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Vimalakirti

Nirdesa Sutra
Tradução da versão em inglês de Robert Thurman

1. Purificando a Terra Pura

2. Habilidade Inconcebível nas Formas de Liberação

3. A relutância dos discípulos em visitar Vimalakirti

4. A relutância dos bodisatvas

5. A consolação do doente

6. A liberação inconcebível

7. A deusa

8. A família dos Tathagatas

9. A porta do Darma da não-dualidade

10. O banquete trazido pela encarnação emanada

11. Lição do destrutível e do indestrutível

12. Visão do Universo Abhirati e do Tathagata Aksobhya

Epílogo

CAPÍTULO 1

1
Purificando a Terra Pura1
Reverência a todos os Budas, Bodisatvas, Aryasravakas, e Pratyekabudas, do
passado, presente e futuro.

Assim eu ouvi:

Uma vez o Senhor Buda2 estava residindo no jardim de Amrapali, na cidade de


Vaisali , acompanhado por uma grande assembleia de oito mil Bhikkus, todos santos4.
3

Eles estavam livres das impurezas das aflições e todos tinham alcançado maestria
sobre si mesmo. Suas mentes estavam completamente liberadas pelo conhecimento
perfeito. Eram calmos e dignos, como elefantes reais. Tinham completado o seu
trabalho, feito o que deviam fazer, expulso os seus fardos, alcançado os seus
objetivos, e destruído totalmente as amarras da existência. Todos eles tinham
alcançado a perfeição suprema, nas formas do controle da mente5.

Os bodisatvas eram 32.000, grandes heróis6 espirituais que foram aclamados


universalmente. Eles eram dedicados através da atividade penetrante dos seus
grandes super conhecimentos7, e eram apoiados pela benção8 do Buda. Guardiães da
cidade do Darma, eles apoiavam a verdadeira doutrina9, e os grandes ensinamentos
ecoavam como o rugido do leão por meio das dez direções. Sem ter que se perguntar,
eles foram a benfeitores espirituais10 naturais de todos os seres vivos. Mantinham sem
interrupção a sucessão das Três Joias, conquistando os demônios e os inimigos e
vencendo todas as críticas.

Sua atenção plena, inteligência, realização, meditação, encantamento11 e


eloquência eram todos perfeitos. Eles estavam livres de todas as obscuridades e
1 Skt. buddhaksetra. A grosso modo, sinônimo de "universo", embora a cosmologia budista contém muitos universos de diferentes
tipos e dimensões. "Terra-Pura" indica, em relação a qualquer tipo de mundo-esfera, que é o campo de influência de um
determinado Buda. Para uma discussão detalhada sobre esses conceitos, consulte Lamotte, Apêndice, Nota I. Nota da revisão:
também chamado de reino puro. A partir da visão da sabedoria do Buda, qualquer lugar se torna uma Terra Pura. De acordo com
Dilgo Khyentse Rinpoche: No Sutrayana podemos ver que antes da sua iluminação, bodisatvas como Amitabha, fizeram orações
profundas e grandiosas oferendas para todos os Budas . Eles oraram para que pudessem manifestar uma Terra Pura e, em seguida,
emanar-se dentro dela, de modo a trazer o maior benefício possível para todos os sencientes. A partir da perspectiva Vajrayana, no
entanto, o entendimento de Terra Pura é mais profundo. A raiz do Vajrayana é a " visão pura ", ou a percepção da perfeita pureza de
todos os fenômenos. Para realizar essa pureza de percepção, não percebemos o lugar onde estamos agora apenas como um lugar
comum; nós imaginamos que seja uma Terra Pura". O termo em tibetano é sbyong ba que traz o sentido de preparar-se. Em outras
palavras, através da visualização, oração e aspiração, nós nos preparamos e montamos o nosso reino puro para quando precisarmos
dele.

2 Skt. bhagavan bhuda. "Senhor" é escolhido como o termo de maior respeito em Inglês, o que corresponde a bhagavan (ver
Glossário 3, sob o título "Senhor").
3 Essa era uma cidade importante na época do Buda, a capital da república de Licchavi.
4 Skt. Arhat. "Santo", derivado do latin sanus, "limpo", descreve bem o arhat budista, que chegou a esta fase por se purificar de
todas as paixões contaminadas e ignorância.
5 Esta lista de qualidades dos santos discípulos (aryasravaka) está ausente na chinesa de K e H. É, no entanto, freqüentemente
encontrado em escrituras Mahayana (veja Lamotte, p. 98, n. 2).
6 Skt. mahasattva. Esta tradução segue a Tib. sems dpa chen po (lit. "grande herói da mente"), cuja tradução do sânscrito deriva de
lo tsva ba’s análise de sattva no sentido de "herói", ao invés de simplesmente "ser".
7 Skt. Mahabhijna. Estes são ou cinco ou seis em número (ver Glossário 2).
8 Skt. Buddhadhistana. (lit. "apoio do Buda"). Este conceito refere-se à milagrosa energia do Buda, que sustenta todos os
bodisatvas em seus esforços inumeráveis.
9 Esta frase está ausente em T, mas está incluído no K e H.
10 Skt. Kalyanamitra. (lit. "amigo virtuoso"). Um professor Mahayana é chamado de "amigo" ou "benfeitor", que indica que o
caminho do bodisatva depende de esforço próprio e que tudo que um professor pode fazer é inspirar, exemplificar, e apontar o
caminho
11 Skt. Dharani. Esses encantamentos ou feitiços, são fórmulas mnemônicas, possuídas por bodisatvas avançados, que contêm a
quintessência de suas realizações, e não simplesmente encantamentos mágicos — embora este último esteja incluído (ver Glossário
3, em "encantamento)."

2
envolvimentos emocionais, vivendo a liberação sem impedimento. Eles eram
totalmente dedicados através da transcendência de generosidade, subjugada,
inabalável, sincera moralidade, tolerância, esforço, meditação, sabedoria, habilidade
em técnicas para liberação, compromisso, força e sabedoria12. Tinham alcançado a
tolerância intuitiva da incompreensibilidade suprema de todas as coisas13. Eles
giravam a irreversível roda do Darma14. Estavam estampados com a marca da
vacuidade.

Eram peritos no conhecimento das faculdades espirituais de todos os seres


vivos. Eram valentes com a convicção que intimidavam todas as assembleias. Tinham
reunido grandes reservas de mérito e de sabedoria15, e seus corpos, formosos e sem
ornamentos, estavam adornados com todos os sinais e marcas auspiciosos 16. Eles
eram exaltados em fama e gloria, como o pico elevado do Monte Sumeru. Suas
elevadas determinações eram fortes como um diamante, inquebrantáveis em sua fé no
Buda, Darma e Sanga; eles banhavam-se na chuva da ambrosia que é liberada pelos
raios de luz do Darma, o qual brilha em todos os lugares.

Suas vozes eram perfeitas em dicção, ressonância e versáteis na fala de todos


os idiomas. Eles tinham penetrado o princípio profundo da relatividade17 e tinham
destruído a persistência dos instintivos hábitos mentais subjacentes a todas as
convicções referentes à finitude e infinitude18. Falavam destemidamente, como leões,
soando o trovão do magnifico ensinamento. Inigualáveis, ultrapassavam todos os
limites. Eles eram os melhores capitães de viagens nos descobrimentos dos tesouros
do Darma, as reservas de mérito e virtude.

Eles eram peritos no caminho do Darma, que é direto, tranquilo, sutil, suave,
difícil de ver, e difícil de realizar. Estavam dotados com a sabedoria que é capaz de
compreender os pensamentos dos seres vivos, assim como de suas vindas e idas.
Foram consagrados com a virtude da inigualável sabedoria primordial do Buda. Com a
sua grande determinação, aproximaram-se dos dez poderes, dos quatro destemores,
e das dezoito qualidades especiais do Buda19.

Eles haviam cruzado o abismo aterrador das más migrações20, e ainda


assumiam voluntariamente o renascimento em todas as migrações por um voto de

12 Os dez transcendentes (dasaparamitah) que corresponde aos dez estágios (dasabumayah) do bodistava (ver Glossário 2).
13 Skt. Anupalabdhidharmaksanti. Ver Glossário 3, sobre “incompreensibilidade” e “tolerância”.
14 Skt. Avaivartikadharmacackra. O fato de que o Darma não um simples dogma, lei, ou sistema fixo mas em vez disso um
organismo adaptável com técnicas disponíveis para qualquer ser vivo pano auxilio do seu desenvolvimento e liberação é enfatizada
por esta metáfora. É dito que esta roda transforma pelo fluxo de energia a partir das necessidades e desejos dos seres vivos, e seu
funcionamento automaticamente converte as energias negativas (por exemplo, o desejo, ódio e ignorância) em positivas (por
exemplo, o desapego, o amor, e sabedoria).
15 Skt. Punyajnanasambhabra. As duas grandes acumulações a serem cultivadas pelos bodisatvas: o acumulo de mérito, surgindo
da pratica, das três transcendências e o acumulo de sabedoria, surgindo das duas últimas transcendências. (ver Glossário 2,
sobre”duas acumulações”).
16 Skt. Laksananuvyanjna. As trinta e duas marcas maiores e as oitenta marcas menores de um ser iluminado (ver Glossario2).
17 Skt. Pratityasamutpada. Na maioria dos contextos, esse termo é traduzido como “originação dependente”. Mas no contexto da
Madhyamika, aonde o conceito de não originação absoluta de todas as coisas é enfatizado, “relatividade” serve para passar a
mensagem que as coisas só existem apenas em relação a designação verbal ou que nada existe independente, entidade auto existente,
mesmo em um nível superficial (veja Glossário 3, sobre “relatividade”).
18 Tib. mtha dan mtha med par Ita bai bag chags kyi mtshams sbyor ba kun bcod pa, Skt.
antanantadrstivdsandbhisamdhisamucchedaka. "Convicções relativas a finitude" refere-se a dois tipos de extremismo, o
absolutismo e o niilismo, e "convicções relativas a infinidade" refere-se às convicções que supõe a nulidade (ou seja, o infinito, etc.)
como uma entidade auto existente. Assim, é dito que os bodisatvas realizam, mesmo no nível subconsciente, tanto a vacuidade das
coisas e a vacuidade da vacuidade.
19 Skt. dasabaldni, catvarivaisaradydni, e astadasavenikabuddhadharmah. Para a lista destes, ver Glossário 2.
20 Skt. durgati. As três más migrações são as de (1) habitantes do inferno, (2) habitantes do "limbo" dos seres famintos, onde
vagam como um desgraçado insaciavelmente com fome e sede, e (3) os animais, que estão presos no padrão de devoração mútua.
Veja Glossário 2.

3
disciplinar os seres vivos. Grandes Reis da medicina compreendendo todas as
moléstias das paixões, eles aplicavam a medicina do Darma apropriadamente.

Eram minas inesgotáveis de virtudes, e glorificavam inumeráveis Terras Puras


com o esplendor dessas virtudes. Conferiam grandes benefícios ao serem vistos,
ouvidos, ou ainda ao aproximarem-se. Eram alguém para serem enaltecidos por
inumeráveis centenas de milhares de miríades de éons, e ainda não esgotariam o seu
poderoso oceano de virtudes.

Estes bodisatvas eram chamados: Samadarsana, Asamadarsana,


Samadhivikurvitaraja, Harmesvara, Dharmaketu, Prabhaketu, Prabhavyuha,
Ratnavyuha, Mahavyuha, Pratibhanakuta, Ratnakuta, Ratnapani, Ratnamudrahasta,
Nityapralambahasta, Nityotksipthasta, Nityatapta, Nityamuditendriya, Pramodyaraja,
Devaraja, Pranidhanapravesaprapta,Prasiddhapratisamvitprapta, Gaganaganja,
Ratnolkaparigrhita, Ratnasura, Ratnapriya, Ratnasri, Indrajala, Jaliniprabha,
Niralambanadhyana, Prajnakuta, Ratnadatta, Marapramardaka, Vidyuddeva,
Vikurvanaraja, Kutanimittasamatikranta, Simhanadanadin, Giryagrapramardiraja,
Gandhahastin, Gandhakunjaranaga, Nityodyukta, Aniksiptadhura, Pramati, Sujata,
Padmasrigarbha, Padmavyuha, Avalokitesvara, Mahasthamaprapta, Brahmajala,
Ratnadandin, Marakarmavijeta, Ksetrasamalamkara, Maniratnacchattra, Suvarnacuda,
Manicuda, Maitreia, Manjusrikumarabhuta, e assim por diante, com os restantes trinta
e dois mil21.

Estavam também ali reunidos dez mil Brahmas, ao lado do seu Brahma
principal, Sikhin22, que tinha vindo do universo Ashoka com os seus quatro setores
para ver, venerar, e servir o Buda e para escutar o Darma da sua própria boca.
Estavam ali doze mil Sakras23, de vários universos dos quatro setores. E estavam ali
outros poderosos deuses: Brahmas, Sakras, Lokapalas24, devas, nagas, yakshas,
gandharvas, asuras, garudas, kimnaras,e mahoragas25. Finalmente, ali estava a
comunidade quádrupla, consistindo de Bhikkhus, Bhikkhunis, leigos e leigas26.

O Senhor Buda, assim rodeado e venerado por essas multidões de muitas


centenas de milhares de seres vivos, sentou-se sobre um majestoso trono de leão, e
começou a ensinar o Darma. Dominando todas as multidões, justamente como o
Sumeru, o rei das montanhas, surgindo sobre os oceanos, o Senhor Buda brilhava,
irradiava e reluzia sentado sobre o seu magnifico trono de leão.

21 Para referências exaustivas a respeito da presença de alguns desses bodisatvas em outros sutras Mahayana, consulte Lamotte,
pp. 100-102, ns. 12-33. As listas chinesas em K e H variam um pouco; veja Luk, pp 3 -4, para K.; e Lamotte, p. 102, de H. Para
obter informações sobre os bodisatvas mais conhecidos, ver Glossário 1.
22 Na cosmologia Budista geral, um Brahma é o deus supremo criador de todas as coisas no universo, assim conforme
nominalmente à crença indiana atual. Em particular, na visão Mahayana, a multiplicidade do universo é evidenciada pela presença
de dez mil desses deuses, cada um a partir seu próprio universo, e seu líder, Sikhin, vindo do universo Asoka ("sem sofrimento").
23 Um Sakra, aliás Jndra, é um rei dos deuses do reino do desejo (kamadhatu) de um universo particular; portanto, um Sakra é o
menor em status que um Brahma, que reside no ápice do reino da forma (rupadhatu).
24 Lokapalas são Protetores do Mundo, Maharajas, que atuam como os guardiões das quatro direções, seus nomes não Vaisravana,
Dhrtarastra, Virudhaka, e Virupaksa. Eles são particularmente proeminentes no Suvarnabhasa-sutra, em que eles surgem e fazem o
voto de defender o Dharma e proteger os seus professores e praticantes. Novamente, cada universo tem seu próprio conjunto de
quatro guardiões, então muito poucos podem ser afirmados estarem presentes nesta assembleia.
25 A lista de “devas” e “mahogaras” são o nome de oito tipos de seres sobrenaturais sempre presentes nas assembleias do Buda:
deuses, seres benevolentes semelhantes a dragões, floresta-demônio, fadas, titãs, pássaros mágicos semelhantes a águias, criaturas
da montanha semelhante a seres humanos com cabeça de cavalo, e criaturas semelhantes a serpentes.
26 Bhiksus são monges de plenamente ordenados que vivem de esmolas, e bhiksumsas mulheres com mesma ordenação. Leigos e
leigas (upasaka e upasika) são chefes de família com votos definitivos para defini-los como sendo diferentes de chefes de família
comuns.

4
Em seguida, o bodisatva Licchavi Ratnakara27, com quinhentos jovens Licchavi,
cada um segurando um precioso parasol feito de sete tipos diferentes de joias28,
vindos da cidade de Vaisali e eles mesmos presentearam no bosque de Amrapali.
Cada um aproximou-se do Buddha, inclinou-se diante dos seus pés,
circomumbunlaram em sentido horário sete vezes, pousaram o seu precioso parasol
em oferenda, e retiraram-se para o lado.

Assim que todos estes preciosos parasois foram colocados no chão,


repentinamente, pelo poder milagroso do Senhor Buda, eles foram transformados num
simples e precioso dossel tão grande que formou uma cobertura para esta galáxia
inteira de bilhões de mundos29. A superfície da galáxia inteira de bilhões de mundos foi
refletida no interior do grande dossel precioso, onde o conteúdo total desta galáxia
podia ser visto: mansões ilimitadas de sois , luas e corpos estelares; os reinos dos
devas, nagas, yakshas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras e mahoragas, assim
como os reinos dos quatro Maharajas; o rei das montanhas, Monte Sumeru; Monte
Himadri, Monte Mucilinda; Monte Mahamucilinda; Monte Gandhamadana; Monte
Ranaparvata; Monte Kalaparvata; Monte Cakravada; Monte Mahacakravada30; todos
os grandes oceanos, rios, baías, caudais, correntes, riachos e nascentes; finalmente,
todas as vilas, subúrbios, cidades, capitais, províncias, desertos. Tudo isto podia ser
claramente visto por todos. E as vozes de todos os Budas das dez direções podiam
ser ouvidas proclamando os seus ensinamentos do Darma em todos os mundos, os
sons reverberando no espaço debaixo do grande dossel precioso.

Perante esta visão do esplendido milagre simulado pelo poder sobrenatural do


Senhor Buda, a totalidade dos convidados estava em êxtases, arrebatados,
assombrados, deleitados, satisfeitos e plenos de admiração e prazer. Todos eles se
inclinaram perante o Tathagata, se retiraram para um lado com as palmas juntas, e o
olharam com atenção fixa. O jovem Licchavi Ratnakara ajoelhou-se sobre o seu joelho
direito no solo erguendo as suas mãos; as palmas pressionadas juntas em saudação
ao Buda, e louvo-o com o seguinte hino:

Puros são teus olhos, amplos e formosos, como as pétalas de um lótus azul.
Puro é o teu pensamento, tendo descoberto a suprema transcendência de toda agitação31.
Incomensurável é o oceano das tuas virtudes, a acumulação dos teus bons atos.
Tu afirmas o caminho da paz.
Oh, grande Asceta, obediência a ti!

Guia, domador de homens32, nós contemplamos a revelação do teu milagre.

27 Tib. dkon mchog 'byun gnas (lit. “Mina de joias”). A versão Chinesa dá seu nome como "Raio-de-Joias" (Ratnarasi), apesar de o
Skt. Ratnakara ser amparado por aparecer num certo número de outros sutras Mahayana, onde também é identificado como
Licchavi, um filho de comerciante, e um grande bodisatva do décimo estágio. Para referências completas, ver Lamotte, p. 103, n. 38.
28 As joias eram de ouro, prata, pérola, safira, rubi, esmeralda e diamante, embora várias fontes podem alterar esta lista
ligeiramente.
29 Skt. Trisahasramahdsahasralokadhatu. (lit. "de três mil grandes mil reinos mundiais "). Cada um deles é composto por mil
domínios, cada um dos quais contém mil reinos, cada qual contendo mil reinos = mil para a terceira potência = um bilhão de
mundos. O termo "galáxia" foi escolhido para evocar a sensação de alcance inconcebível pretendido pelo termo em original em
sânscrito, uma vez que tais termos cosmológicos nunca foram destinados a uma precisão material, mas sim em desencadear uma
visão imaginativa de inconcebível imensidão cósmica. Eu modifiquei o seguinte catálogo de objetos e lugares para se parecer a uma
cosmologia mais moderna.
30 Esta lista de montanhas, de acordo com Lamotte (p. 104, n. 41), ocorre em outros sutras Mahayana, mas não corresponde à
cosmologia budista habitual, exceto para o fato de que Sumeru, mencionado antes, está no centro (de cada mundo) e Monte
Cakravada, é na verdade uma cadeia de montanhas, é mencionado e circunda cada mundo dos quatro continentes. Esta lista é o
primeiro na ordem de T.
31 Tib. zi gnas pha rol phyin mchog brhes Skt. Samathaparamitaprapta. Shamata pode ser descrita de forma adequada como
"quietude mental" quando se refere, em geral, a um dos dois principais tipos de meditação Mahayana; o outro é "análise
transcendental" ou "visão analítica" (vipassana). Neste versículo, no entanto, Ratnakara se refere a ele em seu aspecto de realização
final; portanto, "trance" transmite melhor a sensação de extrema fixação uni direcionada da mente.
32 Tib. skyes bui khyu mchog; Skt purusarsabha. Este é um epíteto comum para o Buda que contém uma analogia o comparando
com o touro chefe de um rebanho de gado por causa de seu poder e majestade.

5
Os maravilhosos e radiantes campos dos Sugatas aparecem diante de nós.
E os teus extensos ensinamentos espirituais, que levam à imortalidade33,
Fazem-se ouvir a si mesmos através do espaço inteiro.

Rei do Dharma, tu reges com o Dharma o teu supremo reino do Dharma.


E nisso concedes os tesouros do Dharma sobre todos os seres vivos.
Extremamente hábil na análise profunda das coisas, ensinas o significado supremo34.
Soberano Senhor do Dharma, obediência a ti!

Todas estas coisas surgem, dependente de causas,


E nenhuma delas são existentes ou não inexistentes.
Ali não há nem eu, nem experimentador, nem fazedor,
Além disso, ação boa ou má, perde os seus efeitos35.
Tal são os teus ensinamentos.

Ó, Shakyamuni, conquistador da poderosa hoste de Mara,


Voce encontrou paz, imortalidade, e a felicidade da suprema iluminação,
Que não é realizada por ninguém entre os heterodoxos36,
Embora eles detenham os seus sentimentos, pensamentos e processos mentais.

Ó, Maravilhoso Rei do Dharma,


Voce girou a roda do Dharma diante de humanos e deuses,
Com a sua tripla revolução, seus múltiplos aspectos37,
Sua natureza de pureza, e sua extrema paz;
E desse modo as Três Joias foram reveladas.

Aqueles que são bem disciplinados pelo teu precioso Darma


São livres de imaginações vãs, e sempre profundamente pacíficos.
Supremo médico, você coloca fim ao nascimento, decadência, enfermidade e morte.
Incomensurável oceano de virtude, obediência a ti!

Como o Monte Sumeru, você é inamovível pela honra ou o desprezo.


Voce ama igualmente aos seres morais ou imorais.
Repousado na equanimidade, a tua mente é como o céu,
Quem não honraria semelhante joia preciosa de tal ser38?

Grande Sábio, em todas estas multidões reunidas aqui,


Quem vê o teu semblante com corações sinceros na fé,

33 Tib. ‘chi med 'gro; Skt. Amrtaga. (lit. "vai para a imortalidade"). Os ensinamentos do Buda levam ao nirvana; no nirvana não há
nascimento, e onde não há nascimento não há morte.
34 A diferença sutil aqui entre T e Ch. de K e H é notável. T causalmente refere-se a "análise profunda das coisas" (Skt. Dharma
pravicaya) para o ensinamento de significado absoluto, o que está de acordo com a ênfase Indo-Tibetana em "análise
transcendental" (vipasyana) como indispensável para a realização da natureza última das coisas. Ch. (ambos K. e H) coloca os dois
(análise e o absoluto) em oposição, dizendo: "(Você é) especialista em análise da natureza de todas as coisas, (ainda é) impassível
em relação ao sentido absoluto, (como você) já atingiu soberania com relação a todas as coisas. "
35 O fato sobre a doutrina budista que mais perplexa de críticos antigos é que a causa e efeito do carma operam sem qualquer
princípio de ego de vincular o fazedor de uma ação e aquele que experimenta efeitos cármicos dessa ação.
36 Skt. Tirthika. Apesar de "heterodoxo" poder ser menos familiar do que o familiar "herege", é menos preocupante com as
conotações de fanatismo; conotações não se aplicam ao Budismo, porque não é simplesmente uma "fé" para ser acreditada ou
desacreditada. A gramática tibetana deixa ambíguo quanto a saber se a ausência de sensação, etc., refere-se à iluminação ou à
heterodoxa. K e H indicam o primeiro, mas nós escolhemos o último para evitar a caracterização da iluminação suprema como um
mero "não pensar", etc., uma vez que obviamente transcende todas as polaridades. Além disso, está de acordo com o teor da
Escritura de distinguir entre a iluminação e da mera obtenção de até mesmo o samadhi mais avançado.
37 Tib. Ian gsum bzlas pa chos kyi’khor lo rnam man po. Embora T não mencione os aspectos como "doze", Lamotte fornece isto a
partir da ocorrência da fórmula em outras Escrituras, onde as três revoluções correspondem, respectivamente, aos caminhos de
insight (darsanamarga), Meditação (bhavandmarga) e Não mais treinar (asaiksamarga), cada revolução tendo quatro aspectos
correspondentes as Quatro Nobres Verdades. A primeira revolução envolve o reconhecimento de cada verdade, a segunda o
conhecimento profundo de cada uma, e a terceira completa a realização de cada uma. Veja Lamotte, p. 107, n. 49; MVy, nos. 1309-
1324. No entanto, uma vez que T não menciona os "doze aspectos" (nem K e H), mas "muitos aspectos," é possível que o que está
previsto é as três doutrinas de Buda elaboradas no Samdhinirmocana-sutra, também conhecidos como os "Três Giros da Roda do
Dharma"; ou seja, o ensinamento do Hinayana das Quatro Nobres Verdades, o ensinamento Madhyamika da Sabedoria
Transcendente, e o ensino Vijnanavada de "Discriminando entre a existência e não-existência" (Veja SN, VII, 30, no., 85 pp., 206).
38Após este verso, há dois versos em K e H, não em T. Para versos em K, ver Luk, p. 7, 11. 3-1 0; H para ver Lamotte, p. 108. Já
que H tende a ser mais consistente com T, vou traduzir H: "A galáxia de bilhões de mundos, com seus reinos dos deuses e dragões,
aparece nos pequenos parasol oferecido ao Senhor; assim, nós nos curvamos à sua visão, conhecimento e grandeza de virtudes. O
Senhor mostra os mundos para nós com este milagre, todos eles são como um jogo de luzes, como todos testemunharam com
espanto. Reverência ao Senhor dos dez poderes, dotado de conhecimento e visão. "

6
Cada ser contempla o Vencedor, como se estivesse diante dele
Esta é uma qualidade especial do Buda39.

Embora o Senhor fale com uma só voz,


Os presentes percebem essa mesma voz diferentemente,
E cada um compreende na sua própria linguagem segundo as suas próprias necessidades.
Esta é uma qualidade especial do Buda40.

Do ato do Líder que fala a uma só voz


Alguns desenvolvem meramente o instinto para os ensinamentos, outros ganham realização,
E outros ainda encontram a pacificação de todas as suas dúvidas.
Esta é uma qualidade especial do Buda.

Obediência a ti que comandas a força da liderança e dos dez poderes!


Obediência a ti que és destemido, não conhecendo o medo!
Obediência a ti, guia de todos os seres vivos,
Que manifestas plenamente as qualidades especiais!
Obediência a ti a quem cortou a servidão de todas as algemas!
Obediência a ti que, foste mais além, e paraste em terra firme!
Obediência a ti que salvas os seres sofredores!
Obediência a ti que não permaneces nas migrações!

Tu associas-te com os seres vivos, frequentando as suas migrações.


No entanto, a sua mente está livre de todas as migrações.
Assim como o lótus, nascido da lama, por ela não é manchado,
Assim o lótus do Buda preserva a realização da vacuidade

Você anula todos os sinais em todas as coisas em qualquer lugar.


Não estás sujeito a qualquer tipo de desejo41.
O poder milagroso dos Budas é inconcebível.
Inclino-me perante você, que estás em todos os lugares, como o espaço infinito.

Depois de o jovem Licchavi Ratnakara ter exaltado o Buda com estes versos,
dirigiu-se a ele: “Senhor, estes quinhentos jovens Licchavis estão verdadeiramente no
caminho para a incomparável perfeita iluminação e tem perguntado qual é a
purificação da Terra Pura42 dos bodisatvas. Por favor, Senhor, explique-lhes a
purificação da Terra Pura dos bodisatvas!”.

Sobre esse pedido, o Buda deu a sua aprovação ao jovem Licchavi Ratnakara:
“Muito bom, muito bom, jovem homem! A sua pergunta ao Tathagata acerca da
purificação da Terra Pura é sem dúvida boa. Por tanto, jovem, escuta bem e lembre-
se! Explicarei a purificação da Terra Pura dos bodisatvas”.

“Muito bom, Senhor”, replicou Ratnakara e os quinhentos jovens Licchavis


prepararam- se para escutar.

39 Skt. avenikabuddhadharma. Este e os dois versos subsequentes (Cap. 3) ilustram algumas das qualidades especiais do Buda, que
totalizam dezoito (ver Glossário 2 para uma lista completa).
40 Este verso em T parece ser uma contração de dois versos em K e H: "O Senhor fala com uma só voz, mas, todos os seres, cada
um segundo o seu tipo, obtém a compreensão, cada um pensando que o Senhor fala sua própria língua. Esta é uma qualidade
especial do Buda. O Senhor fala com uma só voz, mas todos os seres, cada um segundo a sua própria capacidade, atua sobre ele, e
cada um recebe seu benefício adequado. Esta é uma qualidade especial do Buddha ". Para ver K Luk, p. 7. Para uma interessante
discussão sobre a fala do Buda, ver Lamotte, pp. 109 - 110, n. 52.
41 Esta e as duas linhas anteriores atribuem ao Buda a realização das três portas da liberação (ver Glossário 2).
42 Tib. byan chub sems dpa rnams kyi sans rgyas kyi zin yons su dag pa; Skt. Bodhisattvanam buddhaksetraparisodhana (ou
parisuddhi). Ainda que as explicações dadas pelo Buda evitassem a necessidade de discussão sobre o significado deste termo, vale a
pena notar que este conceito é o corolário lógico de concepção da iluminação do bodisatva de: que seja atingido por uma questão do
bem de todos os seres sencientes como para o seu próprio bem. Assim, a busca do bodisatva pela iluminação não envolve apenas o
seu próprio desenvolvimento, apesar de que é a direção primária; ele deve também envolver o seu cultivo de um "campo" de todos
os seres vivos, aqueles que, através da interconexão cármica, tendo destinos entrelaçados com o seu, ocupando os mesmos mundos,
como ele, etc. Por isso, a sua purificação de uma Terra Pura é um modo de expressar sua ambição de cultivar todo mundo ou
universo, enquanto ele cultiva a si mesmo, para que ele e seu campo de seres vivos possam alcançar a iluminação simultaneamente.

7
O Buda disse: “Nobres filhos, a Terra Pura de um bodisatva é um campo de
seres vivos. Porque é assim? Um bodisatva abraça uma Terra Pura na mesma medida
em que ele faz com que os seres vivos se desenvolvam. Ele abraça uma Terra Pura
na mesma medida em que os seres vivos se tornam disciplinados. Ele abraça uma
Terra Pura na mesma medida em que, através do acesso a uma Terra Pura, os seres
vivos são introduzidos ao conhecimento do Buda. Ele abraça uma Terra Pura na
mesma medida em que, através do acesso a uma Terra Pura, os seres vivos
aumentem as suas sagradas faculdades espirituais43. Porque é assim? Nobre filho,
uma Terra Pura de bodisatvas nasce das aspirações dos seres vivos”.

“Por exemplo, Ratnakara, alguém que deseja construir num espaço vazio pode
fazer isso, apesar do fato de que não é possível construir ou adornar nada num
espaço vazio. Exatamente do mesmo modo, um bodisatva, que conhece
completamente bem, que todas as coisas são como o espaço vazio, se desejasse
construir uma Terra Pura com o objetivo de desenvolver os seres vivos, poderia fazê-
lo, apesar do fato de não ser possível construir ou adornar uma Terra Pura num
espaço vazio44.

“Todavia, Ratnakara, uma Terra Pura de um bodisatva é um campo de


pensamento positivo45. Quando ele alcança a iluminação, os seres vivos livres de
hipocrisia e engano nascerão na sua Terra Pura”.

