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Stalin
Obras Escolhidas
Organizadores:
João Carvalho
Marcelo Bamonte
Otávio Losada
Klaus Scarmeloto
Copyright ©2021 – Todos os direitos reservados a Editora Raízes da América.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-994637-1-6.
CDD 320.531
CDU 316.323.72
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte do conteúdo deste livro poderá ser utilizada
ou reproduzida em qualquer meio ou forma, seja ele impresso, digital, áudio ou visual
sem a expressa autorização por escrito da Raízes da América; Otávio Losada; Marcelo
Bamonte e João Carvalho sob penas criminais e ações civis.
Sumário
Apresentação| 13
Prefácio| 19
I A construção do revolucionário| 51
7
8 Obras Escolhidas
IV Anexos| 731
Apresentação
J. V. Stalin 15
Apresentação
O projeto Obras Escolhidas de J.V. Stalin tem como proposta compilar, den-
tro do amplo recorte temporal escolhido, os principais escritos inéditos de Josef
Stalin (1878-1953), englobando sua formação como fervoroso revolucionário bol-
chevique, passando por seu período de liderança da URSS até seu ocaso, com a
vitória sobre o nazismo e acontecimentos posteriores. Foram deixadas de fora
da presente seleção, por escolha editorial, obras de Stalin outrora publicadas no
país, que formam o corpo de livros propriamente escritos pelo revolucionário:
Anarquismo ou Socialismo (1906-7), Marxismo e a Questão Nacional (1913), Os
Fundamentos do Leninismo (1924), Materialismo Histórico e Dialético (1938).
Destas obras de maior fôlego, apenas o escrito Problemas Econômicos do Socia-
lismo na URSS (1951) figura o corpo do volume.
Todos os nomes em russo foram mantidos em concordância com o tipo de
transliteração BGN/PCGN, preservando ao máximo o corpo original do texto,
com raras adequações em casos específicos. Durante os esforços de tradução,
também foi priorizada a máxima fidelidade à estilística literária de Stalin, que
contava, por vezes, com períodos longos, mas de fácil entendimento. As tra-
duções foram realizadas com base nos materiais de Obras Completas do autor,
compilados em inglês, espanhol, italiano, francês e russo.
Para a organização dos Anexos, foi priorizada a escolha de correspondência
que o corpo editorial julgou de maior importância, destacando a questão his-
tórica e conjuntural de cada telegrama e correspondência de guerra. Também
contempla a seção trechos inéditos das conferências do pós-guerra, com ênfase
na atuação de Stalin enquanto estadista após o maior conflito bélico da história.
A terceira parte dos anexos concerne às contribuições práticas de Stalin quanto à
questão nacional. O escrito sobre filosofia da linguagem, Sobre o Marxismo na
Linguística (1950), foi deixado na quarta parte dos anexos para melhor organi-
zação da obra. Por fim, a seção conta com as correspondências entre Josef Stalin
e Molotov.
18 Obras Escolhidas
J. V. Stalin 19
Prefácio
J. V. Stalin 21
memórias. Ver ALLILUYEVNA, Svetlana. Twenty Letters to a Friend. Nova York: Harper, 2016.
3 Tal versão encontra vasto fulcro documental e provavelmente é a correta. Ver: SERVICE, Robert.
Stalin: A Biography. Londres: Picador, 2008; ; KOTKIN, Stephen. Stalin: Volume I: Paradoxes of
Power, 1878–1928. Londres: Penguin Press, 2014.
4 Sobre o assunto ver DAVRICHEWY, Joseph. Ah! Ce qu’on rigolait bien avec mon copain Staline.
revolucionário.”9
Em 1898, Dzhugashvili começa sua experiência de propagandista em uma
reunião com trabalhadores no apartamento do revolucionário Vano Sturua e logo
começou a liderar um círculo operário de jovens ferroviários. Passou a lecionar
em vários círculos operários e até elaborou um currículo marxista para eles. Em
agosto do mesmo ano, Josef ingressou na organização social-democrata georgi-
ana “Mesamedasi” (“O terceiro grupo”). Juntamente com V. Z. Ketskhoveli e A.
G. Tsulukidze, Dzhugashvili forma o núcleo da minoria revolucionária desta or-
ganização, contra uma maioria que apoiava as posições do “marxismo legal” e
tendia ao nacionalismo10 .
Em 29 de maio de 1899, em seu quinto ano de estudos, foi expulso do seminá-
rio “por não comparecimento aos exames por motivo desconhecido”11 Depois do
ocorrido, Dzhugashvili se dedicou por algum tempo às aulas particulares. Entre
seus alunos, em particular, estava seu amigo de infância mais próximo, Simon
Ter Petrosyan (o futuro revolucionário Kamo).
Em abril de 1900, Josef Dzhugashvili, Vano Sturua e Zakro Chodrishvili orga-
nizaram os trabalhadores da fábrica Mayovka, reunindo 400-500 trabalhadores.
Na reunião o próprio Josef falou. Esse discurso foi a primeira aparição de Stalin
diante de um grande grupo de pessoas. Em agosto do mesmo ano, Dzhugashvili
participou da preparação e condução de uma grande manifestação dos trabalha-
dores de Tiflis – uma greve nas Oficinas Ferroviárias Principais. Na organização
dos protestos dos trabalhadores participaram: M. I. Kalinin (expulso de São Pe-
tersburgo para o Cáucaso), S. Y. Alliluev entre outros. De 1º a 15 de agosto, até
quatro mil pessoas participaram da greve. Como resultado, mais de quinhentos
grevistas foram presos.
Em março de 1901, a polícia vasculhou o observatório de física onde Dzhu-
gashvili vivia e trabalhava. Ele mesmo, no entanto, escapou da prisão e se escon-
deu, tornando-se revolucionário clandestino12 .
Em setembro de 1901, o jornal ilegal Brdzola (A Luta) começa a ser publicado
em Baku. O editorial da primeira edição pertencia a Josef Dzhugashvili, de 22
anos. Este artigo é a primeira obra política conhecida de Stalin13 .
Em novembro de 1901, foi empossado no Comitê de Tiflis do POSDR14 e
enviado a Batum no mesmo mês, onde participou da criação de uma organização
local. Seria ali que, pela primeira vez, usaria a alcunha de Koba. Após a divisão
dos sociais-democratas russos em bolcheviques e mencheviques em 1903, Stalin
9 Idem.
10 Sobre o assunto ver SIMASHVILI, Tengliz. Gigla Berbichashvili’s and Iliko Imerlishvili’s relati-
onship with Stalin. Archival Bulletin. Nº14, 2013, pgs. 72-99.
11 Provavelmente o verdadeiro motivo da exclusão foram as atividades de Joseph Dzhugashvili para
значение И. В. Сталина для современного общества. Свободную мысль. Nº3/4, Junho de 2012, dis-
ponível em http://svom.info/events/. Acessado em 02 de Abril de 2021.
18 POKHLEBKIN, William. Великий псевдоним. Moscou: Ozon, 1996.
J. V. Stalin 25
19 STALIN, J.V. Works. Vol 3. Moscou: Foreign Languages Publishing House, 1954.
20 INSTITUTO MARX-ENGELS-LENIN. Stalin: Uma breve biografia. São Paulo: Nova Cultura,
2019.
21 NENAROKOVA, D. P. Реввоенсовет Республики in: Энциклопедия Гражданская война и военная
em https://www.marxists.org/reference/archive/stalin/works/1917/10/24.htm. Acessado em 4 de
Abril de 2021.
26 Obras Escolhidas
Macmillan, 1979.
J. V. Stalin 27
25 CARR, E.H. El Socialismo en uno solo país. 2 Vols. Madri: Alianza Editorial, 1974.
26 STALIN, J.V. Sobre os Fundamentos do Leninismo. São Paulo: Nova Cultura, 2018.
27 Ver nota 24.
28 As observações são do historiador trotskista russo Vadim Rogovin, tiradas do capítulo XXXVI
que Mariategui aprovará a resolução de expulsão de Trotsky. Ver MARIATEGUI, Jose Carlos. Sobre
o Exílio de Trotsky. In: MARIATEGUI, José Carlos. Textos Escolhidos: Marxismo, Política e
Questão Indígena. Porto Alegre: Cio da Terra, 2021.
31 Nas regiões ocidentais da Ucrânia e Bielorrússia, bem como na Moldávia, Estônia, Letônia e
Lituânia, anexadas à URSS em 1939-1940, a coletivização se deu após a grande guerra patriótica
entre 1949 e 1950. Sobre o assunto ver MARTENS, Ludo. Stalin: Um Novo Olhar. Rio de Janeiro:
Revan, 2003. Especialmente o capítulo IV.
32 Sobre o assunto ver SHISHKIN, V. I. Проблемы истории аграрного и демографического развития
Сибири в XX — начале XXI в.: материалы всероссийской научной конференции. Novosibirsk: Ed. V.
A. Ilynykh, 2009. Especialmente o capítulo 4 sobre a viagem de Stalin à Sibéria no início de 1928.
33 Sobre o assunto ver SHISHKIN, V. I. Проблемы истории аграрного и демографического развития
Сибири в XX — начале XXI в.: материалы всероссийской научной конференции. Novosibirsk: Ed. V.
A. Ilynykh, 2009. Especialmente o capítulo 4 sobre a viagem de Stalin à Sibéria no início de 1928.
J. V. Stalin 29
realocados acabaria por voltar às suas terras ou ocupar novas terras em locais
diferentes nos anos vindouros.
As medidas tomadas pelas autoridades para realizar a coletivização geraram
uma resistência massiva entre os camponeses médios e ricos. Somente em março
de 1930, a OGPU contabilizou 6.500 tumultos, oitocentos dos quais foram su-
primidos com o uso de armas. Em geral, durante 1930, cerca de 2,5 milhões de
camponeses participaram de 14 mil protestos contra a coletivização.
Em 2 de março de 1930, Stalin publicou um artigo no Pravda intitulado “Dizzy
with Success. Concerning Questions of the Collective-Farm Movement”34 , no
qual fazia um balanço dos avanços e retrocessos da implementação das políticas
de coletivização.
Durante o período de deskulakização, entre 1932 e 1933, uma profunda fome
atingiu a região da Ucrânia, do Volga e do Cáucaso, se espalhando desde a Galícia
no território ucraniano até o Azerbaijão. Tal fome foi piorada pela concomitân-
cia de uma epidemia, pelas lutas intestinas pela coletivização e pela má colheita
de grãos dos anos anteriores, causadas em conjunto pela seca e pela má alocação
dos recursos pelos Kulaks, que tentavam sabotar as colheitas. Tal fome, que dei-
xou cerca de um milhão de mortos, seria usada à época e posteriormente como
instrumento político de teses anticomunistas. Voltaremos a esse assunto mais
tarde.
O renomado escritor Sholokhov escreveu várias cartas a Stalin, nas quais fa-
lou diretamente sobre a catástrofe que eclodiu no distrito de Vyoshensky, no
território do Norte do Cáucaso. Em resposta à carta de Sholokhov de 4 de abril
de 1933, Stalin enviou um telegrama em 16 de abril: “Recebi sua carta no dia
quinze. Obrigado pela mensagem. Eu farei o que for preciso. Forneça infor-
mações sobre a quantidade de assistência necessária. Me diga o número”, após
o que ele instruiu Molotov “para satisfazer inteiramente o pedido de Sholokhov,
fornecendo 120 mil puds de ajuda alimentar para o distrito de Vyoshensky e 40
mil para o Verkhnedonsky.
A partir de 1934, a situação do setor agrícola havia se estabilizado. A produ-
ção agrícola começou a crescer de forma constante. A produtividade do trabalho
aumentou graças à eletrificação e mecanização (por exemplo, em 1940, 182 mil
colheitadeiras de grãos trabalhavam na URSS. Na década de 20, o número não
chegava a três digitos35 ). O crescimento da produtividade do trabalho na agricul-
tura libertou 18,5 milhões de pessoas que se tornaram trabalhadores da indústria
e da construção. O historiador russo Nefodov observa que a política de coleti-
vização predeterminou amplamente o sucesso do desenvolvimento industrial do
país e, consequentemente, a vitória da URSS na Grande Guerra Patriótica36 .
Falemos sobre a Industrialização. O plano de cinco anos para a construção
de 1.500 fábricas, aprovado por Stalin em 1928, exigia enormes despesas para a
compra de tecnologias e equipamentos estrangeiros. Para financiar as compras
34 Publicado no Pravda nº60 de 2 de Março de 1930. Disponível em https://www.marxists.org/refe-
rence/archive/stalin/works/1930/03/02.htm. Acessado em 05 de abril de 2021.
35 Sobre o assunto ver MARTENS, Ludo. Stalin: Um Novo Olhar. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
POMERANZ, Lenina. Do socialismo Soviético ao capitalismo Russo. São Paulo: Ateliê Editorial,
2018.
39 Sobre a evolução econômica da Rússia no período em tela um resumo pode ser encontrado em
POMERANZ, Lenina. Do socialismo Soviético ao capitalismo Russo. São Paulo: Ateliê Editorial,
2018.
40 O melhor livro em língua russa sobre a Industrialização é o de KATASONOV, Valentin.
em http://publ.lib.ru/ARCHIVES/K/KPSS/10_s’ezd_RKP(b).(1933).[djv-fax].zip. Acessado em 05
de abril de 2021.
43 Sobre o assunto ver RAMOS, Vinicius da Silva. De Sosso a Stalin: A Construção de uma figura
triótica e joga por terra a versão anticomunista sobre a suposta paralisia de Stalin diante do ataque
alemão. Ver ZHUKOV, Georgy K. G. Zhukov, Marshal of Soviet Union: Reminiscences and Reflec-
tions. 2 Vols. Moscou: Progress Publishers, 1985. Também sobre o assunto. V.A. La grande guerre
nationale de l’Union Soviétique. Moscou: Éditions du Progrès, 1974.
32 Obras Escolhidas
45 Sobre o assunto ver DEBORINE, Grigori. Les secrets de la seconde guerre mondiale. Moscou:
Editions de Moscou, 1972.
46 O marechal Zhukov descreve o Exercício de guerra de 1940 em suas memórias. Ver ZHUKOV,
Georgy K. G. Zhukov, Marshal of Soviet Union: Reminiscences and Reflections. 2 Vols. Moscou:
Progress Publishers, 1985.
47 MEDVEDEV, Roy; MEDVEDEV, Zhoures. Um Stalin desconhecido. Rio de Janeiro: Editora
Record, 2006.
48 Sobre o assunto ver CHUIKOV, V. I.; RIABOV, V. S. A Grande Guerra Patriótica da URSS (1941-
de contas histórico. Zhukov havia sido um dos que apoiaram o grupo de Krushchev visando garantir
maiores privilégios aos militares. Ver ZHUKOV, Georgy K. G. Zhukov, Marshal of Soviet Union:
Reminiscences and Reflections. 2 Vols. Moscou: Progress Publishers, 1985.
J. V. Stalin 33
“A guerra com a Alemanha fascista não pode ser considerada uma guerra comum. Não
é apenas uma guerra entre dois exércitos, é também uma grande guerra de todo o povo
soviético contra os exércitos fascistas alemães. O objetivo desta guerra nacional patriótica
em defesa de nosso país contra os opressores fascistas não é apenas eliminar o perigo que
paira sobre nosso país, mas também ajudar todos os povos europeus que sofrem sob o jugo
do fascismo alemão... Camaradas, nossas forças são inúmeras. O inimigo arrogante logo
aprenderá isso à sua própria custa. Lado a lado com o Exército Vermelho, muitos milhares
de trabalhadores, fazendeiros coletivos e intelectuais estão se levantando para lutar contra o
agressor inimigo. As massas de nosso povo se levantarão aos milhões. Os trabalhadores de
Moscou e Leningrado já começaram a formar enormes Guardas do Povo em apoio ao Exército
Vermelho. Essas Guardas do Povo devem ser criadas em todas as cidades que correm o risco
de invasão inimiga; todos os trabalhadores devem ser despertados para defender com suas
vidas sua liberdade, sua honra e seu país nesta guerra patriótica contra o fascismo alemão.”50
matériaux se rapportant à la veille de la Deuxième Guerre Mondiale Tome I: Novembre 1937 – 1938.
Moscou: Editions em Langues Etrangères, 1948; MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DA
URSS, Documents et matériaux se rapportant à la veille de la Deuxième Guerre Mondiale Tome II:
1938-1939. Moscou: Editions em Langues Etrangères, 1948.
53 Os cadernos de registro de visitas de Stalin estão disponíveis em russo e podem ser acessados em
URSS.61
O Exército Vermelho começou a campanha de inverno de 1943-1944 com
uma ofensiva grandiosa na margem direita da Ucrânia. Como resultado da ofen-
siva de quatro meses, as tropas soviéticas libertaram a margem direita da Ucrâ-
nia, suas regiões ocidentais e alcançaram a fronteira no sul da URSS, no sopé
dos Cárpatos. Como resultado da ofensiva, a frente foi empurrada para trás
de suas posições originais no final de dezembro de 1943 entre 250 e 450 km.
Simultaneamente com a liberação da margem direita da Ucrânia, a operação
Leningrado-Novgorod começou. Um dos principais objetivos era levantar o blo-
queio de Leningrado62 .
Como resultado da ofensiva, as tropas soviéticas derrotaram o Grupo de Exér-
citos do Norte da Wehrmacht. Além disso, o bloqueio de quase 900 dias de Le-
ningrado foi levantado e quase todo o território das regiões de Leningrado e
Novgorod, bem como a maior parte da região de Kalinin, foi libertada, e as tro-
pas soviéticas entraram no território da Estônia. Essa ofensiva das tropas soviéti-
cas privou o comando alemão da oportunidade de transferir as forças do Grupo
de Exércitos Norte para a margem direita da Ucrânia, onde as tropas soviéticas
desfeririam o golpe principal no inverno de 194463 .
Como resultado da operação Leningrado-Novgorod, as tropas avançaram de
220 a 280 km. Os meses de abril a maio foram marcados pela operação ofensiva
da Crimeia. As tropas soviéticas libertaram a Crimeia e derrotaram o 17º exército
de campanha dos alemães. A Frota do Mar Negro recuperou a sua base principal
– Sebastopol, o que melhorou significativamente as condições para a flotilha mi-
litar de Azov. A ameaça à retaguarda das frentes foi eliminada pela libertação da
margem direita da Ucrânia. As tropas soviéticas libertaram a Crimeia em pouco
mais de um mês, enquanto os alemães demoraram quase 10 meses apenas para
capturar Sebastopol64 .
Em junho de 1944, os Aliados abriram uma segunda frente, o que piorou sig-
nificativamente a situação militar na Alemanha. Durante as campanhas de verão
e outono, o Exército Vermelho realizou várias operações importantes, comple-
tou a libertação da Bielorrússia, da Ucrânia e dos estados bálticos (exceto para
algumas regiões da Letônia), bem como a libertação parcial da Tchecoslováquia;
libertou as regiões árticas setentrionais e do norte da Noruega, forçou a rendição
e a entrada na guerra contra a Alemanha da Romênia e Bulgária.65
No verão, as tropas soviéticas entraram na Polônia. Ainda antes haviam pe-
netrado no território ocidental da Ucrânia e da Bielorrússia, bem como no da
Lituânia. As tropas soviéticas se reuniram, em um primeiro momento, com as
formações do Exército da Pátria polonês, que estava subordinado ao governo
61 Sobre a batalha de Leningrado ver PAVLOV, Dmitri V. Leningrad. Paris: Presses de la cité, 1967.
62 Idem.
63 Sobre o assunto ver STALIN, J. V. Sobre a Grande Guerra Patriótica da União Soviética. São
João Claudio Platenik; VINHAS, Ricardo Quiroga. A Grande Guerra Patriótica dos Soviéticos. Rio
de Janeiro: Multifoco, 2019.
65 Idem; ver também CHUIKOV, V. I.; RIABOV, V. S. A Grande Guerra Patriótica da URSS (1941-
Paulo: Ateliê Editorial, 2018. PRIEB, Sérgio. Do socialismo da URSS ao capitalismo da Rússia.
Curitiba: Editora CRV, 2019.
74 Idem, Ibidem.
75 STALIN, J.V. Speech of the 19th Congress of the Communist Party of the Soviet Union. In:
STALIN, J.V Works. Vol XVI. Londres: Red Star Press, 1986.
76 Vide nota 72.
38 Obras Escolhidas
GOTT, Jim. The First War of Physics: The Secret History of the Atom Bomb, 1939-1949. Nova York:
Pegasus Books, 2010.
81 Idem.
82 A entrevista de Stalin ao Pravda sobre o assunto em 1951 expõe as linhas mestras de seu pensa-
mento e pode ser vista em STALIN, J. V. Prohibition of Atomic Weapons. In: STALIN, J. V. For
Peaceful Coexistence: Post War Interviews. Nova York: International Publishers, 1951.
83 Sobre o assunto ver LOSURDO, Domenico. A linguagem do Império. São Paulo: Boitempo,
2010.
J. V. Stalin 39
tenção das ondas revolucionárias, instaurando regimes títeres por todo o terceiro
mundo.84 Apesar das tensões da crise iraniana de 1946, Molotov, em 1949, con-
segue, nas negociações multilaterais para a criação da ONU, garantir o assento
da URSS no Conselho de Segurança. Não obstante, já começava a demoniza-
ção da figura de Stalin em todo o Ocidente e as esdrúxulas comparações entre
aquele que tentou escravizar a humanidade, Hitler, e o responsável direto por
sua extinção.85
No novo teatro de guerra, a URSS procurou manter e expandir sua área de
influência buscando a um só tempo proteger e consolidar suas fronteiras, bem
como auxiliar o proletariado de todo mundo na boa consecução de suas lutas
intestinas contra o capitalismo e/ou o colonialismo86 . Para tanto, reconheceu
a independência dos Estados Bálticos e auxiliou na construção das democracias
populares do Leste.
Em setembro de 1947, uma reunião de líderes comunistas do Leste Euro-
peu, além de representantes dos partidos comunistas da Itália e França e Andrei
Zhdanov como representante da URSS foi realizada na Polônia. A partir dessa
reunião seria formado o Bureau Comunista de Informação87 .
No que tange à Alemanha, houve a sugestão de um estado unificado e desmi-
litarizado, a negativa das potências capitalistas levou à crise de Berlim de 1948,
com a posterior formação, em 1949, da República Federal da Alemanha, em sua
porção ocidental e capitalista e a República Democrática Alemã, em sua porção
oriental88 .
Na Polônia, Hungria e Checoslováquia, os partidos populares, com suporte
da URSS, acabaram por se sagrar vitoriosos nas eleições da segunda metade da
década de 50. A monarquia foi finalmente abolida na Bulgária e na Romênia, o
que permitiu a formação do bloco do Leste89 .
No tabuleiro geopolítico asiático, o mundo veria a triunfal vitória do Partido
Comunista da China e a subida do grande timoneiro Mao Zedong ao poder em
outubro de 1949. Mao visita Stalin em dezembro de 1949, e em 1950 um novo
acordo é fechado entre os dois países em substituição ao Tratado Sino-Soviético
de 1945.90
84 Sobre o assunto ver PRASHAD, Vijay. Balas de Washington. São Paulo: Expressão Popular,
2020. Do mesmo autor também ver PRASHAD, Vijay. Estrela Vermelha sobre o Terceiro Mundo.
São Paulo: Expressão Popular, 2019; PRASHAD, Vijay. The Poorer Nations: A possible history of
the Global South. Londres: Verso, 2013 e PRASHAD, Vijay. The Darker Nations: A People’s
History of the Third World. Nova York: The New Press, 2007.
85 Sobre o assunto ver SAUNDERS, Frances S. Quem Pagou a conta? A CIA na guerra fria da
tos em MARTENS, Ludo. A URSS, A Contrarrevolução de Veludo e Outros Escritos. São Paulo:
Ciências Revolucionárias, 2020.
90 Um importante e compreensivo rol de fontes em língua portuguesa pode ser encontrado em
40 Obras Escolhidas
SCARMELOTO, Klaus; LIVRAMENTO, Igor. Coleção Mundo Socialista: China 1839-1949. São
Paulo: Ciências Revolucionárias, 2020.
91 Sobre o assunto ver JONG HO, HO; SOK HUI, KANG; THAE HO, PAK. Os Imperialistas dos
Estados Unidos Iniciaram a Guerra da Coreia. São Paulo: Nova Cultura, 2020; V.A. História da
Revolução Coreana. São Paulo: Nova Cultura, 2019; CHA, Victor. The Impossible State. North
Korea, Past and Future. Nova York: Harper Collins, 2012.
92 Tradução inédita para o português está nos Anexos deste volume.
93 Sobre o assunto ver MARTENS, Ludo. Stalin: Um Novo Olhar. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
94 Sobre o assunto ver FURR, Grover. Khrushchev Lied. The Evidence that Every Revelation of
Stalin’s (and Beria’s) Crimes in Nikita Khrushchev’s Infamous Secret Speech to the 20th Party Con-
gress of the Communist Party of the Soviet Union on February 25, 1956, Is Provably False. Kettering:
J. V. Stalin 41
Conclusão
Tal ataque deve ser, necessariamente, um ataque àquilo que melhor repre-
senta para o hegemon a experiência libertadora a ser combatida. No século XIX,
Erythros Press and Media, 2011.
95 LOSURDO, D. A produção das emoções é o novo Estágio de Controle da Classe dominante.
Disponível em https://operamundi.uol.com.br/politica-eeconomia/31615/losurdo-producao-das-
emocoes-e-novo-estagio-do-controle-da-classedominante”. Acessado em 16 de março de 2021.
96 Sobre o conceito de desemancipação humana ver LOSURDO, Domenico. Democracia ou Bona-
Brasileira, 1970.
100 A servidão na Rússia, formalmente, fora abolida em 1861, em Tiflis, apenas em 1864, na prática,
ela continua a existir sob diversas formas até o triunfo da revolução de Outubro.
J. V. Stalin 43
TOTTLE, Douglas. Fraud, Famine and Fascism. The Ukrainian Genocide Myth
from Hitler to Harvard. Toronto: Progress Books, 1987
ULIANOVA, Maria. On the relations between Lenin and Stalin. Disponível
em: https://revolutionarydemocracy.org/rdv8n1/lenstal.htm. Acessado em 12
de Março de 2021.
URRUTIA, LUIS. Os processos de Moscou. Disponível em https://www.cienci-
asrevolucionarias.com/post/os-processos-de-moscou. Acessado em 18 de Março
de 2021.
ZHUKOV, Yuri N. Сталин: тайны власти. Moscou: Vagrius, 2008.
ZHUKOV, Yuri N. Иной Сталин. Политические реформы в СССР в 1933-1937 гг.
Moscou: Vagrius, 2003
ZHUKOV, Yuri N. Настольная книга сталиниста. Moscou: Eksmo, 2010.
ZHUKOV, Yuri N. Гордиться, а не каяться! Правда о сталинской эпохе (сборник
статей и интервью). Moscou: Eksmo, 2011
50 Obras Escolhidas
J. V. Stalin 51
PARTE I
A construção do
revolucionário
J. V. Stalin 53
O Partido Social-Democrata da
Rússia e suas tarefas imediatas
novembro e dezembro de 1901
102A Lei de 2 de junho de 1897 fixou a jornada de trabalho dos trabalhadores das empresas in-
dustriais e das oficinas ferroviárias em 111/2 horas, e também reduziu o número de férias dos tra-
balhadores. Por conta disso, Stalin pontua: “É preciso dizer que ultimamente a Liga de Luta de
São Petersburgo e o corpo editorial de seu jornal renunciaram à tendência anterior, exclusivamente
econômica, e agora buscam introduzir a ideia da luta política em suas atividades”.
J. V. Stalin 57
II
A classe operária não é a única a gemer sob o jugo do regime tsarista. Também
outras classes sociais são sufocadas pelo pesado calçado da autocracia. Lamentam
os camponeses russos, vítimas da fome permanente, reduzidos à miséria pela in-
suportável pressão fiscal, presas dos comerciantes burgueses e dos “nobres” pro-
prietários fundiários. Geme o povo miúdo das cidades, os pequenos empregados
do Estado e das sociedades privadas, os pequenos funcionários e, em geral, a nu-
merosa população humilde das cidades, que, como a classe operária, não tem sua
existência assegurada, e que tem motivos para se sentir descontente com sua con-
dição social. Geme uma parte da pequena e até da média burguesia, que não se
pode adaptar ao chicote, à chibata do tsar, particularmente a parte culta da bur-
guesia, os chamados representantes das profissões liberais (professores, médicos,
advogados, estudantes e, de modo geral, os intelectuais). Agonizam as naciona-
lidades e as confissões religiosas oprimidas na Rússia, inclusive os poloneses e
os finlandeses, perseguidos na própria pátria, ofendidos em seus mais sagrados
sentimentos, e que veem insolentemente feridos pela autocracia os direitos e as
liberdades legadas pela história. Agonizam os judeus, continuamente persegui-
dos e ofendidos, privados até mesmo desses miseráveis direitos de que gozam os
outros súditos russos: o direito de livre domicílio, o direito de frequentar as es-
colas, o direito de ocupar empregos, etc. Agonizam os georgianos, os armênios
e as outras nacionalidades, privadas do direito de possuir escolas próprias, de
poder trabalhar nas instituições do Estado, constrangidos a submeter-se a essa
infame política de russificação, aplicada com tanto ardor pela autocracia. Agoni-
zam muitos milhões de russos pertencentes a seitas religiosas, que querem crer e
celebrar os ritos de acordo com a própria consciência e não segundo a vontade
dos padres ortodoxos. Agonizam, mas é impossível enumerar todos aqueles que
são oprimidos, perseguidos pela autocracia da Rússia. São tantos que, se fossem
todos conscientes e compreendessem quem é seu inimigo comum, o poder despó-
tico na Rússia não poderia sobreviver um só dia. Ainda mais: os camponeses na
Rússia estão ainda prostrados por uma escravidão secular, pela miséria e a igno-
rância; começam apenas a despertar e ainda não compreenderam onde está seu
inimigo. As nacionalidades oprimidas da Rússia não podem nem sequer pensar
J. V. Stalin 59
sordens e vai satisfazer sua “curiosidade”: por que se verificam essas desordens,
como é que tanta gente se expõe aos chicotes dos cossacos?
Nesta situação, os “curiosos” já não permanecem indiferentes quando ouvem
o sibilar dos chicotes e dos sabres. Os “curiosos” verificam que os manifestantes
se reuniram na rua para exprimir suas próprias aspirações e suas próprias reivin-
dicações, enquanto o governo lhes responde com massacres e repressões bestiais.
O “curioso” já não foge ao sibilar dos chicotes, mas, ao contrário, aproxima-se e
o chicote já não consegue mais distinguir onde acaba o simples “curioso” e onde
começa o “revoltoso”. Desde então, o chicote, observando uma “plena igualdade
democrática”, sem distinção de sexo, de idade e até de condição social, acari-
cia as costas de uns e de outros. O chicote nos presta, assim, um grande ser-
viço, porque apressa a passagem dos “curiosos” para as posições revolucionárias.
Transformando-se em instrumento de despertar, o que era arma de repressão.
Dessa maneira, embora as demonstrações de rua não nos deem resultados
diretos, e a força dos manifestantes seja hoje ainda insuficiente para constran-
ger o governo a fazer concessões às reivindicações populares, os sacrifícios que
hoje enfrentamos nas demonstrações de rua nos serão cem vezes recompensados.
Para cada combatente tombado na luta ou arrancado de nossas fileiras, surgem
centenas de novos combatentes. Mais de uma vez seremos ainda derrotados nas
ruas, e mais de uma vez o governo sairá vitorioso nas lutas de rua. Será, porém,
uma “vitória de Pirro”. Mais algumas vitórias desse gênero, e o absolutismo cairá
fatalmente. Com a vitória de hoje, prepara sua própria derrocada. Firmemente
convencidos de que chegará esse dia, de que esse dia não está longe, enfrenta-
mos as chicotadas para lançar a semente da agitação política e do socialismo. O
governo não está menos convencido do que nós de que as agitações de rua são
para ele uma sentença de morte, e de que bastam dois ou três anos para que
surja à sua frente o fantasma da revolução popular. O governo declarou um
destes dias, pela boca do governador de Iekaterinoslav, que “não recuará nem
mesmo diante de medidas extremas para sufocar a menor tentativa de demons-
tração de rua”. Como se vê, essa declaração cheira a fuzilaria e talvez mesmo
a canhoneio; mas somos de opinião que, tanto quanto as chicotadas, os projé-
teis atiçam o descontentamento. Não acreditamos que, mesmo com essas “medi-
das extremas”, o governo consiga refrear por muito tempo a agitação política e
impedir-lhe o desenvolvimento. Esperamos que a social-democracia revolucioná-
ria saberá adaptar a agitação às novas condições criadas pelo governo com essas
“medidas extremas”. Em todo o caso, a social-democracia deve acompanhar os
acontecimentos com vigilância, deve tirar rapidamente proveito das lições desses
acontecimentos e adaptar sua atividade às condições que se modificam.
Entretanto, para alcançar tudo isso, é necessária à social-democracia uma or-
ganização forte e coesa, e precisamente uma organização de partido, unida não
apenas pelo nome, mas pelos princípios fundamentais, pela orientação tática.
Nossa tarefa é trabalhar na criação desse partido forte, que será armado de prin-
cípios sólidos e de uma indestrutível capacidade conspirativa. O Partido Social-
democrata deve utilizar o movimento de rua recentemente iniciado, deve tomar
nas mãos a bandeira da democracia da Rússia e levá-la à vitória por todos alme-
jada.
62 Obras Escolhidas
Como a Social-Democracia
considera a questão nacional?
9 de março de 1906
106 Sakartvelo (Geórgia) — era um jornal publicado por um grupo de nacionalistas georgianos no
exterior, que se tornou o núcleo do partido nacionalista burguês dos Social-Federalistas. O jornal
foi publicado em Paris nas línguas georgiana e francesa, e funcionou de 1903 a 1905. O partido
dos federalistas georgianos (formado em Genebra em abril de 1904), consistia no grupo Sakartvelo,
bem como englobava frações de anarquistas, socialistas-revolucionários e nacional-democratas. A
principal exigência dos federalistas era a autonomia nacional da Geórgia dentro do estado burguês
de latifundiários russos. Durante o período de reação, eles se tornaram inimigos declarados da
revolução.
66 Obras Escolhidas
Uma nova classe, o proletariado, surgiu no campo da luta e com ela nasceu
a nova “questão nacional”, a “questão nacional” do proletariado. Assim como o
operariado se distingue da nobreza e da burguesia, da mesma forma a “questão
nacional” levantada pelo proletariado se distingue da “questão nacional” da no-
breza e da burguesia. Falaremos agora desse “nacionalismo”. Como concebe a
social-democracia a “questão nacional”?
Há muito tempo, o proletariado da Rússia falava em luta. Como é sabido, o es-
copo de cada luta é a vitória. Mas, para a vitória do proletariado, é indispensável
a união de todos os operários sem distinção de nacionalidade. É claro que a condição
essencial para a vitória do proletariado é a derrubada das barreiras nacionais e
a união estreita dos proletários russos, georgianos, armênios, poloneses, judeus,
etc. São esses os interesses do proletariado da Rússia.
No entanto, a autocracia da Rússia, que é o pior inimigo do proletariado da
Rússia, opõe-se de maneira constante à causa da unificação dos proletários. A
autocracia persegue criminosamente a cultura nacional, a língua, os costumes e
as instituições das nacionalidades “estrangeiras” da Rússia; priva-as dos direitos
civis indispensáveis, oprime-as de todos os modos, farisaicamente semeia entre
elas a desconfiança e a inimizade, impele-as a encontros sangrentos mostrando,
assim, que o único objetivo da autocracia russa é dividir as nacionalidades que
habitam a Rússia, atiçar entre elas a discórdia nacional, fortalecer as barreiras
nacionais, para assim dividir os proletários com melhores resultados, fragmentar
todo o Proletariado da Rússia em pequenos grupos nacionais, cavando, por esse
meio, a sepultura para a consciência de classe dos operários e para sua união de
classe.
São estes os interesses da reação russa, é esta a política da autocracia russa.
É evidente que os interesses do proletariado da Rússia deveriam inevitavelmente
chocar-se, cedo ou tarde, com a política reacionária da autocracia tsarista. As-
sim aconteceu, e justamente nessa situação é que nasceu na social-democracia a
“Questão Nacional”.
Como derrubar as barreiras nacionais erguidas entre as nações, como des-
truir o isolamento nacional, a fim de melhor aproximar uns dos outros os pro-
letários da Rússia, a fim de uni-los mais estreitamente? Tal é o conteúdo da
“questão nacional” na social-democracia. Pela divisão em partidos nacionais se-
parados e a criação entre eles de uma “aliança livre”: eis como respondem os
social-democratas federalistas.
O mesmo sustenta a “Organização Operária Social-democrata Armênia”107 .
Como se verifica, não nos aconselham a unir-nos em um partido único para toda
a Rússia, guiado por um centro único, mas sim a dividir-nos em alguns partidos
com certo número de centros diretores, e tudo isso para fortalecer a unidade de
classe! Queremos aproximar uns dos outros os proletários das diversas nacionali-
dades. Como devemos proceder? – Afastem os proletários uns dos outros e terão
107 A Organização Social-Democrata Trabalhista Armênia foi formada por elementos Nacional-
Federalistas Armênios logo após o Segundo Congresso do Partido Trabalhista Social-Democrata
Russo. V. I. Lenin observou a estreita conexão entre esta organização e o Bund. Numa carta aos
membros do Comitê Central do Partido, datada de 7 de setembro de 1905, ele escreveu: “Esta é uma
criatura do Bund, nada mais, inventada especialmente com o propósito de fomentar o Bundismo
caucasiano. Os camaradas caucasianos se opõem a essa gangue de disruptores de canetas”.
J. V. Stalin 67
II
nacionalidades. Russkaya se aplica mais especificamente ao povo russo em si. Em português, ambos
são traduzidos pela palavra russo (N.T)
70 Obras Escolhidas
que se distinguem umas das outras pelas condições originais de vida e pela com-
posição da população, não podem aplicar de maneira idêntica à constituição do
Estado; de que é necessário dar a essas regiões o direito de aplicar a constituição
geral do Estado na forma sob a qual possam tirar maiores vantagens e em que
as forças políticas existentes no povo tenham o mais completo desenvolvimento.
Isso é o que exige o interesse do proletariado da Rússia. E se reexaminarem o
artigo 3º do programa de nosso Partido, no qual nosso Partido reclama “uma
ampla autonomia local; a autonomia regional para as regiões que se distinguem
por condições particulares de vida e pela composição da população”, verão que o
Partido Operário Social-democrata da Rússia libertou essa reivindicação, desde
o início, das névoas nacionalistas e traçou a si mesmo, em seguida, a tarefa de
realizá-la.
4) Cultura Estrangeira
Vocês nos apontam a autocracia russa, que persegue ferozmente a “cultura
nacional” das nacionalidades “estrangeiras” da Rússia, intervém de maneira cri-
minosa em sua vida interna e as oprime por todos os lados, que destruiu barba-
ramente (e continua a destruir) as instituições culturais dos finlandeses e que se
apossou criminosamente do patrimônio nacional armênio, etc.? Exigem garan-
tias contra as criminosas agressões da autocracia? E nós, por acaso, não estamos
vendo as agressões da autocracia tsarista e não temos lutado, permanentemente,
contra essas agressões? Todo mundo vê, hoje, como o atual governo russo oprime
e sufoca as nacionalidades “estrangeiras” da Rússia. Não se pode nem sequer
pôr dúvida que semelhante política do governo corrompe dia a dia e submete a
uma dura provação a consciência de classe do proletariado da Rússia. Por conse-
guinte, lutamos, sempre, e em toda parte, contra a política corruptora do governo
tsarista. Por conseguinte, defenderemos sempre e em toda parte, contra as vio-
lências policiais da autocracia, não só as instituições úteis dessas nacionalidades,
mas também as inúteis, já que o interesse do proletariado da Rússia nos diz que
somente as próprias nacionalidades têm o direito de destruir ou de desenvolver
este ou aquele aspecto de sua cultura nacional. Leiam, porém, o artigo 9º de
nosso programa. Acaso, não se trata disso, no artigo 9º do programa de nosso
Partido que, cumpre dizer, tanto deu que falar aos nossos inimigos, quanto aos
nossos amigos?
Mas neste ponto nos interrompem e nos aconselham a silenciar sobre o artigo
9º. Por quê? – Perguntamos. “Porque” – respondem-nos – esse artigo de nosso
programa “contradiz radicalmente” os artigos 3º, 7º e 8º. do mesmo programa,
já que, se se concede às nacionalidades o direito de organizar a seu modo to-
dos os seus assuntos nacionais (vede o artigo 9º), não deveriam caber, no mesmo
programa, os artigos 3º, 7º e 8º, e vice-versa, se esses artigos permanecem no
programa, o artigo 9º, deve, sem dúvida, ser excluído. É mais ou menos isso,
por certo, o que diz o Sakartvelo 110 quando, com a leviandade que lhe é peculiar,
indaga: “Que lógica há em dizer a uma nação: concedo-te a autonomia regio-
nal, e, ao mesmo tempo, recordar-lhe que tem o direito de regular, de acordo
com o próprio critério, todos os seus assuntos nacionais?” (vide Sakartvelo, nº
110Referimo-nos aqui a Sakartvelo com o único propósito de melhor explicar o conteúdo da cláusula
9. O objetivo do presente artigo é criticar os social-democratas federalistas, e não os sakartvelistas,
que diferem radicalmente dos primeiros (veja o Capítulo I do escrito.)
72 Obras Escolhidas
8º do programa de nosso Partido. Mas, como foi dito acima, esta é uma opinião
geral.
Tal opinião, porém, não exclui a possibilidade da criação de condições econô-
micas e políticas tais que façam os grupos adiantados da burguesia das naciona-
lidades “estrangeiras” desejar a “libertação nacional”.
Pode ainda acontecer que esse movimento se mostre útil ao desenvolvimento
da consciência de classe do proletariado. Como deverá então agir nosso Partido?
Justamente para atender à eventualidade de semelhantes casos é que foi incluído
em nosso programa o artigo 9º; e justamente na previsão da possibilidade de se-
melhantes circunstâncias é que se confere às nacionalidades um direito à base do
qual se esforçarão por solucionar seus assuntos nacionais, segundo suas aspira-
ções (por exemplo “libertar-se” por completo, separar-se).
Nosso Partido, que se propõe a dirigir a luta do proletariado de toda a Rús-
sia, deve estar preparado para semelhantes casos, que são possíveis na vida do
proletariado, e, justamente por isso, teve de introduzir tal artigo em seu pro-
grama. Assim deve proceder todo partido previdente e de visão ampla. Parece,
entretanto, que esse significado do artigo 9º não satisfaz aos “sábios” do Sakart-
velo, nem tampouco a alguns social-democratas federalistas. Pedem estes uma
resposta “decisiva”, “categórica” à pergunta: é vantajosa ou prejudicial ao prole-
tariado a “independência nacional”?
Recordo os metafísicos russos de meados do século passado, que importuna-
vam os dialéticos de então com a pergunta sobre se a chuva era útil ou prejudicial
à colheita, pergunta para a qual exigiam uma resposta “decisiva”. Não era difí-
cil aos dialéticos demonstrar que esse modo de apresentar a questão nada tinha
de científico, que, mudando o tempo, se deve responder de modo diverso a essa
pergunta, que a chuva é útil durante a seca, enquanto é inútil e mesmo prejudi-
cial com o tempo chuvoso, que, por conseguinte, exigir uma resposta “decisiva”
a essa pergunta é uma rematada tolice.
Mas o jornal Sakartvelo não tirou proveito desses exemplos.
Uma resposta “decisiva” do mesmo gênero exigiam aos marxistas os adep-
tos de Bernstein, fazendo a pergunta: são úteis ou prejudiciais ao proletariado
as cooperativas? Não era difícil aos marxistas demonstrar a inconsistência de se-
melhante modo de colocar a questão. Explicavam, muito simplesmente, que tudo
depende do tempo e do lugar, que onde a consciência de classe do proletariado
atingiu o devido nível de desenvolvimento; onde os proletários estão unidos num
único e forte partido político, aí as cooperativas podem prestar grande auxílio ao
proletariado, se é o próprio Partido quem se empenha em criá-las e dirigi-las, ao
passo que, onde não existam essas condições, as cooperativas são prejudiciais ao
proletariado, pois que geram entre os operários tendências de pequenos comer-
ciantes e isolamento corporativo, desnaturando, assim, a consciência de classe.
Entretanto, também esse exemplo não foi proveitoso aos “sakartvelistas”. Per-
guntam eles, com insistência! Ainda maior: é útil ou prejudicial ao proletariado
a independência nacional? Dai-nos uma resposta decisiva!
Estamos, porém, vendo que as circunstâncias capazes de gerar e desenvolver
o movimento de “libertação nacional” entre a burguesia das nacionalidades “es-
trangeiras”, não existem ainda nem são inevitáveis no futuro, e, sendo assim, nós
74 Obras Escolhidas
111 Os sakartvelistas sempre constroem suas demandas na areia e não podem conceber pessoas que
sejam capazes de encontrar um terreno mais firme para as mesmas!
112 O que é esse “partido” que tem um nome tão estranho? O Sakartvelo nos informa (ver Suplemento
nº 1 de Sakartvelo, nº 10) que “na primavera deste ano, revolucionários georgianos: Anarquistas ge-
orgianos, apoiadores de Sakartvelo, social-revolucionários georgianos, reuniram-se no exterior e...
unidos... um “partido” de Social-Federalistas da Geórgia. “... Sim, anarquistas, que desprezam
toda política de coração e alma, social-revolucionários que adoram a política e os sakartvelistas, que
J. V. Stalin 75
repudiam todas as medidas terroristas e anarquistas – e acontece que essa multidão heterogênea e
mutuamente negativa se uniu para se formar... um partido”! Uma colcha de retalhos tão ideal quanto
qualquer um poderia imaginar! Este é um lugar onde ninguém o achará enfadonho! Os organiza-
dores que afirmam que as pessoas devem ter princípios comuns para se unir em um partido estão
enganados! Não são princípios comuns, mas a ausência de princípios é a base sobre a qual um “par-
tido” deve ser construído, diz essa multidão heterogênea. Abaixo a “teoria” e os princípios – eles são
apenas grilhões de escravos! Quanto mais cedo nos libertarmos deles, melhor – filosofa essa mul-
tidão heterogênea. E, de fato, no momento em que essas pessoas se libertaram dos princípios, elas
imediatamente construíram... um castelo de cartas – peço perdão – o “partido dos social-federalistas
georgianos”. Acontece que “sete homens e um menino” podem formar um “partido” a qualquer mo-
mento, sempre que estiverem juntos. Pode-se deixar de rir quando esses ignorantes, esses “oficiais”
sem exército, filosofam assim: o Partido Trabalhista Social-Democrata Russo “é antissocialista, rea-
cionário” etc.; os sociais-democratas russos são “chauvinistas”; a União do Cáucaso do nosso partido
submete-se “servilmente” ao Comitê Central do Partido, etc. (ver as resoluções da Primeira Confe-
rência dos Revolucionários da Geórgia). Nada melhor se poderia esperar dos fósseis arqueológicos
da era Bakunin: o fruto é típico da árvore que o gerou, os bens são típicos da fábrica que os produziu.
76 Obras Escolhidas
A questão agrária
março de 1906
cia tsarista, a mesma burocracia que mais de uma vez recebeu os camponeses
esfomeados com canhões e metralhadoras!
Não! O resgate das terras não salvará os camponeses. Os que aconselham aos
camponeses o “resgate em condições favoráveis” são traidores, porque procuram
colher os camponeses nas redes dos agenciadores e não querem que a libertação
dos camponeses se efetue pelas mãos dos próprios camponeses. Se os camponeses
querem ocupar as terras da nobreza, se devem por esse meio destruir os restos do
feudalismo, se o “resgate em condições favoráveis” não os salvará, se a libertação
dos camponeses deve efetuar-se pelas mãos dos próprios camponeses, então é
fora de qualquer dúvida que a única saída está em tomar as terras dos nobres,
isto é, no confisco dessas terras. Essa é a saída. Pergunta-se: até que ponto deve
chegar esse confisco, terá ele limites, devem os camponeses tomar só uma parte,
ou todas as terras?
Alguns dizem que tomar todas as terras é demasiado, que basta tomar só uma
parte das terras para satisfazer aos camponeses. Admitamos, porém como pro-
ceder se os camponeses pedirem mais? Não seremos nós que nos atravessaremos
no caminho deles dizendo: parem, não passem adiante! É claro que isso se-
ria reacionário! E os acontecimentos na Rússia acaso não demonstraram que os
camponeses reivindicam efetivamente o confisco de todas as terras da nobreza?
Além disso, que significa “tomar uma parte”? Que parte deve ser tomada dos
nobres: a metade ou um terço? Quem deve decidir essa questão: os nobres so-
zinhos ou os nobres e os camponeses juntos? Como pode ser observado, ainda
há muito lugar para os agenciadores, ainda é possível mercadejar entre nobres e
camponeses e isso contraria radicalmente a causa da libertação dos camponeses.
Os camponeses devem convencer-se de uma vez por todas de que com a nobreza
fundiária não se deve mercadejar, mas lutar. Não se deve remendar o jugo do
feudalismo, mas despedaçá-lo, a fim de destruir lhe para sempre os restos. “To-
mar só uma parte” significa pôr-se a remendar os restos do feudalismo, e isso é
incompatível com a causa da libertação dos camponeses.
É claro que o único caminho é tomar da nobreza fundiária todas as terras.
Somente assim se pode levar até fim o movimento camponês, somente isso pode
intensificar a energia do povo, pode varrer os restos decrépitos do feudalismo.
O atual movimento no campo é, portanto, um movimento democrático dos cam-
poneses. O objetivo desse movimento é a destruição dos restos do feudalismo.
Para destruir esses restos é necessário confiscar todas as terras da nobreza e do go-
verno. Alguns senhores levantam-nos uma acusação: por que a social-democracia
não exigiu até agora o confisco de todas as terras, por que ela falou até agora so-
mente em confisco dos “otrezki”?113
Porque, senhores, em 1903, quando o Partido falava dos “otrezki”, os campo-
neses da Rússia não tinham sido ainda atraídos para o movimento. Era dever do
Partido lançar no campo uma palavra de ordem que inflamasse os corações dos
camponeses e levantasse as massas camponesas contra os restos do feudalismo.
Uma palavra de ordem desse gênero eram justamente os “otrezki”, que recor-
davam vivamente aos camponeses da Rússia a injustiça dos restos feudais. Mas
113Em tradução literal, “cortes”. Lotes de terra que os latifundiários tomaram dos camponeses
quando a servidão foi abolida na Rússia em 1861 (N.T.)
82 Obras Escolhidas
II
III
Vimos que nenhuma das três soluções – nem a “socialização”, nem a “nacio-
nalização”, nem a “municipalização” – pode satisfazer devidamente aos interesses
da revolução atual. Como devem ser repartidas as terras tomadas, a quem devem
ser dadas em propriedade? É claro que as terras arrebatadas pelos camponeses
devem ser transferidas aos próprios camponeses para dar-lhes a possibilidade de
repartir essas terras entre si. Assim deve ser resolvida a questão acima levan-
tada. A divisão da terra provocará um revolucionamento da propriedade. Os
menos abastados venderão as terras e enveredarão pelo caminho da proletariza-
ção, os endinheirados adquirirão novas terras e se lançarão a melhorar a técnica
das culturas, o campo será dividido em classes, se intensificará a luta de clas-
ses, e dessa maneira serão lançadas as bases para o ulterior desenvolvimento do
capitalismo. Como se vê, a divisão da terra é a consequência natural do atual
desenvolvimento econômico. Por outro lado, a palavra de ordem: “a terra aos
camponeses, somente aos camponeses e a ninguém mais”, encorajará os campo-
neses, irão preenchê-los de nova energia e contribuirá para levar até ao fim o
movimento revolucionário já iniciado no campo. Como se vê, também o curso
da revolução atual nos indica a necessidade da repartição das terras. Os adversá-
rios acusam-nos de fazer renascer, por meio de tudo isso, a pequena burguesia,
o que está em contradição radical com a doutrina de Marx. Eis o que escreve a
J. V. Stalin 85
115 Novaya Zhizn (Vida Nova) – o primeiro jornal bolchevique legal, publicado em São Petersburgo
de 27 de outubro a 3 de dezembro de 1905. Quando V. I. Lenin chegou do exterior, o Novaya Zhizn
começou a funcionar sob sua direção pessoal. Parte ativa na publicação do jornal foi assumida por
Maxim Gorky. Com a aparição do nº 27 de Novaya Zhizn, o artigo foi suprimido pelas autoridades.
O nº 28, último número a ser publicado, saiu ilegalmente.
116 Nachalo (O Começo) —um jornal diário legal publicado em São Petersburgo pelos mencheviques
programa mínimo não dizemos nada sobre a jornada de trabalho de sete horas,
isso, por acaso, quer dizer que somos contra ela? Então, de que se trata? Somente
do fato de que em 1903, quando o movimento ainda não havia tomado consistên-
cia, o confisco de todas as terras teria ficado no papel; o movimento, ainda não
consistente, não teria conseguido essa reivindicação, e por isso a reivindicação
dos “otrezki” era mais adequada àquele período. Mas, em seguida, quando o mo-
vimento se desenvolveu e pôs em discussão as questões práticas, então o Partido
devia mostrar que o movimento não pode e não deve parar nos “otrezki”, que é
indispensável o confisco de todas as terras. Estes são os fatos. Enfim, algumas
palavras sobre o Tsnobis Purtseli117 – esse jornal diz certas tolices a propósito do
“costume” e do “princípio” e assevera que o Partido, não sei quando, teria trans-
formado em princípio os “otrezki”. O leitor pode ver também acima que isso é
mentira, que o Partido reconheceu publicamente como um princípio, desde o
início, o confisco de todas as terras. No que se refere ao fato de que o Tsnobis
Purtseli não distingue das questões práticas os princípios, nada de mau há nisso:
ele crescerá e aprenderá a distingui-los.118
I. Besochvili
Elva (O Relâmpago), nº 5, 9 e 10.
17, 22 e 23 de março de 1906
117 Tsnobis Purtseli (Boletim de Notícias) — um jornal diário georgiano publicado em Tiflis de 1896
a 1906. No final de 1900, tornou-se o porta-voz dos nacionalistas georgianos e, em 1904, tornou-se
o órgão dos social-federalistas georgianos.
118 Stalin completa: Tsnobis Purtseli “ouviu” em algum lugar que os “sociais-democratas russos... ado-
taram um novo programa agrário em virtude do qual... eles apoiam a municipalização da terra”.
Devo dizer que os sociais-democratas russos não adoptaram esse programa. A adoção de um pro-
grama é função de um congresso, mas nenhum congresso foi realizado ainda. Claramente, Tsnobis
Purtseli foi enganado por alguém ou algo. Tsnobis Purtseli se sairia bem se parasse de encher seus
leitores de rumores.
88 Obras Escolhidas
A contrarrevolução internacional
14 de julho de 1906
des locais exigindo a supressão implacável, pelas forças armadas, do movimento revolucionário dos
trabalhadores e camponeses e das organizações revolucionárias (N.T.)
122 D. Trepov foi o Governador-Geral de São Petersburgo, que dirigiu a supressão da Revolução de
1905 (N.T.)
J. V. Stalin 89
O proletariado de vanguarda e o V
Congresso do Partido
A preparação do Congresso aproxima-se do fim123 . Pouco a pouco delineiam-
se as correlações de força das frações. É evidente que a maior parte dos distritos
industriais apoia os bolcheviques. Petersburgo, Moscou, zona central industrial,
Polônia, região báltica, Urais: eis onde se tem confiança na tática dos bolchevi-
ques. O Cáucaso, a zona além do Cáspio, a Rússia meridional, algumas cidades
das regiões influenciadas pelo Bund124 , organizações camponesas Spilka125 : eis
onde os mencheviques obtêm suas forças. A Rússia meridional é a única região
industrial onde se tem confiança nos mencheviques. Os outros pontos de apoio
do menchevismo são na sua maioria centros de pequena produção.
Torna-se claro que a tática dos mencheviques é sobretudo a tática das cida-
des atrasadas, onde se vê com maus olhos o desenvolvimento da revolução e da
consciência de classe. Torna-se claro que a tática dos bolcheviques é sobretudo
a tática das cidades adiantadas, dos centros industriais, onde a atenção volta-se
principalmente para o aprofundamento da revolução e para o desenvolvimento
da consciência de classe.
Houve uma época em que a social-democracia russa não possuía senão um
grupinho de adeptos. Tinha ela então um caráter intelectual e não estava em
condições de dar seu próprio cunho à luta do proletariado. A política do Partido
era então dirigida por poucas pessoas; a voz da massa proletária do Partido era
sufocada.... Muito diferentes são as coisas, hoje. Hoje temos em nossa frente
um partido imponente, o Partido Operário Social-Democrata da Rússia, que tem
em suas fileiras cerca de 200 mil membros, imprime seu próprio cunho à luta
do proletariado, reúne em torno de si a democracia revolucionária de toda a
Rússia e incute medo nos “poderosos do mundo”. E esse partido imponente é
tanto mais imponente e maravilhoso quanto o leme que o dirige está nas mãos
da massa do Partido e não nas de poucos “homens cultos”. Isso foi evidenciado
da melhor maneira possível por ocasião das eleições à Duma, quando a massa
do Partido, repelindo a proposta do “autorizado” Plekhanov, não quis ter uma
“plataforma comum” com os cadetes. É verdade que os mencheviques chamam
igualmente nosso Partido de um partido de intelectuais, mas provavelmente o
fazem porque não é ele em sua maioria menchevique. Mas se o Partido Social-
Democrata alemão, dentre 18 milhões de proletários, conta em suas fileiras com
400 mil membros, se esse partido tem o direito de chamar-se partido proletário,
o mesmo direito tem também o Partido Operário Social-Democrata da Rússia,
123 O Quinto Congresso foi realizado em Londres de 30 de abril a 19 de maio de 1907. Em todas as
questões principais, o congresso adotou resoluções bolcheviques. Stalin esteve presente no congresso
como delegado da organização de Tiflis .
124 Sindicato Geral dos Trabalhadores Judeus da Polônia, Lituânia e Rússia – foi formado em outubro
de 1897.
125 Liga Social-Democrática Ucraniana, que esteve perto dos mencheviques, foi formada no final de
1904 como resultado de uma ruptura com o Partido Revolucionário Ucraniano (RUP) nacionalista
pequeno-burguês. Deixou de existir durante a reação de Stolypin.
J. V. Stalin 91
que possui 200 mil membros, num total de 9 milhões de proletários. O Partido
Operário Social-Democrata da Rússia é, portanto, imponente também porque é
um partido verdadeiramente proletário, que segue o seu caminho, em direção ao
porvir, criticando ao mesmo tempo os murmúrios de seus velhos “chefes”. A esse
respeito são significativas as últimas conferências de Petersburgo e de Moscou.
Em ambas as conferências eram os operários que davam o tom. Os nove déci-
mos do total dos delegados eram constituídos, tanto numa como a outra confe-
rência, por operários. Ambas as conferências repeliram as “diretrizes” superadas
e inoportunas dos “velhos líderes” do gênero de Plekhanov. Ambas as confe-
rências reconheceram ardorosamente a necessidade do bolchevismo. Com isso,
Moscou e Petersburgo expressaram a sua desconfiança da tática menchevique,
reconheceram a necessidade da hegemonia do proletariado na atual revolução.
Pela boca de Petersburgo e de Moscou fala todo o proletariado consciente.
Moscou e Petersburgo arrastam atrás de si as outras cidades. De Moscou e de
Petersburgo partiram as diretivas por ocasião das ações de dezembro e outubro;
foram elas que dirigiram o movimento e as gloriosas jornadas de dezembro. Não
há dúvida de que serão elas a dar o sinal para o iminente ataque revolucioná-
rio. Tanto Petersburgo como Moscou se atêm à tática do bolchevismo. A tática
do bolchevismo é a única tática proletária: eis o que dizem os operários dessas
cidades ao proletariado da Rússia.
Dro (O Tempo), nº 25.
8 de abril de 1907
92 Obras Escolhidas
O Congresso de Londres do
Partido Operário Social-democrata
da Rússia (apontamentos de um
delegado)
junho e julho de 1907
O Congresso de Londres terminou. A despeito das expectativas dos escrevi-
nhadores liberais – os diversos Vergezhsky e as diversas Kúskova127 – o Congresso
não nos acarretou a cisão, mas sim maior coesão do Partido, maior união dos
operários avançados de toda a Rússia num partido bem coeso. O Congresso foi
verdadeiramente um Congresso de unificação para toda a Rússia, pois que nele
estavam representados, pela primeira vez, do modo completo, os companheiros
poloneses, membros do Bund e letões; pela primeira vez eles tomaram parte ativa
nos trabalhos de um Congresso do Partido e, portanto, pela primeira vez liga-
ram de modo mais imediato a sorte de suas organizações aos destinos de todo o
Partido. Sob esse aspecto, graças ao Congresso de Londres o trabalho para refor-
çar e tornar mais coeso o Partido Operário Social-Democrata da Rússia deu um
notável passo à frente.
Esse é o primeiro resultado importante do Congresso de Londres. Mas a im-
portância do Congresso de Londres não está toda aí. O fato é que, a despeito dos
sobreditos escrevinhadores liberais, o Congresso terminou com a vitória do “bol-
chevismo”, com a vitória da social-democracia revolucionária sobre a ala oportu-
nista do nosso Partido, sobre o “menchevismo”.
Ninguém, decerto, ignora as nossas divergências acerca da função das diver-
sas classes dos diversos partidos em nossa revolução e acerca de nossa atitude para
com eles. Ninguém ignora tampouco que o centro oficial do Partido, composto
de mencheviques, em toda uma série de intervenções, colocou-se em contrapo-
sição ao Partido no seu conjunto. Lembrem-se também somente da história da
palavra de ordem do Comitê Central a respeito do ministério responsável ca-
dete, repelida pelo Partido durante a I Duma; a história da palavra de ordem
do mesmo CC sobre a “reabertura da sessão da Duma” após a dissolução da I
Duma, também repelida pelo Partido; a história do conhecido apelo do CC à
greve geral pela dissolução da I Duma, também esse repelido pelo Partido... Era
necessário por um paradeiro a essa situação anormal. E por sua vez, para fazer
isso, era necessário tirar as conclusões das vitórias alcançadas de fato pelo Partido
sobre o CC oportunista, vitórias de que está cheia a história do desenvolvimento
interno do nosso Partido em todo o ano recém-transcorrido. E foi o Congresso
de Londres que tirou as conclusões de todas essas vitórias da social-democracia
revolucionária, em assegurando a esta última a vitória, aceitou-lhe a tática.
127Vergezhsky é pseudônimo de A. V. Tyrkova; ela era uma colaboradora do jornal Cadete Rech. Em
1906-7, ela colaborou com jornais e periódicos semicadetes e semimencheviques. E. D. Kuskova, por
sua vez, foi um dos autores do programa dos Economistas conhecido como “Credo”.
96 Obras Escolhidas
A composição do Congresso
∗ ∗ ∗
nimo era Maximov). Em 1903, aderiu aos bolcheviques. Dois anos após o congresso de Londres saiu
do Partido Bolchevique. Morreu em 1928.
100 Obras Escolhidas
131 Sobre a cisão do organismo de Petersburgo, vide o escrito A luta eleitoral em Petersburgo e os
Mencheviques.
132 O projeto da moção sobre a questão agrária. Em nome da Duma. Foi elaborado pelos cadetes e pu-
∗ ∗ ∗
ela deve estar também à frente da nossa revolução russa. O proletariado é o prin-
cipal combatente na revolução, mas deve marchar atrás da burguesia e impeli-la
para a frente. Também o campesinato é uma força revolucionária, mas nele há
muito de reacionário, e assim o proletariado deve empreender ações comuns com
os camponeses muito mais raramente que com a burguesia democrático-liberal.
A burguesia é um aliado mais seguro do proletariado do que o campesinato. To-
das as forças combatentes devem agrupar-se em torno da burguesia democrático-
liberal, como em torno de um chefe. Não se deve, pois, determinar nossa atitude
para com os partidos burgueses baseada no princípio: junto com os camponeses
contra o governo e a burguesia liberal, com o proletariado à frente, mas com
base no princípio oportunista: junto com toda oposição contra o governo, com a
burguesia liberal à frente. Daí a tática do acordo com os liberais. Tal é a opinião
dos mencheviques.
Opinião dos bolcheviques. A nossa revolução é na realidade burguesa, mas
isso não significa ainda que à frente dela deva estar a nossa burguesia liberal. No
século XVIII a burguesia francesa esteve à frente da Revolução francesa. Mas por
quê? Porque o proletariado francês era débil, não agia de modo independente,
não lançava as suas reinvindicações de classe, não tinha nem consciência de classe
nem organização, marchava então a reboque da burguesia, e a burguesia servia-se
dele como instrumento para os seus fins burgueses. Como pode ser observado,
a burguesia não tinha necessidade então de um aliado, representado pelo poder
tsarista, contra o proletariado – o próprio proletariado era o seu aliado servidor
– e assim podia ser revolucionária, pôr-se até à frente da revolução. Coisa ab-
solutamente diversa observa-se entre nós, na Rússia. Não se pode em absoluto
dizer que o proletariado russo seja débil: já faz alguns anos que age de modo
plenamente autônomo, lançando suas reinvindicações de classe; está suficien-
temente armado de consciência de classe para compreender os seus interesses;
está agrupado em seu partido; possui o partido mais forte existente na Rússia,
um partido com seu programa próprio e seus princípios táticos-orgânicos pró-
prios; com este partido à frente, já alcançou muitas vitórias brilhantes sobre a
burguesia. Dadas essas condições, pode o nosso proletariado contentar-se com a
função de apêndice da burguesia liberal, com a função mísero instrumento nas
mãos dessa burguesia? Pode, deve seguir a essa burguesia, dela fazendo a pró-
pria cabeça? Pode não ser a cabeça da revolução? Mas observem o que acontece
no campo de nossa burguesia liberal: a nossa burguesia, amedrontada com o es-
pírito revolucionário do proletariado, em vez de colocar-se à frente da revolução,
joga-se nos braços da contrarrevolução, alia-se com ela contra o proletariado. E
o seu partido, o partido dos cadetes, entra em acordo abertamente, na frente
de todo o mundo, com Stolypin, vota a favor do orçamento e do exército, com
toda a vantagem para o tsarismo e contra a revolução popular. Não é claro que a
burguesia liberal russa representa uma força antirrevolucionária, contra o qual
é preciso mover a luta mais implacável? E não tinha razão o camarada Kautsky
quando dizia que, onde o proletariado age de modo independente, a burguesia
cessa de ser revolucionária?
Então a burguesia liberal russa é antirrevolucionária; não pode ser nem a
força motriz nem, muito menos, a cabeça da revolução; é o inimigo jurado da
revolução e contra ela é preciso mover uma luta obstinada. A única cabeça da
104 Obras Escolhidas
135Sequazes de Jules Guesde, que constituíam a corrente marxista no Partido Socialista Francês. Em
1901, os guesdistas constituíram o Partido Socialista da França e lutaram contra os oportunistas no
movimento operário francês, contra a política de colaboração com a burguesia contra a participação
dos socialistas nos ministérios burgueses. No início da guerra imperialista mundial, Guesde assu-
miu uma posição “defensista” e entrou para o governo burguês. Uma parte dos guesdistas fiéis ao
marxismo revolucionário entrou mais tarde para o Partido Comunista (N.T.)
J. V. Stalin 105
partem do ponto de vista do marxismo, mas repousam sobre. No final dos de-
bates foram apresentados dois projetos de resolução: o menchevique e o bolche-
vique. Foi aprovado, como base, o projeto bolchevique, por esmagadora maioria
de votos.
Seguiram-se as emendas. Foram propostas cerca de oitenta, que se referiam,
sobretudo, a dois pontos do projeto: ao primeiro ponto, o proletariado com o ca-
beça da revolução; e ao outro ponto, os cadetes como força antirrevolucionária.
Foi a parte mais interessante dos debates porque, nestes, revelou-se de maneira
particularmente nítida a fisionomia das frações. A primeira emenda importante
foi proposta pelo camarada Martov. Queria ele substituir as palavras: “o prole-
tariado, como cabeça da revolução”, pelas palavras: “o proletariado, como van-
guarda”. Fundamentou ele esta sua proposta dizendo que a palavra “vanguarda”
exprime com maior precisão a ideia. O camarada Alexinski objetou-lhe que não
se tratava de precisão, mas de dois modos de ver opostos, expressos nesse ponto,
uma vez que “vanguarda” e “cabeça” são dois conceitos completamente diversos.
Ser a vanguarda (destacamento avançado) significa bater-se nas primeiras filei-
ras, ocupar os pontos mais expostos, derramar o próprio sangue, mas ao mesmo
tempo ser dirigido por outros, no caso presente pela burguesia democrática: a
vanguarda não dirige nunca a luta geral. É sempre dirigida. Pelo contrário,
ser a cabeça significa não só bater-se nas primeiras filas, como também dirigir a
luta geral, dirigi-la no sentido do seu próprio objetivo. Nós, bolcheviques, não
queremos que o proletariado seja dirigido por democratas burgueses; queremos
que ele mesmo dirija a luta de todo o povo e a dirija no sentido da república
democrática.
O resultado foi que a emenda de Martov não passou. Todas as outras emendas
do mesmo tipo foram também rejeitadas.
O outro grupo de emendas visava modificar o ponto relativo aos cadetes. Os
mencheviques propunham reconhecer que os cadetes não se haviam ainda posto
a caminho da contrarrevolução. Mas o Congresso não aprovou essa proposta e
todas as emendas desse tipo foram repelidas. Em seguida, os mencheviques pro-
puseram que fosse admitido em certos casos um acordo técnico com os cadetes.
Nem mesmo essa proposta foi aprovada pelo Congresso, que rejeitou as emendas
correspondentes.
Afinal, votou-se a resolução em seu conjunto e verificou-se que 159 haviam
votado pela resolução bolchevique, 104 contra e os outros se abstiveram. O Con-
gresso aprovou a resolução dos bolcheviques por esmagadora maioria de votos.
Desde esse momento, o ponto de vista dos bolcheviques tornou-se o ponto de
vista do Partido.
Ademais, essa votação deu dois resultados importantes.
Antes de mais nada, pôs fim à divisão formal, artificiosa, do Congresso em
cinco frações (bolcheviques, mencheviques, poloneses, letões, membros do Bund)
e deu origem a uma nova divisão de princípios: bolcheviques (compreendidos to-
dos os poloneses e a maioria dos letões) e mencheviques (compreendidos quase
todos os membros do Bund). Em segundo lugar, com essa votação se teve uma es-
tatística mais precisa da distribuição dos delegados operários por fração: resultou
que na fração bolchevique havia não 38, mas 77 operários (38 mais 27 poloneses
J. V. Stalin 107
O congresso operário
Antes de passar à análise dos debates sobre a questão do congresso operário,
é necessário conhecer a história da questão137 .
O fato é que tal questão permaneceu extremamente confusa e nebulosa. Ao
passo que para os outros pontos que suscitaram as nossas divergências no Par-
tido já existem duas correntes definidas: a bolchevique e a menchevique, para a
questão do congresso operário não temos duas, mas um amontoado de correntes,
extremamente confusas e contraditórias. É verdade que os bolcheviques decla-
ram em bloco e de maneira precisa serem contrários ao congresso operário. Mas
entre os mencheviques reina, ao invés, o caos mais completo, a máxima confu-
são: dividiram-se em numerosos grupos e cada um desses grupos canta por conta
própria, sem ouvir os outros. Ao passo que os mencheviques de Petersburgo, che-
fiados por Axelrod, propõem a convocação de um congresso operário para criar
o Partido, os mencheviques de Moscou, com EL na chefia, propõem convocá-
lo não para favorecer a criação do Partido, mas com o fim de criar uma “união
operária de toda a Rússia”, apartidista. Os mencheviques do Sul vão ainda mais
longe e, com Larin138 à frente, propõem a convocação do congresso operário não
para criar o Partido, e nem tampouco uma “união operária”, mas uma “união do
trabalho” mais ampla, que possa abarcar, além de todos elementos proletários,
também elementos social-revolucionários, semiburgueses, elementos “que vivem
do próprio trabalho”. Sem falar ainda dos outros grupos e de pessoas menos in-
fluentes, do gênero dos grupos de Odessa e dos do Transcáspio e dos “autores”
de um folheto ridículo, os chamados “vagabundos” e “Chura”.139
Essa é a confusão que reina nas fileiras dos mencheviques.
Porém, como convocar o congresso operário, como organizá-lo, quem con-
vidar ao congresso, a quem confiar o encargo da convocação, quem deve tomar
a iniciativa disso? Sobre todos esses problemas, existe entre os mencheviques a
mesma confusão que existe em torno do problema das finalidades do congresso.
Enquanto uns propõem que se faça coincidir as eleições para o congresso com as
eleições para a Duma e que se organize “de surpresa” o congresso operário, ou-
tros propõem que se tenha confiança na “condescendência” do governo, ao qual
em caso extremo se pode pedir a “autorização”, e outros ainda aconselham o en-
vio de delegados ao estrangeiro, nem que sejam três ou quatro mil e lá realizar
ilegalmente o congresso operário.
Enquanto, entre os mencheviques, uns propõem que somente às organiza-
ções operárias realmente constituídas se permita que sejam representadas no
137 Trata-se do artigo do Iuri Pereiaslavski (J. Khrustaliov), publicado no Bakinski Dién (O dia de
Baku), diário liberal que se publicou de junho de 1907 a janeiro de 1908.
138 I. Larin, I. A. Rin (M. A. Lurie), menchevique liquidacionista. Em 1917, entrou para o partido
orgiano, em Tiflis , no ano de 1907. “O vagabundo” era o menchevique Gucórgui Eradze: “Chura”,
sua mulher, a menchevique Piehkina.
108 Obras Escolhidas
amamos nosso Partido e não permitiremos aos intelectuais desfibrados que o de-
sacreditem”. É interessante o fato de que a representante da social-democracia
alemã, a camarada Rosa Luxemburgo, esteve de pleno acordo com os bolchevi-
ques. “Nós, social-democratas alemães – disse ela – não conseguimos entender
a ridícula desorientação dos camaradas mencheviques, sempre tateantes procu-
ram as massas, enquanto as próprias massas buscam o Partido e a este se apegam
irresistivelmente”.
Dos debatedoresm resultou que a esmagadora maioria dos oradores apoiava
os bolcheviques. No final da discussão foram postos em votação dois projetos de
resolução, respectivamente dos bolcheviques e dos mencheviques. Foi aprovado,
com base, o projeto dos bolcheviques. Quase todas as emendas que tinham um
caráter de princípio foram rejeitadas delas só foi aprovada uma, mais ou me-
nos séria, a que era contra a limitação da liberdade de se discutir a questão do
congresso operário. A resolução em suma, afirmava que a “ideia do congresso
operário leva à desorganização do Partido”, “coloca amplas massas operárias so-
bre influência da democracia burguesa”, e por isso é prejudicial ao proletariado.
A resolução além disso, estabelecia nítida distinção entre o congresso operário e
os sovietes de deputados operários e seus congressos, que não só desorganizam
o Partido, não só não lhe fazem concorrência, mas pelo contrário, reforçam-no,
seguindo atrás dele e ajudando-o a resolver as questões práticas dos momentos
de ascenso revolucionário.
Enfim, a resolução foi aprovada em seu conjunto por uma maioria de 165
votos contra 94. Os demais abstiveram-se. O congresso repeliu também a ideia
do congresso operário porque era contrária aos interesses do Partido.
A votação revelou algo importante: dos 114 delegados operários que nele
tinham participado, somente 25 haviam votado pelo congresso operário. Os de-
mais tinham votado contra. Vale dizer: 22% dos delegados operários tinham
votado a favor do congresso operário e 72% contra. E, o que mais é, dos 94 de-
legados que haviam votado a favor do congresso operário, somente 26% eram
operários e 74% intelectuais. Contudo, os mencheviques gritavam aos quatro
ventos que a ideia do congresso operário era uma ideia operária, que somente
os bolcheviques “intelectuais” opunham-se à convocação do congresso. A julgar
por essa votação, deveriam antes reconhecer que a ideia do congresso operário é
uma fantasmagoria de intelectuais. Até mesmo os operários mencheviques, pelo
que se verifica, não votaram a favor do congresso operário: dentre 39 delegados
operários (30 mencheviques mais 9 membros do Bund), somente 24 votaram a
favor do congresso operário.
Koba Ivanovitch
Baku, 1907
Bakinski Proletari (O proletário de Baku) nº 1 e 2.
20 de junho e 10 de julho de 1907
112 Obras Escolhidas
O terrorismo econômico e o
movimento operário
30 de março de 1908
A luta dos operários não teve sempre, e por toda a parte, a mesma forma.
Houve tempo em que os operários, lutando contra os patrões, quebravam as má-
quinas, incendiavam as oficinas. A máquina: eis a origem da miséria! A oficina:
eis o lugar da opressão! Quebremo-las, pois, incendiemo-las! – diziam então os
operários. Era a época dos conflitos espontâneos, anárquicos, da revolta cega.
Conhecemos, também, outros casos em que os operários, perdida a confiança
na eficácia dos incêndios e das destruições, passaram a “forma de luta mais vi-
olentas”, ao assassinato dos diretores, administradores, dirigentes, etc. Não se
podem destruir todas as máquinas e oficinas, diziam então os operários, e além
do mais isso não é vantajoso para nós, mas se pode sempre cortar os dedos dos
administradores, incutindo-lhes terror: batamo-los, pois, assustemo-los!
Era a época dos conflitos terroristas individuais, nascidos da luta econômica.
O movimento operário condenou francamente ambas as formas de luta, re-
legando-as ao passado.
E é compreensível. Não há dúvida de que, na realidade, a oficina é o lugar se
exploram os operários, e a máquina dá mão forte à burguesia para ampliar essa
exploração, mas isso ainda não significa que a máquina e a oficina sejam a origem
da miséria. Pelo contrário, justamente a oficina e a máquina dão ao proletariado
a possibilidade de romper as cadeias da escravidão, de destruir a miséria, de
dar cabo de qualquer opressão; é necessário somente que se transformem, de
propriedade privada de capitalistas isolados, em propriedade social do povo.
Por outro lado, que seria da vida, se nos metêssemos realmente a destruir e
incendiar as máquinas, as oficinas, as ferrovias? A vida se tornaria um deserto
pavoroso, e os operários seriam os primeiros a privarem-se de um pedaço de
pão! É claro que não devemos destruir as máquinas e as oficinas, mas apoderar-
nos delas, quando for possível, se verdadeiramente aspirarmos à supressão da
miséria.
Eis por que o movimento operário não aprova os conflitos anárquicos, a re-
volta cega.
Não há dúvida de que também o terrorismo econômico tem uma certa “justi-
ficação” evidente, desde que seja aplicado para incutir medo na burguesia. Mas
de que vale esse medo, se é passageiro, fugaz? E que só possa ser passageiro
torna-se claro também pelo único fato de que é impossível praticar o terrorismo
econômico sempre e onde quer que seja. Isso em primeiro lugar. Em segundo
lugar, que nos pode proporcionar o medo passageiro da burguesia e a concessão
que dele deriva, se não tivermos às nossas costas uma forte organização de massa
dos operários, sempre pronta a lutar pelas reivindicações operárias e em condi-
ções de não permitir que lhe tirem a concessão conquistada? De resto, os fatos
mostram com evidência que o terrorismo econômico torna inútil tal organização,
J. V. Stalin 113
tira aos operários a vontade de unir-se, de agir de maneira autônoma, desde que
dispõem de heróis terroristas, os quais podem agir por eles. Não devemos nós de-
senvolver nos operários o espírito de iniciativa? Não devemos desenvolver neles
o desejo de ser unidos? Naturalmente que sim! Mas poderemos talvez praticar o
terrorismo econômico, se este inculca nos operários outra coisa?
Não, companheiros! Não compete a nós meter medo na burguesia atacando
os indivíduos imprevistamente: deixemos que certos bandidos se ocupem des-
ses “assuntos”. Devemos agir abertamente contra a burguesia, devemos mantê-la
sempre, até a vitória definitiva, sob o pesadelo do medo! E para fazê-lo, não
é necessário o terrorismo econômico, mas uma forte organização de massa, ca-
paz de guiar os operários na luta. Eis por que o movimento operário repele o
terrorismo econômico. Depois de tudo quanto se disse, a última resolução dos
grevistas da Mirzoiev, dirigida contra os incêndios e os assassinatos “econômi-
cos”, adquire um interesse especial. Nessa resolução, a comissão unificada dos
1.500 operários da Mirzoiev, pondo em relevo certos fatos, como o incêndio da
seção de caldeiras (em Balakhani) e o assassinato do diretor, devidos a razões
econômicas (Surakhani), declara que “protesta contra métodos de luta tais como
o assassinato e o incêndio” (Gudok, nº 24).
Os operários da Mirzoiev rompem, assim, definitivamente com as antigas ten-
dências terroristas, com a revolta cega.
Põem-se eles, assim, decididamente no caminho de um verdadeiro movimento
operário.
Aplaudimos os companheiros da Mirzoiev e convidamos todos os operários a
adentrarem, de maneira igualmente decidida, no caminho do movimento prole-
tário.
Gudok (A Sirena), nº 25.
30 de março de 1908
114 Obras Escolhidas
A imprensa
20 de julho de 1908
Os ''socialistas'' servis
Ao lado dos outros jornais publicados em Tiflis, existe também um jornal ge-
orgiano chamado Napertskali140 . É um jornal novo, mas ao mesmo tempo dema-
siado velho, porque é a continuação de todos os jornais mencheviques que houve
até agora em Tiflis, a começar pelo Skhivi de 1905. O Napertskali é redigido por
um velho grupo de oportunistas mencheviques. Mas não se trata naturalmente
só disso. Trata-se sobretudo do fato de que o oportunismo desse grupo tem qual-
quer coisa de particular, de fabuloso. Oportunismo é falta de princípios, falta de
caráter político; e nós afirmamos que em nenhum dos grupos mencheviques se
pôde observar uma tão descarada falta de caráter como no de Tiflis. Em 1905,
este grupo reconhecia a função do proletariado como cabeça da revolução (vide
Skhivi). Em 1906, trocou de “posição”, declarando que “não se pode esperar
coisa nenhuma dos operários... a iniciativa pode partir somente dos campone-
ses” (vide Skhivi). Em 1907, modificou mais uma vez a sua “posição”, dizendo
que “na revolução a hegemonia cabe à burguesia liberal” (vide Azri141 ), etc.
Mas jamais a falta de caráter do grupo supradito havia atingido a desfaçatez a
que chegou hoje, no verão de 1908. Pretendemos falar sobre o juízo expresso nas
colunas do Napertskali acerca do assassinato do opressor espiritual dos deserda-
dos, o chamado exarca. A história desse homicídio é conhecida de todos. Alguns
indivíduos, após haverem matado o exarca, mataram também o brigadeiro dos
gendarmes que voltava com a ata do “local do crime” e atacaram depois a pro-
cissão de malandros que acompanhava o cadáver do exarca. Aqueles indivíduos
não constituíam evidentemente um grupo de malandros, mas nem tampouco um
grupo revolucionário, porque nenhum grupo revolucionário teria decidido, num
momento como este, enquanto se reúnem as forças revolucionárias, a cometer
semelhante ato, arriscando-se a fazer malograr o trabalho da união do proleta-
riado. A posição da social-democracia nos choques desses grupos é conhecida
de todos: ela explica as condições que dão origem a esses grupos e os combatem
e, ao mesmo tempo, luta ideologicamente e de maneira organizada contra esses
grupos, desacreditando-os aos olhos do proletariado, do qual os distingue niti-
damente. Mas o Napertskali não procede assim. Sem nenhuma explicação, sem
nenhuma argumentação, vomita algumas banais frases liberais contra o terro-
rismo em geral e dá então conselhos aos leitores sobre o modo de denunciar tais
grupos à polícia, de entregá-los à polícia (e não dá só conselhos, mas exige nem
mais nem menos que uma obrigação)! É uma vergonha, mas desgraçadamente
é um fato. Ouçam o Napertskali: “arrastar à barra do tribunal os assassinos do
140 Diário georgiano menchevique que se publicou em Tiflis de 29 de janeiro a 2 de março de 1908.
141 Azri (O Pensamento), jornal georgiano menchevique que se publicou em Tiflis de 29 de janeiro
a 2 de março de 1908.
J. V. Stalin 115
exarca: este é o único meio de nos lavarmos para sempre dessa mancha... Tal é
o dever dos elementos avançados” (vide Napertskali, nº 5).
Os social-democratas no papel de delatores voluntários: eis a que nos reduzi-
ram os oportunistas mencheviques de Tiflis!
A falta de caráter político dos oportunistas não cai do céu. Deriva da irrefreá-
vel aspiração de adaptar-se às preferências da burguesia, ao gosto dos “senhores”,
de arrancar-lhes um elogio. Essa é a base psicológica da tática oportunista da
adaptação. E eis que, para fazerem-se belos perante os “senhores”, agradá-los e
evitarem ao menos sua cólera provocada pela morte do exarca, os nossos opor-
tunistas mencheviques entregam-se a mesuras servis diante deles, assumindo o
papel de investigadores da polícia! A tática da adaptação atingiu os limites ex-
tremos!
Os zubatovistas fariseus
Baku forma, ao lado das outras, cidades do Cáucaso que fornecem variantes
originais do oportunismo. Também em Baku existe um grupo mais à direita –
e por isso com uma falta de princípios ainda mais destacada – que o grupo de
Tiflis. Não aludimos ao Promislovi Viestnik que está flertando com o burguês Se-
vodnia: sobre isso se escreveu bastante em nossa imprensa. Pretendemos falar do
grupo Chendrikov do Pravoie Dielo142 , progenitor dos mencheviques de Baku. É
verdade que esse grupo há muito tempo não reside mais em Baku: perseguido
pelos operários dessa cidade e pelas suas organizações, foi forçado a transferir-se
para Petersburgo. Mas continua a enviar seus escritos a Baku, escreve unicamente
sobre os assuntos de Baku, busca apoio justamente em Baku, tenta “conquistar”
o proletariado de Baku. Não seria, pois, supérfluo falar dele. Então, temos di-
ante de nós o Pravoie Dielo, nº 2-3. Folheamo-lo, e diante de nós revela-se um
velho quadro: a velha e inseparável companhia dos Chendrikov. Eis Ilia Chen-
drikov, mestre na arte das intrigas de corredor, conhecido pelos seus “apertos de
mão” ao senhor D. Junkovski. E eis Gleb Chendrikov, ex-social-revolucionário,
ex-menchevique, ex-zubatovista e agora aposentado. E eis a famosa tagarela, a
“imaculada” Claudia Chendrikova, senhora amável sob todos os pontos de vista.
E não faltam nem sequer os vários “sequazes”, como os Grochev e os Kalinin,
que durante algum tempo desempenharam um papel no movimento e que hoje
ficaram para trás com relação à vida e vivem unicamente de recordações. Até a
sombra do falecido Liova ergue-se à nossa frente... em uma palavra, o quadro
142 Os Irmãos Chendrikov (Leon, Elias, Gleb) criaram em 1904, em Baku, uma organização zuba-
tovista chamada “Organização dos operários de Balakhani e de “Bibi-Eibat” (mais tarde rebatizada
de “União dos Operários de Baku”). Os Chendrikov e seus agentes moviam uma campanha na base
de calúnias contra os bolcheviques. Com sua agitação em prol da criação de “Juntas de conciliação”,
de cooperativas artesãs, etc. e suas palavras de ordem econômicas estritamente corporativas, visa-
vam desorganizar as greves e a sabotar a preparação da insurreição armada. Embora fosse notório
que os Chendríkov recebiam subvenções dos industriais do petróleo e das autoridades tsaristas, os
mencheviques reconheceram oficialmente a organização deles com uma organização do POSDR. Os
bolcheviques de Baku os desmascararam e os liquidaram, demonstrando que eram agentes da Okh-
ranka. A revista Pravoie Dielo (A Justa Causa) era publicada em Petersburgo pelos Chendrikov. O
nº 1 saiu em novembro de 1905 o nº 2-3 em maio de 1908. Grochev e Kalínin, mencionados mais
adiante, eram dois mencheviques apoiadores dos Chendrikov.
116 Obras Escolhidas
está completo!
Mas, quem tem necessidade disso, por que se impõem aos operários as som-
bras de um passado obscuro? São talvez os operários convidados a pôr fogo nos
poços de petróleo? Ou a insultar o Partido e a arrastá-lo na lama? Para compare-
cer à conferência sem os operários e depois fazer os próprios negócios imundos
com o senhor Junkovski?
Não! Os Chendrikov querem “salvar” os operários de Baku! Eles “veem” que
depois de 1905, isto é, depois que os operários expulsaram os Chendrikov, os
“operários encontraram-se à beira do abismo” (vide Pravoie Dielo); e eis que os
Chendrikov escreveram o Pravoie Dielo para “salvar” os operários, para fazê-los
sair do “beco sem saída”. E para fazer isso, propõem voltar ao passado, renun-
ciar às conquistas dos últimos três anos, virar as costas ao Gudok e ao Promis-
lovi Viestnik, desinteressar-se dos sindicatos existentes, mandar ao diabo a social-
democracia e, após ter expulsado das comissões operárias todos aqueles que não
seguem os Chendrikov, reunir-se e torno da junta de conciliação. Não é preciso
mais greves, não é preciso nem sequer as organizações ilegais: aos operários é ne-
cessária uma só coisa, a junta de conciliação onde os Chendrikov e os Gukassov
“resolverão os problemas” com a permissão do senhor Junkovski...
Assim, eles querem fazer sair do “beco sem saída” o movimento operário de
Baku. Exatamente como o camaleão do Nieftianoie Dielo, o senhor K-za (vide
Nieftianoie Dielo, nº 11). Mas não é talvez dessa maneira que Zubatov em Mos-
cou, Gaspon em Petersburgo, Chiaievitch em Odessa “salvaram” os operários? E
não resultou talvez que esses senhores estavam todos entre os mais encarniçados
inimigos dos operários?
Quem desejam então enganar à luz do dia esses “salvadores” fariseus? Não,
senhores Chendrikov, se bem que afirmei, juntamente com K-za, que o proleta-
riado de Baku ainda “não está maduro”, que ele deve ainda “passar no exame
(perante quem?) para o certificado de maturidade” (vide Pravoie Dielo), não con-
seguira, todavia, enganá-lo!
O proletariado de Baku é bastante consciente para arrancar-lhes a máscara
e colocar no devido lugar! Quem somos, de onde vem? Vocês não são social-
democratas, porque crescentes na luta contra a social-democracia e viveis dessa
luta, da luta contra o espírito do partido! E não sois sindicalistas, porque arrastais
na lama os sindicatos, por sua natureza compenetrados do espírito da social-
democracia!
São justamente os sequazes de Gapon e de Zubatov ocultos sob a máscara de
“amigos do povo”! Inimigos no seio do proletariado e, portanto, os mais peri-
gosos! Abaixo os sequazes dos Chendrikov! Voltemos as costas aos Chendrikov!
Eis como respondemos ao seu Pravoie Dielo, senhores Chendrikov! Eis como res-
ponde o proletariado de Baku aos seus namoros farisaicos!
Ko...
Bakinski Proletari (O proletário de Baku), nº 5. 20 de julho de 1908
J. V. Stalin 117
Não é segredo para ninguém que o nosso Partido atravessa uma grave crise. A
saída de membros do Partido, o menor número e a debilidade das organizações,
o fato de que estas estão separadas umas das outras, a ausência de um trabalho
partidário unificado: tudo isso demonstra que o Partido está doente, que está
atravessando uma séria crise.
Em primeiro lugar, o que pesa particularmente sobre o Partido é a separação
entre as suas organizações e as amplas massas. Houve tempo em que nossos ór-
gãos tinham em suas fileiras milhares de homens, e arrastavam sob a sua direção
a dezenas de milhares. O Partido possuía, então, raízes sólidas nas massas. Hoje
não é a mesma coisa. Em vez dos milhares de homens, não vale a pena sequer
falar a respeito. É verdade que nosso Partido exerce uma grande influência ide-
ológica sobre as massas, que as massas o conhecem e o respeitam. Justamente e
sobretudo por isso, o Partido de “depois da revolução” distingue-se do Partido
de “antes da revolução”. Mas a influência do Partido está toda aí. E, entretanto,
a influência ideológica do Partido só por si ainda está longe de ser suficiente.
O fato é que a amplitude da influência ideológica se choca contra a limitação
da consolidação orgânica: aí está a origem da separação entre nossos órgãos e as
amplas massas. É suficiente o exemplo de Petersburgo – onde em 1907 existiam
8 mil membros e hoje apenas se podem juntar uns 300 a 400 – para se compre-
ender toda a gravidade da crise. Nem falemos sequer de Moscou, dos Urais, da
Polônia, da bacia do Don, etc.; que estão na mesma situação.
Mas ainda não é tudo. O Partido sofre não só por sua separação das massas,
mas também pelo fato de que seus órgãos não estão de maneira alguma ligados
uns aos outros, não vivem uma vida partidária única, estão separados uns dos
outros. Petersburgo não sabe o que se faz no Cáucaso, o Cáucaso não sabe o
que se faz nos Urais, etc. Cada setor vive uma vida à parte. Rigorosamente fa-
lando, não existe mais de fato aquele Partido único que vivia uma vida comum,
o Partido do qual falávamos com altivez nos anos de 1905, 1906 e 1907. Estamos
num período de trabalho artesão dos mais vergonhosos. Os jornais existentes
no exterior, o Proletari, o Golos,143 por um lado, e o Sotzial-Demokrat 144 por outro,
143 Proletari, jornal ilegal fundado pelos bolcheviques após o IV Congresso do POSDR; publicou-
se de 21 de agosto (3 de setembro) de 1906 a 28 de novembro (11 de dezembro) de 1909. Saíram
50 números. Os primeiros 20 foram impressos na Finlândia, outros em Genebra e em Paris. O
Proletari era de fato o órgão central dos bolcheviques e era dirigido por Lenin. Nos anos da reação de
Stolypin teve função importante para a manutenção e consolidação da organização bolchevique. Golos
Sotzial-Demokrata (A Voz do Social-Democrata), órgão dos mencheviques liquidacionistas, publicado
no estrangeiro de fevereiro de 1908 a dezembro de 1911. Em dezembro de 1908, dada a orientação
nitidamente liquidacionista do jornal, Plekhanov, que era um dos redatores, cessou sua colaboração
em seguida saiu oficialmente da redação. Não obstante a reunião plenária do CC do POSDR haver
decidido que o Golos Sotzial-Demokrata devia cessar a sua publicação, os mencheviques continuaram o
jornal e a pregar abertamente em suas colunas as ideias do liquidacionismo.
118 Obras Escolhidas
não ligam e não podem ligar intimamente entre si as organizações esparsas pela
Rússia, não podem dar-lhes uma vida partidária única. E seria também estra-
nho pensar-se que os órgãos publicados no exterior, longe da realidade russa,
possam unir, num todo único, o trabalho de um Partido que há muito tempo
superou o estágio do trabalho nos círculos. É verdade que entre as organizações
separadas umas das outras há muito de comum, que se liga ideologicamente; que
elas têm um programa comum, o qual resistiu à crítica da revolução, princípios
práticos confirmados pela revolução, gloriosas tradições revolucionárias. Exata-
mente nisso está a segunda diferença importante entre o Partido de “depois da
revolução” e o Partido de “antes da revolução”. Mas isso ainda não basta. O fato
é que a unidade ideológica de suas organizações ainda está bem longe de sal-
var o Partido do fracionamento orgânico, da separação criada entre seus órgãos.
Basta indicar o fato de que até mesmo a simples formação escrita não é levada
na devida consideração dentro do Partido. Nem falemos sequer na união efetiva
do Partido num único organismo.
Portanto: 1º) separação entre o Partido e as amplas massas e 2º) separação
entre os seus órgãos: essa é a essência da crise que o Partido atravessa. Não é di-
fícil de se compreender que a causa de tudo isso é a crise da própria revolução, o
triunfo temporário da contrarrevolução, a calma após a ação, a perda, enfim, de
todas aquelas semiliberdades de que o Partido gozava durante os anos de 1905 e
1906. O Partido desenvolveu-se, ampliou-se e reforçou-se até e enquanto a revo-
lução marchou para a frente, até e enquanto existiram liberdades. A revolução
retrocedeu, as liberdades cessaram de existir, e o Partido começou a perder as
forças, começou a fuga, do Partido, dos intelectuais e depois dos operários mais
vacilantes. A fuga dos intelectuais foi em parte apressada pelo desenvolvimento
do Partido, e mais precisamente pela ação dos operários avançados, que com as
suas complexas exigências haviam superado a limitada bagagem intelectual dos
“intelectuais de 1905”.
