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Unidade III
5 ARTE RUPESTRE E ARTES INDÍGENAS NO BRASIL
Quase sempre a história da arte rupestre é o ponto de partida para analisar o princípio da transformação de
nossa sociedade sob o aspecto midiático e imagético, afinal os registros das pinturas e desenhos na Pré‑História
são testemunhos dessa transformação. Os grupos étnicos foram evoluindo culturalmente, a princípio como
desenhistas, na sequência, escultores, e, após, pintores, tendo em vista a maior capacidade de abstração que
foram adquirindo, o que era exigido pela pintura. Tais mudanças não eram resultado de eventualidades, mas de
uma mutação social que se manifestou gradativamente de diversas maneiras no ser humano.
5.1.1 Pré‑História
A Pré‑História é marcada por uma das épocas mais extraordinárias da evolução humana. Por conta
de sua longa duração, os historiadores a dividiram, de acordo com a evolução técnica, em três períodos
significativos: Paleolítico (ou a Idade da Pedra Lascada), que vai desde o aparecimento do homem até 12
mil anos atrás; Neolítico (ou a Idade da Pedra Polida), de 12 mil até 6 mil anos atrás; e Idade dos Metais,
datada de 6 mil anos atrás até o aparecimento da escrita.
A linguagem gráfica observada na arte rupestre era o manifesto do código social dos grupos
étnicos da Era Paleolítica Superior (30 mil a 18 mil a.C.), que reproduzia a imagem na sua verdade
visual, sem deformações ou estilizações. Temáticas dominadas pela crença nos poderes mágicos, pelo
cotidiano que envolvia a luta pela sobrevivência. A abundância de sítios arqueológicos encontrados
até hoje decifra as diferentes culturas que se formaram a partir dessas manifestações artísticas.
Características particulares incluem o tipo da tinta, representações humanas pequenas ou grandes,
cores dominantes, traçados geométricos cuidadosamente executados, animais desenhados por uma
linha de contorno aberta, entre outras. Por meio das peculiaridades, técnicas ou não, foi possível traçar
um estudo histórico das sociedades que se manifestavam culturalmente registrando seu cotidiano em
imagens reproduzidas nas cavernas.
O apogeu da arte rupestre paleolítica foi descoberto em 1880, nas cavernas de Altamira, na Espanha,
também conhecida como gruta de Altamira, onde se conserva um dos conjuntos pictóricos mais importantes
da Pré‑História. Até aquele momento se duvidava de que grupos étnicos e selvagens dispusessem de
arte e cultura. A arte era sinônimo de civilização, e acreditava‑se que esses povos da Idade da Pedra
fossem desprovidos de tal característica. Nos tetos e paredes das cavernas de Altamira, foram reproduzidos
desenhos coloridos de bisões, cavalos e vários outros animais, em repouso, ou, o mais surpreendente, em
movimento. Estudos iconográficos apontam as imagens de Altamira como símbolos sexuais e religiosos,
ritos de fertilidade, cerimônias de súplicas aos deuses para caças bem‑sucedidas, bem como batalhas entre
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Unidade III
clãs. Independentemente dos motivos que levaram a tais manifestações do homem paleolítico, resta a
certeza de que advinham de planejamento e organização, o que implica o processo cognitivo pelo qual as
tribos buscavam codificar suas informações, registrando‑as em símbolos gráficos.
As cavernas espanholas proporcionaram maior impacto social no século XX, diante de sua variedade
de riqueza cultural e artística. No mundo artístico moderno, por exemplo, influenciou a criação da
Escola de Altamira, quando o artista espanhol Pablo Picasso, após uma visita, exclamou que, depois
de Altamira, tudo parecia decadente. Apelidada de Capela Sistina da Arte Paleolítica, ela foi declarada
Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1985.
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HISTÓRIA DA ARTE
Na Era Neolítica o homem começa a desenvolver um novo estilo de expressão artística, momento
que ficou conhecido como o período das criações de armas e apetrechos mediante polimento das pedras,
tornando‑as mais afiadas. Foi nessa época que o ser humano fixou residência, iniciou‑se na agricultura
e dedicou‑se à domesticação de animais. Com a construção de moradias e o domínio da tecelagem e da
cerâmica, desenvolveu‑se a divisão de tarefas na comunidade.
O homem neolítico refletiu sua arte das conquistas técnicas. Uma característica que predominou
na pintura foi a ausência da imitação da natureza, passando para a representação do cotidiano
em grupos coletivos. Outra grande revolução nas artes visuais foi sugerir movimentos por meio da
imagem fixa; com essa preocupação, o artista desenvolveu figuras cada vez mais leves, ágeis, pequenas
e com poucas cores.
Na última fase do Neolítico, por volta de 3000 a.C., vemos um novo material dando forma à
beleza. Com o domínio do fogo e da transformação de minerais, o homem cria peças metálicas muito
benfeitas. Ornamentos, esculturas e armamentos, com riqueza de detalhes impressionantes, servem de
documentação do período em que viveu esse homem pré‑histórico.
