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PEREIRA, Letícia R.

OS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS MÃES DE CRIANÇAS COM


DEFICIÊNCIA MENTAL E O APOIO DA ENFERMAGEM (2016) 1-13

Trabalho de
Conclusão de Curso
Trabalho de Conclusão de Curso de Enfermagem de Enfermagem

Saúde Mental

OS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS MÃES DE CRIANÇAS


COM DEFICIÊNCIA MENTAL E O APOIO DA ENFERMAGEM

The problems faced by mothers of children with mental disability and the
support of nursing

PEREIRA, Letícia R1*; BRASIL, T. G.2


1
Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Salgado de Oliveira
2
Enfermeira Especialista em Saúde Mental, Docente do Curso de Enfermagem da
Universidade Salgado de Oliveira.

Resumo – A descoberta da deficiência mental ao nascer é uma notícia preocupante, principalmente para a mãe.
O que ela vai fazer? Como vai cuidar do filho? Como a criança vai viver em sociedade? Como cuidará dos
outros filhos? Ela vai poder ter outra criança? Essa são algumas das várias perguntas que a mãe se faz quando
descobre que o seu filho nasceu com uma necessidade especial. Quando se tem o diagnóstico, o paciente
necessita do profissional para explicar a situação do filho. E esse momento é difícil tanto para o profissional
quando para a família. Por parte do primeiro, existe aquela expectativa de quando a família volta para ter mais
informação, e o profissional deseja atuar de forma competente, útil, compreensiva, acolhedora e, principalmente,
tolerante ao sofrimento da família. Objetivo: Indicar como a doença mental afeta a família, mudando a rotina,
criando novos conceitos, novas expectativas e novas realidades. Mostrar que a enfermagem tem que buscar
conhecimento necessário para esclarecer as dúvidas que passam pelo meio daquela família. Metodologia: Para
nos aproximarmos do objeto de estudo nos propomos a realizar uma revisão integrativa da literatura sobre os
problemas enfrentados pelas mães de crianças com deficiência mental e o apoio da enfermagem, abrangendo o
período de 1980-2012 na língua portuguesa e inglesa de circulação nacional e internacional. Houve uma consulta
a 20 trabalhos científicos que foram classificados em: artigos de pesquisa; artigos teóricos e/ou de revisão de
literatura; trabalhos apresentados em congressos; teses e dissertações. Analise e resultado: Os artigos foram
lidos na integra, os dados separados, agrupados, categorizados em três grupos: A Família e o deficiente mental;
O deficiente mental no meio da sociedade; Educação em saúde, e analisados a luz de um referencial teórico.

Palavras-chaves: Crianças com Deficiência Mental, Mãe e o filho deficiente metal e Enfermagem no Cuidado.

Abstract – The discovery of mental deficiency at birth is troubling news, especially for the mother. What she
will do? How are you going to take care of the son? How will the child live in society? How will you take care
of the other children? Can she have another child? These are some of the various questions the mother asks
herself when she learns that her child was born with a special need. When the diagnosis is made, the patient
needs the professional to explain the situation of the child. And this moment is difficult for both the professional
and the family. On the part of the first, there is that expectation of when the family returns to have more
information, and the professional wants to act in a competent, useful, understanding, welcoming and, above all,
tolerant to the suffering of the family. Objective: To indicate how mental illness affects the family, changing the
routine, creating new concepts, new expectations and new realities. Show that the nursing has to seek the
knowledge necessary to clarify the doubts that pass through the middle of that family. Methodology: In order to
get closer to the object of study, we propose to carry out an integrative review of the literature on the problems
faced by mothers of mentally handicapped children and nursing support, covering the period 1980-2012 in the
Portuguese and English languages of national circulation And international. There were 20 scientific papers that
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were classified in: research articles; Theoretical articles and / or literature review; Papers presented at
congresses; Theses and dissertations. Analysis and results: The articles were read in full, the data separated,
grouped, categorized into three groups: The Family and the mentally handicapped; The mentally handicapped in
the middle of society; Health education, and analyzed in the light of a theoretical framework.

Key-works: Children with Mental Disabilities, Mother and Child with Metal Deficiency and Nursing in Care.