Disso ainda não se infere absolutamente que o Partido, até o advento das
futuras liberdades, deva vegetar na crise, como sem razão pensam alguns. Em
primeiro lugar, o advento das próprias liberdades depende em grande parte da
capacidade do Partido de sair são e renovado da crise: as liberdades não caem do
céu; conquistam-se, entre outras coisas, por meio de um partido operário bem
organizado. Em segundo lugar, as leis da luta de classes conhecidas de todos
dizem-nos que a organização da burguesia, que vai se reforçando cada vez mais,
deve infalivelmente levar consigo uma correspondente organização do proletari-
ado. E é conhecido de todos que o desenvolvimento orgânico do nosso proletari-
ado na sua qualidade de classe pressupõe, como condição necessária, a renovação
de nosso Partido, como único partido operário.
avançados que fazem parte desses comitês: eis os homens vivos que poderiam
agrupar em torno do Partido as massas que os circundam. É preciso somente
que os comitês de fábrica e de oficina intervenham incansavelmente em tudo
quanto se refere à luta dos operários, defendam seus interesses cotidianos e li-
guem esses interesses aos interesses fundamentais da classe operária. Fazer dos
comitês de fábrica e de oficina os bastiões fundamentais do Partido: essa é a
tarefa.
Há mais. No interesse da própria aproximação das massas, é necessário que
também os outros órgãos do Partido, os órgãos superiores, sejam construídos de
modo a servir à defesa dos interesses não só políticos, mas também econômicos
das massas. É necessário que nem sequer um dos ramos mais ou menos impor-
tantes da produção escape à atenção dos órgãos. E para isso é preciso que ao
serem construídos os órgãos o princípio territorial seja integrado pelo princípio
da produção, isto é, que, por exemplo, os comitês de fábricas e de oficina dos
diferentes ramos da produção se agrupem em diversos subdistritos, segundo o
ramo de produção, para fazerem com que esses subdistritos se unam territori-
almente em distritos, etc. Pouco importa que o número dos subdistritos cresça
demais, em compensação o organismo ganhará com isso em solidez e estabilidade
dos seus alicerces, se conectará mais estreitamente às massas. Uma importância
ainda maior para a solução da crise tem a composição dos órgãos do Partido.
É necessário que em todos os órgãos locais haja operários avançados mais ex-
perimentados e mais influentes, que o organismo se centralize em suas mãos
fortes, que estes operários, e justamente estes, ocupem os postos mais importan-
tes, desde os relativos à atividade prática e de organização até aos referentes à
atividade publicitária. Pouco importa que os operários que tiverem ocupado os
postos mais importantes não se revelem suficientemente experimentados e pre-
parados; e mesmo que claudiquem nos primeiros tempos: a prática e os conselhos
dos camaradas mais experientes ampliarão seus horizontes e, por fim, farão deles
verdadeiros escritores e chefes do movimento. Não se deve esquecer de que os
Bebel não caem do céu, mas se formam somente no curso do trabalho, na prá-
tica; e nosso movimento necessita, hoje como jamais, de Bebel russos, de chefes
experientes e firmes, egressos do ambiente operário.
Eis por que nossa palavra de ordem orgânica deve ser “mãos livres aos ope-
rários esclarecidos em todas as esferas do trabalho do Partido”, “dai-lhes mais
espaço”!
É óbvio que, além do desejo de “dirigir” e do espírito de iniciativa, aos operá-
rios avançados são também necessários sólidos conhecimentos. Mas é justamente
aqui que pesa a ajuda dos intelectuais experientes e ativos. É necessário criar cír-
culos de estudo superiores, “seminários” de operários esclarecidos, pelo menos
um por distrito, e “estudar” a teoria e a prática do marxismo: tudo isso preenche-
ria notavelmente as lacunas dos operários esclarecidos, fazendo-os tornarem-se
futuros educadores e dirigentes ideológicos. Concomitantemente, os operários
esclarecidos devem fazer relações mais frequentes em suas oficinas e fábricas, “fa-
zer plenamente o seu tirocínio”, sem estacar diante do perigo de “fazer fiasco”
diante dos ouvintes. É preciso libertar-se de uma vez por todas da modéstia inútil
e do medo dos ouvintes, armar-se de audácia e de confiança nas próprias forças:
pouco importa se nos primeiros tempos se fizer má figura; tropeçará uma vez ou
J. V. Stalin 121
dias, mas com isso nos habituaremos a caminhar sozinhos, como “Cristo sobre as
águas”.
Em resumo: 1º) intensificar a agitação alicerçando-a sobre as necessidades
cotidianas, colocadas em relação com as necessidades gerais de classe do pro-
letariado; 2º) organizar e reforçar os comitês de fábrica e de oficina de modo
a torná-los os centros distritais mais importantes do Partido; 3º) “transferir” as
funções principais do Partido aos operários esclarecidos; 4º) organizar “seminá-
rios” de operários esclarecidos: por esses meios nossos órgãos poderão agrupar
em torno de si amplas massas.
Não se pode deixar de destacar que a própria vida indica os meios mencio-
nados acima para resolver a crise do Partido. A zona central e os Urais há muito
tempo abstêm-se dos intelectuais; aí os próprios operários dirigem as atividades
de organização. Em Sormov, em Lugasnk (bacia do Don), em Nikolaiev, os ope-
rários imprimiam em 1908 boletins, e em Nikolaiev, além dos boletins, um jornal
ilegal. E em Baku, o organismo interveio e intervém sistematicamente em tudo
quanto se refere à luta dos operários, não deixou e não deixa passar sem a sua in-
tervenção quase nenhum conflito dos operários com os industriais do petróleo,
dirigindo, compreende-se, ao mesmo tempo, uma agitação política geral. Isso
explica, entre outras coisas, por que a organização de Baku manteve até agora as
ligações com as massas.
Assim estão as coisas no que se refere aos métodos para ligar o Partido às
amplas massas operárias. Mas o Partido não sofre somente por estar desligado
das massas. Sofre também pelo desligamento existente entre os seus órgãos.
Passemos a este último problema.
∗ ∗ ∗
Como, então, ligar intimamente entre si os órgãos locais que estão desligados
uns dos outros, como reuni-los em um Partido coeso, que viva uma única vida?
Poderia se pensar que as conferências gerais do Partido, que são realizadas
de tempos a tempos, possam resolver o problema da união dos órgãos. Ou que o
Proletari, o Golos e o Sotzial-Demokrat, que se publicam no estrangeiro, consigam
afinal de contas reunir, tornar coeso o Partido. Não há dúvida de que ambas
essas formas têm não pouca importância para ligar os órgãos entre si. Até hoje,
pelo menos, as conferências e jornais editados no estrangeiro eram os únicos
meios para unir os órgãos separados. Mas, em primeiro lugar, as conferências,
que se realizam de resto muito raramente, podem reunir só temporariamente os
órgãos, e, portanto, de modo não tão sólido como seria necessário em geral: no
intervalo entre as conferências os laços se despedaçam, e, de fato, o método de
trabalho artesanal permanece como antes. Em segundo lugar, os jornais edita-
dos no estrangeiro, sem contar que chegam à Rússia em número muito limitado,
são naturalmente atrasados com relação ao curso da vida do Partido na Rússia,
não estão em condições de levantar-se e tocar oportunamente nos problemas que
agitam os operários e não podem, pois, reunir, com laços sólidos num todo único,
os nossos órgãos locais. Os fatos mostram que, desde a época do Congresso de
Londres, o Partido pôde realizar duas conferências145 e publicar no exterior de-
145 A terceira Conferência do POSDR (“segunda de toda Rússia”) de 5 a 12 de novembro de 1907.
122 Obras Escolhidas
∗ ∗ ∗
J. V. Stalin 123
Pelo Partido!
março de 1912
Desperta novamente no país o interesse pela vida política e, com este des-
pertar, a crise do nosso Partido chega ao fim. O Partido está por superar o
ponto morto, para sair do torpor. A recente Conferência Geral147 foi um indício
manifesto do renascimento do Partido. O Partido, reforçado com o desenvolvi-
mento da revolução russa e esmagado com a sua queda, devia inevitavelmente
recuperar-se com o despertar político do país. A ascensão nos ramos principais
da indústria e o aumento dos lucros dos capitalistas, paralelamente à queda do
salário real dos operários; o livre desenvolvimento das organizações econômicas
e políticas da burguesia, paralelamente à supressão violenta dos órgãos legais e
ilegais do proletariado; a alta dos preços dos gêneros de primeira necessidade e
o aumento dos lucros dos grande latifundiários, paralelamente à ruína da eco-
nomia camponesa; a penúria que se estendeu a uma nova população de mais
de 25 milhões de pessoas, demonstrando a importância do “renovado” regime
contrarrevolucionário: tudo isto não podia deixar de repercutir nas camadas tra-
balhadoras, principalmente, na proletária, despertando nestas o interesse pela
vida política. A conferência do Partido Operário Social-Democrata da Rússia,
realizada em janeiro deste ano, é uma das provas evidentes desse despertar.
Mas o despertar dos intelectuais e dos corações não pode esgotar-se em si
mesmo, nas atuais condições, deve levar infalivelmente a uma ação aberta de
massas. É necessário melhorar o nível de vida dos operários, é preciso elevar
seus salários, diminuir a jornada de trabalho, é preciso mudar radicalmente a
situação dos operários nas oficinas, nas fábricas, nas minas. Porém, como fazer
tudo isso, senão mediante ações econômicas parciais e gerais, ainda proibidas?
É preciso conquistar o direito de lutar livremente contra os patrões, o direito
de greve, de associação, de reunião, de palavra, de imprensa, etc. Sem isto, a luta
dos operários para melhorar seu padrão de vida será dificultada extremamente.
Contudo, como fazer tudo isso, senão mediante ações econômicas parciais e ge-
rais, ainda proibidas?
É preciso curar o país, doente de fome crônica, é preciso por fim ao atual
estado de coisas, no qual dezenas de milhões de trabalhadores da terra são obri-
gados a ver-se periodicamente golpeados pela penúria, com todos seus horrores;
é insensato ficar olhando sem fazer nada os pais e as mães famintos que, com
lágrimas nos olhos, “vendem por preço irrisório” seus filhos e suas filhas! É
preciso destruir pela raiz a rapace política financeira atual, que arruína a pobre
economia camponesa e, em cada ano mau, joga inevitavelmente milhões de cam-
poneses nos braços da penúria devastadora! É preciso salvar o país da miséria
e da desmoralização! Mas pode-se, talvez, fazê-lo sem derrubar de alto a baixo
todo o edifício do tsarismo? E como derrubar o governo tsarista, com todas suas
sobrevivências feudais, senão por meio de um amplo movimento revolucionário
147 Trata-se da Conferência de Praga (vide História do PCUS (B) da URSS).
J. V. Stalin 127
Os extravagantes apartidários
15 de abril de 1912
anos 1909-1912.
150 Membros de um partido de grande burguesia industrial e comercial e dos latifundiários, fundado
não é verdade? E este periódico de homens sem princípios prepara-se para dar
lições aos social-democratas sobre tática a seguir nas eleições para a IV Duma?
Extravagantes!
K. St.
Zviezda (A Estrela), jornal de Petersburgo, nº 30.
15 de abril de 1912
J. V. Stalin 131
Os hipócritas liberais
15 de abril de 1912
O Rech “enganou-se” mais uma vez! Ao que parece, “não esperava” do “go-
verno” explicações “destituídas de tato” sobre o massacre do Lena. “Esperava”
ele, vejam só, que o ministro Makarov tivesse chamado “para responder em tri-
bunal” o senhor Trechtchenko. E de repente, eis a declaração de Makarov, a qual
afirma que Trechtchenko tem razão, e que continuará a atirar sobre os operários!
“Enganamo-nos”, observa com fingido pesar o liberal Rech a esse respeito
(vide Rech, 12 de abril). Pobres cadetes, quantas vezes “se enganam” em seus
cálculos sobre o governo! Ainda há pouco tempo, eles “pensavam” que na Rús-
sia existisse uma Constituição e juravam em todas as línguas, perante a Europa,
que nosso “governo unificado” é “plenamente constitucional”. Isto acontecia
em Londres, longe da Rússia. Mas, bastou voltarem à pátria, ao país dos “ar-
bítrios” e das “repressões”, para reconhecerem seu “erro” e “permanecem ilu-
didos”. Ainda há pouco tempo, “acreditavam” que Stolypin conseguiria levar o
país pelo caminho da “renovação” parlamentar. Mas bastou que Stolypin surgisse
com o seu famoso artigo 87151 , para que os cadetes dessem mais uma vez o sinal
de partida para o refrão dos “erros” e dos “mal-entendidos”.
Será que já se passou muito tempo desde quando os cadetes estabeleciam um
paralelo entre o governo russo (lembrem-se da greve dos portuários) e o inglês,
acerca de sua atitude com relação as greves? Mas bastou o drama do Lena para
que os cadetes repetissem mais uma vez o seu farisaico refrão: “enganamo-nos”.
E é significativo: aumentam os “erros” as “ilusões”, mas a tática cadete de namo-
rar com o governo não muda!
Pobres cadetes! É evidente que “contam” com leitores ingênuos que acredi-
tam na sua sinceridade. Eles “pensam” que a população não nota as suas mesuras
servis diante dos inimigos da libertação da Rússia. Eles não sabem, ainda, que,
se até agora frequentes vezes “enganaram-se” em suas opiniões sobre o governo,
agora estarão “iludidos” com as massas da população, que por fim compreende-
rão o seu caráter contrarrevolucionário e virar-lhes as costas. Quem enganará
então os senhores cadetes? Servilismo diante do governo, farisaísmo diante do
país: por que então são chamados “partido da liberdade do povo”?
S.
Zviezda (A Estrela), jornal de Petersburgo, nº 30.
15 de abril de 1912
151 O Art. 87 da Lei fundamental do Estado atribuía ao governo a faculdade de apresentar, durante
as férias da Duma, projetos de lei diretamente ao Tsar a fim de que os sancionasse. Valendo-se dessa
faculdade, o ministro Stolipin promulgou, sem apresentá-las à Duma, várias leis, particularmente em
matéria agrária.
132 Obras Escolhidas
Os resultados das eleições para a cúria operária já são claros152 . Dos seis
eleitores diretos, três são liquidacionistas e três apoiam o Pravda. Qual deles de-
signar como deputado? Quem, precisamente, seria necessário designar? Deu
alguma indicação a esse respeito a assembleia dos delegados? Os liquidacionis-
tas conseguiram eleger seus partidários ocultando dos delegados suas opiniões,
velaram as divergências jogando na “unidade”. Os delegados sem partido que
acreditaram neles sem outro argumento e que não gostam das divergências, os
apoiaram. Mas, embora os liquidacionistas tenham se esforçado para virar as
águas, sobre uma coisa a vontade dos delegados exprimiu-se igualmente: a ques-
tão do mandato. A assembleia dos delegados aprovou por maioria um mandato
circunstanciado ao deputado, o mandato dos que apoiam o Pravda.
No seu relatório sobre as eleições, o Lutch153 não fala nisso, porém não con-
segue ocultar a verdade, conhecida de todos os delegados.
O mandato é a diretiva dada ao deputado. O mandato faz o deputado. Tal
mandato, tal deputado. Que diz, portanto, o mandato apresentado pelas gran-
des oficinas de Petersburgo e aprovado na assembleia dos delegados? Fala dos
problemas de 1905, do fato de ficarem sem solução e que a situação econômica
e política do país torna inevitável sua solução. Segundo o mandato, a liberta-
ção do país pode ser obtida com a luta em duas frentes: contra as sobrevivências
burocrático-feudais e contra a burguesia liberal traidora. Ademais, somente as
massas camponesas podem ser seguras aliadas dos operários. Mas a luta pode ser
vitoriosa unicamente sob a condição de que o proletariado nela exerça a função
de hegemonia dirigente. Quanto mais os operários estiverem conscientes e orga-
nizados, melhor desempenharão as funções dirigentes. E uma vez que a tribuna
da Duma é um dos melhores meios para organizar e educar as massas, os ope-
rários mandam precisamente seu deputado à Duma para que ele e toda a fração
social-democrata na IV Duma se batam pelos objetivos fundamentais do proleta-
riado, pelas reivindicações, integrais e não truncadas, do país. Tal é o conteúdo
do mandato.
152 As eleições dos eleitores diretos pela cúria operária do governo de Petersburgo ocorreram pela
primeira vez no Congresso dos delegados realizado em 5 de outubro de 1912. Apesar dos operários
de 21 de grandes empresas ter sido privados do direito de voto, dentre os seis eleitores diretos,
eleitos pelo congresso, quatro eram bolcheviques. A pressão exercida pelas massas operárias obrigou
a ser reintegrados em seus direitos os operários das empresas “interpretadas”. Em 14 de outubro,
realizaram-se nessas empresas novas eleições e em 17 de outubro ocorreu o segundo congresso, onde
se procedeu, pela segunda vez, à eleição dos eleitores diretos. Cinco candidatos tiveram maioria
absoluta, dois bolcheviques e três mencheviques. No dia seguinte, fez-se uma eleição complementar
na qual foi eleito um bolchevique. As fases da luta eleitoral são minuciosamente descritas por Stalin
no artigo “As eleições em Petersburgo”.
153 Lutch (O Raio), diário legal dos Mencheviques liquidacionistas que se publicou em Petersburgo,
Diário legal dos mencheviques liquidacionistas que se publicou em Petersburgo de setembro de 1912
a julho de 1913. Pelas colunas do Lutch os liquidacionistas declaravam-se nitidamente contrários ao
partido ilegal. O jornal devia sua existência aos financiamentos da burguesia.
J. V. Stalin 133
Não é difícil compreender que esse mandato difere da “plataforma” dos li-
quidacionistas; que ele é antiliquidacionista. Surge uma pergunta: se os liquida-
cionistas ousarem apresentar igualmente o seu candidato, o que será do mandato
que o deputado é obrigado a cumprir, dado que, a este respeito, há uma decisão
precisa do congresso dos delegados?
Um mandato antiliquidacionista apoiado por um liquidacionista: vão se ex-
por a tal vergonha os nossos liquidacionistas? Sentem que jogando na “unidade”
lançaram-se um beco sem saída? Ou talvez tencionem transgredir o mandato,
atirá-lo a um canto? Porém, que farão da vontade dos delegados, em defesa da
qual se levantarão operários de Petersburgo? Ousarão os liquidacionistas tri-
pudiar a vontade expressa dos delegados? Falam eles ainda em vitória, mas o
mandato lhes lançou uma derrota mortal, pois só o deputado pode ser um anti-
liquidacionista.
K. St.
Pravda (A Verdade), nº 147.
19 de outubro de 1912
134 Obras Escolhidas
A todos os trabalhadores e
trabalhadoras da Rússia
Camaradas! Mais uma vez celebramos o 9 de janeiro, dia marcado com o san-
gue dos nossos irmãos operários, daqueles que, em 9 de janeiro de 1905, foram
golpeados pelas balas de Nicolau Romanov, por serem culpados de se haverem
dirigido a ele, pacíficos e inermes, para implorar por uma vida melhor. Desde
então transcorreram oito anos. Oito longos anos, durante os quais, exceto o breve
momento em que lampejou a liberdade, foi o país sempre atazanado e torturado
pelo Tsar e pela nobreza fundiária!
Sim, hoje ainda, como antes, na Rússia se atira contra os operários, por causa
de uma greve pacífica, como se fez no Lena. E hoje, como antes, reduzem-se mi-
lhões e milhões de camponeses à fome, como aconteceu em 1911. E hoje, como
antes, nas prisões tsaristas tornaram-se a escarnecem-se os melhores filhos do
povo, impelidos aos suicídios em massa, como aconteceu recentemente em Ku-
tomar, em Algatchi154 , etc. E hoje, como antes, o tribunal tsarista manda fuzilar
os camponeses e a liberdade para todo o povo, como se fez recentemente com os
dezessete marinheiros da frota do Mar Negro155 , Nicolau Romanov, autocrata de
toda a Rússia por graça da nobreza fundiária, exerce seu poder, conferido a ele
“por Deus” e abençoado pelos delinquentes de batina do sínodo e das Centenas
Negras, os Purichkevitch e os Khvostov.
Como antes, a monarquia dos Romanov, que se prepara este ano para feste-
jar o 300º aniversário do seu sanguinário domínio sobre o nosso país, sufoca a
Rússia no seu torniquete. Mas, a Rússia não é mais aquela Rússia aviltada e com-
placente que agonizou muda por longos anos sob o jugo dos Romanov. E não
o é assim, tampouco, nossa classe operária, a qual marcha à frente de todos os
combatentes pela liberdade. E nós celebramos o 9 de janeiro de 1913, não como
escravos curvados, humilhados, mas de cabeça erguida, como um exército coeso
de combatente que sentem, sabem que a Rússia popular mais uma vez desperta,
que o gelo da contrarrevolução está despedaçado, que o rio espraiado do movi-
mento popular de novo moveu-se, que “atrás de nós marcham fileiras de novos
recrutas”.
Oito anos! Quantos acontecimentos vividos em tão breve tempo! Neste pe-
ríodo vimos três Dumas de Estado. As duas primeiras, com maioria de liberais,
mas ecoando com as vozes potentes dos operários e dos camponeses, foram dissol-
marinheiros acusados de haver preparado uma insurreição na frota do Mar Negro. 17 acusados foram
condenados à morte, 106 aos trabalhos forçados e 19 foram absolvidos. Em resposta à condenação,
em Moscou, Petersburgo, Kharkov, Nikolaiev, Riga e outras cidades da Rússia efetuaram-se greves de
massas e demonstrações de protesto.
J. V. Stalin 135
vidas pelo Tsar que executava a vontade dos latifundiários das Centenas Negras.
A III Duma era também dominada pelas Centenas Negras e durante anos tra-
balhou junto com a camarilha do Tsar para subjugar e oprimir ainda mais os
camponeses, os operários, toda a Rússia popular.
Nos anos da negra contrarrevolução, a classe operária teve que beber até no
fundo o amaríssimo cálice. Desde 1907, ano em que as forças da velha ordem
conseguiram esmagar temporariamente o movimento revolucionário das mas-
sas, os operários agonizam sob um duplo jugo. O bando tsarista exerce sua
vingança sobre eles mais do que sobre os outros. Os fabricantes e os industri-
ais, aproveitando-se da reação política, tiram pouco a pouco tudo quanto estes
haviam conquistado com tanta fadiga, com tantos sacrifícios. Por meio dos loc-
kouts, protegidos pelos policiais e gendarmes, os patrões prolongam a jornada
de trabalho, reduzem os salários, põem em vigor a velha ordem nas fábricas e
nas oficinas.
Os operários calam-se, cerrando os dentes. Sobretudo nos anos de 1908 e
1909, as Centenas Negras abandonam-se à euforia do triunfo e o movimento
operário alcança o ponto mais baixo. Contudo, já no verão de 1910, recomeçam
as greves operárias, sendo que em fins de 1911 dezenas de milhares de operários
protestam ativamente porque os deputados social-democratas à II Duma, conde-
nados em consequência de uma provocação, estão ainda nos trabalhos forçados.
O movimento de massas dos operários foi concluído com a greve de 22 de no-
vembro de 1907 contra a condenação a trabalhos forçados dos deputados social-
democratas à II Duma. E o movimento de massa dos operários ressurge no final
de 1911, novamente ligado à sorte destes deputados, combatentes de vanguarda,
heróis da classe operária, cuja obra é agora continuada pelos deputados operários
à IV Duma.
A ascensão da luta política traz consigo a ascensão da luta econômica dos
operários. A greve política alimenta a greve econômica e vice-versa. Uma onda
segue a outra; o movimento operário, como torrente impetuosa, irrompe contra
cidadela do tsarismo e contra o poder absoluto do capital. Sempre novas cama-
das de operários despertam para uma nova vida. Massas cada vez mais amplas
participam da nova luta. Das greves pela fuzilaria do Lena, das do 1º de Maio, do
protesto contra a tentativa de privar os operários dos direitos eleitorais, contra
o fuzilamento dos marinheiros do mar negro, participam cerca de um milhão
de pessoas. Eram greves revolucionárias, greves que haviam escrito sobre sua
bandeira: “abaixo a monarquia dos Romanov, abaixo todo o regime dos latifun-
diários nobres, o velho putrefato regime que sufoca a Rússia”.
O movimento revolucionário dos operários se estendeu e desenvolveu. A
classe operária começa a despertar, para a nova luta, também outras camadas da
população. Tudo quanto há de honesto, tudo quanto tende com todo o ânimo
a uma vida melhor, começa a protestar contra as violências de matilha tsarista.
Até a burguesia murmura: também está descontente com o domínio absoluto e
indiviso dos Purichkevitch.
O regime de 3 de julho não pacificou nada e ninguém. Todos os anos da
contrarrevolução mostraram que não pode existir uma vida livre na Rússia en-
quanto a monarquia dos Romanov permanecer intacta, intangível o domínio dos
136 Obras Escolhidas
No caminho do nacionalismo
12 de janeiro de 1913
XIX na Turquia, entre os latifundiários, a burguesia, o clero, e difundiu-se depois pelas classes abas-
tadas dos outros povos muçulmanos. O pan-islamismo desejava reunir em um todo único os povos
muçulmanos. As classes dominantes dele se serviram para tentar reforçar suas posições e sufocar o
movimento revolucionário dos povos do Oriente (N.T.)
J. V. Stalin 139
tornou menos socialista? Mas, então é mais do que nunca descabido elevar entre
operários barreiras nacionais orgânicas e “culturais”! Talvez se tornou mais soci-
alista? Mas, neste caso como chamar aqueles – falando em termos – “socialistas”
que elevam e reforçam artificialmente barreiras perigosas e perfeitamente inú-
teis? Kutais camponesa arrastou a reboque os “outubristas social-democratas”
de Tiflis. Doravante, quem decidirá os destinos da causa dos liquidacionistas do
Cáucaso será o camponês de Kutais, atemorizado com o nacionalismo militante.
Os liquidacionistas caucasianos não puderam resistir “nas ondas” do naciona-
lismo, jogando ao Marx a última riqueza: “para que serve esse vão objeto”.
Mas quem deu o primeiro passo deve também dar segundo: todas as coisas
têm sua lógica! Atrás da autonomia cultural nacional georgiana, armênia, mu-
çulmana (e russa?) dos liquidacionistas caucasianos, alinham-se os partidos dos
liquidacionistas georgianos, armênios, muçulmanos, etc. Em lugar do organismo
único vem os órgãos isolados por nacionalidade, os “Bund”, por assim dizer, ge-
orgianos, armênios, etc.
Não buscarão talvez esse objetivo os senhores liquidacionistas caucasianos,
com sua “solução” do problema nacional? Bem, podemos lhes formular votos de
que tenham coragem. Façam o que quiserem! Em todo caso, podemos assegurar-
lhes que a outra parte das organizações caucasianas, os social-democratas dos ór-
gãos partidários georgianos, russos, armênios e muçulmanos, romperá com os
senhores nacional-liquidacionistas, com estes traidores da gloriosa bandeira do
internacionalismo no Cáucaso.
K. St.
Sotzial-Demokrat, nº 30.
25 de janeiro de 1913
140 Obras Escolhidas
As condições da vitória da
Revolução Russa
18 de março de 1917
A revolução caminha. Deflagrada em Petrogrado, estende-se pela província,
ganhando pouco a pouco toda a imensa Rússia. Não basta. A revolução passa
inevitavelmente das questões políticas às sociais, às questões que dizem respeito
à organização da vida dos operários, dos camponeses, tornando mais profunda
a crise em curso.
Tudo isso suscita alarme em determinados círculos da Rússia dos ricos. A
reação dos latifundiários e do tsarismo levanta a cabeça. A camarilha imperialista
repica os sinos. A burguesia financeira estende a mão à decrépita aristocracia
feudal para que juntas organizem a contrarrevolução. Hoje essas forças ainda
são débeis e vacilantes, mas amanhã podem reforçar-se e mobilizar-se contra a
revolução. Sem descanso, elas, de qualquer maneira, desenvolvem sua atividade
reacionária, reunindo forças em todas as camadas da população, inclusive no
exército. . .
Como esmagar a contrarrevolução no início?
Quais as condições indispensáveis para a vitória da revolução russa? Uma
das particularidades da nossa revolução está no fato de que até agora tem tido
como base Petrogrado. Os conflitos e os tiroteios, as barricadas e as vítimas, a
luta e a vitória surgiram principalmente em Petrogrado e em suas imediações
(Kronstadt, etc.). Limitou-se a província a colher frutos da vitória e a exprimir
sua confiança no governo provisório.
A dualidade do poder, a divisão do poder que de fato se operou entre o go-
verno provisório e o Soviete dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado,
e que não dá trégua aos mercenários da contrarrevolução, reflete esse fato. Eis
o quadro: o Soviete dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado, como
órgão da luta revolucionária dos operários e soldados, e o governo provisório,
como órgão da burguesia moderada, aterrorizada com os “excessos” da revolu-
ção e que encontrou um ponto de apoio na inércia da província. Aqui está o
ponto fraco da revolução, uma vez que uma situação dessas acentua a separação
entre a província e a capital, a falta de contato entre uma e outra.
Mas a revolução, à medida que se aprofunda, conquista também a província.
Organizam-se os sovietes locais de deputados operários. Os camponeses entram
para o movimento e se organizam em suas associações. O exército se democratiza
e se organizam associações locais de soldados. A inércia da província transforma-
se numa recordação do passado. Em vista disso o governo provisório sente que
o terreno lhe foge sob os pés. Ao mesmo tempo, diante da nova situação, já não
basta mais o Soviete dos Deputados Operários de Petrogrado.
Torna-se necessário um órgão para todo o país que dirija a luta revolucio-
nária de todos os democratas da Rússia, que tenha autoridade suficiente para
fundir num todo único as forças democráticas da capital e da província e para
J. V. Stalin 143
Uma das chagas que cobriram de vergonha a velha Rússia foi a da opressão
nacional.
As perseguições religiosas e nacionais, a russificação forçada dos “estrangei-
ros”, os vexames impostos às instituições culturais e nacionais, a privação dos
direitos eleitorais e da liberdade de locomoção de um lugar para outro, o inci-
tamento ao ódio recíproco entre as nacionalidades, os pogroms e os massacres:
essa é a opressão nacional de triste memória.
Que fazer para liquidar a opressão nacional? a base social da opressão naci-
onal, a força que a alimenta, é a decrépita aristocracia fundiária. Quanto mais
próxima está essa aristocracia do poder, quanto mais solidamente o tem em suas
mãos, mais forte é a opressão nacional, mais monstruosas são as suas formas.
Quando na velha Rússia a velha aristocracia fundiária feudal estava no poder, a
opressão nacional enfurecia-se com todo o seu vigor acabando muitas vezes nos
pogroms (pogroms contra judeus) e nos massacres (massacres dos tártaros e dos
armênios).
Na Inglaterra, onde a aristocracia fundiária (latifundiários) divide o poder com
a burguesia, onde já há muito tempo não existe o domínio absoluto da aristocra-
cia, a opressão nacional é menos pesada, menos desumana, se, naturalmente,
não se levar em conta que durante a guerra, quando o poder passou às mãos dos
latifundiários, a opressão nacional se acentuou consideravelmente (perseguições
aos irlandeses e hindus).
Por outro lado, na Suíça e na América do Norte, onde não existe e jamais
existiu uma aristocracia fundiária e o poder está por completo nas mãos da bur-
guesia, as nacionalidades se desenvolvem mais ou menos livremente, e, em geral,
quase não há opressão nacional.
Tudo isso se explica principalmente devido ao fato de que a aristocracia fun-
diária é (e não pode deixar de ser assim!), por sua própria posição, o adversário
mais resoluto e inconciliável de qualquer espécie de liberdade, inclusive a liber-
dade nacional, e que a liberdade em geral, e a liberdade nacional em particular,
solapam (e não podem deixar de solapar!) os próprios fundamentos do domínio
político da aristocracia fundiária.
Varrer da cena política a aristocracia feudal, arrancar-lhe das mãos o poder,
significa exatamente liquidar a opressão nacional, criar as condições reais indis-
pensáveis para instaurar a liberdade nacional. Com sua vitória a revolução russa
já criou essas condições reais, derrubando o poder feudal e ultrarreacionário e
instaurando a liberdade.
Agora é indispensável:
1º) elaborar os direitos das nacionalidades libertas da opressão;
146 Obras Escolhidas
159Dien (O Dia), jornal financiado pelos bancos e dirigido pelos mencheviques liquidacionistas. Ini-
ciou sua publicação em Petersburgo, em 1912, e foi suprimido por atividade contrarrevolucionária a
26 de outubro de 1917.
J. V. Stalin 147
162 O Comitê Popular Revolucionário do distrito de Schlüsselburg, eleito para o Congresso dos re-
presentantes das comunas e dos burgos agrícolas, para resolver a questão agrária decidiu: 1º – mandar
lavrar pelas comunidades camponesas as terras livres pertencentes às igrejas, aos conventos, à família
do tsar e aos proprietários privados; 2º – apoderar-se, mediante compensação mínima, dos animais
de tração e instrumentos agrícolas necessários, pertencentes aos grandes proprietários, etc. De con-
formidade com essa deliberação, os comitês das comunas agrícolas tomaram sob seu controle todas as
terras dos respectivos territórios, fizeram o recenseamento de todos os animais, utensílios agrícolas,
providenciaram no sentido da proteção e preservação dos bosques, organizaram o lavramento das
terras improdutivas, etc.
J. V. Stalin 151
A questão da guerra
A questão da terra
O triunfo da contrarrevolução
julho de 1917
estiver consciente de derramar o sangue pela própria causa; não veem que na
Rússia democrática, na qual se realizam comícios e livres assembleias de solda-
dos, não se pode pensar em uma grande ofensiva se não existir essa consciência.
E o esfacelamento continua, a fome, o desemprego e a ruína geral ameaçam-
nos, enquanto se acredita em resolver a crise econômica recorrendo a medidas
policiais contra a revolução. Essa é a vontade da contrarrevolução. Cegos! Não
veem que sem tomar medidas revolucionárias contra a burguesia é impossível
salvar o país do desastre.
As perseguições aos operários, a destruição das organizações, o engodo dos
camponeses, a prisão dos soldados e dos marinheiros, as mentiras, as calúnias
contra os líderes do partido proletário, e ao lado disso a vitória dos contrarrevolu-
cionários que caluniam e tornam-se insolentes, tudo sob a bandeira da “salvação”
da revolução: eis a que ponto nos reduziram o partido social-revolucionário e o
menchevique. Ainda há no mundo indivíduos (vide Novaia Jizn) que depois de
tudo isso, nos propõem a unidade com esses “senhores” que salvam a revolução
sufocando-a!
Por quem nos tomam? Não, senhores, não temos nada em comum com os
traidores da revolução!
Os operários não se esquecerão nunca de que durante as horas graves das jor-
nadas de julho, quando a contrarrevolução desencadeada disparava contra a revo-
lução, o Partido Bolchevique foi o único que não abandonou os blocos operários.
Os operários não se esquecerão nunca de que naqueles graves instantes o partido
social-revolucionário e menchevique, partidos “no governo”, encontravam-se no
campo dos que golpeavam e desarmavam os operários, os soldados e os mari-
nheiros. Os operários recordarão tudo isso e daí tirarão as devidas conclusões.
K. St.
Rabotchi i Soldat (O Operário e o Soldado), nº 123.
Julho de 1917
J. V. Stalin 155
O novo governo
26 de julho de 1917
O vai e vem dos ministros terminou. Foi formado o novo governo. O novo
governo é constituído de cadetes, de elementos de tendências cadetes, de sociais
revolucionários e de mencheviques.
O partido dos cadetes está satisfeito. As reivindicações fundamentais dos
cadetes são acolhidas. Essas reivindicações são colocadas na base da atividade
do novo governo. Os cadetes queriam obter o fortalecimento do governo às ex-
pensas dos sovietes e tornar o governo independente dos sovietes. Os sovietes,
guiados pelos “maus pastores” sociais revolucionários e mencheviques, cederam
nesse ponto firmando a própria condenação à morte. O governo provisório como
único poder: eis o que obtiveram os cadetes. Os cadetes reivindicam o “sanea-
mento do exército”, isto é, a introdução de uma “disciplina de ferro” no exército,
a subordinação do exército unicamente aos comandantes diretos, por sua vez su-
bordinados somente ao governo. Os sovietes, dirigidos pelos sociais revolucioná-
rios e pelos mencheviques, cederam também nesse ponto e desarmaram-se. Os
sovietes ficam sem exército e o exército está subordinado somente ao formado
por elementos de tendências cadetes: eis o que obtiveram os cadetes. Os cade-
tes reivindicavam a unidade incondicional com os aliados. Os sovietes tomaram
“decididamente esse caminho no interesse. . . da defesa do país, esquecendo-se
de suas declarações internacionais”. O chamado programa de 8 de julho ficou
assim suspenso no ar. A “impiedosa” guerra, a “guerra até ao fim”: eis o que
obtiveram os cadetes. Escutem os próprios cadetes:
As reivindicações dos cadetes constituem indubitavelmente a base da atividade de todo o
governo... Justamente por isso, uma vez que as reivindicações fundamentais dos cadetes
foram acolhidas, o partido julgou que não era mais possível continuar a disputa sobre as
dissensões especificamente partidárias”. De fato, os cadetes sabem que na situação de hoje
“para por em prática os elementos democráticos contidos no famoso programa de 8 de julho
restam muito pouco tempo e possibilidades escassas (vide “Rech”).
A contrarrevolução e os povos da
Rússia
13 de agosto de 1917
163 A Dieta finlandesa, convocada em fins de março de 1917, reivindicou a autonomia da Finlândia. A
5 de julho de 1917, após negociações prolongadas com o governo provisório, negociações quo deram
em nada, a Dieta aprovou a “lei sobre o poder supremo”, segundo a qual o seu poder estendia-se
a todos os campos da vida da Finlândia, exclusive as questões de política externa, de legislação e
administração militar, as quais permaneciam da alçada dos órgãos centrais de toda a Rússia. A 18
de julho de 1917 o governo provisório declarou que a lei aprovada pela Dieta se substituía à vontade
da Assembleia-Constituinte e dissolveu a Dieta.
164 A Rada central ucraniana foi constituída em abri de 1917 por grupos e partidos burgueses e
pequeno-burgueses. Na véspera das jornadas de julho foi organizada a Secretaria geral da Rada,
como órgão administrativo supremo na Ucrânia. Reprimida a demonstração de julho em Petrogrado,
o governo provisório, pondo em prática uma política de opressão nacional, tirou da Ucrânia a bacia
do Donetz, a região de Iekaterinoslav e alguns outros distritos. O poder supremo passou então para
um comissário especial designado pelo governo provisório. Não obstante, os chefes da Rada, diante
da ameaça da revolução proletária, conciliaram-se bem depressa com o governo provisório e Rada
tornou-se o baluarte da contrarrevolução nacionalista burguesa na Ucrânia.
J. V. Stalin 157
as vezes os senhores conciliadores evitaram dar uma resposta direta e, agindo as-
sim, entregaram o poder nas mãos dos inimigos. Os conciliadores, convocando
a Conferência em vez do Congresso dos Sovietes, queriam mais uma vez bater
em retirada cedendo o poder a burguesia, mas enganaram-se nos cálculos. Che-
gou o tempo em que não é mais possível bater em retirada. A questão colocada
diretamente pela vida deve dar-se uma resposta clara e precisa.
Com os sovietes ou contra eles! Escolham os senhores conciliadores.
Rabotchi Put (O Caminho Operário), nº 13.
17 de setembro de 1917
J. V. Stalin 161
A Rada ucraniana
15 de dezembro de 1917
A independência da Finlândia
22 de dezembro de 1917
Informe apresentado na reunião do Comitê Executivo Central da Rússia
Os representantes da Finlândia dirigem-se a nós pedindo a independência da
Finlândia, separando-a da Rússia. Em resposta, o Conselho dos Comissários do
Povo acolheu o pedido com um decreto sobre a independência da Finlândia, que
já foi publicado nos jornais. Eis o texto da resolução do Conselho dos Comissários
do Povo: “O Conselho dos Comissários do Povo, em conformidade com o direito
das nações à autodeterminação, decide apresentar ao Comitê Executivo Central
as seguintes propostas:
a) reconhecer a independência da República Finlandesa, e b) constituir, com
o governo finlandês, a comissão (com representantes) para elaborar as providên-
cias que a separação requer”.
O Conselho dos Comissários do Povo não pode agir diferente quando um
povo pede a independência. Baseado na autodeterminação deve consentir. A
imprensa burguesa assevera que levamos o país à ruína, que perdemos países,
entre os quais a Finlândia. Camaradas, nós não podíamos perdê-la, porque ela
nunca foi nossa. Se tivéssemos retido a Finlândia pela violência, isto não signi-
ficaria que ela seria nossa. Sabemos como Guilherme, por meio da violência,
“adquire” Estados inteiros e sobre que terreno se baseiam, devido a isso, as rela-
ções recíprocas do povo e os seus opressores. Os princípios da social-democracia
consistem na criação de uma atmosfera de mútua confiança entre os povos, há
tanto tempo desejada. E só nessa base levaremos à pratica a palavra de ordem:
“Proletários de todos os países, unam-se!” Tudo isto é conhecido por todos. Se
examinarmos o modo como a Finlândia obteve sua independência, veremos que
de fato o Conselho dos Comissários do Povo, a contragosto, deu a liberdade não
ao povo, aos representantes do proletariado finlandês, mas à burguesia finlan-
desa, a qual se apoderou do poder e recebeu a independência das mãos dos socia-
listas da Rússia. Os operários e os social-democratas finlandeses se encontraram
na situação de dever receber a liberdade não das mãos dos socialistas russos,
mas da burguesia finlandesa. Embora reconhecendo uma tragédia para o pro-
letariado finlandês, não podemos deixar de salientar que os social-democratas
finlandeses, somente por causa de sua irresolução e de sua incompreensível co-
vardia, não deram com decisão os passos necessários para tomarem o poder das
mãos da burguesia. Pode-se reprovar o Conselho dos Comissários do Povo, ou
criticá-lo, mas não afirmar que o Conselho dos Comissários do Povo carece com
as promessas feitas, visto que não existe no mundo uma força que possa obri-
gar o Conselho dos Comissários do Povo a não manter seus compromissos. Já
o demonstramos quando, imparcialmente, levamos em consideração os pedidos
apresentados pela burguesia finlandesa acerca da concessão da independência à
Finlândia e imediatamente procedemos à promulgação do decreto que sanciona
essa independência. Possa a independência da Finlândia facilitar a causa da li-
bertação dos operários e dos camponeses daquele país e criar uma sólida base
para a amizade entre os nossos povos!
J. V. Stalin
22 de dezembro de 1917
J. V. Stalin 167
A organização da República
Federativa da Rússia
4 de abril de 1918
A Revolução de Outubro
A ditadura do proletariado
seriam condenados à morte pela história, pois sabiam que no mundo nascera uma
nova força, o poder do proletariado, e uma nova forma de governo, a república
dos sovietes. No começo de 1917 a palavra de ordem de Assembleia-Constituinte
era progressista e os bolcheviques eram favoráveis a ela. Em fins de 1917, de-
pois da Revolução de Outubro, a palavra de ordem de Assembleia-Constituinte
tornara-se reacionária porque não correspondia mais às correlações existentes
entre as forças políticas em luta no país. Os bolcheviques julgavam que, na situ-
ação determinada pela guerra imperialista na Europa e pela vitoriosa revolução
proletária na Rússia, fossem concebíveis somente dois tipos de poder: a ditadura
do proletariado, sob a forma da república dos sovietes, ou a ditadura da burgue-
sia, sob a forma da ditadura militar; qualquer tentativa de encontrar um meio
termo e de fazer renascer a Assembleia-Constituinte inevitavelmente haveria pro-
vocado uma volta ao passado, à reação, à liquidação das conquistas de Outubro.
Os bolcheviques estavam certos de que o parlamentarismo burguês e a república
democrática burguesa representavam uma etapa já superada da revolução...
Desde então transcorreram dez meses. A Assembleia-Constituinte, que havia
tentado derrubar o Poder Soviético, foi dissolvida. No país, os camponeses nem
deram por isso e os operários acolheram esse ato com júbilo. Um grupo dos
partidários da Assembleia foi-se para a Ucrânia e pediu ajuda aos imperialistas
alemães para combater os sovietes. Outro grupo dos partidários da Assembleia
foi-se para o Cáucaso, consolando-se nos braços dos imperialistas turco-alemães.
Um terceiro grupo dos partidários da Assembleia foi-se para Samara e, junta-
mente com os imperialistas anglo-franceses, empreendeu a guerra contra os ope-
rários e camponeses da Rússia. A palavra de ordem da Assembleia-Constituinte,
desse modo, transformou-se num meio de envolver os políticos simplórios e numa
insígnia para mascarar os contrarrevolucionários internos e externos em sua luta
contra os sovietes. Como se portaram naquele período os mencheviques? Com-
bateram contra o Poder Soviético, sustentando sempre a palavra de ordem da
Assembleia-Constituinte, lançada pelos contrarrevolucionários. Que dizem agora
os mencheviques, que diz o seu Comitê Central?
Ouvi: Ele “repele qualquer colaboração política com as classes hostis à demo-
cracia e recusa-se a participar em todas as combinações governativas que, embora
mascaradas com a insígnia da democracia, baseiam-se nas coalizões “nacionais”
da democracia com a burguesia capitalista ou então na dependência do imperia-
lismo e do militarismo estrangeiro” (vide Teses). E ainda: “todas as tentativas da
democracia revolucionária que se apoia nas massas não proletárias das cidades
e nas massas trabalhadoras do campo, tentativas com a intenção de restaurar a
república democrática mediante a luta armada contra o governo soviético e con-
tra as massas que o sustentam, foram e continuam sendo acompanhadas, dado o
caráter da situação internacional e a imaturidade política da pequena burguesia
democrática russa, por um agrupamento de forças sociais capaz de tirar à luta
para restaurar um regime democrático o seu próprio significado revolucionário,
e de ameaçar diretamente as conquistas socialistas fundamentais da revolução.
A tendência para entrar em acordo a qualquer preço com as classes capitalistas
e utilizar as armas estrangeiras na luta pelo poder, priva de qualquer indepen-
dência a política da democracia revolucionária, transformando-a em instrumento
daquelas classes e das coalizões imperialistas” (vide Teses e resolução). Em re-
J. V. Stalin 175
Confusão pequeno-burguesa
tempo da guerra imperialista, sob o governo de Kerensky. Eis tudo. Mas a expe-
riência ensinou-nos a não acreditar nos homens através de palavras; habituamo-
nos a julgar os partidos e os grupos não só por suas resoluções, mas sobretudo
por seus atos.
E como agem os mencheviques? Na Ucrânia os mencheviques até agora não
romperam com o governo contrarrevolucionário de Skoropadski, que luta com
todas as suas forças contra os elementos soviéticos locais e que, assim fazendo, fa-
vorece a dominação dos imperialistas internos e estrangeiros no sul. No Cáucaso
os mencheviques já há muito tempo aliaram-se aos latifundiários e aos capita-
listas e, declarada a guerra santa contra os homens da Revolução de Outubro,
pediram ajuda aos imperialistas alemães.
Nos Urais e na Sibéria, os mencheviques, solidarizando-se com os imperi-
alistas anglo-franceses, de fato contribuíram e continuam contribuindo para a
supressão das conquistas da Revolução de Outubro. Em Krasnovodsk os men-
cheviques abriram aos imperialistas ingleses as portas da região transcaspiana,
facilitando-lhes a tarefa de derrotar o Poder Soviético no Turquestão. Enfim,
uma parte dos mencheviques da Rússia Europeia proclama a necessidade da luta
“ativa” contra o Poder Soviético, organiza greves contrarrevolucionárias na re-
taguarda do nosso Exército, que está derramando o seu sangue na guerra pela
libertação da Rússia e desse modo inexequível presta o “apoio às operações mi-
litares do governo soviético” apregoado pelo CC menchevique. Todos esses ele-
mentos mencheviques, antissocialistas e contrarrevolucionários, na zona central
e nas regiões periféricas da Rússia continuam, contudo, a considerar-se mem-
bros do partido menchevique, partido cujo CC anuncia agora, de forma solene,
“solidariedade política” ao Poder Soviético.
Perguntamos: 1º) Qual a atitude do CC do partido menchevique a respeito
dos elementos contrarrevolucionários mencheviques acima citados? 2º) Pensa
romper com eles de maneira decidida e sem hesitações! 3º) Ao menos deu um
primeiro passo em tal direção?
Todas estas são perguntas para as quais não encontramos resposta nem na
“resolução” do CC menchevique, nem na atividade prática dos mencheviques.
Entretanto é que só uma decidida ruptura com os elementos mencheviques con-
trarrevolucionários poderia fazer avançar alguns passos o problema do “acordo
recíproco”, proclamado agora pelo CC menchevique.
A Revolução de Outubro e a
questão nacional
19 de novembro de 1918
A questão nacional não pode ser considerada como um problema fixo, pro-
posto de uma vez para sempre. Sendo uma parte da questão geral da transfor-
mação da ordem existente, a questão nacional é determinada pelas condições
do ambiente social, pelo caráter do poder no país e por todo o processo de de-
senvolvimento da sociedade. Isto se apresenta de maneira evidente no período
da revolução na Rússia, quando a questão nacional e o movimento nacional nas
regiões periféricas da Rússia mudam rápida o seu conteúdo em relação com a
marcha e o êxito da revolução.
170Camponeses finlandeses sem terra, que tomavam de aluguel as terras dos latifundiários em con-
dições semifeudais (N.T.).
182 Obras Escolhidas
democracia soviética”, e que “o proletariado das nações que eram nações opres-
soras deve ter cuidado especial e estar particularmente atentos às sobrevivências
do sentimento nacional entre as massas trabalhadoras das nações oprimidas ou
desiguais”. Nossa tarefa é:
1) Elevar em todos os sentidos o nível cultural dos povos atrasados, para cons-
truir um amplo sistema de escolas e instituições educacionais, e para conduzir
nossa agitação soviética, oral e impressa, na língua que é nativa e entendida pela
população trabalhadora circundante.
2) Alistar as massas trabalhadoras do Oriente na construção do estado sovié-
tico e prestar-lhes a maior assistência na formação de seus volost, uyezd e outros
sovietes compostos de pessoas que apoiam o poder soviético e estão intimamente
ligados à população local.
3) Acabar com todas as deficiências, formais e reais, herdadas do antigo re-
gime ou surgidas em clima de guerra civil, que impeçam os povos do Oriente de
exercerem a máxima atividade independente para se emanciparem dos vestígios
do medievalismo e da opressão nacional que já foi destruída.
Só assim o poder soviético pode se tornar próximo e caro aos povos escra-
vizados do Oriente sem limites. Só assim pode ser erguida uma ponte entre a
revolução proletária do Ocidente e o movimento anti-imperialista do Oriente,
formando assim um círculo abrangente em torno do imperialismo moribundo.
A tarefa é construir uma cidadela do poder soviético no Oriente, plantar um
farol socialista em Kazan e Ufa, em Samarcanda e Tashkent, que iluminará o
caminho de emancipação dos povos atormentados do Oriente.
Não temos dúvidas de que o nosso devoto Partido e os funcionários soviéticos,
que suportaram todo o peso da revolução proletária e da guerra contra o impe-
rialismo, cumprirão com crédito este dever adicional que a história lhes impõe.
Pravda, nº 48.
2 de março de 1919
186 Obras Escolhidas
Chamamos a atenção dos leitores para dois documentos172 sobre a feroz re-
presália exercida no outono do ano passado pelos imperialistas ingleses contra
dirigentes do Poder Soviético de Baku, que ocupavam cargos responsabilidade.
As fontes desses documentos são o jornal social-revolucionário Znamia Truda 173 e
a Edinaia Rossiia174 de Baku, isto é, os mesmos círculos que até ontem, traindo os
bolcheviques, pediram o auxílio dos ingleses e hoje são obrigados pelo curso dos
acontecimentos a desmascarar seus aliados de ontem. O primeiro documento dá
notícia do bárbaro fuzilamento de vinte e seis dirigentes soviéticos da cidade de
Baku (Chaumian, Djaparidze, Fioletov, Malyguin e outros) efetuado pelo capitão
inglês Teague-Jones, sem processo e sem instrução, na noite de 20 de setembro
de 1918, na estrada de Krasnovodsk a Askhabad, cidade para a qual deviam ser
conduzidos por Teague-Jones na qualidade de prisioneiros de guerra.
Teague-Jones e os seus companheiros social-revolucionários e mencheviques
esperavam abafar o assunto, propondo-se fazer circular falsos testemunhos sobre
a morte “natural” dos bolcheviques de Baku na prisão ou no hospital; mas esse
plano pereceu porque, segundo parece, ficaram testemunhas que não querem
calar e estão prontas a desmascarar até ao fim os bárbaros ingleses. Esse docu-
mento é assinado pelo social-revolucionário Tchaikin. O segundo documento
cita uma conversação do general inglês Thomson com o autor do primeiro do-
cumento, Tchaikin, havida em fins de março de 1919. O general Thomson pede
a Tchaikin que nomeie as testemunhas da feroz execução dos vinte e seis bolche-
viques de Baku efetuada pelo capitão inglês Teague-Jones. Tchaikin declara-se
pronto a apresentar os documentos e a nomear as testemunhas, sob a condição
de que seja constituída uma comissão de inquérito composta de representantes
do comando inglês, da população de Baku e dos bolcheviques do Turquestão;
pede ele, garantias de que as testemunhas turquestanas não sejam mortas por
agentes dos ingleses. Uma vez que Thomson não aceita a proposta da comissão
de inquérito e não dá garantias acerca da incolumidade pessoal das testemunhas,
a conversação é interrompida e Tchaikin se afasta.
O documento é interessante deste ponto de vista: confirmando a barbárie dos
imperialistas ingleses, ele não só revela, mas expõe de maneira gritante a fero-
172 Os dois documentos (“A execução dos 26 comissários” e “O encontro do general Thomson com
o senhor Tchaikin em 23 de março de 1919”) foram publicados com o presente artigo no Izvestia de
23 de abril de 1919.
173 Znamia Truda (A Bandeira do Trabalho), órgão do comitê dos social-revolucionários de Baku.
cidade selvagem dos agentes ingleses, que, protegidos pela impunidade, se com-
portam com os “nativos” de Baku e das regiões transcáspias como se estes fossem
negros da África Central. Eis a história dos vinte e seis bolcheviques de Baku. Em
agosto de 1918, quando as tropas turcas estavam às portas de Baku e os membros
social-revolucionários e mencheviques do soviete de Baku, não obstante os bol-
cheviques, arrastaram a reboque a maioria do Soviete e pediram auxílio aos impe-
rialistas ingleses, os bolcheviques de Baku, com Chaumian e Djaparidze à frente,
em minoria, renunciaram ao seu poder, deixaram aos seus adversários políticos e
decidiram, consensualmente ao poder inglês social-revolucionário-menchevique
a constituição em Baku, refugiar-se em Petrovsk lugar mais próximo do Poder
Soviético. Mas, quando se dirigia para Petrovsk, o vapor, que levava os bolche-
viques de Baku e suas famílias, foi bombardeado pelos navios ingleses que os
seguiam e conduzido a Krasnovodsk. Isso aconteceu em agosto.
Depois disso, o governo soviético da Rússia dirigiu-se ao comando inglês, ofe-
recendo prisioneiros ingleses em troca dos camaradas de Baku e de suas famílias;
mas o comando inglês nunca respondeu. Desde o mês de outubro começaram
a chegar notícias provenientes de particulares e de organizações sobre o fuzila-
mento dos camaradas de Baku. A 5 de março de 1919, Astracã interceptou uma
notícia difundida pelo rádio de Tiflis, a qual dizia que “Djaparidze e Chaumian
não estavam nas mãos do comando inglês, e que, segundo notícias colhidas no
local, foram mortos em setembro por um grupo de operários nas vizinhanças
de Kizyl-Arvat”. Essa era a 1ª tentativa dos assassinos ingleses de fazer recair a
culpa de sua ferocidade sobre os operários que nutriam um grande afeto tanto
por Chaumian como por Djaparidze. Agora, após a publicação dos documentos
supracitados, deve-se julgar como provado que os nossos camaradas de Baku, os
quais se haviam retirado da arena política e dirigiam-se a Petrovsk como fugiti-
vos, foram fuzilados sem processo e sem instrução pelos canibais da “civilizada” e
“humana” Inglaterra. Nos países “civilizados” costuma-se falar dos atos terroris-
tas e dos horrores cometidos pelos bolcheviques. Os imperialistas anglo-franceses
são, ao contrário, pintados como inimigos do terrorismo e dos fuzilamentos. Mas
acaso não é nítido que nunca o Poder Soviético se vingou dos seus adversários,
baixa e vilmente como fizeram os “civilizados” e “humanos” ingleses, e que só os
imperialistas podem ter necessidade de assassinatos sob a proteção da noite e de
ataques contra inimigos políticos inermes?
Se existem homens que duvidam disso, que leiam os documentos acima re-
feridos e chamem as coisas pelo seu nome. Chamando os ingleses a Baku e
traindo os bolcheviques, os mencheviques e os social-revolucionários daquela ci-
dade pensavam “servir-se” dos “hóspedes” ingleses como de uma força, mas pen-
savam que permaneceriam eles como donos do país, ao passo que os “hóspedes”
iriam embora para casa. Na realidade, aconteceu o contrário: os “hóspedes”
tornaram-se donos de poder ilimitado, os social-revolucionários e os menchevi-
ques transformaram-se em cúmplices necessários do criminoso e vil assassinato
dos vinte e seis comissários bolcheviques; além disso, os social-revolucionários
foram obrigados a passar para a oposição, desmascarando os novos donos, e os
mencheviques no seu jornal de Baku, a Iskra175 , foram obrigados a pregar a ali-
175 Iskra (Centelha), órgão do comitê menchevique de Baku. Saiu de novembro de 1918 a abril de
188 Obras Escolhidas
1920.
J. V. Stalin 189
Discurso de abertura do II
Congresso das Organizações
Comunistas dos Povos Orientais da
Rússia
22 de novembro de 1919
que Lenin desenvolveu, nos seus célebres livros: Que Fazer? e Um Passo Adiante,
Dois Passos Atrás. Esse plano tinha o mérito de corresponder plenamente à reali-
dade russa e de generalizar de maneira magistral a experiência organizativa dos
melhores ativistas. Na luta por esse plano a maioria dos ativistas russos seguiu
decididamente Lenin, sem se deter diante da cisão. A vitória desse plano lançou
as bases daquele Partido Comunista, coeso e temperado, que não tem igual no
mundo.
Não poucas vezes os nossos camaradas (e não só os mencheviques!) acusavam
Lenin de ser demasiado propenso à polêmica e à cisão, de combater com intran-
sigência os conciliadores, etc. Indubitavelmente, uma e outra coisa tiveram lugar
a seu tempo. Mas não é difícil de compreender que o nosso partido não teria po-
dido nem se desembaraçar da debilidade interna e do amorfismo, nem atingir a
força e a solidez que lhe são próprias, se não houvesse expulsado do seu seio os
elementos não proletários e oportunistas. Na época da dominação burguesa, o
partido proletário pode desenvolver-se e reforçar-se só na medida em que luta,
no próprio seio e na classe operária, contra os elementos oportunistas, hostis à
revolução, ao Partido. Lassalle tinha razão quando dizia: “Depurando-se, um
partido se fortalece.”177
Os acusadores reportavam-se de costume ao partido alemão, no qual flores-
cia então a “unidade”. Mas, em primeiro lugar, nem toda unidade é indício de
força, e, em segundo lugar, basta olhar hoje o velho partido alemão, dividido
em três partidos178 , para compreender quão falsa e ilusória é a “unidade” de
Scheidemann e de Noske com Liebknecht e Luxemburgo. E como saber se não
teria sido melhor para o proletariado alemão que os elementos revolucionários
do partido alemão tivessem se separado a tempo dos elementos antirrevolucio-
nários?... Sim, Lenin tinha mil vezes razão quando guiava o Partido no caminho
da luta intransigente contra os elementos hostis ao Partido e à revolução. Gra-
ças somente a essa política organizativa, pôde nosso partido atingir efetivamente
aquela unidade interna e aquela extraordinária coesão que lhe permitiram sair
incólume da crise de julho sob Kerensky, sustentar a insurreição de Outubro,
atravessar sem abalos a crise do período de Brest-Litovsk, organizar a vitória so-
bre a Entente e, enfim, atingir aquela incomparável ductilidade, graças à qual
consegue em qualquer momento reorganizar suas fileiras e concentrar centenas
de milhares dos seus membros para qualquer grande trabalho que seja, sem pro-
duzir perturbação no próprio conjunto.
179 Em 1905, Buliguin, então ministro do interior, elaborou um projeto de lei para a convocação de
um organismo representativo com funções consultivas, chamada Duma de Buliguin. Os bolcheviques
boicotaram o projeto, e os acontecimentos revolucionários daquele ano obrigaram o governo tsarista
a renunciar à sua realização na prática e a promulgar uma nova lei eleitoral “... a Duma de Buliguin
nunca foi convocada. O furacão revolucionário varreu-a antes que fosse convocada” (vide informe
sobre a Revolução de 1905, em Lenin, La Revoluzione del 1905, Edições Rinascita, Roma, 1949, vol.
J. V. Stalin 195
balho orgânico no seio dela; a ideia do “bloco de esquerda” depois que a Duma,
apesar de tudo, se reunira e a utilização da tribuna da Duma para a luta fora da
Duma, ao invés do ministério cadete e da “salvaguarda” reacionária da Duma;
a luta contra o partido dos cadetes, como força contrarrevolucionária, ao invés
do bloco com ele: eis o plano tático desenvolvido por Lenin nos seus célebres
folhetos: “Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática” e “A Vitória
dos Cadetes e as Tarefas do Partido Operário”.
O mérito desse plano consistia no fato de que ele, formulando decidida e
claramente as reivindicações de classe do proletariado no período da revolução
democrático-burguesa na Rússia, facilitava a passagem para a revolução socia-
lista, trazia consigo em embrião a ideia da ditadura do proletariado. Na luta por
esse plano tático, a maioria dos ativistas russos seguiu decidida e resolutamente
Lenin. A vitória desse plano lançou as bases da tática revolucionária, graças à
qual hoje o nosso partido abala os alicerces do imperialismo mundial.
O desenvolvimento ulterior dos acontecimentos, os quatro anos da guerra
imperialista e o fato de que toda a economia nacional se achava em desordem;
a revolução de fevereiro e a famosa dualidade do poder: de um lado o governo
provisório como foco da contrarrevolução burguesa, do outro lado o soviete de
Petrogrado como forma embrionária da ditadura proletária; a Revolução de Ou-
tubro e a dissolução da Constituinte; a abolição do parlamentarismo burguês e a
proclamação da República dos Sovietes; a transformação da guerra imperialista
em guerra civil; a intervenção do imperialismo mundial, de cambulhada com os
“marxistas” de boca, contra a revolução proletária; e, enfim, a situação lamen-
tável dos mencheviques, agarrados à Assembleia-Constituinte, jogados no mar
pelo proletariado e tangidos pelas vagas da revolução para as praias do capita-
lismo, tudo isso confirmou plenamente que os princípios da tática revolucionária
formulada por Lenin nas Duas Táticas eram justos. O partido que possuía tal he-
rança podia navegar ousadamente, sem temer os escolhos submarinos.
Em nossa época, que é a época da revolução proletária, em que toda pala-
vra de ordem do Partido e toda frase do chefe é submetida à prova dos fatos, o
proletariado exige que os seus dirigentes tenham capacidade especial. A história
conhece chefes proletários, chefes dos tempos de borrasca, chefes práticos, de
grande coragem e de grande abnegação, mas fracos em teoria. As massas não
se esquecem tão cedo dos nomes de semelhantes chefes. Tais são, por exemplo,
Lassalle na Alemanha, Blanqui na França. Mas o movimento no seu conjunto
não pode viver só de recordações: ele precisa de um objetivo claro (programa) e
de uma linha firme (tática).
Existem também chefes de outro gênero, chefes dos tempos de paz, fortes em
teoria, mas fracos em organização e no trabalho prático. Tais chefes são popu-
lares só entre as camadas superiores do proletariado e só até um determinado
momento; quando tem início uma época revolucionária, quando se exigem dos
chefes palavras de ordem práticas revolucionárias, os teóricos abandonam a cena,
cedendo o lugar a gente nova. Chefes desse tipo são, por exemplo, Plekhanov na
Rússia e Kautsky na Alemanha. Para manter-se no posto de chefe da revolução
proletária e do partido proletário é necessário unir em si a força da teoria e a ex-
I, p. 22).
196 Obras Escolhidas
180O folheto As Tarefas dos Social-Democratas Russos foi escrito por Lenin no exílio, em fins de
1897. A primeira edição do folheto, com um prefácio de P. Axelrod, foi publicada em 1898, em
Genebra, pela “União dos Social-Democratas Russos” (vide Lenin, em dois volumes, Edições em
línguas estrangeiras, Moscou, 1949, vol. I, págs. 123-137).
J. V. Stalin 197
Três anos de revolução e de guerra civil na Rússia mostraram que sem o apoio
mútuo da Rússia Central e de suas regiões periféricas a vitória da revolução é
impossível, e é impossível a libertação da Rússia das garras do imperialismo.
A Rússia Central, este foco da revolução mundial, não pode manter-se por
muito tempo sem o auxílio das regiões periféricas, ricas em matérias-primas, em
combustíveis e em gêneros alimentícios. As regiões periféricas da Rússia, por
sua vez, se lhes faltar o auxílio político, militar e organizativo da Rússia Cen-
tral, que é mais desenvolvida, estão condenadas inevitavelmente a suportar o
jugo imperialista. Se é verdadeira a tese de que o Ocidente proletário mais bem
desenvolvido não pode bater definitivamente a burguesia mundial sem o apoio
do Oriente camponês menos desenvolvido, porém rico em matérias-primas e em
combustíveis, é igualmente verdadeira a outra tese de que a Rússia Central, mais
bem desenvolvida, não pode levar a termo a revolução sem o apoio das regiões
periféricas da Rússia, menos desenvolvidas, porém ricas dos recursos necessários.
Indubitavelmente a Entente levou em conta essa circunstância desde os pri-
meiros dias de existência do governo soviético, quando pôs em prática o plano de
cerco econômico da Rússia Central, arrancando-lhe as regiões periféricas mais
importantes. Em seguida, o plano de cerco econômico da Rússia continuou a
figurar na base de todos os ataques da Entente contra a Rússia, de 1918 a 1920,
não se excluindo suas atuais maquinações na Ucrânia, no Azerbaijão e no Tur-
questão. Tanto maior é a importância de que se reveste a garantia de uma sólida
união entre o Centro e as regiões periféricas da Rússia. Daí a necessidade de es-
tabelecer determinadas relações, determinados laços entre o Centro e as regiões
periféricas da Rússia, de modo a garantir uma união estreita e indissolúvel en-
tre elas. De que espécie devem ser essas relações e que formas devem assumir?
Em outras palavras: em que consiste a política do Poder Soviético com respeito
à questão nacional na Rússia?
A separação da Rússia, reivindicada pelas regiões periféricas como forma de
relações entre o Centro e a periferia, deve ser excluída não só porque está em
contradição com a própria apresentação do problema no concernente à união
entre o Centro e as regiões periféricas, mas porque está em absoluto contraste
com os interesses das massas nacionais, quer do Centro quer das regiões periféri-
cas. Se se prescindir do fato de que a separação das regiões periféricas minaria o
poderio revolucionário da Rússia Central, a qual estimula o movimento de liber-
tação do Ocidente e do Oriente, as próprias regiões, após se separarem, cairiam
necessariamente debaixo do jugo do imperialismo internacional. Basta lançar
um olhar sobre a Geórgia, sobre a Armênia, sobre a Polônia, sobre a Finlândia e
sobre as outras regiões que se separaram da Rússia, que conservaram só a forma
exterior da independência, e, de fato, se transformaram em Estados vassalos,
198 Obras Escolhidas
E mais ainda:
Em qualquer caso, o proletariado das nações outrora dominantes deve mostrar-se particu-
larmente cauteloso e particularmente respeitoso com os restos de sentimentos nacionais das
massas trabalhadoras das nações oprimidas ou que não gozam de plenos direitos (vide Pro-
grama do PC da Rússia).
Camaradas!
O governo soviético da República Federativa Socialista da Rússia, empenhado
nos últimos tempos na guerra contra os inimigos externos no Sul e no Oeste,
contra a Polônia e Wrangel, não teve nem possibilidade nem tempo de dedicar-
se à solução do problema que agita o povo do Daguestão.
Agora que o exército de Wrangel foi derrotado, que os seus míseros restos
fogem para a Criméia, que foi concluída a paz com a Polônia, o governo so-
viético tem a possibilidade de ocupar-se do problema da autonomia do povo do
Daguestão. No passado, o poder na Rússia estava nas mãos do tsar, dos latifun-
diários, dos fabricantes e dos industriais. No passado, a Rússia era a Rússia dos
tsares e dos carrascos. Vivia mantendo oprimidos os povos que formavam o im-
pério russo. Seu governo vivia sugando o sangue dos povos por ela oprimidos,
inclusive o povo russo. Era o tempo em que todos os povos maldiziam a Rússia.
Mas essa época já pertence ao passado. Foi sepultada e não poderá nunca mais
ressurgir.
Das ruínas dessa Rússia tsarista opressora nasceu uma nova Rússia, a Rús-
sia dos operários e dos camponeses. Para os povos que fazem parte da Rússia
começou uma nova vida. Começou o período da emancipação desses povos que
sofreram sob o jugo dos tsares e dos senhores, dos latifundiários e dos industriais.
O novo período, iniciado após a Revolução de Outubro, quando o poder pas-
sou para as mãos dos operários e dos camponeses e tornou-se comunista, já é
famoso não só por haver libertado os povos da Rússia. Ele também se propôs a
tarefa da libertação de todos os povos que sofrem sob o jugo dos imperialistas
ocidentais, inclusive os povos do Oriente.
A Rússia tornou-se a alavanca do movimento de libertação, que impele para
a frente não só os povos do nosso país, como também os do mundo inteiro. A
Rússia Soviética tornou-se o archote que ilumina o caminho da libertação para
todos os povos oprimidos. No momento presente, o governo da Rússia, que,
graças à vitória alcançada sobre os inimigos, teve a possibilidade de ocupar-se dos
problemas inerentes ao seu desenvolvimento interno, julgou necessário declará-
los que o Daguestão deve ser autônomo, e que, embora mantendo laços fraternais
com os povos da Rússia, poderá ter, no interior, um autogoverno.
O Daguestão deverá administrar-se de conformidade com as suas particulari-
dades, seus costumes, seus usos. Foi-nos dito que entre os povos do Daguestão a
J. V. Stalin 205
Discurso de encerramento
Camaradas! Agora que o último inimigo do Poder Soviético foi derrotado, o
significado político da autonomia que o governo soviético deu, voluntariamente
ao Daguestão, torna-se evidente. É preciso voltar a atenção para uma circunstân-
cia. Ao passo que o governo tsarista e em geral os governos burgueses do mundo
habitualmente fazem concessões ao povo e concedem estas ou aquelas reformas
só no caso de que circunstâncias difíceis os obriguem a fazê-lo, o governo sovié-
tico, pelo contrário, quando se encontra no apogeu dos seus êxitos concede a
autonomia ao Daguestão de maneira totalmente espontânea.
Isso significa que a autonomia do Daguestão entrará na vida da sua Repú-
blica como base duradoura e intangível. De fato, é duradouro só aquilo que se
dá espontaneamente. Concluindo, desejava frisar o fato de que essa grande con-
fiança, que o Poder Soviético mostrou ter em vós, será justificada pelos povos do
Daguestão na luta que eles travarão de futuro contra os nossos inimigos comuns.
Viva o Daguestão autônomo soviético!
208 Obras Escolhidas
J. V. Stalin 209
PARTE II
A consolidação do
dirigente
J. V. Stalin 211
pode resolver essas contradições, que cada tentativa de sua parte para “igualar”
as nações e “proteger” as minorias nacionais, preservando a propriedade privada
e a desigualdade de classe, geralmente termina em outro fracasso, em um agra-
vamento dos conflitos nacionais.
4. O maior crescimento do capitalismo na Europa, a necessidade de novos
mercados, a busca por matérias-primas e combustível, – e, finalmente, o desen-
volvimento do imperialismo – a exportação de capital e a necessidade de assegu-
rar rotas marítimas e ferroviárias importantes, levaram, por um lado, à apreensão
de novos territórios pelos antigos Estados nacionais e à transformação destes em
Estados multinacionais (coloniais), com sua opressão nacional inerente e confli-
tos nacionais (Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália); por outro lado, entre as
nações dominantes nos antigos Estados multinacionais, eles intensificaram a luta
não apenas para reter as antigas fronteiras estaduais, mas também para as expan-
dir, para subjugar nacionalidades novas e consideradas fracas às custas dos Esta-
dos vizinhos. Isso ampliou a questão nacional e, finalmente, pelo próprio curso
dos desenvolvimentos, fundiu-a com a questão geral das colônias; e a opressão
nacional foi transformada, de uma questão intraestatal, em uma questão interes-
tatal, uma questão da luta (e da guerra) entre os “grandes” poderes imperialistas
pela subjugação de nacionalidades fracas e desiguais.
5. A guerra imperialista, que escancarou até as raízes as contradições naci-
onais irreconciliáveis e a falência interna dos Estados multinacionais burgueses,
intensificou extremamente os conflitos nacionais dentro dos Estados coloniais
vencedores (Grã-Bretanha, França, Itália), causou a desintegração máxima dos
antigos Estados multinacionais vencidos (Áustria, Hungria, Rússia em 1917) e,
finalmente, como a solução burguesa mais “radical” à questão nacional, levou à
formação de novos Estados nacionais burgueses (Polônia, Tchecoslováquia, Iu-
goslávia, Finlândia, Geórgia, Armênia, etc.). Mas a formação dos novos Estados
nacionais independentes não trouxe – e não poderia – englobar uma forma de
coexistência pacífica das nacionalidades; não eliminou e não pôde eliminar a
desigualdade nacional ou a opressão nacional, pois os novos Estados nacionais,
sendo baseados na propriedade privada e na desigualdade de classe, não podem
existir:
a) sem oprimir suas minorias nacionais (Polônia, que oprime bielorussos,
judeus, lituanos e ucranianos; Geórgia, que oprime ossetianos, abkhazianos e
armênios; Iugoslávia, que oprime croatas, bósnios etc.);
b) sem expandir os seus territórios à custa dos seus vizinhos, o que dá
origem a conflitos e guerras (Polônia contra a Lituânia, Ucrânia e Rússia;
Iugoslávia contra Bulgária; Geórgia contra Armênia, Turquia, etc.);
c) sem se submeter ao domínio financeiro, econômico e militar das “gran-
des” potências imperialistas.
6. Assim, o período pós-guerra revela um quadro sombrio de inimizade na-
cional, desigualdade, opressão, conflitos, guerra e brutalidade imperialista por
parte das nações dos países civilizados, tanto entre si como para com as nações
desiguais. Por um lado, existem alguns “grandes” poderes, que oprimem e ex-
ploram todos os Estados nacionais dependentes e “independentes” (na verdade,
totalmente dependentes), e há uma luta desses poderes entre si para monopo-
J. V. Stalin 213
lizar os exploração dos Estados nacionais. Por outro lado, há uma luta dos Es-
tados nacionais dependentes e “independentes” contra a opressão insuportável
das “grandes” potências; há uma luta dos Estados nacionais entre si para am-
pliar seus territórios nacionais; há uma luta de cada Estado nacional contra as
minorias nacionais que oprime. Por fim, há uma intensificação do movimento de
libertação nas colônias contra as “grandes” potências e um agravamento dos con-
flitos nacionais tanto dentro dessas potências como também dentro dos Estados
nacionais que, como regra, contém uma série de minorias nacionais.
Essa é o “quadro de paz” legado pela guerra imperialista. A sociedade bur-
guesa provou ser totalmente incapaz de resolver a questão nacional.
II
III
183 Pan-islamismo é uma ideologia religiosa e política reacionária que surgiu na segunda metade do
século XIX no Sultão da Turquia entre os proprietários de terras, a burguesia e o clero turcos. Mais
tarde, ele se espalhou entre as classes proprietárias de outros povos muçulmanos. O pan-islamismo
professou a unificação em um todo de todos os povos que adoram o Islã (religião muçulmana). Com
a ajuda do pan-islamismo, as classes dominantes dos povos muçulmanos estavam se esforçando para
fortalecer suas posições e sufocar o movimento revolucionário dos povos trabalhadores do Oriente.
O objetivo do panturquismo é submeter todos os povos turcos ao domínio turco. Surgiu durante
as guerras dos Bálcãs de 1912-13. Durante a guerra de 1914-18, ela se desenvolveu em uma ideo-
logia extremamente agressiva e chauvinista. Na Rússia, após a Revolução Socialista de Outubro, o
pan-islamismo e o panturquismo foram utilizados por elementos contrarrevolucionários com o pro-
pósito de combater o poder soviético. Posteriormente, os imperialistas anglo-americanos utilizaram
o pan-islamismo e o panturquismo como sua base na preparação para uma guerra imperialista contra
os EUA e contra as democracias populares, com o objetivo de suprimir o movimento de libertação
nacional (N.T.)
218 Obras Escolhidas
184A República Socialista Socialista Autônoma das Terras Altas foi formada com base em um Decreto
do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia em 20 de janeiro de 1921. Originalmente, a região
consistia nos territórios da Chechênia, Nazran, Vladikavkaz, Cabardiniano, Balkarian e Karachayev.
No período de 1921-24, várias Regiões Nacionais Autônomas foram formadas a partir das Terras
Altas Por decreto do Comitê Executivo Central de toda a Rússia em 7 de julho de 1924, a antiga
região e comitês das Terras Altas foi dissolvido.
220 Obras Escolhidas
(Sinopse de um panfleto)
185Isso se refere às vinte e uma condições de filiação à Internacional Comunista estabelecidas pelo
Segundo Congresso do Comintern em 6 de agosto de 1920.
222 Obras Escolhidas
geral.
7) Slogan de agitação e slogan de ação. Isso não deve ser confundido. É perigoso
fazer isso. No período de abril a outubro de 1917, o slogan “Todo o poder aos
sovietes” era um slogan de agitação; em outubro, tornou-se um slogan de ação –
depois que o Comitê Central do Partido, no início de outubro (10 de outubro),
adotou a decisão sobre a “tomada do poder”. Em sua ação em Petrogrado, em
abril, o grupo Bagdatyev foi culpado de tal confusão de slogans.
8) Diretiva (geral) é um apelo direto à ação, em um determinado momento e
em um determinado local, vinculando a Parte. O slogan “Todo o poder aos so-
vietes” foi um slogan de propaganda no início de abril (as “teses”186 ); em junho,
tornou-se um slogan de agitação; em outubro (10 de outubro) tornou-se um slo-
gan de ação; mas no final de outubro tornou-se uma diretiva imediata. Falo de
uma diretiva geral para todo o partido, tendo em mente que também deve haver
diretivas locais que detalhem a diretiva geral.
9) Vacilação da pequena burguesia especialmente durante a intensificação das
crises políticas (na Alemanha durante as eleições do Reichstag, na Rússia sob
Kerensky em abril, em junho e em agosto, e novamente na Rússia durante os
eventos de Kronstadt, 1921187 ); isto deve ser estudado cuidadosamente, aprovei-
tado, levado em consideração, mas ceder a ele seria perigoso, fatal para a causa
do proletariado. Os slogans de agitação não devem ser mudados por causa de
tal vacilação, mas é permissível, e às vezes necessário, mudar ou adiar uma de-
terminada diretiva e, talvez, também um slogan (de ação). Mudar de tática “da
noite para o dia” significa precisamente mudar uma diretiva, ou mesmo um slo-
gan de ação, mas não um slogan de agitação. (por exemplo, o cancelamento da
manifestação em 9 de junho de 1917 e fatos semelhantes.)
10) A arte do estrategista e do tático consiste em transformar com habilidade
e oportunidade um slogan de agitação em um slogan de ação, e em moldar,
também oportuna e habilmente, um slogan de ação em diretrizes definidas e
concretas.
II
III
Questões
darmes da Europa, que tinham forças e fundos suficientes sob seu comando para
serem gendarmes, não estavam em Petrogrado, mas em Berlim, Paris e Londres.
Agora ficava claro para todos que a Europa estava introduzindo na Rússia não
apenas o socialismo, mas também a contrarrevolução na forma de empréstimos
ao tsar, etc., enquanto, além dos emigrantes políticos, a Rússia estava introdu-
zindo a revolução na Europa. (De qualquer forma, em 1905 a Rússia introduziu
a greve geral na Europa como uma arma na luta proletária.)
2) “O amadurecimento dos frutos”. Como é possível determinar quando chegou
o momento das convulsões revolucionárias? Quando é possível dizer que o “fruto
está maduro”, que o período de preparação terminou e que a ação pode começar?
a) Quando o temperamento revolucionário das massas está transbordando
e nossos slogans de ação e diretivas ficam para trás do movimento das massas
(ver “Para entrar na Duma” de Lenin, o período antes de outubro de 1905),
quando restringimos as massas com dificuldade e nem sempre sucesso, por
exemplo, os trabalhadores de Putilov e portadores de metralhadoras na época
das manifestações de julho de 1917 (ver o livro de Lenin “Esquerdismo, Doença
infantil do Comunismo” );
b) Quando a incerteza e a confusão, a decadência e a desintegração no
campo do inimigo atingem o clímax; quando o número de desertores e rene-
gados do acampamento do inimigo aumenta aos trancos e barrancos; quando
os chamados elementos neutros, a vasta massa da pequena burguesia urbana
e rural, começam definitivamente a se afastar do inimigo (da autocracia ou
da burguesia) e procuram uma aliança com o proletariado; quando, em con-
sequência de tudo isso, os órgãos de administração do inimigo, junto com os
órgãos de supressão, deixem de funcionar, se tornem paralisados e inúteis,
etc., deixando assim o caminho aberto para o proletariado exercer seu direito
de tomar o poder;
c) Quando ambos os fatores (pontos a e b) coincidem no tempo, o que, na
verdade, é o que geralmente acontece. Há quem pense que basta observar o
processo objetivo de extinção da classe no poder para lançar o ataque. Mas isso
está errado. Além disso, as condições subjetivas necessárias para um ataque
bem-sucedido devem ter sido preparadas. É precisamente tarefa da estraté-
gia e da tática com habilidade e oportunidade fazer com que a preparação
das condições subjetivas para os ataques se encaixe nos processos objetivos de
extinção do poder da classe dominante.
3) Escolha do momento. A escolha correta do momento, na medida em que
o momento da greve é realmente escolhido pelo Partido e não imposto pelos
acontecimentos, pressupõe a existência de duas condições:
a) “amadurecimento do fruto” e;
b) algum evento flagrante, ação pelo governo ou por alguma explosão es-
pontânea de caráter local que possa servir de motivo adequado, óbvio para
as grandes massas, para desferir o primeiro golpe, para iniciar o ataque. A
falha em observar essas duas condições pode significar que o golpe não só
deixará de servir como ponto de partida para ataques gerais de escala e inten-
sidade crescentes sobre o inimigo, não só deixará de crescer para um golpe
trovejante e esmagador (e isso é precisamente o significado e o propósito da
J. V. Stalin 227
tração do Primeiro de Maio, com ou sem greve). Se um balanço de forças não for
realizado na véspera de uma revolta aberta, mas em um momento mais ou menos
“pacífico”, pode terminar no máximo em uma contenda com a polícia ou tropas
do governo, sem envolver pesadas baixas para o Partido ou para o inimigo. Se,
no entanto, for realizado na atmosfera incandescente de convulsões iminentes,
pode envolver o Partido em uma colisão decisiva prematura com o inimigo, e se
o Partido ainda estiver fraco e irreal por causa dessas colisões, o inimigo pode
tirar vantagem de tal “balanço de forças” para esmagar as forças proletárias (daí
os repetidos apelos do Partido em setembro de 1917: “não se deixem provocar”).
Portanto, ao aplicar o método de balanço de forças na atmosfera de uma crise
revolucionária já madura, é necessário ter muito cuidado, e se deve ter em mente
que se o Partido for fraco, o inimigo pode converter tal cálculo em uma arma
para derrotar o proletariado, ou pelo menos, para enfraquecê-lo seriamente. E,
por outro lado, se o Partido está pronto para a ação, e as fileiras do inimigo estão
obviamente desmoralizadas, então, tendo iniciado um “balanço de forças”, não
deve ser perdida a oportunidade de passar para uma “prova de força” (assumindo
que as condições para isso são favoráveis – frutos maduros”, etc.) e então lançar
o ataque geral.
6) Táticas ofensivas (táticas de guerras de libertação, quando o proletariado já
tomou o poder).
7) Táticas de retirada ordenada. Com que habilidade recuar para o interior,
diante de forças inimigas obviamente superiores, a fim de salvar, se não a maior
parte do exército, pelo menos seus quadros (ver o livro de Lenin “Comunismo de
Esquerda”...). Como fomos os últimos a recuar, por exemplo, durante o boicote
à Duma Witte-Dubasov. A diferença entre táticas de recuo e “táticas” de fuga
(compare os mencheviques).
8) Táticas de defesa, como meio necessário para preservar quadros e acumular
forças em antecipação aos combates futuros. Eles impõem ao Partido o dever de
assumir posições em todos os campos da luta, sem exceção, de ordenar todos os
tipos de armas, ou seja, todas as formas de organização, sem descuidar de ne-
nhuma delas, mesmo as aparentemente mais insignificante, pois ninguém pode
dizer de antemão qual campo será a primeira arena de batalha, ou qual forma de
movimento, ou forma de organização, será o ponto de partida e a arma tangível
do proletariado quando as batalhas decisivas se abrirem. Ou seja: no período
de defesa e acumulação de forças, o Partido deve preparar-se plenamente para
as batalhas decisivas. Em antecipação às batalhas, mas isso não significa que o
Partido deva esperar de braços cruzados e se tornar um espectador ocioso, dege-
nerando de um partido revolucionário (se estiver na oposição) em um partido do
tipo “esperar para ver”. Não, em tal período deve evitar batalhas, não aceitar ba-
talhas, se ainda não acumulou a quantidade necessária de forças ou se a situação
lhe é desfavorável, mas não deve perder uma única oportunidade, em condições
favoráveis, é claro, forçar uma batalha sobre o inimigo quando isso for prejudi-
cial para o inimigo, para mantê-lo em constante estado de tensão, passo a passo
para desorganizar e desmoralizar suas forças, passo a passo para exercitar as for-
ças proletárias em batalhas que afetem os interesses cotidianos do proletariado,
e desta forma aumentar suas próprias forças.
J. V. Stalin 229
Só assim a defesa pode ser uma defesa realmente ativa e o Partido preserva
todos os atributos de um verdadeiro partido de ação e não de um contempla-
tivo, que espera para ver; só então o Partido evitará perder, esquecer o momento
da ação decisiva, evitar ser pego de surpresa pelos acontecimentos. O caso de
Kautsky e companhia negligenciando o momento da revolução proletária no Oci-
dente devido às suas táticas de espera contemplativas “sábias” e passividade ainda
mais “sábia” é um aviso direto. Ou ainda: o caso dos mencheviques e socialistas-
revolucionários que perderam a oportunidade de tomar o poder devido à sua
tática de espera sem fim pelas questões da paz e da terra deveria servir também
de alerta. Por outro lado, também é óbvio que as táticas de defesa ativa, as tá-
ticas de ação, não devem ser abusadas, pois isso criaria o perigo de as táticas de
ação revolucionária do Partido Comunista se converterem em táticas de ginástica
“revolucionária”, isto é, em táticas que conduzam não à acumulação das forças
do proletariado e à sua maior prontidão para a ação, portanto, não à acelera-
ção da revolução, mas à dissipação das forças proletárias, à deterioração de sua
prontidão para a ação e, portanto, para retardar a causa da revolução.
9) Os princípios gerais da estratégia e tática comunistas. Existem três princípios:
a) A adoção, como base, da conclusão, alcançada pela teoria marxista e
confirmada pela prática revolucionária, de que nos países capitalistas o pro-
letariado é a única classe completamente revolucionária que está interessada
na emancipação total da humanidade do capitalismo e de quem missão é,
portanto, ser o líder de todas as massas oprimidas e exploradas na luta pela
derrubada do capitalismo. Consequentemente, todo trabalho deve ser direci-
onado para o estabelecimento da ditadura do proletariado.
b) A adoção, como base, da conclusão a que chega a teoria marxista e
confirmado pela prática revolucionária, que a estratégia e a tática do Par-
tido Comunista de qualquer país só podem ser corretas se não se limitarem
aos interesses de “seu” país, “sua própria pátria”, “seu próprio” proletariado,
mas, pelo contrário, se, tendo em conta as condições e a situação do seu pró-
prio país, fazem dos interesses do proletariado internacional, dos interesses
da revolução nos outros países, a pedra angular, ou seja, se, em essência, em
espírito, são internacionalistas, se fizerem “o máximo possível em um (seu
próprio) país pelo desenvolvimento, apoio e despertar da revolução em todos
os países” (ver o livro de Lenin “A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky”).
c) A adoção, como ponto de partida, do repúdio a todo doutrinarismo (di-
reita e esquerda) na mudança de estratégia e tática, na elaboração de novos
planos estratégicos e linhas táticas (Kautsky, Axelrod, Bogdanov, Bukharin),
repúdio ao contemplativo método e o método de citar textos e traçar para-
lelos históricos, planos artificiais e fórmulas sem vida (Axelrod, Plekhanov);
reconhecimento de que é necessário manter o ponto de vista do marxismo,
não “deitar sobre ele”, que é necessário “mudar” o mundo, não “meramente
interpretá-lo”, que é necessário liderar o proletariado e ser a expressão cons-
ciente do processo inconsciente, e não “contemplar a retaguarda do proleta-
riado” e arrastar-se na cauda dos acontecimentos (ver “Espontaneidade e Cons-
ciência” de Lenin e a conhecida passagem do Manifesto Comunista de Marx
no sentido de que os comunistas são a seção mais previdente e avançada do
230 Obras Escolhidas
proletariado).
Ilustre cada um desses princípios com fatos do movimento revolucionário na
Rússia e no Ocidente, especialmente o segundo princípio e o terceiro.
10) Tarefas:
a) Ganhar a vanguarda do proletariado ao lado do comunismo (ou seja,
construir quadros, criar um Partido Comunista, elaborar o programa, os prin-
cípios da tática). Propaganda como principal forma de atividade.
b) Ganhar as grandes massas dos trabalhadores e dos trabalhadores geral-
mente para o lado da vanguarda (para levar as massas às posições de luta).
Principal forma de atividade – ação prática pelas massas como um prelúdio
para batalhas decisivas.
11) Regras:
a) Domine todas as formas de organização do proletariado sem exceção
e todas as formas (campos) do movimento, da luta. (Formas de movimento:
parlamentar e extraparlamentar, legal e ilegal.)
b) Aprender a adaptar-se a mudanças rápidas de algumas formas de movi-
mento para outras, ou complementar algumas formas com outras; aprender
a combinar formas legais com formas ilegais, parlamentares e extraparlamen-
tares (exemplo: a rápida transição dos bolcheviques das formas legais para as
ilegais em julho de 1917; combinação do movimento extraparlamentar com
ação na Duma durante os eventos de Lena).
12)Estratégia e táticas do Partido Comunista antes e depois de assumir o poder. Qua-
tro recursos específicos.
a) A característica mais importante da situação que surgiu na Europa em
geral, e na Rússia em particular, após a Revolução de Outubro, foi a ruptura
da frente social internacional (como resultado da vitória sobre a burguesia
russa) na região da Rússia levada a cabo pelo proletariado russo (ruptura com
o imperialismo, publicação dos tratados secretos, guerra civil em vez de guerra
imperialista, apelo à confraternização das tropas, apelo aos operários para
que se levantem contra os seus governos). Essa ruptura marcou uma virada
na história mundial, pois ameaçou diretamente todo o edifício do imperia-
lismo internacional e mudou radicalmente a relação das forças em conflito
no Ocidente em favor da classe trabalhadora da Europa. Isso significou que
o proletariado russo e seu Partido passaram de uma força nacional para uma
força internacional, e sua tarefa anterior de derrubar sua própria burguesia
nacional foi substituída pela nova tarefa de derrubar a burguesia internaci-
onal. Visto que a burguesia internacional, pressentindo o perigo mortal, se
impôs a tarefa imediata de encerrar a brecha russa e concentrou suas forças
não engajadas (reservas) contra a Rússia Soviética, esta última não pôde, por
sua vez, deixar de concentrar todas as suas forças para a defesa, e foi obrigada
a atrair sobre si o golpe principal da burguesia internacional. Tudo isso fa-
cilitou enormemente a luta que os proletários ocidentais travavam contra sua
própria burguesia e aumentou em dez vezes sua simpatia pelo proletariado
russo como lutador de vanguarda do proletariado internacional.
Assim, o cumprimento da tarefa de derrubar a burguesia em um país levou
J. V. Stalin 231
191Essa sinopse foi usada pelo autor em seu panfleto “Os Fundamentos do Leninismo”, publicado
em 1924. A parte I da sinopse foi usada para o artigo “Sobre a Questão da Estratégia e Táticas dos
Comunistas Russos”, publicado em 1923. Algumas das teses da sinopse foram usadas pelo autor para
o artigo “O partido antes e depois de tomar o poder”, publicado em agosto de 1921.
234 Obras Escolhidas
1. Os eventos do Lena
bro de 1910 a 22 de abril de 1912, primeiro semanalmente e depois duas ou três vezes por semana.
Estava sob a orientação ideológica de V. I. Lenin, que regularmente enviava artigos para ele do exte-
rior. Teve como olaboradores regulares nomes como V. M. Molotov; M. S. Olminsky, N. G. Poletayev,
N. N. Baturin, K. S. Yeremeyev e outros. Contribuições também foram recebidas de Maxim Gorky.
Na primavera de 1912, quando Stalin estava em São Petersburgo, o jornal saiu sob sua direção e ele
escreveu uma série de artigos para ele. A circulação de edições individuais do jornal atingiu 50.000
a 60.000. O Zvezda abriu caminho para a publicação do diário bolchevique Pravda. Em 22 de abril
J. V. Stalin 235
“Nós vivemos! Nosso sangue escarlate ferve com o fogo da força não gasta...”. O
surgimento de um novo movimento revolucionário era evidente. Foi nas ondas
desse movimento que nasceu o jornal popular Pravda.
2. A fundação do Pravda
de 1912, o governo tsarista suprimiu o Zvezda. Foi sucedido por Nevskaya Zvezda, cuja publicação
continuou até outubro de 1912.
236 Obras Escolhidas
Relatório emitido ao Primeiro Congresso dos Sovietes da União das Repúblicas Socialis-
tas Soviéticas194
Em seu artigo “Às Raízes” (Pravda, nº 98), Ingulov abordou a importante ques-
tão da importância da imprensa para o Estado e o Partido. Evidentemente, para
reforçar o seu ponto de vista, referiu-se ao relatório de organização do Comitê
Central, onde diz que a imprensa “estabelece um vínculo imperceptível entre o
Partido e a classe operária, vínculo tão forte como qualquer aparelho de trans-
missão de massa”, que “a imprensa é a arma mais poderosa por meio da qual o
Partido fala diariamente, de hora em hora, à classe trabalhadora”. Mas em sua
tentativa de resolver o problema, Ingulov cometeu dois erros: primeiro, ele dis-
torceu o significado da passagem do relatório do Comitê Central; em segundo
lugar, perdeu de vista o papel muito importante que a imprensa desempenha
como organizadora. Penso que, dada a importância da pergunta, devemos dizer
uma ou duas palavras sobre estes erros.
1. O significado do relatório não é que o papel do Partido se limite a falar
à classe operária, ao passo que o Partido deve conversar e não apenas falar com
ela.
Esse contraste da fórmula “falar com” com a fórmula “conversar com” nada
mais é do que mero malabarismo. Na prática, os dois constituem um todo indis-
solúvel, expresso na interação contínua entre o leitor e o escritor, entre o Partido
e a classe trabalhadora, entre o Estado e as massas trabalhadoras. Isso tem acon-
tecido desde o início do partido proletário de massas, desde a época do velho
Iskra. Ingulov está errado ao pensar que essa interação começou apenas alguns
anos depois que a classe trabalhadora assumiu o poder na Rússia. O ponto cen-
tral da passagem citada do relatório do Comitê Central não está em “falar”, mas
no fato de que a imprensa “estabelece um elo entre o Partido e a classe traba-
lhadora”, um elo “tão forte quanto qualquer transmissão de massa. aparelho”.
O ponto principal da passagem está na importância organizacional da imprensa.
