Você está na página 1de 37

Universidade de Brasília - UnB

Faculdade UnB Gama - FGA


Mecânica do Voo Espacial

Tipos de lançadores, trajetórias, características,


bases de lançamento, janelas de lançamento

Autor: Ana Paula Lopes Gonçalves


Paulo Fillipe Rodrigues de Oliveira

Orientador: Prof. Dr. Giancarlo Santilli

Brasília, DF
2022
Resumo
Esse trabalho é um relatório técnico realizado como avaliação na disciplina
de Mecânica do Voo Espacial no segundo semestre letivo de 2021 pela Uni-
versidade de Brasília para a formação do curso de Engenharia Aeroespacial.
O conteúdo refere-se ao estudo das características dos lançadores existen-
tes e suas aplicações, assim como relação com trajetória ótima, bases de
lançamento e janelas de lançamento.

Palavras-chaves: Lançadores. Base de lançamento. Trajetória. Janela de


lançamento.
Lista de ilustrações

Figura 1 – Categorias de classificação de veículos lançadores espaciais (Coelho 2013). 7


Figura 2 – Classificação geral dos países por categoria de lançadores (Coelho 2013). 8
Figura 3 – (a) Lançamento do módulo tripulado Dragon, realizado no Complexo
39A do Centro Espacial Kennedy, através do Falcon 9, com destino a
ISS.
(b) Lançamento de Carga Paga de Irídio através do Falcon 9.
(c) Aterrizagem do Falcon 9 em Cabo Canaveral. (SpaceX) . . . . . . . 9
Figura 4 – Visão geral do Falcon 9 (SpaceX). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Figura 5 – (a) Lançamento do Falcon Heavy no Complexo 39A do Centro Espacial
Kennedy.
(b) Missão de inserção GTO do Arabsat-6A pelo Falcon Heavy.
(c) Aterrizagem dos propulsores laterais LZ-1 e LZ-2 do Falcon Heavy
em Cabo Canaveral. (SpaceX). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Figura 6 – Visão geral do Falcon Heavy (SpaceX). . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Figura 7 – (a) Starship em preparação para testes de vôo.
(b) Teste de lançamento do Starship em execução.
(c) Teste de aterrisagem do Starship. (SpaceX). . . . . . . . . . . . . . 11
Figura 8 – Visão geral do Starship (SpaceX 2020); (SpaceX); (Krebs). . . . . . . . 11
Figura 9 – (a) VA254 – Lançamento duplo StarOne D2 e EUTELSAT QUANTUM
através do Ariane 5.
(b) VA255 – Lançamento duplo SES-17 e SYRACUSE 4ª através do
Ariane 5.
(c) VA256 – Lançamento do Telescópio Espacial James Webb.
(Arianespace 2022). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Figura 10 – Visão geral do Ariane 5 (Arianespace 2020); (Arianespace 2022);
(Arianespace 2019). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Figura 11 – (a) ST36 - Lançamento de 36 Satélites da constelação OneWeb através
do Soyuz.
(b) VS26 - Lançamento de 2 satélites do sistema de navegação Galileo
através do Soyuz.
(c) VS27 - Lançamento de 34 satélites da constelação OneWeb através
do Soyuz. (Arianespace 2018). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Figura 12 – Visão geral do Soyuz (Arianespace 2018); (Arianespace 2018);
(Arianespace 2019). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Figura 13 – (a) VV17 - Processo de encapsulamento dos satélites SEOSAT/Ingenio
e TARANIS no Vega.
(b) VV18 - Lançamento do satélite Pléiades Neo 3 com cinco cargas
auxiliares através do Vega.
(c) VV20 - Lançamento de três satélites CERES através do Vega.
(Arianespace). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Figura 14 – Visão geral do Vega (Arianespace 2014); (Arianespace);
(Arianespace 2019). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Figura 15 – (a) Renderização foto realística de Ariane 6 em base de lançamento.
(b) Configuração de montagem do Ariane 6 A64.
(c) Modelo computacional comparativo das plataformas A62 e A64.
(Arianespace 2019); (Arianespace). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Figura 16 – Configurações de Carga no Ariane 6 (Arianespace 2019). . . . . . . . . 15
Figura 17 – Visão geral do Ariane 6 (Arianespace 2019); (Arianespace 2021); (ESA);
(Spatiales 2020); (ESA). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Figura 18 – (a) e (b) Renderização fotorealística do Vega-C.
(c) Configuração dos estágios do Vega-C.
(Arianespace 2018); (Arianespace). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Figura 19 – Visão geral do Vega-C (Arianespace 2018); (Arianespace). . . . . . . . 17
Figura 20 – (a) Electron em base de lançamento.
(b) Lançamento do Electron na base LC-1 Pad A da Rocke Lab.
(c) Coifa após encapsulamento no laboratório Clean Room 1 da Rocket
Lab, Complexo de Lançamento 1. (Lab 2020). . . . . . . . . . . . . . . 17
Figura 21 – Visão geral do Electron (Lab 2020)(Lab). . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Figura 22 – (a) e (b) Renderizações fotorealísticas do Neutron (Lab). . . . . . . . . 18
Figura 23 – Visão geral do Neutron (Lab). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Figura 24 – Comparação absoluta dos parâmetros e categorização dos veículos lan-
çadores de referência (Elaboração própria). . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Figura 25 – Gráfico de comparação relativa dos parâmetros dos lançadores referên-
cia (Elaboração própria). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Figura 26 – Esquema de lançamento, ascensão e inserção direta (McInnes 1994). . . 20
Figura 27 – Exemplo de trajetória vertical (Wilde et al. 2018). . . . . . . . . . . . . 21
Figura 28 – Manobrar de Hohmann entre duas órbitas (Mota e Hinckel). . . . . . . 22
Figura 29 – Baixo empuxo (propulsão química) (Mota e Hinckel). . . . . . . . . . . 22
Figura 30 – Baixo empuxo (propulsão elétrica) (Bombardelli et al. 2011). . . . . . . 23
Figura 31 – Satélites e lixo espacial conhecidos em órbita da Terra
(Montenbruck et al. 2002). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 32 – Exemplos de órbitas de satélites (Plass et al. 2015). . . . . . . . . . . . 25
Figura 33 – Ilustração da constelação de satélites LEO Iridium (Muri e McNair 2012). 26
Figura 34 – Trilha terrestre da constelação de satélites GPS em dezembro de 2017
(Kos et al. 2019). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 35 – Trilha terrestre do satélite CAPS (Zhao et al. 2018). . . . . . . . . . . 28
Figura 36 – Posição dos satélites geoestacionários em órbita (Frischauf 2011). . . . 28
Figura 37 – Trilha terrestre de seis satélites sol-síncronos (Komerath et al. 2009). . 29
Figura 38 – (a) Ilustração de órbita HEO de triplo apogeu.
(b) Trilha terrestre correspondente. (Lachance et al. 2012). . . . . . . . 29
Figura 39 – Faixas de categoria para centros de lançamento. (Coelho 2013). . . . . 30
Figura 40 – Localização dos portos espaciais e centros de lançamento operacionais
em 2022 (Astronomy). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 41 – Listagem dos centros de lançamento e portos espaciais operacionais em
2022 (Astronomy). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Sumário

