Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
IHUideias
ISSN 1679-0316 (impresso) • ISSN 2448-0304 (online)
Ano 17 • nº 284 • vol. 17 • 2019
Resumo
Abstract
This paper aims to address the theme of basic income in contemporary times from
the tension between the logic of the (capitalist) economy and the logic of the social. The
tension in this paper serves as a background for understanding the true meaning of basic
income in the context of a capitalist society.
Keywords: Basic income; Capitalism; Social logic.
ihu.unisinos.br
Cadernos IHU ideias / Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Instituto Humanitas Unisinos. – Ano 1, n. 1
(2003)- . – São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2003- .
v.
Quinzenal (durante o ano letivo).
Publicado também on-line: <http://www.ihu.unisinos.br/cadernos-ihu-ideias>.
Descrição baseada em: Ano 1, n. 1 (2003); última edição consultada: Ano 11, n. 204 (2013).
ISSN 1679-0316
1. Sociologia. 2. Filosofia. 3. Política. I. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Humanitas Unisinos.
CDU 316
1
32
Bibliotecária responsável: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252
Toda a correspondência deve ser dirigida à Comissão Editorial dos Cadernos IHU ideias:
Introdução
II
1 Ackerman e Alstott defendem sua proposição no livro, de autoria dos dois, The Stekeholder
Society, New Haven & London, Yale University Press, 1999.
III
Tendo em vista o que escrevi nos itens anteriores, minha tarefa ago-
ra é discutir as possibilidades de uma proposta de renda básica no con-
texto atual.
O debate contemporâneo sobre renda básica emergiu na década de
1980 e foi certamente influenciado pelo contexto de então, marcado pelas
crises do Estado de bem-estar e do desemprego em massa. As duas cri-
ses, que estavam relacionadas e se alimentavam mutuamente, afetavam
principalmente os países da Europa, até então berço principal dos sistemas
de bem-estar. Foi, portanto, no bojo dessa situação de crise que surgiu com
força o debate sobre o que denominamos aqui renda básica, cujo marco
simbólico é o texto “A Capitalist Road to Communism”, de Robert J. van der
Veen e de Philippe Van Parijs, publicado em 1986 na revista Theory and
Society (volume 15, nº 5), como parte de um dossiê que contava ainda com
comentários críticos de Erik Olin Wright, Alec Nove, Joseph H. Carens,
Johannes Berger, Adam Przeworski e Jon Elster, além de uma réplica dos
próprios Robert van der Veen e Philippe Van Parijs.
O argumento central do texto que desencadeou o debate, conforme
indica seu título, era o de que se poderia transitar do capitalismo direta-
mente ao comunismo, sem passar pelo socialismo. O texto desafiava a
tradicional tese de que o socialismo – definido, segundo os dois autores,
pelo princípio “a cada um segundo suas possibilidades” – era um estágio
intermediário necessário, durante o qual as forças produtivas se desen-
volveriam a ponto de alcançar a abundância que permitiria a distribuição
da riqueza produzida apenas com base no critério “a cada um segundo
suas necessidades”, conforme a definição de comunismo apresentada
pelos mesmos autores; ou seja, uma situação na qual a distribuição seria
feita sem a exigência de contrapartida pelos indivíduos.
Para van der Veen e Van Parijs, aquele estágio de transição não era
mais necessário porque o capitalismo já havia desenvolvido suficiente-
mente as forças produtivas. Com isso, a questão a ser resolvida não era
mais a de impulsionar a produção, mas sim a de distribuir a riqueza já
IV
3 Para Thomas Piketty, as grandes fortunas, que resultam de patrimônios acumulados por
muito tempo, são em grande medida as responsáveis pelo aumento da desigualdade social,
sobretudo nesses anos de parco crescimento econômico (Piketty, 2013). Ver também Van
Parijs (1996, p. 34-40), sobre outras possíveis formas de financiamento da renda básica.
