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Canto IX d’Os Lusíadas- A Ilha dos Amores

Mariana Coelho- 9ºD

Este episódio realiza-se já no caminho de regresso a Portugal,


encontrando-se, portanto, na parte da narração e no plano do maravilhoso
possuindo um caráter simbólico.
O canto começa com as naus portuguesas à espera de dois feitores
mandados por Vasco da Gama para irem buscar a mercadoria de Calecute,
onde se encontravam desembarcados. Porém, estes homens demoram-se
porque os mouros tentavam atrasá-los proibindo o comércio. Desta forma, dão
tempo às naus de Meca, armadas com muçulmanos, que cheguem para
atacarem os lusitanos. Monçaide, português muito leal, percebeu isto e avisou
o capitão, Vasco da Gama, dos planos que tinham preparado os seus inimigos.
Com isto, Gama manda os feitores regressarem o mais rápido possível e sem
serem vistos, contudo são apanhados e presos pelos mouros, ficando sem a
mercadoria. Como Vasco da Gama é um homem determinado e não é de
meios-termos, aprisiona também certas figuras importantes e conhecidas
daquele reino “em represália”. A família destes presos, aterrorizados e
desgostados tentam salvar os seus pais ou irmãos dirigindo-se ao rei contando-
lhes o sucedido. O rei decide libertar os presos portugueses e os lusitanos
partem para Lisboa continuando a viagem em segurança, sendo que seria em
vão negociar com aquele povo.
Ao voltarem à pátria amada de que tanto têm saudade para contarem a
sua aventura, deixando as terras descobertas para trás, levam consigo provas
das suas conquistas e explorações ocidentais (“Pois descobrir é isso: ir e
voltar/E aquilo que se achou poder contar”).
Depois disto, Vénus querendo retribuir os lusitanos pela sua valentia o
mais rápido possível, planeia cruzar uma ilha no seu caminho antes de
voltarem a casa para fazerem uma paragem e aproveitarem. Para garantir que
realizaria o que pretendia, controlava as ondas direcionando a ilha consoante a
direção das naus, para os portugueses, de facto, passarem por ela. Por esta
razão, decide, atravessando o céu, pedir ao seu filho, o Cupido, deus do Amor,
que atingisse as ninfas do oceano com setas de amor para satisfazerem os
desejos dos portugueses enquanto se encontrassem nas ilhas.
Camões pretende, com este episódio, imortalizar os portugueses que
foram, de certa forma, heróis (“esforços sobre-humanos”), sendo que
deixaram para trás as suas famílias e amados e o conforto da sua rotina para ir
para o desconhecido, em nome da sua pátria, mesmo sabendo que poderiam
nunca mais voltar. A coragem para percorrer o mundo não sabendo que
possíveis imprevistos poderiam surgir, passando por perigos e sacrifícios para
alcançarem a fama e glória. Logo, Camões valoriza quem se entrega e realiza
estes grandes feitos acreditando que merece uma recompensa, que neste
caso, é dada pela deusa Vénus.
Cupido, encontrava-se ocupado a ver se mudava o desamor do mundo,
tentando emendar os corações que não amam verdadeiramente, mas sim pelo
proveito e utilidade. Camões realça e critica isto com os seguintes versos
“Amando coisas que nos foram dadas, /Não para ser amadas, mas ser usadas”.
Apesar disso, Cupido faz o favor à mãe criando um grande impacto no mar que
se torna irrequieto e criando uma dor horrível às ninfas por serem atingidas
pelas flechas.
Desta forma, cada vez a aproximarem-se mais, os portugueses avistam
uma ilha paradisíaca, pacífica e “fresca e bela”, encantada pela beleza da
natureza, contendo a maior diversidade de fauna e flora, e possuindo “tudo o
que apetece” para um descanso de uma longa viagem. Esta ilha, descrita
destacada pelos sentidos da visão, olfato e audição que realçam o seu aspeto
cheio de vida e cor serve para agradar todos os desejos do povo lusitano.
Já desembarcados para caçar na “ilha namorada” com um cheiro
agradável, grandes leitos, frutos de todo o tipo e refrescos, os belos e
formosos corpos que andavam desprevenidos das ninfas seduziam e
chamavam os lusitanos que corriam atrás delas pela floresta desesperados e
sedentos pelo prazer físico sexual. Na tentativa de estimular e deixar mais
ansiosos e excitados os marinheiros, as ninfas fugiam deles até se deixarem
agarrar por eles e entregarem ao seu dispor aumentando, ainda mais, a
agitação e desordem. Deixando cair as suas vestes pelo chão, encontravam se
nuas e a sua anatomia cativava e impulsionava-os, porque não tinham este
tipo de atividades desde que partiram para a viagem. A sensualidade e os
toques suaves contentavam os homens e os seus cantos angelicais com
instrumentos tocavam. Camões expressa uma intencionalidade aos que
condenam o contacto carnal “Melhor é experimentá-lo que julgá-lo; /Mas
julgue-o quem não pode experimentá-lo”.
A melhor ninfa, a quem todas obedecem, fica com o capitão Vasco da
Gama, dando-lhe a sua importância merecida, levando-o para um palácio
belíssimo feito de ouro e cristal no topo de um monte. Tétis esclarece a Vasco
da Gama a razão deste episódio, afirmando as futuras glórias que lhe serão
dadas a conhecer. Passam o resto do dia a aproveitar com a “bela companhia”
naquela divina ilha.
O canto acaba com a reafirmação dos valores mostrando que alguém
que é recebido numa ilha desta forma revela ter coragem, justiça, lealdade ao
rei, amor à pátria, e acima de tudo, altruísmo e desambição, por ter dedicado a
sua vida deste modo.

apreciada, pois, é um fenómeno valioso na literatura e história portuguesa. a


sensação de que a ação é contínua, ainda está a ocorrer e por consequente a realidade da mesma.
comprovamos o valor durativo que se pretende conceder à aventura.
https://portuguesnalinha.blogs.sapo.pt/os-lusiadas-analise-do-episodio-ilha-14435

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