cena o decreto de uma lei
nacional (Lei 13.146), conhecida como Lei Brasileira de Inclusão, que autoriza as pessoas
com TEA a serem incluídas na comunidade, com todos os direitos igualitários aos dos
deficientes, tais como: vida digna, integridade física e moral, livre desenvolvimento da
(Brasil, 2019).
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Mesmo diante desse reconhecimento, o psicanalista Jerusalinsky (2012) discute
que casos de autismo podem supor uma falha na inscrição da relação da criança com a
psicanalítica é possível perceber que o filho autista se torna um enigma, sendo algo
Na clínica, quando recebemos os pais, é muito comum em seus relatos e nas suas
autismo, recaindo sobre o não saber do cuidar desse novo “filho”, pois naquele
diagnóstico nasce um novo alguém, sempre se perguntam quem causou aquele mal-estar
e tentam justificar.
isso levará, ocasionando uma frustração e uma não recompensa pelo crescimento
emocional que tanto esperavam. Mesmo assim, tendo essa percepção, falta ainda a
capacitação profissional para os cuidados com os pais dessas crianças e para a melhora
na assistência à família (Bordini; Cavichiolli; Cole; Asevedo; Machado, & Paula, 2014).
de autistas não só para apoio emocional, mas para formular leis, buscar recursos públicos,
19
Assim, no presente estudo se pressupõe que, ao escutar os pais, incluindo-os desde
(Merletti, 2016).
participação dos pais como sujeitos ativos no processo de tratamento, passaremos a seguir
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O Autismo nas crianças foi observado pela psiquiatria em 1943, como será
que vai da hipótese diagnóstica, do enigma que se instaura, questões que se estabelecem
e a necessidade de reflexão diante dos impasses e diversidades que essa entidade clínica
sugere.
Assim, cabe ao psicólogo a inserção nesse estudo, pois é esse o profissional que
intermediará tanto com o sujeito acometido com o transtorno, como na sua relação com
descrito o autismo e sua história com a Psicanálise, sendo necessário a divisão em dois
capítulo será descrito sobre a família, abrindo um subtema, no qual é incluída a família e
o estrangeiro, contando o que ocorre com a família com a chegada da insígnia psiquiátrica
que mensagens, dispositivos online e/ou e-mails nos mantém próximos e informados,
21
encontramos que ela se inicia entre cartas, não perdidas, do analista Carl Jung ao Dr.
Sigmund Freud.
Sigmund Freud, que apesar da sua bela apresentação naquele momento sobre psicose e o
caso Scherer, a sua teoria sobre autoerotismo como uma das características para explicar
um fenômeno da psicose, tinha sido negada pelo psiquiatra suíço Bleuer, pois, Bleuer
queria que Dr. Freud o ajudasse a entender o que acontecia com os casos mais graves de
esses casos, mas Bleuer a partir desse termo, cria o neologismo Autismo, retirando
“Eros”.
psíquico em um mundo de devaneio, de fantasia e sonhos, que passa a ser tão verdadeiro
com o real, que parece que ele está em outra realidade (Rutter, 1978 apud Saúde, 2019).
do eu, na qual uma parte de seu mundo era desligado, e o mundo externo também sofria
1
Ichspaltung – clivage du moi – splitting of the ego - escisión del yo – scissione dellío. Freud
denominou Spatung, termo em Alemão, como uma operação que ocasionava no fetichismo e na psicose, e
representava um mecanismo de defesa, do homem a divisão do ego, o dividir em si mesmo, mas não entre
as instancias psíquicas ego e id. (J.Laplanche e J.B.Pontalis, 1970 ).
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Os esquizofrênicos mais gravemente atingidos, os que não
têm mais contato com o mundo externo, vivem num mundo que
lhes é próprio. Fecham-se com seus desejos e suas aspirações (que
consideram realizados) ou se preocupam apenas com os avatares
de suas ideias de perseguição; afastaram-se o mais possível de
todo contato com o mundo externo. A essa evasão da realidade,
acompanhada ao mesmo tempo pela predominância absoluta ou
relativa da vida interior, chamamos de autismo (Bleuer in
Kaufmann, 1996, p. 56).
maneira que o Autismo marcou sempre presença, mesmo antes de ser uma entidade
clínica. No início era visto como “psicoses infantis” nos transtornos invasivos das
crianças. A retomada dos primeiros estudos, originou-se pela carta de uma mãe ao Leo
Mary, mãe de Donald, morava nos Estados Unidos, sabendo dos estudos do
lhe que tinha dúvidas sobre seu filho, considerando-o irremediavelmente louco. Nessa
carta, descreveu sobre a sua tristeza e frustração de não saber o porquê seu filho não
retribui seus beijos e afagos, parecendo que estava em pensamentos perdidos e a atenção
Leo Kanner, como essa demanda materna, iniciou uma observação com outras 10
1942, apresentou uma carta-resposta a Mary, ressaltando que o “novo distúrbio” era uma
uma das questões possíveis para que essas crianças sofriam seria o resultado de uma
relação fria entre o bebê e seus cuidadores, propiciada pelo distanciamento da mãe e do
Assim, em 1943, Leo Kanner (1943/1997) escreveu seu primeiro texto sobre as
da síndrome que nunca tinham sido relatas e, além disso, conseguiu distinguir as crianças
que faz com que a criança negligencie, ignore ou recuse a tudo o que estiver em seu
exterior.
um fracasso em adotar uma atitude antecipatória de impulso ao colo de seus pais, sendo
que, na clínica atual, é possível reparar que os bebês que chegam com alguns indicadores
de risco para o desenvolvimento, são hipotônicas, ou seja, tem um corpo mole que quando
se pega ao colo permanece na mesma postura, sem se mover, ficando estática. Nesse caso,
o esperado seria que o bebê acomodasse seu corpo à posição da pessoa que o carrega, o
a falante, não há diferenças, pois, a transmissão do que dizem não é para o outro, isso é
objetos com adjetivos, mas sem significados, apresentam estereotipias verbais e palavras
criadas (neologismo), usam os pronomes como referindo-se sempre a si, você e eu seriam
a mesma criança em todos os contextos. Na clínica o que é possível perceber quando essas
crianças começam a dizer os pronomes, inicialmente aparece como uma confusão, tanto
que usam o nome em terceira pessoa para se referir a si mesmo, e quando aprendem os
percepção que algo não se desenvolve nesse quesito será mais tarde um requisito de
importantes como ruídos fortes ou objetos em movimentos que são quesitos de repulsa e
desejando ansiosamente rejeitar o mundo exterior, traduziam essa rejeição pela recusa do
criança vai tomar café da manhã ou jantar, ela pede salsicha e isso é o que lhe é oferecido.
O fato interessante, é que uma mesmice vai se impondo de ambos os lados e quando
esquizofrenia, sendo que a origem dessa condição, era a resposta dos cuidados familiares
como dito anterior (Kanner, 194/1997). Dez anos depois, na obra "A fortaleza vazia",
Bruno Bettleheim (1967/1987) popularizou essa ideia, caracterizando com mais força na
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causalidade de efeito e reposta de uma má relação, pois acreditou que o Autismo seria
causado pela indiferença da mãe em relação à criança, ocasionando um mal-estar nos pais
Um ano depois que Leo Kanner publicou o seu artigo (1943/1997), o pediatra
devido a invasão nazista, acredita-se que o cuidado com o diagnóstico das crianças era
oligofrenias ou as verdadeiras psicoses (Assumpção Júnior & Pimentel, 2000), até os dias
de hoje temos essa discussão, e isso torna o Autismo um enigma e tão discutido.
Nos anos 60, o Autismo passou a ser considerado como um transtorno cerebral
afastamento da psicanálise.
foram utilizados como características fundamentais para o que seria o transtorno mais
tarde na medicina: 1) atraso e desvio sociais não apenas em função de retardo mental; 2)
início antes dos 30 meses de idade; tendo grande importância a elaboração desse quadro
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não mais como doença mental, mas como um quadro de deficiências no desenvolvimento
descreveu sobre os estudos de Hans Asperger e substituiu o termo criado por ele por
Sindrome de Asperger, como também apresentou o termo espectro. Esses dois últimos
Espectro Autista
(DSM) foi em 1952, mas a primeira vez que o termo Autismo foi utilizado no DSM
não mais como uma doença psiquiátrica, mas como um distúrbio de desenvolvimento
(Ribeiro, 2006). O termo TID foi escolhido para refletir o fato de que múltiplas áreas de
III sofre uma revisão, e se torna DSM-III-R, o termo TID ganhou raízes, sendo adotado
27
atividades e comportamentos restritos, repetitivos e estereotipados. Porém, na última
o TEA recebeu o nome de espectro (espectro), pois essa palavra ‘espectro’, explicita a
prejuízos, com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social
de 2022 (OMS, 2021) (Quadro 1), apresentará critérios diagnósticos do TEA semelhantes
ao do DSM-V (2013), sendo acrescentado outros diagnósticos, uma vez que se começou
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agrupamento dos critérios para a comunicação e sociabilidade em uma única categoria e
retrocesso do que era observado, isto é, as crianças antes do século XX, não podiam ser
loucas por serem crianças, mas agora o ser criança, abriu para a oportunidade de um
lugar do sujeito, tanto que o pequeno necessita responder aquele padrão do que se espera
29
expansivo de reconhecimento dessa não dita mais “doença”, mas um transtorno do
desenvolvimento.
