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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
PROFESSOR: ROBERTO C. A. PINTO

ECV 5261
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO I

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1. PRINCÍPIOS BÁSICOS DO MATERIAL CONCRETO ARMADO

O concreto armado é atualmente o material mais usado na construção de estruturas de


edificações e obras viárias como pontes, viadutos, passarelas, etc.

1.1. COMPOSIÇÃO DO CONCRETO

Figura 1.1 – Componentes do concreto

O material concreto é composto por dois componentes principais, a argamassa e os


agregados graúdos. A argamassa é formada pela pasta + agregados miúdos, com ou
sem aditivos, sendo que a pasta representa o aglomerante e a água.

1.2. CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS DO CONCRETO

Boa resistência à compressão


• Concreto de baixa resistência: 10 a 25 MPa
• Concreto de média resistência: 30 a 50 MPa
• Concreto de alta resistência: > 50 MPa

Baixa resistência à tração (muito inferior à resistência à compressão).

A NBR 6118:2014 entende como concreto estrutural concretos de resistência entre 20


até 90 MPa.

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Viga de concreto simples: devido à baixa resistência à tração a ruptura se dá de modo
frágil. A ruptura frágil se caracteriza por uma ruptura rápida, brusca, sem um prévio
aviso (ocorrência de fissuras).

1.3. PRINCÍPIO DO CONCRETO ARMADO

CONCRETO ARMADO = CONCRETO + ARMADURA + ADERÊNCIA

a) viga de concreto armado descarregada

b) comportamento a flexão no caso do aço sem c) comportamento a flexão no caso de aço com aderência
aderência ao concreto, aço mantêm seu comprimento ao concreto, aço aumenta seu comprimento sofrendo
alongamento

Figura 1.2 – Comportamento esquemático do efeito da aderência do aço no concreto

As armaduras, posicionadas junto à face inferior, absorvem os esforços de tração,


cabendo ao concreto resistir à compressão. As armaduras controlam a abertura das
fissuras.

É possível devido a duas propriedades:


• aderência recíproca entre concreto e aço
• coeficiente de dilatação térmica dos dois materiais aproximadamente igual
αCONCRETO ~ 1,0×10-5/ oC
αAÇO = 1,2×10-5/ oC

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Figura 1.3 – Fissuração esquemática no ensaio flexão

O concreto protege a armadura contra a agressividade do meio ambiente.

1.4. VANTAGENS DO CONCRETO ARMADO

As principais vantagens do concreto armado são:


• Economia: matéria prima barata, principalmente a areia e a brita; não exige mão
de obra com muita qualificação; equipamentos em geral simples
• Moldagem fácil – boa trabalhabilidade
• Resistência: ao fogo; às influências atmosféricas; ao desgaste mecânico; ao
choque e vibrações
• Monolitismo da estrutura
• Durabilidade – com manutenção e conservação
• Rapidez de construção (pré-moldados)
• Aumento da resistência à compressão com o tempo

1.5. DESVANTAGENS DO CONCRETO ARMADO

As principais desvantagens na utilização do concreto armado são:


• Peso próprio elevado (γC = 25 kN/m3)
• Menor proteção térmica
• Reformas e demolições são trabalhosas e caras
• Precisão no posicionamento das armaduras
• Fissuras inevitáveis na região tracionada
• Construção definitiva
• Necessidade de formas e escoramentos

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1.6 NORMAS TÉCNICAS APLICÁVEIS A ESTRUTURAS DE CONCRETO (ABNT)

NBR 6118:2014 - Projeto de estruturas de concreto - procedimento


NBR 6120:2019 - Ações para o cálculo de estruturas de edificações
NBR 8681:2003 - Ações e segurança nas estruturas – procedimento
NBR 6123:1988 - Forças devidas ao vento em edificações
NBR 14931:2004 - Execução de estruturas de concreto – procedimento
NBR 9062:2017 Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado
NBR 15421:2006 – Projeto de estruturas resistentes a sismos - procedimento
NBR 15200:2012 – Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio
NBR 12655:2015 - Concreto de cimento Portland - Preparo, controle, recebimento e
aceitação - Procedimento
NBR 7187:2003 - Projeto e execução de pontes de concreto armado e de concreto
protendido - procedimento
NBR 8953:2015 - Concreto para fins estruturais – Classificação pela massa específica,
por grupos de resistência e consistência
NBR 7480:2007 - Aço destinado a armaduras para estruturas de concreto armado –
especificação
NBR 7188:2013 - Carga móvel rodoviária e de pedestre e em pontes, viadutos,
passarelas e outras estruturas
NBR 7191:1982 - Execução de desenhos para obras de concreto simples ou armado
NBR 7808:1983 - Símbolos gráficos para projetos de estruturas
NBR 6122:2019 - Projeto e execução de fundações

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2. CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DO CONCRETO

2.1 CONCRETO FRESCO

• Consistência - slump
• Trabalhabilidade
• Homogeneidade
• Adensamento
• Pega – início do endurecimento
• Cura

2.2 CONCRETO ENDURECIDO

2.2.1 Resistência à Compressão

2.2.1.1 Resistência Característica à Compressão

Resistência característica de um concreto à compressão (fck) é o valor mínimo estatístico


acima do qual ficam situados 95% dos resultados experimentais.
N (Freqüência)

95%

5%

f ck 1.65 Sn f cj f c (Resistência)

Figura 2.1 - Distribuição normal mostrando a resistência média (fcj = fm) e a resistência característica
do concreto à compressão (fck).

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N (Freqüência)
A B

f ck f c (Resistência)

Figura 2.2 - Distribuição normal de dois concretos com a mesma resistência característica
N (Freqüência)

f cj f c (Resistência)

Figura 2.3 - Distribuição normal de dois concretos com a mesma resistência média

2.2.1.2 Resistência de Dosagem

A resistência de dosagem do concreto (fcj) deve atender às condições de variabilidade


prevalecentes durante a construção (NBR 12655 - item 5.6.3). Esta variabilidade medida
pelo desvio-padrão, Sd, é levada em conta no cálculo da resistência de dosagem,
segundo a equação:

= + 1,65. (2.1)
com:
fcmj é a resistência média do concreto à compressão, prevista para a idade de j
dias, em MPa)

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fckj é a resistência característica do concreto à compressão, aos j dias, em MPa;
Sd é o desvio padrão da dosagem, em MPa.

Quando o concreto for elaborado com os mesmos materiais, mediante equipamentos


similares e sob condições equivalentes, o valor de Sd deve ser fixado com no mínimo
20 resultados consecutivos obtidos no intervalo de 30 dias, em período imediatamente
anterior (NBR 12655 - item 5.6.3.2). Em nenhum caso, o valor de Sd adotado pode ser
menor que 2 MPa.

No início da obra, ou se não for conhecido o desvio padrão Sd, o mesmo será dado em
função das condições de preparo (NBR 12655 - item 5.6.3.3) (Tabela 6 da NBR 12655):

• Sd = 4 MPa para concreto preparado na condição A (classes C10 até C90):


controle de dosagem rigoroso
• Sd = 5,5 MPa para concreto preparado na condição B (classes C10 até C20):
controle de dosagem razoável
• Sd = 7 MPa para concreto preparado na condição C (classes C10 e C15):
controle de dosagem regular

2.2.1.3 Classificação por Grupos de Resistência

Os concretos são classificados em grupos de resistência, grupo I e grupo II, conforme a


resistência característica (fck), determinada a partir do ensaio de corpos-de-prova (NBR
8953).

Tabela 2.1 - Grupos de resistência de concreto (NBR 8953 - Tabelas 1 e 2)


Grupo I de fck Grupo II de fck
resistência (MPa) resistência (MPa)
C20 20 C55 55
C25 25 C60 60
C30 30 C70 70
C35 35 C80 80
C40 40 C90 90
C45 45
C50 50

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2.2.2 Resistência à Tração

A resistência à tração pode ser obtida por um ensaio de tração uniaxial, similar ao de
compressão uniaxial. Entretanto, este ensaio é difícil de ser realizado sem a introdução
de excentricidade no carregamento. Além disso, o corpo de prova necessita estar preso
nas suas extremidades ao mecanismo que aplica a força de tração. As garras
necessárias para fixar o corpo de prova introduzem um esforço de compressão em suas
extremidades, o que pode afetar o resultado final do ensaio.

Sendo assim, é comum avaliar a resistência à tração do concreto indiretamente a partir


de outros ensaios experimentais como o ensaio por compressão diametral (ABNT NBR
7222:2011) e o ensaio a tração na flexão (ABNT NBR 12142:2010).

No ensaio por compressão diametral, uma força compressiva é aplicada a um cilindro


ao longo de seu diâmetro. A distribuição de tensões resultante apresenta um trecho ao
longo do diâmetro relativamente constante de tensões de tração, além de tensões de
compressão elevadas junto à aplicação da carga. A ruptura ocorre por separação em
dois semicilindros. Este ensaio foi desenvolvido pelo professor brasileiro Fernando Lobo
Carneiro, sendo adotado internacionalmente em diversos códigos normativos. É
conhecido internacionalmente como ensaio brasileiro, ou “Brazilian Test”. A resistência
à tração é obtida a partir da seguinte expressão:

, = (2.2)

Figura 2.4 - Esquema do ensaio de tração por compressão diametral e distribuição de tensões normais
9
No ensaio de tração na flexão, um prisma de concreto é ensaiado a flexão a quatro
pontos. A distribuição de tensões na região central é assumida como sendo linear. A
resistência à tração é dada pela seguinte expressão:


, = (2.3)

Figura 2.5 - Esquema do ensaio na tração na flexão e distribuição de tensões normais

A resistência do concreto à tração indireta fct,sp e a resistência à tração na flexão fct,f tem
seus valores característicos estimados da mesma maneira que o concreto à
compressão.

= − 1,65. (2.4)
N (Freqüência)

95%

5%

f tk 1.65 Sn f tj f c (Resistência)

Figura 2.6 Distribuição normal mostrando a resistência média (ftj) e a resistência característica
do concreto à tração (ftk).

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As estimativas de resistência à tração fornecida por estes ensaios indiretos não
fornecem o mesmo resultado. No ensaio de tração na flexão, a hipótese de distribuição
linear de tensões não é verificada, com tensões efetivas na ruptura menores que às
sugeridas pela equação 2.3. Adicionalmente, a maior tensão de tração ocorre
inicialmente somente na fibra mais extrema. Já no ensaio por compressão diametral,
há uma maior região com tensão de tração constante, embora ainda ocorram tensões
de compressão nas regiões próximas ao ponto de aplicação de carga.

A NBR 6118 sugere as seguintes expressões para correlacionar a resistência à tração


direta fct com às estimadas pelos ensaios indiretos:

fct = 0,9 fct,sp


fct = 0,7 fct,f

O seu valor médio, fct,m, na falta de ensaios de tração, pode ser relacionado à resistência
característica do concreto fck de acordo com as seguintes expressões (NBR 6118):

Para concretos de classe C20 a C50:


/
, = 0,3 (2.5)

Para concretos de classes C55 até C90:


, = 2,12 ln (1 + 0,11 ) (2.6)

com , e expressos em MPa.

Os valores característicos da resistência à tração, segundo a NBR 6118:2014, são


dados por:
,%& = 0,7 ,

, ( = 1,3 ,

Os valores característicos ,%& ou , ( são utilizados de acordo com a NBR 6118.

Se a resistência característica à compressão fckj for superior a 7 MPa, as expressões


acima podem também ser utilizadas para idades diferentes de 28 dias.

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2.2 FATORES QUE INFLUEM NA RESISTÊNCIA DO CONCRETO

2.2.1 Qualidade dos Materiais

2.2.1.1 Água

Deve se apresentar isenta de resíduos industriais, detritos e impurezas que prejudiquem


as reações químicas do cimento.

2.2.1.2 Agregados

Concretos executados com seixos ou com britas de maior diâmetro produzem concretos
com menor exigência de água e, consequentemente, mais resistentes. Para concretos
de elevada resistência se dá preferência para agregados de menor diâmetro. Os
agregados devem estar isentos de impurezas para não prejudicar a aderência com a
pasta, apresentar resistência mecânica superior a pasta (para concretos convencionais)
e uma granulometria contínua, diminuindo o volume de pasta de cimento.

2.2.1.3 Cimento

A composição química do cimento influencia na evolução da resistência dos concretos.


A finura também influencia na evolução da resistência (cimentos mais finos fornecem
maiores resistências iniciais).