1 VEÍCULOS LANÇADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1 Classificação dos Veículos Lançadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Referência de Veículos Lançadores em Operação . . . . . . . . . . . 9
1.2.1 Veículos da SpaceX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.2 Veículos da ArianeSpace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2.3 Veículos da RocketLab . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.3 Comparativo dos veículos lançadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2 TRAJETÓRIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1 Ascensão Direta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Órbita de Espera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.1 Transferência de Hohmann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.2 Propulsão química de baixo empuxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.2.3 Propulsão elétrica de baixo empuxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3 ÓRBITAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.1 Low-Earth Orbit – LEO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.2 Medium Earth Orbit – MEO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.3 Geosynchronous Equatorial Orbit – GEO . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4 Geostationary Orbit – GSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.5 Sol-síncrona . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.6 Highly Elliptical Orbit – HEO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4 BASES DE LANÇAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1 Classificação das Bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.2 Listagem dos Centros de Lançamento em Operação . . . . . . . . . 30

5 JANELA DE LANÇAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
6

1 Veículos Lançadores

A essência humana da busca pelo desconhecido sempre fez parte da história. Em


um contexto tensionado de pós segunda guerra, porém com uma abordagem menos beli-
gerante, duas potências mundiais, Rússia e EUA elevaram essa procura para o ambiente
espacial, com o objetivo de viabilizar o lançamento de misseis balísticos intercontinentais
(Wikinson 2020).
Programas espaciais governamentais trouxeram aumento de prestígio dos países
envolvidos por conta dos conhecimentos fundamentais sobre a natureza que foram adqui-
ridos nesse segmento, e ainda foram essenciais para aprimoramento de tecnologias milita-
res, uma abordagem de segurança nacional que ainda é dominada por poucos. No início
do século 21, empreendedores observaram a grande oportunidade de exploração espacial
para fins comerciais, principalmente (na época) para telecomunicações (Logsdon 2022).
Com as aplicações civis, as tecnologias de misseis balísticos foram aprimoradas para
utilização em transporte de pessoas e equipamentos para fora da atmosfera terrestre. Os
então denominados veículos lançadores, atraíram diversas entidades públicas e privadas
de diversos países. Até esta data, Rússia, EUA, Japão, China, Agência Espacial Europeia,
Israel, Índia, Irã e Coréias mantém com sucesso infraestrutura e tecnologias de lançamento
espacial. Países como o Brasil e Paquistão atuam com tecnologias emergentes, em busca
de reconhecimento internacional vindo das potências no segmento (Logsdon 2019).
Uma nova corrida espacial surge em meio a um desenvolvimento tecnológico ex-
ponencial, com criação de demandas bem diferentes das, até então, exploradas pelo setor.
O segmento dos satélites pequenos foi um destaque, sendo utilizados em uma diversidade
de missões de ‘objetivo único’ através de diferentes estruturas de hardware (ARC 2019).
Esse alto crescimento na utilização de Smallsats, categoria que aborda as várias plata-
formas e sub-categorias de satélites com até uma tonelada, estimulou o desenvolvimento
de sistemas espaciais de baixo custo, internalizando o conceito de produtos de prateleira
(COTS – Commercial off-the-shelf) para o setor espacial (Zhang et al. 2021).
Segundo (Coelho 2013), “para o projeto de um novo veículo lançador, os requi-
sitos técnicos precisam obedecer uma série de restrições e vínculos. As restrições estão
relacionadas com os envelopes estático e dinâmico, a compatibilidade geométrica, p de-
sacoplamento entre as frequências naturais, os níveis de acelerações, vibrações e choque,
cargas térmicas, condições de operações no solo, conexão umbilical e elétrica, compati-
bilidade eletromagnética, duração da campanha de lançamento, restrições mecânicas e
térmicas e várias outras que definem a viabilidade técnica do novo veículo”.
Apesar do evidente direcionamento na padronização do design de satélites, a
Capítulo 1. Veículos Lançadores 7

grande versatilidade de missões, variáveis e o tensionado cenário geopolítico global fez


com que não existisse uma classificação internacional institucionalizada. Vários estudos
surgiram dentro da academia, com o objetivo de analisar dados estatísticos que deline-
assem a categorização e indicassem os atributos com melhor aproveitamento técnico e
comercial.

1.1 Classificação dos Veículos Lançadores


O presente trabalho tomou como referência o modelo de categorias sugerido por
(Coelho 2013). Considerando a participação volume total de dados levantados de lança-
mentos espaciais (16.366), os países foram reunidos em três grupos:

• Grupo I – Estados Unidos e Rússia (75,45%);

• Grupo II – Alemanha, Ucrânia, Japão, Índia, França e Inglaterra (21,64%);

• Grupo III – Austrália, China, Suécia, Brasil e Israel (2,91%).

A classificação foi feita através de análises estatísticas de uma série histórica de


lançamentos do Grupo I, utilizando técnicas de Análise Multivariada com aplicação do
método Hierárquico Aglomerativo. Essa abordagem possibilitou a criação de agrupamen-
tos homogêneos, que foram definidos em cinco categorias, conforme a Figura 1. Os dados
utilizados para análise do ‘Segmento Espacial’ não mostraram correlação logo, as infor-
mações foram sugeridas com base na média.
Vale citar que, devido ao grande aumento no lançamento dos Smallsats, algumas
agências classificam os veículos lançadores de acordo com a capacidade de lançamento de
carga paga para órbita terrestre baixa – LEO 1.500 km (Zhang et al. 2021).

Figura 1 – Categorias de classificação de veículos lançadores espaciais (Coelho 2013).


Capítulo 1. Veículos Lançadores 8

Ao fazer correlação dos dados definidos na Figura 1 com as informações de lança-


mento dos Grupos II e III, é possível observar a performance dos países quanto a relevância
em cada categoria dos lançadores, conforme a Figura 2 (Coelho 2013).

