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EXERCÍCIOS 7.35
BIBLIOGRAFIA 7.36
Água no Solo
Lista de Figuras
Figura 7.1 – Ilustração das fases existentes num solo 7.4
Figura 7.2 – Diagrama triangular para a classificação textural de solos (USDA) 7.5
Figura 7.3 – Diagrama triangular para a classificação textural de solos (LNEC E219) 7.6
Figura 7.4 – Representação de uma coluna de solo com as fases aglutinadas 7.7
Figura 7.5 – Ilustração de teores volúmicos de humidade médios em função da classe textural do
solo 7.10
Figura 7.6 – Superfície interfacial de dois fluidos 7.11
Figura 7.7 – Ilustração do fenómeno da capilaridade 7.12
Figura 7.8 – Ilustração para conjuntos de tubos 7.13
Figura 7.9 – Efeito de alargamentos e estreitamentos na posição da superfície interfacial 7.14
Figura 7.10 – Teor volúmico de humidade em função da altura acima da superfície freática para
um solo grosseiro mal graduado (areia) e para um solo fino bem graduado (argila) 7.15
Figura 7.11 – Ilustração da pressão da água no solo 7.17
Figura 7.12 – Esquema de instalação para análise da relação entre o teor de humidade e a sucção
(adaptada de Hillel, 2004) 7.18
Figura 7.13 – Relações entre o teor de humidade e a sucção 7.19
Figura 7.14 – Condutividade hidráulica do solo saturado (cm/h) (adaptada de Rawls et al., 1993)
7.21
Figura 7.15 – Esquema de instalação para análise da condutividade hidráulica 7.22
Figura 7.16 – Condutividade hidráulica em função do potencial matricial e do tipo de solo 7.23
Figura 7.17 – Perfis de humidade para infiltração à capacidade dos solos 7.26
Figura 7.18 – Curvas de capacidade de infiltração 7.27
Figura 7.19 – Modelo para a capacidade de infiltração 7.28
Figura 7.20 – Sucção na frente de humedecimento (cm) (adaptada de Rawls et al.,1993) 7.30
Figura 7.21 – Modelo para o tempo de encharcamento com alimentação constante 7.31
Figura 7.22 – Infiltração acumulada e intensidade de infiltração à capacidade de um solo arenoso
(modelo de Green e Ampt com Ks = 34 cm/h, s = 0,287 e f = –16 cm) 7.32
Figura 7.23 – Intensidades de infiltração à capacidade de um solo franco-arenoso e com
alimentações constantes de 2,0 mm/min e 1,5 mm/min (modelo de Green e Ampt com Ks = 3 cm/h,
s = 0,37, i = 0,1, f = –12 cm) 7.33
Figura 7.24 – Redistribuição da água num solo arenoso 7.34
7.2
Água no Solo
Lista de Quadros
Quadro 7.1 – Designação de classes de solo em função do tamanho das partículas que o constituem
(µm) 7.5
Quadro 7.2 – Designações texturais de solos em função da sua composição 7.6
Quadro 7.3 – Designações texturais de solos em função da sua composição (LNEC E219) 7.7
Quadro 7.4 – Teores volúmicos de humidade médios em função da classe textural do solo (adaptado
de Rawls et al., 1993) 7.9
Quadro 7.5 – Ângulo de contacto entre a água e diversos materiais em presença do ar (adaptado de
Dingman, 1994) 7.13
Quadro 7.6 – Modelos de Horton, Philip e Kostiakov 7.33
7.3
Água no Solo
7 ÁGUA NO SOLO
7.1 INTRODUÇÃO
Partícula de solo
Ar
Água
O solo é formado por materiais que se apresentam em três estados termodinâmicos ou fases:
sólida, líquida e gasosa (Figura 7.1). A fase sólida encontra-se fragmentada em numerosas
partículas minerais ou orgânicas, de composição variada e de maiores ou menores dimensões, que
no seu conjunto apresentam por unidade de volume uma área interfacial elevada. A fase líquida é
constituída por soluções aquosas que ocupam porções variáveis do espaço entre partículas sólidas.
Essas soluções aquosas são geralmente referidas por água no solo. O restante espaço, não ocupado
pela fase sólida nem pela fase líquida, é ocupado por ar. Assim, o solo pode ser definido como um
sistema físico heterogéneo, polifásico, particuloso, disperso, poroso e anisotrópico.
No estudo da água no solo que se faz neste capítulo considerar-se-ão as fases sólida e líquida
do solo incompressíveis e não se consideram fenómenos como os de expansão e de retração.
Embora os solos sejam classificáveis em relação a diversas características, aquela que mais
diretamente respeita o conteúdo e o movimento da água nos espaços intergranulares é o tamanho das
suas partículas, ou seja, a sua textura.
