Você está na página 1de 10

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/341494221

AS SEIS CHAVES DO SUCESSO DO EMPREENDEDORISMO JUDAICO

Technical Report · May 2020


DOI: 10.13140/RG.2.2.24309.81126

CITATIONS READS

0 2,971

1 author:

Elias Silva
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
135 PUBLICATIONS   1,209 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

POTENCIALIDADES DA SILVICULTURA EM MOSAICO NAS ZONAS DE AMORTECIMENTO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO; Análise temporal da cobertura vegetal no Parque
Estadual Cachoeira da Fumaça, ES, por meio de técnicas de sensoriamento remoto View project

All content following this page was uploaded by Elias Silva on 19 May 2020.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS - CCA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL - DEF

AS SEIS CHAVES DO SUCESSO DO


EMPREENDEDORISMO JUDAICO

ELIAS SILVA - Professor Titular


Departamento de Engenharia Florestal
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais, 36.570-900
ESHAMIR@UFV.BR - (31) 3612-4181

VIÇOSA - MINAS GERAIS – BRASIL - 2020


CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

É de conhecimento geral que o povo judeu passou por inúmeros desafios e


sofrimentos ao longo de sua história, sendo o melhor registro (o mais fiel) o próprio
Velho Testamento (Torah, Bíblia Judaica). Este registro também se deu por outras
fontes e de diversos modos, tanto em livros, filmes e relatos orais gravados, entre
outros.

No início, o primeiro patriarca, Abraão, se rebelou contra a idolatria


praticada até por membros de sua família, e, por este motivo, foi compelido a sair
da casa dos pais. Deste modo, surgiu o Judaísmo, que, não por acaso, se caracteriza
pelo monoteísmo. Ao se estabelecer em Canaã, encontrou todo tipo de dificuldade,
em vista das condições inóspitas daquela região do Oriente Médio, ainda mais numa
época em que eram rudimentares as técnicas disponíveis. Situação similar foi
encontrada por seus descendentes mais próximos, como Isaque (seu filho; o segundo
patriarca) e Jacó (seu neto; o terceiro patriarca), quase sempre envolvidos em
conflitos com povos hostis aos judeus. Este cenário se agravou para as gerações
seguintes. Para compreendê-lo de forma concisa, bastaria mencionar as seguintes
principais provações pelas quais o povo judeu passou: fuga para o Egito, pela seca
em Canaã; 210 anos de escravidão na terra dos faraós; peregrinação por 40 anos no
deserto, após a saída do Egito; luta para se estabelecer no Antigo Israel; tentativa
de aculturação por inúmeros povos conquistadores; exílio na Babilônia; Diáspora,
em vários momentos e para várias partes do mundo; Cruzadas (perseguição aos
judeus e outros grupos étnicos por parte de cristãos católicos); Inquisição; Pogroms
(termo em iídiche para designar a perseguição deliberada e implacável a judeus,
notadamente no Leste Europeu); Holocausto; e conflitos com países vizinhos para
fundar e manter o Estado de Israel.

A saga ainda se mostra presente, pois os judeus continuam a sofrer


perseguições e intolerâncias, algumas vezes até na forma de atentados terroristas,
tanto em Israel quanto em outros países, principalmente na Europa.