“Nobre filho, uma Terra Pura de bodisatva é um campo de aspirações


elevadas. Quando ele obtém a iluminação, os seres vivos que tem duas colheitas
armazenadas e tiverem plantado as raízes da virtude nascerão na sua Terra Pura.”

“Uma Terra Pura de um bodisatva é um campo de ação virtuosa. Quando ele


alcança a iluminação, os seres vivos que vivem por todos os princípios virtuosos
nascerão na sua Terra Pura”.
“Uma Terra Pura de um bodisatva é a esplêndida concepção do espírito da
iluminação. Quando ele alcança a iluminação, os seres vivos que estão atualmente
trilhando o Mahayana nascerão na sua Terra Pura46”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva é um campo de generosidade. Quando ele


alcança a iluminação, os seres vivos que abandonaram todas as suas possessões
nascerão na sua Terra Pura”.
“Uma Terra Pura de bodisatva é um campo de moralidade. Quando ele alcança
a iluminação, os seres vivos que seguem o caminho das dez virtudes com
pensamentos positivos nascerão na sua Terra Pura”.

“Uma Terra Pura de bodisatva é um campo de paciência. Quando ele alcança a


iluminação, os seres vivos com a paciência, disciplina e concentração transcendentes
– portanto, com a beleza dos trinta e dois sinais auspiciosos - nascerão na sua Terra
Pura”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva é um campo de meditação. Quando ele


alcança a iluminação, os seres vivos que estão uniformemente equilibrados através da
plenitude mental e da consciência nascerão na sua Terra Pura”.

43 Tib. phags pa lta bui dban po; Skt. aryendriyani ou pancendriyani. As cinco faculdades espirituais (veja Glossário 2).
44
44
45
46

8
“Uma Terra Pura de um bodisatva é um campo de sabedoria. Quando ele
alcança a iluminação, os seres vivos que estão destinados à iluminação47 nascerão na
sua Terra Pura”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva consiste das quatro incomensuráveis.


Quando ele alcança a iluminação, os seres vivos que vivem por amor, compaixão,
alegria e imparcialidade, nascerão na sua Terra Pura48”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva consiste nos quatro meios de unificação.


Quando ele alcança a iluminação, os seres vivos que estão mantidos juntos por todas
as liberações nascerão na sua Terra Pura”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva é a habilidade nos meios da liberação.


Quando ele alcança a iluminação, os seres vivos habilidosos em todas as atividades e
meios de liberação nascerão na sua Terra Pura”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva consiste nas trinta e sete ajudas para a
iluminação. Os seres vivos que dedicam os seus esforços às quatro aplicações da
atenção plena, os quatro esforços corretos, as quatro bases do poder mágico, as cinco
faculdades espirituais, as cinco vantagens, os sete fatores de iluminação, e os oito
ramos do caminho sagrado, nascerão na sua Terra Pura”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva é a dedicação total da sua mente. Quando


ele alcança a iluminação, os ornamentos de todas as virtudes aparecerão na sua Terra
Pura”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva é a doutrina que erradica as oito


adversidades. Quando ele alcança a iluminação, as três más migrações cessarão, e
não haverá tais coisas como as oito adversidades na sua Terra Pura”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva consiste na sua observância pessoal dos


preceitos básicos49 e na sua restrição em culpar os outros pelas suas transgressões.
Quando ele alcança a iluminação, até a palavra “crime” nunca será mencionada na
sua Terra Pura”.

“Uma Terra Pura de um bodisatva é a pureza do caminho das dez virtudes.


Quando ele alcança a iluminação, os seres vivos que estão seguros numa longa vida,
em boa saúde, castos em conduta, aperfeiçoados pela fala verdadeira, de fala suave,
livres das intrigas divisórias e peritos em reconciliar as facções, iluminando nas suas
conversações50, livres da inveja, livres da malícia e dotados com a visão perfeita
nascerão na sua Terra Pura”.

"Assim, nobre filho, tal como é a geração do espírito da iluminação do


bodisatva, assim é o seu pensamento positivo. E da mesma maneira que é o seu
pensamento positivo, assim é a sua aplicação virtuosa.

"A sua aplicação virtuosa é equivalente à sua forte confiança, a sua forte
confiança é equivalente à sua determinação, a sua determinação é equivalente à sua
prática e a sua prática é equivalente à sua total dedicação, a sua total dedicação é
equivalente à sua habilidade de liberação, a sua habilidade de liberação é equivalente

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ao seu desenvolvimento de seres vivos, e o seu desenvolvimento de seres vivos51 é
equivalente à pureza da sua Terra Pura.

"A pureza da sua Terra Pura reflete a pureza dos seres vivos; a pureza dos
seres vivos reflete a pureza do seu conhecimento; a pureza do seu conhecimento
reflete a pureza da sua doutrina; a pureza da sua doutrina reflete a pureza da sua
prática transcendental52; e a pureza da sua prática transcendental reflete a pureza da
sua própria mente."

Após isto, magicamente influenciado pelo Buda, o venerável Shariputra53


pensou: "Se a Terra Pura só é pura na medida em que a mente do bodisatva é pura,
então, quando o Buda Shakyamuni estava trilhando o caminho do bodisatva, a mente
dele devia ter sido impura. Caso contrário, como podia esta Terra Pura parecer tão
impura?"

O Buda, conhecendo telepaticamente o pensamento do venerável Shariputra


disse-lhe, "O que pensa você, Shariputra? O sol e a lua são impuros devido aos cegos
de nascença não os verem?"

Shariputra respondeu, "Não, Senhor. Não é assim. É defeito dos cegos de


nascença e não do sol e da lua."

O Buda declarou: "Da mesma maneira, Shariputra, o fato de alguns seres vivos
não verem a esplêndida exibição das virtudes da Terra Pura do Tathagata é devido à
própria ignorância deles. Não é a falha do Tathagata. Shariputra, a Terra Pura do
Tathagata é pura, mas você não vê isso."

Então o Brahma Sikhin disse ao venerável Shariputra: "Venerável Shariputra,


não digaque Terra Pura do Tathagata é impura. Venerável Shariputra, a Terra Pura do
Tathagata é pura. Eu vejo a esplêndida expansão da Terra Pura do Senhor
Shakyamuni como igualmente o esplendor de, por exemplo, os domicílios das
deidades mais elevadas54."

Então o venerável Shariputra disse ao Brahma Sikhin: "Para mim, oh, Brahma,
eu vejo esta grande terra, com os seus altos e baixos, seus espinhos, seus precipícios,
seus cumes, e seus abismos, como se estivesse completamente cheia de
excremento."

O Brahma Sikhin respondeu: "O fato de você ver, uma Terra Pura como esta,
como se ela fosse tão impura, Venerável Shariputra, é um sinal claro que há altos e
baixos na sua mente e que o seu pensamento positivo com respeito à sabedoria do
Buda não é pura. Venerável Shariputra, aqueles cujas mentes são imparciais para
com todos os seres vivos e cujos pensamentos positivos da sabedoria búdica são
puros, veem esta Terra Pura como perfeitamente pura."

Nesta altura o Senhor tocou o chão deste universo de biliões de mundos


galácticos com o dedo grande do seu pé, e de repente foi transformado numa massa
enorme de joias preciosas, uma ordem magnífica de muitas centenas de milhares de
agrupamentos de pedras preciosas, até que se assemelhou ao universo do Tathagata

51
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Ratnavyuha, chamado Anantagunaratnavyuha55. Todos na assembleia inteira se
preencheram com esta maravilha, percebendo-se a si mesmos como sentados num
trono de lótus enfeitados com joias.

Então, o Buda disse ao venerável Shariputra, "Shariputra, você vê este


esplendor das virtudes da Terra Pura?"

Shariputra respondeu: "Eu vejo, Senhor! Aqui diante de mim está uma exibição
de esplendor como nunca antes escutei ou contemplei!"

O Buda disse: "Shariputra, esta Terra Pura é sempre assim pura, mas o
Tathagata faz ele parecer deteriorado por muitas falhas, afim de trazer maturidade aos
seres vivos inferiores. Por exemplo, Shariputra, os deuses do céu de Trayastrimsa 56
todos tomam a sua comida de um único recipiente precioso, contudo o néctar que
nutre cada um difere de acordo com as diferenças dos méritos que cada um
acumulou. Assim Shariputra, os seres vivos nascem na mesma Terra Pura enxergam
o esplendor das virtudes das Terras Puras dos Budas de acordo com os seus próprios
graus de pureza."

Quando este esplendor de beleza das virtudes da Terra Pura resplandeceu,


oitenta e quatro mil seres conceberam o espírito da toda perfeita iluminação, e os
quinhentos jovens de Licchavi que tinham acompanhado o jovem Licchavi Ratnakara,
todos em conformidade reconheceram a sabedoria da ausência de nascimento57.

Então, o Senhor retirou o seu poder milagroso e imediatamente a Terra Pura


voltou à sua aparência habitual. Então, homens e deuses pertencentes ao veículo do
discípulo58 pensaram: "Alas! Ah! Todas as coisas construídas são impermanentes."
Assim, trinta e dois mil seres vivos purificaram os seus imaculados e não
distorcidos, olho do Dharma59 com respeito a todas as coisas. Os oito mil Bhikkhus
foram liberados das suas corrupções mentais, enquanto atingiam o estado do não
apego. E os oitenta e quatro mil seres vivos que eram devotados à grandeza da Terra
Pura, depois de terem entendido que todas as coisas são por natureza criações
mágicas, todos conceberam nas suas próprias mentes o espírito da incomparável,
totalmente perfeita iluminação60.

CAPÍTULO 2
Habilidade Inconcebível nas Formas de Liberação
Naquele momento, vivia na grande cidade de Vaisali um certo Licchavi,
conhecido pelo nome de Vimalakirti. Tendo servido antigos Budas, ele tinha gerado as
raízes da virtude, honrando-os e fazendo-lhes oferendas. Ele tinha alcançado
tolerância assim como também eloquência. Praticou com o grande super
conhecimento. Tinha atingido o poder dos encantamentos e do destemor61. Tinha
conquistado todos os demônios e oponentes. Tinha penetrado o profundo caminho do

55
56
57 Tib. rjes su 'thun pai bzod pa. Skt. anulomiki ksantih. Esse é o estágio da sabedoria (prajna) atingindo no sexto estágio dos
bodisatvas. (abhimukhi ).
58 Sravakayana
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11
Dharma. Estava liberado através da transcendência da sabedoria. Tendo integrado a
sua realização com a destreza nos meios de liberação, ele era hábil em conhecer os
pensamentos e ações dos seres vivos. Sabendo a força ou fraqueza das faculdades
deles, e sendo dotado de eloquência inigualável, ele ensinou o Dharma
adequadamente a cada um. Tendo-se aplicado energicamente ao Mahayana,
entendeu e realizou as suas tarefas com grande sutileza. Viveu como um Buda, e a
sua inteligência superior era tão grande quanto um oceano. Era elogiado, honrado, e
recomendado por todos os Budas, respeitado por Indra, Brahma, e todos os
Lokapalas. Para desenvolver os seres vivos com a sua habilidade nas formas de
liberação, ele vivia na grande cidade de Vaisali.

A sua riqueza era inesgotável com a finalidade de sustentar o pobre e o


desamparado. Observou uma moralidade pura para proteger o imoral. Manteve
tolerância e autocontrole para reconciliar os seres que eram coléricos, cruéis,
violentos, e brutais. Brilhou com energia para inspirar as pessoas que eram
preguiçosas. Manteve concentração, atenção plena e meditação para suportar o
mentalmente aflito. Atingiu uma sabedoria inabalável para ajudar o tolo62.

Ele usava as roupas brancas de leigo, contudo, viveu impecavelmente como


um devoto religioso. Vivia em casa, mas permaneceu indiferente ao reino do desejo, o
reino da forma, e o reino não forma63. Teve um filho, uma esposa, e criados
femininos64, todavia manteve sempre abstinência. Parecia estar cercado por criados,
ainda assim vivia em solidão. Parecia estar adornado com ornamentos, contudo
estava sempre dotado com os sinais e marcas auspiciosas. Parecia comer e beber,
contudo sempre se nutria do sabor da meditação. Ele frequentou os campos de jogos
desportivos e os casinos, mas o objetivo dele era sempre amadurecer as pessoas que
estavam presas aos jogos e as que jogavam por dinheiro. Visitou os professores
heterodoxos populares, mas sempre manteve lealdade firme ao Buda. Entendeu as
ciências mundanas e transcendentais e as práticas esotéricas, porém sempre obteve
prazer nas delícias do Darma. Misturava-se com todas as multidões, mas ainda era
respeitado como o maior de todos65.

Para estar em harmonia com as pessoas, associou-se com anciões, com os de


meia-idade, e com os jovens, porém sempre falava de harmonia com o Dharma. Ele
ocupou-se de todos os tipos de negócios, mas não teve nenhum interesse em lucro ou
posses. Para treinar os seres vivos, apareceria em encruzilhadas e nas esquinas das
ruas e para protege-los participou do governo. Para levar as pessoas do Hinayana a
se ocuparem do Mahayana, aparecia entre os ouvintes e professores do Darma. Para
desenvolver as crianças, visitava todas as escolas. Para demonstrar os males do
desejo, até mesmo nos bordéis entrava. Para estabelecer os bêbados na atenção
plena, entrava em todos os cabarés.

Ele era honrado como homem de negócios, porque entre homens de negócios
demonstrou a prioridade do Dharma. Era honrado como proprietário entre
proprietários, porque renunciou à agressividade da propriedade. Era honrado como
guerreiro entre guerreiros, porque cultivou resistência, determinação, e força moral.
Era honrado como aristocrata entre aristocratas, porque suprimiu o orgulho, a vaidade,
e a arrogância. Era honrado como funcionário entre funcionários, porque regulou as
funções do governo de acordo com o Darma. Era honrado como o príncipe dos

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príncipes, porque opôs o seu apego aos prazeres reais e ao poder soberano66. Ele foi
homenageado como um eunuco do harém real, porque ele ensinou as jovens
senhoras de acordo com o Darma.

Ele era compatível com as pessoas comuns porque apreciava a excelência dos
méritos comuns. Era honrado como o Indra entre os Indras porque lhes mostrou a
temporalidade67 do domínio deles. Ele era honrado como um Brahma entre Brahmas
porque lhes mostrou a excelência especial da sabedoria. Ele era honrado como um
Lokapala entre Lokapalas porque nutriu o desenvolvimento de todos os seres vivos.

Assim vivia o Licchavi Vimalakirti na grande cidade de Vaisali, dotado com um


conhecimento infinito de habilidades em formas de liberação.

Naquele momento, à margem desta genuína habilidade em formas de


liberação, Vimalakirti anunciou que se encontrava doente. Para indagar da sua saúde,
o rei, os funcionários, os senhores, os jovens, os aristocratas, os donos das casas, os
homens de negócios, a cidade, o país, e milhares de outros seres vivos vieram da
grande cidade de Vaisali visitar o enfermo. Quando eles chegaram, Vimalakirti
ensinou-lhes o Darma, começando o seu discurso, da realidade dos quatro elementos
principais:

"Amigos, este corpo é tão impermanente, frágil, desmerecedor de confiança, e


fraco. É tão insubstancial, perecível, de vida curta, doloroso, cheio de doenças, e
sujeito a mudanças. Assim, meus amigos, como este corpo é só um recipiente de
muitas enfermidades, os homens sábios não confiam nele. Este corpo é como uma
bola de espuma, incapaz de suportar qualquer pressão. É como uma bolha de água,
não permanecendo muito tempo. É como uma miragem nascida dos apetites das
paixões. É como o tronco da bananeira, não tendo cerne. Ai! Este corpo é como uma
máquina, uma ligação de ossos e tendões. É como uma ilusão mágica, consistindo em
falsificações68. É como um sonho, sendo uma visão irreal. É como um reflexo, sendo a
imagem de ações anteriores. É como um eco, sendo dependente dos
condicionamentos. É como uma nuvem, sendo caracterizado pela turbulência e
dissolução. É como um jato de luz, sendo instável, e se deteriorando a todo momento.
O corpo não tem dono, sendo o produto de uma variedade de condições.

"Este corpo é inerte, como a terra; sem eu, como a água; sem vida, como o
fogo; impessoal, como o vento; e não substancial como o espaço. Este corpo é irreal,
sendo um arranjo dos quatro elementos principais. É vazio, não existindo como “eu” ou
como possuído por alguém. É inanimado, sendo como as ervas, as árvores, as
paredes, os torrões de terra, e as alucinações. É insensato, sendo dirigido como um
moinho de vento. É imundo, sendo uma aglomeração de pus e excremento. É falso,
estando predestinado a ser quebrado e destruído, apesar de ser ungido e massajado.
É afligido pelas quatrocentas e quatro doenças69. É como um ancião com saúde,
constantemente subjugado pela idade. Sua duração nunca é certa — certo só é o seu
fim na morte. Este corpo é respectivamente uma combinação de agregados,
elementos, e sentidos que são comparáveis a assassinos, cobras venenosas, e a uma
cidade vazia. Então, tal corpo deve ser repulsivo para vocês. Você devem se
desanimar dele e devem estimular a sua admiração pelo corpo do Tathagata.

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"Amigos, o corpo de um Tathagata é o corpo do Dharma70, nascido da
sabedoria. O corpo de um Tathagata nasce do armazenamento de mérito e
sabedoria71. Nasce da moralidade, da meditação, da sabedoria, das liberações, e do
conhecimento e visão da liberação. Nasce do amor, compaixão, alegria, e
equanimidade. Nasce da caridade, disciplina, e autocontrole. Nasce do caminho das
dez virtudes. Nasce da paciência e bondade. Nasce das raízes da virtude plantadas
por esforços sólidos. Nasce das concentrações, das liberações, das meditações, e das
absorções. Nasce da aprendizagem, sabedoria, e formas de liberação. Nasce das
trinta e sete ajudas e esclarecimentos. Nasce da quietude mental e análise
transcendental72. Nasce dos dez poderes, dos quatro destemores, e das dezoito
qualidades especiais. Nasce de todas as transcendências. Nasce das ciências e super
conhecimento. Nasce do abandono de todas as qualidades negativas, e da coleção de
todas as qualidades positivas. Nasce da verdade. Nasce da realidade. Nasce da
consciência consciente73.

"Amigos, o corpo de um Tathagata nasce de inumeráveis boas ações. Tal


corpo deve tornar-se suas aspirações, e eliminar as enfermidades das paixões de
todos os seres vivos, vocês devem conceber o espírito da incomparável perfeita
iluminação.”

Enquanto o Licchavi Vimalakirti ensinou o Dharma assim os que o tinham vindo


saber sobre a sua doença, muitas centenas de milhares de seres vivos, conceberam o
espírito da incomparável perfeita iluminação.”

CAPÍTULO 3
A relutância dos discípulos em visitar Vimalakirti74
Então, o Licchavi Vimalakirti pensou para si mesmo, "Estou doente, deitado na
minha cama com dor, contudo o Tathagata, o santo, o Buda perfeitamente realizado,
não considera ou tem pena de mim, e não envia ninguém a inquirir sobre a minha
doença."
O Buda soube deste pensamento na mente de Vimalakirti e disse ao venerável
Shariputra: "Shariputra, vá perguntar pela doença do Licchavi Vimalakirti."
Tendo sido assim enviado, o venerável Shariputra respondeu ao Buda,
"Senhor, de fato, estou relutante75 em ir perguntar ao Licchavi Vimalakirti pela doença
dele. Porquê? Eu me lembro que um dia, quando eu estava sentando ao pé de uma
árvore na floresta, absorvido em contemplação, o Licchavi Vimalakirti veio ao pé
daquela árvore e disse-me, ' Venerável Shariputra, este não é o modo para você
absorver-se em contemplação. Você deve absorver-se em contemplação de forma
que, nem o corpo nem a mente apareçam em qualquer lugar no mundo triplo76. Você
deve absorver-se em contemplação de tal modo que possa manifestar todo o
comportamento comum sem abandonar a cessação77. Você deve absorver-se em
contemplação de tal modo que possa manifestar a natureza de uma pessoa comum
sem abandonar a sua natureza espiritual cultivada. Você deve absorver-se em

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contemplação de forma que a mente não se estabeleça no seu interior nem se oriente
na direção das formas externas. Você deve absorver-se em contemplação de tal
modo, que as trinta e sete ajudas para o esclarecimento, sejam manifestadas sem
divergência para qualquer convicção. Você deve absorver-se em contemplação de tal
modo que fique solto na liberação sem abandonar as paixões que são pertencentes ao
mundo78.

Venerável Shariputra, aqueles que se absorvem neles mesmos, em


contemplação deste modo, são declarados pelo Senhor, como estando
verdadeiramente absorvidos em contemplação.”

"Senhor, quando eu ouvi este ensinamento, eu não pude responder e permaneci


calado. Então, eu estou relutante em ir perguntar àquele bom homem sobre a doença
dele."

Então, o Buda disse ao venerável Maha Maudgalyayana, "Maudgalyayana, vá


ao Licchavi Vimalakirti indagar sobre a doença dele." (Maha é um título que significa
"Grande") Maudgalyayana respondeu, "Senhor, de facto estou relutante em ir ao
Licchavi Vimalakirti indagar sobre a doença dele. Porquê? Eu me lembro de um dia,
quando eu estava ensinando o Dharma aos chefes de família numa praça na grande
cidade de Vaisali, o Licchavi Vimalakirti dirigiu-se a mim e disse-me, ' Venerável
Maudgalyayana este não é o modo de ensinar o Dharma aos chefes de família nas
suas roupas brancas. O Dharma Deves ser ensinado de acordo com a realidade.

"' Venerável Maudgalyayana, o Dharma é sem seres vivos, porque está livre do
pó dos seres vivos. É abnegado, porque está livre do pó do desejo. É inanimado,
porque está livre do nascimento e morte. É sem personalidades, porque dispensa
origens passadas e destinos de futuro. "'O Dharma é paz e pacificação, porque está
livre do desejo. Não se torna um objecto, porque está livre de palavras e letras; é
inexprimível, e transcende todo o movimento de mente. "'O Dharma é omnipresente,
porque é como o espaço infinito. É sem cor, marca, ou forma, porque está livre de todo
o processo. É sem o conceito "meu," porque está livre da noção habitual de posse. É
sem ideal, porque está livre da mente, pensamento, ou consciência. É incomparável,
porque não tem nenhuma antítese.

É sem presunção de condicionalidade, porque não se conforma às causas.

"'Penetra todas as coisas uniformemente, porque todos estão incluídos no supremo


reino.

Adapta-se à realidade por meio do processo da não conformidade.

Habita no limite da realidade, porque é completamente sem flutuação.

Está imóvel, porque é independente dos seis objectos dos sentidos.

É sem vir e ir, porque nunca permanece imóvel.

É abrangido pela vacuidade, é indiscritivelmente sem sinais, está livre de presunção e


repúdio, porque é sem desejo.

É sem fundamento e rejeição, sem nascimento ou destruição.

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15
É sem qualquer consciência fundamental, transcendendo os limites do olho, orelha,
nariz, língua, corpo e pensamento.

É sem altos e baixos. Habita sem movimento ou actividade.

"'Reverendo Maha Maudgalyayana, como pode haver um ensinamento com respeito a


um tal Dharma?

Reverendo Maha Maudgalyayana, até mesmo a expressão para “ensinar o Dharma" é


presunçosa, e os que escutam isso escutam presunção.

Reverendo Maudgalyayana onde não há nenhuma palavra presunçosa não à


professor do Dharma, ninguém para escutar, e ninguém para entender. É como se
uma pessoa ilusória fosse ensinar o Dharma a pessoas ilusórias.

"'Então, deves ensinar o Dharma mantendo a mente nisto. Deves ser adepto com
respeito às faculdades espirituais dos seres vivos. Por meio da visão correcta do olho
da sabedoria, manifestando a grande compaixão, reconhecendo a actividade
benevolente do Buda, purificando as suas intenções, entendendo as expressões
definitivas do Dharma, deves ensinar o Dharma para que a continuidade das Três
Jóias nunca possa ser interrompida.'

"Senhor, quando Vimalakirti acabou de discursar assim, oitocentos chefes de família


na multidão conceberam o espírito do inexcedível esclarecimento perfeito, e eu estava
estupefacto. Então, Senhor, de facto estou relutante em ir a esse homem bom, indagar
sobre a doença dele."

Então, o Buda disse ao venerável Maha Kasyapa, "Maha Kasyapa, vá você ao


Licchavi Vimalakirti indagar sobre a doença dele."

"Senhor, de facto estou relutante em ir ao Licchavi Vimalakirti indagar sobre a doença


dele. Porquê? Eu me lembro de um dia, quando eu estava na rua dos pobres
mendigando a minha comida, o Licchavi Vimalakirti aproximou-se e disse-me,
'Reverendo Maha Kasyapa, evitar as casas dos ricos, e favorecer as casas dos pobres
- isto é parcialidade em benevolência. Reverendo Maha Kasyapa, deves enfatizar o
facto da igualdade das coisas, e deves procurar esmolas a toda hora com
consideração por todos os seres vivos. Deves implorar a comida em consciência da
suprema não inexistência da comida. Deves buscar esmolas para eliminar o
materialismo dos outros.

Quando entrares numa cidade, Deves lembrar-te da sua actual vacuidade, não
obstante, deves proceder assim para desenvolver os homens e mulheres. Deves
entrar em casas como entrando na família do Buda. Deves aceitar esmolas não
levando nada. Deves ver as formas como um homem cego de nascimento, ouvir os
sons como se eles fossem ecos, cheirar os cheiros como se eles fossem ventos,
experimentar os gostos sem qualquer discriminação, tocar os tangíveis em
consciência da elementar falta de contacto na gnose, e conhecer as coisas com a
consciência de uma criatura ilusória. O que é sem substância intrínseca e sem
substância imputado não arde. E o que não arde não será extinguido.

"'Idoso Maha Kasyapa, se, equipado (em estado de equilíbrio) nas oito libertações sem
transcender as oito perversões, podes entrar na equanimidade da realidade por meio
da equanimidade da perversão, e se podes fazer um presente a todos os seres vivos e
um oferecimento a todos os santos e Buddhas, até mesmo uma simples medida de
esmolas, então tu mesmo podes comer. Assim, quando comeres, depois de oferecer,

16
não deves ser afectado nem por paixões nem livre de paixões, envolvido em
concentração nem livre de concentração, nem morar no mundo nem permanecer em
libertação.

Além disso, esses que dão tais esmolas, reverendo, não têm nem grande mérito nem
mérito pequeno, nem ganho nem perda. Eles devem seguir o caminho dos Buddhas,
não o caminho dos discípulos. Só deste modo, Idoso Maha Kasyapa, é a prática do
comer através de esmolas significantes.'

"Senhor, quando ouvi este ensinamento, eu fiquei surpreendido e pensei: 'Reverência


para todos os bodhisattvas! Se um bodhisattva secular pode ser dotado de tal
eloquência quem é que não concebe o espírito do inexcedível esclarecimento perfeito?
Desde aquela altura, eu já não recomendo os veículos dos discípulos e dos sábios
solitários mas recomendo o Mahayana. E assim, Senhor, eu estou relutante em ir a
esse homem bom indagar sobre a doença dele."

Então, o Buda disse ao venerável Subhuti, "Subhuti, vá ao Licchavi Vimalakirti para


indagar sobre a doença dele."

Subhuti respondeu, "Senhor, de facto estou relutante em ir a esse homem bom


indagar sobre a doença dele. Porquê? Meu Senhor,

Eu me lembro de um dia, quando eu fui implorar minha comida na casa do o Licchavi


Vimalakirti na grande cidade de Vaisali, ele levou a minha tigela encheu-a com um
pouco de excelente comida e disse-me,

'Reverendo Subhuti, leva esta comida se entendes a igualdade de todas as coisas, por
meio da igualdade dos objectos materiais, e se entendes a igualdade de todos os
atributos do Buda, por meio da igualdade de todas as coisas.

Leva esta comida se, sem abandonar o desejo, ódio, e os disparates, podes evitar
associações com eles;

se podes seguir o caminho de um único modo sem já perturbar as visões egoístas;

se podes produzir o conhecimento e a libertação sem conquistar a ignorância e a


apetência pela existência;

se, pela igualdade dos cinco pecados mortais, alcanças a igualdade da libertação;

se não estás nem libertado nem amarrado;

se não vês as Quatro Verdades Santas, e no entanto não és aquele que "não viu a
verdade";

se não alcanças-te qualquer fruto, e não obstante não és “o que não atingiu";

se és uma pessoa comum, que contudo não tem as qualidades de uma pessoa
comum;

se não és santo e contudo não és profano; se és responsável por todas as coisas e


contudo estás livre de qualquer noção respeitante a qualquer coisa.

"'Leva esta comida, reverendo Subhuti, se, sem ver o Buda, ouvir o Dharma, ou servir
o Sangha, empreendes a vida religiosa debaixo dos seis mestres heterodoxos; isto é,

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Purana Kasyapa, Maskarin Gosaliputra, Samjayin Vairatiputra, Kakuda Katyayana,
Ajita Kesakambala, e Nirgrantha Jnaniputra, e segue os modos que eles prescrevem.

"'Leva esta comida, reverendo Subhuti, se, entretendo todas as falsas visões, não
encontras nem extremo nem meio;

se, amarrado nas oito adversidades, não obténs condições favoráveis;

se, assimilando as paixões, não atinges purificação;

se a imparcialidade de todos os seres vivos é a tua imparcialidade, reverendo;

se os que te fazem oferecimentos não são purificados nisso;

se os que te oferecem comida, reverendo, ainda caiem nas três ruins migrações;

se te associas com todos os Mara;

se entreténs todas as paixões;

se a natureza das paixões é a natureza de um reverendo;

se tens sentimentos hostis para todos os seres vivos;

se menosprezas todos os Buddhas;

se criticas todos os ensinamentos do Buda;

se não confias na Sangha; e finalmente, se nunca entras na libertação suprema.'

"Senhor, quando eu ouvi estas palavras do Licchavi Vimalakirti, eu desejei saber o que
devia dizer e o que devia fazer, mas fiquei completamente na escuridão. Deixando a
tigela, eu estava a ponto de deixar a casa quando o Licchavi Vimalakirti me disse,
'Reverendo Subhuti, não tema estas palavras, e apanhe a sua tigela. O que pensas,
reverendo Subhuti?

Se fosse uma encarnação criada pelo Tathagata que te falou assim, terias medo?'

"Eu respondi, 'De facto não, nobre senhor!' Então ele disse, 'Reverendo Subhuti, a
natureza de todas as coisas é como uma ilusão, como uma encarnação mágica. Assim
não deves teme-los. Porquê? Todas as palavras tem também aquela natureza, e
assim o sensato não é apegado a palavras, nem eles as temem. Porquê? Todas as
linguagens afinal de contas não existem, excepto como libertação. A natureza de
todas as coisas é a libertação.'

"Quando Vimalakirti tinha discursado deste modo, duzentos Senhores obtiveram a


pura visão doutrinal com respeito a todas as coisas, sem obscuridade ou corrupção, e
quinhentos Senhores obtiveram a tolerância da conformação. Fiquei estupefacto e
incapaz de responder-lhe. Então, senhor, eu estou relutante em ir a este homem bom,
indagar sobre a doença dele."

Então, o Buda disse ao venerável Purna maitrayaniputra, "Purna, vá ao Licchavi


Vimalakirti indagar sobre a doença dele."

Purna respondeu, "Senhor, realmente estou relutante em a ir a esse homem bom

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indagar sobre a doença dele. Porquê? Senhor, eu me lembro de um dia, quando eu
estava ensinando o Dharma a alguns monges jovens na grande floresta, o Licchavi
Vimalakirti foi lá e disse-me, 'Reverendo Purna, primeiro concentra-te tu mesmo,
considera as mentes destes jovens Bhikkhus, e então ensina-lhes o Dharma! Não
ponhas comida podre numa tigela enfeitada com jóias! Primeiro entende as
inclinações destes monges, e não confundas safiras inestimáveis com contas de vidro!

