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EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O CARÁTER
DE
CRISTO EM
NÓS
CURSO DE MATURIDADE CRISTÃ – CMC

“Maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2.15).

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DIFERENÇA ENTRE REPUTAÇÃO E CARÁTER


Por William Hersey Davis

REPUTAÇÃO é aquilo que esperam que você seja;


CARÁTER é aquilo que você realmente é...

REPUTAÇÃO é a fotografia;
CARÁTER é o rosto...

REPUTAÇÃO vem de fora sobre alguém;


CARÁTER cresce de dentro...

REPUTAÇÃO é o que você tem quando chega num novo local;


CARÁTER é que você tem quando vai embora.

Sua REPUTAÇÃO é feita num momento;


Seu CARÁTER é construído durante toda a vida...

Sua REPUTAÇÃO pode ser conhecida em uma hora;


Seu CARÁTER pode levar um ano para vir à luz...

REPUTAÇÃO cresce como um cogumelo;


CARÁTER durar pela eternidade...

REPUTAÇÃO torna você rico ou pobre;


CARÁTER lhe faz feliz ou lhe faz miserável...

REPUTAÇÃO é o que os homens dizem de você na lápide sepulcral


CARÁTER é o que os anjos dizem de você diante do trono de Deus.

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SUMÁRIO

Considerações iniciais 05
O Caráter cristão é fruto da alma 05
A cruz como ferramenta de lapidação do caráter 07
Definições de caráter 09
Distinção entre caráter, personalidade e temperamento 10
Expressões do caráter 11
Caráter e Dons 13
Como se forma o caráter 15
A influência do ambiente e da sociedade na formação do caráter 15
A responsabilidade da Igreja 15
O projeto de Deus para o nosso caráter 16
Nascer de novo é somente o primeiro passo 17
O poder da cruz 19
O andar no princípio da cruz 23
Verdades sobre negar-se a si mesmo 23
A operação da cruz sobre o ego 25
As virtudes do caráter cristão 33
Fatores que influenciam a formação do caráter 37
A formação do caráter através dos tratamentos de Deus 41
Nossa atitude diante do tratamento de Deus 45
O deserto e as circunstâncias 47
O início dos grandes ministérios 47
O que é o deserto? 47
Nossa maleabilidade determina a duração e a intensidade do deserto 50
As circunstâncias de tratamento 50
Quebrantamento e o caráter de Cristo 52
O homem interior e o homem exterior 52
O tempo do nosso quebrantamento 53
O significado da cruz 53
O que impede o quebrantamento 54
As feridas produzirão a beleza de Cristo em nós 54
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O quebrantamento afeta o serviço na obra 55


Qualidades produzidas no quebrantamento 58
Somente o Senhor pode edificar nosso caráter 60
Deus quer que deixemos todas as coisas em suas mãos 60
A cruz em operação 61
Traços do caráter de Cristo 61
Principais fatores para a formação de um autêntico caráter cristão 71
Ter um modelo 71
Receber de Deus os modelos e mentores que eles nos dá 73
Submeter-se ao Senhorio de Cristo 74
Viver cheio do poder que transforma 74
Disciplina pessoal 76
Constante frutificação 76
Suplemento: O caráter de Cristo e da serpente 78
Referências bibliográficas 80

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O CARÁTER CRISTÃO É FRUTO DA ALMA

Joe Bishop, ministro da Igreja Fé Apostólica em Woodlake, Califórnia, diz que Jesus
poderá vir a qualquer momento. No entanto, se Ele demorar, a Igreja provavelmente
enfrentará perseguição mais intensa. Ele acredita que a habilidade de resistir à
perseguição gira em torno do que chamamos de “Caráter Cristão”.

Para ele nosso caráter está relacionado com quem somos quando ninguém está olhando.
Nossa reputação, por outro lado, diz respeito à nossa conduta como é vista ou percebida
por outros. “Boa” conduta sem caráter se torna hipocrisia. Isto foi revelado à igreja em
Sardes: “Ao anjo da Igreja que está em Sardo escreve: Isto diz o que tem os sete
Espíritos de Deus, e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives,
e estás morto!” (Apocalipse 3.1).

O livro de Apocalipse foi escrito, de certa forma, como uma profecia dos últimos tempos.
Também foi dado como uma advertência para a Igreja. Nós, como cristãos, somos a
Igreja. Já que Jesus pode vir a qualquer momento, nós temos que prestar atenção às
advertências. A mensagem de Deus para os de Sardes era que eles tinham um nome –
uma boa reputação – porém estavam mortos. Eles estavam vivendo em hipocrisia. Um
bom nome é importante e nós queremos tê-lo. A base da nossa reputação, no entanto,
deve ser a de um Caráter Cristão. Isso é o que nos ajudará a resistir a qualquer
perseguição que nós tenhamos que enfrentar.

Deus está interessado em quem realmente somos. Algumas vezes nós podemos ser
enganados por algumas coisas que parecem boas externamente, mas Deus nunca pode
ser enganado.

No Antigo Testamento, lemos que o Profeta Samuel foi instruído por Deus para ir à casa
de Jessé e ungir um dos seus filhos para que fosse o rei. Quando Samuel conheceu o
filho mais velho de Jessé, viu que ele era um jovem vistoso e teve certeza que ele era o
ungido do Senhor. O Senhor lhe respondeu: “O homem vê o que está diante dos olhos,
porém o Senhor olha para o coração.” Deus sabe o que está dentro, e escolheu ao invés
deste, o filho mais jovem.

Nós não podemos produzir frutos espirituais em nossas vidas da mesma forma que o
agricultor não pode produzir frutos em suas árvores. Deus é o Único que fez a semente.
Ele é o Único que dá crescimento à árvore, o aparecimento de seus ramos e folhagens, a
germinação e a formação do fruto. O agricultor não pode fazer isso, ele somente coopera
com Deus. O mesmo é verdade espiritualmente.

Talvez você é daqueles que gosta de decorar uma árvore para o Natal. Normalmente não
faz nenhuma diferença que tipo de árvore você compra, porque de qualquer modo ela não
poderá ser vista – pois tem um montão de coisas penduradas nela! Mas nós nunca vimos
um pinheiro produzir luzes elétricas. Nunca vimos esse pinheiro produzir enfeites de vidro
em seus ramos. Essas coisas somos nós quem as pomos nas árvores.

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A Bíblia nos diz claramente que, como cristãos, temos que fazer certas coisas. Envolve
ação. No entanto, Deus está mais interessado em quem somos do que no que fazemos.
Boas obras não nos salvarão. Podemos fazer todas as boas obras das quais já ouvimos,
e não serão suficientes. Podemos ser bem zelosos ao contribuir para o fundo missionário.
Podemos dar esmola a um mendigo na esquina da rua. Podemos servir na cozinha
ajudando a preparar comida para os outros. Mas se ao mesmo tempo estivermos
degradando as nossas esposas ou esquecendo de atender nossos filhos, alguma coisa
está errada. Caráter é algo que vem do coração. Bom caráter produzirá bom fruto, mas
apregoar boas obras quando o coração não está reto é como pendurar ornamentos em
uma árvore. Pode parecer ótimo, mas não é real. Nós nunca teremos Deus em nossas
vidas por fazer boas obras, mas uma vez que temos Deus em nossas vidas, então haverá
boas obras – bom fruto.

Considere virtude – um dos atributos do caráter que devemos possuir. Em II Pedro 1.5,
nos foi dito: “Acrescentai à vossa fé a virtude” Como podemos conseguir virtude?
Fazendo algo virtuoso? Talvez tenhamos decidido sermos bem cuidadosos em nos
vestirmos modestamente. Nós podemos fazer isso de forma muito virtuosa, entretanto
damos meia volta e criticamos, contestamos ou reclamamos. Se este for o caso, então
alguma coisa está errada! Não importa o que dizemos, ou as boas obras que fazemos, ou
o que as pessoas pensam de nós, se não temos um coração que queira fazer a coisa
certa, então há algo errado. Queremos ter o fruto que vem da alma, porque isso é o que
vai nos proteger em tempos perigosos. Uma máscara externa não fará nada por nós
quando as provas chegarem.

Alguns membros das nossas igrejas já estão envelhecendo e enfrentando dores,


sofrimentos e solidão – circunstâncias que os deixariam desanimados se não tivessem
algo real em seus corações. Alguns reclamam, mas outros, em vez de reclamar, dizem:
“Eu ainda tenho ao Senhor!” Algumas vezes doenças aparecem e destroem o corpo ou a
mente, mas não podem tirar do coração o que o Senhor tem feito. Isto é Caráter Cristão.
Quando tudo mais se vai, nós ainda temos o que está em nossos corações.

Quando nós temos Caráter Cristão, a evidência está em nossa conduta. Quando uma
pessoa é salva existem evidências da sua salvação. Se alguém diz, “Eu sou salvo”, mas
continua a mentir, roubar e viver imoralmente, é muito claro que não está salvo. Se você é
salvo, sua conduta muda como evidência de que alguma coisa mudou dentro – no
coração. Nós lemos em 2 Coríntios 5.17: “Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. Se não há uma mudança de
conduta, então o coração não mudou.

A santificação também é uma experiência definitiva que traz uma diferença em nossas
vidas. A palavra de Deus nos ensina que a santificação provê limpeza interior da natureza
pecaminosa com a qual todos nascemos. Haverá evidências na sua vida que você foi
santificado – purificação no interior que se mostrará na sua vida diária.

Quando você recebe o Batismo do Espírito Santo você o saberá, e também os outros.
O batismo fará uma diferença em você. Haverá um poder novo em sua vida. O seu
relacionamento com Deus se moverá para um novo nível, porque o Consolador estará
morando em você. Isso se mostrará!

Traços de bom caráter não são aprendidos em um programa de dez passos ou em livros
de auto-ajuda. Eles são mais do que apenas tentar fazer o melhor. Eles vêm através do
trabalho de Deus no coração. O que vai nos sustentar em tempos de perseguição e
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perigo será algo que Deus nos tem dado, não algo que nós temos tentado desenvolver
com nossas próprias forças. O segredo se encontra em II Pedro 1.3, onde diz que “ Visto
como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo
conhecimento daquele que nos chamou por sua glória e virtude”.

Deus diz “Sede santos.” Ele não disse para fazermos algo para que aparentássemos ser
santos. Ele diz “sede” santo. Você não pode fazer a si mesmo santo da mesma forma que
não pode salvar-se a si mesmo, mas quando você recebe a santidade de Deus por
dentro, sua vida e conduta serão santas e agradáveis a Deus.

Pedro nos instrui no mesmo capítulo: “Acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a


ciência, E à ciência temperança, e à temperança paciência, e à paciência piedade, E à
piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade.” (II Pedro 1.5-7). Ele não nos disse
para fazer alguma coisa virtuosa ou piedosa ou boa. Ele nos instrui a sermos virtuosos,
piedosos e bons por dentro. Isso é caráter. Deus nos ajudará a sermos assim se orarmos
e pedirmos a Ele.

O livro de II Pedro não é o único lugar na Bíblia onde podemos encontrar essas instruções
de como ser, ao invés de apenas fazer. Sim, há certas coisas que Deus nos diz para
fazer, mas há mais coisas que Ele nos diz para sermos. Filipenses 2.15, diz: “sejais
irrepreensíveis.” Apocalipse 2.10, diz: “Sê fiel.” Apocalipse 3.2 diz. “Sê vigilante.”

É seu desejo ser como Deus quer que você seja? A ajuda do Senhor está disponível. Este
é um alto padrão, e Deus quer nos ajudar a perseverarmos nesta direção. Nós
precisamos desta segurança para os últimos tempos. Precisamos andar dignos da
vocação para a qual fomos chamados, como irrepreensíveis filhos da luz. Assim, nosso
caráter cristão resistirá a qualquer prova.

A CRUZ COMO FERRAMENTA DE LAPIDAÇÃO DO CARÁTER

O caminho para o Caráter de Cristo é o caminho da operação da cruz em nós. Não há outra
maneira das marcas do caráter de Cristo serem formadas, a não ser pela cruz. E a cruz é a
maneira de Deus quebrar a vontade humana e toda auto-dependência. Deus prepara
circunstâncias e situações que tratam com nossas vontades para que possamos ser
quebrantados. É através do Princípio da Cruz (Mateus 16.24) que somos formados em nosso
caráter.

Esta lei opera em nós, moldando-nos e ensinando-nos a vida no Espírito. Não há como
conter o processo dos tratamentos do Senhor para formar o nosso caráter. Deus é Pai e
sempre vai nos corrigir, aperfeiçoar e ensinar.

Como é bom vivermos e nos relacionarmos com pessoas quebrantadas e doces que foram
tratadas por Deus. A cruz é que opera em nós a beleza do Senhor. A cruz é o instrumento de
Deus para moldar-nos à semelhança de Cristo. A cruz é que nos capacita para termos o
caráter que suporta o poder de Deus. Antes de Jesus subir, Ele desceu (Efésios 4.8-9). Este é
o princípio de Deus. Antes de conhecermos o poder e a glória, temos que ser tratados pela
cruz de Cristo. Antes do Pentecostes virá o Gólgota. Nós gostamos muito da glória do
Pentecostes; o Senhor, porém, nos chama primeiro para o Gólgota. Quanto mais alto Deus for
nos levar, significa que mais tratamentos precisamos ter em nosso caráter. Existe um princípio
aqui: As pressões e tentações aumentam à medida que crescemos em Deus. Por isto, mais
base de caráter uma pessoa precisa ter na guerra contra o mundo espiritual e o pecado.
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Jesus passou tal pressão que suou gotas de sangue (Hebreus 12.4). O caráter do obreiro
precisa ter sido formado pela cruz.

A maturidade emocional e espiritual vem pelos tratamentos da cruz de Cristo. Os homens de


Deus precisam ser homens que vençam os ataques do inimigo em sua mente, emoções e
vontade, e isto vem pelo quebrantamento. Não podem ser pessoas frágeis que cedem às
pressões do velho homem e do diabo sobre a carne.

O alicerce de uma casa é a parte mais delicada da construção. Da mesma forma, na Igreja,
ter líderes fortes, tratados e preparados é a parte mais delicada e mais importante da
edificação. As pressões não vêm somente pelos ataques do inimigo, mas também pelos
princípios que envolvem a busca intensa de Deus. Às vezes, quanto mais buscamos ao
Senhor, mais os céus se fecham e se tornam de bronze. É um princípio que precisamos
saber: os que buscam ao Senhor, que muitas vezes oram e jejuam, sentem muita resistência
e aparentemente nada acontece. Ou às vezes as pressões e problemas aumentam. Este
princípio está ligado ao fato de que nos céus algo está sendo gerado e por isto estamos
pagando o preço. Sempre, antes da visitação de Deus e dos avivamentos, os homens usados
sofrem, choram e gemem, até que a mão do Senhor seja livre para operar. Portanto, como
obreiros de Deus, necessitamos conhecer estes caminhos e estar preparados para enfrentá-
los.

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Definições de Caráter
O caráter refletirá os traços da natureza pecaminosa se for influenciado pelo mundo, ou os
traços da natureza divina, se for influenciado pela Palavra de Deus.

Caráter é a soma total de todas as influências positivas


ou negativas aprendidas na vida de uma pessoa.
O cristianismo atual está enfrentando um bombardeio atroz por parte do mundo e do
inimigo. Talvez nunca antes na história o Caráter Cristão tenha sido tão questionado
quanto nos dias atuais. Mas será que nós sabemos, realmente, o que quer dizer Caráter?

Segundo o dicionário Aurélio, Caráter significa: “Qualidade inerente a uma pessoa,


animal ou coisa; o que os distingue de outra pessoa, animal ou coisa; O conjunto dos
traços particulares, o modo de ser de um indivíduo, ou de um grupo; índole, natureza,
temperamento”.

A palavra Caráter deriva da palavra grega “charaktér = ”, cujo significado está
associado ao ato de gravar ou imprimir. Esta etimologia é muito preciosa, pois traz a idéia
que caráter é algo que está impresso no nosso interior.

Caráter é como uma marca impressa que distingue a pessoa.


Os valores impressos no nosso caráter, em geral, dirigem nossas ações de forma
inconsciente. Nosso caráter se revela no convívio familiar, no trabalho e nas relações
interpessoais, no trato com os semelhantes, no cumprimento dos deveres e
responsabilidades, etc..

O Caráter se manifestará através dos valores, motivações, atitudes, sentimentos e ações


demonstrados. Em Hebreus 1.3, o escritor afirma que Cristo é o próprio caráter de Deus.

O Caráter de Jesus precisa ser impresso na Igreja para que, desta forma, o mundo creia em
Deus. Nossa primeira decisão é crer.

Caráter no grego significa “imagem”. Hebreus 1.3 afirma que Cristo é o próprio Caráter de
Deus, a própria estampa da natureza de Deus, aquele em que Deus estampou ou imprimiu
Seu Ser.

O Caráter é formado pela aprendizagem. Todo ser humano a partir do seu nascimento
começa a receber influências do meio ambiente onde se encontra. Estas influências são
assimiladas e com o tempo passam a fazer parte do caráter.

Esse processo de aprendizagem é feito por:

 Identificação
 Imitação
 Punição
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 Recompensa

Deus tem o propósito de que o homem se torne à imagem do Seu filho, Jesus Cristo. Este
propósito não mudou. A queda do homem não mudou este plano e propósito de Deus. Desde
Adão, passando por Jesus e pela Igreja o plano de Deus é sempre o mesmo. Hebreus 2.10:
"Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem,
conduzindo muitos filhos à Glória, aperfeiçoasse por meio de sofrimentos o Autor da salvação
deles”. Se a Igreja deve atingir esta meta, seus líderes devem mostrar o caminho, devem ir
na frente. O caráter e a personalidade do Senhor Jesus Cristo devem ser desenvolvidos nos
líderes da Igreja antes de ser formado no povo.

A. DISTINÇÃO ENTRE CARÁTER, PERSONALIDADE E TEMPERAMENTO

Muitas pessoas fazem confusão entre Caráter, Personalidade e Temperamento. É importante


entendermos a diferença que há entre estas três coisas a fim de não ficarmos confusos
quanto ao que Deus pode mudar em nossas vidas. Entretanto seja muito cuidadoso em não
usar este estudo para se auto-analisar e comparar-se com outras pessoas. Essa atitude é
altamente venenosa para o progresso espiritual.

Vejamos então a distinção que há entre Caráter, Personalidade e Temperamento:

1. Caráter, como já vimos é a imagem que refletimos como resultado da soma de todas as
influências que recebemos em nossa história de vida. O Caráter pode ser mudado. Sempre
estamos sendo aperfeiçoados em nosso Caráter. Isto começou desde o nosso novo
nascimento e continuará para sempre. Deus está, a cada dia nos tratando, treinando e
equipando. Esse processo não termina nunca.

Por caráter, entendemos que seja “a integração de todas as virtudes e defeitos morais na
personalidade”.

2. Quanto a nossa Personalidade, nada poderá mudá-la. Se fosse possível mudá-la, não
seríamos mais nós mesmos, nos tornaríamos outra pessoa. Nossa Personalidade é o que
veio a existência através do nascimento humano. A nossa vinda à terra ocorreu de modo
inédito. Cada um de nós que veio à existência, tem uma origem única e peculiar. Não há duas
pessoas iguais sobre a terra.

Freqüentemente observa-se confusão com o uso destes dois termos, como se fossem
sinônimos. No presente estudo, arbitraremos ao termo personalidade o seguinte significado:
“aquilo em nossa maneira de ser que é moralmente neutro”.
Por exemplo, alguém pode ser mais efusivo ou mais tranqüilo, mais extrovertido ou mais
introvertido, mais emotivo ou mais racional, sem que nenhum destes tipos seja
necessariamente melhor que outro. Na personalidade se combinam fatores muito peculiares
de temperamento, emotividade, constituição psicológica, inteligência, etc., que dão a cada
indivíduo sua particularidade única.

3. E quanto ao Temperamento? O que é? Podemos dizer que Temperamento é a


expressão da Personalidade. Através deste, você se dá a conhecer às outras pessoas com
quem se relaciona. Segundo uma classificação de Tim LaHaye, que não é muito bem aceita
pelos psicólogos, o Temperamento é dividido em quatro tipos básicos que podem se combinar
depois. Ninguém manifesta só um desses tipos.
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Nosso Temperamento normalmente é resultado de uma combinação entre dois ou três


desses tipos fundamentais. Vejamos, então, quais são:

 Sangüíneo
 Colérico
 Melancólico
 Fleumático

O Sangüíneo é aquela pessoa alegre e comunicativa que tem grande facilidade em se


expressar. Geralmente também passa dos limites dizendo o que não devia ou se precipitando
em decisões impensadas. O Sangüíneo é um bom líder, sensível aos outros e afetuoso,
entretanto, pode ser também desleal e inconstante. Geralmente é sentimental.

O Colérico é o líder entre todos os temperamentos. O indivíduo que o tem é prático, claro e
direto, e normalmente não leva em conta o que seus liderados pensam ou sentem. Tende a
ser bruto, frio indiferente e desleal. Na sua visão prática da vida, faz, normalmente o que mais
lhe trará benefícios, custe o que custar.

O Melancólico é aquele temperamento emocional e altamente sensível. Tudo será objeto de


análise e meditação. Tudo o que acontece em sua vida merece uma interpretação. Ele sofre
cada circunstância e toma sempre as dores dos outros para si mesmo. Por outro lado, é o
mais fiel às amizades entre todos os temperamentos. Quando entra num relacionamento,
aplica tudo que tem com altas expectativas. Por isso sofre muito e tende à introspecção como
nenhum outro.

O Fleumático é aquele Temperamento calculista, prático. Normalmente tem dificuldade de


demonstrar suas emoções, não tem muita liderança, é calado e sempre tem críticas a fazer a
respeito dos demais, principalmente do líder. É sarcástico e irônico.

B. EXPRESSÕES DO CARÁTER

O caráter de alguém se expressa através de pelo menos três aspectos:

1. Forma de Pensar

A forma de pensar de uma pessoa é percebida pela maneira como ela constrói a sua escala
de valores. Seu caráter é determinado em primeiro lugar pelo aspecto moral, ou seja, aquilo
que considere certo, errado, permitido, proibido e assim por diante. Se aprova aquilo que
definitivamente é errado, então se pode dizer que seu caráter é defeituoso, um "mau caráter".

Quando nos convertemos, a primeira coisa que devemos fazer é renovar a nossa mente.
Renovar nesse caso significa mudar a maneira de perceber as coisas e também a escala de
valores. A vontade de Deus é que tenhamos o Caráter de Cristo, a Sua mente (I Coríntios
2.16).
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B. Estilo de Vida

O estilo de vida de uma pessoa é determinado pelos seus alvos, hábitos e costumes. Se
seu grande alvo na vida é ganhar dinheiro, deve desenvolver um estilo de vida compatível
com esse alvo. Deve desenvolver os hábitos e costumes coerentes com o que quer alcançar.
Se quer ser atleta, mas não treina, há algo errado. Se quer se desenvolver nos estudos, mas
não se aplica a ler em casa, também há algo errado. O estilo de vida faz parte do nosso
Caráter. A prova disso é que normalmente pessoas de uma mesma profissão apresentam
características de Caráter semelhantes. Não é difícil percebermos isso em empresários,
caminhoneiros, programadores, etc.

C. Conduta

A conduta é o conjunto de comportamentos que aprendemos e que se firmam dentro de nós.


Conduta é tudo aquilo que fazemos, falamos, sentimos, esperamos e desejamos. A
conduta se manifesta na relação com outras pessoas. O comportamento diante de outras
pessoas expressa o caráter, ou seja, a forma de pensar e os motivos que vão dentro do
coração.

Estes três elementos compõem o nosso caráter. Evidentemente eles não podem ser
observados separadamente. Em tudo aquilo que fazemos manifestamos estes três aspectos
simultaneamente. Todos nós ao nos convertermos já possuímos um caráter formado. Esse
caráter foi formado por tudo aquilo que recebemos de nosso meio ambiente. Muito daquilo
que aprendemos está correto, mas existem partes da nossa forma de pensar, do nosso estilo
de vida e da nossa conduta que devem ser transformados.

Todo o nosso crescimento espiritual é demonstrado pelo nosso caráter. Se com o passar do
tempo acumulamos muito conhecimento, mas não demonstramos nenhuma mudança no
caráter isso mostra que o conhecimento foi em vão. Deus está profundamente interessado
em nossa conduta. Jesus e os Apóstolos gastaram muito espaço para tratar de frutos, de
comportamento, de conduta, de coração, como vemos no versículo que se segue:

Mateus 5.48: “portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”.

II Coríntios 13.9: “porque nos regozijamos quando nós estamos fracos, e vós, fortes, e isto é
o que pedimos, o vosso aperfeiçoamento”.

Gálatas 4.19: “Meus filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado
em vós”.

Efésios 1.4: “Assim como nos escolheu Nele antes da fundação do mundo, para sermos
santos irrepreensíveis perante Ele”.

II Timóteo 3.17: “A fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado
para toda boa obra”.

II Pedro. 1.3: “Visto como pelo seu Divino poder nos tem sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para
sua própria glória e virtude”.
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Em Romanos 8.29 vemos que o propósito eterno de Deus é ter muitos filhos, mas não
apenas isto, mas ter filhos semelhantes a Jesus. Deus quer filhos que manifestem o
Caráter de Jesus. Quando o homem caiu o propósito de Deus foi apenas adiado, não foi
mudado. A Igreja do Senhor deve atingir esta meta e os seus líderes devem mostrar o
caminho, devem ir à frente do rebanho.

