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Marcia Lima
Cadeia de reciclagem
UM OLHAR PARA OS CATADORES
Senac Sesc
Cadeia de reciclagem
UM OLHAR PARA OS CATADORES
Jacques Demajorovic
Márcia Lima
Pal Leomardo Gongaves Comes
Demajorovic, Jacques
Cadeia de reciclagem: um olhar para os catadores/
Jacques
Demajorovice Márcia Lima. - São Paulo: Editora Senac São
Paulo; São Paulo: Edições Sesc SP, 2013.
Bibliograña
ISBN
978-85-396-0441-8 (Editora Senac São Paulo)
ISBN 978-85-7995-085-8 (Edições Sesc São Paulo)
1.
Reciclagem: Gestão de resíduos sólidos 2. Catadores de
material reciclável:
Cooperativas (Reciclagem) 3. Cadeia de reci-
clagem: Cooperativa de catadores 4. Cooperativa de catadores:
Logistica reversa I. Lima, Márcia, II. Título.
Os Anos Dourados
correspondem ao período que vai de 1950 até a Crise do Pe-
tróleo em 1973 e são caracterizados pelo intenso crescimento da economia mun-
dial iniciado pelo Plano Marshall - o financiamento da
reconstrução da econo-
mia europeia destruída durante a Guerra Mundial.
Segunda
PARA OS CATADORES
OLHAR
UM
RECICLAGEM:
DE
CADEIA
centers,
mundial, principalmente nos grandes
cente da população 2005, a
Avaliação Ecossistêmica do Milênio,
urbanos. O crescimento do numero de consumidores que envolveu 1.360
uma
pesquisa
centros cientistas em 95 paises, concluiu que,
uma engrenagem baseada no
alimentava continuamente an- ao mesmo tempo em que as atividades
antrópicas conse-
vertiginoso da produção, distribuiço
e consumo
mento guiram assegurar grandes conquistas para melhorar o bem-
mercadorias. -estar humano e o desenvolvimento
econômico, o aumento
Mesmo com o fim dos Anos Dourados, no início da dé da demanda nos últimos
cinquenta anos, associado ao uso
cada de 1970, e os problemas econômicos enfrentados por insustentável dos recursos naturais,
comprometeu severa-
diversos países, como o Brasil, durante a década de 1980,2 o mente os serviços prestados
pelo ecossistema, o que traz im-
total de recursos financeiros gerados na economia global não pactos negativos para esse bem-estar (Millenium Ecosystem
parou de crescer. Se em 1960 o produto interno bruto mun- Assessment, 2005).
dial registrava parcos USS 1,3 trilhão, no fim do ano de 2010 Essas modificações no ecossistema foram feitas como
o valor gerado na economia mundial registrou US$ 63 tri nunca antes na história. A diminuição da disponibilidade
Ihoes (Banco Mundial, 2011). Embora os países desenvolvi- para consumo de água potável, madeira, fibras e combusti-
dos continuem a representar a maior parcela do PIB mundial, veis tem ameaçado beneficios até agora alcançados para
os
observa-se crescimento mais do PIB as gerações futuras. A pesquisa mostra ainda que o aumento
um rápido nos países
em desenvolvimentoe nas economias emergentes, tais como da demanda mundial ameaça severamente 15 dos 24 ser-
China, India e Brasil. E nesses países que emprego, renda e viços prestados pelo ecossistema, como pode ser visto na
de forma tabela 1.
consumo crescem
significativa.