À parte o campo de saber da arqueologia, a arte rupestre pode ser definida como um domínio
associado às demais características da história social do grupo que a elaborou. Os desenhos rupestres
eram uma forma de comunicação no qual as experiências eram trocadas, como complemento da
expressão verbal e gestual, representando relações ancestrais, nação e sonhos de referências semânticas.
Sob essa perspectiva, devemos entender que a linguagem visual, e não somente a verbal, é passível de
possibilidades em termos de eficácia e viabilidade. A habilidade exclusiva do homem de desenvolver
mensagens visuais só virá pelo desenvolvimento de sua inteligência visual.
Lembrete
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céu
firmamento estrangeiro rosto
Sol
cabeça
casa
noite
escuridão cabelo, dor, luto
porta, aberto
Espirais, círculos, ondas, e outros grafismos comuns na arte rupestre, por exemplo, são simples
desenhos geométricos que representam um significado realista, como ressalta a autora:
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HISTÓRIA DA ARTE
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Unidade III
Lembrete
Veja no gráfico a seguir a ordenação praticada no Brasil que norteia as pesquisas arqueológicas em
nosso teritório na Pré‑História:
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ni
Tradição Rupestre
1.000 Inciso-
ra
Taquara
ponteada Policrônica
ua
Itararê
Meridional
Geomêtrica
d. C.
pi g
Unã
Tu
Saldoide-
Aratu
Barracoide
Sambaquis
Hachurado-
1.000 zonada
Cerâmico
Sambaqui
3.000 minã
Humaitã
Umbu
Nordeste
Taperinha
5.000
Rupestre
Tradição
Luzia
10.000
Pleistoceno
• Tradição agreste
Surgiu por volta de 9 mil anos atrás na região da Serra da Capivara; tem predominância de
grafismos de imagens humanas, em geral masculinas e estáticas, ou seja, são raras cenas de ação;
e possui pouco refinamento nas pinturas, o que dificulta a identificação das figuras.
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Unidade III
Figura 41 – Antropomorfos e animais estáticos da tradição Agreste. Parque Nacional Serra da Capivara (PI)
• Tradição Nordeste
É a mais antiga e complexa tradição, surgiu por volta de 23 mil anos atrás e se concentra na
área do Parque Nacional Serra da Capivara, mas se espalhou para outros estados do Nordeste,
Centro‑Oeste e Sudeste; suas pinturas são monocromáticas, com aproximadamente 15 cm.
Representa homens, animais, plantas e algumas figuras geométricas com conotação narrativa e
interativa, ou seja, cenas de caça, guerra, dança, sexo, entre outras, onde se nota movimento na ação.
• Tradição Planalto
Está localizada em algumas áreas do Planalto Central, desde a Bahia até o Paraná; seu principal
foco encontra‑se nos sítios de Lagoa Santa e da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais. Tem a
predominância de peixes e cervídeos, muito coloridos (embora existam formas geométricas e
humanas em tamanho menor ao dos animais).
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HISTÓRIA DA ARTE
Figura 43 – Peixes e outros animais, assim como a cor vermelha, são típicos da tradição
Planalto. Essa pintura encontra‑se no abrigo de Santana do Riacho (MG)
Os grupos denotavam extrema habilidade compositiva, combinavam em painéis figuras com cores
vivas mesmo com a pouca variedade temática; possuía grafismos situados em lugares visíveis e
uma tradição concentrada na região do Vale do Rio São Francisco, além de alguns focos na Bahia,
Minas Gerais e Goiás.
Figura 44 – Os répteis são formas frequentes na tradição São Francisco. Figuras com
decoração interna simétrica demonstram forte sentido de efeito dos pintores. Lapa do Boquete, Januária (MG)
• Tradição Geométrica
Os grafismos eram mais abstratos, com gravuras complexas e diversificadas. Ela se concentra mais
na região central do País, atravessando‑o pelo Centro‑Oeste e o Sudeste, chegando à região Sul
(pouca presença na Serra da Capivara). Na parte setentrional brasileira, os grafismos se situam em
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áreas próximas a rios e cachoeiras; na meridional estão localizadas longe das águas e retocadas
com pigmentos, predominantemente círculos, setas e linhas tracejadas.
• Tradição Litorânea
Limita‑se a algumas ilhas de Santa Catarina, a 20‑5 km de distância uma das outras; possui
grafismos em locais de difícil acesso e foram feitos de granito; utilizava‑se da técnica do polimento,
com predominância de formas geométricas.
• Tradição Meridional
Está presente no Rio Grande do Sul, sobretudo em escarpas de planalto, blocos isolados, grutas
e abrigos diversos; suas gravuras são predominantemente limitadas à combinação de traços
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HISTÓRIA DA ARTE
retos ou curvos e círculos de vários tamanhos, muitos formando pegadas de felinos; é feita sobre
superfíceis de arenito, utilizando‑se técnicas de incisão ou polimento.