I – INTRODUÇÃO

Deficiência: "Toda perda ou anomalia de uma estrutura ou função psicológica,


fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do
padrão considerado normal para o ser humano. " (Decreto 3.298/99). Ela manifesta-se antes
dos 18 anos e caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral
significativamente abaixo da média, com limitações associadas a duas ou mais áreas de
conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas
da sociedade. (AAMR: American Association on Mental Retardation, 1997)
Segundo Batshaw (1997):

A deficiência mental afeta 2,5 a 3% da população. Calcula-se que a deficiência


mental é 10 vezes mais frequente do que a paralisia cerebral, 28 vezes mais
prevalente do que os defeitos do tubo neural, tais como a espinha bífida e 25 vezes
mais comum do que a cegueira. A deficiência mental não parece ter preferência por
raça; contudo, aproximadamente 60% dos afetados são homens.

A descoberta da deficiência mental ao nascer é uma notícia preocupante,


principalmente para a mãe. O que ela vai fazer? Como vai cuidar do filho? Como a criança
vai viver em sociedade? Tem alguma cura? É possível alguma melhora? Como cuidará dos
outros filhos? Ela vai poder ter outra criança? Essa são algumas das várias perguntas que a
mãe se faz quando descobre que o seu filho nasceu com uma necessidade especial. Arruda
(2007), descreve que muitas dessas mães, largam o emprego, são abandonadas, afastam-se de
seus familiares, abandonam o sonho de ter outros filhos, passa por várias dificuldades
sozinha, pois tem medo de se informar sobre a doença e a causa, e de correr atrás de uma
possível melhora. É por isso que a enfermagem, uma das primeiras áreas a ter contato com
essas mães, devem saber como orientar e conversar, para que assim tire duvidas e auxilie para
uma vida mais tranquila dessa mãe e da própria criança.
Os sentimentos dos pais em relação à sua criança com deficiência constituem fatores
preponderantes para a adaptação e o bem-estar da família. As mães relataram mágoa e
sofrimento em relação à difícil situação de sua criança com deficiente mental. A culpa foi
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também relatada por essas mães, porém, com uma frequência menor. Esse sentimento foi
relatado tanto pelos pais como pelas mães, os quais se responsabilizavam pela deficiência
mental de seu filho. Em geral, as pressões vindas do meio social geram sentimentos
desagradáveis, levando os pais a limitarem as atividades culturais de seu filho deficiente, bem
como o contato com amigos, parentes e vizinhos.(VASH, 1988)
Sobre como são as reações dos pais e mães de crianças com deficiência, quando
recebem a notícia do diagnóstico, Rodriguero (2001) diz que eles têm uma reação de
sofrimento e desespero que não permite que a deficiência da criança seja aceita de imediato.
As mães ficam chocadas com a notícia e apresentam sentimentos de negação, tristeza,
resignação e revolta, além de buscarem explicações em crendices populares e de terem
expectativas de cura ou não.
Buscaglia (2006), descreve reações parecidas às anteriormente, como: confusão,
medo e desespero, considerando que isso acontece porque a notícia de deficiência é contrária
à expectativa dos pais. Para o autor, os pais, especialmente a mãe, sofrem porque não podem
apresentar ao mundo a desejada criança perfeita.
Em uma visão complementar a essa, Amaral (1995) mostra que os pais e mães têm
fantasias sobre o bebê em gestação e, quando esse bebê nasce com algum tipo de deficiência,
isso representa a “morte” da criança desejada pelos pais, que passam, então, a viver o luto da
criança desejada que não nasceu. De acordo com essa autora, quando não há a elaboração
desse luto, os pais têm grande dificuldade em aceitar o filho deficiente e, portanto, não
conseguem se relacionar com a criança real que está sob seus cuidados.
O diagnóstico da doença ou deficiência, seja ela na gestação ou logo após o parto, é
um momento difícil para os pais, já que nenhum pai ou mãe espera uma criança que não seja
“perfeita”. A mãe fica muito abatida, debilitada; algumas sofrem crises depressivas, outras se
decaem tanto que causam o aborto na gestação, algumas logo após o parto abandona a criança
e vive uma vida infeliz. Os pais em alguns casos, culpam a mulher, saem de casa, desenvolve
hábitos alcoólatras e também agressivos. Mas também podemos ver que não é todos os casos
que isso ocorre; algumas mães e pais, que ainda veem o filho desejado na criança real correm
atrás de tratamento rápido, meios de amenizas a gravidade da deficiência, põem a criança no
meio social e tentam o que podem para buscar uma vida melhor para o filho. (BUSCAGLIA,
2006)
Segundo Mayrink (1986), ao nascimento de uma criança, os pais se preocupam com
a saúde do filho, e sempre existe a ansiedade em saber se ele é normal, podendo ser
explicitada pela pergunta tão comum: “Meu filho é normal, doutor? ”. Quando está tudo bem
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com a criança, as respostas são fáceis, porém ao se detectar de imediato um problema, os


profissionais não saber o que dizer ou fazer.