O sistema produtivo não apenas consome recursOs, mas
Tamanha expansão da economia mundial, associada
também devolve ao meio ambiente quantidades crescentes de
ao
grande aumento do consumo, tem gerado uma série de
materiais na forma de resíduos. Dados da Associação Brasileira
problemas socioambientais. Para sustentar o aumento da
demanda mundial, os recursos naturais são consumidos em das Empresas de Limpeza Públicae Residuos Especiais (Abrelpe,
2008) mostram que a coleta mundial de residuos sólidos ur-
quantidadee velocidade sem precedentes, levando os pesqui
Sadores banos é estimada em 1,2 bilhão de toneladas. Naturalmente, a
a alertarem sobre perigo de Em
o seu esgotamento. países entre os
contribuição para esse total é bastante desigual
mais ricose os mais pobres, pois a geração
de resíduos está dire-
A década de
1980 ficou conhecida no Brasil como a "década razao da desenvolvimento econômico. Assim,
queda dos investimentos e do baixo perdida" em tamente ligada ao grau de
crescimento da economia no periodo
18
TABELA 1. ESTADO GERAL DOS SERVIÇOS DE PROVISÃO, REGULADORES E CULTURAIS
Serviços Subcategoria Condiçoes Observação
Serviços de provisãa
Alimentos Lavouras aumento substancial da produção
Animais de criação aumento substancial da produção
Pesca de captura produção em queda devido à exploração predatória
Aquicultura aumento substancial da produção
Alimentos silvestres produção em queda
Fibras Madeira perda de floresta em algumas regiões, crescimento em
Outras
Agua Agua doce uso não sustentável para consumo humano, indústria
e
irrigação;
volume de energia hidráulica não alterado,
mas os diques aumentam nossa capacidade de utilizar
essa energia
Purificação da água
tratamento de residuos
e piora da qualidade da água
Central, América do Sul e Africa,onde se concentra a maior dos pelos países ricos e pelos paises pobres é bastante distinta.
parte da população mundial, gera conjuntamente a outra me-
Nos países desenvolvidos, como já está garantido que o lixo
tade dos resíduos coletados. Tais números são explicados produzido tenha como destino aterros sanitários
incinera e
pela
enorme variedade observada dores, o debate centra-se políticas redução do volume
nas de
no consumo
por habitante em di de lixo gerado, ampliação da reciclagem e
versos países. Se a coleta per capita anual um cidadão norte-
de implementação de
-americano é de cerca de 800 kg, nas Filipinas essa quantidade tecnologias de tratamento menos poluentes. Já nos países em
se reduz a cerca de 180 kg. desenvolvimento, como no caso do Brasil, os problemas se
Independentemente das disparidades encontradas, a ampliam, pois parcela significativa dos resíduos sequer étra-
tada adequadamente, sendo seu destino os lixões ou a
questão do lixo traz enormes desafios para as políticas públi- queima
céu aberto, o que amplia a
cas, seja nos países industrializdos ou nos países em desen-
a
poluição do ar, da água e do solo
volvimento. A expansão da
e
potencializa impactos sobre a saúde humana. Nesse contex-
população urbana e o aumento do
to, implantar programas que diminuam a
consumo de produtos descartáveis e menos duráveis fizeram geração de resíduos
sólidos e seus impactos são desafios
que afetam todos os paí-
crescer a quantidade final de resíduos gerados, que precisam ses, demandando do setor
ser coletados, transportados e destinados adequadamente
público, empresas e de cidadãos
de
um novo olhar para a
questão.
pelo poder público.
Ainda que esse crescimento indique a necessidade pre-
A evolução dos resíduos sólidos
mente do desenvolvimento de alternativas em todos os paí- na sociedade
e seus desafios
ses para gerenciar uma quantidade cada vez maior de lixo, é .
e de cons-
roportos, indústrias, portos, propriedades agrícolas
de demolição ou restos de obras, apesar de grande parte poder ser reaproveitado,
de restos de tin-
diversidade de resíduos, cuja muitas vezes
pode apresentar toxicidade em razão da presença
trução civil. A quantidade e a tas e solventes. Já na agricultura, uma das grandes preocupações
édestinação
a
24
CADEIA DE RECICLAGEM: UM OLHAR PARA OS CATADORES
sobre nossa responsabilidade como geradores. O Novo onde o lixo é jogado sem nenhuma estrutura para evitar im-
dicio-
nário Aurélio da lingua portuguesa define o lixo como "aquilo pactos socioambientais. Seu principal objetivo é propiciar
que se varre de casa, do jardim, da rua e se joga fora" ou uma tecnologia adequada para recebimento dos resíduos,
ainda
"coisas inúteis, velhas e sem valor" (Ferreira, 1986) impedindo seu contato com a água subterrånea e o ar. Para
tanto, a construção de um aterro deve obedecer a uma série
Sem atribuir valor ou alguma utilidade aos
resíduos, mas de requisitos.