• Tradição Amazônica
É extremamente rica e diversificada, espalhada por toda a região Norte, tendo os principais
sítios arqueológicos em Monte Alegre e Alenquer, no Pará; considerada a mais antiga das
Américas; tem grande variedade de temas e tipos de grafismos, como figuras antropomorfas
estilizadas e humanas de várias dimensões (de até um metro), animais, parte de corpos e formas
geométricas etc.
Figura 48 – Antropomorfo da tradição Amazônica. A riqueza de detalhes chama a atenção: traços do rosto,
cabelos e até outra figura humana na região da barriga, sugerindo gravidez. Serra da Careta, Prainha (PA)
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A arte brasileira surgiu da combinação das manifestações artísticas pré‑históricas, com as artes
primitivas dos povos indígenas e os estilos artísticos de outras sociedades.
Entretanto, a arte indígena, também denominada tribal, tradicional ou nativa sofreu julgamentos
calcados na visão colonialista como a própria nomenclatura sugere, ou seja, designa todos os povos que
foram encontrados no território brasileiro pelos portugueses. Confundido com as Índias, o Brasil possuía
vários grupos espalhados por todo o território e diferentes entre si quanto à cultura, costumes, rituais,
idiomas, entre outras particularidades, como os Xavantes, Kadiwéu, Yanomami, Asurini, Kayapó, Bororo,
Karajá etc., que somam cerca de 200 etnias diferentes.
A partir dessa premissa, pensemos a arte e estética indígena brasileira como a expressão de várias
manifestações e formas produzidas por diversos povos nativos brasileiros. Assim não teríamos a arte
indígena, mas as artes indígenas. “Como não existe algo chamado índios do Brasil, não há também a arte
de nossos índios” (VIDAL, 2000, p. 290).
A nova forma de pensar esse conceito significa considerar a diversidade, diferenças e especificidades
nas manifestações artísticas desses povos. O grafismo, principalmente, é produzido sobre uma rica e
variável gama de suportes: máscaras, cestarias, madeira, esculturas, cerâmicas, painéis decorativos,
couro, cascas, pedra e, enfim, a própria pele (a última, além dos grafismos, recebe ainda outro tipo de
tratamento estético: escarificações e tatuagens). Além da diversidade cultural, os povos indígenas são
extremamente habilidosos em artefatos decorativos como a arte plumária, de miçangas, tecelagem com
fios e trançados de fibras vegetais.
Saiba mais
O reducionismo com relação às artes indígenas não se limita apenas à imensa variedade de estilos
e manifestações que cabe ao tema, mas o problema se remete à maneira de como definimos arte,
pois os povos indígenas não designam o termo com a prática social a qual mantemos relação. Para
eles, simplesmente não existe um domínio específico de objetos que possuem uma funcionalidade
exclusivamente estética, apenas para serem contemplados.
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A cultura indígena não é, portanto, voltada para o mundo das artes dentro de um contexto específico,
bem como não há, para eles, a necessidade de explicá‑la, defini‑la ou igualmente teorizá‑la. Esse
imperativo veio incorporado à visão ocidental de raiz eurocêntrica, a qual justificamos e recolocamos
em perspectiva a nossa própria atividade artística. A partir dessa concepção, Darcy Ribeiro nos fornece
uma definição sobre a arte indígena:
Que é arte índia? Com tal expressão designamos certas criações conformadas
pelos índios de acordo com padrões prescritos, geralmente para servir a usos
práticos, mas buscando alcançar a perfeição. Não todas elas, naturalmente,
mas aquelas entre todas que alcançam tão alto grau de rigor formal e de
beleza que se destacam das demais como objetos dotados de valor estético.
Então a expressão estética indica certo grau de satisfação dessa indefinível
vontade de beleza que comove a alenta aos homens como uma necessidade
e um gozo profundamente arraigados. Não se trata de nenhuma obrigação
imperativa como a fome ou a sede, bem o sabemos; mas de uma sorte de
carência espiritual, sensível, na qual faltam oportunidades para atendê‑la;
e de presença observável, gozosa e querida, em que floresce (RIBEIRO In
ZANINI, 1983, p. 49).
Será essa perfeição a percepção de arte a qual o observador atribui à arte indígena, mesmo que esse
valor estético seja mais facilmente percebido por antropólogos, etnólogos e por historiadores da arte.
Observação
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Unidade III
5.2.1 Grafismo
Veja alguns exemplos de representação pictográfica utilizada entre os grupos Tukano como sistema
de comunicação:
Também temos os povos Xerente, localizados no cerrado do estado do Tocantins, que possuem
dois motivos básicos na pintura que servem como identificação do clã e da própria comunidade a
que pertencem: o traço (wahirê) e o círculo (doí). Observe os padrões aplicados na pintura corporal:
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HISTÓRIA DA ARTE
Casco de jabuti
Caixinha de fósforo
Vértebra de cobra
U:Ã-OIRO: ziguezague
Quadriculado
Espinho de peixe
As cores usadas pelos indígenas na aplicação de motivos no corpo humano, nas máscaras, nas
cestarias e nas flechas são confeccionadas a partir de materiais vegetais como o urucum, que dá o tom
vermelho, além do jenipapo e da fuligem, que dão a cor negra. Utilizam ainda pigmentos de origem
mineral que fornecem cores como o branco, o ocre, o vermelho‑castanho e o cinza‑azulado, empregados
no adorno de cerâmicas, bandanas, rodas de teto, bancos etc.