"'Reverendo Purna, sem examinar as faculdades espirituais dos seres vivos, não
presumas acerca da unilateralidade das faculdades deles; não firas os que estão sem
feridas;

não imponhas um caminho estreito nos que aspiram a um grande caminho;

não tentes verter o grande oceano na pegada do casco de um boi;

não tentes pôr o Monte Sumeru num grão de mostarda;

não confundas o brilho do sol com a luz de um pirilampo; e não exponhas os que
admiram o rugido de um leão ao uivo de um chacal!

"'Reverendo Purna, todos estes monges estiveram outrora comprometidos no


Mahayana mas esqueceram-se do espírito da iluminação. Assim não os instruas no
veículo do discípulo. O veículo do discípulo não é no final de contas, válido e os
discípulos são como homens cegos de nascença, com respeito ao reconhecimento
dos graus das faculdades espirituais dos seres vivos.'

"Naquele momento, o Licchavi Vimalakirti entrou em tal concentração que causou


naqueles monges se lembrarem das suas várias existências anteriores, nas quais eles
tinham produzido as raízes de virtude servindo quinhentos Buddhas pela causa da
perfeita iluminação. Assim que os seus próprios espíritos se esclareceram, tornou-se
claro, eles curvaram-se aos pés daquele bom homem e uniram as palmas das suas
mãos em reverência. Ele lhes ensinou o Dharma, e todos eles atingiram a fase de
irreversibilidade do espírito do inexcedível, esclarecimento perfeito. Me ocorreu então,
'os discípulos que não conhecem os pensamentos ou as inclinações dos outros não
podem ensinar o Dharma a qualquer um. Porquê? Estes discípulos não são
especialistas discernindo a superioridade e inferioridade das faculdades espirituais dos
seres vivos, e eles nunca estão num estado de concentração como o Tathagata, o
Santo, o Buda perfeitamente realizado.'

"Então, Senhor, eu estou relutante em ir àquele homem de bem indagar sobre a saúde
dele."

O Buda disse então ao venerável Maha Katyayana, "Katyayana, vá ao Licchavi


Vimalakirti indagar sobre a doença dele."

Katyayana respondeu, "Senhor, de facto estou relutante em ir ter com aquele bom
homem para indagar sobre a doença dele. Porquê? Senhor, eu me lembro de um dia
quando, depois que o Senhor tinha dado alguma instrução sumárias aos monges, eu
estava definindo as expressões daquele discurso ensinando o significado da
impermanência, sofrimento, abnegação, e paz; o Licchavi Vimalakirti veio até mim e
disse-me, 'Reverendo Maha Katyayana, não ensine uma última realidade dotada de
actividade, produção, e destruição! Reverendo Maha Katyayana, nada já foi destruído,
é destruído, ou será destruído. Tal é o significado de "impermanência." O significado
da realização do não nascimento, pela realização da vacuidade dos cinco agregados,
é o significado do "sofrimento." A realidade da não dualidade do eu e da abnegação é

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o significado da "abnegação." O que não tem nenhuma substância intrínseca e
nenhum outro tipo de substância não arde, e o que não arde não é extinguido; tal falta
de extinção é o significado da "paz."'

"Quando ele discursou assim, as mentes dos monges foram libertadas das suas
corrupções e entraram num estado de não avidez.

Então, Senhor, eu estou relutante em ir àquele homem de bem indagar sobre a


doença dele."

O Buda disse então ao venerável Aniruddha, "Aniruddha, vá ao Licchavi Vimalakirti


indagar sobre a doença dele."

"Meu Senhor, de facto estou relutante em ir àquele homem de bem para indagar sobre
a doença dele. Porquê? Eu me lembro, Senhor, um dia, quando eu estava dando um
passeio, o grande Brahma chamado Subhavyuha e dez mil outros Brahmas que o
acompanhavam iluminaram o local com o seu esplendor e tendo inclinado as suas
cabeças a meus pés, retiram-se para um lado e perguntou-me, 'Reverendo Aniruddha,
você foi proclamado pelo Buda para ser o mais ilustre entre os que possuem o olho
divino. A que distância se estende a visão divina do venerável Aniruddha?'

Eu respondi, 'Amigos, eu vejo o universo galáctico de bilhões de mundos do Senhor


Shakyamuni da mesma maneira que um homem de visão comum vê um caroço de
cereja na palma da mão.' Quando eu disse estas palavras, o Licchavi Vimalakirti
chegou e, tendo inclinado sua cabeça a meus pés, disse-me, 'Reverendo Aniruddha,
seu olho divino é composto em natureza? Ou é não composto em natureza?

Se é composto em natureza, é igual ao super conhecimento do heterodoxo. Se for não


composto em natureza, então não é construído e, como tal, é incapaz de ver. Então,
como você vê, Oh ancião?'

"A estas palavras, eu fiquei estupefacto, e o Brahma também ficou pasmado por ouvir
este ensinamento daquele homem de bem.

Tendo-me curvado perante ele, disse, 'Quem então, no mundo, possui o olho divino?'

"Vimalakirti respondeu, 'No mundo, são os Buddhas que tem o olho divino. Eles vêem
todos os campos-Buda sem deixar o estado deles de concentração e sem mesmo
serem afectados pela dualidade.'

"Tendo ouvido estas palavras, os dez mil Brahmas ficaram inspirados com o grande
acordar e conceberam o espírito do inexcedível, esclarecimento perfeito. Tendo
prestado homenagem e respeito a mim e àquele bom homem, desapareceram. Assim,
eu permaneci estupefacto, e então, estou relutante em ir àquele homem de bem
indagar sobre a doença dele."

O Buda disse então ao venerável Upali, "Upali, vá ao Licchavi Vimalakirti indagar


sobre a doença dele."

Upali respondeu, "Senhor, de facto estou relutante em ir àquele homem de bem


indagar sobre a doença dele. Porquê? Senhor, eu me lembro daquele dia em que dois
monges que tinham cometido alguma infracção e estavam muito envergonhados de
aparecerem diante do Senhor, assim eles vieram a mim e disseram, 'Reverendo Upali,
nós cometemos uma infracção mas estamos muito envergonhados de aparecer
perante o Buda. Venerável Upali, amavelmente remova nossas ansiedades nos

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perdoando destas infracções.'

"Senhor, enquanto eu estava dando para esses dois monges algumas palavras
religiosas, o Licchavi Vimalakirti foi lá e disse-me, 'Reverendo Upali, não agrave mais
os pecados destes dois monges. Sem os desconcertar, alivie o remorso deles.
Reverendo Upali, o pecado não será temido dentro, ou fora, ou entre os dois. Porquê?

O Buda disse, “Os seres vivos são aflitos pelas paixões do pensamento, e eles são
purificados pela purificação do pensamento."

"'Reverendo Upali, a mente não está nem dentro nem fora, nem isso será temido entre
os dois. O pecado é igual à mente, e todas as coisas são iguais ao pecado. Eles não
escapam a esta mesma realidade.

"'Reverendo Upali, esta natureza da mente, em virtude do qual a tua mente,


reverendo, é libertada – torna-a aflitiva?'

"'Nunca', respondi eu.

"'Reverendo Upali, as mentes de todos os seres vivos têm aquela mesma natureza.
Reverendo Upali, as paixões consistem em conceptualizações. A derradeira não
existência destas conceptualizações e fabricações imaginárias - essa é a pureza que é
a natureza intrínseca da mente. Má compreensão são paixões. A última ausência da
má compreensão é a natureza intrínseca da mente. A presunção do eu é paixão. A
ausência do eu é a natureza intrínseca da mente. Reverendo Upali, todas as coisas
são sem produção, destruição, e duração, como ilusões mágicas, nuvens, e
relâmpagos; todas as coisas são evanescentes, enquanto não permanecendo nem
sequer por um momento; todas as coisas são como sonhos, alucinações, e visões
irreais; todas as coisas estão como a reflexão da lua na água e como uma imagem no
espelho; elas nascem das construções mentais. Os que sabem isto são chamados o
verdadeiro sustentáculo da disciplina, e os disciplinados daquele modo são realmente
bem disciplinados.'"

"Então os dois monges disseram, 'Este dono da casa é extremamente bem dotado de
sabedoria. O reverendo Upali que era proclamado pelo Senhor como o mais ilustre do
sustentáculo da disciplina, não é igual a dele.'

"Eu disse então aos dois monges, 'Não se entretenham com a noção que ele é um
mero dono da casa! Porquê? Com a excepção do Tathagata, há nenhum discípulo ou
bodhisattva capaz de competir com a eloquência dele ou rivalizar o brilho da sabedoria
dele.'

"Logo após, os dois monges, deixaram as suas ansiedades e inspirados de alta


determinação, conceberam o espírito do inexcedível, esclarecimento perfeito.
Curvando-se até aquele homem de bem, eles formularam o desejo: 'Possam todos os
seres vivos atingem eloquência como nós!' Então, eu estou relutante, em ir àquele
homem de bem indagar sobre a doença dele."

O Buda disse então ao venerável Rahula, "Rahula, vá ao Licchavi Vimalakirti indagar


sobre a doença dele."

Rahula respondeu, "Senhor, de facto estou relutante em ir àquele homem de bem


indagar sobre a doença dele. Por quê? Senhor, eu me lembro daquele dia, em que
muitos cavalheiros de jovens Licchavi, vieram para o lugar onde eu estava e disseram-
me, 'Reverendo Rahula, você é o filho do Senhor, e, tendo renunciado ao reino de um

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monarca universal, você deixou o mundo. Quais são as virtudes e benefícios que você
viu, deixando o mundo?'

"Quando eu lhes estava ensinando correctamente os benefícios e virtudes de


renunciar ao mundo, o Licchavi Vimalakirti foi até lá e, tendo-me cumprimentado,
disse, 'Reverendo Rahula, você não deves ensinar os benefícios e virtudes de
renúncia do modo que você faz. Por quê? Renúncia é ela mesma a total ausência de
virtudes e benefícios.

Reverendo Rahula, a pessoa pode falar de benefícios e virtudes com respeito a coisas
compostas, mas renúncia é não composta, e não pode, haver duvidas de benefícios e
virtudes, com respeito ao não composto. Reverendo Rahula, renúncia não é material
mas está livre de substância. Está livre das visões extremas de começar e terminar. É
o caminho da libertação. É elogiado pelo modo, abraçado pelos santos, e causa a
derrota de todo o Mara. Liberta dos cinco estados da existência, purifica os cinco
olhos, cultiva os cinco poderes, e apoia as cinco faculdades espirituais. Renúncia é
totalmente inofensiva aos outros e não é adulterada com coisas más. Disciplina o
heterodoxo, transcendendo todas as denominações. É a ponte em cima do pântano do
desejo, sem agarrar, e livre dos hábitos de "mim" e "meu." É sem apego e sem
perturbação, eliminando toda a comoção. Disciplina a própria mente da pessoa e
protege as mentes dos outros. Favorece a quietude mental e estimula a análise
transcendental. Está sob todos os aspectos impecável e assim é chamado renúncia.
Aqueles que deixam o mundo deste modo, são chamados "verdadeiramente
renunciantes." Homens jovens, renunciem ao mundo, na luz deste ensinamento claro!
O aparecimento de um Buda é extremamente raro. Vida humana dotada de lazer e
oportunidades é muito difícil de obter. Ser um ser humano, é muito precioso.'

"Os homens jovens reclamaram: 'Mas, dono da casa, nós ouvimos o Tathagata
declarar, não devem renunciar ao mundo sem a permissão dos pais da pessoa.'

"Vimalakirti respondeu: 'Homens jovens, você devem-se cultivar intensivamente para


conceber o espírito do inexcedível, esclarecimento perfeito. Que em si mesmo será a
vossa renúncia e alta consagração!'

"Logo após, trinta e dois dos jovens de Licchavi conceberam o espírito do inexcedível
esclarecimento perfeito.

Então, Senhor, eu estou relutante em ir àquele homem de bem indagar sobre a


doença dele."

O Buda disse então ao venerável Ananda, "Ananda, vá ao Licchavi Vimalakirti indagar


sobre a doença dele."

Ananda respondeu, "Senhor, de facto estou relutante em ir àquele homem de bem


indagar sobre a doença dele. Porquê? Senhor, eu me lembro de um dia quando o
corpo do Senhor manifestou alguma indisposição e ele requereu um pouco de leite; Eu
levei a tigela e fui para a porta da mansão de uma grande família brâmane. o Licchavi
Vimalakirti foi lá, e, tendo-me saudado, disse, 'Reverendo Ananda, o que está fazendo
você tão cedo no limiar desta casa com sua tigela na mão, pela manhã?'

"Eu respondi: 'o corpo do Senhor manifesta alguma indisposição, e ele precisa de um
pouco de leite. Então, eu vim buscar algum.'

"Vimalakirti disse-me então, 'Reverendo Ananda, não diga tal coisa! Reverendo
Ananda, o corpo do Tathagata é duro como um diamante, depois de ter eliminado

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todos os traços do instinto do mal e estando dotado com toda a bondade. Como
poderia a enfermidade ou o desconforto afectar tal corpo?

"'Reverendo Ananda, vá em silêncio, e não deprecie o Senhor. Não diga tais coisas a
outros. Não seria bom para os Senhores poderosos ou para os bodhisattvas que vem
dos vários campos-Buda, ouvir tais palavras.

"'Reverendo Ananda, um monarca universal que só está dotado com uma pequena
raiz de virtude está livre de doenças.

Como então pode o Senhor que tem uma raiz infinita de virtude ter qualquer doença?
É impossível.

"'Reverendo Ananda, não traga vergonha sobre nós, mas vá em silêncio, para que os
sectários heterodoxos não oiçam as suas palavras. Eles diriam, "Que vergonha! O
professor destas pessoas nem mesmo pode curar as suas próprias moléstias. Como
pode ele então curar as moléstias dos outros?" Reverendo Ananda, vá discretamente
de forma que ninguém o observe.

"'Reverendo Ananda, os Tathagatas têm o corpo do Dharma - não um corpo que é


contínuo através da comida material.

Os Tathagatas têm um corpo transcendental que transcendeu todas as qualidades


mundanas.

Não há nenhum dano no corpo de um Tathagata, que é livre de todas as corrupções.


O corpo de um Tathagata é não composto e livre da actividade de toda a forma.
Reverendo Ananda, acreditar que pode haver doença num tal corpo é irracional e
impróprio!'

"Quando eu ouvi estas palavras, eu desejei saber se eu tinha previamente ouvido mal
e entendido mal o Buda, e estava muito envergonhado. Então eu ouvi uma voz do céu:
'Ananda! O dono da casa fala verdade com você.

Não obstante, desde que o Buda apareceu durante o tempo das cinco corrupções, ele
disciplina os seres vivos agindo humildemente. Então, Ananda, não esteja
envergonhado, vá e adquira o leite!'

"Senhor, tal foi a minha conversação com o Licchavi Vimalakirti, e então eu estou
relutante em ir àquele homem de bem indagar sobre a doença dele."

Da mesma maneira, o resto dos quinhentos discípulos estavam relutantes em ir ao


Licchavi Vimalakirti, e cada um contou ao Buda a sua própria aventura, recontando
todos eles as suas conversações com Licchavi Vimalakirti.

4. A Relutância dos Bodhisattvas


Então, o Buda disse ao bodhisattva Maitreya, "Maitreya, vá ao Licchavi Vimalakirti
indagar sobre a doença dele."

Maitreya respondeu, "Senhor, eu realmente estou relutante em ir àquele homem de


bem indagar sobre a doença dele. Porquê? Senhor, eu me lembro daquele dia em que
estava comprometido numa conversação com os deuses do céu de Tushita, o Senhor
Samtusita e os seus acompanhantes, sobre a fase de não regressão dos grandes

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bodhisattvas. Naquele momento, chegou o Licchavi Vimalakirti e dirigiu-se-me assim:

"'Maitreya, o Buda profetizou que um único nascimento estava entre você e a


inexcedível Iluminação perfeita. A que tipo de nascimento, respeita esta profecia,
Maitreya? É passado? É futuro? Ou é presente? Se for um nascimento passado, já
está acabado. Se for um nascimento futuro, nunca chegará. Se for um nascimento
presente, não tem suporte. O Buda declarou, "Bhikkhus, num único momento, você
nasce, você envelhece, você morre, você transmigra, e você renasce."

"'Então pode a profecia dizer respeito ao não nascimento? Mas o não nascimento
concerne ao estágio do destino fundamental no qual não há profecia nem o alcançar
da Iluminação perfeita.

"'Então, Maitreya, a sua realidade é de nascença? Ou é de cessação? A sua realidade


como profetizado não nasce e não cessa, nem nascerá nem cessará. Além disso, a
sua realidade é igual à realidade de todos os seres vivos, à realidade de todas as
coisas, e à realidade de todos os santos. Se a sua iluminação pode ser profetizada
desta forma, assim pode ser a de todos os seres vivos. Porquê?, porque a realidade
não consiste em dualidade ou em diversidade. Maitreya, em qualquer momento que
você atinja a Iluminação que é a Iluminação da perfeição, ao mesmo tempo todos os
seres vivos também atingirão a última libertação. Porquê? Os Tathagatas não entram
na última libertação até que todos os seres vivos entrem também na última libertação.
Desde que todos os seres vivos estejam totalmente libertados, os Tathagatas os vêem
como tendo a natureza da última libertação.

"'Então, Maitreya, não engane nem iluda estas deidades! Ninguém permanece, ou
regressa da iluminação.

Maitreya, você deveria induzir estas deidades a repudiar todas as construções


discriminativas relativas à iluminação.

"'A Iluminação perfeita não é realizada nem pelo corpo nem pela mente.

A Iluminação é a erradicação de todas as marcas.

A Iluminação está livre das presunções relativas a todos os objectos.

A Iluminação está livre do funcionamento de todos os pensamentos intencionais.

A Iluminação é a aniquilação de todas as convicções.

A Iluminação é livre de todas as construções discriminativas.

A Iluminação é livre de toda a vacilação, actividade mental, e agitação.

A Iluminação não está envolvida em qualquer compromisso.

A Iluminação é a chegada da separação, pela liberdade de todas as atitudes habituais.


O chão da Iluminação é o último reino.

A Iluminação é a realização da realidade.

A Iluminação permanece no limite da realidade.

A Iluminação é sem dualidade, visto que não é nenhuma mente nem nenhuma coisa.

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A Iluminação é igualdade, sendo que é igual ao espaço infinito.

A Iluminação é não-construída, porque ela é, nem nascida, nem não obstruída, não
suporta nem sofre qualquer transformação.

A Iluminação é o conhecimento completo dos pensamentos, acções, e inclinações de


todos os seres vivos.

A Iluminação não é uma porta para os seis sentidos da comunicação.

A Iluminação não é adulterada, uma vez que está livre das paixões do instinto,
dirigidas à sucessão das vidas.

A Iluminação não está nem, em algum lugar nem, em nenhuma parte, não
permanecendo em nenhum local ou dimensão.

A Iluminação, não estando contida em nada, não permanece na realidade.

A Iluminação somente é um nome e até mesmo esse nome é sem movimento.

A Iluminação, livre de abstenção e empreendimento, é sem energia. Não há nenhuma


agitação na Iluminação, que é por natureza totalmente pura.

A Iluminação é o brilho, puro em essência.

A Iluminação é sem subjectividade e completamente sem objecto. A Iluminação que


penetra a igualdade de todas as coisas é indiferenciada.

A Iluminação não é mostrada por qualquer exemplo, é incomparável.

A Iluminação é subtil, uma vez que é extremamente difícil perceber.

A Iluminação é toda penetrante, como é a natureza do espaço infinito.

A Iluminação não pode ser percebida, física ou mentalmente. Porquê? O corpo é como
erva, árvores, paredes, caminhos, e alucinações. E a mente é imaterial, invisível,
infundada, e inconsciente.'

"Senhor, quando Vimalakirti acabou de discursar assim, duzentas das deidades


naquela assembleia atingiram a tolerância do não nascimento. Senhor, eu fiquei
estupefacto. Então, eu estou relutante em ir àquele homem de bem indagar sobre a
doença dele."

O Buda disse então ao jovem Licchavi Prabhavyuha, "Prabhavyuha, vá ao Licchavi


Vimalakirti indagar sobre a doença dele."

Prabhavyuha respondeu, "Senhor, eu realmente estou relutante em ir àquele homem


de bem indagar sobre a doença dele. Porquê? Senhor, eu me lembro de um dia,
quando eu estava saindo da grande cidade de Vaisali, eu conheci o Licchavi
Vimalakirti que entrava. Ele me cumprimentou, e então me dirigi a ele:

'Dono da casa donde você vem?'

Ele respondeu, 'Eu venho do lugar da Iluminação.'

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Então indaguei, 'o que significa "lugar da Iluminação?"

' Ele então disse-me as seguintes palavras,

'Oh Nobre filho, o lugar da Iluminação é o lugar do pensamento positivo porque é sem
artificialidade.

É o lugar do esforço, porque liberta actividades enérgicas.

É o lugar da alta determinação, porque sua perspicácia é superior.

É o lugar do grande espírito da Iluminação, porque não negligencia nada.

É o lugar da generosidade, porque não tem nenhuma expectativa de recompensa.

É o lugar da moralidade, porque cumpre todos os compromissos.

É o lugar da tolerância, porque está livre da raiva de qualquer ser vivo.

É o lugar do esforço, porque não retrocede.

É o lugar da meditação, porque gera aptidão da mente.

É o lugar da sabedoria, porque vê tudo directamente.

É o lugar do amor, porque é igual a todos os seres vivos.

É o lugar da compaixão, porque tolera todos os danos.

É o lugar da alegria, porque é o contentamento dedicado às felicidades do Dharma.

É o lugar da equanimidade, porque abandona afecto e aversão.

É o lugar da percepção paranormal, porque tem os seis super conhecimentos.

É o lugar da libertação, porque não intelectualiza.

É o lugar da técnica da libertação, porque desenvolve os seres vivos.

É o lugar dos meios de unificação, porque reúne os seres vivos.

É o lugar da aprendizagem, porque faz a prática da essência.

É o lugar da resolução, porque é a sua escrupulosa discriminação.

É o lugar das ajudas à Iluminação, porque elimina a dualidade do composto e do não


composto.

É o lugar de verdade, porque não engana ninguém.

É o lugar da origem interdependente, porque procede do esgotamento da ignorância


ao esgotamento da velhice e morte.

É o lugar da erradicação de todas as paixões, porque está perfeitamente iluminado

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sobre a natureza da realidade.

É o lugar de todos os seres vivos, porque todos os seres vivos são sem identidade
intrínseca.

É o lugar de todas as coisas, porque está perfeitamente iluminado com respeito à


nulidade.

É o lugar da conquista de todos os demónios, porque nunca vacila.

É o lugar do mundo triplo, porque está livre de envolvimento.

É o lugar do heroísmo onde soa o rugido do leão, porque está livre do medo e de
tremores.

É o lugar das forças, das não temeridades, e todas as qualidades especiais do Buda,
porque está sob todos os aspectos impecável.

É o lugar dos três conhecimentos, porque nisto não permanece nenhuma paixão.

É o lugar do entender instantâneo, total de todas as coisas, porque percebe a gnose


da omnisciência completamente.

"'Nobre filho, quando os bodhisattvas estão assim dotados com as transcendências, as


raízes da virtude, a habilidade para desenvolver os seres vivos, e a incorporação do
Dharma santo, se eles erguem os seus pés, ou os derrubaram, todos eles vêm do
lugar da Iluminação. Eles vêm das qualidades do Buda, e se elevam nas qualidades
do Buda.'

"Senhor, quando Vimalakirti explicou este ensinamento, quinhentos deuses e homens


conceberam o espírito da Iluminação, e eu fiquei estupefacto. Então, Senhor, eu estou
relutante em ir àquele homem de bem indagar sobre a doença dele."

O Buda disse então ao bodhisattva Jagatimdhara, "Jagatimdhara, vá ao Licchavi


Vimalakirti para indagar sobre a doença dele."

Jagatimdhara respondeu, "Meu Senhor, eu realmente estou relutante em ir àquele


homem de bem indagar sobre a doença dele. Porquê? Senhor, eu me lembro daquele
dia, quando eu estava em casa, o perverso Mara, disfarçado de Indra e rodeado com
doze mil moças divinas, aproximou-se aos sons da música e cantando. Tendo-me
saudado tocando os meus pés com a cabeça, ele retirou-se com a sua comitiva para
um lado. Eu então, pensando que ele era Sakra, o rei dos deuses, disse-lhe, 'Bem
vindo, Oh Kausika! Você deveria permanecer conscientemente atento no meio dos
prazeres do desejo. Você deveria pensar frequentemente na impermanência e deveria
se esforçar para utilizar o essencial no corpo, vida, e riqueza.'

"Mara disse-me então, 'Bom senhor, aceite estas doze mil moças divinas e faça-as
suas criadas.'

"Eu respondi, 'Oh Kausika, não me ofereça coisas, que não me são apropriadas, eu
sou religioso e um filho do Sakya[100]. Não é próprio eu ter estas moças.'

"Tão depressa eu disse estas palavras o Licchavi Vimalakirti veio até mim e disse-me ,
'Nobre filho, não penses que este é Indra! Este não é Indra mas o perverso Mara que
veio ridiculariza-lo.'

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"Então o Licchavi Vimalakirti disse a Mara, 'Malicioso Mara, uma vez que estas moças
divinas não são satisfatórias para este devoto religioso, um filho do Sakya, então dê-
me-as a mim.'

"Então Mara ficou apavorado e aflito, pensando que o Licchavi Vimalakirti o tinha vindo
expor. Ele tentou fazer-se invisível, mas, mesmo com todos os seus poderes mágicos,
ele não conseguiu desaparecer de vista. Então uma voz ressoou no céu dizendo,
'Malvado, dê estas moças divinas ao bom homem Vimalakirti, e só então poderá voltar
ao seu domicílio.'

"Então Mara ficou amedrontado e, contra vontade, deu as moças divinas.

"O Licchavi Vimalakirti, tendo recebido as deusas, disse-lhes, 'Agora que vocês me
foram dadas por Mara, todas vocês deverão conceber o espírito da incomparável e
perfeita iluminação.[101]'

"Ele as exortou então com um discurso satisfatório para o desenvolvimento da


Iluminação delas, e logo conceberam o espírito da Iluminação. Ele disse-lhes então ,
'Você conceberam há pouco o espírito da Iluminação.

De agora em diante, você deveriam dedicar-se a encontrar alegria nos prazeres do


Dharma, e não deveriam ter prazeres nos desejos.'

"Elas lhe perguntaram então, 'O que é "alegria nos prazeres do Dharma?"'

"Ele declarou, 'é a alegria da fé irrompível no Buda, de desejar ouvir o Dharma, de


servir o Sangha e honrar os benfeitores espirituais sem orgulho.

É a alegria da renúncia do mundo inteiro, de não ser fixo em objectos, de considerar


os cinco agregados como assassinos, de considerar os elementos como serpentes
venenosas, e de considerar os sentidos como uma cidade vazia.

É a alegria de sempre vigiar o espírito da Iluminação, de ajudar os seres vivos, de


compartilhar a generosidade, de não afrouxar na moralidade, do controle e tolerância
em paciência, do cultivo completo da virtude pelo esforço, da absorção total na
meditação, e da ausência de afições mentais em sabedoria.

É a alegria de alargar a Iluminação, de conquistar Mara, de destruir as paixões, e de


purificar o terra búdica.

É a alegria de acumular todas as virtudes para cultivar as marcas e os sinais


auspiciosas.

É a alegria da libertação da não intimidação, ao ouvir o ensino profundo.

É a alegria da exploração das três portas da libertação, e da realização da libertação.

É a alegria de ser um ornamento do lugar da Iluminação, e de não atingir a libertação


no momento errado.

É a alegria de servir os de sorte igual, de não odiar ou se ressentir com os de sorte


superior, de servir os benfeitores espirituais, e de evitar os amigos pecadores.

É a alegria superior da fé e devoção ao Dharma.

28
É a alegria de adquirir técnicas de libertação e do cultivo consciente das ajudas para a
Iluminação. Assim, o bodhisattva admira e acha alegria nas delícias do Dharma.'

"De seguida, Mara disse às deusas, 'Agora venham e nos deixem voltar para casa.'

"Elas disseram, 'Tu deste-nos a este dono da casa. Agora nós devemos desfrutar as
delícias do Dharma e já não devemos desfrutar os prazeres dos desejos.'

"Então Mara disse ao Licchavi Vimalakirti, 'Se o bodhisattva, é o herói espiritual, que
não tem apego mental, e dá todas as suas posses, então, dono da casa, por favor dê-
me estas deusas.'

"Vimalakirti respondeu, 'Elas estão dadas, Mara. Vá para casa com o seu séquito.
Possam vocês cumprir as aspirações religiosas de todos os seres vivos!'

"Então as deusas, saudando Vimalakirti, disseram-lhe, 'Dono da casa, como devemos


nós morar no domicílio de Mara?'

"Vimalakirti respondeu, 'Irmãs, há uma porta do Dharma chamada "A Lâmpada


Inesgotável." Pratiquem!

O que é isso? Irmãs, uma única lâmpada pode iluminar centenas de milhares de
lustres sem se diminuir a si mesma.

Igualmente, irmãs, um único bodhisattva pode manter muitas centenas de milhares de


seres vivos em Iluminação sem que a sua plenitude mental seja diminuída. Na
realidade, não só não diminui, como cresce mais forte. Igualmente, quanto mais
ensina e demonstra qualidades virtuosas a outros, mais se desenvolve com respeito a
essas qualidades virtuosas. Isto é a porta do Dharma chamada "A Lâmpada
Inesgotável." Quando vocês estiverem vivendo no reino de Mara, inspirem inumeráveis
deuses e deusas com o espírito da Iluminação. Deste modo, vocês retribuirão a
bondade do Tathagata, e vocês se tornarão os benfeitores de todos os seres vivos.'

"Então, aquelas deusas curvaram-se aos pés do Licchavi Vimalakirti e partiram na


companhia de Mara.

Assim, Senhor, eu vi a supremacia do poder mágico, sabedoria, e eloquência do


Licchavi Vimalakirti, e então eu estou relutante em ir àquele homem de bem indagar
sobre a doença dele."

O Buda disse então ao filho do comerciante Sudatta, “Nobre filho, vá ao Licchavi


Vimalakirti para indagar sobre a doença dele."

Sudatta respondeu, "Senhor, eu realmente estou relutante em ir àquele homem de


bem indagar sobre a doença dele. Porquê? Senhor, eu me lembro de um dia na casa
de meu pai, quando, para celebrar uma grande oferenda, eu estava dando presentes
aos devotos religiosos, Brahmas, pobres, seres em condição de miséria, mendigos e
todos os necessitados. No final do sétimo dia dessa grande oferenda, o Licchavi
Vimalakirti foi lá e disse, 'Filho de comerciante, não devias celebrar um sacrifício deste
modo. Devias celebrar um sacrifício Dharma. O que é o uso do sacrifício das coisas
materiais?'

"Então perguntei-lhe, 'Como se oferece um sacrifício Dharma?'

29
"Ele respondeu, 'Um sacrifício Dharma é o que desenvolve os seres vivos sem
começar ou terminar, dando presentes simultaneamente a todos eles. O que é isso?
Consiste no grande amor que é consumado na Iluminação; da grande compaixão que
é consumada na concentração do santo Dharma na libertação de todos os seres vivos;
da grande alegria que é consumada na consciência da felicidade suprema de todos os
seres vivos; e da grande equanimidade que é consumada na concentração por
conhecimento.