Com esse avanço na elaboração e descrição desse conceito clínico, o último estudo
2020).
Já no Brasil, ainda não é possível contar com esses dados em nossas bases de
conhecido por Lei Berenice Piana (Lei 12.764) e recebeu o nome da mãe do autista, pois
provocam e três anos tarde após essa lei, alguns pais incitam o ministério público a
desenvolver e decretar outra lei nacional (Lei 13.146), conhecida como Lei Brasileira de
Inclusão, que autoriza as pessoas com Transtornos do Espectro Autista (TEA), a serem
incluídas na comunidade, com todos os direitos igualitários aos deficientes como: vida
Desta forma, esses ativistas têm um marco na luta pelos direitos dos autistas, que
registra nossa história nacional, além de garantir à educação em escolas regulares, como
a inserção no mercado de trabalho, além de ser um veículo jurídico para que familiares
30
possam acessar atendimentos em serviços de saúde especializados, em oposição aos
ofertados pela rede de saúde mental no município (Oliveira; Feldman; Couto & Lima,
2017)
uma difusão sobre essa compreensão do Autismo. Torna-se assim, necessário, abranger
quais foram as reflexões por uma revisão teórica da psicanálise em relação ao Autismo.
refletido sobre a ausência. Para as autoras Alberti e Beteille (2014), o paradoxo com
Bleuer, era que este talvez não tenha compreendido o conceito de sexualidade de Freud,
denominando, que Eros, era o investimento genital. Supor ausência, refere-se aos
fenômenos, como o do não falar, não demandar, não possuir imagem especular, diante
próprio do corpo do sujeito. O bebê ao chuchar (sugar o dedo), busca um prazer que ao
que se coloca, é que nesse período o bebê ainda não consegue diferenciar o mundo externo
do seu próprio corpo (Freud, 1915/2010). No entanto, Lacan (1973/2005) ajuda a pensar
31
que o autoerotismo, não marca a busca de algo que falta, pois ainda não existe o eu e o
No ano de 1930, Melaine Klein, analisou o caso clínico de uma criança, que supôs
Autismo. Dick, era uma criança de 04 anos, filho do colega de Klein, e ao atendê-lo,
percebeu que esse menino possuía um déficit na capacidade de simbolizar devido a uma
casos, como o de Dick e reconhecer que o Autismo estava presente. Justificou que o
cuja angústia decorria do intenso conflito entre vida e morte. Supunha, como Kanner, que
idade, tendo três fases distintas. A primeira fase, nomeou de “Autismo normal”, na qual
o bebê até a quinta semana, não perceberia a existência do outro e teria uma falta de
consciência sobre o que o agente materno lhe proporcionasse. Na fase seguinte, o bebê já
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estaria com 5 semanas, e começaria a ter uma relação com a figura materna, tendo uma
dependência para a sua satisfação e ocasionando uma relação simbiótica com essa. Com
06 meses de idade, iniciaria uma separação dessa figura, a qual buscaria completa
Entretanto, se houve a percepção e regressão por alguma questão posterior, relata que a
criança regredia a uma fase que teve muito contorno e proteção, as quais poderia ser
passar por uma fase autística normal, pois o corpo do bebê e sua mãe eram um só. Caso
colocaria em um buraco negro, fechado como uma concha. Tanto que, para Tustin, o que
fechamento e, desse modo, a atenção do psicanalista deveria ser para trabalhos com ritmos
e sensações corporais. Relata ainda, que essas crianças não sabiam distinguir objetos
culpabilização as mães, pois para ela, as mães podiam ter depressão e isso ocasionava
Donald Meltzer também relatou que todos os indivíduos quando nascem passam
do ego, o que ocasiona um interesse parcial aos objetos. Mas, o Autismo seria uma
proteção a essa não integração e, assim, o início do Autismo estaria de ordem primitiva
fundamento para a saúde. Isto é, o ser humano, para o referido teórico, nasce em um
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estado de não integração inicial, com tendências herdadas para o amadurecimento, porém
para que isso ocorra necessita de um outro. Esse outro é a mãe, que se nomeia como
percepção de espaço, tempo, corpo e realidade. Esses dois, que na verdade são um só,
que aparece no bebê e o afasta da falta de controle sobre tudo o que exterior está se
apresentando. A mãe (ou ambiente), entende o autor, como um objeto subjetivo que
[...] a encontrar realmente aquilo que ele cria, e a criar e vincular isso
com o que é real. [...] se aquilo que está sendo criado precisa ser realizado
concretamente, alguém tem que estar lá. Se ninguém estiver lá para fazer isso,
então, num extremo, a criança é autista - criativa no espaço - e tediosamente
submissa em seus relacionamentos [esquizofrenia infantil] (Winnicott, 1986/
1996, p. 39).
outro não estiver para o bebê, e não cuidar desse, o seu desenvolvimento é paralisado e
ocasiona uma doença psíquica, por defesas contra sentimentos de invasão ou contra algo
que deveria ter acontecido, mas não foi possível. Contudo, para uma mãe tornar-se
mas a presença de uma figura paterna, que suportasse tanto o estado de preocupação
materna, como desse suporte à mãe, impedindo-a de se ocupar com coisas alheias à sua
seu primeiro seminário, em 1953 conta com a experiência clínica de Melaine Klein,
destacando que Dick era uma criança que estava ali, mas que não apelava outro. A
linguagem não envolvia o seu sistema imaginário. A palavra não chegava a ele, mesmo
34
que houvesse uma insistência da analista, em dizer sobre trens, botões e lugares para ele
da estrutura clínica psicose. Mas em relação ao Autismo, apresenta uma indicação na sua
chamado esquizofrênico, algo se congela, eles costumam escutar a si mesmo, ouvir muitas
coisas, normalmente como alucinações, que podia ter um caráter vocal ou não.
linguagem. Faria (2011), nos ajuda a pensar que o que organizou o Dick não foi a
interpretação, mas o fato das palavras de Melaine Klein a Dick, terem um valor
imaginário e não simbólico, pois ao colocar os objetos para Dick, houve uma organização
imaginária que recobria o real, tendo ao mesmo tempo algo ilusório e estruturante.
Uma organização imaginária é o que Lacan teoriza quando fala sobre Estádio do
Espelho. Lacan (1949/1998) denominou o Estádio do Espelho, entre a dialética dos níveis
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de tendências vivenciadas, desconcertantes, dilaceradas de um lado diante de uma alusão
forma primordial, antes de se objetivar pela dialética da identificação com o outro, antes
1949/1998).
Mesmo que bebê ao nascer já esteja sendo falado pelos pais, diante da busca do
suas gerações (pais, avós, bisavós), como um retrato da família. Essa marca é o que Lacan,
linguagem dos pais, sendo lançado por signos, significados e significados que marcam a
comunicação humana.
responsável por esse cuidar dá aos choros, gestos, gritos, o bebê inicia sua entrada no
mundo da linguagem, notando como são as suas maneiras de chorar, o formato como é
Quinet (2016), ressalta que linguagem é a mesma para todo ser falante, como
regras e leis, pois são universais e tem relação com o significante e significado,
vem da língua materna. É a língua como idioma: português, francês, inglês. É própria do
sujeito, a partir da relação particular desse com a língua falada no lugar que nasceu e foi
criado, apresentado pelo bebê por balbucios, lalação, pela língua do tabi-ti-tabi.
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A função materna, também permite ao infante, o acesso ao simbólico, através do
Essa função materna sendo decodificadora dos gestos do bebê, traz uma marca
atravessada ao corpo do bebê e funda a linguagem, com códigos simbólicos através dos
cuidados destinados a este bebê. A linguagem tem algo de estruturante, como aquele que
resposta da articulação que o sujeito faz as suas particularidades com a lalíngua. Sugerem
que os ditos “Autistas”, tenham a voz, enquanto objeto pulsional, como uma vivência
massiva e dilacerante, sendo assim as palavras tendo um peso muito grande (Vianna, Brito
Catão (2015) acrescenta que o autista não sabe o que fazer com a voz, dessa forma
ele não entra no discurso, marcando que no Autismo falta a marca da incorporação de
uma falta.
impossibilidade que a libido tem de estabelecer como pulsão ou poder ligações com os
objetos com os quais se transferiu. Porém ressalta a importância de Laznik- Penot, para
nenhuma influência sobre o sujeito. A não entrada no tempo da alienação (S1), impede o
três tempos: no primeiro, ocorre a busca pelo objeto pulsional para dele se apoderar; no
autoeróticas ao eleger um objeto que o satisfaz, como dedo, chupeta, entre outros; e no
terceiro momento o circuito se fecha e a criança se oferece como objeto ao Outro (Laznik,
2011).