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Unidade III
Observação
Vejamos a seguir onde o grafismo é mais empregado pelos povos indígenas no Brasil: na pintura
corporal, na cerâmica e na cestaria.
A pintura corporal indígena é chamada de tonophé, mesmo termo usado para designar pintura, e
é dotada de uma técnica complexa de significação. A característica mais peculiar dos índios Asurini,
por exemplo, são os desenhos geométricos, utilizados também na decoração de objetos. São figuras
relacionadas ao próprio sistema de comunicação ligado à cosmologia, obedecendo às regras estéticas
e morfológicas. Elaborada pelas mulheres, divide‑se o corpo em áreas que, sujeitam‑se às formas
geométricas dos signos visuais e critérios como sexo, idade e atividade que exerce. A posição que ocupa
no grupo é um traço importante para muitos povos indígenas, como os Xerente. Observe:
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HISTÓRIA DA ARTE
A pintura corporal nos povos Kayapó difere entre as crianças e os adultos, mas ambos os sexos
recebem o mesmo desenho. As mães passam horas ornamentando seus filhos, pois sabem da importância
que têm no processo de socialização da criança; por sua vez, ela serve como laboratório e tela da jovem
mãe, que ensaia, aprende e se qualifica como pintora.
Observação
Saiba mais
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Unidade III
Entre as mulheres Xikrin, a pintura facial e corporal é organizada em sessões coletivas a cada oito
dias mais ou menos. Pertencem a essa sociedade das mulheres somente as casadas e com filhos, que
escolhem com antecedência o motivo decorativo, que deve ser o mesmo no corpo e podendo variar na
face. Sobre essa ocasião da vida dos Xikrin, a autora expõe o seguinte:
Figura 55 – Instrumentos da pintura Xikrin: feixe de estiletes feitos com nervura de folha de babaçu, recipiente
de ouriço de coco‑inajá contendo jenipapo misturado com água e carvão, pentes riscadores e carimbos
1. 2. 3.
4. 5. 6.
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Outro exemplo de como a pintura corporal possui um sistema visual rigidamente estruturado são os
corpos decorados dos povos Kayapó‑Xikrin por sinais gráficos que simbolizam a vida social comunitária e em
atividades próprias a cada sexo e idade, mesmo que seja uma fase transitória. Funcionam como a exposição
de uma comunicação publicamente por intermédio de mensagens visuais, como demonstra a autora:
Interessante são os conjuntos de pinturas corporais referentes aos rituais de iniciação e a ocasiões
especiais do homem Xikrin, como podemos observar na imagem a seguir:
1. 2. 3. 4. 5.
Figura 57 – Pinturas masculinas para ocasiões especiais: 1) a‑mi‑kra: dedo de jacaré, fim do ritual de iniciação masculina,
2) djoi‑mrõ‑ko: fim de resguardo, 3) katob‑ôk: pintura cerimonial, 4) me‑ã‑tonk: pintura cerimonial,
5) mêmu‑bitchiangki: fim de resguardo
Figura 58 – À esquerda, forma de aplicação da pintura corporal; à direita, a mão paleta da pintora Xikrin
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Assim como cada povo indígena possui suas características, técnicas e outras peculiaridades
na pintura corporal, a produção da cerâmica e da cestaria não é diferente. São manifestações
culturais que expressam a identidade da tribo, de seus indivíduos e das atividades atribuídas
a cada um deles.
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A)
B)
C)
D)
Figura 61 – Cerâmica japepaí, utilizada nos principais rituais Asurini para servir mingau.
Trata‑se da mesma forma da grande parte da cozinha, objeto símbolo da atividade de subsistência
feminina por excelência. (A e B) padrão tayngava, (C) motivo kwasiarapana, (D) padrão tayngava
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Entre as cerâmicas mais antigas feitas por indígenas brasileiros está a marajoara, produzida pelas
índias da Ilha de Marajó. Sofisticadas e extremamente elaboradas, as mais antigas compreendem os
anos entre 600 e 1.200 d.C. Estudos arqueológicos mostram que a região foi ocupada por agricultores
e ceramistas provenientes dos Andes, o que explica o grau de acabamento muito detalhado em baixo e
alto‑relevo, ou seja, produzidos por grupos com elevado nível de organização em camadas sociais.
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Além da sofisticação, a cerâmica marajoara apresenta grande diversidade de objetos que vai além
dos famosos vasos, como estatuetas, carrancas, brinquedos, urnas funerárias, apitos, chocalhos e até
tangas (tapa‑sexo).