"'O sacrifício Dharma consiste na transcendência da generosidade que é consumada


na paz e autodisciplina; ,

da transcendência da moralidade que é consumada no desenvolvimento moral dos


seres imorais;

da transcendência da tolerância, consumada pelo princípio da abnegação;

da transcendência do esforço, consumado na iniciativa para a Iluminação;

da transcendência da meditação, consumada na solidão do corpo e mente; e da


transcendência da sabedoria, consumada na gnose omnisciente.

"'O sacrifício Dharma consiste na meditação da vacuidade, consumada na efectividade


do desenvolvimento de todos os seres vivos; da meditação na ausência de sinais,
consumada na purificação de todas as coisas compostas; e na meditação da carência
de desejos, consumada na voluntariosa assunção dos renascimentos.

"'O sacrifício Dharma consiste na força heróica, consumada no apoio ao Dharma


santo;

do poder da vida, consumada nos meios de unificação;

da ausência do orgulho, consumado no tornar-se o escravo e o discípulo de todos os


seres vivos;

do ganho do corpo, saúde, e riqueza, consumada pela extração da essência da sem


essência;

na plenitude mental, consumada pelas seis recordações;

no pensamento positivo, consumado pelo Dharma verdadeiramente agradável;

na pureza do sustento, consumado através da prática espiritual correcta;

do respeito pelos santos, consumado através do serviço jovial e fiel;

na sobriedade da mente, consumada pela ausência de antipatia por pessoas comuns;

de grandes decisões, consumadas através da renúncia;

da habilidade em erudição, consumada através da prática religiosa;

da saída em retiros solitários, entendendo as coisas livre de aflições;

da meditação introspectiva, consumada através de obter a gnose-Buda;

30
da fase da prática da ioga, consumada pela ioga de libertar todos os seres vivos de
suas aflições mentais.

"'A oferenda-Dharma consiste nas reservas de mérito que são consumadas pelos
sinais e marcas auspiciosas, nos ornamentos das terra búdicas, e todos os outros
meios de desenvolvimento dos seres vivos;

da reserva de conhecimentos que é consumado na habilidade para ensinar o Dharma,


de acordo com os pensamentos e acções de todos os seres vivos;

na reserva de sabedoria que é consumada na gnose uniforme e livre de aceitação e


rejeição com respeito a todas as coisas;

na reserva de todas as raízes de virtude, consumada no abandono de todas as


paixões, ofuscações, e coisas não virtuosas; e do alcançar todas as ajudas para a
Iluminação, consumada na realização da gnose da omnisciência, como também na
realização de toda a virtude.

"'Isto, oh nobre filho, é o sacrifício Dharma. O bodhisattva vive por este sacrifício
Dharma que é o melhor dos sacrifícios e através deste seu extremo sacrifício, é
merecedor dos oferecimentos de todas as pessoas, inclusive dos deuses.'

"Senhor, assim que o dono da casa terminou de discursar assim, duzentos Brahmas
entre a multidão dos Brahmas presentes conceberam o espírito da inexcedível
Iluminação perfeita. E eu, cheio de surpresa, tendo saudado este homem bom,
tocando os pés dele com minha cabeça, tirei do redor do meu pescoço um colar de
pérolas no valor de cem mil pedaços de ouro e ofereci-o a ele. Mas ele não aceitou.
Eu então disse-lhe, 'Por favor aceite homem bom, este colar de pérolas, sem
compaixão para mim, e dê isto a quem quer que seja, que você deseja.'

"Então, Vimalakirti aceitou as pérolas e dividiu-as em dois. Ele deu uma metade ao
mais humilde pobre da cidade que tinha sido desprezado pelos presentes no sacrifício.
A outra metade ofereceu-a ao Tathagata Dusprasaha. E ele executou um milagre tal
que todos os presentes viram o universo chamado Marici e o Tathagata Dusprasaha.
Na cabeça do Tathagata Dusprasaha, o colar de pérolas tomou a forma de um
pavilhão, enfeitado com fios de pérolas, descansando em quatro bases, com quatro
colunas simétricas, bem construídas, e graciosa de se ver. Tendo mostrado tal
milagre, Vimalakirti disse, 'O doador que faz presentes ao mais humilde pobre da
cidade, considerando-os tão merecedor de oferecimentos como o próprio Tathagata, o
doador que dá sem qualquer discriminação, imparcialidade, sem expectativa de
recompensa, e com grande amor - este doador, eu digo, cumpre totalmente o sacrifício
Dharma.'

"Então o pobre da cidade, tendo visto aquele milagre e tendo ouvido aquele ensino,
concebeu o espírito da inexcedível Iluminação perfeita. Então, Senhor, eu estou
relutante em ir àquele homem de bem indagar sobre a doença dele."

Da mesma maneira, todos os bodhisattvas, grandes heróis espirituais, contaram as


histórias das suas conversações com Vimalakirti e declararam a sua relutância em ir
ter com ele.

31
5. A consolação do doente
Então, o Buda disse ao príncipe coroado, Manjusri, "Manjusri, vá visitar o Licchavi
Vimalakirti e indague sobre a doença dele."

Manjusri respondeu, "Senhor, é difícil acompanhar o Licchavi Vimalakirti.

Ele é talentoso, com eloquência maravilhosa relativa à lei do profundo.

Ele é extremamente qualificado nas expressões e na reconciliação das dicotomias.

A eloquência dele é inexorável, e ninguém pode resistir ao seu imperturbável intelecto.

Ele realiza todas as atividades dos bodhisattvas.

Ele penetra todos os mistérios secretos dos bodhisattvas e dos Buddhas.

Ele é qualificado em humanizar/civilizar todos os domicílios dos demónios.

Ele brinca com os grande super conhecimentos.

Ele é consumado em sabedoria e nas artes da liberação.

Ele atingiu a excelência suprema da esfera indivisível não dualista do reino último.

Ele é qualificado no ensino do Dharma com as suas infinitas modalidades dentro da


essência homogénea.

Ele é qualificado para conceder os meios de alcançar os objectivos conforme as


faculdades espirituais de todos os seres vivos.

Ele integrou a sua completa realização com habilidade nas técnicas da libertação.

Ele atingiu resolução com respeito a todas as perguntas.

Embora ele não tenha quem se lhe oponha, principalmente por alguém com as minhas
fracas defesas, ainda assim, sustentado pela graça do Buda, eu irei e conversarei com
ele, tão bem quanto seja capaz."

Logo em seguida, naquela assembleia, os bodhisattvas, os grandes discípulos, o


Sakras, o Brahmas, o Lokapalas, os deuses e deusas, todos tiveram este
pensamento: "Seguramente as conversações do jovem príncipe Manjusri e aquele
homem de bem resultarão num profundo ensinamento do Dharma."

Assim, oito mil bodhisattvas, quinhentos discípulos, um grande número de Sakras,


Brahmas, Lokapalas, e muitas centenas de milhares de deuses e deusas, todos
seguiram o coroado príncipe Manjusri para escutar o Dharma. E o coroado príncipe
Manjusri, rodeado e seguido por estes bodhisattvas, discípulos, Sakras, Brahmas,
Lokapalas, deuses, e deusas, entraram na grande cidade de Vaisali.

Entretanto, o Licchavi Vimalakirti pensou, "Manjusri, o príncipe coroado, está vindo


para aqui com numerosos criados. Agora, possa esta casa ser transformada em
vacuidade!"

32
Então, magicamente a casa dele ficou vazia. Até mesmo o porteiro desapareceu. E,
com excepção do sofá do doente no qual o próprio Vimalakirti estava deitado, não
podia ser visto nenhuma cama, sofá ou assento em algum lugar.

Então, o Licchavi Vimalakirti viu o coroado príncipe Manjusri e dirigiu-se-lhe assim:


"Manjusri! Bem vindo, Manjusri! Você é muito bem vindo! Aí está você, sem qualquer
vinda. Você aparece, sem que o vejam. Você é ouvido, sem qualquer audição."

Manjusri declarou, "Dono de casa, é como você diz. Quem vem, realmente não vem.
Quem vai, realmente não vai. Por quê? Vir não pode ser visto no vir (na vinda). E ir
não pode realmente ser visto no ir (na ida). [“Householder, it is as you say. Who
comes, ultimately comes not. Who goes, ultimately goes not. Why? Coming is not
really known in coming, and going is not really known in going. What is seen is not to
be seen again, ultimately.]

"Bom Senhor, a sua condição é tolerável? Dá para seguir vivendo? Seus elementos
físicos não estão perturbados? Sua doença está diminuindo? Não está aumentando?
O Buda pergunta por você — se você tem alguma leve dificuldade ou desconforto, se
a sua perturbação é leve, se você está sendo cuidado, está forte, confortável, sem
remorso, e se você está vivendo em contato com a felicidade suprema.

"Dono de casa, de onde veio esta sua doença? Quanto tempo demorará? Como a
suporta? Como pode ser aliviado?"

Vimalakirti respondeu, "Manjusri, minha doença vem da ignorância e da sede para a


existência e durará tanto quanto a enfermidade de todos os seres vivos. Fossem todos
os seres vivos livres de doença, e eu também não estaria doente. Por quê? Manjusri,
para o bodhisattva, o mundo só consiste em seres vivos, e a doença é inerente a estar
morando no mundo. Se todos os seres vivos fossem livres de doença, o bodhisattva
também estariam livre de doença. Por exemplo, Manjusri, quando o único filho de um
comerciante está doente, ambos seus pais ficam doentes por causa da doença do filho
deles. E os pais sofrerão, enquanto o seu filho único, não recuperar da doença dele. É
assim, Manjusri, o bodhisattva ama todos os seres vivos como se cada um fosse a sua
única criança. Ele fica doente quando eles estão doentes e é curado quando eles são
curados. Você me pergunta, Manjusri, de onde vem minha doença; a enfermidade dos
bodhisattvas surgem da grande compaixão."

Manjusri: Dono da casa, por que está a sua casa vazia? Por que não tem nenhum
criado?

Vimalakirti: Manjusri, todos os campos búdicos (terras puras) são também vazios.

Manjusri: O que os faz esvaziar?

Vimalakirti: Eles são vazios por causa da vacuidade.113

Manjusri: O que é "vazio" com respeito à vacuidade?114

Vimalakirti: As construções são vazias por causa da vacuidade.115

Manjusri: A vacuidade pode ser construída conceitualmente?116

Vimalakirti: Até mesmo esse conceito é vazio, e a vacuidade não pode construir a
vacuidade.117

33
Manjusri: Dono da casa onde deve a vacuidade ser encontrada?

Vimalakirti: Manjusri, a vacuidade deve ser encontrada entre as sessenta e duas


convicções.

Manjusri: E onde as sessenta e duas convicções devem ser encontradas?

Vimalakirti: Elas devem ser encontradas na libertação dos Tathagatas.

Manjusri: E onde a liberação dos Tathagatas deve ser encontrada?

Vimalakirti: Deve ser encontrada na actividade mental principal de todos os seres


vivos. Manjusri, você me pergunta por que estou sem criados, mas todos os Mara e
oponentes são meus criados. Porquê? Mara defende esta vida de nascimento e morte
e o bodhisattva não evita a vida. Os oponentes heterodoxos defendem convicções, e o
bodhisattva não está preocupado com convicções. Então, todos os Mara e oponentes
são meus criados.

Manjusri: Dono da casa, de que tipo é sua doença?

Vimalakirti: É imaterial e invisível.

Manjusri: É física ou mental?

Vimalakirti: Não é física, porque o corpo é insubstancial em si mesmo. Não é mental,


já que a natureza da mente é como a ilusão.

Manjusri: Dono da casa por qual dos quatro elementos principais é afectado - terra,
água, fogo, ou ar?

Vimalakirti: Manjusri, eu só estou doente porque os elementos dos seres vivos estão
perturbados através das enfermidades. 118

Manjusri: Dono da casa, como um bodhisattva devia consolar outro bodhisattva que
está doente?

Vimalakirti: Ele deve dizer-lhe que o corpo é impermanente, mas não o deve exortar à
renúncia ou desgosto.

Ele deve dizer-lhe que o corpo é miserável, mas não deve encorajá-lo a que encontre
consolo na libertação; que o corpo é sem eu, mas os seres vivos devem ser
desenvolvidos; que o corpo é calmo, mas não procurar a calma última.

Ele deve-lhe incutir que confesse as suas más acções, mas não apenas para se livrar
delas.

Ele deve encorajar a sua empatia por todos os seres vivos tendo em conta a sua
própria doença, a recordação do sofrimento experimentado no tempo sem começo, e a
consciência de trabalhar para o bem-estar dos seres vivos.

Ele deve encorajar-se a que não seja afligido, mas manifestar as raízes da virtude,
manter a pureza primitiva e a falta de apego, e assim sempre se esforçar, para se
tornar o rei dos curandeiros, que podem curar todas as enfermidades. Assim deve ser
o consolo de um bodhisattva, para um bodhisattva doente, de tal modo que o faça

34
feliz.

Manjusri perguntou, “Nobre senhor, como deve um bodhisattva doente controlar a sua
própria mente?"

Vimalakirti respondeu, "Manjusri, um bodhisattva doente deve controlar a sua própria


mente com a seguinte consideração: A doença surge do envolvimento total no engano
desde tempos sem começo [misunderstanding from beginningless time]. Surge das
aflições mentais [kleshas, obscurecimentos emocionais], que são o resultado de
construções mentais [kalpana e vikalpa: conceitualização, imputação, designação
conceitual, fabricação: obscurecimentos cognitivos] irreais, e consequentemente no
final de contas nada é percebido que possa ser chamado de doente. Por quê? O corpo
é o motivo dos quatro elementos principais, e nestes elementos não há nenhum dono
e nenhum agente. Não há nenhum eu neste corpo, e com excepção da insistência
arbitrária num eu, de modo último, nenhum "eu" que pode ser dito como doente pode
ser apreendido. Então, pensando ' "Eu" não deveria aderir a nenhum eu, e "eu"
deveria descansar no conhecimento da raiz da doença', ele deve abandonar a sua
concepção como sendo uma personalidade e produzir uma concepção de si mesmo
como sendo uma coisa; pensando 'Este corpo é um agregado de muitas coisas;
quando nasce, só coisas nascem; quando cessar, só coisas cessarão; estas coisas
não têm nenhuma consciência ou sensação umas das outras, e assim; quando elas
nascem, elas não pensam, "Eu nasci." Quando elas cessam, elas não pensam, "Eu
cessei."'

"Além disso, ele deve entender meticulosamente a concepção de si mesmo como uma
coisa, cultivando a seguinte consideração: 'Da mesma maneira que no caso da
concepção do "eu," assim a concepção de "coisa" também é um engano, e este
engano também é uma doença séria; Eu devo livrar-me desta doença e devo esforçar-
me por abandona-la .'120

"Qual é a eliminação desta doença? É a eliminação do egoísmo e da possessividade.

O que é a eliminação do egoísmo e da possessividade? É a liberdade do dualismo.

O que é liberdade do dualismo? É a ausência de envolvimento com o externo ou com


o interno.

O que é ausência de envolvimento com o externo ou o interno? É a não divergência, a


não flutuação, e a não distracção da equanimidade. O que é equanimidade? É a
igualdade [igualdade, one taste] de tudo, desde o eu até à libertação. Por quê?
Porque o eu e a libertação são nulos. Como ambos podem ser nulos? Como
designações verbais, eles são ambos nulos, e nenhum é estabelecido em realidade.
Então, aquele que vê tal igualdade não faz diferença entre doença e vacuidade; a
doença dele é vazia em si mesma, e aquela doença como vacuidade é nula.

"O bodhisattva doente deve reconhecer que a sensação é afinal de contas não
sensação, mas ele não deve conceber a cessação da sensação. Embora prazer e dor
sejam abandonados quando as qualidades-Buda são completamente realizadas, não
há nenhum sacrifício da grande compaixão para todos os seres vivos que vivem nas
más migrações. Assim, reconhecendo no seu próprio sofrimento os sofrimentos
infinitos desses seres vivos, o bodhisattva contempla correctamente esses seres vivos
e resolve curar todas as doenças. Como para esses seres vivos, não há nada a ser
aplicado, não há nada para ser removido; a pessoa só tem que lhes ensinar o Dharma
para eles perceberem a base do qual as enfermidades surgem. Qual é esta base? É a
percepção-objecto. [object-perception] 123

35
Na medida em que essa base de percepção-objeto é objetificada, ela é a base das
doenças. O que é objetificado?

São objetificados os três reinos da existência, como objectos. Qual é a compreensão


completa da base daquela percepção-objeto? É a sua não percepção como objecto
não existente. O que é não percepção? É o sujeito interno e o objecto externo não
percebidos dualísticamente. Então, é chamado não percepção. 124

"Manjusri, assim deve um bodhisattva doente controlar a sua própria mente para
superar a velhice, doença, morte, e nascimento. Tal, Manjusri, é a doença do
bodhisattva. Se considerar de outro modo, todos os seus esforços serão em vão. Por
exemplo, assim como alguém é chamado de "herói" quando supera todos os inimigos,
alguém é chamado de "bodisatva" quando conquista as misérias do envelhecer, da
doença e da morte.125

"O bodhisattva doente deve dizer a si mesmo: 'Da mesma maneira que a minha
doença é irreal e inexistente, assim as enfermidades de todos os seres vivos são
irreais e inexistentes.' Por tais considerações, ele desperta a grande compaixão
[mahakaruna] para todos os seres vivos sem cair em qualquer compaixão
sentimental.126 Ao contrário, desperta a grande compaixão ao se esforça para
eliminar as aflições acidentais. Por quê? Porque a grande compaixão que cai nas
visões de utilidade sentimental somente exaurem o bodhisattva em suas
reencarnações.127 Mas a grande compaixão que é livre do envolvimento com visões
de propósito sentimental não esgota o bodhisattva em todas as suas reencarnações.
Ele não reencarna pelo envolvimento com tais percepções, mas reencarna com a sua
mente livre de envolvimento. Consequentemente, até mesmo sua reencarnação é
como uma libertação. Sendo reencarnado como estando liberto, ele tem o poder e
habilidade para ensinar o Dharma que liberta os seres vivos de sua escravidão. Como
declara o Senhor: 'Não é possível para quem está preso salvar outros da sua prisão.
Mas aquele que se liberou pode liberar outros de suas prisões.' Então, o bodhisattva
deve participar da liberação e não deve participar da escravidão.

"O que é escravidão? E o que é liberação? Entregar-se à liberação do mundo sem


empregar artes libertadoras é escravidão para o bodhisattva. Ocupar-se da vida do
mundo com o emprego total de técnicas libertadoras, é liberação para o bodhisattva.
Experimentar o gosto da contemplação, meditação, e concentração sem habilidade em
técnicas libertadoras é escravidão. Experimentar o gosto da contemplação e
meditação com habilidade em técnicas libertadoras é libertação. Sabedoria não
integrada com técnicas libertadoras é escravidão, mas sabedoria integrada com
técnicas libertadoras é libertação. Técnica libertadora não integrada com sabedoria é
escravidão, mas técnica libertadora integrada com sabedoria é libertação.

"Como é que a sabedoria não integrada com técnicas de libertação, é uma


escravidão? A sabedoria não integrada com técnicas libertadoras, consiste, na
concentração sobre a vacuidade, ausência de sinais, e ausência de desejos, e ainda,
estando incentivado através da compaixão sentimental, o fracasso em concentrar-se
no cultivo dos sinais e marcas auspiciosas, no adorno do campo-Buda, e no trabalho
de desenvolvimento dos seres vivos, é escravidão.

"Como é que a sabedoria, integrada com técnicas libertadoras é uma libertação? A


sabedoria, integrada com técnicas libertadoras consiste em ser incentivada pela
grande compaixão e assim a concentração no cultivo dos sinais e marcas auspiciosas,
no adorno do campo- Buda, e no trabalho de desenvolvimento dos seres vivos,
concentrando todo o tempo na profunda investigação da vacuidade, carência de sinais

36
e carência de desejos, - e isso é libertação.

"O que é a escravidão da técnica libertadora não integrada com a sabedoria? A


escravidão da técnica libertadora não integrada com a sabedoria consiste na
plantação, pelo bodhisattva, de raízes de virtudes sem os dedicar à causa da
iluminação, enquanto vive no aperto das convicções dogmáticas, paixões, apegos,
ressentimentos, e nos seus instintos subconscientes.

"O que é a libertação da técnica libertadora integrada com a sabedoria? A libertação


da técnica libertadora integrada com a sabedoria consiste na dedicação dos
bodhisattvas, nas suas raízes de virtude pela causa da iluminação, sem ter algum
orgulho nisso, enquanto renunciam a todas as convicções, paixões, apegos,
ressentimentos, e aos seus instintos subconscientes.

"Manjusri, assim deve o bodhisattva doente considerar as coisas. A sabedoria dele é a


consideração do corpo, mente, e doença como impermanente, miserável, vazio, e sem
eu. A sua técnica de libertação consiste em não se esvaziar tentando evitar todas as
enfermidades físicas, e na aplicação de si mesmo realizar o benefício dos seres vivos,
sem interromper o ciclo de reencarnações. Além disso, a sua falsa sabedoria, e
entendimento, que o corpo, mente, e doença não são novos nem velhos, mas
simultaneamente sequenciais. E a sua falsa técnica de libertação, não procurando a
cessação do corpo, mente, ou enfermidades. OLHAR INGLES.

"Isto, Manjusri, é o modo como um bodhisattva doente deve concentrar a sua mente;
ele não deve viver nem a controlar nem a favorecer a sua mente. Porquê? Viver
favorecendo a mente, é próprio para os bobos e viver a controlar a mente é próprio
para os discípulos. Então, o bodhisattva nem deveriam viver a controlar nem a
favorecer a sua mente. Não vivendo em qualquer um do dois extremos é o domínio do
bodhisattva.

"O não domínio do indivíduo comum e o não domínio do santo, tal é o domínio do
bodhisattva.

O domínio do mundo contudo não é o domínio das paixões, tal é o domínio do


bodhisattva. Onde a pessoa entendeu o sentido de libertação, e contudo, não entrou
na final e completa libertação, aí é o domínio do bodhisattva.

Onde os quatro Maras se manifestam, e desde que sejam transcendidos todos os


trabalhos de Mara, aí é o domínio do bodhisattva.

Onde a pessoa busca a gnose da omnisciência, e desde que não alcance essa gnose
no momento errado, aí é o domínio do bodhisattva.

Onde a pessoa sabe as Quatro Verdades Santas, e desde que não perceba essas
verdades no momento errado, aí é o domínio do bodhisattva.

Um domínio de perspicácia introspectiva, em que a pessoa não detém a reencarnação


voluntária no mundo, tal é o domínio do bodhisattva.

Um domínio onde a pessoa percebe o não nascimento, e ainda não está destinado à
iluminação, tal é o domínio do bodhisattva.

Onde a pessoa vê relatividade sem entreter qualquer convicção, aí é o domínio do


bodhisattva.

37
Onde a pessoa se associa com todos os seres, e contudo mantém-se livre de todos os
instintos de aflição, aí há o domínio do bodhisattva.

Um domínio de solidão sem lugar para o esgotamento de corpo e da mente, tal é o


domínio do bodhisattva. O domínio do mundo triplo, contudo indivisível do último reino,
tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio da vacuidade, onde a pessoa cultiva todos os tipos de virtudes, tal é o


domínio do bodhisattva.

O domínio da carência de sinais, onde a pessoa detém a visão da libertação de todos


os seres vivos, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio do não apego, onde alguém voluntariamente manifesta as vidas no mundo,


tal é o domínio do bodhisattva.

"Um domínio essencialmente sem empreender, onde são empreendidas todas as


raízes de virtude sem interrupção, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio das seis transcendências onde a pessoa atinge a transcendência dos


pensamentos e acções de todos os seres vivos, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio dos seis super conhecimentos, onde as corrupções não são esgotadas, tal
é o domínio do bodhisattva.

O domínio de viver pelo Dharma santo, sem até mesmo perceber qualquer caminho
mau, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio dos quatro incomensuráveis onde a pessoa não aceita o renascimento no


céu de Brahma, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio das seis recordações, não afectado por qualquer tipo de corrupção, tal é o
domínio do bodhisattva.

O domínio da contemplação, meditação, e concentração onde a pessoa não reencarna


nos reinos informes por meio destas meditações e concentrações, tal é o domínio do
bodhisattva.

O domínio dos quatro aplicações da atenção plena onde a dualidade de bem e mal
não é apreendida, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio das quatro bases dos poderes mágicos onde eles são dominados sem
esforço, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio das cinco faculdades espirituais onde a pessoa conhece os graus das
faculdades espirituais dos seres vivos, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio de viver com os cinco poderes onde a pessoa se encanta nos dez poderes
do Tathagata, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio da perfeição dos sete factores de esclarecimento onde a pessoa é


qualificada no conhecimento das distinções intelectuais boas, tal é o domínio do
bodhisattva.

O domínio do santo óctuplo caminho onde a pessoa se encanta no caminho ilimitado

38
do Buda, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio do cultivo da aptidão para a quietude mental e análise transcendental onde


a pessoa não entra em quietismo extremo, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio da realização da natureza não nascida, de todas as coisas, além da


perfeição do corpo, dos sinais e marcas auspiciosas, e dos ornamentos do Buda, tal é
o domínio do bodhisattva.

O domínio de manifestar as atitudes dos discípulos e os sábios solitários sem


sacrificar as qualidades do Buda, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio da conformidade para todas as coisas totalmente puras em natureza


enquanto manifestando um comportamento que se ajusta às inclinações de todos os
seres vivos, tal é o domínio do bodhisattva.

Um domínio onde a pessoa percebe que todos os campos-Buda são indestrutíveis e


não criáveis, tendo a natureza do espaço infinito, onde a pessoa manifesta o
estabelecimento das qualidades dos campos-Buda em toda a sua variedade e
magnitude, tal é o domínio do bodhisattva.

O domínio onde a pessoa vira a roda do Dharma santo e manifesta a magnificência da


última libertação, nunca abandonando a carreira do bodhisattva, tal é o domínio do
bodhisattva!"

Quando Vimalakirti terminou este discurso, oito mil deuses que estavam na companhia
do príncipe coroado Manjusri conceberam o espírito do inexcedível esclarecimento
perfeito.

6. A libertação inconcebível
De seguida o venerável Shariputra teve este pensamento: “Não há nem mesmo uma
única cadeira nesta casa. Onde estes discípulos e bodhisattvas se vão sentar?"

O Licchavi Vimalakirti leu o pensamento do venerável Shariputra e disse, "Reverendo


Shariputra, você veio aqui por causa do Dharma? Ou você veio aqui por causa de uma
cadeira?"

Shariputra respondeu, "Eu vim por causa do Dharma, não por causa de uma cadeira."

Vimalakirti continuou, "Reverendo Shariputra, aquele que está interessado no Dharma


não está nem sequer interessado no próprio corpo dele, muito menos numa cadeira.

Reverendo Shariputra, aquele que está interessado no Dharma não tem nenhum
interesse em assuntos, sensação, intelecto, motivação, ou consciência. Ele não tem
nenhum interesse nestes agregados, ou nos elementos, ou nos sentidos.

Se está interessado pelo Dharma, ele não tem nenhum interesse no reino do desejo,
no reino dos assuntos, ou no reino imaterial.

Se está interessado pelo Dharma, ele não está interessado em apegos para o Buda,

39
apegos para o Dharma, ou apegos para o Sangha.

Reverendo Shariputra, aquele que está interessado no Dharma não está interessado
em reconhecer sofrimento, abandonando a sua origem, percebendo a sua cessação,
ou praticando o caminho.

Porquê? O Dharma é no final de contas sem formulação e sem verbalização. 134

Quem verbaliza: 'O sofrimento deve ser reconhecido, a origem deve ser eliminada, a
cessação deve ser percebida, o caminho deve ser praticado', não está interessado no
Dharma mas está interessado na verbalização.

"Reverendo Shariputra, o Dharma é tranquilo e calmo. Esses que estão


comprometidos em produção e destruição não estão interessados no Dharma, não
estão interessado em solidão, mas estão interessado em produção e destruição. 135

"Além disso, reverendo Shariputra, o Dharma é sem mancha e livre de corrupção.

Aquele que está preso a qualquer coisa, até mesmo à libertação, não está interessado
no Dharma mas está interessado na mancha do desejo.

O Dharma não é um objecto. Aquele que procura objectos não está interessado no
Dharma mas está interessado em objectos.

O Dharma é sem aceitação ou rejeição.

Aquele que se agarra às coisas ou se deixa guiar pelas coisas não está interessado no
Dharma mas está interessado em segurar e deixar-se guiar pelas coisas.

O Dharma não é um refúgio seguro.

Aquele que desfruta um refúgio seguro não está interessado no Dharma mas está
interessado num refúgio seguro.

O Dharma é sem sinais. Aquele a quem a consciência procura sinais, não está
interessado no Dharma mas está interessado em sinais.

O Dharma não é uma sociedade. Aquele que busca associar-se com o Dharma não
está interessado no Dharma mas está interessado em associação.

O Dharma não é um ponto de vista, um som, uma categoria, ou uma ideia.

Aquele que está envolvido em pontos de vista, sons, categorias e ideias, não está
interessado no Dharma mas está interessado em pontos de vista, sons, categorias, e
ideias.

Reverendo Shariputra, o Dharma está livre de coisas compostas e de coisas não


compostas.

Aquele que adere a coisas compostas e a coisas não compostas não está interessado
no Dharma mas está interessado em aderir a coisas compostas e a coisas não
compostas.

"Assim, reverendo Shariputra, se você estiver interessado no Dharma, você não deve
interessar-se por coisa alguma."136

40
Quando Vimalakirti terminou este discurso, quinhentos deuses obtiveram a pureza do
olho do Dharma, que vê todas as coisas.

Então, o Licchavi Vimalakirti disse ao príncipe coroado, Manjusri, "Manjusri, você já


esteve em inumeráveis, centenas de milhares de campos-Buda, ao longo dos
universos das dez direcções. Em qual campo-Buda, você viu os melhores tronos de
leão, com as melhores qualidades?"

Manjusri respondeu, “Nobre senhor, se a pessoa cruzar os campos-Buda no leste, os


quais são mais numerosos que todos os grãos de areia de trinta e dois Rios de
Ganges, a pessoa descobrirá um universo chamado Merudhvaja. Lá, mora um
Tathagata chamado Merupradiparaja. O corpo dele mede oitenta e quatro centenas de
milhares de léguas de altura, e a altura do trono dele é sessenta e oito centenas de
milhares de léguas. Os bodhisattvas tem quarenta e duas centenas de milhares de
léguas de altura e os seus tronos são trinta e quatro centenas de milhares de léguas
de altura. Nobre senhor, o melhor e o maior dos soberbos tronos, existe naquele
universo Merudhvaja que é o campo-Buda do Tathagata Merupradiparaja."

Naquele momento, o Licchavi Vimalakirti, tendo-se focalizado em concentração,


executou um feito milagroso tal que o Senhor Tathagata Merupradiparaja, no universo
Merudhvaja, enviou para este universo trinta e duas centenas de milhares de tronos.
Estes tronos eram tão altos, espaçosos, e bonitos que os bodhisattvas, grandes
discípulos, Sakras, Brahmas, Lokapalas, e outros deuses, nunca tinham antes, visto
igual. Os tronos desceram do céu e vieram pousar na casa do Licchavi Vimalakirti. As
trinta e duas centenas de milhares de tronos distribuíram-se sem se aglomerarem, e a
casa parecia aumentar-se adequadamente. A grande cidade de Vaisali não se tornou
obscurecida; nem a terra de Jambudvipa, (ou "terra das árvores de jambu", esta é uma
terra povoada por pessoas com karma muito ruim) nem o mundo dos quatro
continentes.

Tudo parecia justamente como estava antes.