É precisamente por isso que a imprensa, como uma das correias de transmissão
entre o Partido e a classe operária, foi incluída no relatório de organização do Co-
mitê Central. Ingulov não conseguiu entender a passagem e involuntariamente
distorceu seu significado.
2. Ingulov enfatiza o papel da imprensa na agitação e na denúncia de abusos,
acreditando que a função da imprensa periódica se limita a isso. Ele se refere
a uma série de abusos em nosso país e argumenta que a exposição na imprensa,
a agitação por meio dela, é a “raiz” do problema. É claro, no entanto, que por
mais importante que seja o papel agitador da imprensa, no momento atual seu
papel organizativo é o fator mais vital em nosso trabalho de construção. A ques-
tão não é só que um jornal deve agitar e expor, mas principalmente que deve ter
uma ampla rede de colaboradores, agentes e correspondentes em todo o país, em
todos os centros industriais e agrícolas, para que os assuntos corram do Partido
240 Obras Escolhidas
Como é que um dos nossos principais jornalistas perdeu de vista esta impor-
tante função? Ontem, um camarada disse-me que, aparentemente, para além
do objetivo de resolver o problema da imprensa, Ingulov tinha outro objetivo,
ulterior, nomeadamente, “bater em alguém e fazer bem a outrem”. Eu mesmo
não me comprometo a dizer que assim seja, e estou longe de negar a quem quer
que seja o direito de se propor objetivos ulteriores além dos imediatos. Mas não
se deve permitir que objetivos ulteriores obscureçam por um momento a tarefa
imediata de revelar o papel organizador da imprensa em nosso Partido e nos
assuntos de Estado.
Pravda, nº 99.
6 de maio de 1923
242 Obras Escolhidas
Lenin
28 de janeiro de 1924
A águia da montanha
Conheci Lenin pela primeira vez em 1903. É verdade que não foi um encon-
tro pessoal, mas por correspondência. Deixou-me uma impressão indelével, que
nunca me abandonou ao longo de todo o meu trabalho no Partido. Eu estava
exilado na Sibéria na época. Meu conhecimento das atividades revolucionárias
de Lenin desde o final dos anos 90, e especialmente depois de 1901, após o sur-
gimento do Iskra197 , me convencera de que em Lenin tínhamos um homem de
extraordinário calibre. Naquela época, eu não o via apenas como um líder do
Partido, mas como seu verdadeiro fundador, pois só ele compreendia a essência
interna e as necessidades urgentes de nosso Partido. Quando o comparei com
os outros líderes de nosso Partido, sempre me pareceu que ele estava cabeça e
ombros acima de seus colegas – Plekhanov, Martov, Axelrod e os outros; que, em
comparação com eles, Lenin não era apenas um dos líderes, mas um líder do mais
alto escalão, uma águia da montanha, que não conheceu o medo da luta e que
corajosamente conduziu o Partido pelos caminhos inexplorados do revolucioná-
rio russo movimento. Essa impressão tomou conta de mim tão profundamente
que me senti impelido a escrever sobre isso a um amigo meu que vivia como exi-
lado político no exterior, pedindo-lhe que me fornecesse sua opinião. Algum
tempo depois, quando já estava no exílio na Sibéria – isso foi no final de 1903
-, recebi uma resposta entusiasmada de meu amigo e uma carta simples, mas
profundamente expressiva de Lenin, a quem, descobri, meu amigo tinha mos-
trado minha carta. A nota de Lenin era comparativamente curta, mas continha
uma crítica ousada e destemida do trabalho prático de nosso Partido e um relato
notavelmente claro e conciso de todo o plano de trabalho do Partido no futuro
imediato. Só Lenin poderia escrever sobre as coisas mais complexas de forma tão
simples e clara, tão concisa e ousada, que cada frase não falava, mas soava como
197
O Iskra (Centelha) foi o primeiro jornal marxista ilegal totalmente russo, fundado por V.I Lenin
em dezembro de 1900. Era publicado no exterior e trazido secretamente para a Rússia.
J. V. Stalin 243
um tiro de rifle. Esta carta simples e ousada fortaleceu-me ainda mais em minha
opinião de que Lenin era a águia da montanha de nosso Partido. Não posso me
perdoar por ter, por hábito de um velho trabalhador da clandestinidade, envi-
ado às chamas esta carta de Lenin, como muitas outras. Meu conhecimento com
Lenin data dessa época.
Modéstia
Encontrei Lenin pela primeira vez em dezembro de 1905 na conferência bol-
chevique em Tammerfors (Finlândia). Eu esperava ver a águia da montanha do
nosso Partido, o grande homem, grande não só politicamente, mas, se quiserem,
fisicamente, porque na minha imaginação eu havia retratado Lenin como um
gigante, imponente e imponente. Qual foi, então, minha decepção ao ver um
homem de aparência mais comum, altura abaixo da média, de maneira alguma,
literalmente de forma alguma, distinguível dos mortais comuns.
É considerado comum que um “grande homem” chegue tarde às reuniões
para que a assembleia espere seu aparecimento com a respiração suspensa; e en-
tão, pouco antes de o “grande homem” entrar, o sussurro de advertência sobe:
“Cala-te!... Silêncio! ele está vindo”. Este ritual não me parece supérfluo, por-
que impressiona, inspira respeito. O que, então, foi minha decepção ao saber
que Lenin havia chegado à conferência antes dos delegados, acomodado em al-
gum lugar em um canto e estava mantendo uma conversa despretensiosa, uma
conversa muito comum com os delegados mais simples da conferência. Não vou
esconder de você que, naquela época, isso me parecia uma espécie de violação de
certas regras essenciais.
Só mais tarde é que percebi que essa simplicidade e modéstia, esse esforço
para não ser observado, ou, pelo menos, para não se destacar e não enfatizar sua
alta posição, essa característica era um dos pontos fortes de Lenin como o novo
líder dos novos. massas, das massas simples e comuns da “base” da humanidade.
Força da Lógica
Os dois discursos que Lenin proferiu nesta conferência foram notáveis: um
sobre a situação atual e o outro sobre a questão agrária. Infelizmente, eles não
foram preservados. Eles foram inspiradores e levaram toda a conferência a um
nível de entusiasmo tempestuoso. O extraordinário poder de convicção, a simpli-
cidade e clareza de argumentação, as frases breves e facilmente compreendidas,
a ausência de afetação, de gestos vertiginosos e frases teatrais visando o efeito –
tudo isso fazia dos discursos de Lenin um contraste favorável com os discursos
dos oradores usualmente “parlamentares”.
Mas o que me cativou na época não foi esse aspecto dos discursos de Lenin.
Fui cativado por aquela força irresistível de lógica neles que, embora um tanto
concisa, ganhou um controle firme sobre o público, aos poucos eletrificou-o e
então, como se poderia dizer, o subjugou completamente. Lembro-me de que
muitos dos delegados disseram: “A lógica dos discursos de Lenin é como um
tentáculo poderoso que te enrosca e te segura como um vício e de cujas garras
244 Obras Escolhidas
Nada de choro
Sem ostentação
de 1907.
J. V. Stalin 245
Fidelidade ao Princípio
Lenin naquela época era o único, ou quase o único, a travar uma luta determi-
nada contra o social-chauvinismo e o social-pacifismo, a denunciar a traição dos
Guesdes e Kautskys e a estigmatizar a indiferença entre “revolucionários”. Le-
nin sabia que era apoiado apenas por uma minoria insignificante, mas para ele
este não era um momento decisivo, pois sabia que a única política correta com
futuro era a política de internacionalismo consistente, que uma política baseada
em princípios é a apenas política correta.
Sabemos que também nesta luta por uma nova Internacional, Lenin foi o
vencedor.
“Uma política baseada em princípios é a única política correta” – esta foi a fór-
mula por meio da qual Lenin assumiu novas posições “inexpugnáveis” de assalto
e conquistou os melhores elementos do proletariado para o marxismo revoluci-
onário.
Fé nas Massas
Teóricos e líderes de partidos, homens que conhecem a história das nações e
estudaram a história das revoluções do começo ao fim, às vezes são atingidos por
uma doença vergonhosa. Esta doença é chamada de medo das massas, descrença
no poder criativo das massas. Isso às vezes faz surgir nos líderes uma espécie
de atitude aristocrática para com as massas, que, embora não sejam versadas na
história das revoluções, estão destinadas a destruir a velha ordem e construir a
nova. Esse tipo de atitude aristocrática se deve ao medo de que os elementos se
soltem, que as massas “destruam demais”; é devido ao desejo de desempenhar o
papel de um mentor que tenta ensinar as massas com os livros, mas que é avesso
a aprender com as massas.
Lenin era a própria antítese de tais líderes. Não conheço nenhum outro re-
volucionário que tivesse uma fé tão profunda no poder criativo do proletariado e
na eficácia revolucionária de seu instinto de classe como Lenin. Não conheço ne-
nhum outro revolucionário que pudesse açoitar os críticos presunçosos do “caos
da revolução” e do “motim de ações não autorizadas das massas” tão implacavel-
mente como Lenin. Lembro-me de que quando, no decorrer de uma conversa,
um camarada disse que “a revolução deve ser seguida pela ordem normal das
coisas”, disse Lenin sarcasticamente: “É uma pena que as pessoas que querem
ser revolucionárias esqueçam que a ordem mais normal das coisas na história é a
ordem revolucionária das coisas”.
Daí o desprezo de Lenin por todos que desprezavam as massas e tentavam
ensiná-las pelos livros. E, portanto, o preceito constante de Lenin: aprender com
as massas, tentar compreender suas ações, estudar cuidadosamente a experiência
prática da luta das massas.
Fé no poder criativo das massas – esta foi a característica das atividades de
Lenin que lhe permitiu compreender o processo espontâneo e dirigir seu movi-
mento para o canal da revolução proletária.
J. V. Stalin 247
O gênio da revolução
Lenin nasceu para a revolução. Ele foi, na verdade, o gênio dos despontares
revolucionários e o maior mestre da arte da liderança revolucionária. Nunca se
sentiu tão livre e feliz como em uma época de convulsões revolucionárias. Não
quero dizer com isso que Lenin aprovasse igualmente todas as convulsões revolu-
cionárias, ou que fosse a favor de surtos revolucionários em todos os momentos
e sob todas as circunstâncias. De modo nenhum. O que quero dizer é que nunca
o gênio do pensamento de Lenin foi exibido de forma tão completa e distinta
como em uma época de surtos revolucionários. Em tempos de revolução, ele li-
teralmente floresceu, tornou-se um vidente, adivinhou o movimento das classes
e os prováveis ziguezagues da revolução, vendo-os como se estivessem na palma
da sua mão. Era com razão que se costumava dizer nos círculos do nosso Partido:
“Lenin nada na maré da revolução como um peixe na água”.
Daí a clareza “surpreendente” dos slogans táticos de Lenin e a ousadia “de
tirar o fôlego” de seus planos revolucionários.
Recordo dois fatos que são particularmente característicos desse traço de Le-
nin.
Primeiro fato. Foi no período imediatamente anterior à Revolução de Outu-
bro, quando milhões de operários, camponeses e soldados, impulsionados pela
crise na retaguarda e na frente, exigiam paz e liberdade; quando os generais e a
burguesia trabalhavam por uma ditadura militar em prol da “guerra até o fim”;
quando toda a chamada “opinião pública” e todos os chamados “partidos socialis-
tas” eram hostis aos bolcheviques e os rotulavam como “espiões alemães”; quando
Kerensky estava tentando – já com algum sucesso – levar o Partido Bolchevique
para a clandestinidade; e quando os exércitos ainda poderosos e disciplinados da
coalizão austro-alemã confrontaram nossos exércitos cansados e em desintegra-
ção, enquanto os “socialistas” da Europa Ocidental viviam em feliz aliança com
seus governos em prol da “guerra para a vitória completa”.
O que significava começar um levante em tal momento? Começar um levante
em tal situação significava apostar tudo. Mas Lenin não temia o risco, pois sabia,
ele viu com seu olho profético, que uma revolta era inevitável, que iria vencer;
que um levante na Rússia abriria caminho para o fim da guerra imperialista,
que despertaria as massas do Ocidente cansadas da guerra, que transformaria a
guerra imperialista em uma guerra civil; que o levante daria início a uma Re-
pública dos sovietes e que a República dos sovietes serviria de baluarte para o
movimento revolucionário em todo o mundo.
Sabemos que a visão revolucionária de Lenin foi posteriormente confirmada
com exatidão incomparável.
Segundo fato. Foi nos primeiros dias da Revolução de Outubro, quando o
Conselho dos Comissários do Povo estava tentando obrigar o General Dukho-
nin, o rebelde Comandante-em-Chefe, a encerrar as hostilidades e abrir negoci-
ações para um armistício com os alemães. Lembro-me de que Lenin, Krylenko
(o futuro comandante-chefe) e eu fomos ao quartel-general do Estado-Maior em
Petrogrado para negociar com Dukhonin por fio direto. Foi um momento horrí-
vel. Dukhonin e o Quartel General recusaram-se categoricamente a obedecer à
248 Obras Escolhidas
opressão, mas esses povos, por sua vez, libertam a nossa República dos sovietes
das intrigas e dos ataques dos inimigos da classe trabalhadora por sua devoção
suprema à República dos sovietes e seus prontidão para fazer sacrifícios por ela.
É por isso que o camarada Lenin nos exortou incansavelmente à necessidade da
união voluntária dos povos de nosso país, à necessidade de sua cooperação fra-
terna no âmbito da União das Repúblicas.
Nos deixando, o camarada Lenin nos confiou a tarefa de fortalecer e expandir
a União das Repúblicas. Nós o reverenciamos, camarada Lenin. Que este pedido,
também, cumpramos com honra!
A terceira base da ditadura do proletariado é o nosso Exército Vermelho e a
nossa Marinha Vermelha. Mais de uma vez, Lenin nos evidenciou que a trégua
que tínhamos conquistado dos Estados capitalistas poderia ser curta. Mais de
uma vez Lenin nos mostrou que o fortalecimento do Exército Vermelho e a me-
lhoria de sua condição é uma das tarefas mais importantes do nosso Partido. Os
eventos relacionados com o ultimato de Curzon e a crise na Alemanha201 mais
uma vez confirmaram que, como sempre, Lenin estava certo. Juremos então, ca-
maradas, que não pouparemos esforços para fortalecer nosso Exército Vermelho
e nossa Marinha Vermelha.
Como uma grande rocha, nosso país se destaca em meio a um oceano de
Estados burgueses. Onda após onda se choca contra ele, ameaçando submer-
gir e levar embora. Mas a rocha permanece inabalável. Onde está sua força?
Não apenas no fato de que nosso país repousa sobre uma aliança de operários e
camponeses, que encarna uma união de nacionalidades livres, que é protegido
pelo poderoso braço do Exército Vermelho e da Marinha Vermelha. A força, a
firmeza, a solidez do nosso país devem-se à profunda simpatia e ao apoio infalí-
vel que encontra no coração dos trabalhadores e camponeses de todo o mundo.
Os trabalhadores e camponeses de todo o mundo querem preservar a República
dos sovietes como uma flecha disparada pela mão segura do camarada Lenin no
campo do inimigo, como o pilar de suas esperanças de libertação da opressão e
da exploração, como um farol confiável apontando o caminho para sua emanci-
pação. Eles querem preservá-lo e não permitirão que os proprietários de terras
e capitalistas o destruam. É aí que reside a nossa força. É aí que reside a força
dos trabalhadores de todos os países. E é aí que reside a fraqueza da burguesia
em todo o mundo.
Lenin nunca considerou a República dos sovietes um fim em si mesma. Sem-
pre o considerou um elo essencial para o fortalecimento do movimento revolu-
cionário nos países do Ocidente e do Oriente, um elo essencial para facilitar a
vitória dos trabalhadores de todo o mundo sobre o capitalismo. Lenin sabia que
essa era a única concepção correta, tanto do ponto de vista internacional quanto
do ponto de vista da preservação da própria República dos sovietes. Lenin sabia
que só isso poderia incendiar os corações dos trabalhadores de todo o mundo com
a determinação de travar as batalhas decisivas por sua emancipação. É por isso
201 Se refere à crise econômica e política na Alemanha em 1923. Um movimento revolucionário de
massa espalhou-se pelo país, com governos operários sendo estabelecidos na Saxônia e na Turíngia,
assim como um levante armado em Hamburgo. Após a supressão do movimento revolucionário na
Alemanha, a reação burguesa se intensificou em toda a Europa, assim como o perigo de uma nova
intervenção contra a República Soviética.
252 Obras Escolhidas
Trotskismo ou Leninismo?
26 de novembro de 1924
período de outubro. Sim, é verdade, Trotsky, de fato, lutou bem em outubro; mas
Trotsky não foi o único que lutou bem no período de outubro. Mesmo pessoas
como os socialistas-revolucionários de esquerda, que então estavam ao lado dos
bolcheviques, também lutaram bem. Em geral, devo dizer que no período de
uma revolta vitoriosa, quando o inimigo está isolado e a revolta está crescendo,
não é difícil lutar bem. Nesses momentos, até as pessoas atrasadas se tornam
heróis.
A luta proletária não é, entretanto, um avanço ininterrupto, uma cadeia inin-
terrupta de vitórias. A luta proletária também tem suas provações, suas derrotas.
O genuíno revolucionário não é aquele que mostra coragem no período de uma
revolta vitoriosa, mas aquele que, enquanto luta bem durante o avanço vitori-
oso da revolução, também mostra coragem quando a revolução está em retirada,
quando o proletariado sofre a derrota; que não perde a cabeça e não titubeia
quando a revolução sofre reveses, quando o inimigo alcança o sucesso; que não
entra em pânico nem se desespera quando a revolução está em um período de
retrocesso. Os socialistas-revolucionários de esquerda não lutaram mal no pe-
ríodo de outubro e apoiaram os bolcheviques. Mas quem não sabe que aqueles
“bravos” lutadores entraram em pânico no período de Brest, quando o avanço
do imperialismo alemão os levou ao desespero e à histeria? É um fato muito
triste, mas indubitável que Trotsky, que lutou bem no período de outubro, não
teve, no período de Brest, no período em que a revolução sofreu reveses tem-
porários, a coragem de mostrar firmeza suficiente naquele momento difícil e
abster-se de seguir os passos dos socialistas-revolucionários de esquerda. Sem
dúvida, aquele momento foi difícil; era preciso mostrar uma coragem excepcio-
nal e uma frieza imperturbável para não desanimar, para recuar a tempo, para
aceitar a paz a tempo, para retirar o exército proletário do alcance dos golpes do
imperialismo alemão, para preservar as reservas camponesas e, depois obtendo
uma trégua dessa maneira, para atacar o inimigo com força renovada. Infeliz-
mente, descobriu-se que Trotsky não tinha essa coragem e firmeza revolucionária
naquele momento difícil.
Na opinião de Trotsky, a principal lição da revolução proletária é “não se
desesperar” durante o mês de outubro. Isso está errado, pois a afirmação de
Trotsky contém apenas uma partícula da verdade sobre as lições da revolução.
Toda a verdade sobre as lições da revolução proletária é “não se desesperar”, não
só quando a revolução está avançando, mas também quando está em retirada,
quando o inimigo está ganhando o controle e a revolução está sofrendo reveses.
A revolução não terminou em outubro. Outubro foi apenas o início da revolu-
ção proletária. É ruim ter medo quando a maré da insurreição está subindo;
mas é pior quando a revolução está passando por severas provações depois que o
poder foi conquistado. Manter o poder no dia seguinte da revolução não é me-
nos importante do que capturá-lo. Se Trotsky se assustou durante o período de
Brest, quando nossa revolução passava por severas provações, quando era quase
uma questão de “entregar” o poder, ele deveria saber que os erros cometidos por
Kamenev e Zinoviev em outubro são irrelevantes aqui.
É assim que as coisas estão com as lendas sobre o levante de outubro.
J. V. Stalin 257
a) a derrubada do tsarismo;
b) a formação do Governo Provisório (ditadura da burguesia);
c) o surgimento de sovietes de deputados operários e soldados (ditadura
do proletariado e do campesinato);
d) dupla potência;
e) a manifestação de abril;
f) a primeira crise de poder.
O traço característico deste período é o fato de existirem juntas, lado a lado
e simultaneamente, a ditadura da burguesia e a ditadura do proletariado e do
campesinato; este confia no primeiro, acredita que luta pela paz, cede voluntari-
amente o poder à burguesia e, assim, torna-se um apêndice da burguesia. Ainda
não há conflitos graves entre as duas ditaduras. Por outro lado, existe o “Comitê
de Contato”203 .
Este foi o maior ponto de virada na história da Rússia e um ponto de vi-
rada sem precedentes na história do nosso Partido. A velha plataforma pré-
revolucionária de derrubada direta do governo era clara e definitiva, mas não
mais adequada às novas condições de luta. Agora não era mais possível ir direto
203 O “Comitê de Contato”, consistindo de Chkheidze, Steklov, Sukhanov, Filippovsky e Skobelev (e
posteriormente Chernov e Tsereteli), foi criado pelo Comitê Executivo Revolucionário Menchevique
e Socialista do Soviete de Deputados dos Trabalhadores e Soldados de Petrogrado em 7 de março,
1917, com o objetivo de estabelecer contato com o Governo Provisório, de “influenciá-lo” e “contro-
lar” suas atividades. Na verdade, o “Comitê de Contato” ajudou a levar a cabo a política burguesa
do Governo Provisório e impediu as massas dos trabalhadores de travar uma luta revolucionária ativa
para transferir todo o poder aos Sovietes. O “Comitê de Contato” existiu até maio de 1917, quando
representantes dos Mencheviques e Socialistas-Revolucionários ingressaram no governo provisório.
258 Obras Escolhidas
para a derrubada do governo, pois este estava ligado aos sovietes, então sob a in-
fluência dos defensores, e o Partido teria que fazer guerra tanto contra o governo
quanto contra os sovietes, uma guerra que estaria além de suas forças. Nem foi
possível seguir uma política de apoio ao Governo Provisório, pois era o governo
do imperialismo. Nas novas condições de luta, o Partido teve que adotar uma
nova orientação. O Partido (sua maioria) tateou seu caminho em direção a essa
nova orientação. Adotou a política de pressão sobre o Governo Provisório através
dos sovietes sobre a questão da paz e não se aventurou a avançar imediatamente
da velha palavra de ordem da ditadura do proletariado e do campesinato para
a nova palavra de ordem de poder para os sovietes. O objetivo dessa política
intermediária era permitir aos sovietes discernir a real natureza imperialista do
governo provisório com base nas questões concretas da paz e, dessa forma, arran-
car os sovietes do governo provisório. Mas essa foi uma posição profundamente
errada, pois deu origem a ilusões pacifistas, fomentou o defensor e atrapalhou
a educação revolucionária das massas. Naquela época, compartilhei esta posição
equivocada com outros camaradas do Partido e a abandonei totalmente só em
meados de abril, quando me associei às teses de Lenin. Uma nova orientação era
necessária. Esta nova orientação foi dada ao Partido por Lenin, nas suas célebres
Teses de Abril. Não tratarei dessas teses, pois são conhecidas por todos. Houve
alguma divergência entre o Partido e Lenin naquela época? Sim foram. Quanto
tempo duraram essas desavenças? Não mais de duas semanas. A Conferência
Municipal da organização de Petrogrado204 (na segunda quinzena de abril), que
adotou as teses de Lenin, marcou um ponto de inflexão no desenvolvimento do
nosso Partido. A Conferência Pan-Russa de abril205 (no final de abril) mera-
mente completou em uma escala totalmente russa o trabalho da Conferência de
Petrogrado, reunindo nove décimos do Partido em torno desta posição partidária
unida.
Agora, sete anos depois, Trotsky se regozija maliciosamente com as desaven-
ças passadas entre os bolcheviques e as descreve como uma luta travada como se
houvesse quase dois partidos dentro do bolchevismo. Mas, em primeiro lugar,
Trotsky vergonhosamente exagera e infla a questão, pois o Partido Bolchevique
viveu essas divergências sem o menor choque. Em segundo lugar, nosso Partido
seria uma casta e não um partido revolucionário se não permitisse diferentes
matizes de opinião em suas fileiras. Além disso, é sabido que já existiram di-
vergências entre nós ainda antes, por exemplo, no período da Terceira Duma,
mas não abalaram a unidade do nosso Partido. Em terceiro lugar, não será im-
próprio perguntar qual era então a posição do próprio Trotsky, que agora se
vangloria com tanto entusiasmo dos desentendimentos anteriores entre os bol-
cheviques. Lentsner, o chamado editor das obras de Trotsky, nos assegura que as
cartas de Trotsky da América (março) “anteciparam totalmente” as Cartas de Le-
nin de longe (março), que serviram de base para as teses de abril de Lenin. Isso
é o que ele diz: “totalmente antecipado”. Trotsky não se opõe a essa analogia;
206 Nota original de Stalin: Entre essas lendas deve ser incluída também a história muito difundida
de que Trotsky foi o “único” ou “principal organizador” das vitórias nas frentes da guerra civil.
Devo declarar, camaradas, no interesse da verdade, que esta versão está totalmente em desacordo
com os fatos. Estou longe de negar que Trotsky desempenhou um papel importante na guerra civil.
Mas devo declarar enfaticamente que a grande honra de ser o organizador de nossas vitórias não
pertence a indivíduos, mas ao grande corpo coletivo de trabalhadores avançados em nosso país, o
Partido Comunista Russo. Talvez não seja impróprio citar alguns exemplos. Você sabe que Kolchak
e Denikin eram considerados os principais inimigos da República Soviética. Você sabe que nosso país
respirava livremente somente depois que esses inimigos foram derrotados. Bem, a história mostra
que ambos os inimigos, ou seja, Kolchak e Denikin, foram derrotados por nossas tropas, apesar dos
planos de Trotsky. Julguem por si mesmos. 1) Kolchak. Estamos no verão de 1919. Nossas tropas
avançam contra Kolchak e operam perto de Ufa. Uma reunião do Comitê Central é realizada. Trotsky
propõe que o avanço seja interrompido ao longo da linha do rio Belaya (perto de Ufa), deixando os
Urais nas mãos de Kolchak, e que parte das tropas seja retirada da Frente Oriental e transferida para
a Frente Sul. Um acalorado debate ocorre. O Comitê Central discorda de Trotsky, sendo de opinião
que os Urais, com suas fábricas e rede ferroviária, não devem ser deixados nas mãos de Kolchak,
pois este poderia facilmente se recuperar ali organizar uma força forte e chegar novamente ao Volga;
Kolchak deve primeiro ser conduzido para além da cordilheira dos Urais para as estepes siberianas,
e somente depois que isso for feito as forças devem ser transferidas para o Sul. O Comitê Central
rejeita o plano de Trotsky. Trotsky entrega sua renúncia. O Comitê Central se recusa a aceitá-lo.
O comandante-chefe Vatsetis, que apoiava o plano de Trotsky, renuncia. Seu lugar é ocupado por
um novo comandante em chefe, Kamenev. A partir desse momento, Trotsky deixa de tomar parte
direta nos assuntos da Frente Oriental. 2) Denikin. Isso foi no outono de 1919. A ofensiva contra
Denikin não está progredindo com sucesso. O “anel de aço” em torno de Mamontov (o ataque de
Mamontov) está obviamente desmoronando. Denikin captura Kursk. Denikin está se aproximando
de Orel. Trotsky é convocado da Frente Sul para participar de uma reunião do Comitê Central. O
Comitê Central considera a situação alarmante e decide enviar novos chefes militares à Frente Sul e
retirar Trotsky. Os novos líderes militares exigem “nenhuma intervenção” de Trotsky nos assuntos da
Frente Sul. Trotsky deixa de tomar parte direta nos assuntos da Frente Sul. As operações na Frente
Sul, até a captura de Rostov-o-Don e Odessa por nossas tropas, prosseguem sem Trotsky. Que alguém
tente refutar esses fatos.
260 Obras Escolhidas
gin).
Trotsky está em uma posição ainda pior ao lidar com a posição que Lenin as-
sumiu sobre a questão da forma do levante. De acordo com Trotsky, parece que
a visão de Lenin era que o Partido deveria tomar o poder em outubro “indepen-
dentemente e pelas costas do Soviete”. Mais tarde, criticando esse absurdo, que
ele atribui a Lenin, Trotsky “corta travessuras” e finalmente profere a seguinte
declaração condescendente:
“Isso teria sido um erro”. Trotsky está aqui proferindo uma falsidade sobre
Lenin, ele está deturpando as opiniões de Lenin sobre o papel dos sovietes na
revolta. Uma pilha de documentos pode ser citada, mostrando que Lenin propôs
que o poder fosse tomado por meio dos sovietes, seja Petrogrado ou Soviete de
Moscou, e não pelas costas dos mesmos. Por que Trotsky teve que inventar essa
lenda mais do que estranha sobre Lenin? Nem Trotsky está em melhor posição
quando “analisa” a posição assumida pelo Comitê Central e por Lenin sobre a
questão da data do levante. Relatando a famosa reunião do Comitê Central de
10 de outubro, Trotsky afirma que naquela reunião “foi aprovada uma resolução
no sentido de que o levante ocorresse o mais tardar em 15 de outubro”. Disto,
parece que o Comitê Central fixou 15 de outubro como a data do levante e então
ele mesmo violou essa decisão ao adiar a data do levante para 25 de outubro.
Isso é verdade? Não, não é. Durante esse período, o Comitê Central aprovou
apenas duas resoluções sobre o levante – uma em 10 de outubro e outra em 16
de outubro. Leiamos essas resoluções.
A resolução do Comitê Central de 10 de outubro:
O Comitê Central reconhece que a posição internacional da revolução russa (o motim na
marinha alemã, que é uma manifestação extrema do crescimento em toda a Europa da re-
volução socialista mundial, e a ameaça de paz208 entre os imperialistas com os objeto de
estrangulamento da revolução na Rússia), bem como a situação militar (a decisão indubitá-
vel da burguesia russa e Kerensky e companhia de render Petrogrado aos alemães), e o fato
de que o partido proletário ganhou a maioria nos sovietes. Tudo isso, levado em conjunto
com a revolta camponesa e a virada da confiança popular em relação ao nosso Partido (as
eleições em Moscou), e, finalmente, os óbvios preparativos para um segundo caso Kornilov
(a retirada das tropas de Petrogrado, o envio de cossacos a Petrogrado, os arredores de Minsk
por cossacos, etc.) – tudo isso coloca um levante armado na ordem do dia (...) Considerando,
portanto, que um levante armado é inevitável, e que o tempo para isso é totalmente opor-
tuno, o Comitê Central instrui todas as organizações do Partido a se orientarem de acordo e
a discutir e decidir todas as questões práticas (o Congresso dos Sovietes do Norte Região, a
retirada das tropas de Petrogrado, as ações das pessoas em Moscou e Minsk, etc.) deste ponto
de vista.
nos livraremos deste caos’, disse eu a Vladimir Ilitch após cada visita ao Estado-
Maior. “Isso é evidentemente verdade, mas eles podem nos trair...”. “Vamos co-
locar um comissário para cada um deles”. “Dois seria melhor”, exclamou Lenin,
“E os mais fortes. Certamente deve haver comunistas fortes em nossas fileiras”.
“Foi assim que surgiu a estrutura do Conselho Militar Supremo”.
É assim que Trotsky escreve a história.
Por que Trotsky precisava dessas histórias farsantes e depreciativas a Lenin?
Era para exaltar V. I. Lenin, o líder do Partido? Não parece.
O Partido sabe que Lenin foi o maior marxista de nossos tempos, um pro-
fundo teórico e um revolucionário muito experiente, a quem qualquer traço de
blanquismo era estranho. Trotsky também aborda esse aspecto em seu livro. Mas
o retrato que ele pinta não é o do gigante Lenin, mas de um anão blanquista que,
nos dias de outubro, aconselha o Partido “a tomar o poder por suas próprias
mãos, independentemente e pelas costas do Soviete”. Já disse, porém, que não
há um traço de verdade nessa descrição.
Por que Trotsky precisava dessa imensa e gritante imprecisão? Não é uma
tentativa de desacreditar Lenin “só um pouco?”. Esses são os traços característicos
do novo trotskismo.
Qual é o perigo deste novo trotskismo? É que o trotskismo, devido a todo o
seu conteúdo interior, tem todas as chances de se tornar o centro e o ponto de
convergência dos elementos não proletários que se esforçam para enfraquecer,
para desintegrar a ditadura do proletariado.
Você vai perguntar: o que deve ser feito agora? Quais são as tarefas imedi-
atas do Partido em relação aos novos pronunciamentos literários de Trotsky? O
trotskismo está agindo agora para desacreditar o bolchevismo e minar seus fun-
damentos. É dever do Partido enterrar o trotskismo como tendência ideológica.
Fala-se de medidas repressivas contra a oposição e da possibilidade de cisão.
Isso é um absurdo, camaradas. Nosso partido é forte e poderoso. Não permitirá
nenhuma divisão. No que diz respeito às medidas repressivas, oponho-me vee-
mentemente a elas. O que precisamos agora não é de medidas repressivas, mas
de uma extensa luta ideológica contra o trotskismo renascente.
Não queríamos e não nos esforçávamos por essa discussão literária. O trots-
kismo está forçando isso sobre nós com seus pronunciamentos antileninistas.
Bem, estamos prontos, camaradas.
J. V. Stalin 271
ser reconciliada com a visão de Lenin de que a NEP nos permitirá “construir as
bases da economia socialista”? Como conciliar essa desesperança “permanente”,
por exemplo, com as seguintes palavras de Lenin:
O socialismo não é mais uma questão de futuro distante, ou uma imagem abstrata, ou um
ícone. Ainda mantemos nossa velha má opinião sobre os ícones. Arrastamos o socialismo
para a vida cotidiana e aqui devemos encontrar nosso caminho. Este é a tarefa de nossos
dias, tarefa de nossa época. Permitam-me concluir expressando a convicção de que, por mais
difícil que seja esta tarefa, por mais nova que seja em comparação com a anterior, e por mais
dificuldades que possa acarretar, nós devemos todos – não em um dia, mas no curso de vários
anos – todos nós juntos cumprir o que quer que aconteça para que a NEP Rússia se torne a
Rússia socialista. (Ver o Discurso em uma sessão plenária do Soviete de Moscou).
É claro que essas duas visões são incompatíveis e não podem ser reconciliadas
de forma alguma. A “revolução permanente” de Trotsky é o repúdio à teoria da
revolução proletária de Lenin e, inversamente, a teoria da revolução proletária
de Lenin é o repúdio da teoria da “revolução permanente”.
Falta de fé na força e nas capacidades de nossa revolução, falta de fé na força
e capacidade do proletariado russo – é isso que está na raiz da teoria da “revolu-
ção permanente”. Até agora, apenas um aspecto da teoria da “revolução perma-
nente” foi geralmente observado, a falta de fé nas potencialidades revolucionárias
do movimento camponês. Agora, para ser justo, isso deve ser complementado
por outro aspecto – a falta de fé na força e na capacidade do proletariado na
Rússia.
Que diferença há entre a teoria de Trotsky e a teoria menchevique comum de
que a vitória do socialismo em um país, e ainda em um país atrasado, é impossível
sem a vitória preliminar da revolução proletária “nos principais países da Europa
Ocidental”? Essencialmente, não há diferença.
Não pode haver dúvida alguma. A teoria da “revolução permanente” de
Trotsky é uma variedade do menchevismo.
Recentemente, diplomatas podres têm aparecido em nossa imprensa para ten-
tar difundir a teoria da “revolução permanente” como algo compatível com o le-
ninismo. Claro, dizem eles, essa teoria provou ser inútil em 1905; mas o erro que
Trotsky cometeu foi que ele correu muito à frente naquela época, na tentativa
de aplicar à situação de 1905 o que não poderia ser aplicado. Mas mais tarde,
dizem eles, em outubro de 1917, por exemplo, quando a revolução teve tempo de
amadurecer completamente, a teoria de Trotsky mostrou-se bastante apropriada.
Não é difícil adivinhar que o chefe desses diplomatas é Radek. Aqui, por favor,
está o que ele diz:
282 Obras Escolhidas
A guerra criou um abismo entre o campesinato, que lutava por conquistar a terra e a paz,
e os partidos pequeno-burgueses; a guerra colocou o campesinato sob a liderança da classe
trabalhadora e de sua vanguarda, o Partido Bolchevique. Isso tornou possível, não a ditadura
da classe trabalhadora e do campesinato, mas a ditadura da classe trabalhadora baseada no
campesinato. O que Rosa Luxemburgo e Trotsky avançaram contra Lenin em 1905 (ou seja,
“revolução permanente” – J. Stalin) provou, por um lado, na verdade, para ser a segunda fase
do desenvolvimento histórico.
um país deve considerar-se não como uma entidade autossuficiente, mas como
uma ajuda, como um meio para apressar a vitória do proletariado em todos os
países. Pois a vitória da revolução em um país, no caso presente a Rússia, não é
apenas o produto do desenvolvimento desigual e da decadência progressiva do
imperialismo, é ao mesmo tempo o início e a condição prévia para a revolução
mundial.
Sem dúvida, os caminhos de desenvolvimento da revolução mundial não são
tão claros como podem ter parecido anteriormente, antes da vitória da revolução
em um país, antes do surgimento do imperialismo desenvolvido, que é “a véspera
da revolução socialista”. Pois um novo fator surgiu: a lei do desenvolvimento de-
sigual dos países capitalistas, que opera sob as condições do imperialismo desen-
volvido, e que implica a inevitabilidade das colisões armadas, o enfraquecimento
geral da frente mundial do capital e a possibilidade de a vitória do socialismo em
cada país. Pois um novo fator surgiu: o vasto país soviético, situado entre o Oci-
dente e o Oriente, entre o centro da exploração financeira do mundo e a arena
da opressão colonial, um país que por sua própria existência está revolucionando
o mundo inteiro.
Todos esses são fatores (para não mencionar outros menos importantes) não
podem ser deixados de lado no estudo dos caminhos do desenvolvimento da revo-
lução mundial. Antigamente, era comum pensar que a revolução se desenvolveria
por meio do mesmo “amadurecimento” dos elementos do socialismo, principal-
mente nos países mais desenvolvidos, os “avançados”. Agora, esta visão deve ser
consideravelmente modificada.
“O sistema de relações internacionais”, disse Lenin, “agora assumiu a forma
em que um dos Estados da Europa, a saber, a Alemanha, foi escravizado pelos
países vencedores. Além disso, vários Estados, que são, aliás, os mais antigos
Estados do Ocidente, encontram-se em posição, como resultado de sua vitória,
de utilizar esta vitória para fazer uma série de concessões insignificantes às suas
classes oprimidas – concessões que, no entanto, retardam o movimento revoluci-
onário nesses países e criam alguns aparência de ‘paz social’. Ao mesmo tempo,
precisamente como resultado da última guerra imperialista, uma série de países
– Oriente, Índia, China, etc. – foram completamente desalojados. Seu desen-
volvimento mudou definitivamente para as linhas capitalistas europeias gerais.
O fermento geral europeu começou a afetá-los, e agora está claro para todo o
mundo que eles foram arrastados para um processo de desenvolvimento que não
pode deixar de levar a uma crise em todo o capitalismo mundial”.
Em vista deste fato, e em conexão com ele, “os países capitalistas da Europa
Ocidental consumarão seu desenvolvimento em direção ao socialismo. Não como
esperávamos anteriormente. Eles estão consumando-o nem mesmo pelo ‘amadu-
recimento’ do socialismo neles, mas pela exploração de alguns países por outros,
pela exploração do primeiro dos países a ser vencido na guerra imperialista com-
binada com a exploração de todo o Oriente. Por outro lado, precisamente como
resultado da primeira guerra imperialista, o Oriente definitivamente entrou no
movimento revolucionário, foi definitivamente atraído para o turbilhão geral do
movimento revolucionário mundial”.
Se adicionarmos a isso o fato de que não apenas os países e colônias derro-
292 Obras Escolhidas
tados estão sendo explorados pelos países vitoriosos, mas que alguns dos países
vitoriosos estão caindo na órbita da exploração financeira nas mãos do mais po-
derosos dos países vitoriosos, América e Grã-Bretanha. Que as contradições en-
tre todos esses países são um fator extremamente importante na desintegração do
imperialismo mundial, que, além dessas contradições, existem e se desenvolvem
contradições muito profundas em cada um desses países. Que todas essas contra-
dições se tornam mais profundas e agudas pela existência, ao lado desses países,
da grande República dos Soviéticos – se tudo isso for levado em consideração,
então o quadro do caráter especial da situação internacional se tornará mais ou
menos completo.
Muito provavelmente, a revolução mundial se desenvolverá com o rompimento
de vários novos países do sistema dos Estados imperialistas, como resultado da re-
volução, enquanto os proletários desses países serão apoiados pelo proletariado
dos Estados imperialistas. Vemos que o primeiro país a se separar, o primeiro
país vitorioso, já está sendo apoiado pelos trabalhadores e pelas massas traba-
lhadoras de outros países. Sem esse suporte, não poderia resistir. Sem dúvida,
esse apoio vai aumentar e crescer. Mas também não pode haver dúvida de que o
próprio desenvolvimento da revolução mundial, o próprio processo de ruptura
com o imperialismo de uma série de novos países será tanto mais rápido e com-
pleto, quanto mais profundamente o socialismo se consolidar no primeiro país
vitorioso, mais rapidamente este país se transforma em uma base para o futuro
desenrolar da revolução mundial, em uma alavanca para uma maior desintegra-
ção do imperialismo.
Embora seja verdade que a vitória final do socialismo no primeiro país a se
emancipar seja impossível sem os esforços conjuntos dos proletários de vários
países, é igualmente verdade que o desenrolar da revolução mundial será o mais
rápido e completo, o mais eficaz a assistência prestada pelo primeiro país socia-
lista aos trabalhadores e às massas trabalhadoras de todos os outros países.
Em que essa assistência deve ser expressa?
Deve ser expresso, em primeiro lugar, no país vitorioso alcançar “o máximo
possível em um país para o desenvolvimento, apoio e despertar da revolução em
todos os países” (ver A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky). Deve ser ex-
presso, em segundo lugar, em que o “proletariado vitorioso” de um país, “tendo
expropriado os capitalistas e organizado sua própria produção socialista, se le-
vantaria... contra o resto do mundo, o mundo capitalista, atraindo para o seu
causar as classes oprimidas de outros países, levantando revoltas nesses países
contra os capitalistas e, em caso de necessidade, sair até com força armada con-
tra as classes exploradoras e seus Estados” (Ver Sobre o Slogan dos Estados Unidos
da Europa).
A característica da ajuda prestada pelo país vitorioso não é apenas que ace-
lera a vitória dos proletários de outros países, mas também que, ao facilitar essa
vitória, garante a vitória final do socialismo no primeiro país vitorioso.
Muito provavelmente, no curso do desenvolvimento da revolução mundial,
lado a lado com os centros do imperialismo em países capitalistas individuais e
com o sistema desses países em todo o mundo, centros de socialismo serão criados
em países soviéticos individuais e um sistema de esses centros em todo o mundo, e
J. V. Stalin 293
I
As tarefas da Universidade Comunista dos
trabalhadores do Leste em relação às Repúblicas
Soviéticas do Oriente
seu vigésimo volume de Obras Completas, quarta edição russa, pp. 1-34.
298 Obras Escolhidas
Creio que o que acabamos de dizer pode servir de resposta à ansiosa pergunta
desses camaradas de Buryat. Eles levantam a questão da assimilação das naciona-
lidades individuais no processo de construção de uma cultura proletária univer-
sal. Sem dúvida, algumas nacionalidades podem, e talvez certamente passarão,
J. V. Stalin 299
II
As tarefas da Universidade Comunista dos
trabalhadores do Leste em relação aos Países
Coloniais e Dependentes do Oriente
Passemos à segunda questão, a questão das tarefas da Universidade Comu-
nista dos trabalhadores do Leste em relação aos países coloniais e dependentes
do Oriente. Quais são os traços característicos da vida e do desenvolvimento des-
ses países, que os distinguem das repúblicas soviéticas do Oriente?
Em primeiro lugar, esses países vivem e se desenvolvem sob a opressão do
imperialismo. Em segundo lugar, a existência de uma opressão dupla, opressão
interna (pela burguesia nativa) e opressão externa (pela burguesia imperialista
estrangeira), está intensificando e aprofundando a crise revolucionária nesses
países. Em terceiro lugar, em alguns desses países, na Índia, por exemplo, o
capitalismo está crescendo a uma taxa rápida, dando origem e moldando uma
classe mais ou menos numerosa de proletários locais. Em quarto lugar, com
o crescimento do movimento revolucionário, a burguesia nacional nesses países
está se dividindo em duas partes, uma parte revolucionária (a pequena burgue-
sia) e uma parte comprometedora (a grande burguesia), da qual a primeira é
continuar a luta revolucionária, enquanto o segundo está entrando em um bloco
com o imperialismo. Em quinto lugar, paralelamente ao bloco imperialista, ou-
tro bloco está se formando nesses países, um bloco entre os trabalhadores e a
pequena burguesia revolucionária, um bloco anti-imperialista, cujo objetivo é a
libertação total do imperialismo.
Em sexto lugar, a questão da hegemonia do proletariado nesses países e de
libertar as massas do povo da influência da burguesia nacional comprometedora
torna-se cada vez mais urgente. Em sétimo lugar, essa circunstância torna muito
mais fácil vincular o movimento de libertação nacional em tais países ao movi-
mento proletário nos países avançados do Ocidente.
Disto seguem pelo menos três conclusões: 1) A libertação dos países coloniais
e dependentes do imperialismo não pode ser alcançada sem uma revolução vi-
toriosa: você não obterá independência gratuitamente. 2) A revolução não pode
ser avançada e a completa independência das colônias desenvolvidas no modelo
capitalista e dos países dependentes não pode ser conquistada, a menos que a
burguesia nacional comprometida seja isolada, a menos que as massas revolu-
cionárias pequeno-burguesas sejam libertadas da influência dessa burguesia, a
menos que a política de a hegemonia do proletariado é efetivada, a menos que
os elementos avançados da classe trabalhadora sejam organizados em um Partido
Comunista independente. 3) Uma vitória duradoura não pode ser alcançada nos
países coloniais e dependentes sem uma ligação real entre o movimento de liber-
tação nesses países e o movimento proletário nos países avançados do Ocidente.
A principal tarefa dos comunistas nos países coloniais e dependentes é basear
suas atividades revolucionárias nessas conclusões. Quais são as tarefas imediatas
do movimento revolucionário nas colônias e países dependentes em vista dessas
circunstâncias?
A característica distintiva das colônias e dos países dependentes atualmente é
302 Obras Escolhidas
que não existe mais um Leste colonial único e abrangente. Anteriormente, o Ori-
ente colonial era retratado como um todo homogêneo. Hoje, essa imagem não
corresponde mais à verdade. Temos agora pelo menos três categorias de países
coloniais e dependentes. Em primeiro lugar, países como o Marrocos, que têm
pouco ou nenhum proletariado e são industrialmente pouco desenvolvidos. Em
segundo lugar, países como China e Egito, que são subdesenvolvidos industrial-
mente e têm um proletariado relativamente pequeno. Em terceiro lugar, países
como a Índia, que são mais ou menos desenvolvidos dentro do modelo capitalista
e têm um proletariado nacional mais ou menos numeroso.
Obviamente, todos esses países não podem ser colocados em pé de igualdade.
Em países como Marrocos, onde a burguesia nacional ainda não tem moti-
vos para se dividir em partido revolucionário e partido transigente, a tarefa dos
elementos comunistas é tomar todas as medidas para criar uma frente nacional
única contra o imperialismo. Em tais países, os elementos comunistas podem ser
agrupados em um único partido apenas no curso da luta contra o imperialismo,
particularmente depois de uma luta revolucionária vitoriosa contra o imperia-
lismo.
Em países como Egito e China, onde a burguesia nacional já se dividiu em
partido revolucionário e partido transigente, mas onde o setor conciliador da
burguesia ainda não é capaz de se unir ao imperialismo, os comunistas não po-
dem mais se estabelecer no objetivo de formar uma frente nacional única contra
o imperialismo. Em tais países, os comunistas devem passar da política de uma
frente nacional única à política de um bloco revolucionário dos trabalhadores e
da pequena burguesia. Em tais países, esse bloco pode assumir a forma de um
partido único, um partido de trabalhadores e camponeses, desde que, no en-
tanto, esse partido distintivo represente realmente um bloco de duas forças – o
Partido Comunista e o partido da pequena burguesia revolucionária. As tarefas
deste bloco são expor a indiferença e inconsistência da burguesia nacional e tra-
var uma luta decidida contra o imperialismo. Esse partido dual é necessário e
conveniente, desde que não amarre as mãos e os pés do Partido Comunista, desde
que não restrinja a liberdade do Partido Comunista de conduzir o trabalho de
agitação e propaganda, desde que não impeça a mobilização dos proletários em
torno do Partido Comunista, e desde que facilite a liderança real do movimento
revolucionário pelo Partido Comunista. Um tal partido dual é desnecessário e
inconveniente se não se conforma com todas essas condições, pois só pode le-
var à dissolução dos elementos comunistas nas fileiras da burguesia, à perda do
Partido Comunista do exército proletário.
A situação é um pouco diferente em países como a Índia. A característica fun-
damental e nova das condições de vida de colônias como a Índia não é apenas que
a burguesia nacional se dividiu em um partido revolucionário e um partido com-
prometedor, mas principalmente que o setor comprometedor dessa burguesia já
conseguiu, no geral, fazer um acordo com o imperialismo. Temendo a revolu-
ção mais do que o imperialismo, e mais preocupada com suas bolsas de dinheiro
do que com os interesses de seu próprio país, esta seção da burguesia, a seção
mais rica e influente, está indo inteiramente para o campo dos inimigos irre-
conciliáveis da a revolução, está formando um bloco com o imperialismo contra
J. V. Stalin 303
A definição de leninismo
O folheto “Os Fundamentos do Leninismo” contém uma definição do leninismo
que parece ter recebido reconhecimento geral. Funciona da seguinte forma: “Le-
ninismo é o marxismo da era do imperialismo e da revolução proletária. Para ser mais
exato, o leninismo é a teoria e a tática da revolução proletária em geral, a teoria e a tática
da ditadura do proletariado em particular”.
Esta definição está correta?
Eu acho que está correto. É correto, em primeiro lugar, porque indica cor-
retamente as raízes históricas do leninismo, caracterizando-o como o marxismo
da era do imperialismo, em oposição a certos críticos de Lenin que pensam er-
roneamente que o leninismo se originou depois da guerra imperialista. Em se-
gundo lugar, é correto porque assinala corretamente o carácter internacional do
leninismo, em oposição à social-democracia, que considera que o leninismo só se
aplica às condições nacionais russas. É correto, em terceiro lugar, porque observa
corretamente a conexão orgânica entre o leninismo e os ensinamentos de Marx,
caracterizando o leninismo como o marxismo da era do imperialismo, em opo-
sição a certos críticos do leninismo que o consideram não um desenvolvimento
posterior do marxismo, mas apenas a restauração do marxismo e sua aplicação
às condições russas.
Tudo isso, poderíamos pensar, não precisa de comentários especiais. No en-
tanto, parece que há pessoas no nosso partido que consideram necessário definir
o leninismo de uma forma diferente. Zinoviev, por exemplo, pensa que: “Leni-
nismo é o marxismo da era das guerras imperialistas e da revolução mundial que
começou diretamente em um país onde o campesinato predomina”.
Qual pode ser o significado das palavras sublinhadas por Zinoviev? O que
significa introduzir o atraso da Rússia, seu caráter camponês, na definição do
leninismo?
Significa transformar o leninismo de uma doutrina proletária internacional
em um produto das condições especificamente russas. Significa fazer o jogo de
Bauer e Kautsky, que negam que o leninismo seja adequado para outros países,
para países em que o capitalismo está mais desenvolvido.
Nem é preciso dizer que a questão camponesa é de grande importância para
a Rússia, que nosso país é um país camponês. Mas que significado esse fato pode
ter na caracterização dos fundamentos do leninismo? O leninismo foi elaborado
apenas em solo russo, apenas para a Rússia, e não no solo do imperialismo, e para
306 Obras Escolhidas
II
O principal no Leninismo
Esta tese está correta? Eu acho que está. Esta tese decorre inteiramente da
definição de leninismo. Na verdade, se o leninismo é a teoria e a tática da re-
volução proletária, e o conteúdo básico da revolução proletária é a ditadura do
proletariado, então é claro que o principal no leninismo é a questão da ditadura
do proletariado, a elaboração desta questão, a fundamentação e concretização
desta questão. No entanto, Zinoviev evidentemente não concorda com essa tese.
Em seu artigo “Em memória de Lenin”, ele diz: “Como já disse, a questão do papel
do campesinato é a questão fundamental do bolchevismo, do leninismo”.
Como você pode ver, a tese de Zinoviev decorre inteiramente de sua definição
errada do leninismo. É, portanto, tão errado quanto sua definição de leninismo
está errada.
A tese de Lenin de que a ditadura do proletariado é a “raiz do conteúdo da
revolução proletária” está correta? (ver Vol. 23, p. 337.) É inquestionavelmente
J. V. Stalin 307
III
rupta, mas porque eles subestimaram o papel do campesinato, que é uma enorme base do
proletariado.
Isso não significa, é claro, que o leninismo tenha sido ou se oponha à ideia de
revolução permanente, sem aspas, que foi proclamada por Marx nos anos 40 do
século passado212 . Pelo contrário, Lenin foi o único marxista que compreendeu
e desenvolveu corretamente a ideia de revolução permanente. O que distingue
Lenin dos “permanentes” nesta questão, é que os “permanentes” distorceram a
ideia de Marx de revolução permanente e a transformaram em uma sabedoria
livresca, sem vida, enquanto Lenin a tomou em sua forma pura e a tornou um
de seus fundamentos teoria da revolução. Deve-se ter em mente que a ideia de
evolução da revolução democrático-burguesa para a revolução socialista, proposta
por Lenin já em 1905, é uma das formas de concretização da teoria da revolução
permanente de Marx. Aqui está o que Lenin escreveu sobre isso já em 1905:
Da revolução democrática devemos imediatamente, e apenas na medida de nossa força, a força
do proletariado organizado e com consciência de classe, começar a passar para a revolução
socialista. Defendemos uma revolução ininterrupta. Não devemos parar na metade. Sem
sucumbir ao aventureirismo ou ir contra a nossa consciência científica, sem lutar por uma
popularidade barata, podemos e dizemos apenas uma coisa: devemos nos esforçar para ajudar
todo o campesinato a realizar a revolução democrática a fim de torná-la mais fácil para nós,
o partido do proletariado, passarmos, o mais rapidamente possível, à nova e mais alta tarefa
– a revolução socialista. (ver Vol. 8, pp. 186-87).
E aqui está o que Lenin escreveu sobre o assunto dezesseis anos depois, após
a conquista do poder pelo proletariado:
Os Kautskys, Hilferdings, Martovs, Chernovs, Hillquits, Longuets, MacDonalds, Turatis e
outros heróis do marxismo ‘Dois e Meio’eram incapazes de entender (...) a relação entre a
revolução democrático-burguesa e a revolução socialista proletária. O primeiro se transforma
no segundo. O segundo, de passagem, resolve as questões do primeiro. O segundo consolida
o trabalho do primeiro. Lutar, e lutar sozinho, decide até que ponto o segundo consegue
superar o primeiro” (ver Vol. 27, p. 26).
Chamo atenção especial para a primeira das citações acima, extraída do artigo
de Lenin intitulado “A atitude da social-democracia em relação ao movimento campo-
nês”, publicado em 1º de setembro de 1905. Destaco isto para informação daque-
les que ainda continuam a afirmar que Lenin chegou à ideia de transformar a
212 Ver Karl Marx e Friedrich Engels, “O Primeiro Discurso do Comitê Central à Liga Comunista”.
J. V. Stalin 309
IV
adicionadas novas tarefas de dificuldade sem precedentes – tarefas organizacionais (ver Vol.
22, p. 315).
Assim como:
Se não fosse o espírito popular criativo da revolução russa, que havia passado pela grande
experiência do ano de 1905, dando origem aos sovietes já em fevereiro de 1917, eles não
poderiam, em hipótese alguma, tomar o poder em outubro. Porque o sucesso dependia in-
teiramente da existência de formas organizacionais prontas para um movimento que abrangia
milhões. Essas formas prontas foram os sovietes, e é por isso que nos esperavam na esfera
política aqueles brilhantes sucessos, a marcha triunfante contínua que experimentamos; pois
a nova forma de poder político estava pronta e tudo o que tínhamos a fazer era, por meio
de alguns decretos, transformar o poder dos sovietes do Estado embrionário em que existia
nos primeiros meses da revolução, em um forma legalmente reconhecida que se estabeleceu
no Estado russo – isto é, na República Soviética da Rússia. Mas ainda restavam dois pro-
blemas de enorme dificuldade cuja solução não poderia ser a marcha triunfante que nossa
revolução experimentou nos primeiros meses (...) em primeiro lugar, havia os problemas de
organização interna, que confrontam toda revolução socialista. A diferença entre a revolu-
ção socialista e a revolução burguesa reside precisamente no fato de que esta última encontra
formas pré-fabricadas de relações capitalistas, enquanto o poder soviético – o poder prole-
tário – não herda essas relações pré-fabricadas, se deixarmos de fora as mais desenvolvidas
formas de capitalismo, que, estritamente falando, se estendiam a apenas uma pequena ca-
mada superior da indústria e mal tocavam a agricultura. A organização da contabilidade, o
controle de grandes empresas, a transformação de todo o mecanismo econômico do Estado
em uma única grande máquina, em um organismo econômico que funciona de tal forma que
centenas de milhões de pessoas são guiadas por um único plano – tal era o enorme problema
organizacional que repousava sobre nossos ombros. Nas atuais condições de trabalho, este
problema não poderia ser resolvido pelos métodos de guerra pelos quais fomos capazes de
resolver os problemas da Guerra Civil (ver Vol. 22, p. p 315-318).
É por isso que Lenin diz que: “A emancipação da classe oprimida é impossível
não só sem uma revolução violenta, mas também sem a destruição do aparelho
de poder do Estado criado pela classe dominante” (ver Vol. 21, p. 373). Além
disso, ele complementa:
Primeiro, que a maioria da população, enquanto a propriedade privada ainda existe, ou seja,
enquanto o domínio e o jugo do capital ainda existe, se expresse em favor do partido do
proletariado, e só então pode e deve o partido tomar o poder – então dizem os democratas
pequeno-burgueses que se autodenominam ‘Socialistas’, mas que são na realidade os ser-
vidores da burguesia (...) Dizemos: Que o proletariado revolucionário derrube primeiro a
burguesia, quebre o jugo do capital e quebre o aparelho de Estado burguês, então o pro-
letariado vitorioso poderá ganhar rapidamente a simpatia e o apoio da maioria das massas
não-proletárias, satisfazendo suas necessidades às custas dos exploradores (...) Para ganhar
a maioria da população para o seu lado, o proletariado deve, em primeiro lugar, derrubar a
burguesia e tomar o poder do Estado; em segundo lugar, deve introduzir o poder soviético
e despedaçar o velho aparato do Estado, o que imediatamente mina o domínio, o prestígio
e a influência da burguesia e dos pequenos burgueses em conciliação sobre as massas tra-
balhadoras não-proletárias. Em terceiro lugar, deve destruir inteiramente a influência da
burguesia e dos pequenos burgueses conciliadores sobre a maioria das massas trabalhadoras
não proletárias, satisfazendo suas necessidades econômicas de forma revolucionária às custas
dos exploradores (ver Vol. 24, pp. 641- 647).
Isso não significa, entretanto, que o poder de uma classe, a classe dos prole-
tários, que não compartilha e não pode compartilhar o poder com outras classes,
não precise do auxílio e de uma aliança com as massas trabalhadoras e exploradas
de outras classes para a realização de seus objetivos. Pelo contrário. O poder de
uma classe só pode ser firmemente estabelecido e exercido ao máximo por meio
de uma forma especial de aliança entre a classe dos proletários e as massas traba-
lhadoras das classes pequeno-burguesas, principalmente as massas trabalhadoras
do campesinato.
Qual é esta forma especial de aliança? Em que consiste? Esta aliança com
as massas trabalhadoras de outras classes não proletárias contradiz totalmente a
ideia da ditadura de uma classe?
Esta forma especial de aliança consiste no fato de que a força motriz do pro-
cesso é o proletariado. Esta forma especial de aliança consiste em que o líder
312 Obras Escolhidas
Claro, isso não deve ser entendido no sentido de que o Partido pode ou deve
tomar o lugar dos sindicatos, dos sovietes e das outras organizações de massa. O
Partido exerce a ditadura do proletariado. No entanto, não o exerce diretamente,
mas com a ajuda dos sindicatos e através dos sovietes e suas ramificações. Sem
essas “correntes de transmissão”, seria impossível que a ditadura se firmasse.
O Partido, por assim dizer, arrasta para as suas fileiras a vanguarda do proletariado, e esta
vanguarda exerce a ditadura do proletariado. Sem uma fundação como a dos sindicatos, a
ditadura não pode ser exercida, as funções do Estado não podem ser cumpridas. E essas
funções devem ser exercidas por meio de várias instituições especiais também de um novo
tipo; a saber, através do aparato soviético (...)É impossível exercer a ditadura sem uma série
de ‘correntes de transmissão’ da vanguarda à massa da classe avançada e desta última à massa
do povo trabalhador (ver vol. XXVI, pp. 64-65).
Mas isso, no entanto, não deve ser entendido no sentido de que um sinal de
igualdade pode ser colocado entre a ditadura do proletariado e o papel dirigente
do Partido (a “ditadura” do Partido), com o qual a primeira pode ser identifi-
cada como o último, e que o último pode ser substituído pelo primeiro. Sorin,
por exemplo, diz que “a ditadura do proletariado é a ditadura do nosso Partido”.
Esta tese, como vê, identifica a “ditadura do Partido” com a ditadura do proleta-
riado. Podemos considerar esta identificação correta e ainda assim permanecer
no terreno do leninismo? Não, nós não podemos. E pelos seguintes motivos:
Primeiramente. No trecho de seu discurso, no Segundo Congresso do Co-
mintern citado acima, Lenin não identifica de forma alguma o papel dirigente
do Partido com a ditadura do proletariado. Ele diz que “apenas esta minoria com
consciência de classe (isto é, o Partido – J. Stalin) pode guiar as grandes massas
dos trabalhadores e liderá-las”, que é precisamente neste sentido que “pela di-
tadura do proletariado queremos dizer, em essência, a ditadura de sua minoria
organizada e com consciência de classe”.
Dizer “em essência” não significa “totalmente”. Costumamos dizer que a
questão nacional é, em essência, uma questão camponesa. E isso é verdade. Mas
isso não significa que a questão nacional seja abrangida pela questão camponesa,
que a questão camponesa seja igual em âmbito à questão nacional, que a questão
camponesa e a questão nacional sejam idênticas. Não há necessidade de provar
que a questão nacional é mais ampla e rica em seu alcance do que a questão cam-
ponesa. O mesmo deve ser dito por analogia a respeito do papel dirigente do
Partido e da ditadura do proletariado. Embora o Partido exerça a ditadura do
proletariado, e neste sentido a ditadura do proletariado seja, em essência, a “di-
tadura” do seu Partido, isso não significa que a “ditadura do Partido” (seu papel
213O Segundo Congresso da Internacional Comunista foi realizado de 19 de julho a 7 de agosto de
1920. Stalin está citando aqui o discurso de Lenin sobre “O Papel da Política Comunista”.
318 Obras Escolhidas
exercida por esta vanguarda, pela correção de sua estratégia e tática política, desde que as
massas mais amplas tenham sido convencidas por sua própria experiência dessa correção.
Sem essas condições, a disciplina em um partido revolucionário que é realmente capaz de
ser o partido da classe avançada, cuja missão é derrubar a burguesia e transformar toda a
sociedade, não pode ser alcançada. Sem essas condições, as tentativas de estabelecer disci-
plina tornam-se inevitavelmente uma cifra, uma frase vazia, mera afetação. Por outro lado,
essas condições não podem surgir todas de uma vez. Elas são criadas apenas por esforço pro-
longado e experiência arduamente conquistada. Sua criação é facilitada apenas pela teoria
revolucionária correta, que, por sua vez, não é um dogma, mas assume forma final apenas
em conexão próxima com a atividade prática de um movimento verdadeiramente de massa e
verdadeiramente revolucionário (ver Vol. 25, p. 174).
E mais:
A vitória sobre o capitalismo requer a correlação correta entre os dirigentes, comunistas,
partidários, a classe revolucionária – o proletariado – e as massas, ou seja, os trabalhadores
e os explorados como um todo. Somente o Partido Comunista, se é realmente a vanguarda
da classe revolucionária, se contém todos os melhores representantes dessa classe, se consiste
de comunistas totalmente conscientes e devotados que foram educados e fortalecidos pela
experiência de revolucionários obstinados luta, se este Partido conseguiu ligar-se insepara-
velmente com toda a vida da sua classe e, através dela, com toda a massa dos explorados, e
se conseguiu inspirar a confiança total desta classe e desta massa- apenas tal partido é capaz
de liderar o proletariado na luta mais implacável, decidida e final contra todas as forças do
capitalismo. Por outro lado, somente sob a liderança de tal partido o proletariado pode de-
senvolver todo o poder de seu ataque revolucionário e anular a inevitável apatia e, em parte, a
resistência da pequena minoria da aristocracia operária corrompida pelo capitalismo, e dos
antigos dirigentes sindicais e cooperativos, etc. Só então poderá mostrar toda a sua força,
que, devido à própria estrutura econômica da sociedade capitalista, é incomensuravelmente
maior do que a proporção da população que constitui (ver vol. 25, p. 315).
não uma como a Comuna de Paris, por exemplo, que não foi nem um completa
nem uma ditadura firme. É impossível porque a ditadura do proletariado e a
direção do Partido estão, por assim dizer, na mesma linha de atividade, operam
na mesma direção.
A mera apresentação da questão ‘ditadura do Partido’ ou ‘ditadura de classe’? ‘ditadura
(Partido) dos líderes ou ditadura (Partido) das massas’? atesta a mais incrível e desesperada
confusão de pensamento. Todo mundo sabe que as massas se dividem em classes. Que nor-
malmente, e na maioria dos casos, pelo menos nos países civilizados modernos, as classes são
lideradas por partidos políticos; que os partidos políticos, como regra geral, são dirigidos
por grupos mais ou menos estáveis compostos pelos membros mais autorizados, influentes
e experientes, que são eleitos para os cargos de maior responsabilidade e são chamados de
líderes. Ir tão longe como opor, em geral, a ditadura das massas à ditadura dos líderes, é
ridiculamente absurdo e estúpido (ver Vol. 25, pp. 187-188).
caminho até a vitória. A vitória não pode ser conquistada apenas com a vanguarda. Para
lançar a vanguarda sozinha na batalha decisiva, antes de toda a classe, antes que as grandes
massas tenham assumido uma posição de apoio direto da vanguarda, ou pelo menos de neu-
tralidade benevolente em relação a ela, e uma na qual eles não podem apoiar o inimigo, seria
não apenas uma tolice, mas um crime. E para que de fato toda a classe, que de fato as gran-
des massas operárias e oprimidas pelo capital tomem tal posição, não bastam propaganda e
agitação por si só. Para isso, as massas devem ter sua própria experiência política (ibid., p.
228).
Sabemos que foi precisamente assim que o nosso Partido agiu durante o pe-
ríodo que vai das teses de abril de Lenin à insurreição de outubro de 1917. E
teve sucesso no levante precisamente porque agiu de acordo com essas diretrizes
de Lenin.
Tais são, basicamente, as condições para relações mútuas corretas entre a van-
guarda e a classe. O que significa, então, uma liderança quando a política do
Partido é correta e as relações corretas entre a vanguarda e a classe não são per-
turbadas?
Liderança, nestas circunstâncias, significa a capacidade de convencer as mas-
sas da correção da política do Partido; a capacidade de propor e executar slogans
como trazer as massas para as posições do Partido e ajudá-los a perceber por sua
própria experiência a correção da política do Partido; a capacidade de elevar as
massas ao nível de consciência política do Partido e, assim, garantir o apoio das
massas e sua prontidão para a luta decisiva. Portanto, o método de persuasão é
o principal método de liderança do Partido da classe trabalhadora. Lenin dizia:
Se nós, na Rússia de hoje, depois de dois anos e meio de vitórias sem precedentes sobre a
burguesia e sobre a Entente, fizéssemos do ‘reconhecimento da ditadura’ uma condição para
a filiação sindical, estaríamos cometendo uma loucura, prejudicando nossa influência sobre
as massas, ajudando os mencheviques. Toda a tarefa dos comunistas é ser capaz de convencer
os elementos atrasados, ser capaz de trabalhar entre eles, e não se isolar deles com slogans
artificiais e infantis de ‘esquerda’ (ver Vol. 25, p. 197).
Isso, é claro, não deve ser entendido no sentido de que o Partido deve conven-
cer todos os trabalhadores, até o último homem, e que só depois disso é possível
proceder à ação, que só depois disso é possível iniciar as operações. De modo
nenhum! Significa apenas que, antes de iniciar ações políticas decisivas, o Par-
tido deve, por meio de um trabalho revolucionário prolongado, assegurar para si
o apoio da maioria das massas operárias, ou pelo menos a neutralidade benevo-
lente da maioria da classe. Caso contrário, a tese de Lenin, de que uma condição
necessária para a revolução vitoriosa é que o Partido conquiste a maioria da classe
trabalhadora, seria desprovida de qualquer significado.
Pois bem, e o que se deve fazer com a minoria, se ela não quiser, se ela não
concordar em submeter-se voluntariamente à vontade da maioria? O Partido
pode e deve, gozando da confiança da maioria, obrigar a minoria a se submeter
à vontade da maioria? Sim, pode e deve. A liderança é assegurada pelo método
de persuadir as massas, como principal método pelo qual o Partido influencia
as massas. Isso, entretanto, não impede, mas pressupõe, o uso da coerção, se tal
coerção se basear na confiança no Partido e no apoio a ele por parte da maioria
da classe trabalhadora, se for aplicada à minoria após o partido convenceu a
maioria.
Convém relembrar as controvérsias em torno deste tema que ocorreram em
J. V. Stalin 325
nosso Partido durante a discussão da questão sindical. Qual foi o erro da opo-
sição, o erro do Tsektran214 naquela época? Será que a oposição considerou
recorrer à coerção? Não! Foi, não foi isso. O erro da oposição na altura foi
que, não conseguindo convencer a maioria da justeza da sua posição, tendo per-
dido a confiança da maioria, passou, no entanto, a aplicar coerção, passando a
insistir em “sacudir” que desfrutavam da confiança da maioria. Eis o que Lenin
disse naquela época, no Décimo Congresso do Partido, em seu discurso sobre os
sindicatos:
Para estabelecer relações mútuas e confiança mútua entre a vanguarda da classe operária
e as massas operárias, era necessário, se o Tsektran tivesse cometido um erro, corrigir esse
erro. Mas quando as pessoas começam a defender esse erro, ele se torna uma fonte de perigo
político. Se não tivéssemos feito o máximo possível no sentido da democracia em atender
aos Estados de espírito aqui expressos por Kutuzov, teríamos nos deparado com a falência
política. Primeiro devemos convencer e depois coagir. Devemos a todo custo primeiro con-
vencer, e depois coagir. Não fomos capazes de convencer as grandes massas e perturbamos
as relações corretas entre a vanguarda e as massas (ver Vol. 26, p. 235).
215As teses do Segundo Congresso do Comintern sobre “O Papel do Partido Comunista na Revolução
Proletária” foram adotadas como resolução do Congresso.
328 Obras Escolhidas
“Exprimir de forma apropriada aquilo de que o povo está consciente” – esta é preci-
samente a condição necessária que assegura ao Partido o honroso papel de prin-
cipal forca motriz do sistema da ditadura do proletariado.
VI
proletariado num país, sem a vitória simultânea da revolução nos outros países.
Mas o panfleto contém uma segunda formulação, que diz:
Mas a derrubada do poder da burguesia e o estabelecimento do poder do proletariado em um
país ainda não significa que a vitória completa do socialismo esteja assegurada. A principal
tarefa do socialismo – a organização da produção socialista – ainda não foi cumprida. Esta
tarefa pode ser cumprida, a vitória final do socialismo pode ser alcançada em um país, sem os
esforços conjuntos dos proletários em vários países avançados? Não, não pode. Para derrubar
a burguesia, os esforços de um país são suficientes; isso é provado pela história de nossa
revolução. Para a vitória final do socialismo, para a organização da produção socialista, os
esforços de um país, particularmente de um país camponês como a Rússia, são insuficientes;
para isso, são necessários os esforços dos proletários de vários países avançados.
Esta segunda formulação foi dirigida contra as afirmações dos críticos do le-
ninismo, contra os trotskistas, que declararam que a ditadura do proletariado em
um país, na ausência de vitória em outros países, não poderia “resistir diante de
uma Europa conservadora”.
Nessa medida – mas apenas nessa medida – essa formulação era então (em
maio de 1924) adequada e, sem dúvida, de alguma utilidade. Posteriormente,
porém, quando a crítica ao leninismo nesta esfera já havia sido superada no Par-
tido, quando uma nova questão se colocou em primeiro plano – a questão da
possibilidade de construir uma sociedade socialista completa pelos esforços de
nosso país, sem ajuda do exterior – a segunda formulação tornou-se obviamente
inadequada e, portanto, incorreta.
Qual é o defeito desta formulação?
Seu defeito é que junta duas questões diferentes em uma: junta a questão
da possibilidade de construir o socialismo pelos esforços de um país – que deve
ser respondida afirmativamente – com a questão de saber se um país em que a
ditadura do proletariado existe pode considerar-se totalmente protegido contra
a intervenção e, consequentemente, contra a restauração da velha ordem, sem
uma revolução vitoriosa em vários outros países – que deve ser respondida nega-
tivamente. Isso está além do fato de que essa formulação pode dar oportunidade
para pensar que a organização de uma sociedade socialista pelos esforços de um
país é impossível – o que, é claro, está incorreto.
Com base nisso, modifiquei e corrigi essa formulação em meu panfleto “A
Revolução de Outubro e as Táticas dos Comunistas Russos” de dezembro de 1924; eu
dividi a questão em duas – a questão da garantia total contra a restauração da ordem
burguesa e a questão da possibilidade de construir uma sociedade socialista completa
em um país. Isso foi feito, em primeiro lugar, tratando a “vitória total do socia-
lismo” como uma “garantia total contra a restauração da velha ordem”, o que só
é possível através “do esforço conjunto dos proletários de vários países”; e, em se-
gundo lugar, ao proclamar, com base no panfleto de Lenin “Sobre a Cooperação”,
a verdade indiscutível de que temos tudo o que é necessário para construir uma
sociedade socialista completa.
Foi esta nova formulação da questão que formou a base para a conhecida
resolução da 14ª Conferência do Partido “As Tarefas do Comintern e do PC Russo
(B)”, que examina a questão da vitória do socialismo em um país em conexão
com a estabilização do capitalismo (abril de 1925), e considera que a construção
do socialismo pelos esforços de nosso país é possível e necessária.
330 Obras Escolhidas
Essa nova formulação também serviu de base para meu panfleto “Os Resultados
do Trabalho da Décima Quarta Conferência do PC Russo (B)”, publicado em maio de
1925, imediatamente após a Décima Quarta Conferência do Partido.
Com relação à apresentação da questão da vitória do socialismo em um país,
este panfleto afirma:
Nosso país apresenta dois grupos de contradições. Um grupo consiste nas contradições inter-
nas que existem entre o proletariado e o campesinato (isso se refere à construção do socialismo
em um país – J. Stalin). O outro grupo consiste nas contradições externas que existem entre
nosso país, como a pátria do socialismo, e todos os outros países, como pátrias do capitalismo
(isto se refere à vitória final do socialismo – J. Stalin). Quem confunde o primeiro grupo
de contradições, que podem ser superadas inteiramente pelos esforços de um país, com o se-
gundo grupo de contradições, cuja solução exige os esforços dos proletários de vários países,
comete um grave erro contra o leninismo. A pessoa que confunde ou tem a cabeça confusa,
ou é um oportunista incorrigível.
Claro, alguém poderia pensar. É bem sabido que esta questão foi tratada
com o mesmo espírito em meu panfleto “Perguntas e Respostas” (junho de 1925)
e no relatório político do Comitê Central ao XIV Congresso do PCUS (B) (24 de
dezembro de 1925). Esses são os fatos. Esses fatos, creio eu, são do conhecimento
de todos os camaradas, incluindo Zinoviev.
Se agora, quase dois anos depois da luta ideológica no Partido e depois da
resolução que foi adotada na XIV Conferência do Partido (abril de 1925), Zi-
noviev acha possível em sua resposta à discussão no XIV Congresso do Partido
(dezembro de 1925) desenterrar a velha e bastante inadequada fórmula contida
no meu panfleto escrito em abril de 1924 e torná-la a base para decidir a questão
já decidida da vitória do socialismo em um país – então, esse truque peculiar só
mostra que ele ficou completamente confuso nesta questão. Arrastar o Partido
depois de ter avançado, fugir da resolução da Décima Quarta Conferência do
Partido depois de confirmada por um Plenária do Comitê Central216 , significa
tornar-se irremediavelmente emaranhado em contradições, não ter fé na causa
de construir o socialismo, abandonar o caminho de Lenin e reconhecer a própria
derrota.
216Refere-se à plenária do Comitê Central do PC Russo (B) que se realizou de 23 a 30 de abril de
1925. A plenária endossou as resoluções adotadas pela Décima Quarta Conferência do PC Russo
(B), incluindo a resolução sobre “As tarefas do Comintern e do PC Russo (B) em relação à plenária
ampliado do CEIC” que definiu a posição do Partido sobre a questão da vitória do socialismo na
URSS.
J. V. Stalin 331
E ainda reafirmava:
Temos diante de nós um certo equilíbrio, que é instável no mais alto grau, mas um equilíbrio
inquestionável, indiscutível, no entanto. Vai durar muito? Não sei e acho que é impossível
saber. E, portanto, devemos ter muito cuidado. E o primeiro preceito de nossa política, a
primeira lição a ser aprendida em nossas atividades governamentais durante o ano passado, a
lição que todos os trabalhadores e camponeses devem aprender, é que devemos estar alertas,
devemos lembrar que estamos cercados por pessoas, classes e governos que expressam aber-
tamente seu intenso ódio por nós. Devemos lembrar que estamos sempre a um fio de cabelo
de qualquer tipo de invasão (ver Vol. 27, p. 117).
Veem que esta tese clara de Lenin, em comparação com a “tese” confusa e
anti-leninista de Zinoviev, de que podemos nos engajar na construção do socia-
lismo “dentro dos limites de um país”, embora seja impossível construí-lo comple-
tamente, são tão diferentes quanto o céu é diferente da terra.
A afirmação acima citada foi feita por Lenin em 1915, antes do proletariado
assumir o poder. Mas talvez ele tenha modificado seus pontos de vista após a
experiência de tomar o poder, depois de 1917? Voltemos ao panfleto de Lenin
“Sobre a Cooperação”, escrito em 1923.
De fato o poder do Estado sobre todos os meios de produção em grande escala, o poder
do Estado nas mãos do proletariado, a aliança deste proletariado com os muitos milhões de
pequenos camponeses, a direção assegurada do campesinato pelo proletariado, etc. – não é
isso tudo o que é necessário para construir uma sociedade socialista completa a partir das
cooperativas, apenas das cooperativas, que antes olhávamos como vendedores ambulantes e
que de certo ponto temos o direito de desprezar em como tal agora, sob NEP? Isso não é
tudo o que é necessário para construir uma sociedade socialista completa? Esta ainda não
é a construção da sociedade socialista, mas é tudo o que é necessário e suficiente para essa
construção (ver Vol. 27, p. 392).
Como você pode ver, a resolução interpreta a vitória final do socialismo como
uma garantia contra a intervenção e a restauração, em total contraste com a in-
terpretação de Zinoviev em seu livro “Leninismo”.
334 Obras Escolhidas
do Partido em Leningrado-Gubernia, carta esta que foi um ataque dos seguidores de Zinoviev e
Kamenev, foi publicada no Pravda, nº 291, 20 de dezembro de 1925.
J. V. Stalin 335
VII
nosso país? Onde as cidades têm um aspecto bastante diferente, onde a indústria
está nas mãos do proletariado, onde se concentram os transportes, o sistema de
crédito, o poder do Estado, onde a nacionalização da terra é uma lei universal do
país? Claro que não. Pelo contrário. Precisamente porque as cidades conduzem
o campo, enquanto nós temos nas cidades o domínio do proletariado, que detém
todas as posições-chave da economia nacional – precisamente por isso as fazen-
das camponesas em seu desenvolvimento devem seguir um caminho diferente, o
caminho de construção socialista.
Qual é esse caminho?
É o caminho da organização em massa de milhões de fazendas camponesas em
cooperativas em todas as esferas de cooperação, o caminho de unir as fazendas
camponesas espalhadas em torno da indústria socialista, o caminho de implantar
os elementos do coletivismo entre o campesinato, em primeiro lugar no domínio
da comercialização dos produtos agrícolas e no abastecimento das explorações
camponesas com os produtos da indústria urbana e, mais tarde, no domínio da
produção agrícola.
E quanto mais avançamos, mais este caminho se torna inevitável nas condi-
ções da ditadura do proletariado, porque o comércio cooperativo, o fornecimento
cooperativo e, finalmente, o crédito e a produção cooperativa (cooperativas agrí-
colas) são as únicas maneiras de promover o bem-estar do campo, a única maneira
de salvar as amplas massas do campesinato da pobreza e da ruína.
Diz-se que nosso campesinato, por sua posição, não é socialista e, portanto,
incapaz de desenvolvimento socialista. É verdade, claro, que o campesinato, por
sua posição, não é socialista. Mas isso não é argumento contra o desenvolvimento
das fazendas camponesas ao longo do caminho do socialismo, uma vez que está
provado que o campo segue a cidade, e nas cidades é a indústria socialista que
domina. O campesinato, por sua posição, também não era socialista na época
da Revolução de Outubro, e de modo algum queria estabelecer o socialismo em
nosso país. Naquela época, lutava principalmente pela abolição do poder dos
latifundiários e pelo fim da guerra, pelo estabelecimento da paz. No entanto,
ele seguiu o exemplo do proletariado socialista. Por quê? Porque a derrubada
da burguesia e a tomada do poder pelo proletariado socialista era então a única
forma de sair da guerra imperialista, a única forma de estabelecer a paz. Porque
não havia outro caminho naquela época, nem poderia haver. Porque o nosso
Partido foi capaz de atingir aquele grau de combinação dos interesses específicos
do campesinato (a derrubada dos latifundiários, a paz) e a sua subordinação aos
interesses gerais do país (a ditadura do proletariado) que provou ser aceitável e
vantajoso para o campesinato. E assim o campesinato, apesar de seu caráter não
socialista, na época seguia a liderança do proletariado.
O mesmo deve ser dito sobre a construção socialista em nosso país, sobre pu-
xar o campesinato para o canal dessa construção. O campesinato não é socialista
por sua posição. Mas deve, e certamente irá seguir o caminho do desenvolvi-
mento socialista, pois não há – e não pode haver – nenhuma outra maneira de
salvar o campesinato da pobreza e da ruína, exceto o vínculo com o proletari-
ado, exceto o vínculo com a indústria socialista, exceto a inclusão da economia
camponesa no canal comum de desenvolvimento socialista pela organização de
J. V. Stalin 339
Nesta curta passagem, duas grandes questões são resolvidas. Em primeiro lu-
gar, que “nosso sistema atual” não é capitalismo de Estado. Em segundo lugar, as
empresas cooperativas tomadas em conjunto com “nosso sistema” “não diferem”
das empresas socialistas. Acho que seria difícil se expressar com mais clareza.
Aqui está outra passagem do mesmo panfleto de Lenin: “para nós, o mero
crescimento da cooperação (com a ‘pequena’ exceção mencionada acima) é idên-
tico ao crescimento do socialismo e, ao mesmo tempo, devemos admitir que uma
mudança radical ocorreu em toda a nossa visão do socialismo”.
Obviamente, o panfleto dá uma nova avaliação das cooperativas, algo que a
“Nova Oposição” não quer admitir e que está cuidadosamente silenciando, de-
safiando os fatos, desafiando as verdades óbvias e desafiando, enfim, o próprio
leninismo. A cooperação em conjunto com o capitalismo de Estado é uma coisa,
e a cooperação em conjunto com a indústria socialista é outra.
Disto, porém, não se deve concluir que existe um abismo entre “O imposto em
espécie” e “Sobre a cooperação”. Isso, é claro, estaria errado. Basta, por exemplo,
referir-se à seguinte passagem de do primeiro texto que cito acima para discernir
imediatamente a conexão inseparável entre ele e o panfleto “Sobre a cooperação”,
no que diz respeito à avaliação das cooperativas. Aqui está:
A transição das concessões ao socialismo é a transição de uma forma de produção em grande
escala para outra forma de produção em grande escala. A transição das cooperativas de
pequenos proprietários para o socialismo é uma transição da pequena produção para a pro-
dução em grande escala, ou seja, é uma transição mais complicada, mas, se bem sucedida,
é capaz de abarcar massas mais amplas da população, é capaz de arrancando as raízes mais
profundas e tenazes das velhas relações pré-socialistas e mesmo pré-capitalistas, que resistem
obstinadamente a todas as ‘inovações’ (ver Vol. 26, p. 337).
219“A Filosofia da Época” era o título de um artigo contra o Partido escrito por Zinoviev em 1925.
Stalin criticaria posteriormente de maneira pública apontando a fragilidade de seu argumento.
344 Obras Escolhidas
A possibilidade de construir o
socialismo em nosso país
10 de fevereiro de 1926
Camarada Pokoyev,
Estou atrasado para responder, pelo que peço desculpa a você e aos seus ca-
maradas.
Infelizmente, você não entendeu nossas divergências no Décimo Quarto Con-
gresso. A questão não é que a oposição afirmava que ainda não tínhamos chegado
ao socialismo, enquanto o congresso sustentava que já tínhamos chegado ao so-
cialismo. Isso não é verdade. Você não encontrará um único membro em nosso
Partido que diga que já alcançamos o socialismo.
Isso não foi de forma alguma o assunto da disputa no congresso. O assunto da
disputa era este. O congresso sustentou que a classe operária, em aliança com o
campesinato operário, pode desferir o golpe final nos capitalistas de nosso país e
construir uma sociedade socialista, mesmo que não haja uma revolução vitoriosa
no Ocidente para vir em seu auxílio. A oposição, pelo contrário, sustentou que
não podemos dar o golpe final em nossos capitalistas e construir uma sociedade
socialista até que os trabalhadores sejam vitoriosos no Ocidente. Bem, como a
vitória da revolução no Ocidente está muito atrasada, nada nos resta a fazer,
aparentemente, a não ser vagar. O congresso considerou, e disse isso em sua
resolução sobre o relatório do Comitê Central220 , que essas opiniões da oposição
implicavam descrença na vitória sobre nossos capitalistas.
Esse era o ponto em questão, queridos camaradas.
É claro que isso não significa que não precisemos da ajuda dos trabalhadores
da Europa Ocidental. Suponha que os trabalhadores da Europa Ocidental não
simpatizassem conosco e não nos dessem apoio moral. Suponha que os trabalha-
dores da Europa Ocidental não impedissem seus capitalistas de lançar um ataque
à nossa República. Qual seria o resultado? O resultado seria que os capitalistas
marchariam contra nós e interromperiam radicalmente nosso trabalho constru-
tivo, se não nos destruiriam por completo. Se os capitalistas não estão tentando
isso, é porque temem que, se atacassem nossa República, os trabalhadores os
atingiriam pela retaguarda. É isso que queremos dizer quando afirmamos que
os trabalhadores da Europa Ocidental apoiam a nossa revolução.
Mas do apoio dos trabalhadores do Ocidente à vitória da revolução no Oci-
dente é um longo, longo caminho. Sem o apoio dos trabalhadores do Ocidente,
dificilmente poderíamos resistir aos inimigos que nos cercam. Se esse apoio evo-
luir posteriormente para uma revolução vitoriosa no Ocidente, tudo bem. Então
220Ver “Resoluções e Decisões do PCUS. Congressos, Conferências e Plenárias do Comitê Central”,
Parte II, 1953 pp. 73-82.
J. V. Stalin 345
a vitória do socialismo em nosso país será definitiva. Mas e se esse apoio não se
transformar em uma vitória da revolução no Ocidente? Se não houver tal vitória
no Ocidente, podemos construir uma sociedade socialista e concluir a construção
dela? O congresso respondeu que podemos. Do contrário, não haveria sentido
em tomarmos o poder em outubro de 1917. Se não tivéssemos contado dar o
golpe final em nossos capitalistas, todos diriam que não tínhamos nada a ver
com tomar o poder em outubro de 1917. A oposição, porém, afirma que não
podemos acabar com nossos capitalistas por nossos próprios esforços.
Essa é a diferença entre nós.
Também se falou no congresso sobre a vitória final do socialismo. O que
isso significa? Significa uma garantia total contra a intervenção de capitalistas
estrangeiros e a restauração da velha ordem em nosso país como resultado de
uma luta armada desses capitalistas contra nosso país. Podemos, pelos nossos
próprios esforços, assegurar essa garantia, ou seja, impossibilitar a intervenção
armada do capital internacional? Não, nós não podemos. Isso deve ser feito em
conjunto por nós e pelos proletários de todo o Ocidente. O capital internacional
pode ser finalmente restringido apenas pelos esforços da classe trabalhadora de
todos os países, ou pelo menos dos principais países europeus. Para isso, a vitória
da revolução em vários países europeus é indispensável – sem ela a vitória final
do socialismo é impossível.
O que se segue então na conclusão?
Segue que somos capazes de construir completamente uma sociedade soci-
alista por nossos próprios esforços e sem a vitória da revolução no Ocidente,
mas que, por si só, nosso país não pode garantir-se contra a invasão do capital
internacional – para isso a vitória de a revolução em vários países ocidentais é
necessária. A possibilidade de construir completamente o socialismo em nosso
país é uma coisa, a possibilidade de garantir nosso país contra as usurpações do
capital internacional é outra.
Na minha opinião, o seu erro e o dos seus camaradas é que vocês ainda não
encontraram sua posição sobre este tópico e confundiram estas duas questões.
Saudações camaradas,
J. Stalin
P.S: Você deve realizar a leitura do Bolchevique221 (de Moscou), nº 3, e ler meu
artigo nele. Isso tornaria as coisas mais fáceis para você.
221Foi uma revista teórica e política, órgão do Comitê Central do PCUS (B) que começou a ser
publicada em abril de 1924. Stalin se refere à edição que continha o seu escrito “Sobre as questões
do Leninismo”. Desde novembro de 1952 a revista continua em circulação, e é publicada sob o título
de “Kommunist”.
346 Obras Escolhidas
Acho que a atitude de Hansen e Ruth Fischer está errada. Exigem que a luta
contra os direitistas e os “ultraesquerdistas” seja travada sempre e em toda parte,
em todas as condições, com igual intensidade, no princípio, por assim dizer, da
equidade. Essa ideia de equidade, de golpear os direitistas e os “ultraesquerdis-
tas” com igual intensidade em todas as condições e circunstâncias, é infantil. É
algo que nenhum político pode entreter. A questão da luta contra os direitistas e
os “ultra esquerdistas” deve ser encarada não do ponto de vista da equidade, mas
do ponto de vista das demandas da situação política, das exigências políticas do
Partido em cada momento. Por que, no Partido francês, a luta contra os direitos
é a tarefa urgente e imediata no momento, enquanto no Partido Comunista ale-
mão a tarefa imediata é a luta contra os “ultraesquerdistas”? Porque as situações
nos partidos comunistas francês e alemão não são idênticas. Porque os requisitos
políticos dessas duas partes no momento são diferentes.
A Alemanha só recentemente emergiu de uma profunda crise revolucioná-
ria, quando o Partido conduzia sua luta pelo método de ataque direto. Agora
o Partido Comunista Alemão está passando por um período de concentração de
forças e preparação das massas para as batalhas decisivas que estão por vir. Nesta
nova situação, o método de ataque direto não servirá mais para a realização dos
antigos objetivos. O que o Partido Comunista Alemão deve fazer agora é passar
ao método dos movimentos de flanco, com o objetivo de conquistar a maioria
da classe trabalhadora na Alemanha. É natural nestas circunstâncias que encon-
tremos na Alemanha um grupo de “ultraesquerdistas” que continua a repetir os
velhos slogans à moda dos colegiais e não pode ou não quer adaptar-se às novas
condições da luta, que exigem novos métodos de trabalho. Temos, portanto, os
“ultraesquerdistas” que, com a sua política, impedem o Partido de se adaptar às
novas condições da luta e de encontrar o seu caminho para as grandes massas do
proletariado alemão. Ou o Partido Comunista Alemão quebra a resistência dos
“ultraesquerdistas”, e então estará no caminho certo para conquistar a maioria
da classe trabalhadora; ou não, e então tornará a crise atual crônica e desastrosa
para o Partido. Portanto, a luta contra os “ultraesquerdistas” no Partido Comu-
nista Alemão é a tarefa imediata deste último.
Na França, a situação é diferente. Naquele país, não houve nenhuma crise
revolucionária profunda até agora. A luta lá prosseguiu dentro dos limites da
legalidade e os métodos de luta foram exclusivas, ou quase exclusivamente, de
caráter jurídico. Mas agora uma crise começou a se desenvolver na França. Tenho
em mente as guerras do Marrocos e da Síria e as dificuldades financeiras da
J. V. Stalin 347
França. Quão profunda é essa crise, é difícil dizer no momento, mas é uma crise,
no entanto, e que exige do Partido uma combinação de formas legais e ilegais
de luta e a máxima bolchevização do Partido. É natural nestas circunstâncias
que encontremos no Partido Francês um grupo – refiro-me aos de direita – que
não consegue ou não quer adaptar-se às novas condições da luta e que continua
por inércia a insistir nos velhos métodos de luta como os únicos corretos. Esta
circunstância, é claro, não pode deixar de impedir a bolchevização do Partido
Comunista Francês. Portanto, o perigo certo no Partido Comunista Francês é o
perigo imediato. Portanto, a tarefa de lutar contra o perigo de direita é a tarefa
urgente do Partido Comunista Francês.
Algumas ilustrações da história do PCUS (B). Depois da Revolução de 1905,
surgiu também em nosso Partido um grupo “ultraesquerdista”, conhecido como
“otzovistas”, que não pôde ou não quis se adaptar às novas condições da luta e
se recusou a reconhecer o método de utilização de oportunidades legais (Duma,
clubes de trabalhadores, fundos de seguro, etc.). Como sabem, Lenin lutou reso-
lutamente contra aquele grupo e foi depois de o Partido ter conseguido vencê-lo
que pôde seguir o caminho certo. Tivemos a mesma coisa depois da Revolução
de 1917, quando um grupo “ultra esquerdista” se opôs à Paz de Brest. Como
sabem, o nosso Partido, sob a liderança de Lenin, também destruiu este grupo.
O que esses fatos mostram? Eles mostram que a questão da luta contra os
direitistas e os “ultraesquerdistas” deve ser colocada não de maneira abstrata,
mas concreta, dependendo da situação política.
É acidental que os franceses tenham chegado ao Presidium do Comitê Exe-
cutivo da Internacional Comunista com uma resolução contra os elementos de
direita em seu partido, e os alemães com uma resolução contra os “ultra esquer-
distas”? Claro que não. A língua sempre se volta para o dente dolorido.
Portanto, a ideia de equidade, de golpear as direitas e as “ultraesquerdistas”
com igual intensidade, é insustentável.
Por isso mesmo, sugiro suprimir do projeto de resolução sobre os “ultraes-
querdistas” na Alemanha a frase que diz que no Partido Comunista Alemão é
necessário concentrar-se em igual medida na luta contra os Direitos e os “ultra-
esquerdistas”. Proponho que esta frase seja eliminada pela mesma razão que a
frase sobre a concentração na luta contra os “ultraesquerdistas” foi eliminada da
resolução sobre os direitos no Partido Comunista Francês. Que os de direta e os
“ultraesquerdistas” devem ser combatidos sempre e em todos os lugares é perfei-
tamente verdade. Mas não é esse o ponto agora; a questão é em que nos concen-
trar no momento presente na França, por um lado, e na Alemanha, por outro.
Acho que no Partido Comunista Francês é necessário concentrar-se na luta contra
os elementos de direita, pois isso é exigido por necessidade política no momento
atual, enquanto no Partido Comunista Alemão é necessário concentrar-se na luta
contra os “ultraesquerdistas”, já que isso é exigido pelas exigências políticas do
Partido Comunista Alemão no momento atual.