A tempestade começa na maternidade, quando o problema é evidente e permite


chegar a um diagnóstico imediato. Mas, na grande maioria dos casos, é somente
após meses ou anos que se identifica a excepcionalidade – grave ou leve – de uma
criança que até então não tinha diagnóstico conclusivo. Quando o especialista
descobre, quase sempre depois de uma interminável peregrinação dos pais pelos
consultórios, o impacto não é menor (MAYRINK, 1986 p. 18).

Quando se tem o diagnóstico, o paciente necessita do profissional para explicar a


situação da qual o filho passa. E esse é um momento difícil tanto para o profissional quando
para a família. Por parte do primeiro, existe aquela expectativa de quando a família volta para
ter mais informações, e o profissional deseja atuar de forma competente, útil, compreensiva,
acolhedora e, principalmente, tolerante ao sofrimento da família. O profissional se sente
limitado, fraco, e tem dificuldades em lidar com sua própria condição de mortal, além dos
sentimentos provocados pelo encontro dele com a família. Enquanto que a família tem a
esperança de que o profissional seja o responsável pela diminuição do sofrimento e da
angustia, assim como deseja ser acolhida, amparada e não responsabilizada pela situação.
(BLASCOVI-ASSIS, 2004)
A realização deste estudo destaca a importância de indicar como a doença mental
afeta a família, mudando a rotina, criando novos conceitos, novas expectativas e novas
realidades. Pois apesar dos esforços e avanços na saúde, sempre haverá aquela família que
terá um portador de necessidade especial.
Sendo assim, o objetivo desta pesquisa é enumerar e entender o porquê de tanta
revolta dos pais da criança, principalmente da mãe quanto ao diagnóstico. Identificar os
problemas, as dificuldades que as mães dessas crianças sofrem, desde o pesado diagnostico
até as dificuldades dá aceitação da doença. E ainda poder mostrar que a enfermagem tem que
buscar conhecimento necessário para esclarecer as dúvidas que passam pelo meio daquela
família.
Enfatizar que a enfermagem pode ajudar nessa nova luta que a família enfrenta,
apoiando, orientando; tendo a capacidade, firmeza e discernimento para informar o que sabe
sobre a deficiência do filho, para que esses posam buscar os meios necessários e corretos para
o cuidado da criança.
E levantar o questionamento que sempre vem aos pais dessa criança. Quais os efeitos
de um diagnóstico de deficiência mental na aceitação da família? O medo de como essa
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criança será inserida na sociedade, será que vão aceita-la? Como será sua infância? Na
adolescência e em sua vida adulta conseguirá trilhar os próprios caminhos?

II – MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo constitui de uma revisão integrativa da literatura, descritiva e histórica.


Para nos aproximarmos do objeto de estudo nos propomos a realizar uma revisão integrativa
da literatura. Trata-se de estudos que envolvem etapas preconizadas por Pereira e Bachion
(2006) sendo elas:
1º etapa: Realizada busca nos descritores em ciência da saúde, sobre os problemas
enfrentados pelas mães de crianças com deficiência mental e o apoio da enfermagem. Houve
uma consulta a vários trabalhos científicos que foram classificados em: artigos de pesquisa;
artigos teóricos e/ou de revisão de literatura; trabalhos apresentados em congressos; teses e
dissertações.
2º etapa: Busca nas seguintes bases de dados digitais do Google Acadêmico,
Biblioteca Virtual em Saúde, Lilacs e Scielo (Scientifc Eletronic Library Online).
3º etapa: Todos os artigos referências e resumos encontrados foram lidos e avaliados
segundo critérios de inclusão e exclusão.
Inclusão:
 Publicação em formato de artigos científicos;
 Ser publicado na língua portuguesa ou inglesa;
 Ser referente ao ano de 1980 a 2012;
 Estar disponível em território nacional e internacional;
Exclusão:
 Todos os artigos que não se adequarem os critérios citados acima;
4º etapa: Os artigos foram lidos na integra, os dados separados, agrupados,
categorizados e analisados a luz de um referencial teórico.
5º etapa: Os resultados serão apresentados de forma descritiva.
As palavras chaves utilizadas são: Crianças com Deficiência Mental, Mãe e o filho
deficiente metal e Enfermagem no Cuidado. Para melhor demonstração das características das
fontes foi construído um quadro sinóptico com as variáveis que elucidou os dados, a exemplo:
ano de publicação, autor e periódico (Figura 1):
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Autor Título do Artigo Metodologia Periódico Ano


