Você está na página 1de 6

Tebas: “homem que tudo faz com acerto e perfeição”.

O mais famoso oficial de cantaria de pedra que atuou na cidade de S. Paulo no


período colonial foi o mulato então conhecido pelo codinome Tebas.
A documentação eclesiástica informa ainda que o mulato Joaquim provinha
também da região litorânea: era natural da Vila de Santos – dado aliás importante na
medida em que, por ser região onde se construía em pedra e cal (e, acrescente-se,
sempre mais sujeita ao gosto e às influências artísticas oriundas da Metrópole),
permite compreender a razão porque Tebas viria obter tanto sucesso em S. Paulo,
cidade onde até então imperava a tradicional taipa de pilão. Em Santos teria
aprendido e desenvolvido suas habilidades na cantaria de pedra. os beneditinos os
mais bem preparados para tal empreendimento. Possuíam eles uma pedreira em
Santos, de onde trouxeram as pedras para confeccionar os elementos em cantaria
da nova fachada. Possuíam, além disso, uma olaria na região de São Bernardo do
Campo, que abasteceria dos tijolos necessários para o revestimento prévio da taipa
de pilão – sem o que seria impossível inserir os elementos de pedra.
Em todas essas igrejas, sua participação deu-se especialmente na fatura de seus
frontispícios, com trabalhos em cantaria de pedra, onde pôde mostrar suas
habilidades e de onde provém a fama e o apelido de Tebas: “homem que tudo faz
com acerto e perfeição”.
É preciso lembrar que em outras regiões brasileiras dessa época, era muito
comum se encontrar escravos habilitados em ofícios artesanais (carpinteiros,
sapateiros, ferreiros, alfaiates, cabeleireiros, etc.) e de cujo trabalho viviam seus
proprietários, da renda gerada pelos cativos-artesãos, muitos dos quais eram eles
próprios Mestres artesãos que, com tal objetivo, ensinavam os ofícios a seus
escravos.
Joaquim Pinto de Oliveira seria apenas mais um exemplo dessa prática não fosse
o fato de ser um bom artífice, de reconhecidos méritos é verdade, cuja habilidade
artística talvez não possa ser equiparada a de outros artífices de outras regiões da
Colônia em sua época; devendo a sua notoriedade ser atribuída mais à escassez de
artesãos de sua especialidade numa cidade como S. Paulo onde, até então, se
construía em barro pilado e por documentos preservados, já que a presença desse
tipo de profissional na cidade de S. Paulo ou nas demais vilas e povoações do
planalto paulista, em épocas anteriores, é praticamente desconhecida.
De certo, a inconfessada paternidade branca, aliada à posição social que
ocupassem seus genitores, terá possibilitado a muitos mulatos o acesso ao
aprendizado dos Ofícios e das Artes, fazendo-os se distinguirem dos demais,–
Tebas – avaliado em 400$000 réis; enquanto os demais, só 100$000.
Bento de Oliveira Lima (branco, casado, 56 anos e com renda de 500 mil réis).Era
Senhor de quatro escravos Oficiais de Pedreiro e, entre eles, o pardo Tebas. Bento
ensinou a Tebas o ofício de Canteiro. Quando Bento morreu deixou Thebas aos
cuidados de sua mulher Antonia Maria Pinta que a deixou com muitas dividas e foi
obrigada a se desfazer de seu maior bem que era Thebas e que foi vendido que
acaba nas mãos do Arcediago Matheus Lourenço de Carvalho. Seu novo Senhor
alcançava por fim o objetivo das ações que promovera junto com outros cônegos da
Sé: Tebas concluiria a obra da Matriz em troca de sua liberdade aos 58 anos de
idade