Qual é a posição do grupo intermediário no Partido Comunista Alemão –
o grupo Ruth Fischer-Maslow – olhando para a questão do ponto de vista que
acabamos de expor? Este grupo, em minha opinião, está examinando diplomati-
camente o grupo “ultraesquerdista” de Scholem. O grupo Ruth Fischer-Maslow
348 Obras Escolhidas
não está do lado do grupo Scholem abertamente, mas está fazendo tudo ao seu
alcance para enfraquecer a força do golpe do Partido contra o grupo Scholem. O
grupo Ruth Fischer-Maslow está, portanto, atrapalhando os esforços do Comitê
Central do Partido Comunista Alemão para superar e eliminar os preconceitos
“ultraesquerdistas” do Partido Comunista Alemão. O Partido Comunista Ale-
mão deve, portanto, travar uma luta determinada contra este grupo, o grupo
Ruth Fischer-Maslow. Ou o grupo Ruth Fischer-Maslow é esmagado, e então o
Partido estará em posição de superar a crise atual na luta contra o grupo Scho-
lem; ou o Partido Comunista Alemão é enganado pelas artimanhas diplomáticas
do grupo Ruth Fischer-Maslow, e então a luta estará perdida, em benefício de
Scholem.
II
As perspectivas da revolução na
China
30 de novembro de 1926
Onde está a força das tropas de Cantão? No fato de se inspirarem num ideal,
no entusiasmo, na luta pela libertação do imperialismo; no fato de que estão
trazendo a libertação da China. Onde está a força dos generais contrarrevolu-
cionários na China? No fato de serem apoiados pelos imperialistas de todos os
países, pelos donos de todas as ferrovias, concessões, moinhos e fábricas, bancos
e casas comerciais na China.
Portanto, não se trata apenas, ou nem tanto, da incursão de tropas estran-
geiras, mas do apoio que os imperialistas de todos os países estão prestando aos
contrarrevolucionários na China. Intervenção pelas mãos de outros – é aí que
reside a raiz da intervenção imperialista.
Portanto, a intervenção imperialista na China é um fato indubitável, e é con-
tra ela que se dirige a revolução chinesa.
Portanto, quem ignora ou subestima o fato da intervenção imperialista na
China, ignora ou subestima o que há de principal e fundamental na China.
Diz-se que os imperialistas japoneses mostram alguns sintomas de “boa von-
tade” para com os cantoneses e a revolução chinesa em geral. Diz-se que os im-
perialistas americanos não estão atrás dos japoneses nesse aspecto. Isso é auto-
engano, camaradas. É preciso saber distinguir entre a essência da política dos
imperialistas, incluindo a dos imperialistas japoneses e americanos, e seus dis-
farces. Lenin costumava dizer que é difícil impor os revolucionários com a clava
ou com o punho, mas às vezes é muito fácil aceitá-los com lisonjas. Essa verdade
de Lenin nunca deve ser esquecida, camaradas. Em todo caso, está claro que
os imperialistas japoneses e americanos perceberam muito bem seu valor. É ne-
cessário, portanto, fazer uma distinção estrita entre agrados e elogios feitos aos
cantoneses e o fato de que os imperialistas que são mais generosos com os agra-
dos são aqueles que se apegam mais firmemente às “suas” concessões e ferrovias
na China, e que não o farão consentir em abandoná-las a qualquer preço.
Minha terceira observação diz respeito ao fato de que as teses nada dizem,
ou não dizem o suficiente, sobre o caráter do futuro governo revolucionário
na China. Mif, em suas teses, chega perto do assunto, e isso tem o seu cré-
dito. Mas, chegando perto disso, por algum motivo ele ficou assustado e não se
aventurou a levar o assunto a uma conclusão. Mif pensa que o futuro governo
revolucionário na China será um governo da pequena burguesia revolucioná-
ria, sob a direção do proletariado. O que isso significa? Na época da revolu-
J. V. Stalin 355
222 Tal política era correta nas condições prevalecentes na época, visto que o Kuomintang represen-
tava, então, um bloco de comunistas e kuomintanguistas mais ou menos de esquerda, que conduziam
uma política revolucionária anti-imperialista. Posteriormente, essa política foi abandonada por não
estar mais em conformidade com os interesses da revolução chinesa, uma vez que o Kuomintang ha-
via desertado da revolução e depois se tornado o centro da luta contra ela, enquanto os comunistas
se retiraram do Kuomintang e romperam relações com ele.
360 Obras Escolhidas
Resposta a Yansky
Obviamente, recebi sua carta. Estou respondendo com alguma demora, pelo
que, por favor, me perdoe.
1) Lenin diz que “a questão principal de toda revolução é a questão do poder
do Estado” (ver Vol. 21, p. 142). Nas mãos de que classe, ou de quais classes,
está o poder concentrado; qual classe, ou quais classes, devem ser derrubadas;
qual classe, ou quais classes, devem assumir o poder – essa é “a questão principal
de toda revolução”.
Os slogans estratégicos fundamentais do Partido, que mantêm a sua validade
durante todo o período de qualquer fase específica da revolução, não podem ser
chamados de slogans fundamentais se não forem total e inteiramente baseados
nesta tese cardinal de Lenin.
Os slogans fundamentais só podem ser corretos se forem baseados em uma
análise marxista das forças de classe, se indicarem o plano correto de disposição
das forças revolucionárias na frente da luta de classes, se ajudarem a trazer as
massas para a frente da luta pela vitória da revolução, à frente da luta pela tomada
do poder pela nova classe, se ajudarem o Partido a formar das amplas massas
populares o grande e poderoso exército político que é essencial para a realização
desta tarefa.
Durante qualquer estágio particular da revolução podem ocorrer derrotas e
recuos, fracassos e erros táticos, mas isso não significa que o slogan estratégico
fundamental esteja errado. Assim, por exemplo, o slogan fundamental na pri-
meira fase da nossa revolução – “junto com todo o campesinato, contra o tsar e os
latifundiários, neutralizando a burguesia, pela vitória da revolução democrático-
burguesa” foi absolutamente um slogan correto, apesar da derrota da Revolução
de 1905.
Consequentemente, a questão da palavra de ordem fundamental do Partido
não deve ser confundida com a questão dos sucessos ou fracassos da revolução
em qualquer estágio particular de seu desenvolvimento.
Pode acontecer que, no curso da revolução, a palavra de ordem fundamental
do Partido já tenha levado à derrubada do poder das velhas classes, ou da velha
classe, mas uma série de demandas vitais da revolução, decorrentes deste slogan,
não foram alcançadas, ou sua realização se espalhou por um período de tempo
inteiro, ou uma nova revolução pode ser necessária para sua realização; mas isso
não significa que o slogan fundamental estivesse errado. Assim, por exemplo, a
Revolução de fevereiro de 1917 derrubou o tsarismo e os proprietários de terras,
mas não levou ao confisco das terras dos proprietários, etc.; mas isso não significa
que nosso slogan fundamental no primeiro estágio da revolução estivesse errado.
J. V. Stalin 361
Isso não deve ser entendido como significando que agora temos uma dita-
dura do proletariado e do campesinato pobre. É claro que não é assim. Marcha-
mos em direção a outubro sob o lema da ditadura do proletariado e do cam-
pesinato pobre, e em outubro a efetivamos formalmente, na medida em que
tínhamos um bloco com os socialistas-revolucionários de esquerda e com eles
dividíamos a direção, embora, na verdade, a ditadura de o proletariado já exis-
tisse, pois nós, bolcheviques, constituímos a maioria. A ditadura do proletariado
e do campesinato pobre deixou de existir formalmente, porém, após o “golpe”
J. V. Stalin 365
Como você vê, isso equivale exatamente ao oposto do que você diz em sua
carta; você vira nossa prática real do Partido de cabeça para baixo ao confundir
o início da neutralização com seu fim.
O camponês médio choramingava e oscilava entre a revolução e a contrarre-
volução enquanto a burguesia era derrubada e o poder dos sovietes não se con-
solidava; portanto, era necessário neutralizá-lo. O camponês médio começou a
se voltar para nós quando começou a se convencer de que a burguesia havia sido
derrubada “para sempre”, que o poder dos soviéticos estava se consolidando,
que o kulak estava sendo vencido e que o Exército Vermelho estava começando a
conquistar vitória nas frentes da Guerra Civil. E foi precisamente depois dessa
virada que o terceiro slogan estratégico do Partido, emitido por Lenin no Oitavo
Congresso do Partido, se tornou possível, a saber: “contando com os camponeses
pobres e estabelecendo uma aliança estável com os camponeses médios – à frente
da construção socialista”!
Como você pôde esquecer esse fato tão conhecido?
Da sua carta resulta também que a política de neutralizar o camponês mé-
dio durante a transição para a revolução proletária, e nos primeiros dias após a
vitória dessa revolução, é errada, inadequada e, portanto, inaceitável. Isso está
totalmente errado. No caso, é o oposto. É precisamente enquanto o poder da
burguesia está sendo derrubado e antes que o poder do proletariado se conso-
lide que o camponês médio vacila e resiste acima de tudo. É precisamente neste
período que se faz necessária a aliança com o camponês pobre e a neutralização
do camponês médio.
Persistindo no seu erro, o senhor afirma que a questão do campesinato é
muito importante, não só para o nosso país, mas também para outros países “que
mais ou menos se assemelham ao sistema econômico da Rússia anterior a ou-
tubro”. Esta última afirmação é, obviamente, verdadeira. Mas aqui está o que
Lenin disse em suas teses sobre a questão agrária no II Congresso do Comin-
tern, sobre a política dos partidos proletários em relação ao camponês médio no
período em que o proletariado está tomando o poder. Depois de definir o cam-
pesinato pobre, ou mais precisamente, “as massas trabalhadoras e exploradas no
campo”, como um grupo separado consistindo em trabalhadores agrícolas, se-
miproletários ou titulares de quotas e pequenos camponeses, passando então à
J. V. Stalin 367
revolucionário em Wuhan.
Mas esta tentativa foi um sinal de que um reagrupamento das forças de classe
estava ocorrendo no país, que os direitistas e a burguesia nacional não desisti-
riam, que eles intensificariam seu trabalho contra a revolução.
O CC do PCUS (B) estava certo, portanto, quando disse em março de 1927
que: a) “na atualidade, em conexão com o reagrupamento das forças de classe
e concentração dos exércitos imperialistas, a revolução chinesa atravessa um pe-
ríodo crítico, e que só pode alcançar novas vitórias adotando resolutamente o
curso de desenvolvimento das massas movimento”; b) “é necessário adotar o curso
de armar os operários e camponeses e converter os comitês camponeses das lo-
calidades em verdadeiros órgãos de poder governamental dotados de legítima
defesa armada”; c) “o Partido Comunista não deve encobrir a política traiçoeira
e reacionária dos Direitos do Kuomintang, e deve mobilizar as massas em torno
do Kuomintang e do Partido Comunista Chinês com vistas a expor os Direitos”
(3 de março de 1927).
Portanto, será facilmente compreendido que o subsequente poderoso golpe
da revolução, por um lado, e o ataque imperialista em Xangai, por outro lado,
estavam fadados a lançar a burguesia nacional chinesa no campo da contrarre-
volução, assim como a ocupação de Xangai pelas tropas nacionais e as greves dos
trabalhadores de Xangai foram destinadas a unir os imperialistas para estrangu-
lar a revolução.
E foi isso que aconteceu. O massacre de Nanquim serviu, a este respeito,
como um sinal para uma nova demarcação das forças em conflito na China. Ao
bombardear a região e apresentar um ultimato, os imperialistas queriam deixar
claro que buscavam o apoio da burguesia nacional para uma luta conjunta contra
a revolução chinesa.
Chiang Kai-shek, por outro lado, ao disparar contra as reuniões de trabalha-
dores e engendrar um golpe, estava, por assim dizer, respondendo ao apelo dos
imperialistas e dizendo que estava pronto para fazer um acordo com eles junta-
mente com os a burguesia contra os trabalhadores e camponeses chineses.
que são a favor de seu posterior desenvolvimento e aqueles que são a favor de sua
liquidação, se tornará mais aguda a cada dia e preencherá todo o período atual
da revolução.
Significa que, travando uma luta decidida contra o militarismo e o imperi-
alismo, o Kuomintang revolucionário em Wuhan se tornará de fato o órgão de
uma ditadura democrática revolucionária do proletariado e do campesinato, en-
quanto o grupo contrarrevolucionário de Chiang Kai-shek em Nanquim, por
separar-se dos trabalhadores e camponeses e aproximar-se do imperialismo, aca-
bará por partilhar o destino dos militaristas.
Mas daí decorre que a política de preservação da unidade do Kuomintang,
a política de isolar os Direitos dentro do Kuomintang e de os utilizar para os
fins da revolução, não está mais de acordo com as novas tarefas da revolução. A
política deve ser substituída por uma política de expulsar resolutamente os ele-
mentos de direita do Kuomintang, uma política de lutar resolutamente contra os
direitistas até que sejam completamente eliminados politicamente. Uma política
de concentrar todo o poder do país nas mãos de um Kuomintang revolucionário,
um Kuomintang sem seus elementos de direita, um Kuomintang que é um bloco
entre as esquerdas do Kuomintang e os comunistas.
Segue-se, além disso, que a política de estreita cooperação entre as esquerdas
e os comunistas dentro do Kuomintang adquire um valor e significado particu-
lares nesta fase, que esta cooperação reflete a aliança entre os trabalhadores e
camponeses que está se formando fora do Kuomintang, e que sem essa coopera-
ção a vitória da revolução será impossível.
Segue-se, além disso, que a principal fonte de força do Kuomintang revolu-
cionário está no desenvolvimento do movimento revolucionário dos trabalhado-
res e camponeses e no fortalecimento de suas organizações de massas – comitês
camponeses revolucionários, sindicatos de trabalhadores e outras organizações
revolucionárias de massa – Como os elementos preparatórios dos futuros sovie-
tes, e que o principal penhor da vitória da revolução é o crescimento da atividade
revolucionária das vastas massas do povo trabalhador, e o principal antídoto para
a contrarrevolução é o armamento do trabalhadores e camponeses.
Segue-se, por último, que enquanto luta nas mesmas fileiras dos kuomintan-
guistas revolucionários, o Partido Comunista deve mais do que nunca preservar a
sua independência, como condição essencial para garantir a hegemonia do pro-
letariado na revolução democrático-burguesa.
O erro básico da oposição (Radek e companhia) é que ela não entende o ca-
ráter da revolução na China, o estágio que está passando e seu atual cenário
internacional.
A oposição exige que a revolução chinesa se desenvolva aproximadamente no
mesmo ritmo que a Revolução de Outubro. A oposição está insatisfeita porque
os trabalhadores de Xangai não travaram uma batalha decisiva aos imperialistas
e seus subalternos.
372 Obras Escolhidas
Claro, alguém poderia pensar. Isso foi escrito por ninguém menos que Trotsky.
Com que base, então, Trotsky, Zinoviev e Kamenev estão agora contando uma his-
tória sobre o Partido e seu Comitê Central “ocultando” a “vontade” de Lenin? É
“permitido” esmiuçar os fios, mas é preciso saber onde parar.
Diz-se que nesse “testamento”, o camarada Lenin sugeriu ao congresso que,
em vista da “grosseria” de Stalin, deveria considerar a questão de colocar outro
camarada no lugar de Stalin como secretário-geral. Isso é verdade. Sim, camara-
das, sou rude com aqueles que, de forma grosseira e pérfida, destroem e dividem
o Partido. Eu nunca escondi isso e não escondo agora. Talvez seja necessário um
pouco de suavidade no tratamento de divisores, mas sou péssimo nisso. Logo na
primeira reunião da plenária do Comitê Central após o Décimo Terceiro Con-
gresso, pedi à plenária do Comitê Central que me liberasse de minhas funções
como Secretário Geral. O próprio congresso discutiu esta questão. O assunto
foi discutido por cada delegação separadamente, e todas as delegações por una-
nimidade, incluindo Trotsky, Kamenev e Zinoviev, me obrigaram a permanecer
em meu posto.
O que eu poderia fazer? Largar meu posto? Isso não é da minha natureza;
nunca abandonei nenhum posto e não tenho o direito de fazê-lo, pois isso seria
deserção. Como já disse antes, não sou um agente livre e, quando o Partido me
impõe uma obrigação, devo obedecer.
Um ano depois, apresentei novamente à plenária um pedido de libertação,
mas fui novamente obrigado a permanecer no meu posto. O que mais posso
fazer?
Quanto à publicação do “testamento”, o congresso decidiu por não o publicar,
uma vez que era dirigido ao congresso e não se destinava à publicação.
Temos a decisão de um plenária do Comitê Central e da Comissão Central
de Controle em 1926 de pedir permissão ao Décimo Quinto Congresso para pu-
blicar este documento. Temos a decisão do mesma plenária do Comitê Central
e da Comissão Central de Controle de publicar outras cartas de Lenin, nas quais
apontava os erros de Kamenev e Zinoviev pouco antes da insurreição de outubro
e exigia sua expulsão do Partido227 .
Obviamente, falar sobre o Partido ocultar esses documentos é uma calúnia
infame. Entre esses documentos estão cartas de Lenin exortando a necessidade
de expulsar Zinoviev e Kamenev do Partido. O Partido Bolchevique, o Comitê
Central do Partido Bolchevique, nunca temeu a verdade. A força do Partido
Bolchevique reside precisamente no fato de que ele não teme a verdade e a encara
nos olhos.
A oposição está tentando usar a “vontade” de Lenin como um trunfo; mas
é suficiente ler este “testamento” para ver que não é um trunfo para eles. Ao
227V. I. Lenin, “Uma Carta aos Membros do Partido Bolchevique” e “Uma Carta ao Comitê Central
do POSDR”.
J. V. Stalin 377
E aqui está o que Lenin disse no Décimo Congresso sobre qualquer possível
oposição após o Décimo Congresso:
Consolidação do Partido, proibição de oposição no Partido – essa é a conclusão política a
ser tirada da situação atual (...) não queremos oposição agora, camaradas. E acho que o
congresso do partido terá que tirar essa conclusão, tirar a conclusão de que agora devemos
acabar com a oposição, acabar com ela, já estamos fartos de oposições agora! (Ibid., p. p 61
e 63)
lhas!” ). Será que poderíamos, depois de tudo isso, depois de Maslow, com a ajuda
de Trotsky e Zinoviev, ter imprimido para informação pública depoimentos trun-
cados de pessoas presas, poderíamos, afinal, abster-nos de fazer um relatório à
plenária do Comitê Central e da Comissão Central de Controle e de contrastar
as histórias mentirosas com os fatos reais e os depoimentos reais?
Por isso, o Comitê Central e a Comissão Central de Controle consideraram
necessário pedir ao camarada Menzhinsky que se pronunciasse sobre os fatos.
O que se segue desses depoimentos, da declaração do camarada Menzhinsky?
Já acusamos ou agora estamos acusando a oposição de organizar uma conspira-
ção militar? Claro que não. Alguma vez acusamos ou estamos agora acusando a
oposição de tomar parte nesta conspiração? Claro que não. (Muralov: “Você fez
a acusação no última plenária” ). Isso não é verdade, Muralov. Temos duas decla-
rações do Comitê Central e da Comissão Central de Controle sobre a tipografia
ilegal e antipartido e sobre os intelectuais não-partidários ligados a essa tipogra-
fia. Você não encontrará uma única frase, nenhuma palavra, nesses documentos,
para mostrar que estamos acusando a oposição de participar de uma conspiração
militar. Nesses documentos, o Comitê Central e a Comissão Central de Controle
apenas afirmam que, ao organizar sua gráfica ilegal, a oposição entrou em con-
tato com intelectuais burgueses, e que alguns desses intelectuais, por sua vez,
foram encontrados em contato com guardas brancos que estavam tramando uma
conspiração militar. Peço a Muralov que destaque a passagem relevante nos do-
cumentos publicados pelo Bureau Político do Comitê Central e pelo Presidium
da Comissão Central de Controle em relação a esta questão. Muralov não pode
apontar tal passagem porque ela não existe.
Sendo esse o caso, quais são as acusações que fizemos e ainda fazemos contra
a oposição?
Em primeiro lugar, que a oposição, ao seguir uma política de divisão, orga-
nizou uma gráfica ilegal antipartido. Em segundo lugar, que a oposição, com
o propósito de organizar esta tipografia, formou um bloco com os intelectuais
burgueses, parte dos quais acabou em contato direto com conspiradores con-
trarrevolucionários. Em terceiro lugar, que, ao alistar os serviços de intelectuais
burgueses e conspirar com eles contra o Partido, a oposição, independentemente
de sua vontade ou desejo, se viu cercada pela chamada “terceira força”.
A oposição provou ter muito mais confiança nesses intelectuais burgueses do
que no seu próprio partido. Caso contrário, não teria exigido a libertação de
“todos os presos” em conexão com a imprensa ilegal, incluindo Shcherbakov,
Tverskoy, Bolshakov e outros, que foram encontrados em contato com elementos
contrarrevolucionários.
A oposição queria ter uma impressora ilegal antipartido; para tanto, recorreu
à ajuda de intelectuais burgueses, mas alguns desses intelectuais mostraram estar
em contato com os contrarrevolucionários francos – tal é a cadeia que resultou,
camaradas. Independentemente da vontade ou desejo da oposição, elementos
antissoviéticos se aglomeraram em torno dela e se esforçaram para utilizar suas
atividades de divisão para seus próprios fins.
Assim, o que Lenin previu já no Décimo Congresso do nosso Partido, onde
disse que a “terceira força”, que é a burguesia, certamente tentaria agarrar o
382 Obras Escolhidas
conflito dentro de nosso Partido para utilizar as atividades da oposição para seus
próprios fins de classe, tornou-se realidade.
Diz-se que elementos contrarrevolucionários às vezes também penetram em
nossos corpos soviéticos, nas frentes, por exemplo, sem ter qualquer ligação com
a oposição. Isso é verdade. Em tais casos, entretanto, as autoridades soviéticas
prendem esses elementos e os matam. Mas o que a oposição fez? Exigia a liber-
tação dos intelectuais burgueses que foram presos em conexão com a imprensa
ilegal e foram encontrados em contato com elementos contrarrevolucionários.
Esse é o problema, camaradas. É a isso que conduzem as atividades de divisão da
oposição. Em vez de pensar em todos esses perigos, em vez de pensar no buraco
que se abre diante deles, nossos oposicionistas lançam calúnias sobre o Partido e
tentam com todas as suas forças desorganizar e dividir nosso Partido.
Fala-se sobre um ex-oficial de Wrangel que está ajudando a OGPU a des-
mascarar organizações contrarrevolucionárias. A oposição pula, dança e faz um
grande estardalhaço sobre o fato de que o ex-oficial Wrangel a quem os aliados da
oposição, todos esses Shcher-bakovs e Tverskoys, pediram ajuda, provou ser um
agente da OGPU. Mas há algo de errado neste ex-oficial de Wrangel ajudando as
autoridades soviéticas a desmascarar conspirações contrarrevolucionárias? Quem
pode negar às autoridades soviéticas o direito de atrair ex-oficiais para o seu lado
a fim de empregá-los com o propósito de desmascarar as organizações contrar-
revolucionárias?
Shcherbakov e Tverskoy dirigiram-se a este ex-oficial Wrangel não porque
ele fosse um agente da OGPU, mas porque ele era um ex-oficial Wrangel, e eles
o fizeram para empregá-lo contra o Partido e contra o governo soviético. Esse
é o ponto, e esse é o infortúnio de nossa oposição. E quando, seguindo essas
pistas, a OGPU inesperadamente se deparou com a imprensa ilegal antipartido
dos trotskistas, descobriu que, enquanto organizava um bloco com a oposição, os
senhores Shcherbakovs, Tverskoys e Bolchekovs já estavam em um bloco com con-
trarrevolucionários, com ex-oficiais de Kolchak como Kostrov e Novikov, como o
camarada Menzhinsky informou a você hoje.
Esse é o ponto, camaradas, e esse é o problema com nossa oposição.
As atividades de cisão da oposição levam-na a se conectar com os intelectuais
burgueses, e a ligação com os intelectuais burgueses torna mais fácil para todos os
tipos de elementos contrarrevolucionários envolvê-la – esta é a amarga verdade.
plenária que vem acontecendo nos últimos seis meses, particularmente nos úl-
timos três ou quatro meses, sobre todas as questões relativas à política interna
e externa? O que mais pode ser chamado tudo isso senão estimular a atividade
dos membros do Partido arrastando-os para a discussão das grandes questões de
nossa política, preparando os membros do Partido para o congresso?
De quem é a culpa se, em tudo isso, as organizações do Partido não apoiam a
oposição? Obviamente, a culpa é da oposição, pois sua linha é de falência total,
sua política é a de um bloco com todos os elementos antipartidários, inclusive os
renegados Maslow e Souvarine, contra o Partido e o Comintern.
Evidentemente, Zinoviev e Trotsky pensam que os preparativos para o con-
gresso devem ser feitos organizando prensas ilegais antipartido, organizando
reuniões ilegais antipartido, fornecendo relatórios falsos sobre o nosso Partido
aos imperialistas de todos os países, desorganizando e dividindo nosso partido.
Você concordará que esta é uma ideia bastante estranha do que significam os
preparativos para o congresso do Partido. E quando o Partido toma medidas re-
solutas, incluindo a expulsão, contra os desorganizadores e divisores, a oposição
levanta um grito de repressão.
Sim, o Partido recorre e recorrerá à repressão contra os desorganizadores e
divisores, pois o Partido não deve ser cindido em hipótese alguma, seja antes
do congresso, seja durante o congresso. Seria suicídio para o Partido permitir
que divisores absolutos, aliados de todos os tipos de Shcherbakovs, destruíssem
o Partido só porque falta apenas um mês para o congresso.
O camarada Lenin via as coisas sob uma luz diferente. Você sabe que, em
1921, Lenin propôs que Shlyapnikov fosse expulso do Comitê Central e do Par-
tido, mas não por organizar uma tipografia antipartido, e não por se aliar a
intelectuais burgueses, mas simplesmente porque, em uma reunião de uma uni-
dade do Partido, Shlyapnikov ousou criticar as decisões do Conselho Supremo
de Economia Nacional. Se você comparar esta atitude de Lenin com o que o
Partido está fazendo agora com a oposição, você perceberá a licença que demos
aos desorganizadores e divisores.
Você certamente deve saber que em 1917, pouco antes do levante de outubro,
Lenin várias vezes propôs que Kamenev e Zinoviev fossem expulsos do Partido
simplesmente porque haviam criticado decisões do partido não publicadas no
jornal semiburguês Novaya Zhizn229 . Mas quantas decisões secretas do Comitê
Central e da Comissão de Controle Central estão agora sendo publicadas pela
nossa oposição nas colunas do jornal de Maslow em Berlim, que é um jornal
burguês, antissoviético e contrarrevolucionário! No entanto, toleramos tudo isso,
toleramos sem fim e, assim, damos aos divisores da oposição a oportunidade de
destruir nosso Partido. Essa é a desgraça que a oposição nos trouxe! Mas não
podemos tolerar isso para sempre, camaradas.
Diz-se que os desorganizadores que foram expulsos do Partido e realizam
atividades antissoviéticas estão sendo presos. Sim, nós os prendemos e faremos
isso no futuro, se eles não pararem de minar o Partido e o regime soviético.
Diz-se que tais coisas não têm precedentes na história do nosso Partido. Isso
229Novaya Zhizn (Nova Vida) foi um jornal menchevique publicado em Petrogrado em abril de 1917;
fechou em julho de 1918.
384 Obras Escolhidas
Partido trava agora contra o trotskismo é uma continuação da luta que o Partido,
dirigido por Lenin, travou de 1904 em diante?
Não é óbvio por tudo isso que as tentativas dos trotskistas de substituir o le-
ninismo pelo trotskismo são a causa principal do fracasso e da falência de toda a
linha da oposição?
Nosso Partido nasceu e cresceu na tempestade das batalhas revolucionárias.
Não é um partido que cresceu em um período de desenvolvimento pacífico. Por
isso mesmo é rico em tradições revolucionárias e não faz de seus líderes um feti-
che. Houve uma época em que Plekhanov era o homem mais popular do Partido.
Mais do que isso, ele foi o fundador do Partido, e sua popularidade era incom-
paravelmente maior do que a de Trotsky ou Zinoviev. No entanto, apesar disso, o
Partido se afastou de Plekhanov assim que ele começou a se afastar do marxismo
e se encaminhar para o oportunismo. É surpreendente, então, que pessoas que
não são tão “ótimas” gostem dele.
Mas a indicação mais marcante da degeneração oportunista da oposição, o
sinal mais marcante da falência e queda da oposição, foi seu voto contra o Ma-
nifesto do Comitê Executivo Central da URSS. A oposição é contra a introdução
de uma jornada de trabalho de sete horas! A oposição é contra o Manifesto do
Comitê Executivo Central da URSS! Toda a classe operária da URSS, toda a seção
avançada dos proletários em todos os países, acolhe com entusiasmo o Manifesto,
aplaude unanimemente a ideia de introduzir uma jornada de trabalho de sete ho-
ras – mas a oposição vota contra o Manifesto e acrescenta sua voz ao coro geral
de “críticos” burgueses e mencheviques, acrescenta sua voz à dos caluniadores da
equipe de Vorwarts231 .
Não pensei que a oposição pudesse cair em tal desgraça.
Passemos agora à questão da linha do nosso Partido nos últimos dois anos;
vamos examiná-la e avaliá-la.
Zinoviev e Trotsky disseram que a linha de nosso Partido se revelou inade-
quada. Voltemos aos fatos. Tomemos quatro questões principais de nossa política
e examinemos a linha de nosso Partido nos últimos dois anos a partir dessas ques-
tões. Tenho em mente questões decisivas como a do campesinato, a da indústria
e seu reaparelhamento, a da paz e, por último, a do crescimento dos elementos
comunistas no mundo.
A questão do campesinato. Qual era a situação em nosso país há dois ou três
anos? Você sabe que a situação no campo era grave. Nossos presidentes do Co-
mitê Executivo da Volost, e funcionários do interior em geral, nem sempre eram
reconhecidos e frequentemente eram vítimas de terrorismo. Correspondentes
da aldeia foram recebidos com rifles serrados. Aqui e ali, especialmente nas re-
231Vorwarts (Avante) foi o órgão central do Partido Social-Democrata da Alemanha, publicado de
1876 a 1933. Após a Grande Revolução Socialista de Outubro, tornou-se um centro de propaganda
antissoviética.
J. V. Stalin 387
francês, que apoiou todos os tipos de atividades antissoviéticas, conduziu uma campanha de calúnias
contra os representantes e instituições soviéticas oficiais em Paris, e viu com bons olhos a ruptura das
relações diplomáticas da Grã-Bretanha com a URSS.
J. V. Stalin 389
Isso está muito bem, podemos dizer. A linha da oposição está errada, é uma
linha antipartido. Sua tática não pode ser chamada de outra coisa senão de tática
de divisão. A expulsão de Zinoviev e Trotsky é, portanto, a saída natural para a
situação que surgiu. Tudo isso é verdade.
Mas houve um tempo em que todos dizíamos que os líderes da oposição de-
viam ser mantidos no Comitê Central, que não deviam ser expulsos. Por que essa
mudança agora? Como explicar essa virada? E existe alguma mudança?
Sim existe. Como isso deve ser explicado? É devido à mudança radical que
ocorreu na política fundamental e no “esquema” organizacional dos líderes da
oposição. Os líderes da oposição, e principalmente Trotsky, mudaram para pior.
Naturalmente, isso causaria uma mudança na política do Partido em relação a
esses oposicionistas.
Tomemos, por exemplo, uma questão de princípio tão importante como a da
degeneração do nosso Partido. O que se entende por degeneração do nosso Par-
tido? Significa negar a existência da ditadura do proletariado na URSS. Qual
era a posição de Trotsky neste assunto, digamos, cerca de três anos atrás? Você
sabe que naquela época os liberais e os mencheviques, os smena-vekhistas236 e todo
tipo de renegados repetiam que a degeneração do nosso partido era inevitável.
236 Smena-vekhistas eram os representantes de uma tendência política burguesa que surgiu em 1921
entre a intelectualidade militar russa que vivia no exterior. Eram liderados por um grupo formado
por N. Ustryalov, Y. Kluchnikov e outros, que publicaram a revista Smena Vekh (Mudança de Marcos).
Os smena-vekhistas expressaram as opiniões da nova burguesia e da intelectualidade burguesa na
Rússia Soviética, que acreditava que, devido à introdução da NEP, o sistema soviético degeneraria
gradualmente em democracia burguesa.
390 Obras Escolhidas
Você sabe que naquela época eles citaram exemplos da Revolução Francesa e afir-
maram que os bolcheviques estavam fadados a sofrer o mesmo colapso que os
jacobinos sofreram em seus dias na França. Você sabe que as analogias históricas
com a Revolução Francesa (a queda dos jacobinos) foram e são hoje o principal
argumento avançado por todos os vários mencheviques e smena-vekhistas contra a
manutenção da ditadura do proletariado e a possibilidade de construir o socia-
lismo em nosso país.
Qual foi a atitude de Trotsky em relação a isso há três anos? Ele certamente se
opôs ao desenho de tais analogias. Aqui está o que ele escreveu na época em seu
panfleto “O novo curso” (1924): “As analogias históricas com a Grande Revolução
Francesa (a queda dos jacobinos!), que o liberalismo e o menchevismo utilizam e
se consolam, são superficiais e doentias”.
Claro e definitivo! Seria difícil, eu acho, se expressar de forma mais enfática
e definitiva. Trotsky estava certo no que então disse sobre as analogias históricas
com a revolução francesa que estavam sendo zelosamente avançadas por todos os
tipos de smena-vekhistas e mencheviques? Absolutamente certo.
Mas agora? Trotsky ainda adota essa posição? Infelizmente, ele não o faz.
Pelo contrário. Durante esses três anos, Trotsky conseguiu evoluir na direção do
“menchevismo” e do “liberalismo”. Agora ele mesmo afirma que fazer analogias
históricas com a Revolução Francesa é um sinal não do menchevismo, mas do
“real”, “genuíno” “leninismo”. Os senhores leram o relato integral da reunião
do Presidium da Comissão Central de Controle realizada em julho deste ano? Se
o fizeram, compreenderão facilmente que, em sua luta contra o Partido, Trotsky
agora se baseia nas teorias mencheviques sobre a degeneração de nosso Partido
nas linhas da queda dos jacobinos no período da Revolução Francesa. Hoje,
Trotsky acha que tagarelar sobre o “Termidor”237 é sinal de bom gosto.
Do trotskismo ao “menchevismo” e ao “liberalismo” na questão fundamental
da degeneração: tal é o caminho que os trotskistas percorreram nos últimos três
anos.
Os trotskistas mudaram. A política do Partido para com os trotskistas também
teve que mudar.
Tomemos agora uma questão não menos importante, como a da organização,
da disciplina do Partido, da submissão da minoria à maioria, do papel desempe-
nhado pela disciplina de ferro do Partido no fortalecimento da ditadura do pro-
letariado. Todos sabem que a disciplina de ferro no nosso Partido é uma das con-
dições fundamentais para manter a ditadura do proletariado e para ter sucesso
na construção do socialismo no nosso país. Todos sabem que a primeira coisa
que os mencheviques em todos os países tentam fazer é minar a disciplina férrea
do nosso Partido. Houve um tempo em que Trotsky compreendeu e apreciou a
importância da disciplina de ferro em nosso Partido. Falando propriamente, as
237O 9 de Termidor do ano II da Revolução Francesa, segundo o calendário revolucionário, corres-
ponde a 27 de julho de 1794 e marca o ápice de uma série de eventos que marca o fim do chamado
Terror, com a queda de Robespierre e seus seguidores. Por votação, o Comitê de Salvação Pública
condenou à morte Robespierre, Saint-Just e vários outros membros da liderança do regime. O 9 de
Termidor marca, assim, o fim da segunda fase (1792-1794) – a mais radical – da Revolução Francesa.
Entre 30.000 e 40.000 pessoas de todas as classes foram vítimas do Terror. A essa fase, seguiu-se o
governo dos girondinos (N.T.)
J. V. Stalin 391
divergências entre nosso Partido e Trotsky nunca cessaram, mas Trotsky e os trots-
kistas foram espertos o suficiente para se submeter às decisões de nosso Partido.
Todos estão cientes das repetidas declarações de Trotsky de que, não importa o
que nosso Partido possa ser, ele estava pronto para “ficar em posição de sentido”
sempre que o Partido ordenasse. E deve ser dito que muitas vezes os trotskistas
conseguiram permanecer leais ao Partido e aos seus órgãos dirigentes.
Mas agora? Pode-se dizer que os trotskistas, a atual oposição, estão dispostos
a se submeter às decisões do Partido, a ficar em posição de sentido e assim por
diante? Não. Isso não pode ser dito mais. Depois de terem quebrado duas vezes
sua promessa de se submeterem às decisões do Partido, depois de terem enga-
nado o Partido duas vezes, depois de terem organizado impressoras ilegais em
conjunto com intelectuais burgueses, depois das repetidas declarações de Zino-
viev e Trotsky feitas nesta mesma tribuna que eles estavam violando a disciplina
de nosso Partido e continuariam a fazê-lo – afinal de contas, é duvidoso que haja
uma única pessoa em nosso Partido que ouse acreditar que os líderes da oposição
estão prontos para ficar em posição de alerta perante o Partido. A oposição agora
mudou para uma nova linha, a linha de divisão do Partido, a linha de criação de
um novo partido. O panfleto mais popular entre os oposicionistas atualmente
não é o panfleto bolchevique de Lenin “Um passo adiante, dois passos atrás”, mas
o antigo panfleto menchevique de Trotsky “Nossa tarefa política” (publicado em
1904), escrito em oposição aos princípios organizacionais do leninismo, em opo-
sição ao panfleto de Lenin.
Você sabe que a essência daquele velho panfleto de Trotsky é o repúdio à con-
cepção leninista do Partido e da disciplina do Partido. Nesse panfleto, Trotsky
nunca chama Lenin de nada além de “Maximillien Lenin”, dando a entender
que Lenin era outro Maximillien Robespierre, lutando, como este, pela ditadura
pessoal. Nesse panfleto, Trotsky diz claramente que a disciplina do Partido deve
ser submetida apenas na medida em que as decisões do Partido não contradigam
os desejos e visões daqueles que são chamados a se submeter ao Partido. Esse
é um princípio de organização puramente menchevique. Aliás, esse panfleto é
interessante porque Trotsky o dedica ao menchevique P. Axelrod. É o que ele
diz: “Ao meu querido professor Pavel Borisovich Axelrod”. (Risos. Vozes: “Um
verdadeiro menchevique!”)
Da lealdade ao Partido à política de divisão do Partido, do panfleto de Lenin
de volta ao panfleto de Trotsky, de Lenin a Axelrod – tal é o caminho organiza-
cional que nossa oposição percorreu. Os trotskistas mudaram. A política orga-
nizacional do Partido em relação à oposição trotskista também teve que mudar.
Bem, uma boa viagem! Vá até o seu “querido professor Pavel Borisovich Axel-
rod”! Uma boa viagem! Apresse-se, meritíssimo Trotsky, pois, em vista de sua
senilidade, “Pavel Borisovich” pode morrer logo, e você pode não chegar a seu
“mestre” a tempo. (Salva de palmas).
Pravda, nº 251.
2 de novembro de 1927
392 Obras Escolhidas
O Partido e a Oposição
24 de novembro de 1927
Pode-se dizer que aqui, nesta esfera, os resultados ainda não foram resumidos.
Isso não é verdade, camaradas! Os resultados foram resumidos também nesta
esfera.
Quais foram as manifestações do sétimo de novembro em todas as cidades
e vilas de nosso vasto país? Não foram todas uma tremenda demonstração da
classe operária, dos setores operários do campesinato, do Exército Vermelho e
da Marinha Vermelha, pelo nosso Partido, pelo governo e contra a oposição,
contra o trotskismo?
Não é a ignomínia que a oposição invocou sobre a sua própria cabeça no
Décimo Aniversário de Outubro, não é a unanimidade com que os milhões de
trabalhadores saudaram o Partido e o governo naquele dia, prova de que não só
o Partido, mas também a classe trabalhadora, não apenas a classe trabalhadora,
mas também os setores operários do campesinato, não apenas os setores operários
do campesinato, mas também todo o Exército e toda a Marinha, permanecem
como uma rocha para o Partido, para o governo e contra a oposição, contra os
desorganizadores? (Aplausos prolongados.)
Que mais resultados você precisa?
Eis aqui, camaradas, um breve resumo da luta entre o Partido e a oposição,
entre os bolcheviques e a oposição, a luta que se desenvolveu dentro do Partido e
mais tarde, por culpa da própria oposição, ultrapassou as fronteiras do mesmo.
Como explicar essa derrota vergonhosa da oposição? É um fato que nenhuma
outra oposição na história do nosso Partido, desde a tomada do poder pelos
bolcheviques, sofreu uma derrota tão vergonhosa.
Sabemos da oposição dos trotskistas no período da paz de Brest. Na época,
contava com o apoio de cerca de um quarto do Partido.
Sabemos da oposição dos trotskistas em 1921, durante a discussão sindical.
Naquela época, tinha o apoio de cerca de um oitavo do Partido.
Sabemos da chamada “Nova Oposição”, a oposição Zinoviev-Kamenev, no
XIV Congresso. Em seguida, teve o apoio de toda a delegação de Leningrado.
Mas agora? Agora, a oposição está mais isolada do que nunca. É duvidoso
agora se haverá pelo menos um delegado no Décimo Quinto Congresso.
O fracasso da oposição se deve ao fato de estar completamente divorciada
do Partido, da classe trabalhadora, da revolução. A oposição acabou sendo um
punhado de intelectuais divorciados da vida, divorciados da revolução. É aí que
está a raiz do fracasso vergonhoso da oposição.
Façamos, a título de prova, duas ou três das questões que separam a oposição
do Partido.
A questão do partido.
Lenin afirma que a unidade e a disciplina de ferro do Partido são a base da
ditadura do proletariado. A oposição, de fato, sustenta a visão oposta. Pensa que,
para a ditadura do proletariado, não necessitamos da unidade e da disciplina de
ferro do Partido, mas da destruição da unidade e da disciplina do Partido, da
divisão do Partido e da formação de um segundo partido. É verdade que a opo-
sição fala e escreve, escreve e fala, e não tanto fala, mas uiva sobre a unidade do
Partido. Mas a conversa da oposição sobre a unidade do Partido é uma tagarelice
hipócrita, calculada para enganar o Partido. (Aplausos)
Pois, enquanto fala e grita sobre unidade, a oposição está construindo um
novo partido antileninista. E não está apenas empenhada em construí-lo, ela já
o construiu, como mostram documentos autênticos, como os discursos de Kuzov-
nikov, Zof e Reno, ex-oposicionistas.
Estamos, agora, com posse de provas documentais exaustivas de que já há mais
de um ano a oposição tem seu próprio partido antileninista, com seu Comitê
Central, escritórios regionais, gabinetes governamentais e assim por diante. O
que a oposição pode opor a esses fatos, exceto tagarelice hipócrita sobre unidade?
A oposição grita que o Comitê Central do Partido não conseguirá empurrá-lo
J. V. Stalin 397
espécie de escola, uma escola preparatória para aprender a lutar contra o regime
soviético, a desencadear as forças da contrarrevolução.
Não é surpreendente que todos os tipos de elementos antissoviéticos se reú-
nam em torno da oposição. É aqui que reside o perigo do jogo da oposição ser
partido. E precisamente porque um grave perigo se esconde aqui, o Partido não
pode olhar com indiferença para os exercícios antissoviéticos da oposição; preci-
samente por esta razão, deve acabar com eles de uma vez.
Quanto à classe operária, não pode deixar de ver o quão perigoso é o jogo
antipartido que a oposição está jogando. Para a oposição, o Partido é um tabu-
leiro de xadrez. Ao lutar contra o Partido, ela faz vários movimentos. Um dia,
ele apresenta uma declaração prometendo acabar com o partidarismo. No dia
seguinte, ele repudia sua própria declaração. Um dia depois, ele apresenta uma
nova declaração, apenas para repudiar sua própria declaração novamente alguns
dias depois. Estes são movimentos de xadrez para a oposição. Eles são jogadores
e nada mais.
Mas não é assim que a classe trabalhadora encara o seu Partido. Para a classe
operária, o Partido não é um tabuleiro de xadrez, mas o instrumento de sua
emancipação. Para a classe operária, o Partido não é um tabuleiro de xadrez, mas
um meio vital de vencer seus inimigos, de organizar novas vitórias, de alcançar
a vitória final do socialismo. Portanto, a classe trabalhadora só pode desprezar
aqueles que transformam seu Partido em um tabuleiro de xadrez para os jogos
desonestos dos elementos da oposição. Pois a classe operária não pode deixar
de saber que os esforços da oposição para romper a disciplina de ferro do nosso
Partido, os seus esforços para dividir o nosso Partido, são, em essência, esforços
para quebrar a ditadura do proletariado em nosso país.
A “plataforma” da oposição é uma plataforma para destruir o nosso Partido,
uma plataforma para desarmar a classe trabalhadora, uma plataforma para li-
bertar as forças antissoviéticas, uma plataforma para desmantelar a ditadura do
proletariado.
só tem que se encontrar em minoria, para receber uma surra do Partido, para
correr para a rua e começar a gritar sobre a “ruína” da revolução e para utilizar
todas as dificuldades possíveis contra o Partido.
Já no período da Paz de Brest, em 1918, quando a revolução passava por certas
dificuldades, Trotsky, depois de ser derrotado pelo Partido no Sétimo Congresso,
começou a espernear sobre a “ruína” de nossa revolução. Mas a revolução não
morreu, e as profecias de Trotsky permaneceram como profecias vazias.
Em 1921, no período da discussão sindical, quando nos deparamos com novas
dificuldades advindas da abolição do sistema de apropriação de sobras, Trotsky
sofreu mais uma derrota, no Décimo Congresso do Partido, voltou a gritar sobre
a “desgraça” da revolução. Lembro-me bem de Trotsky afirmar em uma reunião
do Birô Político, na presença de Lenin, que o regime soviético havia “cantado o
canto do cisne”, que seus dias e horas estavam contados. (Risos.) Mas a revolu-
ção não morreu, as dificuldades foram superadas e a confusão histérica sobre a
“ruína” da revolução permaneceu mera confusão.
Não sei se os dias e as horas estavam contados naquele momento ou não;
mas se fossem, tudo o que posso dizer é que foram numerados incorretamente.
(Aplausos, risos.)
Em 1923, em um período de novas dificuldades, desta vez oriundas da NEP,
no período de crise de mercado, Trotsky voltou a cantar o canto do cisne sobre
a “desgraça” da revolução, denunciando que a derrota de seu próprio grupo na
Décima Terceira Conferência do nosso Partido era a derrota da revolução. A
revolução, porém, ignorou esse canto do cisne e superou as dificuldades que o
enfrentavam naquele momento.
Em 1925-26, em um período de novas dificuldades decorrentes do progresso
de nossa indústria, Trotsky, desta vez em coro com Kamenev e Zinoviev, voltou a
cantar o canto do cisne sobre a “ruína” da revolução, decretando a derrota de seu
próprio grupo no XIV Congresso e que, depois do XIV Congresso, veríamos a
derrota da revolução. A revolução, no entanto, não tinha intenção de morrer. Os
autoproclamados profetas foram colocados em segundo plano e as dificuldades
foram superadas, como sempre, como no passado, pois os bolcheviques veem as
dificuldades não como algo para lamentar, mas como algo a ser superado. (Vivos
aplausos.)
Agora, no final de 1927, devido às novas dificuldades no período de recons-
trução de toda a nossa economia sobre uma nova base técnica, eles começaram no-
vamente um canto de cisne sobre a “ruína” da revolução, tentando, desta forma,
encobrir a destruição real de seu próprio grupo. Mas, camaradas, todos vocês
veem que a revolução está viva e prosperando, enquanto outros estão morrendo.
E então eles cantaram e cantaram seu canto do cisne até que finalmente se
encontraram em uma posição desesperadora. (Risada.)
A “plataforma” da oposição é uma plataforma para a “ruína” de nossa revo-
lução.
400 Obras Escolhidas
242
V. I. Lenin “As Eleições em São Petersburgo e a Hipocrisia dos Trinta e Um Mencheviques” (ver
Obras Completas, 4ª edição Russa, Vol. 12, pp. 17-27).
J. V. Stalin 401
Aquisições de grãos e as
perspectivas para o
desenvolvimento da agricultura
De declarações feitas em várias partes da Sibéria, janeiro de 1928243
(breve registro)
Fui enviado aqui à Sibéria para uma curta visita. Fui instruído a ajudá-los a
cumprir o plano de compras de grãos. Também fui instruído a discutir com vocês
as perspectivas de desenvolvimento da agricultura, o plano de desenvolvimento
da formação de fazendas coletivas e fazendas estatais em seus territórios.
Você certamente sabe que este ano as contas de grãos de nosso país mostram
uma escassez, um déficit de mais de 100 milhões de puds. Por causa disso, o
Governo e o Comitê Central tiveram que restringir as compras de grãos em todas
as regiões e territórios para cobrir esse déficit em nossas contas de grãos. O
déficit terá que ser suprido principalmente pelas regiões e territórios com boas
safras, que terão não só que cumprir, mas seguir estritamente o plano de compras
de grãos.
Vocês sabem, é claro, qual pode ser o efeito do déficit se ele não for compen-
sado. O efeito será que nossas cidades e centros industriais, assim como nosso
Exército Vermelho, estarão em graves dificuldades; serão mal abastecidos e ame-
açados de fome. Obviamente, não podemos permitir isso.
O que vocês acham disso? Que medidas pensam tomar para cumprir o seu
dever para com o país? Fiz um tour pelos distritos de seus territórios e tive a
oportunidade de ver por mim mesmo que o povo não está seriamente preocu-
pado em ajudar nosso país a sair da crise dos grãos. Vocês tiveram uma colheita
abundante, pode-se dizer que foi recorde. Seus excedentes de grãos neste ano
são maiores do que nunca. Mesmo assim, o plano de compras de grãos não está
sendo cumprido. Por quê? Qual é a razão?
Vocês dizem que o plano de aquisição de grãos é pesado e não pode ser cum-
prido. Por que não pode ser cumprido? De onde vocês tiraram essa ideia? Não
é verdade que a suas colheitas deste ano são realmente recordes? Não é verdade
que o plano de compra de grãos da Sibéria este ano é quase o mesmo do ano
passado? Por que, então, vocês consideram que o plano não pode ser cumprido?
Olhe para as fazendas kulak: seus celeiros e galpões estão abarrotados de grãos;
os grãos estão expostos sob os telhados por falta de espaço de armazenamento;
243 Durante sua viagem na Sibéria, que durou de 15 de janeiro a 6 de fevereiro de 1928, Stalin
visitou as principais regiões produtoras de grãos. Ele participou de uma reunião do Bureau do
Comitê Territorial Siberiano do PCUS (B) em Novosibirsk, reuniões dos bureaus dos comitês de
okrug do PCUS (B) e conferências dos ativos de Barnaul, Biisk, organizações do Partido Rubtsovsk
e okrug de Omsk, juntamente com representantes dos sovietes e dos órgãos de aquisição. Graças às
medidas políticas e organizacionais realizadas por J. V. Stalin, as organizações do Partido Siberiano
puderam garantir o cumprimento do plano de aquisição de grãos.
402 Obras Escolhidas
os kulaks têm de 50.000 a 60.000 puds de grãos excedentes por fazenda, sem con-
tar os estoques de sementes, alimentos e forragem. No entanto, vocês dizem que
o plano de aquisição de grãos não pode ser cumprido. Por que vocês estão tão
pessimistas?
Vocês dizem que os kulaks não querem entregar grãos, que estão esperando
que os preços subam e preferem se envolver em especulações desenfreadas. Isso é
verdade. Mas os kulaks não estão simplesmente esperando que os preços subam;
eles estão exigindo um aumento de preços três vezes maior que os fixados pelo
governo. Vocês acham que é permitido satisfazer os kulaks? Os camponeses po-
bres e uma parte considerável dos camponeses médios já entregaram seus grãos
ao Estado a preços de governo. É permitido ao governo pagar aos kulaks três
vezes mais pelos grãos do que paga aos camponeses pobres e médios? Basta fazer
essa pergunta para perceber como seria inadmissível satisfazer as demandas dos
kulaks.
Se os kulaks estão se envolvendo em especulações desenfreadas sobre os preços
dos grãos, por que vocês não os processam por especulação? Vocês não sabem
que existe uma lei contra a especulação? Artigo 107 do Código Penal da RSFSR,
segundo qual as pessoas culpadas de especulação podem ser processadas e, seus
bens, confiscados em favor do Estado? Por que vocês não aplicam essa lei contra
os especuladores de grãos? Será que vocês têm medo de perturbar a tranquili-
dade da pequena nobreza kulak?!
Os senhores dizem que a aplicação do artigo 107 contra os kulaks seria uma
medida de emergência, que não produziria bons resultados, que agravaria a situ-
ação no campo. O camarada Zagumenny insiste especialmente nisso. Supondo
que fosse uma medida de emergência – e daí? Por que é que em outros territórios
e regiões a aplicação do Artigo 107 produziu resultados esplêndidos, reuniu o
campesinato trabalhador em torno do Governo Soviético e melhorou a situação
no campo, enquanto entre vocês, na Sibéria, afirma-se que é obrigado a produzir
resultados ruins e piorar a situação? Por quê, com base em quê?
Vocês dizem que as suas autoridades judiciárias e de acusação não estão pre-
paradas para tal. Mas por que é que em outros territórios e regiões as autoridades
judiciárias e de acusação estavam preparadas para isso e estão agindo com bas-
tante eficácia, mas aqui não estão preparadas para aplicar o artigo 107 contra
os especuladores? Quem é o culpado por isso? Obviamente, a culpa é das orga-
nizações de seu Partido; eles estão evidentemente trabalhando mal e não estão
cuidando para que as leis de nosso país sejam observadas com atenção. Eu vi
várias dezenas de seus promotores e funcionários judiciais. Quase todos eles
moram em casas de kulaks, alojam-se com eles e, claro, estão ansiosos para viver
em paz com os kulaks. Em resposta à minha pergunta, eles disseram que as casas
dos kulaks são mais limpas e a comida lá é melhor. Claramente, nada de efetivo
ou útil para o Estado Soviético deve ser esperado de tais oficiais de acusação e
justiça. A única coisa que não está clara é porque esses nobres ainda não foram
removidos e substituídos por outros funcionários honestos. Eu proponho: que
os kulaks recebam ordem de entregar todos os seus excedentes de grãos imedia-
tamente a preços do governo; que se os kulaks se recusarem a obedecer à lei, eles
devem ser processados nos termos do artigo 107 do Código Penal da RSFSR, e
J. V. Stalin 403
seus excedentes de grãos confiscados em favor do Estado, 25% dos grãos confis-
cados para serem distribuídos entre os camponeses pobres e camponeses médios
economicamente mais fracos, a preços baixos do governo ou na forma de em-
préstimos de longo prazo.
Quanto aos seus promotores e funcionários judiciais, todos os que são inade-
quados para seus cargos devem ser demitidos e substituídos por pessoas honestas
e conscientes de mentalidade soviética.
Vocês verão, em breve, que essas medidas produzirão resultados esplêndidos,
e vocês poderão não apenas cumprir, mas até mesmo superar o plano de compras
de grãos.
Mas isso não esgota o problema. Essas medidas serão suficientes para corrigir
a situação neste ano.
Não há garantia de que os kulaks não sabotarão novamente as compras de
grãos no ano que vem. Mais, pode-se dizer, com certeza, que enquanto houver
kulaks, haverá sabotagem nas compras de grãos. Para colocar as compras de grãos
em uma base mais ou menos satisfatória, outras medidas são necessárias. Quais
medidas, exatamente? Tenho em mente desenvolver a formação de fazendas
coletivas e fazendas estatais.
As fazendas coletivas e estatais são, como você sabe, fazendas em grande es-
cala, capazes de empregar tratores e máquinas. Eles produzem excedentes co-
mercializáveis maiores do que os proprietários ou as fazendas kulak. Deve-se ter
em mente que nossas cidades e nossa indústria estão crescendo e continuarão a
crescer ano após ano. Isso é necessário para a industrialização do país. Conse-
quentemente, a demanda por grãos aumentará de ano para ano, o que significa
que os planos de compra de grãos também aumentarão. Não podemos permitir
que nossa indústria dependa do capricho dos kulaks. Devemos, portanto, cuidar
para que, no decorrer dos próximos três ou quatro anos, as fazendas coletivas e
fazendas estatais, como distribuidores de grãos, estejam em condições de forne-
cer ao Estado pelo menos um terço dos grãos necessários. Isso relegaria os kulaks
para segundo plano e estabeleceria as bases para o suprimento mais ou menos
adequado de grãos para os trabalhadores e o Exército Vermelho. Mas, para isso,
devemos desenvolver ao máximo a formação de fazendas coletivas e estatais, sem
poupar energia nem recursos. Isso pode ser feito e devemos fazê-lo.
Mas mesmo isso não é tudo. Nosso país não pode viver de olho apenas nas
necessidades de hoje. Devemos também pensar no amanhã, nas perspectivas de
desenvolvimento de nossa agricultura e, por último, no destino do socialismo em
nosso país. O problema dos grãos é parte do problema agrícola, e o problema
agrícola é parte integrante do problema da construção do socialismo em nosso
país. A coletivização parcial da agricultura de que acabei de falar será suficiente
para manter a classe trabalhadora e o Exército Vermelho mais ou menos, tolera-
velmente, abastecidos de grãos, mas será totalmente insuficiente para fornecer
uma base firme de um abastecimento totalmente adequado de alimentos para
todo o país, garantindo as reservas de alimentos necessárias nas mãos do Estado
e garantindo a vitória da construção socialista no campo, na agricultura.
Hoje, o sistema soviético se apoia em dois fundamentos heterogêneos: na
indústria socializada unida e na economia individual de pequenos camponeses
404 Obras Escolhidas
Resposta ao Camarada S.
Camarada S.,
Não é verdade que o slogan de Lenin: “Chegar a um acordo com o campo-
nês médio, embora nunca por um momento renunciar à luta contra os kulak, e
confiar firmemente apenas no camponês pobre”, que ele apresentou em seu co-
nhecido artigo sobre Pitirim Sorokin é, como se alega, um slogan do “período
dos Comitês de Camponeses Pobres”, um slogan do “fim do período da chamada
neutralização do campesinato médio”. Isso é absolutamente falso.
Os Comitês de Camponeses Pobres foram formados em junho de 1918. No
final de outubro de 1918, nossas forças no campo já haviam vencido os kulaks
e os camponeses médios haviam se voltado para o lado do poder soviético. Foi
com base nessa mudança, que a decisão do Comitê Central foi tomada de abolir o
duplo poder dos sovietes e dos Comitês de Camponeses Pobres, de realizar novas
eleições para os volost e sovietes de aldeia, para fundir os Comitês de Campone-
ses Pobres com os sovietes recém-eleitos e, consequentemente, para dissolver os
Comitês de Camponeses Pobres. Essa decisão foi formalmente aprovada, como
se sabe, em 9 de novembro de 1918, pelo VI Congresso dos Sovietes. Tenho em
mente a decisão do Sexto Congresso dos Sovietes de 9 de novembro de 1918, so-
bre as eleições da aldeia e do volost soviético e a fusão dos Comitês de Camponeses
Pobres com os sovietes.
Mas, quando apareceu o artigo de Lenin, “As valiosas admissões de Pitirim So-
rokin”, o artigo em que ele proclamava a palavra de ordem do acordo com o
camponês médio, no lugar da palavra de ordem de neutralizar o camponês mé-
dio? Surgiu em 21 de novembro de 1918, ou seja, quase duas semanas após a
decisão do Sexto Congresso dos Sovietes. Neste artigo, Lenin afirma claramente
que a política de acordo com o camponês médio é ditada pela sua virada para o
nosso lado.
Aqui está o que Lenin disse:
Nossa tarefa no campo é destruir o senhorio e esmagar a resistência do explorador e do
especulador kulak. Para isso, podemos confiar firmemente apenas nos semiproletários, os ‘camponeses
pobres’. Mas o camponês médio não é nosso inimigo. Ele vacilou, está vacilando e continuará a vacilar.
A tarefa de influenciar os vacilantes não é idêntica à tarefa de derrubar o explorador e derrotar o inimigo
ativo. A tarefa, neste momento, é chegar a um acordo com o camponês médio, embora nunca por um
momento renunciar à luta contra os kulaks, e confiar firmemente apenas no pobre camponês, pois é
precisamente agora que uma mudança em nossa direção por parte do campesinato médio é inevitável,
devido às causas acima enumeradas. (Vol. 23, p. 294).
ponês médio, mas ao novo período, o período de acordo com o camponês médio.
Assim, reflete não o fim do antigo período, mas o início de um novo período.
Mas, sua afirmação sobre o slogan de Lenin não está apenas errada do ponto
de vista formal, não apenas, por assim dizer, cronologicamente; está errada em
substância.
Sabemos que a palavra de ordem de Lenin sobre o acordo com o camponês
médio foi proclamada como uma nova palavra de ordem por todo o Partido no
Oitavo Congresso do Partido (março de 1919). Sabemos que o Oitavo Congresso
do Partido foi o congresso que lançou as bases da nossa política de aliança estável
com o camponês médio. É sabido que o nosso programa, o programa do PCUS
(B), foi aprovado também no Oitavo Congresso do Partido. Sabemos que esse
programa contém pontos especiais que tratam da atitude do Partido para com
os vários grupos do campo: os camponeses pobres, os camponeses médios e os
kulaks. O que dizem estes pontos do programa do PCUS (B) sobre os grupos
sociais do campo e sobre a atitude do nosso Partido para com eles? É o que
segue:
Em todo o seu trabalho no campo, o PC Russo, como até agora, conta com as camadas proletá-
rias e semiproletárias da população rural; em primeiro lugar, ele organiza essas camadas em
uma força independente, estabelecendo unidades do Partido nas aldeias, formando organi-
zações de camponeses pobres, um tipo especial de sindicatos de proletários e semiproletários
do campo, e assim por diante, aproximando-os em todos os sentidos do proletariado urbano
e arrancando-os da influência da burguesia rural e dos interesses dos pequenos proprietá-
rios. No que diz respeito aos kulaks, à burguesia rural, a política do PC Russo é resolutamente
combater suas tendências exploradoras, suprimir sua resistência à política soviética. No que diz respeito
aos camponeses médios, a política do PC Russo é, de forma gradual e sistemática, atraí-los para a obra
da construção socialista. O Partido se propõe a separá-los dos kulaks, de ganhá-los para o lado da classe
operária atendendo atentamente às suas necessidades, combatendo o seu atraso com medidas de influên-
cia ideológica e de forma alguma com medidas de repressão, e empenhando-se em todos os casos em que
estejam em causa os seus interesses vitais para chegar a acordos práticos com eles, fazendo-lhes concessões
ao determinarmos os métodos de realização das mudanças socialistas. (Oitavo Congresso do PC Russo
(B), relatório integral, p. 351).
Temos que determinar nossa atitude para com uma classe que não tem uma posição definida
e estável. O proletariado, em sua massa, é a favor do socialismo, a burguesia, em sua massa,
se opõe ao socialismo; determinar a relação entre essas duas classes é fácil. Mas, quando
passamos para um estrato como o campesinato médio, descobrimos que é uma classe que
vacila. O camponês médio é em parte proprietário, em parte trabalhador. Ele não explora
outros representantes dos trabalhadores. Por décadas ele teve que fazer isso, defender a sua
posição sob as maiores dificuldades; sofreu a exploração dos latifundiários e dos capitalistas;
suportou tudo e, ao mesmo tempo, é dono de uma propriedade. A nossa atitude para com
esta classe vacilante apresenta, portanto, enormes dificuldades. (Oitavo Congresso do PC
Russo (B), Relatório integral, p. 300).
410 Obras Escolhidas
Mas existem outros desvios da linha correta, não menos perigosos do que os
já mencionados. Em alguns casos, a luta contra o kulak é de fato prosseguida,
mas de maneira tão desajeitada e sem sentido, que os golpes recaem sobre os
camponeses médios e pobres. Como resultado, o kulak escapa ileso, abre-se um
rompimento na aliança com o camponês médio e uma parte dos camponeses
pobres cai temporariamente nas garras do kulak, que luta para minar a política
soviética.
Em outros casos, tenta-se transformar a luta contra os kulaks em “deskulaki-
zação”, e o trabalho de colheita de grãos em apropriação de excedentes, esque-
cendo que, nas condições atuais, a “deskulakização” é uma loucura, e o sistema
de apropriação de excedentes significa não uma aliança, mas uma luta contra o
camponês médio.
Qual é a origem desses desvios da linha do Partido?
A fonte reside em não compreender que a tripla tarefa do trabalho do Partido
no campo é uma tarefa única e indivisível; por não compreender que a tarefa de
lutar contra o kulak não pode ser separada da tarefa de chegar a um acordo com
o camponês médio, e que essas duas tarefas não podem ser separadas da tarefa
de converter o camponês pobre em baluarte do Partido no campo246 .
O que deve ser feito para garantir que essas tarefas não sejam separadas umas
das outras no decorrer do nosso trabalho atual no campo?
Devemos, pelo menos, emitir um slogan orientador, que reúna todas essas
tarefas em uma fórmula geral e, consequentemente, evite que essas tarefas sejam
separadas umas das outras. Existe tal fórmula, tal slogan em nosso arsenal do
Partido?
Sim, existe. Essa fórmula é o lema de Lenin: “Chegar a um acordo com o
camponês médio, embora nunca por um momento renunciar à luta contra os
246 Disto se segue que os desvios da linha correta criam um duplo perigo para a aliança dos trabalha-
dores e camponeses: um perigo do lado daqueles que querem, por exemplo, transformar as medidas
de emergência temporárias para a colheita de grãos em uma política de longo prazo, ou permanente;
e um perigo por parte daqueles que querem aproveitar a suspensão das medidas de emergência para
dar liberdade ao kulak, para proclamar total liberdade de comércio, sem qualquer regulamentação
do comércio por parte dos órgãos do Estado. Portanto, para garantir que a linha correta seja per-
seguida, a luta deve ser travada em duas frentes. Aproveito para observar que nossa imprensa nem
sempre segue essa regra e às vezes exibe uma certa unilateralidade. Em alguns casos, por exemplo, a
imprensa denuncia aqueles que querem transformar as medidas emergenciais de compra de grãos,
de caráter temporário, em uma linha permanente de nossa política e que assim põem em risco o
vínculo com os camponeses. Isso é muito bom. Mas é mau e errado se, ao mesmo tempo, a nossa
imprensa deixa de prestar atenção suficiente e expor adequadamente aqueles que põem em perigo
o vínculo do outro lado, que sucumbem às forças elementais pequeno-burguesas, exigem um abran-
damento da luta contra os elementos capitalistas no campo e o estabelecimento de total liberdade de
comércio, o comércio não regulado pelo Estado, e, portanto, minar o vínculo com os camponeses
do outro lado. Isso é mau. Isso é unilateral. Acontece também que a imprensa denuncia aqueles
que, por exemplo, negam a possibilidade e a conveniência de melhorar as pequenas e médias propri-
edades camponesas individuais, que atualmente são a base da agricultura. Isso é muito bom. Mas é
ruim e errado se, ao mesmo, tempo a imprensa não expõe aqueles que menosprezam a importância
das fazendas coletivas e das fazendas estatais e que não conseguem ver que a tarefa de melhorar as
fazendas individuais de pequenos e médios camponeses deve ser complementada na prática, pela
tarefa de ampliar a construção de fazendas coletivas e estatais. Isso é unilateral. Para garantir que
a linha correta seja perseguida, a luta deve ser travada em duas frentes, e toda unilateralidade deve
ser rejeitada (J. Stalin).
J. V. Stalin 411
não como uma política casual e transitória, mas como uma política de longo
prazo, eles tinham, e têm, todos os motivos para chamar a política de acordo com
o camponês médio de uma política de aliança estável com ele e, inversamente,
chamar a política de aliança estável com o camponês médio de política de acordo
com ele. Basta ler o relato integral do Oitavo Congresso do Partido e a resolução
desse congresso sobre o camponês médio para se convencer disso. Aqui está um
trecho do discurso de Lenin no Oitavo Congresso:
“Devido à inexperiência dos funcionários soviéticos e às dificuldades do problema, os golpes
que eram dirigidos aos kulaks caíram com muita frequência sobre o campesinato médio. Aqui
pecamos excessivamente. A experiência que adquirimos a esse respeito nos permitirá fazer
de tudo para evitar que isso aconteça no futuro. Essa é a tarefa que agora enfrentamos,
não teoricamente, mas praticamente. Você sabe muito bem que essa tarefa é difícil. Não
temos vantagens materiais para oferecer ao camponês médio; e ele é um materialista, um
homem prático que exige vantagens materiais definidas, que não estamos agora em posição
de oferecer e das quais o país terá de prescindir, talvez, por vários meses ainda de luta severa –
uma luta que agora promete terminar em vitória completa. Mas há muito que podemos fazer
em nosso trabalho administrativo: podemos melhorar nosso aparato administrativo e corrigir
uma série de abusos. A linha do nosso Partido, que não tem feito o suficiente para chegar
a um bloco, uma aliança, um acordo com o campesinato médio, pode e deve ser endireitado e
corrigido” (Oitavo Congresso do PC Russo (B), relatório integral, p. 20).
Como você vê, Lenin não faz distinção entre “acordo” e “aliança”.
E aqui estão alguns trechos da resolução do Oitavo Congresso, “A atitude para
com o campesinato médio”:
“Confundir os camponeses médios com os kulaks, estender a eles, em qualquer grau, as me-
didas que são dirigidas contra os kulaks, significa violar grosseiramente, não apenas todos os
decretos soviéticos e toda a política soviética, mas também todos os princípios fundamentais
do comunismo, que apontam para o acordo entre o proletariado e o campesinato médio du-
rante o período de luta decidida do proletariado pela derrubada da burguesia, como uma
das condições para a transição indolor para a abolição de todas as formas de exploração.
O campesinato médio, que possui raízes econômicas relativamente fortes devido ao atraso
da técnica agrícola, em comparação com a técnica industrial, mesmo nos países capitalistas
avançados, sem falar na Rússia, continuará a existir por um tempo bastante longo após o
início da revolução do proletariado. É por isso que a tática dos funcionários soviéticos no
campo, bem como dos trabalhadores ativos do Partido, deve basear-se no pressuposto de um
longo período de colaboração com o campesinato médio. Uma política absolutamente cor-
reta seguida pelo governo soviético no campo garante, assim, a aliança e o acordo entre o
proletariado vitorioso e o campesinato médio. A política do governo operário e camponês e
do Partido Comunista deve continuar a ser conduzida neste espírito de acordo entre o pro-
letariado, juntamente com o campesinato pobre e o campesinato médio” (Oitavo Congresso
do PC Russo (B), relatório integral, pp. 370-72).
Como você vê, a resolução também não faz distinção entre “acordo” e “ali-
ança”.
Não será supérfluo observar que não há uma única palavra nesta resolução
do Oitavo Congresso sobre uma “aliança estável” com o camponês médio. Isso
significa, porém, que a resolução, portanto, se afasta da política de uma “aliança
estável” com o camponês médio? Não, não significa. Significa apenas que a reso-
lução coloca um sinal de igualdade entre o conceito de “acordo”, “colaboração”
e o conceito de “aliança estável”. Pois é claro: não pode haver uma “aliança”
com o camponês médio sem um “acordo” com ele, e a aliança com o camponês
médio não pode ser “estável” a menos que haja “um longo período” de acordo e
colaboração com ele.
J. V. Stalin 413
247A Décima Sexta Conferência Gubernia de Moscou do PCUS (B) foi realizada de 20 a 28 de novem-
bro de 1927. Na sessão da manhã de 23 de novembro, Stalin falou sobre “O Partido e a Oposição”.
414 Obras Escolhidas
248 Essas palavras da “Divina Comédia” de Dante Alighieri foram citadas por Marx como um lema no
prefácio da primeira edição alemã de “O Capital” (ver K. Marx e F. Engels, Obras Escolhidas, Vol.
I, Moscou, 1951, p. 410)
J. V. Stalin 415
Lenin estava mil vezes certo quando disse no Décimo Primeiro Congresso do
Partido em março de 1922:
O proletariado não teme admitir que esta ou aquela coisa teve um êxito esplêndido na sua
revolução, e isto ou aquilo não o teve. Todos os partidos revolucionários que até agora pere-
ceram, o fizeram porque se tornaram vaidosos, não conseguiram ver onde estava a sua força,
e temiam falar de suas fraquezas. Mas não pereceremos, pois não temos medo de falar de nossas
fraquezas e aprenderemos a superá-las. (Vol. XXVII, pp. 260-61).
Há apenas uma conclusão: sem autocrítica, não pode haver educação ade-
quada do Partido, da classe e das massas; e que sem a educação adequada do
Partido, da classe e das massas, não pode haver bolchevismo.
Por que o slogan da autocrítica adquiriu especial importância agora, neste
momento particular da história, em 1928?
Porque a crescente acuidade das relações de classe, tanto nas esfera interna
como externa, é mais evidente, agora, do que há um ou dois anos. Porque as
atividades subversivas dos inimigos de classe do governo soviético, que estão uti-
lizando nossas fraquezas, nossos erros, contra a classe trabalhadora de nosso país,
são mais evidentes agora do que eram há um ou dois anos.
Porque não podemos e não devemos permitir que as lições do caso Shakhty
e as “manobras de aquisição” dos elementos capitalistas no campo, juntamente
com nossos erros de planejamento, passem despercebidos. Se quisermos forta-
lecer a revolução e enfrentar nossos inimigos plenamente preparados, devemos
nos livrar o mais rápido possível de nossos erros e fraquezas, como revelou o caso
Shakhty e as dificuldades de colheita de grãos.
Se não quisermos ser apanhados por todo tipo de “surpresas” e “acidentes”,
para alegria dos inimigos da classe trabalhadora, devemos revelar o mais rápido
possível as nossas fraquezas e erros que ainda não foram divulgados, mas que
indubitavelmente existem.
Se demorarmos nisso, estaremos facilitando o trabalho de nossos inimigos e
agravando nossas fraquezas e erros. Mas tudo isso será impossível se a autocrítica
não for desenvolvida e estimulada, se as vastas massas da classe trabalhadora e
do campesinato não forem levadas ao trabalho de trazer à luz e eliminar nossas
fraquezas e erros.
A plenária de abril do CC e CCC estava, portanto, bastante certa quando
disse em sua resolução sobre o caso Shakhty: “A principal condição para o bom
J. V. Stalin 417
Devemos compreender que a luta contra a burocracia é absolutamente essencial, e tão com-
plicada quanto a luta contra as forças elementais pequeno-burguesas. A burocracia em nosso
sistema de Estado tornou-se uma doença de tal gravidade que é falado no programa do nosso
Partido, e isso porque está conectado com essas forças elementais pequeno-burguesas e sua
ampla dispersão. (Vol. XXVI, p. 220).
Com toda a persistência, portanto, deve ser travada a luta contra a burocracia
em nossas organizações, se realmente queremos desenvolver a autocrítica e nos
livrar das mazelas em nosso trabalho construtivo. Com persistência ainda maior,
devemos despertar as grandes massas de trabalhadores e camponeses para a ta-
refa da crítica de baixo, do controle de baixo, como o principal antídoto para a
burocracia.
Lenin estava certo quando disse: “Se quisermos combater a burocracia, de-
vemos contar com a cooperação da base. Que outra maneira há de acabar com a
burocracia do que alistando a cooperação dos trabalhadores e camponeses!” (Vol. XXV,
pp. 496 e 495.)
Mas, para “conseguir a cooperação” das vastas massas, devemos desenvolver a
democracia proletária em todas as organizações de massas da classe trabalhadora,
e principalmente dentro do próprio Partido. Caso contrário, a autocrítica não
será nada, uma coisa vazia, uma mera palavra. Não é qualquer tipo de autocrítica
que precisamos. Precisamos de uma autocrítica que eleve o nível cultural da classe
trabalhadora, aprimore seu espírito de luta, fortaleça sua fé na vitória, aumente
sua força e a ajude a se tornar o verdadeiro senhor do país.
Alguns dizem que, uma vez que haja autocrítica, não precisamos de disciplina
de trabalho, podemos deixar de trabalhar e nos entregar a tagarelice de tudo.
Isso não seria autocrítica, mas um insulto à classe trabalhadora. A autocrítica é
necessária não para quebrar a disciplina do trabalho, mas para fortalecê-la, para
que a disciplina do trabalho se torne uma disciplina consciente, capaz de resistir
à negligência pequeno-burguesa.
Outros dizem que, uma vez que haja autocrítica, não precisamos mais de lide-
rança, podemos abandonar o leme e deixar as coisas “seguirem seu curso natu-
ral”. Isso não seria autocrítica, mas uma desgraça. A autocrítica é necessária não
418 Obras Escolhidas
para relaxar a liderança, mas para fortalecê-la, a fim de convertê-la de uma lide-
rança no papel e com pouca autoridade em uma liderança vigorosa e realmente
autoritária.
Mas há outro tipo de “autocrítica”, que tende a destruir o espírito do Partido,
a desacreditar o regime soviético, a enfraquecer nosso trabalho de construção,
a corromper nossos quadros econômicos, a desarmar a classe trabalhadora e a
fomentar o diálogo de degeneração. Foi exatamente esse tipo de “autocrítica”
que a oposição de Trotsky estava insistindo conosco recentemente. Nem é preciso
dizer que o Partido nada tem em comum com essa “autocrítica”. Nem é preciso
dizer que o Partido combaterá essa “autocrítica” com força e direção.
Deve-se fazer uma distinção estrita entre esta “autocrítica”, que nos é alheia,
destrutiva e antibolchevique, e a nossa autocrítica bolchevique, cujo objetivo é
promover o espírito do Partido, para consolidar o regime soviético, para melho-
rar nosso trabalho construtivo, para fortalecer nossos quadros econômicos, para
armar a classe trabalhadora.
Nossa campanha para intensificar a autocrítica começou há apenas alguns
meses. Ainda não temos os dados necessários para uma revisão dos primeiros
resultados da campanha. Mas já se pode dizer que a campanha começa a dar
frutos benéficos.
Não se pode negar que a onda de autocrítica está começando a aumentar
e se espalhar, estendendo-se a setores cada vez maiores da classe trabalhadora e
atraindo-os para o trabalho de construção socialista. Isso é confirmado, pelo me-
nos, por fatos, como o renascimento das conferências de produção e as comissões
de controle temporário.
É verdade que ainda há tentativas de sabotar recomendações bem fundamen-
tadas e verificadas das conferências de produção e comissões de controle tempo-
rário. Tais tentativas devem ser combatidas com a maior determinação, pois seu
propósito é desencorajar os trabalhadores da autocrítica. Mas, quase não há ra-
zão para duvidar de que tais tentativas burocráticas serão varridas completamente
pela crescente onda de autocrítica.
Também não se pode negar que, como resultado da autocrítica, nossos execu-
tivos estão começando a ficar mais espertos, a se tornar mais vigilantes, a abordar
questões de liderança econômica com mais seriedade, enquanto nosso Partido,
soviético, sindical e todos os outros o pessoal está se tornando mais sensível e
responsivo aos requisitos das massas.
É verdade que não se pode dizer que a democracia interna do Partido e a
democracia operária em geral já estejam plenamente estabelecidas nas organi-
zações de massa da classe operária. Mas não há razão para duvidar de que mais
avanços serão feitos neste campo à medida que a campanha se desenrolar.
Também não se pode negar que, como resultado da autocrítica, nossa im-
prensa se tornou mais viva e vigorosa, enquanto destacamentos de nossos traba-
lhadores da imprensa, como organizações de correspondentes de trabalhadores
e aldeias, já estão se tornando uma força política de peso.
É verdade que nossa imprensa, às vezes, continua patinando na superfície;
ainda não aprendeu a passar dos comentários críticos individuais para a crítica
mais profunda, e da crítica profunda para tirar conclusões gerais dos resultados
J. V. Stalin 419
250Birzhovka foi um jornal burguês fundado em São Petersburgo em 1880. Sua falta de escrúpulos e
venalidade tornaram seu nome um palavrão. No final de outubro de 1917, foi fechado pelo Comitê
Militar Revolucionário do Soviete de Petrogrado.
420 Obras Escolhidas
tral, começaram uma caça às bruxas regular contra alguns de nossos melhores
executivos, cuja única falha é que eles não são 100% imunes a erros. De que ou-
tra forma devemos entender as decisões das organizações locais de destituir esses
executivos de seus cargos, decisões que não têm qualquer força vinculante e que
obviamente visam desacreditá-los? De que outra forma devemos entender o fato
de que esses executivos são criticados, mas não têm oportunidade de responder
às críticas? Quando começamos a passar por uma “corte de Shemyaka”251 como
autocrítica?
Claro, não podemos exigir que as críticas sejam 100% corretas. Se a crítica
vier de baixo, não devemos ignorá-la, mesmo que seja apenas 5% ou 10% correta.
Tudo isso é verdade. Mas isso significa que devemos exigir que os executivos se-
jam 100% imunes a erros? Existe alguém na criação que está 100% imune ao
erro? É tão difícil compreender que a formação dos nossos quadros econômi-
cos leva anos e anos, e que a nossa atitude para com eles deve ser de extrema
consideração e solicitude? É tão difícil entender que necessitamos de uma auto-
crítica não para uma caça às bruxas contra nossos quadros econômicos, mas para
melhorá-los e aperfeiçoá-los?
Critique as deficiências de nosso trabalho construtivo, mas não vulgarize o
slogan da autocrítica e não o transforme em um meio para exercícios ostentosos
sobre temas como “Bandidos de cama de casal”, “Um tiro que saiu pela culatra”
e assim por diante.
Critique as lacunas do nosso trabalho construtivo, mas não desacredite a pala-
vra de ordem da autocrítica e não a transforme em meio de engendrar sensações
baratas.
Critique as lacunas de nosso trabalho construtivo, mas não perverta o slogan
da autocrítica e não o transforme em uma arma de caça às bruxas contra nosso
negócio ou quaisquer outros executivos.
E o principal: não substitua a crítica de massa vinda de baixo com fogos de
artifício “críticos” de cima; deixemos que as massas da classe trabalhadora parti-
cipem e exibam sua iniciativa criativa em corrigir nossas deficiências e melhorar
nosso trabalho construtivo.
J. Stalin
Pravda, nº 146.
26 de junho de 1928
251 Stalin, aqui, se refere à expressão “Tribunal de Shemyaka”, ou seja, um tribunal injusto. A
expressão é proveniente de uma antiga história russa sobre um juiz chamado Shemyaka (N.T.)
J. V. Stalin 421
cessário e imperativo.
O atraso técnico e econômico de nosso país não foi inventado por nós. Esse
atraso é antigo e nos foi legado por toda a história do nosso país. Esse atraso
foi considerado um mal tanto antes da revolução, quanto mais tarde, depois da
revolução. Quando Pedro, o Grande, tendo que lidar com os países mais desen-
volvidos do Ocidente, construiu febrilmente moinhos e fábricas para abastecer o
exército e fortalecer as defesas do país, isso foi, em seu caminho, uma tentativa de
escapar das garras desse atraso. É perfeitamente compreensível, porém, que ne-
nhuma das velhas classes, nem a aristocracia feudal, nem a burguesia, pudessem
resolver o problema de acabar com o atraso de nosso país. Mais do que isso, essas
classes não só foram incapazes de resolver esse problema, como também não con-
seguiram formular a tarefa de forma satisfatória. O antigo atraso de nosso país
só pode acabar nas linhas de uma construção socialista bem-sucedida. E só pode
acabar com a tarefa nas mãos do proletariado, que estabeleceu a sua ditadura e
dirige o país.
Seria tolice nos consolarmos com a ideia de que, uma vez que o atraso de nosso
país não foi inventado por nós e nos foi legado por toda a história de nosso país,
não podemos ser, e não devemos ser, responsáveis por ele. Isso não é verdade, ca-
maradas. Uma vez que chegamos ao poder e assumimos a tarefa de transformar o
país com base no socialismo, somos responsáveis e devemos ser responsáveis por
tudo, tanto o mal como o bem. E só porque somos responsáveis por tudo, de-
vemos acabar com nosso atraso técnico e econômico. Devemos fazê-lo sem falha
se realmente quisermos ultrapassar e superar os países capitalistas avançados. E
só nós, bolcheviques, podemos fazer isso. Mas, precisamente para cumprir essa
tarefa, devemos sistematicamente atingir um ritmo rápido de desenvolvimento
de nossa indústria. E que já estamos atingindo um ritmo acelerado de desenvol-
vimento industrial, é agora claro para todos.
A questão de ultrapassar e superar os países capitalistas avançados técnica e
economicamente não é para nós, bolcheviques, uma questão nova, nem inespe-
rada. A situação foi criada em nosso país já em 1917, antes da Revolução de
Outubro. Foi levantada por Lenin já em setembro de 1917, na véspera da Re-
volução de Outubro, durante a guerra imperialista, em seu panfleto “A catástrofe
iminente e como combatê-la”. Aqui está o que Lenin disse sobre este assunto:
O resultado da revolução foi que o sistema político da Rússia alcançou, em poucos meses,
o nível dos países avançados. Mas isso não é suficiente. A guerra é inexorável; ela coloca a
alternativa com severidade implacável: ou perecer, ou ultrapassar e superar economicamente
os países avançados também. Perecer ou seguir em frente a todo vapor. Essa é a alternativa
com a qual a história nos confrontou. (Vol. 21, p. 191).
Você vê com que clareza Lenin colocou a questão de acabar com nosso atraso
técnico e econômico.
Lenin escreveu tudo isso às vésperas da Revolução de Outubro, no período
anterior à tomada do poder pelo proletariado, quando os bolcheviques ainda
não tinham poder estatal, nem indústria socializada, nem uma rede cooperativa
amplamente ramificada que abrangia milhões de camponeses, nem fazendas co-
letivas, nem fazendas estatais. Hoje, quando já temos algo substancial com o qual
acabar completamente com nosso atraso técnico e econômico, podemos parafra-
sear as palavras de Lenin mais ou menos assim: “Nós ultrapassamos e superamos
424 Obras Escolhidas
Dessa posição, não devemos recuar um só momento. Mas é preciso lembrar tam-
bém que, enquanto a indústria é a base principal, a agricultura constitui a base
do desenvolvimento industrial, tanto como mercado que absorve os produtos da
indústria, quanto como fornecedor de matérias-primas e alimentos, bem como
fonte de exportar reservas essenciais para importar maquinários para as neces-
sidades de nossa economia nacional. Podemos avançar a indústria deixando a
agricultura em estado de completo atraso técnico, sem fornecer uma base agrícola
para a indústria, sem reconstruir a agricultura e elevá-la ao nível da indústria?
Não, nós não podemos.
Daí a tarefa de dotar a agricultura do máximo de instrumentos e meios de
produção indispensáveis para acelerar e promover sua reconstrução sobre novas
bases técnicas. Mas para o cumprimento desta tarefa é necessário um rápido
desenvolvimento da nossa indústria. Claro, a reconstrução de uma agricultura
desunida e dispersa é uma questão incomparavelmente mais difícil do que a re-
construção de uma indústria socialista unida e centralizada. Mas essa é a tarefa
que nos confronta e devemos cumpri-la. E isso não pode ser realizado exceto por
uma taxa rápida de desenvolvimento industrial.
Não podemos continuar indefinidamente, isto é, por um período muito longo,
baseando o regime soviético e a construção socialista em duas bases diferentes, a
base da indústria socialista mais ampla e unida e a base da mais dispersa e atra-
sada, pequena economia mercantil dos camponeses. Devemos gradualmente,
mas de forma sistemática e persistente, colocar nossa agricultura em uma nova
base técnica, a base da produção em larga escala, e elevá-la ao nível da indústria
socialista. Ou cumprimos essa tarefa – caso em que a vitória final do socialismo
em nosso país estará assegurada, ou nos afastamos dela e não a cumprimos –
nesse caso, um retorno ao capitalismo pode se tornar inevitável.
Aqui está o que Lenin disse sobre este assunto:
Enquanto vivermos em um pequeno país camponês, há uma base econômica mais segura para
o capitalismo na Rússia do que para o comunismo. Isso deve ser levado em consideração.
Qualquer pessoa que tenha observado cuidadosamente a vida no campo, em comparação
com a vida no cidades, sabe que não arrancamos as raízes do capitalismo e não destruímos
os alicerces, a base do inimigo interno, que depende da produção em pequena escala, e só há
uma maneira de miná-la, a saber, colocando a economia do país, incluindo a agricultura, em
uma nova base técnica, a base técnica da produção em grande escala moderna. E é apenas a
eletricidade que é essa base. O comunismo é o poder soviético mais a eletrificação de todo o
país. (Vol. 26, p. 46).
Como você vê, quando Lenin fala da eletrificação do país, ele se refere não
à construção isolada de usinas individuais, mas à gradual “colocação da econo-
mia do país, incluindo a agricultura, em uma nova base técnica, a base técnica de
produção moderna em grande escala”, que de uma forma ou de outra, direta ou
indiretamente, está ligada à eletrificação.
Lenin fez esse discurso no Oitavo Congresso dos Sovietes em dezembro de
1920, na véspera da introdução da NEP, quando estava fundamentando o cha-
mado plano de eletrificação, ou seja, o plano GOELRO. Alguns camaradas ar-
gumentam com base nisso que as opiniões expressas nesta citação se tornaram
inaplicáveis nas condições atuais. Por que, nós perguntamos? Porque, dizem
eles, muita água passou por baixo das pontes desde então. É verdade, claro, que
426 Obras Escolhidas
muita água passou por baixo das pontes desde então. Agora temos uma indústria
socialista desenvolvida, temos fazendas coletivas em grande escala, temos velhas e
novas fazendas estatais, temos uma ampla rede de organizações cooperativas bem
desenvolvidas, temos estações de aluguel de máquinas a serviço dos camponeses.
Agora, praticamos o sistema de contrato como uma nova forma de vínculo, e
podemos colocar em operação todas essas e uma série de outras alavancas para
colocar gradativamente a agricultura em uma nova base técnica. Tudo isso é ver-
dade. Mas também é verdade que, apesar de tudo isso, ainda somos um pequeno
país camponês onde predomina a pequena produção. E isso é o fundamental. E
enquanto continuar a ser o fundamental, a tese de Lenin permanece válida de
que “enquanto vivermos em um pequeno país camponês, haverá uma base econô-
mica mais segura para o capitalismo na Rússia do que para o comunismo”, e que,
consequentemente, o perigo da restauração do capitalismo não é uma frase vazia.
Lenin diz a mesma coisa, mas de forma mais nítida, no plano de seu panfleto,
“O imposto em espécie”, que foi escrito após a introdução da NEP (março-abril de
1921): “Se tivermos eletrificação em 10-20 anos, então o individualismo do pe-
queno lavrador e a liberdade para ele negociar localmente não serão nada ter-
ríveis. Se não tivermos eletrificação, o retorno ao capitalismo será inevitável de
qualquer maneira”.
E mais adiante ele diz: ‘Dez ou vinte anos de relações corretas com o campe-
sinato, e a vitória em escala mundial está assegurada (mesmo que as revoluções
proletárias, que estão crescendo, sejam atrasadas); caso contrário, 20-40 anos de
tormentos do terrorismo de guardas brancos” (Vol. 26, p. 313).
Você vê como Lenin coloca a questão de maneira abrupta: ou a eletrificação,
isto é, a “colocação da economia do país, incluindo a agricultura, em uma nova
base técnica, a base técnica da moderna produção em grande escala”, ou um
retorno ao capitalismo. Foi assim que Lenin entendeu a questão das “relações
corretas com o campesinato”.
Não se trata de mimar o camponês e considerar isso como estabelecer relações
corretas com ele, pois mimar não o levará muito longe. Trata-se de ajudar o
camponês a colocar sua lavoura “sobre uma nova base técnica, a base técnica da
moderna produção em grande escala”; pois esta é a principal maneira de livrar
o camponês de sua pobreza.
E é impossível colocar a economia do país sobre uma nova base técnica, a
menos que a nossa indústria e, em primeiro lugar, a produção dos meios de
produção, se desenvolvam em ritmo acelerado.
Essas são as condições internas que ditam o rápido desenvolvimento de nossa
indústria.
São essas condições externas e internas que estão na origem de os números
de controle de nossa economia nacional estarem sob tal tensão.
Isso explica, também, por que nossos planos econômicos, orçamentários e
não orçamentários, são marcados por um estado de tensão, por substanciais in-
vestimentos em desenvolvimento de capital, cujo objetivo é manter um ritmo
acelerado de desenvolvimento industrial.
Pode-se perguntar onde isso é dito nas teses, em que trecho das teses. A evi-
dência disso nas teses é a soma total dos investimentos de capital na indústria
J. V. Stalin 427
em 1928-29. Afinal, nossas teses são chamadas de teses nas figuras de controle.
É verdade, não é, camaradas? Bem, as teses afirmam que entre 1928-29 estare-
mos investindo 1.650.000.000 de rublos na construção da indústria. Em outros
termos, esse ano investiremos na indústria 330.000.000 rublos a mais que ano
passado
Segue-se, portanto, que não estamos apenas mantendo o ritmo de desenvol-
vimento industrial, mas dando um passo além, investindo mais na indústria do
que no ano passado, ou seja, expandindo a construção de capital na indústria de
forma absoluta e relativa.
Esse é o ponto crucial das teses sobre os dados de controle da economia nacio-
nal. No entanto, certos camaradas não conseguiram observar esse fato marcante.
Eles criticaram as teses sobre as figuras de controle à direita e à esquerda no que
diz respeito a detalhes mesquinhos, mas o mais importante eles não observaram.
Falei até agora da primeira questão principal das teses, a taxa de desenvolvi-
mento da indústria. Agora, consideremos a segunda questão principal, o pro-
blema dos grãos. Uma característica das teses é que elas enfatizam o problema
do desenvolvimento da agricultura em geral e da cultura de grãos em particular.
As teses estão certas em fazer isso? Eu acho que estão. Já na sessão plenária de
julho, foi dito que o ponto mais fraco do desenvolvimento da nossa economia
nacional é o excessivo atraso da agricultura em geral e da cultura de cereais em
particular.
Quando, ao falar de nossa agricultura atrasada em relação à indústria, as pes-
soas reclamam disso, é claro que não estão falando sério. A agricultura sempre
ficou para trás e sempre ficará para trás da indústria. Isso é particularmente
verdadeiro em nossas condições, onde a indústria está concentrada ao máximo,
enquanto a agricultura está espalhada ao máximo. Naturalmente, uma indústria
unida se desenvolverá mais rápido do que uma agricultura dispersa. Isso, aliás,
dá origem à posição de liderança da indústria em relação à agricultura. Conse-
quentemente, a defasagem costumeira da agricultura em relação à indústria não
dá motivos suficientes para levantar o problema dos grãos.
O problema da agricultura, e do cultivo de grãos em particular, só aparece
quando o atraso habitual da agricultura em relação à indústria se transforma
em um atraso excessivo no ritmo de seu desenvolvimento. A característica do es-
tado atual de nossa economia nacional é que nos deparamos com o fato de uma
defasagem excessiva na taxa de desenvolvimento da agricultura de grãos em re-
lação à taxa de desenvolvimento da indústria, ao mesmo tempo que a demanda
por grãos comercializáveis em a parte das cidades e áreas industriais em cresci-
mento está aumentando aos trancos e barrancos. A tarefa, então, não é reduzir a
taxa de desenvolvimento da indústria ao nível do desenvolvimento da agricultura
de grãos (o que perturbaria tudo e inverteria o curso do desenvolvimento), mas
harmonizar a taxa de desenvolvimento da agricultura de grãos com a taxa de de-
senvolvimento da indústria, para elevar a taxa de desenvolvimento da agricultura
de grãos a um nível que garanta o rápido progresso de toda a economia nacional,
428 Obras Escolhidas
253Um dessiatin é igual a 2.400 sazhens quadrados. Aproximadamente equivalente a 2.702 acres in-
gleses ou 10.926.512 metros quadrados (N.T.)
430 Obras Escolhidas
são “uma expressão das tendências burguesas em nosso país”. Devo dizer clara-
mente a Frumkin que, quando o Bureau Político formulou este item da resolução
da plenária de julho, tinha ele e sua primeira carta em mente.
4) “Assistência máxima aos camponeses pobres que entram em fazendas coletivas”.
Sempre, com o melhor de nossas capacidades e recursos, prestamos a máxima
assistência aos camponeses pobres que entram, ou mesmo não entram, nas fa-
zendas coletivas. Não tem nada novo nisso. O que há de novo nas decisões do
Décimo Quinto Congresso em comparação com as do Décimo Quarto Congresso
não é isso, mas que o Décimo Quinto Congresso fez do desenvolvimento máximo
do movimento da fazenda coletiva uma das tarefas cardeais da época. Quando
Frumkin fala de assistência máxima aos camponeses pobres que entram nesses es-
paços, ele está, na verdade, se afastando, fugindo, da tarefa atribuída ao Partido
pelo Décimo Quinto Congresso de desenvolver o movimento da fazenda cole-
tiva ao máximo. Na verdade, Frumkin é contra o desenvolvimento do trabalho
de fortalecimento do setor socialista no campo ao longo da linha de fazendas
coletivas.