Figura 2 – Classificação geral dos países por categoria de lançadores (Coelho 2013).
Capítulo 1. Veículos Lançadores 9

1.2 Referência de Veículos Lançadores em Operação


O setor de lançamento espacial se encontra em um ambiente bastante aquecido,
com uma grande variabilidade de agências, corporações e startups atuando no setor. Serão
apresentados como referência alguns dos veículos lançadores que estão em evidência tec-
nológica ou comercial, sem deixar de reconhecer a importância dos vários outros sistemas
de lançamento.

1.2.1 Veículos da SpaceX


Falcon 9

O Falcon 9 (Figura 3) é um foguete de dois estágios reutilizável, alimentado por


oxigênio líquido (LOX) e querosene refinada (RP-1). Utilizado em missões de inserção
LEO, SSO, GTO e Viagem Interplanetária. Os parâmetros podem ser analisados na Fi-
gura 4 (SpaceX 2021).

Figura 3 – (a) Lançamento do módulo tripulado Dragon, realizado no Complexo 39A do


Centro Espacial Kennedy, através do Falcon 9, com destino a ISS.
(b) Lançamento de Carga Paga de Irídio através do Falcon 9.
(c) Aterrizagem do Falcon 9 em Cabo Canaveral. (SpaceX)

Figura 4 – Visão geral do Falcon 9 (SpaceX).


Capítulo 1. Veículos Lançadores 10

Falcon Heavy

O Falcon Heavy (Figura 5) é um foguete de dois estágios reutilizável, alimentado


por LOX e RP-1. Possui a maior capacidade de inserção de carga paga em LEO e GTO
dentre os veículos em operação. Utilizado em missões de inserção LEO, GTO, GSO e
Viagem Interplanetária. Os parâmetros podem ser analisados na Figura 6.

Figura 5 – (a) Lançamento do Falcon Heavy no Complexo 39A do Centro Espacial Ken-
nedy.
(b) Missão de inserção GTO do Arabsat-6A pelo Falcon Heavy.
(c) Aterrizagem dos propulsores laterais LZ-1 e LZ-2 do Falcon Heavy em Cabo
Canaveral. (SpaceX).

Figura 6 – Visão geral do Falcon Heavy (SpaceX).


Capítulo 1. Veículos Lançadores 11

Starship

O Starship (Figura 7) é um sistema de dois estágios composto foguete superpesado


reutilizável e nave espacial (que leva o nome Starship), com a maior capacidade de carga
paga já projetada, alimentado por LOX e Metano Sub-resfriado. Será utilizado em missões
tripuladas ou não de inserção em uma grande variedade de órbitas, missões lunares e
interplanetárias. É o veículo utilizado no planejamento da primeira viagem espacial civil
da história, idealizado para ocorrer em 2023. Os parâmetros podem ser analisados na
Figura 8 (SpaceX 2020).

Figura 7 – (a) Starship em preparação para testes de vôo.


(b) Teste de lançamento do Starship em execução.
(c) Teste de aterrisagem do Starship. (SpaceX).

Figura 8 – Visão geral do Starship (SpaceX 2020); (SpaceX); (Krebs).


Capítulo 1. Veículos Lançadores 12

1.2.2 Veículos da ArianeSpace


Ariane 5

O Ariane 5 (Figura 9) é um foguete de dois estágios com Foguetes Reforçadores


(SBR), referência no lançamento de cargas pesadas, alimentado por propelentes sólidos e
criogênicos (LOX + Hidrogênio Líquido LH2) a depender do estágio. Utilizado em mis-
sões LEO e GTO, principalmente pela Agência Espacial Europeia (ESA). Os parâmetros
podem ser analisados na Figura 10 (Arianespace 2020).

Figura 9 – (a) VA254 – Lançamento duplo StarOne D2 e EUTELSAT QUANTUM atra-


vés do Ariane 5.
(b) VA255 – Lançamento duplo SES-17 e SYRACUSE 4ª através do Ariane 5.
(c) VA256 – Lançamento do Telescópio Espacial James Webb.
(Arianespace 2022).

Figura 10 – Visão geral do Ariane 5 (Arianespace 2020); (Arianespace 2022);


(Arianespace 2019).
Capítulo 1. Veículos Lançadores 13

Soyuz

O Soyuz (Figura 11) é um foguete de quatro estágios, projetado para alta confiabi-
lidade em missões tripuladas. Evolução da arquitetura do R-7A/Sputnik, responsável por
inserir o primeiro satélite em orbita (Sputinik, 1957) e o primeiro homem no espaço (Yuri
Gagarin, 1961), sendo relevante tecnologia da Agencia Espacial Russa (Roskosmos). Ali-
mentado por propelentes líquidos Tetróxido de Nitrogênio + dimetil-hidrazina assimétrica
(N2O4|NTO + UDMH) no veículo autônomo (Fregat), e LOX + RP-1 nos três estágios
iniciais. Utilizado em missões de inserção LEO, SSO, MEO, GTO, GEO e de escape. Os
parâmetros podem ser analisados na Figura 12 (Arianespace 2018).

Figura 11 – (a) ST36 - Lançamento de 36 Satélites da constelação OneWeb através do


Soyuz.
(b) VS26 - Lançamento de 2 satélites do sistema de navegação Galileo através
do Soyuz.
(c) VS27 - Lançamento de 34 satélites da constelação OneWeb através do
Soyuz. (Arianespace 2018).

Figura 12 – Visão geral do Soyuz (Arianespace 2018); (Arianespace 2018);


(Arianespace 2019).
Capítulo 1. Veículos Lançadores 14

Vega

O Vega (Figura 13) é um foguete de quatro estágios, utilizados para inserções de


satélites pequenos e médios, desenvolvido através de uma parceria entre ESA e a indús-
tria de propulsão AVIO. Alimentado por propelentes líquidos NTO + UDMH no veículo
autônomo AVUM e propelente sólido HTPB 1912 nos três estágios iniciais. Utilizado em
missões de inserção SSO, Órbita Polar e Órbita Elíptica Equatorial. Os parâmetros podem
ser analisados na Figura 14 (Arianespace 2014).

Figura 13 – (a) VV17 - Processo de encapsulamento dos satélites SEOSAT/Ingenio e


TARANIS no Vega.
(b) VV18 - Lançamento do satélite Pléiades Neo 3 com cinco cargas auxiliares
através do Vega.
(c) VV20 - Lançamento de três satélites CERES através do Vega.
(Arianespace).