A questão, é que esse bebê nasce e com o passar do tempo parece que não ouve,
não responde e sempre está apático a tudo o que vem do externo, trazendo á àqueles que
cuidam delem um certo desamparo. Isso, afeta o desejo da mãe de, com seu olhar,
estar presente desde o nascimento, como acrescenta a autora Telles (2012). A libido,
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não ocorre no Autismo. Assim, tendo uma compreensão que no Autismo, a falha desta
2012).
de uma impossibilidade psíquica que sustente esta circulação ou por combinações dos
dois fatores. A relação com o Outro para o Autista possui um caráter totalizante, faltando
existe o S1, mas o S2 não advém, mantendo-se o S1, um sozinho no real, resultando na
ausência da falta. Os efeitos desse S1 sozinho são um grande peso carregado pelas
circunstâncias uma ausência do desejo, um Outro que não deseja, nada demanda e não
apresenta uma brecha onde possa a criança se embrenhar, onde possa oferecer algo de si.
aproxima da esquizofrenia, sendo como um estado dessa. Maleval (2017) tem oposições
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tanto a leituras sobre a ideia de que o Autismo é uma estrutura, como um estado. Esse
psicanalista retrata que o Autismo é uma maneira de ser. Podendo esse tornar um sujeito,
depois de uma escolha dolorosa e de abandono do seu mundo assegurado, para condições
de assumir atos, como: escolha profissional, a escrita de um livro e escrever um livro etc.
Grandin (2011), autista americana, que relata que sua mãe tinha distância dela, pois ela
não sabia retribuir seus abraços, o toque sensorial a produziam repulsas, não era uma
Grandin proporcionou muitos pensares e sua escrita trouxe a outros autista, uma
escuta e construção de saber sobre o autismo, trazendo amparo emocional, permitindo aos
pais e outros autistas um outro lugar no futuro que não de insígnia psiquiatra, de um além
autista, os próximos capítulos retratam sobre a família. Sobre o Autismo como um lugar
40
2.2.- Família e histórico social
10.000 anos A.C., o agrupamento se dá pela união de seres humanos, devido a laços
vão influenciar uma criança desde sua primeira infância (Rossato, Santeiro, & Barbieri,
2020).
estabelecem vínculos entre si e com os outros externos a essa casa e, com isso, vão criando
distanciem dos nossos, e de união do casal homem com a mulher de um lado (aliança) e
Desta forma, é possível pensar que a família exerce influência pelo poder
elege quem padece do sofrimento familiar – a criança assume uma posição patológica que
Na época dos nômades, a marca inicial era da teoria matriarcal, a qual a mulher
não era do lar, e tinha como responsabilidade gerar o filho e cuidar do crescimento do
grupo. O pai, e este como organizar de toda a família, denominando cada lugar dos
membros, pai, mãe e filho, veio após o século V, quando a população começou a morar
41
Apesar de lugares denominados, a criança na idade média não tinha o seu lugar
dessa criança durante a Idade Média não era controlada pela família, e a educação era
criança era tida como uma espécie de instrumento e manipulação ideológico do adulto,
ou seja, logo a criança se tornava um pequeno adulto, executando tarefas desde tenra
idade.
criança não passava pelos estágios da infância que a sociedade estabeleceu atualmente; e
no meio social, são questões que surgiram na modernidade e que ressaltam à valorização
infância. Ariès (1973/1986) também sublinhava que infância era uma particularidade que
dependia da condição econômica, social e cultural de cada criança para ser realmente
mais numerosos e significativos a partir do fim do século XVI e durante o século XVII,
com as mudanças nos costumes, tais como os modos de se vestir e a preocupação com a
educação.
grupo o chefe, marcando a era patriarcal (Engels, 1884/1984). Esse membro passa a ter
um pátrio poder, no qual o restante se submete como alienados às suas regras e ordens, e
essa organização passa a sustentar a família por séculos. O pai era o senhor de
propriedades, de bens e das leis que regulavam as relações familiares. Porém a função
que este exercia o mantinha a uma distância da ´figura do pai’ e esta acabava se tornando
42
No século XVIII, sob o discurso iluminista e a predominância do pensamento
romântico, destacando o amor entre os casais, a relação entre pais e filhos, surge um
social). Desta forma, essa mesma autora, apresenta que a palavra “família” para chegar
ao que conhecemos com o modelo nuclear, passou por três grandes períodos:
o Estado e pais.
pois esse teórico dedicou-se aos estudos da Mitologia do destino, advindas do teatro grego
psiquismo inconsciente, indicando uma nova vertente sobre o que se pode pensar sobre a
43
2.2.1 – A família pela perspectiva da psicanálise
Freud, pois sempre pensou e questionou acerca dos sintomas de suas pacientes e a relação
XIX, quando Freud introduz, na cultura ocidental cristã, a ideia de que o pai gera o filho
que será o seu assassino, e o pai morto recuperado pela vivência edipiana, como um pai
(Roudinesco, 2003).
sedução e menciona, pela primeira vez, o mito do Édipo. Por conseguinte, o homem
pai real), são transferidos por Freud para o psiquismo individual através do complexo de
Édipo, e a família pode ser compreendida como simbólica (Filho & Chaves, 2014)
está fixado na alimentação, como um modo parasitário desde os seus primeiros meses de
fundados os sentimentos mais arcaicos e estáveis que vão unir o indivíduo à família. Em
seguida, o complexo de repetição pelas sensações desses conteúdos gerados nos primeiros
44
Édipo, e marca uma estrutura, que Lacan (1938/2015) propôs que o destino de uma
criança depende da relação que se estabelece entre o sujeito e suas imagens parentais.
Desta forma, a história de cada indivíduo com sua estrutura neurótica, psicótica
ou perversa, é dada na sua base de sua pré-história como sujeito, a maneira como a trama
irá envolver e estruturar a relação com os seus pais irá ressoar na história do sujeito que
virá se constituir. Sigmund Freud (1924/2011), não desenvolveu a questão do sujeito, mas
trouxe esse conceito nas entrelinhas, quando apresentou o desejo e a trama edípica. O
mito, apresenta o impossível das relações sexuais, os desencontros e todas as teorias que
a criança conceituará desde o seu nascimento, tendo como herança o valor patogénico
encontrado nas estruturas psíquicas, tendo em vista que a inscrição fálica do pai não pode
cunhada por Lévi Strauss (1949), “mito individual”, para definir a formação de uma
estrutura subjetiva básica que confere ao sujeito uma singularidade em termos de seu
propõe como uma organização do registro imaginário, uma espécie de narrativa sobre a
qual a localização na partilha dos sexos desliza. Na teoria de Freud (1909/1990), este
“arranjo” foi designado com “romance familiar” para expressar a forma como uma
criança “inventa” os laços dados entre os membros de sua família. Assim, a criança dá
uma versão imaginária a seus pais e a suas relações, situando sua família sob o modo de
uma ficção a fim de obturar o que está na sua falta sob as relações. Desse modo, se dá, o
fundadas, portanto, no Complexo de Édipo e naquilo que se apresenta como falha, como
se passa pela tentativa do sujeito de responder ao desejo do Outro, não pode ser
45
desconsiderar as funções destacadas por Lacan como função paterna e desejo materno no
formula que que mãe e pai são funções e terão seus desejos como enigmas,
(1974/1993) deduzirá um resíduo inscrito pela opacidade da relação sexuada que lhe deu
origem, do par homem-mulher a partir do qual não se inscreve o par pai-mãe, o que
mãe, filho e irmão significa antes, ou melhor, ao mesmo tempo, constituir-se sujeito. O
estabelecidas antes mesmo de sua vinda ao mundo que este sujeito poderá encontrar seu
interessa a nós psicanalistas, é a do palco onde o drama edípico se realizou, onde o sujeito
se constitui e onde estão presentes, não propriamente as figuras parentais, mais cada
sujeito, cada função (materna e paterna) que para a cena constitui um sintoma que revela
o inconsciente.