O Caráter do Senhor Jesus deve ser desenvolvido nos líderes


da Igreja antes de ser formado no seu povo.
Não são poucos os escândalos que têm surgido entre líderes que foram investidos de
autoridade, mas que antes não receberem aprovação no caráter. Um líder que apresenta
deficiências sérias em seu caráter constitui-se em um grande obstáculo para a atuação de
Deus.

As deficiências de caráter nas vidas dos membros da Igreja se devem, em grande parte, aos
próprios líderes. A Igreja é o retrato da sua liderança. Líderes relapsos geram um povo
relapso. Líderes preguiçosos geram um povo igualmente preguiçoso. Se a liderança é imatura
inevitavelmente também o povo o será. Nunca será demais enfatizarmos o caráter do obreiro,
pois isto determina o sucesso no ministério. Somente um caráter formado e aprovado pode
suportar as pressões da obra e as dificuldades do Ministério.

C. CARÁTER E DONS
Existe uma distorção que tem assolado a Igreja do Senhor durante os séculos: a
supervalorização dos dons em detrimento do caráter. Mas, o que é um dom?

Um dom é uma dádiva que Deus concede a todos indistintamente. Os dons podem ser:
naturais ou espirituais. Os dons naturais são aqueles com os quais nascemos como:
inteligência, astúcia, memória, capacidade para tocar instrumentos, cantar, praticar
determinados esportes, etc. Os dons espirituais nos são concedidos pelo Espírito Santo como
instrumentos na sua obra (I Coríntios 12.7-10).

Os dons são muito úteis, mas são secundários. Deus coloca em primeiro lugar a vida e o
caráter. Todos podem achar que um determinado irmão que possui uma grande inteligência e
capacidade extraordinária de memorização deverá se tornar um grande pregador. Isto é um
tremendo engano e não passa de mentalidade mundana. A Igreja de Deus não é edificada
com essas coisas. Se tal irmão possuir Vida de Deus e ainda não passou pelo processo da
cruz não será útil para Deus, apesar do seu dom.

Outra pessoa pode ainda pensar que outro irmão, por ter um dom de cura e discernimento de
espíritos, venha a ser uma coluna na casa de Deus. Isto também é um engano. Os dons são
úteis, mas nunca podem ser a base da obra de edificação da Igreja. Este é o motivo por que
existem tantos escândalos: priorizamos mais o dom que o caráter. Os dons, sejam espirituais,
ou naturais devem passar pela cruz antes de serem úteis.

O ministério é edificado sobre o Caráter e não sobre os dons.


Deus não vai enviar ninguém sem antes tratar com o seu Caráter.
Os dons atraem os homens, mas o Caráter atrai a Deus.
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No livro de Êxodo encontramos um exemplo clássico do engano de se priorizar os dons. A


Palavra do Senhor diz que o povo de Israel estava sendo escravizado por Faraó. Moisés era
o homem que Deus havia escolhido para levar a cabo o seu propósito. Ele havia sido criado
no palácio de Faraó e recebeu a melhor instrução da época; era um homem
excepcionalmente inteligente, estudado e talentoso. O próprio Moisés tinha algum
entendimento desse fato, e em certo momento se dispôs ele mesmo a libertar o seu povo da
escravidão (ver Êxodo 2.11-15). Moisés se achava capaz e perfeitamente habilitado porque
possuía a instrução egípcia. Deus, porém, coloca Moisés de molho por quarenta anos no
deserto de Midiã até que o seu caráter pudesse ser aprovado. Do ponto de vista natural,
Moisés já estava pronto aos quarenta anos quando matou o egípcio, mas do ponto de vista de
Deus ele precisa de outros quarenta anos até chegar ao ponto de não mais confiar na sua
força ou nos seus talentos (ver Êxodo 3.10).

Quanto mais um homem confiar em si mesmo, nos seus talentos naturais, menos utilidade
terá para Deus. O critério de Deus sempre é escolher o que se acha frágil, incapaz e
desqualificado. A glória de Deus se torna manifesta quando pessoas a quem não
reputávamos qualquer valor se levantam em poder e autoridade. Fica patente que Deus é
quem faz; não é um simples uso de talentos especiais.

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Como se forma o Caráter


O caráter de um indivíduo não é adquirido de uma só vez. Ele é o resultado do somatório
de vários elementos, individualmente chamados “traços de caráter” que, em sua
coletividade, definem o caráter do sujeito.

O “traço de caráter” pode ser positivo ou negativo – uma virtude ou um defeito,


respectivamente.

Quando praticamos uma mesma ação várias vezes, aos poucos esta ação se torna um
hábito e pode se tornar um traço de caráter. De modo que, nossa conduta, em princípio,
pode alterar nosso caráter e, uma vez forjado o caráter, este naturalmente condiciona a
conduta.

A. A INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE E DA SOCIEDADE NA


FORMAÇÃO DO CARÁTER

Há alguns anos atrás, o ambiente doméstico era o centro da formação do caráter do


indivíduo. Antes do fenômeno da urbanização, era no núcleo familiar que as pessoas
adquiriam a maior parte de seus traços de caráter.

Na atualidade, apesar da formação do caráter continuar sendo influenciada pelo ambiente


familiar, ela sofre também a influência dos diversos ambientes em que o sujeito está
inserido. As agremiações (escola, creche, ambiente de trabalho, igreja, etc.), e as mídias
(rádio, TV, internet, jornais e revistas) dividem com a família a responsabilidade pela
formação do caráter dos indivíduos.

B. A RESPONSABILIDADE DA IGREJA
Filipenses 4:8: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se
há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”.

Você concorda que as qualidades mencionadas aí representam “traços de caráter”


desejáveis a qualquer cristão? No entanto, a expressão “Caráter Cristão” não aparece em
lugar nenhum das Escrituras. Alguém afirmou que, apesar de o mundo jazer no maligno e
estar morto em seus delitos e pecados, a maioria dos indivíduos que no mundo está não
possui um comportamento desvairado ou impertinente. De fato, a maioria dos sujeitos não
cristãos que conheço são honestos, se indignam com maldades sociais, possuem boa
fama. Infelizmente posso dizer que conheço muitos cristãos mentirosos, desonestos,
sonegadores, impertinentes, avarentos e injustos.

O “Caráter Cristão” precisa ter mais características além das mencionadas acima. Do
contrário, poderia ser perfeitamente chamado de “Caráter moral”, sem prejuízo semântico.
“Mas, por estranho que pareça, nós, cristãos, possuímos efetivamente dentro de nós uma
parcela dos próprios pensamentos e da mente de Cristo”.

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Queremos compartilhar as ferramentas de Deus para transformação do nosso caráter à


semelhança de Jesus. Como podemos ter impresso no nosso próprio caráter traços de
caráter que pertencem ao próprio Filho de Deus – Jesus.

C. O PROJETO DE DEUS PARA NOSSO CARÁTER

Hebreus 1:1-3: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras,
aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, A quem constituiu
herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua
glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra
do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se
à destra da majestade nas alturas...”.

Destaque na sua Bíblia a palavra imagem. Nesta passagem, a palavra imagem quer dizer
que Cristo tem exatamente o mesmo caráter que Seu Pai. Todas as virtudes morais do
Pai estão no Filho.

Agora, atente para Gênesis 1.27: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou”.

Veja que o homem foi criado à imagem de Deus. Em que consiste esta imagem de Deus
no homem? Entre outras coisas, isto significa que Deus criou o homem com o mesmo
caráter moral que Ele mesmo. O plano original de Deus é que todos os descendentes de
Adão e Eva tivessem o mesmo caráter de Deus.

Fomos predestinados a ser filhos de Deus e também para ser feitos conforme a imagem
de Seu Filho.

O Plano de Deus mudou?

Estes textos nos revelam que, apesar de havermos pecado e perdido a imagem de Deus,
o plano redentor de Deus em Cristo é nos transformar até formar novamente o caráter de
Cristo em nosso caráter.

Fomos escolhidos antes da fundação do mundo não meramente para sermos salvos, mas
para sermos santos diante de Deus em toda nossa maneira de viver.

Fomos chamados não somente para ter Deus como Pai, mas para sermos perfeitos como
Ele.

O que quer dizer perfeito?

O termo “perfeito”, nestes textos, é a tradução da palavra grega “teleios = ”, cujo
significado não se refere a uma perfeição absoluta. Teleios significa: “Completo, total,
acabado, rematado; que tem os caracteres distintivos totalmente desenvolvidos”.

Isto significa que o plano de Deus é nos edificar em todos os aspectos de nossa vida e
caráter.

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D. NASCER DE NOVO É SOMENTE O PRIMEIRO PASSO

Temos que crescer até chegar à medida da estatura de Cristo. Este é o propósito de Deus
ao estabelecer todos os dons e ministérios na Igreja.

Ter o “Caráter de Cristo” consiste em ataviar nosso caráter com valores que existiram em
Jesus e que somente podem ser mantidos através do Espírito Santo. Viver o “Caráter
Cristão” é ataviar a vida com algo mais do que valores morais.

“Porque é Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar..." (ver Filipenses 2.13).

Todos nós desejamos ter um Caráter aprovado por Deus. Todos nós queremos agradar a
Deus e por isso ficamos apenas esperando saber as normas para começarmos a praticá-las.

A vida crista não é um mero cumprimento de normas e preceitos, pois não estamos mais
debaixo de domínio da lei. A vida cristã se resume simplesmente em: "Cristo em vós”, ou
seja, a vida cristã consiste, em poucas palavras, na dependência completa do Espírito Santo
que habita em nós. É Ele quem muda o nosso querer e também é Ele quem nos capacita a
fazer a Sua vontade. Ele é tudo em todos. Jesus é a nossa bondade, a nossa mansidão, a
nossa justiça. Ele na verdade, é tudo o que necessitamos. Tudo o que precisamos já está em
nós na pessoa do Espírito Santo. Seria muito fácil começarmos a nos esforçar para cumprir
um conjunto de qualidades, não é essa, porém, a vontade de Deus. Desejamos que os
irmãos tenham revelação do pleno suprimento de Deus para suas vidas, pois na medida em
que entendermos isso, as qualidades de Caráter naturalmente irão tomando forma. O pleno
suprimento de Deus para nós é Cristo Jesus que habita em nós. Ele é a nossa Vida. Seja
Ele tudo em todos.

Não adianta falarmos de caráter e conduta se ainda não nos apropriamos do pleno
suprimento de Deus para nós: a libertação do poder do pecado, a nossa justificação e
regeneração em Cristo, a dependência completa do Espírito e o andar no Espírito.
Precisamos nos apropriar destas grandes realidades espirituais, mas não apenas isto:
precisamos aprender a perceber a direção de Deus em nosso espírito, fazendo separação
entre o que é da alma daquilo que é do Espírito. Precisamos conhecer, na experiência, a
renúncia diária do EU no princípio da Cruz. Todas essas experiências devem ser
compreendidas no espírito pela revelação de Deus.

Quando só enfatizamos as qualidades recomendáveis, corremos o risco de estabelecer um


amontoado de regrinhas que não estão na Bíblia. Tais como:

 Cinco passos para vencer a ira.


 Dez passos para vencer a lascívia, etc.

Estas coisas não funcionam e nos desviam do centro da vida cristã. Cristo é a nossa vida. A
vida do cristão é Cristo. Muitos pensam que podem ser santos se tão somente conseguirem
vencer certos tipos de pecados. Outros pensam que sendo humildes e gentis serão
vitoriosos. Ainda alguns imaginam que orando mais e lendo a Bíblia, tendo cuidado de jejuar
e vigiar, alcançarão um caráter santo. Outros concebem a idéia de que somente matando o
ego terão vitória. Todas estas fórmulas têm a aparência de piedade e sinceridade, mas tudo

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isso é vão. Não podemos viver a vida cristã usando mil e uma fórmulas para os mais variados
problemas. Na prática, isso não funciona. O que Deus deseja é que entendamos que Cristo
é a nossa vida, o perfeito suprimento de Deus para todas as nossas necessidades.

Com este entendimento em vista, vamos estudar alguns princípios fundamentais que
aumentarão a compreensão de que Cristo é de fato a nossa vida.

Vejamos, então, antes mesmo de falarmos na formação do caráter de Cristo, um fundamento


muito importante e ao mesmo tempo muito pouco ensinado na Igreja: O poder da cruz!

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O Poder da Cruz
1. A cruz e a libertação do poder do pecado

No começo de nossa vida cristã, ficamos preocupados com o que fazemos e não com o que
somos. Sentimos mais tristeza pelo que temos feito, do que pelo que somos. Pensamos que
se pudéssemos corrigir certas coisas seríamos bons cristãos, e então procuramos
constantemente nos corrigir. Mas depois de certo tempo descobrimos, com algum espanto,
que não conseguimos nos corrigir e que realmente há em nosso íntimo um problema mais
sério. Procuramos agradar ao Senhor, mas logo descobrimos que há algo em nós que não
deseja agradá-lo. Procuramos ser humildes, mas o nosso próprio eu se recusa ser humilde.
Procuramos demonstrar afeto, mas não sentimos ternura. Sorrimos e parecemos ser amáveis,
mas, no íntimo sentimos uma completa falta de amabilidade. Quanto mais tentamos corrigir o
problema na parte exterior, mais percebemos que é um problema na parte interior. Então
chegamos ao Senhor dizendo: "Senhor, agora compreendo! Não é só o que faço que está
errado! O problema está em mim. Pois eu é que estou errado!"

2. Nascemos Pecadores

Somos membros de uma raça que se desviou inteiramente do que Deus planejou. Por causa
da queda, houve uma transformação no interior de Adão, em virtude disso ele se tornou um
pecador, completamente incapaz de agradar a Deus. A nossa vida vem de Adão. Onde você
estaria agora se seu bisavô tivesse morrido com três anos de idade? Você teria morrido nele.
A sua experiência está unida à dele. Da mesma forma, a nossa está unida à de Adão.
Potencialmente todos nós estávamos no Éden, quando Adão pecou. Todos nós estamos
envolvidos no pecado de Adão, e sendo nascidos como filhos de Adão, recebemos dele a sua
própria natureza de pecador. Vemos então que o nosso problema é hereditário, é uma
questão de natureza e não de comportamento. A menos que possamos modificar o nosso
parentesco, não temos como nos livrar da herança que recebemos.

3. O Caminho da Libertação

Aqui está o nosso problema. Nascemos pecadores, como podemos extirpar a nossa
hereditariedade pecaminosa? A resposta é bem simples. Desde que nos tornamos pecadores
pelo nascimento, a única maneira de sermos libertos é pela morte. A escravidão veio pelo
nascimento, a libertação vem pela morte. Foi exatamente este o caminho que Deus nos
ofereceu, a morte é o segredo da libertação.

Mas, como podemos morrer? Alguns de nós procuramos, mediante muitos esforços, nos
libertar dessa vida pecaminosa, mas sempre em vão. O caminho não é nos matarmos e sim
reconhecer que Deus, em Cristo, já cuidou desta situação. Deus nos colocou em Cristo por
isso, quando o Senhor Jesus Cristo morreu na cruz, todos nós morremos com Ele. A lógica de
Deus é esta: "Um morreu por todos, logo, todos morreram" (II Coríntios 5.14). Quando Jesus

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foi crucificado, todos nós fomos crucificados com Ele. A nossa morte com Cristo não é
meramente uma doutrina, mas um fato eterno.

Freqüentemente usamos dois termos para descrever os dois aspectos da morte de Cristo:

 Substituição
 Inclusão

A substituição nos fala de Cristo morrendo em nosso lugar como o Cordeiro de Deus. Pela
Sua vida isenta de pecado, Ele pôde satisfazer a Justiça de Deus. Por isso, pelo Seu sangue,
nós somos perdoados de todos os pecados cometidos. A substituição resolveu o problema
dos pecados que eu havia cometido, pois pelo Seu sangue sou completamente purificado.

Mas o Senhor não apenas morreu no meu lugar, como meu substituto, Ele também morreu
para que eu pudesse morrer. Ele também morreu como meu representante. É isso que nós
chamamos de inclusão. O meu velho homem morreu com Cristo, por isso posso agora
experimentar libertação do pecado. "Sabendo isso, que foi crucificado com Ele, o nosso Velho
homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos ao pecado como
escravos" (Romanos 6.6).

4. Morremos Com Cristo

Antes de você vir a Cristo, a Palavra de Deus diz que você estava "em Adão", mas agora,
depois de conhecer ao Senhor a Palavra de Deus diz que você está "em Cristo". Assim, se
alguém está em Cristo é nova criatura: as coisas velhas já passaram, eis que se fizeram
novas (II Coríntios 5.17). A cruz de Cristo pôs fim à velha criação e a Sua ressurreição deu
início a uma nova criação. Se estamos em Adão, tudo o que é próprio de Adão será
espontaneamente nosso, não teremos de nos esforçar para pecar, naturalmente nós iremos
fazer tudo o que é próprio de Adão. Da mesma forma, se estamos em Cristo tudo o que há em
Cristo nos é atribuído livremente, sem esforço algum, simplesmente pela fé.

A morte do Senhor Jesus é inclusiva, na Sua morte todos nós morremos. Não somente
nossos pecados foram colocados sobre Ele, mas a nossa própria pessoa foi incluída Nele.

Quando percebemos que os nossos pecados foram todos levados sobre a cruz, o que
fizemos? Por acaso pedimos ao Senhor que viesse morrer por nós para nos perdoar? De
forma alguma, apenas cremos em nosso coração e lhe demos graças, porque
compreendemos em nosso coração que Ele já o fez na cruz. Como recebemos o perdão dos
pecados? Foi simplesmente crendo e aceitando o fato da morte do Senhor na cruz.

Esta verdade que diz respeito ao nosso perdão, também diz respeito a nossa libertação. A
obra já foi feita, não há necessidade de orar, e sim, apenas de dar louvores. Deus nos incluiu
a todos em Cristo, de modo que quando Cristo foi crucificado, nós também o fomos. "Então
creram em Suas palavras e lhe cantaram louvores" (Salmo 106.12).

Você crê na morte de Cristo? É claro que sim. Então, a mesma escritura que diz que Ele
morreu por nós, também diz que nós morremos com Ele. Poderia ser verdade a primeira
declaração e a segunda falsa? De forma alguma. A Palavra de Deus é completamente
verdadeira. Preste atenção a este fato: "Cristo morreu por nós" (Romanos 5.8). Esta é a
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primeira declaração, mas veja também a segunda, igualmente verdadeira: "Foi crucificado
com Ele o nosso velho homem" (Romanos 6.6). "Morremos com Cristo" (Romanos 6.8).
Aleluia!

O modo de Deus operar a libertação é inteiramente diferente dos processos aos quais o
homem recorre. O homem se esforça para suprimir o pecado, procurando vencê-lo. O
processo de Deus consiste em remover o pecador (o velho homem). Muitos cristãos se
lamentam de suas fraquezas, pensando que se fossem mais fortes tudo lhes iria bem. A idéia
de que seja a nossa fraqueza que nos causa fracasso na tentativa de vivermos uma vida
santa é que nos conduz a este conceito falso de libertação. Se nos sentimos fracos em
relação ao pecado, concluímos que o que nos falta é poder. "Se eu fosse mais forte!" Dizemos
"Poderia vencer minhas explosões de ira", e assim pedimos ao Senhor que nos fortaleça para
podermos nos dominar a nós mesmos.

Tal conceito, porém, está completamente equivocado e não é cristão. O meio de Deus para
nos libertar não consiste em nos fazer cada vez mais forte, mas antes em nos tornar cada vez
mais fracos. Certamente se pode dizer que esta é uma forma de vitória bastante estranha,
mas esta é a maneira de Deus agir em nós. Deus nos livra do poder do pecado, não por
fortalecer o velho homem, e sim crucificando-o. Talvez você já tenha tentado em vão exercer
domínio próprio, uma vez, porém, que você percebe a verdade e reconhece realmente que
não possui em si mesmo poder algum para fazer seja o que for e que tudo já foi realizado na
cruz, então todo esforço próprio cai por terra e entramos no descanso de Deus.

5. Libertos do Pecado

Há algumas pessoas que têm o seguinte pensamento: Deus, por meio de Cristo, já me
perdoou na cruz, agora a santificação é por minha conta; devo fazer o melhor que puder. Isto
é um grande engano. O mesmo Deus que nos redimiu na cruz, também nos liberta do pecado
sem nossa participação. Quais foram as condições para que eu recebesse o perdão da cruz?
Simplesmente crer e me apropriar. O que Deus quer é que eu creia. Quando eu creio que o
sangue me lava, me aproprio da paz de Deus. O que se requer para que receba a libertação
do pecado? Do mesmo modo que o perdão, apenas duas coisas:

 Crer e
 Apropriar-se

A vitória não é conquistada, a vitória nos é dada em Cristo Jesus. Não tenho de lutar, tenho
que crer, pois é Deus quem efetua em nós a Sua obra segundo a Sua boa vontade. “...pois o
querer o bem está em mim; não porém o efetuá-lo" (Romanos 7.18b).

A salvação manifestada na cruz é maravilhosa e resolve completamente o problema dos


pecados cometidos e da natureza do pecado em nós. Para que você possa entender melhor
esta obra, vamos ver um exemplo. Suponha você que o governo quisesse enfrentar
rigorosamente a questão da bebida alcoólica e decidisse que todo o país ficasse sob a "Lei
seca". Como seria colocada em prática esta decisão? Se a polícia entrasse em cada loja, bar
e supermercado e destruísse todas as garrafas de bebida alcoólica que encontrasse, isso
resolveria o problema? Certamente que não. Poderíamos limpar o país de cada garrafa de
bebida alcoólica, mas por traz das garrafas estão as fábricas que as produzem. Se não
tocássemos as fábricas, a produção continuaria e não haveria solução permanente para o

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problema. Se quiséssemos resolver de forma permanente a questão das bebidas deveríamos


destruir as fábricas, destilarias e alambiques.

Nós somos uma fábrica dessa natureza e nossos pecados são a produção. O sangue do
nosso Senhor resolveu a questão dos produtos. Mas Deus parou por aí? Nós somos os
produtores de pecado e para acabar com o problema do pecado, Deus destruiu o velho
homem na cruz. Você crê que o Senhor purificaria todos os nossos pecados para deixar por
nossa conta o problema da fábrica? Deus não faz a obra pela metade. Deus destruiu os
produtos e também as fábricas produtoras.

A obra consumada de Cristo realmente atingiu a raiz do nosso problema. Sabendo isso, diz
Paulo, que foi crucificado com Ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja
destruído e não sirvamos ao pecado como escravo (Romanos 6.6). Sabendo isso... sim, mas
você já o sabe de fato? Ou porventura ignora? (Romanos 6.3). Que o Senhor Jesus possa
abrir os nossos olhos com espírito de revelação para realmente entendermos a obra
consumadora da cruz.

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O Andar no Princípio da Cruz


Sabemos que, na cruz, Deus resolveu todo o problema do homem: o problema da
Condenação, o problema da escravidão sob o Poder do Pecado e aponta a saída para o
problema da independência do ego. A solução para todas estas coisas está na cruz. Vamos,
pois, ter uma visão mais completa deste assunto nas Escrituras.

Jesus não apenas morreu numa cruz; Ele viveu uma vida de cruz. Toda a vida de Jesus foi
caracterizada por uma renúncia completa do próprio "Eu". Ele viveu a Sua vida pelo princípio
da cruz. O princípio da cruz fala de uma completa dependência de Deus. É o processo da
maturidade. Percebe-se, pela vida de Jesus, que o processo de Deus, para tratar com o nosso
ego, segue um certo padrão, uma ordem. Se falharmos em um aspecto, Deus vai repeti-lo até
que sejamos aprovados. Na escola de Deus, ninguém pula cartilha, ou compra nota. Se tomar
bomba, repete.

Em João 5.19; 5.30 e 8.28, vemos Jesus testificando claramente sua posição de completa
dependência do Pai. Isso é o princípio da cruz em operação. Antes de avançarmos no
entendimento do princípio da cruz na vida de Jesus, necessário se faz clarear melhor o
entendimento no negar-se a si mesmo.

A. VERDADES SOBRE NEGAR-SE A SI MESMO

1. O negar-se a si mesmo não é a completa anulação da vontade

Isso evidentemente é impossível, trata-se, antes de uma renúncia definida quando minha
vontade quer seguir outra direção diferente da vontade de Deus. Significa que a vontade de
Deus deve ser priorizada, e não a minha própria.

2. Negar-se a si mesmo não é tornar-se um alienado

Muitos enfiam suas cabeças dentro de um buraco pensando que dessa forma estão se
negando. Isso, além de ser perigoso, se constitui um sintoma de fuga neurótica. E Jesus
nunca quis dizer tal coisa.

3. Negar-se a si mesmo não é vida de ascetismo

Na Idade Média, muitos monges tinham um estilo de vida ascético por suas vidas e paixões.
Essa posição coloca, no entanto, a vida cristã como uma dor constante. A vida seria um peso.
Dura de ser suportada. Jesus veio para que o homem tivesse vida abundante. Não queremos
retirar a dor da vida normal, do crescimento sadio, mas não podemos fazer da vida uma
apologia à dor. Sofrer gratuitamente, para merecer o favor de Deus é uma teologia errada e
não está coerente com o tipo de vida que Jesus viveu e ensinou.