5) “As fazendas estatais não devem ser expandidas por táticas de choque ou super-
choque”. Frumkin não pode deixar de saber que estamos apenas começando a
trabalhar seriamente para expandir as antigas fazendas estatais e criar novas.
Frumkin não pode deixar de saber que estamos alocando para esse fim muito
menos dinheiro do que deveríamos se tivéssemos reservas para ele. As palavras
“por choque ou táticas de super-choque” foram colocadas aqui para atingir as
pessoas com “horror” e para esconder sua própria aversão a qualquer expan-
são séria das fazendas estatais. Frumkin, na verdade, está expressando aqui sua
oposição ao fortalecimento do setor socialista no campo ao longo da linha das
fazendas estatais.
Agora, reúna todas essas proposições de Frumkin, e você obterá um buquê
característico do desvio à direita.
Passemos à segunda carta de Frumkin. De que forma a segunda carta difere
da primeira? Na forma em que agrava os erros do primeiro escrito. O primeiro
dizia que a agricultura camponesa média não tinha perspectivas. O segundo
fala do “retrocesso” da agricultura. A primeira carta dizia que devemos retornar
ao XIV Congresso, no sentido de relaxar a ofensiva contra os kulak. A segunda
carta, porém, diz que “não devemos prejudicar a produção nas fazendas kulak”. A
primeira carta não dizia nada sobre a indústria. Mas, a segunda carta desenvolve
uma “nova” teoria, no sentido de que menos deve ser atribuído à construção
industrial. Aliás, há dois pontos em que as duas cartas coincidem: no que diz
respeito às fazendas coletivas e no que diz respeito às fazendas estatais. Em ambas
as cartas, Frumkin se pronuncia contra o desenvolvimento de fazendas coletivas
e fazendas estatais. É claro que a segunda carta agrava os erros da primeira.
Já falei sobre a teoria do “retrocesso”. Não pode haver dúvida de que esta
teoria é invenção de especialistas burgueses, que estão sempre prontos para gritar
que o regime soviético está condenado. Frumkin se deixou amedrontar pelos
espertos burgueses que têm seu poleiro ao redor do Comissariado do Povo para
as Finanças, e agora ele mesmo tenta assustar o Partido para fazê-lo ceder ao
desvio de direita. Também já se disse o suficiente sobre as fazendas coletivas e as
436 Obras Escolhidas
Frumkin.
Construção de capital na indústria. Quando discutimos os números de controle,
tínhamos três números diante de nós: o Conselho Supremo de Economia Naci-
onal pediu 825 milhões de rublos; a Comissão de Planejamento Estadual estava
disposta a dar 750 milhões de rublos; o Comissariado do Povo das Finanças daria
apenas 650 milhões de rublos. Que decisão adotou o Comitê Central de nosso
Partido? Fixou o número em 800 milhões de rublos, ou seja, exatamente 150
milhões de rublos a mais do que o proposto pelo Comissariado do Povo das Fi-
nanças. O fato de o Comissariado do Povo das Finanças ter oferecido menos, é
claro, não é surpreendente: a mesquinhez do Comissariado do Povo é geralmente
conhecida; tem que ser mesquinho. Mas não é esse o ponto agora. A questão é
que Frumkin defende a cifra de 650 milhões de rublos não por mesquinhez, mas
por causa de sua nova teoria de “viabilidade”, afirmando em sua segunda carta
e em um artigo especial no periódico do Comissariado do Povo que, certamente
será prejudicial para nossa economia se atribuirmos ao Conselho Supremo de
Economia Nacional mais de 650 milhões de rublos para construção de capital.
E o que isso significa? Significa que Frumkin é contra a manutenção do atual
ritmo de desenvolvimento da indústria, evidentemente sem perceber que, se fosse
abrandado, isso realmente prejudicaria toda a economia nacional.
Agora, combine esses dois pontos na segunda carta de Frumkin, o ponto sobre
a agricultura kulak e o ponto sobre a construção de capital na indústria, acres-
cente a teoria do “retrocesso” e você terá a fisionomia do desvio à direita. Você
quer saber qual é o desvio e como ele se parece? Leia as duas cartas de Frumkin,
estude-as e você entenderá.
É o suficiente para explicitar a fisionomia do desvio de direita.
Mas as teses não falam apenas do desvio. Eles falam também do chamado des-
vio de “esquerda”. Qual é o desvio “à esquerda”? Existe realmente no Partido?
Existem em nosso Partido, como dizem nossas teses, tendências anticamponesas
médias, tendências de superindustrialização e assim por diante? Sim, existem.
O que elas representam? Elas equivalem a um desvio para o trotskismo. Isso já
foi dito na plenária de julho. Refiro-me à resolução da plenária de julho sobre
a política de compras de grãos, que fala de uma luta em duas frentes: contra
aqueles que querem voltar do Décimo Quinto Congresso – os de direita – e con-
tra aqueles que querem converter as medidas de emergência em permanentes
política do Partido – as “esquerdas”, a tendência ao trotskismo.
Claramente, existem elementos do trotskismo e uma tendência para a ideolo-
gia trotskista dentro do nosso partido. Cerca de quatro mil pessoas, creio, vota-
ram contra nossa plataforma durante a discussão que precedeu o XV Congresso
do Partido (Uma voz: “Dez mil” ). Acho que se dez mil votaram contra, então duas
vezes dez mil membros do Partido que simpatizavam com o trotskismo não vota-
ram em absoluto, porque não compareceram às reuniões. Estes são os elementos
trotskistas que não deixaram o Partido e que, deve-se supor, ainda não se livra-
ram da ideologia trotskista. Além disso, acho que uma seção dos trotskistas que
mais tarde se separou da organização trotskista e retornou ao Partido ainda não
conseguiu se livrar da ideologia trotskista e também, presumivelmente, não tem
aversão a disseminar suas opiniões entre os membros do partido. Por último, há
438 Obras Escolhidas
unem a um acordo, um bloco, com os direitistas para lutar contra a linha leni-
nista.
É por isso que é obrigatório para nós, leninistas, travar uma luta em duas
frentes – tanto contra o desvio de direita como contra o desvio de esquerda.
Mas, se a tendência trotskista representa um desvio de “esquerda”, isso não
significa que os esquerdistas estão mais à esquerda do que o leninismo? Não,
não significa. O leninismo é a tendência mais à esquerda no movimento operário
mundial. Nós, leninistas, pertencemos à Segunda Internacional até a eclosão da
guerra imperialista, como o grupo de extrema esquerda dos social-democratas.
Não ficamos na II Internacional e defendemos uma cisão na II Internacional
precisamente porque, sendo o grupo de extrema esquerda, não queríamos estar
no mesmo partido que os pequeno-burgueses traidores do marxismo, os social-
pacifistas e social-chauvinistas.
Foram essas táticas e essa ideologia que posteriormente se tornaram a base
de todos os partidos bolcheviques do mundo. Em nosso Partido, nós, leninistas,
somos os únicos esquerdistas sem aspas. Consequentemente, nós, leninistas, não
somos nem “esquerdistas” nem direitistas em nosso próprio Partido. Somos um
partido de marxista-leninistas. E, dentro do nosso Partido, combatemos não só
aqueles a quem chamamos de desviantes abertamente oportunistas, mas também
aqueles que pretendem ser mais “esquerdistas” do que o marxismo, mais “esquer-
distas” do que o leninismo, e que camuflam seu direitismo oportunista com uma
pomposa pose de esquerda.
Todo mundo percebe que, quando as pessoas que ainda não se livraram das
tendências trotskistas são chamadas de “esquerdistas”, isso tem um tom de ironia.
Lenin se referiu aos “comunistas de esquerda” como esquerdistas, às vezes com e
às vezes sem aspas. Mas todos percebem que Lenin os chamava ironicamente de
esquerdistas, enfatizando, assim, que eram esquerdistas apenas nas palavras, na
aparência, mas que, na realidade, representavam tendências de direita pequeno-
burguesa.
Em que sentido os elementos trotskistas podem ser chamados de esquerdis-
tas (sem aspas), se ontem eles se uniram em um bloco antileninista unido com
elementos abertamente oportunistas e se ligaram direta e imediatamente com
as camadas antissoviéticas do país? Não é verdade que ontem tivemos um bloco
aberto das “esquerdas” e das direitas contra o Partido Leninista, e que esse bloco,
sem dúvida, teve o apoio dos elementos burgueses? E isso não mostra que eles, as
“esquerdas” e os direitistas, não poderiam ter se unido em um bloco único se não
tivessem raízes sociais comuns, se não fossem de natureza oportunista comum?
O bloco trotskista caiu em pedaços há um ano. Alguns dos direitistas, como Sha-
tunovsky, deixaram o bloco. Consequentemente, os membros de direita do bloco
agora se apresentarão como direitistas, enquanto os “esquerdistas” camuflarão
seu direitismo com frases de “esquerda”. Mas que garantia há de que as “esquer-
das” e as direitas não se reencontrarão? (Risos). Obviamente, não há, e não pode
haver, qualquer garantia disso. Mas se defendemos a palavra de ordem de uma
luta em duas frentes, isso significa que estamos proclamando a necessidade do
centrismo em nosso Partido? O que significa uma luta em duas frentes? Isso não
é centrismo? Você sabe que é exatamente assim que os trotskistas descrevem as
440 Obras Escolhidas
desvio de direita.
Finalmente, um último ponto. As teses dizem que devemos enfatizar particu-
larmente a necessidade, neste momento, de combater o desvio de direita. O que
isso significa? Significa que, neste momento, o perigo certo é o principal perigo
do nosso Partido. Uma luta contra as tendências trotskistas, e uma luta concen-
trada nisso, já se arrasta há cerca de dez anos. Esta luta resultou na derrota dos
principais quadros trotskistas. Não se pode dizer que a luta contra a tendência
abertamente oportunista tem sido travada ultimamente com igual intensidade.
Não foi travada com especial intensidade, porque o desvio à direita ainda está em
um período de formação e cristalização, crescendo e ganhando força devido ao
fortalecimento das forças elementais pequeno-burguesas, que foram alimentadas
por nossas dificuldades de colheita de grãos. O golpe principal deve, portanto,
ser dirigido ao desvio de direita.
Para terminar, gostaria, camaradas, de referir mais um fato, que não foi aqui
referido e que, a meu ver, não é de pouca importância. Nós, membros do Bu-
reau Político, expusemos nossas teses sobre os números de controle. Em meu
discurso, considerei essas teses inquestionavelmente corretas. Não digo que cer-
tas correções não possam ser feitas nas teses. Mas que estão no essencial corretas
e asseguram o bom andamento da linha leninista, disso não pode haver nenhuma
dúvida. Bem, devo dizer-lhes que nós, no Bureau Político, aprovamos estas teses
por unanimidade. Penso que este fato tem alguma importância face aos rumores
que de vez em quando se espalham nas nossas fileiras por diversos malfeitores,
opositores e inimigos do nosso Partido. Tenho em mente os rumores de que no
Bureau Político temos um desvio de direita, um desvio de “esquerda”, concili-
ação e diabo sabe o que mais. Que essas teses sirvam como mais uma prova, a
centésima ou centésima primeira, de que nós, no Bureau Político, estamos todos
unidos.
Gostaria que este plenária aprovasse estas teses, em princípio, com igual una-
nimidade. (Aplausos.)
Pravda, nº 273.
24 de novembro de 1928
J. V. Stalin 445
mos explicar o fato de que uma série de teses fundamentais da economia polí-
tica marxista-leninista, que são o antídoto mais eficaz para as teorias burguesas
e pequeno-burguesas, estão começando a ser esquecidas, não são popularizadas
em nossa imprensa, por algum motivo não colocado em primeiro plano? É difícil
entender que, a menos que uma luta implacável contra as teorias burguesas seja
travada com base na teoria marxista-leninista, será impossível alcançar a vitória
completa sobre nossos inimigos de classe?
Uma nova experiência prática está dando origem a uma nova abordagem aos
problemas da economia do período de transição. As questões da NEP, das classes,
do ritmo de construção, do vínculo com o campesinato, da política do Partido,
passam a ser apresentadas de uma nova forma. Se não quisermos ficar para trás
na prática, devemos começar imediatamente a trabalhar em todos esses proble-
mas à luz da nova situação. A menos que o façamos, será impossível superar
as teorias burguesas que estão enchendo de lixo as cabeças de nossos operários
práticos. A menos que façamos isso, será impossível erradicar essas teorias que
estão adquirindo a tenacidade de preconceitos. Pois somente combatendo os
preconceitos burgueses no campo da teoria é possível consolidar a posição do
marxismo-leninismo.
Permitam-me agora caracterizar pelo menos alguns desses preconceitos bur-
gueses que são chamados de teorias, e demonstrar sua falta de fundamento à luz
de certos problemas-chave de nosso trabalho de construção.
I. A teoria do ''equilíbrio''
por parte de nossos teóricos. Como essa incongruência pode ser explicada senão
pelo atraso de nosso pensamento teórico? E, no entanto, basta tirar do tesouro
do marxismo a teoria da reprodução e contrapô-la à teoria do equilíbrio dos se-
tores para que esta última teoria seja apagada sem deixar vestígios. Na verdade,
a teoria marxista da reprodução ensina que a sociedade moderna não pode se
desenvolver sem acumular ano a ano, e a acumulação é impossível a menos que
haja reprodução expandida de ano a ano. Isso é claro e compreensível. Nossa in-
dústria socialista centralizada em grande escala está se desenvolvendo de acordo
com a teoria marxista da reprodução expandida, pois está crescendo em volume
a cada ano, tem seus acúmulos e avança a passos gigantes.
Mas nossa grande indústria não constitui toda a economia nacional. Ao con-
trário, a economia do pequeno camponês ainda predomina nela. Podemos dizer
que nossa economia camponesa está se desenvolvendo de acordo com o princípio
da reprodução ampliada? Não, nós não podemos. Não apenas não há reprodu-
ção anual expandida no grosso de nossa economia de pequenos camponeses, mas,
ao contrário, raramente ele é capaz de alcançar até mesmo uma reprodução sim-
ples. Podemos desenvolver nossa indústria socializada em um ritmo acelerado
enquanto temos uma base agrícola como a economia de pequenos camponeses,
que é incapaz de reprodução expandida e que, além disso, é a força predomi-
nante em nossa economia nacional? Não, nós não podemos. O poder soviético
e o trabalho de construção socialista podem repousar por algum tempo em duas
bases diferentes: na indústria socialista mais concentrada e em grande escala, e
na economia camponesa mais desunida e atrasada, de pequenas mercadorias?
Não, eles não podem. Mais cedo ou mais tarde, isso acabaria no colapso total de
toda a economia nacional.
Qual é, então, a saída? A saída está em tornar a agricultura em uma agricul-
tura de grande escala, em torná-la capaz de acumulação, de reprodução ampliada
e, assim, transformar a base agrícola da economia nacional.
Mas como isso pode ser feito em grande escala?
Há duas maneiras de fazer isso. Existe o caminho capitalista, que consiste em
tornar a agricultura em grande escala implantando o capitalismo na agricultura –
um caminho que leva ao empobrecimento do campesinato e ao desenvolvimento
de empresas capitalistas na agricultura. Rejeitamos esse caminho por ser incom-
patível com a economia soviética.
Há outro caminho: o caminho socialista, que é introduzir fazendas coleti-
vas e fazendas estatais na agricultura, o caminho que leva à união das pequenas
fazendas camponesas em grandes fazendas coletivas, empregando máquinas e
métodos científicos de agricultura, e capazes de se desenvolver ainda mais, pois
essas fazendas podem alcançar uma reprodução ampliada.
E assim, a questão é a seguinte: de um jeito ou de outro. Ou de volta ao
capitalismo, ou à frente ao socialismo. Não existe e não pode haver nenhuma
terceira via.
A teoria do “equilíbrio” é uma tentativa de indicar uma terceira via. E preci-
samente porque se baseia em uma terceira via (inexistente), é utópica e antimar-
xista.
Você vê, portanto, que tudo o que era necessário era contrapor a teoria da
448 Obras Escolhidas
reprodução de Marx a esta teoria do “equilíbrio” dos setores para que esta última
teoria fosse eliminada sem deixar vestígios.
Por que, então, nossos estudantes marxistas de questões agrárias não fazem
isso? De quem é o interesse que a ridícula teoria do “equilíbrio” seja difundida
em nossa imprensa enquanto a teoria marxista da reprodução é mantida oculta?
para a cidade. Ele cria a base para eliminar a antítese entre cidade e campo.
Cria a base para que a palavra de ordem do Partido – “face para o campo” – seja
complementada pela palavra de ordem dos camponeses coletivos: “face para a
cidade”.
Assim, Lenin toma as empresas cooperativas não por si mesmas, mas em co-
nexão com nosso sistema atual, em conexão com o fato de que funcionam em
terras pertencentes ao Estado, em um país onde os meios de produção perten-
cem ao Estado; e, considerando-os sob esta luz, Lenin declara que as empresas
cooperativas não diferem das empresas socialistas.
Isso é o que Lenin diz sobre as empresas cooperativas em geral.
Não está claro que há ainda mais motivos para dizer o mesmo sobre as fazen-
das coletivas em nosso período?
Isso, aliás, explica por que Lenin considerava o “mero crescimento da coope-
ração” em nossas condições como “idêntico ao crescimento do socialismo”.
Como vocês podem ver, o orador a que me referi acima, ao tentar desacreditar
as fazendas coletivas, cometeu um grave erro contra o leninismo.
Tampouco há nada de surpreendente nisso, pois o camponês passou a re-
ceber, da cidade, máquinas, tratores, agrônomos, organizadores e, finalmente,
ajuda direta no combate e na superação dos kulaks. O velho camponês, com
sua selvagem desconfiança da cidade, que a considerava um saqueador, está pas-
sando para segundo plano. Seu lugar está sendo ocupado pelo novo camponês,
pelo camponês coletivo, que olha para a cidade com a esperança de receber uma
ajuda real na produção. O lugar do velho tipo de camponês que temia afun-
dar ao nível dos camponeses pobres e apenas furtivamente (pois ele poderia ser
privado da franquia!) ascendeu à posição de um kulak, está sendo tomado pelo
novo camponês, com uma nova perspectiva diante dele – a de ingressar em uma
fazenda coletiva e sair da pobreza e da ignorância para o caminho do progresso
econômico e cultural.
Essa é a direção que as coisas estão tomando, camaradas.
É ainda mais lamentável, camaradas, que nossos teóricos agrários não tenham
tomado todas as medidas para explodir e erradicar todas as teorias burguesas
que buscam desacreditar as conquistas da Revolução de Outubro e do crescente
movimento das fazendas coletivas.
Esse erro o levou a outro erro – sobre a luta de classes nas fazendas coletivas.
O palestrante retratou a luta de classes nas fazendas coletivas em cores tão vivas
que se poderia pensar que a luta de classes nas fazendas coletivas não difere da
luta de classes na ausência de fazendas coletivas. Na verdade, pode-se pensar
que nas fazendas coletivas se torna ainda mais violento. A propósito, o orador
mencionado não é o único que errou neste assunto. Conversas fúteis sobre a
luta de classes, que gritam e esperneiam sobre a luta de classes nas fazendas
coletivas, agora são características de todas as nossas ruidosas “esquerdas”. O
mais cômico sobre esses guinchos é que os gritadores “veem” a luta de classes
onde ela não existe, ou quase não existe, mas não conseguem vê-la onde ela
existe e é flagrantemente manifesta.
Existem elementos da luta de classes nas fazendas coletivas? Sim, existem. É
provável que haja elementos da luta de classes nas fazendas coletivas enquanto
houver reminiscências da mentalidade individualista, ou mesmo kulak. Enquanto
J. V. Stalin 457
houver um certo grau de desigualdade material. Pode-se dizer que a luta de clas-
ses nas fazendas coletivas equivale à luta de classes na ausência das fazendas cole-
tivas? Não, não se pode. O erro que nossos formuladores de frases “esquerdistas”
cometem reside precisamente em não ver a diferença.
O que significa a luta de classes na ausência de fazendas coletivas, antes do
estabelecimento das fazendas coletivas? Implica uma luta contra o kulak que
possui os instrumentos e meios de produção e que mantém os camponeses pobres
em cativeiro com a ajuda desses instrumentos e meios de produção. É uma luta
de vida ou morte.
Mas o que a luta de classes implica com as fazendas coletivas existentes? Im-
plica, em primeiro lugar, que o kulak foi derrotado e privado dos instrumentos
e meios de produção. Implica, em segundo lugar, que os camponeses pobres e
médios estejam unidos em fazendas coletivas com base na socialização dos prin-
cipais instrumentos e meios de produção. Isso implica, finalmente, que é uma
luta entre membros de fazendas coletivas, alguns dos quais ainda não se livraram
das sobrevivências individualistas e kulak e estão se esforçando para transformar
a desigualdade, que existe até certo ponto nas fazendas coletivas em seu próprio
benefício, enquanto os outros querem eliminar esses sobreviventes e essa desi-
gualdade. Não está claro que apenas os cegos podem deixar de ver a diferença
entre a luta de classes com as fazendas coletivas existentes e a luta de classes na
ausência das fazendas coletivas?
Seria um erro acreditar que, uma vez que existam as fazendas coletivas, te-
mos tudo o que é necessário para construir o socialismo. Seria ainda mais um
erro acreditar que os membros das fazendas coletivas já se tornaram socialistas.
Não, muito trabalho ainda precisa ser feito para remodelar o camponês coletivo
agricultor, para corrigir sua mentalidade individualista e para transformá-lo em
um verdadeiro membro trabalhador de uma sociedade socialista. E quanto mais
rapidamente as fazendas coletivas são abastecidas com máquinas, quanto mais ra-
pidamente elas são munidas com tratores, mais rapidamente isso será alcançado.
Mas isso não menospreza a grande importância das fazendas coletivas como uma
alavanca para a transformação socialista do campo. A grande importância das
fazendas coletivas reside precisamente no fato de representarem a base principal
do emprego de máquinas e tratores na agricultura, de constituir a base principal
para remodelar o camponês, para mudar sua mentalidade no espírito do socia-
lismo. Lenin estava certo quando disse:
A reconstrução do pequeno leme, a remodelação de toda a sua mentalidade e hábitos, é obra
de gerações. No que diz respeito ao pequeno leme, este problema pode ser resolvido, toda
a sua mentalidade pode ser posta em linhas saudáveis, por assim dizer, apenas pela base
material, pelos meios técnicos, pela introdução de tratores e máquinas na agricultura em
escala massiva, pela eletrificação em escala de massa. (Vol. 26, p. 239).
Quem pode negar que as fazendas coletivas são, de fato, aquela forma de eco-
nomia socialista que sozinha pode atrair as grandes massas dos pequenos cam-
poneses individuais para a agricultura em grande escala, com suas máquinas e
tratores como as alavancas do progresso econômico, as alavancas do desenvolvi-
mento socialista da agricultura?
Nossos criadores de frases da “esquerda” se esqueceram de tudo isso. E nosso
palestrante também se esqueceu disso.
458 Obras Escolhidas
Por fim, a questão das mudanças de classe em nosso país e a ofensiva do soci-
alismo contra os elementos capitalistas do campo.
O traço característico do trabalho do nosso Partido durante o ano passado é
que nós, como Partido, como potência soviética: a) desenvolvemos uma ofensiva
em toda a frente contra os elementos capitalistas do campo; b) que esta ofensiva,
como sabem, rendeu e continua a render resultados muito apreciáveis e positivos.
O que isto significa? Significa que passamos da política de restringir as ten-
dências exploratórias dos kulaks para a política de eliminar os kulaks como classe.
Significa que realizamos, e continuamos realizando, uma das viradas decisivas
em toda a nossa política.
Até recentemente, o Partido aderiu à política de restringir as tendências ex-
ploratórias dos kulaks. Como você sabe, essa política foi proclamada já no Oitavo
Congresso do Partido. Foi novamente anunciada na altura da introdução da NEP
e no XI Congresso do nosso Partido. Todos nos lembramos da conhecida carta
de Lenin sobre as teses de Preobrazhensky (1922), na qual Lenin mais uma vez
voltou à necessidade de seguir esta política. Finalmente, esta política foi confir-
mada pelo Décimo Quinto Congresso do nosso Partido. E era essa política que
seguíamos até recentemente.
Esta política estava correta? Sim, estava absolutamente correta na época. Po-
deríamos ter empreendido tal ofensiva contra os kulaks há uns cinco ou três anos?
Poderíamos então ter contado com sucesso em tal ofensiva? Não, não podería-
mos. Esse teria sido o aventureirismo mais perigoso. Teria sido uma jogada
muito perigosa na ofensiva. Pois certamente teríamos falhado, e nosso fracasso
teria fortalecido a posição dos kulaks. Por quê? Porque ainda não tínhamos, no
campo, pontos fortes na forma de uma ampla rede de fazendas estatais e fazendas
coletivas que pudessem ser a base de uma ofensiva determinada contra os kulaks.
Porque, naquela época, ainda não podíamos substituir a produção capitalista dos
kulaks pela produção socialista das fazendas coletivas e fazendas estatais.
Em 1926-1927, a oposição Zinoviev-Trotsky fez o máximo para impor ao Par-
tido a política de uma ofensiva imediata contra os kulaks. O Partido não embarcou
nessa perigosa aventura, pois sabia que gente séria não pode se dar ao luxo de
apostar na ofensiva. Uma ofensiva contra os kulaks é um assunto sério. Não deve
ser confundido com declamações contra os kulaks. Nem deve ser confundido com
uma política de alfinetadas contra os kulaks, que a oposição Zinoviev-Trotsky fez
o máximo para impor ao Partido. Lançar uma ofensiva contra os kulaks signi-
fica que devemos esmagar os kulaks, eliminá-los como uma classe. A menos que
nos proponhamos esses objetivos, uma ofensiva seria mera declamação, alfine-
tadas, troca de frases, qualquer coisa, menos uma verdadeira ofensiva bolchevi-
que. Lançar uma ofensiva contra os kulaks significa que devemos nos preparar
para isso e depois atacar os kulaks, atacar com força para evitar que se levantem
novamente. Isso é o que nós, bolcheviques, chamamos de verdadeira ofensiva.
Poderíamos ter empreendido tal ofensiva há uns cinco ou três anos, com alguma
perspectiva de sucesso? Não, não poderíamos.
J. V. Stalin 459
quebrar sua resistência, eliminá-los como classe e substituir sua produção pela
produção das fazendas coletivas e fazendas do Estado. Agora, a deskulakização
está sendo realizada pelas próprias massas de camponeses pobres e médios, que
estão colocando em prática a coletivização completa. Agora, a deskulakização nas
áreas de coletivização completa não é mais apenas uma medida administrativa.
Agora, é parte integrante da formação e do desenvolvimento das fazendas cole-
tivas. Consequentemente, agora é ridículo e tolo discorrer longamente sobre a
deskulakização. Quando a cabeça está fora, não se lamenta pelo cabelo. Há outra
questão que não parece menos ridícula: se os kulaks deveriam ser autorizados a
ingressar nas fazendas coletivas. Claro que não, pois eles são inimigos declarados
do movimento das fazendas coletivas.
VII. Conclusões
Acima, camaradas, dissertei sobre seis questões-chave que o trabalho teórico
de nossos estudantes marxistas de questões agrárias não pode ignorar.
A importância dessas questões reside, acima de tudo, no fato de que uma aná-
lise marxista delas torna possível erradicar todas as várias teorias burguesas que
às vezes – para nossa vergonha – são divulgadas por nossos próprios camaradas,
por comunistas, e que enchem a cabeças de nossos trabalhadores práticos com
lixo. E essas teorias deveriam ter sido erradicadas e descartadas há muito tempo.
Pois somente em uma luta implacável contra essas teorias e outras semelhantes
que o pensamento teórico entre os estudantes marxistas das questões agrárias
pode se desenvolver e se fortalecer.
A importância dessas questões reside, por fim, no fato de darem um novo
aspecto aos velhos problemas da economia do período de transição.
As questões da NEP, das classes, das fazendas coletivas, da economia do pe-
ríodo de transição, passam a ser apresentadas de uma nova forma.
O erro de quem interpreta a NEP como um recuo, e apenas como um recuo,
deve ser exposto. Na verdade, mesmo quando a Nova Política Econômica estava
sendo introduzida, Lenin disse que não era apenas um recuo, mas também a pre-
paração para uma nova e determinada ofensiva contra os elementos capitalistas
na cidade e no campo.
Deve ser exposto o erro de quem pensa que a NEP é necessária apenas como
elo entre a cidade e o campo. Não precisamos de qualquer tipo de ligação entre
a cidade e o campo. O que precisamos é de um elo que garanta a vitória do soci-
alismo. E se aderimos à NEP é porque ela serve à causa do socialismo. Quando
ele deixar de servir à causa do socialismo, nós nos livraremos dela. Lenin disse
que a NEP foi introduzida a sério e por muito tempo. Mas ele nunca disse que
foi introduzida para sempre.
Devemos também levantar a questão da popularização da teoria marxista da
reprodução. Devemos examinar a questão da estrutura do balanço de nossa eco-
nomia nacional. O que o a Central Estatística publicou em 1926 como o balanço
da economia nacional não é um balanço, mas um malabarismo com números.
Tampouco é adequada a maneira como Bazarov e Groman tratam o problema
do balanço patrimonial da economia nacional. A estrutura do balanço da eco-
J. V. Stalin 461
agricultura e a redução de impostos para o camponês médio”, ver “Resoluções e decisões do PCUS.
Congressos, Conferências e Plenárias do Comitê Central”, Parte II, 1953, pp. 455-69.
J. V. Stalin 463
Pode-se, então, afirmar que a política de eliminação dos kulaks como classe é
uma continuação da política de restrição (e expulsão) dos elementos capitalistas
no campo? Obviamente, não se pode.
O autor do artigo acima mencionado esquece que a classe kulak, como uma
classe, não pode ser eliminada por medidas tributárias ou quaisquer outras res-
trições, se esta classe for autorizada a reter instrumentos de produção e o direito
de uso livre da terra, e se na nossa atividade prática preservamos no campo a
lei da contratação de mão-de-obra, a lei do arrendamento de terras e a proibi-
ção da deskulakização. O autor esquece que a política de restringir as tendências
exploradoras dos kulaks permite contar apenas com a expulsão de seções indi-
viduais dos kulaks, o que não contradiz, mas, ao contrário, pressupõe a preser-
vação, por enquanto, dos kulaks como classe. Como meio de expulsar os kulaks
como uma classe, a política de restringir e expulsar seções individuais dos ku-
laks é inadequada. Para derrubar os kulaks como classe, a resistência desta classe
deve ser esmagada em batalha aberta e deve ser privada das fontes produtivas de
sua existência e desenvolvimento (uso livre da terra, instrumentos de produção,
arrendamento de terras, direito para contratar mão de obra, etc.).
É uma virada para a política de eliminação dos kulaks como classe. Sem isso,
falar sobre expulsar os kulaks como uma classe é uma tagarelice vazia, aceitável
e lucrativa apenas para os que desviam à direita. Sem ela, nenhuma coletiviza-
ção substancial – muito menos completa – do campo é concebível. Isso é bem
compreendido por nossos camponeses pobres e médios, que estão esmagando os
kulaks e introduzindo a coletivização completa. Isso, evidentemente, ainda não é
compreendido por alguns de nossos camaradas.
Portanto, a atual política do Partido no campo não é uma continuação da
velha política, mas um afastamento da velha política de restringir (e expulsar) os
elementos capitalistas no campo, para a nova política de eliminação dos kulaks
como classe.
J. Stalin
21 de janeiro de 1930
466 Obras Escolhidas
jeito que está, podemos correr para a vitória total do socialismo “de uma só vez”:
“Podemos alcançar qualquer coisa!”, “Não há nada que não possamos fazer!’.
Portanto, a tarefa do Partido é travar uma luta determinada contra esses sen-
timentos, que são perigosos e prejudiciais para a nossa causa, e expulsá-los do
Partido.
Não se pode dizer que esses sentimentos perigosos e nocivos estão dissemi-
nados nas fileiras do nosso Partido. Mas eles existem, e não há motivos para
afirmar que não se tornarão mais fortes. E se eles deveriam ter liberdade de
ação, não pode haver dúvida de que o movimento das fazendas coletivas ficará
consideravelmente enfraquecido e o perigo de sua quebra pode se tornar uma
realidade.
Portanto, a tarefa de nossa imprensa é: denunciar sistematicamente esses e
outros sentimentos anti-leninistas semelhantes.
Alguns fatos.
1. Os sucessos de nossa política de fazendas coletivas se devem, entre outras
coisas, ao fato de que ela se apoia no caráter voluntário do movimento de fazendas
coletivas e na consideração da diversidade de condições nas várias regiões da
URSS. As fazendas coletivas não devem ser estabelecidas à força. Isso seria tolice
e reacionário. O movimento da fazenda coletiva deve apoiar-se no apoio ativo
da massa principal do campesinato. Exemplos de formação de fazendas coletivas
em áreas desenvolvidas não devem ser transplantados mecanicamente para áreas
subdesenvolvidas. Isso seria tolice e reacionário. Tal “política” desacreditaria a
ideia de coletivização de uma só vez. Ao determinar a velocidade e os métodos
de desenvolvimento de fazendas coletivas, deve-se considerar cuidadosamente a
diversidade de condições nas várias regiões da URSS.
Nossas áreas de cultivo de grãos estão à frente de todas as outras no movi-
mento das fazendas coletivas. Por que isso?
Em primeiro lugar, porque nestas áreas temos o maior número de fazendas
estatais e fazendas coletivas já consolidadas, graças às quais os camponeses tive-
ram a oportunidade de se convencer da força e da importância dos novos equi-
pamentos técnicos, do poder e da importância da nova organização coletiva da
agricultura.
Em segundo lugar, porque essas áreas tiveram dois anos de formação na luta
contra os kulaks durante as campanhas de colheita de grãos, o que não poderia
deixar de facilitar o desenvolvimento do movimento das fazendas coletivas.
Por último, porque estas áreas, nos últimos anos foram amplamente abaste-
cidas com os melhores quadros dos centros industriais.
Pode-se dizer que essas condições especialmente favoráveis também existem
em outras áreas, as áreas de consumo, por exemplo, como nossas regiões do
norte, ou em áreas onde ainda existem nacionalidades atrasadas, como o Tur-
questão, por exemplo?
Não, não pode ser dito.
Claramente, o princípio de levar em consideração a diversidade de condições
nas várias regiões da URSS é, juntamente com o princípio voluntário, um dos
pré-requisitos mais importantes para um movimento de fazenda coletiva sólido.
468 Obras Escolhidas
Mas o que realmente acontece às vezes? Pode-se dizer que o princípio volun-
tário e o princípio de levar em conta as peculiaridades locais não são violadas em
várias áreas? Não, isso não pode ser dito, infelizmente. Sabemos, por exemplo,
que em várias áreas do norte da zona de consumo, onde as condições para a orga-
nização imediata das fazendas coletivas são comparativamente menos favoráveis
do que nas áreas de cultivo de grãos, não raramente são feitas tentativas de subs-
tituir os trabalhos preparatórios para a organização das fazendas coletivas por
decreto burocrático do movimento dos fazendeiros coletivos, resoluções em pa-
pel sobre o crescimento das fazendas coletivas, organização das fazendas coletivas
no papel – fazendas coletivas que ainda não têm realidade, mas cuja “existência”
é proclamada em um pilha de resoluções arrogantes.
Ou considere certas áreas do Turquestão, onde as condições para a organiza-
ção imediata de fazendas coletivas são ainda menos favoráveis do que nas regiões
do norte da zona de consumo. Sabemos que, em várias áreas do Turquestão, já
houve tentativas de “ultrapassar e superar” as áreas avançadas da URSS, amea-
çando usar a força armada, ameaçando que os camponeses que ainda não estão
prontos para ingressar nas fazendas coletivas serão privados de água de irrigação
e produtos manufaturados.
O que pode haver em comum entre esta “política” do Sargento Prishibeyev e
a política do Partido de confiar no princípio voluntário e de levar em conta as
peculiaridades locais no desenvolvimento da fazenda coletiva? Obviamente, não
há e não pode haver nada em comum.
Quem se beneficia dessas distorções, dessa decretação burocrática do movi-
mento da fazenda coletiva, dessas ameaças indignas contra os camponeses? Nin-
guém, exceto nossos inimigos!
A que podem levar essas distorções? Ao fortalecimento de nossos inimigos e
descrédito da ideia do movimento da fazenda coletiva.
Não está claro que os autores dessas distorções, que se imaginam “esquer-
distas”, estão, na realidade, trazendo grãos para o moinho do oportunismo de
direita?
2. Um dos maiores méritos da estratégia política do nosso Partido é que ele
pode, a qualquer momento, apontar o principal elo do movimento, compreen-
dendo que o Partido atrai toda a cadeia para um objetivo comum para chegar
à solução do problema. Pode-se dizer que o Partido já identificou o principal
elo do movimento da fazenda coletiva no sistema de desenvolvimento da fazenda
coletiva? Sim, isso pode e deve ser dito.
Qual é este elo principal?
É, talvez, associação para cultivo conjunto da terra? Não, não é isso. As associ-
ações de cultivo conjunto da terra, em que os meios de produção ainda não estão
socializados, já são uma etapa do movimento da fazenda coletiva.
É, talvez, a comuna agrícola? Não, não é isso, as comunas ainda são de ocorrên-
cia isolada no movimento das fazendas coletivas. As condições ainda não estão
maduras para que as comunas agrícolas – nas quais não só a produção, mas tam-
bém a distribuição é socializada – sejam as comunidades predominantes.
O principal elo do movimento da fazenda coletiva, sua forma predominante
J. V. Stalin 469
no momento presente, o elo que deve ser apreendido agora, é o artel agrícola.
No artel agrícola, socializam-se os meios básicos de produção, principalmente
para a cultura de grãos – mão de obra, uso da terra, máquinas e outros imple-
mentos, animais de tração e prédios agrícolas. No artel, as parcelas domésticas
(pequenas hortas, pequenos pomares), as casas de habitação, uma parte do gado
leiteiro, pequenos rebanhos, aves, etc., não são socializadas.
O artel é o principal elo do movimento da fazenda coletiva porque é a forma mais
bem adaptada para resolver o problema dos grãos. E o problema dos grãos é o
principal elo de todo o sistema de agricultura porque, se não for resolvido, será
impossível resolver o problema da pecuária (pequena e grande), o problema das
culturas industriais e especiais que fornecem as principais matérias-primas para
a indústria. Por isso, o artel agrícola é o principal elo do sistema de movimento
da fazenda coletiva na atualidade.
Esse é o ponto de partida das “Regras Modelo” para fazendas coletivas, cujo
texto final foi publicado hoje.
E esse deve ser o ponto de partida de nosso Partido e dos trabalhadores sovié-
ticos, um de seus deveres é fazer um estudo aprofundado dessas regras e cumpri-
las até o último detalhe.
Essa é a linha do Partido no momento atual.
Pode-se dizer que esta linha do Partido está sendo conduzida sem violação
ou distorção? Não, não se pode, infelizmente. Sabemos que em várias áreas da
URSS, onde a luta pela existência dos kolkhoses ainda está longe de terminar, e
onde os artel ainda não estão consolidados, se tentam pular o arcabouço artel e
saltar imediatamente para a comuna agrícola. Os artel ainda não estão consoli-
dados, mas já estão “socializando” moradias, pequenos rebanhos e aves; ademais,
essa “socialização” está degenerando em decretos burocráticos no papel, porque
ainda não existem as condições que tornariam essa socialização necessária. Pode-
se pensar que o problema dos grãos já está resolvido nas fazendas coletivas, que já
é uma etapa passada, que a principal tarefa no momento presente não é a solução
do problema dos grãos, mas a solução do problema da pecuária e da avicultura.
Quem, podemos nos perguntar, se beneficia desse “trabalho” estúpido de juntar
diferentes formas de movimento da fazenda coletiva? Quem se beneficia com
essa corrida afobada, que é estúpida e prejudicial à nossa causa? Irritar o cam-
ponês da fazenda coletiva ao “socializar” as moradias, todo gado leiteiro, toda
pecuária e aves, quando o problema dos grãos ainda não foi resolvido, quando a
forma artel de agricultura coletiva ainda não está consolidada – não é óbvio que
tal “política” pode ser aprazível apenas para a satisfação e vantagem apenas de
nossos inimigos jurados?
Um tal “socializador” excessivamente zeloso chega ao ponto de emitir uma
ordem a um artel contendo as seguintes instruções: “dentro de três dias, registre
todas as aves de cada família”, estabeleça postos de “comandantes” especiais para
registro e supervisão; “Ocupar as posições-chave na artel”, “comandar a batalha
socialista sem abandonar seus cargos” e – é claro – controlar com firmeza toda a
vida da artel.
O que é isso – uma política de direcionamento das fazendas coletivas, ou uma
política de desorganizá-las e desacreditá-las?
470 Obras Escolhidas
Não digo nada desses “revolucionários” – Pelo amor! – que iniciam o trabalho
de organização de artel retirando os sinos das igrejas. Imaginando remover os
sinos da igreja – que r-r-revolucionário!
Como poderiam ter surgido em nosso meio tais exercícios estúpidos de “soci-
alização”, tais tentativas ridículas de se sobrepor, tentativas que visam contornar
as classes e a luta de classes, e que de fato trazem grãos para o moinho de nossos
inimigos de classe?
Eles só poderiam ter surgido na atmosfera de nossos sucessos “fáceis” e “ines-
perados” na frente do desenvolvimento da fazenda coletiva.
Eles poderiam ter surgido apenas como resultado da crença estúpida de uma
seção de nosso Partido: “Podemos alcançar qualquer coisa!”, “Não há nada que
possamos fazer!”.
Eles só poderiam ter surgido porque alguns de nossos camaradas ficaram ton-
tos com o sucesso e, no momento, perderam a clareza da mente e a sobriedade
de visão.
Para corrigir a linha do nosso trabalho na esfera do desenvolvimento da fa-
zenda coletiva, devemos acabar com esses sentimentos.
Essa é agora uma das tarefas imediatas do Partido.
A arte da liderança é um assunto sério. Não se deve ficar para trás no mo-
vimento, porque fazer isso é perder o contato com as massas. Mas também não
se deve correr muito à frente, porque correr muito à frente é perder as massas
e isolar-se. Quem quer liderar um movimento e ao mesmo tempo manter con-
tato com as grandes massas deve travar uma luta em duas frentes – contra os que
ficam para trás e contra os que correm muito.
Nosso Partido é forte e invencível porque, ao liderar um movimento, é ca-
paz de preservar e multiplicar seus contatos com as grandes massas operárias e
camponesas.
J. Stalin
2 de março de 1930
J. V. Stalin 471
Antissemitismo
12 de janeiro de 1931
I. Mão de obra
Em primeiro lugar, há a questão do fornecimento de mão de obra para nossas
fábricas. Anteriormente, os trabalhadores geralmente iam por conta própria às
263 Uma Conferência de Executivos de Negócios foi realizada sob os auspícios do CC do PCUS (B),
de 22 a 23 de junho de 1931. Estiveram presentes representantes das organizações econômicas
unidas sob o Conselho Supremo de Economia Nacional da URSS e por representantes do Comis-
sariado do Povo de Abastecimento da URSS. Stalin compareceu à conferência nos dias 22 e 23 de
junho e, na última data, proferiu seu discurso. V. M. Molotov, K. Y. Voroshilov, A. A. Andreyev, L.
M. Kaganovich, A. I. Mikoyan, N. M. Shvernik, M. I. Kalinin, G. K. Orjonikidze e V. V. Kuibyshev
participaram do trabalho da conferência.
J. V. Stalin 473
da nova maneira e anseiam pelos “bons velhos tempos” quando a mão de obra
“vinha por si mesma” para as empresas. Desnecessário dizer que tais executivos
econômicos estão tão distantes das novas tarefas da construção econômica, que
são impostas pelas novas condições, quanto o céu está da terra. Aparentemente,
eles pensam que as dificuldades em relação à mão de obra são acidentais e que a
escassez de mão de obra desaparecerá automaticamente, por assim dizer. Isso é
uma ilusão, camaradas.
As dificuldades em relação à mão de obra não podem desaparecer por si mes-
mas. Eles podem desaparecer apenas como resultado de nossos próprios esfor-
ços.
Daí a tarefa de recrutar mão de obra de forma organizada, por meio de contratos com
as fazendas coletivas, e mecanizar a mão de obra.
É assim que se colocam as questões em relação à primeira nova condição de
desenvolvimento da nossa indústria.
Passemos à segunda condição.
II. Salários
Mas daí decorre que não podemos mais nos contentar com as pequeníssimas
forças de engenharia, técnicas e administrativas da indústria com que adminis-
trávamos anteriormente. Segue-se que os velhos centros de treinamento de forças
técnicas e de engenharia não são mais adequados, que devemos criar toda uma
rede de novos centros – nos Urais, na Sibéria e na Ásia Central. Devemos, agora,
garantir o abastecimento de três vezes, cinco vezes o número de forças de en-
genharia, técnicas e administrativas para a indústria se realmente pretendemos
realizar o programa de industrialização socialista da URSS.
Mas não precisamos de qualquer tipo de força administrativa, de engenharia
e técnica. Precisamos de forças administrativas, engenheiras e técnicas capazes de
compreender a política da classe trabalhadora de nosso país, capazes de assimilar
essa política e prontas para executá-la com consciência. E o que isto significa?
Significa que nosso país entrou em uma fase de desenvolvimento em que a classe
trabalhadora deve criar sua própria intelectualidade industrial e técnica, capaz
de defender os interesses da classe trabalhadora na produção como os interesses
da classe dominante.
Nenhuma classe dominante conseguiu sem sua própria intelectualidade. Não
há motivos para acreditar que a classe trabalhadora da URSS possa administrar
sem sua própria intelectualidade industrial e técnica.
O governo soviético levou em consideração essa circunstância, e abriu ampla-
mente as portas de todas as instituições de ensino superior em todos os ramos da
economia nacional aos membros da classe trabalhadora e do campesinato traba-
lhador. Vocês sabem que dezenas de milhares de jovens da classe trabalhadora e
camponesa estão agora estudando em instituições de ensino superior. Enquanto
anteriormente, sob o capitalismo, as instituições de ensino superior eram mono-
pólio dos descendentes dos ricos – hoje, sob o sistema soviético, a classe trabalha-
dora e a juventude camponesa predominam ali. Não há dúvida de que, em breve,
nossas instituições de ensino formarão milhares de novos técnicos e engenheiros,
novos líderes para nossas indústrias.
Mas esse é apenas um aspecto da questão. O outro aspecto é que a intelec-
tualidade industrial e técnica da classe trabalhadora será recrutada não apenas
entre aqueles que tiveram educação superior, mas também entre os trabalhadores
práticos em nossas fábricas, os trabalhadores qualificados, as forças culturais da
classe trabalhadora nos moinhos, fábricas e minas. Os iniciadores da emulação,
os líderes das brigadas de choque, aqueles que, na prática, inspiram o entusiasmo
trabalhista, os organizadores das operações nos vários setores de nosso trabalho
de construção. Tal é o novo estrato da classe trabalhadora que, junto com os
camaradas que têm ensino superior, deve formar o núcleo da intelectualidade
da classe trabalhadora, o núcleo do corpo administrativo de nossa indústria. A
tarefa é fazer com que esses camaradas “de base”, que mostram iniciativa, não
sejam deixados de lado, para promovê-los com ousadia a posições de responsa-
bilidade, para dar-lhes a oportunidade de mostrar suas habilidades de organiza-
ção e a oportunidade de complementar seus conhecimentos, para criar condições
adequadas para o seu trabalho, sem poupar dinheiro para esse fim.
Entre esses camaradas, não são poucos os que não são do Partido. Mas isso
não deve impedir-nos de promovê-los com ousadia a posições de liderança. Pelo
J. V. Stalin 481
contrário, são sobretudo estes camaradas não partidários que devem receber a
nossa atenção especial, que devem ser promovidos a cargos de responsabilidade,
para que vejam por si próprios que o Partido valoriza os trabalhadores capazes e
talentosos.
Alguns camaradas acham que apenas os membros do Partido podem ocupar
cargos de chefia nas fábricas e moinhos. Essa é a razão pela qual eles frequen-
temente colocam de lado os camaradas não-partidários, que possuem habilidade
e iniciativa, e colocam os membros do Partido no topo, embora eles sejam inca-
pazes e não mostrem nenhuma iniciativa. Desnecessário dizer que não há nada
mais estúpido e reacionário do que tal “política”, se podemos chamá-la assim.
Nem é preciso provar que tal “política” só pode deixar o Partido em descrédito e
repelir os trabalhadores não partidários dele. Nossa política, de forma alguma,
consiste em converter o Partido em uma casta exclusiva. Nossa política é garan-
tir que haja uma atmosfera de “confiança mútua”, de “controle mútuo” (Lenin),
entre os trabalhadores do Partido e não-partidários. Uma das razões pelas quais
nosso Partido é forte entre a classe trabalhadora, é que segue essa política.
Portanto, a tarefa é fazer com que a classe trabalhadora da URSS tenha sua própria
intelectualidade industrial e técnica.
É assim que se colocam as questões em relação à quarta nova condição de
desenvolvimento da nossa indústria. Passemos à quinta condição.
no sentido de que “nada virá das fazendas coletivas e fazendas estatais”, que “o
poder soviético está degenerando de qualquer maneira e está fadado ao colapso
muito em breve”, que “os bolcheviques, por sua política, estão eles próprios facili-
tando a intervenção”, etc., etc. Além disso, se mesmo alguns velhos bolcheviques
entre os desviantes de direita não puderam resistir à “epidemia” e se afastaram
do Partido naquele momento, não é surpreendente que uma certa seção da velha
intelectualidade técnica, que nunca tivera a menor ideia do bolchevismo, deveria,
com a ajuda de Deus, também vacilar.
Naturalmente, sob tais circunstâncias, o governo soviético poderia seguir ape-
nas uma política em relação à velha intelectualidade técnica: a política de esma-
gar os destruidores ativos, diferenciar os neutros e alistar aqueles que eram leais.
Isso foi há um ou dois anos.
Podemos dizer que a situação é exatamente a mesma agora? Não, nós não
podemos. Pelo contrário, surgiu uma situação inteiramente nova. Para começar,
há o fato de termos derrotado e vencido com sucesso os elementos capitalistas
na cidade e no campo. Claro, isso não pode evocar alegria entre a velha intelec-
tualidade. Muito provavelmente, eles ainda expressam simpatia por seus amigos
derrotados. Mas os simpatizantes, ainda menos os neutros ou vacilantes, não
têm o hábito de concordar voluntariamente em compartilhar o destino de seus
amigos mais ativos quando estes sofreram uma derrota severa e irreparável.
Além disso, superamos as dificuldades dos grãos, e não apenas as superamos,
mas agora exportamos uma quantidade de grãos maior do que jamais foi expor-
tada desde a existência do poder soviético. Consequentemente, este “argumento”
dos vacilantes também cai por terra.
Além disso, até os cegos podem ver agora que, no que diz respeito ao de-
senvolvimento da fazenda coletiva e da fazenda estatal, obtivemos uma vitória
definitiva e alcançamos um sucesso tremendo.
Consequentemente, a principal arma do “arsenal” da antiga intelectualidade
desapareceu. Quanto às esperanças de intervenção da intelectualidade burguesa,
há que admitir que, pelo menos por enquanto, se revelaram uma casa construída
sobre a areia; de fato, durante seis anos a intervenção foi prometida, mas ne-
nhuma tentativa de intervenção foi feita. Chegou a hora de reconhecer que nossa
sapiente intelectualidade burguesa foi simplesmente levada pelo nariz. Isso sem
contar o fato de que a conduta dos destruidores ativos no famoso julgamento de
Moscou estava fadada a desacreditar, e de fato desacreditou, a ideia da destrui-
ção.
Naturalmente, essas novas circunstâncias não podiam deixar de influenciar
nossa velha intelectualidade técnica. A nova situação estava fadada a dar ori-
gem, e realmente deu origem, a novos sentimentos entre a velha intelectualidade
técnica. Isso, de fato, explica por que há sinais definitivos de uma mudança de
atitude em favor do regime soviético por parte de uma certa seção dessa intelec-
tualidade, que antes simpatizava com os destruidores. O fato de que não apenas
este estrato da antiga intelectualidade, mas mesmo destruidores definitivos de
ontem, um número considerável deles, estão começando a trabalhar lado a lado
com a classe trabalhadora em muitas fábricas e moinhos, este fato mostra, sem
dúvida, que uma mudança de atitude entre a velha intelectualidade técnica já co-
J. V. Stalin 483
meçou. Isso, é claro, não significa que não haja mais sabotadores no país. Não,
não significa isso. Destruidores existem e continuarão a existir enquanto tiver-
mos classes e enquanto existir o cerco capitalista. Mas isso significa que, uma vez
que uma grande parte da velha intelectualidade técnica que antes simpatizava,
de uma forma ou de outra, com os destruidores, agora deu uma guinada para o
lado do regime soviético, os destruidores ativos tornaram-se poucos em número,
estão isolados e terão de se aprofundar no subsolo por enquanto.
Mas segue-se disso que devemos mudar nossa política em relação à velha in-
telectualidade técnica de acordo com a situação. Enquanto no auge das ativi-
dades de demolição nossa atitude para com a velha intelectualidade técnica era
expressa principalmente pela política de derrotá-la, agora, quando esses intelec-
tuais se voltam para o lado do regime soviético, nossa atitude em relação a eles
deve ser expressa principalmente pela política de alistá-los e mostrar solicitude
por eles. Seria errado e anti-dialético continuar nossa política anterior nas novas
e alteradas condições. Seria estúpido e insensato considerar praticamente todo
especialista e engenheiro da velha escola como um criminoso e sabotador não
descoberto. Sempre consideramos, e ainda consideramos, a “isca de especialis-
tas” um fenômeno nocivo e vergonhoso.
Portanto, a tarefa é mudar nossa atitude em relação aos engenheiros e técnicos da
velha escola, para mostrar-lhes maior atenção e solicitude, para obter sua cooperação com
mais ousadia.
Assim se colocam as questões em relação à quinta nova condição de desenvol-
vimento de nossa indústria.
Passemos à última condição.
dústria pesada, da agricultura e dos transportes. Claro, este trabalho nos custou
muitos bilhões de rublos. De onde tiramos essa quantia? Da indústria leve, da
agricultura e das acumulações orçamentárias. É assim que administramos até
recentemente.
Mas a situação é totalmente diferente agora. Se, antes, as velhas fontes de
acumulação de capital eram suficientes para a reconstrução da indústria e dos
transportes, agora estão obviamente se tornando inadequadas. Agora não é uma
questão de reconstruir nossas velhas indústrias. É uma questão de criar novas
indústrias tecnicamente bem equipadas nos Urais, na Sibéria, no Cazaquistão.
É uma questão de criar uma nova agricultura em grande escala nas regiões de
grãos, gado e matérias-primas da URSS. É uma questão de criar uma nova rede
de ferrovias ligando o leste e o oeste da URSS. Naturalmente, as velhas fontes de
acumulação não podem aguentar o suficiente para esta tarefa gigantesca.
Mas isso não é tudo. A isso deve ser adicionado o fato de que, devido à gestão
ineficiente, os princípios da contabilidade empresarial são grosseiramente viola-
dos em um grande número de nossas fábricas e organizações empresariais. É um
fato que várias empresas e organizações empresariais, há muito, deixaram de ter
contas adequadas, de calcular, de estabelecer balanços sólidos de receitas e des-
pesas. É um fato que, em várias empresas e organizações empresariais, conceitos
como “regime de economia”, “redução de gastos improdutivos”, “racionalização
da produção” há muito saíram de moda. Evidentemente, eles presumem que o
Banco do Estado “adiantará o dinheiro necessário de qualquer maneira”. É um
fato que os custos de produção em várias empresas começaram recentemente a
aumentar. Eles receberam a tarefa de reduzir os custos em 10% ou mais, mas, em
vez disso, eles os estão aumentando. No entanto, o que significa uma redução no
custo de produção? Você sabe que reduzir o custo de produção em um por cento
significa um acúmulo na indústria de 150 milhões a 200 milhões de rublos. Ob-
viamente, aumentar o custo de produção sob tais circunstâncias significa privar
a indústria e toda a economia nacional de centenas de milhões de rublos.
De tudo isso, não é mais possível contar apenas com a indústria leve, com as
acumulações orçamentárias e com as receitas da agricultura. A indústria leve é
uma fonte abundante de acumulação e há todas as perspectivas de sua contínua
expansão; mas não é uma fonte ilimitada. A agricultura é uma fonte não menos
abundante de acumulação, mas agora, durante o período de sua reconstrução, a
própria agricultura requer ajuda financeira do Estado. Quanto às acumulações
orçamentárias, vocês mesmos sabem que não podem e não devem ser ilimitadas.
O que resta então? Resta a indústria pesada. Consequentemente, devemos cui-
dar para que a indústria pesada – e principalmente sua seção de construção de
máquinas – também forneça acúmulos. Consequentemente, ao mesmo tempo
em que reforçamos e expandimos as velhas fontes de acumulação, devemos cui-
dar para que a indústria pesada – e acima de tudo a construção de máquinas –
também forneça acumulações. Essa é a saída.
E o que é necessário para isso? Devemos acabar com a ineficiência, mobilizar
os recursos internos da indústria, introduzir e reforçar a contabilidade empresa-
rial em todas as nossas empresas, reduzir sistematicamente os custos de produção
e aumentar as acumulações internas em todos os ramos da indústria, sem exce-
J. V. Stalin 485
ção.
Essa é a saída.
Portanto, a tarefa é introduzir e reforçar a contabilidade empresarial, para aumentar
a acumulação na indústria.
264 O Bureau de Reclamações foi criado em abril de 1919, sob a alçada do Comissariado do Povo para
o Controle do Estado, que em 1920 foi mudado para o Comissariado do Povo para a Inspeção dos
Trabalhadores e Camponeses. As tarefas e o escopo do trabalho do Bureau Central de Reclamações
e Solicitações foram definidos por um regulamento datado de 4 de maio de 1919, e as dos departa-
mentos locais do Bureau Central por um regulamento datado de 24 de maio de 1919, publicado sob
a assinatura de Stalin, Comissário do Povo para o Controle do Estado. Desde o dia em que foram
formados, os escritórios centrais e locais trabalharam muito na investigação e verificação de recla-
mações e depoimentos dos trabalhadores, alistando neste trabalho uma extensa ativa de operários e
camponeses. A partir de fevereiro de 1934, o Bureau de Reclamações e Solicitações foi incluído no
sistema da Comissão de Controle Soviética sob o Conselho dos Comissariados do Povo e, a partir de
setembro de 1940, formou um departamento do Comissariado do Povo (posteriormente Ministério)
de Controle do Estado da URSS. O artigo de Stalin, “A importância dos Bureaus de Reclamações da
URSS”, foi escrito em conexão com a revisão de cinco dias de toda a União e a verificação do trabalho
dos órgãos, realizada em 9 a 14 de abril de 1932, por uma decisão do Presidium da Comissão Central
de Controle do PCUS (B) e do Colégio do Comissariado do Povo da URSS.
J. V. Stalin 489
Conservador, publicado em Londres desde 1855. Em 1937, ele se fundiu com o Morning Post e
desde então tem sido publicado em Londres e Manchester sob o nome de The Daily Telegraph.
267 Gazeta Polska (Gazeta Polonesa) foi um jornal burguês polonês, porta-voz do grupo fascista de
ideólogos da política externa agressiva do Departamento de Estado dos EUA. É publicada em Nova
York desde 1914.
271 Le Temps foi um jornal diário burguês francês, que desde 1931 era propriedade do Comité des
Império Britânico e de suas relações internacionais. Publicado em Londres desde 1910, expressava
as opiniões dos círculos conservadores da burguesia britânica.
492 Obras Escolhidas
em seus arredores, e é verdade para cidades menores e menos importantes. Novas cidades
surgiram da estepe, da selva e do deserto – não apenas algumas cidades, mas pelo menos
50 delas com populações de 50.000 a 250.000 habitantes – tudo em apenas quatro anos,
cada uma construída em torno de um empreendimento para o desenvolvimento de algum
recurso natural (...) Centenas de novas centrais elétricas distritais e um punhado de ‘gigantes’
como Dnieprostroi estão gradualmente concretizando a fórmula de Lenin: ‘Eletricidade mais
Sovietes é igual a Socialismo’. A União Soviética, agora, se dedica à fabricação em grande
escala de uma variedade infinita de artigos que a Rússia nunca antes produziu – tratores,
colheitadeiras, aços de alta qualidade, borracha sintética, rolamentos de esferas, motores
a diesel de alta potência, turbinas de 50.000 quilowatts, telefone, equipamentos de troca,
máquinas elétricas de mineração, aviões, automóveis, caminhões, bicicletas e várias centenas
de tipos de novas máquinas. Pela primeira vez, a Rússia está extraindo alumínio, magnésio,
apatita, iodo, potássio e muitos outros minerais valiosos. O ponto de referência na zona
rural soviética não é mais a cúpula de uma igreja, mas o elevador de grãos e o silo. Coletivos
estão construindo cercas para porquinhos, celeiros e casas. A eletricidade está penetrando
na aldeia, e o rádio e os jornais a conquistaram. Os trabalhadores estão aprendendo operar
as máquinas mais modernas do mundo; os meninos camponeses fazem e usam máquinas
agrícolas maiores e mais complicadas do que nunca. A Rússia está se tornando “voltada para
as máquinas”, a Rússia passa rapidamente da idade da madeira para a era do ferro, aço,
concreto e motores.
E o que aconteceu?
Os fatos subsequentes mostraram que o Partido estava certo.
Os fatos demonstraram que sem esta ousadia e confiança nas forças da classe
operária, o Partido não poderia ter alcançado a vitória de que agora nos orgu-
lhamos com razão.
quinquenal (1932).
E como resultado de tudo isso, conseguimos, ao final do quarto ano do pe-
ríodo do plano de cinco anos, cumprir o programa total da produção industrial,
que foi elaborado para cinco anos, na medida de 93,7%, portanto, aumentando
o volume da produção industrial para mais de três vezes a produção anterior à
guerra e para mais do dobro do nível de 1928. Quanto ao programa de produção
para a indústria pesada, cumprimos o plano de cinco anos em 108%.
É verdade que faltam 6% para cumprir o programa total do plano de cinco
anos. Mas isso se deve ao fato de que, diante da recusa dos países vizinhos
em firmar pactos de não agressão conosco, e das complicações que surgiram no
Extremo Oriente276 , fomos obrigados, a fim de fortalecer nossa defesa, mudar
apressadamente uma série de fábricas para a produção de modernos meios de de-
fesa. E devido à necessidade de passar por um certo período de preparação, essa
mudança resultou na suspensão da produção dessas fábricas por quatro meses, o
que não poderia deixar de afetar o cumprimento do programa total de produção
para 1932, conforme fixado no plano quinquenal. Como resultado desta ope-
ração, preenchemos totalmente as lacunas no que diz respeito à capacidade de
defesa do país. Mas isso estava fadado a afetar adversamente o cumprimento do
programa de produção previsto no plano de cinco anos. Está fora de qualquer
dúvida que, se não fosse por esta circunstância incidental, quase certamente não
apenas teríamos cumprido, mas até mesmo excedido os números de produção
total do plano de cinco anos.
Finalmente, como resultado de tudo isso, a União Soviética foi convertida
de um país fraco, despreparado para a defesa, em um país poderoso na defesa,
um país preparado para todas as contingências, um país capaz de produzir, em
grande escala, todos os meios modernos de defesa e equipar seu exército com
eles em caso de um ataque do exterior.
Esses são, em linhas gerais, os resultados do plano quinquenal em quatro anos
no âmbito da indústria.
Agora, depois de tudo isso, julguem por si mesmos o que vale a pena falar na
imprensa burguesa sobre o “fracasso” do plano quinquenal na esfera da indús-
tria.
E qual é a posição em relação ao crescimento da produção industrial nos
países capitalistas, que agora passam por uma grave crise?
Aqui estão os números oficiais geralmente conhecidos.
Enquanto no final de 1932 o volume da produção industrial na URSS au-
mentou para 334% da produção antes da guerra, o volume da produção industrial
nos EUA caiu durante o mesmo período para 84% do nível anterior à guerra, na
Grã-Bretanha para 75%, na Alemanha para 62%.
Enquanto no final de 1932 o volume da produção industrial na URSS aumen-
276No final de 1931, o Japão imperialista, que se esforçava por estabelecer o seu domínio na China e
no Extremo Oriente, invadiu a Manchúria sem declaração de guerra. A ocupação deste território foi
acompanhada por uma concentração de tropas japonesas na fronteira da URSS e pela mobilização de
espiões, guardas-brancos e bandidos destinados à guerra contra a União Soviética. Os imperialistas
japoneses preparavam posições adequadas para atacar a URSS, visando a tomada do Extremo Oriente
Soviético e da Sibéria.
500 Obras Escolhidas
tou para 219% da produção de 1928, o volume da produção industrial nos EUA
caiu durante este mesmo período para 56%, na Grã-Bretanha para 80%, em Ale-
manha para 55%, na Polônia para 54%.
O que esses números mostram senão que o sistema capitalista de indústria
falhou em resistir ao teste em competição com o sistema soviético, que o sistema
soviético de indústria tem todas as vantagens sobre o sistema capitalista.
Dizem-nos: tudo está muito bem; muitas novas fábricas foram construídas
e as bases para a industrialização foram lançadas; mas teria sido muito melhor
renunciar à política de industrialização, à política de expansão da produção dos
meios de produção, ou pelo menos relegá-la a um segundo plano, para produzir
mais tecidos de algodão, calçados, roupas e outros bens para consumo de massa.
É verdade que a produção de bens para consumo de massa era menor do que
a necessária, e isso cria certas dificuldades. Mas, então, devemos perceber e levar
em conta onde nos teria levado tal política de relegar a tarefa da industrialização
para segundo plano. Claro, dos 1.500.000.000 de rublos em moeda estrangeira
que gastamos durante este período em equipamentos para nossas indústrias pe-
sadas, poderíamos ter reservado metade para a importação de algodão, peles, lã,
borracha, etc. Então agora teríamos mais tecidos, sapatos e roupas de algodão.
Mas não teríamos uma indústria de tratores ou uma indústria automobilística;
não teríamos nada como uma grande indústria siderúrgica; não teríamos me-
tal para a manufatura de máquinas – e permaneceríamos desarmados enquanto
rodeados por países capitalistas armados com técnicas modernas.
Teríamos nos privado da possibilidade de abastecer a agricultura com tratores
e máquinas agrícolas – consequentemente, ficaríamos sem pão.
Teríamos comprometido a possibilidade de alcançar a vitória sobre os ele-
mentos capitalistas em nosso país. Consequentemente, teríamos aumentado in-
comensuravelmente as chances de restauração do capitalismo.
Não teríamos todos os meios modernos de defesa sem os quais é impossível
um país ser politicamente independente, sem os quais um país se torna alvo de
ataques militares de inimigos estrangeiros. Nossa posição seria mais ou menos
análoga à posição atual da China, que não tem indústria pesada nem indústria
de guerra própria e que está sendo molestada por qualquer um que se importe
com isso.
Em suma, nesse caso teríamos intervenção militar; não pactos de não agres-
são, mas guerra, uma guerra perigosa e fatal, sangrenta e desigual; pois em tal
guerra estaríamos quase desarmados diante de um inimigo com todos os meios
modernos de ataque à sua disposição.
É assim que funciona, camaradas.
É óbvio que nenhum governo que se preze e nenhum partido que se preze
poderia adotar um ponto de vista tão fatal.
E é precisamente porque o Partido rejeitou esta linha antirrevolucionária –
foi precisamente por isso que alcançou uma vitória decisiva no cumprimento do
plano quinquenal no domínio da indústria.
Ao levar a cabo o plano de cinco anos e organizar a vitória na esfera do de-
senvolvimento industrial, o Partido perseguiu a política de acelerar o desenvol-
J. V. Stalin 501
consideremos o ano de 1928. Naquele ano, o aumento foi de 26%, ou seja, cerca
de um terço daquele em 1925 no que diz respeito às percentagens. A produção
industrial bruta em 1928 foi de 15.500.000.000 de rublos. O aumento total no
ano foi, em números absolutos, de 3.280.000.000 de rublos. Portanto, cada por
cento de aumento era igual a 126 milhões de rublos, ou seja, era quase três vezes
mais do que em 1925, quando tivemos um aumento de 66%. Finalmente, consi-
deremos 1931. Naquele ano, o aumento foi de 22%, ou seja, um terço daquele
de 1925. A produção industrial bruta em 1931 foi de 30.800.000.000 de rublos.
O aumento total, em números absolutos, foi de pouco mais de 5.600.000.000
milhões de rublos. Portanto, cada por cento de aumento representou mais de
250 milhões de rublos, ou seja, seis vezes mais do que em 1925, quando tivemos
um aumento de 66%, e duas vezes mais do que em 1928, quando tivemos um
aumento de pouco mais de 26%.
O que tudo isso mostra? Mostra que, ao estudar a taxa de aumento da produ-
ção, não devemos limitar nosso exame à porcentagem total de aumento – devemos
também levar em conta o que está por trás de cada por cento de aumento e qual é
o montante total do aumento anual da produção. Para 1933, por exemplo, esta-
mos prevendo um aumento de 16%, ou seja, um quarto do de 1925. Mas isso não
significa que o aumento real da produção em 1933 também será um quarto do
de 1925. Em 1925 o aumento da produção em números absolutos foi de pouco
mais de 3.000.000.000 de rublos e cada por cento foi igual a 45.000.000 de ru-
blos. Não há razão para duvidar que um aumento de 16% da produção em 1933
equivalerá, em números absolutos, a não menos de 5.000.000.000 de rublos, ou
seja, quase o dobro de 1925, e cada por cento de aumento será igual a pelo me-
nos 320.000.000-340.000.000 rublos, ou seja, representará pelo menos sete vezes
mais do que cada por cento de aumento representado em 1925.
É assim que funciona, camaradas, se examinarmos a questão das taxas e per-
centagens de aumento em termos concretos.
É assim que fica a questão em relação aos resultados do plano quinquenal em
quatro anos no âmbito da indústria.
necessários para a população. Mas, em primeiro lugar, eles não podem ser de-
senvolvidos sem equipamentos e combustível, que são fornecidos pela indústria
pesada. Em segundo lugar, é impossível fazer deles a base da industrialização.
Esse é o ponto, camaradas.
Não podemos olhar para a lucratividade do ponto de vista do vendedor am-
bulante, do ponto de vista do presente imediato. Devemos abordá-la do ponto
de vista da economia nacional como um todo, ao longo de vários anos. Somente
tal ponto de vista pode ser chamado de verdadeiramente leninista, verdadeira-
mente marxista. E esse ponto de vista é imperativo não só no que diz respeito à
indústria, mas também, e em maior medida, no que diz respeito às fazendas cole-
tivas e às fazendas estatais. Basta pensar: em questão de três anos, criamos mais
de 200.000 fazendas coletivas e cerca de 5.000 fazendas estatais, ou seja, criamos
grandes empreendimentos totalmente novos que têm a mesma importância para
a agricultura que grandes usinas e fábricas para a indústria. Cite outro país que
conseguiu criar, no decorrer de três anos, não 205.000 novos grandes empreen-
dimentos, mas até 25.000. Você não será capaz de fazer isso; pois esse país não
existe e nunca existiu. Mas criamos 205.000 novos empreendimentos na agricul-
tura. Parece, no entanto, que há pessoas que exigem que tais empreendimentos
se tornem imediatamente lucrativos e, se não o fizerem imediatamente, devem
ser destruídos e dissolvidos. Não está claro que essas pessoas muito estranhas
têm inVer dos louros de Herostratus277 ?
Ao dizer que as fazendas coletivas e as fazendas estatais não geram lucro, de
forma alguma quero sugerir que nenhuma delas dê lucro. Nada desse gênero!
Todos sabem que ainda hoje temos várias fazendas coletivas e fazendas estatais
altamente lucrativas. Temos milhares de fazendas coletivas e dezenas de fazen-
das estatais que são totalmente lucrativas mesmo agora. Essas fazendas coletivas e
fazendas estatais são o orgulho do nosso Partido, o orgulho do regime soviético.
Claro, nem todas as fazendas coletivas e fazendas estatais são iguais. Algumas
fazendas coletivas e fazendas estatais são antigas, algumas são novas e algumas
são muito, mas muito novas. Estes últimos são organismos econômicos ainda fra-
cos, que ainda não se formaram totalmente. Eles estão passando por aproxima-
damente o mesmo período de desenvolvimento organizacional pelo qual nossas
fábricas e fábricas passaram em 1920-21. Naturalmente, a maioria deles ainda
não pode gerar lucro. Mas não pode haver a menor dúvida de que começarão a
dar lucro nos próximos dois ou três anos, assim como nossas fábricas e moinhos
começaram a fazê-lo depois de 1921. Recusar-lhes assistência e apoio com base
no fato de que, no momento presente, nem todos eles dão lucro, seria cometer
um grave crime contra a classe trabalhadora e o campesinato. Somente os inimi-
gos do povo e os contrarrevolucionários podem levantar a questão das fazendas
coletivas e as fazendas estatais serem desnecessárias.
No cumprimento do plano quinquenal para a agricultura, o Partido realizou
277 Herostratus foi um incendiário grego do século 4 a. C, que buscou notoriedade ao destruir o
segundo templo de Artemis em Éfeso (nos arredores da atual Selçuk). Seus atos levaram à criação
de uma lei damnatio memoriae proibindo qualquer pessoa de mencionar seu nome, oralmente ou
por escrito. A lei acabou sendo ineficaz, como evidenciado por menções de sua existência em obras
e linguagem moderna. Assim, Herostratus se tornou um epônimo para alguém que comete um ato
criminoso para se tornar famoso (N.T.)
J. V. Stalin 507
atraídos para o desenvolvimento da fazenda coletiva; que, com base nisso, a di-
ferenciação do campesinato em kulaks e camponeses pobres foi interrompida; e
que, como resultado, o empobrecimento e o pauperismo no campo foram eliminados.
São conquistas tremendas, camaradas, conquistas com que nenhum Estado
burguês, mesmo o mais “democrático” pode sonhar.
Em nosso país, na URSS, os trabalhadores estiveram muito tempo desempre-
gados. Há cerca de três anos, tínhamos cerca de 1.500.000 desempregados. Já se
passaram dois anos desde que o desemprego foi completamente abolido. E nestes
dois anos, os trabalhadores já se esqueceram do desemprego, de seu fardo e de
seus horrores. Ver os países capitalistas: que horrores resultam do desemprego!
Existem, agora, nada menos que 30 milhões a 40 milhões de desempregados nes-
ses países. Quem são essas pessoas? Normalmente, diz-se deles que estão “por
baixo e por fora”.
Todos os dias conseguem mínimos trabalhos, procuram trabalho, estão pre-
parados para aceitar quase todas as condições de trabalho, mas não lhes dão
trabalho, porque são “supérfluos”. E isso está ocorrendo em uma época em que
grandes quantidades de bens e produtos estão sendo desperdiçadas para satis-
fazer os caprichos dos favoritos da fortuna, os descendentes dos capitalistas e
proprietários de terras.
Aos desempregados é recusada comida porque não têm dinheiro para pagá-la;
eles não têm abrigo porque não têm dinheiro para pagar o aluguel. Como e onde
eles moram? Eles vivem com as migalhas miseráveis da mesa do homem rico;
varrendo latas de lixo, onde encontram restos de comida em decomposição; eles
vivem nas favelas das grandes cidades e, mais frequentemente, em casebres fora
das cidades, erguidos às pressas pelos desempregados em caixas de embalagem
e cascas de árvores. Mas isto não é tudo. Não são apenas os desempregados que
sofrem com o desemprego. Os trabalhadores empregados também sofrem com
isso. Sofrem porque a presença de um grande número de desempregados torna
insegura a sua posição na indústria, torna-os incertos sobre o seu futuro. Hoje
eles estão empregados, mas não têm certeza de que, quando acordarem amanhã,
não se encontrarão desligados de suas funções.
Uma das principais conquistas do plano de cinco anos em quatro anos é que
abolimos o desemprego e salvamos os trabalhadores da URSS de seus horrores.
O mesmo deve ser dito dos camponeses. Eles também se esqueceram da di-
ferenciação dos camponeses em kulaks e camponeses pobres, da exploração dos
camponeses pobres pelos kulaks, da ruína que todos os anos fazia centenas de
milhares e milhões de camponeses pobres ficarem destituídos. Há três ou qua-
tro anos, os camponeses pobres constituíam não menos de 30% da população
camponesa total em nosso país. Eles eram cerca de 20 milhões. E ainda antes,
no período anterior à Revolução de Outubro, os camponeses pobres constituíam
não menos de 60% da população camponesa. Quem eram os pobres camponeses?
Eram pessoas que geralmente careciam de sementes, ou cavalos, ou implementos,
ou tudo isso, para continuar sua agricultura. Os camponeses pobres eram pessoas
que viviam em um estado de semi-inanição e, via de regra, estavam escravizados
pelos kulaks – e nos velhos tempos, tanto pelos kulaks quanto pelos proprietários.
Não faz muito tempo, mais de 2.000.000 de camponeses pobres costumavam ir
J. V. Stalin 509
para o sul – para o Norte do Cáucaso e a Ucrânia – todos os anos para se aluga-
rem aos kulaks – e ainda antes, aos kulaks e proprietários de terras. Um número
ainda maior costumava vir todos os anos aos portões das fábricas e engrossar as
fileiras dos desempregados. E não foram apenas os camponeses pobres que se
encontraram nesta posição nada invejável. Boa metade dos camponeses médios
vivia no mesmo estado de pobreza e miséria.
O quê o plano de cinco anos em quatro anos deu aos camponeses pobres e
aos estratos mais baixos dos camponeses médios? Ele minou e esmagou os ku-
laks como classe, libertando os camponeses pobres e boa metade dos camponeses
médios da escravidão. Ele os trouxe para as fazendas coletivas e os colocou em
uma posição segura. Eliminou, assim, a possibilidade de diferenciação do cam-
pesinato em exploradores – kulaks – e explorados – camponeses pobres, e aboliu
a miséria no campo. Elevou os camponeses pobres e as camadas inferiores dos
camponeses médios a uma posição de segurança nas fazendas coletivas, e aí pôs
um fim ao processo de ruína e empobrecimento do campesinato. Agora não
acontece mais em nosso país que milhões de camponeses deixam suas casas to-
dos os anos em busca de trabalho em áreas distantes. Para atrair um camponês
para trabalhar fora de sua própria fazenda coletiva, agora é necessário assinar um
contrato com a fazenda coletiva e, além disso, pagar ao agricultor coletivo a pas-
sagem de trem. Agora não acontece mais em nosso país que centenas de milhares
e milhões de camponeses estão arruinados e rondando os portões de fábricas e
moinhos. Isso é o que costumava acontecer; mas isso foi há muito tempo. Agora
o camponês está em posição de segurança, membro de uma fazenda coletiva que
tem à sua disposição tratores, máquinas agrícolas, fundos de sementes, fundos
de reserva, etc., etc.
Isso é o que o plano quinquenal deu aos camponeses pobres e às camadas
inferiores dos camponeses médios.
Essa é a essência das principais conquistas do plano quinquenal em relação à
melhoria das condições materiais dos trabalhadores e camponeses.
Como resultado dessas principais conquistas na melhoria das condições mate-
riais dos trabalhadores e camponeses, realizamos durante o período do Primeiro
Plano Quinquenal:
a) uma duplicação do número de trabalhadores e outros empregados na
indústria de grande escala em comparação com 1928, o que representa um
cumprimento excessivo do plano de cinco anos em 57%;
b) um aumento na renda nacional – portanto, um aumento na renda dos
trabalhadores e camponeses – para 45.100.000.000 de rublos em 1932, o que
representa um aumento de 85% em relação a 1928;
c) um aumento nos salários médios anuais dos trabalhadores e outros em-
pregados na indústria de grande escala em 67% em comparação com 1928, o
que representa um cumprimento excessivo do plano de cinco anos em 18%;
d) um aumento no fundo de seguro social em 292% em comparação com
1928 (4.120.000.000 de rublos em 1932, contra 1.050.000.000 de rublos em
1928), o que representa um cumprimento excessivo do plano de cinco anos
em 111%;
e) um aumento da restauração pública, agora cobrindo mais de 70% dos
510 Obras Escolhidas
da moeda?
Essa é a posição em relação às questões relativas ao crescimento do comércio
soviético.
O que alcançamos com a execução do plano quinquenal de expansão do co-
mércio soviético?
Como resultado do plano de cinco anos, temos:
a) um aumento na produção da indústria leve para 187% da produção em
1928;
b) um aumento no volume de negócios da cooperativa varejista e do comér-
cio estadual, que, calculado a preços de 1932, agora chega a 39.600.000.000
de rublos, ou seja, um aumento no volume de mercadorias no comércio vare-
jista para 175% do valor de 1928;
c) um aumento da rede estatal e cooperativa em 158.000 lojas e lojas em
relação ao número de 1929;
d) o desenvolvimento contínuo e crescente do comércio de fazendas cole-
tivas e compras de produtos agrícolas por vários Estados e organizações coo-
perativas.
Esses são os fatos.
Um quadro totalmente diferente é apresentado pela condição do comércio
interno nos países capitalistas, onde a crise resultou em uma queda catastrófica
do comércio, no fechamento em massa de empresas e na ruína de pequenos e
médios lojistas, na falência de grandes firmas comerciais, e o excesso de esto-
ques das empresas comerciais enquanto o poder de compra das massas da classe
trabalhadora continua a diminuir.
Esses são os resultados do plano quinquenal em quatro anos no que se refere
à evolução do volume de negócios.
está longe de ter sido eliminado ainda, e não será logo eliminado.
Como resultado do cumprimento do plano de cinco anos, conseguimos fi-
nalmente expulsar os últimos remanescentes das classes hostis de suas posições
na produção; derrotamos os kulaks e preparamos o terreno para sua eliminação.
Tais são os resultados do plano quinquenal no âmbito da luta contra os últimos
destacamentos da burguesia. Mas isso não é suficiente. A tarefa é expulsar esses
“que já existiram” de nossas próprias empresas e instituições e torná-los inofen-
sivos para o bem e para todos.
Não se pode dizer que esses “já foram” podem alterar qualquer coisa na posi-
ção atual da URSS por suas maquinações de destruição e roubo. Eles são muito
fracos e impotentes para resistir às medidas adotadas pelo governo soviético. Mas,
se nossos camaradas não se armarem com a vigilância revolucionária e não puse-
rem fim à atitude presunçosa e filisteia em relação aos casos de furto e pilhagem
de propriedade pública, esses “que já foram” podem causar danos consideráveis.
Devemos ter em mente que o crescimento do poder do Estado soviético in-
tensificará a resistência dos últimos remanescentes das classes moribundas. É
precisamente porque estão a morrer e os seus dias estão contados que irão passar
de uma forma de ataque a outra, de forma mais contundente, apelando às ca-
madas atrasadas da população e mobilizando-as contra o regime soviético. Não
há maldade e calúnia a que esses “pretensos” não recorrerão contra o regime
soviético e em torno da qual não tentarão reunir os elementos atrasados. Isso
pode fornecer o solo para um renascimento das atividades dos grupos derro-
tados dos velhos partidos contrarrevolucionários: os socialistas-revolucionários,
os mencheviques e os nacionalistas burgueses das regiões centrais e fronteiriças,
pode também fornecer o solo para uma reativação das atividades dos fragmentos
de elementos contrarrevolucionários entre os trotskistas e os desviantes de di-
reita. Claro, não há nada de terrível nisso. Mas devemos ter tudo isso em mente
se quisermos acabar com esses elementos rapidamente e sem sacrifício especial.
É por isso que a vigilância revolucionária é a qualidade de que os bolcheviques
precisam especialmente no momento.
A questão é que, apesar das falhas e erros, cuja existência nenhum de nós nega,
alcançamos sucessos tão importantes que suscitam admiração na classe trabalha-
dora de todo o mundo, alcançamos uma vitória que é verdadeiramente mundial
e tem significado histórico.
O que poderia e realmente desempenhou o papel principal para que o Par-
tido, apesar dos erros e falhas, tenha alcançado sucessos decisivos na execução do
plano quinquenal em quatro anos?
Quais são as principais forças que nos garantiram esta vitória histórica apesar
de tudo?
São, antes de mais nada, a atividade e a devoção, o entusiasmo e a iniciativa
das grandes massas de operários e camponeses coletivos que, junto com as forças
engenheiras e técnicas, mostraram uma energia colossal no desenvolvimento da
emulação socialista e do trabalho de brigada de choque. Não há dúvida de que
sem isso não poderíamos ter alcançado nosso objetivo, não poderíamos ter dado
um único passo.
Em segundo lugar, a direção firme do Partido e do Governo, que instou as
massas a avançar e superou todas as dificuldades no caminho para a meta.
E, por último, os méritos e vantagens especiais do sistema soviético de eco-
nomia, que traz em si as colossais potencialidades necessárias para superar as
dificuldades.
Essas são as três principais forças que determinaram a vitória histórica das
conclusões gerais da URSS:
1. Os resultados do plano de cinco anos refutaram a afirmação dos dirigen-
tes burgueses e sociais-democratas de que o plano quinquenal era uma fantasia,
um delírio, um sonho irrealizável. Os resultados mostram que o plano já foi
cumprido.
2. Os resultados do plano quinquenal abalaram o conhecido “artigo de fé”
burguês de que a classe operária é incapaz de construir algo novo, de que só é
capaz de destruir o antigo. Os resultados do plano de cinco anos mostraram que
a classe trabalhadora é tão capaz de construir o novo quanto de destruir o antigo.
3. Os resultados do plano quinquenal abalaram a tese dos sociais-democratas
de que é impossível construir o socialismo num só país considerado separada-
mente. Os resultados do plano de cinco anos mostraram que é perfeitamente
possível construir uma sociedade socialista em um país; pois as bases econômicas
de tal sociedade já foram estabelecidas na URSS.
4. Os resultados do plano de cinco anos refutaram a afirmação dos econo-
mistas burgueses de que o sistema capitalista de economia é o melhor de todos os
sistemas, que qualquer outro sistema de economia é instável e incapaz de resistir
ao teste das dificuldades do desenvolvimento econômico. Os resultados do plano
quinquenal mostraram que o sistema capitalista de economia está falido e instá-
vel; que sobreviveu a seus dias e deve dar lugar a outro, um sistema de economia
socialista mais elevado, soviético; que o único sistema de economia que não teme
as crises e é capaz de superar as dificuldades que o capitalismo não pode resolver
é o sistema soviético de economia.
518 Obras Escolhidas
PARTE III
Triunfo e ocaso do
homem de aço
J. V. Stalin 523
Wells: Estou muito grato ao senhor, Sr. Stalin, por concordar em me rece-
ber. Estive recentemente nos Estados Unidos. Tive uma longa conversa com o
presidente Roosevelt e tentei averiguar quais eram suas ideias principais. Agora
eu vim perguntar o que você está fazendo para mudar o mundo...
Stalin: Não muito.
Wells: Eu vagueio pelo mundo como um homem comum e, como um homem
comum, observo o que está acontecendo ao meu redor.
Stalin: Homens públicos importantes como você não são “homens comuns”.
Claro, só a história pode mostrar o quão importante esse ou aquele homem pú-
blico foi; em todo caso, você não vê o mundo como um “homem comum”.
Wells: Não estou fingindo humildade. O que quero dizer é que procuro ver o
mundo pelos olhos do homem comum, e não como um político partidário ou um
administrador responsável. Minha visita aos Estados Unidos entusiasmou minha
mente. O velho mundo financeiro está entrando em colapso; a vida econômica
do país está sendo reorganizada em novas linhas. Lenin disse: “Devemos apren-
der a fazer negócios, aprender isso com os capitalistas.”
Hoje os capitalistas têm que aprender com você, para compreender o espí-
rito do socialismo. Parece-me que o que está ocorrendo nos Estados Unidos é
uma profunda reorganização, a criação de uma economia planejada, isto é, so-
cialista. Você e Roosevelt partem de dois pontos de partida diferentes. Mas não
há uma relação de ideias, um parentesco de ideias, entre Moscou e Washington?
Em Washington, fiquei impressionado com a mesma coisa que vejo acontecendo
aqui; eles estão construindo escritórios, estão criando uma série de órgãos regu-
ladores do Estado, estão organizando uma função pública há muito necessária.
A necessidade deles, como a sua, é habilidade diretiva.
Stalin: Os Estados Unidos perseguem um objetivo diferente daquele que per-
seguimos na URSS. O objetivo que os americanos perseguem surgiu dos pro-
blemas econômicos, da crise econômica. Os americanos querem se livrar da
crise com base na atividade capitalista privada, sem mudar a base econômica.
Eles estão tentando reduzir ao mínimo a ruína, as perdas causadas pelo sistema
econômico existente. Aqui, porém, como vocês sabem, no lugar da velha e des-
truída base econômica, foi criada uma base econômica inteiramente diferente,
uma nova. Mesmo se os americanos que você mencionou atingirem parcialmente
seu objetivo, ou seja, reduzir essas perdas ao mínimo, eles não destruirão as raí-
zes da anarquia que é inerente ao sistema capitalista existente. Eles estão preser-
vando o sistema econômico que deve inevitavelmente levar, e não pode deixar
de levar, à anarquia na produção. Assim, na melhor das hipóteses, se tratará não
de reorganizar a sociedade, não de abolir o antigo sistema social que dá origem
524 Obras Escolhidas
do coletivo; eles se esforçam para subordinar cada coletivo à sua vontade. Por ou-
tro lado, temos a classe dos pobres, a classe explorada, que não possui fábricas,
nem obras, nem bancos, que é obrigada a viver vendendo sua força de trabalho
aos capitalistas que não têm a oportunidade de satisfazer suas necessidades mais
elementares. Como esses interesses e esforços opostos podem ser reconciliados?
Tanto quanto sei, Roosevelt não conseguiu encontrar o caminho da conciliação
entre estes interesses. E é impossível, como a experiência mostra. A propósito,
você conhece a situação nos Estados Unidos melhor do que eu, pois nunca es-
tive lá e vejo os assuntos americanos principalmente pela literatura. Mas tenho
alguma experiência na luta pelo socialismo, e essa experiência me diz que se Ro-
osevelt fizer uma tentativa real de satisfazer os interesses da classe proletária às
custas da classe capitalista, esta colocará outro presidente em seu lugar. Os ca-
pitalistas dirão: presidentes vêm e presidentes vão, mas nós continuamos para
sempre; se este ou aquele presidente não proteger nossos interesses, encontrare-
mos outro. O que o presidente pode opor à vontade da classe capitalista?
Wells: Oponho-me a esta classificação simplificada da humanidade em po-
bres e ricos. Claro que existe uma categoria de pessoas que se esforça apenas
para obter lucro. Mas essas pessoas não são consideradas um incômodo no Oci-
dente tanto quanto aqui? Não existem muitas pessoas no Ocidente para as quais
o lucro não é um fim, que possuem uma certa quantidade de riqueza, que dese-
jam investir e obter lucro com esse investimento, mas que não consideram isso
como o objetivo principal? Eles consideram o investimento uma necessidade in-
conveniente. Não há muitos engenheiros capazes e dedicados, organizadores da
economia, cujas atividades são estimuladas por algo diferente do lucro? Em mi-
nha opinião, há uma numerosa classe de pessoas capazes que admitem que o
sistema atual é insatisfatório e que estão destinadas a desempenhar um grande
papel na futura sociedade socialista. Durante os últimos anos, estive muito en-
gajado e pensei na necessidade de conduzir propaganda em favor do socialismo
e do cosmopolitismo entre amplos círculos de engenheiros, aviadores, técnicos
militares, etc. É inútil abordar esses círculos com dois - propaganda de guerra
de classe de trilha. Essas pessoas entendem a condição do mundo. Eles enten-
dem que é uma confusão sangrenta, mas consideram seu antagonismo simples
da guerra de classes um absurdo.
Stalin: Você se opõe à classificação simplificada da humanidade em rica e
pobre. Claro que existe um estrato médio, existe a intelectualidade técnica que
você mencionou e entre a qual há pessoas muito boas e muito honestas. Entre eles
também há pessoas desonestas e más, há todos os tipos de pessoas entre eles. Mas,
antes de tudo, a humanidade está dividida em ricos e pobres, em proprietários
e explorados; e abstrair-se dessa divisão fundamental e do antagonismo entre
pobres e ricos significa abstrair-se do fato fundamental. Não nego a existência
de estratos intermediários, que ou tomam partido de uma ou de outra dessas
duas classes em conflito, ou então assumem uma posição neutra ou semineutra
nessa luta. Mas, repito, abstrair-se dessa divisão fundamental da sociedade e da
luta fundamental entre as duas classes principais significa ignorar os fatos. A
luta continua e continuará. O resultado será determinado pela classe proletária,
a classe trabalhadora.
Wells: Mas não existem muitas pessoas que não são pobres, mas que traba-
J. V. Stalin 527
de construção; tentamos desta forma e daquela. Não demorou muito para que
nossa intelectualidade técnica concordasse ativamente em ajudar o novo sistema.
Hoje, a melhor seção dessa intelectualidade técnica está na linha de frente dos
construtores da sociedade socialista. Com essa experiência, estamos longe de su-
bestimar o lado bom e o lado ruim da intelectualidade técnica e sabemos que por
um lado ela pode fazer mal e, por outro, pode fazer “milagres”. Claro, as coisas
seriam diferentes se fosse possível, de um só golpe, afastar espiritualmente a in-
telectualidade técnica do mundo capitalista. Mas isso é utopia. Existem muitos
intelectuais técnicos que ousariam romper com o mundo burguês e começar a
trabalhar na reconstrução da sociedade? Você acha que existem muitas pessoas
desse tipo, digamos, na Inglaterra ou na França? Não, poucos estão dispostos a
romper com seus empregadores e começar a reconstruir o mundo.
Além disso, podemos perder de vista que para transformar o mundo é preciso
ter poder político? Parece-me, Sr. Wells, que você subestima enormemente a
questão do poder político, que ela foge inteiramente de sua concepção.
O que podem aqueles, mesmo com as melhores intenções do mundo, fazer
se não conseguem levantar a questão da tomada do poder e não o possuem? Na
melhor das hipóteses, eles podem ajudar a classe que assume o poder, mas não
podem mudar o mundo por si próprios. Isso só pode ser feito por uma grande
classe que tomará o lugar da classe capitalista e se tornará o senhor soberano
como essa foi antes. Esta classe é a classe trabalhadora. Claro, a assistência da
intelectualidade técnica deve ser aceita; e este por sua vez, deve ser assistido. Mas
não se deve pensar que a intelectualidade técnica pode desempenhar um papel
histórico independente. A transformação do mundo é um processo grande, com-
plicado e doloroso. Para esta tarefa é necessária uma grande aula. Os grandes
navios fazem longas viagens.
Wells: Sim, mas para viagens longas são necessários um capitão e um navega-
dor.
Stalin: Isso é verdade; mas o que primeiro é necessário para uma longa viagem
é um grande navio. O que é um navegador sem navio? Um homem preguiçoso,
Wells: O grande navio é a humanidade, não uma classe.
Você, senhor Wells, evidentemente começa com a suposição de que todos os
homens são bons. Eu, porém, não me esqueço de que existem muitos homens
perversos. Não acredito na bondade da burguesia.
Wells: Lembro-me da situação com relação à intelectualidade técnica há vá-
rias décadas. Naquela época a intelectualidade técnica era numericamente pe-
quena, mas havia muito o que fazer e cada engenheiro, técnico e intelectual en-
controu sua oportunidade. É por isso que a intelectualidade técnica foi a classe
menos revolucionária. Agora, porém, há uma superabundância de intelectuais
técnicos e sua mentalidade mudou muito. O homem habilidoso, que antes nunca
ouvia falar de revolucionário, agora está muito interessado nisso. Recentemente,
estava jantando com a Royal Society, nossa grande sociedade científica inglesa.
O discurso do presidente foi um discurso de planejamento social e controle ci-
entífico. Trinta anos atrás, eles não teriam ouvido o que eu digo a eles agora.