Figura 63 – Tanga de cerâmica, 19,9 x 14,1 cm, fase marajoara, procedente do Lago de Arari,
Ilha de Marajó, PA, coleção do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP – MAE – USP
Símbolo da cultura e objeto, a cestaria, como outras manifestações artísticas, materializa a subjetividade
do grupo indígena, constituindo‑se em linguagem da vida cotidiana, mas expondo ainda referências mais
profundas e complexas, como a ancestralidade, o sagrado e a natureza, como corrobora a autora:
A arte do trançado é uma das mais antigas que o homem conhece. Representa
diferentes categorias artesanais indígenas e revela seu modo de vida e sua
adaptação ao meio. As formas e técnicas de entrelaçamentos representam
as tramas sociais e uma visão cosmológica particular (IOKOI, 1998, p. 63).
O povo Munduruku, do sul do Pará, é conhecido pela habilidade na produção da cestaria. O cesto
carqueiro é confeccionado com palha de tucumã, costurado com cordéis de caroá e uma alça de envira.
Ele é oferecido à esposa ou filha solteira, sendo usado no transporte de frutos e apetrechos de viagem.
A pintura vermelha é produzida com urucum, e o grafismo dela informa o clã da linhagem paterna à
qual pertence o artista.
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O trançado dos Wayana, habitantes do norte do Pará, por sua vez, representa “suas concepções
a respeito da formação e constituição do universo, e essas concepções podem ser percebidas e
compreendidas pelos membros dessa sociedade” (IOKOI, 1998, p. 64). O grafismo do cesto cargueiro
Wayana destaca formas míticas, como a anaconda, a cobra sobrenatural.
Figura 66 – Cesto que simula a malha das cobras urutu e coral confeccionado como antigamente (sem coloração)
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Para a tribo Kayapó‑Xikrin, a plumária é uma simbologia mítica, já que as aves, habitantes dos
céus, são a luz eterna e origem de seus ancestrais e são símbolos de conquista da sua existência,
diferenciando‑os dos demais.
Rica e variada, utiliza‑se de resinas para ter a durabilidade necessária para suportar as danças,
cerimônias e comemorações que podem durar vários dias.
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Figura 70 – Coroa radial da tribo Asurini usada por homens em danças rituais. A emplumação é feita de rêmiges
primárias e secundárias de gavião‑carijó; rêmiges primárias, retrizes e coberteiras da asa de socó‑boi, apresentando,
igualmente, plumas dorsais e rêmiges secundárias da fêmea da espécie. Também é confeccionada para comercialização
Os membros da tribo Bororo se distinguem uns dos outros, além de seus próprios nomes e demais
objetos variados, pelo emprego das penas de determinadas aves na ornamentação de seus corpos.
Considerada uma das mais suntuosas, a arte plumária Bororo utiliza uma enorme variedade de penas e
tamanhos, e varetas como suportes.
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HISTÓRIA DA ARTE
A arte plumária é uma tarefa elaborada exclusivamante pelos homens da tribo, que recolhem as penas
e plumas durante as caçadas guardando‑as em um estojo de bambu, ou criam as aves desde filhotes.
Estas são alimentadas pelas mulheres e crianças, passando a maior parte da vida sem a plumagem. A
plumária possui uma variedade de utilidades como diademas, braceletes, cocares, bandoleiras, testeiras,
colares, coroas, narigueiras, capacetes, viseiras, braçadeiras, além de ornamentos dorsais e flechas.
Figura 73 – Mantelete Chamacoco, emplumação de rêmiges secundárias, plumas dorsais e do ventre de pato‑selvagem; rêmiges
secundárias, retrizes e plumas do corpo em geral, da cabeça, do encontro da asa e do calção, em particular, de papagaio‑verdadeiro;
plumas de dorso de socó‑boi; plumas dorsais e/ou coberteiras da asa de tachã, retrizes de aracuã‑do‑pantanal; retrizes de
gralha‑picaça; plumas de arara‑vermelha; retrizes e coberteiras da asa de falconiformes; plumas da região abdominal de cracídeo
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Unidade III
Além desses objetos mencionados, há ainda uma rica diversidade de outras manifestações artísticas
elaboradas a partir das necessidades de cada povo, aproveitando a matéria‑prima existente em seu
habitat. Veja a diversidade desses objetos executados por diversas tribos brasileiras:
90
HISTÓRIA DA ARTE
Figura 76 – Boneco de cera. Índios Tapirapé, MT, alt. 490 mm. Máscaras, índios Tukuna, AM
91
Unidade III
Figura 78 – Bordunas (armas). Da esquerda para a direita: Bororo, Krahó, Kayapó‑Gorotire, Karajá, Tukano e provavelmente Kayapó
Figura 79 – Banco monóxilo zoomorfo. Índios Guarani, SP, 460 x 110 x 140 mm.