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4. Negar-se a si mesmo não é a perda do desejo

Quando o desejo se torna concupiscência, ele passa a ser pecado. E nós já estamos
mortos para o pecado, portanto livres do seu domínio. Existem, no entanto, desejos
legítimos e bíblicos como o desejo de se casar, ter filhos, pregar o Evangelho, salvar
vidas e coisas assim. Vemos, portanto, que a auto-negação proposta por Jesus é, antes
de tudo, uma renúncia ao domínio da própria vida, e isso, sem dúvida, em algumas
situações vai implicar em todos os aspectos que mencionamos acima.

Haverá momentos de aparente perda da vontade, de aparente alienação, de um também


aparente ascetismo, bem como de uma renúncia de um desejo legítimo. Paulo, por
exemplo, optou por não se casar, mas era uma questão de consciência particular. Isso
acontece em função de que a vida cristã é, em essência, uma contra-cultura do sistema
vigente. Nunca devemos nos esquecer que a cruz é loucura para os homens, mas, para
nós, é o poder de Deus manifesto.

Mas afinal sobre o que falou Jesus quando exigiu a negação de si mesmo? Em Lucas
14.25 a 33, lemos a respeito das qualificações de um discípulo. Nessas qualificações,
percebemos três ênfases básicas que juntas formam a base da nossa estrutura de "ego".
Como sabemos, a centralização do ego está na base de todo o pecado. Dizemos, então,
que as três ênfases colocadas por Jesus, estão na base de qualquer ação para se ter
vitória sobre o ego.

5. Os meus relacionamentos

Os relacionamentos dizem respeito à minha necessidade de ser aceito sempre pelos


outros; o medo de ser rejeitado; e ainda de viver uma relação qualquer colocando Jesus
em segundo lugar. Negar a si mesmo implica então numa renúncia ao amor dos outros.
Não que eu não queira mais ser amado, mas que não ficarei abatido se isso não
acontecer.

6. A minha vontade

Ela é fundamental para qualquer cristão que conheça a vontade específica de Deus para
a sua vida. Tomar a cruz fala de tomar a vontade de Deus em detrimento da minha. Há
uma tendência natural de evitarmos a dor e buscarmos o prazer. Entretanto, muitas
vezes, a vontade de Deus implica em dor, e eu devo me apossar dela em detrimento do
meu desejo de prazer. A cruz nos fala de abrir mão de direitos, de reconhecimento, de
oportunidades e assim por diante. Jesus, por exemplo, já sob a sombra da cruz, diz:
"...não a minha vontade, mas a tua..."

7. Os meus bens

Devo renunciar a viver para mim mesmo e, devo abrir mão dos meus bens, isto não
significa que devo doar todas minhas posses, mas que devo colocá-los a inteira
disposição do Senhor. Para muitos, abrir mão de bens é bem mais difícil do que abrir
mão até de si mesmo. Sabemos que Jesus andou por este caminho (I Pedro 2.21), para
que nós andássemos por ele também. Renúncia é morte e sem a morte do "eu", o
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Cristianismo perde o sentido. Não existe verdadeiro cristianismo sem cruz. Existe religião.
O Ego deve perder o seu lugar de centralizado, cedendo lugar à vontade de Deus.

Aqueles que têm a experiência de Romanos 6.11 perceberão que,


embora um homem possa ter vencido o pecado, ele ainda pode não
ter vencido o ego. Para aqueles crentes que são avançados
em vida, a vitória sobre o pecado é fácil, ao passo que a vitória
sobre o ego é muito difícil. Se um crente tem a experiência
plena da vitória sobre o ego, ele terá obtido a vida
que os apóstolos tiveram.

B. A OPERAÇÃO DA CRUZ SOBRE O EGO

Em nossa experiência, morrer para o ego é mais profundo e mais avançado que morrer
para o pecado. Normalmente os filhos de Deus prestam muita atenção quanto a vencer
pecados. Eles sofrem muito aborrecimento do pecado. Eles sabem muito bem como, após
pecarem, sua vida regenerada sofre com o maligno e com a amargura do pecado. Eles
provaram muito disso, e esperam muito vencer o pecado e não mais ser escravos do
pecado. Portanto, após terem recebido a luz e terem compreendido como morrer com o
Senhor, e como considerarem-se mortos para o pecado, eles confiam no poder do
Espírito Santo e começam seriamente a considerar-se mortos, e a permitir a vitória da
cruz ser expressa em seu coração e por meio dele.

Contudo, freqüentemente falta algo: depois de terem a experiência de vitória sobre o


pecado, eles acham que essa experiência é o padrão mais elevado da vida e que nada
pode ser mais elevado. Eles dão atenção excessiva aos seus pecados. Como resultado,
uma vez que os tenham vencido, dão-se por satisfeitos. É correto que prestemos atenção
aos nossos pecados, é correto que os crentes não negligenciem seus pecados. A vitória
sobre os pecados é a base de toda justiça e é a chave para o viver cristão adequado. Se
o pecado tiver domínio sobre nós, não poderemos esperar por qualquer progresso
espiritual. Mas isso não significa que possamos parar na vitória sobre o pecado, e
traçarmos um limite e designar um fim ao nosso avanço.

Devemos saber que isso é apenas o primeiro


passo da regeneração de um cristão
Ainda há um longo caminho diante de nós. Não o considere um fim! Após vencer os
pecados, o problema imediato que se apresenta aos cristãos é como vencer o “ego”.

Os crentes freqüentemente entendem mal o verdadeiro significado de "ego''. Alguns o


confundem com pecado. Eles consideram o ego como pecado e acreditam que ele deveria
ser levado à morte. Naturalmente, o ego e o pecado têm muito a ver um com o outro, mas o
ego não é o pecado. Muitos utilizam a medida com que medem o pecado para medir cada
comportamento exterior. Qualquer coisa que considerem errada é por eles condenada como
pecado. Entretanto, às vezes, quando o ego é expresso, ele pode parecer muito bom aos
olhos do homem e pode parecer muito virtuoso, muito amável e muito justo. Se tomarmos a
medida com que medimos o pecado para medir o ego, certamente eliminaremos a parte má
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EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

do ego e manteremos sua parte boa - é claro, segundo a concepção do homem. Pelo fato dos
crentes não perceberem a fonte do ego e não compreenderem que este pode produzir aquilo
que tanto Deus quanto o homem condenam como mau, assim como aquilo que é reconhecido
pelo homem como bom, eles permanecem na esfera do "ego " e falham em entrar no desfrute
da vida plena e rica de Deus. Satanás é muitíssimo sutil; ele oculta esse fato e mantém os
crentes em trevas, levando-os a se contentarem com a experiência da vitória sobre o pecado
e pararem de buscar uma experiência mais elevada: a da vitória sobre o ego.

A vida do ego é exatamente nossa vida natural. A vida natural foi afetada pela queda de Adão
e tornou-se muito corrompida. Pela queda de Adão, o homem adquiriu uma natureza
pecaminosa. Essa natureza pecaminosa está intimamente entrelaçada com a vida natural, a
qual é o ego. Nosso ego é exatamente o nosso eu; é o que constitui nossa própria
personalidade individual. Em outras palavras, é a nossa alma. Por ser a natureza pecaminosa
tão intimamente relacionada ao ego, é difícil separar os dois em suas operações, isto é, em
seus atos de pecados. É claro, nunca poderemos fazer uma separação muito clara entre o
ego e o pecado. Em um incrédulo, o ego e o pecado são como um, e é muito difícil separá-los.
O ego já é capaz de transgredir por si mesmo. Mas o pecado, sendo tão poderoso, afeta o
ego, domina o ego, subjuga o ego e obriga-o vir com mais idéias para pecar. Sob a influência
da queda de Adão, o ego já está corrompido ao máximo. Agora quando ele colabora com o
pecado, os dois têm pouco motivo para conflito. Mesmo que algumas vezes a consciência
faça um protesto muito fraco, é tão curto e fraco que desaparece num instante.

O ego e o pecado cooperam mutuamente tão bem que em pessoas não-regeneradas,


ambos estão misturados. Para eles, o pecado é exatamente o ego encarnado. Para eles, o
ego é simplesmente os muitos males que aparecem na vida humana caída; é simplesmente a
raiz, os ramos e as folhas do pecado. Para eles, o ego não é somente a origem do pecado,
mas a própria vida do pecado. Para eles, o pecado é o ego, e o ego é o pecado. Após um
homem ser regenerado, no estágio inicial de sua vida cristã, ele ainda acha difícil distinguir na
experiência entre o pecado e o ego. Mais tarde, enquanto recebe mais graça de Deus e
enquanto o trabalho da cruz e o poder do Espírito Santo tornam-se mais evidentes nele, ele
começa a separar o pecado do ego. Ao longo do caminho na sua vida cristã, os filhos de Deus
são gradativamente capazes de diferenciar o ego do pecado.

1. A vida do ego é exatamente a vida da alma

O ego é a nossa personalidade e tudo o que está contido em nossa personalidade. Do nosso
ego provêm nossa opinião pessoal, gostos, pensamentos, desejos, preconceitos, amor e ódio.
A vida do ego é o poder pelo qual alguém vive. Devemos ter em mente que o ego é
simplesmente a nossa pessoa acrescida de nossos gostos e desgostos. Essa vida é o poder
natural pelo qual realizamos o bem e trabalhamos. O ego é uma vida, pois ele vive nos
crentes cujo ego não foi removido. Mesmo nos crentes que morreram para o seu ego, este
freqüentemente tenta ressuscitar.

A vida do ego é exatamente a vida da alma. O Ego é a


Nossa personalidade e tudo o que nela está contido.
Após os crentes receberem o tratamento da cruz com relação ao pecado, o corpo do pecado
será neutralizado e não será mais capaz de agir. Entretanto, devido à falta de atenção à vida
do ego, esta ainda vive. Nesse estágio, a vida do ego é semelhante à vida de Adão antes da
queda. Não era espiritual porque não fora transformada pelo fruto da árvore da vida, e não era
carnal, pois não havia pecado. Ela pertencia a si mesma, e, sendo assim, ela podia pecar se o

Crucificar o ego com a força do ego é uma tarefa impossível 26


e jamais pode ser feita. Se não estivermos unidos com
o Senhor em Sua morte, nosso ego nunca morrerá
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quisesse, e podia ser espiritual se o quisesse. A vida dos crentes nesse período é muito
semelhante a isso. Não é espiritual porque seu espírito ainda não é livre e não tem alcançado
um andar segundo a vida mais elevada de Deus. Não é carnal porque a pessoa recebeu a
consumação da cruz e tem se considerado morta para o pecado. Ela pertence ao ego, é
almática, natural e não-transformada. Se não for cuidadosa, ela cairá e será contaminada pelo
pecado da carne. Se ela prosseguir e proclamar a consumação da cruz, tornar-se-à
completamente espiritual. Contudo, se os crentes permanecerem na esfera do ego, eles
cairão na maioria das vezes e muitas vezes tornar-se-ão carnais. Nesse período, os crentes
estão na condição mais vulnerável da sua vida cristã. O perigo está em fazer o bem por
esforço próprio. Algumas vezes leva um longo tempo para Deus mostrar aos crentes que eles
ainda estão no ego e que ainda estão tentando cumprir a vontade de Deus por seu próprio
esforço.

2. O ego inclui muitas coisas

Nossa vontade, emoções, amor e inteligência estão dentro do seu domínio. O ego é a
nossa própria pessoa. A vida do ego é o poder pelo qual vivemos. O ego é também a alma; é
um órgão. A vida do ego é a vida da alma, é o próprio poder do ego, para diversas partes do
homem - a vontade, as emoções, o amor, a inteligência, etc., e fará com que o homem
pratique o bem e trabalhe. Sua vontade é suficientemente forte para resistir às tentações
exteriores. Suas emoções fazem a pessoa alegre e levam-na a pensar que Deus está muito
próximo. Seu amor ao Senhor é profundo e sincero. Sua inteligência leva-a a produzir muitos
ensinamentos bíblicos maravilhosos e muitos métodos de realizar a obra de Deus.

No entanto, tudo é feito pelo ego e não pela vida espiritual de Deus. Durante esse período,
Deus muitas vezes concede graça especial aos crentes, de modo que recebem muitos dons
maravilhosos. Ao perceber que todos estes dons provêm de Deus, é de se esperar que o
homem se volte completamente de si mesmo para Deus. Entretanto, na experiência, o que
um crente faz é totalmente o oposto do que Deus pretende. Não apenas se volta a Deus,
como tira vantagem desses dons para seu próprio proveito. Como resultado, esses dons
tornam-se uma ajuda para prolongar a vida de seu ego. Portanto, Deus tem de trabalhar
muitos dias e anos até que essa pessoa desista de si mesma e se volte inteiramente a Ele.

Após um crente ser trazido por Deus a uma compreensão profunda da maldade do ego, ele
estará disposto a levar seu ego á morte. Mas qual é a maneira para o ego morrer? Não há
outra maneira senão pela cruz. Devemos ler duas passagens da Bíblia para entendermos a
relação entre a cruz e o ego. "Estou crucificado com Cristo" (Gálatas 2.19b).

Lucas 9.23: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e
siga-me”.

O que Gálatas 2.19 fala é algo que foi cumprido de uma vez por todas. Após percebermos
que nosso ego precisa ser levado à morte, deveríamos então, pela fé reconhecer de um modo
definitivo que “estou crucificado com Cristo”. A palavra no texto original é ego, o “eu”, a
pessoa. Além da cruz, certamente não há outro caminho para levar o ego à morte. Devemos
atentar também para as palavras "com Cristo". A crucificação do ego não é um ato
independente dos crentes. Os crentes não devem crucificar o ego na cruz, por si mesmos,
com sua própria força. A crucificação do ego deve ser junto com Cristo e em conjunção com
Cristo. Isso não quer dizer que ajudamos Cristo a colocar o ego na Cruz. Pelo contrário,
significa que Cristo já cumpriu esse fato, e agora eu apenas reconheço, e creio na sua
realidade. Aqui o ponto principal é Cristo. Essa é a razão de se dizer: "Estou crucificado com
Cristo'', e não “Cristo está crucificado comigo”. Não é que queiramos levar o ego à morte e
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que Cristo vem meramente acompanhar-nos. Pelo contrário, Cristo que é nossa morte,
carregou toda nossa "pessoa", nosso ego, para a cruz, e pregou-o ali.

Portanto, não estou crucificando o ego novamente, mas estou simplesmente reconhecendo o
fato. A palavra "estou", nos mostra que é um fato e não um desejo. Uma vida que morre para
o ego é possível, real e pode ser experimentada. Os apóstolos nos tempos antigos
alcançaram esse tipo de vida; o ego deles passou no teste. Portanto, é possível para nós
obtê-la também. Entretanto, devemos nos lembrar que é "crucificado com" e não "crucificado
sozinho". Separados do Senhor nada podemos fazer. Crucificar o ego com a força do ego é
uma tarefa impossível e jamais pode ser feita. Se não estivermos unidos com o Senhor em
Sua morte, nosso ego nunca morrerá. Cristo sozinho levou toda a velha criação, junto com
cada parte dela, à cruz em Sua morte. Se tentarmos encontrar outra maneira fora da maneira
do Senhor, e tentarmos realizar qualquer coisa fora do que o Senhor cumpriu, não somente
seremos tolos, mas também estaremos desperdiçando nosso tempo.

Portanto, não devemos fazer nada a não ser nos achegarmos ao Senhor em plena certeza de
fé e reconhecer a realização do Senhor como sendo nossa; em seguida devemos orar para
que o Espírito Santo aplique em nós a obra da cruz do Senhor e que expresse esta mesma
obra a partir de nós. Devemos nos achegar diante de Deus para negar nosso ego e oferecer
tudo a Deus. Pelo Espírito do Senhor, deveríamos levar à morte tudo o que está incluído em
nossa vida do ego. Devemos dizer a Deus: "De agora em diante não sou mais eu, não mais
minha própria aparência, opiniões, gostos ou preconceitos. Porei tudo isso na cruz.
Começando de hoje, viverei somente de acordo com a Tua vontade. Ó Senhor! És tu... não
eu".

Deveríamos submeter-nos ao Senhor dessa maneira enquanto levamos à morte tudo o que
temos. Porém isso não significa que de agora em diante nosso ego foi exterminado. O ego
não pode, e não será exterminado; ele sempre existirá. Por que, então, dizemos para pregar o
ego na cruz? Se o ego já está morto, como não pode ser exterminado? Devemos saber que a
palavra "morto" aqui refere-se a um tipo de processo na experiência espiritual.

3. O ego deve permanecer submisso a Cristo

O fato de o ego estar morto com Cristo não significa que ele de agora em diante não existe.
Significa que o ego daqui para a frente se submeterá a Deus, e que não permitirá que seus
gostos e desgostos tomem a direção, mas que permitirá que a cruz crucifique e elimine todos
os seus pensamentos e atividades egoístas. Fazer com que a vida do ego pare de dirigir o
ego significa que o viver que se origina da vida do ego está morto, e que não há mais vida do
ego e viver do ego, e que somente a casca do ego permanece. O ego inclui a vontade, as
emoções a inteligência, etc. Isso não quer dizer que ao crermos que nosso ego foi crucificado
com Cristo, nossa vontade, emoções, intelecto, etc., serão anulados! Ninguém pode aniquilar
as poucas faculdades que compõem seu ser apenas crendo que foi crucificado com o Senhor!

Morrer com o Senhor simplesmente significa


não mais permitir que o Morrer com o Senhor ego seja o dono, não agir
mais segundo a própria simplesmente significa não vontade, emoções e
pensamentos, e não permitir mais que a vida
do ego esteja no mais permitir que o ego seja o controle; significa permitir
que o Senhor Espírito dono, não agir mais segundo a governe sobre tudo aquilo
que o ego engloba, de própria vontade, emoções e modo que a pessoa
obedecerá à vida de Deus no seu interior. Uma
pensamentos, e não permitir 28
mais que a vida do ego tenha a
primazia.
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vez que o ego não está morto, ele não se submeterá ao Espírito Santo. Uma vez que o ego
sai da cruz, imediatamente reassumirá sua velha maneira de subjugar a si mesmo. Gálatas
2.19, 20 esclarece muito esse ponto: "Eu [o ego] estou crucificado com Cristo... e esse viver
que agora tenho na carne..." A Bíblia não fala claramente aqui? Na primeira sentença, Paulo
deixa muito claro que seu ego foi crucificado, contudo na segunda diz ele que o ego ainda
existe. Portanto, a crucificação do ego não implica a sua eliminação; pelo contrário, significa a
interrupção das atividades do ego e a permissão de que o Senhor seja o Mestre. Isso deve
estar muito claro.

O que foi dito acima foi alcançado uma vez por todas. É, porém, suficiente crermos que fomos
crucificados com Cristo? Isso irá resolver o problema de uma vez por todas? Isso nos leva à
segunda passagem da Bíblia: "A si mesmo se negue, dia a dia tome a cruz e siga-me" (Lucas
9.23). Esse versículo ressalta que as três coisas que deveríamos fazer são, na verdade,
apenas uma dividida em três passos.

O primeiro desses De Acordo Com Deus, Ele Não passos é negar o ego.
Negar significa rejeitar, Pode Curar A Vida do Ego descartar, ignorar. Dessa
maneira, o significado Nem Melhorá-La. Não Há de negar o ego é
simplesmente não permitir que o nosso ego
seja o senhor. É crer Outra Maneira Senão especificamente que
"estou crucificado com Crucificá-La Com Cristo. Cristo".

O segundo passo consiste em "dia a dia" tomar a cruz. Isso significa que, uma vez que
entregamos o ego à cruz voluntariamente e o impedimos de ser o senhor, devemos, continuar
negando-o diariamente. Negar o ego deve ser "diariamente e ininterruptamente". Essa
questão de negar o ego não pode ser realizada de uma vez por todas. O Senhor precisa nos
conceder uma cruz diária para a carregarmos diariamente. O ego é muito ativo, e Satanás,
que tira vantagem do ego, também é incansável. A todo o momento, o ego está procurando
uma oportunidade de restaurar-se e jamais deixará escapar a menor chance que seja. Assim,
é de suma importância que tomemos a cruz diariamente. Esse é o ponto onde os crentes
precisam ser vigilantes. Deveríamos "dia a dia" e momento após momento tomar a cruz que o
Senhor nos tem dado; e ainda continuamente reconhecer que a cruz do Senhor é nossa cruz
e não dar qualquer espaço para o ego nem permitir que ele assuma qualquer posição.

O terceiro passo é seguir o Senhor, isto é, fazer positivamente a Sua vontade. Dessa
maneira, o ego não terá chance nem possibilidade de se desenvolver. Esses três passos
estão totalmente baseados e centralizados na cruz.

O ensinamento nessas duas passagens não deve ser desvinculado um do outro. Se os


tomarmos e os praticarmos juntos, teremos a experiência de vencer o tempo todo Entretanto,
devemos permitir que o Espírito Santo faça Sua própria obra em nós e permitir que a obra
consumada da cruz seja trabalhada em nós.

Nosso pensamento em geral é que estamos muito desejosos de dar a Cristo nossas coisas
más, sujas, pecaminosas e satânicas e tê-las pregadas na cruz com Ele. Estamos muito
dispostos a livrar-nos das coisas más do ego. Entretanto, nosso problema freqüente é que
achamos que deveríamos manter as coisas boas do ego. Na visão de Deus, o ego está
totalmente corrompido e é afetado profundamente pela queda de Adão.

O crente em geral está disposto a deixar que tudo se vá e até mesmo se dispõe a sacrificar
seu próprio dinheiro e tempo; contudo, encontra muita dificuldade em negar o ego e em
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crucificá-lo. Sempre consideramos que o ego não é de todo mau. Esse é o ponto de vista
humano. Entretanto, inconscientemente e involuntariamente, preservamos o lado bom do ego
e levamos à morte o lado mau. Pouco nos damos conta de que o ego ou está totalmente vivo
ou totalmente morto. Se a parte boa do ego é mantida viva, não há garantia de que a parte má
do ego esteja morta. Pedro, o apóstolo e amigo pessoal do Senhor, verdadeiramente pensava
que seu amor pelo Senhor fosse correto. Entretanto, sua promessa de "morrer com o Senhor"
foi cumprida? A falha de Pedro foi causada pela sua total confiança em si mesmo; ele
confiou em sua própria bondade. Contudo ele não percebeu isso. Afinal, é difícil perceber o
ego. Devemos confiar na avaliação que Deus faz e colocar nosso ego na cruz.

Podemos examinar outra porção da Palavra que diz-nos como a bondade da vida do ego
deve ser levada à morte antes que alguém possa produzir bons frutos. "Se o grão de trigo,
caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto" (João 12.24).

O Senhor fala aos que Nele crêem. "Se alguém me serve, siga-me" (João 12.26). Após dizer
essas palavras, Ele não nos deixou em trevas, mas continuou explicando: “Quem ama sua
vida [no original, sua vida da alma], perde-a [e, na eternidade não produz fruto], mas aquele
que odeia a sua vida [no original, sua vida da alma] neste mundo, preservá-la-á para a vida
eterna [no original, a vida espiritual]." O ensinamento aqui é que a vida do ego deve ser levada
à morte.

A vida é muito preciosa. Pode-se sofrer a perda de tudo menos da vida. Contudo, aqui está
um chamamento para perdermos nossa vida. Nossa vida do ego foi-nos concedida pelo
nascimento; é legítima e é boa. Contudo, aqui o Senhor requer que a levemos à morte.

O que é essa vida? É uma vida natural, uma vida que temos em comum com todos os
animais, vida com mobilidade.

Nosso intelecto, amor e emoções são todos dominados por essa vida.
Cada habilidade do nosso corpo é controlada por essa vida. Cada parte
do nosso ser é controlada por essa vida. Apesar de não ser errado
exercitar nosso intelecto, amor e emoções, essa vida dominante, essa vida
que provém do nosso nascimento natural, não é uma vida espiritual. A
menos que a vida espiritual se torne a expressão e a força motriz de todas
as habilidades dos crentes, ele nunca produzirá fruto, sendo um homem
espiritual.
A morte é o último e o mais
Essa sua vida do ego é bela e atrativa. Nosso importante passo. A morte
Senhor utiliza o trigo como ilustração. A casca de destranca a porta da vida. A
um grão de trigo é muito atrativa. Sua cor é
dourada. Embora seja belo, ele é inútil se morte é o único requisito para
permanecer meramente como um grão. Ele deve dar fruto. A morte é
cair na terra - um lugar escuro, oculto e de indispensável. E, contudo,
sofrimento - e morrer ali. Quando morre, ele perde
sua beleza e tudo o que tem. Não será mais um quantos têm verdadeiramente
objeto de admiração do homem como antes. provado essa morte? A morte
põe fim a toda atividade. A
Se verdadeiramente estivermos dispostos a
morrer, e se realmente morrermos, perderemos morte é o término da nossa
vida humana. Depois da 30
morte, não resta lugar para a
atividade da
vida do ego.
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os muitos elogios do homem. Nossa beleza natural será destruída. Primeiramente,


poderíamos ter tido a inteligência de apresentar muitos novos argumentos e teorias. Quando o
ego morre, temos de aguardar pela direção e liderança do Senhor, e não ousaremos
depender mais da nossa própria inteligência. Antes podíamos ter amor e ter amado a muitos.
Podíamos motivar a nós mesmos a amar o Senhor. Quando o ego morre, teremos de deixar o
amor do Senhor amar através de nós, e teremos de permitir ao Espírito Santo permear nosso
coração com o amor do Senhor. Não ousaremos ser motivados pelo nosso amor natural.
Antes podíamos ter emoções e podíamos estar jubilosos, irados, tristes e alegres à vontade;
podíamos ter comunhão com o Senhor por intermédio de nossos sentimentos e podíamos
sentir Sua alegria.