46
2.2.1 – Família e o filho “estrangeiro” – o Autismo
e Neves (2020), a família que recebe um diagnóstico tem o custo de uma insígnia
psiquiátrica que a marcará ao longo da vida. Desta forma, escutar a família sugere acessar
a função psíquica que o diagnóstico pode assumir à medida que passou a servir como uma
barreira defensiva diante do sofrimento, do desamparo e das perdas que essa família está
vivenciando.
Martini (2019) relata que a notícia do diagnóstico gera um processo de luto, que
todas ao mesmo tempo, pois os pais se sentem diante de um grande desafio do qual
percebidos e geram mais isolamento, como também a falta de orientações a esses pais
autistas na clínica, os pais contam que desde pequenos percebiam que havia uma
pois pode ser único, mas uma incógnita que paira e traz sofrimento. Esse mal-estar,
47
provocado pelo não encontro do objeto ideal traz aos pais situações de busca acerca de
Ser um sujeito autista em uma família, retrata incertezas e dúvidas sobre acertos e
erros durante o desenvolvimento da criança, pois diante do diagnóstico, ainda não se sabe
A palavra estranho, pode ter um diálogo com o que Freud (1919/2010), trouxe
sobre o que era novo ao indivíduo, mas familiar, tendo sofrido um processo de repressão.
(...) o unheimlich é o que uma vez foi heimlich, familiar; o prefixo Un (in) é o sinal da
repressão. Por relatos, pode-se pensar que o estranho é o diagnóstico, que de certa forma
já estava familiar aos familiares de crianças autistas, pois nos relatos, sempre vão
Se o estranho esta para o Autismo, o filho como distante, ou está com a família na
mesa jantar, mas não participa, pois não fala, não interage, ou fala de outra maneira, talvez
não esteja como Freud pontuou sobre os medos e nossas repetições, mas por aquele que
pouco sabemos e sempre queremos estar aprendendo com ele, e saber sobre algo que é
dele.
palavra estranho ao se referir sobre como o filho reage aos comportamentos, as falas dos
48
pais nas entrevistas, denunciando sutilezas que há na relação entre o casal parental e a
primeira infância, e que pode ser ressignificado como estrangeiro e tem algo ao mais. A
angústia face àquilo que não é possível de ser reconhecido, mas forjado por manuais de
psiquiatria, traz aos familiares a busca por diversos serviços de saúde. Tanto que é a
família que vai se dispo a procurar pela aprendizagem, pelo cuidado pessoal, e é esta que
49
2.3 Clínica psicanalítica e o tratamento das crianças com TEA
Freud atendendo o pai do pequeno Hans e pensando na neurose de fobia que esse menino
apresentava aos 6 anos de idade, após o nascimento da sua irmã (Freud, 1909/1996).
Assim, temos que a psicanálise de crianças não se diferencia dos atendimentos de adultos,
pois ambas possuem um sujeito em questão e que apresenta uma queixa para esse
primeiro são os pais, com mais frequências, as mães. Isso ocorre, porque apesar da criança
estar demandando um atendimento, ela não consegue chegar sem que seus pais a tragam,
(Faria, 1994).
Além do fato da presença dos pais, Faria (2016) afirma que são esses que
apresentam a queixa inicial, marcam horário da consulta e pagam pelo tratamento. Para
Na clínica com crianças autistas, essa questão não apresenta diferença, porém há
a partir desse diagnóstico, ou seja: será que meu filho terá cura? Ele vai conseguir se
outro. Sendo assim, para Menés (2013 apud Merletti, 2018) “o autista, no discurso do
analista, estaria no lugar histórico da histérica, não como sujeito barrado de um saber
50
inconsciente a ser decifrado, mas como objeto que causa desejo do analista e seu trabalho
de elaboração” (p.11).
opiniões sobre se devemos afastar ou ter os pais presentes nos atendimentos com os seus
filhos. Silva (1994) conta que nos textos de Rosine Lefort, a posição é afastar o discurso
dos pais do discurso das crianças para que se possa encontrar a criança em seu próprio
discurso. Já Maud Manonni (1988) anuncia que criança e mãe podem estar em um só
Lacan (1969/2003) pontua que ao atender uma criança devemos compreender que
mesmos conceitos teóricos, mas com suas especificidades, como a escuta dos pais, pois
são esses que nos apresentam as marcas que as crianças carregam, suas primeiras
51
2.3.1 - À direção de tratamento com o sujeito Autista e a família: caminhando pela
psicanálise.
pais, uma ajuda favorável e elaboração é favorecida, e como isso poderá influenciar nos
próximos passos que a família terá que realizar (Zanon, Backes, & Bosa, 2017).
Na clínica da psicose e do Autismo isso não se diferencia, assim, o que pode estar
implicado é o medo do diagnóstico, que mudará não apenas o planejamento que os pais
silencioso que a mãe ou o pai apresentam pelo não saber do que acontece com o filho, a
parecia normal (Teperman, 2005). Assim, quando se escutam mães nas entrevistas
preliminares é comum aparecer alguns diálogos como: “quando ele era bebê, eu não sabia
52
o que acontecia, ele era molinho, não acordava nem para mamar, e muitas vezes achava
pais passarem a ter esse isolamento, evitando as relações sociais para a amenizar situações
de preconceitos com os seus filhos, porém isso sempre é relatado como um sofrimento
Na clínica psicanalítica com crianças, apesar dos pais terem que participar dos
atendimentos, escuta-se esses pais, não pelo viés da escuta de suas fantasias inconscientes,
mas de incidirmos sobre o discurso que esses pais desenvolvem sobre seus filhos. Kupfer
recuperação narcísica dos pais, os quais, diante da problemática de seu filho, chegam
Os pais têm o dever de educar e moralizar a criança e essa função exerce uma
leitura sobre o lugar que os filhos ocupam na estrutura parental, como explica Lacan
(1969/2003). Dessa forma, é importante que se crie um dispositivo para que a frequência
e a presença dos pais se estabeleçam (Silva & Rudge, 2017). Esses encontros passam a
regular efeitos do trabalho com a criança junto aos pais, não se trata se responder a
demanda sobre o que fazer? como se estivessem aconselhando esses adultos a agirem
escreve que o analista que proporciona esse dispositivo aposta em um laço particular, pois
“o analista brinca que a linguagem une e comunica, que existe algum discurso que não
3.1 Geral
54
4. MÉTODO
4.1 Delineamento
descritivo e documental, com uso do método clínico, pois os dados apresentados foram
método clínico (Campos, Alves, & Turato, 2015), embasado na teoria psicanalítica, mais
(Simom, 1993).
prontuários inativos.
acompanhados na clínica por, no mínimo dois anos, e que não tenha condução da
pesquisadora executante, que por sua vez, integra a equipe de profissionais da clínica.
55
4.2 Participantes
nas diversas áreas que a clínica dispõe, conforme descrito abaixo. Também, descreve as
Orientações Familiares.
4.3 Local
Leste de São Paulo-SP. A referida clínica constitui-se por uma equipe especializada nas
56
4.4 Instrumentos
de evolução de pacientes, estes são realizados pelas áreas separadamente, com uma
informações gerais sobre os pacientes, como nome, idade e sexo, dados familiares,
encontram dados de evolução geral, que são registros do dados gerais do caso, como
mudança de terapeuta, faltas, datas das conversas com os pais, ou seja, atualizações
4.5 Procedimentos
O arquivo dos prontuários é físico, sendo que, para a coleta foi realizado um
dos seguintes filtros para busca nos prontuários: Psicologia, Autismo, Infantil,
57
4.5.2 Para a análise de dados
categorização a posteriori dos dados encontrados nos registros dos prontuários, sendo que
Bernardo do Campo - SP, pois trata-se de uma pesquisa que sugere contato com o outro,
em duas vias, ficando uma cópia com a instituição e a outra com a pesquisadora. Os dados
58
4.7 Critérios de inclusão
apresentada, além da avaliação psicológica realizada. Outro aspecto que foi considerado
como inclusão se referiu ao fato de o caso ter sido acompanhado por psicólogos, no
mínimo por 2 anos, assim como as orientações familiares terem sido transcritas de forma
cumprimentos dos objetivos pretendidos; casos clínicos que foram atendidos pela própria
inicial.
4.9 Riscos
visto que não houve contato direto com os participantes, apenas o uso de prontuários que
foram redigidos por psicólogos que atuaram na clínica. É importante destacar que
pacientes, pais e /ou responsáveis foram identificados por nomes fictícios visando à
59
4.10 Benefícios
que tem Transtorno do Espectro Autista. Com os dados obtidos nesse estudo será
60
5. RESULTADOS
Nesta pesquisa, os casos clínicos apresentados terão ênfase nas análises das
descrições oriundas das orientações familiares, momento de escuta clínica aos pais das
crianças com diagnósticos de TEA. Primeiro, será apresentada uma breve descrição sobre
a criança e seus pais, diagnóstico clínico, motivo da queixa, por quanto tempo estiveram
na clínica e evolução. A seguir, o caso foi analisado considerando-se com algumas frases
encontradas nas descrições das orientações que estavam registradas nos prontuários. O
relato na íntegra, contendo os dados de modo mais abrangente pode ser encontrado no
Anexo C.