reconhecendo seu potencial de causar impactos socioambien
Nenhum aterro hoje pode ser implementado sem a autori-
tais, as autoridades públicas em diversos países começam a
zação de um órgão ambiental, considerando-se os resultados
implantar políticas mais amplas de gestão de resíduos sólidos.
de um Estudo de Impacto Ambiental. Esse estudo deve con-
No caso dos países desenvolvidos, a
primeira fase, que pre- templar a área a ser ocupada, as características do terreno, os
valeceu até início da década de 1970, foi caracterizada por
o
impactos na vizinhança, na fauna e na flora. Como não se tra-
uma prioridade em garantir apenas sua coleta e
disposição. ta apenas de um local para jogar os resíduos, os aterros sanitá-
Essa ação, concentrada no fim da cadeia produtiva, igno- rios ocupam uma área muito maior do que aquela destinada à
rava a importância de qualquer iniciativa focada na redução sua principal função, ou seja, o aterramento do lixo. Sua área
de resíduos nas diver_as etapas do processo produtivo. Essa construída e ocupada deve contemplar espaço para sistemas de
visão contribuiu, por um lado, para o crescimento acelerado drenagem de chuva e estações para tratamento de chorume.
do volume final de residuos, proporcional à expansão da Se o excesso de chuva não é coletado, a água poderá inva-
produção e do consumo. Por outro, como consequêncià dir terrenos vizinhos, facilitando processos de contaminação.
du- Da mesma forma, o chorume näo tratado pode contaminar
mais positiva dessa política, registrou-se a eliminação,
rante a década de 1960 e o início da década de 1970, dos
O Estudo de Impacto Ambiental é um relatório técnico no qual são identificados
últimos lixões a céu aberto na maioria dos países da OCDE, 0s
principais impactos ambientais da construção e operação de um empreendi-
sendo a maior parte dos resíduos encaminhada para aterros mento. Nesse relatório são apresentadas também medidas para mitigar os im-
pactos identificados. No Brasil, desde 1986, o Estudo de Impacto Ambiental foi
e incineradores. integrado à Política Nacional de Meio Ambiente por meio da Resolução 001/86
Os aterros sanitários constituem, até hoje, o meio mais do Conama, tornando-o
obrigatório para todos os empreendimentos que possam
gerar danos às pessoas, à fauna e à flora.
tratamen-
utilizado para a disposição de resíduos com algum O chorume é um liquido tóxico resultante da decomposiço de material orgänico
to em todo o mundo. Um aterro sanitário é um equipamento presente no lixo doméstico. Também pode ser visto em nossas casas quando o lixo
permanece na lixeira por vários dias.
para receber
resíduos sólidos
de destinação final planejado
RECICLAGEM: UM OLHAR PARA OS CATADORES
CADEIA DE
RESÍDUOs SOLIDOS
DESENvoLVIMENTO URBANO E GESTÃO DE
o lençol freático. Além disso, o solo escolhido deve ser com- série de Dessa
responsáveis pela transmissão de uma doenças.
pactado e não apresentar fraturas, de forma a evitar a conta- sendo construídas ao lado e em cima
forma, as células v o
minação da água subterrânea. Por fhim, os aterros sanitários de
de outras, recebendo assim a maior quantidade possível
não devem ser instalados próximos a rios ou córregos, para
resíduos.
impedir que um possível vazamento prejudique a qualidade importante dos aterros sanitários é a
Uma característica
consti-
da água, decomposição da matéria orgànica, que gera u m gás
Por se tratar de um grande empreendimento, seus cus- tuído de aproximadamente 55% de metano e 45% de dióxido
tos de instalação também são bastante elevados. Quanto de carbono, além de pequenas quantidades de outros gases,
mais rígida a legislação, maior o custo. Nos Estados Unidos, como nitrogênio (Atcha & Van Son, 2002). Gás extremamen-
Wake County Landfil, localizado; volátil, o metano em alta concentração nesse espaço conh-
por exemplo, a North te
Carolina do Norte, ocupa uma área de 93 hectares ou 930 mil nado aumenta os riscos de explosão e de incêndios nos aterros
metros quadrados e seu custo de construção foi de US$ 19 sanitários. Para evitar a sua ocorrência, devem ser instalados
milhoes. Do total da área ocupada, apenas 35% são utilizados tubos que possam coletar o metano presente nas células. Em
para o aterramento dos resíduos, sendo o restante ocupado alguns aterros, o metano é simplesmente descartado no am-
biente ou queimado em um equipamento denominado flare.