OMOTE Reações de Mães de Deficientes Mentais ao Pesquisa e Texto e 1980
Reconhecimento da Condição dos Filhos investigação Contexto de
Afetados: Um estudo Psicológico Enfermagem

ARDORE Eu tenho um Irmão Deficiente... Vamos Revisão Teórica Livro 1988


Conversar Sobre Isso?
VASH Enfrentando a Deficiência: a Manifestação, a Pesquisa e Texto e 1988
Psicologia, a Reabilitação. investigação Contexto de
Enfermagem

MAYRINK Anjos de barro: histórias de pais e filhos Revisão Teórica Livro 1986
especiais.
PESSOTI Deficiência mental: da superstição à ciência. Pesquisa e Texto e 1984
investigação Contexto de
Enfermagem

AMARAL Conhecendo a Deficiência Pesquisa e Texto e 1995


investigação Contexto de
Enfermagem

Manual Diagnóstico e Estatístico de Revisão Teórica Ministério da 1995


Transtornos Mentais. Saúde
MILLER Ninguém é perfeito: Vivendo e crescendo com Estudo de 1995
crianças que têm necessidades especiais. abordagem
qualitativa
PETEAN Investigação em aconselhamento genético: Revisão Teórica Livro 1998
Impacto da primeira notícia - a reação dos
pais à deficiência.
BRUNHARA Mães e filhos especiais: Reações, sentimentos Revisão Revista 1999
e explicações à deficiência da criança. Bibliográfica Brasileira de
Enfermagem
RODRIGUERO Desenvolvimento humano e aquisição da Pesquisa Revista de 2001
linguagem: uma investigação acerca da exploratória e Enfermagem
concepção da família sobre a criança surda. descritiva
SILVA Deficiência Mental e Família: Implicações Pesquisa Revista de 2001
para o desenvolvimento da Criança. exploratória e Enfermagem
descritiva
BLASCOVI- A Importância da humanização profissional Revisão Teórica Livro 2004
ASSIS no diagnóstico das deficiências.
BUSCAGLIA Os deficientes e seus pais: um desafio ao Pesquisa e Texto e 2006
aconselhamento. investigação Contexto de
Enfermagem

RAMOS A Educação Inclusiva e a Deficiência Mental. Pesquisa On line 2010


bibliográfica
CARDOSO Diferentes Deficiências e seus Conceitos. Pesquisa On line 2011
bibliográfica
JANETE O Doente Mental na Sociedade. Pesquisa On line 2011
bibliográfica
OLIVEIRA Retardo Mental. Pesquisa On line 2016
bibliográfica
ARRUDA A repercussão de um diagnóstico de síndrome Pesquisa On line 2016
de Down no cotidiano familiar: perspectiva da bibliográfica
mãe.
GROSSI A família da pessoa portadora de deficiência Pesquisa Revista de 2016
mental. exploratória e Enfermagem
descritiva
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III – ANALISE E DISCUSSÕES

A análise dos dados foi feita sob forma de categorização dos artigos que foram
descritos onde categorias dão prioridade a importância de cada tema: A Família e o deficiente
mental; O deficiente mental no meio da sociedade; Educação Especializada.