Tabela 2.2 - Tipos de Cimento Portland Nacionais


CP I - Cimento Portland Comum
CP I-S - Cimento Portland Comum c/adição
CP II-E - Cimento Portland Composto c/ escória
CP II-Z - Cimento Portland Composto c/ pozolana
CP II-F - Cimento Portland Composto c/ filer
CP III - Cimento Portland de Alto Forno
CP IV - Cimento Portland Pozolânico
CP V - Cimento Portland de Alta Resistência Inicial
MRS - Cimento Portland de Moderada Resistência a Sulfatos
ARS - Cimento Portland de Alta Resistência a Sulfatos

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2.2.1.4 Aditivos

São adicionados aos constituintes convencionais do concreto, durante a mistura,


quando se busca alguma propriedade especial, como aumento da plasticidade, controle
do tempo de pega e do aumento da resistência e redução do calor de hidratação. Os
tipos mais comuns são:

• Plastificantes e superplastificantes: reduzem a quantidade de água necessária


para conferir a trabalhabilidade desejada, aumentando a resistência.

• Retardadores: Reduzem o início da pega por algumas horas permitindo a


concretagem de grandes volumes sem juntas.

• Aceleradores: Aceleram a pega e o endurecimento do concreto, devendo ser


aplicados na quantidade correta, caso contrário provocam endurecimento muito
rápido, diminuição da resistência e corrosão da armadura.

• Incorporadores de ar: produzem bolhas de ar melhorando a trabalhabilidade e


impermeabilidade, além de melhorar a resistência a meios agressivos.

2.2.2 Idade do Concreto

A resistência do concreto aumenta com a idade, devido ao mecanismo de hidratação do


cimento. Para fins de projeto utiliza-se a resistência do concreto aos 28 dias (fc28). A
partir desta idade o incremento da resistência é variável de acordo com o tipo de cimento
e geralmente pequeno, ficando como adicional à segurança.

A evolução da resistência à compressão com a idade deve ser obtida através de ensaios
especialmente executados para tal. Na ausência de dados experimentais, em caráter
orientativo, pode-se adotar os valores indicados na NBR 6118 item 12.3.3.

)
= *+

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Onde: *+ = ,-./011 − (28/3)+/ 45

s = 0,38 para cimento CPIII e IV


s = 0,25 para cimento CPI e II
s = 0,20 para cimento CPV-ARI
t – idade efetiva do concreto em dias.

Tabela 2.3 - Comparação da evolução da resistência do concreto em função do tempo


para dois tipos de cimentos nacionais (valores experimentais)
Idade do concreto (dias) 3 7 28 90 360
Cimento Portland Comum 0,40 0,65 1,00 1,20 1,35
Cimento Portland de Alta Resistência 0,55 0,75 1,00 1,15 1,20

Figura 2.7 - Evolução da resistência do concreto em função da idade.

2.2.3 Relação Água/Cimento

É o principal fator que influencia na resistência do concreto, pois o excesso de água na


mistura deixa após o endurecimento vazios na pasta de cimento. Diz-se que a
resistência do concreto é inversamente proporcional à relação água/cimento, segundo
a Lei de Abrams.

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Figura 2.8 - Curva de Abrams que indica a variação da resistência em função da relação
água/cimento.

2.3 DEFORMAÇÕES

O concreto não é um corpo sólido, e sim um pseudo-sólido, logo pode apresentar


deformações não só quando submetido a ações externas, mas também devidas a
variações das condições ambientais (denominadas deformações próprias).

2.3.1 Deformações Próprias ou Devidas à Variação das Condições Ambientais

• retração
• variação de temperatura
• variação de umidade

2.3.1.1 Retração

É a redução de volume do concreto, provocada pela perda de água existente no interior


do concreto através da evaporação. Para reduzir o efeito da retração no concreto dispõe-
se de algumas alternativas:

• aumentar o tempo de cura do concreto, para evitar a evaporação prematura da


água necessária à hidratação do cimento. Entende-se por cura como o conjunto
de providências necessárias para evitar a evaporação prematura da água

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necessária à hidratação do cimento. A pega é o processo de endurecimento do
concreto.

• prever junta de movimentação, provisória ou definitiva

Comportamento da retração ao longo do tempo:

εcs (‰)

εcs∞

efeito da cura tempo

εcs∞ - deformação unitária devido à retração (‰ ou mm/m)

Figura 2.9 – Efeito do tempo de cura na deformação por retração

L
Concreto simples:
∆ℓ´cs = ε´cs L

∆ℓ´cs

L
Concreto armado:
∆ℓcs = εcs L

∆ℓcs
εcs < ε´cs

Figura 2.10 – Efeito da presença da armadura na deformação por retração

16
Valores de εcs de acordo com NBR 6118:2014

Item 8.2.11 – Tabela 8.2 – valores de ε´cs entre -0,15 a -0,53 ‰ dependendo da umidade
média do ambiente, geometria do elemento e da idade do 1º carregamento.

Para concreto armado, (item 11.3.3.1) casos correntes com peças com dimensões entre
10 e 100 cm em ambientes com Ur ≥ 75 %):

εcs = -0,15‰ ou -15x10-5

Valores mais precisos de εcs do concreto, consultar a NBR 6118 anexo A da norma.

678 = 9 . 7

2.3.1.2 Variação da umidade do meio ambiente

O aumento de umidade produz no concreto um inchamento e a redução de umidade um


encolhimento. Tais deformações são geralmente desprezíveis para variações
ambientais de umidade.

2.3.1.3 Variação da temperatura (NBR 6118 - item 11.4.2.1)

A variação da temperatura da estrutura, causada globalmente pela variação da


temperatura da atmosfera e pela insolação direta, é considerada uniforme.

Ela depende do local de implantação da obra e das dimensões dos elementos


estruturais.

De maneira genérica pode-se adotar os seguintes valores:

• ∆t = ± 10oC a ± 15oC elementos estruturais cuja menor dimensão não superior


a 50cm;
• ∆t = ± 5oC a ± 10oC para peças maciças ou com os espaços vazios inteiramente
fechados, cuja menor dimensão seja superior a 70cm;

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• para peças cuja menor dimensão esteja entre 50cm e 70cm será feita
interpolação linear entre os valores acima citados.

Coeficiente de dilatação térmica do concreto armado:


αt = 1,0x10-5/ o C

Deformações numa peça estrutural dependerão da variação da temperatura na estrutura


(∆T) e das suas dimensões:

67 = 9 . 7
67 = : . 6;. 7

2.3.2 Deformações Devidas às Cargas Externas

2.3.2.1 Imediata

Observada no ato de aplicação das cargas externas, onde o esforço interno é absorvido
parte pelo esqueleto sólido do concreto e parte pela água confinada nos poros. A
deformação imediata será:
67% = 9 % . 7
com:
εci = deformação imediata unitária

2.3.2.2 Deformação Lenta ou Fluência

Observada no decorrer do tempo, em concretos submetidos a cargas permanentes. A


água dos poros saturados se desloca lentamente e transfere o esforço que ela absorvia
inicialmente para o esqueleto sólido, aumentando a deformação inicial. A água que
chega na superfície evapora, aumentando as tensões nos poros capilares, parcialmente
preenchidos com água, e assim aumentado ainda mais as deformações.

A deformação lenta será:


67 = 9 . 7
com:
εcc = deformação lenta unitária
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A deformação total na estrutura será:

67 = 67% + 67
9 =9 %+9

εc

εcc

εcc εcc∞

εci

to Tempo
Instante de aplicação
da carga

Figura 2.11 - Deformação unitária x tempo para um concreto, mostrando a deformação imediata no
momento da aplicação do carregamento externo e a fluência, que progride com o tempo.

2.3.3 Resistência Mecânica

O concreto a ser especificado nos projetos, de acordo com a NBR 6118, deverá
apresentar uma resistência característica fck não inferior a 20 MPa. O concreto pré-
misturado deverá ser fornecido com base na resistência característica.

2.3.4 Diagrama Tensão-Deformação

Obtido ensaiando-se em laboratório corpos de prova cilíndricos de concreto

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Figura 2.12 – Exemplos de diagramas tensão-deformação para concreto de alta e baixa resistências

Os diagramas tensão deformação apresentados na figura acima demonstram que o


concreto A, de baixa resistência, apresenta uma deformação superior ao concreto B, de
alta resistência, na ruptura.

O diagrama tensão-deformação à compressão, a ser usado no cálculo, será suposto


como uma simplificação, dado por:

Figura 2.13 – Diagrama tensão deformação a ser utilizado no cálculo

Os valores de deformação εc2 e εcu dependem da resistência do concreto. Para


concretos de classes até C50:

εc2 = 2,0‰
εcu = 3,5‰;
20
Para concretos de classes C50 até C90:

εc2 = 2,0‰ + 0,085‰ (fck-50)0,53


εcu = 2,6‰ + 35‰ [(90- fck)/100]4 , com fck em MPa

Para tensão máxima, a NBR 611814 utiliza o valor de 0,85 fcd. A resistência de cálculo
fcd é calculada minorando-se a resistência característica fck a partir do coeficiente de
ponderação da resistência, < , parte integrante do critério de segurança (visto com mais
detalhe no Capítulo 4), tal que:

= =>
?=

fcd: resistência de cálculo à compressão do concreto


γc = coeficiente de ponderação das resistências

γc = 1,2 combinações especiais ou construção


= 1,4 combinações normais

O coeficiente 0,85 utilizado pela NBR 6118 de redução da resistência de cálculo, fcd,
leva em consideração as dimensões do corpo de prova padrão, o crescimento da
resistência com a idade e principalmente o efeito das cargas de longa duração.

Diferentemente do ensaio laboratorial, onde a carga é aplicada continuamente de forma


rápida até a ruptura, uma estrutura real está sempre submetida a uma parcela de carga
que se mantêm atuante durante toda a sua vida útil. Este carregamento de longa
duração tem uma influência significativa na resistência última do material. A redução da
resistência do concreto com o tempo de permanência das cargas de longa duração é
apresentada na Figura 2.14. O efeito da taxa de carregamento durante um ensaio de
compressão é apresentado na Figura 2.15. Esta redução da resistência do concreto
devido às cargas de longa duração é chamada de Efeito Rüsch. Sob o efeito de cargas
de longa duração, o concreto romperá a tensões de compressão inferiores à fc.

21
Figura 2.14 - Influência do tipo de carregamento na resistência do concreto (RÜSCH, 1960)

Figura 2.15 - Influência da intensidade de carga e sua duração na resistência e deformação do concreto
(RÜSCH, 1960)

A Figura 2.16 apresenta as curvas tensão-deformação de cálculo utilizazadas pela NBR


6118.

22
60

50

90
40
80
tensão (MPa)
70
30
60
50
20
40
30
10
20

0
0 0.001 0.002 0.003 0.004
deformação

Figura 2.16 - Curvas tensão-deformação de cálculo da NBR 6118 para concretos de diversas classes

2.3.5 Módulo de Elasticidade

A relação entre tensão e deformação pode ser considerada como linear apenas no início
do carregamento, com o concreto se comportando como um material elástico. Com o
acréscimo de carga, esta relação deixa de ser linear, o comportamento do concreto se
modifica e deformações permanentes ocorrem caso o carregamento seja retirado. A
extensão da fase inicial elástica é maior quanto maior for a resistência do concreto.

Como o comportamento tensão-deformação não é linear, o módulo de elasticidade é


função do nível de tensão adquirido. Para aplicações em concreto armado utilizam-se
geralmente os módulos de elasticidade tangente, cordal e secante. O módulo tangente
é obtido pelo coeficiente angular da reta tangente à curva tensão-deformação em
qualquer nível de tensão. O módulo cordal é obtido pelo coeficiente angular da reta
traçada entre quaisquer dois pontos da curva tensão-deformação. O módulo cordal
obtido pelo coeficiente angular da reta traçada entre um determinado nível de tensão e
a origem é chamado de módulo secante.