7.4
Água no Solo
Quando existam, em cada coluna figura o limite superior da classe cuja designação a encabeça e, na
coluna à esquerda dessa, o respetivo limite inferior.
Quadro 7.1 – Designação de classes de solo em função do tamanho das partículas que o constituem
(m)
British Standards
Institution <2 < 60 < 2000 < 60 000 < 150 000
LNEC E219
<2 < 60 < 2000 < 60 000 < 150 000
Verifica-se que não existe uniformidade apenas em relação aos limites de tamanhos para as
areias. Efetivamente, o limite superior da classe dos siltes para a International Society of Soil
Science é 20 m, para o U. S. Department of Agriculture (USDA) é 50 m, para os British
Standards, LNEC e as normas DIN é 60 m e para o American Society for Testing and Materials
Unified Soil Classification System (ASTM USCS) é 75 m. Para este último sistema também se
evidencia que o limite superior das areias é 4750 m, enquanto para os restantes é 2000 m.
3
2
5 6
4
8
9
7
11 12
10
Os solos raramente se apresentam numa única das classes texturais, sendo geralmente
constituídos por partículas cujos tamanhos se apresentam em várias classes. Quando a distribuição
granulométrica se concentra em redor de um determinado tamanho, o solo diz-se mal graduado e,
7.5
Água no Solo
pelo contrário, quando a distribuição granulométrica compreende uma gama variada de tamanhos, o
solo diz-se bem graduado.
B C
D E
G H
F I
Figura 7.3 – Diagrama triangular para a classificação textural de solos (LNEC E219)
7.6
Água no Solo
A classificação ASTM USCS, que utiliza designações literais para as classes de solo, além
da separação mecânica das partículas, utiliza ainda os limites de liquidez e o conteúdo em matéria
orgânica para definir as classes de solos. Por este motivo apenas se apresentam no Quadro 7.1 os
limites correspondentes à areia, que são também o limite inferior dos seixos e o limite superior dos
siltes.
Zona Designação
A Argila
B Argila arenosa
C Argila siltosa
D Areia argilosa
E Silte argiloso
F Areia
G Areia siltosa
H Silte arenoso
I Silte
Neste capítulo adoptar-se-ão para descrição das propriedades do solo as designações que
correspondem às zonas definidas pelo U. S. Department of Agriculture, por serem as mais frequente-
mente referidas na literatura deste âmbito.
A quantidade de água contida num solo é avaliada, em geral, em relação à fase sólida ou em
relação à totalidade do solo. Na Figura 7.4, onde se consideram aglutinadas cada uma das fases de
uma coluna de solo, apresentam-se as grandezas que permitem a definição dessas quantidades
relativas.
Va Ar Ma 0
Vf
Vw Água Mw
Vt Mt
Vs Sólidos Ms
Do lado esquerdo da coluna de solo figuram o volume de ar, Va, o volume de água, Vw, o
volume de sólidos, Vs, o volume ocupável por fluidos, Vf, e o volume total, Vt. Do lado direito da
coluna de solo figuram a massa de ar, Ma, praticamente desprezável devido à pequena massa
volúmica do ar, a massa de água, Mw, a massa de sólidos, Ms, e a massa total, Mt.
7.7
Água no Solo
Designa-se por teor volúmico de humidade, , a razão entre o volume de água de uma
porção de solo e o seu volume total:
Vw
(7.1)
Vt
O teor volúmico de humidade pode ainda ser encarado como a relação entre a altura do
volume da água contida numa coluna vertical de solo, aglutinada e uniformemente distribuído sobre
a base da coluna, e a altura da coluna de solo. Então, em vez de adimensionalmente, poderá ser
expresso em mm de água por m de coluna de solo (mm m-1).
Designa-se por teor mássico de humidade, w, a razão entre a massa de água de uma porção
de solo e a massa da fase sólida dessa porção:
Mw
w (7.2)
Ms
Designa-se por grau de saturação, S, a razão entre o volume de água de uma porção de solo,
Vw, e o volume que nessa porção é ocupado por fluidos,Vf:
Vw
S (7.3)
Vf
Vf
n (7.4)
Vt
então, será
nS (7.5)
ou seja, o teor volúmico de humidade é igual ao produto da porosidade pelo grau de saturação.
Repare-se que, enquanto o grau de saturação pode concetualmente variar entre zero e um,
respetivamente quando o solo não contiver água, completamente seco, e quando o solo estiver
saturado, com os espaços intergranulares completamente preenchidos por água, já o teor volúmico
de humidade apenas pode concetualmente variar entre zero e a porosidade.