4. Cristo no controle das emoções

Com a morte do ego, teremos de deixar o Senhor controlar nossas emoções. Ficaremos
alegres quando o Senhor estiver alegre. Teremos de deixar o Senhor ter liberdade em nós.
Mesmo que por vezes percamos o sentimento da presença do Senhor, ainda teremos de
permanecer fiéis e não mudaremos nossa atitude. Não ousaremos mudar por causa das
emoções. O que antes nos parecia proveitoso será considerado como perda por causa de
Cristo. Ao morrermos com o Senhor para o pecado, abandonamos as coisas ilícitas. Ao
sermos crucificados com o Senhor para o ego, abandonamos as coisas lícitas. Esse, sem
dúvida, é um passo difícil de dar.

Estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam
com ela.

Que tipo de morte é esta? Esta é a morte da cruz. O Senhor mesmo disse isto (João 12.33).
Portanto, não temos qualquer outra escolha a não ser cair na terra prontamente e morrer.
Devemos morrer alegremente com o Senhor e participar na comunhão da Sua cruz. A cada
dia deveríamos manter uma atitude de odiar a vida do ego para preservá-la para a vida
eterna, isto é, dar fruto para a vida eterna e produzir muitos grãos. Isso não é algo da noite
para o dia. Se fosse assim, teria sido fácil. Mas a palavra do nosso Senhor é: "Aquele que
odeia a sua vida neste mundo." Devemos odiar nossa vida do ego uma vez que vivemos
neste mundo. Se praticarmos isso incessantemente, nosso ego será despojado do seu poder.

Não devemos considerar a palavra "morte" levemente. Não é suficiente ser um grão de trigo
sozinho. Como um filho de Deus nascido de novo (Mateus 13.38), a pessoa é meramente um
bebê e não pode fazer muito por Deus. Não basta apenas cair na terra, pois mesmo se
alguém estiver disposto a sofrer, ele ainda não está morto e ainda é um único grão. Devemos
odiar o viver natural. Odiar é uma atitude, é uma atitude duradoura. Portanto, deveríamos
voluntariamente levar essa vida à morte; deveríamos ter uma plena compreensão da pobreza
dessa vida natural e odiá-la. Qual o resultado da morte dessa vida? O resultado são os
muitos grãos. O motivo do Senhor não poder nos usar é que trabalhamos pelo nosso intelecto,
amor, etc. Essa vida da alma é uma vida de nível inferior; não é uma vida de nível elevado.
Sendo assim, ela dificilmente poderá dar fruto. Embora ela tenha alguns méritos, contudo
somente “aquilo que é nascido do Espírito é espírito". A vida do ego, e tudo o mais que a
acompanha, é completamente inútil. Se realmente colocarmos a nós mesmos, nossa vida do
ego, isto é, tudo aquilo que podemos fazer e tudo aquilo que somos, completamente na cruz
do Senhor, veremos como o Senhor nos usará. Se estivermos vazios interiormente, não
haverá qualquer barreira para a água viva de Deus jorrar de nós. Esse tipo de dar fruto é
diferente do tipo comum de dar fruto, pois os frutos que produzimos são "muitos". O nosso

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dar fruto depende totalmente da nossa morte. Portanto, assim como nos valíamos do nosso
ego, agora precisamos nos valer de Cristo.

É fácil um crente que vive no ego cair em pecado. Essa é a razão pela
qual para morrer completamente para o pecado, deve-se morrer
completamente
para o ego. Cristo não é apenas nosso Salvador que nos livra do pecado;
ele é também nosso Salvador que nos salva do ego.
Morrer para o ego é a única vereda para nosso viver espiritual.

Contudo, além de Deus, ninguém pode levar nossa vida do ego à morte. Entretanto, se não
estivermos dispostos, Deus nada pode fazer. A atividade do ego algumas vezes está
completamente oculta sob um véu espiritual. Um crente pode não reconhecê-la de imediato
por si mesmo. Essa é a razão de Deus ter de remover o véu por meio de todos os tipos de
circunstâncias exteriores de modo que o crente venha a conhecer a si mesmo. A coisa mais
difícil é uma pessoa conhecer a si mesma. Nós não nos conhecemos. É por isso que temos
de passar por diversas circunstâncias criadas por Deus antes de percebermos a maldade do
ego.

Se em nossa experiência não morremos para o ego, não temos obtido nenhum progresso real
em nossa vida espiritual. Se você e eu estivermos dispostos a deixar o Espírito Santo do
Senhor aplicar a morte do ego em nós e operá-la em nós hoje, veremos um grande progresso
em nossa vida.

Irmãos! Possamos declarar juntos em unanimidade: "Não seja como eu quero, e, sim, como
Tu [o Pai] queres!" (Mateus 26.39).

As discussões acima lidam com questões relativas à vida espiritual. Que nós não
consideremos isso como uma espécie de teoria. Devemos comparar nossa experiência
espiritual com as palavras ditas aqui. Fazendo isso, essas palavras ficarão claras para o
entendimento. Todos somos bebês em Cristo. Que o Senhor nos dirija passo a passo. Se não
temos a experiência da morte do ego, é melhor dizer que não a temos. Contudo, nunca
devemos tomar a vida do ego como sendo a vida espiritual.

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As virtudes do caráter cristão


O Sermão da Montanha, segundo alguns estudiosos, foi a primeira parte escrita dos
evangelhos. Esta era a base que a igreja do primeiro século usava para doutrinar os
discípulos.

Bem-aventurados significa felizes. A felicidade aqui não é um objetivo, mas uma


consequência – a consequência de ter o caráter de Deus e fazer a Sua vontade.

O verbo mais evidente aqui é “ser”. Caráter é justamente o que somos, o que determina
nossa conduta. As bem-aventuranças são a descrição das virtudes do Caráter de Jesus.

1. A Humildade

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5.3).

Este é o primeiro traço de caráter assinalado por Jesus. Por que começar logo com a
humildade? A humildade de coração é a pedra fundamental da construção e formação do
caráter cristão. Tudo se inicia aqui. Lembre-se, o pecado começou com a negação deste
traço de caráter – o orgulho de Lúcifer, Adão e Eva em querer ser como Deus.
"Bem-aventurados os humildes ou pobres de espírito...", bem-aventurados os que sabem
que neles não há recursos; é isso que significa, não há recurso, se humilhem diante
dessa verdade, reconheçam. É para esses o reino dos céus.

O orgulho, a soberba, a vaidade, a arrogância, a auto-suficiência são a corrupção deste


traço do caráter. Como é difícil vencer a vaidade! Como é difícil dizer que algo que
lutamos tanto para conquistar, na verdade não é mérito nosso, e sim de Deus! Como,
então, podemos vencer o orgulho e assumir o primeiro traço de caráter dito por Jesus?

2. O espírito quebrantado

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mateus 5.4).

Isaías 57.15: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo
nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de
espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos”.
Não tratamos aqui daqueles que se esvaem em lágrimas por autocomiseração, com pena
de si mesmos. Jesus quer dizer aqui que são felizes aqueles que choram por
experimentar um legítimo quebrantamento diante de Deus.

Os descritos como “os que choram”, choram com os que choram e pelos que choram. O
grande inimigo deste traço de caráter é o sentimento de autocompaixão. Sentir pena de si
mesmo não traz qualquer crescimento ao nosso caráter. Pelo contrário, de certa forma
apela para um espírito egoísta.

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Chorar com os que choram e pelos que sofrem exige do cristão um movimento em
direção aos irmãos. Ninguém participa dos sofrimentos alheios à distância. É preciso estar
junto.

Chorar diante do pecado, da injustiça, da incredulidade, da desobediência, também é uma


conduta que este traço de caráter nos conduz a ter.

Lembre-se, porém, que este choro é um choro profético.

Tiago 4.8-10: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores;
e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e
chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos
perante o Senhor, e ele vos exaltará”.

3. Mansidão

“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mateus 5.5).

Mateus 11.29: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas”.

A terceira qualidade mencionada por Jesus é a mansidão. Segundo o Dicionário Aurélio,


mansidão significa “Índole ou procedimento pacífico de quem é manso; brandura;
Serenidade, tranqüilidade, calma”.

O Manso é aquele que abre mão do seu direito em favor do próximo. É aquele que não se
vinga quando é prejudicado; é gentil, humilde, sensível e paciente com todos.

Aquele que é manso também aceita com paz as adversidades e as provas da vida. Jesus
no Jardim do Getsêmani demonstra esta mansidão submetendo-Se à vontade soberana
do Pai.

O adversário deste traço de caráter é chamado de rebeldia. Esta rebeldia pode ser
violenta, com gritos, pelejas, discussões, ou pode também ser uma rebeldia amável ou
silenciosa mas que no final faz sua própria vontade. Manso é aquele que vive submisso a
Deus, sua Palavra, seus irmãos e às autoridades.

4. A Justiça

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5.6).

Mateus 6.33: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas
vos serão acrescentadas”.

Esta bem-aventurança é, muitas vezes, mal interpretada. Fome e sede falam de


necessidades individuais, essenciais para a vida. Ter este traço de caráter significa ter um
desejo íntimo em ser considerado justo diante de Deus – assim como Jesus.

É outra forma de dizer que se tem fome de Deus. Só Deus é justo.

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A Justiça das nações do ocidente está baseada no direito romano. A Justiça de Deus é
superior a qualquer sistema humano de juízo. A verdadeira justiça de Deus está
inseparavelmente ligada ao amor e à misericórdia.

Os que se opõem a este traço de caráter, freqüentemente querem parecer justos diante
de Deus e da sociedade baseando-se nos seus próprios méritos e virtudes pessoais.

5. A Misericórdia

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5.7).

Misericórdia é uma palavra com dupla origem. Sua primeira parte vem da raiz da palavra
miséria e da outra parte deriva a palavra coração.

Acompanhe as definições do Aurélio: “Misericórdia: Compaixão suscitada pela miséria


alheia”; “Compaixão: Pesar que em nós desperta a infelicidade, a dor, o mal de outrem;
piedade, pena, dó, condolência”.

Misericórdia é a capacidade de experimentar ou até mesmo sofrer com o próximo.


Também pode ser entendida como um castigo merecido, porém não aplicado. Ex.: Dívida
perdoada.

O que pode resistir a este traço de caráter?

6. Pureza de Coração

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mateus 5.8).

O que é ter um coração puro? De forma bem simplista, é ter um coração que não contém
impurezas. Sob o aspecto espiritual, impureza traz a idéia de pecado. Portanto, um
coração puro é um coração que não está maculado pelo pecado.

Este traço de caráter não é algo que se estabelece instantaneamente. Trata-se de um


processo que ocorre continuamente no coração sincero que se relaciona com Deus de
forma honesta.

“Os limpos de coração são os inteiramente sinceros. Toda a sua vida, pública e
privada é transparente diante de Deus e dos homens. Os seus pensamentos e
motivações são puros, sem mistura de nada que seja desonesto, dissimulado e
malicioso”. (John Stott)

Muitos acham que podem ser puros de coração para o vizinho. São excelentes
investigadores da vida alheia. Na verdade, este traço de caráter trata nosso próprio
pecado diante de Deus.

Qual é a dica para aqueles que querem desenvolver este traço de caráter?

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7. A Paz

“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus


5.9).

Este verso também pode ser traduzido como: “felizes aqueles que criam harmonia”.
Pacificadores são os que promovem a paz. Não é nem aquele que mantém a paz
existente, mas aquele que se envolve numa situação em que a paz foi quebrada e a
restaura. A bem-aventurança não fala de um pacifista, mas de um reconciliador. É bom
amar a paz. Promover a paz é melhor.

Como agentes da paz, os discípulos de Jesus procuram construir a paz em todo e


qualquer lugar em que se encontram. Do seu relacionamento com Deus a paz deve jorrar
para a vida pessoal e individual, para o universo da família, da vizinhança, da escola, da
fábrica, do escritório.

Isto, de maneira alguma, indica que o cristão não pode se envolver em algum conflito.
Fica mais do que explícito, através dos ensinamentos de Jesus a seus apóstolos, que
jamais deveríamos nós mesmos procurar o conflito ou ser responsáveis por ele – este é o
traço de caráter do pacificador.

Os indivíduos com temperamento explosivo freqüentemente não conseguem desenvolver


bem este traço de caráter, e vez por outra são gatilhos de conflitos. Lembre-se que o
vínculo da paz é o que mantém a unidade da Igreja.

8. Alegria na perseguição

“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e,
mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso
galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”
(Mateus 5.10-12).

Finalmente, o último traço de caráter mencionado por Jesus no início do Sermão da


Montanha trata da alegria. No entanto, não é uma alegria comum, como a que temos ao
estar com uma pessoa querida ou receber um presente. Jesus não está nos chamando
aqui para participar de uma alegria ordinária, mas algo extraordinário. Somos chamados a
nos alegrar quando submetidos a circunstâncias desfavoráveis.

É certo que só poderão exercitar este traço de caráter aqueles que se dispuserem a
assumir um compromisso sério com Deus de fazer a Sua Vontade. Ninguém será
perseguido se não se envolver. Lembre-se que um traço de caráter, para ser incorporado
pelo nosso, precisa ser vivenciado!

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Fatores que influenciam


a formação do caráter
A. FATORES QUE INFLUENCIAM, MAS NÃO DETERMINAM

A. A Hereditariedade

A Bíblia menciona que, a partir do pecado de Adão e Eva, a natureza sofreu um processo
de corrupção que a tornou imperfeita. A natureza pecaminosa, que é a tendência natural
da humanidade decaída, é transmitida a cada geração para a geração seguinte. Trata-se
aqui do impulso que o homem natural tem em direção ao pecado.

Este fator de influência, apesar de presente em todos os seres humanos, não é capaz de
determinar, sozinho, a conduta dos indivíduos.

O cristão, ao converter-se, vê-se obrigado a conviver com duas tendências diferentes. A


Natureza pecaminosa, natural, também chamada de velho homem e a nova natureza. O
controle da conduta individual estará a cargo da tendência mais fortificada.

2. A Infância

Os primeiros cinco ou seis anos de vida de uma pessoa são essenciais na formação dos
elementos do caráter individual. Somos influenciados pelo meio ambiente e pelas pessoas
à nossa volta.

Pais ansiosos tendem a ter filhos ansiosos ou agressivos. Casais amáveis tendem a ter
filhos que se tornarão cônjuges igualmente amáveis. Tendem, porém não condicionam.
Gênesis 4.6-7: “E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu
semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o
pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”. Caim e
Abel eram filhos dos mesmos pais. Cresceram juntos. Tinham, porém, um caráter
diferente um do outro.

3. Os modelos mais próximos

I Pedro 1.18: “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que
fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos
pais...”.

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Mesmo fora da infância, nossa conduta continua sofrendo influência de outras pessoas.
Lembre-se daquele ditado popular no Brasil: Dize-me com quem andas... quem és...
Provérbios 1.10-19: “Filho meu, se os pecadores procuram te atrair com agrados, não
aceites. Se disserem: Vem conosco a tocaias de sangue; embosquemos o inocente sem
motivo; traguemo-los vivos, como a sepultura; e inteiros, como os que descem à cova;
acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos as nossas casas de despojos;
lança a tua sorte conosco; teremos todos uma só bolsa! Filho meu, não te ponhas a
caminho com eles; desvia o teu pé das suas veredas; porque os seus pés correm para o
mal, e se apressam a derramar sangue. Na verdade é inútil estender-se a rede ante os
olhos de qualquer ave. No entanto estes armam ciladas contra o seu próprio sangue; e
espreitam suas próprias vidas. São assim as veredas de todo aquele que usa de cobiça:
ela põe a perder a alma dos que a possuem”.

Veja que a Bíblia considera as nossas companhias como elemento perigoso na formação
do nosso caráter.

Lembre-se que Jacó recebeu uma influência enganadora por parte de Rebeca, sua mãe.
José, filho de Jacó, por sua vez, não perpetuou o comportamento “aproveitador”.
Outro exemplo interessante está em Samuel que optou por não seguir o mau exemplo
dos filhos de Eli.

Existe algum personagem bíblico com quem você se identifica mais?


O que mais chama a atenção de positivo e negativo nele?

4. Circunstâncias adversas

Provas, injustiças, sofrimentos, dificuldades sérias não nos obrigam a ficar amargos. Para
o cristão, estas podem ser excelentes oportunidades para crescer e ter um caráter
moldado à semelhança de Jesus.

Lembre-se de Jesus no jardim do Getsêmani. Imagine a cena. Ele sabia que a hora em
que Ele cumpriria sua missão estava chegando. Seu coração estava muito aflito. Ele
aproveitou esta oportunidade para exercitar um traço muito importante do Seu caráter: a
submissão – “contudo, não faça o que eu quero, mas o que Tu queres...”.

Encarar circunstâncias adversas como uma oportunidade de crescimento do nosso


caráter pode ser um fardo pesado, principalmente quando queremos fazê-lo sob as
nossas forças individuais. Não se esqueça de que os traços do Caráter de Cristo ocorrem
nos crentes sob a ação do Espírito Santo!

5. Outros fatores

 A Ignorância: Davi quando leva a arca para Jerusalém pela primeira vez. O que
aconteceu? Por quê?

 2. A Negligência: Os sacerdotes Nadab e Abiú que entraram com fogo estranho


no santuário. O que aconteceu com eles?´

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 O Descuido: Moisés golpeou a rocha com a vara, quando Deus lhe havia dito que
deveria falar à rocha. O que Deus lhe disse?

 As Pressões: Diante das circunstâncias, Saul se impacientou e fez o sacrifício,


não esperando Samuel para iniciar a guerra. O que o profeta lhe disse?

B. FATORES QUE DETERMINAM A FORMAÇÃO DO CARÁTER

1. A responsabilidade humana

O homem foi criado à imagem de Deus. Entre outras coisas isto significa que, diferente
dos animais, Deus fez do homem um ser responsável. Este é um fator decisivo na
formação do caráter cristão.

Da raiz da palavra “responsabilidade” vem o verbo “responder”. O que isto significa?


Precisamos dar uma resposta para Deus pelos nossos atos. Como a nossa natureza está
corrompida pelo pecado, nenhuma resposta do homem pode satisfazer a Deus. No
entanto, isto de maneira nenhuma exclui a necessidade da resposta – a responsabilidade.

2. A prestação de contas

Deus perguntou a Adão quando este pecou: “Onde estás? Comeste do fruto proibido?” O
mesmo fez com Eva.

Deus interpelou a Caim quando este matou a seu irmão. A Saul, quando desobedeceu. A
Davi, quando adulterou. A Ananias e Safira, quando mentiram. A Saulo, quando perseguia
aos cristãos...

Um dia todos nós deveremos prestar contas perante aquele que conhece todas as coisas.

3. Como assumir a responsabilidade

Adão preferiu dizer que a culpa não era dele. A mulher por sua vez também se fez de
vítima.

Nada nos exime de nossa responsabilidade pessoal. Deus, através de Jesus Cristo, nos
proveu tudo o que necessitamos para viver em vitória sobre Satanás, os demônios, a
carne, o pecado, a tentação, o mundo e sobre todas as circunstâncias, por mais adversas
que sejam. A graça de Deus nos proveu de tudo o que necessitamos para sermos mais
que vencedores em todas as coisas.

Não vamos avançar se continuarmos apresentando desculpas. Só enganaremos a nós


mesmos, porque diante de Deus as desculpas não têm nenhum valor.
Seria néscio negar a influência de nossa herança genética, nossa infância, os traumas
que trazemos desde a infância... tudo isso influi sobre o nosso comportamento. Influi, mas
não o determina.

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O fator determinante de nossa maneira de ser e de viver, de nosso caráter e conduta


passa por nossa responsabilidade pessoal, como se fosse um filtro.

C. DECLARAÇÃO DE MINHA RESPONSABILIDADE PESSOAL

Eu declaro diante de Deus que sou o responsável pela minha conduta, pelas minhas
palavras, pelos meus pensamentos, pelos meus sentimentos, pelas minhas atitudes,
pelos meus desejos, pelas minhas intenções e ações.

Não tenho nenhuma desculpa para não fazer a vontade de Deus, pois Deus, em Cristo,
me tem provido tudo o que necessito para viver em vitória sobre o pecado, sobre a carne,
sobre o velho homem, sobre minha herança genética, sobre as influências do mundo,
sobre os demônios e suas mentiras, e sobre até mesmo Satanás. Aleluia!

Proclamo que posso mudar, posso ser melhor, posso ser mais humilde, posso ser mais
santo, “Tudo posso em Cristo que me fortalece”. Amém!

1. Compreendendo a ira

Salmo 37.8: “Deixa a ira, e abandona o furor; não te indignes de forma alguma para fazer
o mal”.

Ira! Que emoção poderosa! Fomos criados passíveis dela. Ira é energia que de alguma
forma tem a sua função na “luta pela vida”. A ira por si só não é certa ou errada. Ela é
algo que faz parte de nossa criação, pois fomos criados à imagem e semelhança de Deus
e Ele se ira. O que faz a ira tornar-se um pecado é o modo como tratamos com ela.

Sempre que a raiva, o rancor, a indignação e o desejo de vingança se interpuserem na


nossa relação com Deus e com nosso irmão, nosso caráter sairá perdendo.

2. Controlando a Ira

Provérbios 29.11: “O tolo revela todo o seu pensamento, mas o sábio o guarda até o
fim”.

Dar vazão à ira é deixar que ela o domine, fazendo de você um objeto. E isso também faz
de você um tolo.

3. Conheça algumas estratégias não-bíblicas de enfrentar a Ira:

 Explodir de raiva ou mau humor, agredir pessoas ou objetos física ou verbalmente;


 Transferir sua ira. Ex: bater em um travesseiro pensando em uma pessoa;

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 Controlar a ira no emprego e na igreja, mas não ter nenhum controle em casa com
os entes queridos;
 “Sair do sério” ou “entrar na carne” no trânsito.

4. O que a Bíblia diz:

 Devemos perdoar as ofensas;


 As palavras duras só suscitam a ira;
 Devemos amar a pessoa que nos irritou e no amor não há ira;
 Devemos suportar e perdoar a pessoa que nos irritou;
 Questões existentes entre pessoas não devem postergar uma solução.

Antes de decorar fórmulas mnemônicas de como vencer a ira, é preciso uma disposição
interior firme, para não incorrer em falsidade. Esta disposição só é verdadeiramente
possível àqueles que se submetem ao agir regenerador do Espírito Santo.

Quem disse que seria fácil? Lembre-se do que Deus disse para Caim: o pecado está na
tua porta... mas tu o podes dominar.

A Formação do Caráter Através


dos Tratamentos de Deus
Deus, através de Jesus Cristo, nos provê a Sua própria natureza. As promessas Divinas nos
foram outorgadas e a fidelidade de Deus é a nossa garantia de que Ele realizará em nós as
mudanças necessárias (II Pedro 1.3). A vida cristã é um processo. Precisamos vencê-la
passo a passo, cada degrau corresponde a um novo nível alcançado, nova vitória em
determinada área, até alcançarmos o topo da escada.

A responsabilidade de Deus é prover a todo crente a própria natureza Divina através do


arrependimento do pecado e da fé em Jesus Cristo. A responsabilidade do homem é buscar a
revelação desses fatos e aplicá-los em sua vida.

Deus tem dado por direito aos crentes, tudo o que é necessário para uma vida santa. O

cristão, através da Obra da cruz, tem o que precisa para desenvolver um Caráter maduro.

A. DESCREVENDO O PROCESSO

Todos nascemos em iniqüidades e fomos formados em pecado. Todos temos por nascimento
uma natureza caída, que nos acompanhará ou não por toda a vida. A natureza caída do

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homem não está em harmonia com nenhuma das coisas do Senhor (ver Colossenses 5.17).
Deus colocou diante do cristão a meta da perfeição. Maturidade espiritual é a meta bíblica
para todos os que estão em Cristo Jesus.

Por vezes a carnalidade do homem não permite que ele desenvolva seu Caráter como as
Escrituras ordenam. Esta natureza humana é tratada definitivamente pelo Poder da Cruz,
mas o Ego é a principal razão pela qual o homem precisa dos tratamentos de Deus. Cada
cristão precisa do tratamento de Deus para motivá-lo a prosseguir em direção à perfeição
espiritual (ver Hebreus 6.1 e 3).

B. O PROPÓSITO DO TRATAMENTO

O cristão necessita do tratamento de Deus em sua vida por que possui áreas escondidas em
sua vida que devem ser reveladas, (I João 1.5-7). Deus deseja revelar estas áreas
escondidas de pecados em nós, de maneira a nos ajudar a crescer. As Escrituras afirmam
que é Deus quem revela tais segredos (Colossenses 3.13 e Mateus 10.26 e 27).