Figura 14 – Visão geral do Vega (Arianespace 2014); (Arianespace);


(Arianespace 2019).
Capítulo 1. Veículos Lançadores 15

Ariane 6

O Ariane 6 (Figura 15) é um foguete NEXTGEN de dois estágios multi-plataforma,


podendo ser configurado com dois (A62) ou quatro (A64) foguetes auxiliares P120C+, de-
senvolvido pela ArianeGroup juntamente com vários parceiros industriais da ESA com ob-
jetivo de alcançar eficiência, flexibilidade e confiabilidade em missões de lançamento múl-
tiplo. Alimentado por LOX + LH2 nos foguetes principais LLPM e ULPM e propelentes
sólidos nos foguetes auxiliares. Pode ser configurado para ser utilizado em qualquer tipo
de missão, com grande flexibilidade de cargas (Figura 16), com capacidade de inserção em
múltiplas orbitas em um único lançamento. Primeiro lançamento projetado para 2022. Os
parâmetros podem ser analisados na Figura 17 (Arianespace 2021); (Arianespace 2021);
(Arianespace 2019); (Arianespace); (ESA).

Figura 15 – (a) Renderização foto realística de Ariane 6 em base de lançamento.


(b) Configuração de montagem do Ariane 6 A64.
(c) Modelo computacional comparativo das plataformas A62 e A64.
(Arianespace 2019); (Arianespace).

Figura 16 – Configurações de Carga no Ariane 6 (Arianespace 2019).


Capítulo 1. Veículos Lançadores 16

Figura 17 – Visão geral do Ariane 6 (Arianespace 2019); (Arianespace 2021); (ESA);


(Spatiales 2020); (ESA).

Vega-C

O Vega-C (Figura 18) é um foguete NEXTGEN de quatro estágios, idealizado


pela ESA com o objetivo de solidificar a participação da Arianespace no mercado de
Smallsats em LEO. Sistema de lançamento flexível, com capacidade de operar missões
de nanosatelites a grandes naves de observação, radar ou óticos. Alimentado por NTO +
UDMH no veículo autônomo AVUM+, e HTPB nos três estágios iniciais. Utilizado em
missões de inserção SSO, LEO e Polar. Primeiro lançamento planejado para 2022. Os
parâmetros podem ser analisados na Figura 19 (Arianespace 2018); (Arianespace 2020);
(Arianespace).

Figura 18 – (a) e (b) Renderização fotorealística do Vega-C.


(c) Configuração dos estágios do Vega-C.
(Arianespace 2018); (Arianespace).
Capítulo 1. Veículos Lançadores 17

Figura 19 – Visão geral do Vega-C (Arianespace 2018); (Arianespace).

1.2.3 Veículos da RocketLab


Electron

O Electron (Figura 20) é o único foguete pequeno de dois estágios reutilizável para
lançamento orbital. É equipado com o Rutherford, primeiro motor de foguete fabricado por
impressão 3D que é alimentado através de bombas elétricas com LOX e RP-1. Utilizado
em uma variedade de missões, sendo projetado para inserir 200kg a 500m de altitude na
SSO e capacidade máxima de inserção para Elíptica Orbital com 39º de inclinação. Os
parâmetros podem ser analisados na Figura 21 (Lab); (Lab 2020).

Figura 20 – (a) Electron em base de lançamento.


(b) Lançamento do Electron na base LC-1 Pad A da Rocke Lab.
(c) Coifa após encapsulamento no laboratório Clean Room 1 da Rocket Lab,
Complexo de Lançamento 1. (Lab 2020).
Capítulo 1. Veículos Lançadores 18

Figura 21 – Visão geral do Electron (Lab 2020)(Lab).

Neutron

O Neutron (Figura 22) é um foguete de dois estágios projetado para lançamento


de mega constelações, viagens tripuladas e exploração de espaço profundo. Possui es-
trutura para reutilização total do primeiro estágio. Alimentado por LOX + Methano
Sub-resfriado. Os parâmetros podem ser analisados na Figura 23 (Lab).

Figura 22 – (a) e (b) Renderizações fotorealísticas do Neutron (Lab).

Figura 23 – Visão geral do Neutron (Lab).


Capítulo 1. Veículos Lançadores 19

1.3 Comparativo dos veículos lançadores


Utilizando as informações levantadas sobre os lançadores espaciais, foi possível
categorizá-los na Figura 24 de acordo com a referência estabelecida na Figura 1. O gráfico
representado na Figura 25 apresenta uma comparação dos parâmetros, com os valores
relativizados ao maior de cada um dos atributos.
Figura 24 – Comparação absoluta dos parâmetros e categorização dos veículos lançadores
de referência (Elaboração própria).

Figura 25 – Gráfico de comparação relativa dos parâmetros dos lançadores referência (Ela-
boração própria).
20

2 Trajetórias

Em princípio, o plano de órbita pode ter qualquer orientação e a órbita qualquer


forma. Os parâmetros orbitais são determinados pela condições iniciais quando o satélite
é colocado na órbita e, devido à inúmeras perturbações, esses parâmetros são alterados
com o tempo, o que exige complexas operações de controle do satélite. Os custos dessas
operações podem ser minimizados se forem escolhidos valores particulares de parâmetros
orbitais e em conformidade com as limitações impostas pela missão de telecomunicações
(Protzek 2001).
Basicamente, dois tipos de lançamentos são utilizados: por ascensão direta e através
de uma órbita de espera. Esses mecanismos e as manobras envolvidas estão detalhadas
nessa parte do trabalho.

2.1 Ascensão Direta


A trajetória de ascensão direta é um método eficiente e econômico de colocar
objetos em órbita LEO. Um acelerador em solo é utilizado para rapidamente lançar um
projétil que contenha a carga de forma que alcance velocidades orbitais. Após se soltar
do sistema acelerador, o projétil viaja a atmosfera até uma altitude orbital desejada.
Nesse momento, um impulso propulsivo é aplicado de forma a injetar a carga na LEO
(McInnes 1994).

Figura 26 – Esquema de lançamento, ascensão e inserção direta (McInnes 1994).


Capítulo 2. Trajetórias 21

Um tipo especial, e mais simples, de ascensão direta é a trajetória vertical, realizada


principalmente por foguetes de sondagem. Esse tipo de veículo é classificado suborbital,
capaz de alcançar altitudes superiores à atmosfera e permanecer em ambiente de micro-
gravidade por um tempo. Seu ângulo de lançamento é 90∘ em relação ao horizontal local
e a principal condição de parada é o choque com a superfície terrestre (Wiesel 1997).