Outras relações de interesse no que diz respeito ao conteúdo de água de um solo são
d
n 1 (7.6)
s
t d
(7.7)
w
7.8
Água no Solo
w
w (7.8)
d
Ms
d representa a massa volúmica aparente do solo seco (kg m-3),
Vt
M
s s , a massa volúmica dos sólidos do solo (kg m-3),
Vs
M Mw
t s , a massa volúmica aparente do solo (kg m-3), e
Vt
M
w w , a massa volúmica da água (kg m-3).
Vw
Quadro 7.4 – Teores volúmicos de humidade médios em função da classe textural do solo
(adaptado de Rawls et al., 1993)
7.9
Água no Solo
0,600
s
0,500
Teor volúmico de humidade
cc
0,400
0,300
ep
0,200
0,100
r
0,000
so
so
o
so
co
so
o
so
so
o
os
nc
os
os
os
no
an
no
ilo
lo
lto
ilto
fr a
en
en
ilt
ilt
gi
re
rg
Fr
re
Si
-s
-s
-s
Ar
ar
o-
Ar
-a
-a
-a
so
lo
co
o-
os
so
co
co
gi
an
ilo
l
en
gi
Ar
an
ilo
an
rg
Fr
Ar
Ar
rg
Fr
Fr
-a
-a
co
co
an
an
Fr
Fr
Classe textural
7.10
Água no Solo
Figura 7.6 representa-se uma superfície interfacial com a forma de uma calote esférica com raio R e
eixo vertical. A diferença de pressões de um lado e do outro da superfície, que se considera
uniformemente distribuída, atua radialmente e é representada por p. O centro de curvatura
encontra-se obviamente do lado onde a pressão é maior. Para equilibrar a diferença de pressões
admite-se que a superfície cuja espessura é nula está sujeita a tensões tangenciais de tração,
uniformemente distribuídas, que se designam por tensões superficiais, , e têm as dimensões de uma
força por unidade de comprimento. A tensão superficial depende da natureza e propriedades dos dois
fluidos.
p
Considere-se que o ângulo que a tangente à calote esférica no seu bordo faz com a vertical é
. Então, a resultante das tensões que atuam tangencialmente no bordo da calote, R , será
2
R (7.11)
p
ou seja, o raio da calote depende apenas da tensão superficial e da diferença de pressões nas duas
faces da superfície.
Considere-se que a superfície interfacial, que no restante texto passa a considerar-se entre a
água e o ar, encontra-se no interior de um tubo cilíndrico de raio r, pequeno, aberto nas duas
extremidades, com a extremidade inferior mergulhada em água contida numa tina (Figura 7.7). A
tina deverá conter água em quantidade suficiente para a subida máxima da água no tubo, caso
contrário a subida será mais pequena.
O perímetro do bordo da calote esférica fica definido e será igual ao perímetro do tubo
( 2 r ). A água subirá ou descerá no tubo, de acordo com a maior ou menor atração que exista entre
as moléculas do material de que o tubo é feito e as moléculas da água e do ar. A água subirá, se o
7.11
Água no Solo
material do tubo tiver maior adesão à água, e descerá, se o material do tubo tiver maior adesão ao
ar. Diz-se no primeiro caso que a água molha o tubo e, no segundo caso, que não o molha.
pa w h c
onde
p a representa a pressão atmosférica,
w , o peso volúmico da água, e
h c , a altura a que a água sobe no tubo, altura capilar, medida no respetivo eixo.
r
hc
p p a (p a w h c ) w h c (7.12)
R cos r (7.13)
obtém-se
2 cos ()
hc (7.14)
w r
7.12
Água no Solo
a superfície sólida; se o ângulo for superior a 90º, o ar é mais atraído do que a água pelo material da
parede, a água desce no tubo capilar (hc < 0) e diz-se que a água não molha a superfície sólida.
Material da (º)
parede
Vidro 0
Sílica 0
Gelo 20
Platina 63
Ouro 68
Parafina 108
hfc
hfc
Se os tubos tiverem todos o mesmo diâmetro (Figura 7.8, a)), a água subirá neles até à
mesma altura acima da superfície da água na tina. Até essa altura todos os tubos estarão cheios. Se
os tubos tiverem diâmetros diferentes (Figura 7.8, b)), a água subirá em cada um até uma altura
acima da superfície da água na tina, que é inversamente proporcional ao seu diâmetro.
A altura acima da superfície da água na tina até à qual todos os tubos estão cheios designa-
-se por altura da franja capilar. A partir dessa altura, para cima, no caso dos diâmetros iguais (a)),
os tubos deixam de ter água e, no caso dos diâmetros diferentes (b)), à medida que se sobe, vão
deixando sucessivamente de ter água os tubos mais grosseiros. Neste caso (b)), quanto mais fino for
o tubo, tanto mais alto chegará a água.
