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As espirais são tema central da obra. Cada um dos 20 capítulos traz uma abordagem
diferente para o tema de modo criativo e não necessariamente linear. Em um dos capítulos,
por exemplo, a espiral aparece no cabelo de Kirie. A jovem começa a se ver cada vez mais
perturbada pela forma que passa a possuí-la até que o cabelo é cortado.
Daí para frente, as situações são cada vez mais bizarras. Junji Ito mostra uma abundância
de inventividade quando o assunto é horrorizar o leitor. Por exemplo, em um determinado
momento do mangá em que uma espiral começa a surgir na testa de uma menina até que
sua carne é completamente consumida pelo buraco geométrico.
Esse não é o único momento que Junji Ito utiliza elementos do body horror, subgênero do
cinema de terror que utiliza o corpo humano como matéria prima da perturbação psicológica
através de transformações grotescas. Um dos contos mostra, por exemplo, uma doença
misteriosa que transforma os estudantes da escola em caracóis gigantes, ou
homo-moluscos. Mais tarde, quando a cidade é destruída por um tornado em forma de
espiral, esses humanos transformados em caracóis servem de comida para pessoas
famintas.
As obras de Junji Ito são conhecidas pelo apelo ao grotesco e ao perturbador. Sua última
obra publicada no Brasil, A sala de aula que derreteu traz um compilado de histórias curtas
que giram em torno dos irmãos Yuma Azawa e Chizumi Azawa. O mais velho, Yuma tem um
pacto com o diabo que faz com que as pessoas para as quais ele pede desculpa
compulsivamente tenham o corpo derretido. Já a mais nova, Chizumi, é filha do diabo e se
alimenta desses corpos derretidos.
O traço das ilustrações de Junji Ito é uma arte por si só.
Não é incomum encontrar cenas nas obras do quadrinista
que já se tenha visto antes, como na maldição da espiral
que consome o rosto da menina em Uzumaki que estampa
camisetas e memes por aí.
Uzumaki | 1999