5.1.1 - Caso 1 – Os pais de Luis2 – “em busca de um lugar melhor, meu lugar ao sol”
Os pais de Luis o trouxeram para a clínica quando tinha 4 anos, para uma
TEA, pois com 2 anos de idade apresentou uma regressão na linguagem, deixando de
Os pais contaram que o desenvolvimento foi “normal” até 1 ano e 6 meses, porém
2
Nome fictício criado para preservar a identidade do participante
61
apareceram e poucas palavras iniciaram sua fala, ocasionando um regresso até o momento
Dentro do que diziam ser “normal”, Luis foi um bebê não planejado e na gravidez
a mãe teve problemas emocionais, necessitando ficar de repouso. Luis nasceu de parto
normal, a termo com 50 cm e 3k e 240g. Sempre foi uma criança agitada, tanto que seu
sono era muito leve e necessitava dormir com os pais, para se acalmar. Desmamou com
8 meses, pois a mãe foi trabalhar e tomou mamadeira até os três anos de idade.
controle esfincteriano ocorreu antes dos 4 anos de idade. Na linguagem, parecia tudo
normal quando bem pequeno, iniciou as primeiras palavras com 9 meses, repetia o que
diziam parecendo compreender, mas com 1 ano e 2 meses teve a primeira paralização,
depois total.
Frequentou escola com 3 anos, tendo boa adaptação, mas por ser uma criança
os amigos não era boa. Esteve por muitas escolas, sempre havia algo melhor, com mais
recursos, até o momento que os pais perceberam a necessidade de uma escola especial.
Luis era uma criança que não conseguia estar nos ambientes, o seu incomodo diante do
Na área de Psicologia, a avaliação ressaltou que Luis apesar de não falar, fazia um
som. Som esse, que parecia usar como tentativa de relação com o outro, porém era
troca.
tratamento psicológico foi realizado de 1999 a 2012, a criança mantinha uma frequência
62
assídua e seus pais, referiam a Luis como “normal”, por isso acreditavam que a questão
Luis estava em crise, e o pai sempre ajudava a psicóloga. Luis deixou de gritar, mas
passou a cuspir, porém quando cuspia, parecia que estava atento ao outro, esperando algo.
Também aumentou o vocabulário e passou a falar, mas era frequente as ecolalias, porém
preocupação com a escola, pouco se envolvia nos pedidos que a escola fazia. Os pais
pareciam estar sempre decepcionados com a escola. Mas a primeira decepção com a área
médica, ocorreu pelo pedido do exame neurológico e genético, para saber se Luis tinha
x-frágil.
como as dos tratamentos terapêuticos. O que olhavam era para as melhoras sociais, o
quanto Luis brincava com outras crianças e eram chamados para eventos.
preocupa com o que o cão vai fazendo na casa, aproximando pais, filho e cachorro num
novo cuidado.
Com esse novo olhar e situação, a mãe também se aproxima da psicóloga, pois ela
era a mais distante, e busca compreensão sobre os momentos que o seu filho se
Essa família foi embora após 11 anos de trabalho, para continuar um trabalho
63
5.1.2 - Caso 2/3 - Os irmãos – Joaquim 3e Manoel4: vem juntos, mas separam os
pais.
Joaquim e Manoel, gêmeos idênticos, com 4 anos chegaram a clínica. Seus pais
os trouxeram pois ambos não falavam, apenas gritavam, pronunciavam palavras que eram
Manoel interagia com crianças de sua classe. Permaneceram em atendimento por mais de
03 anos, tendo frequência assídua, tanto nos atendimentos das crianças como os pais nos
mudar para São Paulo, e segundo os pais sempre andavam juntos. Entre as informações
recebidas explicaram que tentaram por muito tempo ter um filho, e quando descobriram
a gravidez souberam que eram dois. A gestação foi normal e os bebês estavam em casa
Joaquim nasceu primeiro teve boa aceitação do seio, mas preferia a mamadeira, e
tomava 04 mamadeiras por dia. Na época da introdução alimentar não teve nenhuma
recusa. A informação que temos é que Manoel mamou no seio até mais tarde que o irmão,
durante um ano e 8 meses, e depois comia apenas se gostasse do que via, ou seja, a seleção
3
Nome fictício criado para preservar a identidade do participante
4
Nome fictício criado para preservar a identidade do participante
64
fraldas. Tinham um quarto separado dos pais, mas apenas com uma cama. Então, o casal
acabava por se separar e Joaquim dormia com a mãe, e Manoel, às vezes, conseguia
dormir no sofá com auxílio de seu cobertor escolhido, mas passava mais tempo com o
apresentou nenhuma reação para brincar. Teve um contato visual esquivo, gritou muito,
Manoel já teve mais contato visual, gritou muito, teve maior agitação corporal e
comportamental. Mesmo assim, apresentou iniciativa para buscar brinquedos e sabia dar
funções, jogava bola com o pé e quase em direção a psicóloga, mas sua tendência era
brincar sozinho.
Carlos tinha 4 anos de idade, quando veio para essa clínica, mas iniciou
5
Nome fictício criado para preservar a identidade do participante
65
Segundo seus pais, demorou muito para falar, em alguns momentos teve
regressão, ocasionando ecolalia. A sensação era que se apressava para falar, era muito
Na Anamnese, seus pais contaram que foi um bebê muito desejado, nasceu com
4,85 quilogramas e 3,905 m. Na alimentação não teve problema na lactância, mas como
sua mãe engravidou em seguida, houve uma interrupção e os alimentos começaram a ser
rejeitados.
Ao nascer não apresentava problemas para dormir, porém após alguns meses
um quadro de agitação para dormir. Andou com 1 ano e 2 meses. Na linguagem teve um
muitas trocas assistemáticas e fala agitada. Para a mãe de Carlos, o que mais incomodava
era o choro quando ele estava contrariado, as birras e nenhuma tolerância aos limites. Ela
exigiu um diagnóstico, como tinha feito na escola, sob a escolha da professora e que
Nas sessões de avaliação psicológica Carlos não teve resistência no contato, mas
Tinha pouco interesse pelas atividades, não tinha nenhum jogo simbólico. Gostava de ler
gibi, as histórias eram sempre lidas em voz alta, sem nenhuma interrupção e mantinha em
isolamento. Porém, a psicanalista percebeu que a história que contava era inventada e
apresentou melhora na brincadeira com o seu irmão, uma brincadeira mais com o corpo
66
5.1.4 Caso 5 – Max6, uma quase amizade
Max buscou ajuda na clínica com 1 ano e 10 meses devido a problemas após seu
nascimento. É o terceiro filho do casal, nasceu com 35 semanas e logo após seu
preocupações com o seu desenvolvimento. Por morar em outra cidade, não iniciaram os
desenvolvimento.
terapia ocupacional e fisioterapia, tendo a Psicologia em outra clínica como auxílio para
os pais e criança.
Quando estava com 4 anos, interrompe aquele atendimento psicológico dos pais
com a criança e inicia-se a psicologia sem a presença dos pais, na primeira sessão, estava
muito ansioso, não teve resistência no contato, buscou brinquedos que faziam barulhos e
músicas, jogava bola, mas não fazia um jogo compartilhado. A sua brincadeira ainda era
organizar a sua ação, pois não sabia dar função aos objetos.
estabelecer e reconhecer alguns sentimentos como feliz e triste, situações como terminar
uma atividade foram importantes pois eram pontos que desencadeavam grandes crises,
6
Nome fictício criado para preservar a identidade do participante
67
Realizou atendimento de 2003 a 2011, com frequência assídua e seus pais também
tinham boa frequência nos encontros com a psicóloga. Entretanto, apesar do bom vínculo,
Max passou a apresentar quadros mais graves, como recusa alimentar e por causa
das convulsões, algumas paralisações, devido a distância nas cidades os pais optaram por
68
6. DISCUSSÃO
depois de uma maneira integrada, pois se percebeu que há agrupamentos temáticos que
Luis e seus pais fazem parte não só de um clássico diagnóstico de Autismo, como
posição de destaque.
buscando compreender o mal-estar desses pais, como eles faziam em situações de crises,
saber dos pais sobre as crianças, acolhemos o mal-estar e os apoiamos nos seus papéis
criança.
marca de uma complementação para que o filho ficasse melhor ou que um recurso fosse
69
melhor, trazendo uma insatisfação e demanda a algo a mais que o menor merecia: será
que realmente faltava algo de melhor terapêutico? ou diante da angústia de ter um filho
momento do luto em que estão dos seus filhos, de modo que para esta família, a chance
de uma escola melhor para Luis, parece ser a possibilidade de uma cura, como foi a
Identifica-se que o investimento libidinal dos pais estava na tentativa de ver o filho
deslocadas para a instituição como incapaz, mas havia sempre um retorno a fase na qual
o filho tinha menos de 2 anos de idade e “tudo parou”, precisando ter um novo começo.
dos seus pais, ao parar de falar e se relacionar, ficou com um estranho, como um
estrangeiro.
possibilidade de maior vínculo quando, na caixa lúdica encontrou uns óculos escuros, e
conseguiu transformar esse objeto numa brincadeira, foi o objeto que marcou a entrada
possível e o estabelecimento do laço entre a psicanalista e ele. Esse objeto pode ser
ao mesmo permite o olhar em direção ao sol, permite que eu olhe com proteção ao outro,
e algo para além, é a possibilidade de estar diante da intensa claridade sem ser atingido.