pelos equipamentos descritos anteriormente (Freudenrich,
Além do problema de segurança, o metano gerado é um
2004). dos principais gases que contribuem para o efeito estufa,
Como o principal objetivo de um aterro sanitário é re-
apresentando um potencial 23 vezes maior do que o do dió-
ceber resíduos sólidos e aterrá-los, seu elemento central são
xido de carbono." Grande parte da emissão global de metano
as células construídas para a disposição do material. Durante tem origem nos aterros sanitários. Nos Estados Unidos, por
o dia, caminhões carregados de lixo despejam nessas células sanitários são por 35% de
responsáveis
exemplo, Os aterros
o material recolhido nos centros urbanos. Distintamente dos
toda a emissão de metano (Atcha & Van Son, 2002). Já um
lixões, onde os resíduos apenas são despejados, nos aterros
c
sanitários, o lixo é compactado por meio do uso de tratores 8
Dados do Banco Mundial revelam que oito das dez temperaturas mais altas regis-
escavadeiras. A compactação desse materialé essencial, pois, tradas na humanidade ocorreram nos últimos dez anos. Tais dados comprovam
que as emissões de gases geradas pelas atividades antrópicas estão contribuindo
dessa forma, é garantido o aumento da vida útil do aterro. significativamente para a aceleração do efeito estufa. Estima-se que a temperatura
No fim do dia, o material compactado é recoberto com terra média global nos próximos cem anos seelevará de 1,4oCa 5,8 oC, sendo que seus
e novamente compactado. Esse procedimento é importante efeitos mais danosos serão observados nos países em desenvolvimento (cf. Kossoy,
2004).
insetos, comuns nos lixoes e
para evitar a presença de ratos e
28
SOLIDOS
DESENVOLVIMENTO URBANO E GESTAO DE RESIDUOS
CADEIA DE REClCLAGEM: UM OLHAR PARA OS CATADORES
atribuí-
estudo feito por Fernandez (2011) mostra que os resíduos só- Até o fim da década de 1960, a pouca importância
dessa
lidos gerados nos grandes centros urbanos contribuem com da aos ambientais relacionados ao emprego
problemas
incineradores operassem
3% do total da emissão de gases estufa. Nas grandes cidádes
os
tecnologia contribuiu para que
dos países em desenvolvimento, porém, a contribuição pode sem preocupações de limitar seu impacto socioambiental.
ser ainda maior. Fernandez mostra ainda que a proporção Em 1970, porém, com maior questionamento de seu empre-
de emissão de gases ligada aos residuos sólidos varia de 3%, go, desenvolveram-se os primeiros padrões de emissão para
do
nos Estados Unidos e Canadá, e até 136, na América Latina. os processos de incineração. Tais padrões, que ao longo
tornando mais restritivos, passaram a estabe-
Isso decorre da maior presença de conteúdo orgånico noa re- tempo foram se
óxido
síduos desses países, associada à falta do uso de tecnologia lecer limites para a emissão de materiais particulados,
&
que evite a emissão do metano diretamente para a atmosfera. de nitrogênio e dióxido de enxofre, entre outros (Dempsey
Nesse contexto, a redução da geração de metano lançado na Oppelt, 1996).
Mesmo apresentando um custo de operação mais elevado
atmosfera deve ser uma das principais preocupações na ope-
dissemi-
do que os aterros sanitários, a tecnologia acabou se
ração de aterros sanitários.
Os incineradores, por sua vez, surgem de uma longa tra- nando pelos países desenvolvidos e, em alguns deles, tornou-
-se a principal forma de destinação.