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Figura 2.17 - Módulo de elasticidade tangente na origem (Eo) e módulo secante (Ecs)

Na falta de determinação experimental, a NBR 6114 permite estimar o valor do módulo


de elasticidade inicial Eci a partir de:

@ % = :A 5600. B (para fck de 20MPa a 50 MPa)


+/
@ % 21,5.10 :A C +D
=>
. 1,25E (para fck de 55MPa a 90 MPa)

com Eci e fck em MPa

O parâmetro :A reflete a influência do tipo de agregado gráudo utilizado sendo:


= 1,2 para basalto e diabásio
= 1,0 para granito e gnaisse
= 0,9 para calcário
= 0,7 para arenito

O módulo de elasticidade secante a ser utilizado em análises elásticas de projeto deve


ser calculado pela expressão:

@ :% . @ % :% 0,8 0,2. =>


G 1,0, com
FD
sendo: em MPa

A NBR apresenta a seguinte tabela com valores arredondados que podem ser utilizados
no projeto estrutural considerando agregado graúdo granítico

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Tabela 2.4 – Valores estimados de módulo de elasticidade em função do fck com
agregado graúdo granítico
Classe de C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50 C60 C70 C80 C90

@ % (GPa)
resistência
25 28 31 33 35 38 40 42 43 45 47
@ (GPa) 21 24 27 29 32 34 37 40 42 45 47
:% 0,85 0,86 0,88 0,89 0,90 0,91 0,93 0,95 0,98 1,00 1,00

2.4 Durabilidade

Para garantir uma adequada durabilidade a uma estrutura de concreto armado, o


projetista deve considerar o nível de agressividade do meio ambiente onde a obra vai
ser executada, adotar um cobrimento mínimo de concreto e especificar parâmetros para
a dosagem do concreto tais como, relação a/c, módulo de elasticidade do concreto,
dimensão máxima do agregado graúdo e tipo de cimento. Os capítulos seguintes
tratarão destes assuntos com mais detalhes.

25
3. AÇO

3.1 INTRODUÇÃO

O aço é utilizado em estruturas principalmente para suprir a baixa resistência a tração


apresentada pelo concreto. No entanto, como o aço resiste bem tanto a tração quanto à
compressão, poderá absorver esforços também em regiões comprimidas do concreto.

Os aços para concreto armado são fornecidos sob a forma de barras e fios de seção
circular, com propriedades e dimensões padronizadas pela norma NBR 7480 da ABNT.

O aço é uma liga metálica de ferro e carbono, com um percentual de 0,03% a 2,00% de
participação do carbono, que lhe confere maior ductilidade.

3.1.1 Classificação

Os aços para concreto armado são classificados de acordo com a sua bitola, sua
resistência característica e o processo empregado em sua fabricação. A bitola
representa o diâmetro nominal (φ), em milímetros da seção transversal do fio ou da
barra.

O aço pode ser encontrado em barras de diâmetro nominal 6,3 mm ou superior, obtidas
exclusivamente por laminação a quente.; em fios com diâmetro nominal 10,0 mm ou
inferior, obtidos por laminação a quente com posterior processo de deformação a frio; e
em telas formadas por fios soldados nos pontos de cruzamento.

As barras obtidas por laminação a quente são caracterizadas por apresentarem um

patamar de escoamento bem definido no diagrama σ x ε. A resistência elevada é obtida

pela adição de elementos como C, Mn, Si e Cr.

26
Tensão
B
fm
C

f yk A

Deformação

Figura 3.1 - Diagrama tensão x deformação de barras, mostrando o limite de


escoamento/proporcionalidade (A), o limite de resistência (B) e o limite de ruptura (C).

Os fios, obtidos geralmente por trefilação, não apresentam nos ensaios patamar de
escoamento bem definido. O limite de escoamento é estabelecido convencionalmente
como sendo a tensão que produz uma deformação permanente de 0,2 %.
Tensão

C
fm
D
f yk B

f yp A

0,2%
Deformação

Figura 3.2 - Diagrama tensão x deformação de fios. “A” representa o limite de proporcionalidade, “B”
o limite escoamento, “C” o limite de resistência, e “D” o limite de ruptura.

A designação dos aços para concreto armado segue a sigla CA (iniciais de concreto
armado), seguida da resistência característica de escoamento em kN/cm2.

Exemplo: “CA - 50”, (fyk = 500 MPa, ou 50 kN/cm2)

27
3.2 Massa, Comprimento e Tolerância

A massa real das barras deve ser igual à sua massa nominal obtida multiplicando-se o
comprimento da barra ou do fio pela área da seção nominal e pela sua massa específica
(7850 kg/m3).

O comprimento normal de fabricação das barras e fios retos é de 12m e a tolerância de


comprimento é de ± 1%. Permite-se a existência de até 2 % de barras curtas, porém de
comprimento não inferior a 6m.

Tabela 3.1 - Características de fios e barras (NBR 7480)


Diâmetro nominal Valores nominais Massa e tolerância por unidade de
(mm) comprimento
Massa por Máxima
Fios Barras Área da Perímetro unidade de variação
seção (mm2) (mm) comprimento nominal
(kg/m) permitida
3,4 - 9,1 10,7 0,071 ± 6%
4,2 - 13,9 13,2 0,109 ± 6%
5,0 - 19,6 15,7 0,154 ± 6%
6,0 - 28,3 18,8 0,222 ± 6%
- 6,3 31,2 19,8 0,245 ± 7%
8,0 50,3 25,1 0,395 ± 6%
8,0 50,3 25,1 0,395 ± 7%
10,0 10,0 78,5 31,4 0,617 ± 6%
- 12,5 122,7 39,3 0,963 ± 6%
- 16,0 201,1 50,3 1,578 ± 5%
- 20,0 314,2 62,8 2,466 ± 5%
- 25,0 490,9 78,5 3,853 ± 4%
- 32,0 804,2 100,5 6,313 ± 4%
- 40,0 1256,6 125,7 9,865 ± 4%

3.3 Características Geométricas

As barras CA 25 são barras lisas, as barras CA 50 possuem nervuras transversais


oblíquas e duas nervuras longitudinais diametralmente opostas e contínuas e os fios
CA60 podem ser lisos, entalhados ou nervurados.

28
Figura 3.3 – Barras CA 25

β = ângulo entre o eixo da nervura oblíqua e o eixo da barra, 45º < β < 74º
e = espaçamento entre nervuras, de 50% a 80% do diâmetro nominal

Figura 3.4 – Configuração geométrica das barras CA50 (NBR 7480)

a) fios retos com 12 m b) fios em rolo


Figura 3.5 – Exemplos de aço CA60

29
3.4 RESISTÊNCIA CARACTERÍSTICA

O valor da resistência característica do aço (fyk) é o valor mínimo estatístico acima do


qual ficam situados 95% dos resultados experimentais. A resistência característica do
aço é a mesma para tração e compressão, desde que seja afastado o perigo de
flambagem.

H H − 1,65. & (3.1)


N (Freqüência)

95%

5%

f yk 1.65 Sn f yj f y (Resistência)

Figura 3.7 - Distribuição normal para a resistência do aço, mostrando a resistência média (fym) e a
resistência característica (fyk).

3.5 RESISTÊNCIA DE CÁLCULO (Estado limite último)

A resistência de cálculo do aço é obtida através da aplicação de coeficientes de


minoração pelas mesmas razões já apresentadas para o concreto, ressaltando-se ainda
o problema da oxidação do aço antes do seu uso e precisão geométrica das armaduras.
No entanto, os valores são menores que os empregados para o concreto, já que o
processo de fabricação do aço apresenta um controle de qualidade superior.

f yk f yck
f yd = (tração) e f ycd = (compressão)
γs γs

Em geral o coeficiente de minoração γs (ou de ponderação) vale γs = 1,15


30
3.6 DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO SIMPLIFICADO PARA PROJETO

No cálculo pode-se utilizar o diagrama simplificado para os aços com ou sem patamar
de escoamento. Este diagrama é válido para intervalos de temperatura entre –20o C e
150o C e pode ser aplicado para tração e compressão.

Figura 3.8 - Diagrama tensão x deformação simplificado para os aços.

f yd
ε yd = com Es = 210.000 MPa
Es

31
4. CONCEITOS DE SEGURANÇA

O cálculo de uma estrutura deve garantir que ela suporte de forma segura, estável e
sem deformação excessivas, todas as solicitações a que estará submetida durante sua
execução e utilização.

O dimensionamento consiste em impedir a ruína (falha) da estrutura e de seus


componentes e garantir que em funcionamento não ocorram deformações excessivas
e/ou fissura inaceitáveis.

Entende-se como segurança o afastamento que uma estrutura apresenta entre a


situação prevista para seu uso e a situação de ruína.

Uma estrutura oferece segurança quando possuir condições de suportar, em condições


não precárias de funcionamento, todas as ações, com as intensidades e combinações
mais desfavoráveis, de atuação possível ao longo da vida útil para a qual foi projetada.

4.1 FATORES QUE INFLUENCIAM NA SEGURANÇA

São vários os fatores que influenciam a segurança, podendo ser citados:


• Variabilidade das ações;
• Variabilidade das resistências dos materiais;
• Importância da estrutura (custo dos danos);
• Imprecisões geométricas (vãos, seções)
• Imprecisão dos modelos de projeto.

4.2 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA

A verificação da segurança é realizada considerando condições construtivas e


condições analíticas de segurança. As condições construtivas referem-se a:

• Atendimento aos critérios de detalhamento de armadura;


• Atendimento às normas de controle dos materiais (ABNT NBR 12655);

32
• Atendimento ao controle de execução da obra (NBR 14931).

As condições analíticas de segurança estabelecem que as resistências não devam ser


menores que as solicitações e devem ser verificadas em relação a todos os estados
limites e todos os carregamentos especificados para o tipo de construção considerado,
ou seja, em qualquer caso deve ser respeitada a condição:

Rd ≥ Sd
Rd – resistência de cálculo
Sd – solicitação última

4.3 MÉTODOS DE VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA ESTRUTURAL

4.3.1 Método das Tensões Admissíveis

O método de cálculo estrutural tradicional ou clássico é chamado de método de cálculo


das tensões admissíveis. A estrutura é investigada sob ações em serviço, determinando-
se as solicitações (momentos fletores, esforços cortantes, esforços normais e momentos
torsores). Calculam-se as tensões correspondentes a estas solicitações considerando
um comportamento elástico dos materiais. Impõe-se uma tensão admissível
(corresponde a uma fração da tensão máxima) que não pode ser excedida, garantindo
assim a segurança da estrutura.

Neste método os valores das cargas, das resistências dos materiais são considerados
fixos e, portanto, este método é considerado como um método determinístico.
Esse método fornece pouca informação sobre a capacidade real da estrutura.

4.3.2 Métodos Probabilísticos

Todas as variáveis intervenientes são tratadas como variavéis aleatórias cujas


distribuições de probabilidade são conhecidas (ex. resistência do concreto – distribuição
normal). Portanto, as ações, resistências, dimensões dos elementos, vãos,
posicionamento das armaduras, etc. são considerados como variáveis aleatórias.

33
Baseados na probabilidade de ruína. O valor da probabilidade de ruína (p) é fixado por
normas e embutido nos parâmetros especificados, levando em consideração aspectos
técnicos, políticos, éticos e econômicos.

Figura 4.1 – Probabilidade de ruína

4.3.3 MÉTODOS SEMI-PROBABILÍSTICOS

Introduzem-se dados estatísticos e conceitos probabilísticos, sendo o método possível


de ser aplicado atualmente.

As ações e esforços solicitantes são majorados, indicando uma probabilidade pequena


de ultrapassar esses valores. Os valores característicos das resistências são minorados
com pequena probabilidade dos valores reais atingirem esse patamar. A situação de
ruína corresponde ao esforço solicitante de cálculo igual à resistência de cálculo.

Figura 4.2 – Situação de ruína


34
4.4 QUALIDADE DAS ESTRUTURAS

Segundo a NBR 6118, as estruturas de concreto devem atender aos seguintes requisitos
mínimos de qualidade:

Capacidade Resistente: segurança contra a ruptura devido às solicitações; requisitos


relativos à capacidade resistente de cada componente e do comportamento em conjunto
de todos os elementos.

Desempenho em Serviço: evitar deformações excessivas e vibrações que


comprometam o uso da estrutura; capacidade da estrutura de se manter em condições
plenas de utilização, não devendo apresentar danos que comprometam, em parte ou
totalmente o uso para a qual foi projetada.

Durabilidade: conservação da estrutura, pouca manutenção; resistir às influências


ambientais previstas e definidas pelo projetista e contratante

A qualidade da solução deve ainda considerar condições arquitetônicas, funcionais,


construtivas, estruturais e de integração com os projetos complementares (elétrico,
hidráulico, telefonia, ar condicionado, etc.)

Tudo isso deve sempre estar aliado ao aspecto econômico.