Quando se considera este panorama de dificuldades enfrentado, e o fato de


os judeus perfazerem apenas uma pequena parcela da população mundial (na
atualidade, há cerca de 16 milhões para um total de sete bilhões e meio, sendo a
metade residente em Israel e a outra dispersa pelo mundo), as pessoas não
compreendem como conseguem se destacar e se tornarem reconhecidos em suas
áreas de atuação. Enfim, não entendem como este povo pode gerar tantas
personalidades marcantes em termos mundiais, não só no campo da Ciência, mas
também na Política, nas Artes, nas Finanças, entre outros. Para ilustrar, seguem
alguns exemplos de judeus que atingiram grande destaque: Moisés (considerado o
maior líder de todos os tempos, por ter comandado o povo judeu quando da saída
do Egito); Rei Davi (o maior salmista); Rei Salomão (tido como o homem mais sábio
que já surgiu); Jesus Cristo (a figura central do Cristianismo, que é a religião com
o maior número de adeptos no mundo, ou seja, cerca de 2,2 bilhões de fiéis);
Sigmund Freud (Pai da Psicanálise); Karl Marx (líder soviético); Albert Einstein
(criador da Teoria da Relatividade e um dos maiores gênios da humanidade); Franz
Kafka (considerado pelos críticos um dos mais influentes escritores do século XX);
Albert Sabin (descobridor da vacina contra a paralisia infantil); Baruch Spinoza
(grande filósofo); Lévi-Strauss (criador do jeans); Viktor Frankl (criador da
Logoterapia, que é um tipo de psicanálise centrada na busca pelo sentido da vida);
Charles Chaplin (genial comediante); Groucho Marx (outro genial comediante);
Woody Allen (premiado artista); Steven Spielberg (genial cineasta); e Jerry Siegel e
Joe Shuster (criadores do personagem Super-Homem). Também no Brasil a lista
seria certamente longa, como por exemplo, Clarice Lispector (escritora reconhecida
até no exterior); Silvio Santos (Senor Abravanel, conhecido comunicador e
empresário); Samuel Klein (fundador da maior rede varejista do Brasil, as Casas
Bahia); Edmond Safra (fundador do Banco Safra); Victor Civita (fundador da
Editora Abril); Cesar Lattes (físico respeitado mundialmente e que foi homenageado
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – com
o seu nome numa das plataformas); Abraham Kasinsky (fundador da Cofap
Amortecedores, que chegou a empregar 18 mil pessoas e exportar para 97 países
nos anos 90); Jaime Lerner (ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná);
Nathália Timberg (atriz); Boris Casoy (jornalista); e Luiz Fux (ministro do Supremo
Tribunal Federal).

Neste sentido, seria lógico tentar encontrar uma explicação para tal
fenômeno. É provável que muitos associem com a questão genética, pois os judeus
segregaram genes ao longo de sua história, na medida em que a miscigenação sempre
foi uma preocupação da comunidade. Outros, pelas eventuais condições favoráveis
do meio, que, em algum momento, realmente ficaram mais propícias,
principalmente para aqueles que encontraram melhores oportunidades depois da
Segunda Guerra Mundial. E, até alguns, que alegarão se tratar de dádiva divina,
pela aliança de D´us com Abraão e sua descendência. Nada impediria de alguém
imaginar também um “coquetel”, ou seja, a junção de todas essas explicações. Bem
assim, até entender que o fato decorra simplesmente do acaso.

De minha parte, entendo que a questão se centraliza no amadurecimento


(refinamento) natural da personalidade judaica (individual e coletiva), a qual foi
sendo depurada, ao longo do tempo, por conta dos desafios encontrados, sem
prejuízo dos aspectos que permeiam a questão genética, em razão de serem
determinantes para qualquer organismo. Também não excluo a referida aliança de
D´us com o povo judeu, haja vista a particular conexão deste com o Criador. Em
outros termos, valores foram sendo sedimentados a partir de situações vivenciadas,
criando certo padrão para refletir e tomar decisões. Também é preciso lembrar que
os judeus possuem um conjunto de mandamentos religiosos a cumprir, a que se
denomina de mitsvot, tanto na forma de obrigações (são 248!) quanto de proibições
(365!), e que certamente foi decisivo para esse refinamento.

Por conseguinte, ao perceberem que poderiam ser maiores que as


adversidades, que não foram poucas, experimentaram aperfeiçoamento
comportamental único. De tal modo, que esta vivência e tudo que ela traz de
ensinamentos, foi passada de geração a geração, ao ponto de ficar enraizada no
caráter das pessoas. Enfim, em enxergar no problema a enfrentar a possibilidade de
crescer espiritual e materialmente, na medida em que ele exige da pessoa a busca da
solução, que, em muitos casos, se não encontrada, pode até lhe custar a vida. Melhor
ainda: ser o protagonista da situação, na condição de principal interessado, e não
pura e simplesmente a vítima.
Na verdade, sob um olhar mais atento, pode-se facilmente perceber que,
quando a solução for encontrada, a pessoa já não será mais a mesma, pois o processo
a fez crescer emocionalmente, tornando-a mais confiante e segura para enfrentar
outras adversidades. Sem contar que agora já sabe como resolver situações
similares, dada a superação lograda no processo. Este raciocínio pode ser levado
também para o campo dos negócios, até pelo fato de que os judeus foram impedidos
de possuírem terras em muitos países que viviam. Assim, foram induzidos a se
tornarem comerciantes (em estabelecimentos fixos e/ou na condição de caixeiros
viajantes) ou negociadores (banqueiros, despachantes, representantes comerciais,
corretores de seguros, entre outros tipos), o que possibilitou o tal amadurecimento
da personalidade, no caso para os negócios (ser empreendedor). Muitos também se
tornaram profissionais liberais, na condição de ilustres médicos, engenheiros e
advogados, dentre outras ocupações.