Estatueta antropomorfa de cerâmica. Santarém, PA, 270 x 180 mm
A arte no primeiro período colonial no Brasil se constitui principalmente pelo estilo jesuítico
influenciado diretamente por Portugal, projetado nas construções de igrejas, com influência mais forte
onde a Colônia era mais ativa, ou seja, em cidades costeiras como Salvador, Bahia (a primeira capital do
Brasil Colônia). Nesse cinturão costeiro, localiza‑se um terço das igrejas construídas no período colonial,
que engloba, além de Salvador, Recife e Rio de Janeiro.
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HISTÓRIA DA ARTE
Com efeito, ainda hoje está em uso a expressão estilo jesuítico, para descrever
toda uma fase de arquitetura e decoração do primeiro período colonial,
que abrange também obras sem conexão direta com os próprios jesuítas.
Entretanto, a designação não é imprópria, uma vez que a Companhia
constituía naquele período o canal de transmissão mais influente da cultura
europeia para a América portuguesa (BURY, 2006, p. 64).
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Unidade III
A Companhia de Jesus no Brasil Colônia foi expulsa em 1759, e a ideia de arte jesuítica que abrange
todo o barroco brasileiro apresenta‑se como o que temos de mais antigo. Nesse período introduzia‑se
no Brasil o barroco tardio italiano, logo seguido pelo rococó francês.
Saiba mais
Saiba mais
No Brasil, o rococó é uma das fases do Barroco (e foi se desenvolvendo paralelamente), enquanto o
segundo pode ser definido em quatro fases distintas:
• 1ª fase: barroco jesuítico, caracterizada por altares e retábulos muito altos e com
influência renascentista;
• 2ª fase: período da antiguidade mineira, surgiu entre 1710 e 1730, e é marcada por fachadas
simples e requinte interior, colunas retorcidas ou torsas, ornamentos com motivos fitomorfos e
zoomorfos, arcos concêntricos e envoltórios dourados ou policromos em azul e vermelho;
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HISTÓRIA DA ARTE
• 3ª fase: irrompe em Minas Gerais entre 1730 e 1760, distingue‑se pelos dosséis no alto dos
retábulos, fachadas um pouco mais elaboradas com trabalhos de cantaria, excesso de motivos
ornamentais predominantemente escultóricos, revestimentos em branco e dourado e falsas
cortinas com anjos;
• 4ª fase: nasceu também em Minas Gerais a partir de 1760, destaca‑se pela alteração dos
retábulos, falta de dosséis, maior harmonia dos ornatos, mais simplificados, pelas fachadas
mais elaboradas com composição escultórica no estilo rococó, com invólucros de fundo branco
e dourado nas partes principais.
A seguir o autor nos auxilia, antes de adentrar no universo do barroco mineiro, na definição de Barroco:
Observação
Passado o período dos imigrantes portugueses, uma geração de nativos, entre eles muitos mestiços e
mulatos (como o artista Aleijadinho), formava‑se juntamente a muitas mudanças sociais, principalmente
no estado de Minas Gerais, devido à descoberta de ouro e diamantes na região.
Entre a primeira e segunda fase do Barroco, podemos verificar a diferença e transição de estilos no
conjunto arquitetônico de Congonhas do Campo, projetado por Aleijadinho. Enquanto a igreja ainda
conserva o estilo jesuítico, predominando severas linhas retangulares, e mesmo ainda tendo incorporado
novos elementos no projeto, o Adro, construído muitos anos depois, mostra‑nos o estilo barroco de
Aleijadinho, dando lugar a complexas curvas e representando um desvio drástico e radical do estilo
anterior, e não uma mera modificação.
Entre os anos de 1717 e 1721, Minas Gerias atingiu seu ápice na produção aurífera, e, por volta de
1760, várias cidades se transformaram em centros urbanos e surgiram as grandes igrejas matrizes, como
a de Vila Rica, de Mariana, de Congonhas do Campo, de Sabará, de Barbacena e de São João Del‑Rei,
a maioria de influência jesuítica. A partir daí foram introduzindo novas formas barrocas e conceitos
rococó oriundos da Europa.
Dessa miscelânea de formas viu‑se emergir um estilo arquitetônico original, batizado de estilo
Aleijadinho, em homenagem ao seu maior expoente. Esse período foi marcado pelas aspirações de
emancipar o Brasil de Portugal, como explana o autor:
O estilo Aleijadinho, tanto na arquitetura como na escultura, tem seu monumento clássico na igreja
de São Francisco de Assis, em São João Del‑Rei. Aleijadinho manteve o habitual traçado português da
fachada, porém todos os princípios e concepções do estilo jesuítico foram abandonados. Eles estão nas
torres da igreja, onde se manifesta mais nitidamente essa emancipação arquitetônica: elas possuem
“formato cilíndrico, guarnecidas por balaustradas e encimadas por elegantes cúpulas semiovais coroadas
de obeliscos” (BURY, 2006, p. 112).