7.13
Água no Solo
Faz-se notar que a altura a que chega a água, para tubos do mesmo material, depende apenas
da dimensão da secção do tubo definida pela sua intersecção com a superfície interfacial entre a
água e o ar. Efetivamente, uma vez atingida a posição de equilíbrio, o facto de o tubo abaixo da
superfície interfacial ser vertical, inclinado, retilíneo ou tortuoso não influencia a posição dessa
superfície.
a) b)
Com efeito, considere-se que a superfície livre da água na tina se encontra a descer com a
superfície interfacial acima de um alargamento (Figura 7.9, a)). Se o tubo tivesse uma secção
transversal uniforme, a água desceria no tubo tanto quanto a superfície da água na tina. No entanto,
devido à existência do alargamento, a descida da água no tubo ocorrerá de modo brusco até depois
do alargamento máximo.
Quando a superfície livre da água na tina estiver a subir com a superfície interfacial abaixo
de um estreitamento (Figura 7.9, b)), então a subida da água no tubo ocorrerá bruscamente até
depois do estreitamento máximo.
Nos movimentos em sentido contrário notar-se-ão fenómenos de índole semelhante, mas com
grande atraso no início do movimento da água no tubo relativamente ao movimento da água na tina.
Estes fenómenos, entre outros, justificam uma histerese de que adiante se tratará.
Designa-se por superfície freática o lugar geométrico dos pontos onde a água num solo
saturado se encontra à pressão atmosférica. Se a água estiver em repouso, a superfície freática será
horizontal. A superfície freática é assimilável à superfície da água na tina (Figura 7.8). Para cima da
superfície freática, o solo continuará saturado, com os espaços intergranulares preenchidos por água
até uma altura que depende da dimensão desses espaços. Quanto mais fino for o solo, tanto maior
será a espessura da camada saturada acima da superfície freática. Designa-se essa camada por franja
capilar. Para cima da franja capilar, apenas os canalículos definidos nos espaços intergranulares de
menores dimensões continuarão preenchidos por água, enquanto os espaços de maiores dimensões
incapazes de por capilaridade elevar a água tão acima da superfície freática estarão preenchidos por
ar. Quanto mais acima da superfície freática se considere uma secção horizontal, menor será o
número de canalículos ainda preenchidos por água.
7.14
Água no Solo
z
areia
argila
hfc
hfc
s areia s argila
Figura 7.10 – Teor volúmico de humidade em função da altura acima da superfície freática
para um solo grosseiro mal graduado (areia) e para um solo fino bem graduado (argila)
Dado que o solo grosseiro se apresenta mal graduado, com partículas de dimensões muito
uniformes, é de esperar que os espaços intergranulares tenham também dimensões muito uniformes
e que, portanto, a água suba por capilaridade nesses espaços a uma altura também muito
semelhante. Assim, com o aumento de cota acima da superfície freática o decrescimento do teor
volúmico de humidade será bastante acentuado (de modo assimilável ao que se ilustra na Figura
7.8, a)). No solo fino bem graduado, com partículas de dimensões mais distribuídas, é de esperar
que os espaços intergranulares tenham também dimensões mais distribuídas e que, portanto, a água
suba por capilaridade nesses espaços tanto mais quanto menores forem as suas dimensões. Assim, o
decrescimento com o aumento de cota acima da superfície freática do teor volúmico de humidade
será mais suave (de modo assimilável ao que se ilustra na Figura 7.8, b)).
Nas condições admitidas, os teores volúmicos de humidade de ambos os solos tenderão para
a respetiva capacidade de campo com o aumento da cota acima da superfície freática.
A água do solo, tal como outros corpos naturais, dispõe de energia em quantidades variáveis
e em diferentes formas, sendo usual considerar, de entre as formas reconhecidas pela física clássica,
apenas a sua energia potencial. Efetivamente, a reduzida velocidade de deslocamento dessa água, ao
longo dos reduzidos espaços intergranulares, onde o percurso é muito tortuoso, torna desprezável a
respetiva energia cinética. Assim, a água do solo desloca-se das zonas de maior energia potencial
para as de menor energia potencial, ou seja, na direção e sentido contrário ao do gradiente dessa
energia potencial.