70
Isto é, o quanto Luis já estava se sentindo protegido e teve um objeto para realizar apoio
presença com o outro, sem receio, sem agitação e com menos sentimentos de invasão.
Desenvolve, cuspe, gritos, que são movimentos arredios e agressivos, mas que convocam
o outro, e estabelece uma relação e a possibilidade de ser criança e seus pedidos diante
do quer.
Assim, vai trazendo aos seus pais, a possibilidade de “um lugar melhor”.
O pai de Luis inicia sua ajuda com as crises do filho, como pode ser observado na
frase:
caso, psicanalista, sustentar essa escuta, pois ao se deixar os pais voltados apenas para a
de frustração.
questiona sobre a desorganização de Luis, sobre o que podem fazer, momento em que
percebem que em uma discussão, ou quando não gostam de algo, Luis se ausenta, se
que não se desorganize tanto. Entretanto, os pais ainda apostam numa iniciativa de Luis,
71
Do início até o final desse processo, a procura por um “lugar melhor” vai se
diminuindo sendo substituído por um “conhecer” sobre o filho. Nesse casal a ferida
narcísica deixou uma marca, que provavelmente deixar de procurar o melhor para o seu
filho nunca deixarão, mas isso ressalta o que precisou ser ressignificado nessas relações.
Os psicanalistas Resende e Benincasa (2016) nos ajudam a pensar que a família que tem
Joaquim e Manoel, foram um bebê desejado por muito tempo, essa é marca do
formação dessa família. A questão é que vieram dois, e não o bebê planejado.
Quando foi pensado nos nomes fictícios para esse caso, a ideia era que um nome
conseguisse dar sequência ao outro, sem separar, pois a leitura do caso parece única.
Dados faltam na anamnese de ambos, faltam dados sobre o desenvolvimento das crianças,
na qual o leitor se pergunta, será que era tudo igual, ou era tão confuso o discurso dos
pais, a família unida que não houve tempo de questionar, sobre cada criança?
construir uma família, mas ao nascer os filhos, tiveram uma separação física. O casal
durante o tempo de análise não teve mais um romance, uma aproximação afetuosa, sendo
cada figura dedicada a um filho. Importante verificar que o bebê ao nascer tem uma
72
“Passei por muitos atendimentos psicológicos, pois me
sentia cansada, desgastada e sempre fiquei com Joaquim, tanto
que abandonei o trabalho e meus hobbys, principalmente quando
soube que era Autista....sempre soube que já existia uma
separação do meu marido” (sic – mãe).
Essa é uma família que demonstrou muito sofrimento pelo diagnóstico, pelas
identificação com o filho que mais cuidava, como a mãe também se queixava da
separação que teve do marido, devido aos cuidados que o filho demandava. Como
ressaltou a autora Hurlbutt (2011), quando a família descobre uma patologia repercussões
na vida pessoal dos pais são aparentes e significativas, principalmente, quando um dos
pais assume a responsabilidade dos cuidados por essa criança. Nessa família, ambos pais
Um grande cuidado temos que ter nessa leitura, pois um retomando as teorias do
autismo na psicanálise o autismo poderia ser instalado por essa paralisação, segundo
como podemos pensar no autismo como os gêmeos, será que é por que ao ser falado antes
do nascimento já era marcado um? Nesse sentido, recorremos a Lacan (1969) ao afirmar
estrutura familiar” (p. 369), as crianças gemelares abrigam a dificuldade do casal com o
73
6.1.3 - Análise dos casos 4 – Carlos
Esse caso clínico tem a marca de uma insígnia do Autismo, porém há um grande
questionamento se realmente era um caso de Autismo? Não é uma família que se isola,
Carlos não foi uma criança com déficit no desenvolvimento, mas na linguagem e questões
dificuldade de contato com o outro, será uma marca da dificuldade no laço social?
Seus pais tiveram poucas participações nas orientações e havia uma marca de um
grande controle no que deveria ser feito, ressaltando sintomas de agitação e dificuldade
com limites da criança. A insígnia psiquiatria também ressalta uma frustração e demarca
familiares foi trazer mais o pai para o atendimento e a mãe teve uma nova possibilidade
relações entre pais e criança e promoção de saúde na família, como a autora Merletti
74
6.1.4 - Análise do caso 5 – Max
Max, lembra a história fictícia do filme “Max e Mary: uma amizade diferente”
Como nesse caso havia duas pessoas, ou até mais na mesma sala, não houveram
encontros, laços possíveis. Os pais de Max trouxeram tantos aprendizados, falaram sobre
aprender. Entretanto, ao ler o prontuário desse caso, a sensação é que o casal, vai se
deparando dia a dia com uma novidade, com um novo saber, com um novo filho, como
um “estrangeiro”. Para o pai, Max precisava de uma rotina e ao mesmo era a criança que
controla a situação:
“ tenho que dar um chocolate todo dia, se não fizer isso, ele tem crise”.
(sic-pai).
O pai vivia contando que não era de São Paulo, e que se sentia como um
estrangeiro, e que as vezes, olhava para o filho e achava que era iguais. Ser o estranho,
como Freud nos traz, nos remete ao nosso familiar, ao nosso medo e nossas repetições,
mas ao estrangeiro faz apologia àquele que é parecido conosco, porém é de outra língua,
outros costumes, pouco sabemos e sempre estamos aprendendo com ele, e parece que
similaridade sobre como é a chegada do caso na clínica, a família sempre está presente
75
na entrevista inicial, anamnese, o diagnóstico já estava colocado, o que atravessa a
transferência, podendo as vezes, ter uma evasão ou ser negativo. Entretanto a psicanalista
momento do luto em que estão dos seus filhos, e a chegada de um novo tratamento pode
Joaquim e Manoel, gêmeos idênticos, com 4 anos chegaram a clínica. Seus pais
os trouxeram pois ambos não falavam, apenas gritavam, pronunciavam palavras que eram
comunicavam entre si, a questão era o relacionamento com o outro, e essa era a demanda
que os pais traziam a psicanalista. Max, era uma criança que chegou como Luis, os pais
tinham muita aposta nas pequenas conquistas que o menor realizava. Carlos, foi o único
que se destacou, pois nesse caso só teve a presença da figura materna no início e muitas
narcísica dos pais. Pois a problemática de seu filho ocasiona extrema angústia e
desamparo, e se o psicanalista que atende o menor, legitima e recupera esse saber dos pais
sobre a criança, o mal-estar pode ser acolhido, como o papel educativo também será
criança.
temática que é a criação de crenças nas crianças, isto é, diante de déficit, da perda das
76
autonomias de uma criança, os pais criam explicativas causalidades, ou adquirem a
inabilidades médicas e atribuem ao autismo, uma causa única, sendo hereditária ou sobre
o ambiente. Como no caso do pai de Max, que vivia contando que não era de São Paulo,
e que se sentia como um estrangeiro, às vezes, olhava para o filho e achava que eram
iguais. O pai dos gêmeos, se identifica ao que cuidava, relembrando a sua própria história
de vida. A mãe de Carlos e os pais de Luis, já estão em oposição, havia ressalvas sobre
estranhamento. Esse estranho, como reconhecido em Freud (1919/2010), não seria nada
de novo ou alheio a esses pais, pois pertence a suas angústias, através do que está em
processo de repressão. Assim, isso poderia nos ajudar a pensar sobre a diferença que faz
os casos, os que se afastaram, retornaram com alguma demanda terapêutica como: trazer
mais o pai de Carlos para o atendimento e a mãe teve uma nova possibilidade de escuta
sobre a desorganização de Luis, sobre o que podem fazer, momento em que percebem
que em uma discussão, ou crise do menor, a necessidade seria de não contenção, mas
explicação e acolhimento para que não se desorganize tanto. A mãe dos gêmeos também
os pais desde o início de chegada e tendo um acompanhamento como encontros aos pais,
78
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
o acompanhamento dos pais durante o tratamento psicológico do filho (a) autista em uma
perspectiva psicanalítica, diante da leitura de prontuários inativos foi alcançado, uma vez
que a partir da análise dos resultados, oriundos dos 5 casos clínicos expostos, verificou-
se que os pais chegam à clínica com muitas angústias e sentimentos de desamparo diante
profissional, poder acolher o mal-estar e apoiar os pais nos seus papéis educativos,
A pesquisa, também permite apontar a partir das análises que os pais ao narrarem,
possibilitam a criança autista encontrar um lugar de desejo em seus próprios pais, e poder
troca de saberes entre profissional e família, que se constituiu na marca fundamental dessa
pesquisa.
