Você está na página 1de 4

O EPISÓDIO DE LEONARDO

Após o desembarque dos marinheiros portugueses na Ilha dos Amores, a atenção do


narrador centra‐se em Leonardo. Este marinheiro persegue uma ninfa que parece ser
mais difícil de apanhar do que as restantes
.
1.ª parte: Caraterização de Leonardo (est. 75 ‐ v. 5 est. 76)
Leonardo é caracterizado, do ponto de vista psicológico, como «bem-disposto /
Manhoso, cavaleiro E namorado» (est. 75). O narrador dá uma atenção especial aos
amores do marinheiro, referindo que este nunca tivera sorte neste campo.

2.ª parte: Discurso de Leonardo (v. 6 est. 76 – est. 81)


Enquanto persegue Efire, Leonardo procura convencê‐la a parar, usando diferentes
argumentos:
• ainda que Efire esperasse por ele, o azar do nauta impedi‐lo‐á de a alcançar;
• ele gostaria de saber o que faria a sorte para o impedir de apanhar a ninfa;
• se ela abrandasse, já estaria a alterar a má sorte de Leonardo;
• ela estava a colocar‐se do lado da má sorte do marinheiro, quando se deveria colocar
do lado do mais fraco;
• ela levava, com ela, a alma de Leonardo, que até ao momento tinha sido livre;
• ele continuava a persegui‐la apenas porque tinha esperança de que ela mudasse o
destino dele, apaixonando-se.

3.ª parte: Descrição de Efire (est. 82)


A ninfa já não corria para fugir de Leonardo, mas apenas para ouvir as suas belas
palavras. Por fim, parou e entregou‐se ao marinheiro.

4.ª parte: A união amorosa (est. 83)


O narrador descreve o enlace amoroso e termina, afirmando, relativamente ao que foi
descrito, «Milhor é experimentá‐lo que julgá‐lo; / Mas julgue‐o quem não pode
experimentá‐lo»

5.ª parte: O casamento (est. 84)


Os marinheiros são coroados como heróis, recebendo Louro e ouro. Por fim, celebra‐se
uma cerimónia de casamento com as ninfas.

1
1ª PARTE A DETERMINAÇÃO DE VÉNUS

As estâncias relativas à preparação da Ilha dos Amores têm como narrador o poeta e
fazem parte do plano mitológico.
Este momento d'Os Lusíadas pode organizar‐se em várias partes.

1.ª parte: a decisão de Vénus (est. 18‐20)


Vénus pretende dar aos portugueses um prémio pelas vitórias alcançadas e pelos
danos sofridos. Decide, então, pedir ajuda ao seu filho, Cupido.

2.ª parte: o prémio (est. 21‐22)


Vénus decide preparar uma ilha divina, que será colocada nas águas, no caminho dos
marinheiros.
Nessa ilha, encontrar‐se‐ão «aquáticas donzelas» (est. 22), que serão escolhidas entre
as mais belas e as mais devotas do amor. Estas ninfas terão como missão aguardar
pelos marinheiros e recebê‐los com cânticos e danças, para despertarem neles
«secretas afeições» (est. 22).

3.ª parte: a ajuda de Cupido (est. 23‐24)


Cupido é o ajudante ideal, pois já tinha colaborado com Vénus numa situação similar:
tinha levado Dido a apaixonar‐se por Eneias.

Vénus vai, então, procurar Cupido no seu carro puxado por cisnes («as aves que na
vida / Vão da morte as exéquias celebrando» ‐ est. 24) e rodeado de pombas que se
beijam

4.ª parte: a missão de Cupido (est. 25‐29)


Cupido encontrava‐se em Idália, cidade da ilha de Chipre, famosa pelo culto de Vénus,
procurando reunir um exército de cupidos para realizar uma expedição com o fim de
emendar os erros dos humanos, pois «estão, / Amando coisas que nos foram dadas, /
Não pera ser amadas, mas usadas» (est. 25).
São apresentados vários exemplos de situações em que se ama mal, para a expedição
de Cupido:
• o caçador Actéon, que não soube amar a «bela forma humana» (est. 26) ‐ representa
os que não sabem amar;
• os homens que se amam a si próprios (est. 27);
• os aduladores (est. 27);
• aqueles que amam as riquezas e deixam de lado a «justiça e integridade» (est. 28);
• os tiranos (est. 28);
• as leis feitas a favor do rei e contra o povo (est. 28).
Afirma‐se, em síntese, que a expedição de Cupido tinha lugar porque «ninguém ama o
que deve» (est. 29). Por estas razões, Cupido juntou os «Seus ministros» para ajudar a
«mal regida gente» (est. 29) a evoluir no campo do amor. A descrição aponta para o
facto de se afirmar que os cisnes cantam mais suavemente quando estão próximos da
morte.

2
A ILHA DOS AMORES

O mito da Ilha dos Amores é contado por Luís de Camões, nos Cantos IX e X d'Os
Lusíadas. Nestes cantos, é relatada a vontade da deusa Vénus em premiar os heróis
lusitanos, com um merecido descanso e com prazeres divinos, numa ilha paradisíaca,
no meio do oceano, a Ilha dos Amores. Nessa ilha maravilhosa, os marinheiros
portugueses podiam encontrar todas as delícias da Natureza e as sedutoras Nereidas,
divindades das águas, irmãs de Tétis, com quem se podiam alegrar em jogos amorosos.
Durante um banquete oferecido aos Portugueses, a ninfa Sirena canta as profecias
sobre a gente lusa que incluem as suas glórias futuras no Oriente. Em seguida, Tétis, a
principal das ninfas, conduz Vasco da Gama ao topo de um monte "alto e divino" e
mostra-lhe, de acordo com a cosmografia geocêntrica de Ptolomeu, a "máquina do
mundo", uma fábrica de cristal e ouro puro, à qual apenas os deuses tinham acesso, e
que se tornou também num privilégio para os Portugueses. Tétis faz a descrição da
máquina do mundo e prediz feitos valorosos, prémios e fama ao povo português.
Depois do descanso merecido, os Portugueses partem da ilha e regressam a Lisboa.
Neste episódio simbólico da Ilha do Amores, Camões tenta imortalizar os heróis
lusitanos que tão grandes façanhas fizeram em nome de Portugal.