7.15
Água no Solo
Assim, designa-se por energia potencial gravítica, E g , o trabalho armazenado numa massa
elementar de água, m, quando esta é deslocada, apenas contra a ação da aceleração da gravidade, g,
de um comprimento z medido verticalmente e para cima a partir de uma cota de referência:
Eg m g z (7.15)
Hg z (7.16)
Ep p v (7.17)
p
Hp (7.18)
p
Hp (7.19)
A água no solo, em virtude do seu peso, encontra-se a pressões positivas abaixo da superfície
freática e, em virtude da tensão superficial e da capilaridade que se manifesta nos espaços inter-
granulares, encontra-se a pressões negativas acima da superfície freática.
Na Figura 7.11 ilustra-se a medição da pressão da água no solo em dois pontos de uma
amostra contida num reservatório onde se instalaram dois piezómetros. A tomada de pressão é feita
através de cápsulas de material cerâmico com uma porosidade tal que a cápsula seja impermeável
ao ar e ao solo mas permeável à água.
7.16
Água no Solo
Superfície do solo
a
Superfície freática
b
pb
b
pa
a
A superfície freática, onde a pressão é nula (em termos absolutos igual à pressão
atmosférica), é identificada pelo nível atingido pela água em qualquer dos piezómetros. Embora não
se represente na Figura 7.11, faz-se notar que o solo na franja capilar continua saturado.
Designa-se por potencial hidráulico a energia potencial total, gravítica e de pressão, por
unidade de peso:
H z (7.20)
No solo da Figura 7.11 o potencial hidráulico é nulo em toda a amostra quando se toma
para cota de referência a cota da superfície freática e para pressão de referência, como
habitualmente, a pressão atmosférica. Nessas condições, o potencial de pressão por unidade de peso
varia de modo simétrico à variação da cota
z (7.21)
Na Figura 7.12 apresenta-se o esquema de uma instalação para fazer variar a sucção numa
amostra de solo de pequena dimensão, mas suficiente para ser representativa.
7.17
Água no Solo
z = -
Figura 7.12 – Esquema de instalação para análise da relação entre o teor de humidade e a sucção
(adaptada de Hillel, 2004)
A instalação consiste numa tina com água, na qual se introduz um tubo extensível ou
flexível, aberto na extremidade inferior e que dispõe na extremidade superior, após alargamento, de
uma placa cerâmica permeável à água, mas não ao ar. Comunica-se assim à amostra de solo uma
sucção (–) que é igual à altura (z) a que esta se encontra acima da superfície livre da água na tina.
Evidentemente, com este tipo de instalação, a altura máxima a que se pode colocar a amostra sem
que ocorra a vaporização da água no tubo (zmax), que implicará a interrupção da ligação entre a
água da amostra e a água da tina, é a que corresponde a uma pressão absoluta na placa cerâmica
igual à tensão do vapor de água à temperatura da água, esw(Tw),
e sw (Tw )
z max 10,33 (7.22)
w
Num solo, a adesão molecular da água às partículas sólidas ganha relevância em relação à
capilaridade para sucções superiores à que corresponde a zmax.
Considere-se que se dispõe uma amostra de solo previamente saturado sobre a placa
cerâmica perto da superfície livre da água na tina até não se observar qualquer eventual movimento
da água e que, após medição, se anota o teor de humidade e a sucção. Repetindo o processo descrito
para elevações crescentes da placa cerâmica, o que corresponde a aumentos sucessivos da sucção,
poder-se-ia desenhar uma curva como a que se apresenta na Figura 7.13, a. Repetindo o processo
em sentido inverso, a partir da maior elevação da placa até perto da superfície livre da água na tina,
o que corresponde à diminuição da sucção, tendo o cuidado de aguardar entre medições até não se
observar movimento da água, obter-se-ia uma curva como a que se representa na Figura 7.13, b.
Repetindo o processo novamente em sentido ascendente, do ponto onde se ficou anteriormente,
obter-se-ia uma curva como a que se representa na Figura 7.13, c.
7.18
Água no Solo
-
b
a
Designa-se a curva a por curva primária de drenagem. A curva tem origem no teor de
humidade de saturação com sucção nula. À medida que a sucção aumenta, depois de passada a
sucção que corresponde à que existe no topo da franja capilar (sucção de entrada de ar), o teor de
humidade vai diminuindo, com a água da amostra a drenar, e tende para a capacidade de campo.
Quando se diminui a sucção, ao longo da curva b, que se designa por curva principal de
humedecimento ou de embebição, com a amostra a humedecer por embebimento de água, o teor de
humidade vai aumentando até um valor máximo compatível com o ar que fica aprisionado pela
água nos espaços intergranulares. Quando se aumenta novamente a sucção, ao longo da curva c, que
se designa por curva principal de drenagem, o teor de humidade vai diminuindo, mas sem
sobreposição nem com a curva a nem com a b. Partindo de outros pontos, obter-se-iam outras curvas
entre as curvas b e c. A não existência de biunivocidade e os laços como o definido pelas curvas-
limite b e c constituem um fenómeno que se designa por histerese.