“estrangeiro”, não o elimina, e possibilita que aspectos familiares possam produzir novos
aos pais, uma vez que ficou evidente o que os estes buscam sempre por apoio, e receiam
79
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86
Anexos
87
Anexo A
88
89
Anexo B
90
91
92
93
Anexo C
94
DESCRIÇÃO INTEGRAL DOS CASOS CLÍNICOS
Caso 1 – Os pais de Luis – em busca de um lugar melhor, meu lugar ao sol
Os pais de Luis o trouxeram para esta clínica nos seus 4 anos, para uma
complementação do trabalho terapêutico que já estava acontecendo com o menor. Na
época já apresentava o diagnóstico definido como “psicose infantil”, atualmente
conhecido como TEA, pois com 2 anos de idade apresentou uma regressão na linguagem,
deixando de falar e comportamentos repetitivos.
Os pais contavam que o desenvolvimento foi “normal” até 1 ano e 6 meses dois
anos de idade, porém houve uma paralisação e, a partir disso, comportamentos repetitivos
apareceram e poucas palavras iniciaram sua fala, mas nunca mais desenvolveu,
ocasionando um regresso e total perda de comunicação com o outro.
Dentro desse normal, os pais contaram que Luis foi um bebê não planejado e na
gravidez a mãe teve problemas emocionais, necessitando ficar de repouso. Mas Luis,
nasceu de parto normal, a termo com 50 cm e 3k240gr. Sempre foi uma criança agitada,
tanto que seu sono era muito leve e necessitava dormir com os pais, para se acalmar.
Desmamou do seio com 8 meses, pois a mãe foi trabalhar, mas tomou mamadeira até os
três anos de idade. Não apresentou atrasos no desenvolvimento psicomotor, andando com
9 meses e tendo o controle esfincteriano antes dos 4 anos de idade. Na linguagem, parecia
tudo normal quando bem pequeno, iniciou as primeiras palavras com 9 meses, repetia o
que diziam parecendo compreender, mas com 1 ano e 2 meses teve uma paralização,
perdendo toda a comunicação com o outro.
Frequentou escola desde 3 anos, tendo boa adaptação, mas por ser agitado,
hiperativo não conseguia desenvolver a aprendizagem e se afastava muitos das crianças,
escolhendo os adultos para sua companhia. Entretanto, esteve por muitas escolas, pois
essas relatavam para o pai, que sempre havia algo melhor, com mais recursos. Mais ano
após ano, foram tendo frustrações com as escolas, ocasionando no final desse atendimento
a busca de uma escola especial.
Com 1 ano de idade pois acidentes com Luis modificaram a conduta com o
pequeno, o primeiro foi que ao explorar o sofá acabou caindo da janela, sem nenhuma
fratura e depois uma crise de respiração, a qual a mãe levou para o seu quarto e Luis nunca
mais dormiu longe dos pais.
Luis, era uma criança que não conseguia estar nos ambientes, o seu incomodo
diante do outro provocava agitação motora, agressão e, como resposta, apresentava
95
tendência ao isolamento. Tinha movimentos estereotipados, fazia pouco contato visual e
na linguagem havia presença de ecolalia. Os pais sabiam colocar limites
Quando chegou para o atendimento nessa clínica, foi a pedido de mais uma área
para complementar, e esta foi a terapia ocupacional. Area que identificou que Luis era
uma criança agitada, com pouca interação com a terapeuta. Em alguns momentos repetia
o que proposto, respondendo de maneira adequada, mas na maior parte do tempo ficava
alheio e ignorava a terapeuta. Sua linguagem era por ecolalia, sendo as palavras que usava
pareciam de ordens ao outro, como ‘não pode, desce, vamos guardar e coco”. Os
brinquedos exploravam de maneira repetitiva, rápida e os experimentava pela boca,
mudava constantemente de objeto, e o seu interesse era peculiar: fita crepe e água, mas
não desenvolvia nenhuma brincadeira nada com isso. Tinha prejuízo na compreensão
visio-motor e motora fina. Sabia se vestir, despir, mas não sabia ir ao banheiro.
Após essa avaliação, os pais toparam o atendimento e em poucos meses,
transferiram todos os seus atendimentos para essa clínica. Na área de psicologia, a
avaliação complementou que os comportamentos de Luis, além de estereotipados,
apresentavam uma ritualização. Luis não falava, fazia um som. Som esse parecia usar
para se manifestar com o outro, porém era incompreensível e pouco audível, sem
nenhuma possibilidade de comunicação ou de troca. Mas o trabalho se iniciou com o
objetivo de ampliar a relação e a psicóloga pareceu apostar no desenvolvimento de um
trabalho da criação de vínculo. Esse tratamento psicológico foi realizado de 1999 a 2012,
a criança tinha uma frequência assídua e seus pais, inicialmente, fizeram um trabalho
paralelo com outra psicóloga, mas durou 1 mês, pois acreditavam Luis tinha limites, eles
não tinham problemas e nem sentiam necessidade de falar, o que precisavam era procurar
escolas melhores (“Luis tem limites e não havia necessidades deles se tratarem, estavam
sobre controle, principalmente porque controlavam tudo com o olhar”, sic pais).
Porém nessa desistência, a equipe se uniu e propôs a continuidade de apoio aos os
pais, mas numa estratégia diferente, quem os ia atender era a psicóloga de Luis, de
maneira sistemática e podendo acolher as angústias dos pais, pois estava tratando do filho
deles. Essa escuta em ‘paralelo’ aconteceu junto com o atendimento de Luis por 11 anos
e resultou numa melhor construção de vínculo ao Luis, transferindo-se também aos pais,
consolidando o tratamento por tanto tempo.
Os pais percebiam que Luis gostava da clínica, e foram percebendo que quando
iam em festas, o seu vínculo era maior com as crianças, deixando de ficar tão isolado. A
queixa nesse momento era para o melhor desenvolvimento de Luis, deixando de lado a
96
escuta de suas angústias e conflitos. Os pais se referiam a Luis como normal, por isso
acreditavam que a questão era com as escolas, que não tinham recursos.
A importância de vínculo da família com a psicóloga, se percebia em sessões que
Luis estava em crise, e o pai sempre ajudava a psicóloga. Luis deixou de gritar, mas
passou a cuspir, porem quando cuspia, parecia que estava atento ao outro, esperando algo.
Também aumentou o vocabulário e passou a falar, mas era frequente as ecolalias, porém
mais contextualizadas, como em crises que dizia: “não pode abaixar a calça, não pode
cuspir, que você está cuspindo”.
Os pais continuaram a investir em escola, higiene e cuidados pessoais de Luis,
mas era percebido um distanciamento emocional. A mãe, apesar da preocupação com a
escola, pouco se envolvia nos pedidos que a escola fazia. Estavam sempre decepcionados
com a escola. Porem uma primeira decepção ocorreu com a área médica, quando foi
pedido um exame neurológico e genético, para saber se Luis tinha x-frágil. Nesse
momento, a mãe conta a psicóloga que já tinha passado pela fase inicial de rejeição, mas
que percebia o pai muito distante e que este não aceitava o filho, devido as diferenças que
ele tinha.
Porem se percebeu que os pais desqualificavam tanto as orientações da escola,
como as dos tratamentos terapêuticos. O que olhavam era para as melhoras sociais, o
quanto Luis brincava com outras crianças e eram chamados para eventos, “nos sentimos
agora tranquilo” (sic).
Descobrem que Luis não gosta só de hamburger, dão de presente um cachorro
para ele, e percebem que Luis se preocupa com o que o cão vai fazendo na casa,
aproximando dos pais nesses cuidados. Momento este, que a mãe também se aproxima
da psicologia, pois ela era a mais distante, e busca compreensão sobre os momentos que
o seu filho se desorganiza e como ela pode ajudar.
Essa família foi embora após 11 anos de trabalho, para continuar um trabalho
numa escola especial que proporcione outras terapias.