4.5 ESTADOS LIMITES

Quando uma estrutura não preenche os requisitos de qualidade anteriores, diz-se que a
mesma atingiu um “ESTADO LIMITE”. As normas atuais são baseadas no conceito de
Estados Limites. Quando uma estrutura ou elemento estrutural não mais atende ao seu
uso projetado, é dito que atingiu o seu Estado Limite. No dimensionamento da estrutura
considerando os E.L., as ações, os efeitos das ações e as resistências são quantidades
aleatórias cujos valores reais são conhecidos somente através da distribuição de
probabilidades das quantidades aleatórias individuais que constituem suas partes
componentes.

35
A condição de segurança pode ser exigida em relação aos Estados Limites Últimos ou
aos Estados Limites de Utilização.

4.4.1 Estado Limite Último – ELU

Este estado limite está associado ao colapso ou ruína da estrutura.


• perda da estabilidade da estrutura,
• ruptura de seções críticas,
• instabilidade elástica (flambagem),
• deterioração por fadiga.

4.4.2 Estado Limite de Serviço ou Estado Limite de Utilização – ELS

Este estado Limite está relacionado com durabilidade, aparência, conforto, boa
utilização.
• deformações excessivas,
• fissuração excessiva ou prematura,
• vibrações excessivas.

Exemplos:
ELS-F: inicia a formação de fissuras
ELS-W: fissuras com aberturas iguais a valores máximos especificados
ELS-DEF: deformações atingem limites para utilização normal da estrutura.

4.5 AÇÕES

Conforme a NBR 8681, as ações são classificadas em ações permanentes e açõe


variáveis.

As ações permanentes ocorrem com valores praticamente constantes durante toda a


vida da construção ou que crescem no tempo tendendo a um valor limite constante.
Devem ser consideradas com seus valores representativos mais desfavoráveis para a
segurança. São classificadas em:

36
• Diretas: peso próprio da estrutura, pesos dos elementos construtivos fixos
(revestimentos, alvenarias, etc), peso das instalações permanentes, empuxos
permanentes
• Indiretas: deformações impostas por retração, fluência do concreto,
deslocamentos de apoio, imperfeições geométricas, protensão.

As ações variáveis são as cargas acidentais das construções em função do seu uso
(pessoas, veículos, mobiliário etc), assim como os efeitos do vento, das variações de
temperatura, etc.

Além destas, há ainda as ações ditas como excepcionais que são as decorrentes de
explosões, choques de veículos, incêndios, enchentes, terremotos excepcionais.

Os valores característicos Fk das ações são definidos em função da variabilidade de


suas intensidades.

4.5.1 Ações Permanentes

Para as ações permanentes, os valores característicos (Fgk) são os valores médios,


obtidos a partir dos pesos específicos dos materiais de construção usuais
Tabela 4.1 – Valores de peso específico aparente em kN/m3 (NBR 6120)
Materiais Peso específico
Rochas Arenito 26
Basalto, gneiss 30
Granito mármore e calcário 28
Blocos Blocos de argamassa 22
artificiais Cimento amianto 20
Lajotas cerâmicas 18
Tijolos furados 13
Tijolos maciços 18
Tijolos sílico-calcários 20
Revestimentos Argamassa de cal, cimento e areia 19
e concretos Argamassa de cimento e areia 21
Argamassa de gesso 12,5
Concreto simples 24
Concreto armado 25
Madeiras Pinho, cedro 5
Louro, imbuia, pau óleo 6,5
Angico, abriúva, ipê róseo 10

37
4.5.2 Ações Variáveis

Os valores característicos das ações variáveis, Fqk, correspondem a valores com


probabilidade de 25% a 35% de serem ultrapassados em um período de 50 anos. A
tabela seguinte fornece os valores preconizados pela NBR 6120.

Tabela 4.2 – Valores das ações variáveis (NBR 6120)


Carga
Local
(kN/m2)
Arquibancadas 4
Bibliotecas sala de leitura 2
sala para depósito de livros 4
sala com estantes de livros a ser determinada em cada
caso ou 2,5 kN/m2 por metro de altura, observado, porém,
o valor mínimo de 6
Corredores com acesso ao público 3
sem acesso ao público 2
Edifícios dormitórios, sala, copa, cozinha e banheiro 1,5
residenciais despensa, área de serviço e lavanderia 2
Escadas com acesso ao público 3
sem acesso ao público 2,5
Escolas anfiteatro com assentos fixos, corredor e sala de aula 3
outras salas 2
Escritórios salas de uso geral e banheiro 2
Forros sem acesso a pessoas 0,5
Lavanderias incluindo equipamentos 3
Lojas 4
Restaurantes 3

4.5.3 Combinações de Ações

Quando se combinam as ações para o cálculo da estrutura, utilizam-se valores


representativos das ações que podem ser os valores característicos como anteriormente
definidos, valores convencionais excepcionais arbitrados para as ações excepcionais, e
valores reduzidos em função da combinação de ações.

4.5.3.1 Estado Limite Último

Para a combinação E.L.U., utilizam-se a totalidade das cargas permanentes com seus
valores majorados pelos coeficientes de ponderação respectivos, uma ação variável
38
principal majorada pelo coeficiente de ponderação, enquanto as outras ações variáveis
tem seus valores reduzidos (ID J ) de forma a considerar a baixa probabilidade de
ocorrência simultânea de duas ou mais ações variáveis de natureza diferentes.

&

J K <L% . JL%, <M . NJM+, K ID . JM , P <QM . IDQ JQM


%O+ O

com:
J = combinação de ações;
JL%, = valor característico da carga permanente i;
JM+, = valor característico da carga acidental 1 (carga acidental preponderante);

JM+, = valor característico da carga acidental j;


JQM = valor característico da carga devido a deformações impostas 9 ;
<L% = valor do coeficiente de ponderação da carga permanente i;

<M = valor do coeficiente de ponderação da carga acidental;


<QM = valor do coeficiente de ponderação da carga devido a deformações impostas;
ID = fator redutor devido a simultaneidade de carregamento

Em geral, utilizam-se os seguintes valores para os coeficientes de ponderação:


γg = 1,4 em casos gerais e γg = 1,0 quando a carga permanente possuir uma influência
favorável;
γq = 1,4;
γε = 1,2.

O coeficiente ID varia de 0,5 a 0,8 dependendo da situação.

39
4.5.3.2 Estado Limite de Serviço

Para as combinações de E.L.S., utilizam-se os valores das ações permanentes sem


majoração, e os valores das ações variáveis reduzidos pelas expressões I+ J e I J .

As ações podem ser combinadas de três maneiras de acordo com o tempo de


permanência na estrutura.

• Combinação quase permanente: ações ocorrem durante grande parte do período


previsto para a estrutura (ex.: estado limite deformações excessivas).

Neste caso todas as ações variáveis são consideradas com seus valores quase
permanentes ψ2Fqk
&

J , R8 = K JL%, + K I . JM ,
%O+ O

• Combinação frequente: ações se repetem muitas vezes durante o período de vida


da estrutura (ex.: verificação de abertura de fissura).

Neste caso, a ação variável principal JM+ é tomada com seu valor frequente

I+ JM+ e as demais com seus valores quase permanentes I JM


&

J , R8 = K JL%, + I+ JM+ + K I . JM ,
%O+ O

• Combinação Rara: ações ocorrem algumas vezes durante o período de vida da


estrutura (ex.: verificação de formação de fissura).

Neste caso, a ação variável principal JM+ é tomada com seu valor característico

JM+ e as demais com seus valores frequentes I+ JM


&

J , R8 = K JL%, + JM+ + K I+ . JM ,
%O+ O
40
A tabela a seguir apresenta os coeficientes I

Tabela 4.3 – Valores do coeficiente I


Ações ID I+ I
Locais em que não há predominância de 0,5 0,4 0,3
pesos de equipamentos que permanecem
fixos por longos períodos de tempo, nem de
Cargas elevadas concentrações de pessoas a
acidentais Locais em que há predominância de pesos de 0,7 0,6 0,4
de edifícios equipamentos que permanecem fixos por
longos períodos de tempo, ou de elevada
concentração de pessoas b
Biblioteca, arquivos, oficinas e garagens 0,8 0,7 0,6
Pressão dinâmica do vento nas estruturas em 0,6 0,3 0
Vento
geral
Variações uniformes de temperatura em 0,6 0,5 0,3
Temperatura
relação à média anual local
a Edifícios residenciais
b Edifícios comerciais, de escritórios, estações e edifícios públicos

Os coeficientes de ponderação (majoração) não cobrem: erros de concepção estrutural,


erros de cálculo, nem falhas construtivas.

Fiscalização e controle de qualidade continuam necessários

41
5 DURABILIDADE

A NBR 6118 - Item 6.1 estabelece que:

“As estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas de modo que,


sob as condições ambientais previstas na época do projeto e quando
utilizadas conforme preconizado em projeto, conservem sua segurança,
estabilidade e aptidão em serviço durante o prazo correspondente à sua vida
útil.”

A vida útil dos projetos é em geral de 50 anos. Durante a vida útil não são esperadas
intervenções significativas, porém há necessidade de manter os requisitos de uso e de
manutenção, conforme NBR 5674 – Manutenção de edificações – Requisitos gerais para
o sistema de gestão de manutenção.

5.1 PRINCIPAIS MECANISMOS DE ENVELHECIMENTO E DETERIORAÇÃO

5.1.1 Relativos ao Concreto

Os principais mecanismos de deterioração ocorrentes no concreto são os devidos a


lixiviação, a expansão por sulfatos ou decorrentes da reação álcali-agregado e devido a
reações deletérias na superfície dos agregados.

A lixiviação representa a dissolução e carreamento dos compostos hidratados da pasta


de cimento por ação de águas puras, carbônicas agressivas ou ácidas.

Figura 5.1 - Exemplo de lixiviação do concreto

42
A pasta de cimento hidratado pode sofrer expansão decorrente de reações químicas
expansivas com sulfatos presentes em água ou solos contaminados. Pode também
sofrer expansão por reação álcali-agregado(RAA): expansão decorrente das reações
entre os álcalis do cimento e certo agregados reativos.

Figura 5.2 - Estrutura afetada por RAA em Recife (BATTAGIN, I. L. da S.; BATTAGIN, A. F.; SBRIGHI
NETO, C.)

5.1.2 Relativo às Armaduras

A armadura pode sofrer despassivação por ação do gás carbônico da atmosfera


(chamado de carbonatação) ou por um elevado teor de íon-cloreto. A despassivação da
armadura induz à sua corrosão, com consequente diminuição de sua seção transversal.
A corrosão induz a um processo de fissuração do concreto dado que é um processo
expansivo.

Figura 5.3 - Falta de cobrimento e corrosão de armadura

43
5.1.3 Relativo à Estrutura

São os mecanismos relacionados às ações mecânicas (abrasão), impacto, movimentos


de origem térmica, ações cíclicas (fadiga), fluência e retração do concreto, relaxação do
aço, e as ações que atuam sobre a estrutura.

5.1.4 Medidas Preventivas

Como medidas preventivas a estes mecanismos citam-se:


• Restringir a fissuração do concreto, limitando-se a abertura das fissuras;
• Proteção de superfícies expostas com produtos específicos como os hidrófugos;
• Utilização de agregados não reativos;
• Adequação a cobrimentos mínimos das armaduras;
• Utilização de concretos com porosidades adequadas dependendo da
agressividade do meio;
• Utilização de cimentos específicos dependente dos mecanismos de
deterioração (resistentes a sulfatos ou com adição de escória ou material
pozolânico);
• Garantia de um período adequado de cura;
• Isolamentos térmicos, quando necessário;
• Utilização de barreiras protetoras em pilares sujeitos a choques mecânicos;
• Utilização de juntas de dilatação.

5.2 AGRESSIVIDADE DO AMBIENTE

Nos projetos de estruturas deve-se considerar a agressividade ambiental de acordo com


a Tabela 6.1 da NBR 6118.

44
Tabela 5.1 - Classes de Agressividade Ambiental (CAA)
Classe de Classificação geral do Risco de
Agressividade Agressividade tipo de ambiente para deterioração da
Ambiental efeito de projeto estrutura
rural
I fraca insignificante
submersa
II moderada urbana 1),2) pequeno
marinha 1)
III forte grande
industrial 1),2)
industrial 1),3)
IV muito forte elevado
respingos de maré
1) pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (um nível acima)
para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de
apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com
argamassa e pintura).
2) pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em: obras em regiões
de clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de
chuva em ambientes predominantemente secos, ou regiões onde chove raramente.
3) ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em
indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas.