7.19
Água no Solo
r
e (7.23)
s r
( s r )
r , para um solo arenoso (7.24)
( s r )
r , para um solo argiloso (7.25)
( ln )
r
s r
1 n m
(7.26)
A lei que Henry Darcy estabeleceu em 1856 para o escoamento aparente em meios porosos
saturados, homogéneos e isotrópicos é em termos vetoriais:
V K s grad (H) (7.27)
onde V representa a velocidade aparente ou caudal específico, Ks, o coeficiente de permeabilidade
ou condutividade hidráulica do solo saturado, e H, o potencial hidráulico.
7.20
Água no Solo
0.005
0.01
0.05
0.2 0.1
0.4
1.0 0.6
10 5.0 2.0
20
Se o solo não estiver saturado, é natural que a secção transversal ao escoamento atravesse
ainda bolsas de ar, ficando a secção real do escoamento tanto mais reduzida quanto menor for a
quantidade de água no solo, ou seja, quanto maior for a sucção.
K K() (7.28)
com H z .
A aplicação da lei de conservação da massa de água a um volume unitário de solo, que por
unidade de tempo se traduz pela igualdade entre a variação do volume de água armazenado e a
diferença entre a água que entra e a água que sai do referido volume, conduz à seguinte equação:
7.21
Água no Solo
div (V) (7.30)
t
divK() grad (z ) (7.32)
t
A equação (7.32), que se designa por equação de Richards, pode escrever-se em termos do
potencial matricial ou em termos do teor de humidade com recurso à curva característica de
humidade e, depois de definidas as condições iniciais e as condições de fronteira adequadas ao
problema em análise, pode ser resolvida em geral através de métodos numéricos. Faz-se notar que
esta equação não tem em conta o fluxo de ar que ocorre em simultâneo com o de água, quando o
solo não está saturado.
-1
-2 L
7.22
Água no Solo
Assim, se depois de atingido o regime permanente for V o volume de água que se acumulou
na proveta do lado esquerdo durante o tempo t, será
V L
K ( ) (7.33)
A t 1 2
Fazendo variar as posições das tinas e da amostra podem obter-se curvas da condutividade
hidráulica em função da sucção, como as que se apresentam na Figura 7.16 para um solo arenoso e
para um solo argiloso.
K (
Solo argiloso
Solo arenoso
-
Verifica-se que o solo arenoso quando saturado (= 0) tem uma condutividade hidráulica
muito superior à do solo argiloso saturado e que, quando a sucção aumenta, a condutividade
hidráulica decresce no solo arenoso muito mais rapidamente do que no solo argiloso, tornando-se
para sucções elevadas menor naquele tipo de solos.
Efetivamente, quando a sucção aumenta, o ar penetra com mais facilidade nos espaços mais
grosseiros dos solos arenosos do que nos espaços mais finos dos solos argilosos e, portanto, a secção
real disponível para o escoamento da água diminui mais rapidamente no primeiro tipo de solos,
provocando a diminuição mais brusca da condutividade hidráulica.
Embora mais ligeira, é conveniente notar que a condutividade hidráulica apresenta também
uma relação histerética com a sucção.
2
3
r
K K s (7.34)
s r
7.23
Água no Solo
A
K Ks B
(7.35)
A
2
1 1 m
r
K Ks 2 1 1 m
, (7.36)
s r
A condutividade hidráulica do solo saturado, Ks, pode ser estimada pela Figura 7.14 ou pela
fórmula de Kozeny-Carmen:
com Ks em cm/h.
Muitas tentativas têm sido feitas para as relacionar com propriedades facilmente disponíveis
ou obteníveis, tais como a composição granulométrica, o conteúdo em matéria orgânica, a massa
volúmica aparente do solo seco e a porosidade. Designam-se as relações deste tipo, geralmente
obtidas por análise de regressão, por funções de pedotransferência.
7.24
Água no Solo
7.10 INFILTRAÇÃO
A entrada de água num solo pela sua superfície terrena constitui um fenómeno que se
designa genericamente por infiltração.
O caudal específico de água (caudal por unidade de área em planta) que atravessa a
superfície terrena de um solo designa-se por intensidade de infiltração e tem as dimensões de uma
velocidade. O volume de água que por unidade de área em planta atravessa a superfície terrena de
um solo em determinado intervalo de tempo designa-se por infiltração acumulada nesse intervalo de
tempo e tem as dimensões de um comprimento.
A infiltração de água num solo pode ser estudada por integração numérica da equação de
Richards (7.32), com as condições iniciais e de fronteira adequadas.