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HISTÓRIA DA ARTE
Figura 83 – Fachada da igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, de São João Del‑Rei. Iniciada em 1774 e terminada
durante o primeiro quartel do século XIX. O projeto é atribuído a Aleijadinho, sendo considerado uma de suas obras‑primas
Apesar de a igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, de São João Del‑Rei, ser considerada
a obra que mais representa as características do estilo Aleijadinho, outras de transição mostram o seu
desenvolvimento, como as igrejas da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, de Sabará, de Ouro
Preto, de São João Del‑Rei e de Mariana.
Figura 84 – Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, de Ouro Preto. Iniciada em 1776. A tradição atribui
o projeto a Aleijadinho, que recebeu pagamento para fazer a ornamentação interna entre 1771 e 1794
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Unidade III
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HISTÓRIA DA ARTE
Figura 87 – Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, de Ouro Preto. A igreja é o exemplo máximo da transição do
maneirismo local para o rococó. Iniciada em 1776 por Manoel Francisco Lisboa (pai do Aleijadinho), o corpo do edifício pertence ao
primeiro estilo, mas a fachada revela claramente a inspiração do Aleijadinho, podendo ser considerada uma de suas obras‑primas
6.2 Aleijadinho
Maior artista do barroco mineiro, Antônio Francisco Lisboa, vulgo Aleijadinho, nasceu em Vila Rica
(atual Ouro Preto) em 1738. Filho de um mestre de obras e senhor de escravos português, Manoel
Francisco Lisboa, e de uma escrava africana provavelmente de nome Isabel, aos 60 anos Aleijadinho foi
contratado para esculpir 64 imagens de madeira e 12 estátuas de pedra para a igreja de Congonhas
do Campo (1800‑1805), período em que os sintomas da doença degenerativa que o acometeu (e que
permanece inconclusiva até hoje) estavam em seu pior estágio até aquele momento.
Adepto à leitura da bíblia e entusiasta de esculturas sacras, em 1790 Aleijadinho já estava tão doente,
que era carregado para onde quer que fosse, e seu trabalho era executado com formões e marretas
amarrados às mãos, que se atrofiaram e curvaram, chegando a cair, restando‑lhe somente os polegares
e os indicadores sem movimento. Como se não bastassem as fortíssimas dores, perdeu todos os dentes e
sua face e corpo se deformaram, adquirindo um aspecto assustador e asqueroso, como observa o autor:
99
Unidade III
• 1º período (1770‑1794) – igrejas franciscanas de Ouro Preto (fachada e interior) e de São João
Del‑Rei (fachada) e igrejas carmelitas de Ouro Preto (fachada e interior) e Sabará (fachada e
interior), e outra meia dúzia de igrejas e capelas particulares pertencentes a fazendeiros, mas de
pouca importância artística comparada às demais.
• 2º período (1795‑1807) – Santuário dos Profetas em Congonhas do Campo, que constitui o Adro
e o Jardim dos Passos.
Ficou cego em 1812 e morreu em 1814. Seu corpo foi sepultado na Matriz Nossa Senhora da
Conceição, em Ouro Preto. Seu trabalho suntuoso e requintado encontra‑se espalhado pela cidade de
Ouro Preto, Sabará, Congonhas do Campo e em outras cidades mineiras.
Localizada na região montanhosa de Minas Gerias, Congonhas do Campo possui o magnífico cenário
de onde se ergueu a Igreja do Bom Jesus de Matosinhos dos Profetas em 1761, o Adro no fim do século
XVIII e as estátuas no início do século subsequente. O conjunto arquitetado por Aleijadinho representa
o ápice de seu desenvolvimento como artista e o reconhecimento do estilo perpetuado por ele.
100
HISTÓRIA DA ARTE
Para se chegar à igreja, passa‑se por uma série de capelas chamadas Passos, e que cada uma delas
representa as cenas da Paixão de Cristo por grupos de imagens em tamanho natural esculpidas em
madeira por Aleijadinho. No fim da ladeira, encontram‑se o Adro dos 12 profetas, estátuas também em
tamanho natural esculpidas em pedra‑sabão pelo artista.
7 5 6 8
3 4
9 10
11 1 2 12
Sobre a relação entre a arquitetura e a escultura em Congonhas do Campo e a diferença nas fachadas
das igrejas executadas por Aleijadinho no período anterior, observa‑se que nas igrejas a escultura tem
papel subordinado, enquanto em Congonhas ela domina a arquitetura, como esclarece o autor:
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Unidade III
O conjunto arquitetônico projetado por Aleijadinho trata de uma solução extremamente adequada,
na qual as esculturas desempenham seu tradicional papel arquitetônico constituindo uma sequência
de pináculos nas quais as linhas ascendentes formam o contraste necessário com os parapeitos planos
e horizontais. Dessa forma podemos observar que Aleijadinho utilizou as linhas e volumes de suas
esculturas estilizadas com arrojada assimetria, libertando todo o conjunto da rigidez, proporcionando
movimento e ritmo ao projeto.