Figura 27 – Exemplo de trajetória vertical (Wilde et al. 2018).

2.2 Órbita de Espera


A órbita de espera é uma órbita baixa temporária. Existem várias razões para
usar uma órbita de espera, entre elas podemos citar o aumento da janela de lançamento e
missões secundárias. O sistema de propulsão encarregado de transferir o satélite da orbita
de espera para a órbita de transferência é geralmente o último estágio do veículo lançador
(Mota e Hinckel).
A seguir, as manobras de transferência de órbita mais utilizadas estão descritas.

2.2.1 Transferência de Hohmann


Normalmente se está interessado em transferir o satélite com o menor consumo
de energia, onde geralmente a transferência de Hohmann é o método adotado. Neste
caso, logo depois do veículo ser injetado na órbita de espera ou depois de um período
orbitando, o veículo é injetado numa órbita elíptica de transferência, que tem seu perigeu
tangenciando a órbita de espera e o apogeu tangenciando a órbita requerida. Esta é uma
manobra bi-impulsiva, o motor é ligado primeiramente para transferir o veículo da órbita
de espera para a órbita de transferência. Quando o veículo atinge o apogeu da órbita de
Capítulo 2. Trajetórias 22

transferência, que coincide com o raio da orbita final, o propulsor é acionado novamente
para fazer a circularização da órbita (Mota e Hinckel).

Figura 28 – Manobrar de Hohmann entre duas órbitas (Mota e Hinckel).

2.2.2 Propulsão química de baixo empuxo


Para fazer uma transferência com propulsor químico de baixo empuxo, o satélite
aplica uma série de empuxos sobre o perigeu, até o apogeu da órbita de transferência
atingir o raio da órbita final. No apogeu, o propulsor é acionado mais algumas vezes
até a circularização da órbita. Neste caso, como os propulsores são ligados sempre nas
proximidades do perigeu e do apogeu, a eficiência total se aproxima a uma transferência
de Hohmann (Wertz et al. 1999).

Figura 29 – Baixo empuxo (propulsão química) (Mota e Hinckel).


Capítulo 2. Trajetórias 23

2.2.3 Propulsão elétrica de baixo empuxo


Este é o tipo de menor empuxo e, consequentemente, o que leva mais tempo para
alcançar a órbita final, podendo durar meses. Apresenta uma trajetória em formato de
espiral, diferente das manobras impulsivas (Mota e Hinckel).

Figura 30 – Baixo empuxo (propulsão elétrica) (Bombardelli et al. 2011).


24

3 Órbitas

Apesar da primeira espaçonave construída pelo ser humano ter sido lançada apenas
em 1957, órbitas de satélites foram estudadas durante dois séculos antes disso. Desde a
formulação da Lei da Gravidade de Newton, houve uma intensa busca para desenvolver
e refinar teorias analíticas que pudessem descrever o movimento do único satélite natural
da Terra, a Lua. Em astrodinâmica, há uma preocupação em descrever matemática e
fisicamente as órbitas de satélites artificiais, assim como seu controle. Aqui, o termo órbita
se refere a um movimento que é essencialmente periódico em natureza ao redor de um
corpo celeste maior, sem entrar em espaços interplanetários (Montenbruck et al. 2002).

Figura 31 – Satélites e lixo espacial conhecidos em órbita da Terra


(Montenbruck et al. 2002).

A Figura 31 evidencia que a maioria dos objetos mantém uma órbita baixa apre-
sentando altitudes menores que 1500 km, muitos satélites ocupam o anel geoestacionário
a 36000 km e os satélites do hemisfério norte são majoritariamente para navegação e
estudos (Montenbruck et al. 2002).
O tipo de órbita na qual um satélite é colocado é definido principalmente em função
da sua inclinação e do seu período de revolução (tempo de um giro completo em torno da
Capítulo 3. Órbitas 25

Terra), o qual está diretamente relacionado com a sua altitude. Além de baixas ou altas,
as órbitas podem ser de dois tipos básicos: polar e equatorial, ilustrados na Figura 32.
Existem, no entanto, vários satélites com órbitas inclinadas entre os pólos e o equador. A
órbita polar, paralela ao eixo da Terra, tem uma inclinação de 90∘ que permite a passagem
do satélite sobre todo o planeta e de forma sincronizada com o movimento da Terra em
torno do Sol. Por isso, é chamada também de sol-síncrona. Nessa órbita, o satélite cruza
o equador sempre na mesma hora local (Florenzano 2008).

Figura 32 – Exemplos de órbitas de satélites (Plass et al. 2015).

Nos tópicos seguintes, este trabalho buscou estudar e apresentar as características


das órbitas mais utilizadas ou com aplicações especialmente importantes para a indústria
espacial.
Capítulo 3. Órbitas 26

3.1 Low-Earth Orbit – LEO


A definição de órbita baixa é uma altitude entre 160 km e 2000 km acima da
superfície terrestre, com período orbital de 88 a 127 minutos. Qualquer objeto abaixo desse
limite vai sofrer decaimento orbital e reentrar na atmosfera rapidamente. A metade inferior
dessa faixa de altitude é submetida ao arrasto das camadas superiores da atmosfera, até
1000 km. A parte superior, no entanto, passa a sentir os efeitos do Cinturão de Van Allen,
que são variados níveis de radiação causadas pelo acúmulo de vento solar e raios cósmicos
no campo magnético da Terra, então esse nível costuma ser evitado. Para qualquer objeto
manter uma órbita LEO acima de 150 km, é necessário que sua velocidade orbital seja de
7,8 km/s (Williams 2017).
A grande maioria dos satélites artificiais são colocados e mantidos em órbita baixa,
incluindo a International Space Station (entre 320 km e 380 km), por inúmeras razões.
Talvez a mais importante é a relativa facilidade. Uma órbita baixa requer menos combus-
tível em foguetes e ônibus espaciais, a comunicação sofre menos atraso e o mesmo local
da superfície pode ser visitado várias vezes ao dia (Williams 2017).

Figura 33 – Ilustração da constelação de satélites LEO Iridium (Muri e McNair 2012).