III. A - A Família e o deficiente mental:

O impacto sentido pela família com a chegada de uma criança com algum tipo de
deficiência é intenso. Segundo Petean (1995), esse momento é traumático, podendo causar
uma forte desestruturação na estabilidade familiar. O momento inicial é sentido como o mais
difícil para a família a qual tem que buscar a sua reorganização interna que, por sua vez,
depende de sua estrutura e funcionamento enquanto grupo e, também, de seus membros,
individualmente.
O nascimento de uma criança deficiente traz uma nova realidade à família. Os pais
experimentam a perda das expectativas e dos sonhos que haviam construído em relação ao
futuro do filho e os familiares se vêm impotentes por não saber o que fazer e frustrados diante
da perda da ideal criança que estava por vir. A extensão e a profundidade do impacto deste
nascimento são indeterminadas, depende da dinâmica interna de cada família e do significado
que este evento terá para cada um. (CARDOSO, 2011)
No entanto, a família acaba procurando meios de se adequar à nova realidade.
Desenvolvem duas maneiras de lidar com a informação: enfrentando e reagindo. Enfrentar
significa fazer aquilo que é preciso, lidar com problemas e avançar. Reagir significa lidar com
emoções que incluem desde confusão até o medo da incompetência. Talvez por medo ou falta
de explicações, eles passam muito tempo não sabendo lidar com a realidade do filho e torna
esse fato especial em algo enigmático e impossível de resolver. (MILLER, 1995)
Todos vivenciam o choque e o medo com relação ao evento ou ao reconhecimento da
deficiência, bem como a dor e a ansiedade de se imaginar quais serão as implicações futuras.
Todos experimentam a perda que gera desapontamento, frustração, raiva, à medida que
desaparecem a liberdade e o tempo para o lazer, já que em boa parte dos casos, a criança
precisa de atenção 24 horas por dia, muitas delas não conseguem ter o autocuidado. (VASH,
1988)
Enfim, sentir-se responsável pelo problema do filho, conformado ou revoltado é uma
forma de tentar elaborar o que deu errado. Assume-se a culpa, o conformismo e a raiva
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porque quando existe um culpado, ao menos existe uma explicação. Ou culpam alguma
doença, eles próprios, os familiares e até mesmo a Deus, pelos menos para ter a quem culpar,
mesmo sabendo que a culpa não recai a eles. Ao contrário, os pais podem se defender
simplesmente negando. (PETEAN &PINA-NETO, 1998)
A negação se apresenta quase sempre de duas formas. A negação escolhida,
caracterizada por um pensamento do tipo "se eu a ignorar, talvez vá embora", o que
caracteriza principalmente as reações adotadas pelos pais e pelos familiares próximos ou
mesmo os distantes. Eles abandonam a criança dentro da própria casa, deixando os cuidados
apenas para a mãe, mal olhando para o filho, isso quando nem ao menos toca na criança.
Evitam qualquer contato com a criança, como se ela estivesse contaminada por algo. A
negação inconsciente quando realmente se olha para os fatos e não consegue percebê-los
como verdadeiros, e esse caracteriza as reações das mães. Elas sonham tanto, que quando
recebem a notícia, elas não conseguem entender o porquê e de como aconteceu. É uma atitude
que encobre a não aceitação da deficiência, ou seja, a mãe se recusa a enxergar a realidade
como ela se apresenta, fantasiando ou fingindo que o problema não existe. (ADORE, 1988)
Silva & Dessen (2001) descreve que muitas das vezes, os parentes, sejam avós, tios
ou primos da criança, deixam de frequentar a casa pois tem medo, pena ou até repulsa da
deficiência da criança, e não a aceitam como parte da família. Os avos não gostam da
aproximação da criança e assim não a mimam, também podem não ter paciência para as
limitações. Os pais dos primos não deixam os filhos brincarem com a criança, deixando a
criança sozinha e ignorando completamente quando a criança deficiente é agredida por seus
filhos, alegando “São apenas crianças, estão só brincando”, o que pode resultar uma aceitação
do bullying dentro da família e decorrente feridas até mesmo grave, na criança. E os primos,
vê a criança como diferente, que não brinca com eles e acabam criando certo preconceito,
sendo agressivos verbalmente ou fisicamente.
Rocha (2008), descreve um outro problema que é enfrentado, e este é dentro de casa;
os filhos “normais”. Quando a mãe sai de casa para ir ao hospital ter o “irmãozinho” e demora
alguns dias e no fim traz um “irmãozinho com problema”, se passa na cabeça da criança, que
o irmão está doente. A mãe tem medo de explicar o real problema ou não sabe explicar para o
filho normal que o outro filho precisa de cuidados e é uma criança diferente das outras, e
acaba que a criança não entende o que acontece. A relação fraternal é uma das relações mais
duradouras na vida dos indivíduos. Então com o nascimento da criança deficiente, mudam-se
a estrutura e dinâmica da família, onde novos papeis são impostos e a criança normal tem que
aprender a compartilhar com a outra e, consequentemente, a dividir desde o espaço físico, até
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mesmo a atenção e dedicação dos pais. Isso gera tensão na criança e muitas vezes a fantasia
de que deixou de ser amada pelos pais. Então na maioria das vezes a mãe adota uma medida;
a criança que necessita de cuidado especial e atenção integral, terá o afeto emocional, “o
carinho de mãe”; já a criança normal, que vai entender no futuro, terá o afeto material. A mãe
faz isso tendo em mente que isso irá resolver os problemas dentro de casa, e assim ela terá
mais tempo para administrar os filhos.
Segundo Silva (2001), o filho normal, se sentirá abandonado, menos amado,
excluído, e isso se tornará revolta, fazendo com que ele não aceite o outro irmão, por ter
tirado a mãe dele. Essa criança revoltada poderá ficar agressiva com o irmão, se afastar,
deixando a outra criança sozinha. Quando se passa o tempo e chega aquela fase de brincar, o
irmão normal não quer brincar com o irmão deficiente, ou a criança deficiente não tem
mentalidade e coordenação suficiente para conseguir brincar, causando ainda mais
insatisfação e tristeza na outra criança que não tem com quem mais brincar. Então com o
passar do tempo, a criança começa a entender o problema do irmão e as vezes pode entender
as mudanças da mãe, mas sempre irá jogar a dita frase: “Você amava mais meu irmão do eu. ”