5.3 CRITÉRIOS DE PROJETO QUE VISAM A DURABILIDADE

• Prever drenagem eficiente de chuvas e água de limpeza e lavagem;


• Evitar formas arquitetônicas que dificultem o acesso para inspeção e
manutenção da estrutura e dificultem a drenagem;
• Garantir a qualidade do concreto;
• Detalhar adequadamente as armaduras permitindo as operações de lançamento
e adensamento do concreto;
• Garantir o controle da fissuração na superfície do concreto;
• Adotar medidas especiais em condições de exposição adversas como aplicação
de revestimentos hidrofugantes e pinturas impermeabilizantes, revestimentos de
argamassas sobre a superfície do concreto, entre outros.
• Definir um plano de inspeção e manutenção preventiva.

A durabilidade das estruturas depende grandemente das características do concreto e


da espessura e qualidade do concreto de cobrimento da armadura. A NBR 6118
apresenta diretrizes a serem seguidas no projeto.
45
5.3.1 Qualidade do Concreto

Tabela 5.2 - Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto


Concreto Tipo Classe de agressividade (tabela 1)
I II III IV
Relação água/cimento CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45
em massa C ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45
Classe de concreto CA ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40
(NBR 8953) CP ≥ C25 ≥ C30 ≥ C35 ≥ C40
CA - Componentes e elementos estruturais de concreto armado
CP - Componentes e elementos estruturais de concreto protendido

A NBR 6118 prevê que o projeto deve considerar um cobrimento nominal (cnom) que
corresponde a um cobrimento mínimo acrescido de uma tolerância de execução (∆c) de
valor maior ou igual a 10 mm. O cobrimento nominal (cnom) deve respeitar os valores
apresentados na Tabela 5.3.

Tabela 5.3 - Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento


nominal para ∆c=10mm (NBR 6118)
Tipo de Classe de agressividade ambiental
Estrutura Componente ou 1.5.1. I II III IV2)
elemento 1.5.2. COBRIMENTO NOMINAL (MM)
Concreto Laje 1) 20 25 35 45
Armado Viga/pilar 25 30 40 50
Elementos estruturais
30 30 40 50
em contato com o solo3)
Concreto laje 25 30 40 50
Protendido Viga/pilar 30 35 45 55
1) Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com
revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais
como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos, e outros tantos, pode-se reduzir os
valores indicados, respeitado um cobrimento nominal ≥ 15 mm.
2) Nas superfícies expostas a ambientes agressivos, como reservatórios, estações de tratamento de água

e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente
agressivos, devem ser atendidos os cobrimentos da classe de agressividade IV.
3) No trecho de pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter

cobrimento nominal ≥ 45 mm

A NBR 6118/2003 permite uma redução no valor de ∆c quando houver um adequado


controle de qualidade e rígidos limites de tolerância da variabilidade das medidas
durante a execução. Neste caso, pode ser adotado o valor ∆c = 5 mm, mas a exigência
de controle rigoroso deve ser explicitada nos desenhos de projeto. Permite-se, então a
redução dos cobrimentos nominais prescritos na tabela em 5 mm.

46
O cobrimento da armadura sempre está referido à superfície da armadura mais próxima
à forma do elemento, em geral à face do estribo, conforme figura a seguir.

c
φL

φt

seção transversal c - cobrimento


φL - diâmetro armadura
longitudinal
φt - diâmetro armadura
transversal (estribos)
Figura 5.4 – Cobrimento da armadura

5.3.2 Controle de Fissuração

A NBR 6118 preconiza as seguintes aberturas máximas de fissuras para garantir


proteção contra corrosão das armaduras

Tabela 5.4 - Abertura Máxima de Fissuras (w) para Concreto Armado


CAA w (mm)
CAA I 0,4 mm
CAA II e CAA III 0,3 mm
CAA IV 0,2 mm

47
6. ELEMENTOS LINEARES SUJEITOS A SOLICITAÇÕES NORMAIS -
E.L.U.

Seja uma viga de concreto armado de seção transversal retangular submetida ao


carregamento indicado. Esta viga estará solicitada por momentos fletores e cortantes
com os respectivos diagramas também mostrados na figura.

P(L-a)/L

P
a
Pa/L
Diagrama esforço cortante

L
Pa(L-a)/L

Diagrama momento fletor

De acordo com a Mecânica dos Sólidos, a solicitação de momento fletor induz tensões
normais na seção transversal variando linearmente com a altura da viga, conforme
indicado abaixo. O esforço cortante induz tensões cisalhantes.

As deformações, por sua vez, também variam linearmente com a altura já que a hipótese
de seções planas permanecerem planas a pós a deformação é válida para as vigas
esbeltas.

UV
ST
σcmax
W
(6.1)
LN
y
σtmax

Figura 6.1 - Distribuição de tensões normais

48
Neste item, será estudado o dimensionamento da armadura longitudinal necessária para
resistir aos momentos fletores. Mais adiante, será estudada a armadura transversal que
auxiliará na resistência aos esforços cortantes.

6.1 ESTÁDIOS DO CONCRETO ARMADO

Consideremos o comportamento de uma viga de concreto armado desde o início de seu


carregamento até a ruptura. Divide-se o comportamento da viga em três etapas distintas:
Estádio I, Estádio II e Estádio III.

Figura 6.2 - Estádios do concreto armado (adaptado de Carvalho e Filho (2016))

Chama-se de Estádio I, também chamado de estágio elástico, o estágio inicial quando


a viga ainda não fissura, ou seja, as tensões de tração devido ao momento fletor são
inferiores à resistência a tração do concreto. Nesta etapa, considera-se a distribuição
de tensões a mesma da resistência dos materiais, sendo válida a lei de Hooke.

A medida que o carregamento aumenta, a resistência do concreto à tração é superada


e surgem as primeiras fissuras na peça, iniciando o Estádio II (estado de fissuração). A
divisão entre estes estádios é dada pelo momento fletor que induz tensões de tração
igual à resistência a tração do concreto. Este momento fletor é chamado de momento
de fissuração (U8 ), podendo ser calculado por (NBR 6118):

α ⋅ f]^,_ ⋅ I]
MY = (6.2)
y^
onde,

49
α - fator que correlaciona aproximadamente a resistência à tração na flexão com a
resistência à tração direta (valores definidos pela NBR 6118);
f]^,_ - resistência à tração direta do concreto
I] - momento de inércia da seção bruta de concreto;
y^ - distância do centro de gravidade à fibra mais tracionada.

Após o início da fissuração, admite-se que as tensões de tração nas seções fissuradas
passam a ser resistidas pelas armaduras longitudinais presentes na viga. As fissuras
tendem a se desenvolver no sentido da região comprimida da seção, o que eleva a
posição da linha neutra, diminuindo a região comprimida e aumentando as tensões na
armadura longitudinal. A relação tensão-deformação na região comprimida da seção
permanece com seu comportamento linear, a Lei de Hooke é válida.

Com o contínuo acréscimo de carga, o concreto da região comprimida se plastifica,


caracterizando o Estádio III (estágio da iminência de ruptura por flexão). O momento
fletor assume valores que se aproximam do momento de ruína (MIII = Mu). Neste
instante, as deformações máximas da fibra de concreto mais comprimida ou do aço são
atingidas. A fibra de concreto mais comprimida excede o limite elástico e começa a
plastificar a partir da deformação específica εc2, atingindo a deformação específica última
εcu, sem que haja o aumento de tensão. Com a manutenção do carregamento, a seção
de concreto comprimida atinge deformações próximas de εcu, caracterizando uma
distribuição de tensões no concreto numa forma não linear. A essa altura, a peça está
consideravelmente fissurada, com fissuras de profundidades próximas à linha neutra da
seção, causando uma consequente diminuição da zona comprimida de concreto. Na
ruptura por flexão, idealmente a ruína ocorreria pelo esmagamento do concreto à
compressão e/ou pelo escoamento do aço à tração.

É no Estádio III que é feito o dimensionamento da seção. O E.L.U. fica caracterizado


pelas deformações específicas do concreto ou do aço atingirem os seus valores
máximos, εcu ou 10‰, respectivamente.

50
De forma prática, os Estádios I e II correspondem a situações de serviços com ações
reais, enquanto o Estádio III só ocorre em situações extremas, correspondendo ao
Estado Limite Último (nesse caso, MIII = Md = γf Mk).

6.2 MODOS DE RUPTURA

Os modos de ruptura estão associados aos Estados Limites Últimos correspondentes


ao esmagamento do concreto e/ou atingimento da máxima deformação permitida para
aa armadura.

a) esmagamento do concreto na região mais solicitada

b) alongamento máximo do aço tracionado

Figura 6.3 – Modos de ruptura

6.3 HIPÓTESES BÁSICAS PARA O CÁLCULO

As seguintes hipóteses são admitidas para o cálculo no ELU de elementos lineares


sujeitos a solicitações normais:

• As seções transversais se mantêm planas após o início da deformação até o ELU (a


distribuição das deformações ao longo da altura da seção é linear);

51
dx

dx (1+εc) εc

dx
dx
εS

Figura 6.4 – deformação de viga de concreto armado

• A deformação das barras em tração ou compressão é a mesma do concreto em seu


entorno (perfeita aderência entre os materiais);

• As tensões de tração no concreto, normais à seção transversal, devem ser


desprezadas no ELU;

• A distribuição de tensões no concreto é feita de acordo com o diagrama tensão-


deformação idealizado, com tensão máxima igual a 0,85 fcd;

52
Figura 6.5 – Diagrama tensão – deformação de cálculo

para concretos de classes até C50:


εc2 = 2,0‰ e εcu = 3,5‰;

Para concretos de classes C50 até C90:


εc2 = 2,0‰ + 0,085‰ (fck-50)0,53 e εcu = 2,6‰ + 35‰ [(90- fck)/100]4

Esse diagrama pode ser substituído pelo retângulo de profundidade y = λx, onde o valor
do parâmetro λ pode ser tomado igual a:

λ = 0,8, para fck ≤ 50 MPa; ou (6.3)


λ = 0,8 - (fck – 50)/400, para fck > 50 MPa. (6.4)

e onde a tensão constante atuante até a profundidade y pode ser tomada igual:

αc fcd, no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha neutra, não diminuir a
partir desta para a borda comprimida;

0,9 αc fcd, no caso contrário.

sendo αc = 0,85 para concretos de classes até C50, (6.5)


αc = 0,85 [1,0 – (fck – 50) / 200] para concretos de classes de C50 até C90. (6.6)

53
As diferenças de resultados obtidos com esses dois diagramas são pequenas e
aceitáveis, sem necessidade de coeficiente de correção adicional.

Concreto C20 a C50


σ
0,8 x

0,85 fcd

0,002 0,0035 ε
x

Figura 6.6 – Diagrama tensão deformação para concretos de classe até C50

• A tensão nas armaduras deve ser obtida a partir dos diagramas σ-ε do aço;

fyd

εcu εyd
ε
εyd 10‰

fyd

Figura 6.7 – Diagrama tensão deformação para o aço

• O estado-limite último é caracterizado pelo atingimento das deformações


específicas de cálculo máximas para o concreto (εcu) ou aço (10‰) ou ambas
simultaneamente. Os vários casos possíveis de distribuição de deformação ao
longo da seção transversal no ELU definem os Domínio de Deformação
apresentados a seguir.
54
6.4 DIAGRAMAS DE DEFORMAÇÃO – DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÃO E.L.U.

Figura 6.8 – Domínios de deformação

Ruptura convencional por deformação plástica excessiva:


reta a: tração uniforme;
domínio 1: tração não uniforme, sem compressão;
domínio 2: flexão simples ou composta sem ruptura à compressão do
concreto (εc < εcu) e com o máximo alongamento permitido
ao aço (10‰).

Ruptura convencional por encurtamento-limite do concreto:


domínio 3: flexão simples (seção subarmada) ou composta com ruptura à
compressão do concreto e com escoamento do aço (εs ≥ εyd);
domínio 4: flexão simples (seção superarmada) ou composta com ruptura à
compressão do concreto e aço tracionado sem escoamento (εs < εyd);
domínio 4a: flexão composta com armaduras comprimidas;
domínio 5: compressão não uniforme, sem tração;
reta b: compressão uniforme.