7.25
Água no Solo
O solo arenoso tem uma condutividade hidráulica, quando saturado, de 34 cm/h, um teor
volúmico de saturação de 0,287 e um teor volúmico de humidade inicial, uniformemente distribuído
ao longo da vertical, de 0,1. O solo argiloso tem uma condutividade hidráulica, quando saturado, de
0,04 cm/h, um teor volúmico de saturação de 0,495 e um teor volúmico de humidade inicial,
uniformemente distribuído ao longo da vertical, de 0,24. Os perfis de humidade são representados
por isócronas de (z, t ) , para a areia nos instantes 900 s (0,25 h), 1800 s (0,50 h) e 2700 s
(0,75 h), e para a argila nos instantes 100 000 s (1,16 d), 500 000 s (5,8 d) e 1 000 000 s (11,6 d).
No solo arenoso (Figura 7.17, a)), em cada um dos instantes considerados, o teor de
humidade mantém-se igual ao de saturação desde a superfície até uma profundidade próxima da
profundidade onde o teor de humidade ainda é o inicial. A concordância dos teores de humidade
entre as duas profundidades é feita num espaço relativamente curto, cerca de 20 cm. A transição
entre o solo saturado e o solo ainda nas condições iniciais é feita de um modo brusco.
No solo argiloso (Figura 7.17, b)), em cada um dos instantes considerados, o teor de
humidade varia mais gradualmente do que no solo arenoso desde a superfície até à frente de
humedecimento. Esta variação mais gradual num solo argiloso do que num arenoso foi já observada
nas curvas características de humidade (Figura 7.10). No solo argiloso, em concordância com a
pequena condutividade hidráulica, o avanço da frente de humedecimento é muito mais lento do que
7.26
Água no Solo
no solo arenoso. Observa-se também que a velocidade média da frente de humedecimento, embora
sempre superior à condutividade hidráulica do solo argiloso saturado, vai diminuindo ao longo do
tempo, tal como ocorria no solo arenoso. Efetivamente, ela é de cerca de 1,1 cm/h ao fim de
100 000 s, e de 0,5 cm/h, ao fim de 500 000 s.
Em cada um dos solos, quanto maior é o teor volúmico de humidade inicial, tanto menor é a
intensidade de infiltração à respetiva capacidade ou, de modo inverso, quanto mais seco estiver o
solo, tanto maior é a infiltração.
7.27
Água no Solo
H = z + i
H = z + f H=z
z z
t = t0
zs B A zs B’ A’
zf1 t = t1 D’
E D E’
zf2 t = t2
G F G’ F’
Hi
C C’ 45º
i s H
Na abcissa do gráfico do teor volúmico de humidade estão marcados os teores inicial, i, e
de saturação, s.
A pressão a que a água está sujeita à superfície do solo será igual à pressão atmosférica,
0 , e o potencial hidráulico será representado pelo ponto A’, onde H z s 0 z s . Para baixo,
a água no solo terá um potencial matricial i que corresponde ao teor de humidade inicial.
Assim, a linha que representa o potencial hidráulico será A’B’C’.
7.28
Água no Solo
H
Vz K s (7.38)
z
f Vz (7.39)
H (z s 0) (z f f )
(7.40)
z zs zf
F (z s z f ) (s i ) (7.41)
F
zs zf (7.42)
s i
Das equações anteriores obtém-se a fórmula de Green e Ampt (1911) para a intensidade de
infiltração à capacidade de um solo
( i )
f K s 1 f s (7.43)
F
dF ( i )
K s 1 f s (7.44)
dt F
b KsF
F Ks t ln 1 (7.45)
Ks b
com
b K s f (s i )
7.29
Água no Solo
150
100
60
40
30
20
10
dH p
(7.46)
dz K s
onde se fez f p , porque inicialmente a capacidade de infiltração é muito grande e, portanto, toda a
alimentação superficial será infiltrada, pelo menos inicialmente.
7.30
Água no Solo
H = z + i
H = z + f H=z
z z
t = t0
zs B A zs B’ A’
zf1 t = t1
E D E’ D’
zf2 t = t2 arc tg (p/Ks)
G F G’ F’
Hi
C C’ 45º
i s H
Na Figura 7.21, a linha definida por A’D’F’ corresponde ao gradiente indicado pela
equação (7.46) e, portanto, representará o potencial hidráulico da água acima da frente de
humedecimento. A sucção na frente de humedecimento será representada, à cota onde a frente
estiver, pela distância horizontal entre a linha A’D’F’ e a linha H z . Por exemplo, em t = t1, a
sucção na frente de humedecimento será representada pela distância horizontal entre D’ e a linha
H z.
f ( s i )
te , p Ks (7.47)
p
p 1
s
K
Quando a alimentação (p) for menor do que a condutividade hidráulica do solo saturado
( K s ), a infiltração será sempre igual à alimentação, não ocorrendo qualquer redução do seu valor.