III. B - O deficiente mental no meio da sociedade:

Incluir quer dizer fazer parte, inserir. Assim, a inclusão social das pessoas com
deficiência mental significa torná-las participantes da vida social, econômica e política,
assegurando o respeito aos seus direitos no âmbito da Sociedade, do Estado e do Poder
Público. (GROSSI, 2016)
Segundo Janete (2011), as sociedades antepassadas não aceitavam a deficiência,
provocando uma exclusão quase total das pessoas portadoras de DM. As famílias chegavam
mesmo a escondê-las da convivência com outros, isolando-as do mundo. Os primeiros
hospitais psiquiátricos foram construídos não para oferece tratamento ao doente mental, mas
para afastá-los da sociedade, para que isso fosse feito o argumento utilizado era que eles
podiam oferecer riscos aos demais, ou seja, esta minoria teve que ser isolada para o “bem de
todos”.
Felizmente, o mundo desenvolveu levando a uma maior aceitação da deficiência
devido ao aparecimento de novos pensamentos e mentalidades. Estas transformações
aconteceram, em grande maioria, no final do século XIX e começo do século XX na
Revolução Industrial, com o aparecimento do interesse pela educação nos países
desenvolvidos. Esse interesse provocou o início do atendimento aos deficientes, bem como o
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aparecimento da educação especial destinada a um movimento de inclusão escolar e


social. (OLIVEIRA, 2016)
De fato, a doença mental requer tratamento, mas isso poderia ser feito de uma forma
mais humanizada. Com isso no período pós-guerra, os movimentos pela reforma psiquiátrica
questionaram o modelo dos hospitais psiquiátricos e tentaram inserir o doente mental na
sociedade.
O doente mental pode até estar preparado para ser inserido na sociedade, mas será
que a sociedade está preparada para recebê-lo? O doente mental precisa ser
reconhecido como igual, e respeitado por suas diferenças, pois todos os indivíduos
possuem diferenças e são elas que tornam todos iguais. (JANETE, 2011)