Dentre os satélites LEO, há diversas possibilidades de inclinações orbitais, ou seja,


ângulos entre o plano orbital e o equador, que são limitados pela latitude geográfica da
base de lançamento. Com ajuda da rotação da Terra, a maior velocidade orbital a ser
alcançada ocorre quando o lançamento ocorre na direção leste. O plano orbital se estende
entre a posição inercial instantânea e o vetor velocidade, então a inclinação é igual à
latitude de separação do lançador do veículo espacial. Qualquer mudança de inclinação
está associada à menor otimização do lançamento (Montenbruck et al. 2002).
Capítulo 3. Órbitas 27

3.2 Medium Earth Orbit – MEO


Também conhecida como Intermediate Circular Orbit (ICO), apresenta altitude
entre 2000 km e 35786 km acima do nível do mar. A divisão entre LEO e MEO foi arbitra-
riamente escolhida por convenção, mas acima de MEO estão as órbitas geoestacionárias.
Ou seja, qualquer satélite em órbita MEO tem um período orbital menor que 24 horas.
Nessa faixa, os equipamentos sofrem com o albedo da Terra, impulso da antena de nave-
gação e efeitos térmicos por causa da re-radiação. Aqui ficam os satélites da constelação
que formam o sistema GPS (Machado 2011).

Figura 34 – Trilha terrestre da constelação de satélites GPS em dezembro de 2017


(Kos et al. 2019).

3.3 Geosynchronous Equatorial Orbit – GEO


O dia sideral é o tempo necessário para a Terra fazer uma rotação completa quando
vista de alguma estrela distante, ou ainda, é o tempo entre a passagem consecutiva por
um determinado meridiano terrestre de uma estrela distante qualquer. O dia sideral define
o período de rotação da Terra e tem o valor de 23 horas, 56 minutos e 4,1 segundos ou
86.164,1 segundos. Os satélites geossíncronos têm uma órbita cujo período é o mesmo de
um dia sideral, se a inclinação do plano de órbita for zero, e com período aproximadamente
igual ao dia sideral, se a inclinação for diferente de zero. O satélite deve se deslocar
na mesma direção de rotação da Terra. Estas são as únicas exigências para uma órbita
geossíncrona (Protzek 2001).
As antenas das estações terrenas necessitam de sistemas de rastreamento para
seguir o satélite. Os satélites geossíncronos são utilizados em situações em que: as antenas
das estações terrenas necessitem naturalmente do sistema de rastreamento, como em
plataformas móveis instaladas em barcos e aviões; o alto custo do sistema de rastreamento
das antenas não seja determinante; o raio de cobertura do satélite sobre a superfície da
Capítulo 3. Órbitas 28

Terra seja global ou amplo; ou o combustível para o controle do satélite na direção Norte-
Sul esteja se esgotando. Essa órbita também pode ser usada para o armazenamento de
satélites antes de colocá-los em serviço (órbita de transferência) (Protzek 2001).

Figura 35 – Trilha terrestre do satélite CAPS (Zhao et al. 2018).

3.4 Geostationary Orbit – GSO


Um satélite geoestacionário tem o mesmo sincronismo e direção de rotação que
um satélite geossíncrono sendo que a sua órbita está limitada às proximidades do plano
equatorial da Terra, com inclinação essencialmente zero. Nas aplicações comerciais, a
órbita desses satélites são circulares, assim, o satélite não tem movimento em relação a
um determinado ponto no Equador terrestre. Isso significa que o satélite observa sempre
a mesma porção da superfície da Terra. Assim: um satélite geoestacionário é sempre
geossíncrono, mas o inverso não é verdadeiro (Protzek 2001).

Figura 36 – Posição dos satélites geoestacionários em órbita (Frischauf 2011).


Capítulo 3. Órbitas 29

3.5 Sol-síncrona
Órbitas polares, de alta inclinação, conseguem obter máxima cobertura da super-
fície terrestre. Satélites de sensoriamento remoto buscam alcançar essas órbitas para um
alcance global ou quase global, de forma que seu movimento garanta passar várias vezes
sobre o mesmo ponto na superfície de forma repetitiva e sem lacunas, em momentos de
iluminação adequada, com movimento preferencialmente circular para garantir a mesma
altitude sempre que passar pelo local visado. A órbita que garante todos esses aspec-
tos e otimiza a coleta de dados para um satélite de sensoriamento remoto é chamada
sol-síncrona, com inclinação orbital de 97∘ a 102∘ e altitudes entre 500 km e 1500 km
(Montenbruck et al. 2002).

Figura 37 – Trilha terrestre de seis satélites sol-síncronos (Komerath et al. 2009).

3.6 Highly Elliptical Orbit – HEO


Antes de levar um satélite até uma órbita geoestacionária, primeiro ele é inserido
em uma órbita de transferência excêntrica, que depois é corrigida para uma órbita circular
em uma manobra de apogeu. Há também outros motivos para intencionalmente colocar
um objeto em uma órbita excêntrica. Os satélites russos Molniya e Tundra são os exemplos
mais comuns. Essa órbita foi uma estratégia para observar regiões polares sem o uso de
satélites geoestacionários, é um conceito alternativo em satélites de comunicação desen-
volvido pela antiga União Soviética. Outra aplicação principal é por motivos científicos,
para estudo e análise da magnetosfera terrestre (Montenbruck et al. 2002).

Figura 38 – (a) Ilustração de órbita HEO de triplo apogeu.


(b) Trilha terrestre correspondente. (Lachance et al. 2012).
30

4 Bases de Lançamento

4.1 Classificação das Bases


A análise das informações dos programas espaciais juntamente com os parâmetros
utilizados para categorizar os veículos lançadores possibilita a adoção de critérios quanti-
tativos e qualitativos para definição das classes de infraestruturas espaciais. A Figura 39
demonstra a relação dos centros de lançamento com parâmetros relevantes a missão.

Figura 39 – Faixas de categoria para centros de lançamento. (Coelho 2013).

(Coelho 2013) conclui que: “ [...] essas classificações corroboram com a existência
de uma forte correlação entre os diversos segmentos que compõem um sistema espacial, e
passa a constituir um ponto de partida consistente ao definir critérios quantitativos que
possibilitam o gerenciamento de áreas físicas de interesse da infraestrutura aeroespacial
para as atividades que envolvem a exploração do espaço, constituindo um fator essencial
para o planejamento da expansão da infraestrutura espacial de um país ou mesmo a
implantação de um novo centro de lançamento”.

4.2 Listagem dos Centros de Lançamento em Operação

Figura 40 – Localização dos portos espaciais e centros de lançamento operacionais em


2022 (Astronomy).
Capítulo 4. Bases de Lançamento 31

Existem em operação 35 instalações entre portos espaciais e centros de lançamento,


com capacidades variadas de executar missões sub-orbitais, orbitais e além. A Figura 40
apresenta a localização das instalação operacionais em 2022, e a Figura 41 a listagem de
cada uma dessas (Astronomy).

