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Colégio Equipe de Juiz de Fora

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24/07/2020: EXERCÍCIOS PREPARATÓRIOS PARA O TESTE (TECIDO EPITELIAL) – 1º ano EM


DISCIPLINA: LITERATURA
PROFESSOR: TATIANA

A Ilha dos Amores. O mito da Ilha dos Amores é contado por Luís de
Camões, nos Cantos IX e X d'Os Lusíadas. Nestes cantos, é relatada a
vontade da deusa Vénus em premiar os heróis lusitanos, com um merecido
descanso e com prazeres divinos, numa ilha paradisíaca, no meio do oceano,
a Ilha dos Amores.

Ilha dos Amores

O episódio da Ilha dos Amores ocupa uma quinta parte do


poema. Encontra-se colocado estruturalmente na convergência de
todos os diversos níveis de ação presentes na obra:

-a viagem dos marinheiros;


-a intriga dos deuses;
-a conceção da estrutura do mundo (cosmos);
-a visão da história passada e futura de Portugal (e do mundo de
então);
-a interpretação filosófica do significado da ação dos homens no
mundo;
-a crítica da situação factual da política do tempo de Camões.
Fácil será fazer uma extrapolação e dizer que a Ilha é a visão
paradisíaca do verdadeiro Portugal ou que ela representa uma utopia
de feição idealista: o lugar da recompensa dos homens após o longo
sofrimento, privação e risco da demorada viagem. Mas convém notar
que, com a prática erótica que essa Ilha faculta aos homens e ao
Gama, é feito, paralelamente, o discurso da revelação da
sabedoria histórica.
Para além de considerações de carácter esotérico (secreto,
misterioso), o que o poema nos dá é de facto a prática e o apogeu
do amor físico como sendo a chave textual para a abertura do
conhecimento.Tais propostas são manifestamente (ofensivas)
relativamente às doutrinas quer neoplatónicas quer católicas.
Simbologia do episódio da Ilha dos
Amores
A Ilha dos Amores simboliza o reconhecimento dos feitos do povo
português através de uma recompensa – a celebração de um casamento
cósmico entre as ninfas e os portugueses, através do qual Camões os
eleva a um estatuto de deuses, é como se se dissesse que quem pratica
feitos de tal magnitude, não esquecendo os sacrifícios causados pelos homens
inimigos e pelos deuses, principalmente Baco, que os vai atraiçoando no decorrer
da sua jornada, merece a imortalidade própria da condição divina «Por feitos
imortais e soberanos/O mundo cos varões que esforço e arte/Divinos
os fizeram, sendo humanos».

Vénus, deusa do
Amor e da Beleza, é
assim a deusa que
se identifica com
estes heróis e os
vai salvando dos
perigos, cria a "Ilha
dos Amores",
auxiliada por
Cupido, seu

filho, recompensando os portugueses pelo seu esforço, bravura,


persistência e dedicação na tarefa da superação da humanidade.

Na ilha "fresca e bela" encontram-se ninfas à espera, tendo os


marinheiros a oportunidade de se deleitar com elas que os
acolhem, depois de jogos de sedução, dividem-se entre o prazer
sexual e o Amor. É aliás este Amor que existe entre Vénus e os
Portugueses. E, por isso, dá-se, nesta Ilha, um "casamento”, a união
entre os descendentes de Luso e Vénus onde "Se prometem eterna
companhia, / Em vida e morte, de honra e alegria.". Deste modo,
Vénus reconhece os Portugueses como um povo nobre e concede-lhes
como que um estatuto semidivino e eterna proteção.
A viagem, mais do que a exploração dos mares, exprime a
passagem do desconhecido para o conhecimento, não só a nível físico,
mas também a
nível espiritual/interior. Como diz Jorge de
Sena, estamos perante
«a recolocação do Amor, do verdadeiro
Amor, como centro da Harmonia do Mundo.
A Ilha é uma catarse total (purificação), não
apenas de todos os recalcamentos, mas das
misérias da própria História, e das misérias
da vida no tempo de Camões e fora dele
(...) Ao desmistificar os deuses, Camões faz-
nos assumir a fantasia como fantasia, dando
aos homens a dignidade máxima de terem
sido humanos, do mesmo modo que aponta
aos homens a maneira de se divinizarem».

Na Ilha dos Amores, os prazeres concedidos aos portugueses


inscrevem-se tanto no nível material como no espiritual do
Herói. Por um lado, ao nível material temos as recompensas do amor
físico e o banquete oferecidos por Tétis e pelas restantes ninfas. Por
outro lado, o nível espiritual reporta-se à apresentação que Tétis faz
da Máquina do Mundo a Vasco da Gama. Este último momento é de
grande importância já que apenas aos deuses era possível a
visualização do Universo. A ambição da descoberta de novas terras
proporciona aos nautas esta honra, símbolo de todas as
compensações que os Descobrimentos trazem ao Homem.

Ao contrário dos episódios da Inês de Castro e do Adamastor,


este é o episódio da Epopeia e um exemplo raro da obra
camoniana, em geral, em que existe a plenitude amorosa, onde
existe o prémio e não o castigo por amor. É através do amor físico
que os navegadores interagem com as
ninfas imortais, depois das provas que
representam o amor pela pátria, a devoção
e a superação das dificuldades que os
tornam também divinos, provando assim que
nada resiste à força do amor.

Camões coloca neste episódio toda a


sua imaginação e, utilizando elementos do
Renascentismo e do Humanismo, confere
aos portugueses a possibilidade de realização completa, sem as
limitações e as contradições impostas pela Natureza. E assim os
navegadores conseguem alcançar a imortalidade. Mas isso
também se aplica ao poeta que, ao compor esta epopeia e ao
dedicá-la ao herói português, dignifica os seus
feitos, permanecendo vivo não fisicamente, mas espiritualmente,
através desta e de muitas outras obras.
No Canto IX, os nautas ao serem recebidos pelas ninfas significa,
entre outras coisas, a confirmação dos receios de Baco: de facto, os
navegantes cometeram atos tão grandiosos que se tornam amados por
deusas; e, de certo modo, divinizam-se também.

Em Os Lusíadas a revelação súbita da nudez desperta o


instinto para o qual o pecado não existe. É em plena inocência,
como se o tabu bíblico nunca tivesse existido, que se realizam
as núpcias, sem restrições. Depois desta recuperação da
inocência e desta abolição da consciência do Bem e do Mal, os
homens recuperam também a imortalidade. Como amantes das
ninfas imortais, tornam-se eles próprios divinos.
A mulher, intermediária da serpente maléfica, fizera Adão ser sujeito à morte.
Na Ilha dos Amores é também a mulher (agora no plural) que liberta os homens
da lei da morte.

Evidentemente há uma entrega aos prazeres da carne, mas é um


prazer fruto do Amor, que preenche a alma e purifica. O Amor que
deifica homens e humaniza deuses, unindo-os num só ser, fazendo
com que entre eles não haja mais distinção, deixando criaturas
humanas e divinas num mesmo patamar, numa mesma existência.

Marinheiros e ninfas estavam todos entregues ao puro amor. O sentimento é


tão intenso, o afago é tamanho, que os enamorados “se prometem eterna
companhia, / em vida e morte, de honra e alegria”, daí que, mesmo inundados
de lascívia, o relacionamento amoroso entre as ninfas e os portugueses não
representa uma orgia desenfreada e desmedida.

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