55
A seguir o mesmo diagrama de deformações é apresentado, porém destacando-se as
regiões correspondentes a cada domínio referente a flexão simples.
εcu

x23
Dominio 2
x34 Dominio 3
d Dominio 4

10‰ εyd

Figura 6.9 – Domínios de deformação da flexão simples

Para a flexão simples, sempre haverá uma região comprimida e uma região tracionada,
ou seja, a linha neutra estrará dentro da seção. Se o momento fletor for positivo, a região
comprimida estrará junto a face superior e a região tracionada junto a face inferior, como
no diagrama acima. Para momentos fletores negativos, o mesmo raciocínio se aplica,
porém com as regiões comprimidas e tracionadas invertidas. A altura da linha neutra –
x – sempre está associada à altura da região comprimida.

As retas coloridas representam várias situações da distribuição de deformações ao


longo da altura da seção associadas ao ELU.

As alturas da linha neutra x23 e x34 representam a altura da linha neutra limite entre os
domínios 2 e 3 (x23) e 3 e 4 (x34), respectivamente, podendo ser calculadas por
semelhança de triângulos.

56
• x23 – Limite entre os domínios 2 e 3:
x d
=
ε]d 0,001 + ε]d
εcu
x23
Dominio 2
x ε]d
Dominio 3
=
d d 0,001 + ε]d

Para concretos até C50


εcu = 3,5‰
10‰
x
= 0,259 (6.7)
d
• x34 – Limite entre os domínios 3 e 4:
x g d
=
ε]d εhi + ε]d
εcu

x34
x g ε]d
=
Dominio 3 d d εhi + ε]d
Dominio 4

Para concretos até C50 e aço CA-


50
εyd εcu = 3,5‰, εyd = 2,07‰,
x g
= 0,628 (6.8)
d

6.5 DETERMINAÇÃO DA ARMADURA – SEÇÃO RETANGULAR

6.5.1 Armadura Simples

Inicialmente determina-se a área de aço necessária na região de maior momento fletor.


Nesta situação são conhecidos a resistência do concreto (fck), as dimensões da seção
transversal (bw – h), o tipo de aço a ser utilizado (normalmente CA-50) e a classe de
agressividade ambiental em que a estrutura está inserida (CAA – cobrimento). A seguir
apresenta-se a sequência de cálculos para obtenção da área de aço As na seção mais
solicitada.

57
a) Estimar altura útil: d

φt
d = h – d´´

d´´ c ∅^
∅m
h
d
(6.9)

φL
d´´
bw

b) Equações de Equilíbrio:

Escreve-se as equações de equilíbrio de forças e momentos na seção:

αc fcd
Rcc – Resultante de
λx compressão no concreto
Md Rcc Rst – Resultante de tração no
aço

d x – altura da região
comprimida, o mesmo que
z
altura da linha neutra
z – distâncias entre as
resultantes de compressão no
Rst concreto e tração no aço

• Equilíbrio de forças:
Rcc = Rst (6.10)

Rcc = αc fcd λx bw (6.11)


Rst = As σs (6.12)

58
• Equilíbrio de momentos: o equilíbrio das forças internas em relação a qualquer
ponto deve ser igual ao momento externo de cálculo

- fazendo-se o equilíbrio em relação ao centro de gravidade da armadura:


Md = Rcc . z (6.13)
Md = αc fcd λx bw (d - 0,5 λx)
Md - αc fcd λx bw (d - 0,5 λx) = 0
Md - αc fcd λx bw d + 0,5 αc fcd λ2 x2 bw = 0

solução equação do 2º grau:

x o1 − p1 − y
i qr
n D,s tu vur wx i
(6.14)

- fazendo-se o equilíbrio em relação ao ponto de atuação da força resultante Rcc:


Md = Rst . z (6.15)
Md = As σs (d - 0,5 λx)

A{
qr
|} #i~D,sn•)
(6.16)

para obtenção de σs, deve-se determinar o domínio de


deformações em que a seção atingirá o estado limite último.

se domínios 2 ou 3 σs = fyd
se domínio 4 σs = Es εs < fyd

para verificação do domínio de deformações associado, compara-se a altura da


linha neutra – x, com os valores x23 e x34.

59
6.5.2 Limitação da Profundidade da Linha Neutra – x

De forma a garantir condições mínimas de ductilidade, a profundidade da linha neutra


(x) em vigas e lajes no ELU é limitada a:

• x/d ≤ 0,45, para concretos com fck ≤ 50 MPa;


• x/d ≤ 0,35, para concretos com 50 MPa < fck ≤ 90 MPa;

A este valor de profundidade da linha neutra limite, denota-se por xlim. Se x/d não atender
aos limites acima, ou seja, a profundidade da linha neutra calculada x > xlim, o
dimensionamento deverá ser modificado. Nesta situação pode-se modificar a seção
transversal, geralmente aumentando-se a altura da seção ou então utilizar armadura
dupla.

6.5.3 Cálculo do Maior Momento Fletor

Considerando as limitações dada por norma para a profundidade da linha neutra (xlim),
o maior momento fletor a que uma seção retangular pode ser dimensionada é aquele
que leva a maior região comprimida possível, ou seja, a xlim, e portanto, ao maior valor
da resultante de compressão. Nesta situação, a altura da linha neutra é conhecida, dada
por xlim. Pode-se equacionar o valor do maior momento resistido por:

Da equação 6.11:
Rcc = αc fcd λx bw = αc fcd λxlim bw
Mdlim = αc fcd λxlim bw (d - 0,5 λxlim) (6.17)

Para concretos até C50, αc =0,85; λ = 0,8; xlim = 0,45d


Mdlim = 0,85 fcd 0,8 0,45d bw (d - 0,5 0,8 0,45d)
Mdlim = 0,251 fcd bw d2 (6.18)

e a área de aço necessária é dada por, lembrando que para este valor de x/d o aço está
escoando:
D, D€ vur wx i
A{ = (6.19)
v•r

60
6.5.4 Cálculo do Maior Momento Fletor Resistido, Conhecida a Armadura
Longitudinal

Esta situação, comum na prática, advém da necessidade de se avaliar a capacidade


resistente de uma viga já construída. São conhecidos o fck, as dimensões da seção
transversal, o cobrimento e as armaduras longitudinal e transversal. Deseja-se
determinar a altura da linha neutra e o momento fletor resistente, sempre garantindo que
x < xlim, o que garante que aço em escoamento.

Da equação 6.10, tem-se que:


Rcc = Rst
αc fcd λx bw = As fyd

Obtendo-se o valor de x:
‚} v•r
x= (6.20)
tu vur n wx

Verifica-se se x atende aos limites de ductilidade, ou seja se x ≤ xlim. Caso seja, então
o momento resistente é dado a partir da equação 6.15:
Mdresist = As fyd (d - 0,5 λx), com x dado pela equação 6.20

Caso o valor da altura da linha neutra obtido pela equação 6.19 seja superior ao valor
de xlim então limita-se ao valor de xlim, e calcula-se o momento resistente a partir da
equação 6.13.
Mdresist = αc fcd λx bw (d - 0,5 λx), com x = xlim

Para concretos até C50:


Mdresist = 0,85 fcd 0,8 0,45 d bw (d - 0,5 0,8 0,45 d), mesmo valor do Mdlim dado
pela equação 6.18

61
6.5.5 Armadura Dupla

Para a solução utilizando armadura dupla, reforça-se a região comprimida com aço, que
estará trabalhando a compressão (A´s). Nesta situação consegue-se garantir que a
altura da linha neutra não ultrapasse os valores limites de ductilidade.

Para o dimensionamento da seção, fixa-se a altura da linha neutra no valor limite dado
pelo critério de ductilidade, xlim. Desta forma, determina-se inicialmente o valor do maior
momento resistido pela seção com armadura simples, Mdlim, dado pelas equações 6.17
e 6.18, e calcula-se a área de aço necessária para equilibrar este momento (As1). Como
o valor de Md é superior, a diferença (Md2 = Md - Mdlim) será resistida por uma nova
parcela de armadura de tração (As2) e pela armadura de compressão (A´s). A armadura
final de tração é dada pela soma das duas parcelas, As1 + As2, enquanto a armadura de
compressão é dada por A´s. A seguir apresenta-se o equacionamento da resolução para
armadura dupla.

Equilíbrio da seção transversal:

αc fcd
R´st d´ Rcc – Resultante de compressão

Rcc no concreto
Md λxlim
Rst – Resultante de tração no aço
R´st – Resultante de compressão
d no aço comprimido
xlim – altura da região comprimida

Rst

O valor das resultantes é dado por:

Rcc = αc fcd λx bw
Rst = As fyd
R´st = A´s σs
62
Pode-se decompor o momento de dimensionamento Md pela sua parcela Mdlim e por Md2

αc fcd αc fcd
R´st d´ R´st d´
Rcc λxlim Rcc λxlim
Md Mdlim Md2

= + d

Rst Rst Rst

(I) (II) (III)

• Cálculo do momento máximo resistido segundo o critério de ductilidade (de II)


Mdlim = αc fcd λxlim bw (d - 0,5 λxlim)

• Cálculo armadura para resistir Mdlim


Miƒ„_
A{+ =
fhi (d − 0,5λx)

• Cálculo da parcela de momento resistido pelo binário de forças dado pelo aço
tracionado e aço comprimido
Md2 = Md − Mdlim

• Cálculo da parcela adicional de área de aço tracionado e da área de aço


comprimido (de III)
M
A{ =
fhi (d − d´ )
M
A´{ =
σ{ (d − d´ )

63
A tensão no aço comprimido deve ser determinada a partir da semelhança de
triângulos dada por:

εc
ε] ε´{
=

ε´s xƒ„_ xƒ„_ − d´
xƒ„_ − d´
xlim
ε´{ = ε]
d xƒ„_
se: ε´s ≥ εyd então σ´s = fyd
ε´s < εyd então σ´s = Es ε´s

εs

• Armadura final:
tracionada As = As1 + As2
comprimida A´s

6.6 DETALHAMENTO DA SEÇÃO TRANSVERSAL DE VIGAS (Critérios da NBR


6118)

A armadura de aço – As – determinada e sua transformação para bitolas e quantidade


das barras de aço deverão atender aos critérios impostos pela NBR 6118. Esses
critérios são necessários para garantir aderência entre as barras e o concreto, além de
garantir uma ruptura dúctil em situações de baixos esforços.

A NBR 6118 define vigas como elementos estruturais com relação entre vão e altura ≥
2,0 para vigas isostáticas e ≥ 3,0 para vigas contínuas.

A seção transversal das vigas não deve apresentar largura menor que 12 cm,
respeitando-se um mínimo absoluto de 10 cm em casos excepcionais, sendo
obrigatoriamente respeitadas as seguintes condições:

64
• alojamento das armaduras e suas interferências com as armaduras de outros
elementos estruturais, respeitando os espaçamentos e cobrimentos
estabelecidos da Norma;
• lançamento e vibração do concreto de acordo com a ABNT NBR 14931.

O arranjo das armaduras deve atender não só à sua função estrutural, como também às
condições adequadas de execução, particularmente com relação ao lançamento e ao
adensamento do concreto.

O espaçamento entre barras deve ser projetado levando-se em consideração a


necessidade de vibração do concreto de modo a impedir a segregação dos agregados
e a ocorrência de vazios no interior do elemento estrutural.

O espaçamento mínimo livre entre as faces das barras longitudinais, medido no plano
da seção transversal, deve ser igual ou superior ao maior dos seguintes valores:

20 mm;
na direção horizontal (ah): diâmetro da barra,
1,2 dmáx

20 mm;
na direção vertical (av): diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
0,5 dmáx

dmáx - dimensão máxima característica do agregado graúdo;

(brita 0 - dmáx = 9,5 mm; brita 1 - dmáx = 19 mm; brita 2 - dmáx = 25 mm)

Os esforços nas armaduras podem ser considerados concentrados no centro de


gravidade correspondente, se a distância deste centro de gravidade ao centro da
armadura mais afastada, medida normalmente à linha neutra, for menor que 10 % de h.

As armaduras laterais de vigas podem ser consideradas no cálculo dos esforços


resistentes, desde que estejam convenientemente ancoradas e emendadas.
65
6.6.1 Valores Limites para Armaduras Longitudinais de Vigas

6.6.1.1 Armadura de tração:

A armadura mínima de tração deve ser determinada pelo dimensionamento da seção a


um momento fletor mínimo respeitada a taxa mínima absoluta de 0,15%.

U , %& = 0,8 ˆD , (

onde:
ˆD – módulo de resistência da seção transversal bruta de concreto, relativo à fibra mais
tracionada,
, ( – resistência característica superior do concreto à tração.