Compreendida esta opinião, lanço na sequência as seis variáveis (chaves para


o sucesso) que entendo serem as mais importantes para explicar a capacidade ímpar
do “judeu típico” de lidar com negócios, hoje mais associado ao termo
empreendedorismo. Elas representam os valores que estão incutidos na
personalidade judaica. São elas: união; educação; superação de desafios; hazak
(força, coragem, esforço, dedicação); devotamento (“sacrifício”) de uma geração em
prol da outra; e sabedoria.

OS VALORES JUDAICOS:

União:

Quanto ao primeiro ponto, à união, que é conceitualmente a ação de ligar,


tornar um só, não é difícil entender porque se constitui num valor tão importante
para o judeu, uma vez que se tenha em mente que, historicamente, ele teve de
conviver com o fato de ser minoria e, em muitas situações, como estrangeiro. Assim,
como estratégia para não ser aculturado, necessitou fortalecer os laços familiares e
comunitários. Na prática, isto o levou a manter as tradições religiosas e a robustecer
as ações endógenas, entre elas a organização de atividades no seio da comunidade,
de modo a que um servisse ao outro, num processo sinérgico. Nada disso impediu a
realização de negócios fora da comunidade, já que traziam benefícios diretos e
indiretos para os seus membros, notadamente empregos, novos conhecimentos e
representatividade na sociedade maior. Por esta singularidade, é que muitos dos
negócios, inclusive no campo agrário, foram iniciados e mantidos, até hoje, dentro
da comunidade, e não raro na própria família, como por exemplo, nos grupos Klabin
e Suzano. É claro que esta prática não inviabiliza (nem seria lógico) a busca por
sócios no mercado, porém, de forma a se ter algum controle das ações da empresa e
do jeito de administrá-la. Também deste comportamento se consolidou a prática de
repartir o sucesso material, notadamente na forma de doações, tanto para pessoas
necessitadas (inclusive a gentios, quer dizer, aos não judeus) quanto para entidades
judaicas (sinagogas, escolas, hospitais etc.). Esta prática é chamada de tsedacá, que
deve ser entendida como o mandamento religioso de agir no âmbito da justiça. Para
consolidar o raciocínio aqui elaborado, entendo ser necessário o seguinte arremate,
em sintonia com a linguagem popular: “a união faz a força” e “quebrar um graveto
é fácil, mas um feixe é bem difícil”.
Adicionalmente, nunca é demais ter em conta que o ser humano pertence a
uma espécie com comportamento gregário (vive em grupo). Deste modo, é um
processo natural a aproximação entre pares, sobretudo quando existem interesses
comuns em jogo, sendo um deles a própria sobrevivência, como repetidas vezes
ocorreu com os judeus. Também serve de argumento, o fato de a pessoa sentir-se
protegida ao pertencer a um grupo forte e unido, o que a estimula a se manter nele.

Educação:

No que tange à educação, é certamente um aspecto muito valorizado pelos


judeus. Mas a educação entendida no sentido amplo, por envolver a formal (via
instituição de ensino) e a informal (aquela assada de pai para filho ou entre membros
da comunidade). Para induzir melhor compreensão, dividirei a abordagem em três
pontos, que entendo serem os que mais se associam com a real percepção judaica
sobre o tema em tela.