7.31
Água no Solo
1 b KsP
tp P ln 1 (7.48)
Ks K s b
45 150
40
125
35
30 100
25 f (cm/h)
F (cm)
i = 0,10 75
20
i = 0,20
15 50
i = 0,10
10
25 i = 0,20
5
0 0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 0,00 0,25 0,50 0,75 1,00
t (h) t (h)
Na Figura 7.23, comparam-se para um solo franco-arenoso, com 60 por cento de areia e 10
por cento de argila, com Ks = 3 cm/h, s = 0,37, i = 0,1 e f = –12 cm, as intensidades de
infiltração à capacidade do solo e com alimentações constantes de 2,0 mm/min e de 1,5 mm/min.
Como seria de esperar, o tempo de encharcamento é tanto maior quanto menor for a
alimentação.
7.32
Água no Solo
3,0
2,5
te = 0,09 h
2,0
f (mm/min) t e = 0,18 h
1,5
1,0
0,5
0,0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
t (h)
No Quadro 7.6 apresentam-se três outros modelos de infiltração com larga utilização
prática.
Modelo f F tp te
f f f
F fct t e c ln 0 c
1 f0 fc k p p fc
Horton f f c (f o f c )e kt f f
0 c 1 e kt
k
tp ln
k p f c
f p
0
kp
1
1 1 1 2
2
( 2p K s ) S 2
Philip f S t 2 Ks tp S 4 K P S te
F Ks t St 2 4K s2
s
4p ( p K s ) 2
2
1 1
Kostiako 1 (1 )P 1 1
f t F t tp te
v 1 1 p
7.33
Água no Solo
O modelo de Philip (1957) utiliza dois parâmetros, S e Ks. O primeiro tem sido designado
por sorvabilidade, e o segundo é a condutividade hidráulica do solo saturado. No instante inicial, tal
como no modelo de Green e Ampt, a intensidade de infiltração à capacidade do solo é infinita.
Na Figura 7.24 ilustra-se o processo descrito para um solo arenoso a cuja capacidade se
infiltrou água durante 900 s, tendo-se a partir desse instante suspendido a infiltração. Na obtenção
dos perfis de humidade, tal como foi referido para a Figura 7.17, utilizou-se a integração numérica
da equação de Richards (7.32) e o mesmo solo arenoso.
-50
t = 900 s
z (cm)
-100
2700
-150
-200
0,0 0,1 0,2 0,3
(-)
7.34
Água no Solo
Faz-se notar que o volume de água armazenado no solo por unidade de área superficial
mantém-se constante depois do instante em que se para a infiltração, se a evaporação da água no
solo for nula.
EXERCÍCIOS
7.2 Um vaso munido de um orifício no fundo contém 5 l de um solo com um teor volúmico de
humidade de 0,15. Sabendo que a capacidade de campo do solo corresponde a um teor
volúmico de humidade de 0,28, calcule a quantidade de água que sairá pelo orifício quando
se deitar no vaso 1 l de água.
7.3 Num terreno com 1 ha, o solo é fundamentalmente constituído por 30 por cento de areia, 60
por cento de silte e 10 por cento de argila, e a cultura instalada tem uma profundidade
radicular de 0,5 m. Sabendo que para uma produção ótima o teor de humidade não deve
baixar de 50 por cento da água total utilizável pelas plantas, estime o volume de água de
rega (m3) necessário para passar do mínimo teor admissível à capacidade de campo.
Sabendo que a evapotranspiração real média é de 3 mm/d, estime o intervalo de tempo entre
duas regas sucessivas.
7.4 Desenhe o diagrama de pressões ao longo do eixo do tubo capilar da Figura 7.7, desde o
fundo da tina até ao topo do tubo, já no ar.
7.5 Duas gotas esféricas de água com diferentes raios são postas em contacto. Será a gota maior
que cresce à custa da menor ou será a gota menor que cresce à custa da maior? Justifique.
7.7 Mostre que o avanço da frente de humedecimento para o solo arenoso da Figura 7.17 a) é
proporcional a t e determine a constante de proporcionalidade.
7.9 Calcule a infiltração acumulada ao fim de 0,5 h no solo da Figura 7.23 quando a
intensidade de alimentação é constante e tem o valor de 2,0 mm/min. Calcule também o
excedente da alimentação em relação à infiltração (mm).
7.35
Água no Solo
BIBLIOGRAFIA
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Água no Solo
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7.37