Hoje, o homem à frente da Royal Society tem visões revolucionárias e insiste na
reorganização científica da sociedade humana. Mudanças de mentalidade. Sua
J. V. Stalin 529
não está se quebrando por conta própria. Veja o fascismo, por exemplo. O fas-
cismo é uma força reacionária que tenta preservar o antigo sistema por meio da
violência. O que você fará com os fascistas? Discutir com eles? Tentar convencê-
los? Mas isso não terá nenhum efeito sobre eles. Os comunistas não idealizam
absolutamente os métodos de violência. Mas eles, os comunistas, não querem ser
pegos de surpresa, não podem contar com que o velho mundo saia voluntaria-
mente do palco, veem que o antigo sistema se defende violentamente, e é por
isso que os comunistas dizem à classe trabalhadora: Responder à violência com
violência; faça todo o possível para evitar que a velha ordem moribunda o esma-
gue, não permita que ela coloque algemas em suas mãos, nas mãos com as quais
você destruirá o antigo sistema. Como você vê, os comunistas consideram a subs-
tituição de um sistema social por outro, não simplesmente como um processo
espontâneo e pacífico, mas como um processo complicado, longo e violento. Os
comunistas não podem ignorar os fatos.
Wells: Mas veja o que está acontecendo agora no mundo capitalista. O co-
lapso não é simples; é a eclosão da violência reacionária que está degenerando
em gangsterismo. E me parece que quando se trata de um conflito com vio-
lência reacionária e pouco inteligente, os socialistas podem apelar para a lei e,
em vez de considerar a polícia como inimiga, deveriam apoiá-la na luta contra
os reacionários. Acho que é inútil operar com os métodos do antigo socialismo
insurrecional.
Stalin: Os comunistas se baseiam em uma rica experiência histórica que en-
sina que classes obsoletas não abandonam voluntariamente o palco da história.
Lembre-se da história da Inglaterra no século XVII. Muitos não disseram que o
antigo sistema social se deteriorou? Mas não era necessário que um Cromwell o
esmagasse à força?
Wells: Cromwell agiu com base na constituição e em nome da ordem consti-
tucional.
Stalin: Em nome da constituição, ele recorreu à violência, decapitou o rei,
dispersou o Parlamento, prendeu alguns e decapitou outros!
Ou dê um exemplo de nossa história. Não ficou claro por muito tempo que o
sistema tsarista estava decaindo, estava rompendo? Mas quanto sangue teve que
ser derramado para derrubá-lo?
E a Revolução de Outubro? Não havia muita gente que sabia que só nós, os
bolcheviques, estávamos indicando a única saída correta? Não estava claro que
o capitalismo russo havia decaído? Mas você sabe como foi grande a resistência,
quanto sangue teve que ser derramado para defender a Revolução de Outubro
de todos os seus inimigos, internos e externos.
Ou vejamos a França do final do século XVIII. Muito antes de 1789, era claro
para muitos o quão podre era o poder real, o sistema feudal. Mas uma insurrei-
ção popular, um choque de classes não foi, não poderia ser evitado. Por quê?
Porque as classes que devem abandonar o palco da história são as últimas a se
convencer de que seu papel acabou. É impossível convencê-los disso. Eles pen-
sam que as fissuras no edifício decadente da velha ordem podem ser reparadas e
salvas. É por isso que as classes moribundas pegam nas armas e recorrem a todos
os meios para salvar sua existência como classe dominante.
J. V. Stalin 531
Wells: Não pode haver revolução sem uma mudança radical no sistema edu-
cacional. Basta citar dois exemplos: O exemplo da República Alemã, que não
tocou o antigo sistema educacional e, portanto, nunca se tornou uma república;
e o exemplo do Partido Trabalhista britânico, que carece de determinação para
insistir em uma mudança radical no sistema educacional.
Stalin: Essa é uma observação correta.
Permitam-me agora responder aos seus três pontos.
Em primeiro lugar, o principal para a revolução é a existência de um baluarte
social. Este baluarte da revolução é a classe trabalhadora.
Em segundo lugar, é necessária uma força auxiliar, aquela que os comunis-
tas chamam de partido. Ao Partido pertencem os trabalhadores inteligentes e
os elementos da intelectualidade técnica que estão intimamente ligados à classe
trabalhadora. A intelectualidade só pode ser forte se se combinar com a classe
trabalhadora. Se se opõe à classe trabalhadora, torna-se uma cifra.
Terceiro, o poder político é necessário como uma alavanca para a mudança. O
novo poder político cria as novas leis, a nova ordem, que é a ordem revolucionária.
Eu não defendo nenhum tipo de ordem. Eu defendo uma ordem que corres-
ponda aos interesses da classe trabalhadora. Se, entretanto, qualquer uma das
leis da velha ordem puder ser utilizada no interesse da luta pela nova ordem, as
antigas leis devem ser utilizadas. Não posso objetar ao seu postulado de que o
sistema atual deve ser atacado na medida em que não garante a ordem necessária
para o povo.
E, finalmente, você se engana se pensa que os comunistas são apaixonados
pela violência. Eles ficariam muito satisfeitos em abandonar os métodos violen-
tos se a classe dominante concordasse em ceder à classe trabalhadora. Mas a
experiência da história fala contra tal suposição.
Wells: Houve um caso na história da Inglaterra, no entanto, de uma classe que
entregou voluntariamente o poder a outra classe. No período entre 1830 e 1870,
a aristocracia, cuja influência ainda era muito considerável no final do século
XVIII, voluntariamente, sem uma luta severa, cedeu o poder à burguesia, que
serve de apoio sentimental da monarquia. Posteriormente, essa transferência de
poder levou ao estabelecimento do domínio da oligarquia financeira.
Stalin: Mas você passou imperceptivelmente das questões da revolução às
questões da reforma. Isto não é a mesma coisa. Você não acha que o movi-
mento cartista desempenhou um grande papel nas reformas na Inglaterra no
século XIX?
Wells: Os cartistas fizeram pouco e desapareceram sem deixar vestígios.
Stalin: Não concordo com você. Os cartistas e o movimento grevista que or-
ganizaram desempenharam um grande papel; obrigaram a classe dominante a
fazer várias concessões em relação à franquia, em relação à abolição dos cha-
mados “bairros podres” e em relação a alguns pontos da “Carta”. O cartismo
desempenhou um papel histórico importante e obrigou uma parte das classes
dominantes a fazer certas concessões, reformas, a fim de evitar grandes choques.
De modo geral, deve-se dizer que de todas as classes dominantes, as classes do-
minantes da Inglaterra, tanto a aristocracia quanto a burguesia, mostraram-se as
J. V. Stalin 533
A morte de Kirov
01 de dezembro de 1934
Discurso à Comissão do 2º
Congresso Sindical de
Kolkhozianos
15 de fevereiro de 1935
Discurso na 1ª Conferência
Sindical de Stakhanovitas
17 de novembro de 1935
Já foi dito aqui que o movimento Stakhanov, como uma expressão de novos
e mais elevados padrões técnicos, é um modelo daquela alta produtividade do
trabalho que só o socialismo pode dar, e que o capitalismo não pode dar. Isso
é absolutamente verdade. Por que foi que o capitalismo esmagou e derrotou o
feudalismo?
Por criar padrões mais elevados de produtividade do trabalho, permitiu que
a sociedade obtivesse uma quantidade incomparavelmente maior de produtos
do que poderia ser adquirida no sistema feudal; porque tornou a sociedade mais
rica. Por que o socialismo pode, deve e certamente derrotará o sistema capitalista
de economia? Porque pode fornecer modelos de trabalho mais elevados, uma
produtividade de trabalho mais elevada do que o sistema de economia capitalista;
porque pode fornecer à sociedade mais produtos e pode torná-la mais rica do que
o sistema de economia capitalista.
Algumas pessoas pensam que o socialismo pode ser consolidado por uma
certa equalização das condições materiais das pessoas, a partir do padrão de vida
dos pobres.
Isso não é verdade. Essa é uma concepção pequeno-burguesa do socialismo.
Na verdade, o socialismo só pode ter sucesso com base em uma alta produtivi-
dade do trabalho, maior do que sob o capitalismo, com base na abundância de
produtos e artigos de consumo de todos os tipos, com base em uma vida prós-
pera e culta para todos os membros da sociedade. Mas se o socialismo pretende
atingir este objetivo e tornar nossa sociedade soviética a mais próspera de todas
as sociedades, nosso país deve ter uma produtividade do trabalho que supere a
dos principais países capitalistas. Sem isso, não podemos nem mesmo pensar em
garantir uma abundância de produtos e artigos de consumo de todos os tipos. O
significado do movimento Stakhanov reside no fato de que é um movimento que
está quebrando os antigos padrões técnicos, porque eles são inadequados, que
em vários casos está ultrapassando a produtividade do trabalho dos principais
países capitalistas, e assim criando a possibilidade prática de consolidar ainda
mais o socialismo em nosso país, a possibilidade de converter nosso país no mais
próspero de todos os países.
Mas a importância do movimento Stakhanov não termina aí. O seu signifi-
cado reside também no fato de preparar as condições para a passagem do socia-
lismo ao comunismo.
O princípio do socialismo é que em uma sociedade socialista cada um trabalha
de acordo com suas habilidades e recebe artigos de consumo, não de acordo com
suas necessidades, mas de acordo com o trabalho que realiza para a sociedade.
Isso significa que o nível cultural e técnico da classe trabalhadora ainda não é alto,
que a distinção entre trabalho mental e manual ainda existe, que a produtividade
do trabalho ainda não é alta o suficiente para garantir uma abundância de artigos
de consumo, e, como resultado, a sociedade é obrigada a distribuir artigos de
consumo não de acordo com as necessidades de seus membros, mas de acordo
com o trabalho que eles realizam para a sociedade.
O comunismo representa um estágio superior de desenvolvimento.
O princípio do comunismo é que em uma sociedade comunista cada um traba-
lha de acordo com suas habilidades e recebe artigos de consumo, não de acordo
540 Obras Escolhidas
com o trabalho que realiza, mas de acordo com suas necessidades como indiví-
duo culturalmente desenvolvido. Isso significa que o nível cultural e técnico da
classe trabalhadora se tornou alto o suficiente para minar a base da distinção
entre trabalho mental e trabalho manual, que a distinção entre trabalho mental
e trabalho manual já desapareceu e que a produtividade do trabalho atingiu um
nível tão alto que pode fornecer uma abundância absoluta de artigos de consumo
e, como resultado, a sociedade é capaz de distribuir esses artigos de acordo com
as necessidades de seus membros.
Algumas pessoas pensam que a eliminação da distinção entre trabalho mental
e trabalho manual pode ser alcançada por meio de uma certa equalização cultural
e técnica dos trabalhadores mentais e manuais, baixando o nível cultural e técnico
dos engenheiros e técnicos, dos trabalhadores mentais, para o nível médio de
trabalhadores qualificados. Isso é absolutamente incorreto. Só os fanfarrões
pequeno-burgueses podem conceber o comunismo dessa maneira. Na realidade,
a eliminação da distinção entre trabalho mental e trabalho manual só pode ser
conseguida elevando o nível cultural e técnico da classe trabalhadora ao nível
de engenheiros e trabalhadores técnicos. Seria um absurdo pensar que isso é
inviável. É totalmente viável sob o sistema soviético, onde as forças produtivas do
país foram libertadas dos grilhões do capitalismo, onde o trabalho foi libertado
do jugo da exploração, onde a classe trabalhadora está no poder e onde a geração
mais jovem de a classe trabalhadora tem todas as oportunidades de obter uma
educação técnica adequada. Não há razão para duvidar que somente tal elevação
no nível cultural e técnico da classe trabalhadora pode minar a base da distinção
entre trabalho mental e trabalho manual, que somente isto pode assegurar o alto
nível de produtividade do trabalho e a abundância. de artigos de consumo que
são necessários para iniciar a transição do socialismo para o comunismo.
Nesse sentido, o movimento Stakhanov é significativo pelo fato de conter os
primeiros inícios – ainda débeis, é verdade, mas, no entanto, os inícios – de tal
ascensão do nível cultural e técnico da classe trabalhadora de nosso país.
E, de fato, olhe para nossos camaradas, os Stakhanovitas, mais de perto. Que
tipo de pessoas são?
São na sua maioria trabalhadores e trabalhadoras jovens e de meia-idade, pes-
soas com cultura e conhecimentos técnicos, que dão exemplos de precisão e rigor
no trabalho, que são capazes de valorizar o fator tempo no trabalho e que apren-
deram a contar não só o minutos, mas também os segundos. A maioria deles
fez os cursos técnicos mínimos e está continuando a formação técnica. Eles es-
tão livres do conservadorismo e da estagnação de certos engenheiros, técnicos
e executivos de negócios; eles estão marchando corajosamente para frente, que-
brando os padrões técnicos antiquados e criando padrões novos e mais elevados;
estão introduzindo alterações nas capacidades projetadas e nos planos econômi-
cos elaborados pelos líderes de nossa indústria; muitas vezes complementam e
corrigem o que os engenheiros e técnicos têm a dizer, muitas vezes os ensinam e
impulsionam, pois são pessoas que dominaram completamente a técnica de seu
trabalho e são capazes de extrair da técnica o máximo que podem ser espremido
para fora dele. Hoje os stakhanovitas ainda são poucos, mas quem pode duvidar
que amanhã haverá dez vezes mais deles? Não está claro que os Stakhanovitas são
J. V. Stalin 541
Portanto, se houve algum tipo de ação por parte dos administradores de nos-
sas empresas, não foi para ajudar o movimento Stakhanov, mas para impedi-lo.
Consequentemente, o movimento Stakhanov surgiu e se desenvolveu como um
movimento vindo de baixo.
E só porque surgiu por si mesmo, só porque vem de baixo, é o movimento
mais vital e irresistível da atualidade.
Além disso, deve ser feita menção a outro aspecto característico do movimento
Stakhanov. Essa característica é que o movimento Stakhanov se espalhou por toda
a nossa União Soviética não gradualmente, mas a uma velocidade sem paralelo,
como um furacão.
Como isso começou? Stakhanov elevou o padrão técnico de produção de car-
vão cinco ou seis vezes, se não mais. Busygin e Smetanin fizeram o mesmo –
um na esfera da construção de máquinas e o outro na indústria de calçados. Os
jornais noticiaram esses fatos. E de repente, as chamas do movimento Stakhanov
envolveram todo o país. Qual foi a razão? Como é que o movimento Stakhanov se
espalhou tão rapidamente? Será porque Stakhanov e Busygin são grandes orga-
nizadores, com amplos contatos nas regiões e distritos da URSS, e eles próprios
organizaram esse movimento? Não, claro que não! É talvez porque Stakhanov
e Busygin têm ambições de se tornarem grandes figuras em nosso país, e eles
próprios carregaram as centelhas do movimento Stakhanov por todo o país? Isso
também não é verdade. Vocês viram Stakhanov e Busygin aqui.
Eles falaram nesta conferência. São pessoas simples, modestas, sem a menor
ambição de conquistar os louros das figuras nacionais. Até me parece que estão
um tanto constrangidos com a abrangência que o movimento adquiriu, além de
todas as suas expectativas.
E se, apesar disso, o fósforo lançado por Stakhanov e Busygin foi suficiente
para iniciar uma conflagração, isso significa que o movimento Stakhanov está
absolutamente maduro. Apenas um movimento que está absolutamente maduro
e está esperando apenas um solavanco para se libertar – apenas tal movimento
pode se espalhar com tal rapidez e crescer como uma bola de neve rolando.
Como se pode explicar que o movimento Stakhanov provou estar absoluta-
mente maduro? Quais são as causas de sua rápida disseminação? Quais são as
raízes do movimento Stakhanov?
Existem pelo menos quatro dessas causas.
1. A base para o movimento Stakhanov foi antes de mais nada a melhoria
radical no bem-estar material dos trabalhadores. A vida melhorou, camaradas.
A vida se tornou mais alegre. E quando a vida é alegre, o trabalho vai bem. Daí
as altas taxas de produção. Daí os heróis e heroínas do trabalho.
Essa é, principalmente, a raiz do movimento Stakhanov.
Se houvesse crise em nosso país, se houvesse desemprego - esse flagelo da
classe trabalhadora - se as pessoas em nosso país vivessem mal, tristemente, sem
alegria, não teríamos nada como o movimento Stakhanov. (Aplausos.) Nossa re-
volução proletária é a única revolução no mundo que teve a oportunidade de
mostrar ao povo não só resultados políticos, mas também resultados materiais.
De todas as revoluções operárias, conhecemos apenas uma que conseguiu che-
J. V. Stalin 543
gar ao poder. Essa foi a Comuna de Paris. Mas não durou muito. É verdade
que se esforçou para quebrar os grilhões do capitalismo; mas não teve tempo de
esmagá-los e menos ainda de mostrar ao povo os resultados materiais benéficos
da revolução. Nossa revolução é a única que não só quebrou os grilhões do ca-
pitalismo e trouxe liberdade ao povo, mas também conseguiu criar as condições
materiais de uma vida próspera para o povo. É aí que reside a força e invencibi-
lidade da nossa revolução.
É uma coisa boa, naturalmente, expulsar os capitalistas, expulsar os latifun-
diários, expulsar os capangas tsaristas, tomar o poder e alcançar a liberdade.
Isso é muito bom. Mas, infelizmente, a liberdade por si só não é suficiente, de
longe. Se houver falta de pão, falta de manteiga e gorduras, falta de têxteis e se as
condições de moradia forem ruins, a liberdade não o levará muito longe. É muito
difícil, camaradas, viver só de liberdade. (Gritos de aprovação. Aplausos.) Para viver
bem e com alegria, os benefícios da liberdade política devem ser complementados
por benefícios materiais. É uma característica distintiva de nossa revolução que
ela trouxe ao povo não apenas liberdade, mas também benefícios materiais e a
possibilidade de uma vida próspera e culta. É por isso que a vida se tornou alegre
em nosso país, e é aí que surgiu o movimento Stakhanov.
2. A segunda fonte do movimento Stakhanov é o fato de não haver exploração
em nosso país. As pessoas em nosso país não trabalham para exploradores, para o
enriquecimento dos parasitas, mas para si mesmas, para sua própria classe, para
sua própria sociedade soviética, onde o poder é exercido pelos melhores mem-
bros da classe trabalhadora. É por isso que o trabalho em nosso país tem impor-
tância social e é uma questão de honra e glória. Sob o capitalismo, o trabalho
tem um caráter privado e pessoal. Vocês produziram mais – bem, então, recebam
mais e vivam o melhor que puderem. Ninguém os conhece ou quer os conhe-
cer. Vocês trabalham para os capitalistas, vocês os enriquecem? Bem, o que você
esperava? Por isso te contrataram, para que enriquecessem os exploradores. Se
vocês não concordam com isso, juntem-se às fileiras dos desempregados e deem
o melhor que puderem – “encontraremos outros que sejam mais tratáveis”. É por
isso que o trabalho das pessoas não é muito valorizado no capitalismo. Sob tais
condições, é claro, não pode haver espaço para um movimento Stakhanov. Mas as
coisas são diferentes no sistema soviético. Aqui, o trabalhador é estimado. Aqui,
ele trabalha, não para os exploradores, mas para si mesmo, para sua classe, para
a sociedade.
Aqui, o trabalhador não pode se sentir abandonado e sozinho.
Pelo contrário, o homem que trabalha, sente-se um cidadão livre de seu país,
uma figura pública de certa forma. E se ele trabalha bem e dá o seu melhor à
sociedade - ele é um herói do trabalho e está coberto de glória. Obviamente, o
movimento Stakhanov só poderia ter surgido sob tais condições.
3. Devemos considerar, como a terceira fonte do movimento Stakhanov, o
fato de termos uma técnica moderna. O movimento Stakhanov está ligado orga-
nicamente à técnica moderna. Sem a técnica moderna, sem os modernos moi-
nhos e fábricas, sem a maquinaria moderna, o movimento Stakhanov não pode-
ria ter surgido. Sem a técnica moderna, os padrões técnicos poderiam ter sido
duplicados ou triplicados, mas não mais. E se os stakhanovitas elevaram os pa-
544 Obras Escolhidas
drões técnicos cinco ou seis vezes, isso significa que eles confiam inteiramente
na técnica moderna. Segue-se, portanto, que a industrialização do nosso país, a
reconstrução das nossas fábricas e fábricas, a introdução da técnica moderna e
da maquinaria moderna, foi uma das causas que deram origem ao movimento
Stakhanov.
4. Mas a técnica moderna sozinha não o levará muito longe. Você pode ter
uma técnica de primeira classe, moinhos e fábricas de primeira classe, mas se
você não tiver as pessoas capazes de controlar essa técnica, descobrirá que sua
técnica é apenas técnica nua. Para que a técnica moderna produza resultados,
são necessárias pessoas, quadros de homens e mulheres trabalhadoras, capazes
de assumir o comando da técnica e promovê-la. O nascimento e o crescimento
do movimento Stakhanov significam que tais quadros já apareceram entre os tra-
balhadores. do nosso país. Há cerca de dois anos, o Partido declarou que, na
construção de novos moinhos e fábricas e no fornecimento de maquinários mo-
dernos às nossas empresas, havíamos realizado apenas metade do trabalho. O
Partido declarou então que o entusiasmo pela construção de novas fábricas deve
ser complementado pelo entusiasmo por dominar essas novas fábricas, que só as-
sim o trabalho poderia ser concluído. É claro que o domínio desta nova técnica
e o crescimento de novos quadros têm prosseguido nestes dois anos. Agora está
claro que já temos esses quadros. É óbvio que sem esses quadros, sem essas novas
pessoas, nunca teríamos um movimento Stakhanov. Consequentemente, as no-
vas pessoas, homens e mulheres trabalhadores, que dominaram a nova técnica,
constituem a força que moldou e avançou o movimento Stakhanov.
Essas são as condições que deram origem e avançaram o movimento Stakha-
nov.
Quais são nossas tarefas imediatas do ponto de vista dos interesses do mo-
vimento Stakhanov? Para não ser difuso, reduzamos o assunto a duas tarefas
imediatas.
Primeiro. A tarefa é ajudar os stakhanovitas a desenvolver ainda mais o mo-
vimento Stakhanov e a divulgá-lo em todas as direções, por todas as regiões e
distritos da URSS. Isso, por um lado.
E, por outro lado, a tarefa é coibir todos aqueles elementos entre os gerentes
de negócios, engenheiros e operários técnicos que se apegam obstinadamente ao
antigo, não querem avançar e atrapalham sistematicamente o desenvolvimento
do movimento Stakhanov.
Os stakhanovitas sozinhos, é claro, não podem espalhar o movimento Stakha-
nov em toda a sua extensão por toda a face de nosso país. As organizações do
nosso partido devem intervir neste assunto e ajudar os stakhanovitas a consumar
o movimento. A este respeito, a organização regional de Donetz mostrou, sem
J. V. Stalin 547
dúvida, uma grande iniciativa. Bom trabalho está sendo feito nesse sentido pelas
organizações regionais de Moscou e Leningrado. Mas e as outras regiões? Eles,
aparentemente, ainda estão “começando”.
Por exemplo, não ouvimos nada, ou muito pouco, dos Urais, embora, como
vocês sabem, os Urais sejam um vasto centro industrial. O mesmo deve ser dito da
Sibéria Ocidental e dos kuzbas, onde, ao que parece, eles ainda não conseguiram
“começar”. No entanto, não precisamos ter dúvidas de que as organizações do
nosso Partido irão intervir neste assunto e ajudar os stakhanovitas a superar suas
dificuldades.
Quanto ao outro aspecto da questão - a contenção dos conservadores obsti-
nados entre os empresários, engenheiros e operários técnicos - as coisas serão
um pouco mais complicadas. Teremos, em primeiro lugar, que persuadir esses
elementos conservadores da indústria, persuadi-los de maneira paciente e cama-
rada, da natureza progressista do movimento Stakhanov e da necessidade de se
reajustar ao estilo Stakhanov. E se a persuasão não ajudar, medidas mais vigoro-
sas terão que ser adotadas. Veja, por exemplo, o Comissariado do Povo das Fer-
rovias. No aparato central daquele Comissariado, havia, até recentemente, um
grupo de professores, engenheiros e outros especialistas - entre eles comunistas
- que garantiam a todos que uma velocidade comercial de 13 ou 14 quilômetros
por hora era um limite que não podia ser ultrapassado sem contradizer “a ci-
ência da operação ferroviária.” Tratava-se de um grupo de bastante autoridade,
que pregava seus pontos de vista de forma verbal e impressa, dava instruções
aos diversos departamentos do Comissariado do Povo das Ferrovias e, em geral,
eram os “ditadores de opinião” nos departamentos de trânsito. Nós, que não
somos especialistas nesta área, baseando-nos nas sugestões de vários operários
da ferrovia, de nossa parte asseguramos a esses professores de autoridade que
13 ou 14 quilômetros não poderiam ser o limite, e que se as coisas fossem or-
ganizadas em de certa forma, esse limite poderia ser estendido. Em resposta,
este grupo, em vez de dar ouvidos à voz da experiência e da prática, e rever sua
atitude sobre o assunto, lançou-se a uma luta contra os elementos progressistas
nas ferrovias e ainda intensificou a propaganda de suas visões conservadoras. É
claro que tivemos que dar um leve tapinha no queixo desses indivíduos estimados
e, muito educadamente, removê-los do aparato central do Comissariado do Povo
das Ferrovias. (Aplausos)
E qual é o resultado? Agora temos uma velocidade comercial de 18 e 19
quilômetros por hora. (Aplausos.)
Parece-me, camaradas, que, na pior das hipóteses, teremos de recorrer a este
método também em outros ramos da nossa economia nacional – isto é, claro, se
os conservadores teimosos não deixarem de interferir e de colocar raios nas rodas
do movimento Stakhanov.
Segundo. No caso daqueles empresários, engenheiros e técnicos que não que-
rem atrapalhar o movimento Stakhanov, que simpatizam com este movimento,
mas ainda não conseguiram se reajustar e assumir a liderança do movimento
Stakhanov, a tarefa é ajudar eles se reajustam e assumem a liderança do movi-
mento Stakhanov.
Devo dizer, camaradas, que temos alguns desses executivos, engenheiros e
548 Obras Escolhidas
técnicos.
E se ajudarmos esses camaradas, haverá, sem dúvida, ainda mais deles.
Acho que, se cumprirmos essas tarefas, o movimento Stakhanov se desenvol-
verá em todo o seu alcance, abrangerá todas as regiões e distritos de nosso país e
nos mostrará milagres de novas conquistas.
25 de novembro de 1936
a) democratizar ainda mais o sistema eleitoral, substituindo o sufrágio não totalmente igual
por sufrágio igual, as eleições indiretas por eleições diretas e o voto aberto por voto secreto;
b) dar uma definição mais precisa da base social e econômica da Constituição, colocando a
Constituição em conformidade com a atual relação de forças de classe na URSS (a criação
de uma nova indústria socialista, a demolição da classe kulak, a vitória do sistema de fazendas
coletivas, a consolidação da propriedade socialista como base da sociedade soviética, e assim por diante).
3. Conduzir as próximas eleições ordinárias dos órgãos do governo soviético na União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas com base no novo sistema eleitoral.”
Isso foi em 6 de fevereiro de 1935. No dia seguinte à adoção dessa decisão, isto
é, 7 de fevereiro de 1935, a Primeira Sessão do Comitê Executivo Central da URSS
se reuniu, e em cumprimento à decisão do Sétimo Congresso dos Sovietes da
URSS, estabeleceu uma Comissão de Constituição composta por 31 pessoas. Ele
instruiu a Comissão de Constituição a preparar um projeto de uma Constituição
emendada da URSS.
Esses eram os fundamentos e instruções formais do órgão supremo da URSS
com base nos quais o trabalho da Comissão de Constituição deveria prosseguir.
Assim, a Comissão de Constituição deveria introduzir modificações na Cons-
tituição ora em vigor, que foi adotada em 1924, levando em consideração as mu-
danças de rumo do socialismo que se produziram na vida da URSS no período
de 1924 até hoje.
550 Obras Escolhidas
II
cresceu e se tornou uma força gigantesca. Agora ele não pode mais ser descrito
como fraco e tecnicamente mal equipado. Pelo contrário, agora se baseia em
equipamentos técnicos novos, ricos e modernos, com uma indústria pesada de-
senvolvida de forma poderosa e uma indústria de construção de máquinas ainda
mais desenvolvida. Mas o mais importante é que o capitalismo foi inteiramente
banido da esfera de nossa indústria, enquanto a forma socialista de produção
agora detém controle total na esfera de nossa indústria. O fato de que, em vo-
lume de produção, nossa atual indústria socialista excede a indústria pré-guerra
em mais de sete vezes não pode ser considerado um pequeno detalhe.
Quanto à agricultura, em vez do oceano de pequenas fazendas camponesas in-
dividuais, com seu pobre equipamento técnico e forte influência kulak, passamos
a ter uma produção mecanizada, realizada em escala maior do que em qualquer
outro lugar do mundo, com até - equipamento técnico de data, na forma de um
sistema abrangente de fazendas coletivas e fazendas estatais. Todo mundo sabe
que a classe kulak na agricultura foi eliminada, enquanto o setor das pequenas
fazendas camponesas individuais, com seu equipamento técnico medieval atra-
sado, ocupa agora um lugar insignificante; sua participação na agricultura em
termos de área de cultivo não chega a mais de 2 ou 3%. Não devemos esquecer
que as fazendas coletivas têm agora à disposição 316.000 tratores com um total
de 5.700.000 cavalos de potência e, junto com as fazendas do Estado, mais de
400.000 tratores, com um total de 7.580.000 cavalos de potência.
Quanto ao comércio do país, os mercadores e aproveitadores foram total-
mente banidos desta esfera. Todo o comércio está agora nas mãos do Estado, das
sociedades cooperativas e das fazendas coletivas. Um novo comércio soviético –
comércio sem aproveitadores, comércio sem capitalistas – surgiu e se desenvol-
veu.
Assim, a vitória completa do sistema socialista em todas as esferas da econo-
mia nacional é agora um fato.
E o que isto significa?
Significa que a exploração do homem pelo homem foi abolida, eliminada,
enquanto a propriedade socialista dos implementos e meios de produção foi es-
tabelecida como o fundamento inabalável de nossa sociedade soviética. (Aplausos
prolongados.)
Como resultado de todas essas mudanças na esfera da economia nacional da
URSS, temos agora uma nova economia socialista, que não conhece crises nem
desemprego, que não conhece pobreza nem ruína, e que oferece aos nossos ci-
dadãos todas as oportunidades para leve uma vida próspera e culta.
Tais são, em geral, as mudanças ocorridas na esfera de nossa economia du-
rante o período de 1924 a 1936.
Em conformidade com essas mudanças na vida econômica da URSS, a estru-
tura de classes de nossa sociedade também mudou.
A classe do senhorio, como vocês sabem, já havia sido eliminada com a con-
clusão vitoriosa da guerra civil. Quanto às outras classes exploradoras, elas com-
partilharam o destino da classe dos proprietários. A classe capitalista na esfera
da indústria deixou de existir. A classe kulak na esfera da agricultura deixou de
existir. E os mercadores e aproveitadores na esfera do comércio deixaram de
552 Obras Escolhidas
III
IV
zia, uma fraude, uma “aldeia Potemkin”. Declara, sem hesitar, que a URSS não
é um Estado, que a URSS “nada mais é do que um conceito geográfico estrita-
mente definido” (riso geral), e que, em vista disso, a Constituição da URSS não
pode ser considerada uma constituição real.
O que se pode dizer sobre essas chamadas críticas?
Em um de seus contos, o grande escritor russo Shchedrin retrata um oficial
cabeça-dura, muito tacanho e obtuso, mas autoconfiante e zeloso ao extremo.
Depois que esse burocrata estabeleceu “ordem e tranquilidade” na região “sob
seu comando”, tendo exterminado milhares de seus habitantes e queimado deze-
nas de cidades no processo, ele olhou ao redor e no horizonte avistou a América
- um pequeno país conhecido, é claro, onde, ao que parece, existem liberdades
de algum tipo ou outro que servem para agitar o povo, e onde o Estado é ad-
ministrado de uma maneira diferente. O burocrata avistou a América e ficou
indignado:
Que país é esse, como chegou lá, com que direito existe? (risos e aplausos.)
Claro, ele foi descoberto acidentalmente há vários séculos, mas não poderia ser
fechado novamente para que nem um fantasma permanecesse? (risos.) Em se-
guida, ele escreveu uma ordem: “Cale a boca da América de novo!” (risos gerais)
Parece-me que os senhores do “Deutsche Diplomatisch - Politische Korrespondenz”
e o burocrata de Shchedrin são como duas ervilhas. (risos e aplausos.) A URSS há
muito tempo é uma monstruosidade para esses senhores. Por dezenove anos a
URSS permaneceu como um farol, espalhando o espírito de emancipação entre
a classe trabalhadora em todo o mundo e despertando a fúria dos inimigos da
classe trabalhadora. E acontece que essa URSS não apenas existe, mas até está
crescendo; não está apenas crescendo, mas até mesmo florescendo; e não só está
florescendo, mas até mesmo redigindo um esboço de uma nova Constituição, um
esboço que está mexendo com as mentes e inspirando as classes oprimidas com
uma nova esperança. (aplausos.) Como podem os cavalheiros do órgão semioficial
alemão ficarem indignados depois disso? Que tipo de país é esse? - eles uivam;
com que direito existe? (risos.) E se foi descoberto em outubro de 1917, por
que não pode ser fechado de novo para que nem um fantasma permaneça? Em
seguida, eles resolveram: Calar a URSS novamente; proclama publicamente que
a URSS, como um Estado, não existe, que a URSS nada mais é do que um mero
conceito geográfico. (risos gerais)
Ao escrever sua ordem para calar a América novamente, o burocrata de Shche-
drin, apesar de toda sua obtusidade, evidenciou alguma realidade ao acrescentar
a si mesmo: “No entanto, parece que isso não está em meu poder.” (gargalhadas e
aplausos.) Não sei se os senhores do órgão semioficial alemão são dotados de in-
teligência suficiente para suspeitar que – embora, é claro, possam “calar a boca”
este ou aquele país no papel – falando sério, no entanto, “o mesmo não está em
seu poder...” (Gargalhadas e aplausos.)
Quanto à Constituição da URSS ser uma promessa vazia, uma “aldeia Potem-
kin”, etc., gostaria de me referir a uma série de fatos estabelecidos que falam por
si.
Em 1917, os povos da URSS derrubaram a burguesia e estabeleceram a dita-
dura do proletariado, estabeleceram um governo soviético. Isso é um fato, não
560 Obras Escolhidas
uma promessa.
Ademais, o governo soviético eliminou a classe dos latifundiários e transferiu
aos camponeses mais de 150 milhões de hectares de antigos senhorios, governos
e terras monasteriais, além das terras que já estavam em posse dos camponeses.
Isso é um fato, não uma promessa.
Além disso, o governo soviético expropriou a classe capitalista, tirou seus ban-
cos, fábricas, ferrovias e outros implementos e meios de produção, declarou que
eram propriedade socialista e colocou à frente dessas empresas os melhores mem-
bros da classe trabalhadora. Isso é um fato, não uma promessa. (aplausos prolon-
gados.)
Ademais, tendo organizado a indústria e a agricultura em novas linhas socia-
listas, com uma nova base técnica, o governo soviético atingiu hoje uma posição
em que a agricultura na URSS está produzindo uma vez e meia mais do que era
produzida em tempos pré-guerra, onde a indústria está produzindo sete vezes
mais do que era antes da guerra, e onde a renda nacional quadruplicou em com-
paração com os tempos anteriores à guerra. Todos esses são fatos, não promessas.
(aplausos prolongados.)
Além disso, o governo soviético aboliu o desemprego, introduziu o direito ao
trabalho, o direito ao descanso e ao lazer, o direito à educação, proporcionou
melhores condições materiais e culturais para os trabalhadores, camponeses e
intelectuais e assegurou a introdução da , sufrágio direto e igual com voto secreto
para seus cidadãos. Todos esses são fatos, não promessas. (aplausos prolongados.)
Finalmente, a URSS produziram o projeto de uma nova Constituição que não
é uma promessa, mas o registro e a incorporação legislativa desses fatos geral-
mente conhecidos, o registro e a incorporação legislativa do que já foi alcançado
e conquistado.
Pode-se perguntar: em vista de tudo isso, o que pode toda a conversa dos
senhores do órgão semioficial alemão sobre as “aldeias Potemkin” não ser se-
não uma tentativa de sua parte esconder do povo a verdade sobre a URSS, para
enganar o povo, para enganá-lo.
Esses são os fatos. E os fatos, dizem, são coisas teimosas. Os senhores do
órgão semioficial alemão podem dizer: Tanto pior para os fatos. (risos.) Mas
então, podemos respondê-los com as palavras do conhecido provérbio russo: “As
leis não são feitas para os tolos.” (risos e aplausos prolongados.)
O terceiro grupo de críticos não se opõe a reconhecer certos méritos no Pro-
jeto de Constituição; eles consideram isso uma coisa boa; mas, veja, eles duvidam
muito que vários de seus princípios possam ser aplicados na prática, porque es-
tão convencidos de que esses princípios são geralmente impraticáveis e devem
permanecer letra morta. Esses, para dizer o mínimo, são céticos. Esses céticos
podem ser encontrados em todos os países.
É preciso dizer que esta não é a primeira vez que os encontramos. Quando
os bolcheviques tomaram o poder em 1917, os céticos disseram: Os bolcheviques
não são maus companheiros, talvez, mas nada sairá de seu governo; eles irão
falhar. Na verdade, no entanto, não foram os bolcheviques que falharam, mas os
céticos.
J. V. Stalin 561
dos.)
Finalmente, há mais um grupo de críticos. Enquanto o último grupo acusa
o Projeto de Constituição de abandonar a ditadura da classe trabalhadora, este
grupo, ao contrário, acusa-o de não mudar nada na posição existente na URSS,
de deixar intacta a ditadura da classe trabalhadora, de não conceder liberdade
aos partidos políticos e de preservar a atual posição de liderança do Partido Co-
munista na URSS. E esse grupo de críticos afirma que a ausência de liberdade
dos partidos na URSS é um sintoma da violação dos princípios do democratismo.
Devo admitir que o esboço da nova Constituição preserva o regime da di-
tadura da classe trabalhadora, assim como também preserva inalterada a atual
posição de liderança do Partido Comunista da URSS. (Aplausos.) Se os estimados
críticos a respeito disso como uma falha no Projeto de Constituição, que é apenas
para ser lamentado. Nós, bolcheviques, consideramos isso um mérito do Projeto
de Constituição. (Estrondosos aplausos.)
Quanto à liberdade de vários partidos políticos, aderimos a pontos de vista
um tanto diferentes. Uma festa faz parte de uma classe, sua parte mais avan-
çada. Vários partidos e, consequentemente, a liberdade dos partidos, só podem
existir em uma sociedade em que existam classes antagônicas cujos interesses
são mutuamente hostis e irreconciliáveis - na qual existem, digamos, capitalistas
e trabalhadores, latifundiários e camponeses, kulaks e camponeses pobres, etc.
Mas na URSS não existem mais classes como os capitalistas, os latifundiários, os
kulaks, etc. Na URSS existem apenas duas classes, trabalhadores e camponeses,
cujos interesses - longe de serem mutuamente hostis - são, pelo contrário, ami-
gável. Assim, não há fundamento na URSS para a existência de várias partes e,
consequentemente, para a liberdade dessas partes. Na URSS, só há fundamento
para um partido, o Partido Comunista. Na URSS só pode existir um partido, o
Partido Comunista, que defende com coragem os interesses dos trabalhadores e
camponeses até o fim. E que não defende mal os interesses dessas classes, disso
quase não há dúvida. (vivos aplausos.)
Eles falam de democracia. Mas o que é democracia? A democracia nos países
capitalistas, onde existem classes antagônicas, é, em última análise, democracia
para os fortes, democracia para a minoria proprietária. Na URSS, ao contrário,
democracia é democracia para os trabalhadores, ou seja, democracia para todos.
Mas daí decorre que os princípios do democratismo são violados, não pelo pro-
jeto da nova Constituição da URSS, mas pelas constituições burguesas. É por
isso que acho que a Constituição da URSS é a única Constituição totalmente
democrática do mundo.
Essa é a posição em relação à crítica burguesa ao projeto da nova Constituição
da URSS.
J. V. Stalin 563
das nações e raças que compõem a URSS, são tratados nos Capítulos II, X e XI
do Projeto de Constituição. A partir desses capítulos, fica evidente que as nações
e raças da URSS gozam de direitos iguais em todas as esferas da vida econômica,
política, social e cultural do país. Consequentemente, não pode haver violação
dos direitos nacionais.
Também seria errado substituir a palavra “camponês” pelas palavras “agri-
cultor coletivo” ou “trabalhador da agricultura socialista”. Em primeiro lugar,
além dos agricultores coletivos, ainda existem mais de um milhão de famílias de
agricultores não coletivos no campesinato. O que deve ser feito sobre eles? Os
autores desta emenda propõem eliminá-los dos livros? Isso seria imprudente.
Em segundo lugar, o fato de a maioria dos camponeses ter iniciado a agricultura
coletiva não significa que já tenham deixado de ser camponeses, que não tenham
mais sua economia pessoal, suas próprias famílias, etc. Em terceiro lugar, para a
palavra “trabalhador” nós teríamos então que substituir as palavras “trabalhador
da indústria socialista”, que, no entanto, os autores da emenda por uma razão
ou outra não propõem. Enfim, a classe trabalhadora e a classe camponesa já
desapareceram em nosso país? E se não desapareceram, vale a pena apagar do
nosso vocabulário os nomes estabelecidos para eles? Evidentemente, o que os
autores da emenda têm em mente não é a sociedade atual, mas a sociedade fu-
tura, quando as classes não existirão mais e os operários e camponeses terão se
transformado em trabalhadores de uma homogênea sociedade comunista. Con-
sequentemente, eles estão obviamente correndo na frente. Mas, na elaboração
de uma constituição, não se deve partir do futuro, mas do presente, do que já
existe. Uma constituição não pode e não deve progredir.
2. Em seguida, segue-se uma emenda ao Artigo 17 do Projeto de Constitui-
ção. A emenda propõe a supressão total do artigo 17 da Constituição, que reserva
às Repúblicas da União o direito de livre secessão da URSS. Acho que essa pro-
posta é errada e, portanto, não deve ser adotada pelo Congresso. A URSS é
uma união voluntária de União das Repúblicas com direitos iguais. Eliminar da
Constituição o artigo que prevê o direito de livre secessão da URSS seria violar
o caráter voluntário desta união. Podemos concordar com esta etapa? Acho que
não podemos e não devemos concordar com isso. Diz-se que não há uma única
república na URSS que queira se separar da URSS e que, portanto, o artigo 17
não tem importância prática. É claro que não existe uma única república que
queira se separar da URSS. Mas isso não significa de forma alguma que não de-
vamos fixar na Constituição o direito das Repúblicas da União de se separarem
livremente da URSS. Na URSS, não há uma única República da União que queira
subjugar outra República da União. Mas isso não significa de forma alguma que
devamos suprimir da Constituição da URSS o artigo que trata da igualdade de
direitos das Repúblicas da União.
3. Em seguida, há uma proposta de adicionarmos um novo artigo ao Capítulo
II do Projeto de Constituição, com o seguinte efeito: que, ao atingir o nível ade-
quado de desenvolvimento econômico e cultural, as Repúblicas Socialistas Sovié-
ticas autônomas possam ser elevadas ao status de União Soviética Repúblicas So-
cialistas. Esta proposta pode ser aprovada? Eu acho que não deveria ser adotado.
É uma proposta errada, não só pelo seu conteúdo, mas também pela condição
que estabelece. A maturidade económica e cultural não pode ser invocada como
566 Obras Escolhidas
revisarmos esta lei? Acho que chegou a hora. Diz-se que isso é perigoso, pois
elementos hostis ao governo soviético, alguns dos ex-guardas-brancos, kulaks, pa-
dres, etc., podem se infiltrar nos órgãos de governo supremos do país. Mas do
que ter medo? Se você tem medo de lobos, fique longe da floresta. (risos e aplau-
sos.) Em primeiro lugar, nem todos os ex-kulaks, guardas-brancos e padres são
hostis ao governo soviético. Em segundo lugar, se as pessoas em algum lugar ou
outro elegerem pessoas hostis, isso mostrará que nosso trabalho de propaganda
foi muito mal organizado, e nós mereceremos tal desgraça; se, no entanto, nosso
trabalho de propaganda é conduzido de uma forma bolchevique, o povo não
deixará pessoas hostis deslizarem para os órgãos de governo supremos. Isso sig-
nifica que devemos trabalhar e não reclamar (aplausos), devemos trabalhar e não
esperar que tudo seja posto diante de nós pronto por ordem oficial. Já em 1919,
Lenin disse que não estava muito distante o tempo em que o governo soviético
consideraria conveniente introduzir o sufrágio universal sem quaisquer restri-
ções. Atenção: sem quaisquer restrições. Ele disse isso em um momento em que
a intervenção militar estrangeira ainda não havia sido superada e quando nossa
indústria e agricultura estavam em condições desesperadoras. Desde então, de-
zessete anos se passaram. Camaradas, não é hora de cumprirmos a ordem de
Lenin? Eu acho que é.
Aqui está o que Lenin disse em 1919 em seu “Projeto de Programa do Partido
Comunista da Rússia”. Permita-me ler.
“O Partido Comunista Russo deve explicar às massas trabalhadoras, a fim de evitar uma
generalização errada das necessidades históricas transitórias, que a privação de direitos de
uma parte dos cidadãos não afeta na República Soviética, como foi o caso na maioria das
repúblicas democrático-burguesas, uma categoria definida de cidadãos privados de direitos
para toda a vida, mas se aplica apenas aos exploradores, apenas àqueles que, em violação das
leis fundamentais da República Socialista Soviética, persistem em defender sua posição de
exploradores, na preservação do capitalismo Consequentemente, na República Soviética, por
um lado, cada dia de força acrescida para o Socialismo e diminuição do número daqueles que
têm possibilidades objetivas de permanecer exploradores ou de preservar as relações capita-
listas, reduz automaticamente a percentagem de pessoas privadas de direitos. Na Rússia, no
momento, essa porcentagem é pouco mais do que 2 ou 3%. Num futuro distante, a cessação
da invasão estrangeira e a conclusão da expropriação dos expropriadores podem, sob certas
condições, criar uma situação em que o poder estatal proletário escolherá outros métodos
de suprimir a resistência dos exploradores e introduzirá o sufrágio universal sem qualquer
restrições.” (Lenin: Obras Escolhidas, edição russa, Vol. XXIV, p. 94.)
VI
Em seguida, ele disse: “Temos agora a vitória final do socialismo e uma ga-
rantia total contra a intervenção e a restauração do capitalismo.”
E assim fui considerado um cúmplice do trotskismo e removido do trabalho
de propaganda e foi levantada a questão de saber se eu estava apto a permanecer
na LJC.
Por favor, camarada Stalin, explique se ainda temos ou não a vitória final
do socialismo. Talvez haja material contemporâneo adicional sobre esta questão
conectado com mudanças recentes que ainda não descobri. Também acho que
a afirmação de Urozhenko de que os trabalhos do camarada Stalin sobre esta
questão estão um tanto desatualizados é antibolchevique.
Os dirigentes do Comitê Regional estão certos em me considerar trotskista?
Sinto-me muito magoado e ofendido com isso.
Espero, camarada Stalin, que conceda meu pedido e responda ao distrito de
Manturovsk, região de Kursk, primeiro soviete da vila de Zasemsky, Ivan Phili-
povich Ivanov.
(Assinado) I. Ivanov. 18 de janeiro de 1938.
Claro que você está certo, camarada Ivanov, e seus oponentes ideológicos,
ou seja, os camaradas Urozhenko e Kazelkov, estão errados. E pelos seguintes
motivos:
Sem dúvida, a questão da vitória do socialismo em um país, neste caso o nosso
país, tem dois lados diferentes.
O primeiro lado da questão da vitória do socialismo em nosso país abrange o
problema das relações mútuas entre as classes em nosso país. Isso diz respeito à
esfera das relações internas.
A classe operária de nosso país pode superar as contradições com nosso cam-
pesinato e estabelecer uma aliança, uma colaboração com eles?
Pode a classe operária de nosso país, em aliança com nosso campesinato, es-
magar a burguesia de nosso país, privá-la das terras, das fábricas, das minas, etc.,
e por seus próprios esforços construir uma nova sociedade sem classes, uma so-
ciedade socialista completa?
Tais são os problemas que se relacionam com o primeiro lado da questão da
vitória do socialismo em nosso país.
O leninismo responde afirmativamente a esses problemas.
Lenin nos ensina que “temos tudo o que é necessário para a construção de
uma sociedade socialista completa”.
Portanto, podemos e devemos, por nossos próprios esforços, superar nossa
burguesia e construir a sociedade socialista.
Trotsky, Zinoviev, Kamenev e outros senhores que mais tarde se tornaram es-
piões e agentes do fascismo, negaram que fosse possível construir o socialismo em
nosso país, a menos que a vitória da revolução socialista fosse alcançada primeiro
em outros países, em países capitalistas. Na verdade, estes senhores queriam
J. V. Stalin 573
E mais:
“Estamos cercados por pessoas, classes e governos que expressam abertamente seu ódio por
nós. Devemos lembrar que estamos sempre a um fio de cabelo da invasão.” (Obras Escolhidas,
Vol. 27, p. 117.)
Isso é dito de forma nítida e forte, mas honesta e verdadeiramente sem em-
belezamento, como Lenin foi capaz de falar.
Com base nessas premissas, Stalin afirmou em “Em Torno dos Problemas do Le-
ninismo” que:
“A vitória final do socialismo é a garantia total contra as tentativas de intervenção, e isso
significa contra a restauração, pois qualquer tentativa séria de restauração só pode acontecer
com o apoio sério de fora, apenas com o apoio do capital internacional.
Daí o apoio à nossa revolução pelos trabalhadores de todos os países, e ainda mais, a vitória
dos trabalhadores em pelo menos vários países, é uma condição necessária para garantir ple-
namente o primeiro país vitorioso contra as tentativas de intervenção e restauração, condição
necessária para a vitória final do Socialismo” (Em Torno dos Problemas do Leninismo. 1937, p.
134.)
Tabela 1:
RESERVAS DE OURO VISÍVEIS DOS PAÍSES CAPITALISTAS
(Em milhões de dólares de ouro)
fim de 1936 setembro de 1938
Total 12.980 14.301
EUA 6.499 8.126
Grã-Bretanha 2.029 2.396
França 1.769 1.435
Holanda 289 595
Bélgica 373 318
Suíça 387 407
Alemanha 16 17
Itália 123 124
Japão 273 97
Tabela 2:
VOLUME DE SAÍDA INDUSTRIAL
EM COMPARAÇÃO COM 1929 (1929 = 100)
1934 1935 1936 1937 1938
EUA 66,4 75,6 88,1 92,2 72,0
Grã-Bretanha 98,8 105,8 115,9 123,7 112,0
França 71,0 67,4 79,3 82,8 70,0
Itália 80,0 93,8 87,5 99,6 96,0
Alemanha 79,8 94,0 106,3 117,2 125,0
Japão 128,7 141,8 151,1 170,8 165,0
URSS 283,3 293,4 382,3 424,0 477,0
Esta tabela mostra que a União Soviética é o único país do mundo onde as
crises são desconhecidas e onde a indústria está em constante atualização.
Este quadro também mostra que uma grave crise econômica já começou e está
se desenvolvendo nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França.
Além disso, esta tabela mostra que na Itália e no Japão, que colocaram sua
economia nacional em pé de guerra antes da Alemanha, o curso descendente da
indústria já começou em 1938.
Por último, esta tabela mostra que na Alemanha, que reorganizou sua econo-
mia em pé de guerra depois da Itália e do Japão, a indústria ainda experimenta
uma certa tendência de alta – embora pequena, é verdade – correspondente à
que ocorreu no Japão e Itália até recentemente.
Não pode haver dúvida de que, a menos que ocorra algo imprevisto, a in-
580 Obras Escolhidas
dústria alemã deve seguir o mesmo caminho de queda que o Japão e a Itália
já percorreram. Pois o que significa colocar a economia de um país em pé de
guerra? Significa dar à indústria uma direção de guerra unilateral; desenvolver
ao máximo a produção de bens necessários à guerra e não ao consumo da popu-
lação; restringindo ao máximo a produção e, principalmente, a venda de artigos
de consumo geral – e, consequentemente, reduzindo o consumo da população e
confrontando o país com uma crise econômica.
Este é o quadro concreto da tendência da nova crise econômica nos países
capitalistas.
Naturalmente, tal virada desfavorável nos assuntos econômicos não poderia
deixar de agravar as relações entre as potências. A crise anterior já havia mistu-
rado as cartas e intensificado a luta por mercados e fontes de matérias-primas.
A tomada da Manchúria e do Norte da China pelo Japão, a tomada da Abissínia
pela Itália – tudo isso refletia a acuidade da luta entre as potências. A nova crise
econômica deve levar, e na verdade está levando, a um maior acirramento da luta
imperialista. Já não se trata de concorrência nos mercados, de guerra comercial,
de dumping. Esses métodos de luta há muito são reconhecidos como inadequa-
dos. Trata-se agora de uma nova redivisão do mundo, das esferas de influência
e das colônias, pela ação militar.
O Japão tentou justificar suas agressões com o argumento de que ela foi en-
ganada quando o Tratado das Nove Potências foi concluído e não teve permissão
para estender seu território às custas da China, enquanto a Grã-Bretanha e a
França possuem vastas colônias. A Itália lembrou que foi enganada durante a di-
visão dos espólios após a primeira guerra imperialista e que deve se recompensar
às custas das esferas de influência da Grã-Bretanha e da França. A Alemanha,
que havia sofrido gravemente como resultado da primeira guerra imperialista
e da Paz de Versalhes, juntou forças com o Japão e a Itália e exigiu a extensão
de seu território na Europa e o retorno das colônias das quais os vencedores no
primeiro imperialismo a guerra a privou.
Assim se formou o bloco dos três Estados agressores.
Uma nova redivisão do mundo por meio da guerra tornou-se iminente.
não consigo deixar de pensar que não há esperança para você, a menos que se
anexe a mim... (Gargalhadas.) Bem, que assim seja: Eu permito que você anexe
seu minúsculo domínio aos meus vastos territórios.” (Risos e aplausos.)
Ainda mais característico é o fato de que certos políticos e jornalistas euro-
peus e americanos, perdendo a paciência à espera pela “marcha sobre a Ucrânia
soviética”, começam eles próprios a revelar o que está realmente por trás da polí-
tica de não-intervenção. Eles estão dizendo abertamente, colocando em preto no
branco, que os alemães os “desapontaram” cruelmente, pois em vez de marchar
mais para o leste, contra a União Soviética, eles se viraram, você vê, para o oeste
e estão exigindo colônias. Pode-se pensar que os distritos da Tchecoslováquia
foram cedidos à Alemanha como o preço de um compromisso de guerra contra
a União Soviética, mas agora os alemães se recusam a cumprir suas contas e os
enviam para o Hades.
Longe de mim moralizar o que concerne a política de não-intervenção, falar
de traição, trapaça e assim por diante. Seria ingênuo pregar a moral a pessoas
que não reconhecem a moralidade humana. Política é política, como dizem os
velhos diplomatas burgueses obstinados.
É preciso ressaltar, porém, que o grande e perigoso jogo político iniciado pe-
los partidários da política de não-intervenção pode terminar em um grave fiasco
para eles.
Essa é a verdadeira face da política de não-intervenção vigente.
Essa é a situação política nos países capitalistas.
A guerra criou uma nova situação no que diz respeito às relações entre os
países. Isso os envolveu em uma atmosfera de alarme e incerteza. Ao minar o
regime de paz do pós-guerra e anular os princípios elementares do direito inter-
nacional, lançou dúvidas sobre o valor dos tratados e obrigações internacionais.
Os esquemas de pacifismo e desarmamento estão mortos e enterrados. O arma-
mento acalorado tomou seu lugar.
Todos estão se armando, pequenos e grandes Estados, principalmente aqueles
que praticam a política de não-intervenção. Ninguém acredita mais nos discursos
sicofantas que afirmam que as concessões de Munique aos agressores e o acordo
de Munique abriram uma nova era de “apaziguamento”. Eles são desacreditados
até pelos signatários do acordo de Munique, Grã-Bretanha e França, que estão
aumentando seus armamentos não menos do que outros países.
Naturalmente, a URSS não poderia ignorar esses eventos ameaçadores. Não
há dúvida de que qualquer guerra, por menor que seja, iniciada pelos agressores
em qualquer canto remoto do mundo, constitui um perigo para os países pací-
ficos. Tanto mais grave é o perigo que surge da nova guerra imperialista, que
já atraiu para a sua órbita mais de 500 milhões de pessoas na Ásia, África e Eu-
ropa. Em vista disso, enquanto nosso país segue inabalavelmente uma política
de preservação da paz, ao mesmo tempo está fazendo muito para aumentar a
preparação de nosso Exército Vermelho e de nossa Marinha Vermelha.
Ao mesmo tempo, a fim de fortalecer sua posição internacional, a União So-
J. V. Stalin 585
viética decidiu tomar outras medidas. No final de 1934 nosso país aderiu à Liga
das Nações, considerando que, apesar de sua fragilidade, a Liga pode, no en-
tanto, servir como um lugar onde os agressores podem ser expostos e como um
certo instrumento de paz, por mais fraco que seja, que pode impedir o início
da guerra. A União Soviética considera que em tempos alarmantes como estes,
mesmo uma organização internacional tão fraca como a Liga das Nações, não
deve ser ignorada. Em maio de 1935, um tratado de assistência mútua contra
possíveis ataques de agressores foi assinado entre a França e a União Soviética.
Um tratado semelhante foi aderido simultaneamente com a Tchecoslováquia. Em
março de 1936, a União Soviética firmou um tratado de assistência mútua com a
República Popular da Mongólia. Em agosto de 1937, a União Soviética assinou
um pacto de não agressão com a República Chinesa.
Foi em condições internacionais tão difíceis que a União Soviética seguiu sua
política externa de defesa da causa da paz.
A política externa da União Soviética é clara e explícita.
1. Defendemos a paz e o fortalecimento das relações comerciais com todos
os países. Essa é a nossa posição; e devemos aderir a esta posição enquanto esses
países mantiverem relações semelhantes com a União Soviética, e enquanto não
fizerem qualquer tentativa de invadir os interesses de nosso país.
2. Defendemos relações pacíficas, próximas e amistosas com todos os países
vizinhos que têm fronteiras comuns com a URSS. Essa é a nossa posição; e ade-
riremos a esta posição enquanto esses países mantiverem relações semelhantes
com a União Soviética e enquanto não fizerem qualquer tentativa de ultrapassar,
direta ou indiretamente, a integridade e inviolabilidade das fronteiras do Estado
soviético.
3. Defendemos o apoio às nações que são vítimas de agressões e lutam pela
independência do seu país.
4. Não temos medo das ameaças dos agressores e estamos prontos para desfe-
rir dois golpes por cada golpe desferido pelos instigadores de guerra que tentam
violar as fronteiras soviéticas.
Essa é a política externa da União Soviética. (Aplausos altos e prolongados.)
Em sua política externa, a União Soviética conta com:
1. Seu crescente poder econômico, político e cultural;
2. A unidade moral e política de nossa sociedade soviética;
3. A amizade mútua das nações de nosso país;
4. Seu Exército Vermelho e Marinha Vermelha;
5. Sua política de paz;
6. O apoio moral dos trabalhadores de todos os países, que estão vitalmente
preocupados com a preservação da paz;
7. O bom senso dos países que por uma razão ou outra não têm interesse na
violação da paz.
∗ ∗ ∗
II
Tabela 3:
PROGRESSO INDUSTRIAL DA URSS EM 1934-38
1933 1934 1935 1936 1937 1938
Total 42.030 50.477 62.137 80.929 90.166 100.375
Em milhões
Indústria
de rublos 42.002 50.443 62.114 80.898 90.138 100.349
socialista
aos preços
Indústria
de 1936-27 28 34 23 31 28 26
privada
Total 100, 00 100, 00 100, 00 100, 00 100, 00 100, 00
Indústria
99, 93 99, 93 99, 93 99, 96 99, 97 99, 97
Porcentagem socialista
Indústria
0, 07 0, 07 0, 04 0, 04 0, 03 0, 03
privada
1938
1934 1935 1936 1937 1938 comparado
Porcentagem em
a 1933 [%]
relação ao ano
Total 120, 1 123, 1 130, 2 111, 4 111, 3 238, 8
anterior
Indústria
120, 1 123, 1 130, 2 111, 4 111, 3 238, 9
socialista
Indústria
121, 1 67, 6 134, 8 90, 3 92, 9 92, 9
privada
Tabela 4:
CRESCIMENTO INDUSTRIAL NA URSS E NOS PRINCIPAIS
PAÍSES CAPITALISTAS ENTRE 1913-1938
1913 1933 1934 1935 1936 1937 1938
URSS 100, 0 380, 5 457, 0 562, 6 732, 7 816, 4 908, 8
EUA 100, 0 108, 7 112, 9 128, 6 149, 8 156, 9 120, 0
G.B 100, 0 87, 0 97, 1 104, 0 114, 2 121, 9 113, 3
Alemanha 100, 0 75, 4 90, 4 105, 9 118, 1 129, 3 131, 6
França 100, 0 107, 0 99, 0 94, 0 98, 0 101, 0 93, 2
Esta tabela mostra que nossa indústria cresceu mais de nove vezes em compa-
ração com o pré-guerra, enquanto a indústria dos principais países capitalistas
continua marcando o tempo em torno do nível pré-guerra, superando este último
em apenas 20 ou 30%.
Isso significa que, em termos de taxa de crescimento, nossa indústria socialista
ocupa o primeiro lugar no mundo.
Assim, constatamos que, em termos de técnica de produção e taxa de cresci-
mento de nossa indústria, já ultrapassamos e ultrapassamos os principais países
capitalistas.
Em que aspecto estamos atrasados? Ainda estamos defasados economica-
mente, ou seja, no que diz respeito ao volume de nossa produção industrial per
capita. Em 1938, produzimos cerca de 15 milhões de toneladas de ferro-gusa; A
Grã-Bretanha produziu 7.000.000 de toneladas. Pode parecer que estamos em
melhor situação do que a Grã-Bretanha. Mas se dividirmos este número de tone-
ladas pelo número da população, descobriremos que a produção de ferro-gusa
per capita da população em 1938 era de 145 quilos na Grã-Bretanha e apenas
87 quilos na URSS. Ou ainda: em 1938 na Grã-Bretanha produziu 10.800.000
toneladas de aço e cerca de 29.000.000.000 quilowatts-hora de eletricidade, en-
quanto a URSS produziu 18.000.000 toneladas de aço e mais de 39.000.000.000
quilowatts-hora de eletricidade. Pode parecer que estamos em melhor situação
do que a Grã-Bretanha. Mas se dividirmos este número de toneladas e quilowatt-
hora pelo número da população, descobriremos que em 1938 na Grã-Bretanha
a produção de aço per capita da população era de 226 quilogramas e de ele-
tricidade 620 quilowatt-hora, enquanto na URSS a produção de aço per capita
da população era de apenas 107 quilogramas e de eletricidade de apenas 233
quilowatts-hora.
Qual é a razão para isto? A razão é que nossa população é várias vezes maior
do que a da Grã-Bretanha e, portanto, nossas necessidades são maiores: a União
Soviética tem uma população de 170 milhões, enquanto a Grã-Bretanha tem uma
população de não mais de 46 milhões. O poder econômico da indústria de um
país não é expresso pelo volume da produção industrial em geral, independen-
temente do tamanho da população, mas pelo volume da produção industrial
tomada em referência direta ao montante consumido per capita da população.
Quanto maior a produção industrial per capita de um país, maior é o seu poder
econômico; e, inversamente, quanto menor a produção per capita da popula-
J. V. Stalin 589
Tabela 5:
ÁREAS SOB TODAS AS CULTURAS NA URSS
(em milhões de hectares)
1938
Áreas de
1913 1934 1935 1936 1937 1938 comparado
cultivos
a 1913 [%]
a) Cereais 94,4 104,4 103,4 102,4 104,4 102,4 108,5
b) Industrial 4,5 10,7 10,6 10,8 11,2 11,0 244,4
c) Vegetais 3,8 8,8 9,9 9,8 9,0 9,4 247,4
d) Forragem 2,1 7,1 8,6 10,6 10,6 14,1 671,4
Total 105,0 131,5 132,8 133,8 135,3 136,9 130,4
J. V. Stalin 591
Tabela 6:
TRATORES EMPREGADOS NA AGRICULTURA
NA URSS
1938
1933 1934 1935 1936 1937 1938 comparado
a 1933 [%]
I. Número de tratores
(milhares)
a) em máquinas e estações
123,2 177,3 254,7 328,5 365,8 394,0 319,8
de trator
b) em fazendas estatais e
empreendimentos agrícolas 83,2 95,5 102,1 88,5 84,5 85,0 102,2
auxiliares
Total 210,9 276,4 360,3 422,7 454,5 483,5 229,3
II. Capacidade
(milhares. h.p.)
a) em máquinas e estações
1.758,1 2.753,9 4.281,6 5.856,0 6.679,2 7.437,0 423,0
de trator
b) em fazendas estatais e
empreendimentos agrícolas 1.401,7 1.669,5 1.861,4 1.730,7 1.647,5 1.751,8 125,0
auxiliares
Total 3.209,2 4.465,8 6.184,0 7.672,4 8.385,0 9.256,2 288,4
592 Obras Escolhidas
Tabela 7:
TOTAL DE COLHEITADEIRAS E OUTRAS MÁQUINAS
EMPREGADAS NA AGRICULTURA NA URSS
(em milhares; ao final do ano)
1938
1933 1934 1935 1936 1937 1938 comparado
a 1933 [%]
Colheitadeiras 24,5 32,3 50,3 87,8 128,8 153,5 604,3
Motores de combustão
48,0 60,9 69,1 72,4 77,9 83,7 174,6
interna e a vapor
Peneiras de grãos complexas
120,3 121,9 120,1 123,7 126,1 130,8 108,7
e semicomplexas
Motores de caminhão 26,6 40,3 63,7 76,2 144,5 195,8 736,1
Automóveis (unidades) 3.991 5.533 7.333 7.630 8.156 9.594 240,4
Tabela 8:
PRODUÇÃO BRUTA DE GRÃOS E SAFRAS INDUSTRIAIS NA URSS
(em centenas de milhões de kilogramas [centners])
1938
1913 1934 1935 1936 1937 1938 comparado
a 1933 [%]
Grãos 801,0 894,0 901,0 827,3 1.202,9 949,9 118,36
Algodão cru 7,4 11,8 17,2 23,9 25,8 26,9 363,5
Fibra de linho 3,3 5,3 5,5 5,8 5,7 5,46 165,5
Beterraba sacarina 109,0 113,6 162,1 168,3 218,6 166,8 153,0
Semente oleaginosa 21,5 35,9 42,7 42,3 51,1 46,3 216,7
Nesta tabela, pode-se ver que, apesar da seca nos distritos leste e sudeste em
1936 e 1938, e apesar da colheita sem precedentes em 1913, a produção bruta
de cereais e safras industriais durante o período em análise aumentou constan-
temente em comparação com 1913.
De particular interesse é a questão da quantidade de cereais comercializados
pelas fazendas coletivas e fazendas estatais em comparação com suas colheitas
brutas. O camarada Nemchinov, conhecido estatístico, calculou que de uma co-
lheita bruta de cereais de 5.000.000.000 de puds em tempos anteriores à guerra,
apenas cerca de 1.300.000.000 puds foram comercializados. Assim, a propor-
ção da produção comercializada da agricultura de cereais naquela época era de
26%. O camarada Nemchinov calcula que a proporção da produção comerciali-
zada para a colheita bruta nos anos 1926-27, por exemplo, foi de cerca de 47%
no caso da agricultura coletiva e estatal, que é a agricultura em grande escala,
e cerca de 12% no caso da agricultura camponesa individual. Se abordarmos o
assunto com mais cautela e assumirmos que a quantidade de produtos comerci-
alizados no caso da agricultura coletiva e estatal em 1938 seja de 40% da safra
bruta, descobriremos que no ano nossa agricultura socialista de cereais foi capaz
J. V. Stalin 593
Tabela 9:
TOTAL DE CABEÇAS DA PECUÁRIA NA URSS
(em MILHÕES)
Julho Julho Julho Julho Julho Julho 1938 comparado
1916
1933 1934 1935 1936 1937 1938 1916 1933
Cavalos 35,8 16,6 15,7 15,9 16,6 16,7 17,5 48,9 105,4
Gado 60,6 38,4 42,4 49,2 56,7 57,0 63,2 104,3 164,6
Ovelhas e bodes 121,2 50,2 51,9 61,1 73,7 81,3 102,5 84,6 204,2
Porcos 20,9 12,1 17,4 22,5 30,5 22,8 30,6 146,4 252,9
Não pode haver dúvida de que o atraso na criação de cavalos e ovelhas será
resolvido em um período bem curto.
c) Comércio e transporte: O progresso da indústria e da agricultura foi acom-
panhado pelo aumento do comércio do país. Durante o período em análise, o
número de lojas de varejo estatais e cooperativas aumentou 25%. O comércio
594 Obras Escolhidas
Tabela 10:
Comércio
1938
1933 1934 1935 1936 1937 1938 comparado
a 1933 [%]
Lojas de varejo estatais
e cooperativas e estandes 285.355 286.236 268.713 298.47 327.361 356.930 125,1
ao final do ano
Lojas de varejo estatais
e cooperativas, incluindo
49.789,2 61.814,7 81.712,1 106.760,9 125.943,2 138.574,3 278,3
alimentação pública
(em milhões de rublos)
Comércio em mercados
de fazendas coletivas 11.500,0 14.000,0 14.500,0 15.607,2 17.799,7 24.399,2 212,2
(em milhões de rublos)
Departamentos regionais
de atacado das Comissões
de Gente da Indústria
Alimentícia, Indústria
718 836 1.141 1.798 1.912 1.994 277,7
Leve, Indústria Pesada
e Indústria Local
da União das Repúblicas
ao final do ano
É óbvio que o comércio no país não poderia ter se desenvolvido dessa forma
sem um certo aumento na circulação de mercadorias. E, de fato, durante o pe-
ríodo em análise, o tráfego de carga aumentou em todos os ramos do transporte,
especialmente ferroviário e aéreo. Houve um aumento no frete marítimo tam-
bém, mas com flutuações consideráveis, e em 1938, é lamentável, houve até uma
queda no frete marítimo em comparação com o ano anterior.
A tabela 11 é a correspondente.
Tabela 11:
Tráfego de mercadorias
1938
1933 1934 1935 1936 1937 1938 comparado
a 1933 [%]
Ferrovias (em milhões
169.500 205.700 258.100 323.400 354.800 369.100 217,7
de ton-kilometros)
Transporte marítimo
e por rios(em milhões 50.200 56.500 68.300 72.300 70.100 66.000 131,5
de ton-kilometros)
Frota aérea cívil(em
3.100 6.400 9.800 21.900 24.900 31.700 1.055,6
milhões de ton-kilometros
Não pode haver dúvida de que o atraso no transporte marítimo será resolvido
até 1939.
povo.
A abolição da exploração e a consolidação do sistema econômico socialista,
a ausência de desemprego, com a pobreza que o acompanha, na cidade e no
campo, a enorme expansão da indústria e o crescimento constante do número
de trabalhadores, o aumento da produtividade do trabalho dos trabalhadores e
fazendeiros coletivos, a segurança da terra para fazendas coletivas em perpetui-
dade, e o grande número de tratores de primeira classe e máquinas agrícolas
fornecidas às fazendas coletivas – tudo isso criou condições efetivas para um novo
aumento no padrão de vida dos trabalhadores e camponeses.
Por sua vez, a melhoria do nível de vida dos operários e camponeses levou
naturalmente a uma melhoria do nível de vida da intelligentsia, que representa
uma força considerável em nosso país e serve aos interesses dos trabalhadores e
camponeses.
Agora não é mais uma questão de encontrar espaço na indústria para cam-
poneses desempregados e sem-teto que foram deixados à deriva de suas aldeias
e vivem com medo da fome – de lhes dar empregos por caridade.
Foi-se o tempo em que havia camponeses assim em nosso país. E isso é uma
coisa boa, claro, pois testemunha a prosperidade de nosso campo. Na verdade,
agora é uma questão de pedir às fazendas coletivas que atendam ao nosso pedido
e liberem, digamos, um milhão e meio de jovens fazendeiros anualmente para as
necessidades de nossa indústria em expansão.
As fazendas coletivas, que já se tornaram prósperas, devem ter em mente que,
se não conseguirmos essa ajuda deles, será muito difícil continuar a expansão de
nossa indústria, e se não expandirmos nossa indústria não seremos capaz de sa-
tisfazer a crescente demanda dos camponeses por bens de consumo. As fazendas
coletivas estão bastante capacitadas para atender a essa nossa demanda, pois a
abundância de maquinários nas fazendas coletivas libera uma parcela dos tra-
balhadores rurais, que, se transferidos para a indústria, poderiam prestar um
imenso serviço a toda a economia nacional.
Como resultado, temos os seguintes indícios de melhoria no padrão de vida
dos trabalhadores e camponeses durante o período em análise:
1. A renda nacional aumentou de 48.500.000.000 de rublos em 1933 para
105.000.000.000 de rublos em 1938;
2. O número de trabalhadores e outros empregados aumentou de pouco mais
de 22 milhões em 1933 para 28 milhões em 1938;
3. A folha de pagamento anual total dos trabalhadores e outros empregados
aumentou de 34.953.000.000 de rublos para 96.425.000.000 de rublos;
4. O salário médio anual dos trabalhadores industriais, que chegava a 1.513
rublos em 1933, aumentou para 3.447 rublos em 1938;
5. A renda monetária total das fazendas coletivas aumentou de 5.661.900.000
rublos em 1933 para 14.180.100.000 rublos em 1937;
6. A quantidade média de cereais recebidos por família de fazendeiros cole-
tivos nas regiões de cultivo de cereais aumentou de 61 puds em 1933 para 144
puds em 1937, excluindo sementes, estoques de sementes de emergência, forra-
gem para o gado de propriedade coletiva, entregas de cereais e pagamentos em
596 Obras Escolhidas
Tabela 12:
INCREMENTO NO NÍVEL CULTURAL
DO POVO
1933-34
1933-34 1938-39 comprado
a 1938-39 [%]
Número de aprendizes e estudantes
23.814 33.965,4 142,6
de todos os níveis (Milhares):
em escolas elementares (Milhares) 17.873,3 21.288,4 119,1
em escolas intermediárias (geral e especial)(Milhares) 5.482,2 12,076,0 220,3
em intituição de ensino superior (Milhares) 458,3 601,0 131,1
Numero de pessoas engajadas em todos
- 47.442,1 -
as formas de estudo na URSS (Milhares)
Número de bibliotecas públicas (Milhares) 40,3 70,7 173,7
Número de livros em bibliotecas públicas (Milhões) 86,0 126,6 147,2
Número de clubes (Milhares) 61,1 95,6 156,5
Número de teatros (unidades) 587 790 134,6
Número de instalações de cinemas(unidades): 27.467 30,461 110,9
com equipamento de som(unidades) 498 15.202 3.052,6
Número de instalações de cinema
17.470 18.991 108,7
nos distritos rurais (unidades):
com equipamento de som (unidades) 24 6.670 27.791,7
Circulação anual de jornais (milhões) 4.44984,6 7.092,4 142,3
Tabela 13:
NÚMEROS DE ESCOLAS CONSTRUÍDAS NA URSS ENTRE 1933-38
Em cidades e Em localidades
Total
aldeias rurais
1933 326 3.261 3.587
1934 577 3.488 4.065
1935 533 2.829 3.362
1936 1.505 4.206 5.711
1937 790 1.246 2.053
1938 583 1.246 1.829
Total(1933-38) 4.254 16.353 20.607
J. V. Stalin 597
Como resultado deste imenso trabalho cultural, uma numerosa nova intelec-
tualidade soviética surgiu em nosso país, uma intelectualidade que emergiu das
fileiras da classe trabalhadora, camponeses e empregados soviéticos, que é da
carne e do sangue de nosso povo, que nunca passou pelo jugo da exploração,
que odeia os exploradores e que está pronta a servir aos povos da URSS com
fidelidade e devoção.
Eu acho que a ascensão desta nova intelectualidade socialista do povo é um
dos resultados mais importantes da revolução cultural em nosso país.[Veja tabela
14 - Nota do Tradutor]
Tabela 14:
JOVENS ESPECIALISTAS GRADUADOS EM
INTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR EM 1933-1938
(em milhares)
1933 1934 1935 1936 1937 1938
Engenheiros para a indústria
6,1 14,9 29,6 29,2 27,6 25,2
e construção
Engenheiros para transportes
1,8 4,0 7,6 6,6 7,0 6,1
e comunicações
Engenheiros agrícolas, agrônomos,
4,8 6,3 8,8 10,4 11,3 10,6
veterinários e zootecnistas
Economistas e juristas 2,5 2,5 5,0 6,4 5,0 5,7
Professores de educação
intermediária, escolas técnicas
10,5 7,9 12,5 21,6 31,7 35,7
e outros tabaradores educacionais
incluindo trabalhadores da arte
Médicos, farmacêuticos e instrutores
4,6 2,5 7,5 9,2 12,3 18,6
de educação física
Outros especialistas 4,3 11,1 12,7 14,2 9,9 9,8
Total da URSS (excluindo especialistas
34,6 49,2 83,7 97,6 104,8 106,7
militares)
∗ ∗ ∗
III
intervalo entre estes dois congressos 600.000 novos membros aderiram ao Par-
tido.
O Partido não podia deixar de sentir que, nas condições prevalecentes em
1930-33, tal influxo em massa em suas fileiras era uma expansão doentia e in-
desejável de seus membros. O Partido sabia que suas fileiras estavam sendo uni-
das não só por pessoas honestas e leais, mas também por elementos do acaso e
carreiristas, que buscavam utilizar a insígnia do Partido para seus próprios fins
pessoais. O Partido não podia deixar de saber que sua força residia não apenas
no tamanho de seus membros, mas, acima de tudo, na qualidade de seus mem-
bros. Isso levantou a questão de regular a composição do Partido. Decidiu-se
continuar o expurgo de membros do Partido e membros candidatos iniciado em
1933; e os expurgos na verdade continuaram até maio de 1935. Foi ainda deci-
dido suspender a admissão de novos membros no Partido; e a admissão de novos
membros na verdade foi suspensa até setembro de 1936, a admissão de novos
membros foi retomada apenas em 1 de novembro de 1936. Além disso, em co-
nexão com o assassinato covarde do camarada Kirov, que mostrou que havia um
grande número de elementos suspeitos no Partido, decidiu-se proceder à veri-
ficação dos cadastros dos membros do Partido e à troca dos antigos cartões do
Partido por novos, ambas as medidas concluídas apenas em setembro de 1936.
Só depois disso foi retomada a admissão de novos membros e candidatos para o
Partido. Como resultado de todas essas medidas, o Partido conseguiu eliminar
de vez os elementos passivos, carreiristas e diretamente hostis, e selecionar as pes-
soas mais firmes e leais. Não se pode dizer que o expurgo não foi acompanhado
de graves erros. Infelizmente, ocorreram mais erros do que se poderia esperar.
Sem dúvida, não teremos mais necessidade de recorrer ao método de expurgos
em massa. No entanto, o expurgo de 1933-36 foi inevitável e seus resultados, no
geral, foram benéficos. O número de membros do Partido representados neste,
o XVIII Congresso, é de cerca de 1.600.000, ou seja, 270.000 a menos do que os
representados no XVII Congresso. Mas não há nada de ruim nisso. Pelo con-
trário, é muito bom, pois o Partido se fortalece livrando suas fileiras da escória.
Nosso Partido agora é um pouco menor em membros, mas, por outro lado, é
melhor em qualidade.
Essa é uma grande conquista.
No que diz respeito à melhoria da direção cotidiana do Partido, aproximando-
a do trabalho dos órgãos inferiores e tornando-o mais concreto, o Partido chegou
à conclusão de que a melhor maneira de facilitar aos órgãos do Partido a orien-
tação das organizações e de manter concreta, viva e prática a própria direção era
dividir as organizações, para diminuir seu tamanho. Tanto os Comissariados do
Povo como as organizações administrativas dos diversos divisões territoriais, ou
seja, as repúblicas da União, territórios, regiões, distritos, etc., foram divididos.
O resultado das medidas adotadas é que em vez de 7 Repúblicas da União, pas-
samos a ter 11; em vez de 14 Comissariados do Povo da URSS, agora temos 34;
em vez de 70 territórios e regiões, agora temos 110; em vez de 2.559 distritos
urbanos e rurais, agora temos 3.815. Correspondentemente, dentro do sistema
de órgãos dirigentes do Partido, temos agora 11 comitês centrais, chefiados pelo
Comitê Central do PCUS (B), 6 comitês territoriais, 104 comitês regionais, 30
comitês de área, 212 comitês municipais, 336 comitês distritais, 3.479 comitês
602 Obras Escolhidas
Existe, ainda, uma outro campo de trabalho do Partido, um campo muito im-
portante e muito respeitável, na qual o trabalho de fortalecimento do Partido e de
seus órgãos dirigentes se desenvolveu durante o período em análise. Refiro-me à
agitação e propaganda do Partido, oral e impressa, ao trabalho de formação dos
membros e quadros do Partido no espírito do marxismo-leninismo, ao trabalho
de elevação do nível político e teórico do Partido e dos seus trabalhadores.
Não é preciso insistir na importância fundamental da propaganda do Par-
tido, da formação marxista-leninista de nosso povo. Não me refiro apenas aos
funcionários do Partido. Refiro-me também aos trabalhadores da Liga dos Jo-
vens Comunistas, organizações sindicais, comerciais, cooperativas, econômicas,
estatais, educacionais, militares e outras. A tarefa de regular a composição do
Partido e de aproximar os órgãos dirigentes das atividades dos órgãos inferiores
pode ser organizada de maneira satisfatória; o trabalho de promoção, seleção e
alocação de quadros pode ser organizado de forma satisfatória; mas, com tudo
isso, se a propaganda do nosso Partido por um motivo ou outro fracassar, se a
formação marxista-leninista de nossos quadros começar a enfraquecer, se nosso
trabalho de elevação do nível político e teórico desses quadros se embandeirar
e os próprios quadros deixem por conta disso de mostrar interesse na perspec-
tiva de nosso progresso futuro, deixem de entender a verdade de nossa causa e
se transformem em vagabundos e sem perspectiva, cega e mecanicamente exe-
cutando instruções de cima – então todo o nosso Estado e trabalho do Partido
deve inevitavelmente definhar. Deve-se aceitar como axioma que quanto mais
alto o nível político e o conhecimento marxista-leninista dos trabalhadores em
qualquer ramo do trabalho estatal do Partido, melhor e mais fecundo será o tra-
balho em si, e mais eficazes serão os resultados do trabalho; e, vice-versa, quanto
mais baixo for o nível político dos trabalhadores, e quanto menos eles estiverem
imbuídos do conhecimento do marxismo-leninismo, maior será a probabilidade
de interrupção e fracasso no trabalho, de os próprios trabalhadores se tornarem
rasos e deteriorados em mesquinhos preguiçosos. Pode-se afirmar com segu-
rança que, se conseguíssemos formar ideologicamente os quadros de todos os
J. V. Stalin 605
teoria fornece apenas princípios gerais de orientação, que, em particular, são aplicados na
Inglaterra de forma diferente da França, na França de forma diferente da Alemanha e na
Alemanha de forma diferente da Rússia.” (Lenin, Obras Escolhidas, Edição Russa, Vol. II,
p. 492.)
tário. Ainda menos se segue que as formas de nosso Estado socialista devem
permanecer inalteradas, que todas as funções originais de nosso Estado devem
ser totalmente preservadas no futuro. De fato, as formas de nosso Estado estão
mudando e continuarão mudando de acordo com o desenvolvimento de nosso
país e com as mudanças na situação internacional.
Lenin estava absolutamente certo quando disse:
“As formas dos Estados burgueses são extremamente variadas, mas em essência são todas
iguais: de uma forma ou de outra, em última análise, todos esses Estados são inevitavelmente
a ditadura da burguesia. A transição do capitalismo para o comunismo certamente criará uma
grande variedade e abundância de formas políticas, mas sua essência será inevitavelmente a
mesma: a ditadura do proletariado”. (Lenin, Obras Escolhidas, Vol. VII, p. 34.)
Desde a Revolução de Outubro, nosso Estado socialista passou por duas fases
principais em seu desenvolvimento.
A primeira fase foi o período da Revolução de Outubro a eliminação das clas-
ses exploradoras.
A principal tarefa naquele período era suprimir a resistência das classes der-
rubadas, organizar a defesa do país contra os ataques dos intervencionistas, res-
taurar a indústria e a agricultura e preparar as condições para a eliminação dos
elementos capitalistas. Consequentemente, neste período nosso Estado desem-
penhou duas funções principais.
A primeira função era suprimir as classes derrubadas dentro do país. Nesse
aspecto, nosso Estado tinha uma semelhança superficial com os Estados anterio-
res cujas funções também tinham sido suprimir os recalcitrantes, com a diferença
fundamental, entretanto, que nosso Estado suprimiu a minoria exploradora no
interesse da maioria trabalhadora, enquanto os Estados anteriores suprimiram
os explorados maioria no interesse da minoria exploradora. A segunda função
era defender o país de ataques estrangeiros. Nesse aspecto, também tinha uma
semelhança superficial com os Estados anteriores, que também empreenderam
a defesa armada de seus países, com a diferença fundamental, porém, que nosso
Estado defendeu do ataque estrangeiro os ganhos da maioria operária, enquanto
os Estados anteriores nesses casos defendeu a riqueza e os privilégios da minoria
exploradora. Nosso Estado tinha ainda uma terceira função: era o trabalho de
organização econômica e educação cultural realizado por nossos órgãos do Es-
tado com o propósito de desenvolver os pueris impulsos do novo sistema econô-
mico socialista e reeducar o povo no espírito do socialismo. Mas esta nova função
não alcançou nenhum desenvolvimento considerável naquele período.
A segunda fase foi o período desde a eliminação dos elementos capitalistas na
cidade e no campo até a vitória total do sistema econômico socialista e a adoção
da nova Constituição.
A principal tarefa nesse período era estabelecer o sistema econômico socia-
lista em todo o país e eliminar os últimos resquícios dos elementos capitalistas,
realizar uma revolução cultural e formar um exército totalmente moderno para
a defesa do país. E as funções do nosso Estado socialista mudaram de acordo.
A função de repressão militar dentro do país cessou, morreu; pois a exploração
havia sido abolida, não havia mais exploradores e, portanto, não havia ninguém
para suprimir.
J. V. Stalin 611
∗ ∗ ∗
∗ ∗ ∗
Transmissão de rádio
03 de julho de 1941
Camaradas! Cidadãos!
Irmãos e irmãs!
Combatentes de nosso exército e da nossa marinha!
É a vós que me dirijo, meus amigos!
A pérfida invasão da Alemanha hitlerista contra a nossa Pátria, iniciada em
22 de junho, prossegue. A despeito dos esforços e da defesa heroica de Exér-
cito Vermelho e não obstante as melhores divisões e forças aéreas alemãs terem
sido destruídas e terem encontrado seu túmulo no campo de batalha, os alemães
continuam avançando e enviando novas unidades para a linha de frente.
O exército hitlerista conseguiu apossar-se da Lituânia, de grande parte da
Letônia, da Bielorrússia Ocidental e de setores da Ucrânia Ocidental. A aviação
fascista estende a área de ação de seus bombardeiros, tendo atingido Murmansk,
Orsha, Mohilev, Smolensk, Kiev, Odessa e Sebastópol. Grande ameaça paira
sobre o nosso país.
Como pôde acontecer que nosso famoso Exército Vermelho tenha perdido
para as tropas fascistas várias cidades e regiões? É possível que as tropas inimigas
sejam realmente invencíveis, como o trombeteiam sem descanso os propagandis-
tas fanfarrões fascistas?
É claro que não! A história mostra que exércitos invencíveis não existem e
nunca existiram. O exército de Napoleão dizia-se invencível, mas foi destruído
sucessivamente pelos exércitos russo, inglês e alemão. O exército alemão de Gui-
lherme no período da primeira guerra imperialista também se dizia invencível,
mas ele foi derrotado várias vezes pelos exércitos russo e anglo-francês e, final-
mente, destruído por este último. O mesmo deve-se dizer do atual exército fas-
cista de Hitler. Este exército ainda não encontrou uma oposição séria no resto
da Europa e somente se deparou com tal resistência em nosso território.
E se em meio a essa resistência, o nosso Exército Vermelho mostrou que as
melhores divisões do exército hitlerista podiam ser derrotadas, isso significa que
elas podem e serão destruídas, como o foram os exércitos de Napoleão e Gui-
lherme. O fato de que parte de nosso território, apesar disso, tenha sido tomada
pelas tropas fascistas alemãs, é explicado principalmente por a guerra da Alema-
nha fascista contra a União Soviética ter começado em condições vantajosas para
o exército alemão e desvantagens para o Exército Soviético.
É verdade que as tropas alemãs, tal como os países que conduzem a guerra,
já estavam totalmente mobilizadas e 170 divisões enviadas pela Alemanha con-
tra a União Soviética, que se aproximavam das nossas fronteiras, encontravam-se
em prontidão, à espera do sinal para a invasão, enquanto que os exércitos so-
viéticos ainda tinham de ser mobilizados e trazidos para as fronteiras. Não é de
menor importância o fato de que a Alemanha fascista tenha rompido, inesperada
e traiçoeiramente, o pacto de não-agressão assinado em 1939 entre ela e a União
J. V. Stalin 617
Soviética, sem contar que ela será considerada por todo o mundo como o país
agressor. Compreensivelmente do pacto, não pôde permanecer no caminho da
traição.
Pode-se perguntar como o Governo Soviético assinou um pacto de não-agressão
com pessoas tão traiçoeiras e monstruosas como Hitler e Ribbentrop. Não seria
o caso aqui de um erro cometido por parte do Governo Soviético? É claro que
não! O pacto de não-agressão é um acordo de paz entre dois Estados. Justamente
esse tipo de pacto nos foi oferecido pela Alemanha em 1939. Poderia o Governo
Soviético recusar tal oferta? Eu penso que nenhum Estado do mundo pode re-
cusar um acordo de paz com uma potência vizinha, se no comando da mesma
estão tiranos e canibais como Hitler e Ribbentrop. E isto, é claro, com a condi-
ção sine qua non de que o acordo de paz não esbarre direta ou indiretamente na
integridade territorial e a honra de um Estado pacífico. Como é sabido, o pacto
de não-agressão entre a Alemanha e a União soviética realizou-se nestes termos.
O que nós ganhamos assinando o pacto com a Alemanha? Nós garantimos
a paz para o nosso país por um ano e meio e a possibilidade de preparar nossas
forças para o revide, se a Alemanha fascista se arriscasse a nos atacar, apesar do
pacto. Isto foi uma vitória determinante para nós e uma derrota para a Alemanha
fascista.
O que ganhou e o que perdeu a Alemanha fascista ao romper traiçoeiramente
o pacto e invadir a União Soviética.
Ela conseguiu com isso algumas vitórias para os seus exércitos num curto
prazo, mas perdeu do ponto de vista político, sendo desmascarada aos olhos de
todo o mundo como um agressor sanguinário. Não pode haver dúvida de que
esta vitória militar momentânea da Alemanha consiste em apenas um episódio,
enquanto que o conjunto das vitórias políticas da União Soviética é um fator sério
e duradouro, na base do qual deverão se desdobrar os êxitos militares decisivos
do Exército Vermelho na luta contra a Alemanha fascista.
Eis porque todo o nosso heroico exército, toda a nossa destemida frota naval,
todos os nossos ases da aviação, todos os povos do nosso país, todas as pessoas
de bem da Europa, América e Ásia e, finalmente, todas as pessoas de bem da
Alemanha deploram as ações traiçoeiras dos fascistas alemães e dão seu apoio ao
Governo Soviético e se apercebem de que nossa causa é justa, que o inimigo será
destruído e que nós temos que vencer.
Com a força que nos é imposta pela guerra, nosso país entrou em confronto
mortal com seu inimigo mais perverso – o fascismo alemão. Nosso exército com-
bate heroicamente o inimigo armado até os dentes com tanques e aviões. O Exér-
cito Vermelho e a Marinha Vermelha superam as inúmeras dificuldades e batem-
se com determinação por cada milímetro da terra soviética. Entram em combate
as principais forças do Exército Vermelho, armadas com milhares de tanques e
aviões. A coragem dos soldados do Exército Vermelho é sem precedentes. Nossa
resistência ao inimigo endurece e se torna cada vez mais forte. Junto com o Exér-
cito Vermelho na defesa da nossa Pátria, levanta-se todo o povo soviético. O que
é necessário para que seja eliminado o perigo que ameaça a nossa Pátria e que
medidas devem ser tomadas para derrotar o inimigo?
Antes de mais nada, é necessário que o nosso povo, o povo soviético, compre-
618 Obras Escolhidas
enda a extensão do perigo que ameaça o nosso país e deixe de lado a indiferença,
o espírito de construção da paz, plenamente aceitáveis no período pré-guerra,
mas nocivos na época atual, quando a guerra mudou radicalmente a situação.
O inimigo é cruel e não perdoa. Ele leva adiante seu objetivo de ocupar nossas
terras regadas com nosso suor, de roubar nosso pão e nosso petróleo, conquis-
tados com nosso trabalho. Ele leva adiante a sua meta de restaurar o poder dos
latifundiários, de ressuscitar o tsarismo, de destruir a cultura nacional e os Es-
tados nacionais dos russos, ucranianos, bielorrussos, lituanos, letões, estonianos,
uzbeques, tártaros, moldávios, georgianos, armênios, azeris e outros povos livres
da União Soviética, de germanizá-las e transformá-las em escravos dos príncipes
e barões. Trata-se, como se vê, da vida ou morte do Estado Soviético, da vida ou
morte das nações da União Soviética, enfim, de continuarem sendo povos livres
deste país ou se tornar escravos. É necessário que o povo soviético compreenda,
deixe de ser passivo, se mobilize e oriente o seu trabalho para o esforço de guerra,
sem ficar à mercê do inimigo.
É indispensável, também, que nas nossas fileiras não haja lugar para quei-
xosos e covardes, para alarmistas e desertores, que o nosso povo não conheça o
medo em combate e vá para a nossa Guerra Patriótica de libertação contra os
escravizadores fascistas. O grande Lenin, que criou o nosso Estado, dizia que
as qualidades fundamentais dos soviéticos devem ser a coragem, a intrepidez, o
desconhecimento do medo em combate, o preparo para lutar junto com o povo
contra os inimigos da nossa Pátria. É necessário que esta qualidade magnífica do
bolchevique se torne patrimônio de milhões e milhões de indivíduos do Exército
Vermelho, da nossa Marinha Vermelha e de todos os povos da URSS.
Nós devemos rapidamente reorganizar todo nosso trabalho para o esforço
de guerra, tudo em função dos interesses do front e objetivando a derrota do
inimigo. Os povos da União Soviética percebem agora que não eliminaremos do
fascismo germânico a sua raiva e ódio contra a nossa Pátria que garante a todos
os trabalhadores emprego livre e bem-estar.
Os povos da União Soviética devem erguer-se na defesa dos seus direitos, da
sua terra contra o inimigo.
O Exército Vermelho, a Marinha Vermelha e todos os cidadãos da União
Soviética devem defender cada pedaço da terra soviética, lutar até a última gota
de sangue pelas nossas cidades e aldeias, mostrar coragem, iniciativa e ousadia,
próprios do nosso povo.
Nós devemos organizar toda a nação para ajudar o Exército Vermelho, garan-
tir o reforço de suas fileiras, garantir o seu abastecimento com o indispensável,
organizar um rápido sistema de transporte de tropas e carregamentos militares,
e uma ajuda ampla aos feridos.
Nós devemos fortalecer a retaguarda do Exército Vermelho, submetendo todo
o nosso trabalho nesse sentido, garantir o reforço do trabalho de todas as empre-
sas, produzir mais rifles, metralhadoras, canhões, cartuchos, projéteis, aviões,
organizar a proteção das fábricas, centrais elétricas, telefônicas e telegráficas, or-
ganizar a defesa antiaérea local. Nós devemos organizar uma luta implacável
contra todos desorganizadores da retaguarda, desertores, alarmistas, espalhado-
res de boatos, liquidar espiões, diversionistas, paraquedistas inimigos, prestando
J. V. Stalin 619
fendam a sua liberdade, a sua honra e a seu País na Guerra Patriótica contra o
fascismo alemão.
Para a mobilização rápida de todas as forças dos povos da URSS e a resistência
ao inimigo, que atacou traiçoeiramente a nossa Pátria, foi criado o Comitê Estatal
de Defesa, em cujas mãos está concentrado todo o poder governamental.
O Comitê Estatal de Defesa começou o seu trabalho e conclama a todo o
povo para cerrar fileiras em torno do partido de Lenin e Stalin, em torno do
Governo Soviético, a fim de se garantir o abnegado auxílio ao Exército Vermelho
e à Marinha para a derrota do inimigo e rumo à vitória.