Então, o Licchavi Vimalakirti disse ao jovem príncipe Manjusri, "Manjusri, deixe que os
bodhisattvas se sentem nestes tronos, depois de ter transformado os seus corpos a
um tamanho satisfatório!"138

Então, os bodhisattvas que tinham atingido o super conhecimento transformaram os


seus corpos a uma altura de quarenta e duas centenas de milhares de léguas e
sentaram-se nos tronos. Mas os bodhisattvas principiantes não se puderam
transformar e sentar-se nos tronos. Então, o Licchavi Vimalakirti deu a estes
bodhisattvas principiantes um ensinamento que lhes permitiu atingir os cinco super
conhecimentos, e tendo-os atingido, eles transformaram os seus corpos numa altura
de quarenta e duas centenas de milhares de léguas e sentaram-se nos tronos.

Mas ainda os grandes discípulos não podiam sentar-se nos tronos.

O Licchavi Vimalakirti disse ao venerável Shariputra, "Reverendo Shariputra, tome o


seu assento num dos tronos."

Ele respondeu, “Bom senhor, os tronos são muito grandes e muito altos, e eu não me
posso sentar neles."

Vimalakirti disse, "Reverendo Shariputra, curve-se perante o Tathagata


Merupradiparaja, e você poderá tomar o seu assento."

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Então, os grandes discípulos curvaram-se diante do Tathagata Merupradiparaja e
sentaram-se nos tronos.

Então, o venerável Shariputra disse ao Licchavi Vimalakirti, “Nobre senhor, é


surpreendente como estes milhares de tronos, tão grandes e tão altos, se ajustam
dentro duma pequena casa e que a grande cidade de Vaisali, as aldeias, cidades,
reinos, capitais de Jambudvipa, os outros três continentes, os domicílios dos deuses,
dos nagas, dos yakshas, dos gandharvas, dos asuras, dos garudas, dos kimnaras, e
dos mahoragas - que todos eles apareçam sem qualquer obstáculo, da mesma forma
como estavam antes!"

O Licchavi Vimalakirti respondeu, "Reverendo Shariputra, para os Tathagatas e os


bodhisattvas, há uma libertação chamada 'Inconcebível.' O bodhisattva que vive na
libertação inconcebível pode pôr o rei das montanhas, Sumeru, que é tão alto, tão
grande, tão nobre, e tão vasto dentro de uma semente de mostarda. Ele pode executar
este feito sem aumentar a semente de mostarda e sem encolher o Monte Sumeru. E
as deidades da assembleia dos quatro Marajás e dos céus de Trayastrimsa, nem
mesmo eles, sabem onde estão.

Só esses seres que estão destinados para serem disciplinados através de milagres
vêem e entendem, o pôr, o rei das montanhas Sumeru, na semente de mostarda; que,
reverendo Shariputra é uma entrada no domínio da libertação inconcebível dos
bodhisattvas.

"Além disso, reverendo Shariputra, o bodhisattva que vive na libertação inconcebível


pode verter por um único poro da sua pele, todas as águas dos quatro grandes
oceanos, sem prejudicar os animais das águas, como os peixes, tartarugas,
crocodilos, rãs, e outras criaturas, e sem os nagas, yakshas, gandharvas, estarem
conscientes de onde eles estão. E a operação inteira é visível sem qualquer dano ou
perturbação para quaisquer desses seres vivos.

"Tal bodhisattva pode alcançar com a sua mão direita este universo de biliões de
mundos galácticos como se fosse a roda de um oleiro, e girando este círculo, o lance
além de universos tão numerosos quanto as areias da Ganges, sem que os seres
vivos saibam o seu movimento ou origem, e ele pode tomar tudo isto e repor no seu
lugar, sem que os seres vivos suspeitem da sua vinda e ida; e sendo ainda, a
operação inteiramente visível.

"Além disso, reverendo Shariputra, há seres que são disciplinados depois de um


imenso período de evolução, e também há os que são disciplinados depois de um
período curto de evolução. O bodhisattva que vive na libertação inconcebível, por
causa de disciplinar esses seres vivos, que são disciplinados por períodos
imensuráveis de evolução, podem fazer o transcurso de uma semana, parecer como o
transcurso de uma eternidade, e ele pode fazer o transcurso de uma eternidade,
parecer como o transcurso de uma semana, para esses que são disciplinados, por um
período curto de evolução. Os seres vivos que são disciplinados de facto, por um
período imensurável de evolução, percebem uma semana como sendo o transcurso
de uma eternidade, e os que disciplinaram de facto, por um período curto de evolução
percebem uma eternidade como sendo o transcurso de uma semana.

"Assim, um bodhisattva que vive na libertação inconcebível pode manifestar todos os


esplendores das virtudes de todos os campos-Buda dentro de um único campo-Buda.

Ele pode igualmente colocar todos os seres vivos na palma da sua mão direita e pode

42
mostrar para eles, com a velocidade sobrenatural do pensamento, todos os campos-
Buda sem deixar o seu próprio campo-Buda.

Ele pode exibir num único poro todos os oferecimentos feitos a todos os Buddhas das
dez direcções, e os orbes de todos os sóis, luas, e estrelas das dez direcções.

Ele pode inalar todos os furacões dos ventos das atmosferas cósmicas das dez
direcções na sua boca sem prejudicar o seu próprio corpo e sem deixar que as
florestas e as gramas dos campos-Buda sejam esmagados.

Ele pode tomar todas as massas de fogo de todas as supernovas que por ultimo
consomem todos os universos de todos os campos-Buda, no seu estômago e sem
interferir com as suas funções. Tendo cruzado campos-Buda tão numeroso quanto as
areias do Ganges descendente, e tendo erguido um campo-Buda, ele pode alcança-lo
através de campos-Buda tão numerosos quanto as areias do Ganges e coloca-lo bem
alto, da mesma maneira que um homem forte pode apanhar uma folha de açofeifa na
ponta de uma agulha.

"Assim, um bodhisattva que vive na libertação inconcebível, pode, magicamente


transformar qualquer tipo de ser vivo, num monarca universal, num Lokapala, num
Sakra, num Brahma, num discípulo, num sábio solitário, num bodhisattva, e até
mesmo num Buda. O bodhisattva pode transformar todos os gritos e barulhos,
superior, medíocre, e inferior, milagrosamente de todos os seres vivos das dez
direcções, na voz do Buda, com as palavras do Buda, do Dharma, e do Sangha,
tendo-os proclamado, 'Impermanente! Miserável! Vazio! Sem eu!' E ele pode faze-los
recitar as palavras e sons de todos os ensinamentos ensinados por todos os Buddhas
das dez direcções.

"Reverendo Shariputra, eu mostrei-lhe só uma pequena parte da entrada no domínio


do bodhisattva que vive na libertação inconcebível. Reverendo Shariputra, explicar-lhe
o ensinamento completo da entrada no domínio do bodhisattva que vive na libertação
inconcebível requeria mais que um éon, e até mesmo mais que isso."

Então, o patriarca Maha-Kasyapa, tendo ouvido este ensinamento da libertação


inconcebível dos bodhisattvas, estava pasmado, e disse ao venerável Shariputra,
“Venerável Shariputra, se alguém fosse mostrar uma variedade de coisas a uma
pessoa cega de nascença, ela não seria capaz de ver uma única coisa. Igualmente,
venerável Shariputra, quando esta porta da libertação inconcebível é ensinada, todos
os discípulos e sábios solitários estão obscurecidos, como a cegueira do homem de
nascença, e não podem compreender uma única causa da libertação inconcebível.
Quem de entre os que ouvem falar desta libertação inconcebível, não concebe o
espírito do inexcedível, esclarecimento perfeito? Como para nós, aquelas faculdades
estão deterioradas, como uma semente queimada e podre, que mais podemos nós
fazer, que não seja ficarmos receptivos a este grande veículo? Todos nós, discípulos e
sábios solitários, ao ouvir este ensino do Dharma, deveríamos proferir um grito de
arrependimento que tremesse este universo de biliões de mundos galácticos! E para
os bodhisattvas, quando eles ouvem falar desta libertação inconcebível, eles devem
ser tão jubilosos, como quando um jovem príncipe coroado leva o diadema e é ungido,
eles deveriam aumentar a extrema devoção deles, para esta libertação inconcebível.
Realmente, o que podem as inteiras hostes de Mara fazerem, a quem é dedicado a
esta libertação inconcebível?"

Quando o patriarca Maha-Kasyapa acabou de proferir este discurso, trinta e dois mil
deuses conceberam o espírito do inexcedível, esclarecimento perfeito.

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Então o Licchavi Vimalakirti disse ao patriarca Maha-Kasyapa, "Reverendo Maha-
Kasyapa, os Maras que se divertem com o mal nos inumeráveis universos das dez
direcções são todos os bodhisattvas que residem na libertação inconcebível, que se
estão divertindo com o mal para desenvolverem os seres vivos nas habilidades das
suas técnicas de libertação. Reverendo Maha-Kasyapa, todos os mendigos miseráveis
que vêm aos bodhisattvas dos inumeráveis universos das dez direcções para pedir
uma mão, um pé, uma orelha, um nariz, um pouco de sangue, músculos, ossos,
medula, um olho, um torso, uma cabeça, um membro, um sócio, um trono, um reino,
um país, uma esposa, um filho, uma filha, um escravo, uma escrava menina, um
cavalo, um elefante, uma carruagem, um carro, ouro, prata, jóias, pérolas, conchas,
cristal, coral, berilo, tesouros, comida, bebida, elixires, e roupas - estes mendigos
exigentes, normalmente são bodhisattvas que vivem na libertação inconcebível que,
pelas suas habilidades em técnicas de libertação, desejam testar e assim demonstrar
a firmeza da alta resolução dos bodhisattvas. Porquê? Reverendo Maha-Kasyapa, os
bodhisattvas demonstram aquela firmeza por meio de terríveis austeridades. As
pessoas comuns não têm nenhum poder para estar exigindo assim dos bodhisattvas,
a menos que lhes sejam concedidas oportunidades. Eles não são capazes de matar e
privar de tal modo sem que lhes dêem livremente a oportunidade.

"Reverendo Maha-Kasyapa, da mesma maneira que um pirilampo não pode eclipsar a


luz do sol, assim reverendo Maha-Kasyapa, não é possível sem especial permissão,
uma pessoa comum poder atacar e assim privar um bodhisattva. Reverendo Maha-
Kasyapa, da mesma maneira que um burro não pode fazer um ataque a um elefante
selvagem, também assim, reverendo Maha-Kasyapa, alguém que não é um
bodhisattva não pode molestar outro bodhisattva, e só um bodhisattva pode tolerar o
molestamento de outro bodhisattva. Reverendo Maha-Kasyapa, tal é a introdução ao
poder do conhecimento das técnicas de libertação dos bodhisattvas que vivem na
libertação inconcebível."

7. A deusa
De seguida, Manjusri, o príncipe coroado, dirigiu-se ao Licchavi Vimalakirti: “Bom
Senhor, como deve um bodhisattva considerar todos os seres vivos?"

Vimalakirti respondeu, "Manjusri, um bodhisattva deve considerar todos os seres vivos


como os homem sábios consideram a reflexão da lua na água ou como os mágicos
consideram os homens criados por magia.

Ele deve considera-los como um rosto num espelho;

como a água de uma miragem;

como o som de um eco;

como uma massa de nuvens no céu;

como o momento prévio de uma bola de espuma;

como o aparecimento e o desaparecimento de uma bolha de água;

como o núcleo de uma bananeira;

44
como um raio de luz;

como o quinto grande elemento;

como o sétimo sentido;

como o aparecimento da matéria num reino imaterial;

como um rebento de uma semente podre;

como um casaco de pêlo de tartaruga;

como a diversão de jogos para quem deseja morrer;

como as visões egoístas de um fluxo vencedor;

como o terceiro renascimento do que retorna uma vez;

como a descida do que não retorna num útero;

como a existência do desejo, ódio, e loucura num santo;

como pensamentos de avareza, imoralidade, maldade, e hostilidade num bodhisattva


que atingiu a tolerância;

como os instintos de paixões num Tathagata;

como a percepção da cor num cego de nascença;

como a inalação e exalação de um asceta absorto na meditação da cessação;

como o rasto de um pássaro no céu;

como a erecção de um castrado;

como a gravidez de uma mulher estéril;

como as paixões não produzidas de uma encarnação emanadas do Tathagata;

como sonhar visões, vistas depois, de se despertar;

como as paixões de alguém que está livre de conceptualizações;

como o fogo que arde sem combustível;

como a reencarnação de quem obteve a suprema libertação.

"Precisamente assim, Manjusri, faz um bodhisattva que realiza o supremo não eu e


considera todos os seres."

Manjusri perguntou então de seguida, "Nobre senhor, se um bodhisattva considera


todos os seres vivos de tal modo, como gera ele o grande amor para eles?"

Vimalakirti respondeu, "Manjusri, quando um bodhisattva considera todos os seres


vivos deste modo, ele pensa: 'Da mesma maneira que eu percebi o Dharma, assim eu

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o devo ensinar aos seres vivos.'

Assim, ele gera o amor que verdadeiramente é um refúgio para todos os seres vivos;

o amor que é tranquilo porque é livre do apego;

o amor que não é febril, porque é livre de paixões;

o amor que outorga com realidade porque é equânime em todas os três tempos;

o amor que é sem conflito porque está livre da violência das paixões;

o amor que é não dual porque não é envolvido com o externo nem com o interno;

o amor que é imperturbável porque é totalmente supremo.

"Assim, ele gera o amor que é firme, forte, de decisão indestrutível como um diamante;

o amor que é puro, purificado na sua natureza intrínseca;

o amor que é uniforme, sendo igual nas suas aspirações;

o amor do santo que eliminou os seus inimigos;

o amor do bodhisattva que continuamente desenvolve os seres vivos;

O amor dos Tathagatas que entende a realidade;

o amor do Buda que faz os seres vivos despertar do sono deles;

o amor que é espontâneo porque está espontaneamente completamente iluminado;

o amor que é esclarecimento porque é unidade da experiência;

o amor que não tem nenhuma presunção porque eliminou o apego e a aversão;

o amor que é a grande compaixão porque infunde o Mahayana com brilho radiante;

o amor que nunca se esgota porque reconhece o vazio e a abnegação;

o amor que é dar, porque confere o presente do Dharma livre do punho apertado de
um professor ruim;

o amor que é moralidade porque melhora os seres vivos imorais;

o amor que é tolerância porque se protege a si mesmo e os outros;

o amor que é esforço porque assume a responsabilidade por todos os seres vivos;

o amor que é contemplação porque se abstém da indulgência nos gostos;

o amor que é sabedoria porque provoca o conhecimento no momento apropriado;

o amor que é técnica libertadora porque mostra o caminho em qualquer lugar;

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o amor que é sem formalidade porque é puro em motivação;

o amor que é sem desvios porque actua desde a motivação decisiva;

o amor que é, grande decisão, porque é sem paixões;

o amor que é sem engano porque não é artificial;

o amor que é felicidade porque introduz os seres vivos na felicidade do Buddha.

Tal, Manjusri, é o grande amor de um bodhisattva."

Manjusri: O que é a grande compaixão de um bodhisattva?

Vimalakirti: É o dar todas as raízes acumuladas de virtudes a todos os seres vivos.

Manjusri: O que é a grande alegria do bodhisattva?

Vimalakirti: É ser jovial e dar sem arrependimento.

Manjusri: O que é a equanimidade do bodhisattva?

Vimalakirti: É o que beneficia a si mesmo e os outros.

Manjusri: A quem se deve recorrer quando assombrado pelo medo da vida?

Vimalakirti: Manjusri, um bodhisattva que está apavorado pelo medo da vida deve
recorrer à magnanimidade do Buda.

Manjusri: Onde deve, o que deseja recorrer à magnanimidade do Buda, tomar o seu
apoio?

Vimalakirti: Ele deve apoiar-se na equanimidade para todos os seres vivos.

Manjusri: Onde deve o que deseja apoiar-se na equanimidade para todos os seres
vivos tomar o seu apoio?

Vimalakirti: Ele deve viver para a libertação de todos os seres vivos.

Manjusri: O que deve o que deseja libertar todos os seres vivos fazer?

Vimalakirti: Ele deve liberta-los das paixões deles.

Manjusri: Como deve o que deseja eliminar paixões aplicar-se a si mesmo?

Vimalakirti: Ele deve aplicar-se adequadamente a si mesmo.

Manjusri: Como deve ele aplicar-se a si mesmo, para "aplicar-se a si mesmo


adequadamente?"

Vimalakirti: Ele deve aplicar-se a si mesmo à não produção e à não destruição.

Manjusri: O que não é produzido? E o que não é destruído?

Vimalakirti: Mal é não produzido e bem é não destruído.

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Manjusri: Qual é a raiz de bem e do mal?

Vimalakirti: A materialidade é a raiz do bem e do mal.

Manjusri: Qual é a raiz da materialidade?

Vimalakirti: O desejo é a raiz de materialidade.

Manjusri: Qual é a raiz do desejo e do apego?

Vimalakirti: A construção irreal é a raiz do desejo.

Manjusri: Qual é a raiz da construção irreal?

Vimalakirti: O falso conceito é a sua raiz.

Manjusri: Qual é a raiz do falso conceito?

Vimalakirti: A falta de fundamento.

Manjusri: Qual é a raiz da falta de fundamento?

Vimalakirti: Manjusri, quando algo é infundado, como pode haver qualquer raiz? Então,
são infundadas todas as coisas apoiadas na raiz.

Após isto, uma certa deusa que morava naquela casa, depois de ter ouvido este
ensinamento do Dharma dos grandes e heróicos bodhisattvas, e estando deleitada,
contente, e jubilosa, manifestou-se num corpo material e despejou sobre os grandes
heróis espirituais, bodhisattvas, e os grandes discípulos, flores divinas. Quando as
flores caíram nos corpos dos bodhisattvas, elas rolaram para o chão, mas quando elas
caíram nos corpos dos grandes discípulos, eles aderiram a eles e não caíram. Os
grandes discípulos sacudiram as flores e tentaram mesmo usar os seus poderes
mágicos, mas as flores não caíram no chão. Então, a deusa disse ao venerável
Shariputra, "Reverendo Shariputra, por que você sacode essas flores?"

Shariputra respondeu, "Deusa, estas flores não são próprias para pessoas religiosas e
assim nós estamos tentando sacudi-las de nós."

A deusa disse, “Não diga, reverendo Shariputra. Porquê? Estas flores são realmente
próprias! Porquê? Tais flores não têm nem pensamento construtivo nem
discriminativo. Mas o ancião Shariputra tem pensamento construtivo e discriminativo.

"Reverendo Shariputra, a incongruência para os que renunciaram ao mundo, pela


disciplina do Dharma correctamente ensinado, consiste no pensamento construtivo e
na discriminação, contudo os anciões estão cheios de tais pensamentos. Os que estão
sem tais pensamentos, estão sempre correctos.

"Reverendo Shariputra, veja como estas flores não aderem aos corpos destes grandes
heróis espirituais, os bodhisattvas! Isto, é porque eles eliminaram pensamentos
construtivos e discriminativos.

"Por exemplo, os espíritos maus têm poder sobre os homens medrosos, mas não
podem perturbar o destemido. Igualmente, esses intimidados pelo medo do mundo
estão no poder das formas, sons, cheiros, gostos, e texturas que não perturbam os

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que são livres do medo das paixões inerentes, no mundo construtivo. Assim, estas
flores aderem aos corpos dos que não eliminaram os instintos das suas paixões e não
aderem aos corpos dos que eliminaram os seus instintos. Então, as flores não aderem
aos corpos destes bodhisattvas que abandonaram todos os instintos."

Então o venerável Shariputra disse à deusa, "Deusa, à quanto tempo você está nesta
casa?"

A deusa respondeu, "Eu estou aqui, à tanto tempo quanto o ancião está em
libertação."

Shariputra disse, "Então, você está nesta casa á bastante tempo?"

A deusa disse, ao ancião "Está o ancião em libertação à bastante tempo?"

Nesta altura, o ancião Shariputra calou-se.

A deusa continuou, "Ancião, você é 'o primeiro dos sábios!' Por que você não fala?
Agora, que é sua vez, você não responde à pergunta."

Shariputra: Uma vez que a libertação é inexprimível, deusa, eu não sei o que dizer.

Deusa: Todas as sílabas pronunciadas pelo ancião têm a natureza de libertação.


Porquê? Libertação não é nem interna nem externa, nem pode ser apreendida além
dela. Igualmente, sílabas não são nem internas nem externas, nem elas podem ser
apreendidas em qualquer outro lugar. Então, reverendo Shariputra, não aponte a
libertação calando-se! Porquê? A libertação santa é a igualdade de todas as coisas!

Shariputra: Deusa, a libertação não é a liberdade do desejo, ódio, e ignorância?

Deusa: "Libertação é liberdade do desejo, ódio, e ignorância" que é o ensinamento dos


excessivamente orgulhosos.

Mas aqueles livre de orgulho são ensinados que a mesma natureza do desejo, ódio, e
ignorância é ela mesma, libertação.

Shariputra: Excelente! Excelente, deusa! Diga, o que você alcançou, e o que realizou,
para ter tal eloquência?

Deusa: Eu não atingi nada, reverendo Shariputra. Eu não tenho nenhuma realização.
Contudo eu tenho tal eloquência.

Quem pensa, "Eu atingi! Eu percebi!" está demasiado orgulhoso na disciplina do bem
ensinado Dharma.

Shariputra: Deusa, você pertence ao veículo do discípulo, ao veículo solitário, ou ao


grande veículo?

Deusa: Eu pertenço ao veículo do discípulo, quando ensino aos que precisam.


Pertenço ao veículo solitário, quando ensino as doze ligações da origem dependente
aos que precisam delas. E, uma vez que nunca abandono a grande compaixão, eu
pertenço ao grande veículo, já que todos necessitam deste ensinamento para atingir a
libertação suprema.

Não obstante, reverendo Shariputra, da mesma maneira que a pessoa não pode

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cheirar a planta do castor numa floresta de magnólias, mas só a flor da magnólia,
assim, reverendo Shariputra, morando nesta casa que tem a fragrância do perfume
das virtudes das qualidades-Buda a pessoa não cheira o perfume dos discípulos e os
sábios solitários. Reverendo Shariputra, os Sakras, os Brahmas, os Lokapalas, os
devas, nagas, yakshas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, e mahoragas que
moram nesta casa, têm conhecimentos do Dharma, da boca deste homem santo e
atraídos pelo perfume das virtudes das qualidades-Buda, progridem para conceber o
espírito da iluminação.

Reverendo Shariputra, estou nesta casa à doze anos, e nunca ouvi nenhum discurso
relativo aos discípulos e sábios solitários, mas ouvi somente o relativo ao grande
amor, à grande compaixão, e às qualidades inconcebíveis do Buda.

Reverendo Shariputra, oito coisas estranhas e maravilhosas constantemente se


manifestam nesta casa. Quais são estas oito?

Uma luz de coloração dourada brilha aqui constantemente, de uma claridade tão
luminoso que é difícil de distinguir dia e noite; e nem a lua nem o sol brilham aqui tão
distintamente. Isto é a primeira maravilha desta casa.

Além disso, reverendo Shariputra, quem entra nesta casa já não é aborrecido pelas
suas paixões, a partir do momento em que aqui entra. Esta é a segunda coisa
estranha e maravilhosa.

Além disso, reverendo Shariputra, esta casa nunca é abandonada pelos Sakras,
Brahmas, Lokapalas, e os bodhisattvas de todos os outros campos-Buda. Esta é a
terceira coisa estranha e maravilhosa.

Além disso, reverendo Shariputra, esta casa nunca está vazia dos sons do Dharma, do
discurso nas seis transcendências, e dos discursos da roda irreversível do Dharma.
Esta é a quarta coisa estranha e maravilhosa.

Além disso, reverendo Shariputra, nesta casa sempre alguém ouve os ritmos,
canções, e músicas dos deuses e dos homens, e desta música, constantemente
ressoa o som do Dharma infinito do Buda. Esta é a quinta coisa estranha e
maravilhosa.

Além disso, reverendo Shariputra, nesta casa há sempre quatro tesouros inesgotáveis,
repletos com todos os tipos de jóias que nunca diminuem embora todos os pobres e
miseráveis possam compartilha-las para sua satisfação. Esta é a sexta coisa estranha
e maravilhosa.

Além disso, reverendo Shariputra, ao desejo deste homem bom, vêm para esta casa
os inumeráveis Tathagatas das dez direcções, como os Tathagatas Shakyamuni,
Amitabha, Aksobhya, Ratnasri, Ratnarcis, Ratnacandra, Ratnavyuha, Dusprasaha,
Sarvarthasiddha, Ratnabahula, Simhakirti, Simhasvara, e assim sucessivamente; e
quando eles vêm ensinam a porta do Dharma chamada os "Segredos dos Tathagatas"
e depois partem. Esta é a sétima coisa estranha e maravilhosa.

Além disso, reverendo Shariputra, todos os esplendores dos domicílios dos deuses e
todos os esplendores dos campos dos Buddhas brilham diante desta casa. Esta é a
oitava coisa estranha e maravilhosa.

Reverendo Shariputra, estas oito coisas estranhas e maravilhosas são vistas nesta
casa. Quem então, vendo tais coisas inconcebíveis, acreditaria no ensino dos

50
discípulos?

Shariputra: Deusa, o que te impede de te transformares fora do teu estado feminino?

Deusa: Embora eu tenha buscado o meu "estado feminino" durante estes doze anos,
eu não o encontrei ainda. Reverendo Shariputra, se um mágico fosse encarnar uma
mulher por magia, você lhe perguntaria, o que a impede de se transformar fora do seu
estado feminino?"

Shariputra: Não! Uma tal mulher realmente não existiria, assim o que estaria lá
transformado?

Deusa: Justamente assim reverendo Shariputra, todas as coisas realmente não


existem. Agora você pensaria, “O que impede alguém cuja natureza é a de uma
encarnação mágica, de se transformar a ela mesma fora do seu estado feminino?"

Logo de seguida, a deusa empregou o seu poder mágico para fazer o ancião
Shariputra aparecer na forma dela e fazer-se a si, aparecer na forma dele. Então a
deusa, transformada em Shariputra, disse a Shariputra, transformado em deusa,
"Reverendo Shariputra, o que o impede de se transformar fora de seu estado
feminino?"

E Shariputra, transformado na deusa, respondeu, "Eu já não me apareço, na forma de


um macho! Meu corpo mudou para o corpo de uma mulher! Eu não sei o que
transformar!"

A deusa continuou, "Se o ancião se pudesse mudar novamente para fora do estado
feminino, então todas as mulheres também poderiam mudar-se para fora dos estados
femininos delas. Todas as mulheres aparecem na forma de mulheres do mesmo modo
que o ancião aparece na forma de uma mulher. Enquanto elas não são mulheres na
realidade, elas aparecem na forma de mulheres. Com isto em mente, o Buda disse,
'Em todas as coisas, não há nem masculino nem feminino.'"

Então, a deusa libertou o seu poder mágico e cada um voltou à sua forma original. Ela
disse-lhe então,

"Reverendo Shariputra, como fez você, a sua forma feminina?"

Shariputra: Eu nem fiz nem desfiz.

Deusa: Justamente isso, todas as coisas nem são feitas nem são mudadas, e que elas
não são feitas nem são mudados, esse é o ensinamento do Buda.

Shariputra: Deusa, onde você nascerá quando transmigrar depois da morte?

Deusa: Eu nascerei onde todas as encarnações mágicas do Tathagata nascem.

Shariputra: Mas as encarnações emanadas do Tathagata não transmigram nem eles


são nascidos.

Deusa: Todas as coisas e seres vivos são o mesmo; eles não transmigram nem são
nascidos!

Shariputra: Deusa, com que brevidade você alcançará o esclarecimento perfeito da


Budeidade?

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Deusa: Nessa altura, ancião serás dotado mais uma vez das qualidades de um
indivíduo comum, então eu atingirei o esclarecimento perfeito da Budeidade.

Shariputra: Deusa, é impossível que eu deva ser dotado mais uma vez das qualidades
de um indivíduo comum.

Deusa: Por isso, reverendo Shariputra, é impossível que eu deva atingir o


esclarecimento perfeito de Budeidade! Porquê? Porque o esclarecimento perfeito
apoia-se no impossível. Porque é impossível, ninguém atinge o esclarecimento
perfeito de Budeidade.

Shariputra: Mas o Tathagata declarou: "Os Tathagatas que são tão numerosos quanto
as areias da Ganges atingiram a Budeidade perfeita, estão atingindo a Budeidade
perfeita, e irão atingir a Budeidade perfeita."

Deusa: Reverendo Shariputra, a expressão, "os Buddhas do passado, presente e


futuro", é uma expressão convencional composta de um certo número de sílabas. Os
Buddhas não são nem passado, nem presente, nem futuro.

O esclarecimento deles transcende os três tempos! Mas diz-me, ancião, você atingiu a
santidade?

Shariputra: É alcançada, porque não há nenhum objectivo.

Deusa: Exactamente, há esclarecimento perfeito porque não há objectivo de


esclarecimento perfeito.

Então o Licchavi Vimalakirti disse ao venerável ancião Shariputra, "Reverendo


Shariputra, esta deusa já serviu noventa e dois milhões de bilhão de Buddhas.

Ela joga com o super conhecimento.

Ela verdadeiramente teve sucesso em todos os seus votos.

Ela ganhou a tolerância do não nascimento das coisas.

Ela realmente atingiu a irreversibilidade.

Ela pode viver onde quer que ela deseje em virtude do seu voto para desenvolver os
seres vivos."

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8. A família dos Tathagatas

Então, o príncipe coroado Manjusri disse ao Licchavi Vimalakirti, “Nobre senhor, como
segue o bodhisattva o caminho para atingir as qualidades do Buda?"

Vimalakirti respondeu, "Manjusri, quando o bodhisattva seguir o caminho errado, ele


segue o caminho para atingir as qualidades do Buda."

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Manjusri continuou, "Como segue o bodhisattva o caminho errado?"

Vimalakirti respondeu, "Mesmo que ele pratique os cinco pecados mortais, ele não
sente malícia, violência, ou ódio.

Mesmo que ele entre nos infernos, ele permanece livre da toda a mancha das paixões.

Mesmo que ele entre nos estados dos animais, ele permanece livre da escuridão e
ignorância.

Quando ele entrar nos estados dos asuras, ele permanece livre do orgulho, vaidade, e
arrogância.

Quando ele entrar no reino do senhor da morte, ele acumula reservas da mérito e
sabedoria.

Quando ele entrar nos estados da mobilidade e imaterialidade, ele não se dissolve
nisso.

"Ele pode seguir os caminhos do desejo, contudo, ele fica livre do apego aos prazeres
do desejo.

Ele pode seguir os caminhos do ódio, contudo, ele não sente nenhuma raiva por
qualquer ser vivo.

Ele pode seguir os caminhos da loucura, contudo, ele já está consciente com a
sabedoria da firme compreensão.

Ele pode seguir os caminhos da avareza, contudo, ele dá todas as coisas internas e
externas, mesmo sem consideração pela sua própria vida.

Ele pode seguir os caminhos da imoralidade, contudo, vendo o horror das


transgressões mesmo as mais leves, ele vive pelas práticas ascéticas e austeras.

Ele pode seguir os caminhos da maldade e da ira, contudo, ele permanece totalmente
livre da malícia e vive por amor.

Ele pode seguir os caminhos da preguiça, contudo, os seus esforços são ininterruptos,
como o seu esforço no cultivo das raízes da virtude.

Ele pode seguir os caminhos da distracção sensual, contudo, naturalmente


concentrado a sua contemplação não é dissipada.

Ele pode seguir os caminhos da falsa sabedoria, contudo, tendo alcançado a


transcendência da sabedoria, ele é especialista em todas as ciências mundanas e
transcendentais.

"Ele pode mostrar os caminhos da sofisticação e contenção, contudo, ele sempre está
consciente dos significados últimos e aperfeiçoou o uso das técnicas de libertação.

Ele pode mostrar os caminhos do orgulho, contudo, ele serve como uma ponte e uma
escada de mão para todas as pessoas.