4 O Brasil é um dos poucos países do mundo que não taxam tais dividendos.
Mas, por outro lado, isto não pode ser motivo para nos enganarmos,
porque até o momento não é perceptível em nenhum deles, mesmo os
que se dizem de esquerda, o passo decisivo em direção à universalização
e à incondicionalidade, condições necessárias para que a transferência
de renda deixe de ser uma mera política compensatória e se torne uma
verdadeira política de cidadania e, em consequência, se transforme de
fato em um contraponto à desenfreada tendência à mercantilização das
relações sociais.
Referências bibliográficas:
Ackerman, Bruce; Alstott, Anne (1999), The Stakeholder Society, New Haven, Yale
University Press.
Caillé, Alain (2000), Antropologie du don, Paris, Desclée de Brouwer.
Caillé, Alain (2014), Anti-utilitarisme et paradigme du don. Pour quoi?, Paris, Le
Bord de L’Eau.
Esping-Andersen, Gosta (1985), Politics against Markets, Princeton, Princeton Uni-
versity Press.
Esping-Andersen, Gosta (1990), The Three Worlds of Welfare Capitalism, Prince-
ton, Princeton University Press.
Gorz, André (1983), Le Chemins du Paradis, Paris, Editions Galilée.
Habermas, Jürgen (1973), Legitimation Crisis, Boston, Beaqcon Press.
Marglin, Stephen A. e Schor, Juliet B. Schor, Eds. (1991), The Golden Age of Cap-
italism, Oxford, Claredon Press.
Krein, José Dari (1918), “O desmonte dos direitos, as novas configurações do tra-
balho e o esvaziamento da ação coletiva. Consequências da reforma trabalhista”,
Tempo Social, V. 30, no. 1, pp.77-104.
Marshall, Thomas H. (1965), Class, Citizenship and Social Development, Garden
City, Anchor Books.
Marx, Karl (1985), O Capital, São Paulo, Abril Cultural.
Milano, Serge (1989), Le Revenue Minimum Garanti dans la C.E.E., Paris, Press
Universitaire de France.
O’Connor, James (1973), The Fiscal Crisis of the State, New York, St. Martin Press.
Offe, Claus (1984), Contradictions of Welfare State, Cambridge, Ma. MIT POress.
Piketty, Thomas (2013), Le capital au XXIe siècle, Paris, Éditions du Seuil.
Polanyi, Kral (1944), The Great Transformation, Boston, Beacon Press.
Silva, Josué Pereira da Silva (2008), Trabalho, cidadania e reconhecimento, São
Paulo, Annablume, pp. 19-33.
Silva, Josué Pereira da Silva (2011), “Da bolsa família à renda básica: limites e
possibilidades de uma transição”, Idéias, ano 3 (3), pp.43-60.
Silva, Josué Pereira da Silva (2014), Por que renda básica?, São Paulo, Annablume.
Silva, Josué Pereira da Silva (2017), “Nota crítica sobre (in)condicionalidade”, Re-
vista Brasileira de Sociologia, vol. 05, no. 10, pp. 5-29.
Silva, Josué Pereira da Silva (2019), “What is Left? Nota crítica sobre desigualdade
e justiça”, Caderno CRH (no prelo).
Streeck, Wolfgang (2018), Tempo Comprado. A crise adiada do capitalismo demo-
crático, São Paulo, Boitempo.
Suplicy, Eduardo Matarazzo (1992), Programa de Garantia de Renda Mínima, Bra-
sília, Serviço Gráfico do Senado.
Suplicy, Eduardo Matarazzo (2006), Renda Básica de Cidadania: a resposta dada
pelo vento, Porto Alegre, L&PM.
Van der veen, Robert J. e Van Parijs, Philippe (1986), “A Capitalist Road to Commu-
nism”, Theory and Society, vol.15, no. 5, pp. 635-655.
Van der Veen Robert e Van Parijs, Philippe (2006), “A Capitalist Road to Global Jus-
tice. Reply to Another Six Critics”, Basic Income Studies, vol. 1, issue. 1, pp. 1-15.
Van Parijs, Philippe (1996), Refonder la solidarité, Paris, Éditions du CERF.
Van Parijs, Philippe (2002), “Renda Básica: renda mínima para século XXI”, in Su-
plicy, Eduardo Matarazzo (2002), Renda de Cidadania: a saída é pela porta, São
Paulo, Cortez Editora, pp. 194-230.