Países ricos, mas com
dessa
dição de queimar o lixo. A Bíblia já mencionava o uso
dos. Também há registros do uso desse instrumento na Idade nitários, como Japão, Dinamarca e França, optaram por essa
incinerador móvel, de alternativa.
Média. O "vagão de fogo'", primeiro do dos incineradores é sua
A principal vantagem uso
técnica bastante inovadora na época, circulava pelas ruas da resíduos só-
capacidade de "sumir com a maior parte dos
cidade, possibilitando a seus moradores o descarte de seus re-
lidos enviados para essas unidades. O principal objetivo de
jeitos dentro da fogueira em movimento (Dempsey &Oppelt,
um incinerador é a decomposição dos resíduos por queima
a
1996). relativamente
O processo de incineração como conhecemos hoje, no en-
altastemperaturas, o que exige uma estrutura
tanto, tem uma história bem mais curta, de aproximadamente simples. E preciso um local no qual os caminhões municipais
de resíduos sólidos possam despejar os resíduos. Desse local,
cem anos. Seu precursor foi um destruidor de lixo domés-
Os resíduos são encaminhados para uma câmara de combus-
tico municipal instalado em Nottingham, na Inglaterra. No
temperaturas de aproximadamente 800 °C ou
século XX, a incineração se disseminou por diversos países. tão onde, a
30
DESENVOLVIMENTO URBANO E GES T O DE REsidUos sóLIDOS
CADEIA DE RECICLAGEM: UM OLHAR PARA Os CATADORES
mais, boa parte dos resíduos sólidos se transforma em gases. resíduos sólidos que prioriza o reaproveitamento da energia
Dependendo da eficiência do processo, a massa dos resíduos presente nos resíduos antes de dispò-los em aterros.
Ainda que o emprego dessas tecnologias tenha represen-
pode ser reduzida em 70% e seu volume em 90% (D'Almeida
tado grande avanço em relação às formas anteriores de
&Vilhena, 2000). um
sanitários. Componentes inorgånicos presentes nos resídu- de incineradores. Além do potencial de gerar impacto socio-
os domésticos, como metais, no podem ser completamente ambiental, como a contaminação do soloe do ar, as críticas
estão igualmente relacionadas ao fato de que esses métodos
destruídos pelo processo de incineração, transformando-se
em cinza depositada na base da câmara de combustão. Esse em nada contribuiam para que houvesse uma redução efetiva
material precisa então ser inertizado, ou seja, ter seu potencial de resíduos sólidos antes de sua disposição final. A ênfase nos
métodos tradicionais para disposição de residuos ignora a im-
tóxico diminuído, devendo depois ser enviado para disposi-
portância da adoção, por parte das empresas e dos cidadãos,
ção final no solo.
de práticas e de comportamentos que permitam dinminuir a
Mesmo considerando-se que a incineração não elimina a
geração dos resíduos que necessitam ser encaminhados para
disposição final por completo, suas vantagens são, evidentes.
Ao conseguir desviar cerca de 90% do volume de residuos algum tipo de tratamento. A inovação em processos produ-
tivos nas empresas, por exemplo, pode transformar resíduos
sólidos dos aterros sanitários, a vida útil destes se expande
gerados novamente em matéria-prima. Já um consumidor
significativamente, retardando a necessidade de construção
consciente pode produzir menos resíduos ao comprar produ-
de novas unidades. Além disso, o local ocupado pelos incine-
tos que utilizem menos embalagens ou ao recusar sacolas de
radores não apresenta uma predeterminada, como
vida útil
plástico em suas compras.
os aterros sanitários. Com melhorias tecnológicas
em seus
Nesse contexto, as crítiças aos métodos tradicionais de
indefinida-
equipamentos, os incineradores podem operar gestão de resíduos sólidos associadas à percepção do agrava-
mente no mesmo local. Ademais, ao se decidir encerrar suas
mento dos problemas ambientais relacionados ao lixo e à mo-
operações, o simples do que o de todas
processo é muito mais bilização crescente dos diversos atores envolvidos na questão
as atividades de monitoramento envolvidas
no encerramento
ambiental resultaram em mudanças importantes, que, por
de atividade dos aterros sanitários. Por fim, os incineradores sua vez, levaram ao estabelecimento de novas prioridades
já vêm sendo utilizados há muito tempo como fonte energéti- para o tratamento de resíduos.