Ele pode mostrar os caminhos das paixões, contudo, ele é totalmente imparcial e

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naturalmente puro.

Ele pode seguir os caminhos de Mara, contudo, ele realmente não aceita a autoridade
deles com respeito ao seu conhecimento das qualidades do Buda.

Ele pode seguir os caminhos dos discípulos, contudo, ele deixa os seres vivos ouvirem
o ensinamento que não ouviram antes.

Ele pode seguir os caminhos dos sábios solitários, contudo, ele está inspirado com
grande compaixão para desenvolver todos os seres vivos.

"Ele pode seguir os caminhos do pobre, contudo, ele tem na sua mão uma jóia da
riqueza inesgotável.

Ele pode seguir os caminhos dos estropiados, contudo, ele é bonito e bem adornado
com os sinais e marcas auspiciosas.

Ele pode seguir os caminhos dos de nascimento humilde, contudo, pela sua
acumulação de reservas de mérito e sabedoria, ele nasce na família dos Tathagatas.

Ele pode seguir os caminhos do fraco, do feio, e do miserável, contudo, ele é bonito ao
olhar, e o seu corpo é como o de Narayana.

"Ele pode manifestar aos seres vivos os caminhos do doente e do infeliz, contudo, ele
conquistou completamente e transcendeu o medo da morte.

"Ele pode seguir os caminhos dos ricos, contudo, ele é sem cobiça e frequentemente
reflecte a noção da impermanência.

Ele pode mostrar-se comprometido dançando com meninas do harém, contudo, ele
racha a solidão, depois da ter cruzado o pântano do desejo.

Ele segue os caminhos do bobo e do incoerente, contudo, tendo adquirido o poder dos
encantamentos, ele é adornado com variada eloqüência.

"Ele segue os caminhos do heterodoxo sem ficar heterodoxo.

Ele segue os caminhos do mundo inteiro, contudo, ele inverte todos os estados da
existência.

Ele segue o caminho da liberação sem abandonar o progresso do mundo.

"Manjusri, assim faz o bodhisattva que segue os caminhos errados, seguindo assim o
caminho das qualidades do Buda."

Então, o Licchavi Vimalakirti disse ao coroado príncipe Manjusri, "Manjusri, o que é 'a
família dos Tathagatas?"

Manjusri respondeu, “Nobre senhor, a família dos Tathagatas consiste em todo o


egoísmo básico;

na ignorância e na sede pela existência;

na luxúria, ódio, e loucura;

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nos quatro mal entendidos, nas cinco ofuscações, nos seis sentidos, nos sete
domicílios da consciência, nos oito falsos caminhos, nas nove causas da irritação, nos
caminhos dos dez pecados.

Tal é a família dos Tathagatas. Em resumo, nobre senhor, os sessenta e dois tipos de
convicções constituem a família dos Tathagatas!"

Vimalakirti: Manjusri, o que tens em mente quando dizes isso?

Manjusri: Nobre senhor, o que apoia a determinação da visão fixa do incriado não é
capaz de conceber o espírito do inexcedível esclarecimento perfeito. Porém, o que
vive entre coisas criadas, nas minas das paixões, sem ver alguma verdade, realmente
é capaz de conceber o espírito do inexcedível esclarecimento perfeito.

Nobre senhor, flores como o lotus azul, o lotus vermelho, o lotus branco, o lírio-d'água,
e o lírio da lua, não se desenvolvem no chão seco da selva, mas crescem nos
pântanos e bancos de lama.

Assim, as qualidades-Buda não crescem certamente em seres vivos destinados para o


incriado, mas crescem naqueles seres vivos que são como pântanos, lama e bancos
de paixões.

Igualmente, assim como as sementes não crescem no céu mas crescem na terra,
assim as qualidades-Buda não crescem naqueles determinados para o absoluto, mas
crescem nos que concebem o espírito da iluminação, depois de terem produzido uma
montanha como o Sumeru, de visões egoístas.

Nobre senhor, por estas considerações a pessoa pode entender que todas as paixões
constituem a família dos Tathagatas.

Por exemplo, nobre senhor, sem sair do grande oceano, é impossível achar pérolas
preciosas inestimáveis. Igualmente, sem entrar no oceano da paixões, é impossível
obter a mente da omnisciência.

Então, o ancião Maha Kasyapa aplaudiu o príncipe coroado Manjusri: "Bem! Manjusri
bem! Isto realmente é bem dito! Isto é correcto! As paixões constituem na realidade a
família dos Tathagatas.

Como podemos nós, os discípulos, conceber o espírito da iluminação, ou tornarmo-


nos completamente iluminados com respeito às qualidades do Buda?

Só os culpados dos cinco pecados mortais podem conceber o espírito da iluminação e


podem atingir a Budeidade que é a realização completa das qualidades do Buda!

"Por exemplo, da mesma maneira que os cinco objectos do desejo não têm nenhum
efeito ou impressão sobre os privados das suas faculdades, mesmo assim todas as
qualidades do Buda não têm nenhuma impressão ou afectam os discípulos que
abandonaram todas as aderências.

Assim, os discípulos nunca podem apreciar essas qualidades.

"Então, Manjusri, o indivíduo comum agradece ao Tathagata, mas os discípulos não


agradecem.

Porquê? Os indivíduos comuns, ao aprender das virtudes do Buda, concebem o

55
espírito do inexcedível esclarecimento perfeito, para assegurar a continuidade
ininterrupta da herança das Três Jóias; mas os discípulos, embora eles possam ouvir
falar das qualidades, poderes, e não temeridades do Buda até o fim dos seus dias,
não são capazes de conceber o espírito do inexcedível esclarecimento perfeito."

De seguida, o bodhisattva Sarvarupasamdarsana que estava presente naquela


assembleia dirigiu-se ao Licchavi Vimalakirti: "Dono da casa onde seu pai e mãe, suas
crianças, sua esposa, seus criados, suas empregadas, seus trabalhadores, e seus
criados estão? Onde seus amigos, seus parentes, e familiares estão? Onde seus
criados, seus cavalos, seus elefantes, suas carruagens, seus guarda-costas, e seus
mensageiros estão?"

Assim interrogado, o Licchavi Vimalakirti disse os seguintes versos ao bodhisattva


Sarvarupasamdarsana:

Dos verdadeiros bodhisattvas,

A mãe é a transcendência da sabedoria,

O pai é a habilidade em técnicas de libertação;

Os Líderes nascem de tais pais.

As suas esposas são a alegria no Dharma,

Amor e compaixão são as suas filhas,

O Dharma e a verdade são os seus filhos;

E as suas habitações é o profundo pensamento do significado da vacuidade.

Todas as paixões são as suas discípulas,

Controladas à vontade.

Os seus amigos são as ajudas e esclarecimento;

Assim eles realizam a iluminação suprema.

Os seus companheiros, sempre com eles,

São as seis transcendências.

Os cônjuges deles são os meios de unificação,

A música deles é o ensino do Dharma.

Os encantamentos fazem o seu jardim,

Que floresce com as flores dos factores do esclarecimento,

Com árvores da grande riqueza do Dharma,

E frutas da gnose da libertação.

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A piscina deles consiste nas oito libertações,

Cheia da água da concentração,

Coberto com os lotus das sete impurezas -

Quem toma banho ali fica imaculado.

Os seus titulares são os seis super conhecimentos.

O seu veículo é o inexcedível Mahayana,

O seu motorista é o espírito do esclarecimento,

E o caminho deles é a paz óctupla.

Os seus ornamentos são os sinais auspiciosos,

E as oitenta marcas;

A sua grinalda é a aspiração virtuosa,

E a suas roupa é a boa consciência e a consideração.

A sua riqueza é o santo Dharma,

E o seu negócio é o seu ensino,

A sua grande receita é a prática pura,

E é dedicada ao esclarecimento supremo.

A cama deles consiste nas quatro contemplações,

E a sua expansão é o puro sustento,

E o seu despertar consiste na gnose,

Que é a aprendizagem constante e a meditação.

A sua comida é a ambrosia dos ensinos,

E a sua bebida é o suco da libertação.

O seu banho é pura aspiração,

E moralidade o seu unguento e perfume.

Tendo conquistado as paixões inimigas,

Eles são os heróis invencíveis.

Tendo subjugado os quatro Maras,

Eles elevam o seu padrão no campo do esclarecimento.

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Eles manifestam o nascimento voluntariamente,

E assim não nascem, nem são originados.

Eles brilham em todos os campos dos Buddhas,

Justamente como o sol nascente.

Embora eles adorem os Buddhas por milhões,

Com todo o oferecimento concebível,

Eles nunca residem na menor diferença

Entre os Buddhas e eles mesmos.

Eles viajam por todos os campos-Buda

Para trazer benefício aos seres vivos,

E ainda vêem esses campos como espaço vazio,

Livre de qualquer noção conceptual de “seres vivos."

Os bodhisattvas destemidos podem manifestar,

Tudo num único momento,

As formas, sons, e modos de comportamento

De todos os seres vivos.

Embora eles reconheçam as acções de Mara,

Eles podem dar-se bem até mesmo com este Mara

Porque tais atividades podem ser manifestadas

Por esses aperfeiçoados em técnica de libertação.

Eles jogam com manifestações ilusórias

Para desenvolver os seres vivos,

Mostrando-se a si mesmos, como velhos ou doente,

E manifestando as suas próprias mortes.

Eles demonstram o ardor da terra

Nas consumidoras chamas do fim do mundo,

Para demonstrar a impermanência

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Para os seres vivos com a noção de estadia.

Convidados por centenas de milhares de seres vivos,

Todos no mesmo país,

Eles participam dos oferecimentos em todas as casas,

E dedicam tudo à causa da iluminação.

Eles superam em todas as ciências esotéricas,

E nas muitos diferentes artes,

E produzem a felicidade

De todos os seres vivos.

Dedicando-se eles mesmos como monges

Para todas as seitas estranhas do mundo,

Eles desenvolvem todos esses seres

Que se prenderam a visões dogmáticas.

Eles podem tornar-se sóis ou luas,

Indras, Brahmas, ou senhores de criaturas,

Eles podem tornarem-se fogo ou água

Ou terra ou vento.

Durante os curtos éons de moléstias,

Eles se tornam a melhor medicina santa;

Eles fazem os seres bons e felizes,

E provocam a sua libertação.

Durante os curtos éons de escassez,

Eles se tornam comida e bebida.

Tendo primeiro aliviado a sede e a fome,

Eles ensinam o Dharma aos seres vivos.

Durante os curtos éons de espadas,

Eles meditam no amor,

Apresentando a não violência

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A centenas de milhões de seres vivos.

No meio de grandes batalhas

Eles permanecem imparciais a ambos os lados;

Para os bodhisattvas de grande força

Deleitam-se na reconciliação do conflito.

Para ajudar os seres vivos,

Eles voluntariamente descem

Aos infernos, que estão ligados

A todos os inconcebíveis campos-Buddha.

Eles manifestam as suas vidas

Em todas as espécies do reino animal,

Ensinando o Dharma em todos lugares.

Assim eles são chamados os "Líderes."

Eles exibem prazer sensual aos mundanos,

E transes ao meditativo.

Eles conquistam Mara completamente,

E não lhes permitem nenhuma possibilidade de prevalecer.

Da mesma maneira que pode ser mostrado, que um lotus

Não pode existir no centro de um fogo,

Assim eles mostram o último irrealismo

De prazeres e transes.

Eles se tornam cortesãs intencionalmente

Para ganhar os homens,

E, tendo-os pegado com o gancho do desejo,

Estabelecem-nos dentro da gnose-Buda.

Para ajudar os seres vivos,

Eles sempre se tornam os comandantes,

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Capitães, padres, e ministros,

Ou até mesmo Primeiro Ministros.

Por causa dos pobres,

Eles se tornam tesouros inesgotáveis,

Procurando que, aos que dão os seus presentes

Concebam o espírito do esclarecimento.

Eles se tornam os campeões invencíveis,

Por causa da vaidade e do orgulhoso,

E, tendo conquistado todo seu orgulho,

Eles os iniciam na indagação da iluminação.

Eles sempre se erguem à frente

Dos terrificados pelo medo,

E, tendo-lhes conferido animo,

Eles os desenvolvem para a iluminação.

Eles se tornam grandes homens santos,

Com o super conhecimento e pura continência,

E assim induzem os seres vivos à moralidade

Da tolerância, bondade, e disciplina.

Aqui no mundo, eles sem medo contemplam

Os que são os mestres a serem servidos,

E eles se tornam seus criados ou escravos,

Ou os servem como seus discípulos.

Bem treinados em técnicas de libertação,

Eles demonstram em todas as atividades,

Quaisquer possibilidades, que possam ser os meios,

De fazer os seres se encantar no Dharma.

As suas práticas são infinitas;

E as suas esferas de influência são infinitas;

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Tendo aperfeiçoado uma sabedoria infinita,

Eles libertam uma infinidade de seres vivos.

Até mesmo para os seus Buddhas,

Durante um milhão de eternidades,

Ou até mesmo cem milhões de eternidades,

Seria difícil de expressar todas as suas virtudes.

Com excepção de alguns seres vivos inferiores,

Sem qualquer inteligência de forma alguma

Qualquer pessoa com algum discernimento

Que, tendo ouvido este ensinamento,

Não desejaria a suprema iluminação?

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9. A porta do Dharma da não dualidade

Então, o Licchavi Vimalakirti perguntou àqueles bodhisattvas, “Bons senhores, por


favor expliquem como os bodhisattvas entram na porta do Dharma da não dualidade!"

O bodhisattva Dharmavikurvana declarou, “Nobre senhor, produção e destruição são


dois, mas o que não é produzido e não acontece não pode ser destruído. Assim a
obtenção da tolerância do não nascimento das coisas é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Srigandha declarou, “ 'eu' e 'meu' são dois. Se não houver nenhuma
presunção dum eu, não haverá nenhuma possessividade. Assim, a ausência de
presunção é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Srikuta declarou," 'Corrupção' e 'purificação' são dois. Quando houver


conhecimento completo da corrupção, não haverá nenhuma vaidade sobre a
purificação. O caminho que conduz à conquista completa de toda a vaidade é a
entrada na não dualidade."

O bodhisattva Bhadrajyotis declarou", 'Distracção' e 'atenção' são dois. Quando não


houver nenhuma distracção, não haverá nenhuma atenção, nenhuma actividade
mental, e nenhuma intensidade mental. Assim, a ausência de intensidade mental é a
entrada na não dualidade."

O bodhisattva Subahu declarou, ” 'Espírito Bodhisattva' e 'espírito discípulo' são dois.


Quando ambos são vistos para se assemelharem a um espírito ilusório, não há
nenhum espírito bodhisattva, nem qualquer espírito discípulo. Assim, a uniformidade
das naturezas dos espíritos é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Animisa declarou", 'Cobiça' e 'não cobiça' são dois. O que não é cobiça

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não é percebido, e o que não é percebido, nem não é presumido, nem é repudiado.
Assim, a inacção e não envolvimento de todas as coisas são a entrada na não
dualidade."

O bodhisattva Sunetra declarou, “ 'Singularidade' e 'falta de caracter' são dois. Não


presumir ou construir algo, não é; nem estabelecer a sua singularidade, nem
estabelecer a sua falta de caracter. Penetrar a igualdade destes dois é entrar na não
dualidade."

O bodhisattva Tisya declarou", 'Bom' e 'mau' são dois. Não buscando nem o bom, nem
o mau, a compreensão da não dualidade, do significado e do sem sentido, é a entrada
na não dualidade."

O bodhisattva Simha declarou", 'Perversidade' e 'não pecado' são dois. Por meio da
sabedoria do diamante, que trespassa rápido, não estar preso ou libertado, é a
entrada na não dualidade."

O bodhisattva Simhamati declarou, “Dizer, 'Isto é impuro' e 'isto é imaculado' traz


dualidade. O que, atingindo a equanimidade, não forma nenhuma concepção de
impureza ou imaculabilidade, e contudo, não está completamente sem concepção, tem
equanimidade sem qualquer objectivo de equanimidade - ele entra na ausência dos
laços conceptuais. Assim, ele entra na não dualidade."

O bodhisattva Suddhadhimukti declarou, “Dizer, 'Isto é felicidade' e 'Isto é miséria' é


dualismo. O que está livre de todos os cálculos, pela pureza extrema da gnose - a
mente dele é indiferente, como o espaço vazio; e assim ele entra na não dualidade."

O bodhisattva Narayana declarou, “Dizer, 'Isto é mundano' e 'isto é transcendental' é


dualismo. Este mundo tem a natureza da vacuidade, assim não há nem
transcendência nem envolvimento, nem progressão, nem paralisação. Assim, nem
transcender nem ser envolvido, nem ir nem ficar - esta é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Dantamati declarou, “ ‘Vida' e 'libertação' é dualismo. Tendo visto a


natureza da vida, nenhuma pessoa pertence a ela, nem é totalmente liberto dela. Tal
compreensão é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Pratyaksadarsana declarou, "' Destrutível' e 'indestrutível' é dualismo. O


que é destruído é finalmente destruído. O que é finalmente destruído, não se torna
destruído; consequentemente, é chamado 'indestrutível.' O que é indestrutível é
instantâneo, e o que é instantâneo é indestrutível. A experiência desta maneira, é
chamada 'a entrada no princípio da não dualidade.'"

O bodhisattva Parigudha declarou, "' Eu' e 'carência de eu' é dualismo. Como a


existência do eu não pode ser percebida, o que lá será feito 'sem eu?' Assim, o não
dualismo da visão da natureza deles, é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Vidyuddeva declarou, "' Conhecimento' e 'ignorância' é dualismo. As


naturezas da ignorância e do conhecimento são as mesmas, para a ignorância é
indefinido, incalculável, e além da esfera do pensamento. A realização disto é a
entrada na não dualidade."

O bodhisattva Priyadarsana declarou, "A matéria em si é vazia. A vacuidade não é o


resultado da destruição da matéria, mas a natureza da matéria é ela mesma vazia.
Então, falar de vacuidade por um lado, e de matéria, ou de sensação, ou de intelecto,
ou de motivação, ou de consciência por outro - é totalmente dualismo.

63
A consciência é em si mesma vacuidade. Vacuidade não é o resultado da destruição
da consciência, mas a natureza da consciência é ela mesma vacuidade. Tal
entendimento dos cinco agregados compulsivos e o conhecimento deles, tal como, por
meio da gnose é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Prabhaketu declarou, dizer que os quatro elementos principais são uma
coisa, e o espaço, elemento etéreo, é outra, é dualismo. Os quatro elementos
principais são a natureza de espaço. O próprio passado também é a natureza do
espaço. O próprio futuro também é a natureza do espaço. Igualmente, o próprio
presente também é a natureza do espaço. A gnose que penetra os elementos deste
modo é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Pramati declarou, "' Olho' e 'forma' é dualismo. Entender o olho


correctamente, e não ter apego, aversão, ou confusão com respeito à forma - isso é
chamado 'paz.' Da mesma forma, 'orelha' e 'som,' 'nariz' e 'cheiro,' 'língua' e gosto',
'corpo' e toque', e 'mente' e 'fenómenos’ - todos são dualismo. Mas conhecer a mente,
e não ser apegado, nem oposto, nem confuso com respeito aos fenómenos - isso é
chamado 'paz.' Viver em tal paz, é entrar na não dualidade."

O bodhisattva Aksayamati declarou, "A dedicação da generosidade, como meio de


atingir a omnisciência é dualismo. A natureza da generosidade é, em si, omnisciência,
e a natureza de omnisciência, ela mesma, é dedicação total.

Igualmente, é dualismo dedicar moralidade, tolerância, esforço, meditação, e


sabedoria, por causa da omnisciência. A omnisciência é a natureza da sabedoria, e a
dedicação total é a natureza da omnisciência. Assim, a entrada neste princípio de
singularidade é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Gambhiramati declarou, "É dualismo dizer que vacuidade é uma coisa,
a carência de sinais, outra, e a carência de desejos ainda outra. O que é vazio não
tem nenhum sinal. O que não tem nenhum sinal, não tem nenhum desejo. Onde não
há nenhum desejo, não há nenhum processo de pensamento, mente, ou consciência.
Ver as portas de todas as libertações na porta de uma libertação é a entrada na não
dualidade."

O bodhisattva Santendriya declarou, "É dualidade dizer, “ 'O Buda,' 'Dharma,' e


'Sangha.' O Dharma é a natureza do Buda, o Sangha é a natureza do Dharma, e todos
eles são não compostos. O não composto é espaço infinito, e os processos de todas
as coisas são equivalentes ao espaço infinito. Ajustar tudo isto é a entrada na não
dualidade."

O bodhisattva Apratihatanetra declarou, “ É dualidade referir-se a 'agregados’ e a


'cessação dos agregados.' Os agregados são cessação em si mesmos. Porquê? Os
pontos de vista egoístas dos agregados, sendo eles mesmos, não produzidos, não
existem no fim de contas. Consequentemente tais pontos de vista realmente não
fazem a conceptualização de 'Estes são agregados’ ou 'Estes agregados cessam.' No
fim de contas, eles não têm tal construção discriminativa e nenhuma tal
conceptualização. Então, tais pontos de vista têm em si mesmos a natureza da
cessação. A não ocorrência e a não destruição são a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Suvinita declarou,” Os votos; físicos, verbais, e mentais não existem


dualísticamente. Porquê? Estas coisas têm a natureza da inactividade. A natureza da
inactividade do corpo, é igual à natureza da inactividade da fala, cuja natureza da
inactividade, é igual, à natureza da inactividade da mente. É necessário saber e

64
entender este facto da inactividade ultima de todas as coisas, este conhecimento é a
entrada na não dualidade."

O bodhisattva Punyaksetra declarou, "É dualidade considerar as acções, em


meritórias, pecaminosas, ou neutras. O não empreendimento de acções meritórias,
pecaminosas, e neutras é não dualismo. A natureza intrínseca de todas as acções é a
vacuidade, onde em ultimo caso, não há nenhum mérito, nem pecado, nem
neutralidade, nem acção. A não realização de tais acções é a entrada na não
dualidade."

O bodhisattva Padmavyuha declarou, "O dualismo é produzido da obsessão com o eu,


mas o verdadeiro entendimento do eu não resulta em dualismo. Quem assim
permanece, na não dualidade, está sem ideação, e aquela ausência de ideação é a
entrada na não dualidade."

O bodhisattva Srigarbha declarou, "A dualidade é constituída pela manifestação


perceptual. A não dualidade é não objectiva. Então, o não apego e a não rejeição é a
entrada na não dualidade."

O bodhisattva Candrottara declarou, "' Escuridão' e 'luz' é dualismo, mas a ausência


de ambos, escuridão e luz, é não dualidade. Porquê? No momento da absorção na
cessação, não há nem escuridão nem luz, e do mesmo modo, com as naturezas de
todas as coisas. A entrada nesta equanimidade é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Ratnamudrahasta declarou, "É dualidade detestar o mundo e alegrar-se


na liberação, e nem detestar o mundo, nem alegrar-se na libertação são, não
dualidade. Porquê? A libertação pode ser encontrada onde há escravidão, mas onde
há, não escravidão, onde está a necessidade da libertação? O mendigo que não é
nenhum cioso ou libertador, não experimenta qualquer gostar ou qualquer antipatia e
assim ele entra na não dualidade."

O bodhisattva Manikutaraja declarou, "É dualidade falar de caminhos bons e caminhos


maus. Quem está no caminho, não está preocupado com bons ou maus caminhos.
Vivendo em tal despreocupação, ele não se entretém com nenhum conceito de
'caminho' ou 'não caminho.' Entendendo a natureza dos conceitos, a mente dele não
se ocupa de dualidade. Tal é a entrada na não dualidade."

O bodhisattva Satyarata declarou, "É dualidade falar de 'verdadeiro' e 'falso.' Quando a


pessoa verdadeiramente vê, a pessoa nunca vê qualquer verdade, assim; como se
pode ver falsidade? Porquê? A pessoa não vê com o olho físico, a pessoa vê com o
olho da sabedoria. E com o olho da sabedoria a pessoa só vê na medida em que, não
há visão, nem não visão. Lá, onde não há nem visão nem não visão, é a entrada na
não dualidade."

Quando os bodhisattvas deram as suas explicações, todos eles dirigiram-se ao


príncipe coroado Manjusri: "Manjusri, qual é a entrada dos bodhisattvas na não
dualidade?"

Manjusri respondeu: “Bons senhores, todos vocês falaram bem. Não obstante, todas
as vossas explicações são em si mesmas dualidade. Não conhecer nenhum
ensinamento, não expressar nada, para não dizer nada, não explicar nada para não
anunciar nada, não indicar nada e não designar nada - isso é a entrada na não
dualidade."

Então o príncipe coroado Manjusri disse ao Licchavi Vimalakirti, "Todos nós temos

65
dado os nossos próprios ensinamentos, nobre senhor. Agora, possa você elucidar-nos
no ensino, da entrada no princípio, da não dualidade!"

Após isto, o Licchavi Vimalakirti manteve-se em silêncio, não dizendo nada.

O príncipe coroado Manjusri aplaudiu o Licchavi Vimalakirti: "Excelente! Senhor


excelente, nobre! Esta realmente é a entrada na não dualidade dos bodhisattvas. Aqui
não há nenhum uso para sílabas, sons, e ideias."

Quando estes ensinamentos foram declarados, cinco mil bodhisattvas entraram na


porta do Dharma da não dualidade e atingiram a tolerância do não nascimentos de
coisas.

10. O banquete trazido pela


encarnação emanada
Nisto, o venerável Shariputra pensou para consigo, "Se estes grandes bodhisattvas
não suspendem antes do meio dia, quando vão eles comer?"

O Licchavi Vimalakirti, sabendo do pensamento do venerável Shariputra,


telepaticamente, falou-lhe:

"Reverendo Shariputra, o Tathagata ensinou as oito libertações. Você deveria


concentrar-se nessas libertações, enquanto escuta o Dharma, com uma mente livre de
preocupações com as coisas materiais. Espere um pouco, reverendo Shariputra, e
você comerá tal comida como nunca provou antes."

Então, o Licchavi Vimalakirti, fixou-se numa tal concentração e executou um tal feito
milagroso, que foi permitido aos bodhisattvas e aos grandes discípulos, ver o universo
chamado Sarvagandhasugandha, que fica situado na direcção do zénite, além de
muitos campos budas, como há areias, em quarenta e dois rios Ganges. Ali o
Tathagata chamado Sugandhakuta, reside, vive, e manifesta-se. Naquele universo, as
árvores emitem uma fragrância que de longe ultrapassa todas as outras fragrâncias,
humanas e divinas, de todos os campo-budas das dez direcções. Naquele universo,
até mesmo os nomes "discípulo" e "sábio solitário" não existem, e o Tathagata
Sugandhakuta só ensina o Dharma a um conjunto de bodhisattvas. Naquele universo,
todas as casas, as avenidas, os parques, e os palácios são feitos de vários perfumes,
e a fragrância da alimentação, comida por aqueles bodhisattvas penetra universos
imensuráveis.

Nesta altura, o Tathagata Sugandhakuta sentou-se com os seus bodhisattvas para


tomarem a sua refeição, e as deidades chamadas Gandhavyuhahara, que eram todas
dedicadas ao Mahayana, serviram e prestaram atenção no Buda e aos seus
bodhisattvas. Todos os que estavam reunidos na casa de Vimalakirti, puderam ver
distintamente este universo, em que o Tathagata Sugandhakuta e os seus
bodhisattvas estavam tomando a sua refeição.

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O Licchavi Vimalakirti dirigiu-se ao conjunto dos bodhisattvas: “Bons senhores, há
entre vocês, quem gostaria de ir àquele campo buda, e trazer um pouco daquela
comida?"

Mas, contidos pelo poder sobrenatural de Manjusri, nenhum deles se ofereceu para ir.

O Licchavi Vimalakirti disse ao príncipe coroado Manjusri, "Manjusri, você não está
envergonhado desta assembleia?"

Manjusri respondeu, “Nobre senhor, não declara o Tathagata, 'Os que não são bem
educados, devem ser menosprezados?'"

Então, o Licchavi Vimalakirti, sem se levantar do seu sofá, magicamente emanou um


encarnação bodhisattva, cujo corpo era de cor dourada, adornado com os sinais e
marcas auspiciosos, e de tal aparência que excedeu em brilho a assembleia inteira. O
Licchavi Vimalakirti dirigiu-se àquele bodhisattva encarnado: “Nobre Filho, vá na
direcção do zénite e quando tiveres cruzado tantos campo-budas, quanto há de areia
em quarenta e dois rios Ganges, alcançarás um universo chamado
Sarvagandhasugandha onde encontrarás o Tathagata Sugandhakuta a tomar a sua
refeição.

Vá até ele e, curvando-se aos seus pés, faça-lhe o seguinte pedido:

"'O Licchavi Vimalakirti inclina-se cem mil vezes a seus pés, Ó Senhor, e pergunta
depois pela sua saúde - se tem dificuldades, desconforto, desassossego; se está forte,
bem, sem reclamação, e vivendo em contacto com a felicidade suprema.' "Tendo
perguntado assim, pela saúde dele, você deve dizer-lhe 'Vimalakirti pede ao Senhor,
para dar-me os restos da sua refeição, com que ele realizará o trabalho Buda no
universo chamado "Saha." (Saha quer dizer 'resistência' e sempre se refere ao nosso
sistema mundial presente) Assim, serão inspirados, com altas aspirações, os seres
vivos com aspirações inferiores, e o nome bom do Tathagata será celebrado longa e
amplamente."

A isto, o bodhisattva encarnado, disse, "Muito bem!", ao Licchavi Vimalakirti e


obedeceu às instruções dele.

À vista de todos os bodhisattvas, ele virou a sua face para cima e partindo, eles não
mais o viram. Quando chegou ao universo Sarvagandhasugandha, curvou-se aos pés
do Tathagata Sugandhakuta e disse, "Senhor, o bodhisattva Vimalakirti, curvando-se
aos pés do Senhor, cumprimenta o Senhor, perguntando: 'O Senhor tem dificuldades,
desconforto, e desassossego? Está o Senhor forte, bem, sem reclamação, e vivendo
em contacto com a felicidade suprema?' Ele pede então, depois de se ter curvado cem
mil vezes aos pés do Senhor: 'Pode o Senhor por cortesia dar-me os restos da sua
refeição para realizar o trabalho Buda no universo chamado Saha?. Assim, os seres
vivos que aspiram a caminhos inferiores podem ganhar inteligência para aspirar ao
grande Dharma do Buda, e o nome do Buda será celebrado longa e amplamente.'"

Ao que os bodhisattvas do campo Buda do Tathagata Sugandhakuta ficaram


surpresos e pediram ao Tathagata Sugandhakuta, "Senhor onde existe semelhante
grande ser como este? Onde é o universo Saha? O que quer ele dizer com 'esses que
aspiram a caminhos inferiores?"

Tendo sido assim interrogado por aqueles bodhisattvas, o Tathagata Sugandhakuta


disse, “Nobres filhos, o universo Saha existe, mais além de muitos campo-budas, na
direcção do nadir, como tantas, as areias, de quarenta e dois Rios de Ganges. Lá o

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Tathagata Shakyamuni ensina o Dharma aos seres vivos que aspiram aos caminhos
inferiores, nesse campo-Buda manchado com as cinco corrupções. Lá o bodhisattva
Vimalakirti que vive na liberação inconcebível, ensina o Dharma aos bodhisattvas. Ele
enviou este bodhisattva encarnação aqui, para celebrar o meu nome, mostrar as
vantagens deste universo, e para aumentar as raízes de virtude desses bodhisattvas."

Os bodhisattvas exclamaram, "Quão grande deve aquele bodhisattva ser, se a sua


encarnação mágica, está assim dotada com poder sobrenatural, força, e intrepidez”.

O Tathagata disse, "A grandeza daquele bodhisattva é tal, que ele envia encarnações
mágicas a todos os campos budas das dez direcções, e todas estas encarnações
realizam o trabalho Buda para todos os seres vivos em todos esses campos budas."