Alternativamente, a armadura mínima pode ser considerada atendida se forem


respeitadas as seguintes taxas de armadura:

Tabela 6.1 - Taxa de armadura de tração mínima – ρmin (As,min/Ac)


fck (MPa) ρmin (%)
20 0,150
25 0,150
30 0,150
35 0,164
40 0,179
45 0,194
50 0,208
55 0,211
60 0,219
65 0,226
70 0,233
75 0,239
80 0,245
85 0,251
90 0,256

Estes valores de ρmin foram estabelecidos considerando o uso de aço CA-50, d/h = 0,80,
γc = 1,4 e γs = 1,15.

66
6.6.1.2 Armaduras de tração e de compressão

A soma das armaduras de tração e de compressão (As + As’) não pode ter valor maior
que 4% Ac, calculada na região fora da zona de emendas.

6.6.1.3 Armadura de pele

A mínima armadura lateral deve ser 0,10 % Ac,alma em cada face da alma da viga e
composta por barras de CA-50 ou CA-60, com espaçamento não maior que 20 cm e
devidamente ancorada nos apoios, não sendo necessária uma armadura superior a 5
cm2/m por face.

Em vigas com altura igual ou inferior a 60 cm, pode ser dispensada a utilização da
armadura de pele.

As armaduras principais de tração e de compressão não podem ser computadas no


cálculo da armadura de pele.

6.7 VIGAS DE SEÇÃO TRANSVERSAL EM FORMA DE T

A seção transversal de uma viga nem sempre é retangular. Vigas de ponte, como
demonstrado na figura abaixo geralmente tem uma seção em forma de “I” ou de “T”. A
vantagem nesta situação é que se aumenta a região comprimida do concreto sem a
necessidade de aumentar-se a altura da viga.

Figura 6.10 – Exemplo de vigas T

67
A figura abaixo apresenta as denominações geralmente utilizadas para uma seção
transversal T

Figura 6.11 – Denominação dos elementos de uma viga T

Vigas de pavimentos com lajes maciças também podem ser consideradas como vigas
de seção transversal T. Em uma planta de formas, como apresentado na Figura 6.12,
o carregamento da laje será transferido à viga que a suporta. A estrutura é monolítica,
e, portanto, o comportamento a flexão da viga é influenciado pela laje. As lajes maciças
e as vigas não são independentes uma das outras, trabalhando em conjunto. A parcela
da laje junto à viga sofre deformação devido ao carregamento da viga, comportando-se
como fosse uma parte integrante da seção transversal da viga, colaborando com sua
resistência.

A consideração de seção transversal T se dá nas regiões de momento positivo, pois há


compressão na borda superior da seção. As lajes adjacentes que se apoiam nesta
região estão também comprimidas. A distribuição de tensão não é uniforme, diminuindo
conforme se afasta da alma da viga, como mostrado na figura abaixo. Para facilidade
de cálculo, a NBR 6118 define a largura da laje equivalente à aba colaborante (bf) sujeita
a uma tensão constante, de forma que a resultante da distribuição não uniforme seja a
mesma que considerando uma largura bf com tensão constante.

68
Figura 6.12 – Planta de formas

Figura 6.13 – Distribuição de tensões de compressão ao longo da largura

69
6.7.1 Determinação da largura de laje colaborante (NBR 6118:2014)

A largura colaborante bf deve ser dada pela largura da viga bw acrescida de no máximo
10% da distância a entre pontos de momento fletor nulo, para cada lado da viga em
que haja laje colaborante.

A distância a pode ser estimada, em função do comprimento ℓ do tramo considerado,


como se apresenta a seguir:

viga simplesmente apoiada: a = 1,00 ℓ;


tramo com momento em uma só extremidade: a = 0,75 ℓ;
tramo com momentos nas duas extremidades: a = 0,60 ℓ;
tramo em balanço: a = 2,00 ℓ.

Devem ser respeitados os limites para b1 e b3

0,5 b2 b4
b1 ≤ b3 ≤
0,1 a 0,1 a

b3 b1

b4 b2

Figura 6.14 - Largura da laje colaborante (NBR 6118:2014)

6.7.2 Determinação da armadura necessária – Seção T

• Caso 1 – linha neutra na mesa (x ≤ hf)

Nesta situação, tudo se passa como fosse uma seção retangular com largura bf e altura
d.

70
região comprimida

0,8x x

As

• Caso 2 – linha neutra na nervura (x > hf)

Nesta situação, adotando-se o diagrama retangular de tensões na região comprimida


de concreto, ainda podem surgir duas situações:

a) Região comprimida na mesa (0,8x ≤ hf). A seção ainda será tratada como retangular
de largura bf.
região comprimida

0,8x x

As

b) Região comprimida corta a nervura (0,8x > hf). Esta é a situação em que o
dimensionamento se modifica com relação ao visto para seções retangulares. A
região comprimida não possui uma largura constante. A seção será calculada como
seção T. região comprimida

0,8x x
d

As

Nesta situação divide-se o momento resistente pelas parcelas referentes à aba e a


nervura, da seguinte forma:
71
bf

hf
0,8x x
d
= +
As

parcela da aba parcela da nervura


Md Mda Mdn

Md = Mda + Mdn
Mda - parcela de momento resistido pelas abas
Mdn - parcela de momento resistido pela nervura

Parcela da aba:

bf
bw
αc fcd
Rcc1
hf Mda

Rst1
Asa

Mda = Rcc1 . z1 = αc fcd hf (bf – bw) (d - 0,5 hf)


qrŠ
A{‰ =
v•r (i~D,s‹Œ )

Parcela da nervura:

Mdn = Md - Mda

O dimensionamento será como seção retangular com largura bw. Deve-se garantir o
critério de ductilidade. Pode ocorrer armadura simples ou armadura dupla.

72
bw
αc fcd
0,8x x Mdn Rcc2

Rst2
As

Armadura Final:

A armadura final é composta da armadura necessária para equilibrar o momento


resistido pelas abas (Asa) somada a armadura necessária para resistir o momento
resistido pela nervura.

• Identificação se o dimensionamento cai no caso 1 ou caso 2:

Para identificar se a seção se comportará como uma viga T e, portanto, deverá ser
utilizado o caso 2 de dimensionamento, basta comparar o momento de
dimensionamento Md com o maior momento resistido pela mesa inteiramente
comprimida. Caso Md for maior, haverá necessidade de compressão também da alma
e o dimensionamento se fará com o caso 2. Caso contrário, o dimensionamento será
com o caso 1.

Cálculo do momento resistido pela mesa inteiramente comprimida:

bf
bw
αc fcd
Rccm
0,8x hf Mdm

Rst
Asa

Nesta situação tem-se a profundidade da linha neutra igual a 1,25 hf

Mdm = Rccm . z = αc fcd hf bf (d - 0,5 hf)


73
7 CISALHAMENTO EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO

7.1 FUNDAMENTOS DO ESTUDO DE CISALHAMENTO

Uma viga submetida a um carregamento transversal qualquer apresenta em sua seção


transversal tensões normais, ocasionadas pelo momento fletor, e tensões tangenciais,
devido à força cortante, formando um estado biaxial de tensões.

No Estádio I, de acordo com a resistência dos materiais:

Ž.•• “
•= S= .V
‘ .’ ’

sobre a LN, tem-se que:


ℎ 2ℎ
” =ℎ−2 =
z 6 3
•• ⁄F +
= — ⁄+
= =
’ ˜

Ž
•=

portanto:

Figura 7.1 – Distribuição de tensões cisalhantes e normais

Qualquer estado de tensões pode ser reduzido por tensões normais atuando em planos
perpendiculares, chamadas de tensões principais. Nesta situação, a tensão cisalhante
é nula.

74
Figura 7.2 - Exemplo da trajetória de tensões principais no Estádio I

Na altura da linha neutra as tensões principais apresentam uma inclinação de 45° ou de


135°. A direção das tensões principais varia ao longo da altura da peça.

No Estádio II quando as tensões principais de tração, inclinadas, na alma da viga


ultrapassam a resistência à tração do concreto, surgem fissuras de cisalhamento na
direção das trajetórias de compressão, ocorrendo uma distribuição dos esforços para as
diagonais comprimidas de concreto e para a armadura de cisalhamento.

75
Abaixo da linha neutra a tensão tangencial é determinada pelo momento estático da
armadura, tomada como área de concreto equivalente, admitindo-se como um valor
constante entre a linha neutra e a armadura.

Figura 7.3 - Distribuição de Tensões no Estádio II

A distribuição de tensões cisalhantes no Estado Limite Último se assemelha à do estádio


II. Nseta situação, o equilíbrio da seção de comprimento infinitesimal dx é dado por:

S1 S2

DMf

76
No plano que contem As, aplicando-se a condição de equilíbrio a translação para a
região tracionada (desprezando a resistência do concreto à tração):

S1 S2
τw

Rst Rst + dRst

dx

Rst + τw b dx = Rst + dRst


τw b dx = dRst
™š› “
τw = T
como Rst = ˜
œ
C•E + “ Ž
= =
T ˜ T ˜
τw = (para z = cte)

7.2 MODELO DE TRELIÇA

Modelo postulado por Ritter (1899) e Mörsch (1902), independentemente consistindo


em uma simplificação do sistema indeterminado de tensões internas de uma viga
fissurada, na qual o cisalhamento é transferido através das malha de fissuras por uma
faixa diagonal comprimida e uma armadura transversal tracionada.

A partir da configuração da viga na ruptura, Mörsch idealizou um mecanismo resistente


que assemelha a viga da treliça, de banzos paralelos e isostática, composta por
elementos tracionados, formados pelas armaduras longitudinal e transversal, e
elementos comprimidos, bielas e a região do banzo superior.

77
Figura 7.4 - Modelo de Treliça

A analogia clássica, proposta inicialmente, era baseada em duas hipóteses principais:


• A treliça tem banzos paralelos;
• As bielas diagonais de compressão têm a inclinação de 45° em relação ao eixo
longitudinal da peça.

A inclinação da armadura de cisalhamento é caracterizada pela inclinação α em relação


ao eixo longitudinal da peça, restrita ao intervalo entre 45° (direção das tensões
principais de tração) e 90°. Através do equilíbrio de forças na treliça obtêm-se as
expressões que possibilitam determinar a quantidade de armadura e verificar a tensão
atuante na biela comprimida.

78
Com o desenvolvimento de pesquisas experimentais constatou-se que a Treliça de
Mörsch conduzia a uma armadura transversal exagerada devido a diversos fatores,
entre eles:
• Os nós da treliça não podem ser considerados articulações perfeitas e a treliça é
hiperestática;
• O ângulo de inclinação das bielas não apresenta valor constante, sendo em
algumas regiões inferior a 45°;
• Parte da força cortante é absorvida na zona comprimida do concreto;
• Os banzos não são paralelos, sendo o banzo comprimido inclinado;
• As bielas de concreto estão parcialmente engastadas na ligação com o banzo
comprimido desta forma estão submetidas à flexo-compressão, aliviando as
diagonais tracionadas;
• As bielas comprimidas são mais rígidas que as diagonais tracionadas,
absorvendo assim uma parcela maior do esforço cortante;
• A quantidade de armadura longitudinal influi no esforço da armadura transversal,
devido ao efeito de pino.

7.2.1 Treliça Generalizada

Neste caso, com bielas inclinadas de um ângulo θ qualquer e com a armadura


transversal com inclinação α qualquer, a determinação das tensões na armadura
transversal e no concreto comprimido decorrem do equilíbrio das forças perpendiculares
ao eixo da peça.

Apesar de ser um modelo baseado em equações de equilíbrio e da dificuldade de


determinação do ângulo exato de inclinação das bielas comprimidas, o modelo de treliça
generalizado tem sido amplamente empregado no dimensionamento de estruturas de
concreto armado com resultados satisfatórios, servindo como base da formulação das
principais normas de dimensionamento.