de
ca, em acordo com as novas prioridades de gerenciamento
32
CADEIA DE RECICLAGEM: UM OLHAR PARA Os CATADORES
34
CADEIA DE RECICLAGEM: UM oLHAR PARA Os CATADORES
RESÍDUOS SOLIDOS
DESENVOLVIMENTO URBANO E GESTÃ0 DE
novas de
prioridades. plano gerenciamento
O de resíduos de
40
Tóquio, no Japão, trabalha com uma meta de zerar a quan-
20
tidade de resíduos enviada para aterros. Em 1994, a cidade
destinou 1,7 milhão de toneladas de resíduos para aterros,
Turquia China
enquanto, em 2009, apenas 355 mil toneladas tiveram
esse Austrália Reino
Unido Estados Espanha
destino (Takiya, 2011). Mais significativo ainda é o fato de o
total de resíduos gerados na cidade ter diminuído ao longo
GRÁFICO 2. PORCENTAGEM DE RES*DUOS ENVIADOS PARA ATERROS EM
do tempo. Em 2009, foram gerados 4,7 milhões de tonela- PAISES SELECIONADOS
das, contra 5,8 milhðes em 1994. Também a cidade de São Fonte: elaborado pelos autores a partir da Abrelpe (2011).
36
RECICLAGEM: UM OLHAR PA RA OS CATADORES
CADEIA DE
Francisco, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, 1 emissão de metano em créditos de carbono. Em 2007, foi re
como meta zerar a quantidade de resíduos enviados para
alizado o primeiro leilão de carbono no Brasil, quando fo-
aterros e incineradores até 2020. Para tanto, gestores públicos
ram vendidos cerca de 800 mil créditos, que geraram cerca de
tomaram várias medidas, como exigir de supermercados a tonelada
e 12 milhões. Cada crédito é equivalente a uma
utilização de sacolas de plástico compostável e a cobrança de- de gás no lançada na atmosfera, sendo o preço obtido pela
las. Foi expandida a compostagem de matéria orgànica para a da
prefeitura de ¬ 16,20 por crédito. Segundo informações
produção de adubo, e a coleta seletiva abrange toda a cidade prefeitura, projetava-se para até 2012 a geração
de 8 milhões
estimular a redução de geração de resíduos já no setor produ Programa de Urbanização de Favelas (Delbin, 2011).
tivo. A legislação obriga um número cada vez maior de em- Por fim, o resultado mais visível e difundido na maioria
até o momento consiste na grande expansão da ati-
presas a se responsabilizar pela destinação correta de resíduos dos países
vidade da coleta seletiva e da reciclagem observadas nos paí-
pós-consumo, como os setores de eletroeletrônicos, pneus,
ses desenvolvidos e em desenvolvimento.
pilhas e baterias, automóveise agrotóxicos. Isso tem estimu
lado muitas empresas a utilizar cada vez mais componentes
45
recicláveis em seus produtos. 40
35
número crescente de aterros sa-
Ressalta-se igualmente o 30
diretamente
nitários que captam o metano, antes despejado 25
20
na atmosfera ou queimado, contribuindo para o aquecimen- 15
10
toglobal. Diversos aterros pelo mundo estão utilizando o me-
Além desse benefícioe da redução do impacto ambiental, a Fonte: elaborado pelos autores a partir de Eurostat News Release (2013).