Ilha Dos Amores - Análise dos Cantos IX e X


Vénus, amiga dos Portugueses, nunca deixa de vigiar os seus movimentos e de
providenciar para que nada lhes falte. Observa-os com atenção e ternura e conclui que
estão cansados após tanto terem resistido às ciladas e traições congeminadas por
Baco. Também se dá conta de que envelheceram muitos anos. Alguns ficaram com
cabelos brancos e com rugas cavadas nas faces escurecidas pelo sol intenso daquelas
paragens. Agora, que empreendem a viagem de regresso a Portugal, bem merecem o
descanso que há tanto tempo lhes é negado. A própria Vénus providencia que
esse merecido repouso seja retemperador e inesquecível. Vénus cria, assim, com os
seus imensos poderes, uma ilha flutuante que em nenhum mapa vem assinalada. A
ilha flutuante, dita dos Amores, é colocada de tal modo na rota das naus, que elas não
conseguem passar-lhe ao largo. Nesse pedaço de terra frondosa e perfumada tudo
parece ter sido disposto e a contento dessas dezenas de homens exaustos e ansiosos
por terem a costa portuguesa finalmente à vista. Nada ali faltava, nem frutos
perfumados, nem plantas, nem flores frescas e viçosas, nem tão pouco lindas mulheres
que mais não eram do que as ninfas convocadas por Cúpido para darem aos
portugueses o afeto que há tanto tempo lhes faltava, vindo de doces mãos femininas.
As ninfas, também chamadas nereidas, obedeciam às ordens da mais bela e experiente
de todas elas, de nome Tétis, que cumprindo as ordens de Cupido, tomou medidas
para que os portugueses de longas barbas e corpos emagrecidos por longos meses de
privação encontrassem tudo o que desejavam, incluindo aquilo em que nunca antes
haviam pensado e, que ao desembarcarem em Lisboa, nunca mais iriam esquecer. Foi
a própria Tétis que agarrou na mão de Vasco da Gama e o conduziu ao cimo de um
monte onde se avistava um assombroso palácio de ouro e cristal, ofuscante pelo seu
brilho e grandeza. Nunca antes os portugueses tinham visto algo semelhante e
estavam boquiabertos e deliciados com a hospitalidade inesperada. Se pudessem e se
a ilha não fosse flutuante e inventada por Vénus, muitos nunca mais teriam querido

3
sair daquele mágico pedaço de terra. Foi no Palácio de Tétis que um grande banquete
homenageou os portugueses e a sua glória seguindo-se-lhe vistosas danças e jogos que
levaram os marinheiros a perseguir as nereidas para com elas poderem namorar. Mas
elas, fazendo o seu jogo de sedução e fuga, quando estavam prestes a deixar-se
apanhar, rapidamente se afastavam, aumentando o desejo de quem lhes seguia no
enlaço para as afagar e as beijar, para delas se enamorar. Foi inesquecível o banquete,
servido em pratos de ouro, com Tétis e Vasco da Gama no topo da mesa. Foi um
banquete à altura de verdadeiros heróis, já tornados lendas.
Chegou então o momento de Tétis conduzir Vasco da Gama ao cimo de um monte de
onde se avistava uma miniatura do globo terrestre, estando nele assinalados os
lugares onde, depois de descoberto o caminho marítimo para a Índia, os portugueses
iriam fazer história.

Tétis começou a antecipar os feitos heroicos que os portugueses daí em diante iriam
realizar. E não escapou a essa deusa bela e inspirada, um nome sequer de homem ou
de terra descoberta ou conquistada. Era Vénus quem, comunicando com ela à
distância, lhe dizia o que sobre os portugueses devia ser contado e cantado naquela
hora. “Chegaram como heróis e partem como heróis. E eu sei que os feitos que vos
esperam hão-de engrandecer ainda mais o vosso nome, a vossa glória e o respeito que
por vós sentem todos aqueles que conhecem a vossa história.” - Discurso de Tétis na
despedida dos portugueses.
Se, ao longo dos primeiros cantos que formam Os Lusíadas, Camões enalteceu toda a
História de Portugal e seus protagonistas, é no canto IX, mais propriamente no
episódio da Ilha dos Amores, que o seu entusiasmo é mais vibrante, maior a sua
capacidade de nos fazer participantes das recompensas que os nossos navegantes tão
justamente mereceram.
Camões apresenta-nos, no canto IX, o momento em que a história surge mesclada de
ficção, em que navegadores e deuses se encontram, se unem, se igualam, como forma
de encarecimento e exaltação da valentia lusíada.
Preparada por Vénus, com a ajuda do seu filho Cupido, a Ilha dos Amores,” semeada”
de apetitosas, sensuais e belas ninfas, é um prémio à tenacidade dos homens que,
“por mares nunca dantes navegados”, “mais do que prometia a força
humana”, tinham sabido seguir “o caminho da virtude, alto e fragoso, / mas, no fim,
doce, alegre e deleitoso”.

Você também pode gostar