Deus revela os nossos pecados ocultos para que não sejamos destruídos, nem os nossos
ministérios. Deus revela estas áreas escuras, que estão presentes dentro de nós, para que
renunciemos a elas. Para que isto aconteça o cristão precisa da graça de Deus, por que
humanamente a tendência é cobrir suas próprias falhas e fraquezas. O homem deseja
sempre defender-se e esconder os motivos do coração (Gênesis 3.8).

Deus deu ao cristão o Seu Espírito Santo e é este Espírito quem revela as necessidades
espirituais do homem, sondando seu coração para revelar os pecados que devem ser
abandonados (Salmo 139.23 e Provérbios 21.2).

A palavra "revelar" significa retirar a tampa, e a palavra "ocultar" significa esconder,


cobrindo, cobrir a vista, ou encobrir o assunto. Deus tenta retirar a cobertura de cima do
homem, enquanto o homem faz tudo para retê-la.

Há vários homens nas Escrituras que ocultaram seus pecados. O começo de suas vidas
contrastou drasticamente com o fim delas. Começaram bem e acabaram tragicamente.

Podemos começar bem, mas, se tivermos pecados ocultos em nossas vidas, que não foram
confessados, mas alimentados sem arrependimento, estaremos nos destruindo, bem como
nosso ministério.

1. Transformar o crente à imagem de Jesus Cristo

Este processo é relatado em II Coríntios.3.18: "E todos nós com o rosto desvendando,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em
glória, na sua própria imagem, como Senhor ".

A palavra "transformar'' aqui, no grego,  metamorphos)”, significa:


Mudança completa de um formato em outro. É a raiz da palavra científica usada para
descrever o processo de transformação de uma lagarta em borboleta. Este processo leva

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tempo e gasta energia. A lagarta muda de um formato para um outro completamente


diferente.

O cristão também precisa passar por uma metamorfose. A cada dia, o cristão que segue ao
Senhor e responde positivamente tem mais e mais, seu caráter transformado à imagem do
Senhor Jesus.

2. Limpar toda sujeira

Deus quer nos tornar puros. Ele está constantemente levando seu povo ao fogo através dos
seus tratamentos. Em todo o mundo, está havendo muita pressão e calor sobre o povo de
Deus. Este calor está ordenado por Deus, para purgar seu povo. A palavra "purgar" significa
refinar, tornar puro, mudar pelo calor.

O povo de Deus, como o metal, é preparado para uso. Toda a sujeira e sobras extras são
trazidas à superfície para serem lançadas fora. A Escória é tudo aquilo que é lançado fora,
matéria que sobra, à parte não aproveitável. Deus está nestes dias removendo toda a escória
dos seus líderes. Ele quer o desenvolvimento do Caráter de Seu Filho em todos os seus
líderes (Isaías 1.22-25; Ezequiel 22.18-19; Mateus 3.12 e II Timóteo 2.21).

3. Deus quer limpar as nossas vestes

O pisoeiro era um artesão que limpava todas as fibras de um pano, para que o material
pudesse se tornar um lindo traje. Frequentemente, ele estabelecia seu negócio perto de
riachos, e depois de lavá-los várias vezes, os estendia sob pedras achatadas. Depois ele batia
os panos crus com um bastão de pisoeiro. Este bastão era enorme e tinha dentes de ferro
que serviam para extrair sujeira dos panos. Conforme ele batia nos panos crus, todos os
fragmentos e sujeira subiam a superfície e a água os varria. Por este processo, o material era
limpo. Após a limpeza, o material estava pronto para o artífice, para transformá-lo em um
magnífico traje.

Malaquias 3.1-3 diz que Jesus é como "o fogo do ourives e como a potassa dos
lavandeiros..." e Ele sabe como nos bater sem machucar. Deus tem um bastão que usa para
extrair toda a sujeira da vida dos cristãos. Deus não usa seu bastão simplesmente para
ostentar o poder, mas usa-o para limpar as vestes dos seus filhos.

4. Deus quer frutos em nossas vidas

Em João 15 temos a parábola da vinha e dos ramos. O agricultor que poda a vinha deverá,
às vezes, usar a tesoura de podar. Os galhos mortos devem ser cortados de maneira a não
extrair a seiva necessária dos galhos vivos. Os galhos que não dão frutos são cortados. Mas
as varas que dão frutos são podadas para dar mais frutos. Deus irá podar, refinar e limpar as
varas que dão frutos para produzirem mais frutos. O propósito de Deus é sempre positivo e
redentor. Aqueles que desejarem mais frutos serão os mais podados.

5. O Propósito do tratamento de Deus é preparar os vasos para Servi-Lo

A partir do momento em que o vaso é formado do barro até o momento em que é retirado do
forno, ele é submetido a um processo de formação. A aplicação das mãos do oleiro sobre o
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vaso às vezes é dura e firme. A roda do oleiro, o forno, tanto quanto as mãos do oleiro, são
todas partes vitais na preparação do vaso. O propósito de Deus nessa situação é ter o vaso
para sua honra (Jeremias 17.1-10).

As Escrituras indicam que Judas, o apóstolo caído, e traidor de Jesus Cristo, enforcou-se no
campo do oleiro (Mateus 27.1-10). Neste campo foi encontrado um vaso humano, rejeitado,
corrompido e mutilado, vaso para desonra, como tantos outros.

Faltou algo na preparação de Judas como líder. O propósito do tratamento de Deus, na vida
de Judas, tanto quanto na vida de qualquer outro cristão que esteja sendo treinado para
liderar, é expor as falhas do vaso rapidamente, para que Ele possa tratar com as falhas e
curá-las e deste modo usar o vaso para honra. Deus quer usar os vasos eficazmente para um
propósito específico e não destruí-los.

6. Deus quer trazer crescimento às nossas vidas

Em Isaías 54.2, o profeta proclama: "amplia o espaço de tua tenda". Figuradamente isto pode
significar que Deus quer ampliar a capacidade daqueles que estão se preparando para liderar
Sua Casa, a fim de que recebam mais do Senhor.

II Samuel 22.37, declara que o Senhor pode alargar os passos dos líderes. Isaías 60.5 diz
que o coração da pessoa pode ser dilatado a fim de que seu "depósito espiritual" também
aumente.

O propósito do tratamento de Deus é nos alargar de muitas maneiras. Deus deseja expandir
o nosso ministério e a nossa função na casa do Senhor, assim como o nosso Caráter.

Algumas áreas em nossas vidas que podemos dizer que Deus quer alargar:

 Nossa Visão - Gênesis 13.14-17


 Nossos Passos - II Samuel 22.37
 Nossos Corações - Isaías 60.5
 Nossas Fronteiras - Êxodo 34.24
 Nossa Força - I Samuel 2.1
 Nossa Habitação - Ezequiel 41.7; Provérbios 24.3-4; Isaías 54.2
 Nosso Ministério - II Coríntios 6.11 e 13; II Coríntios 10.15-16.

7. Deus quer nos levar a uma busca intensa

O Senhor trará as pressões e o calor sobre os líderes em períodos específicos, para motivá-
los na busca de si. A pressão não é para desviá-los de Deus, mas, para colocá-los na direção
de Deus. Muitas vezes, os tempos difíceis e as circunstâncias duras são mal interpretados
por nós. Todos estes tratamentos são para motivar o homem a se voltar para Deus como a
sua única força. Um líder deve aprender a buscar a Deus em tempos difíceis, para que

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aprenda a ajudar outros a fazer o mesmo. Jesus aprendeu pelo que sofreu. É a experiência
que nos capacita a conduzir outros.

8. Deus quer mais do Seu Espírito fluindo em nossas vidas

As Escrituras retratam o vinho como indicativo do espírito de regozijo (Mateus 9.17; Atos 2.13-
16; Efésios 5.18). O tempo da colheita era um tempo de alegria para todo o povo. Após o
longo período de espera, era finalmente hora da colheita. Neste tempo, toda a família se
envolvia na sega.

As mulheres e as crianças colocavam nas cabeças as uvas colhidas. Levavam estas uvas
para grandes tonéis de pedras. Onde pisadores aguardavam descalços as uvas a serem
esmagadas. Os pisadores então iniciavam o processo de andar por cima das uvas maduras,
apertando-as para a extração do suco. Enquanto o pisador fazia isto ele se segurava na viga
de madeira que estava ligada ao mastro no centro do tonel. A maior parte do seu peso,
descansava nesta viga, de maneira a não pisar com demasiada força sobre as uvas. Se ele
pisasse forte demais sobre as uvas, ele esmagaria a semente juntamente com a uva. Se isto
acontecesse o vinho se tornaria amargo, não prestando para mais nada.

A aplicação é maravilhosa. Deus é o pisador das uvas que somos nós. Ele deseja que o
vinho do Seu Espírito flua das nossas vidas e ministério. Ele nos aperta. Este é um processo
duro, doloroso, mas Deus nunca esmagará nossos espíritos (a semente da uva) para não nos
tornar amargos. Uma vida amarga não é boa para ninguém. Deus não deseja líderes
amargos. Ele quer que o vinho novo e fresco do Seu Espírito flua através de nossas vidas.

9. Através dos tratamentos Deus quer nos dar nova visão

Em II Coríntios 4.16-18, Paulo enfoca esta realidade. Todas as pressões, aflições e provas
que vem sobre nós agora, são para operar algo eterno. Não devemos olhar apenas para o
presente, analisando aquele momento. Precisamos encarar o futuro, pensando no fruto
eterno que será em nós, e, através de nós, na vida de outros. Dons são dados, mas o Caráter
é desenvolvido. O caráter tem valor eterno, irá conosco para a Eternidade (I Coríntios 13.8 e
13).

C. NOSSA ATITUDE DIANTE DO TRATAMENTO DE DEUS

Termos o caráter desenvolvido à semelhança do Senhor Jesus Cristo é muito mais importante
do que as aflições que vivemos nesta vida. Suportando estas aflições no presente teremos o
caráter de Jesus Cristo sendo desenvolvido em nós.

Nossas atitudes ou reações diante das circunstâncias que Deus usa para tratar conosco
definem nossa aceitação do tratamento, ou não. Algumas atitudes que devemos desenvolver
quando passamos por provas:

 Oração - (Tiago 5.13).


 Contrição - (I Pedro 4.19)
 Reflexão - (Hebreus 12.3)
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 Louvor - (Salmo 74.21)


 Suportar as Circunstâncias - (Mateus 10.22 e I Coríntios 10.13)
 Gozo - (Mateus 5.12 e Romanos 5.3)
 Disposição para Mudança - (II Samuel 12.13)

Resistir geralmente quer dizer: "se segurar ou ser indiferente durante os tratamentos". Em
Jacó vemos uma atitude certa em resposta aos tratamentos de Deus.

Através das Escrituras Deus se identifica com três homens. Muitas vezes Deus disse: “Eu sou
o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó”. Sendo o Deus de Abraão, nos fala que é um Deus
que guarda o concerto. Sendo o Deus de Isaque fala do Deus dos milagres, mas, quando a
Escritura proclama que Ele é o Deus de Jacó, fala de Deus como sendo o Deus das
mudanças, pois mudou o nome de Jacó, e a sua natureza de suplantador, para Israel.

Diante do tratamento de Deus podemos ter duas atitudes:


 A de verme - Conforme o próprio Jacó foi comparado (Isaías 41.14-16) e até mesmo
Jesus (Salmo 22.6).
 A de serpente - Representando Satanás. Estas duas atitudes se contradizem. Alguns
líderes respondem a Deus como um verme outros como uma serpente.

Um Verme Uma Serpente


Indefeso quando é pisado Ataca quando pisada

Se contorce, mas com Luta e revida todos os


facilidade entrega a vida golpes até morrer

Simples e inofensivo Astuta e venenosa

Reagimos aos tratamentos de Deus como um verme ou como uma serpente?

Nossa Atitude Como Resposta

Devemos aceitar o tratamento de Deus em nossa vida, crendo que Todas as coisas
cooperam para o nosso bem, visando um fim proveitoso: O aperfeiçoamento do nosso
caráter.

Apesar de todas as qualidades sólidas e fortes que porventura possuamos devemos ter
sensibilidade e obediência ao Senhor, inclusive durante os tratamentos em nossas vidas.

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O Deserto e as circunstâncias
A. O INÍCIO DOS GRANDES MINISTÉRIOS

Todos os grandes nomes mencionados na Bíblia, foram de homens que antes de realizarem
qualquer coisa relacionada ao seu ministério, passaram pelo deserto. Foram colocados à
prova, sob forte pressão, pois o alvo de Deus era formar um caráter sólido. Muitos foram
levados literalmente ao deserto, outros passaram por provas dificílimas. Alguns fizeram do
deserto sua própria casa, outros não aceitaram esse tratamento. Não há na Bíblia nenhum
homem que teve um ministério próspero e reconhecido sem ter passado pelo deserto, e todos
que tentaram assumir posições, sem a devida formação foram lançados por terra.

O alvo de Deus para nossas vidas é que sejamos completamente aprovados em nossas
atitudes, nas motivações do nosso coração, que sejamos a expressão de Cristo para as
pessoas no seu quebrantamento, amor e brandura.

O poder de Deus expressa sempre Sua Grandeza e Glória, por outro lado o caráter de Cristo
em nós revela Sua pessoa. Deus não tem como meta apenas revelar Sua Grandeza, Ele
quer revelar-se. Mas como homens duros, obstinados, arrogantes e cheios de si podem
chegar a essa posição de expressarem Cristo? Como serão quebrantados? Através dos
tratamentos de Deus. Dentre estes os mais eficientes são o Deserto e as Circunstâncias.

B. O QUE É O DESERTO?

O deserto aponta para uma fase em nossas vidas determinada por Deus para nos
amadurecer e aprofundar no relacionamento com Ele. É um tempo difícil para a carne e para
o ego, pois normalmente o deserto vem para golpeá-los.

A Bíblia diz que Deus é Pai, que nos ama e zela de nós com grande cuidado. Quando
estamos no deserto, normalmente nos entristecemos achando que Deus não nos ama, não
nos ouve e que nos rejeitou. Mas é exatamente o contrário! Nunca gostamos do deserto
porque somos infantis no conhecimento de Deus. Tal como as crianças, nós gostamos do
que é agradável, mas detestamos o que nos causa desprazer. Deus não tem compromisso
em nos ser agradável. Ele tem a decisão de fazer o que será melhor. Muitas vezes o que
fazemos não agrada nossos filhos, mas não nos perturbamos. Sabemos que o que fazemos
é o necessário. É o melhor. É com essa ótica que Deus nos envia ao deserto.

1. Deserto é tempo de pressão

Só somos totalmente conhecidos quando colocados sob pressão. E esta pressão vem,
primeiro para que se torne conhecido o que realmente somos. Nós achamos que nos
conhecemos bem. Que engano!

Nesse processo de nos conhecermos a auto-análise e a introspecção só atrapalham, pois


as suas cogitações vêm da mente com conceitos totalmente deturpados. Fora da luz e
revelação do Espírito Santo nenhum conceito sobre nós mesmos é digno de crédito. A

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auto-análise gera orgulho ou sentimentos de inferioridade, é carnal e altamente nociva. O


deserto traz essa pressão a fim de que se manifeste o que somos para as pessoas.

Há muitos irmãos que em condições normais gastam imensa energia da alma para
manterem firmes suas máscaras de espiritualidade, paciência, brandura, pureza e
profundidade no conhecimento de Deus. Estão todo o tempo se policiando a fim de
vender uma imagem que não corresponde à sua realidade. Entretanto, quando as
pressões do deserto vem, tudo desmorona. O que somos, somos. O que fingimos ser, cai
à vista de todos. Toda a nossa carnalidade fica exposta. O deserto nos capacita a
suportar pressões. Não é possível Deus confiar nada a nós antes de passarmos pelo
deserto. Esta fase em nossas vidas visa transformar pessoas fracas e vacilantes em
pessoas fortes e corajosas.

Antes de passarmos por esse tempo, quando as pressões do diabo, do sofrimento e do


conflito vinham nossa tendência era jogar tudo para cima assentarmos sobre uma pedra e
chorarmos clamando pela nossa mãe. Não éramos confiáveis. O deserto nos torna rijos,
destemidos e calejados para as pressões. De tempos em tempos nossa capacidade de
suportar pressões vai aumentando, ao mesmo tempo que aumenta a unção, as
responsabilidades e o reconhecimento dos homens. Sem passarmos pelo deserto
tomaríamos para nós toda a glória que pertence a Deus. Não éramos confiáveis.
Quando sob a menor pressão, tornávamos incrédulos, murmurávamos, e abandonávamos
tudo. Após o deserto as coisas mudam.

2. Deserto é lugar de solidão

Por muitas vezes, quando mais desejei a presença de amigos, pastores e discípulos não as
tive. Estava no deserto. Muitas vezes desejei a intimidade de grandes homens de Deus, mas
em todas estas ocasiões fui frustrado por Deus. Eu depositava grandes expectativas na vida
de alguns notáveis homens de Deus, mas o Senhor nunca permitiu que estas expectativas se
cumprissem: Deus queria que dependesse exclusivamente Dele, não do homem.

Temos toda essa tendência, sincera, de buscar a Deus através de homens e mulheres que já
alcançaram grande intimidade com Ele. Não queremos passar pelo processo do deserto.
Desejamos achar nas pessoas o que Deus quer nos dar de sua própria presença. O deserto
vem para nos decepcionar com toda expectativa e esperança colocada no homem. Isso não
é negativo, é muito bom para nós. Passamos a ter como única alternativa o Senhor.

Chega um tempo em que já esperamos tanto do homem sem nada receber que nos
desiludimos. Abandonamos aquela idéia infantil do "grande homem de Deus que vai vir de
não sei de onde, vai impor as mãos não sei de que jeito eliminando todos os problemas e
transformando a vida num mar de rosas". Na solidão do deserto parece que não há mais
ninguém com quem podemos contar. Todas as pessoas se tornam distantes, impessoais e
parecem não nos compreender. Isso é obra de Deus. Ele quer se tornar o nosso amigo mais
íntimo, nosso companheiro de todas as horas, o ombro amado onde choramos as nossas
tristezas. Ele se torna no deserto a única pessoa a quem podemos recorrer. Ao sairmos do
deserto perdemos as amizades naturais, os heróis humanos, os parentes mais queridos e
ganhamos a Deus. Bendita perda; bendito ganho!

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3. O Deserto é lugar do esgotamento da alma

No deserto não há água, não há vida, não tem descanso. Só calor e exaustão. Nossas
energias naturais vão se esgotando pouco a pouco até não haver mais nenhuma força,
nenhum ânimo, nenhum entusiasmo. O tempo do deserto é tempo sem sabor, sem cor, sem
novidade, sem sentimento. Deus retira todos os estímulos naturais que nos animavam no
natural. O alvo de Deus é nos livrar da dependência da nossa vida natural e nos capacitar a
depender inteiramente do Seu Espírito. Enquanto temos estímulos de todas as formas, não
precisamos depender de Deus. Fazemos tudo no entusiasmo da alma. O alvo de Deus com
esse tempo é retirar os estímulos a fim de andarmos nas nossas próprias forças e nos
exaurirmos completamente.

Quantos homens e mulheres de Deus passam por períodos de estafa. O que caracteriza
esse esgotamento é a exaustão de todas as energias da alma. Às vezes até oramos por tais
irmãos para que Deus os restabeleça. Tal oração é contrária à vontade de Deus. Aliás, Deus
mesmo vai cooperar para que a estafa, o esgotamento mais completo venha o mais depressa
possível. Se andarmos baseados em nossa vida natural, não estamos andando por fé e nem
no Espírito. Chame como quiser, mas a Bíblia diz que isso é andar na carne. Precisamos
saber que andar na carne não é só cometer pecados grosseiros e manifestar aqueles frutos
horríveis mencionados em Gálatas 5. Andar na carne é não depender de Deus, é depender
de sua vida natural, de seu ego. O deserto, pois, vem para nos acabar. Vem para destruir
toda autoconfiança.

Moisés antes do deserto desejava uma revelação e em seu afã matou com as mãos um
egípcio. Parecia que a promessa de libertação da nação dependia exclusivamente dele. Após
os 40 anos no deserto, ele disse ao Senhor: "tu deves estar enganado, nem ao menos sei
falar." Segunda a Bíblia, Moisés se tornou o homem mais manso de toda a terra. Bendito
deserto!

4. No deserto Deus se mostra como luz


Podemos experimentar a presença de Deus sobre nós como deleite e como luz. Como é bom
adorarmos o Senhor e sentirmos Sua maravilhosa presença. Não há na terra nada tão
aprazível. Mas a Bíblia diz que Deus também se manifesta como luz: "Na tua luz vemos a
luz"; "Ele é o sol da justiça” e "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens". No deserto a
poderosa presença de Deus se manifesta como uma forte e vigorosa luz que penetra nas
regiões mais profundas e interiores de nosso ser. Sob a luz de Deus vamos conhecendo a Ele
na Sua glória, por outro lado, nos conhecendo em nossa miséria. Que grande contraste há
entre o Deus eterno e o eu finito; entre a grandeza de Deus e a minha insignificância; entre o
Deus Santo e o eu pecador.

No deserto conhecemos a face de Deus, ao mesmo tempo em que nos conhecemos. Esse
contraste entre a glória e a miséria é que nos torna verdadeiramente humildes. Ao sairmos do
deserto, sairmos convencidos de que não há em nós mesmos nada útil para Deus, nada
próprio para Deus, nada próprio para o Reino. Sabemos que somos totalmente
desqualificados e vis. Moisés e Paulo eram tão cultos, tão capazes, tão arrogantes, tão
independentes de Deus, tão seguros de si mesmos, tão inteligentes, tão auto-confiantes...
Após o deserto o primeiro disse: "não sei falar "e o segundo disse: "não habita em mim bem
nenhum; sou o maior pecador". Há muitos irmãos que afirmam conhecer a Deus, nas suas
atitudes depõem em contrário. Quão incoerente é afirmarmos conhecer a Deus e sermos ao

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mesmo tempo orgulhosos, jactanciosos e arrogantes. A verdadeira maturidade não faz


propaganda do seu próprio nome, não edifica um monumento a si mesmo e nem se julga
competente. Quanto mais conheço a Deus, mais me conheço.

C. NOSSA MALEABILIDADE DETERMINA A DURAÇÃO E A


INTENSIDADE DO DESERTO

Deus espera sempre uma atitude responsiva no deserto. Mas o que é ter uma atitude
responsiva? É sermos maleáveis, é não nos endurecermos ante aquilo que Deus vem
golpeando. É tão triste ver crentes sendo tratados por Deus que ao invés de se humilharem
fortalecem as antigas posições. Muitas vezes corremos esse risco de não sermos sensíveis e
não percebermos que aquilo de negativo que está acontecendo é Deus desejando nos falar e
nos mudar. Sofremos em nossa reputação e nos defendemos, somos criticados e criticamos;
somos agredidos e agredimos. Sofremos prejuízo e logo inventamos um modo de passar o
prejuízo para outro. Quando injustiçados, vamos à desforra. Reivindicamos, exigimos,
desprezamos e usamos da nossa força humana para estabelecer nossa própria vontade. Não
percebemos que ao nos impormos estamos fora do padrão do Caráter de Cristo e nos
endurecemos contra os tratamentos de Deus, pois justamente aquilo que mais nos incomodou
era a mão de Deus nos tratando. Aquele chefe no trabalho, aquele líder na Igreja, aquela
pessoa que mais te incomoda. Aquele a quem mais é difícil de se submeter, amar e aceitar é
justamente quem está mais sendo usado por Deus para te aperfeiçoar. Ceda! Seja maleável,
mude, responda a Deus. A mão bendita do obreiro está sendo revelada justamente na
situação que você mais detesta.

Quanto mais resistirmos em nossa obstinação e dureza mais tempo passamos no deserto. E
quanto mais o tempo passa mais duro vai se tornando o deserto. Deus nos envia ao deserto
para nos levar à semelhança de Cristo, entretanto algumas pessoas são tão duras,
desprevenidas e obstinadas que acabam morrendo no deserto. Vida crista é coisa séria. Que
seria morrer no deserto? É viver a vida inteira resistindo a Deus e sendo resistido por Ele. Não
usufrui de sua graça, de sua bênção, do seu descanso e da sua vida. Nada na vida dos tais
funciona. Tornam-se pessoas amargas, críticas. Acham tudo muito falho. Estão sempre
cheias de auto-piedade, de cobranças aos pais aos amigos e aos líderes na igreja. O mundo
todo está errado, o mundo todo é alvo de suas fortes críticas. Ao agirem assim, estão
aprofundando o sofrimento, tornando as crises mais agudas e aumentando a fase do deserto.

Moisés passou 40 longos anos no deserto para que Deus pudesse usá-lo, para que a face do
Senhor pudesse ser vista por ele. Por outro lado Jesus passou somente 40 dias. Moisés foi
mais duro que Jesus 365 vezes. Deus não tem prazer no deserto. Ele tem prazer em nossa
resposta. Há pessoas que contam do seu deserto como se estivessem com grande vantagem.
Quão ignorantes são! Estão dando testemunho de sua grande dureza. Não devemos
endurecer-nos, pelo contrário devemos amar a disciplina do Senhor cedendo rapidamente e
mudando de coração e de atitudes. Na escola de Deus não se pode pular de cartilha. Se
formos reprovados, nalgum tempo depois passaremos pelo mesmo teste. Isso se repetirá até
darmos a Deus a resposta de quebrantamento e mudança que Ele espera de nós.