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HISTÓRIA DA ARTE
Figura 93 – Entrada do Adro dos Profetas, com Isaías e Jeremias em primeiro plano
No Brasil a pintura de paisagem será vista ao longo de quase todo o século como um gênero menor.
Em 1826, a Academia Imperial de Belas‑Artes, formada pelos integrantes da Missão Francesa, cria a
disciplina Paisagem, o que significava a conquista de uma relativa autonomia. Nessa época, a maioria
das paisagens foram concebidas dentro dos ateliês da Academia, restritas à luminosidade controlada
das janelas envidraçadas. Em um ambiente fechado e inflexível, são reafirmadas as convenções plásticas,
que não permitem a experimentação que o tema natureza poderia oferecer.
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Unidade III
Figura 95 – Henri Nicolas Vinet, vista da Baía do Rio de Janeiro da praia de Icaraí,
em Niterói, 1872 – Museu Nacional de Belas Artes – Pintura
Figura 96 – Auguste Stahl Ilha, Pernambuco, 1858 – Rio de Janeiro Coleção Gilberto Ferrez – Fotografia
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HISTÓRIA DA ARTE
Entretanto a fotografia não apenas se constitui enquanto linguagem própria, mas será responsável
pela transformação em senso comum de uma visualidade, que germinava no círculo restrito dos
produtores de obra de arte.
Ao nível temático, a fotografia marca nítidas diferenças com a pintura. Ela privilegia a imagem
industrial e urbana, pautando‑se no ideário de difusão do progresso técnico e econômico para toda a
humanidade. Nesse sentido, a fotografia possui um caráter projetivo e se afasta do realismo pictórico, o
qual procura banir de suas telas qualquer referência ao futuro.
Na pintura o renascimento do paisagismo parece estar associado não só a uma reação interna a
determinadas tradições no campo da arte, mas a uma tentativa de recuperar valores e situações que se
viam ameaçados pelas transformações que o crescimento da indústria pressupunha.
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Unidade III
Resumo
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HISTÓRIA DA ARTE
Exercícios
Unidade III
Questão 1. A imagem a seguir pertence ao Sítio Boqueirão da Pedra Furada, em Piauí. É um sítio
arqueológico brasileiro de grande valor histórico.
Figura
Sobre essa pintura rupestre, patrimônio cultural brasileiro, analise as afirmativas a seguir.
II. A pintura representa a vida cotidiana de grupos na pré-história do Brasil, período no qual o
homem domesticou animais selvagens.
III. A pintura representa figuras humanas e animais. Essas figuras compõem ações que se referem a
técnicas de subsistência, atividades cotidianas e cerimoniais.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a pintura não representa uma guerra entre os povos indígenas e os europeus no período
de colonização do Brasil, nos séculos XVI e XVII.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: na Pré-História, a relação entre homens e animais era de predador e presa, visto que o
homem, neste período, era nômade.
Justificativa: a pintura mostra, de fato, figuras humanas e animais. As figuras “compõem ações que
se referem a técnicas de subsistência, atividades cotidianas e cerimoniais”.
Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), mais conhecido como Aleijadinho, nasceu em Vila Rica, atual
Ouro Preto, Minas Gerais. Foi escultor, entalhador, arquiteto e carpinteiro. Ele é um dos personagens
mais importantes da história da arte brasileira e é objeto de diversos estudos e biografias. Seu primeiro
biógrafo afirma que ele nasceu em 1730, no entanto, há historiadores que questionam sua paternidade
e mesmo sua existência. Estima-se que cresceu em Ouro Preto com a família da sua madrasta e do
seu pai, o arquiteto português Manoel Francisco Lisboa (?-1767). Tudo indica ser com ele e com o
pintor João Gomes Batista (s.d.) que Aleijadinho aprendeu as primeiras noções de arquitetura, desenho
e escultura. De 1750 a 1759, frequenta o internato do Seminário dos Franciscanos Donatos do Hospício
da Terra Santa, em Ouro Preto, onde estuda gramática, latim, matemática e religião. Em 1752, realiza seu
primeiro projeto individual, um chafariz para o Palácio dos Governadores de Ouro Preto. Em 1756, viaja
ao Rio de Janeiro, onde vê obras arquitetônicas importantes para seu trabalho futuro.
Figura
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HISTÓRIA DA ARTE
I. As estátuas dos 12 profetas da igreja de São Luiz dos Campos, em Congonhas do Campo (imagem
anterior), são as mais notáveis e impressionantes obras de sua produção.
II. As esculturas de Aleijadinho apresentam um padrão de estilo e técnicas. A primeira fase, por
exemplo, marcada por elevado e sólido padrão de harmonia, clareza e serenidade de espírito.
III. As informações acerca da vida de Aleijadinho são precisas, graças ao rigor das pesquisas feitas
pelo seu biógrafo. O grande nome das artes barrocas do Brasil aprendeu o ofício com o pai.
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e III.
E) II e III.
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