Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
1ª PARTE A DETERMINAÇÃO DE VÉNUS
As estâncias relativas à preparação da Ilha dos Amores têm como narrador o poeta e
fazem parte do plano mitológico.
Este momento d'Os Lusíadas pode organizar‐se em várias partes.
Vénus vai, então, procurar Cupido no seu carro puxado por cisnes («as aves que na
vida / Vão da morte as exéquias celebrando» ‐ est. 24) e rodeado de pombas que se
beijam
2
A ILHA DOS AMORES
O mito da Ilha dos Amores é contado por Luís de Camões, nos Cantos IX e X d'Os
Lusíadas. Nestes cantos, é relatada a vontade da deusa Vénus em premiar os heróis
lusitanos, com um merecido descanso e com prazeres divinos, numa ilha paradisíaca,
no meio do oceano, a Ilha dos Amores. Nessa ilha maravilhosa, os marinheiros
portugueses podiam encontrar todas as delícias da Natureza e as sedutoras Nereidas,
divindades das águas, irmãs de Tétis, com quem se podiam alegrar em jogos amorosos.
Durante um banquete oferecido aos Portugueses, a ninfa Sirena canta as profecias
sobre a gente lusa que incluem as suas glórias futuras no Oriente. Em seguida, Tétis, a
principal das ninfas, conduz Vasco da Gama ao topo de um monte "alto e divino" e
mostra-lhe, de acordo com a cosmografia geocêntrica de Ptolomeu, a "máquina do
mundo", uma fábrica de cristal e ouro puro, à qual apenas os deuses tinham acesso, e
que se tornou também num privilégio para os Portugueses. Tétis faz a descrição da
máquina do mundo e prediz feitos valorosos, prémios e fama ao povo português.
Depois do descanso merecido, os Portugueses partem da ilha e regressam a Lisboa.
Neste episódio simbólico da Ilha do Amores, Camões tenta imortalizar os heróis
lusitanos que tão grandes façanhas fizeram em nome de Portugal.
3
sair daquele mágico pedaço de terra. Foi no Palácio de Tétis que um grande banquete
homenageou os portugueses e a sua glória seguindo-se-lhe vistosas danças e jogos que
levaram os marinheiros a perseguir as nereidas para com elas poderem namorar. Mas
elas, fazendo o seu jogo de sedução e fuga, quando estavam prestes a deixar-se
apanhar, rapidamente se afastavam, aumentando o desejo de quem lhes seguia no
enlaço para as afagar e as beijar, para delas se enamorar. Foi inesquecível o banquete,
servido em pratos de ouro, com Tétis e Vasco da Gama no topo da mesa. Foi um
banquete à altura de verdadeiros heróis, já tornados lendas.
Chegou então o momento de Tétis conduzir Vasco da Gama ao cimo de um monte de
onde se avistava uma miniatura do globo terrestre, estando nele assinalados os
lugares onde, depois de descoberto o caminho marítimo para a Índia, os portugueses
iriam fazer história.
Tétis começou a antecipar os feitos heroicos que os portugueses daí em diante iriam
realizar. E não escapou a essa deusa bela e inspirada, um nome sequer de homem ou
de terra descoberta ou conquistada. Era Vénus quem, comunicando com ela à
distância, lhe dizia o que sobre os portugueses devia ser contado e cantado naquela
hora. “Chegaram como heróis e partem como heróis. E eu sei que os feitos que vos
esperam hão-de engrandecer ainda mais o vosso nome, a vossa glória e o respeito que
por vós sentem todos aqueles que conhecem a vossa história.” - Discurso de Tétis na
despedida dos portugueses.
Se, ao longo dos primeiros cantos que formam Os Lusíadas, Camões enalteceu toda a
História de Portugal e seus protagonistas, é no canto IX, mais propriamente no
episódio da Ilha dos Amores, que o seu entusiasmo é mais vibrante, maior a sua
capacidade de nos fazer participantes das recompensas que os nossos navegantes tão
justamente mereceram.
Camões apresenta-nos, no canto IX, o momento em que a história surge mesclada de
ficção, em que navegadores e deuses se encontram, se unem, se igualam, como forma
de encarecimento e exaltação da valentia lusíada.
Preparada por Vénus, com a ajuda do seu filho Cupido, a Ilha dos Amores,” semeada”
de apetitosas, sensuais e belas ninfas, é um prémio à tenacidade dos homens que,
“por mares nunca dantes navegados”, “mais do que prometia a força
humana”, tinham sabido seguir “o caminho da virtude, alto e fragoso, / mas, no fim,
doce, alegre e deleitoso”.