D. AS CIRCUNSTÂNCIAS DE TRATAMENTO

Além do deserto, que poderíamos chamar de fases nas quais passamos uma ou mais vezes,
Deus nos cria circunstâncias para nos aperfeiçoar. Essas circunstâncias certamente virão

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para tratar-nos nas áreas onde somos mais difíceis. Por exemplo: se o nosso coração é
extremamente apegado a bens materiais Deus nos dará prejuízo, frustração após frustração.

Se somos daquele tipo tímido que pouco liga para as coisas de Deus, mas que é
grandemente preocupado com a opinião das pessoas a seu próprio respeito e com sua
reputação, este irmão vai sofrer vexame após vexame até sua reputação ser completamente
tratada. Se é do tipo que ama os primeiros lugares, lhe serão reservados sempre os últimos
será desprestigiado e ignorado. Se cobra o amor das pessoas, jamais o receberá. Isso se
perpetuará até ceder a Deus tendo seu coração completamente Nele. Até que se disponha,
ao invés de cobrar amor, atenção e respeito, dar amor, dar atenção, dar respeito negando-se
a si mesmo completamente.

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O Quebrantamento e o
Caráter de Cristo
Um dos mais lindos traços do caráter que um cristão possa manifestar como resultado do
trabalho do Espírito Santo em sua vida é o quebrantamento. Vejamos como Deus produz isso
em nós.

Qualquer pessoa que serve a Deus descobrirá, mais cedo ou mais tarde, que o grande
impedimento para a obra não são outras pessoas mas, sim, ela mesma. Descobrirá que sua
alma e seu espírito não estão em harmonia, pois os dois tendem para direções opostas.
Sentirá, também, a incapacidade de sua alma submeter-se ao controle do espírito, tornando-o,
assim, incapaz de obedecer aos mandamentos mais sublimes de Deus. Perceberá
rapidamente que a maior dificuldade acha-se na sua alma, pois esta o impede de fazer uso do
seu espírito.

Muitos dos servos de Deus nem sequer conseguem fazer as obras mais elementares.
Gostariam de ser capacitados pelo exercício do seu espírito a conhecer a Palavra de Deus, a
discernir a condição espiritual de outra pessoa, entregar as mensagens de Deus com unção e
receber as revelações de Deus. Mesmo assim, devido às distrações da alma parece que seu
espírito não funciona apropriadamente. É basicamente porque a alma nunca foi tratada. Por
esta razão, o reavivamento, o zelo, o muito implorar e o ativismo não passam de um
desperdício de tempo. Conforme veremos, há apenas um só tratamento que pode capacitar o
homem a ser útil diante de Deus: o quebrantamento.

A. O HOMEM INTERIOR E O HOMEM EXTERIOR

Note como a Bíblia divide o homem em duas partes: “Porque, no tocante ao homem interior,
tenho prazer na lei de Deus" (Romanos 7.22). Nosso homem interior deleita-se na lei de Deus.
“...que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior" (Efésios
3.16). E Paulo também nos informa: “Mesmo que o nosso homem exterior se corrompa,
contudo o nosso homem interior se renova de dia em dia” (II Coríntios 4.16).

Quando Deus vem habitar em nós mediante o Seu Espírito, a Sua Vida e o Seu poder entram
em nosso espírito, aquilo que estamos chamando de "homem interior". Fora deste homem
interior há a alma, na qual funcionam nossos pensamentos nossas emoções e nossa vontade.
Além disso, há nosso corpo físico. Nunca devemos nos esquecer de que nosso homem
interior é o espírito humano onde Deus habita, onde Seu Espírito se combina com nosso
espírito. Assim como nós vestimos roupas, assim também nosso homem interior, nosso
espírito "veste" uma alma. E, de modo semelhante, o espírito e a alma "vestem" o corpo.
Geralmente as pessoas estão mais conscientes da alma e do corpo, mas dificilmente
reconhecem ou entendem seu espírito.

Devemos saber que as pessoas qualificadas para o trabalho de Deus, são aquelas cujo
espírito pode ser liberado. A dificuldade básica de um servo de Deus acha-se no fracasso do
homem interior de irromper pela alma. Logo, devemos reconhecer diante de Deus que a
primeira dificuldade que enfrentamos na obra não está nos outros mas, sim em nós mesmos.
Nosso espírito parece estar embrulhado numa casca dura de modo que não pode facilmente
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fluir de lá. Se nunca aprendemos como liberar nosso espírito por meio da alma, não teremos
capacidade de servir a Deus eficazmente. Nada pode atrapalhar-nos tanto quanto esta alma.
Se nossas obras são frutíferas ou não, depende de se nossa alma foi quebrantada pelo
Senhor de modo que o homem interior possa se manifestar. Este é o problema básico. O
Senhor deseja quebrar nossa alma a fim de que o homem interior possa ter uma via de saída.
Quando o nosso espírito for liberado, tanto os descrentes quanto os cristãos serão
abençoados pela Vida e pelo Poder de Deus que de lá vão emanar.

B. O TEMPO DO NOSSO QUEBRANTAMENTO

O Senhor normalmente trabalha conosco durante vários anos antes de poder realizar esta
obra de quebrantamento. A cronologia está na mão Dele. Não podemos encurtar o tempo,
embora certamente o possamos prolongar. Em algumas vidas, o Senhor pode realizar esta
obra depois de uns poucos anos de trato; noutras, é evidente que depois de dez ou vinte anos
a obra ainda está incompleta. Isto é muito sério! Nada é mais lastimável do que desperdiçar o
tempo de Deus. Quão freqüentemente a igreja é atrapalhada! Podemos pregar com o uso da
nossa mente, podemos comover os outros com o uso das nossas emoções; mas se não
sabemos usar nosso espírito, o Espírito de Deus não poderá tocar as pessoas através de nós.
A perda será grande, se prolongarmos desnecessariamente o tempo.

Logo, se nunca antes nos consagramos de modo total e inteligente ao Senhor, façamo-lo
agora, dizendo: "Senhor, para o futuro da igreja, para o evangelho, para o Teu caminho, e
também para minha própria vida, ofereço-me sem condições, sem reservas, nas Tuas mãos.
Senhor, deleito-me em oferecer-me a Ti e estou disposto a deixar-Te fazer toda a Tua
vontade através de mim."

C. O SIGNIFICADO DA CRUZ

Ouvimos falar freqüentemente acerca da cruz. Talvez estejamos por demais familiarizados
com o termo. Mas, o que é a cruz, afinal de contas? Quando realmente compreendermos a
cruz, veremos o que significa o quebrantamento da alma. A cruz reduz a alma à morte; racha
a casca humana e a abre. A cruz deve quebrar tudo quanto pertence à nossa alma - nossas
opiniões, nossos modos, nossa habilidade, nosso amor-próprio, nosso tudo. O caminho está
claro, claro mesmo como o cristal.

Tão logo que a casca de nossa alma é destruída, nosso espírito pode sair facilmente para
fora. Considere certo irmão, como exemplo. Todos quantos o conhecem reconhecem que tem
uma mente aguçada, uma vontade dinâmica, e profundas emoções. Mas, ao invés de ficarem
impressionadas por estas características naturais da sua alma, reconhecem que se
encontraram com seu espírito. Sempre que as pessoas estão tendo comunhão com ele,
encontram um espírito livre. Por quê? Porque tudo quanto é da sua alma foi quebrado.

Não devemos apegar-nos às fracas características da nossa alma, ainda emitindo a mesma
fragrância, mesmo depois de que o Senhor lidar conosco durante cinco ou dez anos. Não!
Devemos deixar o Senhor forjar um caminho em nossas vidas.

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D. O QUE IMPEDE O QUEBRANTAMENTO

Por que é que, depois de muitos anos de trato, algumas pessoas permanecem inalteradas?
Alguns indivíduos têm uma vontade forte; alguns têm emoções fortes; e outros têm uma
mente forte. Visto que o Senhor pode quebrantá-los, por que depois de tanto tempo ainda não
se pode ver nenhuma expressão do caráter de Cristo? Há duas razões principais.

1. A primeira é que muitos que vivem nas trevas não estão vendo a mão de Deus. Enquanto
Deus está operando, enquanto Deus está destruindo, não reconhecem que é da parte Dele.
Estão destituídos de luz, e, somente vêem homens que se opõem a eles. Imaginam sempre
que as circunstâncias estão erradas e que as pessoas que as rodeiam são os culpados por
tudo. Assim, continuam nas trevas e no desespero. Sempre trazem tudo para o nível pessoal.

Que Deus nos dê uma revelação para ver que Ele está em todos os nossos caminhos. Pelo
menos, devemos reconhecer de quem é a mão que trata conosco. Não é mão humana, nem a
mão da nossa família, nem a dos irmãos e irmãs na igreja, mas, sim, a de Deus. Precisamos
aprender como nos ajoelhar e beijar a mão, amar a mão que lida conosco, assim como fazia
Madame Guyon. Precisamos ter esta luz para vermos, seja o que for que o Senhor fez,
aceitarmos e crermos; o Senhor nada pode fazer de errado. Mais do que suportar a cruz,
precisamos aprender a amar a cruz. É nas circunstâncias difíceis e que mais incomodam que
Deus está revelando Seu braço de amor, cuidado e tratamentos conosco. Aquela pessoa que
mais te incomoda é exatamente quem mais o Senhor está usando para te aperfeiçoar.

2. A segunda razão, outro grande impedimento à obra de quebrar a alma é o amor-próprio.


Devemos pedir que Deus remova o coração do amor-próprio. À medida que Ele lida conosco
em resposta à nossa oração, devemos adorar e dizer: "Ó, Senhor, se isto for da Tua mão, que
eu o aceite do meu coração". Lembremo-nos de que a única razão para todo mal entendido,
toda a irritação, todo o descontentamento, é que secretamente amamos a nós mesmos.
Assim, planejamos um modo mediante o qual podemos livrar a nós mesmos. Muitas vezes, os
problemas surgem porque procuramos uma via de escape - uma fuga da operação da cruz.

O amor-próprio é uma dificuldade básica. Que o Senhor nos fale hoje de tal maneira que
possamos orar: "Eu, Deus, vi que todas as coisas vêm de Ti. Todos os meus caminhos estes
cinco anos, dez anos, ou vinte anos, são teus. Operaste de tal maneira que atingiste teu
propósito, que não é outro senão que tua vida seja vivida através de mim. Mas eu fui tolo. Não
vi. Fiz muitas coisas para escapar, e assim adiei o teu tempo. Hoje, vejo tua mão. Estou
disposto a me oferecer a ti. Mais uma vez coloco-me nas tuas mãos".

E. AS FERIDAS PRODUZIRÃO A BELEZA DE CRISTO EM NÓS

Ninguém é mais belo do que alguém que está quebrantado! A teimosia e o amor-próprio
cedem lugar à beleza na pessoa que foi quebrantada por Deus. Vemos Jacó no Antigo
Testamento, como mesmo no ventre da sua mãe, lutava com seu irmão. Era sutil, enganoso,
traiçoeiro. Por isso, sua vida estava cheia de tristezas e mágoas. Ainda jovem, fugiu do seu
lar. Durante vinte anos foi logrado por Labão. A esposa do amor de seu coração, Raquel,
morreu prematuramente. O filho do seu amor, José, foi vendido. Anos mais tarde, Benjamin foi
preso no Egito. Deus tratou com ele sucessivamente, e Jacó encontrou infortúnio após
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infortúnio. Deus o feriu uma vez, duas vezes; na realidade, sua história foi a história de ser
ferido por Deus.

Finalmente, depois de muitos tratamentos deste tipo, o homem Jacó foi transformado. Durante
seus últimos poucos anos, era bem transparente. Quão nobre era sua resposta a Faraó! Quão
belo foi seu fim, quando adorou a Deus, apoiado no seu bordão! Quão claras eram suas
bênçãos pronunciadas sobre seus descendentes! Depois de ler a última página da sua
história, queremos curvar a cabeça e adorar a Deus. Aqui temos alguém que está
amadurecido, que conhece a Deus. Várias décadas de tratos tiveram como resultado que o
alma de Jacó foi quebrantada. Na sua velhice, o quadro é belo.

Cada um de nós tem boa parte da mesma natureza de Jacó em nós. Nossa única esperança
é que o Senhor quebre a nossa alma de tal maneira que o homem interior possa surgir e ser
visto. Isto é precioso, e é o caminho daqueles que servem ao Senhor. Somente assim
podemos servir; somente assim podemos levar os homens a Cristo. Tudo o mais está limitado
quanto ao seu valor.

Qual a utilidade do mero Ao invés de serem úteis, as conhecimento teórico


da Bíblia se a nossa alma faculdades da alma tornam-se ainda permanecer sem
quebrantamento? um obstáculo Somente a pessoa
através de quem Deus pode aparecer, é útil.
para o homem interior.
Depois de nossa alma ter sido ferida, tratada, e levada por várias provas, temos feridas em
nós e assim deixamos o espírito emergir. Que Deus tenha misericórdia de nós, mostrando-nos
claramente este caminho, e revelando-nos que é o único caminho. Que Ele também nos
mostre que nisto é visto o propósito de todos os Seus tratos durante estes poucos anos,
sejam dez ou vinte. Que ninguém menospreze os tratos do Senhor. Que Ele nos revele
verdadeiramente o que significa o quebrantamento da alma. Se a alma permanecesse
integral, tudo estaria meramente em nossa mente, totalmente inútil. Tenhamos esperança de
que o Senhor venha a tratar de nós de modo completo.

F. O QUEBRANTAMENTO AFETA O SERVIÇO NA OBRA

Passemos agora a considerar como o quebrantamento da alma afetará nosso modo de ler a
Bíblia, nosso modo de ser ministros da Sua Palavra, e nossa pregação do Evangelho.

1. Leitura da Bíblia: O que somos, determina o proveito que tiramos da Bíblia. Quão
freqüentemente o homem, na sua soberba, depende da sua mente não-renovada e confusa
para ler a Bíblia. O fruto é nada vezes nada, senão seu próprio pensamento fervilhante,
confuso e carnal. Não toca o espírito das Sagradas Escrituras. Se esperamos encontrar o
Senhor na Sua Palavra, nossos pensamentos devem primeiramente ser quebrantados por
Deus. Talvez tenhamos alto conceito da nossa habilidade, mas para Deus é um grande
obstáculo. Nunca pode levar-nos para o pensamento de Deus.

Há, pelo menos, duas exigências básicas para ler a Bíblia: primeiramente, nosso
pensamento deve entrar no pensamento da Bíblia; e, em segundo lugar, nosso espírito deve
entrar no espírito da Bíblia. Isto permitirá que o Espírito lhe dê o significado exato das
Escrituras.

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Pense numa pessoa que vem à Bíblia com sua mente já fixa. Lê a Bíblia para obter apoio
para suas doutrinas pré-concebidas. Que tragédia! Uma pessoa experiente, depois de escutar
alguém assim falar durante cinco ou dez minutos, pode discernir se quem fala está usando a
Bíblia para suas próprias finalidades, ou se seu pensamento entrou no pensamento da Bíblia.
Uma pessoa pode levantar-se e dar uma mensagem agradável que parece ser bíblica, mas,
na realidade, seu pensamento é contraditório ao pensamento da Bíblia. Ou podemos escutar
alguém pregar, cujo pensamento expressa o pensamento da Bíblia e, portanto, é harmonioso
e unido com ela. Embora esta condição deva ser a normal, nem todos chegam a ela. Para unir
nosso pensamento com o pensamento da Bíblia, é necessário que nossa alma seja
quebrantada. Não pense que nossa leitura bíblica é fraca por causa de falta de instrução. O
defeito está muito mais em nós, porque nossos pensamentos não foram subjugados por
Deus.

Ora, embora isto seja importante, ainda nos falta mencionar o assunto primário. A Bíblia é
mais do que palavras, idéias e pensamentos. O aspecto mais destacado da Bíblia é que o
Espírito de Deus é liberado através deste Livro. Não há somente pensamentos na Bíblia; o
próprio Espírito se manifesta através dela. Assim, é somente quando seu espírito pode sair e
tocar o espírito da Bíblia, que você pode entender o que a Bíblia está dizendo. O Espírito que
inspira a composição das Escrituras é o Espírito eterno, sempre presente na Bíblia. Se nossa
alma foi quebrantada, nosso espírito é liberado e pode tocar aquele Espírito que inspira as
Escrituras. De outra forma, a Bíblia permanecerá como um livro morto em nossas mãos.

2. O Ministério da Palavra: Deus deseja que entendamos a Sua Palavra, pois este é o
ponto de partida do serviço espiritual. O Senhor deseja que Sua Palavra flua como mensagem
dinâmica e viva em nosso espírito de modo que possamos usá-la para ministrar à igreja. Em
Atos 6.4, lemos: " E, quanto a nós nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra."
Ministério significa servir as pessoas com a Palavra de Deus.

No ministério, qual é a dificuldade que nos leva a deixar de liberar a Palavra dentro de nós?
Freqüentemente, alguém pode sentir-se muito preocupado com uma palavra que, segundo
sente, deve comunicar aos irmãos. Mesmo assim, enquanto se levanta para falar frase após
frase, a preocupação interna permanece tão pesada como sempre. Mesmo depois de passar
uma hora, não há senso de alívio, e, finalmente, sai carregando o mesmo fardo de uma
mensagem que não foi entregue. Por quê? É porque sua alma não foi quebrantada. Ao invés
de serem úteis, as faculdades da alma tornam-se um obstáculo para o homem interior.

Uma vez, porém, que a alma for quebrantada, a expressão já não é problema. Então, a
pessoa pode pensar em palavras apropriadas para expressar seu sentimento no íntimo.
Através da liberação, o fardo interno é aliviado. Esta é a maneira de ministrar a Palavra de
Deus à igreja. Repetimos, então: a alma é o maior empecilho ao ministério da Palavra de
Deus.

Muitos têm a noção errônea de que são as pessoas habilidosas que melhor podem ser
usadas. Como isto é errado! Não importa quão habilidoso você seja, o exterior nunca poderá
substituir o homem interior. Somente depois de a alma ter sido quebrantada é que o interior
pode achar pensamento adequado e palavras apropriadas. A casca da alma deve ser
esmagada por Deus. Quanto mais é despedaçada, tanto mais a vida no espírito é liberada.
Enquanto esta casca permanecer intacta, a mensagem que pesa no espírito não pode ser
liberada, nem a vida e o poder de Deus podem fluir de você para a Igreja. É principalmente
através do Ministério da Palavra de Deus que sua vida e seu poder são fornecidos. A não ser
que você tenha seu homem interior liberado, as pessoas podem ouvir sua voz, mas não

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podem tocar a vida. Você pode ter uma palavra para dar, mas outras pessoas deixam de
recebê-la; você não tem meios de expressão.

A dificuldade é que a vida que há dentro deixa de fluir. Há uma Palavra de Deus atuante por
dentro, mas não pode ser manifestada por causa do obstáculo do lado de fora. Deus não tem
um livre caminho através de você.

3. Pregação do Evangelho: Há um conceito geral, falso, de que as pessoas crêem no


evangelho porque, ou foram mentalmente convictas da exatidão doutrinária, ou
emocionalmente comovidas pelo seu apelo. Na realidade, os que vão ao evangelho por
qualquer destas duas razões não permanecem Nele. O intelecto e a emoção precisam ser
alcançados, mas estes sozinhos são insuficientes. A mente pode encontrar-se com a mente, e
a emoção pode alcançar a emoção, mas a salvação acontece numa região mais profunda. O
espírito deve tocar o espírito. Somente quando o espírito do pregador floresce e brilha é que
os pecadores caem e se rendem a Deus. Este é o espírito apropriado e necessário para a
pregação do evangelho.

Certo mineiro grandemente usado por Deus escreveu um livro chamado Seen and Heard
("Visto e Ouvido"), em que relata suas experiências ao pregar o evangelho. Fui
profundamente comovido ao ler este livro. Embora fosse um irmão simples, sem alto grau de
cultura nem com dons especiais, ofereceu-se inteiramente ao Senhor e foi poderosamente
usado por Ele. Uma coisa o caracterizava: era um homem quebrantado; seu espírito era puro.
Quando estava numa reunião, ouvindo um pregador, sentiu uma preocupação tão grande
pelas almas que pediu ao pregador permissão para falar. Subiu ao púlpito, mas não vinham as
palavras. Seu homem interior ardia tanto com uma paixão pelas almas que suas lágrimas
jorravam. Finalmente, conseguiu pronunciar apenas umas poucas sentenças pouco
compreensíveis. Mesmo assim, o Espírito Santo encheu aquele lugar de reunião; as pessoas
ficaram convictas dos seus pecados e da sua condição de perdidas. Aqui havia um jovem que
era quebrantado - tinha poucas palavras, mas quando seu espírito fluía, as pessoas eram
poderosamente tocadas. Ao ler sua autobiografia, reconhecemos que ele era alguém cujo
espírito fluía, as pessoas eram poderosamente tocadas. Era um instrumento para salvar
muitos durante sua vida.

Este é o modo certo de pregar o evangelho. Sempre que você vê alguém que não é salvo,
sente que deve dar-lhe o evangelho. Você deve permitir que seu espírito seja liberado. Pregar
o evangelho é puramente uma questão de ter a alma quebrantada de modo que o homem
interior possa fluir e tocar outros. Quando seu espírito toca o espírito de outra pessoa, o
Espírito de Deus vivifica aquele espírito que está em trevas de modo que aquela pessoa é
maravilhosamente salva. Se, porém, seu espírito estiver amarrado pela alma, Deus não tem
via de saída através de você e o Evangelho fica bloqueado. É por isso que focalizamos tanta
atenção em lidar com a alma. Se nos falta este tratamento, não temos poder para ganhar
almas, embora tenhamos todas as doutrinas de cor. A salvação vem quando nosso espírito
toca o espírito de outra pessoa. Então, aquela alma não pode deixar de prostrar-se aos pés de
Deus. Oh amados, quando nosso espírito for verdadeiramente liberado, as almas certamente
serão salvas.

Uma vez que as pessoas são salvas, Deus não quer que elas esperem para lidar com seus
pecados, que esperem mais anos para se consagrarem, e que esperem ainda mais tempo
para responderem à chamada de realmente seguirem ao Senhor. Tão logo que as pessoas
crêem, devem imediatamente voltarem-se dos seus pecados, consagrarem-se totalmente ao

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Senhor, e romperem o poder das coisas deste mundo. Sua história deve ser como aquelas
que são registradas nos Evangelhos e em Atos. Para o evangelho ter seu efeito mais
completo no homem, o Senhor precisa ter um caminho nas vidas dos mensageiros do
Evangelho. Que Deus tenha uma via de saída através de nós.

G. QUALIDADES PRODUZIDAS NO QUEBRANTAMENTO

1. Meiguice

Uma pessoa quebrantada pelo Espírito naturalmente possui a meiguice. Seus contatos com
as pessoas já não são marcados por aquela teimosia, dureza e aspereza que são as marcas
registradas de um homem não quebrantado. Já foi trazido ao ponto em que sua atitude é tão
meiga quanto sua voz é mansa. O temor a Deus no seu coração naturalmente acha
expressão nas suas palavras e nas suas maneiras.

2. Abordabilidade

Há várias qualidades que caracterizam uma pessoa que é meiga: ela é abordável - é tão fácil
ter contato com ela, falar com ela, e fazer perguntas a ela. Confessa prontamente os seus
pecados e derrama lágrimas livremente. Para alguns, é tão difícil derramar lágrimas. Não é
que haja qualquer valor especial nas lágrimas, mas naquele cujo pensamento, vontade e
emoção foram tratados por Deus, as lágrimas frequentemente denotam sua disposição para
ver e reconhecer sua falta. É fácil conversar com ele, porque sua casca exterior foi quebrada.
Aberto às opiniões dos outros, dá as boas-vindas às instruções, e, nesta posição nova, pode
ser edificado em todas as coisas.

3. Sensibilidade alta

O mínimo movimento no espírito de outra pessoa não passa despercebido por ele.
Imediatamente ele pode perceber o verdadeiro significado de uma situação - seja ela certa ou
errada. Suas ações são bem-consideradas, não será complacente com o erro nem magoará
os sentimentos dos outros com falta de consideração.

Frequentemente persistimos em fazer coisas que, no espírito de outras pessoas já foram


condenadas. Outros sentem este fato, mas nós, não. Considere como isto pode ocorrer nas
reuniões de oração, quando os irmãos podem sentir repugnância das nossas orações. Mesmo
assim, não cessamos de ser monótonos. Os espíritos dos demais irmãos clamam: "Pare de
orar", mas permanecemos insensíveis. Não há correspondências aos sentimentos dos outros.
Não é assim com aquele cuja alma foi quebrantada. O Espírito operou uma profunda
sensibilidade nele e agora pode ser tocado também pelo espírito de outros. Tal pessoa não
ficará embotada diante das reações dos outros.