Todas as nossas forças devem ser direcionadas para auxiliar os nossos heroicos
Exército e Marinha Vermelha!
Todas as nossas forças devem ser dispendidas para a derrota do inimigo!
Avante, pela nossa vitória!
J. V. Stalin 621
Discurso na reunião de
comemoração do Soviete de
Deputados do povo trabalhador e
do Partido de Moscou e
organizações públicas de Moscou
06 de novembro de 1941
guerra -por tempo. Agora, depois de quatro meses de guerra, devo enfatizar que
esse perigo não só não diminuiu, mas, ao contrário, até aumentou. O inimigo
tomou grande parte da Ucrânia, Bielorrússia, Moldávia, Lituânia, Letônia, Estô-
nia e uma série de outras regiões, abriu caminho para a Bacia de Donetz, paira
como uma nuvem negra sobre Leningrado e ameaça nossa gloriosa capital, Mos-
cou. Os invasores fascistas alemães estão saqueando nosso país, destruindo as
cidades e vilas criadas pelo trabalho dos trabalhadores, camponeses e intelectu-
ais. As hordas hitleristas estão assassinando e ultrajando os pacíficos habitantes
de nosso país, sem piedade das mulheres, crianças ou idosos. Nossos irmãos nas
regiões de nosso país conquistadas pelos alemães estão gemendo sob o jugo dos
opressores alemães.
Correntes de sangue inimigo foram derramadas pelos homens de nosso Exér-
cito e Marinha, que defendem a honra e a liberdade de nossa Pátria, vencendo
com coragem os ataques do inimigo bestial e exibindo exemplos de bravura e
heroísmo. Mas o inimigo para sem sacrifício, ele não se importa nem um pouco
com o sangue de seus soldados, ele lança em ação cada vez mais destacamentos
para substituir aqueles que foram destruídos, e está envidando todos os seus es-
forços para capturar Leningrado e Moscou antes do advento do inverno, pois ele
sabe que o inverno não é bom para ele.
Em quatro meses de guerra, perdemos 350.000 mortos, 378.000 desapare-
cidos e 1.020.000 feridos. No mesmo período, o inimigo já matou, feridos e
prisioneiros perderam mais de quatro milhões e meio de homens.
Não pode haver dúvida de que, como resultado de quatro meses de guerra, a
Alemanha, cujas reservas de força de trabalho já estão se esgotando, foi conside-
ravelmente mais enfraquecida do que a União Soviética, cujas reservas só agora
estão sendo totalmente mobilizadas.
Falha da ''Blitzkrieg''
Ao lançar seu ataque ao nosso país, os invasores fascistas alemães pensaram
que certamente seriam capazes de “acabar” com a União Soviética em um mês
e meio ou dois meses, e neste curto período conseguiriam chegar aos Urais. É
preciso dizer que os alemães não esconderam esse plano de vitória “relâmpago”.
Pelo contrário, eles anunciaram de todas as maneiras possíveis. Os fatos, entre-
tanto, demonstraram a absoluta irresponsabilidade e falta de fundamento desse
plano “relâmpago”. Agora, este plano louco deve ser considerado como tendo
finalmente falhado. (Aplausos.)
Como se pode explicar que a “blitzkrieg” que teve sucesso na Europa Ocidental
falhou e ruiu no Leste?
Com o que os estrategistas fascistas alemães contaram quando afirmaram que
acabariam com a União Soviética em dois meses e atingiriam os Urais neste curto
período?
Eles calcularam seriamente, em primeiro lugar, a criação de uma coalizão ge-
ral contra a URSS, o alistamento da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos nesta
coalizão, primeiro tendo assustado os círculos dirigentes desses países com o es-
pectro da revolução, e assim isolando completamente nosso país da outros po-
J. V. Stalin 623
deres. Os alemães sabiam que sua política de jogar com as contradições entre
as classes de Estados individuais, e entre esses Estados e o país soviético, já havia
produzido resultados na França, cujos governantes, tendo se deixado amedrontar
pelo espectro da revolução, em seu pavor, colocaram seu país aos pés de Hitler e
renunciaram a toda resistência. Os estrategistas fascistas alemães pensaram que
o mesmo ocorreria na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. O notório Hess foi de
fato enviado à Inglaterra pelos fascistas alemães precisamente para persuadir os
políticos ingleses a se juntarem à cruzada geral contra a URSS. Mas os alemães er-
raram gravemente nos cálculos. (Aplausos.) A Grã-Bretanha e os Estados Unidos,
apesar dos esforços de Hess, não apenas não aderiram à campanha dos invaso-
res fascistas alemães contra a URSS, mas, pelo contrário, mostraram-se unidos
à URSS contra a Alemanha hitlerista. A URSS não só não ficou isolada, mas,
ao contrário, conquistou novos aliados na forma da Grã-Bretanha, dos Estados
Unidos e de outros países ocupados pelos alemães. Acontece que a política alemã
de jogar com as contradições e intimidar por meio do espectro da revolução se
exauriu e não é mais adequada à nova situação. E não só é inadequado, mas tam-
bém representa um grande perigo para os invasores alemães, porque nas novas
condições da guerra leva a resultados diametralmente opostos.
Os alemães contavam, em segundo lugar, com a instabilidade do sistema so-
viético e a falta de confiabilidade da retaguarda soviética, calculando que após
o primeiro golpe sério e os primeiros reveses do Exército Vermelho estourariam
conflitos entre trabalhadores e camponeses, a dissensão Começando entre os
povos da URSS, iriam ocorrer revoltas e o país se desintegraria em suas partes
componentes – o que facilitaria o avanço dos invasores alemães até os Urais. Mas
aqui, também, os alemães calcularam gravemente mal. Os reveses do Exército
Vermelho não só não enfraqueceram como, pelo contrário, fortaleceram ainda
mais a aliança dos operários e camponeses, bem como a amizade dos povos da
URSS (Aplausos.) Além disso, converteram a família de povos da URSS em um
campo único e inabalável, apoiando abnegadamente seu Exército Vermelho e
sua Marinha Vermelha. Nunca antes a retaguarda soviética foi tão firme como
é hoje. (Vivos aplausos.) É bastante provável que qualquer outro Estado, tendo
sofrido perdas territoriais como as que temos agora, não tivesse resistido ao teste
e entrado em declínio. Se o sistema soviético passou por essa prova com tanto
sucesso e até fortaleceu sua retaguarda, isso significa que o sistema soviético é
agora o mais estável. (Intensos aplausos.)
Finalmente, os invasores alemães contaram com a fraqueza do Exército Ver-
melho e da Marinha Vermelha, acreditando que o exército alemão e a marinha
alemã teriam sucesso no primeiro golpe em esmagar e dispersar nosso exército
e marinha e abrindo caminho para um avanço sem oposição para o profundezas
do nosso país. Mas aqui também os alemães erraram gravemente os cálculos, su-
perestimando sua própria força e subestimando nosso exército e marinha. Claro,
nosso exército e nossa marinha ainda são jovens, estão lutando há quatro meses
ao todo, ainda não conseguiram se tornar totalmente experientes, ao passo que
são confrontados pelo experiente exército e marinha dos alemães, que já estão
travando guerra por dois anos. Mas, em primeiro lugar, o moral do nosso exér-
cito é mais alto do que o dos alemães, porque está defendendo sua terra natal de
invasores estrangeiros e acredita na justiça de sua causa, enquanto o exército ale-
624 Obras Escolhidas
mão está travando uma guerra agressiva e saqueando um país estrangeiro, sem
possibilidade de acreditar nem por um momento na justiça de sua vil causa. Não
pode haver dúvida de que a ideia de defender a própria terra natal – e é em nome
disso que nosso povo está lutando – está fadada a criar, e na verdade está criando
em nosso exército, heróis que estão cimentando o Exército Vermelho; ao passo
que a ideia de tomar e saquear um país estrangeiro – e é em nome disso que os
alemães estão de fato travando a guerra – está fadada a se reproduzir, e na ver-
dade está criando no exército alemão, saqueadores profissionais, desprovidos de
todos os princípios morais e corromper o exército alemão. Em segundo lugar,
avançando nas profundezas de nosso país, o exército alemão está se movendo
cada vez mais longe de sua própria retaguarda alemã, é forçado a operar em um
ambiente hostil, é forçado a criar uma nova retaguarda em um país estrangeiro,
uma retaguarda que está em ao mesmo tempo sendo interrompido por nossas
guerrilhas – tudo o que está desorganizando radicalmente o abastecimento do
exército alemão, forçando-o a temer sua própria retaguarda, e destruindo sua
fé na estabilidade de sua própria posição; Considerando que nosso exército está
operando em seu próprio ambiente nativo, desfruta do apoio constante de sua
própria retaguarda, garantiu suprimentos de homens, munições e alimentos e
tem uma fé profunda em sua retaguarda. É por isso que nosso exército provou
ser mais forte do que os alemães esperavam e o exército alemão mais fraco do
que se poderia esperar, a julgar pela autopropaganda orgulhosa dos invasores
alemães. A defesa de Leningrado e Moscou, onde nossas divisões recentemente
eliminaram cerca de vinte e cinco divisões alemãs experientes, mostra que no
fogo de nossa guerra patriótica estão sendo forjados, e já foram forjados, novos
combatentes e comandantes soviéticos, aviadores, artilheiros, equipes de mortei-
ros, tanques, soldados de infantaria e marinheiros, que amanhã se tornarão uma
ameaça mortal para o exército alemão. (Vivos aplausos.)
Não há dúvida de que todas essas circunstâncias, tomadas em conjunto, pre-
determinaram o inevitável fracasso da “blitzkrieg” no Oriente.
Tudo isso, claro, é verdade. Mas também é verdade que, ao lado desses fatores
favoráveis, há uma série de fatores desfavoráveis ao Exército Vermelho, como
resultado dos quais nosso exército está sofrendo reveses temporários, é obrigado
a recuar e a entregar uma série de regiões de nosso país ao inimigo.
Quais são esses fatores desfavoráveis? Quais são as razões para os reveses
militares temporários do Exército Vermelho?
Uma das razões para os reveses do Exército Vermelho é a ausência de uma se-
gunda frente na Europa contra as tropas fascistas alemãs. O fato é que atualmente
ainda não há exércitos da Grã-Bretanha ou dos Estados Unidos da América no
continente europeu para fazer guerra contra as tropas fascistas alemãs, com o
resultado que os alemães não são obrigados a se dissipar suas forças e para travar
a guerra em duas frentes, no Ocidente e no Oriente. Bem, o efeito disso é que
os alemães, considerando sua retaguarda no Oeste segura, podem mover todas
J. V. Stalin 625
as suas tropas e as tropas de seus aliados na Europa contra nosso país. A situação
atual é tal que o nosso país está a travar a guerra de libertação sozinho, sem qual-
quer assistência militar, contra as forças combinadas de alemães, finlandeses,
romenos, italianos e húngaros. Os alemães se orgulham de seus sucessos tempo-
rários e são pródigos nos elogios de seu exército, alegando que ele sempre pode
derrotar o Exército Vermelho em um único combate. Mas as reivindicações dos
alemães são vãs, pois é incompreensível por que, naquele caso, os alemães recor-
reram à ajuda dos finlandeses, romenos, italianos e húngaros contra o Exército
Vermelho, que está lutando absolutamente sozinho, sem qualquer ajuda militar
de fora. Não há dúvida de que a ausência de uma segunda frente na Europa
contra os alemães facilita consideravelmente a posição do exército alemão. Mas
também não pode haver dúvida de que o surgimento de uma segunda frente
no continente europeu - e isso deve aparecer inquestionavelmente em um fu-
turo próximo (Fortes aplausos.) – irá essencialmente amenizar a situação do nosso
exército em detrimento do exército alemão.
A outra razão para a reversão temporária de nosso exército é a falta de um
número adequado de tanques e, em parte, de aeronaves. Na guerra moderna, é
muito difícil para a infantaria lutar sem tanques e sem proteção adequada para
aeronaves. Nossa aviação é superior em qualidade à dos alemães, e nossos valen-
tes aviadores se cobriram de glória como lutadores destemidos. (Aplausos.) Mas
ainda temos menos aeronaves do que os alemães. Nossos tanques são superiores
em qualidade aos tanques alemães, e nossos gloriosos homens-tanque e artilhei-
ros mais de uma vez colocaram em fuga as alardeadas tropas alemãs, com seus
numerosos tanques. (Aplausos.) Mas ainda temos várias vezes menos tanques do
que os alemães. É aí que reside o segredo dos sucessos temporários do exército
alemão. Não se pode dizer que nossa indústria de construção de tanques está
funcionando mal e abastecendo nossa frente com poucos tanques. Não, ela está
funcionando muito bem e produzindo vários tanques excelentes. Mas os alemães
estão produzindo consideravelmente mais tanques, pois agora têm à sua dispo-
sição não apenas sua própria indústria de construção de tanques, mas também
a indústria da Tchecoslováquia, Bélgica, Holanda e França. Não fosse por esta
circunstância, o Exército Vermelho teria há muito esmagado o exército alemão,
que não vai para a batalha sem tanques e não pode resistir aos golpes de nossas
tropas se não tiver superioridade nos tanques. (Aplausos.)
Só há uma maneira de anular a superioridade dos alemães em tanques e, as-
sim, melhorar radicalmente a posição de nosso exército. Desta forma, não só
aumentar várias vezes a produção de tanques em nosso país, mas também au-
mentar drasticamente a produção de aeronaves antitanque, rifles e canhões anti-
tanque, granadas e morteiros antitanque e construir mais trincheiras antitanque
e qualquer outro tipo de obstáculo antitanque.
Aqui está nossa tarefa atual.
Podemos cumprir essa tarefa e devemos cumpri-la a todo custo!
626 Obras Escolhidas
Nossas tarefas
A dissolução da Internacional
Comunista - resposta ao
correspondente da Reuters
28 de maio de 1943
lho pela primeira vez na guerra conseguiu realizar uma grande ofensiva de verão
contra as tropas alemãs, e sob os golpes de nossas forças as tropas fascistas ale-
mãs foram forçadas apressadamente desistir do território por eles apreendido,
salvando-se não raro do cerco pela fuga e abandonando no campo de batalha
enormes quantidades de material de guerra, estoques de armamentos e muni-
ções e grande número de oficiais e soldados feridos.
Assim, os sucessos da nossa campanha de verão no segundo semestre deste
ano continuaram e coroaram os sucessos alcançados na nossa campanha de in-
verno no início deste ano.
Agora, quando o Exército Vermelho, desenvolvendo os sucessos da campanha
de inverno, infligiu um golpe poderoso nas tropas alemãs no verão, é possível
considerar como finalmente morto e enterrado o conto de fadas de que o Exér-
cito Vermelho é incapaz de conduzir um ofensiva bem-sucedida no verão. O ano
passado mostrou que o Exército Vermelho pode avançar tanto no verão quanto
no inverno.
No decorrer do ano passado, como resultado dessas operações ofensivas, nos-
sas tropas conseguiram abrir caminho a partir de 500 km na parte central da
frente e até 1.300 km no sul (Aplausos), liberando quase 1.000.000 km² de terri-
tório, ou seja, quase dois terços do solo soviético temporariamente tomado pelo
inimigo, enquanto as tropas inimigas eram rechaçadas de Vladikavkaz a Kher-
son, de Elista a Krivoi Rog, de Stalingrado a Kiev, de Voronezh a Gomel, de
Vyazma e Rzhev aos acessos de Orsha e Vitebsk.
Sem acreditar na estabilidade de seus sucessos anteriores na frente soviético-
alemã, os alemães já, por um longo período, construíram poderosas zonas de
defesa, especialmente ao longo dos grandes rios. Mas nas batalhas deste ano, nem
rios nem fortificações poderosas salvaram os alemães. Nossas tropas destruíram
as defesas alemãs e, em apenas três meses do verão de 1943, forçaram habilmente
quatro barreiras de água importantes – Donets do Norte, Desna, Sozh e Dnieper.
Nem mesmo menciono barreiras como as defesas alemãs na área do rio Mius, a
oeste de Rostov, e as defesas na área do rio Molochnaya, perto de Melitopol. No
momento, o Exército Vermelho está vencendo com sucesso o inimigo do outro
lado do Dnieper.
Este ano marcou um ponto de inflexão também porque o Exército Vermelho
foi capaz, em um tempo comparativamente curto, de esmagar os mais experien-
tes quadros veteranos das tropas fascistas alemãs e, ao mesmo tempo, fortalecer
e multiplicar seus próprios quadros em batalhas ofensivas bem-sucedidas no de-
correr do ano. Nas batalhas na frente soviético-alemã durante o ano passado, o
exército fascista alemão perdeu mais de 4.000.000 oficiais e soldados, incluindo
não menos de 1.800.000 mortos. Além disso, durante este ano os alemães per-
deram mais de 14.000 aviões, mais de 25.000 tanques e não menos de 40.000
armas.
O exército fascista alemão hoje não é o que era no início da guerra. Enquanto
na eclosão da guerra ele tinha um número suficiente de quadros experientes,
agora foi diluído com oficiais recém formados, jovens e inexperientes que os
alemães estão atirando às pressas para a frente, já que eles não têm nem a reserva
necessária de oficiais, nem a hora de treiná-los.
J. V. Stalin 635
truir linhas de defesa e “muros” e proclamaram para que todos ouvissem que suas
novas posições eram inexpugnáveis. Mas aqui novamente o Exército Vermelho
perturbou os cálculos dos alemães, rompeu suas linhas de defesa e “paredes” e
continuou avançando com sucesso, não lhes dando tempo para arrastar a guerra.
Os alemães contavam com a retificação da situação na frente por meio de uma
mobilização “total”. Mas aqui, também, os eventos perturbaram os cálculos dos
alemães. A campanha de verão já consumiu dois terços dos mobilizados “total-
mente”. No entanto, não parece que esta circunstância tenha trazido qualquer
melhoria na posição do exército fascista alemão. Pode ser necessário proclamar
mais uma mobilização “total”, e não há razão para que a repetição de tal medida
não resulte no colapso “total” de um determinado Estado. (Vivos aplausos.)
Os alemães contavam com a manutenção de um domínio firme sobre a Ucrâ-
nia, a fim de se beneficiarem da produção agrícola ucraniana para seu exército
e população, e do carvão de Donbass para as fábricas e ferrovias que serviam
ao exército alemão. Mas aqui também eles calcularam mal. Como resultado da
bem-sucedida ofensiva do Exército Vermelho, os alemães perderam não apenas
o carvão de Donbass, mas também as regiões produtoras de cereais mais ricas
da Ucrânia, e não há razão para supor que eles não perderão também o resto
da Ucrânia futuro muito próximo. (Vivos aplausos.) Naturalmente, todos esses
erros de cálculo não podiam deixar de piorar, e de fato pioraram radicalmente,
a posição econômica e político-militar da Alemanha fascista.
A Alemanha fascista está passando por uma crise profunda. Ela está enfren-
tando um desastre.
lado com a luta heroica do Exército Vermelho e o feito sem paralelo do povo em
defesa de sua pátria. (Longos aplausos.)
Os trabalhadores da União Soviética, que nos anos de construção pacífica
construíram nossa poderosa indústria socialista altamente desenvolvida, durante
a Guerra Patriótica trabalharam com intenso zelo e energia para ajudar a frente,
exibindo verdadeiro heroísmo trabalhador.
Todos sabem que na guerra contra a URSS os hitleristas tiveram à sua disposi-
ção não apenas a indústria altamente desenvolvida da Alemanha, mas também as
indústrias bastante poderosas dos países vassalos e ocupados. No entanto, os hi-
tleristas não conseguiram manter a superioridade quantitativa em equipamento
militar que possuíam no início da guerra contra a União Soviética. Se a antiga
superioridade do inimigo em relação ao número de tanques, aviões, morteiros
e rifles automáticos já foi liquidada, se nosso exército hoje não passa por gra-
ves faltas de armas, munições e equipamentos, o crédito por isso é devido, no
primeiro lugar, à nossa classe trabalhadora. (Salva de palmas.)
Os camponeses da União Soviética, que nos anos de construção pacífica com
base no sistema de fazendas coletivas transformaram uma agricultura atrasada
em uma agricultura avançada, demonstraram durante a Guerra Patriótica um
alto grau de consciência do interesse nacional comum sem paralelo no história
do campo. Com trabalho abnegado para ajudar a frente, eles mostraram que
o campesinato soviético considera a guerra atual contra os alemães como sua
própria causa, uma guerra por sua própria vida e liberdade.
É bem sabido que, como resultado da invasão das hordas fascistas, nosso país
foi temporariamente privado dos importantes distritos agrícolas da Ucrânia, o
Don e o Kuban. Mesmo assim, nossas fazendas coletivas e estatais abasteciam o
exército e o país com alimentos sem nenhuma interrupção séria. É claro que, sem
o sistema de fazendas coletivas, sem o trabalho abnegado dos homens e mulheres
nas fazendas coletivas, não poderíamos ter superado essa tarefa tão difícil. Se no
terceiro ano de guerra o nosso exército não passa por falta de alimentos, e se a
população se abastece de alimentos e da indústria com matérias-primas, isso é
uma prova da força e vitalidade do sistema de fazendas coletivas, do patriotismo
de o campesinato da fazenda coletiva. (Aplausos prolongados.)
Uma grande parte da ajuda à frente tem sido desempenhada pelo nosso trans-
porte, principalmente por transporte ferroviário, e também por transporte flu-
vial, marítimo e automóvel. Como é sabido, o transporte é o meio vital de co-
nectar a parte traseira e a dianteira. Pode-se produzir grandes quantidades de
armas e munições, mas se o transporte não os entregar no front a tempo, eles
podem permanecer como carga inútil no que diz respeito ao front. Deve-se dizer
que o transporte desempenha um papel decisivo na entrega oportuna de armas
e munições, alimentos, roupas e assim por diante. Se apesar das dificuldades dos
tempos de guerra e da escassez de combustível, temos podido abastecer a frente
com tudo o que é necessário, o crédito vai primeiro para os nossos trabalhadores
dos transportes e logística. (Aplausos prolongados.)
Nem nossa intelectualidade fica atrás da classe trabalhadora e do campesinato
em sua ajuda à frente. A intelligentsia soviética está trabalhando com devoção pela
defesa de nosso país, melhorando continuamente os armamentos do Exército
638 Obras Escolhidas
de verão. É claro que as operações atuais dos exércitos aliados no sul da Europa
ainda não podem ser consideradas uma segunda frente. Mas ainda é algo na na-
tureza de uma segunda frente. Obviamente, a abertura de uma segunda frente
real na Europa, que não está longe, apressaria consideravelmente a vitória sobre
a Alemanha hitlerista e consolidaria ainda mais a camaradagem de armas dos
países aliados.
Assim, os acontecimentos do ano passado mostram que a coalizão anti-hitlerista
é uma união firme dos povos e assenta em bases sólidas. A essa altura, é óbvio
para todos que, ao desencadear a guerra atual, a camarilha hitlerista levou a Ale-
manha e seus satélites a um impasse sem esperança. As derrotas das tropas fascis-
tas na frente soviético-alemã e os golpes de nossos Aliados nas tropas ítalo-alemãs
abalaram todo o edifício do bloco fascista, que agora está desmoronando diante
de nossos olhos. A Itália abandonou irrevogavelmente a coalizão hitlerista. Mus-
solini nada pode mudar, pois na verdade ele é um prisioneiro dos alemães. Em
seguida, vem a vez dos demais participantes da coalizão. Finlândia, Hungria,
Romênia e outros vassalos de Hitler, desencorajados pelas derrotas militares da
Alemanha, agora finalmente perderam a fé de que o resultado da guerra será
favorável a eles e estão ansiosos para encontrar uma saída do atoleiro em que
Hitler arrastou-os. Agora que chegou a hora de responder por seu saque, os
cúmplices de Hitler e da Alemanha no saque, mas recentemente tão obedientes
ao seu mestre, estão agora em busca de um momento favorável para se afastar
despercebido do bando de ladrões. (Risos.)
Ao entrarem na guerra, os sócios do bloco hitlerista contavam com uma vitória
rápida. Já haviam decidido quem receberia o quê – quem ficaria com os pudins
e as tortas, quem ficaria com os hematomas e os olhos roxos. É claro que eles
pretendiam os hematomas e os olhos roxos para seus adversários e os pudins e
tortas para eles próprios. Mas agora está claro que a Alemanha e seus lacaios não
receberão pudins e tortas, mas terão que compartilhar os hematomas e os olhos
roxos. (Risos e aplausos.)
Prevendo essa perspectiva nada atraente, os cúmplices de Hitler agora estão
quebrando a cabeça para encontrar uma saída da guerra com o mínimo de he-
matomas e olhos roxos possíveis. (Risos.)
O exemplo da Itália mostra aos vassalos de Hitler que quanto mais eles adiam
sua ruptura inevitável com os alemães e permitem que eles sejam o senhor em
seus Estados, quanto maior a devastação reservada para seus países, maiores os
sofrimentos que seus povos terão de suportar. O exemplo da Itália também mos-
tra que a Alemanha hitlerista não tem a menor intenção de defender seus países
vassalos, mas pretende convertê-los em um cenário de guerra devastadora, se
apenas ela puder adiar a hora de sua própria derrota.
A causa do fascismo alemão está perdida, e a sanguinária “Nova Ordem” que
ele estabeleceu está se aproximando do colapso. Nos países ocupados da Europa,
uma explosão de ira do povo contra os escravos fascistas está se desenvolvendo. O
antigo prestígio da Alemanha nos países de seus aliados e nos países neutros está
perdido além da recuperação; e seus laços econômicos e políticos com Estados
neutros foram minados.
Já se foi o tempo em que a camarilha hitlerista fez um grande barulho sobre
J. V. Stalin 641
∗ ∗ ∗
Ordem do Supremo
Comandante-em-Chefe nº 309
07 de novembro de 1943
povos.
É verdade que o Exército alemão, mesmo agora, defende-se com afinco, agar-
rando-se a cada palmo de chão. Mas as derrotas que os alemães sofreram, desde
a destruição de suas unidades em Stalingrado, quebraram o espírito de luta de
seu exército. Agora, ante a ameaça de serem cercados por nossos exércitos, os
alemães fogem, deixando para trás, no campo de batalha, seus equipamentos e
soldados feridos.
As vitórias do Exército Vermelho fortaleceram ainda mais a posição inter-
nacional da União Soviética. O nosso exército foi auxiliado, em suas ofensivas,
pelas ações militares dos exércitos aliados no Norte da África, no sul da Itália e
em suas ilhas. A aviação dos nossos aliados realizou uma série de bombardeios
sobre os centros industriais da Alemanha. Não há dúvida de que os golpes des-
feridos pelo Exército Vermelho contra as tropas alemãs a partir do Leste, com o
apoio das principais forças dos aliados a partir do Oeste, levarão à aniquilação
da Alemanha hitlerista e à vitória total da coalizão anti-hitlerista.
O Exército Vermelho não conquistaria grandes vitórias este ano sem a ajuda
do nosso povo no front. O povo soviético dedicou todas as suas forças à ajuda
ao seu exército, enviando ao front uma torrente interminável de armamentos,
munições, víveres e equipamentos. Os Urais e a bacia de Kuznets, Moscou e a
região do Volga, Leningrado e Baku, Cazaquistão e Uzbequistão, Geórgia e Ar-
mênia, todas as nossas repúblicas e regiões tornaram-se um arsenal possante do
Exército Vermelho. O povo soviético reconstrói, com habilidade, as indústrias
e regiões agrícolas reconquistadas aos alemães, põe para funcionar fábricas, mi-
nas e ferrovias, restabelece sovkhozes e Kolkhozes e coloca os recursos das regiões
libertadas a serviço do front.
Nossos êxitos são realmente grandes. Mas, seria ingenuidade contentar-se
com o que foi alcançado. Agora que o Exército Vermelho combate o inimigo
pelo Dnieper e avança para as fronteiras ocidentais do nosso país, seria parti-
cularmente perigoso rejubilar-se e subestimar as sérias dificuldades do combate
que ainda está por vir. O inimigo lutará agora, furiosamente, por cada pedaço
do território que conquistou, pois a cada avanço do nosso exército, aproxima-se
o momento da vingança contra os alemães pelos crimes praticados por eles em
nossa terra.
A luta pela vitória final sobre os invasores fascistas alemães exige do exército
e do povo esforços ainda maiores e novas proezas.
Camaradas soldados e marinheiros vermelhos, sargentos, oficiais e generais,
guerrilheiros e guerrilheiras!
Nas grandes batalhas com o inimigo, vocês conquistaram significativas vitó-
rias, cobrindo a bandeira de combate do Exército Vermelho e da Marinha de
guerra de glória eterna. O Exército Vermelho e a Marinha de Guerra têm agora
toda possibilidade de, em breve, libertar totalmente a terra soviética dos inva-
sores alemães. Em nome da vitória de nossa Pátria sobre os tiranos fascistas,
ORDENO:
A todos os soldados e sargentos, aperfeiçoar, sem descanso, sua habilidade
combativa, cumprindo rigorosamente os regulamentos, conselhos e ordens dos
superiores, manter continuamente e em todas as partes uma ordem exemplar,
J. V. Stalin 645
Ordem do Supremo
Comandante-em-Chefe nº 220
07 de novembro de 1944
21 de abril de 1945
Mas as coisas não se limitam a isso. O presente Tratado também tem grande
importância internacional. Enquanto não houvesse aliança entre nossos países,
a Alemanha foi capaz de aproveitar a ausência de uma frente unida entre nós,
ela poderia opor a Polônia à União Soviética e vice-versa, e assim derrotá-los
um de cada vez. As coisas mudaram radicalmente depois que a aliança entre
nossos países tomou forma. Agora não é mais possível opor nossos países uns
aos outros. Agora existe uma frente única entre nossos países, do Báltico aos
Cárpatos, contra o inimigo comum, contra o imperialismo alemão. Agora, pode-
se dizer com segurança que a agressão alemã é cercada pelo Oriente. Sem dúvida,
se esta barreira no Oriente for complementada por uma barreira no Ocidente,
ou seja, pela aliança entre nossos países e nossos Aliados no Ocidente, pode-se
dizer com segurança que a agressão alemã será contida, e que não será fácil para
correr solto.
Não admira, portanto, que as nações amantes da liberdade, e em primeiro lu-
gar as nações eslavas, aguardem com impaciência a conclusão deste Tratado, pois
veem que este Tratado significa um fortalecimento da frente única das Nações
Unidas contra o inimigo comum na Europa.
Portanto, não tenho dúvidas de que nossos Aliados no Ocidente darão as
boas-vindas a este Tratado.
Que a Polônia livre, independente e democrática viva e prospere!
Que seu vizinho oriental – nossa União Soviética – viva e prospere!
Viva a aliança e a amizade entre nossos países!
J. V. Stalin 651
Discurso da Vitória
Transmissão de Moscou às 20h (horário de Moscou)
9 de maio de 1945
Ao Primeiro-Ministro da Mongólia
29 de agosto de 1945
Agradeço de todo o coração os seus parabéns pela vitória total sobre os agres-
sores japoneses e por sua vez, os parabenizo pela vitória.
O Governo Soviético reconhece com gratidão que o Exército Revolucionário
do Povo da Mongólia, lutando lado a lado com o Exército Vermelho, deu uma
contribuição inestimável para a causa comunal da derrota do imperialismo japo-
nês.
Estou certo de que no futuro a União Soviética e o Exército Revolucionário
do Povo da Mongólia independente também caminharão de mãos dadas na luta
contra os inimigos de nossos países, pelo bem-estar de nossos povos.
J. Stalin
Comandante-em-Chefe Supremo
Marechal da União Soviética
Pravda,
29 de agosto de 1945
654 Obras Escolhidas
França e Estados Unidos, e apoiado neles, voltou a atacar nosso país, ocupou o
Extremo Oriente e por quatro anos atormentou nosso povo e saqueou o Extremo
Oriente soviético.
E isso não é tudo. Em 1938, o Japão voltou a atacar o nosso país, na região
do Lago Hasan, perto de Vladivostok, com o objetivo de cercar Vladivostok; e no
ano seguinte o Japão repetiu seu ataque em outro lugar, na região da República
Popular da Mongólia, perto de Khalkin-gol, com o objetivo de invadir o território
soviético, cortando nossa Ferrovia Siberiana e separando o Extremo Oriente da
Rússia.
É verdade que os ataques do Japão nas regiões de Hasan e Khalkin-gol foram
liquidados pelas tropas soviéticas, para extrema humilhação dos japoneses. A
intervenção militar japonesa em 1918-1922 foi liquidada com igual sucesso e os
invasores japoneses foram expulsos de nossas regiões do Extremo Oriente. Mas a
derrota das tropas russas em 1904 durante a Guerra Russo-Japonesa deixou me-
mórias amargas nas mentes de nosso povo. Parecia uma mancha negra em nosso
país. Nosso povo acreditou e esperou pelo dia em que o Japão seria derrotado
e a mancha apagada. Nós, da geração mais velha, esperamos por este dia por
quarenta anos e agora este dia chegou. Hoje o Japão admitiu a derrota e assinou
um ato de rendição incondicional.
Isso significa que a parte sul de Sakhalin e as Ilhas Curilas reverteram para
a União Soviética e, doravante, servirão não como uma barreira entre a União
Soviética e o oceano e como uma base para o ataque japonês ao nosso Extremo
Oriente, mas como um meio direto de comunicação entre a União Soviética e o
oceano e uma base de defesa do nosso país contra a agressão japonesa.
Nosso povo soviético não poupou forças nem trabalho em nome da vitória.
Passamos por anos extremamente difíceis. Mas agora cada um de nós pode dizer:
Vencemos. Doravante, podemos considerar nosso país livre da ameaça da invasão
alemã no oeste e da invasão japonesa no leste. A tão esperada paz para os povos
de todo o mundo chegou.
Parabenizo vocês, meus queridos compatriotas e camponesas, por esta grande
vitória, pelo término bem-sucedido da guerra e pela instauração da paz em todo
o mundo!
Glória às Forças Armadas da União Soviética, Estados Unidos da América,
China e Grã-Bretanha que conquistaram a vitória sobre o Japão!
Glória às nossas tropas do Extremo Oriente e à nossa Frota do Pacífico, que
defendeu a honra e dignidade do nosso país!
Glória ao nosso grande povo, o povo vitorioso!
Glória eterna aos heróis que caíram lutando pela honra e vitória de nosso
país! Que nosso país floresça e prospere!
656 Obras Escolhidas
13 de março de 1946
fato de que a União Soviética, desejando garantir sua segurança no futuro, pro-
cura alcançar uma situação em que esses países tenham governos mantendo uma
atitude amigável para com a União Soviética? Como pode alguém que não enlou-
queceu descrever essas aspirações pacíficas da União Soviética como tendências
expansionistas de nosso Estado?
O Sr. Churchill afirma ainda que “o governo polonês de domínio russo foi
encorajado a fazer enormes incursões injustas sobre a Alemanha”.
Aqui, cada palavra é uma calúnia rude e ofensiva. A atual Polônia demo-
crática é guiada por homens notáveis. Eles provaram por atos que são capazes
de defender os interesses e a dignidade de sua pátria de uma maneira que seus
predecessores não eram capazes. Que fundamentos tem o Sr. Churchill para
afirmar que os líderes da atual Polônia podem permitir a “dominação” de re-
presentantes de quaisquer Estados estrangeiros em seu país? Não é porque o Sr.
Churchill pretende semear as sementes da discórdia nas relações entre a Polônia
e a União Soviética que ele calunia “os russos” aqui?
O Sr. Churchill está descontente com o fato de que a Polônia mudou sua
política de amizade e aliança com a URSS. Houve um tempo em que elementos
de conflito e contradição prevaleciam nas relações entre a Polônia e a URSS que
forneciam aos estadistas do tipo de Churchill a oportunidade de jogar com essas
contradições, de colocar as mãos na Polônia sob o pretexto de protegê-la dos
russos, para intimidar a Rússia com o espectro da guerra entre ela e a Polônia,
e para reservar para eles a posição de árbitros. Mas esse tempo já passou, pois a
inimizade entre a Polônia e a Rússia cedeu lugar à amizade entre elas, enquanto
a Polônia, a atual Polônia democrática, não quer mais ser jogada como uma bola
por estrangeiros. Parece-me que é exatamente essa circunstância que irrita o Sr.
Churchill e o leva a ataques rudes e sem tato contra a Polônia. Não é brincadeira:
ele não tem permissão para jogar às custas de outra pessoa.
No que diz respeito ao ataque do Sr. Churchill à União Soviética em conexão
com a extensão da fronteira ocidental da Polônia em territórios poloneses toma-
dos pelos alemães no passado, aqui, parece-me, ele está obviamente agindo. É
bem sabido que a decisão sobre a fronteira ocidental da Polônia foi adotada na
Conferência de Berlim das Três Potências com base nas demandas da Polônia. A
União Soviética afirmou repetidamente que considera as exigências da Polônia
corretas e justas. É bem provável que o Sr. Churchill não goste dessa decisão.
Mas por que o Sr. Churchill, embora sem poupar flechas contra a posição dos
russos neste assunto, esconde de seus leitores o fato de que a decisão foi adotada
na Conferência de Berlim por unanimidade, que não apenas os russos, mas tam-
bém os britânicos e os americanos votou nesta decisão? Por que o Sr. Churchill
precisava enganar as pessoas?
O Sr. Churchill afirma ainda que “os partidos comunistas, que antes eram
muito pequenos em todos esses Estados do leste da Europa, foram elevados à
proeminência e ao poder muito além de seu número e buscam em todos os luga-
res obter o controle totalitário. Governos policiais prevalecem em quase todos os
casos, e até agora, exceto na Tchecoslováquia, não existe uma verdadeira demo-
cracia.”
É bem sabido que na Grã-Bretanha o Estado é agora governado por um par-
662 Obras Escolhidas
Coexistência, cooperação
américo-soviética, energia atômica,
Europa
(Trecho da entrevista com Harold Stassen)
09 de abril de 1947
pitalista e perigo de ataque a URSS. Se uma das partes não deseja cooperar, isso
significa que existe uma ameaça de ataque. E, na verdade, a Alemanha, não de-
sejando cooperar com a URSS, atacou a URSS. A URSS poderia ter cooperado
com a Alemanha? Sim, a URSS poderia ter cooperado com a Alemanha, mas os
alemães não queriam cooperar. Caso contrário, a URSS poderia ter cooperado
com a Alemanha como com qualquer outro país. Como você vê, isso diz respeito
à esfera do desejo e não à possibilidade de cooperação. É necessário fazer uma
distinção entre a possibilidade; de cooperar e o desejo de cooperar. A possi-
bilidade de cooperação sempre existe, mas nem sempre está presente o desejo
de cooperar. Se uma das partes não deseja cooperar, o resultado será conflito,
guerra.
Stassen: Deve ser mútuo.
Stalin: Sim. Quero prestar testemunho de que a Rússia deseja cooperar.
Stassen: Gostaria de apontar, com referência à sua declaração anterior, que
havia uma grande diferença entre a Alemanha e os Estados Unidos na época em
que a Alemanha começou a guerra.
Stalin: Havia uma diferença no governo, mas nenhuma diferença nos sistemas
econômicos. O governo foi um fator temporário.
Stassen: Não concordo. Sim, havia uma diferença de sistemas econômicos
também. O imperialismo, o desenvolvimento do monopólio estatal e a opressão
dos trabalhadores são os males do capitalismo praticado pelos nazistas. Parece-
me que tivemos sucesso na América em evitar o monopólio do capitalismo e a
tendência imperialista, e que os trabalhadores fizeram mais progresso com o uso
da força de seu voto e de sua liberdade do que Karl Marx ou Friedrich Engels
pensaram que poderiam fazer. E esta regulamentação do capital livre e a pre-
venção do monopólio e da liberdade dos trabalhadores na América tornam a
situação econômica bastante diferente daquela que existia na Alemanha.
Stalin: Não vamos criticar mutuamente nossos sistemas. Todos têm o direito
de seguir o sistema que desejam manter. Qual é o melhor será dito pela história.
Devemos respeitar os sistemas escolhidos pelo povo, e se o sistema é bom ou
ruim é assunto do povo americano. Para cooperar, não são necessários os mesmos
sistemas. Deve-se respeitar o outro sistema quando aprovado pelo povo. Somente
nesta base podemos garantir a cooperação. Só que, se criticarmos, isso nos levará
longe demais.
Quanto a Marx e Engels, eles foram incapazes de prever o que aconteceria
quarenta anos após sua morte. Mas devemos aderir ao respeito mútuo pelas
pessoas. Algumas pessoas chamam o sistema soviético de totalitário. Nosso povo
chama o sistema americano de capitalismo monopolista. Se começarmos a xingar
uns aos outros com as palavras monopolista e totalitário, não haverá cooperação.
Devemos partir do fato histórico de que existem dois sistemas aprovados pelo
povo. Somente nessa base a cooperação é possível. Se nos distrairmos com críti-
cas, isso é propaganda.
Quanto à propaganda, não sou um propagandista, mas um homem de negó-
cios. Não devemos ser sectários. Quando as pessoas desejam mudar os sistemas,
elas o farão. Quando nos encontramos com Roosevelt para discutir as questões
da guerra, não xingávamos uns aos outros. Estabelecemos cooperação e conse-
666 Obras Escolhidas
Paz na Coréia
(Resposta ao Primeiro Ministro da Índia, Pandit Jawaharlal Nehru, em cone-
xão com suas propostas para assentar os representantes do Governo Popular da
China no Conselho de Segurança da ONU e a “cessação do conflito” na Coreia)
15 de julho de 1950
12 de outubro de 1948
06 de outubro de 1951
Problemas econômicos do
socialismo na URSS
(Aos participantes da discussão econômica)
28 de setembro de 1952
Alguns camaradas negam o caráter objetivo das leis da ciência, e das leis da
economia política em particular, sob o socialismo. Eles negam que as leis da
economia política refletem processos governados por leis que operam indepen-
dentemente da vontade do homem. Eles acreditam que, em vista do papel espe-
cífico atribuído ao Estado soviético pela história, o Estado soviético e seus líderes
podem abolir as leis existentes de economia política e podem “formar”, “criar”
novas leis.
Esses camaradas estão profundamente enganados. É evidente que eles con-
fundem as leis da ciência, que refletem processos objetivos na natureza ou na
sociedade, processos que ocorrem independentemente da vontade do homem,
com as leis que são emitidas pelos governos, que são feitas pela vontade do ho-
mem, e que têm apenas validade jurídica. Mas eles não devem ser confundidos.
O marxismo considera as leis da ciência – sejam elas leis da ciência natural
ou da economia política – como o reflexo de processos objetivos que ocorrem
independentemente da vontade do homem. O homem pode descobrir essas leis,
conhecê-las, estudá-las, considerá-las em suas atividades e utilizá-las no interesse
da sociedade, mas não pode mudá-las ou aboli-las. Muito menos pode ele formar
ou criar novas leis da ciência.
Isso significa, por exemplo, que os resultados da ação das leis da natureza,
os resultados da ação das forças da natureza, são geralmente inevitáveis, que a
ação destrutiva das forças da natureza sempre e em toda parte prossegue com um
elemental e poder inexorável que não cede à influência do homem? Não, não
tem. Deixando de lado processos astronômicos, geológicos e outros semelhantes,
674 Obras Escolhidas
que o homem realmente não tem poder de influenciar, mesmo que tenha conhe-
cido as leis de seu desenvolvimento, em muitos outros casos o homem está muito
longe de ser impotente, no sentido de poder influenciar os processos da natureza.
Em todos esses casos, tendo vindo a conhecer as leis da natureza, contando com
elas e contando com elas, e aplicando-as e utilizando-as de forma inteligente, o
homem pode restringir sua esfera de ação e pode dar uma direção diferente às
forças destrutivas da natureza e converter para o uso da sociedade.
Para dar um dos vários exemplos. Antigamente, o transbordamento de gran-
des rios, enchentes e a consequente destruição de casas e plantações eram consi-
derados uma calamidade inevitável, contra a qual o homem era impotente. Mas
com o passar do tempo e o desenvolvimento do conhecimento humano, quando o
homem aprendeu a construir represas e usinas hidroelétricas, tornou-se possível
proteger a sociedade da calamidade das enchentes que antes pareciam inevitável.
Mais, o homem aprendeu a conter as forças destrutivas da natureza, a aproveitá-
las, por assim dizer, a converter a força da água para o uso da sociedade e a
utilizá-la para a irrigação dos campos e a geração de energia.
Isso significa que o homem, com isso, aboliu as leis da natureza, as leis da
ciência, e criou novas leis da natureza, novas leis da ciência? Não, não tem. O
fato é que todo esse procedimento de afastar a ação das forças destrutivas da
água e de utilizá-las no interesse da sociedade ocorre sem qualquer violação,
alteração ou abolição das leis científicas ou a criação de novas leis científicas. Ao
contrário, todo esse procedimento é efetuado em conformidade precisa com as
leis da natureza e as leis da ciência, uma vez que qualquer violação, mesmo a
mais leve, das leis da natureza só perturbaria as coisas e tornaria o procedimento
fútil.
O mesmo deve ser dito das leis do desenvolvimento econômico, as leis da eco-
nomia política - seja no período do capitalismo ou no período do socialismo.
Aqui, também, as leis do desenvolvimento econômico, como no caso das ciências
naturais, são leis objetivas, refletindo processos de desenvolvimento econômico
que ocorrem independentemente da vontade do homem. O homem pode desco-
brir essas leis, conhecê-las e, com base nelas, utilizá-las no interesse da sociedade,
dar uma direção diferente à ação destrutiva de algumas das leis, restringir sua
esfera de ação e permitir um escopo mais amplo a outras leis que estão forçando
seu caminho para a frente; mas ele não pode destruí-los ou criar novas leis econô-
micas.
Uma das características distintivas da economia política é que suas leis, ao
contrário das ciências naturais, são impermanentes, que elas, ou pelo menos a
maioria delas, operam por um período histórico definido, após o qual dão lugar
a novas leis. No entanto, essas leis não são abolidas, mas perdem sua validade
devido às novas condições econômicas e saem de cena para dar lugar a novas
leis, leis que não são criadas pela vontade do homem, mas que surgem das novas
condições econômicas.
Faz-se referência ao Anti-Dühring de Engels, à sua fórmula que diz que, com
a abolição do capitalismo e a socialização dos meios de produção, o homem ob-
terá o controle de seus meios de produção, que será libertado do jugo das relações
sociais e econômicas e se tornar o “senhor” de sua vida social. Engels chama essa
J. V. Stalin 675
minho para a vanguarda nos países capitalistas. Se até agora ele não conseguiu
abrir caminho à força, é porque está encontrando uma forte resistência por parte
de forças obsoletas da sociedade. Aqui temos outra característica distintiva das
leis econômicas. Ao contrário das leis das ciências naturais, onde a descoberta
e aplicação de uma nova lei ocorre mais ou menos suavemente, a descoberta e
aplicação de uma nova lei no campo econômico, afetando os interesses de for-
ças obsoletas da sociedade, encontra-se com o a mais poderosa resistência de sua
parte. Uma força, uma força social, capaz de superar essa resistência, é necessá-
ria. Em nosso país, tal força era a aliança da classe operária e do campesinato,
que representava a esmagadora maioria da sociedade. Não existe tal força ainda
em outros países capitalistas. Isso explica o segredo por que o governo soviético
foi capaz de esmagar as velhas forças da sociedade, e por que em nosso país a lei
econômica de que as relações de produção devem necessariamente conformar-se
com o caráter das forças produtivas recebeu todo o alcance.
Diz-se que a necessidade de um desenvolvimento equilibrado (proporcional)
da economia nacional em nosso país permite ao governo soviético abolir as leis
econômicas existentes e criar novas. Isso é absolutamente falso. Nossos planos
anuais e quinquenais não devem ser confundidos com a lei econômica objetiva
do desenvolvimento equilibrado e proporcional da economia nacional. A lei do
desenvolvimento equilibrado da economia nacional surgiu em oposição à lei da
competição e da anarquia da produção sob o capitalismo. Surgiu da socializa-
ção dos meios de produção, depois que a lei da concorrência e a anarquia da
produção perderam sua validade. Tornou-se operacional porque uma economia
socialista só pode ser conduzida com base na lei econômica do desenvolvimento
equilibrado da economia nacional. Isso significa que a lei do desenvolvimento
equilibrado da economia nacional permite que nossos órgãos de planejamento
planejem corretamente a produção social. Mas a possibilidade não deve ser con-
fundida com a realidade. São duas coisas diferentes. Para transformar a possibili-
dade em realidade, é necessário estudar esta lei econômica, dominá-la, aprender
a aplicá-la com plena compreensão e a compilar planos que reflitam plenamente
os requisitos desta lei. Não se pode dizer que os requisitos desta lei econômica
estão plenamente refletidos em nossos planos anuais e quinquenais.
Diz-se que algumas das leis econômicas que operam em nosso país sob o socia-
lismo, incluindo a lei do valor, foram “transformadas”, ou mesmo “radicalmente
transformadas”, com base na economia planejada. Isso também não é verdade.
As leis não podem ser “transformadas”, ainda menos “radicalmente” transfor-
madas. Se eles podem ser transformados, eles podem ser abolidos e substituídos
por outras leis. A tese de que as leis podem ser “transformadas” é uma relíquia
da fórmula incorreta de que as leis podem ser “abolidas” ou “formadas”. Em-
bora a fórmula de que as leis econômicas podem ser transformadas já exista em
nosso país há muito tempo, ela deve ser abandonada por uma questão de preci-
são. A esfera de ação desta ou daquela lei econômica pode ser restringida, sua
ação destrutiva – isto é, se é passível de ser destrutiva - pode ser evitada, mas não
pode ser “transformada” ou “abolida”.
Dessa forma, quando falamos em “subjugar” as forças naturais ou econômicas,
em “dominá-las”, etc., isso não significa que o homem possa “abolir” ou “formar”
leis científicas. Pelo contrário, significa apenas que o homem pode descobrir as
J. V. Stalin 677
trabalho dos trabalhadores pudesse render “maiores resultados”, não são abertas.
Se fosse assim, seria incompreensível que os trabalhadores não sejam trans-
feridos de fábricas menos lucrativas, mas muito necessárias à nossa economia
nacional, para fábricas mais lucrativas – de acordo com a lei do valor, que su-
postamente regula as “proporções” do trabalho distribuído entre os ramos de
produção.
Obviamente, se fôssemos seguir o exemplo desses camaradas, deveríamos dei-
xar de dar primazia à produção de meios de produção em favor da produção de
artigos de consumo. E qual seria o efeito de deixar de dar primazia à produção
dos meios de produção? O efeito seria destruir a possibilidade de expansão contí-
nua de nossa economia nacional, pois a economia nacional não pode se expandir
continuamente sem dar primazia à produção dos meios de produção.
Esses camaradas esquecem que a lei do valor pode ser um regulador da pro-
dução apenas no capitalismo, com propriedade privada dos meios de produção
e competição, anarquia de produção e crises de superprodução. Esquecem-se de
que em nosso país a esfera de atuação da lei do valor é limitada pela proprie-
dade social dos meios de produção e pela lei do desenvolvimento equilibrado da
economia nacional, e, consequentemente, também é limitada por nossas planos
anuais, que são um reflexo aproximado dos requisitos desta lei.
Alguns camaradas concluem daí que a lei do desenvolvimento harmônico da
economia nacional e a planificação econômica anulam o princípio da rentabi-
lidade da produção. Isso é totalmente falso. É justamente o contrário. Se a
rentabilidade for considerada não do ponto de vista de fábricas ou indústrias in-
dividuais, e não ao longo de um período de um ano, mas do ponto de vista de toda
a economia nacional e ao longo de um período de, digamos, dez ou quinze anos,
que é a única abordagem correta dessa questão, então a rentabilidade temporária
e instável de algumas fábricas ou indústrias está abaixo de qualquer comparação
com aquela forma superior de lucratividade estável e permanente que obtemos
da operação da lei de desenvolvimento harmônico da economia nacional e da
planificação econômica, que nos salvam de crises econômicas periódicas que per-
turbam a economia nacional e causam tremendos danos materiais à sociedade,
e que garantem um contínuo e elevado ritmo de expansão de nossa economia
nacional.
Em poucas palavras: não pode haver dúvida de que, nas atuais condições so-
cialistas de produção, a lei do valor não pode ser um “regulador das proporções”
da distribuição do trabalho entre os vários ramos da produção.
2) Bens pessoais da família da fazenda coletiva: Seria errado dizer, como faz
o rascunho do livro, que “cada família em uma fazenda coletiva tem para uso
pessoal uma vaca, pequenos rebanhos e aves”. Na verdade, como sabemos, não
é para uso pessoal, mas como propriedade pessoal que o agregado familiar da
fazenda coletiva tem sua vaca, pequenos animais, aves, etc. A expressão “para
uso pessoal” foi evidentemente retirada das Regras Modelo do Artel Agrícola. Mas
um erro foi cometido nas Regras Modelo do Artel Agrícola. A Constituição da URSS,
que foi redigida com mais cuidado, coloca isso de forma diferente, diz:
“Cada família em uma fazenda coletiva ... tem como sua propriedade pessoal uma lavoura
subsidiária no terreno, uma casa de habitação, gado, aves e pequenos implementos agrícolas.”
3) Renda total paga pelos camponeses aos proprietários; também as despesas to-
tais com a compra de terras: O rascunho do livro texto diz que, como resultado
da nacionalização da terra, “o campesinato foi liberado do pagamento de aluguel
aos proprietários de um total de cerca de 500 milhões de rublos anualmente” (de-
veria ser rublos de “ouro”). Este valor deve ser verificado, porque me parece que
não inclui o aluguel pago em toda a Rússia, mas apenas na maioria das gubernias
russas. Deve-se ter em mente que em algumas das regiões fronteiriças da Rússia
o aluguel era pago em espécie, fato que os autores do projeto de livro eviden-
temente negligenciaram. Além disso, deve-se lembrar que os camponeses foram
liberados não apenas do pagamento do aluguel, mas também das despesas anuais
com a compra de terras. Isso foi levado em consideração no rascunho do livro
didático? Parece-me que não; mas deveria ter sido.
5) Uso de maquinário na URSS: O rascunho do livro texto diz que “na URSS as
máquinas são usadas em todos os casos, quando economizam o trabalho da soci-
edade”. Isso não é de forma alguma o que deve ser dito. Em primeiro lugar, as
máquinas na URSS sempre economizam o trabalho da sociedade e, portanto, não
sabemos de nenhum caso na URSS em que não tenham economizado o trabalho
da sociedade. Em segundo lugar, as máquinas não apenas economizam trabalho;
eles também aliviam o trabalho do trabalhador e, consequentemente, em nossas
condições, em contraposição às condições do capitalismo, os trabalhadores usam
as máquinas nos processos de trabalho com a maior avidez.
Deve-se dizer, portanto, que em nenhum lugar as máquinas são utilizadas com
tanta boa vontade como na URSS, porque economizam o trabalho da sociedade
e aliviam o trabalho do trabalhador, e, como não há desemprego na URSS, os
trabalhadores usam as máquinas no país. economia com a maior ansiedade.
8) Deve haver um capítulo especial no livro didático sobre Lenin e Stalin como
os fundadores da economia política do socialismo? Eu acho que o capítulo, “A
Teoria Marxista do Socialismo. Fundação da Economia Política do Socialismo
por V. I. Lenin e J. V. Stalin” deveria ser excluído do livro. É totalmente desne-
cessário, uma vez que não acrescenta nada e apenas reitera sem cor o que já foi
dito com mais detalhes nos capítulos anteriores do livro.
Quanto às outras questões, não tenho comentários a fazer sobre as “propostas”
dos camaradas Ostrovityanov, Leontyev, Shepilov, Gatovsky, e demais.
J. V. Stalin 697
Camarada Notkin,
Não tive pressa em responder, porque não vi urgência nas questões que le-
vantou. Ainda mais porque há outras questões urgentes e que naturalmente
desviaram a atenção de sua carta.
Vou responder ponto por ponto.
O primeiro ponto.
Há uma declaração nas “observações” no sentido de que a sociedade não é
impotente contra as leis da ciência, que o homem, conhecendo as leis econômi-
cas, pode utilizá-las no interesse da sociedade. Você afirma que este postulado
não pode ser estendido a outras formações sociais, que é válido apenas sob o
socialismo e comunismo, que o caráter elementar dos processos econômicos sob
o capitalismo, por exemplo, torna impossível para a sociedade utilizar as leis
econômicas no interesse de sociedade.
Isso não é verdade. Na época da revolução burguesa na França, por exemplo,
a burguesia utilizou contra o feudalismo a lei de que as relações de produção
devem necessariamente estar de acordo com o caráter das forças produtivas, der-
rubou as relações feudais de produção, criou novas relações burguesas de pro-
dução, e os colocou em conformidade com o caráter das forças produtivas que
haviam surgido no seio do sistema feudal. A burguesia fez isso não por causa
de quaisquer habilidades particulares que possuía, mas porque estava vitalmente
interessada em fazê-lo. Os senhores feudais resistiram a isso não por estupidez,
mas porque estavam vitalmente interessados em impedir que essa lei se tornasse
efetiva.
O mesmo deve ser dito da revolução socialista em nosso país. A classe tra-
J. V. Stalin 699
tivas sob o socialismo. As forças produtivas são as forças de produção mais móveis
e revolucionárias. Eles inegavelmente avançam nas relações de produção, mesmo
no socialismo. Só depois de um certo lapso de tempo as relações de produção
mudam de acordo com o caráter das forças produtivas.
Como, então, as palavras “conformidade total” devem ser entendidas? Devem
ser entendidos como significando que sob o socialismo as coisas geralmente não
chegam a um conflito entre as relações de produção e as forças produtivas, que
a sociedade está em posição de tomar medidas oportunas para trazer as relações
de produção atrasadas em conformidade com o caráter das forças produtivas.
A sociedade socialista está em condições de fazê-lo porque não inclui as classes
obsoletas que podem organizar a resistência. É claro que mesmo sob o socialismo
haverá forças retrógradas e inertes que não percebem a necessidade de mudar as
relações de produção; mas eles, é claro, não serão difíceis de superar sem trazer
o assunto para um conflito.
O terceiro ponto.
Resulta do seu argumento que você considera os meios de produção e, em
primeiro lugar, os implementos de produção produzidos por nossas empresas
nacionalizadas, como mercadorias.
Os meios de produção podem ser considerados mercadorias em nosso sistema
socialista? Na minha opinião, certamente não podem.
Uma mercadoria é um produto que pode ser vendido a qualquer comprador
e, quando o seu proprietário o vende, perde a propriedade e o comprador passa
a ser o proprietário da mercadoria, que pode revender, penhorar ou deixar apo-
drecer. Os meios de produção entram nesta categoria? Obviamente, não. Em
primeiro lugar, os meios de produção não são “vendidos” a nenhum comprador,
não são “vendidos” nem mesmo a fazendas coletivas; eles só são alocados pelo Es-
tado às suas empresas. Em segundo lugar, ao transferir meios de produção para
qualquer empresa, o seu proprietário – o Estado – não perde de forma alguma
a propriedade deles; pelo contrário, ele o retém totalmente. Em terceiro lugar,
os dirigentes das empresas que recebem meios de produção do Estado soviético,
longe de se tornarem seus proprietários, são considerados agentes do Estado na
utilização dos meios de produção de acordo com os planos por ele estabelecidos.
Ver-se-á, então, que em nosso sistema os meios de produção certamente não
podem ser classificados na categoria de mercadorias.
Por que, nesse caso, falamos de valor dos meios de produção, seu custo de
produção, seu preço, etc.?
Por duas razões.
Em primeiro lugar, é necessário para efeitos de cálculo e liquidação, para de-
terminar se as empresas estão a pagar ou com prejuízo, para verificar e controlar
as empresas. Mas esse é apenas o aspecto formal da questão.
Em segundo lugar, é necessário para, no interesse de nosso comércio exte-
rior, realizar vendas de meios de produção a países estrangeiros. Aqui, na esfera
do comércio exterior, mas apenas nesta esfera, nossos meios de produção são
realmente mercadorias, e realmente são vendidos (no sentido direto do termo).
Segue-se, portanto, que na esfera do comércio exterior os meios de produção
J. V. Stalin 701
ploração dos recursos mundiais pelos principais países capitalistas (EUA, Grã-
Bretanha, França) começou a se contrair, o caráter cíclico do desenvolvimento
do capitalismo – expansão e contração de produção – deve continuar a operar.
No entanto, a expansão da produção nesses países continuará em bases mais es-
treitas, uma vez que o volume de produção nesses países diminuirá.
O sétimo ponto.
A crise geral do sistema capitalista mundial começou no período da Primeira
Guerra Mundial, principalmente devido ao afastamento da União Soviética do
sistema capitalista. Essa foi a primeira etapa da crise geral. Uma segunda etapa
da crise geral se desenvolveu no período da Segunda Guerra Mundial, especial-
mente depois que as democracias populares europeia e asiática se afastaram do
sistema capitalista. A primeira crise, no período da Primeira Guerra Mundial, e
a segunda crise, no período da Segunda Guerra Mundial, não devem ser consi-
deradas como crises separadas, desconexas e independentes, mas como estágios
do desenvolvimento da crise geral de o sistema capitalista mundial.
A crise geral do capitalismo mundial é apenas política ou apenas econômica?
Nem um, nem o outro. É uma crise geral, ou seja, global do sistema capitalista
mundial, abrangendo tanto a esfera econômica quanto a política. E é claro que no
fundo está a decadência cada vez maior do sistema econômico capitalista mun-
dial, por um lado, e o poder econômico crescente dos países que se afastaram do
capitalismo – a URSS, a China e outras democracias populares – por outro.
J. Stalin
21 de abril de 1952
Quanto aos erros do camarada L. D. Yaroshenko
Há algum tempo, os membros do Bureau Político do CC do PCUS (B) rece-
beram uma carta do camarada Yaroshenko, de 20 de março de 1952, sobre uma
série de questões econômicas que foram debatidas na discussão de novembro. O
autor da carta reclama que os documentos básicos que resumem a discussão e
as “observações” do camarada Stalin “não contêm qualquer reflexo da opinião”
do camarada Yaroshenko. O camarada Yaroshenko também sugere em sua nota
que lhe seja permitido escrever uma “Economia Política do Socialismo”, a ser
concluída em um ano ou um ano e meio, e que lhe sejam dados dois assistentes
para ajudá-lo no trabalho.
Penso que tanto a reclamação do camarada Yaroshenko como a sua proposta
devem ser examinadas quanto ao mérito.
Vamos começar com a queixa.
Pois bem, qual é a “opinião” do camarada Yaroshenko que não recebeu qual-
quer reflexão nos documentos acima mencionados?
Isso significa que toda formação social, sociedade socialista não excluída, tem
seu fundamento econômico, consistindo na soma total das relações de produção
dos homens. O que, pergunta-se, acontece à base econômica do sistema socialista
com o camarada Yaroshenko? Como sabemos, o camarada Yaroshenko já acabou
com as relações de produção no socialismo como uma esfera mais ou menos inde-
pendente, e incluiu o pouco que resta delas na organização das forças produtivas.
O sistema socialista, pergunta-se, tem sua própria base econômica? Obviamente,
visto que as relações de produção desapareceram como um fator mais ou me-
nos independente sob o socialismo, o sistema socialista ficou sem fundamento
econômico.
Em suma, um sistema socialista sem fundamento econômico. Uma situação
bastante engraçada...
É possível um sistema social sem base econômica? O camarada Yaroshenko
evidentemente acredita que sim. O marxismo, porém, acredita que tais sistemas
sociais não ocorrem na natureza.
Não é verdade, por fim, que o comunismo significa a organização racional
das forças produtivas, que a organização racional das forças produtivas é o iní-
cio e o fim do sistema comunista, que basta organizar racionalmente as forças
produtivas, e o a transição para o comunismo ocorrerá sem dificuldade particu-
lar. Há em nossa literatura outra definição, outra fórmula do comunismo – a
fórmula de Lenin: “O comunismo é o domínio soviético mais a eletrificação de
todo o país”.292 A fórmula de Lenin evidentemente não agrada ao camarada
Yaroshenko, e ele a substitui por sua própria fórmula caseira: “O comunismo é
a mais alta organização científica das forças produtivas na produção social”.
Em primeiro lugar, ninguém sabe o que representa esta organização “cien-
tífica superior” ou “racional” das forças produtivas que o camarada Yaroshenko
anuncia, qual é o seu significado concreto. Em seus discursos no Plenário e
nos painéis de trabalho da discussão, e em sua carta aos membros do Bureau
Político, o camarada Yaroshenko reitera essa fórmula mítica dezenas de vezes,
mas em nenhum lugar ele diz uma única palavra para explicar como o “deve ser
compreendida a organização racional” das forças produtivas, que supostamente
constitui o início e o fim da essência do sistema comunista.
Em segundo lugar, se se deve fazer uma escolha entre as duas fórmulas, então
não é a fórmula de Lenin, que é a única correta, que deve ser descartada, mas
291 Karl Marx, Prefácio a Uma contribuição para a crítica da economia política, Obras escolhidas de
Karl Marx e Friedrich Engels, ed. ing., Moscou, 1951, Vol. I, pp. 328-29.
292 V. I. Lenin, “Nosso posicionamento estrangeiro e doméstico e as tarefas do partido”, Obras Com-
rus.
J. V. Stalin 711
É óbvio que aqui, nesta questão, o camarada Yaroshenko está em sintonia com
Bukharin.
Além disso, o camarada Yaroshenko declara que em sua “Economia Política
do Socialismo”, “as categorias da economia política - valor, mercadoria, dinheiro,
crédito, etc., - são substituídas por uma discussão saudável da organização racio-
nal das forças produtivas no social produção”, que, consequentemente, o objeto
de investigação desta economia política não serão as relações de produção do
socialismo, mas “a elaboração e desenvolvimento de uma teoria científica da or-
ganização das forças produtivas, teoria do planejamento econômico, etc., “e que,
sob o socialismo, as relações de produção perdem seu significado independente
e são absorvidas pelas forças produtivas como parte integrante delas.
Deve-se dizer que nunca antes nenhum “marxista” retrógrado se livrou de
uma baboseira tão profana. Imagine uma economia política do socialismo sem
problemas econômicos de produção! Essa economia política existe em algum
lugar da criação? Qual é o efeito, em uma economia política do socialismo, de
substituir os problemas econômicos por problemas de organização das forças pro-
dutivas? O efeito é abolir a economia política do socialismo. E isso é exatamente
o que o camarada Yaroshenko faz – ele abole a economia política do socialismo.
Nesse sentido, sua posição zomba totalmente da de Bukharin. Bukharin disse que
com a eliminação do capitalismo, a economia política também seria eliminada.
O camarada Yaroshenko não diz isso, mas o faz; ele abole a economia política
do socialismo. É verdade que ele finge não concordar totalmente com Bukharin;
mas isso é apenas um truque, e um truque barato. Na verdade, ele está fazendo
o que Bukharin pregou e contra o que Lenin se levantou em armas. O camarada
Yaroshenko está seguindo os passos de Bukharin.
Além disso, o camarada Yaroshenko reduz os problemas da economia política
do socialismo a problemas de organização racional das forças produtivas, a pro-
blemas de planejamento econômico etc. Mas ele está profundamente errado. A
organização racional das forças produtivas, o planejamento econômico, etc., não
são problemas de economia política, mas problemas de política econômica dos
órgãos dirigentes. São duas províncias diferentes, que não devem ser confundi-
297 Friedrich Engels, “Anti-Dühring”, ed. ing., Moscou, 1954, p. 209.
712 Obras Escolhidas
das. O camarada Yaroshenko confundiu essas duas coisas diferentes e fez uma
bagunça terrível. A economia política investiga as leis de desenvolvimento das
relações de produção dos homens. A política econômica tira conclusões práticas
disso, dá-lhes uma forma concreta e constrói seu trabalho diário com base nelas.
Impor à economia política problemas de política econômica é eliminá-la como
ciência.
A província da economia política é a produção, as relações econômicas dos
homens. Inclui: a) as formas de propriedade dos meios de produção; b) a situ-
ação dos vários grupos sociais em produção e suas inter-relações que decorrem
dessas formas, ou o que Marx chama de: “eles trocam suas atividades”;298 as for-
mas de distribuição dos produtos, que são inteiramente determinadas por eles.
Todos esses juntos constituem o domínio da economia política.
Esta definição não contém a palavra “troca”, que figura na definição de En-
gels. É omitido porque “troca” é geralmente entendida por muitos como a troca
de mercadorias, o que é característico não de todas, mas apenas de algumas for-
mações sociais, e isso às vezes dá origem a mal-entendidos, embora a palavra
“troca” com Engels tenha não significa apenas troca de mercadorias. Como se
verá, entretanto, o que Engels quis dizer com a palavra “troca” foi incluído, como
parte integrante, na definição acima. Consequentemente, essa definição da pro-
víncia da economia política coincide totalmente em conteúdo com a definição de
Engels.
2. Quando se fala da lei econômica básica de alguma formação social particu-
lar, geralmente presume-se que esta última não pode ter várias leis econômicas
básicas, que pode ter apenas uma lei econômica básica, que precisamente por
isso é a lei básica. Do contrário, teríamos várias leis econômicas básicas para cada
formação social, o que seria contrário ao próprio conceito de lei básica. Mas o
camarada Yaroshenko não concorda com isso. Ele pensa que é possível ter não
uma, mas várias leis econômicas básicas do socialismo. É incrível, mas é um fato.
Na Discussão Plenária, ele disse:
As magnitudes e correlações dos fundos materiais de produção e reprodução social são deter-
minadas pela força de trabalho disponível engajada na produção social e seu aumento futuro.
Esta é a lei econômica básica da sociedade socialista e determina a estrutura da produção e
reprodução socialista.
Essa é uma lei econômica básica do socialismo. Nesse mesmo discurso, o ca-
marada Yaroshenko declarou:
Na sociedade socialista, as correlações entre os Departamentos I e II são determinadas pelo
fato de que a produção deve ter meios de produção em quantidades suficientes para alistar
todos os membros aptos da população na produção social. Esta é a lei econômica básica do
socialismo e, ao mesmo tempo, uma exigência de nossa Constituição, decorrente do direito
ao trabalho dos cidadãos soviéticos.
Os próprios trabalhadores figuram nesta concepção como o que eles realmente são na pro-
dução capitalista – apenas meios de produção; não um objetivo em si e não o objetivo da
produção.299
Essas palavras de Marx são notáveis não apenas porque definem o objetivo da
produção capitalista de forma concisa e precisa, mas também porque indicam o
objetivo básico, o objetivo principal, que deve ser estabelecido para a produção
socialista.
Consequentemente, o objetivo da produção capitalista é a obtenção de lucros.
Quanto ao consumo, o capitalismo só precisa dele na medida em que garanta a
obtenção de lucro. Fora disso, o consumo não significa nada para o capitalismo.
O homem e suas necessidades desaparecem de seu campo de visão.
Qual é o objetivo da produção socialista? Qual é o propósito principal ao qual
a produção social deve ser subordinada sob o socialismo?
O objetivo da produção socialista não é o lucro, mas o homem e suas neces-
sidades, ou seja, a satisfação de suas necessidades materiais e culturais. Como
se afirma nas “observações” do camarada Stalin, o objetivo da produção socia-
lista é “assegurar a satisfação máxima das necessidades materiais e culturais em
constante crescimento de toda a sociedade”.
O camarada Yaroshenko pensa que o que o confronta aqui é a “primazia” do
consumo sobre a produção. Isso, é claro, é um equívoco. Na verdade, o que
temos aqui não é a primazia do consumo, mas a subordinação da produção soci-
alista ao seu objetivo principal de assegurar a satisfação máxima das necessidades
materiais e culturais em constante crescimento de toda a sociedade.
Consequentemente, a satisfação máxima das necessidades materiais e cultu-
rais em constante crescimento de toda a sociedade é o objetivo da produção so-
cialista; a expansão e o aperfeiçoamento contínuos da produção socialista com
base em técnicas superiores são os meios para atingir o objetivo.
Essa é a lei econômica básica do socialismo.
Desejando preservar o que ele chama de “primazia” da produção sobre o con-
sumo, o camarada Yaroshenko afirma que a “lei econômica básica do socialismo”
299 Karl Marx e Friedrich Engels, “Teoria da Mais-Valia”, Werke, ed. ale., Vol. 26, Parte 2, Capítulo
18.
J. V. Stalin 715
Ele afirma:
A teoria da correlação entre os departamentos I e II elaborada por Marx não é aplicável em
nossas condições socialistas, uma vez que a teoria de Marx é baseada na economia capitalista
e suas leis.304
a fórmula, ver Karl Marx, “O Capital”, ed. ing., Vol. 2, Capítulo 20.
303 Discurso do camarada Yaroshenko na discussão plenária.
304 Carta do camarada Yaroshenko aos membros do Bureau Político do Comitê Central.
716 Obras Escolhidas
É claro que a teoria da reprodução de Marx, que foi fruto de uma investigação
das leis do modo de produção capitalista, reflete o caráter específico deste último
e, naturalmente, está revestida da forma de relações capitalista-valor mercado-
ria. Não poderia ser diferente. Mas quem vê na teoria da reprodução de Marx
apenas sua forma, e não observa seus fundamentos, sua substância essencial, que
vale não apenas para a formação social capitalista, não tem compreensão alguma
dessa teoria. Se o camarada Yaroshenko tivesse qualquer compreensão do as-
sunto, ele teria percebido a verdade evidente de que o esquema de reprodução
de Marx não começa e termina com uma reflexão do caráter específico do modo
de produção capitalista, que ao mesmo tempo O tempo contém um grande nú-
mero de princípios fundamentais sobre o tema da reprodução, que valem para
todas as formações sociais, particularmente e especialmente para a formação so-
cialista. Esses princípios fundamentais da teoria marxista da reprodução, como
a divisão da produção social em produção de meios de produção e produção de
meios de consumo; o aumento relativamente maior da produção dos meios de
produção em reprodução em escala ampliada; a correlação entre os Departa-
mentos I e II; produto excedente como única fonte de acumulação; a formação e
designação dos fundos sociais; acumulação como a única fonte de reprodução em
uma escala estendida – todos esses princípios fundamentais da teoria marxista
da reprodução são, ao mesmo tempo, princípios que valem não apenas para a
formação capitalista, e dos quais nenhuma sociedade socialista pode prescindir
no planejamento de sua economia nacional. É significativo que o próprio ca-
marada Yaroshenko, que bufa com tanta altivez dos “esquemas de reprodução”
de Marx, seja obrigado de vez em quando a pedir ajuda a esses “esquemas” ao
discutir problemas de reprodução socialista.
E como Lenin e Marx viam o assunto?
Todos estão familiarizados com os Comentários Críticos de Lenin sobre a “Eco-
nomia do Período de Transição” de Bukharin. Nessas observações, como sabemos,
Lenin reconheceu que a fórmula de Marx da correlação entre os Departamentos
I e II, contra a qual o camarada Yaroshenko se levanta em armas, é válida tanto
para o socialismo quanto para o “comunismo puro”, isto é, para a segunda fase
do comunismo.
Quanto a Marx, ele, como sabemos, não gostou de se desviar de sua investi-
gação das leis da produção capitalista e não discutiu, em seu Capital, a aplicabi-
lidade de seus esquemas de reprodução ao socialismo. No entanto, no Capítulo
XX, Vol. II do Capital, na seção “O Capital Constante do Departamento I”, onde
examina a troca de produtos do Departamento I dentro desse departamento,
Marx, como que de passagem, observa que no socialismo a troca de produtos
dentro desse departamento ocorreria com a mesma regularidade do modo de
produção capitalista. Ele diz:
Se a produção fosse socializada, ao invés de capitalista, é evidente que esses produtos do
Departamento I seriam redistribuídos com a mesma regularidade como meios de produção
para as várias linhas de produção deste departamento, para fins de reprodução, uma parte
permanecendo diretamente nessa esfera de produção que o criou, passando outra para ou-
tras linhas de produção do mesmo departamento, mantendo assim um intercâmbio mútuo
constante entre as várias linhas de produção deste departamento.305
305 Karl Marx, “O Capital”, ed. ing., Vol. 2, Capítulo 20, Seção 6.
J. V. Stalin 717
cheira a Khlestakovismo.306
J. Stalin
22 de maio de 1952
Resposta aos camaradas A. V. Sanina e V. G. Venzher
Recebi suas cartas. Pode-se ver por eles que seus autores estão fazendo um
estudo profundo e sério dos problemas econômicos de nosso país. Há um grande
número de formulações corretas e argumentos interessantes nas cartas. Mas ao
lado disso, existem alguns erros teóricos graves. É sobre esses erros que proponho
me alongar nesta resposta.
Camaradas!
Permitam-me, em nome de nosso Congresso do Partido, expressar nossos
agradecimentos a todos os partidos e organizações irmãos cujos representantes
honraram nosso Congresso do Partido com sua presença, ou que enviaram ao
nosso Congresso do Partido saudações de amizade, por seus votos de nosso maior
sucesso e por sua confiança. (Aplausos prolongados.)
Para nós, esta confiança é especialmente valiosa porque significa a sua dispo-
nibilidade para apoiar o nosso Partido na sua luta por um futuro melhor para o
povo, na sua luta contra a guerra, na sua luta pela manutenção da paz. (Aplausos
prolongados.)
Seria um erro acreditar que nosso Partido, que se tornou uma grande po-
tência, não precisa de mais apoio. Isso estaria errado. Nosso Partido e nosso
país precisam da confiança, simpatia e apoio contínuos dos povos irmãos fora de
nossas fronteiras e sempre precisarão.
A qualidade especial deste apoio reside no fato de que todo apoio aos esforços
de paz de nosso Partido por parte de cada partido fraterno, significa simultane-
amente o apoio de seu próprio povo em sua luta para manter a paz. Como os
trabalhadores ingleses nos anos 1918-1919, durante o ataque armado da burgue-
sia inglesa à União Soviética, organizaram sua luta contra a guerra sob o lema
“Tirem as mãos da Rússia!”, Era um apoio, era acima de tudo um apoio da luta
de seu próprio povo pela paz, e então, também, um apoio da União Soviética.
Se o camarada Thorez ou o camarada Togliatti declaram que seu povo não quer
ser conduzido a uma guerra contra o povo da União Soviética (Aplausos), isso é
um apoio, acima de tudo, um apoio aos trabalhadores e camponeses franceses e
italianos que lutam pela paz, e então, também, um apoio aos esforços de paz da
União Soviética. Explica-se assim a qualidade especial do apoio atual, que os in-
teresses do nosso Partido não só não vão contra os interesses dos pacifistas, mas,
pelo contrário, fundem-se com eles. (Aplausos.) No que diz respeito à União So-
viética, seu interesse na questão da paz mundial não pode ser separado da causa
da paz no mundo inteiro.
Entende-se que nosso Partido deve cumprir seu dever para com seus partidos
irmãos e apoiá-los e a seus povos na luta pela libertação e pela manutenção da
paz. Isso é o que o Partido faz. (Tempestuosos aplausos.) Depois da tomada do po-
der por nosso Partido em 1917, e depois que nosso Partido tomou medidas reais
para eliminar o jugo dos capitalistas e latifundiários, os representantes dos ‘par-
tidos irmãos’, inspirados por nossa ousadia e sucesso de nosso Partido, deu-lhe
o nome de “Brigada de Choque” do movimento revolucionário e do movimento
operário mundial. Assim, expressaram a esperança de que o sucesso da “Brigada
de Choque” aliviasse o sofrimento do povo por estar sob o jugo capitalista. Acho
que nosso Partido cumpriu essas esperanças, especialmente no tempo da segunda
726 Obras Escolhidas
guerra mundial, quando a União Soviética esmagou a tirania fascista alemã e ja-
ponesa e libertou os povos europeus e asiáticos do perigo da escravidão fascista.
(Aplausos.)
É claro que era muito difícil cumprir essa honrosa tarefa enquanto houvesse
apenas uma “Brigada de Choque”, contanto que permanecesse sozinha, a van-
guarda no cumprimento dessa tarefa. Mas isso é passado. Agora é completa-
mente diferente. Agora, da China e Coréia à Tchecoslováquia e Hungria, novas
“Brigadas de choque” apareceram no mapa, na forma de democracias populares;
agora a luta foi facilitada para o nosso Partido e também o trabalho prossegue
melhor. (Aplausos prolongados.)
Uma atenção especial deve ser dada aos partidos comunistas, democráticos ou
operários e camponeses que ainda não estão no poder e que devem realizar o seu
trabalho sob o jugo de um regime burguês estrito. Claro que seu trabalho é mais
difícil. Mas o trabalho deles não é tão difícil como o era para nós, comunistas
russos, na época do tsar, pois o menor passo em frente foi declarado um crime
grave. Os comunistas russos, no entanto, mantiveram-se firmes, não recuaram
das dificuldades e chegaram à vitória. O mesmo acontecerá com essas partes.
Por que esses partidos não têm um trabalho tão difícil como os comunistas
russos tiveram na época do tsarismo?
Porque, antes de tudo, eles têm o exemplo da luta e do sucesso, como na União
Soviética e nos países democráticos populares, antes deles. Consequentemente,
eles podem aprender com os erros e acertos desses países e, assim, facilitar seu
trabalho.
Porque, em segundo lugar, a própria burguesia, a arqui-inimiga do movi-
mento pela liberdade, se tornou diferente, mudou essencialmente, se tornou
mais reacionária, perdeu a cooperação do povo e, portanto, se enfraqueceu.
Entende-se que essas circunstâncias devem também facilitar o trabalho dos par-
tidos revolucionários e democráticos. (Aplausos.)
Antes, a burguesia se apresentava como liberal, ela era a favor da liberdade
democrática burguesa e assim ganhou popularidade junto ao povo. Agora não
há um vestígio remanescente de liberalismo. Já não existe “liberdade de perso-
nalidade” – os direitos pessoais são agora apenas reconhecidos por eles, os donos
do capital, - todos os outros cidadãos são considerados matérias-primas, que são
apenas para exploração. O princípio da igualdade de direitos para pessoas e na-
ções é pisado na poeira e é substituído pelo princípio de plenos direitos para a
minoria exploradora e a falta de direitos da maioria explorada dos cidadãos. A
bandeira da liberdade democrática burguesa foi lançada ao mar. Acho que vo-
cês, os representantes dos partidos comunistas e democráticos, devem pegar esta
bandeira e carregá-la se quiserem conquistar a maioria do povo. Não há mais
ninguém para aumentá-lo. (Aplausos.)
Antes, a burguesia, como cabeça das nações, defendia os direitos e a indepen-
dência das nações e colocava isso “acima de tudo”. Agora não há mais vestígio
desse “princípio nacional”. Agora a burguesia vende os direitos e a indepen-
dência de suas nações por dólares. A bandeira da independência nacional e
da soberania nacional foi jogada ao mar. Sem dúvida, vocês, os representantes
dos partidos comunistas e democráticos, devem erguer esta bandeira e carregá-la
J. V. Stalin 727
adiante se quiserem ser patriotas de seus países, se quiserem ser as potências di-
rigentes das nações. Não há mais ninguém para aumentá-lo. (Aplausos calorosos.)
É assim que estão as coisas no momento.
Entende-se que todas essas circunstâncias devem facilitar o trabalho dos par-
tidos comunistas e democráticos que ainda não estão no poder.
Consequentemente, há todas as bases para o sucesso e a vitória dos partidos
irmãos nas terras do domínio capitalista. (Aplausos.)
Viva nossas festas fraternas! (Aplausos.)
Vida longa e saúde aos dirigentes dos partidos irmãos! (Aplausos.)
Viva a paz entre os povos! (Aplausos.)
Abaixo os incendiários de guerra!
730 Obras Escolhidas
J. V. Stalin 731
PARTE IV
Anexos
J. V. Stalin 733
Por favor, aceite meus agradecimentos pela promessa de vender à União So-
viética mais 200 aviões de caça, além dos 200 caças prometidos anteriormente.
Não tenho dúvidas de que os pilotos soviéticos terão sucesso em dominá-los e
colocá-los em uso.
Devo dizer, no entanto, que estas aeronaves, que parece que não poderemos
usar em breve e nem todas de uma vez, mas em intervalos e em grupos, não
podem mudar seriamente a situação na Frente Oriental. Elas não podem fazê-
lo não apenas por causa da escala da guerra, que requer o contínuo despacho
de um grande número de aeronaves, mas também, e principalmente, porque,
durante as últimas três semanas, a posição das tropas soviéticas se deteriorou
consideravelmente em áreas vitais como a Ucrânia e Leningrado.
O fato é que a relativa estabilização da frente, alcançada há cerca de três se-
manas atrás, foi perturbada nas últimas semanas com a chegada de 30 a 34 novas
divisões de infantaria alemã e um enorme número de tanques e aeronaves na
Frente Oriental, e também pela ativação de 20 divisões finlandesas e 26 rome-
nas. Os alemães olham para a ameaça no Ocidente como um blefe, então eles
estão movendo todas as suas forças do Ocidente para o Oriente com impunidade,
sabendo que não há uma segunda frente no Ocidente nem é provável que haja
uma. Eles acham perfeitamente possível que eles sejam capazes de derrotar seus
inimigos um de cada vez – primeiro os russos e depois os britânicos.
Como resultado, perdemos mais da metade da Ucrânia e, além disso, o ini-
migo está agora nos portões de Leningrado.
Estas circunstâncias levaram à perda da área de minério de ferro Krivoi Rog
e a uma série de fábricas de ferro e aço na Ucrânia, à evacuação por nós de uma
fábrica de alumínio no Dnieper e outra em Tikhvin, uma fábrica de motores e
duas fábricas de aeronaves na Ucrânia e duas fábricas de motores e duas aero-
naves em Leningrado, que não podem começar a produzir em seus novos locais
antes de sete ou oito meses.
Isso resultou em uma diminuição da nossa capacidade de defesa e confrontou
a União Soviética com perigo mortal.
Aqui é pertinente perguntar – qual é a saída para esta situação mais do que
desfavorável.
Acho que a única maneira é abrir uma segunda frente este ano em algum lu-
gar nos Balcãs ou na França, uma que desviasse 30-40 divisões alemãs da Frente
Oriental, e simultaneamente fornecer à União Soviética 30.000 toneladas de alu-
mínio até o início de outubro e uma ajuda mensal mínima de 400 aviões e 500
tanques (de pequeno ou médio porte).
Sem esses dois tipos de ajuda, a União Soviética será derrotada ou enfraque-
cida, na medida em que perderá, por muito tempo, a capacidade de ajudar seus
Aliados através de operações ativas na frente contra o hitlerismo.
Sei que esta mensagem causará alguma vexação à Vossa Excelência. Mas isso
J. V. Stalin 735
não pode ser evitado. A experiência me ensinou a encarar a realidade, não im-
porta o quão desagradável possa ser, e não encolher em dizer a verdade, não
importa o quão desagradável.
A questão do Irã saiu bem, de fato. Operações conjuntas das tropas britânicas
e soviéticas resolveram a questão. E assim será no futuro, enquanto nossas forças
operarem em conjunto. Mas o Irã é apenas um episódio. Não é no Irã, é claro,
que o resultado da guerra será decidido.
A União Soviética, como a Grã-Bretanha, não quer guerra com o Japão. A
União Soviética não considera possível violar tratados, incluindo o tratado de
neutralidade com o Japão. Mas, se o Japão violar esse tratado e atacar a União
Soviética, ele será devidamente rejeitado pelas tropas soviéticas.
Em conclusão, permita-me agradecê-lo pela admiração que expressou pelas
operações das tropas soviéticas, que estão travando uma guerra sangrenta contra
as hordas de ladrões de Hitler por nossa causa de libertação comum.
Memorando
ofensiva, que essa ação das tropas anglo-americanas no norte da África é impe-
rativa. A pressão simultânea sobre Hitler de nossa frente, e da sua na Tunísia,
seria de grande significado positivo para nossa causa comum e criaria dificulda-
des mais sérias para Hitler e Mussolini. Também aceleraria as operações que está
planejando na Sicília e no Mediterrâneo Oriental.
Quanto à abertura de uma segunda frente na Europa, em particular na França,
está prevista, a julgar pela sua comunicação, para agosto ou setembro. Na minha
opinião, porém, a situação exige a redução desses prazos ao máximo e a abertura
de uma segunda frente no Ocidente em uma data muito mais próxima do que
a mencionada. Para que o inimigo não tenha a chance de se recuperar, é muito
importante, ao que me parece, que o golpe vindo do Ocidente, em vez de ser
adiado até a segunda metade do ano, seja dado na primavera ou início do verão.
De acordo com informações confiáveis à nossa disposição, desde o final de de-
zembro, quando, por alguma razão, as operações anglo-americanas na Tunísia
foram suspensas, os alemães movimentaram 27 divisões, incluindo cinco divisões
blindadas, para a frente soviético-alemã da França, dos Países Baixos e da Alema-
nha. Em outras palavras, em vez de a União Soviética ser ajudada desviando as
forças alemãs da frente soviético-alemã, o que temos é um alívio para Hitler, que,
por causa da diminuição nas operações anglo-americanas na Tunísia, foi capaz
de mover tropas adicionais contra os russos.
O precedente indica que quanto mais cedo fizermos uso conjunto das difi-
culdades de campo de Hitler na frente, mais motivos teremos para antecipar a
sua derrota. A menos que levemos isso em conta e aproveitemos o momento pre-
sente para promover nossos interesses comuns, pode muito bem ser que, tendo
ganhado uma trégua e reunido suas forças, os alemães possam se recuperar. Está
claro para você e para nós que tal erro é indesejável e não deve ser cometido.
Do Primeiro-Ministro J. V. Stalin ao
Primeiro-Ministro, Sr. W. Churchill
Enviado em 24 de junho de 1943
Sua mensagem sobre a questão polonesa está em mãos. Não é preciso dizer
que uma solução correta deste problema é de grande importância tanto para a
URSS quanto para a nossa causa comum.
Há dois pontos importantes a serem considerados: primeiro, a fronteira soviético-
polonesa e, segundo, a composição do Governo polonês. O ponto de vista do Go-
verno soviético é familiar para você a partir de suas declarações recém-publicadas
e da carta de V. M. Molotov em resposta à Nota do Sr. Hull, recebida em Moscou
através do Embaixador soviético, Gromyko, em 22 de janeiro.
Em primeiro lugar, sobre a fronteira soviético-polonesa. Como sabem, o Go-
verno soviético declarou oficialmente que não considera final a fronteira de 1939
e concordou com a Linha Curzon. Ao afirmar isso, fizemos concessões muito
importantes aos poloneses na questão da fronteira. Tínhamos motivos para an-
tecipar uma declaração apropriada por parte do Governo polonês. Deveria ter
declarado oficialmente que a fronteira estabelecida pelo Tratado de Riga seria
J. V. Stalin 741
revista, e que seria aceita a Linha Curzon como a nova linha fronteiriça entre a
URSS e a Polônia. Deveria ter feito uma declaração oficial sobre o reconheci-
mento da Linha Curzon, assim como o Governo soviético o fez. Mas o governo
polonês em Londres recusou-se a ceder, e continuou a insistir em declarações
oficiais de que a fronteira imposta a nós sob o Tratado de Riga, em um momento
difícil, deveria ser deixada inalterada. Portanto, não há base para um acordo,
em vista ao ponto de vista do atual Governo polonês, que como vemos, impede
o acordo.
Diante desta circunstância, a questão da composição do Governo polonês
tornou-se igualmente mais aguda. É evidente que o Governo polonês, no qual o
papel principal é desempenhado por elementos pró-fascistas, imperialistas hos-
tis à União Soviética, como Sosnkowski, e no qual quase não há elementos de-
mocráticos, não pode ter bases populares na Polônia, nem, como a experiência
mostrou, pode estabelecer relações amigáveis com países democráticos vizinhos.
Claramente, tal Governo polonês é incapaz de estabelecer relações amistosas com
a União Soviética e não se pode prever que não semeará discórdia entre os países
democráticos que, pelo contrário, gostariam de fortalecer a sua unidade. Segue-
se que uma melhoria radical na composição do Governo polonês é uma questão
urgente.
Tive que adiar a resposta, estando ocupado na frente.
Do Primeiro-Ministro J. V. Stalin ao
Primeiro-Ministro, Sr. W. Churchill
Enviado em 23 de março de 1944
Isso significa que você não reconhece mais o que concordamos em Teerã e está
pronto para violar o acordo de Teerã? Não tenho dúvidas de que se você tivesse
perseverado em sua posição quando do Acordo de Teerã, o conflito com o go-
verno polonês poderia ter sido resolvido. Quanto a mim e ao Governo Soviético,
ainda aderimos ao ponto de vista de Teerã, e não temos intenção de voltar atrás,
pois acreditamos que a implementação da Linha Curzon seja evidência, não de
uma política de força, mas de uma política de restabelecer o direito legítimo da
União Soviética a esses territórios, que até Curzon e o Conselho Supremo das
Potências Aliadas reconheceram como não-poloneses em 1919.
Você diz na sua mensagem de 7 de março que o problema da fronteira soviético-
polonesa terá que ser adiado até que a conferência de armistício seja convocada.
Acho que há um mal-entendido aqui. A União Soviética não está travando nem
pretende travar uma guerra contra a Polônia. Não há conflito com o povo polo-
nês e consideramo-nos um aliado da Polônia e do povo polonês. É por isso que
está derramando seu sangue para libertar a Polônia da opressão alemã. Seria es-
tranho, portanto, falar de um armistício entre a URSS e a Polônia. Mas a União
Soviética está em conflito com o governo polonês de emigrados, que não repre-
senta os interesses do povo polonês nem expressa suas aspirações. Seria estranho
ainda identificar a Polônia com o governo polonês em Londres, um governo iso-
lado da Polônia. Até acho difícil dizer a diferença entre o Governo de emigrados
da Polônia e o Governo de emigrados iugoslavo, que é semelhante a ele, ou entre
certos generais do governo polonês e o general sérvio Mihajlovic.
Em sua mensagem de 21 de março, você me diz de sua intenção de fazer
uma declaração na Câmara dos Comuns no sentido de que todas as questões
territoriais devem aguardar o armistício ou as conferências de paz dos Poderes
vitoriosos e que, entretanto, você não pode reconhecer quaisquer transferências
forçadas de território. Pelo que vejo, você faz a União Soviética parecer hostil
à Polônia, e praticamente nega a natureza de libertação da guerra travada pela
União Soviética contra a agressão alemã. Isso equivale a atribuir à União Soviética
algo que é inexistente e, assim, desacreditá-la. Não tenho dúvidas de que os povos
da União Soviética e da opinião pública mundial avaliarão sua declaração como
um insulto gratuito à União Soviética.
Obviamente, você está livre para fazer qualquer declaração que você quiser
na Câmara dos Comuns — esse problema é seu. Mas se você fizer uma declaração
desta natureza, considerarei que cometeu um ato injusto e hostil em relação à
União Soviética.
Em sua mensagem, você expressa a esperança de que a quebra sobre a questão
polonesa não afete nossa cooperação em outras esferas. No que me diz respeito,
fui, e ainda sou, em prol da cooperação. Mas temo que o método de intimidação
e difamação, se continuado, não beneficiará nossa cooperação.
J. V. Stalin 743
não apenas porque está suportando o peso da luta pela libertação da Polônia,
mas também porque a Polônia faz fronteira com a União Soviética e porque o
problema polonês é inseparável do da segurança da União Soviética. Devo acres-
centar que o sucesso do Exército Vermelho na luta contra os alemães na Polônia
depende, em grande parte, de uma retaguarda tranquila e confiável na Polô-
nia, e o Comitê Nacional Polonês está plenamente ciente desta circunstância,
enquanto o Governo emigrado e seus agentes subterrâneos por seus atos de ter-
ror ameaçam a guerra civil na retaguarda do Exército Vermelho e contra seus
sucessos.
Por outro lado, nas condições que agora prevalecem na Polônia, não há mo-
tivos para continuar a apoiar o Governo emigrado, que perdeu completamente
a confiança da população dentro do país e que, além disso, ameaça a guerra ci-
vil na retaguarda do Exército Vermelho, ferindo assim nosso interesse comum
no sucesso da luta que estamos travando contra os alemães. Penso que seria na-
tural, justo e benéfico para a nossa causa comum, se os Governos dos Poderes
Aliados concordassem como um primeiro passo para trocar representantes neste
momento com o Comitê Nacional, tendo em vista o seu reconhecimento poste-
rior como o governo legal da Polônia, depois de se ter proclamado o Governo
Provisório da Polônia. A menos que isso seja feito, temo que a confiança do povo
polonês no Poder Aliado possa diminuir. Penso que não devemos contempori-
zar uma situação em que os poloneses possam dizer que estamos sacrificando os
interesses da Polônia aos de um punhado de emigrados em Londres.