Thebas, anos mais tarde, já forro, foi convocado para exercer o mesmo papel que
agora faziam seus colegas de ofício. E terá também escravos: João e Joaquim,
ambos negros. Tebas, de cativo tornara-se senhor. A sociedade escravocrata tinha lá
a sua lógica e as relações escravistas se reproduziam até por suas próprias e
antigas vítimas. Teria Tebas outra alternativa? A idade avançando; resolve gozar a
vida! Continuará sendo chamado de Mestre até aos 80 anos, quando chegará a
exercer inclusive a função de Juiz do Ofício de Pedre

Na realidade, onde Tebas mais trabalhou (as pesquisas mais recentes revelam)
foram em obras mandadas realizar pelas Ordens e Corporações religiosas da cidade
em suas respectivas igrejas e capelas. Em pelo menos quatro delas existem
documentos comprovando a sua presença: além da Sé já mencionada, também na
igreja do Mosteiro de São Bento (1766),, na capela da Ordem Terceira do Seráfico
São Francisco (1783) e, como logo veremos em detalhes, na capela da Ordem
Terceira do Carmo.Com exceção da igreja franciscana, a maior parte dessas obras
foi por ele executada na condição de escravo – pois que, após a morte de Bento de
Oliveira (1769), ficaria ainda por 10 anos sujeito às ordens da viúva, Dona António
Maria Pinto, embora com sua Senhora, passasse a desfrutar de uma relativa
autonomia. Arcediago Matheus Lourenço de Carvalho, que de certo lhe prometeu
alforria em troca da conclusão das obras do frontispício da Sé paulistana
. No sistema colonial, onde o trabalho manual não era muito valorizado, como você
diz, o sistema ficava na mão dos escravos de ganho. O mestre português não tinha
muito interesse em transmitir o seu saber aos filhos ou aos sobrinhos, mas aos
filhos ilegítimos e aos escravos. A divisão dos ganhos e a promessa da alforria, mais
ainda quando se tratava de filhos naturais, era um estímulo para apreender e se
destacar. Os escravos libertos por sua vez compravam outros desafortunados que
viam no ofício um meio para sair da sua condição infeliz, ou, pelo menos, viver em
condições menos humilhantes, e eventualmente ganhar recursos próprios
Frontão do Mosteiro de São Bento
A pedra fundamental da nova fachada da Igreja de São Bento, lançada em 1766, foi
trabalhada pelo mestre Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas.
O Chafariz da Misericórdia foi executado pelo construtor alforriado Tebas,foi ponto de encontro
dos afro-brasileiros no século 19

O chafariz serviria não apenas para fornecer água aos moradores no entorno do
largo, mas também para que burros e cavalos ao adentrar a cidade pela nova
estrada pudessem se restabelecer da longa jornada.
Vista do Largo da Memória na década de 30

THEBAS EM ITU
Afora isso, é bom lembrar que foi a partir desse mesmo governante que em São
Paulo são estimuladas as atividades agrícolas, de onde resulta o desenvolvimento
da agroindústria do açúcar em território paulista, inserindo a Capitania pela primeira
vez nos quadros da Economia Colonial, e em razão da qual desponta no último
quartel do século, a cidade de Itu como uma das mais prósperas do planalto
paulista.

Tebas estava em Itu naquele ano para levantar o Cruzeiro defronte ao conjunto
conventual

A razão dessa florescência artística ituana provinha da riqueza que a lavoura


açucareira lhe proporciona. A vila mais próspera da capitania estava envolta a
inúmeras fazendas e sítios cada qual com dezenas de escravos lavrando cana de
açúcar em suas terras e produzindo muitas arrobas de açúcar transportado para
Santos onde seguia em navio para Portugal. No ano em que localizamos Tebas em
Itu, a Vila já se beneficiava desse progresso e sua riqueza
Documento que mostra livro de lançamento de receita e despesas da Irmandade
da Senhora da Boa Morte dos Pardos de Itu correspondente ao período de 1795 e
1796 onde se encontra os registros devidos ao recebimento dos alugueis pagos por
Tebas em sua estadia em itu para a construção do Cruzeiro de Itu.

Você também pode gostar