4. Prontidão para uma vida em conjunto

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Somente estes quebrantados sabem o que é o corpo de Cristo. Sem a meiguice, dificilmente
estariam prontos para participar da vida no corpo. Começam a tocar o espírito dos outros
membros. Se alguém não tem este senso do Corpo, é como um membro falso do corpo, igual
a uma mão artificial de Cristo, que pode movimentar-se com o corpo físico, mas que não tem
nenhuma sensação. O corpo inteiro sentiu este fato, menos ele. Nem pode receber com
meiguice a instrução ou a correção. Um quebrantado, no entanto, pode tocar a consciência da
igreja e perceber o seu sentimento, pois seu espírito está aberto ao espírito da igreja para
receber dela qualquer comunicação. Quão preciosa é esta sensibilidade! Sempre que
fazemos qualquer coisa errada, imediatamente a sentimos. Os irmãos sabem que você está
errado, mas mesmo antes de abrirem a boca você é trazido de volta ao bom-senso pelo mero
contato com eles. Você tocou o espírito deles, e isto lhe indica se o aprovam ou o
desaprovam.

5. Facilidade de edificação

A maior vantagem do quebrantamento, no entanto, não está em ter nosso erro corrigido, mas,
sim, em capacitar-nos a receber o suprimento do Corpo. Nosso espírito é liberado e aberto
para receber a ajuda espiritual de qualquer parte do corpo. Quem não for quebrantado
dificilmente, poderá ser ajudado. Suponhamos, por exemplo, um irmão muito inteligente,
porém não quebrantado. Pode vir às reuniões, mas não é tocado. A não ser que encontre
alguém cuja mente é mais aguçada do que a dele, não será ajudado. Analisará os
pensamentos do pregador e os rejeitará como sendo superficiais e inúteis. Meses e anos
podem passar dessa forma sem ele ser tocado. Está fechado pela parede da sua mente e
somente poderá ser ajudado através da mente. Nesta condição, não pode receber a
edificação espiritual. Se, porém, o Senhor entrasse e despedaçasse esta parede, mostrando-
lhe a futilidade dos seus próprios pensamentos, ele ficaria atento como uma criança àquilo
que os outros dizem. Já não desprezaria pessoas que parecem estar abaixo das suas
habilidades ou capacidades.

Ao escutar uma mensagem, fará uso do seu espírito para entrar em contato com o espírito do
pregador, ao invés de focalizar sua atenção na pronúncia das palavras ou na apresentação da
doutrina. Quando o espírito do pregador é liberado com uma palavra específica da parte do
Senhor, o espírito deste ouvinte é refrigerado e edificado. Se o espírito de alguém estiver livre
e aberto, recebe ajuda sempre que o espírito do seu irmão flui. Lembre-se, porém, que esta
não é a mesma coisa que ser ajudado na doutrina.

Quanto mais o espírito de um homem tem sido tratado por Deus, tanto mais ajuda pode
receber. Agora, devemos compreender claramente o que significa ser edificado. Não pode
significar pensamentos expandidos, nem compreensão melhorada, nem maior acúmulo
doutrinário. Simplesmente significa que meu espírito mais uma vez entrou em contato com o
Espírito de Deus. Não importa através do que o Espírito de Deus Se movimenta, seja na
reunião, seja na comunhão individual; não sou menos nutrido e vivificado. Meu espírito é bem
como um espelho, que é polido cada vez.

Expliquemos o assunto assim: tudo quanto procede do espírito abrilhanta tudo quanto
toca. Como indivíduos, somos muito semelhantes a lâmpadas - lâmpadas de cores diferentes.
A cor, porém, não interfere com a passagem da eletricidade através dela. Tão logo a
eletricidade flui para dentro dela, ela se acende. Assim acontece com nosso espírito; onde há
o fluir do Seu Espírito, esqueceremos a teologia que aprendemos. Tudo quanto sabemos é
que o Espírito veio. Ao invés do mero conhecimento, temos uma “luz interior." Estamos
revivificados e nutridos na Sua presença.
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EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Anteriormente, nossa intelectualidade era um obstáculo, mas agora podemos ser facilmente
ajudados. Agora compreendemos por que é difícil para outros receberem ajuda. Entendemos
que é necessário passar muito tempo em oração antes de podermos tocá-los no espírito. Não
há outra maneira de ajudar uma pessoa obstinada.

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EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Somente o Senhor Pode


Edificar Nosso Caráter
Após crer no Senhor, percebendo que seu velho ser deve morrer, muitos cristãos recorrem
aos seus próprios meios artificiais para derrubar sua velha natureza, Caráter e velhos hábitos.
Contudo, esta não é função do homem. É algo que somente o Senhor poderá fazer. Não
somente não será bom o efeito de derrubar, por meios artificiais, a velha natureza, Caráter e
velhos hábitos que construímos, mas também isso resultará em mais problemas. Portanto,
desde o começo devemos perceber que de fato todas as velhas coisas precisam ser
destruídas, mas nós não devemos fazê-lo por nós mesmos, porque destruir por meios
artificiais será inútil e impedirá o nosso progresso na vida espiritual. Portanto, não nos é
exigido tentar derrubar a nós mesmos, mas permitir que Deus cumpra Seu propósito.
Devemos entender que isto é algo que Deus deseja fazer por Si mesmo. É atribuição de Deus
e não nossa.

A. DEUS QUER QUE DEIXEMOS TODAS AS COISAS EM SUAS MÃOS

Deus começará a trabalhar em nós. Ele ordenará circunstâncias que conduzam ao


quebrantamento de nossa alma. Deus sabe exatamente quanto de nosso velho ego precisa
ruir, e também sabe onde estamos particularmente obstinados e onde extremamente
invencíveis. Em algum ponto somos rápidos demais, mas noutro vagarosos demais, frívolos
demais. Apenas Deus sabe por quê. Só Ele nos conhece completamente, assim podemos
deixá-Lo fazer a obra.

O Espírito Santo é quem derruba nosso Caráter natural e nossos velhos hábitos para nos
capacitar a tornar-nos maduros e doces. As circunstâncias são ordenadas por Deus. Até
nossos cabelos, Ele enumerou. Sem a permissão de nosso Pai nem mesmo um pardal cairá
no chão. Quanto mais nossas circunstâncias! Uma observação severa, um semblante
desagradável, uma perda súbita de saúde e a partida repentina do amado, tudo é permitido
por nosso Pai. Não importa se é prosperidade, adversidade, saúde, doença, alegria ou
sofrimento, tudo o que acontece conosco é com a permissão de Deus. Ele pretende ordenar
as circunstâncias para que nosso velho Caráter e nossa velha natureza possam ser
destruídos e para que Ele possa constituir um novo Caráter e uma nova natureza em nós.
Portanto, tão logo cremos no Senhor, precisamos conhecer estas coisas claramente.

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EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

B. A CRUZ EM OPERAÇÃO

A cruz é mais do que uma doutrina; deve ser posta em prática. Não pense que o caminho
para a humildade é lembrando-nos constantemente que não devemos ser orgulhosos.
Devemos ser feridos uma vez após outra - ainda que chegue a vinte vezes - até que nos
rendamos. Nunca suponhamos que isto se realiza meramente por meio de seguir o ensino de
um determinado irmão. Mediante a operação da cruz, aprenderemos a depender da graça de
Deus, não da nossa memória. Quer lembremos, quer não, permanece o fato de que Ele está
realizando uma obra que é fidedigna e duradoura.

Anteriormente, a alma e o espírito não podiam ficar de mãos dadas; mas agora a alma espera
meigamente, com temor e tremor, diante de Deus. Cada um de nós tem necessidade desta
disciplina da parte do Senhor. Ao passarmos em revista a história do nosso passado, não
podemos deixar de ver a mão de Deus lidando com a independência, o orgulho, e o egoísmo
da nossa alma. Descobrimos o significado das coisas que nos aconteceram, vendo
claramente que em cada ponto das nossas vidas lá estava o Senhor trabalhando em nós.

C. TRAÇOS DO CARÁTER DE CRISTO

1. A humildade

Temos nesse ensino alguma coisa que o mundo não somente não admira, mas também
despreza. Em parte alguma você poderá encontrar maior oposição ao espírito e atitude
mundanos do que na humildade. Que grande ênfase o mundo dá na auto-dependência, na
autoconfiança e na auto-expressão. Basta-nos examinar a literatura profana. Ali se lê que se
alguém quiser vencer neste mundo, então que acredite em si mesmo. Essa é a idéia que
governa os homens. Essa é a idéia que está controlando a vida dos que estão fora do
cristianismo. De acordo com as idéias modernas, qual é, por exemplo, a qualidade essencial
de um bom vendedor? É dar a impressão de confiança própria de segurança pessoal. Se
alguém quiser impressionar devidamente a um possível comprador, é dessa maneira que
deve agir. Tal conceito é posto em prática em todos os ramos de atividade. Se você quiser
obter sucesso em alguma profissão, recomenda-se que dê a impressão de ser um sucesso:
assim dando a entender que, realmente, está obtendo maior êxito do que realmente lhe
sucede, e as pessoas então comentam: "Esse é o homem a quem devemos consultar".
Eis o princípio segundo o qual opera toda a vida moderna - procure expressar-se, acredite em
si mesmo, tome consciência das suas capacidades inatas, e deixe que o mundo inteiro as veja
e reconheça. Auto-confiança, segurança própria e auto-dependência. É com fundamento
nessa crença que os homens vivem lá fora.

Que significa ser alguém "humilde de espírito"? Não quer dizer que deveríamos ser tímidos e
fracalhões, e nem significa que deveríamos ser retraídos, fracos ou acovardados. Existem
pessoas que, reagindo contra essa atitude de auto-afirmação, à qual o mundo tanto estimula,
pensam que é realmente assim que deveríamos agir. Todos conhecemos aquelas pessoas
naturalmente modestas, as quais longe de se imporem aos outros, sempre se conservam em
segundo plano. Assim elas nasceram, e talvez sejam mesmo naturalmente fracas, retraídas e
carentes de ousadia. Entretanto, nenhuma das qualidades do caráter de Cristo são
características naturais. Os "humildes de espírito", não são aqueles indivíduos que já
nasceram assim. É preciso abandonar essa idéia de uma vez por todas. Não devemos ser
praticantes de uma falsa humildade, resultado do esforço para parecer humilde. Muitas
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EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

pessoas têm confundido dessa maneira essa qualidade da humildade de espírito. O homem
que é "humilde de espírito" não precisa preocupar-se tanto com sua aparência pessoal e com
a impressão que esteja causando em outros; pelo contrário, sempre dará a impressão certa.

Ser alguém "humilde de espírito" não exige a supressão da personalidade. Sempre teremos a
sutil tentação de pensar que o único indivíduo que verdadeiramente é "humilde de espírito" é
aquele que faz algum notável sacrifício pessoal, ou aquele que, seguindo o exemplo dos
monges, retira-se desta vida secular com suas dificuldades e responsabilidades. Entretanto,
não é esse o conceito bíblico. Ninguém precisa retirar-se da vida ativa a fim de poder tornar-se
"humilde de espírito"; e nem é necessário alguém mudar de nome. Não; pois se trata de uma
transformação que se ocorre no âmbito do espírito.

Humildade de espírito, aponta para a completa ausência de orgulho pessoal, para a completa
ausência de segurança própria e auto dependência. Ela indica a consciência de que nada
representamos na presença de Deus. Portanto, não é algo que possamos produzir por nós
mesmos; não é algo que possamos fazer nos esforçando. Pelo contrário, é aquela tremenda
tomada de consciência de nossa própria humildade, quando chegamos a enfrentar Deus face
a face. Isso é ser "humilde de espírito". Ser humilde de espírito significa que, se alguém é
crente autêntico, então não está dependendo dos seus dotes naturais, que lhe vêm do berço.

Os humildes de espírito não dependem do fato que pertencem a determinadas famílias: não
edificam as suas vidas sobre o alicerce do seu temperamento natural. Nem acreditam que
haja alguma vantagem em sua posição natural na vida, e nem dependem disso ou de
quaisquer potencialidades que lhes hajam sido conferidas. A pessoa que é humilde de espírito
não depende do dinheiro ou de quaisquer riquezas de que porventura seja possuidora. Se
somos humildes de espírito, então não dependemos da educação recebida, nem da escola ou
faculdade particular que tivermos freqüentado. Não, porquanto todas essas coisas constituíam
aquilo que Paulo apontava como "perda".

Não, pois essas coisas serviam a Paulo apenas de empecilhos para maiores realizações, visto
que elas tendiam por dominá-lo e controlá-lo. Por semelhante modo, não dependeremos de
quaisquer dotes naturais de "personalidade", de inteligência ou de habilidades gerais ou
particulares, por igual modo de nossa própria moralidade, conduta ou bom comportamento.
Consideraremos todas as coisas da mesma maneira como Paulo as considerava. É nisso que
consiste a "humildade de espírito". Precisamos gozar de completa libertação de todas essas
coisas, e todas elas precisam estar ausentes de nossas vidas. Precisamos sentir que nada
somos, que nada temos, e também que olhamos para Deus em total submissão a Ele,
dependendo inteiramente de Sua misericórdia, e de Sua Graça.

Ser humilde de espírito, é experimentar aquilo que Isaías experimentou quando, recebeu a
sua grandiosa visão e exclamou: "Ai de mim!...porque sou homem de lábios impuros..." - isso
é humildade de espírito". Quando nos vemos em competição com outras pessoas deste
mundo dizemos: " Sou capaz de competir com elas". Quanto ao mundo essa atitude talvez
seja muito boa. Porém, quando uma pessoa já teve suas idéias aclaradas a respeito de Deus,
necessariamente sente-se como quem está " morto", conforme sucedeu a João, na ilha de
Patmos. Precisamos sentir-nos assim, quando estamos na presença do Senhor. Qualquer
atitude natural que porventura reste em nós, terá de desaparecer. É preciso ficar claro em
nosso espírito o quanto isso é pecaminoso e imundo.

Portanto, façamos nós mesmos as seguintes perguntas. Pareço-me com essa descrição? Sou
mesmo humilde de espírito? Como é que me sinto a meu respeito, quando penso em estar na

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presença de Deus? Em minha vida diária, quais são as coisas que costumo dizer e pensar a
meu próprio respeito?

Como é que alguém se torna "humilde de espírito"? A resposta a essa indagação é que não
olhemos para nós mesmos, e nem comecemos a tentar fazer as coisas por nossas próprias
forças. Esse foi o erro colossal do monasticismo. Em seu desejo de realizar tal feito, aquela
pobre gente pensava: "Preciso evitar o convívio da sociedade, preciso sacrificar a minha
própria carne e fazê-la sofrer privações, preciso mutilar o meu corpo". Não! Pois quanto mais
assim fizermos, tanto mais tomaremos consciência de nós mesmos, e menos seremos
"humildes de espírito". A única maneira de alguém tornar-se "humilde de espírito" é voltando
os olhos para Deus. Exponha sua vida à influência da Palavra, examine a Sua lei, verifique o
que Ele espera de você. Sim, olhe para Jesus Cristo; e quanto mais você fixar Nele os
olhos, tanto mais você se sentirá nulo em si mesmo e tanto mais "humilde de espírito" você se
tornará. Olhe para Ele, continue olhando para Ele. Volva-se para a experiência dos santos,
considere os homens que mais plenamente foram cheios do Espírito Santo e usados nas
mãos de Deus. Porém, acima de tudo, olhe novamente para Cristo; e então você nada terá de
fazer por si mesmo. Pois tudo já terá sido feito. Realmente, você não pode volver os olhos na
direção de Cristo sem sentir sua absoluta pobreza e humildade. E então você poderá dizer
para o Senhor: “Nada trago em minha mão. Só na Tua cruz me agarro”.

Saber ver a si mesmo como é - Tem uma perspectiva real de si mesmo. Vê a si mesmo
através da Cruz de Cristo.

1.1. Evidências de Humildade

 Aceitar repreensão - ser uma pessoa corrigível, saber que ainda tem muito a
aprender.
 Confessar suas falhas, seus pecados - Pedir perdão e admitir sempre seu erro.
 Ser transparente - não ter nada a esconder.
 Ser ensinável - estar crescendo, aceitar o ensino e praticar o aprendido.
 Compreensivo com as debilidades das outras pessoas.
 Amar sem esperar receber algo em troca.
 Estar sempre disposto a dar glória a Deus e honrar os outros.

1.2. Evidências da falta de humildade

 Preocupação excessiva com a reputação. O que os outros vão pensar de mim?


 Busca dos melhores lugares e de estar em evidência (Lucas14.7,9)
 Tendência de exigir dos outros que o tratem de maneira especial.
 Exigir justiça quando se sente alvo de falta de consideração (Romanos 12.3)
 Demora em pedir perdão e perdoar as ofensas recebidas.

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 Exasperação justificativas quando corrigido. Não aceita definitivamente: "Quem ele


pensa que é? ...Eu só aceito se ele...”
 Ter uma vida secreta que ninguém sabe ou conhece: Duas faces.
 Reservas em elogiar outros, mas prontidão para receber glória para si mesmo.

1.3. Bênção para o humilde

 Ele é ouvido em seus desejos (Salmo 10.17)


 Ele é guiado por Deus (Salmo 147.6)
 Ele recebe graça (Provérbios 3.34)
 Ele tem sabedoria (Provérbios 11.2)
 Ele tem temor do Senhor, riqueza, honra, vida (Provérbios 22.4)
 Ele recebe honra (Provérbios 29.23)
 Ele será exaltado (Tiago 4.10)
 Ele Recebe o reino de Deus (Mateus 5.3)
 Ele será o maior no reino dos céus (Lucas 18.14).

1.4. A disposição para servir

Um verdadeiro servo está sempre atento aos problemas e necessidades que os outros estão
enfrentando, e espontaneamente se dispõe a ajudar, alimentando um desejo autêntico de
servir aos outros.

1.5. Conceito de servir no Velho Testamento

Há várias palavras em hebraico que podem ser traduzidas como "servo":

1.5.1. "Ebed" - Alguém que é escravo ou servo (Gênesis 24.1-67; Deuteronômio 15.12-18;
II Reis 1.9; Gênesis 26.15-24; Isaías 20.3; Gênesis 2.5).

1.5.2. “Abad" (Êxodo 23.25; Deuteronômio 4.19,28; Salmo 22.30; Jeremias 34.14;
Malaquias 3.18).

1.5.3. "Sakiyr" - Significa "servo alugado", que não podia comer o cordeiro pascoal
(Levítico 25.39-42; Deuteronômio 15.18; Levítico 25.L6; Êxodo 22.14,15; e Levítico 19. 22:10;
25.40,50,53).

1.5.4. "Sharath" - Pessoa servil que faz tarefas insignificantes - Êxodo 28.35-43; I Crônicas
16.37; Êxodo 24.13 e Números 11.28.

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O Velho Testamento provê o pano de fundo para a palavra "doulos”  em


Deuteronômio 15.23. Ao escravo que servira ao seu senhor durante certo tempo, de acordo
com o pacto mosaico, eram-lhe dadas duas opções:

 Aceitar sua liberdade total sem nenhuma obrigação legal para com seu senhor.
 Escolher ficar na casa de seu senhor, tornando-se escravos permanente por
amor.

1.6. O Conceito de servir no Novo Testamento

No Novo Testamento há várias palavras gregas que apresentam o conceito de serviço.


Destas, a mais usada é diácono (Atos 6.1-6).

Todo líder deve, primeiramente, aprender a servir. Sobre a base de serviço será edificada
uma liderança. Um coração de servo foi o suporte do ministério de Jesus (Marcos 10.45 e
Lucas 22.27). Estar sempre preocupado com a própria felicidade ou comodidade é contrário a
ter um coração de servo.

A palavra "diácono" () aplica-se em dois sentidos:

 A todos os cristãos que são chamados para servir ao Senhor Jesus Cristo e ao Seu
povo.

 Na designação oficial de certas pessoas que representam a igreja apontados pela


liderança local (Atos 1.4).

A Igreja Primitiva acreditava que a capacidade oficial de servir ao povo de Deus era tão
importante que ela apontava pessoas específicas para exercerem o diaconato (Filipenses 1.1)
e ressaltava certas qualificações para esses e suas esposas (I Timóteo 3.10-13).

1.7. Passos práticos para alguém se tornar um servo

 Aceitar o tratamento da Cruz: Somente com o processo da Cruz a vontade do


homem é quebrada. O compromisso do cristão deve ser o de servir a Deus e aos
homens (Marcos 10.45).

 Decisão Pessoal: Precisamos decidir servir aos irmãos e não nos agradar a nós
mesmos. Só pode ser aceita por Deus uma decisão que não leva em conta motivações
interesseiras.

 Espírito Ensinável: Estar aberto para aprender com quem quer que seja é algo
muito dolorido. Sabemos que Jesus saiu para ser batizado por João diante dos
olhos de todos. Isso era muito arriscado, pois poderia ser que, mais tarde algum
fariseu se dirigisse a ele dizendo: acaso não estivemos juntos nas aulas de batismo
de João? E isso certamente deve ter acontecido, pois Jesus usa algumas
ilustrações feitas por João Batista (Comparar Mateus 3.10 com 7.16-20) no sermão
da montanha. Deve ser bastante constrangedor, se colocar ao lado de pecadores
para ser batizado; alguém que nunca tenha pecado, como foi o caso de Jesus.

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EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Ter um coração ensinável é estar aberto para aprender com quem quer que seja,
mesmo que isso muitas vezes seja extremamente constrangedor. Ninguém se
diminua por ouvir e aprender algo com quem sabe menos.

 Dependência de Deus: Jesus somente fazia o que Deus mandava. Não havia lugar
para o "eu acho ou eu penso", mas somente, para o que Deus queria realizar. Nós
somos construtores e executamos a planta que Deus projetou. Vem chegando o
momento onde tudo que fugir do projeto de Deus será desmanchado. Deus não aceita
anexos humanos à sua obra. Muitos de nós queremos fazer de nossas vidas o que
bem queremos e isso denota falta de entendimento sobre princípio da Cruz: "Não mais
eu vivo, mas Cristo vive" - O comando não mais me pertence, mas tudo está sobre o
controle Divino.

 Disposição Para Sofrer: Todo obreiro cristão deveria estar preparado para o
sofrimento. Em I Pedro 4.1, lemos as seguintes palavras: "Ora, tendo Cristo sofrido na
carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento".

Uma atitude mental correta, em relação aos sofrimentos, faz parte do equipamento
essencial de todo obreiro cristão. O crente não deve convidar as tribulações, nem sair
em busca delas; porém, se elas atravessarem em seu caminho, ele deve enfrentá-las
com a mente já resolvida a suportá-las por amor ao Senhor. Por exemplo, se formos
pessoas fisicamente débeis, naturalmente necessitaremos de um leito mais confortável
do que precisaria uma pessoa vigorosa; mas, se ao nos lançarmos na obra do Senhor,
fixarmos a mente na necessidade de uma cama mais confortável, nos tornaremos mais
vulneráveis ao inimigo nesse particular. Por outro lado, se estivermos mentalmente
preparados para sofrer por causa de Cristo, e então o Senhor nos prover um leito
confortável, não haverá mérito algum em evitarmos o leito para tornar mais áspera a
nossa existência, dormindo no chão.

Não imaginem que os crentes que vivem em circunstâncias mais desfavoráveis sejam,
automaticamente, capazes de suportar com mais facilidade as dificuldades do que
aqueles que vivem em condições mais favoráveis. Somente aqueles que, não
importando as suas circunstâncias externas - favoráveis ou desfavoráveis - se têm
entregado ao Senhor e se têm armado da disposição mental de sofrer, é que serão
capazes de se manterem firmes no dia da provação. Um irmão acostumado ao
conforto, mas que tenha tido uma transação definida com o Senhor e se tenha disposto
ao sofrimento por causa Dele, terá muito maior poder para suportar o sofrimento do
que qualquer outro irmão, acostumado às privações, mas que não se tenha armado de
tal disposição.

 Ponderação Nas Palavras: Por falta de comedimento nas palavras, é seriamente


comprometida a utilidade de muitos obreiros cristãos. Em lugar de serem instrumentos
poderosos no serviço do Senhor, o seu ministério produz pouco efeito, devido ao seu
falar descuidado, sem nenhuma cautela.

No terceiro capítulo de sua epístola, Tiago faz a seguinte pergunta: "Acaso pode a
fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?" (versículo 11). Se um
obreiro cristão costuma falar sem menor cautela a respeito de todas as questões
possíveis, como pode esperar ser usado pelo Senhor na propagação de Sua Palavra?
Se Deus chegou a pôr a Sua Palavra em nossos lábios, então pesa sobre nós a solene
obrigação de resguardarmos os nossos lábios, usando-os exclusivamente para o Seu
serviço. Não podemos oferecer um membro de nossos corpos para o Seu uso, em um
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dia, para, no dia seguinte, retroceder e usá-lo a nosso bel prazer. O que quer que Lhe
tenha sido dedicado uma vez, será eternamente Dele.

 Disposição Para Ouvir: Outra daquelas qualidades que esperamos encontrar na


vida de todo obreiro cristão é que ele seja capaz de ouvir. Muitas pessoas, sem dúvida,
consideram isso como uma questão de menos importância, comparativamente falando;
mas a experiência e a observação nos têm demonstrado que isso de modo algum é
assim.