Devo lhe dizer, por suas informações, que os alemães já aproveitaram as con-
versações com o Comando Aliado para mover três divisões do norte da Itália para
a frente soviética. A tarefa de operações coordenadas envolvendo um golpe nos
alemães do Oeste, Sul e Leste, proclamado na Conferência da Crimeia, é manter
o inimigo no local e impedi-lo de manobrar, de mover suas forças para os pontos
onde ele mais precisa deles. O Comando Soviético está fazendo isso. Mas o Ma-
rechal Alexander não está. Esta circunstância irrita o Comando Soviético e gera
desconfiança.
“Como militar”, você me escreve, “você vai entender a necessidade de uma
ação rápida para evitar perder uma oportunidade. O envio de uma bandeira de
trégua ao seu General em Königsberg ou Danzig estaria na mesma categoria”.
Receio que a analogia não se encaixe no caso. As tropas alemãs em Danzig e
em Königsberg estão cercadas. Se eles se renderem, o farão para escapar do
extermínio, mas não podem abrir a frente para as tropas soviéticas, porque a
frente se moveu tão a oeste quanto o Oder. As tropas alemãs no norte da Itália
estão em uma posição totalmente diferente. Eles não estão cercados e não são
confrontados com um possível extermínio. Se, no entanto, os alemães no norte
da Itália buscam negociações para se render e abrir a frente para as tropas aliadas,
então eles devem ter outros objetivos mais abrangentes que afetam o destino da
Alemanha.
Devo dizer-lhe que, se uma situação semelhante ocorresse na Frente Orien-
tal, em algum lugar do Oder, fornecendo uma oportunidade para uma rendição
alemã e para a abertura da frente às tropas soviéticas, eu deveria ter imediata-
mente notificado o Comando Militar Anglo-Americano e requisitado que envi-
asse seus representantes para participar das conversações, pois em uma situação
deste tipo aliados não devem ter nada a esconder uns dos outros.
presentes na reunião com os alemães na Suíça. Eu já escrevi para você, e não vejo
nenhum mal em repetir que, dada uma situação semelhante, os russos nunca te-
riam negado aos americanos e britânicos o direito de participar de tal reunião.
Eu ainda considero o ponto de vista russo como o único correto, porque exclui
suspeitas mútuas e não dá ao inimigo nenhuma chance de semear desconfiança
entre nós.
2. É difícil concordar que a ausência de resistência alemã na Frente Ocidental
deve-se unicamente ao fato de terem sido derrotados. Os alemães têm 147 divi-
sões na Frente Oriental. Eles poderiam mover, com segurança, de 15 a 20 divisões
da Frente Oriental para ajudar suas forças na Frente Ocidental. No entanto, eles
não fizeram isso, nem estão fazendo isso. Eles estão lutando desesperadamente
contra os russos por Zemlenice, uma estação obscura na Tchecoslováquia, que
eles precisam tanto quanto um homem morto precisa de cataplasma, mas eles
rendem sem qualquer resistência cidades tão importantes no coração da Alema-
nha como Osnabruck, Mannheim e Kassel. Você admitirá que este comporta-
mento por parte dos alemães é mais do que estranho e inexplicável.
3. No que diz respeito àqueles que fornecem minhas informações, posso
assegurar-lhe que são pessoas honestas e despretensiosas que cumprem seus de-
veres conscientemente e que não têm intenção de afrontar ninguém. Eles foram
testados em ação em várias ocasiões. Julgue você mesmo. Em fevereiro, o General
Marshall disponibilizou ao Estado-Maior das tropas soviéticas uma série de rela-
tórios importantes nos quais ele, citando dados em sua posse, alertou os russos
que em março os alemães estavam planejando dois graves contragolpes na Frente
Oriental, um da Pomerânia em direção a Thorn, o outro da área de Moravska
Ostrava em direção a L6 dz. Descobriu-se, no entanto, que o principal golpe
alemão tinha sido preparado, e feito, não nas áreas mencionadas acima, mas em
uma área totalmente diferente, ou seja, na área do Lago Balaton, sudoeste de
Budapeste. Os alemães, como sabemos agora, concentraram 35 divisões na área,
11 delas blindadas. Estas, com sua grande concentração de armadura protetiva,
foi um dos golpes mais pesados da guerra. O Marechal Tolbukhin conseguiu
primeiro evitar o desastre e depois esmagar os alemães, e foi capaz de fazê-lo
também porque meus informantes tinham revelado – verdade, com algum atraso
– o plano para o principal golpe alemão e imediatamente informaram o Mare-
chal Tolbukhin. Assim, tive mais uma oportunidade de me satisfazer quanto à
confiabilidade e solidez das minhas fontes de informação.
Para sua orientação neste assunto, incluo uma carta enviada pelo General An-
tonov, Chefe do Estado-Maior do Exército Vermelho, ao Major-General Deane.
ANEXO 2 – CONFERÊNCIAS DE
GUERRA
Introdução
período 1961-1966.
CONFERÊNCIA DE TEERÃ
Gostaria de começar com uma revisão dessa parte da guerra que diz respeito
aos Estados Unidos e não à União Soviética e à Grã-Bretanha. Quero dizer, a
guerra no Oceano Pacífico, onde os Estados Unidos suportam o peso da guerra,
recebendo ajuda das forças australianas e neozelandesas...308
Retomando a questão mais importante, que é de maior interesse para a União
Soviética – a operação em todo o Canal – gostaria de dizer que estamos elabo-
rando nossos planos pelo último ano e meio, mas devido à escassez da tonelagem
não conseguimos decidir uma data para esta operação. Queremos não só atra-
vessar o Canal, mas perseguir o inimigo até o coração do território. O Canal da
Mancha é aquela desagradável faixa de água que exclui a possibilidade de ini-
ciar a expedição através do Canal antes de 1º de maio, é por isso que o plano
elaborado em Quebec foi baseado na premissa de que a expedição através do
Canal seria feita aproximadamente em 1 de maio de 1944. Todas as operações
de aterragem envolvem embarcações especiais. Se realizarmos operações de ater-
ragem em larga escala no Mediterrâneo, a expedição através do Canal terá que
ser adiada por dois ou três meses. É por isso que gostaríamos de ter o conselho
de nossos colegas soviéticos sobre o assunto, e também conselhos sobre a melhor
maneira de usar as forças agora na área do Mediterrâneo, considerando que há
poucos navios lá também. Mas não queremos adiar a data da invasão do Canal
além de maio ou junho. Ao mesmo tempo, há muitos lugares onde as forças
anglo-americanas poderiam ser usadas. Elas poderiam ser usadas na Itália, na
área adriática, na área do Egeu, e finalmente, para ajudar a Turquia se ela en-
trar na guerra. Tudo isso temos que decidir aqui. Gostaríamos muito de ajudar
a União Soviética e retirar uma parte das forças alemãs da frente soviética. Gos-
taríamos de ter o conselho de nossos amigos soviéticos sobre como poderíamos
melhor facilitar sua posição.
Churchill gostaria de acrescentar alguma coisa?
Churchill: Posso falar e expressar minha opinião depois que o Marechal Sta-
lin expressar as suas. Ao mesmo tempo, gostaria de dizer que concordo, em
princípio, com o que foi dito pelo Presidente Roosevelt.
Stalin: Quanto à primeira parte do discurso do Sr. Presidente sobre a guerra
na área do Pacífico, podemos dizer o seguinte: nós, russos, saudamos os sucessos
que foram e estão sendo alcançados pelas forças anglo-americanas no Pacífico.
Quanto à segunda parte do discurso do Senhor Presidente sobre a guerra na
Europa, também tenho várias observações a fazer.
Em primeiro lugar, algumas palavras na forma de um relatório sobre a forma
como conduzimos e estamos conduzindo operações desde a ofensiva de julho dos
alemães. Se eu entrar em muitos detalhes eu posso encurtar a minha declaração.
Churchill: Estamos preparados para ouvir tudo o que você deseja dizer.
Stalin: Devo dizer, de passagem, que nós mesmos temos ultimamente nos
preparados para uma ofensiva. Os alemães estavam à nossa frente, mas como
estávamos nos preparando para uma ofensiva e tínhamos uma grande força, de-
pois de vencermos a ofensiva alemã, foi relativamente fácil para nós irmos para a
ofensiva. Devo dizer que, embora a opinião sobre nós seja que planejamos tudo
308As lacunas do texto foram propositadamente deixadas pela delegação soviética cujas notas aqui
apresentamos (N.T)
756 Obras Escolhidas
ter que fazer? Ela terá que atacar a Bulgária e declarar guerra à Alemanha?
Ela terá que começar operações ofensivas ou deve abster-se de avançar para a
Trácia? Qual seria a atitude russa para os búlgaros que ainda se lembram que a
Rússia os libertou dos turcos? Que efeito isso teria sobre os romenos que já estão
procurando saídas para a guerra? Como isso afetaria a Hungria? Não seria o
resultado disso grandes mudanças políticas entre muitos países? Todas essas são
perguntas sobre as quais nossos amigos russos, naturalmente, têm suas próprias
opiniões.
Nossas operações na parte oriental do Mediterrâneo, o que poderia causar
algum atraso na operação através do Canal, de algum interesse para o governo
soviético?
Ainda não temos uma decisão definitiva sobre esta questão, e viemos aqui
para resolver isso.
Roosevelt: Há outra possibilidade. Pode ser conveniente fazer um pouso
na parte norte do Adriático quando os exércitos soviéticos se aproximarem de
Odessa.
Churchill: Se tomarmos Roma e bloquearmos a Alemanha a partir do sul,
começaríamos as operações no oeste ou sul da França, e também estenderíamos
a assistência aos exércitos da guerrilha. Essas operações ainda não foram deta-
lhadas. Uma comissão poderia ser criada para estudar a questão e elaborar um
documento em detalhes.
Stalin: Tenho algumas perguntas: entendo que há 35 divisões para operações
de invasão no norte da França.
Churchill: Sim, isso é correto.
Stalin: Antes das operações para invadir o norte da França, planeja-se realizar
a operação no teatro italiano para tomar Roma, depois da qual está prevista a
defensiva na Itália.
Churchill: Sim. Já estamos retirando sete divisões da Itália.
Stalin: Também entendo que três outras operações estão planejadas, uma das
quais consistirá em um desembarque na área adriática.
Churchill: A realização dessas operações pode ser útil para os russos. Depois
que as sete divisões forem enviadas da área do Mediterrâneo, teremos até 35
divisões para a invasão do norte da França. Além disso, teremos 20 ou 23 divisões
no norte da Itália.
Gostaria de acrescentar que o maior problema é a transferência das forças
necessárias. Como já apontei, a Operação Overlord será iniciada por 35 divisões.
A partir daí, o número de tropas será aumentado por divisões transferidas dos
EUA; seu número subirá para 50 ou 60. Quero acrescentar que nos próximos seis
meses a força aérea britânica e americana agora na Grã-Bretanha será duplicada e
triplicada. Além disso, o trabalho está sendo continuamente feito para acumular
forças na Grã-Bretanha.
Stalin: Outra pergunta. Entendi corretamente que, além das operações para
tomar Roma, planeja-se realizar outra operação no Adriático e também uma ope-
ração no sul da França?
Churchill: O plano é realizar um ataque no sul da França no momento em
J. V. Stalin 759
que a Operação Overlord for lançada. Tropas que podem ser liberadas da Itália
serão usadas para isso. Mas esta operação ainda não foi decidida em detalhes.
Stalin: Outra pergunta: se a Turquia entra na guerra o que deve ser feito
nesse caso?
Churchill: Posso dizer que não seria preciso mais do que duas ou três divisões
para tomar as ilhas ao longo da costa oeste da Turquia, de modo a permitir que os
navios de abastecimento fossem para a Turquia e também para abrir a rota para o
Mar Negro. Mas a primeira coisa que faremos é enviar aos turcos 20 esquadrões
aéreos e vários regimentos de defesa aérea, o que pode ser feito sem prejuízo de
outras operações.
Stalin: Na minha opinião, seria melhor fazer da Operação Overlord a base de
todas as operações em 1944. Se um desembarque fosse feito no sul da França ao
mesmo tempo que essa operação, ambos os grupos de forças poderiam se juntar
na França. É por isso que seria bom ter duas operações: a Operação Overlord
e o desembarque no sul da França como uma operação de apoio. Ao mesmo
tempo, a operação na área de Roma seria uma operação de desvio. Ao realizar
o desembarque na França no Norte e no Sul pode haver um acúmulo de forças
quando essas forças se unirem. A França é o ponto fraco da Alemanha. Quanto
à Turquia, duvido que a Turquia entre na guerra. Ela não se juntará à guerra,
não importa a pressão que exerçamos. Essa é a minha opinião.
Churchill: Entendemos que o governo soviético está altamente interessado
em fazer a Turquia entrar na guerra. É claro que podemos falhar em fazer a
Turquia entrar na guerra, mas devemos tentar fazer tudo a este respeito.
Stalin: Sim, temos que tentar fazer com que a Turquia entre na guerra.
Churchill: Concordo com as considerações do Marechal Stalin sobre a inde-
sejabilidade de dispersar as forças, mas se temos 25 divisões na área do Medi-
terrâneo, três ou quatro divisões e 20 esquadrões aéreos podem muito bem ser
reservados para a Turquia, particularmente porque eles estão atualmente sendo
usados para proteger o Egito, e eles poderiam ser movidos de lá para o norte.
Stalin: Essa é uma grande força, esses 20 esquadrões aéreos. Claro, seria bom
se a Turquia entrasse na guerra.
Churchill: Receio que neste período de seis meses, durante o qual podería-
mos tomar Roma e nos preparar para grandes operações na Europa, nosso exér-
cito permanecerá inativo e não exercerá pressão sobre o inimigo. Temo que,
nesse caso, o Parlamento me censuraria por não dar qualquer assistência aos rus-
sos.
Stalin: Acho que Overlord é uma grande operação. Seria consideravelmente
facilitada e teria certamente um grande efeito se fosse apoiada pelo sul da França.
Eu pessoalmente iria a esse extremo. Eu iria para a defensiva na Itália, abando-
nando a captura de Roma, e começaria uma operação no sul da França, retirando
as forças alemãs do norte da França. Em cerca de dois ou três meses eu começa-
ria a operação no norte da França. Este plano garantiria o sucesso da Operação
Overlord; os dois exércitos poderiam se encontrar, e isso resultaria em um acú-
mulo de forças.
Churchill: Eu poderia produzir ainda mais argumentos, mas gostaria de dizer
760 Obras Escolhidas
apenas que seríamos mais fracos se não tomássemos Roma. Além disso, para
realizar uma ofensiva aérea contra a Alemanha é necessário chegar à linha Pisa-
Rimini. Gostaria que os especialistas militares discutissem essa questão. A luta
por Roma já está em andamento e esperamos tomar Roma em janeiro. Recusar-
se a tomar Roma significaria a nossa derrota e eu não poderia explicar isso à
Assembleia.
Roosevelt: Poderíamos realizar Overlord a tempo se não houvesse operações
no Mediterrâneo. Se houver operações no Mediterrâneo, isso adiará a data da
Operação Overlord. Eu não gostaria de atrasar Overlord.
Stalin: Pela experiência de nossas operações, sabemos que o sucesso é obtido
onde o golpe é dado de dois lados, e que as operações realizadas de um só lado
não produzem efeito suficiente. É por isso que tentamos atacar o inimigo de dois
lados para fazê-lo transportar suas forças de um lado para o outro. Eu acho que,
neste caso, também seria bom realizar a operação a partir do sul e do norte da
França.
Churchill: Eu pessoalmente concordo plenamente com isso, mas acho que po-
demos realizar atos de distração na Iugoslávia, e também fazer com que a Turquia
se junte à guerra, independentemente da invasão do sul ou norte da França. Eu
pessoalmente considero a ociosidade do nosso exército no Mediterrâneo como
um fato altamente negativo. É por isso que não podemos garantir que a data de
1º de maio seja cumprida com precisão. Seria um grande erro marcar essa data.
Não posso sacrificar as operações no Mediterrâneo só para manter a data de 1º
de maio. Claro que devemos chegar a um acordo definitivo sobre o assunto. Esta
questão poderia ser discutida por nossos especialistas militares.
Stalin: Muito bem. Não esperávamos uma discussão sobre assuntos pura-
mente militares, por isso não convidamos representantes do Estado-Maior para
vir junto, mas acho que o Marechal Voroshilov e eu podemos organizar algo.
Churchill: O que devemos fazer com a questão da Turquia? Devemos também
encaminhá-lo aos especialistas militares?
Stalin: É uma questão política e militar. A Turquia é aliada da Grã-Bretanha
e tem relações amistosas com a URSS e os Estados Unidos. A Turquia não deve
mais jogar entre nós e a Alemanha.
Churchill: Eu posso possivelmente ter seis ou sete perguntas sobre a Turquia.
Mas primeiro gostaria de pensar sobre elas.
Stalin: Muito bem.
Roosevelt: Claro, sou a favor de fazer a Turquia entrar na guerra, mas se eu
estivesse no lugar do Presidente turco, pediria um preço que só poderia ser pago
infligindo danos à Operação Overlord.
Stalin: Deve haver um esforço para fazer a Turquia lutar. Ela tem muitas
divisões ociosas.
Churchill: Todos temos sentimentos de amizade um pelo outro, mas natural-
mente temos nossas diferenças. Precisamos de tempo e paciência.
Stalin: Isso mesmo.
Roosevelt: Destarte, os peritos militares se reunirão amanhã de manhã, e às
quatro horas haverá uma sessão da conferência.
J. V. Stalin 761
A Conferência dos Chefes de Governo dos três Poderes Aliados foi realizada
em Teerã de 28 de novembro a 1º de dezembro. J. V. Stalin, Presidente do Con-
selho de Comissários do Povo da URSS, F. D. Roosevelt, Presidente dos Estados
Unidos da América e W. Churchill, primeiro-ministro da Grã-Bretanha, partici-
param de seus trabalhos.
A Conferência aprovou a Declaração sobre a ação conjunta na guerra contra
a Alemanha e a cooperação pós-guerra das três Potências e também a Declaração
relativa ao Irã. Os textos estão publicados abaixo.
CONFERÊNCIA DA CRIMEIA
(4 a 11 de fevereiro de 1945)
4 de fevereiro de 1945
soviéticas.
Stalin disse que a maior parte das ferrovias permaneceu sem alterações. O
comando soviético estava mudando o calibre das ferrovias com parcimônia.
Churchill declarou que tinha várias perguntas a fazer. Ele acreditava que havia
uma série de perguntas que seria conveniente para as três delegações discutirem.
Por exemplo, a questão do tempo. Deve-se determinar quanto tempo os alemães
precisariam para transferir oito divisões da Itália para a frente soviética. O que
deve ser feito para evitar tal transferência? Não deveria parte das forças aliadas
ser transferida pelo corredor de Liubliana para se juntar ao Exército Vermelho?
Também seria necessário determinar o tempo que isto levaria e se talvez não fosse
tarde demais para fazê-lo.
Ele, Churchill, havia indicado apenas uma das perguntas que poderiam ser
discutidas pelas delegações. Ele propôs que o General Marshall fizesse um re-
latório sobre as operações na frente ocidental cuja condução seria de assistência
aos exércitos soviéticos.
Roosevelt concordou com o Primeiro-Ministro. Ele disse que os Aliados esta-
vam lutando a uma grande distância um do outro. A Alemanha tinha encolhido,
e foi por isso que o contato mais próximo entre as delegações dos três países foi
de especial importância.
Stalin disse que isto era correto.
O General Marshall declarou que as consequências da ofensiva alemã nas Ar-
denas foram eliminadas. Nas semanas anteriores, o General Eisenhower reagru-
pou suas divisões. Ao mesmo tempo, o General Eisenhower continuou a exercer
pressão sobre o inimigo na área da contraofensiva alemã. Como resultado das
operações que havia conduzido, o General Eisenhower descobriu que os alemães
tinham grandes forças nas Ardenas. Foi por isso que o General Eisenhower co-
meçou a concentrar suas forças no norte.
No setor sul da frente, ou seja, ao norte da Suíça, o objetivo da operação
planejada era jogar de volta os alemães na área de Mühlhausen e Colmar. O
objetivo das operações que estão sendo conduzidas ao norte de Estrasburgo era
liquidar a ponte na margem esquerda do Reno. À época, o 25º Grupo do Exército
e o 9º Exército dos EUA, que estavam sob o comando de Montgomery, estavam
se preparando para uma ofensiva no setor norte. O 9º Exército dos EUA atacaria
na direção nordeste.
O comando aliado esperava iniciar a primeira dessas operações em 8 de feve-
reiro. A segunda operação era para começar em uma semana ou possivelmente
um pouco mais cedo. Os aliados esperavam que os alemães se retirassem para
Düsseldorf, depois do que as tropas aliadas se mudariam para Berlim. Como mui-
tas forças deveriam ser movidas para esta ofensiva devido às instalações de abas-
tecimento. Paraquedistas seriam usados. Esperava-se que a travessia do Reno, no
norte, fosse possível no início de março. No norte, havia três lugares adequados
para forçar a passagem do Reno.
Por um certo tempo, as operações na frente ocidental se desenvolveram len-
tamente por causa da falta de tonelagem. Então, após a abertura da Antuérpia,
as coisas estavam se animando, e os Aliados foram capazes de trazer de 70.000
a 80.000 toneladas de carga seca por dia, e 12.000 toneladas de combustível lí-
J. V. Stalin 767
Stalin disse que concordava com isso. Ele propôs que a reunião fosse marcada
para as 12 horas.
Churchill declarou que na reunião os militares devem discutir não apenas a
situação nas frentes oriental e ocidental, mas também na frente italiana, bem
como também a questão da melhor maneira de usar as forças disponíveis. Ele,
Churchill, também propôs que uma reunião fosse marcada para o dia seguinte
para discutir questões políticas, nomeadamente, o futuro da Alemanha, se ela
tiver algum.
Stalin respondeu que a Alemanha teria um futuro.
I – A Derrota da Alemanha
VI – Polônia
VII – Iugoslávia
11 de fevereiro de 1945
Winston S. Churchill
Franklin D. Roosevelt
J. V. Stalin
11 de fevereiro de 1945
J. V. Stalin
Franklin D. Roosevelt
Winston S. Churchill
CONFERÊNCIA DE POTSDAM
Primeira Sessão
17 de julho de 1945
Stalin: Concordo, mas não estou muito certo quanto à participação do Minis-
tro das Relações Exteriores da China no Conselho. Afinal, esta é uma questão de
problemas europeus, não é? Quão apropriada é a participação do representante
da China?
Truman: Podemos discutir esta questão depois que os Ministros das Relações
Exteriores nos apresentarem seus relatórios.
Stalin: Muito bem.
Truman: Sobre um Conselho de Controle da Alemanha. Este Conselho deve
iniciar o seu trabalho o mais rápido possível, de acordo com o acordo alcançado.
Com esse fim em vista, submeto para vossa consideração um rascunho contendo
os princípios que, em nossa opinião, devem reger o trabalho deste Conselho de
Controle.
Churchill: Não tive oportunidade de ler este documento, mas o lerei com
total atenção e respeito e então isso poderá ser discutido. Esta questão é tão
ampla que não deve ser encaminhada aos Ministros das Relações Exteriores, mas
devemos estudá-la e discuti-la nós mesmos, e então, se necessário, encaminhá-la
aos Ministros.
Truman: Podemos discutir este assunto amanhã.
Stalin: De fato, podemos discutir a questão amanhã. Os ministros poderiam
familiarizar-se com ela de antemão; isso seria aconselhável, porque nós mesmos
estaremos estudando a questão ao mesmo tempo.
Churchill: Nossos ministros já têm o suficiente para fazer no primeiro docu-
mento. Amanhã podemos encaminhar esta segunda pergunta para eles também,
não podemos? Stalin: Bom, vamos fazer isso amanhã.
Truman lê o conteúdo de um memorando que diz que, sob as decisões da
Declaração de Yalta sobre a Europa Libertada, as três Potências assumiram cer-
tas obrigações em relação aos povos libertados da Europa e dos antigos satélites
da Alemanha. Essas decisões previam uma política acordada dos três Poderes e
sua ação conjunta na solução dos problemas políticos e econômicos da Europa
libertada de acordo com os princípios democráticos.
Desde a Conferência de Yalta, as obrigações assumidas por nós na Declara-
ção sobre a Europa Libertada permanecem sem cumprimento. Na opinião do
Governo dos EUA, o fracasso contínuo no cumprimento dessas obrigações será
considerado em todo o mundo como indicativo da falta de unidade entre as três
Grandes Potências e minará a confiança na sinceridade e unidade de propó-
sito entre as Nações Unidas. É por isso que o Governo dos EUA propõe que o
cumprimento das obrigações desta Declaração seja totalmente coordenado nesta
Conferência.
Os três grandes Estados aliados devem concordar com a necessidade de uma
reorganização imediata dos atuais Governos da Romênia e da Bulgária em es-
trita conformidade com o parágrafo 3, ponto “c” da Declaração sobre a Europa
Libertada. As consultas devem ser realizadas imediatamente para elaborar o pro-
cedimento necessário para a reorganização desses Governos para que incluam
representantes de todos os importantes grupos democráticos. Depois que esses
Governos forem reorganizados, pode haver reconhecimento diplomático deles
782 Obras Escolhidas
internacional de paz?
Truman: Sim.
Churchill: A conferência de paz que acabará com a guerra.
Stalin: Na Europa, a guerra acabou. O Conselho determinará e sugerirá a
data para a convocação de uma conferência de paz.
Truman: Me parece que a conferência não deve ser convocada antes de estar-
mos devidamente preparados para isso.
Churchill: Parece-me que não há dificuldade em concertar o objetivo pelo
qual estamos lutando. Devemos criar um Conselho de Ministros das Relações
Exteriores para elaborar um tratado de paz. Mas este Conselho não deve subs-
tituir as organizações que já existem e lidam com assuntos cotidianos – as reu-
niões regulares dos três Ministros e da Comissão Consultiva Europeia, nas quais
a França também participa. O Conselho de Ministros das Relações Exteriores é
uma organização mais ampla. Lá poderá se estabelecer até que ponto a Comis-
são Consultiva Europeia e as reuniões ordinárias dos Ministros podem tratar das
questões do tratado de paz.
Stalin: Quem nesse caso deve ser subordinado a quem?
Churchill: O Conselho de Ministros das Relações Exteriores deve existir pa-
ralelamente ao Conselho de Segurança, do qual a China também participa, e
paralelamente às reuniões ordinárias dos Ministros das Relações Exteriores e da
Comissão Consultiva Europeia. Até a vitória sobre o Japão, a China terá dificul-
dade em participar na discussão de questões europeias. Não podemos nos be-
neficiar de forma alguma com a participação da China na discussão de questões
europeias no momento. A Europa sempre foi um grande vulcão e seus proble-
mas devem ser considerados altamente importantes. É possível que, no momento
em que a conferência de paz será convocada, tenhamos melhores notícias do Ex-
tremo Oriente e possamos convidar a China também. Proponho que, em princí-
pio, o tratado de paz seja elaborado pelas cinco principais potências, mas quanto
à Europa, seus problemas devem ser discutidos apenas pelos quatro Poderes que
têm interesse direto nessas questões. Desta forma, não interromperemos o tra-
balho da Comissão Consultiva Europeia e as reuniões ordinárias dos Ministros
das Relações Exteriores. Ambas as organizações poderão continuar seu trabalho
simultaneamente.
Stalin: Talvez devêssemos encaminhar esta questão aos Ministros para discus-
são?
Truman: Concordo e não me oponho à exclusão da China do Conselho de
Ministros das Relações Exteriores.
Churchill: Eu acho que seria possível organizar as coisas de tal forma que
alguns membros não participariam de todas as sessões, embora usufruíssem de
direitos plenos, como todos os outros membros, mas só compareceriam às sessões
quando houvesse um exame das questões que os interessassem.
Truman: Como eu vejo, esta questão deve ser encaminhada aos Ministros das
Relações Exteriores para discussão.
Stalin: Sim, isso mesmo.
Truman: Podemos discutir mais alguma coisa hoje?
788 Obras Escolhidas
Stalin: Já que todas as questões devem ser discutidas pelos Ministros das Re-
lações Exteriores, não temos mais nada para discutir hoje.
Churchill: Proponho que os Ministros das Relações Exteriores examinem a
questão de se deve haver quatro ou cinco membros. Mas que este Conselho deve
tratar exclusivamente dos preparativos para o tratado de paz primeiro para a Eu-
ropa e depois para o mundo inteiro.
Stalin: Um tratado de paz ou uma conferência de paz?
Churchill: O Conselho preparará um plano que colocará perante os Chefes
de Governo para exame.
Stalin: Que os Ministros das Relações Exteriores discutam o quanto é ne-
cessário manter viva a Comissão Consultiva Europeia na Europa e o quanto é
necessário para que as reuniões ordinárias dos três Ministros, estabelecidas de
acordo com a decisão de Yalta, continuem suas funções. Que os Ministros tam-
bém discutam essas questões.
Churchill: Isso depende da situação na Europa e do progresso que essas orga-
nizações fizerem em seu trabalho. Proponho que os três Ministros das Relações
Exteriores continuem as reuniões regulares e que a Comissão Consultiva Euro-
peia também continue seu trabalho.
Truman: Temos que especificar as questões concretas para discussão na sessão
de amanhã.
Churchill: Devemos querer ter algo definitivo na bolsa todas as noites quando
voltarmos para casa.
Truman: Gostaria que os Ministros das Relações Exteriores nos dessem algo
definitivo para discussão todos os dias.
Stalin: Concordo.
Truman: Também proponho que comecemos nossas sessões às quatro horas
em vez de cinco.
Stalin: Quatro? Tudo bem.
Churchill: Nós nos submetemos ao Presidente.
Truman: Se isso for aceito, vamos adiar o exame das perguntas para as 16
horas de amanhã.
Stalin: Sim, vamos fazer isso. Há apenas uma outra pergunta: por que o Sr.
Churchill nega aos russos sua parte da marinha alemã?
Churchill: Não tenho objeções. Mas já que você me fez esta pergunta, aqui
está minha resposta: esta marinha deve ser afundada ou dividida.
Stalin: Você quer que ela seja afundada ou dividida?
Churchill: Todos os meios de guerra são coisas terríveis.
Stalin: A marinha deve ser dividida. Se o Sr. Churchill prefere afundar
a marinha, ele está livre para afundar sua parte dela; Não tenho intenção de
afundar a minha.
Churchill: No momento, quase toda a marinha alemã está em nossas mãos.
Stalin: Essa é a questão. Essa é a questão. É por isso que precisamos decidir
a questão.
Truman: Amanhã a sessão é às 4 horas.
J. V. Stalin 789
312 O palácio Cecilienhof fica na cidade de Potsdam em Brandemburgo, próximo à Berlim (N.T)
790 Obras Escolhidas
sentido foi acordado recomendar que a Comissão Consultiva Europeia fosse dis-
solvida.
III – Alemanha
Os exércitos aliados estão em ocupação de toda a Alemanha e o povo alemão
começou a expiar os terríveis crimes cometidos sob a liderança daqueles que, na
hora de seu sucesso, eles aprovaram abertamente e obedeceram cegamente.
Chegou-se a um acordo nesta Conferência sobre os princípios políticos e
econômicos de uma política aliada coordenada em relação à Alemanha derro-
tada durante o período de controle aliado.
O objetivo deste acordo é executar a declaração da Crimeia sobre a Alemanha.
O militarismo alemão e o nazismo serão extirpados e os Aliados tomarão juntos,
agora e no futuro, as outras medidas necessárias para garantir que a Alemanha
nunca mais ameace seus vizinhos ou a paz do mundo.
Não é a intenção dos Aliados destruir ou escravizar o povo alemão. É a in-
tenção dos Aliados que o povo alemão tenha a oportunidade de se preparar para
a eventual reconstrução de suas vidas de forma democrática e pacífica. Se seus
próprios esforços forem constantemente direcionados para este fim, será possí-
vel que eles, no devido tempo, tomem seu lugar entre os povos livres e pacíficos
do mundo.
O texto do acordo é o seguinte:
Princípios Políticos
1. De acordo com o Acordo sobre Mecanismos de Controle na Alemanha,
a autoridade suprema na Alemanha é exercida por instruções de seus respecti-
vos Governos, pelos comandantes-em-chefe das Forças Armadas da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, os Estados Unidos da América, o Reino Unido
e a República Francesa, cada um em sua própria zona de ocupação, e também
conjuntamente, em assuntos que afetam a Alemanha como um todo, em sua ca-
pacidade como membros do Conselho de Controle.
2. Na medida em que for possível, haverá uniformidade de tratamento da
população alemã em toda a Alemanha.
3. Os propósitos da ocupação da Alemanha pela qual o Conselho de Controle
será orientado são:
(I) O completo desarmamento e desmilitarização da Alemanha e a eliminação
ou controle de toda a indústria alemã que poderia ser usada para a produção
militar. Para estes fins:
(a) Todas as forças terrestres, navais e aéreas alemãs, as S.S., S.A., S.D. e Ges-
tapo, com todas as suas organizações, funcionários e instituições, incluindo o
Estado-Maior, o Corpo de Oficiais, Corpo de Reserva, escolas militares, organi-
zações de veteranos de guerra e todas as outras organizações militares e quase
militares, juntamente com todos os clubes e associações que servem para manter
viva a tradição militar na Alemanha, serão completamente e finalmente abolidas
792 Obras Escolhidas
ções Unidas e pela qual o povo alemão não pode escapar da responsabilidade,
chegou-se ao seguinte acordo sobre as indenizações:
1. As reivindicações de reparação da URSS serão atendidas por remoções da
zona da Alemanha ocupada pela URSS e dos ativos externos alemães apropriados.
2. A URSS compromete-se a resolver as reivindicações de reparação da Polô-
nia de sua própria parcela de indenizações.
3. As reivindicações de reparação dos Estados Unidos, do Reino Unido e de
outros países com direito a indenizações serão atendidas das zonas ocidentais e
dos ativos externos alemães apropriados.
4. Além das reparações a serem tomadas pela URSS de sua própria zona de
ocupação, a URSS receberá adicionalmente das zonas ocidentais:
(a) 15% desses equipamentos de capital industrial utilizáveis e completos, em
primeiro lugar das indústrias metalúrgica, química e de fabricação de máquinas,
por serem desnecessárias para a economia de paz alemã e devem ser removidas
das zonas ocidentais da Alemanha, em troca de um valor equivalente de alimen-
tos, carvão, potássio, zinco, madeira, produtos de argila, produtos petrolíferos e
outras commodities como pode ser acordado.
(b) 10% desses equipamentos de capital industrial, por serem desnecessários
para a economia de paz alemã e devem ser removidos das zonas ocidentais, para
serem transferidos ao Governo soviético por conta de reparação sem pagamento
ou troca de qualquer tipo em retorno.
As remoções dos equipamentos conforme previsto em (a) e (b) acima devem
ser feitas simultaneamente.
5. A quantidade de equipamento a ser removido das zonas ocidentais por
conta de indenizações deve ser determinada dentro de seis meses, no máximo.
6. As remoções dos equipamentos de capital industrial devem começar o mais
breve possível e devem ser concluídas dentro de dois anos a partir da determina-
ção especificada no parágrafo 5. A entrega dos produtos cobertos por 4(a) acima
começará o mais rápido possível e deve ser feita pela URSS em parcelas acordadas
dentro de cinco anos a partir da data deste documento. A determinação do mon-
tante e do caráter dos equipamentos de capital industrial desnecessários para a
economia alemã de paz e, portanto, disponível para indenizações, será feita pelo
Conselho de Controle sob políticas fixadas pela Comissão de Reparações Aliadas
com a participação da França, sujeita à aprovação final do Comandante da zona
de onde o equipamento deve ser removido.
7. Antes da fixação da quantidade total de equipamentos sujeitos à remoção,
as entregas antecipadas serão feitas em relação a tais equipamentos, conforme
determinadas elegíveis para entrega de acordo com o procedimento estabelecido
na última sentença do parágrafo 6.
8. O Governo soviético renuncia a todas as reivindicações em relação às inde-
nizações em ações de empresas alemãs que estão localizadas nas zonas ocidentais
de ocupação na Alemanha, bem como aos ativos estrangeiros alemães em todos
os países, exceto aqueles especificadas no parágrafo 9 abaixo.
9. Os governos do Reino Unido e dos EUA renunciam às suas reivindica-
ções em relação a reparações em ações alemãs de empresas que estão localizadas
796 Obras Escolhidas
ANEXO 3 – LEGISLAÇÃO E
DECLARAÇÕES CONCERNENTES À
QUESTÃO NACIONAL
Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia
dessa posição de ser uma linguagem comum a todo o povo, ela só tem que dar
preferência e apoio a algum grupo social em detrimento de outros grupos soci-
ais da sociedade e perde sua virtude, deixa de ser um meio de relação entre as
pessoas da sociedade e se torna o jargão de algum grupo social, degenera e está
condenada a desaparecer.
A este respeito, embora difere, em princípio, da superestrutura, a linguagem
não difere dos instrumentos de produção, dos mecanismos, digamos, que são tão
indiferentes às classes quanto a linguagem e podem, de igual maneira, servir a
um sistema capitalista e a um sistema socialista.
Além disso, a superestrutura é o produto de uma época, a época em que a base
econômica dada existe e opera. A superestrutura é, portanto, de curta duração;
é eliminado e desaparece com a eliminação e desaparecimento da base dada.
A linguagem, pelo contrário, é o produto de um número inteiro de épocas,
no curso das quais toma forma, é enriquecida, desenvolve e é suavizada. Uma lín-
gua, portanto, vive incomensuravelmente mais do que qualquer base ou qualquer
superestrutura. Isso explica por que o aumento e a eliminação não só de uma
base e sua superestrutura, mas de várias bases e suas superestruturas correspon-
dentes, não levaram na história à eliminação de uma determinada linguagem, à
eliminação de sua estrutura e à ascensão de uma nova linguagem com um novo
estoque de palavras e um novo sistema gramatical.
Faz mais de cem anos desde que Pushkin morreu. Neste período, o sistema
feudal e o sistema capitalista foram eliminados na Rússia e um terceiro surgiu,
um sistema socialista. Assim, duas bases, com suas superestruturas, foram eli-
minadas, e uma nova base socialista surgiu, com sua nova superestrutura. No
entanto, se tomarmos a língua russa, por exemplo, ela não sofreu, neste longo
período de tempo, nenhuma mudança fundamental e a língua russa moderna
difere muito pouco em estrutura da língua de Pushkin.
O que mudou na língua russa nesse período? O vocabulário russo foi muito
enriquecido; um grande número de palavras obsoletas saiu do vocabulário; o
significado de muitas palavras mudou; o sistema gramatical da linguagem me-
lhorou. Quanto à estrutura da língua Pushkin, com seu sistema gramatical e seu
estoque básico de palavras, em todos os fundamentos permaneceu como base do
russo moderno.
E isso é bastante compreensível. De fato, que necessidade há, após cada re-
volução, para que a estrutura existente da linguagem, seu sistema gramatical e o
estoque básico de palavras sejam destruídos e suplantados por novas, como geral-
mente é o caso da superestrutura? Que objeto haveria em chamar “água”, “terra”,
“montanha”, “floresta”, “peixe”, “homem”, “andar”, “fazer”, “produzir”, “para
negociar”, etc., não água, terra, montanha, etc., mas outra coisa? Que objeto
haveria em ter a modificação das palavras em uma língua e a combinação de
palavras em frases não seguem a gramática existente, mas alguma gramática to-
talmente diferente? O que a revolução ganharia com tal revolta na linguagem?
A história em geral nunca faz nada de qualquer importância sem alguma ne-
cessidade especial para ela. O que, pergunta-se, pode ser a necessidade de tal
revolução linguística, se foi demonstrado que a linguagem existente e sua estru-
tura são fundamentalmente adequadas às necessidades do novo sistema? A velha
812 Obras Escolhidas
superestrutura pode e deve ser destruída e substituída por uma nova ao longo
de alguns anos, a fim de dar livre espaço para o desenvolvimento das forças pro-
dutivas da sociedade; mas como pode uma linguagem existente ser destruída e
uma nova construída em seu lugar ao longo de alguns anos sem causar anarquia
na vida social e sem criar a ameaça da desintegração da sociedade? Quem além
de um Dom Quixote poderia abraçar tal tarefa?
Por último, uma outra distinção radical entre a superestrutura e a lingua-
gem. A superestrutura não está diretamente ligada à produção, com a atividade
produtiva do homem. Está ligada à produção apenas indiretamente, através da
economia, através da base. A superestrutura reflete, portanto, mudanças no
nível de desenvolvimento das forças produtivas não imediatamente e não dire-
tamente, mas apenas após mudanças na base, através do prisma das mudanças
feitas na base pelas mudanças na produção. Isso significa que a esfera de ação
da superestrutura é estreita e restrita.
A linguagem, pelo contrário, está ligada diretamente à atividade produtiva
do homem, e não apenas com a atividade produtiva do homem, mas com todas
as suas outras atividades em todas as suas esferas de trabalho, da produção à
base e da base à superestrutura. Por essa razão, a linguagem reflete mudanças
na produção de forma imediata e direta, sem esperar por mudanças na base.
Por essa razão, a esfera de ação da linguagem, que abrange todos os campos da
atividade do homem, é muito mais ampla e abrangente do que a esfera de ação
da superestrutura. Mais, é praticamente ilimitada.
É isso que explica principalmente por que a linguagem, ou melhor, seu vo-
cabulário, está em um estado de mudança quase constante. O desenvolvimento
contínuo da indústria e da agricultura, do comércio e do transporte, da tecno-
logia e da ciência, exige que a linguagem reponha seu vocabulário com novas
palavras e expressões necessárias para seu funcionamento. E a linguagem, refle-
tindo diretamente essas necessidades, repõe seu vocabulário com novas palavras
e aperfeiçoa seu sistema gramatical.
Daí: a) Um marxista não pode considerar a linguagem como uma superes-
trutura na base; b) Confundir linguagem e superestrutura é cometer um erro
grave.
PERGUNTA: É verdade que a linguagem sempre foi e é uma linguagem de classe, que
não existe essa coisa de linguagem que é a linguagem única e comum de uma sociedade,
uma linguagem não classista comum a todo o povo?
RESPOSTA: Não, não é verdade.
Não é difícil entender que em uma sociedade que não tem classes não pode
haver tal coisa como uma linguagem de classe. Não havia classes no sistema pri-
mitivo do clã comunitário, e consequentemente não poderia haver linguagem de
classe – a língua era então a linguagem única e comum de toda a comunidade. A
objeção de que o conceito classe deve ser tomado como cobertura de toda comu-
nidade humana, incluindo a comunidade comum primitiva, não é uma objeção,
mas um brincar com palavras que não vale a pena refutar.
Quanto ao desenvolvimento subsequente das línguas dos clãs às línguas tri-
bais, das línguas tribais às línguas das nacionalidades e das línguas das nacionali-
dades às línguas nacionais, em todos os lugares e em todas as fases de desenvolvi-
J. V. Stalin 813
mento, a linguagem, como meio de relação entre o povo de uma sociedade, era a
linguagem comum e única dessa sociedade, servindo seus membros igualmente,
independentemente de seu status social.
Não estou me referindo aqui aos impérios dos períodos escravagista e medi-
eval, aos impérios de Ciro ou Alexandre, o Grande, digamos, ou de César ou
Carlos, o Grande, que não tinham fundamentos econômicos próprios e eram
associações militares e administrativas transitórias e instáveis. Não só esses im-
périos não tinham, como não poderiam ter uma única língua comum a todo o
império e compreendida por todos os membros do império. Eram conglomera-
dos de tribos e nacionalidades, cada uma das quais vivendo sua própria vida e
possuindo sua própria língua. Consequentemente, não são esses ou impérios si-
milares que tenho em mente, mas as tribos e nacionalidades que os compunham,
que tinham suas próprias bases econômicas e suas próprias línguas, que haviam
evoluído em um passado distante. A história nos diz que as línguas dessas tribos
e nacionalidades não eram línguas de classe, mas línguas comuns a toda uma
tribo ou nacionalidade e compreendidas por todo o seu povo.
Lado a lado com isso, havia, é claro, dialetos, vernáculos locais, mas eles eram
dominados e subordinados à linguagem única e comum da tribo ou nacionali-
dade.
Mais tarde, com o surgimento do capitalismo, a eliminação da divisão feudal e
a formação de mercados nacionais, nacionalidades se desenvolveram em nações
e as línguas das nacionalidades em línguas nacionais. A história mostra que
as línguas nacionais não pertencem a classes específicas, mas línguas comuns,
comuns a todos os membros de cada nação e constituindo a língua única daquela
nação.
Já foi dito acima que a linguagem, como um meio de relação entre as pessoas
de uma sociedade, serve a todas as classes da sociedade igualmente, e a este res-
peito exibe o que pode ser chamado de indiferença às classes. Mas as pessoas, os
vários grupos sociais, as classes, estão longe de serem indiferentes à linguagem.
Eles se esforçam em utilizar a língua para seus próprios interesses, para impor
sua própria linguagem especial, seus próprios termos especiais, suas próprias ex-
pressões especiais sobre ela. Os estratos superiores das classes proprietárias, que
se divorciaram e detestam as pessoas comuns, a nobreza aristocrática, os estratos
superiores da burguesia, particularmente se distinguem a este respeito. Diale-
tos de “classe”, jargões, “línguas” da alta sociedade são criadas. Esses dialetos
e jargões são muitas vezes referidos incorretamente na literatura como línguas
– a “linguagem aristocrática” ou a “língua burguesa” em contraposição à “lín-
gua proletária” ou à “língua camponesa”. Por essa razão, por mais estranho que
possa parecer, alguns de nossos camaradas chegaram à conclusão de que a língua
nacional é uma ficção, e que apenas línguas de classe existem na realidade.
Não há nada, eu acho, mais errado do que esta conclusão. Esses dialetos e
jargões podem ser considerados línguas? Certamente que não. Eles não podem,
em primeiro lugar, porque esses dialetos e jargões não têm sistemas gramaticais
ou estoques básicos de palavras próprios – eles os tomam emprestados da língua
nacional. Eles não podem, em segundo lugar, porque esses dialetos e jargões
estão confinados a uma esfera estreita, são correntes apenas entre os estratos
814 Obras Escolhidas
2008. (N.T)
J. V. Stalin 815
Engels fala aqui de dialetos, não de línguas, percebendo plenamente que, sendo
um desdobramento da língua nacional, um dialeto não pode suplantar a língua
nacional. Mas, aparentemente, esses camaradas consideram a existência de uma
diferença entre uma língua e um dialeto sem entusiasmo particular.
É óbvio que a citação é inadequada, porque Engels aqui não fala de “línguas
de classe”, mas principalmente de pensamentos de classe, ideais, costumes, prin-
cípios morais, religiosos, políticos. É perfeitamente verdade que os pensamentos,
ideais, costumes, princípios morais, religiosos e políticos dos burgueses e prole-
tários são diretamente antitéticos. Mas o que isso tem a ver com uma língua
nacional, ou o “caráter de classe” da linguagem? A existência de antagonismos
de classe na sociedade pode servir como argumento a favor do “caráter de classe”
da linguagem, ou contra a necessidade de uma única língua nacional? O mar-
xismo diz que uma língua comum é um dos principais destinos de uma nação,
embora sabendo muito bem que há antagonismos de classe dentro da nação. Os
camaradas a que nos referimos reconhecem essa tese marxista?
Referências são feitas a Lafargue316 e se diz que em seu panfleto A Língua
Francesa Antes e Depois da Revolução ele reconhece o “caráter de classe” da lingua-
gem e nega a necessidade de uma língua nacional comum a todo o povo. Isso não
é verdade. Lafargue realmente fala de uma “linguagem nobre” ou “aristocrática”
e dos “jargões” de vários estratos da sociedade. Mas esses camaradas esquecem
que Lafargue, que não estava interessado na diferença entre línguas e jargões
e se referia aos dialetos agora como “línguas artificiais”, agora como “jargões”,
definitivamente diz neste panfleto que “a linguagem artificial que distinguia a
aristocracia . . . surgiu da linguagem comum a todo o povo, que era falada tanto
por burgueses quanto por artesãos, pela cidade e pelo interior.”
Consequentemente, Lafargue reconhece a existência e a necessidade de uma
linguagem comum de todo o povo, e percebe plenamente que a “linguagem aris-
tocrática” e outros dialetos e jargões são subordinados e dependentes da lingua-
gem comum a todo o povo.
Acontece que a referência a Lafargue passa ao largo do problema.
Refere-se ao fato de que, em algum momento, na Inglaterra, os senhores feu-
dais falavam “durante séculos” em francês, enquanto o povo inglês falava inglês,
e isso é alegado ser um argumento a favor do “caráter de classe” da língua e
contra a necessidade de uma língua comum a todo o povo. Mas isso não é um
argumento, é uma anedota. Em primeiro lugar, nem todos os senhores feudais
falavam francês naquela época, mas apenas um pequeno estrato superior de se-
nhores feudais ingleses ligados à corte e às sedes do condado. Em segundo lugar,
não era uma “língua de classe” que eles falavam, mas a linguagem comum a todos
os franceses. Em terceiro lugar, sabemos que, com o passar do tempo, essa moda
francesa desapareceu sem deixar rastros, cedendo lugar à língua inglesa comum
a todo o povo. Esses camaradas acham que os senhores feudais ingleses “durante
séculos” mantiveram relações com o povo inglês através de intérpretes, que não
usavam a língua inglesa, que não havia língua comum a todos os ingleses naquela
316Paul Lafargue (1842-1911), conhecido ativista dos movimentos operários franceses e internacio-
nais, propagandista marxista e publicitário. Ele foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores
Franceses, estudante e camarada de armas de Marx e Engels e marido da filha de Marx, Laura. (N.T)
816 Obras Escolhidas
época, e que a língua francesa na Inglaterra era então algo mais do que a língua
da alta sociedade, corrente apenas no círculo restrito da alta aristocracia inglesa?
Como pode-se negar a existência e a necessidade de uma linguagem comum a
todo o povo com base em “argumentos” anedóticos como esses?
Houve um tempo em que aristocratas russos na corte do tsar e na alta soci-
edade também fizeram uma moda da língua francesa. Eles se orgulhavam do
fato de que quando falavam russo muitas vezes caíam no francês, que só podiam
falar russo com sotaque francês. Isso significa que não havia uma língua russa
comum a todo o povo naquela época na Rússia, que uma linguagem comum a
todo o povo era uma ficção e “línguas de classe” uma realidade?
Nossos camaradas estão aqui cometendo pelo menos dois erros.
O primeiro erro é que eles confundem linguagem com superestrutura. Eles
acham que, como a superestrutura tem um caráter de classe, a linguagem tam-
bém deve ser uma linguagem de classe, e não uma linguagem comum a todo
o povo. Mas eu já disse que a linguagem e a superestrutura são dois conceitos
diferentes e que um marxista não deve confundi-los.
O segundo erro desses camaradas é que eles concebem a oposição dos inte-
resses da burguesia e do proletariado, a feroz luta de classes entre eles, como
significando a desintegração da sociedade, como uma ruptura de todos os laços
entre as classes hostis. Eles acreditam que, uma vez que a sociedade se desinte-
grou e não há mais uma sociedade única, mas apenas classes, uma única língua
da sociedade, uma língua nacional, é desnecessária. Se a sociedade se desinte-
grou e não há mais uma linguagem comum a todo o povo, uma língua nacional,
o que resta? Restam classes e “línguas de classe”. Naturalmente, cada “lingua-
gem de classe” terá sua gramática de “classe” – uma gramática “proletária” ou
uma gramática “burguesa”. É verdade que tais gramáticas não existem em lu-
gar nenhum. Mas isso não preocupa esses camaradas: eles acreditam que tais
gramáticas aparecerão no devido tempo.
Uma vez houve “marxistas” em nosso país que afirmaram que os caminhos
deixados para nós após a Revolução de Outubro eram caminhos burgueses, que
seria impróprio para nós marxistas usá-los, que eles deveriam ser destruídos e
novos caminhos “proletários” construídas. Por isso, foram apelidados de “troglo-
ditas”.
Não é preciso dizer que uma visão tão primitiva-anarquista da sociedade, das
classes, da linguagem não tem nada em comum com o marxismo. Mas, sem
dúvida, existe e continua a prevalecer nas mentes de certos de nossos camaradas
confusos.
É claro que é errado dizer que, devido à existência de uma luta de classes
feroz, a sociedade se dividiu em classes que não estão mais economicamente co-
nectadas umas com as outras em sociedade. Pelo contrário, enquanto o capita-
lismo existir, os burgueses e os proletários estarão unidos por cada fio econômico
como partes de uma única sociedade capitalista. Os burgueses não podem viver
e enriquecer a menos que tenham trabalhadores assalariados ao seu comando;
os proletários não podem sobreviver a menos que eles se aluguem para os capita-
listas. Se todos os laços econômicos entre eles cessassem, significaria a cessação
de toda a produção, e a cessação de toda a produção significaria a desgraça da
J. V. Stalin 817
317Bund, União Geral dos Trabalhadores Judeus da Lituânia, Polônia e Rússia, foi uma organização
fundada em um congresso realizado em Vilna em outubro de 1897, que trabalhou principalmente
entre os artesãos judeus. No Primeiro Congresso do Partido Operário Social-Democrata russo em
1898, o Bund juntou-se ao POSDR como “uma organização autônoma independente preocupada
apenas com os problemas especiais do proletariado judeu”. Uma vez que se juntou ao Partido, no
entanto, ele propagou o nacionalismo e o separatismo no movimento da classe trabalhadora russa. O
ponto de vista burguês-nacionalista foi severamente repudiado pelo jornal Iskra fundado por Lenin.
818 Obras Escolhidas
dos elementos da nova qualidade, e, portanto, pela morte gradual dos elementos
da velha qualidade.
Deve-se dizer em geral em benefício dos camaradas que têm uma paixão por
explosões que a lei de transição de uma qualidade antiga para uma nova por meio
de uma explosão é inaplicável não apenas para a história do desenvolvimento das
línguas; nem sempre é aplicável a outros fenômenos sociais de caráter básico ou
superestrutural. Aplica-se à necessidade de uma sociedade dividida em classes
hostis. Mas isso não se aplica necessariamente a uma sociedade que não tem
classes hostis. Em um período de oito a dez anos, fizemos uma transição na agri-
cultura do nosso país do sistema burguês, individual-camponês, para o sistema
socialista, de fazenda coletiva. Esta foi uma revolução que eliminou o antigo sis-
tema econômico burguês no campo e criou um novo sistema socialista. Mas essa
revolução não ocorreu por meio de uma explosão, ou seja, pela derrubada do
poder governamental existente e pela criação de um novo poder, mas por uma
transição gradual do antigo sistema burguês no campo para um novo sistema.
E foi possível fazer isso porque foi uma revolução de cima, porque a revolução
foi realizada por iniciativa do poder existente com o apoio da maior parte dos
camponeses.
Diz-se que os numerosos casos de encontros linguísticos na história passada
fornecem razão para acreditar que quando as línguas cruzam uma nova língua é
formada por meio de uma explosão, por uma transição repentina de uma quali-
dade antiga para uma nova. Isso é bastante errado.
O encontro linguístico não pode ser considerado o único impacto de um golpe
decisivo que produz seus resultados dentro de alguns anos. O encontro linguís-
tico é um processo prolongado que continua por centenas de anos. Não pode
haver, portanto, nenhuma questão de explosão aqui.
Ademais, seria muito errado pensar que o encontro de duas línguas resulta
em uma nova terceira língua que não se assemelha a nenhuma das línguas cruza-
das e difere qualitativamente de ambas. Na verdade, uma das línguas geralmente
emerge vitoriosa do encontro e mantém seu sistema gramatical e seu estoque bá-
sico de palavras e continua a desenvolver-se de acordo com as leis inerentes ao seu
desenvolvimento, enquanto a outra língua gradualmente perde sua qualidade e
gradualmente morre.
Consequentemente, um encontro não resulta em alguma nova terceira lín-
gua; uma das línguas persiste, mantém seu sistema gramatical e estoque básico
de palavras e é capaz de desenvolver de acordo com as leis inerentes ao seu de-
senvolvimento.
É verdade que, no processo, o vocabulário da língua vitoriosa é um pouco
enriquecido a partir da linguagem derrotada, mas isso a fortalece ao invés de
enfraquecê-la.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a língua russa, com a qual, no curso
do seu desenvolvimento histórico cruzou com as línguas de vários outros povos e
que sempre emergiu vitoriosa.
Claro, no processo o vocabulário da língua russa foi ampliado em detrimento
dos vocabulários das outras línguas, mas longe de enfraquecer, isso enriqueceu
e fortaleceu a língua russa.
J. V. Stalin 823
A discussão provou ser muito útil antes de tudo porque trouxe este regime de
Arakcheyev à luz do dia e esmagou-o em cacos.
Mas a utilidade da discussão não termina aí. Ele não só esmagou o antigo
regime da linguística como também trouxe à tona a incrível confusão de ideias
sobre questões cardeais da linguística que prevalece entre os círculos principais
neste ramo da ciência. Até que a discussão começasse, os “discípulos” de N. Y.
Marr mantiveram o silêncio e iludiram sobre o estado insatisfatório de coisas na
linguística. Mas quando a discussão começou o silêncio tornou-se impossível, e
eles foram obrigados a expressar sua opinião na imprensa. E o que encontra-
mos? Acontece que nos ensinamentos de N. Y. Marr há uma série de defeitos,
erros, problemas mal definidos e proposições esboçadas. Por que, pergunta-se,
os “discípulos” de N. Y. Marr começaram a falar sobre isso somente agora, depois
que a discussão começou? Por que não perceberam isso antes? Por que eles não
falaram sobre isso no devido tempo, aberta e honestamente, como deve ser com
os cientistas?
Tendo admitido “alguns” erros de N. Y. Marr, seus “discípulos”, parece, pen-
sam que a linguística soviética só pode ser avançada com base em uma versão “re-
tificada” da teoria de N. Y. Marr, que eles consideram marxista. Não, salve-nos
do “marxismo” de N. Y. Marr! N. Y. Marr realmente queria ser, e se esforçou
para ser, um marxista, mas ele não conseguiu se tornar um. Ele não passava
de um simplificador e vulgarizador do marxismo, semelhante aos “proletculis-
tas”321 ou aos “rappistas”322 .
N. Y. Marr introduziu na linguística a fórmula incorreta e não marxista de
que a linguagem é uma superestrutura e se colocando em uma confusão colocou
a linguística em uma confusão. A linguística soviética não pode avançar com base
em uma fórmula incorreta.
N. Y. Marr introduziu na linguística outra fórmula incorreta e não marxista,
em relação ao “caráter de classe” da linguagem, e entrou em confusão e colocou a
linguística em uma confusão. A linguística soviética não pode avançar com base
em uma fórmula incorreta que é contrária a todo o curso da história dos povos e
línguas.
N. Y. Marr introduziu na linguística um tom imodesto, arrogante e falastrão,
estranho ao marxismo que tende a uma negação ousada e espontânea de tudo
feito em linguística antes de N. Y. Marr.
N. Y. Marr abusou do método comparativo-histórico de forma “idealista”. No
entanto, deve-se dizer que, apesar de suas sérias deficiências, o método comparativo-
histórico é, no entanto, melhor do que a análise realmente idealista de quatro
elementos de N. Y. Marr323 , porque o primeiro dá um estímulo ao trabalho, ao
estudo de línguas, enquanto o último só dá um estímulo para refestelar-se em
sua poltrona e ler o futuro na xícara de chá dos quatro elementos celebrados.
321 Proletkult é a abreviatura da expressão russa “proletarskaya kultura” (пролетарская культура), que
significa “cultura proletária”. Foi um movimento literário surgido na Rússia em 1917. (N.T.)
322 Referência à RAPP (Российская ассоциация пролетарских писателей, РАПП) – Associação Russa
das quatro sílabas sal, ber, yon e rosh. Sobre Marr ver SÉRIOT, P. Un paradigme perdu: la linguis-
tique marriste, Cahiers de l’ILSL, Nº 20, Université de Lausanne: 2005 (N.T.)
J. V. Stalin 825
Camarada Krasheninnikova,
Estou respondendo suas perguntas.
PERGUNTA: Seu artigo mostra convincentemente que a linguagem não é
nem a base nem a superestrutura. Seria correto considerar a linguagem como
um fenômeno característico tanto da base quanto da superestrutura ou seria mais
correto considerar a linguagem como um fenômeno intermediário?
RESPOSTA: Claro, o caráter da linguagem, como fenômeno social, é aquela
característica comum inerente a todos os fenômenos sociais, incluindo a base e a
superestrutura, ou seja: serve à sociedade assim como a sociedade é servida por
todos os outros fenômenos sociais, incluindo a base e a superestrutura. Mas isso,
propriamente falando, esgota essa característica comum que é inerente a todos os
fenômenos sociais. Para além disso, importantes distinções se apresentam entre
fenômenos sociais.
A questão é que os fenômenos sociais têm, além dessa característica comum,
suas próprias características específicas que os distinguem uns dos outros e que
324A postulação de uma descrição plausível dos contornos desta protolíngua, através da observação
das similaridades e diferenças sistemáticas das línguas indo-europeias entre si, foi uma das grandes
realizações dos linguistas a partir do início do século XIX. (N.T.)
826 Obras Escolhidas
ata do pensamento”, como “prática, ... consciência real.”325 “Ideias”, diz Marx,
“não existem divorciadas da linguagem”. Em que medida, em sua opinião, a
linguística deve ocupar-se com o aspecto semântico da linguagem, semântica,
semasiologia histórica e estilística, ou deve ser a forma sozinha o objeto de lin-
guística?
RESPOSTA: A semântica (semasiologia) é um dos ramos importantes da lin-
guística. O aspecto semântico das palavras e expressões é de grande importância
no estudo da linguagem. Assim, a semântica (semasiologia) deve ter assegurado
seu devido lugar na linguística.
No entanto, ao trabalhar em problemas de semântica e na utilização de seus
dados, sua significância não deve de forma alguma ser superestimada e, ainda
menos, deve ser abusada. Tenho em mente certos filólogos que, tendo uma pai-
xão excessiva pela semântica, desconsideram a linguagem como “a realidade ime-
diata do pensamento” inseparavelmente ligada ao pensamento, divorciam o pen-
samento da linguagem e afirmam que a linguagem está superando sua época e
que é possível viver sem linguagem.
Ouça o que N. Y. Marr diz:
“A linguagem só existe na medida em que se expressa em sons; a ação do
pensamento ocorre também sem ser expressada.... A linguagem (falada) já co-
meçou a entregar suas funções às últimas invenções que estão conquistando es-
paço, enquanto o pensamento está em atualização, partindo de seus acúmulos
não utilizados no passado e suas novas aquisições e deve suplantar e substituir
totalmente a linguagem. A linguagem do futuro é o pensamento que estará se
desenvolvendo em técnica livre de matéria natural. Nenhuma língua, mesmo a
língua falada, que é ela toda mesma ligada aos padrões da natureza, será capaz
de resistir a ele” (ver Obras Selecionadas por N. Y. Marr).
Se interpretarmos essa baboseira de “magia do trabalho” em linguagem hu-
mana simples, pode-se concluir que:
a) N. Y. Marr divorcia o pensamento da linguagem; b) N. Y. Marr considera
que a comunicação entre as pessoas pode ser realizada sem linguagem, com a
ajuda do próprio pensamento, que está livre da “matéria natural” da linguagem,
livre dos “padrões da natureza”; c) divorciando-se o pensamento da linguagem
e “tendo libertado” da “matéria natural” da linguagem, N. Y. Marr pousa no
pântano do idealismo.
Diz-se que os pensamentos surgem na mente do homem antes de serem ex-
pressos na fala, que surgem sem material linguístico, sem integumento linguís-
tico, em, digamos, uma forma nua. Mas isso é absolutamente errado. Quaisquer
que sejam os pensamentos que surgem na mente humana e em qualquer mo-
mento, eles podem surgir e existir apenas com base no material linguístico, com
base em termos e frases da linguagem. Pensamentos nus, livres do material lin-
guístico, livres da “matéria natural” da linguagem, não existem. “A linguagem é
a realidade imediata do pensamento” (Marx). A realidade do pensamento se ma-
nifesta na linguagem. Só os idealistas podem falar de pensar não estar conectado
com “a questão natural” da linguagem, de pensar sem linguagem.
325 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
828 Obras Escolhidas
grave erro. A língua falada ou a linguagem das palavras sempre foi a única
linguagem da sociedade humana capaz de servir como um meio adequado de
relação entre as pessoas. A história não conhece uma única sociedade humana,
seja a mais atrasada, que não tinha sua própria língua falada. A etnografia não
conhece uma única tribo retrógrada, seja ela tão primitiva ou até mais primitiva
do que, digamos, os australianos ou aqueles da Terra do Fogo do século pas-
sado, que não tivesse sua própria língua falada. Na história da humanidade, a
língua falada tem sido uma das forças que ajudaram os seres humanos a emergir
do mundo animal, unir-se nas comunidades, desenvolver sua faculdade de pen-
samento, organizar a produção social, travar uma luta bem sucedida contra as
forças da natureza e alcançar o estágio de progresso que temos hoje em dia.
A este respeito, o significado da chamada linguagem de gestos, tendo em
vista sua extrema pobreza e limitações, é insignificante. Falando corretamente,
esta não é uma língua, e nem mesmo um substituto linguístico que poderia de
uma forma ou de outra substituir a língua falada, mas um meio auxiliar de possi-
bilidades extremamente limitadas às quais o homem às vezes recorre a enfatizar
este ou aquele ponto em sua fala. A linguagem de gestos e a língua falada são
tão incomparáveis quanto a enxada de madeira primitiva e o moderno trator de
lagarta com seu arado de cinco sulcos ou uma colheitadeira.
Aparentemente, você está principalmente interessado nos surdos-mudos, e
apenas em segundo lugar em problemas de linguística. Evidentemente, foi pre-
cisamente essa circunstância que o levou a fazer uma série de perguntas para
mim. Bem, se você insiste, eu não sou avesso a conceder o seu pedido. Como
as coisas estão em relação aos surdos-mudos? Eles possuem a faculdade de pen-
samento? Os pensamentos surgem com eles? Sim, eles possuem a faculdade
de pensamento e pensamentos surgem com eles. Claramente, uma vez que os
surdos-mudos são privados da faculdade de fala, seus pensamentos não podem
surgir com base no material linguístico. Isso pode significar que os pensamentos
dos surdos-mudos estão nus, não estão conectados com os “padrões da natureza”
(expressão de N. Y. Marr)? Não, não pode. Os pensamentos dos surdos-mudos
surgem e só podem existir com base nas imagens, sensações e concepções que
formam no cotidiano sobre os objetos do mundo exterior e suas relações entre
si, graças aos sentidos de visão, de tato, paladar e olfato. Além dessas imagens,
sensações e concepções, o pensamento está vazio, é privado de todo o conteúdo.
Ao camarada A. Kholopov
28 de julho de 1950
Exigir que essas fórmulas não estivessem em desacordo entre si, que não se
excluíssem umas às outras, é tão absurdo quanto seria exigir que a época da
dominação do capitalismo não estivesse em desacordo com a época da dominação
do socialismo, que o socialismo e o capitalismo não deveriam excluir uns aos
outros.
Os textualistas e talmudistas consideram o marxismo e conclusões separadas
e fórmulas do marxismo como uma coleção de dogmas, que “nunca” mudam,
apesar das mudanças nas condições do desenvolvimento da sociedade. Eles acre-
ditam que se aprenderem essas conclusões e fórmulas de cor e começarem a
citá-las aleatoriamente, poderão resolver qualquer problema, calculando que as
conclusões e fórmulas memorizadas servirão para todos os tempos e países, para
todas as ocasiões da vida. Mas esta pode ser a convicção apenas de pessoas que
veem a letra fria do marxismo, mas não sua essência, que aprendem decorando
os textos de conclusões e fórmulas do marxismo, mas não entendem seu signifi-
cado.
O marxismo é a ciência das leis que regem o desenvolvimento da natureza e
da sociedade, a ciência da revolução das massas oprimidas e exploradas, a ciência
da vitória do socialismo em todos os países, a ciência da construção da sociedade
comunista. Como ciência, o marxismo não pode ficar parado, desenvolve-se e
é aperfeiçoado. Em seu desenvolvimento, o marxismo não pode deixar de ser
enriquecido por novas experiências, novos conhecimentos – consequentemente
algumas de suas fórmulas e conclusões não podem deixar de mudar no curso do
tempo, não podem deixar de ser substituídas por novas fórmulas e conclusões
correspondentes às novas tarefas históricas. O marxismo não reconhece con-
clusões e fórmulas invariáveis, obrigatórias para todas as épocas e períodos. O
marxismo é o inimigo de todo o dogmatismo.
836 Obras Escolhidas
7/20/25
Camarada Molotov,
No número 159 (15 de julho) da Ekonomicheskaia zhizn [Vida econômica], li
uma notícia, “Exame do Projeto de Construção Dnepr” [Dneprostroi], do qual é
J. V. Stalin 837
[Julho de 1925]
Camarada Molotov,
A questão do Conselho de Defesa do Trabalho, é claro, não está indo bem.
Dzerzhinsky está chateado, ele está estafado, mas não há fumaça sem fogo, é
claro. Na verdade, o próprio Politburo está em uma posição embaraçosa porque
foi tirado dos assuntos econômicos. Dê uma olhada na Ekonomicheskaia Zhizn
e verá que nossos fundos estão sendo alocados por Smilga e por Strumilin e
Groman, enquanto o Politburo... o Politburo está mudando de um órgão diretor
para um tribunal de apelações, para algo como um “conselho de anciãos”. Às
vezes é ainda pior do que isso: não é sequer a Gosplan327 mas “seções” dela e
327 Gosplan era o nome coloquial da política de economia planejada da União Soviética. A palavra
J. V. Stalin 839
seus especialistas é quem estão no comando. Está claro por que Dzerzhinsky
está infeliz. E o trabalho não pode deixar de sofrer com isso. Não vejo outra
alternativa senão reestruturar a adesão ao Conselho de Defesa do Trabalho e
trazer para ele membros do Politburo.
Saudações
Seu, Stalin.
[1 de agosto de 1925]
Sochi 8/1/25
Camarada Molotov,
1) Me disseram que Manuilskii enviou ao L’Humanité o primeiro rascunho
do artigo de Trotsky para publicação, não acidentalmente, mas de propósito. Se
isso é verdade, é um ultraje. Se for verdade, então estamos lidando, não com
um “erro”, como você me escreveu, mas com a política de algumas pessoas que,
por alguma razão, não estão interessadas em publicar o artigo de Trotsky em
sua versão final editada. Este é, sem dúvida, o caso. Este assunto não pode ser
deixado como está. Proponho levantar a questão com os sete e condenar a ação
intolerável de Manuilskii, uma vez que ele colocou o Partido Comunista Russo
e o L’Humanité em uma posição ridícula; ao fazê-lo, devemos definitivamente
descobrir quem foi que instigou Manuilskii a dar este passo malicioso. Como
pano de fundo, deixe-me dizer-lhe vários fatos necessários: a) os documentos
foram entregues a Manuilskii a pedido por escrito de Manuilskii (deveria estar
nos arquivos do Comitê Central) e com o conhecimento dos sete (Zinoviev levan-
tou a questão de dar a Manuilskii os documentos em [uma reunião dos] sete);
b) os documentos foram dados antes da versão final do artigo de Trotsky estar
disponível; c) foram entregues para informar as pessoas da cúpula do Comintern
e não para publicação (veja, a propósito, o pedido de Manuilskii); d) a questão
da publicação dos documentos, especificamente, da publicação do meu memo-
rando sobre o livro de Eastman, foi discutida pelos sete, e na verdade todos nós
tínhamos em mente publicar meu memorando após a publicação da versão final
do artigo de Trotsky; Manuilskii sabia disso; e) antes da partida de Manuilskii
para a Alemanha (no início de julho ou final de junho) pedi a Manuilskii que
devolvesse ao Secretariado do Comitê Central todos os documentos. Ele concor-
dou, mas ainda assim ele não devolveu os documentos e os levou com ele. Esses
são os fatos. Peço urgentemente aos sete que acompanhem este assunto e, assim,
ponham um fim a tais truques sujos em nosso partido.
2) Não concordo com os sete relativos à publicação apenas do artigo de Trotsky
em sua versão final. Em primeiro lugar, o artigo de Krupskaya também deve ser
publicado. Em segundo lugar, é bem possível publicar alguns documentos (in-
cluindo meu memorando sobre o livro de Eastman) após a publicação do artigo
de Trotsky, a fim de provar que Trotsky escreveu o artigo apenas sob pressão do
Partido Comunista Russo (caso contrário, Trotsky pode aparecer como o salvador
do prestígio do partido).
[9 de agosto de 1925]
Sochi 8/9/25
Camarada Molotov,
Leia esta carta para Bukharin.
Recebi sua carta de 5 de agosto.
1) Aparentemente, a nomeação de Gei ocorreu antes de você receber minha
carta sobre a nomeação de Shvernik ou outra pessoa como chefe do Departa-
mento organizacional e de Atribuição. Nós realmente tínhamos um acordo sobre
Gei, mas depois mudei de opinião, sobre a qual eu te informei, mas, infelizmente,
tarde demais. Bem, vamos ver como Gei vai se comportar. Uma decisão que foi
tomada duas vezes não vale mais a pena mudar.
2) Em relação ao Dneprostroi. Estou um pouco preocupado porque o projeto
J. V. Stalin 841
[Agosto de 1925]
Camarada Molotov,
Recebi sua carta de 20 de agosto. Falei com Bukharin hoje.
1) Você está propondo uma agenda de cinco questões para o plenário: 1) Co-
mércio Exterior, 2) os sindicatos; 3) o Comintern; 4) salários; 5) reforma agrária
na Ásia Central. Não me oponho a essa agenda. É importante preparar a ques-
tão dos salários (o aumento planejado dos salários e assim por diante). Este item
foi levantado pelos sete, e Shmidt foi designado para prepará-lo a parte do Po-
litburo. Coloque pressão nele. Enquanto a questão está sendo preparada, ela
deve passar pelo Politburo o mais prontamente. Seria bom acrescentar a questão
da construção industrial, com um relatório de Feliks [Dzerzhinsky] ou Piatakov.
(Smilga não deve meter o nariz nisso; ele é uma farsa como líder econômico, e
além disso, isso não é uma questão da economia como um todo, mas da indús-
tria.) Se Feliks não pode dar um relatório agora, ele pode ser apresentado até o
próximo plenário, mas com a previsão de que uma garantia firme deve ser dada
que nenhuma fábrica de significância nacional será construída para este período
sem a sanção do Politburo.
2) Nada deve ser formalizado sobre a questão dos Comitês Ucranianos de
Camponeses Pobres. A decisão do Comitê Central Ucraniano sobre esta questão
coincide inteiramente com as decisões da XIV Conferência do Partido. Seria me-
lhor colocar um relatório da conferência rural na agenda do plenário do Comitê
Central na forma de uma questão separada e descrever neste relatório os Comi-
tês dos Camponeses Pobres, outros comitês camponeses, e assim por diante. Na
verdade, isso confirmará a decisão do Comitê Central Ucraniano. Você deveria
fazer o relatório. Sem falhas.
J. V. Stalin 843
(de todas as regiões) em apoio aos grevistas britânicos em geral e aos mineiros
de carvão, em particular em todas as línguas mais importantes do Ocidente o
mais rapidamente possível. Eu acho que deveria ser publicado na forma de um
folheto com um prefácio de Bukharin ou Tomskii. Nem Grisha nem Lozovskii
são necessários aqui. O prefácio deve ser escrito por Bukharin ou Tomskii. Este
é um assunto candente e não deve cair no esquecimento. Pode ser publicado
pelo Conselho Sindical ou pela Editora do Estado. Não deve ser publicado pela
própria Comintern, isso pode fazer mal. Melhor que venha dos sindicatos.
3) Diga-me algo sobre esse assunto alarmante que Uglanov e Yagoda nos rela-
taram. Se estiver tudo bem, telegrafe a mensagem “Sentindo-se bem”; se as coisas
estão ruins, telegrafar em código a mensagem “Sentindo-se doente”.
É isso por enquanto. O tempo melhorou.
26/5/26
J. Stalin
[1 de junho de 1926]
TELEGRAMA CODIFICADO DE MOLOTOV E BUKHARIN PARA STA-
LIN
Em 28 de maio, Molotov enviou-lhe uma carta detalhada sobre as teses de Zi-
noviev sobre as lições dos ataques britânicos. Acreditamos que é extremamente
importante para você estudar essas teses imediatamente e nos enviar sua opi-
nião. Zinoviev está reavaliando nossa análise da estabilização capitalista e das
táticas do Comintern, lançando lama na política existente do Comintern e fa-
zendo referências ao partido e a membros individuais do Comitê Central, como
fez anteriormente em “Filosofia da Era”, e ele está pronto para assumir a inicia-
tiva de romper imediatamente com o Conselho Geral. Trotsky também defende
uma ruptura demonstrativa com o Conselho Geral. Creio que esta é uma es-
tupidez consumada da variedade “retiradista” e o Comitê Central deve se opor
impiedosamente a ela. Oportunismo disfarçado por frases “esquerdistas” deve
ser exposto. As teses de Zinoviev devem ser refutadas e opostas com teses politi-
camente precisas do Comitê Central, incluindo nosso direito e dever de criticar
impiedosamente e expor os direitistas e todos os esquerdistas do Conselho Geral,
mas sem iniciar uma ruptura com o Conselho Geral. Entre nós, há total unani-
midade sobre o ponto básico. Bukharin prefere não apresentar nossas próprias
contra teses, mas fazer correções apropriadas às teses de Zinoviev. Estamos adi-
ando uma discussão sobre as lições britânicas por cinco dias enquanto pensamos
sobre nossas teses. Estamos esperando sua resposta imediata. Zinoviev fez um
discurso na Universidade Sverdlov no espírito das teses dele. Trotsky o ecoou.
Bukharin falou contra ambos sem citar nomes.
Molotov. Bukharin.
[1 de junho de 1926]
TELEGRAMA CODIFICADO DE MOLOTOV PARA STALIN
Bukharin está escrevendo contra teses para Zinoviev. Zinoviev e Trotsky estão
J. V. Stalin 845
nos colocando em uma terrível pressa. Em minha opinião, nossas teses devem
fornecer um ataque com determinação contra as tentativas de Zinoviev e Trotsky
de conduzir uma revisão radical, embora covarde, da política do Comintern, do
partido e do Conselho Sindical; nossas teses devem expor não só o ultra esquer-
dismo, mas aquilo que o permite ocorrer, ou seja, o esquerdismo no Comintern,
como Lenin ensinou. O “retiradismo” oportunista sobre a questão do rompi-
mento com o Conselho Geral deve ser exposto. Ao mesmo tempo, devemos: 1)
enfatizar a natureza condicional da estabilização e o crescimento de complicações
que podem levar à revolução nos países capitalistas, embora o resultado possa ir
para qualquer lado; 2) [enfatizar] a traição dos direitistas e a capitulação dos
esquerdistas no Conselho Geral; na verdade, os esquerdistas têm a principal res-
ponsabilidade objetiva para isso, porque eles têm maioria no Conselho Geral; 3)
demonstrar que nos unimos e podemos permanecer no Comitê Anglo-Soviético
[sic], por causa do contato com as massas de trabalhadores britânicos, sem res-
tringir de forma alguma o nosso direito de criticar qualquer ação do Conselho
Geral ou nosso apoio aos elementos revolucionários do movimento operário bri-
tânico. O Partido Comunista da Inglaterra deve ser decisivamente defendido
contra a acusação de Trotsky no Pravda de 26 de maio, de que é um elemento
de “inibição não revolucionária”. Sua opinião é necessária imediatamente. Se-
ria melhor se você viesse pessoalmente para Moscou; então (nós) adiaríamos a
decisão sobre a questão britânica até 7 de Junho. Aguardando sua resposta.
Molotov
[3 de junho de 1926]
TELEGRAMA CODIFICADO DE STALIN PARA MOLOTOV
Comitê Central
Partido Comunista da União
Camarada Molotov,
Decifrar imediatamente
Basicamente, as teses de Grisha [Zinoviev] partem da premissa que 1) a esta-
bilização está terminando ou já terminou; 2) estamos entrando ou já entramos
em uma fase de explosões revolucionárias; 3) a tática de reunir forças e trabalhar
nos sindicatos reacionários está perdendo sua viabilidade e está recuando em se-
gundo plano; 4) a tática de uma frente unida sobreviveu a si mesma; 5) devemos
construir nossos próprios sindicatos, confiando no movimento das “minorias”.
Daí a proposta de Grisha de assumir a iniciativa de uma ruptura total com o
Conselho Geral.
Dadas as circunstâncias históricas, toda esta premissa, na minha opinião, é
fundamentalmente incorreta porque joga a ação nas mãos de Amsterdã e da
Segunda Internacional e condena nossos partidos comunistas ao sectarismo.
Eu acho que:
1) A estabilização não terminou, embora tenha sido e continua instável;
2) A provocação da greve [geral] dos conservadores britânicos foi a tentativa da
capital de solidificar a estabilização, ou seja, neste caso, o capital, não a revolução,
846 Obras Escolhidas
estava no ataque.
3) Esta tentativa não levou a um fortalecimento da estabilização, nem poderia.
Mas também não levou a um desenvolvimento triunfante da luta revolucionária
dos trabalhadores ou à destruição da estabilização; além disso, como resultado
da greve, algumas categorias de trabalhadores não foram capazes de preservar
nem mesmo suas antigas condições de trabalho e luta.
4) Como resultado, não temos uma nova fase de ataque tempestuoso pela re-
volução, mas uma estabilização contínua, temporária, não duradoura, mas esta-
bilização, no entanto, repleta de novas tentativas do capital de fazer novos ataques
aos trabalhadores, que continuam a ser forçados a se defender.
5) Nossa tarefa é continuar a reunir forças e [formar] uma verdadeira frente
unida; preparar a classe trabalhadora para resistir a novos ataques pelo capital;
para transformar esta defesa em um ataque revolucionário de base ampla pelo
proletariado contra o capital, em uma transição para uma luta pelo poder.
6) Daí a necessidade de um trabalho mais intenso dos comunistas nos sindi-
catos reacionários com o propósito de transformá-los internamente e de assumir
o controle deles.
7) Daí a necessidade de uma luta determinada contra Zinoviev e Trotsky, que
vêm defendendo a divisão do movimento sindical e se opuseram a uma frente
unida, em benefício de Oudegeest e Sassenbach.
8) Daí uma luta determinada contra Zinoviev e Trotsky, que estão empur-
rando o movimento sindical britânico para os braços de Amsterdã e da Federação
Americana do Trabalho (AFL).
9) Daí uma refutação decisiva da linha de Zinoviev e Trotsky, que leva ao
isolamento dos partidos comunistas das massas e ao abandono das massas ao
monopólio da liderança formada pelos reformistas.
10) Portanto, uma refutação decisiva de qualquer tentativa de assumir a inici-
ativa de dividir o Conselho Sindical [soviético] do movimento sindical britânico,
uma vez que uma ruptura com o Conselho Geral sob essas condições deve levar
a uma ruptura com os sindicatos da Inglaterra em favor de Amsterdã.
11) A ruptura com o Conselho Geral certamente levará a uma ruptura na
política de um movimento sindical unificado na França e na Alemanha também,
uma vez que os reformistas na França e na Alemanha não são melhores do que
os seus colegas britânicos.
12) Trabalho com o Profintern e as “minorias” deve ser intensificado e sua
autoridade aumentada.
13) O Partido Comunista Britânico deve ser incondicionalmente defendido
contra os esforços de Zinoviev e Trotsky para desacreditá-lo.
14) Uma série de propostas práticas feitas pelo Camarada Lozovskii devem
ser aprovadas, e um acordo completo deve ser estabelecido entre Tomskii e Lo-
zovskii.
15) É absolutamente necessária uma crítica implacável aos centristas e esquer-
distas no Conselho Geral.
16) Esta crítica não exclui e não pode excluir a possibilidade [e] a necessidade
de preservar o Comitê Anglo-Soviético [sic].
J. V. Stalin 847
17) Separadamente das teses do Comintern, devemos tomar uma decisão que
o Conselho Sindical aprove uma resolução (depois de ouvir um relatório do [seu]
presidium sobre os resultados da greve de maio) criticando a traição dos direi-
tistas e a falta de caráter dos esquerdistas. A resolução deve ser transmitida pelo
rádio e também enviada ao Partido Comunista Britânico e à minoria [sindical],
bem como ao Conselho Geral para informação.
18) A minoria sindical e o Partido Comunista Britânico devem lançar uma
campanha vigorosa para novas eleições para os comitês executivos dos sindicatos
e do Conselho Geral visando a expulsão dos traidores Thomas e seus asseclas
entre os esquerdistas; o partido britânico deve apoiar sua substituição por novos
líderes revolucionários.
19) As teses de Bukharin devem levar em conta as decisões do Politburo e
da Comissão Britânica sobre a greve britânica, tendo em mente que Zinoviev
rompeu com essas decisões em suas teses.
20) As teses de Zinoviev devem ser completamente refutadas como liquidaci-
onistas e substituídas por nossas teses.
21) A rejeição das teses de Grisha pode levar a ameaças de renúncia que não
devem assustá-lo de forma alguma.
22) Não acho que minha viagem seja necessária.
23) Se ainda forem necessárias conversações em linha direta, envie um tele-
grama e eu responderei.
Enviado em 3 de junho
J. Stalin
[3 de junho de 1926]
TELEGRAMA CODIFICADO DE STALIN PARA MOLOTOV
Moscou
Comitê Central
Partido Comunista da União Soviética
Camarada Molotov,
Decifrar imediatamente
Fim do Telegrama Codificado nº 2
Nas teses de Bukharin, você deve definitivamente notar os erros muito im-
portantes de Zinoviev sobre a questão da greve britânica, sobre Pilsudski e sobre
a revolução chinesa, e criticá-los completamente da maneira que você escolher,
porque esses erros estão no ar e encontrarão apoio entre aqueles no Comintern
com tendências direitistas.
1) Na primeira sessão do Politburo durante o início da greve britânica, Zi-
noviev veio com um rascunho de diretrizes para os comunistas britânicos que
ele havia desenvolvido com a ajuda de certos membros do Comintern que estão
entre aqueles que simpatizam com a oposição. No rascunho, como bem sabem
os membros do Politburo, não houve uma única palavra sobre a necessidade de
mudar a greve geral para uma maior luta política; nem havia qualquer indício
848 Obras Escolhidas
[3 de junho de 1926]
TELEGRAMA CODIFICADO DE TOVSTUKHA A STALIN
Enviado de Moscou, 3 de junho de 1926 Recebido e decifrado em 3 de junho
Tiflis, Comitê Regional Transcaucasiano
Para: Ordzhonikidze
Decifrar imediatamente para o Camarada Stalin
J. V. Stalin 849
francês deve ser informado de que Sokolnikov não tem atribuições sobre assuntos
franceses do Comitê Central do partido ou do Comintern.
6) Não estou alarmado com questões econômicas. Rykov será capaz de cuidar
delas. A oposição ganha absolutamente zero pontos em questões econômicas.
7) É muito bom que Bukharin tenha decidido se apresentar em Moscou e
Peter [Petrogrado].
Bem, adeus por enquanto. Atenciosamente
J. Stalin
15 de junho de 1926
P.S. Rudzutak junto com Mikoian propõe adiar o plenário para 20 de julho.
Eu não tenho objeções.
J. Stalin
[3 de agosto de 1926]
8/3 (terça-feira)
Molotov
1) Kamenev entregou sua renúncia antes da revisão no Politburo da questão
do plano de exportação-importação, e propõe que Mikoian o substitua.
852 Obras Escolhidas
giram da responsabilidade, de modo que, quando a greve foi discutida, sua au-
sência os impediria de serem insultados. Devemos transmitir o fato de que o
Conselho Geral e o Comitê Executivo do Partido Trabalhista os ajudaram a fu-
gir de prestar contas e assim assumiram a responsabilidade por suas traições. É
estranho que a imprensa britânica (e nossa) esteja em silêncio sobre isso (li os
jornais comunistas britânicos, e sei que esses fatos não estão expostos lá.)
4) Como o Comintern reagiu à sua carta sobre a campanha para dissolver o
Parlamento e ter novas eleições? O que os comunistas britânicos pensam sobre
isso?
5) Você não deve adiar indefinidamente a questão da publicação do Kom-
munisticheskiy internatsional [Comunista Internacional] como semanal. Você
e Bukharin devem começar isso. Será extremamente importante para melhorar
e reorganizar todo o trabalho do Comintern e seus partidos membros. O que
Bukharin acha disso?
6) Como está a situação econômica? Como estão as coisas com aquisições
[agrícolas]? Que tal as exportações? Dê-me um breve relatório se houver tempo.
Bem, tudo de bom,
J. Stalin
27 de agosto de 1926
ferência também fala sobre isso. Seria incompreensível e antinatural se nós (os
comunistas russos) “nos contorcermos” da questão de removê-lo ao mesmo tempo
em que as circunstâncias tornam a questão inevitável e dois partidos ocidentais
propuseram definitivamente removê-lo. Portanto, podemos e devemos tomar
uma decisão sobre a conveniência de removê-lo.
2) A tramitação formal do assunto deve ser feita em um plenário ampliado do
Comitê Executivo da Comintern. Se todos os partidos ou a grande maioria deles
falar em favor da remoção de Grigorii, tal expressão de vontade pode ser consi-
derada com segurança a vontade autêntica de todos os partidos, isto é, de todo o
Congresso. Uma decisão final pode ser tomada pelo [próximo] Congresso.
2) Já deveríamos estar pensando nas linhas gerais ou no primeiro (áspero!)
rascunho das teses sobre os sindicatos e a situação econômica. Existem tais ras-
cunhos na Secretaria, ou seja, a Secretaria recebeu esses “rascunhos”? Se não,
temos que nos apressar.
3) Você não acha que seria conveniente apresentar aos sindicatos um “sistema”
ou uma “instituição” de ativistas por sindicatos, ou talvez por vários ramos dos
sindicatos de manufatura? Se esse “sistema” ainda não foi introduzido, deveria
ser, porque tanto promoveria novas pessoas quanto aproximaria os sindicatos da
produção e, em geral, revigoraria os sindicatos. Só é necessário garantir que o
grupo ativista (em têxteis, petróleo, carvão e assim por diante) seja amplo, que
consista não apenas de funcionários sindicais, não apenas de comunistas, mas
também de trabalhadores não partidários (digamos cinquenta e cinquenta), e
assim por diante. O que você acha disso?
4) Você não acha que a questão de Kamenev deve ser levantada no plenário
do Comitê Central? O Comissário de Relações Exteriores está trabalhando para
que Kamenev seja enviado ao Japão?
Bem, tudo de bom,
J. Stalin
30 de agosto de 1926
Ps: Eu li o artigo de Stetskii sobre a nova oposição. O artigo é bom, mas há
algumas maçãs individuais nele que estragam todo o barril. Segundo Stetskii,
parece que não devemos nos esforçar para alcançar “predomínio completo dos
proletários e dos semiproletários nos sovietes”. Isso não está correto. A diferença
com a oposição não está nisso, mas, em primeiro lugar, que o proletariado não
pode predominar fisicamente naqueles distritos onde há muitos poucos prole-
tários; segundo, na medida em que a predominância deve ser entendida como
política e não apenas estatística; e terceiro, na discordância radical dos métodos
de alcançar o predomínio que a oposição nos recomendou. É muito ruim que
ninguém tenha ajudado Stetskii a corrigir tais erros...
[4 de setembro de 1926]
9/4
Molotovich,
Sergo estava aqui para me ver outro dia. Ele está furioso com a declaração do
J. V. Stalin 855
Comitê Central sobre sua retirada. Ele vê a formulação do recall como punição,
como um insulto dado pelo Comitê Central por alguma razão desconhecida. Ele
sente que a frase sobre Sergo ser transferido para Rostov “no lugar de Mikoian”
é um indício de que Mikoian é mais importante que Sergo, que Sergo só é bom o
suficiente para ser vice de Mikoian, e assim por diante. Ele entende que o Comitê
Central nunca teve e nunca poderia ter o desejo de ofendê-lo, insultá-lo, colocá-lo
sob Mikoian, e assim por diante, mas ele acredita que aqueles que recebem uma
cópia da resolução do Comitê Central poderiam entendê-lo como de fato um
ataque a Sergo, e que deveria ser formulado melhor e mais precisamente. Acho
que devemos satisfazê-lo, já que ele é objetivamente colocado na posição de uma
pessoa ofendida por causa de um erro acidental na formulação. A formulação
pode ser corrigida aproximadamente da seguinte forma:
1) Acatar o pedido de Camarada Ordzhonikidze para aliviá-lo de suas funções
como primeiro secretário do Comitê Regional do Partido Transcaucasiano e rejei-
tar a exigência das organizações transcaucasianas (os comitês centrais nacionais e
o Comitê Regional Transcaucasiano) em manter o Camarada Ordzhonikidze em
seu antigo posto.
2) Adiar por vários meses, tendo em vista a recusa definitiva do Camarada
Ordzhonikidze de se transferir imediatamente para Moscou, a questão de no-
mear o camarada Ordzhonikidze Comissário da Inspeção Operário-Camponesa
e suplente do Conselho de Comissários.
3) Aceitar a proposta do Comitê Regional do Partido Norte-Caucasiano de
confirmar camarada Ordzhonikidze como primeiro secretário do Comitê Cauca-
siano do Norte (se o camarada Ordzhonikidze consentir).
Quanto mais cedo você cuidar dessa coisinha, melhor, e então uma nova cópia
da resolução do Comitê Central terá que ser enviada a todos que receberam a
cópia antiga.
Pode-se dizer que isso tudo é bobagem. Talvez. Mas devo dizer que essa
bobagem pode prejudicar seriamente a causa, se não a corrigirmos.
Nazaretian está desempenhando um papel muito desagradável neste caso,
que só fere o orgulho de Sergo e o constrange. Não sei qual é o propósito espe-
cífico dele.
Bem, tudo de bom,
J. Stalin
[8 de setembro de 1926]
9/8
Recebi sua carta.
1) Nossa delegação em Berlim se comportou muito bem. O relatório do Con-
selho Sindical está em média aceitável. O apelo do Conselho Sindical é bom. A
entrevista de Tomskii é boa. Eu não insisto em um empréstimo [em oposição a
uma concessão total] ao Conselho Geral ou à Federação dos Mineiros de Carvão.
Acho que a questão do empréstimo pode ser adiada por enquanto. Levantei a
questão do empréstimo para mostrar à “Europa” que não somos uma república
856 Obras Escolhidas
“feita de dinheiro”, mas pessoas com cálculo, capazes de salvar um kopeck, que
damos empréstimos para sermos pagos, e assim por diante. Mas este assunto
pode ser adiado ou talvez descartado completamente.
2) Eu já enviei um telegrama codificado sobre a China. Estou certo de que
Kopp e Serebriakov não cumprirão nossa política; eles só darão a Chang [Tsolin]
a oportunidade de explorar nossas pequenas diferenças e arruinar nossa causa.
Enviar Kopp de volta ao Japão significará praticamente negar a decisão do Po-
litburo sobre Kopp e Kamenev. Não vai parecer bom se as decisões tomadas pelo
Politburo em relação a um conjunto de membros forem anuladas pelo mesmo
Politburo contra outro conjunto de membros sem fundamentos suficientes. É
claro que, no momento, você pode ver as coisas melhor [em Moscou], mas ainda
não devemos correr de um extremo para outro porque Chang, encorajado por
Kopp, tomou isso em sua cabeça para nos chantagear.
Bem, tudo de bom.
Saudações J. Stalin
sos óbvios é água para o moinho dos homens da NEP [intermediários privados]
e outros inimigos da classe trabalhadora que desmoraliza todo o aparato econô-
mico e soviético, transforma nossas diretrizes e nosso partido em fantoches sem
sentido. Isso não pode ser tolerado mais se não quisermos ser capturados por
esses bastardos que afirmam “aceitar” nossas diretrizes, mas na realidade zom-
bam de nós. Proponho exigir ao Comissário de Comércio (e Inspeção Operária-
Camponesa [fazer o seguinte]:
1) Os infratores da política de preços sobre aquisições estatais devem ser re-
movidos e entregues aos tribunais e os nomes dos criminosos publicados.
2) Retirar imediatamente e entregar aos tribunais os infratores da política de
preços relativa às vendas de bens industriais ao público (visando a redução dos
preços no varejo), publicar [seus nomes completos] e assim por diante.
3) Rodar uma circular partidária sobre como esses infratores são inimigos da
classe trabalhadora e como a luta com eles deve ser impiedosa.
Insisto de forma adamante na minha proposta e peço a todos vocês que a
aceitem. Entenda que sem essas medidas perderemos a campanha contra os ele-
mentos da NEP que estão sentados em nossos órgãos estaduais de compras e
cooperativas. Sem essas medidas, será um desastre.
Aguardando sua resposta,
J. Stalin 16 de setembro de 1926