Então, o Tathagata Sugandhakuta verteu alguma da sua comida, saturada com todos
os perfumes, num recipiente fragrante e deu-o ao bodhisattva encarnado. E os
noventa milhões de bodhisattvas daquele universo ofereceram-se para irem juntos,
com ele: "Senhor, nós também gostaríamos de ir àquele universo Saha, ver, honrar, e
servir o Buda Shakyamuni, ver Vimalakirti e esses bodhisattvas."

O Tathagata declarou, “Nobres filhos, vão se acham que o tempo é correcto. Mas,
para que esses seres vivos não fiquem loucos e intoxicados, não levem os vossos
perfumes. E, para que esses seres vivos do mundo Saha não fiquem ciumentos de
vocês, mudem os vossos corpos para esconder a vossa beleza. E não concebam
ideias de desprezo e aversão para com aquele universo. Porquê? “Nobres filhos, um
campo Buda é um campo de espaço puro, mas os Senhores Buddhas para
desenvolverem os seres vivos, não revelam o puro reino Buda, todo de uma vez."

Então o bodhisattva encarnado pegou na comida e partiu com os noventa milhões de


bodhisattvas e pelo poder do Buda e da operação sobrenatural de Vimalakirti,
desapareceram daquele universo Sarvagandhasugandha e ergueram-se novamente
na casa de Vimalakirti numa fracção de segundo. O Licchavi Vimalakirti criou
exactamente noventa milhões de tronos de leão como os que já lá estavam e os
bodhisattvas sentaram-se.

Então, o bodhisattva encarnado deu o recipiente cheio de comida a Vimalakirti, e a


fragrância daquela comida penetrou inteiramente a grande cidade de Vaisali e o seu
doce perfume espalhou-se ao longo de cem universos.

Dentro da cidade de Vaisali, os Brahmas, donos da casa, e até mesmo o Licchavi


comandante Candracchattra, tendo notado esta fragrância, estavam pasmados e
cheios de maravilha. Eles foram assim limpos, no corpo e mente e vieram
imediatamente à casa de Vimalakirti, juntos com todos os oitenta e quatro mil dos
Licchavis.

Vendo os bodhisattvas sentados nos tronos de leão, altos, largos, e bonitos, ficaram
cheios de admiração e grande alegria. Todos eles se curvaram diante desses grandes
discípulos e bodhisattvas e então sentaram-se a um lado. E os deuses da terra, os
deuses do mundo desejo, e os deuses do mundo material, pelo perfume, também
vieram a casa de Vimalakirti.

Então, o Licchavi Vimalakirti falou para o ancião Shariputra e os grandes discípulos:


"Reverendos, comam desta comida do Tathagata! É ambrosia perfumada pela grande
compaixão. Mas não fixem as vossas mentes em atitudes tacanhas, com receio de
serem incapazes de receber este presente."

68
Mas alguns dos discípulos já tinham tido o pensamento: "Como pode uma enorme
multidão, comer tão pequena quantidade de comida?"

Então o bodhisattva encarnado disse àqueles discípulos, “Não comparem, veneráveis,


a vossa própria sabedoria e méritos com a sabedoria e os méritos do Tathagata!
Porquê? Por exemplo, os quatro grandes oceanos poderiam secar, mas esta comida
nunca seria absorvida. Se todos os seres vivos comessem durante uma eternidade,
uma quantidade desta comida igual em tamanho ao Monte Sumeru, mesmo assim não
seria absorvida. Porquê? Vinda da inesgotável moralidade, concentração, e sabedoria,
não podem ser absorvidos os restos da comida do Tathagata, contidos neste
recipiente."

Na verdade a assembleia inteira estava satisfeita com aquela comida, e esta não foi
esgotada.

Tendo comido aquela comida, surgiu nos corpos destes bodhisattvas, discípulos,
Sakras, Brahmas, Lokapalas, e outros seres vivos, uma felicidade, igual às felicidades
dos bodhisattvas do universo Sarvasukhamandita. E de todos os poros da pele deles,
um perfume surgiu, como o das árvores que crescem no universo
Sarvagandhasugandha.

Então, o Licchavi Vimalakirti dirigiu-se aos bodhisattvas que tinham vindo do campo
Buda do Senhor Tathagata Sugandhakuta conscientemente: “Nobres senhores, como
o Tathagata Sugandhakuta ensina o Dharma dele?" Eles responderam, "O Tathagata
não ensina o Dharma por meio de sons ou da linguagem. Ele só disciplina os
bodhisattvas por meio de perfumes. Ao pé de cada árvore de perfume senta-se um
bodhisattva, e as árvores emitem perfumes como este aqui. Desde o momento em que
eles cheiram aquele perfume, os bodhisattvas atingem a concentração chamada 'fonte
de todas as virtudes bodhisattva.' Desde o momento em que eles atingem aquela
concentração, todas as virtudes bodhisattva produzem-se neles."

Aqueles bodhisattvas perguntaram então ao Licchavi Vimalakirti, "Como ensina o Buda


Shakyamuni o Dharma?"

Vimalakirti respondeu, “Bons senhores, estes seres vivos aqui, são difíceis de
disciplinar.”

Então, ele os ensina com discursos apropriados, para os disciplinar do, selvagem e
incivilizado.

Como ele disciplina o selvagem e incivilizado? Que discursos são apropriados? Aqui
estão eles:

“Este é o inferno.

Este é o mundo animal.

Este é o mundo do senhor da morte.

Estas são as adversidades.

Estes são os renascimentos com faculdades diminuídas.

Estes são os delitos físicos, e estas são as retribuições para os delitos físicos.

69
Estes são os delitos verbais, e estas são as retribuições para os delitos verbais.

Estes são os delitos mentais, e estas são as retribuições para os delitos mentais.

Isto é matar.

Isto é roubar.

Isto é comportamento sexual impróprio.

Isto é mentir.

Isto é caluniar.

Isto é fala frívola.

Isto é cobiça.

Isto é malícia.

Isto é falsos pontos de vista. Estas são as suas retribuições.

Isto é avareza, e este é o seu efeito.

Isto é imoralidade.

Isto é ódio.

Isto é indolência.

Isto é o fruto da indolência.

Isto é falsa sabedoria e isto é o fruto da falsa sabedoria.

Estas são as transgressões dos preceitos.

Este é o voto da liberação pessoal.

Isto deve ser feito e aquilo não deve ser feito.

Isto é próprio e isto deve ser abandonado.

Isto é uma ofuscação e aquilo é sem ofuscação.

Isto é pecado e aquilo surge sobre o pecado.

Isto é o caminho e aquilo é o caminho errado.

Isto é a virtude e aquilo é mal.

Isto é censurável e aquilo é inocente.

Isto é contaminado e aquilo é imaculado.

Isto é mundano e aquilo é transcendental.

70
Isto é composto e aquilo é não composto

Isto é paixão e aquilo é purificação.

Isto é vida e aquilo é libertação.'

"Assim, por meio destas variadas explicações do Dharma, o Buda treina as mentes
destes seres vivos, que são como cavalos selvagens. Da mesma maneira, que os
cavalos selvagens ou os elefantes selvagens não são domesticados, a menos que o
aguilhão os perfure até à medula, assim só são disciplinados os seres vivos, que são
selvagens e duros de civilizar, por meio de discursos sobre todos os tipos de misérias."

Os bodhisattvas disseram, "Assim é confirmada a grandeza do Buda Shakyamuni!

É maravilhoso como, escondendo o seu poder milagroso, ele civiliza os seres vivos
selvagens que são pobres e inferiores. E os bodhisattvas que se instalam num campo
Buda, de tão intensos sofrimentos, têm que ter inconcebível grande compaixão!"

O Licchavi Vimalakirti declarou, "Assim seja, bons senhores! É como dizem. A grande
compaixão dos bodhisattvas que reencarnam aqui é extremamente firme. Numa única
vida neste universo, eles proporcionam muito benefício para os seres vivos. Tanto
beneficio para os seres vivos, não pode ser proporcionado no universo
Sarvagandhasugandha mesmo em cem mil eternidades. Porquê? Bons senhores,
neste universo de Saha, há dez virtuosas práticas que não existe em qualquer outro
campo Buda.

Quais são essas dez? Aqui estão elas:

ganhar o pobre por generosidade;

ganhar o imoral através da moralidade;

ganhar o odioso por meio da tolerância;

ganhar o preguiçoso por meio do esforço;

ganhar o mentalmente perturbado por meio da concentração;

ganhar o falsamente sábio por meio de verdadeira sabedoria;

mostrar aos que sofrem das oito adversidades, como erguer-se sobre elas;

ensinar o Mahayana aos de comportamento de mente tacanha;

ganhar os que não obtêm as raízes da virtude por meio das raízes da virtude;

e desenvolver os seres vivos sem interrupção pelos quatro meios de unificação.

Aqueles que se ocupam destas dez virtuosas práticas, não existem em qualquer outro
campo Buda."

Novamente os bodhisattvas perguntaram, "Quantas qualidades tem que ter um


bodhisattva, para ir são e salvo a um puro campo-Buda depois que ele transmigre a
morte, deste universo de Saha?"

71
Vimalakirti respondeu, "Depois que ele transmigrar a morte desde este universo de
Saha, um bodhisattva tem que ter oito qualidades para alcançar um puro campo-Buda
são e salvo. Quais são as oito?

Ele tem que se decidir:

'Eu devo beneficiar todos os seres vivos, sem procurar o mais leve benefício, até
mesmo para mim.

Eu devo suportar todas as misérias de todos os seres vivos e tenho que dar todas as
minhas acumuladas raízes de virtude a todos os seres vivos.

Eu não devo ter nenhum ressentimento para qualquer ser vivo.

Eu devo alegrar-me em todos os bodhisattvas como se eles fossem o professor.

Eu não devo negligenciar nenhum ensino, se eu não os ouvi antes.

Eu devo controlar a minha mente, sem desejar os ganhos de outros, e sem me


orgulhar dos ganhos próprios.

Eu devo examinar as minhas próprias faltas e não culpar outros pelas suas faltas.

Eu devo obter prazer em estar conscientemente atento e devo empreender


verdadeiramente todas as virtudes.'

"Se um bodhisattva tiver estas oito qualidades, quando ele transmigrar na morte,
desde este universo Saha, ele irá seguro e ileso a um puro campo Buda."

Quando o Licchavi Vimalakirti e o príncipe coroado Manjusri, que tinham ensinado


assim o Dharma, à multidão que ali se juntara, cem mil seres vivos conceberam o
espírito do inexcedível esclarecimento perfeito, e dez mil bodhisattvas atingiram a
tolerância do sem nascimento das coisas.

11. Lição do destrutível e do


indestrutível
Entretanto, a área na qual o Senhor estava ensinando o Dharma no jardim de
Amrapali, expandiu-se e cresceu, e a assembleia inteira apareceu tingida com uma cor
dourada.

72
De seguida, o venerável Ananda perguntou ao Buda, "Senhor, esta expansão e
amplificação do jardim de Amrapali e esta cor dourada da assembleia, o que faz estes
auspiciosos sinais, pressagiar?"

O Buda declarou, "Ananda, este auspicioso sinal pressagia que o Licchavi Vimalakirti e
o príncipe coroado Manjusri, seguidos pela grande multidão, estão vindo à presença
do Tathagata."

Naquele momento o Licchavi Vimalakirti disse ao príncipe coroado Manjusri, "Manjusri,


levemos estes muitos seres vivos à presença do Senhor, de forma que eles possam
ver o Tathagata e possam-se curvar perante ele!"

Manjusri respondeu, “Nobre senhor, envio-os se você sente que é o momento certo!"

De seguida o Licchavi Vimalakirti executou o feito milagroso de colocar a assembleia


inteira repleta com tronos, na sua mão direita e então, tendo-se transportado
magicamente à presença do Buda, colou-os no chão.

Ele curvou-se aos pés do Buda, circundou-o à direita sete vezes com as palmas das
mão juntas, e retirou-se para um lado.

Os bodhisattvas que haviam vindo do campo Buda do Tathagata Sugandhakuta


desceram dos seus tronos de leão, curvaram-se aos pés do Buda, colocaram as suas
palmas das mãos juntas em reverência e retiraram-se para um lado.

E os outros bodhisattvas, grandes heróis espirituais, e os grandes discípulos desceram


igualmente dos seus tronos e, tendo-se curvados aos pés do Buda, retiraram-se para
um lado.

Igualmente todos os Indras, Brahmas, Lokapalas, e Senhores se curvaram aos pés do


Buda, colocaram as palmas das suas mãos juntas, em reverência e retiraram-se para
um lado.

Então, o Buda, tendo deleitado estes bodhisattvas com saudações, declarou, Nobres
filhos", Sentem-se em vossos tronos!"

Assim comandados pelo Buda, eles tomaram os seus tronos.

O Buda disse a Shariputra, "Shariputra, você viu os desempenhos milagrosos dos


bodhisattvas, esses melhores seres?"

"Eu os vi, Senhor."

"Que conceito fizeste deles?"

"Senhor, eu produzi o conceito da incompreensibilidade deles.

As suas atividades apareceram-me inconcebíveis ao ponto em que eu era incapaz de


pensar nelas, os julgar, ou até mesmo os imaginar."

Então o venerável Ananda perguntou ao Buda, "Senhor, que perfume é este, que
nunca como este, eu cheirei antes?"

O Buda respondeu, "Ananda, este perfume emana de todos os poros de todos estes

73
bodhisattvas."

Shariputra juntou, “Venerável Ananda, este mesmo perfume emana de todos os


nossos poros também!"

Ananda: De onde vem o perfume?

Shariputra: O Licchavi Vimalakirti obteve um pouco de comida do universo chamado


Sarvagandhasugandha, o campo Buda do Tathagata Sugandhakuta, e este perfume
emana dos corpos de todos os que participaram naquela comida.

Então o venerável Ananda dirigiu-se ao Licchavi Vimalakirti: "Quanto tempo este


perfume permanecerá?"

Vimalakirti: Até ser digerido.

Ananda: Quando será digerido?

Vimalakirti: Será digerido em quarenta e nove dias, e seu perfume emanará durante
sete dias mais, depois disso, mas não haverá nenhuma dificuldade de indigestão
durante aquele tempo.

Além disso, reverendo Ananda, se os monges que não tenham entrado na última
determinação, comerem desta comida, ela será digerida quando eles entrarem nessa
determinação.

Quando os que tiverem entrado na última determinação comerem desta comida, não
será digerida até que as suas mentes estejam totalmente libertadas.

Se os seres vivos que não conceberam o espírito do inexcedível esclarecimento


perfeito, comerem desta comida, ela será digerida, quando eles conceberem o espírito
do inexcedível esclarecimento perfeito.

Se os que conceberam o espírito do esclarecimento perfeito, comerem desta comida,


não será digerida até que eles atingiram a tolerância.

E se os que atingiram a tolerância, comerem desta comida, será digerida quando eles
se tornarem bodhisattvas a uma vida da Budeidade.

Reverendo Ananda, é como a medicina chamada "deliciosa," que alcança o estômago


mas não é digerida, até que todos os venenos das paixões tenham sido eliminados, só
então ela é digerida. Assim, reverendo Ananda, esta comida não é digerida, até todos
os venenos das paixões serem eliminados, e só então é digerida.

Então, o venerável Ananda disse ao Buda, "Senhor, é maravilhoso que esta comida
completa o trabalho do Buda!"

"Assim é, Ananda! É como você diz, Ananda!

Há campos Buda que realizam o trabalho Buda por meio dos bodhisattvas;

os que fazem assim por meio de luzes;

os que fazem assim por meio da árvore da iluminação;

74
os que fazem assim por meio da beleza física e das marcas do Tathagata;

os que fazem assim por meio de roupões religiosos;

os que fazem assim por meio do bem;

os que fazem assim por meio da água;

os que fazem assim por meio de jardins;

os que fazem assim por meio de palácios;

os que fazem assim por meio de mansões;

os que fazem assim por meio de encarnações mágicas;

os que fazem assim por meio do espaço vazio;

e os que fazem assim por meio de luzes no céu.

Porque é assim, Ananda? Porque por estes vários meios, os seres vivos são
disciplinados. Similarmente, Ananda, há campos Buda que realizam o trabalho Buda
por meio de ensinar palavras aos seres vivos, definições, e exemplos, tais como
'sonhos,' 'imagens,' 'a reflexão da lua na água', 'ecos,' 'ilusões,' e 'miragens; e os que
realizam o trabalho Buda fazendo as palavras compreensíveis.

Também, Ananda, há puros campos Buda completos que realizam o trabalho Buda
para os seres vivos sem fala, pelo silêncio, sem expressão, e sem a habilidade de
ensinar. Ananda, entre todas as atividades, prazeres, e práticas dos Buddhas, não há
nenhuma que não realize o trabalho Buda, porque todas disciplinam os seres vivos.
Finalmente, Ananda, os Buddhas realizam o trabalho Buda por meio dos quatro Maras
e todos os oitenta quatro mil tipos de paixão que afligem os seres vivos.

"Ananda, esta é uma porta do Dharma chamada 'Introdução para todas as qualidades
Buda.

' O bodhisattva que entra nesta porta do Dharma não sofre nem alegria nem orgulho,
quando confrontado por um campo Buda adornado com o esplendor de todas as
nobres qualidades, e não sofrem nem tristeza nem aversão, quando confrontados por
um campo Buda aparentemente sem aquele esplendor, mas em todo o caso, produz
uma profunda reverência para todos os Tathagatas.

Realmente, é maravilhoso como todos os Senhores Buddhas que entendem a


igualdade de todas as coisas manifestam todos os tipos de campos Buda para
desenvolverem os seres vivos!

"Ananda, da mesma maneira que os campos Buda são diversos, com as suas
qualidades específicas, mas não fazendo nenhuma diferença, como o céu que os
cobre, assim, Ananda, os Tathagatas são diversos como os seus corpos físicos, mas
não diferem sobre as suas desimpedidas gnoses.

"Ananda, todos o Buddhas são iguais como a perfeição das qualidades Buda, que são:
as suas formas, as suas cores, o seu brilho, os seus corpos, as suas marcas, a sua
nobreza, a sua moralidade, a sua concentração, a sua sabedoria, a sua libertação , a
sua gnose e pontos de vista da libertação, as suas forças, os seus não medos, as

75
suas especiais qualidades Buda, o seu grande amor, a sua grande compaixão, as
suas úteis intenções, as suas atitudes, as suas práticas, os seus caminhos, a extensão
das suas vidas, os seus ensinamentos do Dharma, o seu desenvolvimento e libertação
dos seres vivos, e a sua purificação dos campo Buda.

Então, eles são todos chamados 'Samyaksambuddhas,' 'Tathagatas,' e 'Buddhas.'

"Ananda, se a tua vida durasse um éon inteiro, não seria fácil o senhor entender o
extenso significado e precisa significação verbal destes três nomes completamente.

Também, Ananda, se todos os seres vivos deste universo galáctico de biliões de


mundos estivessem como tu, o mais adiantado dos instruídos e o mais adiantado dos
dotados de memória e encantamentos, e se, se dedicassem um éon inteiro, eles
mesmo assim, não poderiam entender completamente, o significado exacto e extenso
das três palavras 'Samyaksambuddhas,' 'Tathagata,' e 'o Buda.'

Assim, Ananda, o esclarecimento dos Buddhas é imensurável, e a sabedoria e a


eloqüência dos Tathagatas são inconcebíveis."

Então, o venerável Ananda dirigiu-se ao Buda:

"De hoje em diante, Senhor eu já não me declararei ser o mais adiantado dos
instruídos."

O Buda disse, ”Não fique desencorajado, Ananda! Porquê?

Eu pronunciei-te, Ananda, o mais adiantado dos instruídos, com os discípulos em


mente, não considerando os bodhisattvas.

Olhe, Ananda, olhe para os bodhisattvas.

Eles não podem ser compreendidos nem sequer pelo mais sábio dos homens.
Ananda, a pessoa pode compreender as profundidades do oceano, mas a pessoa não
pode compreender as profundidades da sabedoria, gnose, memória, encantamentos,
ou eloqüência dos bodhisattvas. Ananda, deves permanecer em equanimidade com
respeito às acções dos bodhisattvas. Porquê? Ananda, estas maravilhas exibidas
numa única manhã pelo Licchavi Vimalakirti não poderiam ser executadas pelos
discípulos e sábios solitários, que atingiram poderes milagrosos, onde eles dedicaram
todos os seus poderes de encarnação e transformação durante cem mil milhões de
eternidades."

Então, todos aqueles bodhisattvas do campo Buda do Tathagata Sugandhakuta


uniram as suas palmas das mãos em reverência e, saudando o Tathagata
Shakyamuni, dirigiram-se-lhe assim:

"Senhor, quando nós primeiramente chegamos a este campo Buda, nós concebemos
uma ideia negativa, mas nós agora abandonámos essa ideia errada.

Porquê? Senhor, os reinos dos Buddhas e as suas qualidades em técnicas de


libertação, são inconcebíveis.

Para desenvolver os seres vivos, eles manifestam tal e tal campo, para adaptar os
desejos, a tal e tal ser vivo.

Senhor, por favor nos dê um ensinamento pelo qual nós nos possamos lembrar do

76
Senhor, quando voltarmos a Sarvagandhasugandha."

Tendo assim sido pedido, o Buda declarou,

"Nobres filhos, há uma libertação dos bodhisattvas chamada 'destrutível e


indestrutível.’

'Vocês devem treinarem-se nesta libertação.

Qual é ela?

'Destrutível' recorre a coisas compostas.

'Indestrutível' recorre ao não composto.

Mas o bodhisattva nem deve destruir o composto nem deve descansar no não
composto.

"Não destruir coisas compostas consiste em não perder o grande amor;

não renunciar à grande compaixão;

não esquecer a mente omnisciente, gerada pelas grandes resoluções;

não se cansar no desenvolvimento positivo dos seres vivos;

não abandonar os meios de unificação; renunciar ao corpo e vida para apoiar o santo
Dharma;

não estar nunca satisfeito com as raízes de virtude que já acumularam; ter prazer na
dedicação hábil; não ter preguiça na procura do Dharma; estar sem reticências
egoístas a ensinar o Dharma;

não se poupar a nenhum esforço para ver e venerar os Tathagatas; ser destemido em
reencarnações voluntárias;

não ficar orgulhoso com o sucesso nem se curvar ao fracasso;

não menosprezar os que não aprendem, e respeitar os instruídos como se fossem o


Mestre eles mesmos; tornar razoáveis aqueles cujas paixões são excessivas; obter
prazer na solidão, sem ficar preso a ela;

não ansiar pela sua própria felicidade mas ansiar pela felicidade dos outros; conceber
o transe, a meditação, e a equanimidade como se eles fossem o inferno de Avici;
conceber o mundo como um jardim de liberação;

considerar os mendigos como se fossem os seus mestres espirituais;

considerar o dar todas as posses como sendo o meio de perceber a Budeidade;

considerar os seres imorais como seus salvadores;

considerar as transcendências como seus pais;

considerar as ajudas aos esclarecimentos como sendo seus criados;

77
nunca deixar cessar a acumulação das raízes da virtude;

estabelecer as virtudes de todos os campos Buda no seu próprio campo Buda;

oferecer ilimitados puros sacrifícios para observar as marcas o os sinais auspiciosas;

adornar corpo, fala e mente contendo-se de todos os pecados;

continuar nas reencarnações durante eternidades imensuráveis, enquanto se purifica o


corpo, fala, e mente;

evitar o desânimo, através do heroísmo espiritual, ao aprender as virtudes


imensuráveis do Buda;

brandindo a espada afiada da sabedoria para castigar as paixões inimigas;

conhecer bem os agregados, os elementos, e os sentidos para suportar os fardos de


todos os seres vivos;

brilhar com energia para conquistar o anfitrião dos demónios;

buscar o conhecimento para evitar o orgulho;

estar contente com pouco desejo para apoiar o Dharma;

não se misturar nas coisas mundanas para deleitar todas as pessoas;

sendo sem defeito em todas as atividades para conformar todas as pessoas;

produzir o super conhecimento para realizar de facto, todas os deveres de beneficiar


os seres vivos;

adquirir encantamentos, memória, e conhecimento para reter toda a aprendizagem;

entender os graus das faculdades espirituais das pessoas para dispersar as dúvidas
de todos os seres vivos;

exibir feitos milagrosos invencíveis para ensinar o Dharma;

ter fala irresistível por ter adquirindo eloqüência desimpedida;

provocar o sucesso humano e divino, purificando o caminho das dez virtudes;

estabelecer o caminho dos puros estados de Brahma cultivando os quatro


imensuráveis;

convidar os Buddhas a ensinar o Dharma, alegrando-se neles, e os aplaudindo,


obtendo assim a voz melodiosa de um Buda;

disciplinar o corpo, fala, e mente, mantendo assim o progresso espiritual constante;

estar sem apego a coisa alguma e assim adquirir o comportamento de um Buda;

reunir-se à ordem dos bodhisattvas para atrair os seres ao Mahayana;

78
estar a todo o momento conscientemente e atento para não negligenciar as boas
qualidades.

Nobres filhos, um bodhisattva que assim se aplica ao Dharma é um bodhisattva que


não destrói o reino composto.

"O que é o não descanso no não composto? O bodhisattva pratica a vacuidade,


mas ele não realiza a vacuidade.

Ele pratica a carência de sinais mas não realiza a carência de sinais.

Ele pratica a carência de desejos mas não realiza a carência de desejos.

Ele pratica o não desempenho mas não percebe o não desempenho.

Ele conhece a impermanência mas não é complacente sobre as suas raízes da


virtude.

Ele considera a miséria, mas ele reencarna voluntariamente.

Ele conhece a carência do eu mas não se desperdiça.

Ele considera a paz mas não busca a paz extrema.

Ele aprecia a solidão mas não evita esforços mentais e físicos.

Ele considera a carência de lugar mas não abandona o lugar das boas acções.

Ele considera a carência de ocorrências mas responsabiliza-se para suportar os fardos


de todos os seres vivos.

Ele considera a imaculabilidade, contudo ele segue o processo do mundo.

Ele considera a carência de movimento, contudo ele move-se para desenvolver todos
os seres vivos.

Ele considera a carência do eu e não abandona a grande compaixão para com todos
os seres vivos.

Ele considera o não nascimento, contudo ele não entra na última determinação dos
discípulos.

Ele considera a vaidade, futilidade, insubstancialidade, dependência, e carência de


lugar, contudo ele fundamenta-se nos méritos que não são vãos, no conhecimento que
não é fútil, em reflexões que são significativas, no esforço para a consagração da
gnose independente, e no significado definitivo da família Buda.

"Assim, nobres filhos, um bodhisattva que aspira a tal Dharma, nem descansa no não
composto nem destrói o composto.

"Além disso, nobres filhos, para efectivar uma reserva de mérito, um bodhisattva não
descansa no não composto, e para efectivar uma reserva de sabedoria, ele não
destrói o composto.

79
Para cumprir o grande amor, ele não descansa no não composto, e para cumprir a
grande compaixão, ele não destrói coisas compostas.

Para desenvolver os seres vivos, ele não descansa no não composto, e para aspirar
às qualidades Buda, ele não destrói coisas compostas.

Para aperfeiçoar as marcas da Budeidade, ele não descansa no não composto, e,


para aperfeiçoar a gnose da omnisciência, ele não destrói coisas compostas.

Fora da habilidade em técnicas libertadoras, ele não descansa no não composto, e,


por análise completa com a sua sabedoria; ele não destrói coisas compostas.

Para purificar o campo Buda, ele não descansa no não composto, e, pelo poder da
graça do Buda, ele não destrói coisas compostas.

Porque ele sente as necessidades dos seres vivos, ele não descansa no não
composto, e para mostrar verdadeiramente o significado do Dharma, ele não destrói
coisas compostas.

Por causa da sua reserva de raízes de virtudes, ele não descansa no não composto, e
por causa do seu instintivo entusiasmo por estas raízes de virtude, ele não destrói
coisas compostas.

Para satisfazer as suas orações, ele não descansa no não composto, e, porque ele
não tem nenhum desejo, ele não destrói coisas compostas.

Porque o seu pensamento positivo é puro, ele não descansa no não composto, e,
porque a sua forte decisão é pura, ele não destrói coisas compostas.

Para jogar com os cinco super conhecimentos, ele não descansa no não composto, e,
por causa dos seis super conhecimentos da gnose Buda, ele não destrói coisas
compostas.

Para cumprir as seis transcendências, ele não descansa no não composto, e, para
cumprir o tempo, ele não destrói coisas compostas.

Para juntar os tesouros do Dharma, ele não descansa no não composto, e, porque ele
não gosta de qualquer ensinamento medíocre, ele não destrói coisas compostas.

Porque ele junta todas as medicinas do Dharma, ele não descansa no não composto,
e, para aplicar a medicina do Dharma adequadamente, ele não destrói coisas
compostas.

Para confirmar os seus compromissos, ele não descansa no não composto, e, para
reparar qualquer fracasso desses compromissos, ele não destrói coisas compostas.

Para preparar todos os elixires do Dharma, ele não descansa no não composto, e,
para distribuir o néctar deste Dharma subtil, ele não destrói coisas compostas.

Porque ele conhece completamente todo o sofrimento devido às paixões, não


descansa no não composto, e para curar todo o sofrimento de todos os seres vivos,
ele não destrói coisas compostas.

"Assim, nobres filhos, o bodhisattva não destrói coisas compostas e não descansa no
não composto, e isso é a libertação dos bodhisattvas chamada 'destrutível e

80
indestrutível.' Nobres senhores, vocês devem também esforçarem-se nisto."

Então, aqueles bodhisattvas, tendo ouvido este ensinamento, ficaram satisfeitos,


encantados, e reverentes.

Eles ficaram cheios de alegria e felicidade da mente. Para adorar o Buda Shakyamuni
e os bodhisattvas do universo de Saha, assim como este ensinamento, eles cobriram
a terra inteira, deste universo de biliões de mundos com pó fragrante, incenso,
perfumes, e flores até à altura dos joelhos.

Tendo-se deleitado na comitiva completa do Tathagata, inclinaram as suas cabeças


aos pés do Buda, circundaram-no à direita três vezes, e cantaram-lhe um hino de
elogio.

Então eles desapareceram deste universo e num segundo estavam de volta ao


universo Sarvagandhasugandha.

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12. Visão do Universo


Abhirati e do Tathagata
Aksobhya
De seguida, o Buddha disse ao Licchavi Vimalakirti, “Nobre filho, quando vês o
Tathagata, como tu o vês?" Assim interrogado, o Licchavi Vimalakirti disse ao Buda,
"Senhor, quando eu olhava o Tathagata, eu não via nenhum Tathagata. Porquê? Eu
vejo-o como não nascido do passado, não passando para o futuro, e não residindo no
tempo presente. Porquê?

Ele é a essência do qual é a realidade da matéria, mas ele não é a matéria.

Ele é a essência do qual é a realidade da sensação, mas ele não é a sensação.

Ele é a essência do qual é a realidade do intelecto, mas ele não é o intelecto.

Ele é a essência do qual é a realidade da motivação, contudo, ele não é a motivação.

Ele é a essência do qual é a realidade da consciência, contudo, ele não é a


consciência.

81
Como o elemento do espaço, ele não reside em qualquer dos quatro elementos.
Transcendendo a extensão do olho, orelha, nariz, língua, corpo, e mente, ele não é
produzido nos seis sentidos.

Ele não é envolvido nos três mundos, está livre das três corrupções, é
associado com a liberação tripla, está dotado com os três conhecimentos, e
verdadeiramente atingiu o inacessível.

"O Tathagata alcançou o extremo da indiferença com respeito a todas as coisas,


contudo, ele não é uma realidade limite.

Ele reside na realidade última, contudo, não há nenhuma relação entre isso e ele.

Ele não é, produzido das causas, nem ele depende de condições.

Ele não é, sem qualquer característica, nem tem qualquer característica.