III. C - Educação Especializada:

Como sabemos, são inúmeros os obstáculos existentes para os deficientes, sendo a


inclusão escolar uma das grandes barreiras que pode ser encontrada no nosso país.
“Uma escola para todos e para cada um” é um grande objetivo a cumprir para a inclusão.
Uma escola que acolhe as diferenças, que colabora, que convive, será um bom princípio para
combater a exclusão social. Dividir a escola em termos de alunos “normais” e alunos
“deficientes” não é certamente um princípio inclusivo e o objetivo pretendido. (RAMOS,
2010)
Segundo Bazon (2004), a deficiência mental desafia a escola comum no seu objetivo
de ensinar, de levar o aluno a aprender o conteúdo curricular, construindo o conhecimento. O
aluno com deficiência mental tem dificuldade de construir conhecimento como os demais e de
demonstrar a sua capacidade cognitiva, principalmente nas escolas que mantêm um modelo
conservador de ensino e uma gestão autoritária e centralizadora.
O atendimento educacional especializado não deve ser entendido como ensino
particular ou reforço escolar, mas como um complemento do conhecimento acadêmico e do
ensino coletivo, para atender às especificidades, as necessidades individuais dos alunos com
deficiência, visando à eliminação das barreiras que eles apresentam ao relacionar-se com o
ambiente externo. (MILLER, 1995)
Grossi (2016) diz que, muitas áreas como a medicina, a psicologia, serviço social e
educação vêm se interessando e se aprofundando cada vez mais na condição das crianças e
adultos com deficiências mentais. Cada área vê a condição a partir de sua própria perspectiva.
O ambiente escolar inclusivo é o meio mais apropriado para desenvolver as
habilidades necessárias à construção das relações humanas, combatendo ações
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discriminatórias, incentivando o surgimento de comunidades acolhedoras, nascendo, portanto,


uma sociedade inclusiva onde a educação é igualitária. (CARDOSO, 2011)
Mesmo que a limitação do aluno com deficiência mental seja grave, frequentar a
escola comum para aprender conteúdos acadêmicos e participar desse universo social, já
proporcionará grandes ganhos, favorecerá o aproveitamento no atendimento educacional
especializado e este, por sua vez, atuará de forma retroativa sobre o indivíduo, auxiliando sua
socialização e aumentando sua compreensão do mundo. (RAMOS, 2010)

IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho enfatizou os problemas que as mães passam ao receber o


diagnostico que seu filho nascerá com uma deficiencia mental. A mãe passa por varios
problemas e dificuldades, seja, dentro de casa, na sociedade, na busca de ajuda, até com ela
mesma, a mãe se vê em uma situação sem apoio. Até mesmo o pai, quando este permanece do
lado da mãe, sente a perda das expectativas da tão sonhada criança, que agora tem apenas um
“probleminha”.
Tambem é apresentado, a descriminação, a falta de comprometimento dos
profissionais, e a ignorancia sobre o tema. Desde o principio o deficiente psiquiatrico é tido
como, “anormal”, “maldição”, “demoniaco”, ou melhor “diferente”, por isso essa cultura de
descriminação aos deficientes é tão dificil de ser abandonada. A poucas decadas atras, com o
surgimento dos primeiros hospitais psiquiátricos a exclusão dos doentes mentais foi ficando
cara fez mais grave. Não havia hospital para tratamento, e sim para afastá-los da sociedade,
para que isso fosse feito, o argumento utilizado era que eles podiam oferecer riscos aos
demais, ou seja, esta minoria teve que ser isolada para o “bem de todos”. Por que pelo “bem
de todos”? Como uma pessoa com uma deficiência era perigosa? Por que eram tratados como
monstros e infectados por uma doença contagiosa? Por que ter um filho deficiente era sinal de
vergonha na família? Isso só mostra como eram intolerantes, a saúde e ao bem-estar do
próximo e que ainda há muito a ser mudado na assistência e no pensamento humano.
A humanização do cuidado em paciente psiquiátrico passou a existir claramente com
a vinda da Reforma Psiquiátrica no Brasil por volta do século XXI, aprovando as novas
técnicas assistências em saúde mental e a incorporação da inclusão social. Assegurando
assim, por lei que o paciente que sofre de algum transtorno mental tem por direito receber
uma assistência de enfermagem com humanidade e respeito. No entanto a referida pesquisa
teve como proposta de reflexão descrever a importância do conhecimento sobre deficiência,
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direcionando a necessidade de interação da equipe de enfermagem visando a manutenção,


bem-estar físico, mental e social da saúde destes pacientes e da família.
Desta maneira, ressaltamos que o apoio as mães e a família é necessário para um
convívio de humanização, para evitar os problemas dentro dessas famílias, onde o enfermeiro
deve ter conhecimento e habilidade para se comunicar com os pais e propiciar um melhor
entendimento sobre a condição da criança.
Em síntese esperamos que esta pesquisa contribua para nossa formação acadêmica e,
para que assim, possamos aliar a técnica com a harmonização. Sendo assim, sempre que
formos dar assistência a família lembrarmo-nos deste estudo, o qual ressalta que devemos
tratar a criança como um ser humano único, respeitá-lo, considerar valores, crenças,
sentimentos e emoções ir além do cuidado assumir um caráter de responsabilidade social.

V - REFERÊNCIAS

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