O primeiro, pelo fato de a educação viabilizar a aquisição do conhecimento,


que é, obviamente, o ingrediente básico para a realização de qualquer tipo de
trabalho. Ora, como partem do princípio – ético, moral e religioso - de que o sustento
(parnassá) deva decorrer do trabalho honesto, torna-se fácil perceber a importância
dele para os judeus. Na verdade, no contexto judaico, o sustento está ligado à
desejável prosperidade, quer dizer, ao sucesso financeiro que todos almejam. Vale
considerar que o Judaísmo não faz a demonização do dinheiro, tal como outras
religiões. Ele é entendido como algo natural e necessário, dentro de um sistema de
troca. Enfim, deve ser utilizado para a pessoa viver com dignidade e praticar o bem,
por meio de ações que envolvam justiça (tsedacá), como por exemplo, auxiliar
pessoas carentes. Do exposto, ainda se deve perceber um detalhe extra, que o coloco
na forma de pergunta: por que o Judaísmo valoriza tanto a educação? Ora, porque
ela possui implícita sinergia, tanto que te leva à chamada paz de espírito! Veja:
proporciona-te primeiramente o conhecimento, que te leva ao trabalho (ao ofício),
depois ao sustento, à prosperidade e, por fim, à possibilidade de ajudar o próximo!
Quer mais?

O outro ponto mantém relação com a constatação de que o conhecimento (o


saber fazer) pode ser “transportado”, o que não ocorre necessariamente com os bens
materiais. Na prática, os bens materiais podem ser subtraídos por terceiros, o que
frequentemente ocorreu com o povo judeu, em diversos locais e em várias épocas.
Assim, não deveria ser surpresa para ninguém o fato de os judeus terem sido capazes
de refazer as suas vidas para onde imigraram, inclusive, conquistando grande
sucesso financeiro e notoriedade, ainda que tenham chegado descapitalizados (no
popular: “com uma mão na frente e a outra atrás”). Isto se deveu basicamente ao
conhecimento que tinham na mente, faltando apenas operacionalizá-lo, o que
ocorreu ao longo do tempo, no momento percebido como oportuno. Acredito que o
melhor exemplo seja o próprio Estado de Israel, que foi transformado num
verdadeiro “oásis” com base no sobrenatural esforço físico e intelectual dos
pioneiros e sucedâneos, tendo, hoje em dia, a tecnologia mais avançada do mundo.

Já o terceiro ponto, decorre da preocupação judaica com o conhecimento das


tradições e como bem se preparar para a vida. Assim, desde a tenra idade, os pais já
estimulam os filhos a lerem a Torah e a participarem de atividades religiosas (são
várias, com destaque para a de Pessach, isto é, a Páscoa Judaica), seja no seio da
família ou da comunidade (sinagogas, clubes etc.). Para tanto, desempenham papel
fundamental as escolas que têm o objetivo de oferecer educação judaica formal, via
textos religiosos. De forma complementar, elas também oferecem disciplinas do
domínio laico. Estas instituições são chamadas de yeshivá e midrasha para rapazes e
moças, respectivamente. Na prática, isto normalmente leva a pessoa a se interessar
pela leitura e pelo conhecimento em geral, o que, não raro, a torna fluente em vários
idiomas e a descobrir suas vantagens comparativas (para que tem talento). De
forma simplificada, é por esta dinâmica que surgem pessoas realmente talentosas e
determinadas. Se relacionado ao campo dos negócios, ou a qualquer outro, é óbvio
que este tipo de pessoa leva vantagem sobre as outras, já que têm o diferencial da
vasta cultura, da fluência em diversos idiomas e da sólida formação ética, moral e
acadêmica. Para finalizar o raciocínio, entendo necessário explicar o seguinte: caso
ocorra “empate” com outra pessoa, há uma “reserva” à disposição, ou seja, o que
comumente se chama de hazak, que significa coragem. Esta poderosa força, como
característica (valor) marcante da personalidade judaica, certamente se
encarregará de criar a condição para obter a dianteira. Ela será mostrada mais à
frente.

Superação de Desafios:

A superação de desafios está implícita na vida dos judeus, em decorrência


das históricas e lamentáveis perseguições que sofreram, tal como contextualizado
em itens anteriores. Na prática, este desafio precisou ser superado, muitas vezes, até
para manter a vida. Para ilustrar, bastaria mencionar o exemplo mais conhecido do
grande público: cerca de seis milhões de judeus foram mortos pelo regime nazista,
entre eles algo em torno de 1,5 milhão de crianças. Todavia, alguns sobreviveram e
se tornaram “fiéis depositários” dessas tristes experiências, dentre tantas que
permearam (e ainda permeiam) a vida judaica. Portanto, ao longo do tempo,
cristalizou-se na consciência judaica o instinto de “lutar” contra os desafios, por
conta da necessidade de sobreviver e, por conseguinte, de manter as tradições. Vale
dizer, que essa “luta” não tem conotação de agressividade, já que envolve, em
essência, a preocupação de se preparar e agir de forma licita para os embates da
vida. Obviamente, isto não exclui o direito de a pessoa agir em legítima defesa,
quando a sua vida estiver em jogo. Como consequência deste quadro, surgiu o que
se poderia chamar de “amor próprio”, enfim, a maneira judaica de se “impor”, não
pela força ou qualquer outro tipo de medida inaceitável pela ética ou a moral, mas
pautada pelo “brilho nos olhos” e a “faca nos dentes”. Para finalizar: a superação
do desafio faz parte do universo judaico, o que, convenhamos, é um ingrediente
fundamental para tudo na vida, mormente para quem está envolvido -
historicamente - no campo dos negócios, haja vista as recorrentes crises financeiras,
a concorrência, entre tantas variáveis de análise.

Hazak:

O termo hazak é certamente desconhecido do grande público. No entanto, é


bem conhecido dos judeus observantes. Em linhas gerais, ele indica o valor que foi
naturalmente internalizado na mente judaica, por conta da necessidade de enfrentar
as adversidades impostas pelo meio. Significa a força, a coragem, o esforço e a
dedicação que precisam ser colocados em prática para que os desafios sejam
superados. Como as adversidades ainda se mostram presentes, algumas inclusive
com intenções de extermínio (como por exemplo, o Neonazismo, dentre outros
movimentos comandados por fanáticos), pode-se entender, facilmente, porque esse
aspecto é tão valorizado no universo judaico. Enfim, se levado ao ramo dos negócios,
principalmente para aqueles assuntos típicos da área (ser pioneiro na atividade;
consolidar a empresa no mercado; buscar novas tecnologias; abrir o capital da
empresa etc.), constatar-se-á que o hazak se encontra impregnado na ação judaica,
não como um peso, como muitos poderão pensar, posto que se materializa
espontaneamente. Em outros termos, é aquilo que o induz a querer se superar, por
meio da força, da coragem, do esforço e da dedicação, na medida em que percebe
que só deste modo é que a adversidade poderá ser vencida. Pelo exposto, não é por
acaso que muitos judeus são citados como exemplos de arrojo e sucesso.

Devotamento (“sacrifício”) de uma geração em prol da outra:

Tendo em vista as adversidades vivenciadas pelos judeus, surgiu


naturalmente na comunidade o entendimento de que deveria proteger, de forma
mais zelosa, os seus jovens (a rigor todos, mas estes de modo especial). A razão é
óbvia: os mais novos representam a continuidade, algo muito valorizado no
Judaísmo, haja vista a necessidade de manter as tradições e, deste modo, servir a
D´us. Este devotamento envolveu privação de bens materiais e dedicação extrema às
atividades de onde se obtinha o sustento, a fim de propiciar aos descendentes as
melhores condições para sobreviver, não raro em ambiente de guerra e sob intensa
perseguição. Este valor, que todos concordam ser inerente aos genitores de qualquer
etnia, até pelo fato de ser instintivo, foi incorporado ao universo judaico de forma
proporcional aos perigos enfrentados, muitos destes envolvendo a defesa da própria
vida (da pessoa e dos seus descendentes). Por conseguinte, com o passar do tempo,
consolidou-se no meio judaico a percepção de que é preciso ser cauteloso e
ponderado, de modo a possibilitar reservas financeiras e bens materiais aos
descendentes, ademais de se investir na formação profissional dos mais novos,
sempre com o pensamento de propiciar à próxima geração uma melhor condição de
vida que a anterior. É tão arraigado este valor no meio judaico que, se tomadas
várias gerações na mesma família, é comum se constatar que os avôs exerceram
atividades braçais, enquanto os filhos e os netos se dedicam agora a funções
altamente valorizadas no mercado laboral. Enfim, esta capacidade de se devotar à
família, agindo no presente, mas com o olhar no futuro, é um valor aplicável em
qualquer área, mormente no campo dos negócios, em que a pessoa precisa ter
prudência e sabedoria para não perecer.

Sabedoria:

O Judaísmo é o ambiente social, cultural, político e religioso do povo hebreu.