Ele não tem natureza única, nem qualquer diversidade de naturezas.

Ele não é, uma concepção, nem uma construção mental, nem é uma não concepção.

Ele é, nem a outra margem, nem esta margem, nem a do meio.

Ele é, nem aqui, nem ali, nem em qualquer outro lugar.

Ele é, nem isto nem aquilo.

Ele não pode ser descoberto pela consciência, nem ele é inerente à consciência.

Ele é, nem escuridão nem luz.

Ele é, nem nome nem sinal.

Ele é, nem fraco nem forte.

Ele não vive em nenhum país ou direcção.

Ele é, nem bom nem mau.

Ele é nem, composto nem não composto.

Ele não pode ser explicado como tendo qualquer significado seja do que for.

"O Tathagata é nem generosidade nem avareza, nem moralidade, nem imoralidade,
nem tolerância, nem malícia, nem esforço, nem indolência, nem concentração, nem
distracção, nem sabedoria, nem tolice.

Ele é inexprimível.

Ele é, nem verdade nem falsidade; nem escape do mundo, nem fracasso para escapar
do mundo; nem causa de envolvimento no mundo nem não causa de envolvimento no
mundo; ele é a cessação de toda a teoria e toda a prática.

Ele é, nem um campo de mérito, nem um não campo de mérito; ele nem é merecedor
de oferecimentos nem desmerecedor de oferecimentos.

82
Ele não é um objecto, e não pode ser contactado.

Ele não é um todo, nem uma conglomeração.

Ele ultrapassa todos os cálculos.

Ele é totalmente inatingível, ainda que igual à última realidade das coisas.

Ele é sem igual, especialmente no esforço.

Ele ultrapassa toda a medida.

Ele não vai, não fica, e não passa além.

Ele é, nem visto, ouvido, distinguido, nem conhecido.

Ele é sem qualquer complexidade, tendo atingido a equanimidade da gnose


omnisciente. Igual para todas as coisas, ele não faz discriminação entre elas.

Ele é sem repreensão, sem excesso, sem corrupção, sem concepção, e sem
intelectualização.

Ele é sem actividade, sem nascimento, sem ocorrência, sem origem, sem produção, e
sem não produção.

Ele é sem medo e sem sub consciência; sem tristeza, sem alegria, e sem tensão.
Nenhum ensinamento verbal, ele pode expressar.

"Tal é o corpo do Tathagata assim ele deve ser visto. Quem vê assim, vê
verdadeiramente. Quem vê de outro modo, vê falsamente."

O venerável Shariputra então perguntou ao Buda, "Senhor, em qual campo-Buda


morreu o nobre Vimalakirti, antes de reencarnar neste campo-Buda?"

O Buda disse, "Shariputra, pergunta directamente a este bom homem, onde ele
morreu para reencarnar aqui."

Então o venerável Shariputra pediu ao Licchavi Vimalakirti, “Nobre senhor, onde o


senhor morreu para reencarnar aqui?"

Vimalakirti declarou, "Há alguma coisa, entre as coisas que você vê, ancião, que morra
ou renasça?"

Shariputra: Nada há o que morra ou seja renascido.

Vimalakirti: Igualmente, reverendo Shariputra, como todas as coisas nem morrem nem
são renascidas, porque você pergunta, "Onde você morreu para reencarnar aqui?"
Reverendo Shariputra, se alguém fosse perguntar a um homem ou mulher, criados por
um mágico, onde ele ou ela, tinham morrido para reencarnar ali, o que você pensa que
ele ou ela responderiam?

Shariputra: Nobre senhor, uma criação mágica não morre, nem é renascida.

Vimalakirti: Reverendo Shariputra, não declarou o Tathagata que todas as coisas têm

83
a natureza de uma criação mágica?

Shariputra: Sim, nobre senhor, é realmente assim.

Vimalakirti: Reverendo Shariputra, "morte" é o fim de um desempenho, e


"renascimento" é a continuação do desempenho. Mas, embora um bodhisattva morra,
ele não põem um fim ao desempenho das raízes da virtude, e embora renasça, ele
não adere à continuidade de pecado.

Então, o Buda disse ao venerável Shariputra, "Shariputra, esta pessoa santa veio aqui
desde a presença do Tathagata Aksobhya no universo Abhirati."

Shariputra: Senhor, é maravilhoso que esta pessoa santa, tendo deixado um


campo-Buda tão puro como Abhirati, venha desfrutar um campo-Buda tão cheio
de defeitos como este universo de Saha!

O Licchavi Vimalakirti disse, "Shariputra, o que pensa o senhor? A luz do sol


acompanha a escuridão?"

Shariputra: Certamente que não, nobre senhor!

Vimalakirti: Então os dois não vão junto?

Shariputra: Nobre Senhor, esses dois não vão juntos. Assim que o sol sobe, toda a
escuridão é destruída.

Vimalakirti: Então por que o sol sobe em cima do mundo?

Shariputra: Ele nasce para iluminar o mundo, e eliminar a escuridão.

Vimalakirti: Assim da mesma maneira, reverendo Shariputra, o bodhisattva reencarna


voluntariamente nos campos-Buda impuros, para purificar os seres vivos, para fazer a
luz da sabedoria brilhar, e para os tirar da escuridão. Considerando que eles não se
associam com as paixões, eles dispersam a escuridão das paixões de todos os seres
vivos.

Nisto, a multidão inteira experimentou o desejo de ver o universo Abhirati, do


Tathagata Aksobhya, os seus bodhisattvas e os seus grandes discípulos. O Buda,
conhecendo os pensamentos da multidão inteira, disse ao Licchavi Vimalakirti, “Nobre
filho, esta multidão deseja ver o universo Abhirati e o Tathagata Aksobhya – mostre-
lhes!"

Então o Licchavi Vimalakirti pensou, "Sem subir do meu sofá, eu apanharei na minha
mão direita o universo Abhirati e tudo o que contém: suas centenas de milhares de
bodhisattvas; seus domicílios de devas, nagas, yakshas, gandharvas, e asuras,
limitados pelas suas montanhas de Cakravada; seus rios, lagos, fontes, fluxos,
oceanos, e outros corpos de água; seu Monte Sumeru e outras colinas e gramas de
montanha; sua lua, seu sol, e suas estrelas; seus devas, nagas, yakshas, gandharvas,
e asuras; seu Brahma e os seus acompanhantes; suas aldeias, cidades, povos,
províncias, reinos, homens, mulheres, e casas; seus bodhisattvas; seus discípulos; a
árvore do esclarecimento do Tathagata Aksobhya; e o Tathagata Aksobhya, sentado
no meio de uma vasta assembleia, como num oceano, ensinando o Dharma. Também
os lotus que executam o trabalho-Buda entre os seres vivos; as três escadas,
enfeitadas com jóias, que sobem desde a sua terra até ao seu céu de Trayastrimsa, no
qual a escada, que os deuses daquele céu, descem para o mundo, para ver, honrar, e

84
servir o Tathagata Aksobhya e ouvir o Dharma, e no qual os homens da terra escalam
ao céu de Trayastrimsa para visitar esses deuses. Como o oleiro com a sua roda, eu
reduzirei aquele universo Abhirati, com sua reserva de inumeráveis virtudes, desde a
sua base aquosa até ao céu de Akanistha, para um tamanho minúsculo e,
transportando-o suavemente como uma grinalda de flores, para este universo de Saha
mostrá-lo-ei para as multidões."

Então, o Licchavi Vimalakirti entrou em concentração, e executou um feito milagroso


tal, que reduziu o universo Abhirati para um tamanho minúsculo, transportou-o com a
sua mão direita, e trouxe-o a este universo de Saha.

Naquele universo Abhirati, os discípulos, bodhisattvas, e os que de entre deuses e


homens, possuíam o super conhecimento do olho divino, todos clamaram, "Senhor,
nós estamos a ser levados para fora! Sugata, nós estamos sendo levados! Nos
proteja, Ó Tathagata! "Mas, o Tathagata Aksobhya para os disciplinar disse-lhes,
"Vocês estão sendo transportados pelo bodhisattva Vimalakirti. Não é assunto meu."

Para outros homens e deuses, eles não tiveram nenhuma consciência de que estavam
sendo transportados para outro lugar.

Embora o universo que Abhirati tenha sido trazido ao universo Saha, o universo de
Saha não foi aumentado ou diminuído; nem estava comprimido nem obstruído. Nem
era o universo Abhirati reduzido internamente, e ambos os universos apareciam-lhes
iguais ao que eles sempre tinham sido.

Seguidamente, o Buda Shakyamuni perguntou a todas as multidões, "Amigos, vêem


os esplendores do universo Abhirati, o Tathagata Aksobhya, a ordenação do seu
campo-Buda, e os esplendores destes discípulos e bodhisattvas!"

Eles responderam, "Nós os vemos, Senhor!"

O Buda disse, "Aqueles bodhisattvas que desejam abraçar um tal campo-Buda


deverão treinar-se em todos as práticas bodhisattva do Tathagata Aksobhya.”

Enquanto Vimalakirti, com o seu poder milagroso, lhes mostrava assim, o universo
Abhirati e o Tathagata Aksobhya, cento e quarenta mil seres vivos, entre homens e
deuses do universo de Saha, conceberam o espírito do inexcedível esclarecimento
perfeito, e todos eles criaram uma oração para ressurgir no universo Abhirati. E o
Buda profetizou que no futuro todos renasceriam no universo Abhirati.

E o Licchavi Vimalakirti, tendo desenvolvido todos os seres vivos, que podiam ser
assim desenvolvidos, devolveu o universo Abhirati exactamente ao seu lugar anterior.

O Senhor disse então ao venerável Shariputra, "Shariputra, você viu aquele universo
Abhirati, e o Tathagata Aksobhya?"

Shariputra respondeu, "Eu vi, Senhor! Possam todos os seres vivos, vir a viver num
campo-Buda tão esplêndido como aquele! Possam todos os seres vivos vir a ter
poderes milagrosos como os do nobre Licchavi Vimalakirti!

"Nós ganhámos grande benefício em ter visto um homem santo, como ele.

Nós ganhámos um grande benefício de ter ouvido tal ensinamento do Dharma, se o


Tathagata na verdade ainda existe actualmente ou se ele já atingiu a libertação
suprema. Consequentemente, não há nenhuma necessidade de mencionar o grande

85
benefício para os que, tendo ouvido isto, acredite, confie nisto, abrace, lembre-se, leia,
e penetre a sua profundidade; e, tendo achado fé nisto, ensine, recite, e mostre para
os outros e os aplique à ioga da meditação no seu ensinamento.

“Aqueles seres vivos que entendem este ensinamento do Dharma correctamente,


obterão o tesouro das jóias do Dharma.

“Aqueles que estudam este ensinamento do Dharma correctamente, tornar-se-ão nos


companheiros do Tathagata. Aqueles que honram e servem os peritos desta doutrina
serão os verdadeiros protectores do Dharma. Aqueles que escrevam, ensinem, e
adorem este ensinamento do Dharma serão visitados pelo Tathagata nas suas casas.
Aqueles que tem deleite neste ensinamento do Dharma abraçarão todos os méritos.
Aqueles que ensinam isto a outros, que não é mais do que uma única estrofe de
quatro linhas, ou uma única frase sumária deste ensinamento do Dharma, estarão
executando o grande sacrifício-Dharma. E Aqueles que se dedicam a este
ensinamento do Dharma, a sua tolerância, o seu zelo, a sua inteligência, o seu
discernimento, a sua visão e as suas aspirações, tornar-se-ão sujeitos à profecia da
futura Budeidade!"

-----------------------------------

Epílogo

Antecedentes e transmissão
do Dharma Santo

Então Sakra, o príncipe dos deuses, disse ao Buda, "Senhor, anteriormente eu ouvi do
Tathagata e de Manjusri, o príncipe da coroa da sabedoria, muitas centenas de
milhares de ensinamentos do Dharma, mas eu nunca tinha ouvido antes um
ensinamento do Dharma tão notável como esta instrução na entrada no método das
inconcebíveis transformações.

Senhor, aqueles seres vivos que, tendo ouvido este ensinamento do Dharma, aceite,

86
se lembre, leia, e entenda profundamente, serão sem dúvida, verdadeiros recipientes
do Dharma; não há necessidade de mencionar aqueles que se aplicam à ioga da
meditação. Eles eliminarão toda a possibilidade de vidas infelizes, abrirão o seu
caminho a todas as vidas afortunadas, sempre serão olhados depois por todos o
Buddhas, sempre superarão todos os adversários, e sempre conquistarão todos os
demónios. Eles praticarão o caminho dos bodhisattvas, tomarão os seus lugares na
base da Iluminação, e terão entrado verdadeiramente no domínio dos Tathagatas.
Senhor, os nobres filhos e filhas que ensinarem e praticarem esta exposição do
Dharma, serão honrados e servidos por mim e pelos meus seguidores. As aldeias,
vilas, cidades, estados, reinos, e capitais, no qual este ensinamento do Dharma seja
aplicado, ensinado, e demonstrado, eu e os meus seguidores viremos ouvir o Dharma.
Eu inspirarei os incrédulos com fé, e garantir-lhes-ei a minha ajuda e protecção aos
que acreditam e apoiam o Dharma."

A estas palavras, o Buda disse a Sakra, o príncipe dos deuses, "Excelente! Excelente,
príncipe dos deuses! O Tathagata alegra-se nas suas palavras boas. Príncipe dos
deuses, a Iluminação dos Buddhas do passado, presente e futuro, é expressa neste
discurso do Dharma. Então, príncipe dos deuses, quando os nobres filhos e filhas o
aceitarem, o repetirem, o entenderem profundamente, o escreverem completamente e,
fazendo um livro, honrem, aqueles filhos e filhas, prestam assim homenagem aos
Buddhas do passado, presente e futuro.

"Suponhamos, príncipe dos deuses que este universo galáctico de bilhões de mundos
estivesse tão cheio de Tathagatas como está coberto com arvoredos de cana de
açúcar, com roseiras, com moitas de bambu, com ervas, e com flores, e que um nobre
filho ou filha, foram honra-los, venera-los, respeita-los e adora-los, oferecendo-lhes
todos os tipos de confortos e oferecimentos durante um éon ou mais que um éon.

E suponhamos, que estes Tathagatas que entraram na última libertação, ele ou ela
honrou cada um deles entesourando os seus corpos preservados num stupa
comemorativo, feito de pedras preciosas, cada tão grande quanto um mundo com
quatro grandes continentes, subindo tão alto quanto o mundo de Brahma, adornado
com guarda sóis, bandeiras, padrões, e abajures.

E suponhamos finalmente, que tendo erguido todos estes stupas para os Tathagatas,
foram-lhes dedicar um éon ou mais, oferecendo-lhes flores, perfumes, bandeiras, e
padrões, enquanto tocam tambores e música. Assim feito, o que pensa você príncipe
dos deuses? Aquele nobre filho ou filha receberiam muito mérito como consequência
de tais atividades?"

Sakra, o príncipe dos deuses, respondeu, "Muitos méritos, Senhor! Muitos méritos, Ó
Sugata! Se alguém fosse gastar centenas de milhares de milhões de éons, seria
impossível medir o limite da massa de méritos que o nobre filho ou filha juntariam
deste modo!"

O Buda disse, "Tem fé, príncipe dos deuses, e entende isto: Quem aceita esta
exposição do Dharma chamada 'Instrução na Libertação Inconcebível', recite-a, e
entenda-a profundamente, ele ou ela juntarão méritos ainda maiores, do que os que
executaram os mencionados actos. Porquê assim? Porque, príncipe dos deuses, a
iluminação dos Buddhas surge do Dharma, e a pessoa os honra pela adoração do
Dharma, e não através da adoração material. Assim é ensinado, príncipe dos deuses,
e assim você deve entender."

O Buda então disse ainda a Sakra, o príncipe dos deuses, "Uma vez, príncipe dos
deuses, há muito tempo, muito antes dos éons mais numerosos, que o inumerável,

87
imenso, imensurável, inconcebível, e ainda antes desse tempo, o Tathagata chamado
Bhaisajyaraja apareceu no mundo: um santo, perfeito e completamente iluminado,
dotado com conhecimento e conduta, um feliz, conhecedor do mundo, e conhecedor
incomparável de homens que precisam ser civilizados, professor dos deuses e dos
homens, um Senhor, um Buda. Ele apareceu na eternidade chamada Vicarana, no
universo chamado Mahavyuha. "O comprimento de vida deste Tathagata
Bhaisajyaraja, perfeito e completamente iluminado, foi de vinte éons curtos. A sua
comitiva de discípulos, era de trinta e seis milhões de biliões, e o seu séquito de
bodhisattvas era de doze milhões de biliões.

Naquela mesma época, príncipe dos deuses, havia um monarca universal chamado o
Rei Ratnacchattra, que reinou sobre os quatro continentes e possuía sete jóias
preciosas. Ele teve mil filhos heróicos, poderosos, fortes, e capazes de conquistar
exércitos inimigos. Este Rei Ratnacchattra honrou o Tathagata Bhaisajyaraja e o seu
séquito com muitos oferecimentos excelentes, durante cinco éons curtos. Ao término
desse tempo, o Rei Ratnacchattra disse aos seus filhos, 'Reconhecendo que durante o
meu reinado eu tenho adorado o Tathagata, por sua vez, vocês deveriam adora-lo
também." Os mil príncipes deram o seu consentimento, obedecendo ao seu pai, o rei,
e todos juntos, durante outros cinco éons curtos, eles honraram o Tathagata
Bhaisajyaraja com todos os tipos de excelentes oferecimentos.

"Entre eles, havia um príncipe de nome Candracchattra que retirado em solidão


pensou para com ele 'Não há outro modo de adoração ainda melhor e mais nobre que
este?' "Então, pelo poder sobrenatural do Buda Bhaisajyaraja, os deuses falaram para
ele dos céus: 'Ó bom homem, a adoração suprema é a adoração do Dharma.'
"Candracchattra perguntou-lhes, 'o que é esta "Adoração do Dharma?"' "Os deuses
responderam, 'Ó Bom homem, vá ao Tathagata Bhaisajyaraja, e pergunte-lhe acerca
da "Adoração do Dharma," e ele explicará isso completamente a você.' "Então, o
príncipe Candracchattra foi ao Senhor Bhaisajyaraja, o santo, o Tathagata, o
insuperável, o perfeitamente iluminado, e tendo chegado, curvado-se aos seus pés,
rodeou-o três vezes pela direita, e retirou-se para um lado. Então ele perguntou,
'Senhor, eu ouvi falar de uma "Adoração Dharma," que ultrapassa toda a outra
adoração. O que é esta "Adoração do Dharma?"

"O Tathagata Bhaisajyaraja disse, 'Nobre filho, a Adoração do Dharma é aquela


adoração feita aos discursos ensinados pelo Tathagata.

Estes discursos são fundos e profundos em entendimento.

Eles não se conformam ao mundano e são difíceis de entender, difíceis de ver e


difíceis de perceber.

Eles são subtis, precisos, e no fim de contas, incompreensíveis.

Como as Escrituras, eles são coleccionados no cânon dos bodhisattvas, timbrado com
a insígnia do rei, dos encantamentos e dos ensinos.

Eles revelam a roda irreversível do Dharma, surgindo das seis transcendências, limpos
de qualquer falsa noção.

Eles estão dotados com todas as ajudas para a iluminação e encarnam os sete
factores da iluminação.

Eles apresentam os seres vivos à grande compaixão e ensinam-lhes o grande amor.

88
Eles eliminam todas as convicções de Mara, e manifestam-lhes a relatividade.

"'Eles contêm a mensagem da carência do eu, carência do ser vivo, carência da


pessoa, carência de tempo de vida, vacuidade, carência de sinais, carência de
desejos, não realização, não produção, e não ocorrência.

"'Eles tornam possível alcançar o assento da iluminação e puseram em movimento a


roda do Dharma.

Eles são aprovados e elogiados pelos chefes dos deuses, nagas, yakshas,
gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, e mahoragas.

Eles preservam irrompível a herança do santo Dharma, contêm o tesouro do Dharma,


e representam o ápice da Adoração do Dharma.

Eles são apoiados por todos os seres santos e ensinam todas as práticas do
bodhisattva.

Eles induzem o sem erro, que entende o Dharma no seu sentido último.

Eles certificam que todas as coisas são impermanentes, miseráveis, sem eu, e
pacíficas, enquanto sumarizam o Dharma.

Eles causam o abandono de avareza, imoralidade, malícia, preguiça, esquecimento,


tolice, e ciúme, como também convicções ruins, a aderência aos objectos, e toda a
oposição.

Eles são elogiados por todos os Buddhas.

Eles são as medicinas para as tendências de vida mundana, e manifestam


autenticamente a grande felicidade da libertação.

Ensinar correctamente, apoiar, investigar, e entender tais Escrituras, incorporando


assim na própria vida da pessoa o Dharma santo isso é a "Adoração do Dharma."
“Além disso, nobre filho, a adoração do Dharma consiste em determinar o Dharma de
acordo com o Dharma; aplicando o Dharma de acordo com o Dharma; estando em
harmonia com a relatividade; estando livre de convicções extremistas; atingindo a
tolerância do último não nascimento e não ocorrência de todas as coisas; percebendo
a carência do eu e a carência de seres vivos; contendo-se de lutas sobre causas e
condições, sem disputar, ou disputando; não sendo possessivo; estando livre do
egoísmo; confiando no significado e não na expressão literal; confiando na gnose e
não na consciência; confiando nos últimos ensinamentos definitivos do significado, e
não insistindo na interpretação do significado superficial dos ensinamentos; confiando
na realidade e não insistindo em opiniões derivadas de autoridades pessoais;
percebendo a realidade do Buda correctamente; percebendo a última ausência de
qualquer consciência fundamental; e superando o hábito de se agarrar a um último
chão. Finalmente, atingindo a paz, parando tudo desde a ignorância à velhice, morte,
tristeza, lamentação, miséria, ansiedade, e dificuldade, e percebendo que os seres
vivos não sabem dar um fim aos seus pontos de vista, relativos a essas doze ligações
de origem dependente; então, nobre filho, quando você não se agarrar a nenhuma
visão em absoluto, é chamado a adoração do Dharma inexcedível.'

"Príncipe dos deuses, quando o príncipe Candracchattra ouviu esta definição da


adoração do Dharma do Tathagata Bhaisajyaraja, ele atingiu a tolerância conformativa
do último não nascimento; e, levando os seus roupões e ornamentos, ele os ofereceu

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ao Buda Bhaisajyaraja, dizendo, 'Quando o Tathagata estiver na última libertação, eu
desejo defender o santo Dharma, para protege-lo, e para adorá-lo. Possa o Tathagata
conceder-me a sua bênção sobrenatural, possa eu poder conquistar Mara e todos os
adversários e incorporar em todas as minhas vidas o santo Dharma do Buda!' "O
Tathagata Bhaisajyaraja, sabendo da forte resolução do Candracchattra, profetizou
que ele seria, mais tarde, no futuro, o protector, guardião, e defensor da cidade do
santo Dharma. Então, príncipe dos deuses, o príncipe Candracchattra, pela sua
grande fé no Tathagata, deixou a vida do lar para entrar na vida sem lar, de monge e
tendo feito isto, viveu fazendo grandes esforços para o êxito da virtude. Tendo feito
grande esforço e sendo bem dotado em virtude, cedo obteve os cinco super
conhecimentos, compreendeu os encantamentos, e obteve a eloqüência invencível.
Quando o Tathagata Bhaisajyaraja atingiu a última libertação, Candracchattra, em
virtude do seu super conhecimento e pelo poder dos seus encantamentos, fez a roda
do Dharma girar da mesma maneira que o Tathagata Bhaisajyaraja tinha feito e
continuou a fazer assim durante dez éons curtos.

"Príncipe dos deuses, enquanto o monge Candracchattra se estava exercitando assim


na protecção do santo Dharma, milhares de milhões de seres vivos alcançaram a fase
da irreversibilidade no caminho para o inexcedível esclarecimento perfeito, foram
disciplinados quatorze bilhões de seres vivos nos veículos dos discípulos e sábios
solitários, e inumeráveis seres vivos renasceram nos reinos humanos e divinos.
"Talvez, príncipe dos deuses, você esteja maravilhado ou sentindo alguma dúvida
sobre, se ou não, naquela altura, o Rei Ratnacchattra não era outro senão o actual
Tathagata Ratnarcis. Você não deve imaginar isso, o presente Tathagata Ratnarcis foi
naquele tempo, naquela época, o monarca universal Ratnacchattra. Assim como para
os mil filhos do Rei Ratnacchattra, eles são agora os mil bodhisattvas do presente
santificado éon, durante o curso do qual mil Buddhas aparecerão no mundo. Entre
eles, Krakucchanda e outros já nasceram, e os restantes ainda nascerão, de
Kakutsunda até o Tathagata Roca que será o último a nascer.

"Talvez, príncipe dos deuses, você se tenha interrogado se, naquela vida, por aquele
tempo, o Príncipe Candracchattra que apoiou o Santo Dharma do Senhor Tathagata
Bhaisajyaraja não foi nenhum outro, que eu próprio. Mas você não deve imaginar que,
eu fui naquela vida, naquele tempo, o Príncipe Candracchattra. Assim é necessário
saber, príncipe dos deuses, que de entre todas as adorações rendidas ao Tathagata, a
adoração do Dharma é muito melhor. Sim, é bom, eminente, excelente, perfeito,
supremo, e inexcedível. E então, príncipe dos deuses, não me adore com objectos
materiais mas adore-me com a adoração do Dharma! Não me honre com objectos
materiais mas honre-me através da honra ao Dharma!"

Então o Senhor Shakyamuni disse ao bodhisattva Maitreya, o grande herói espiritual,


"Eu transmito a você, Maitreya, este inexcedível, esclarecimento perfeito, que eu atingi
somente depois de milhões inumeráveis de bilhões de eternidades, para que, mais
tarde, durante uma vida posterior, um ensinamento semelhante do Dharma, protegido
pelo teu poder sobrenatural, se espalhará no mundo e não desaparecerá. Porquê?
Maitreya, no futuro haverá os nobres filhos e filhas, devas, nagas, yakshas,
gandharvas, e asuras que, tendo plantado as raízes da virtude, produzirão o espírito
do inexcedível, esclarecimento perfeito. Se eles não ouvirem este ensinamento do
Dharma, eles perderão certamente vantagens ilimitadas e até mesmo perecerão. Mas
se eles ouvirem tal ensinamento, eles alegrar-se-ão, acreditarão, e aceitarão sobre as
coroas das suas cabeças. Consequentemente para proteger esses futuros nobres
filhos e filhas, você tem que espalhar um ensinamento como este!

"Maitreya, há dois gestos dos bodhisattvas. Quais são eles? O primeiro gesto é
acreditar em todos os tipos de frases e palavras, e o segundo gesto é penetrar o

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princípio profundo do Dharma, sem estar amedrontado. Tal são os dois gestos dos
bodhisattvas. Maitreya, deve ser conhecido que os bodhisattvas que acreditam em
todos os tipos de palavras e frases, e se aplicam adequadamente, são principiantes e
não experimentaram a prática religiosa. Mas os bodhisattvas que lêem, ouvem,
acreditam, e ensinam este ensinamento profundo, com suas expressões impecáveis,
reconciliando dicotomias e as suas análises de fases de desenvolvimento, estes são
veteranos na prática religiosa.

"Maitreya, há duas razões pelas quais os bodhisattvas principiantes se lamentam e


não se concentram no Dharma profundo. Quais são elas? Ouvindo este ensinamento
profundo nunca antes ouvido, ficam amedrontados e duvidosos, não se alegram e
rejeitam, pensando, 'de onde vem, este ensinamento, nunca antes ouvido?' Então eles
vêem os outros nobres filhos que aceitando, tornam-se recipientes, e ensinam este
ensinamento profundo, e eles não lhes prestam atenção, não os ajudam, não os
respeitam, não os honram, e eventualmente eles vão tão distantes como para critica-
los. Estas são as duas razões pelas quais os bodhisattvas principiantes se ferem e
não penetram o Dharma profundo.

"Há duas razões, pelas quais os bodhisattvas que aspiram ao profundo Dharma, se
lamentam, não alcançando a tolerância do último não nascimento das coisas. Quais
são estes dois? Estes bodhisattvas menosprezam e reprovam os bodhisattvas
principiantes, que não tendo praticado por muito tempo, eles não os iniciam ou os
instruem no ensinamento profundo. Não tendo nenhum grande respeito por este
ensinamento profundo, eles não têm nenhum cuidado sobre suas regras. Eles ajudam
os seres vivos por meio de presentes materiais e não os ajudam por meio de
presentes do Dharma. Tal, Maitreya, são as duas razões pelas quais os bodhisattvas
que aspiram ao profundo Dharma, se lamentam e não atingirão, rapidamente a
tolerância do último não nascimento de todas as coisas."

Assim tendo sido ensinado, o bodhisattva Maitreya disse ao Buda, "Senhor, os bonitos
ensinamentos do Tathagata são maravilhosos e verdadeiramente excelentes. De ora
em diante, Senhor eu evitarei todos esses erros, defenderei e apoiarei este objectivo
do inexcedível esclarecimento perfeito, feito pelo Tathagata durante centenas
inumeráveis de milhares de milhões de bilhões de eternidades! No futuro, eu colocarei
nas mãos dos nobres filhos e nobres filhas, que são os recipientes merecedores do
santo Dharma este ensinamento profundo. Eu instilarei neles o poder da memória,
com que eles podem, depois de terem acreditado neste ensinamento, o retenham,
recitem, penetrem as suas profundidades, o ensinem, o propaguem, o escrevam, e o
proclamem extensivamente a outros. "Assim eu os instruirei, Senhor e assim pode ser
conhecido, que nesse tempo futuro, os que acreditam neste ensinamento e que
entram profundamente nele, será sustentado pela bênção sobrenatural do bodhisattva
Maitreya." De seguida o Buda deu a sua aprovação ao bodhisattva Maitreya:
"Excelente! Excelente! A tua palavra é bem determinada! O Tathagata alegra-se e
recomenda a tua boa promessa." Então todos os bodhisattvas disseram juntos a uma
voz, "Senhor, nós também, depois da última liberação do Tathagata, viremos dos
nossos vários campos Buda para espalhar, longe e largo, este esclarecimento perfeito
do Buda, do Tathagata. Possam todos os nobres filhos e filhas acreditar nisto!"

Então os quatro Marajás, os grandes reis dos quatro pontos cardeais, disseram ao
Buda, "Senhor, em todas as cidades, aldeias, vilas, reinos, e palácios, onde quer que
este discurso do Dharma seja praticado, apoiado, e correctamente ensinado, nós, os
quatro grandes reis, iremos lá com nossos exércitos, nossos jovens guerreiros, e
nossos séquitos, ouvir o Dharma. E nós protegeremos os professores deste Dharma
para que num raio de uma légua, ninguém que intente dano ou roturas contra esses
professores terá qualquer oportunidade para lhes fazer mal."

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Então o Buda disse ao venerável Ananda, "Receba então, Ananda, esta manifestação
do ensinamento do Dharma. Lembre-se, de o ensinar ampla e correctamente a
outros!" Ananda respondeu, "Eu memorizei, Senhor esta manifestação do
ensinamento do Dharma. Mas qual é o nome deste ensinamento, e como eu me devo
lembrar dele?" O Buda disse, "Ananda, esta manifestação do Dharma é chamada 'O
ensinamento de Vimalakirti', ou 'A Reconciliação das Dicotomias', ou até mesmo
'Secção da Libertação Inconcebível.' Lembre-se dele assim!"

Assim falou o Buda.

E o Licchavi Vimalakirti, o príncipe coroado Manjusri, o venerável Ananda, os


bodhisattvas, os grandes discípulos, a multidão inteira, e o universo inteiro com seus
deuses, homens, asuras e gandharvas, alegraram-se abundantemente.

Todos cordialmente elogiaram estas declarações do Senhor.

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