38
CADEIA DK REC1CLAGEM: UM O1.HAR PARA OS CAT'ADORES
sLID9S
DESENV9L.VIMENTO URBA NOE GESTÁD DE PESÍo tyos
mental do ponto de vista socioambiental, ela não pode ser um Cornieri & Fracalanza (2010), muitas
pois, como explicam
objetivo final quando se pensa em sustentabilidade. Uma das vezes esses termos são utilizados incorretamente como si-
críticas da ènfase à reciclagem é que ela não obriga produtores nonimos. A coleta seletiva é a atividade de recolhimento de
e consumidores a mudanças radicais em seu comportamento, materiais previamente separados nas fontes geradoras (do-
pois quantidades crescentes de resíduos continuam a ser ge- micílios, empresas e comércio). Materiais como papel, plás-
radas: depois, elas devero ser coletadas e reutilizadas. Além tico e vidro são, ainda nessa fase, separados por cores e tipos,
disso, a própria atividade de reciclagem consome recursos prensadose enfardados, sendo posteriormentevendidos para
naturais, gerando também algum tipo de impacto ambiental. asempresas recicladoras. A reciclagem, por sua vez, implica a
Há que se considerar, fora isso, os argumentos de Grimberg efetiva transformação dos residuos sólidos, que envolve alte
& Blauth (apud Gonçalves-Dias, 2009), que questionamse rações fisicas e fisico-químicas, convertendo-os em matéria-
haveria uma capacidade efetiva de reciclagem, caso todos os -prima para a fabricação de novos insumos ou produtos.
materiais disponíveis para essa atividade fossem coletados. As atividades de coleta e reciclagem já fazem parte da rea-
Assim, não se pode focar exclusivamente na coleta seletiva lidade dos grandes centros urbanos há muito tempo. Baeder
em detrimento de políticas mais amplas que reduzam efeti- (2009) afirma que, desde o inicio do século XX, háregistros
de coleta informal na cidade de São Paulo. Tratava-se, contu-
vamente a geração de resíduos nas esferas de produção e con-
do, de iniciativas isoladas, sem grande significado econômico,
sumo. Essa ressalva, no entanto, não
diminui a importância muito diferente do que ocorre nos dias atuais, em que a ati-
do incentivo a programas de coleta seletiva para a reciclagem
vidade se caracteriza pela presença de múltiplos atores que
como uma das prioridades das políticas públicas. E, mesmo
trabalham com a reciclagem nos grandes centros urbanos.
já sendo uma atividade em crescimento em diversos países, é
41
40
RECICLAGEM: UM OLHAR PARA OS CATADORES
CADIA DF
DESENVOLVIMENTO URBANO E G STÃO DE RESíDUOS SÖLI DOS
-Consumo, para que esse insumo volte ao processo produtivo dução da mesma quantidade a partir da reciclagem sai por
por meio de sua recicagem. Para as empresas, o grande moti- R$ 3,4 mil. O mesmo estudo revela que, se fossem considera-
resíduos que
de diversos programas de gestão de
países aos
de resíduos, sendo que só no transporte säo gastos US$ 300
milhões. Para os próximos anos, esse custo deverá crescer sig- estimulam sua recuperação em vez de sua mera disposição.
desse cenário.
alguns dos que recebem esses
aterros OBrasil é hoje um dos grandes exemplos
nificativamente, já que as diversas contradi-
Na verdade, os resíduos sólidos refletem
resíduos se localizama cerca de mil quilómetros da cidade mundial e
a sétima maior economia
ções do país que hoje é
(Nova York, 2011). socioambientais. Por um lado, o país
possui imensos desafios
lixões
destina umaparcela significativa de seus resíduos para
TABELA 2. COMPARAÇÃO DE CUSTOS DE PRODUÇ PRIM EA PARTIR DA
ou vazadouros a céu
aberto. Dados da Pesquisa Nacional de
RECICLAGEM
Saneamento Básico, realizada pelo
IBGE (2010) em 2008,
Custos de produção Custos de Beneficiosliquidos 5.565 municípios brasileiros ainda
Materiais
produção a partir da reciclagem
mostram que 50,8% dos
primáia (R$/t)
os dados m o s -
da reciclagem (R$/t) destinam seus resíduos para lixões. Ainda que
(R$/t) ao ano 2000, quando
72,3%
trem uma evolução em relação
552 425 127
AçO faziam isso, essasinformações sinalizam os
Alumínio 162 3.477 2.715
dos municípios
Por outro
enormes desafios a serem superados (IBGE, 2002).
Plåstico 1.790 626 1..164
nos últimos
Brasil foi ampliando significativamente,
Vidro 263 143 120 lado, o
44
CADEIA DE RECiCLAGEM: UM OLHAR PARA os CATADORES
A6