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O HORROR CORPORAL NOS MANGÁS DE JUNJI ITO

Linguística, Letras e Artes

Thierri Bardini Marcelino


Prof. Alexandre Linck Vargas, Dr. (Orientador)
UNISUL
Letras – Inglês, Campus Tubarão
Introdução Resultados
A realização dessa pesquisa permite que entendamos como se dá o horror nos quadrinhos
O horror é um tema que atrai o ser humano há muito tempo. O desconhecido, o anormal e o
de Junji Ito através de conceitos da psicanálise, do estudo do horror corporal e da
distorcido são objetos de nossa curiosidade. Pensando nisso, as gravuras de William Blake
simbologia que o autor traz em suas obras. Após análise dos conceitos de infamiliar, de
vem em mente, mais especificamente a coleção The Great Red Dragon (circa 1805): uma
Freud, e de termos como gozo, sintoma e recalque, pode-se notar que o horror acontece a
aquarela que traz uma sensação de desconforto.
nível metafísico no leitor.
Expandido para além das artes plásticas, o gênero horror na literatura também é antigo,
É difícil caracterizar o que causa o horror em cada pessoa, por se tratar de situações
podendo ser citado, dentre os lançamentos mais modernos, Frankenstein ou O Prometeu
pessoais, mas é possível classificar que todo texto que causa essa sensação em alguém
Moderno, de 1818. O Bebê de Rosemary, de 1967, e Carrie, de 1973, como exemplos da
pode pertencer a esse gênero.
agonia, da repulsa, da dismorfia corporal e do medo catártico que podemos sentir através das
O horror corporal é um subgênero do horror que trata do excesso de presença e da quebra
páginas apenas com o uso da nossa imaginação.
da forma do território corpo. Junji Ito trabalha em quase todas as suas histórias com
Com as revistas pulp, ainda na década de 1920, os quadrinhos adotaram esse gênero com
elementos desse subgênero a fim de causar agonia e perturbação social no mundo que
vilões sádicos e cenas de tortura; nos anos 50 as histórias de horror tiveram seu crescimento
cria.
devido à popularização da série Tales from the Crypt, entre outras, publicadas pela editora
No Japão a cultura do animismo e do coletivismo faz com que nós, do ocidente, não
EC Comics (HAINING, 2000). Com isso temos a transição do gênero sendo trazida do linear
leiamos os textos de Ito da mesma maneira, pois para nós o desconforto vem do objeto do
para o tabular. Por volta da mesma época em que os quadrinhos de terror da EC Comics
horror, e suas características culturais fazem com que se tenha medo do horror situacional,
faziam sucesso, os mangás voltavam a ser produzidos no Japão devido ao fim da Segunda
ou seja, da quebra do senso de coletividade.
Guerra Mundial. Hoje existe uma tradição bastante solidificada de mangás de horror, sendo
Tomie é sua obra mais famosa fora do Brasil e trata da eterna repetição. Ela é o simulacro
seus precursores Kazuo Umezz, Hideshi Hino e Shigeru Mizuki nos anos 1970 (MAZZUR,
do desejo carnal de todos, homens e mulheres, que a todo instante inquieta. Tomie é a
DANNER, 2014). Os anos 1990 assistiram ao retorno do gênero, com figuras como Shintaro
representação do gozo que nunca é alcançado e cujo desejo leva à loucura e à psicopatia,
Kago, Suehiro Maruo, Kanako Inuki, Noroi Michiru e Junji Itō (GRAVETT, 2006; SCHODT,
resultando em sua repetida e grotesca morte.
2011).
Dentre os autores de mangá de horror, o que se destaca no gênero é Junji Itō, que tem seu
nome como resultado na maioria das pesquisas online com os termos “mangá” e “horror” e
que, apesar de não ser mainstream, já é considerado um autor cult e tem seus mangás
espalhados online rapidamente após o lançamento.
Itō explora temas relevantes para o horror, como, por exemplo, o mistério e a intriga, trazidos
em O Enigma da Falha de Amigara (Amigara Dansô no Kai, encontrado na coletânea Gyo, de
2015), sentimentos como a claustrofobia trazida em Army Of One (Amîobuwan, ainda sem
tradução para o português, lançado no livro The Hellstar Remina, de 2005), e o horror
Conclusões
corporal, fruto da inquietação que nos traz a essa pesquisa. A realização dessa pesquisa permite concluir que a experiência do horror é proposta com o
horror situacional e complementada por elementos do inquietante do horror corporal,

Objetivos exercendo no leitor a angústia que propõe com seu trabalho através do grotesco. Ito usa o
horror corporal em Tomie como fonte, mas seu oposto, o horror lovecraftiano, é peça chave
Objetivo Geral
Entender como o terror é construído nos quadrinhos de Junji Ito na obra Uzumaki, cujo objeto do terror é algo sem território-corpo, apenas representado por
Objetivos Específicos:
uma espiral. Em Hellstar Remina, o autor mistura essas duas formas de medo: um planeta
Investigar a obra de Junji Ito;.
Pesquisar diferentes teorias do horror, mais especificamente, do horror corporal. gigantesco vem à Terra devorando tudo o que encontra pela frente, numa obra repleta de
Buscar especialistas em arte e cultura japonesa que possam dar uma perspectiva e razão
simbologia sexual e horror. Faz-se necessário que essas obras sejam analisadas mais
sociocultural para a produção de Ito;.
Produzir uma pesquisa inédita sobre horror corporal e a obra de Ito;. profundamente para compreender as origens do horror nelas, sendo que entender o horror
lovecraftiano e estudar a fundo a estética e simbolismo trazidos pelo autor são cruciais para
Metodologia que cheguemos mais próximos da compreensão de seu terror e também do nosso

O objeto desta pesquisa é o horror nos mangás de Junji Ito, de forma a entender como essa inconsciente.

catarse ocorre no leitor. Nesse sentindo, para realização desse trabalho é importante
Bibliografia
entendermos o conceito de Das Unheimliche de Freud, conceitos do gênero horror e seu CARROLL, Noel. The Philosophy of Horror or Paradoxes of the Heart. 1. ed. New York:
subgênero horror corporal e analisar as características sócio-culturais que permeiam o Japão, Routledge, 1990.
FREUD, Sigmund. O Infamiliar [Das Unheimliche]: Seguido de O homem da areia de E. T.
local de onde vêm os textos estudados. Quanto à abordagem, trata-se de uma pesquisa A. Hoffmann. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. 288 p. ISBN 8551304860.
qualitativa, visto que não existem resultados em quantidade, mas na qualidade dos conceitos GIL, José. Monstros. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2006.
SILVA, Odair José Moreira da. Por um modelo actancial do corpo em metamorfose
estudados; quanto à natureza, é básica, pois visa gerar novos conhecimentos científicos para no cinema do horror. Estudos semióticos, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 33-46, julho
estudos mais aprofundados; quanto aos objetivos, é uma pesquisa descritiva; e quanto aos 2013.
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. 4.ed. São Paulo:
procedimentos é bibliográfica e documental, tendo como base artigos científicos e autores de
Perspectiva, 2017. 188p. ISBN 978-85-273-0363-7
livros consagrados que estudaram o horror como gênero; e pode ser classificada como
estudo de caso. Apoio Financeiro: PROCIÊNCIA / CNPQ.

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