Por conta desta complexidade implícita no conceito, é vasta a sabedoria que dele
emerge. Afinal, a trajetória judaica está fortemente vinculada a fatos
extraordinários, dentre eles, a passagem pelo Mar Vermelho em direção à Terra
Santa, que revelaram líderes e personagens únicos na história mundial. Sob este
contexto, foram criadas condições singulares para o surgimento de relatos
impressionantes, bem como de líderes, profetas e eruditos com traços supra-
humanos. Também as chamadas “pessoas do povo”, por meio de suas vivências
cotidianas (algumas hilárias), auxiliaram a configurar esta sabedoria, na medida em
que conseguiam até rir de si, criando o que se convencionou chamar de senso de
humor judaico (entendo ser uma variante da sabedoria judaica). Enfim, todo esse
repertório de casos (as narrativas da Torah Escrita e difundidas/explicadas pela
Torah Oral ou por outras obras judaicas) e “causos” (as situações do cotidiano)
representa o fundo “baú” de onde nasceu e se materializou a sabedoria judaica.

Em verdade, a sabedoria judaica se distingue das outras, por ser muito


superior ao simples conhecimento, que significa a aquisição de informações, bem
como à mera compreensão, a qual dota a pessoa do discernimento e da capacidade
de valorizar verdades importantes e úteis. Ela é única, porque se materializa na
aplicação das verdades de maior valor a qualquer situação e à vida em geral.

Esta sabedoria também foi levada ao ambiente dos negócios, tão frequente
na vida dos judeus. De tal modo, que ficou impregnada na personalidade do “judeu
típico”, ao ponto de as pessoas reconhecerem nele uma capacidade ímpar de fazer
negócios e, assim, prosperar. Para ilustrar, citarei duas frases que sintetizam bem
esta capacidade e que ouvi várias vezes em minha família e na comunidade: “faço o
difícil de imediato, enquanto o impossível só me toma um pouquinho mais de
tempo”; e “nunca tento tirar leite de pedra, pois existem boas vacas leiteiras”. Na
primeira, o leitor poderá perceber claramente o gosto pelo desafio e o implícito
hazak, tudo em consonância com o já explicado em itens anteriores. Na outra, que o
conhecimento (que é adquirido via educação, como também já explicado) é para ser
usado, a fim de escolher o rumo certo e, por consequência, fazer bons negócios
(factíveis e sustentáveis). Ainda em relação à segunda frase, também já ouvi a
seguinte explicação (muito sábia) para tal comportamento: “muitas pessoas usam a
cabeça apenas para colocar chapéu, mas tenho certeza que serve para muito mais,
principalmente para pensar.”

Finalizo, imaginando que o leitor compreenderá que esta sabedoria


representa, figurativamente, a “bússola” judaica, quer dizer, o manancial
inesgotável de onde se obtém o discernimento (o rumo, o caminho) para viver, se
superar e servir a D´us.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

- Por questão de didática, os valores judaicos (as chaves para o sucesso) foram
apresentados individualmente. No entanto, precisam ser entendidos sob contexto
integrado, pois se fundem na prática.

- As considerações foram feitas no sentido de retratar a habilidade de um


povo para tratar de negócios. Ou seja, revelam a personalidade de algo coletivo, por
meio da construção da imagem do “judeu típico”. Portanto, deve-se admitir a
existência de diferenças nesta habilidade quando se considera o plano individual
(cada judeu).

- As adversidades históricas enfrentadas pelos judeus foram decisivas para a


consolidação destes valores, exatamente pela implícita necessidade de superá-las.

- A superação das adversidades demonstra o perfil ativo e altivo do povo


judeu. Esta singularidade de caráter é que o coloca como protagonista das situações.
- A capacidade ímpar do “judeu típico” de bem lidar com os negócios não
pode ser vista como mero acaso, já que foi sedimentada, ao longo de muito tempo,
pelo rumo determinado por sua “bússola”, isto é, pela sabedoria nele impregnada.

- É certo que alguns desses valores são compartilhados por outros povos, uma
vez que possuem natureza intuitiva. Assim, acredito que o diferencial a favor dos
judeus, no campo dos negócios, esteja associado a uma combinação ótima destes
valores, induzida por sua singular história e incomparável sabedoria.

- A compreensão destes valores, e a eventual assimilação de parte deles, são


de fundamental importância para as pessoas interessadas em se aprimorar no
campo dos negócios (ser empreendedor de sucesso).

View publication stats

Você também pode gostar