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FICHAMENTO DE A filosofia do horror ou paradoxos do coração

CARROLL, Nöel. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Campinas:


Papirus, 1999. 317 p.

CAP. I – A NATUREZA DO TERROR


No primeiro capítulo, Noel Carroll procura diferenciar os sentimentos
causados pelo que chama de “horror artístico” dos outros tipos de narrativas
que possuem certa similaridade. Percebe-se, portanto, como o gênero ganhou
um significado na linguagem ordinária a ponto de sabermos diferencia-lo e
defini-lo sem muita dificuldade.

Porém, a fim de analisar melhor o gênero, Carroll propõe algumas


singularidades do horror artístico. A primeira é diferencia-lo do que chama de
horror natural que seria o tipo de horror que sentimos no dia-a-dia ao falarmos
que estamos horrorizados com alguma situação. O que ele vai chamar de
horror artístico é muito mais específico, se trata do horror gerado por obras de
arte que fazem parte do imaginário popular e do cânone do gênero construído
ao longo dos anos.

De acordo com Carroll, o gênero horror deve ser observado por um


critério diferente dos outros gêneros, começando a citar algumas
especificidades. A primeira é que horror, assim como os filmes de mistério e
suspense, é o nome dado a emoção que o gênero deseja causar, sendo essa é
uma das principais maneiras de se identificar um filme de horror. Essa emoção
é chamada de afeto.

Aqui também Carroll faz uma pequena distinção de dois termos que
costumam causar confusão: o terror e o horror. A diferença é identificada
através da presença ou não de um monstro sobrenatural ou de ficção cientifica.
Os filmes de terror são “[...} lúgubres e atemorizantes, conseguem seus efeitos
apavorantes explorando fenômenos psicológicos, todos eles demasiado
humanos” (CARROLL. 1999, p. 31).

A presença do monstro é crucial para a identificação de uma narrativa


de horror, porém nem todas as histórias com a presença de monstros são
história de horror, podendo se observar os contos mitológicos e os contos de
fada como exemplo. Nesse caso, devemos observar como a presença do
monstro é demonstrada na narrativa. Ela deve ser uma presença que causa
inquietação, que seja uma aberração, uma anormalidade; portanto, a história
não pode tratar do monstro sendo um ser como qualquer outro no universo
diegético. Além disso a presença do monstro deve causar uma reação adversa
aos personagens humanos positivos. Os personagens positivos devem
temê-los, enojar-se com eles. Daí é possível identificar mais uma característica
do gênero: as emoções dos personagens são refletidas nas emoções do
espectador. Ao contrário de outros gêneros, o afeto diegético transpõe a tela.
Esse efeito espelho acaba simulando as sensações dos personagens, apesar
de não as copiar perfeitamente, afinal sabemos que o monstro retratado não é
real. O espelhamento das emoções acaba por permitir a observação de forma
menos subjetiva das emoções do espectador, e, portanto, abrem um caminho
de investigação bastante útil como relata Carroll “se trabalharmos com o
pressuposto de que nossas respostas emocionais, [...] devem correr em
paralelo com as dos personagens [...], podemos começar a retratar o horror
artístico registrando as características emocionais típicas que os autores e os
diretores atribuem aos personagens molestados por monstros.” (CARROLL,
1999, p.34).

Partindo desse princípio, de forma quase homogênea a emoção


identificada dentro da maioria das narrativas de horror é o sentimento de
medo, mas também de nojo, repugnância. “No contexto da narrati.va de horror,
os monstros são identificados como impuros e imundos. [..]. Os personagens
os vêem não só com medo, mas também com nojo, com um misto de terror e
repulsa.” (CARROLL, 1999, p; 39).

Portanto, ao fim, é possível concluir que uma narrativa de horror obedece às


seguintes características: deve ter como objetivo causar o afeto de horror
artístico; deve ter a presença de um monstro de ficção científica ou
sobrenatural que de alguma forma perturbe a normalidade do universo
retratado e causando um efeito de horror; os afetos dos personagens humanos
positivos devem ser espelhados no espectador.

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