Qualquer indivíduo que queira servir ao Senhor deve adquirir o hábito de ouvir o que os
outros dizem, e não ouvir de maneira casual, e, sim, com o objetivo de prestar atenção
e de compreender o que lhe é dito. Se um crente, em necessidade consciente, volta-se
para um servo do Senhor pedindo-lhe ajuda, este, enquanto escuta a história de seu
irmão, deve ser capaz de discernir três tipos diferentes de linguagem: as palavras que
ele está proferindo; as palavras que ele está reservando para si; e as palavras que ele
não pode proferir e que jazem no profundo do seu espírito.

Diligência: Uma das qualidades do caráter é a diligência. Parece supérfluo dizê-lo,


mas realmente é essencial afirmar de maneira enfática que o obreiro cristão deve ser
pessoa dotada da vontade de trabalhar. No evangelho de Mateus lemos acerca da
história dos servos aos quais foram entregues cinco talentos, dois talentos e um
talento, respectivamente. Quando, após longa ausência, o senhor daqueles servos
regressou e exigiu que prestassem contas de sua custódia, o servo que recebera um
único talento, disse: "Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não
semeaste, e ajuntas onde não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu talento; aqui
tens o que é teu. Respondeu-lhe porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que
ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Cumpria, portanto, que
entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que
é meu. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez... E o servo inútil lançai-o para
fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes" (24.24-30).

Esse trecho das Escrituras demonstra que o Senhor requer que cada servo Seu seja
diligente no serviço que Lhe presta. Ele indicou claramente a falha fundamental na vida
do servo que nos foi retratado acima. Tal falha era dupla: ele era "mau" e
"negligente". A sua maldade ficou manifesta no fato que ousou chamar seu senhor de
"homem severo"

A preguiça não é um defeito raro. Os preguiçosos nunca buscam trabalho, e, ainda que
cheguem a empregar-se, buscam evitar todo esforço. Infelizmente, muitos crentes,
como também descrentes, sofrem dessa fraqueza, e servem de empecilho para com
os seus companheiros.

2. Fidelidade

Provérbios 25.18-19: “Espada e flecha aguda é o homem que levanta falso testemunho
contra seu próximo. Como dente quebrado, e pé sem firmeza, assim é a confiança no desleal,
no tempo da angústia”.

3. O Que é Lealdade?
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É um termo que expressa uma pessoa: franca, sincera, honesta, ou alguém que é fiel aos
seus compromissos até o fim, mesmo que isso implique em dano.

3.1. Três exemplos de lealdade

3.1.1. Dar às pessoas o que lhes pertence

Davi divide os despojos (I Samuel 30.22-25). Quando Davi volta com a metade da tropa, após
seguir os amalequitas que haviam levado cativos as mulheres e também as crianças, ele
expressa o mais lindo princípio que um líder poderia ter em relação a alguns que de tão
cansados que estavam, não puderam continuar a perseguição, e ficaram às margens do
ribeiro de "Besor". "...Davi aproximando-se destes os saldou cordialmente. v. 21. Porém os
homens maus, filhos de belial disseram: Visto que não foram conosco, não lhes daremos do
despojo que salvamos. v. 22. Porém Davi cheio de lealdade afirma: "Porque qual é parte dos
que desceram a peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes
iguais". Para Davi não havia diferença entres os que desceram à peleja e os que ficaram com
a bagagem.

3.1.2. A lealdade de Davi para com Jônatas, mesmo após a morte deste

“Disse Davi: resta ainda porventura algum da casa de Saul para que eu use de bondade para
com ele, por amor de Jônatas? v. 3. Então respondeu Ziba: ainda há um filho de Jônatas,
aleijado de ambos os pés. v. 4. Então disse Davi ao filho de Jônatas: Não temas porque,
usarei de bondade para contigo, por amor de Jônatas e te restituirei todas as terras de Saul
teu pai, e tu comerás pão sempre à minha mesa”.(II Samuel 9.1)

3.1.3. A Lealdade de Jônatas para com Davi.

“Então Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai, e lhe dissensão peque o rei contra seu
servo Davi, porque ele não pecou contra ti, e os teus feitos para contigo tem sido muito
importante”. (I Samuel 19.4).

3.2. A lealdade em meio a problemas e conflitos

Nossa melhor atitude para com aqueles com os quais temos aliança em tempos de
dificuldades é:

 Ficar em silêncio. Não faça comentários desagradáveis.

 Não criticar. Um momento em que mais nos tornamos desleais é quando criticamos
as características físicas ou morais de uma pessoa.

 Não murmurar. Filipenses 2.14. Fazei tudo sem murmurações nem contendas.
Êxodo 16.8: “...Portanto o Senhor ouviu as vossas murmurações, com que vos

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queixais contra ele; pois que somos nós? As vossas murmurações, não são contra
nós, e sim contra o Senhor”.

 Não abandonar em momentos difíceis. João 19.26: “Vendo Jesus a sua mãe, e
junto a ela o discípulo que expressou verdadeira lealdade, permanecendo com Jesus
até o fim...”.

 Não usar de traição. Judas expressou através do seu ato de traição que não
conhecia lealdade.

 Não divulgar segredos de outrem. Provérbios 25.9 “...E não descubras o segredo
de outrem”. Provérbios 20.19 “...O mexeriqueiro revela o segredo, portanto não te
metas com quem muito abre os seus lábios”. Provérbios 17.9 “... o que traz o assunto
à baila separa os maiores amigos”.

 Não descobrir as falhas do líder ou de quem quer que seja. Cão, filho de Noé, foi
amaldiçoado por essa atitude terrível de infidelidade. Não há líderes perfeitos.

3.3. A quem devemos ser fiéis?

 A Deus. "Fé". Hebreus 11.6. Com relação às suas promessas se somos incrédulos
nos tornamos desleais para com o Senhor “pois sem fé é impossível agradar a Deus,
porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus, creia que ele existe e
que se torna galardoador dos que o buscam”.

 Aos nossos líderes. Números 12.1-2: "Falaram Miriã e Arão contra Moisés... E
disseram: Porventura tem falado o Senhor somente por Moisés? Não tem falado
também por nós? O Senhor ouviu".

 Lealdade ao Conjugue. I Timóteo 2.12: “O diácono seja marido de uma só mulher, e


governe bem seus filhos e sua casa”. I Pedro 3.7: “Igualmente vós, maridos, coabitai
com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como
sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as
vossas orações”.

 Aos filhos.

 Para com os amigos.

 À Igreja.

4. Estabilidade

A estabilidade é outra das qualidades que se deve encontrar na vida de todo obreiro cristão.
Infelizmente, muitos crentes são extremamente inconstantes. O seu humor se altera com as
condições atmosféricas, de tal modo que por muitas vezes de tornam brinquedos das
circunstâncias; em conseqüência, não se pode depender deles. Suas intenções são boas,
mas, em vista de serem emocionalmente instáveis, freqüentemente perdem a estabilidade.

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A Bíblia retrata para nós um homem de temperamento inconstante que conhecemos pelo
nome de Simão Pedro. Certo dia o Senhor perguntou aos Seus discípulos quem o povo
pensava que Ele era. Responderam que alguns julgavam-no ser João Batista, outros
pensavam que Ele fosse Elias, ao passo que ainda outros viam Nele Jeremias ou algum dos
profetas. Então Ele fez a mesma pergunta aos discípulos, dizendo: "Mas vós, quem dizeis que
eu sou?"

Nenhum indivíduo marcado por um temperamento inconstante pode exercer um ministério


vibrante. Deve haver equiparação entre o Caráter do ministro e o Caráter do ministério.
Somente. assim, seremos a Igreja contra a qual as portas do inferno jamais poderão
prevalecer. Infelizmente, contudo, as portas do inferno prevalecem contra muitos obreiros
cristãos em vista de serem sempre vacilantes; por esse motivo, não se pode depender deles
na obra do Senhor.

5. Mansidão

Manso é o homem que não permite que a carne ou a vontade própria tome conta de seu
espírito, mas coloca todo o seu ser debaixo da autoridade do Espírito de Deus (Mateus 11.29).

Exemplo: Moisés, com atitude agressiva (Atos 7); Submetido ao tratamento de Deus (Êxodo
3); Cheio de mansidão, expressando a natureza de Deus. Números (12.3).

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Principais Fatores Para


a Formação de um
Autêntico Caráter Cristão

A. TER UM MODELO

1. A Importância de ter um modelo

Na formação do caráter é fundamental ter um modelo para seguir. O modelo é uma


referência que nos orienta, ensina, inspira, anima, corrige e desafia a nos superarmos
constantemente. O modelo produz em nós admiração; geralmente imitamos a quem
admiramos.

Deus teve uma referência muito concreta ao criar o homem: “Façamos o homem a nossa
imagem, conforme a nossa semelhança...” O modelo era Ele mesmo. E ainda que por
causa do pecado tenhamos perdido esta imagem, Deus nunca perdeu seu propósito em
restaurar-nos a esse modelo.

2. A Igreja se edifica por modelos

I Coríntios 11.1: “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo”.

Filipenses 4.9: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim,


isso fazei; e o Deus de paz será convosco”.

Paulo sabia claramente o princípio de que a Igreja é edificada por modelos. Cristo é o
modelo perfeito e absoluto; entre os discípulos é necessário que existam exemplos
também.

Tendo isto em conta, o apóstolo diz a seu discípulo Timóteo: “Ninguém despreze a tua
mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no
amor, na fé, na pureza”. (I Timóteo 4.12).
As seguintes recomendações são feitas por Pedro aos presbíteros, em I Pedro 5.2-3:
“Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força,
mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo
domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho”.

Somente Jesus Cristo é o modelo absoluto. Isto significa que diferentes traços do Caráter
de Cristo manifestam-se em intensidade diferente nos diversos membros do Corpo de
Cristo. Precisamos reconhecer nos irmãos os traços do caráter de Cristo para copiá-los.

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Romanos 8.29: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos”.

Jesus Cristo é o modelo ao qual Deus propôs que nos conformássemos, segundo seu
plano eterno.

3. Precisamos “conhecer” nosso modelo

Efésios 4.13: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de
Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo...”.

Epignosis é um termo que significa: conhecimento consciente, exato e


claro, entendimento completo. É exatamente isto que este versículo sugere. O plano de
Deus é que todos alcancemos todas as virtudes do caráter de Cristo. Tal estatura se
alcança mediante a unidade da fé e da epignosis do Filho de Deus.

A palavra “conhecer” no Ocidente herdou o conceito grego equivalente a conhecimento


intelectual, ou adquirir informação. Na Bíblia, porém, predomina o significado hebraico. O
conceito hebreu se refere a um conhecimento experimental, integral, total, participativo.
Inclui o intelectual, mas não se limita a ele. “Conhecer” significa fazer-se um com o que se
quer conhecer.

Segundo esta compreensão, “conhecer” a Cristo significa sermos plenamente um com


Ele. Nós Nele e Ele em nós. É uma experiência gradual e crescente, até que seus
sentimentos sejam nossos sentimentos; seus pensamentos, nossos pensamentos; suas
atitudes, nossas atitudes; sua vontade, a nossa. Até que todas suas virtudes cheguem a
ser nossas virtudes.

4. Como, então, podemos “conhecer” o Filho de Deus?

João 15.26-27: “Quando, porém, vier o consolador, que eu vos enviarei da parte do pai, o
Espírito da verdade, que Dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós também
testemunhareis porque estais comigo desde o princípio”.

I João 1.1-3: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos
olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida. (Porque
a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida
eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada). O que vimos e ouvimos, isso vos
anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o
Pai, e com seu Filho Jesus Cristo”.

O Filho de Deus pode ser conhecido por nós através:

 Do testemunho dos apóstolos nos Evangelhos;


 O testemunho do Espírito Santo em nós.

É fundamental que leiamos o testemunho destes homens, não simplesmente para adquirir
um conhecimento intelectual acerca de Jesus. Devemos ler a Palavra sob a unção do
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Espírito Santo. Ler em oração, pausadamente, observando cada detalhe, imaginando as


cenas. Perguntado-nos em cada parágrafo: que virtudes do caráter de Cristo descubro
aqui? Meditando em Cristo, contemplando-o, admirando-o, louvando-o, adorando-o,
prostrando diante Dele; nos maravilhando por sua humildade, sua mansidão, sua
santidade, sua graça, sua autoridade, seu valor, sua fé, sua sabedoria, sua dependência
do Pai, seu amor, sua compaixão... Deslumbrados perante tanta glória, quebrantados por
nossas misérias e, aos poucos, sendo transformados pelo Espírito Santo.

B. RECEBER DE DEUS OS MODELOS E MENTORES QUE ELES NOS DÁ

Algumas vezes bons mentores e modelos de caráter cristão autênticos são raros em
nossas vidas. Mas isto não é desculpa nem justificativa para vivermos uma vida cristã
relaxada. Estão disponíveis, somente na Bíblia, 2900 nomes de diferentes pessoas. Deus
registrou, com riqueza de detalhes, as lutas e virtudes de múltiplas pessoas. Estas
biografias foram colocadas por Deus para a nossa observação e meditação. Estes
modelos são visto andando na verdade, fugindo do mal ou sofrendo as terríveis e trágicas
consequências do pecado. A nossa cultura de entretenimento raramente nos ensina sobre
o terrível e certo julgamento que vem sobre nós e também sobre outros quando as leis de
Deus são quebradas. É essencial que nós testifiquemos e ensinemos sobre as
conseqüências das nossas palavras e obras, tanto quando treinamos nossos filhos como
quando discipulamos outros.

Algumas dessas biografias são resumidas numa frase. Outras enchem parágrafos e
capítulos. Comece a estudar biografias curtas como as de Ana, Asa, Timóteo e Barnabé.
Aliste as coisas boas que você percebe que eles fizeram. Então, aliste as decisões ruins
que eles tomaram. Medite sobre o “porquê” de tais decisões. Em seguida, relate as ações
de suas vidas e as conseqüências para com Deus. Que lições você aprendeu
especificamente?

Quatro pessoas do Antigo Testamento enfeitam muitos versículos do Novo Testamento:


Abraão, Moisés, Davi e Elias. Eles são os mais importantes para serem estudados, mas
requerem uma análise mais longa e detalhada. O “barro” de cada uma dessas vidas nos
aproximará mais do coração de Deus e do Seu caráter.
Mas não são somente os personagens da Bíblia que servem de modelos para nós. Deus,
na sua infinita bondade, nos proveu de homens e mulheres – dos quais o mundo não é
digno – também nos dias de hoje. São nossos líderes espirituais, nossos pastores, nossos
discipuladores.

Eles velam pelas nossas vidas, oram por nós, pagam um preço diante de Deus
intercedendo e cuidando de nós. É por isso que o Evangelho tem se propagado, pessoas
têm sido radicalmente transformadas, e a Igreja de Jesus está avançando por toda a
terra.
Quando eu me submeto em amor, com alegria e disposição de imitar a Cristo, o qual
meus líderes e discipuladores também imitam, estamos obedecendo à Grande Comissão
de Jesus, de fazer discípulos de todas as nações. E não só isso, mas estamos crescendo
em amor, sabedoria e graça diante de Deus e diante dos homens. E os homens, vendo as
nossas boas obras, glorificarão o Pai que está nos céus. E os resultados serão mais
frutos – vidas para o Reino de Deus.

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C. SUBMETER-SE AO SENHORIO DE CRISTO

1. O Senhorio de Cristo

Romanos 10.8-9: “Porém, que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu
coração, isto é, a palavra da fé que pregamos. Se com a tua boca confessares a Jesus
como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou entre os mortos, serás
salvo”.

A palavra-chave na compreensão do Senhorio de Cristo em grego é


(KyriosSenhor). Ela significa: chefe, dono, amo, autoridade máxima.

Na Bíblia, a expressão “aceitar a Jesus como Salvador” simplesmente não existe. É certo
que fora de Jesus não há salvação.

A conversão verdadeira ocorre na vida do indivíduo quando ele reconhece que Jesus é o
seu Senhor (Kyrios). Aceitar a Cristo meramente como Salvador, ignorando a sujeição ao
Seu senhorio, seria como não receber a Cristo. Cristo nos salva e nos dá todos os
benefícios da salvação, quando dobro meus joelhos diante Dele, reconhecendo-O como
meu Senhor.

Esta condição indica o fim da rebelião e a aceitação incondicional de seu governo e


autoridade sobre a nossa vida.

2. O Discípulo de Jesus Cristo

Em um sentido prático, um discípulo é um aluno, um aprendiz, alguém que tem um


coração manso e humilde ante a instrução da Palavra de Deus. Tem avidez por aprender,
por conhecer a Vontade de Seu Senhor para viver conforme ela. Um discípulo recebe
com fé e mansidão o ensinamento. Aceita a correção, imita o bom exemplo, anela
progredir. Tem um só objetivo em sua vida: ser como seu Mestre.

D. VIVER CHEIO DO PODER QUE TRANSFORMA

1. A condição humana

Romanos 8.8: “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus”.

 Por causa do pecado, o ser humano se envaideceu e perverteu.


 A ira de Deus se revela contra todo o pecado e injustiça dos homens.
 Todos os homens pecamos e estamos destituídos da glória de Deus.
 Todos estamos sob pecado e expostos a ira e ao juízo de Deus.
 Por causa do pecado, fomos constituídos inimigos de Deus.
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 Caímos espiritualmente mortos: Separados de Deus.


 Vivíamos sob as potestades das trevas.

2. O Kerigma

I Coríntios 1.18: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para
nós, que somos salvos, é o poder de Deus”.

I Coríntios 1.21, 24: “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus
pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação... Mas
para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de
Deus, e sabedoria de Deus”.

Kerigma  é a palavra grega traduzida como “pregação”. O verbo associado à


esta palavra, traduzido por pregar, não significa simplesmente dar um sermão ou fazer
uma exortação, mas “proclamar um feito”.

O Kerigma é a proclamação com autoridade e unção do testemunho de Deus que foi


revelado aos apóstolos e profetas pelo Espírito. No Kerigma  está a dynamis
 o poder de Deus para a salvação e a transformação dos que crêem.

O Kerigma provoca e infunde fé, graça e experiência. Proclama que tudo já foi feito na
morte e ressurreição de Jesus. E o que ouve com fé, experimenta o feito de Cristo na sua
própria vida. Esta é a dinâmica do kerigma.

3. A Obra do Espírito Santo em nós

I Coríntios 6.17: “Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito”.

Efésios 5.30: “Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos”.

Os crentes estão unidos a Cristo em uma união mais íntima e transcendente que a que
podemos ter com qualquer de nossos contemporâneos.

O Espírito Santo é o contato vivo entre Jesus Cristo encarnado, morto e ressuscitado e
nós mesmos. O Espírito é o ponto concreto de união com Cristo.

É pela presença e poder do Espírito em nós que podemos experimentar o sangue


regenerador de Cristo.

Lucas 24.49: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade
de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”.

Atos 1.4,8: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de
Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes...
Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis
testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins
da terra”.

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O Espírito Santo é quem efetivamente traz o poder (dynamis) do alto e nos conduz no
processo de transformação do nosso caráter.

E. DISCIPLINA PESSOAL

As ações reiteradas ao longo do tempo se transformam em hábitos. Existem hábitos que


têm características ético-morais que constituem os diferentes traços de nosso caráter. De
modo que a conduta vai forjando o caráter, e logo o caráter determina a conduta.

Se vivemos segundo a carne, serão forjados em nós traços carnais. Mas se vivemos no
Espírito, faremos morrer as obras da carne e manifestaremos as virtudes do caráter de
Cristo.

Necessitamos cultivar uma comunhão íntima, pessoal e secreta com Deus a cada dia.

Nossa máxima aspiração será “CONHECER” o Filho de Deus, o varão perfeito. Não se
trata de um conhecimento meramente intelectual (conceito grego), mas experimental e
total (conceito hebreu), até que cheguemos à medida da estatura de Cristo.

Este processo será gradual e tão intenso quanto o seu coração quiser que seja. Para ter
sede é preciso caminhar. Certamente, quanto mais sede tivermos, mais água fluirá do
nosso interior.

F. CONSTANTE FRUTICAÇÃO

O mundo deve e precisa ver Cristo nas atitudes da Igreja e nos seus membros. Isso não é
tão fácil de acontecer, a menos que o Espírito Santo intervenha de forma contínua na vida
do crente. Quando esse crente demonstra as características de Cristo em sua vida
cotidiana, dizemos então que nele se manifesta o fruto do Espírito. Da mesmo forma que
identificamos uma árvore pelos seus frutos - e não o contrário - Deus espera que cada
crente mostre ao mundo o fruto do Espírito. Para isto é necessário:

1. Depender de Cristo

O fruto do Espírito não pode ser manifesto em uma vida que não se submete ao senhorio
de Jesus Cristo. A dependência do crente ao Senhor é fundamental para que o caráter
cristão floresça. Nenhum fruto nasce se não estiver ligado à planta que o origina. Quanto
mais o cristão se submete a Cristo, mais frutos dará para seu Senhor. Quanto menos este
crente se submete a Deus, menos semelhança seus frutos terão com a videira. Um ramo,
para dar frutos, precisa se alimentar da seiva da planta e depender dela para frutificar.
Quanto mais nos alimentamos da seiva de Cristo, mais condições teremos de frutificar
Nele. Quanto menos dependemos Dele, menos propensos estaremos a demonstrar a
glória de Deus em nossas vidas e atitudes.

2. Entender que o fruto é prova de ser discípulo

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Quando lemos João 15.1-17, percebemos que Cristo falou primeiro acerca do trabalho
agrário (Ele como a Videira, o Pai como o Lavrador e nós como os ramos que, unidos à
videira, hão de dar frutos) para depois se referir ao discipulado. Dar muito fruto é
necessário para ser reconhecido como discípulo do Senhor (João 15.8). Os apóstolos
deram muitos frutos em prol do evangelho porque estavam em Cristo, e foram
reconhecidos como seguidores do Senhor.

3. Contra o fruto do Espírito não há lei

É essencial depender de Cristo para dar bons frutos, e quando o fazemos, não apenas
atraímos os pecadores para o Senhor, mas também demonstramos a justiça divina em
nossas vidas. Observe que Paulo diz que não há lei que puna quem possui o fruto do
Espírito (Gálatas 5.22-23).

Não há lei contra quem é longânime, possui domínio próprio, preza pela paz. Não
podemos dizer o mesmo daqueles que praticam as obras da carne. A prostituição destrói
lares e a moral de quem a pratica. A feitiçaria é duramente condenada por Deus. O
invejoso deseja obter as mesmas coisas que outras pessoas têm a todo custo, e nunca se
satisfará. O infiel jamais será totalmente confiável. Mesmo o ciúme - que pode levar as
pessoas a tomar atitudes destrutivas - é considerado uma obra da carne. A Bíblia
condena estas coisas, e Paulo completa seu juízo dizendo que quem pratica estas coisas
não herdará o Céu.

Contudo, é sempre bom lembrar as palavras do abençoado Apóstolo Pedro, quando


sabiamente colocou: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa
vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será
amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo” (II Pedro 1.10,11).

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SUPLEMENTO

O CARÁTER DE CRISTO E DA SERPENTE

Humilde Orgulhoso
quebrantado altivo
simples soberbo
abordável vaidoso
acessível arrogante
ensinável jactancioso
servo envaidecido
crucificado auto-suficiente

Manso Explosivo
submisso rebelde
obediente desobediente
sujeito indômito
Paciente Impaciente
tolerante intolerante
sofredor apressado
longânimo
Domínio Próprio Descontrolado
temperado intempestivo
sóbrio colérico
comedido iracundo
moderado exaltado
calmo violento
tranqüilo leviano
aprazível injuriador
caçoador
murmurador
caluniador
Misericordioso Sem Misericórdia
clemente inclemente
piedoso indiferente
compassivo rancoroso
perdoador irreconciliável
reconciliador encrenqueiro
pacificador maldoso
conciliador
Respeitador Desrespeitoso
cortês indecoroso
cavalheiro grosseiro
reverente insolente

Trabalhador Preguiçoso
esforçado comodista
laborioso aproveitador
abnegado negligente
diligente vadio
constante inconstante
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Responsável Irresponsável
ordenado não confiável
confiável desordenado
pontual relaxado
Convicto Instável
firme frouxo
estável covarde
valente titubeante
confiante temeroso
fiel inseguro
corajoso infiel
Alegre Oprimido
regozijante triste
animado melancólico
contente desanimado
Justo Injusto
reto parcial
imparcial abusador
santo oportunista
puro impuro
Honesto Enganador
honrado desonesto
sincero fingido
verdadeiro falso
transparente dissimulado
íntegro hipócrita
Sábio Insensato
prudente tolo
sensato imprudente

Decoroso Indecente
digno indecoroso
polido imoral
púdico irreverente
decente sacrílego

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATISTONE, FABRÍCIO. Escola de caráter. Igreja dos Irmãos. Brasil, 2007.

BISHOP, Joe. Caráter cristão: o fruto da alma. The Apostolic Faith Church, 2007.

COELHO, Alexandre. O Caráter Cristão. CPAD, 2006.

MOORE, Waylon B., Dr. How To Mentor Character Into Others. USA, 2006.

Nota: Além das fontes citadas acima, esta apostila é um manual para a formação do Caráter
Cristão. Seu conteúdo é formado por vários textos da equipe pastoral da Igreja Luz Para os
Povos de Goiânia, de palestras adaptadas do irmão Watchman Nee, de Martin L. Jones,
Robson Rodovalho e César Augusto Machado de Souza, da Comunidade Evangélica de
Goiânia – Brasil.

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