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A ONTOLOGIA DOS OUTROS

4 ontologias
Philippe Descola
Entrevista: https://bit.ly/3j97HDO
Introdução
A distinção entre natureza e cultura – não é um
atributo intrínseco do ser – mas uma entre as
possíveis modalidades de organização ontológica. O
antropólogo Philippe Descola trás à tona em uma vasta
e erudita pesquisa quatro ontologias.
Na origem dos diferentes sistemas ontológicos, há
uma característica humana que Descola considera
universal: a distinção entre experiência “interna” e
mundo “externo”. Essa diferenciação originária é
acompanhada de outro mecanismo cognitivo
fundamental: os tipos de relação que se estabelece
entre o interno e o externo, vale dizer, as “modalidades
de identificação”.

Descola desvela então quatro ontologias:


ONTOLOGIA 1
1) os naturalistas do ocidente moderno que
pautaram toda a sua compreensão em uma
radical distinção entre natureza e cultura, a
experiência interna – a alma, a subjetividade –
está associada ao humano – a todos os demais
seres isso é negado;
ONTOLOGIA 2
2) para a ontologia animista – povos nativos
das Américas – a experiência interna é um
atributo potencialmente universal e comum a
todos os entes; todos os seres são animados e
mantém entre si, digamos assim, intenso
diálogo, um mundo de conexões;
ONTOLOGIA 3
3) na ontologia totemista – aborígenes da
Austrália – os entes e os lugares da terra de onde
provém (seres humanos, animais, localidades,
objetos) se distribuem em blocos diferentes, com
propriedades sui generis, a partir de um mesmo
princípio totêmico e há uma íntima
correspondência, quase uma coincidência entre a
experiência interna e externa; – a experiência
interna é um atributo potencialmente universal e
comum a todos os entes; todos os seres são
animados e mantém entre si, digamos assim,
intenso diálogo, um mundo de conexões;
ONTOLOGIA 4
4) para a ontologia analogista ( China antiga,
México na época da conquista) os entes
diferem tanto do ponto de vista interno como
externo e as relações entre eles devem ser
construídas e reconstruídas incessantemente.
Síntese 1
Cada uma dessas ontologias tem um regime
particular de temporalidade e, só a ontologia
do ocidente, é marcada pela flecha do tempo,
“para frente”, em um progresso sem fim! Essas
ontologias nunca se encontram em estado
puro. Tipos predominantes estruturam e
estruturaram distintamente as diferentes
áreas do globo e distintas épocas históricas.
Ontologias dominantes convivem e –
conflitam – com as ontologias menores.
Síntese 2
Qual a novidade que Descola desvela? A ontologia moderna
ocidental está vertendo água por todos os lados, está em
crise. Essa é a grande novidade !Essa novidade está
presente, hoje, na nossa relação com os animais: um certo
alargamento de proteção dos direitos animais; a
Constituição do Equador que reconhece a natureza, como
sujeito de direito, e então com direitos específicos e
intrínsecos; a luta dos coletivos analogistas andinos contra
as mineradoras não tanto por causa dos danos ambientais
¨mas antes pelas perturbações que a exploração mineira
trás aos lagos e às montanhas e pelos temores das reações
negativas que essa agressão pode suscitar¨.

O que está posto então como possibilidade é uma nova


cosmopolítica muito mais pluralista.

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