Figura 41 – Listagem dos centros de lançamento e portos espaciais operacionais em 2022


(Astronomy).
32

5 Janela de lançamento

A janela de lançamento é definida como o período na qual uma determinada mis-


são deve ser iniciada, com o lançamento do foguete. Se a nave pretende encontrar outra
nave, um planeta ou outro ponto do espaço, o lançamento deve ser cuidadosamente crono-
metrado. A dinâmica muda de missão para missão, e determinar a janela de lançamento
é uma parte importante do projeto de voo (Voese 2017).
O melhor momento para iniciar uma missão depende de uma série de fatores: o
objetivo do voo, necessidades da nave e tipo de trajetória desejada são exemplos. Essas
variáveis influenciam não apenas o horário ideal de lançamento, mas também o tempo total
da janela de lançamento, que pode variar de segundos até muitas horas. Outro importante
aspecto a ser levado em conta é o posicionamento solar no momento de lançamento de
acordo com a posição final do objeto em relação à iluminação solar (Heiney 2012).
Adversidades como condições meteorológicas e problemas técnicos podem impedir
lançamentos de acontecerem na hora escolhida. Janelas de lançamento são planejadas
levando isso em consideração e, até certo ponto, podem compensar certos atrasos enquanto
mantêm chances suficientes de realizar a missão de forma adequada. Isso significa, no
entanto, que lançamentos fora do momento ideal podem acabar por reduzir a performance
do foguete e prejudicar a massa da payload enviada (Heiney 2012).
Por fim, é necessário também fazer análises de prevenção de colisão. Qualquer
outra nave em órbita ou lixo espacial corre o risco de acertar o veículo durante a subida, o
que reduz possibilidades de janela de lançamento por ser muito arriscado. Uma dificuldade
da prevenção de colisão são os fatores em tempo real que geram incertezas nos cálculos
de previsão. A trajetória final realizada pelo foguete nunca será exatamente de acordo
com o plano de voo, então sempre há riscos de erros de meio segundo afetarem grandes
distâncias no posicionamento final (Heiney 2012).
33

Referências

ARC, I. Small Satellite Market - Forecast(2022 - 2027). 2019. Citado na página 6.

ARIANESPACE. Ariane 6 - Access to space for all applications under the best condi-
tions! Arianegroup. Disponível em: <https://www.arianespace.com/vehicle/ariane-6/>.
Citado 2 vezes nas páginas 3 e 15.

ARIANESPACE. Vega - The Light Launcher. Arianegroup. Disponível em: <https://


www.arianespace.com/vehicle/vega/>. Citado 2 vezes nas páginas 3 e 14.

ARIANESPACE. Vega C - Multiple launch capability and cost-efficient launch services.


Arianegroup. Disponível em: <https://www.arianespace.com/vehicle/vega-c/>. Citado
3 vezes nas páginas 3, 16 e 17.

ARIANESPACE. Vega User’s Manual ISSUE 4 REVISION 0. [S.l.]: Arianegroup, 2014.


Citado 2 vezes nas páginas 3 e 14.

ARIANESPACE. Soyuz - The Medium Launcher. [S.l.]: Arianegroup, 2018. Citado 2


vezes nas páginas 2 e 13.

ARIANESPACE. Soyuz User’s Manual - ISSUE 2 REVISION 1. [S.l.]: Arianegroup, 2018.


Citado 2 vezes nas páginas 2 e 13.

ARIANESPACE. Vega C User’s Manual - ISSUE 0 REVISION 0. [S.l.]: Arianegroup,


2018. Citado 3 vezes nas páginas 3, 16 e 17.

ARIANESPACE. Ariane 5 Techinal Overview. [S.l.]: Arianegroup, 2019. Citado 2 vezes


nas páginas 2 e 12.

ARIANESPACE. Ariane 6 Technical Overview. [S.l.]: Arianegroup, 2019. Citado 3 vezes


nas páginas 3, 15 e 16.

ARIANESPACE. Soyuz Technical Overview. [S.l.]: Arianegroup, 2019. Citado 2 vezes


nas páginas 2 e 13.

ARIANESPACE. VEGA Technical Overview. [S.l.]: Arianegroup, 2019. Citado 2 vezes


nas páginas 3 e 14.

ARIANESPACE. Ariane 5 User’s Manual - ISSUE 5 REVISION 3. [S.l.], 2020. Citado


2 vezes nas páginas 2 e 12.

ARIANESPACE. SSMS Vega C User’s Manual - ISSUE 1 REVISION 0. [S.l.]: Ariane-


group, 2020. Citado na página 16.

ARIANESPACE. Ariane 6 User’s Manual - ISSUE 2 REVISION 0. [S.l.]: Arianegroup,


2021. Citado 3 vezes nas páginas 3, 15 e 16.

ARIANESPACE. Ariane 6 User’s Manual for Multi-launch Service (MLS) - ISSUE 0,


REVISION 0. [S.l.]: Arianegroup, 2021. Citado na página 15.
Referências 34

ARIANESPACE. Ariane 5 - The Heavy Launcher. Arianegroup, 2022. Disponível em:


<https://www.arianespace.com/vehicle/ariane-5/>. Citado 2 vezes nas páginas 2 e 12.
ASTRONOMY, G. Spaceports and Launch Sites. Disponível em: <https://www.
go-astronomy.com/space-ports.php>. Citado 3 vezes nas páginas 4, 30 e 31.
BOMBARDELLI, C. et al. Asymptotic solution for the two-body problem with constant
tangential thrust acceleration. Celestial Mechanics and Dynamical Astronomy, v. 110, p.
239–256, 07 2011. Citado 2 vezes nas páginas 3 e 23.
COELHO, M. A. C. Identificação de classes de veículos lançadores visando à implantação
ou expansão da infraestrutura aeroespacial. Tese de Mestrado em Transporte Aéreo e
Aeroportos, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, p. 164, 2013. Citado 6 vezes nas
páginas 2, 4, 6, 7, 8 e 30.
ESA. Ariane 6. The European Space Agency. Disponível em: <https://www-acc.esa.int/
Enabling_Support/Space_Transportation/Launch_vehicles/Ariane_6.> Citado 2 ve-
zes nas páginas 3 e 16.
ESA. ESA-developed P120C solid rocket motor enters production. The European
Space Agency. Disponível em: <https://www.esa.int/Enabling_Support/Space_
Transportation/ESA-developed_P120C_solid_rocket_motor_enters_production>.
Citado 3 vezes nas páginas 3, 15 e 16.
FLORENZANO, T. G. Os satélites e suas aplicações. SindCT, 2008. Citado na página
25.
FRISCHAUF, N. Outer space in society, politics and law - satellite telecommunication.
In: . [S.l.: s.n.], 2011. Citado 2 vezes nas páginas 4 e 28.
HEINEY, A. Aiming for an Open Window. 2012. Disponível em: <https://www.nasa.
gov/centers/kennedy/launchingrockets/launchwindows.html>. Citado na página 32.
KOMERATH, N. et al. Near millimeter wave issues for a space power grid. Proceedings
of IASSPES, Huntsville, AL, v. 8440, 03 2009. Citado 2 vezes nas páginas 4 e 29.
KOS, S. et al. A study on multi-constellation gnss positioning performance in terms of
maritime requirements. In: . [S.l.: s.n.], 2019. Citado 2 vezes nas páginas 4 e 27.
KREBS, G. Starship (Super Heavy Starship, BFR, Big Falcon Rocket). Disponível em:
<https://space.skyrocket.de/doc_lau/super-heavy-starship.htm>. Citado 2 vezes nas
páginas 2 e 11.
LAB, R. Electron - Dedicated Access to Space for Small Satellite. Disponível em: <https:
//www.rocketlabusa.com/launch/electron/>. Citado 3 vezes nas páginas 3, 17 e 18.
LAB, R. Neutron - The mega constellation launcher. Disponível em: <https://www.
rocketlabusa.com/launch/neutron/>. Citado 2 vezes nas páginas 3 e 18.
LAB, R. Launch: payload user’s guide - VERSION 6.6. 2020. Citado 3 vezes nas páginas
3, 17 e 18.
LACHANCE, R. et al. Pcw/pheos-wca: Quasi-geostationary arctic measurements for we-
ather, climate and air quality from highly eccentric orbits. In: . [S.l.: s.n.], 2012. v. 8533.
Citado 2 vezes nas páginas 4 e 29.
Referências 35

LOGSDON, J. Launch Vehicle. 2019. Disponível em: <https://www.britannica.com/


technology/launch-vehicle>. Citado na página 6.

LOGSDON, J. Space Exploration. 2022. Disponível em: <https://www.britannica.com/


science/space-exploration>. Citado na página 6.

MACHADO, P. R. S. A produção do espaço geográfico: o espaço sideral. 2011. Citado


na página 27.

MCINNES, C. R. Aero-assisted trajectories for direct launch systems. Acta Astronautica,


Elsevier, v. 32, n. 6, p. 411–417, 1994. Citado 2 vezes nas páginas 3 e 20.

MONTENBRUCK, O. et al. Satellite orbits: models, methods, and applications. Appl.


Mech. Rev., v. 55, n. 2, p. B27–B28, 2002. Citado 4 vezes nas páginas 3, 24, 26 e 29.

MOTA, F. A. da S.; HINCKEL, J. N. Estudo dos sistemas propulsivos químico e elétrico


para a inserção de um satélite em uma órbita geoestacionária. Citado 4 vezes nas páginas
3, 21, 22 e 23.

MURI, P.; MCNAIR, J. A survey of communication sub-systems for intersatellite linked


systems and cubesat missions. Journal of Communications, v. 7, 04 2012. Citado 2 vezes
nas páginas 3 e 26.

PLASS, S. et al. Current situation and future innovations in arctic communications. In:
. [S.l.: s.n.], 2015. Citado 2 vezes nas páginas 3 e 25.

PROTZEK, M. A. Estudo sobre os sistemas de comunicação por satélites geoestacionários.


2001. Citado 3 vezes nas páginas 20, 27 e 28.

SPACEX. Falcon 9. Disponível em: <https://www.spacex.com/vehicles/falcon-9/>. Ci-


tado 2 vezes nas páginas 2 e 9.

SPACEX. Falcon Heavy. Disponível em: <https://www.spacex.com/vehicles/


falcon-heavy/>. Citado 2 vezes nas páginas 2 e 10.

SPACEX. Starship. Disponível em: <https://www.spacex.com/vehicles/starship/>. Ci-


tado 2 vezes nas páginas 2 e 11.

SPACEX. Starship Users Guide Revision 1.0. [S.l.]: Space Exploration Technologies Cor-
poration, 2020. Citado 2 vezes nas páginas 2 e 11.

SPACEX. Falcon User’s Guide. [S.l.], 2021. Citado na página 9.

SPATIALES, C. N. D. Ariane 6 - Technical Features. 2020. Disponível em:


<https://www.esa.int/Enabling_Support/Space_Transportation/ESA-developed_
P120C_solid_rocket_motor_enters_production>. Citado 2 vezes nas páginas 3 e 16.

VOESE, J. d. S. Uma aproximação analítica tridimensional para um problema de dis-


persão de efluentes de foguetes em uma nuvem estabilizada. Dissertação (Mestrado) —
Universidade Federal de Pelotas, 2017. Citado na página 32.

WERTZ, J. R. et al. Space mission analysis and design. [S.l.]: Springer, 1999. v. 8. Citado
na página 22.
Referências 36

WIESEL, W. E. Spaceflight dynamics. [S.l.]: McGraw-Hill Science, Engineering & Mathe-


matics, 1997. v. 1. Citado na página 21.

WIKINSON, F. The History of Space Exploration. 2020. Disponível em: <https://www.


nationalgeographic.org/article/history-space-exploration/>. Citado na página 6.

WILDE, M. et al. Arise: Sounding rocket instrument for the verification of a novel wire
repair method in microgravity. In: . [S.l.: s.n.], 2018. Citado 2 vezes nas páginas 3 e 21.

WILLIAMS, M. What is Low Earth Orbit? 2017. Disponível em: <https://www.


universetoday.com/85322/what-is-low-earth-orbit/>. Citado na página 26.

ZHANG, M. et al. Launch vehicle classification for decision-making of small satellite


launch options. TRANSACTIONS OF THE JAPAN SOCIETY FOR AERONAUTI-
CAL AND SPACE SCIENCES, THE JAPAN SOCIETY FOR AERONAUTICAL AND
SPACE SCIENCES, v. 64, n. 4, p. 234–241, 2021. Citado 2 vezes nas páginas 6 e 7.

ZHAO, J. et al. The first result of relative positioning and velocity estimation based on
caps. Sensors, v. 18, p. 1528, 05 2018. Citado 2 vezes nas páginas 4 e 28.

Você também pode gostar