97
CASO 2 /3
Joaquim e Manoel, com 4 anos chegaram a clínica. Seus pais os trouxeram pois
ambos tinham atraso de fala, gritavam, as palavras eram soltas e isoladas, mas os pais
percebiam uma tentativa de comunicação. Como o fato que ambos se imitavam, pois os
dois batiam a cabeça quando irritados. O que os diferenciava era o relacionamento, na
escola estudavam em salas separadas e Manoel interagia com crianças de sua classe, pois
não se isolava, tentava realizar os pedidos que a professora pedia à sua maneira, mas
acabava agredindo as crianças.
Ficaram em atendimento por mais de 03 anos, com frequência assídua e seus pais
também frequentaram os atendimentos solicitados pela psicóloga.
Na entrevista de anamnese compareceram todos, pois a família tinha acabado de
se mudar para São Paulo. Nessa entrevista contaram que por anos, tentaram engravidar e
repentinamente os gêmeos vieram, a gestação foi normal e os bebês estavam em casa
depois de 10 dias.
Joaquim era o primogênito, teve boa aceitação do seio, mas preferia a mamadeira,
e tomava 04 mamadeiras por dias, na época da introdução alimentar, não teve nenhuma
recusa. Já Manoel, mamou no seio até mais tarde que o irmão, 1 ano e 8 meses, e depois
comia apenas se gostasse do que via (a seleção é pelo olhar), e tomava as 04 mamadeiras
como o irmão.
No desenvolvimento motor apresentaram atrasados iguais, andaram com 02 anos
de idade. Sempre usaram chupeta.
Sobre o controle esfincteriano, na época da entrevista com os pais, ambos irmãos
usavam fraldas. Mas Joaquim já tirava pelo incomodo e fazia fezes em qualquer lugar,
Manoel ajudava o pai a compreender que ele queria fazer coco.
Em relação ao sono, os irmãos tinham seus quartos, mas apenas uma cama. Então
o casal acabava por se separar e Joaquim dormia com a mãe, e Manoel as vezes, conseguia
dormir no sofá com auxílio de seu cobertor escolhido, mas passava mais tempo com o
pai.
98
Quanto a brincadeira, não se interessavam pelos brinquedos. Joaquim escolhia os
pregadores e gostava de separá-los, enquanto Manoel brincava com o pai de pega-pega e
esconde-esconde.
Para a avaliação psicológica, foram escolhidos horários separados como na escola,
porém com a mesma psicóloga.
Joaquim apresentou interesse pelos brinquedos, os experimentou com a boca e
não teve nenhuma reação para o brincar. Teve um contato visual esquivo, gritou muito,
apresentou autoagressão, e a brincadeira foi precária e descontextualizada, mesmo que a
psicóloga se propôs a atividade.
Manoel já tem mais contato visual, grita muito, tem maior agitação corporal e
comportamental. Mas apresentou iniciativa para buscar brinquedos e sabendo dar
funções, bola jogava com o pé e quase em direção a psicóloga, mas sua tendencia era
brincar sozinho.
Em relação as orientações familiares, mesmo que houvesse a presença de um do
casal, os irmãos estavam sempre acompanhando. O pai inicialmente, teve mais frequência
e em alguns encontros, trouxe seu pai (avô paterno dos irmãos). Essas orientações eram
baseadas em conversas sobre limite e regras de comportamento. Mas o pai, apesar da
distância que sabia ter de Joaquim, se dizia identificado com as dificuldades, pois sempre
foi uma criança e adolescente sozinho, quando cresceu lembra que só conseguia trabalhar
e depois casou. Sua afeição era por Manoel, porque esse demandava mais de si, devido a
gostar de brincadeiras com o corpo, mas pouco compreendia as suas regras e limites.
Em relação a mãe, passou por muitos atendimentos junto a psicóloga, por uma
queixa de cansaço, degaste e saber que Joaquim tinha um excesso consigo, do qual desde
que eles nasceram nunca soube como lidar, deixou seu trabalho e hobby. Não conseguiu
mais voltar, principalmente com a revelação do diagnóstico do autismo, mas percebia que
ao nascer os filhos uma separação do marido foi se estabelecendo. E que cada um, casal
tinha uma parceria com os irmãos, o ambiente acaba ficando confuso. Sentia que é de
casa e dos filhos, mas não, mas nada para si, e isso trouxe uma desorientação e angustia,
tendo o comportamento de comprar muitas coisas para o filho, a ponto de não conseguir
dinheiro para comprar a cama que colocaria cada um no seu lugar.
99
Caso 4 – Carlos, o menino (des)controle da mãe
Veio encaminhado devido a uma nova mudança de terapeutas, estava com 4 anos,
mas em atendimento psicológico desde seus 2 anos e 6 meses. Segundo seus pais demorou
muito para falar, em alguns momentos teve regressão, ocasionando ecolalia. A sensação
era que se apressava para falar, muito agitado e sempre fazia aquilo que queria.
Na anamnese, seus pais contaram que foi um bebê muito desejado, nasceu de 4,85
quilogramas e com 3,905 cm. Na alimentação não teve problema na lactância, mas por
ter tido um irmão, houve uma interrupção e os alimentos começaram a ser rejeitados.
Não tinha problemas para dormir até o momento que apresentou um quadro
respiratório necessitando ser internado e entubado. Andou com 1 ano e 2 meses. Na
linguagem teve um desenvolvimento, mas bem empobrecido, com muitas trocas
assistemáticas e fala agitada.
Para a mãe de Carlos, o que mais incomodava era o choro quando ele estava
contrariado, as birras e nenhuma tolerância aos limites. Ela exigiu um diagnóstico, como
tinha feito na escola, sob a escolha da professora e que acabou ajudando Carlos a se
acalmar e ter um melhor desempenho na aprendizagem.
Nas sessões de avaliação Carlos era uma criança tranquila, mas só colaborava se
houvesse insistência da analista. Tinha pouco interesse pelos interesses, não tinha nenhum
jogo simbólico. Gostava de ler gibi, as histórias eram sempre lidas em voz alta, sem
nenhuma interrupção e sozinho. Porém, a analista percebeu que a história que contava era
inventada e muitas vezes nem com a imagem fazia relação.
100
O pai pouco compareceu as sessões, mas quando vinha, contava que gostava de
brincar de pega-pega. Mãe nas orientações parecia sempre querer determinar o que ainda
não estava bom, mas foi apresentando um feedback mais positivo e possível de ser
escutado.
O pai inicia sua participação nas orientações e relata que tem muito do futuro.
101
Caso 5 – Max, uma quase amizade
Max chegou com 1ano e 10 meses na clinica, é o terceiro filho do casal, nasceu
com 35 semanas e logo apos seu nascimento apresentou convulsões, o que causou muitas
terapia ocupacional e fisioterapia, tendo a psicologia em outra clinica como auxilio para
os pais e criança.
psicologico dos pais com a criança e inicia-se a Psicologia sem a presença dos pais, na
primeira sessão, estava muito ansioso, não teve resistência no contato, buscou brinquedos
que faziam barulhos e músicas, jogava bola mas não fazia um jogo compartilhado.
corpo. Em muito momentos era necessário delimitar a sua ação para orienta-lo e isso as
vezes, pois a maneira como se relaciona com o outro ou com os objetos o traziam
desorganização psíquica.
102
No trabalho psicológico foi percebido uma melhora no contato, na forma de
estabelecer e reconhecer alguns sentimentos como feliz e triste, situações como terminar
uma atividade foram importantes pois eram pontos que desencadeavam grandes crises,
novo sintoma, recusa alimentar e isso era a nova preocupaçao dos pais.
também tinham boa frequência nos encontros com a psicóloga. Entretanto, apesar do bom
vínculo, as vezes o contato com o pequeno era oscilante devido a muitas indisposições
entre eles e o filho havia um objeto que não deixava eles se aproximarem.
nos encontros cada ato da criança era compreendida ou sabida pela figura paterna.
Os pais divergem muito nas situações e acabam agindo de forma diferentes. Isso
se reflete nos atendimentos ocasionando que passam a vir separadamente. Há sempre uma
justificativa por ambos os lados, mas é sempre o pai que traz sobre avanços sobre o social,
como sair, ir ao cinema, dizer que Max suporta mais o outro em lugares novos.
Para o pai, Max precisava de uma rotina e ao mesmo a criança que controla a
situação: “tenho que dar um chocolate todo dia, se não fizer isso, ele tem crise”. Sabe,
mesmo sabendo disso, às vezes, me sinto como um “estrangeiro”, pareço que nunca estou
103
P passou a apresentar quadros mais graves, como recusa alimentar e por causa das
convulsões, algumas paralisações, devido a distancia nas cidades os pais optaram por
104
105
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