Treliça clássica de Moersch θ = 45º


Verificado experimentalmente que 30º ≤ θ ≤ 45o

79
7.2.2 Cálculo Armadura Transversal

Dsd

Vd
S

Dsd - força resistida por todas as barras de aço existentes no comprimento S


S = z (cotgθ + cotgα)

Considerando o equilíbrio das forças verticais, a força resultante nas diagonais


tracionadas:
Vi
D{i
senα

sendo:
Asα = área da seção transversal de uma barra
s = espaçamento entre barras

D{i A{t fhi


¢ #]£^¤¥ ¦ ]£^¤t$
, logo
{

‚}§ ¨r
{ v•r ¢ #]£^¤¥ ¦ ]£^¤t${©ªt
Eq. 7.1

Para estribos verticais α = 90o

‚}«¬ ¨r
{ v•r ¢ ]£^¤¥
Eq. 7.2

80
7.2.3 Cálculo Esforço nas Bielas

Dcd

a z

Vd
largura da biela - a
a = S senθ = z (cotgθ + cotgα) senθ

Compressão nas bielas diagonais:


Vd = Dcd senθ = σcd Abiela senθ
Vd = σcd b z senθ (cotgθ + cotgα) senθ

Vd = σcd b z sen2θ (cotgθ + cotgα) Eq. 7.3

Para estribos verticais α = 90o


Vd = σcd b z sen2θ cotgθ

Vd = σcd b z senθ cosθ Eq. 7.4

Devido a fissuração inclinada, a resistência das vigas pode ser inferior à resistência à
flexão sendo então necessária a inclusão de armadura transversal para garantir que a
totalidade da resistência à flexão possa ser atingida.

Antes da fissuração inclinada, as deformações do aço dos estribos são as mesmas do


concreto. Como o concreto fissura em deformações bem pequenas, as tensões nos
estribos antes da fissuração inclinada são também bem pequenas. Assim, os estribos
não impedem a ocorrência da fissuração inclinada, eles entram em funcionamento após
a fissuração.
81
7.3 MECANISMOS RESISTENTES AO CISALHAMENTO

Os principais mecanismos resistentes ao cisalhamento são:

• Armadura de cisalhamento (modelo de treliça);


• Tensões de cisalhamento na região não fissurada do concreto;
• Atrito de contato entre as superfícies das fissuras gerado pelo engrenamento
entre os agregados;
• Efeito de pino da armadura transversal;
• Possível efeito de arco.

7.3.1 Engrenamento dos Agregados

A transmissão de forças oblíquas após a fissuração ocorre em virtude do atrito gerado


pela rugosidade da região de interface do concreto fissurado estando diretamente
relacionada ao diâmetro, resistência mecânica e volume de agregado graúdo utilizado
na confecção do concreto.

Figura 7.5 – Esquema do efeito do engrenamento dos agregados

O formato dos grãos dos agregados influencia no plano de fissuração de forma que os
agregados de formato cúbico e com arestas arredondadas geram maior engrenamento.
Um dos fatores limitantes na parcela de engrenamento dos agregados é a abertura das
fissuras.

82
O engrenamento dos agregados é o único mecanismo que depende das propriedades
do concreto, em especial a resistência e a granulometria dos agregados.

7.3.2 Efeito De Pino

O efeito de pino é caracterizado pela restrição à abertura das fissuras gerada pelas
barras da armadura longitudinal e pela transferência de esforços diagonais pela própria
armadura.

Efeito pino

Figura 7.6 - Esquema do efeito pino

A parcela de resistência devido ao efeito de pino é limitada pela resistência à tração do


concreto de cobrimento da armadura longitudinal e por sua aderência à barra de aço.
Esta parcela torna-se significante em elementos com alta taxa de armadura longitudinal.

7.3.3 Efeito de Arco

Em vigas simplesmente apoiadas que apresentam altura da seção transversal


relativamente grande em relação ao vão, os esforços de cisalhamento são transferidos
diretamente aos apoios, formando um arco de compressão, independentemente da
fissuração da alma.

A intensidade do efeito de arco e a forma de ruptura da viga são influenciadas pela forma
com que o carregamento é aplicado, seja carga concentrada ou distribuída, pela posição
da carga e pela relação entre a altura da seção transversal da viga.

83
Figura 7.7 - Esquema do efeito arco

7.3.4 Esquema de Transferência de Esforços de Cisalhamento em Regiões


Fissuradas

A figura a seguir exemplifica as contribuições de cada mecanismo na resistência ao


cisalhamento em regiões fissuradas. Nseta situação, o efeito de arco não se inclui.

Figura 7.8 - Mecanismos de resistência ao cisalhamenrto em regiões fissuradas

Vcy - força cortante na zona de concreto não fissurado ou zona comprimida


Va - transferência de forças pelo engrenamento dos agregados nas superfícies das
fissuras inclinadas
Vd - efeito de pino da armadura longitudinal
Vs - efeito da armadura transversal

84
As parcelas Vcy, Va e Vd são difíceis de se quantificar independnetemente e geralmente
são somadas em uma única parcela Vc chamada de parcela resistente devido aos
mecanismos complementares ao da treliça. Portanto, o cortante resistido é dado por:

Vn = Vc + Vs Eq. 7.5

Vc e Vs não são totalmente independentes, apesar de ser considerado assim por


inúmeras normas de dimensionamento.

7.4 DIMENSIONAMENTO PELA NBR 6118:2014

A resistência da peça, em determinada seção transversal, será satisfatória quando


verificadas e atendidas simultaneamente duas condições:

VSd ≤ VRd2 e VSd ≤ VRd3 = Vc + Vsw

VSd - força cortante atuante de cálculo na seção;


VRd2 - força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína das diagonais comprimidas
de concreto;
VRd3 - força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína por tração diagonal;
Vc - parcela de força cortante absorvida por mecanismos complementares ao de treliça;
Vsw - parcela de força cortante resistida pela armadura transversal.

Com base nestas condições são definidos dois modelos de cálculo, com variáveis
quanto à inclinação que se adote para as diagonais de compressão (θ), que englobam
o cálculo da armadura transversal e a verificação das tensões de compressão nas bielas.
Chama-se Modelo I, o modelo de cálculo em que as bielas possuem ângulo θ de 45o,
como postulado pela Treliça clássica. Já o Modelo II possui bielas com ângulos θ entre
30º e 45o, condizentes com a treliça generalizada.

85
7.4.1 Modelo I (θ = 45O)

Nesta situação, os valores de cortante resistente VRd2 referente à verificação do


esmagamento das bielas é calculado considerando a partir da Eq. 7.3.

Considerando estribos a 90º, de acordo com a Eq. 7.4, tem-se que:


Vd = σcd b z senθ cosθ

A NBR 6118 assume que z seja igual a 0,90 d, e que a tensão máxima que leva ao
esmagamento das bielas σcd máx seja dada por:

σcd máx = 0,60 αv2 fcd Eq. 7.6

vu-
com αv2 =1-
sD

Esta tensão se refere à resistência à compressão em estado biaxial de


tensões, logo:
VRd2 = 0,60 αv2 fcd b 0,9 d sen45ο cos45ο = 0,27 αv2 fcd b d

VRd2 = 0,27 αv2 fcd b d Eq. 7.7

7.4.1.1 Cálculo da Armadura

A parcela Vc referente à resistência fornecida pelos mecanismos complementares ao da


treliça é assumida como:

Vc = Vc0 = 0,6 fctd b d Eq. 7.8

com
vu®-,¯°Œ D,² D, vu- /—
fctd = = 0,15 fck 2/3
±u +,g

86
A partir da Eq. 7.5, tem-se que:
Vsw = VSd - Vc
O cálculo da armadura necessária de estribos a 90º é fornecida pela Eq. 7.2,
considerando o âgulo de 45º, e z = 0,90d:

A{³D V{´ V{i V] V{i V]


s fhi z cotgθ fhi 0,9 d cotg45D 0,9 d fhi

‚}«¬ ¨}r ~¨u


{ D,³ i v•r
Eq. 7.9

7.4.2 Modelo II (30o ≤ θ < 45o)

Nesta situação, os valores de cortante resistente VRd2 referente à verificação


esmagamento das bielas é calculado considerando o modelo de treliça generalizado a
partir da Eq. 7.1.

Considerando estribos a 90º (Eq. 7.2), z igual a 0,90 d, e que a tensão máxima que leva
ao esmagamento das bielas σcd máx seja dada pela Eq. 7.6, tem-se que:

VRd2 = 0,60 αv2 fcd b 0,9 d senθ cosθ

VRd2= 0,54 αv2 fcd b d senθ cosθ Eq. 7.10

7.4.2.1 Cálculo da Armadura

Para o modelo II, a norma considera a parcela de contribuição dos mecanismos


complementares Vc dada por Vc1, a partir da seguinte expressão:

Vc = Vc1 = Vc0 quando Vsd ≤ Vco


Vc = Vc1 = 0 quando Vsd = VRd2

e para valores intermediários, a partir da interpolação linear entre Vc0 e o, como


esquematizado no gráfico a seguir.
87
A parcela da armadura é dada portanto por:
Vsw = VSd - Vc1

Considerando a Eq. 7.2 para estribos a 90º, tem-se que:


A ³D »¼
0 H z cotgθ

‚}«¬ ¨}r ~¨u½


{ D,³ v•r i ]£^¤¥
Eq. 7.11

7.4.3 Prescrições Normativas

7.4.3.1 Armadura de Cisalhamento

¾
• Armadura transversal mínima: ¿ 0, 2 À¼ 0,Á: =›Â
0, 3 /
•>

• Permite-se a utilização de barras dobradas (cavaletes) em até 60% do esforço


total da armadura;

• Inclinação dos estribos: 45o ≤ α ≤ 90o

• φt ≥ 5 mm, φt ≤ bw/10, φt ≥ 4,2 mm para telas soldadas;

• Estribos devem ser fechados através de um ramo horizontal, envolvendo as


barras da armadura longitudinal de tração;

88
• Espaçamentos máximos
Smáx ≤ 0,6 d se Vsd ≤ 0,67 VRd2
30 cm

Smáx ≤ 0,3 d se Vsd > 0,67 VRd2


20 cm

• Espaçamento transversal
Stmáx ≤ d se Vsd ≤ 0,20 VRd2
80 cm Stmáx

Stmáx ≤ 0,6 d se Vsd > 0,20 VRd2


35 cm

7.4.3.2 Consideração Efeito de Arco

Carga Concentrada:
Considera que uma parcela do carregamento é transferida diretamente ao apoio via
efeito arco para cargas concentradas a uma distância a ≤ 2d do eixo teórico do apoio.

Carga Distribuída:
Considera que uma parcela do carregamento é transferida diretamente ao apoio via
efeito arco para cargas distribuídas localizadas na distância 0,5 d.

Obs: Estas reduções não se aplicam à verificação da resistência à compressão diagonal


do concreto (Vsd ≤ VRd2).

Estas reduções só são permitidas no caso de apoios diretos (carga e reação de apoio
aplicados em faces apostas da peça).

89
8 ANCORAGEM E ADERÊNCIA

8.1 ADERÊNCIA

A aderência é uma propriedade imprescindível no dimensionamento em concreto


armado, pois impede o escorregamento da barra de aço, fazendo com que os dois
materiais estejam perfeitamente aderentes. A aderência pode se dar por adesão, por
atrito e por engrenamento.

A tensão de aderência é calculada por:

ÃÄ
fwi
πφℓÅ

Figura 8.1 – tensões de aderência

8.1.1 Verificação da Aderência entre Concreto e Armadura

A tensão última de aderência é chamada na norma NBR 6118 de resistência de


aderência de cálculo, sendo calculada por:

Æ+ Æ Æ

1,0 .ÈÉÈ ÀÈÉÉÈ0 ÊË0È0 ÌÍ 25


Æ+ Ç 1,4 .ÈÉÈ ÀÈÉÉÈ0 ,Á3ÈÊℎÈÎÈ0 ÌÍ 60
2,25 .ÈÉÈ ÀÈÉÉÈ0 Î, ÈÊ3È ÈÎ,ÉêÁÐËÈ ÌÍ 50
0,7 É,ÒËõ,0 Î, Ôá ÈÎ,ÉêÁÐËÈ
Æ Ñ
1,0 É,ÒËõ,0 Î, ÀÖÈ ÈÎ,ÉêÁÐËÈ

1,0
× G 32 ÔÔ
Æ Ç132 ×
× Ø 32 ÔÔ
100

90
/
,%& 0,7 0,7 0,3 /
0,15
< 1,4 1,4

Segundo a NBR 6118, consideram-se em boa situação quanto à aderência, os trechos


das barras que estiverem em uma das seguintes posições:

a) Com inclinação maior que 45º sobre a horizontal;

b) Horizontais ou com inclinação menor que 45º sobre a horizontal, desde que:
• Para elementos estruturais com h < 60 cm, localizados no máximo 30 cm
acima da face inferior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima;
• Para elementos estruturais com h ≥ 60 cm, localizados no mínimo 30 cm
abaixo da face superior do elemento ou da junta de concretagem mais próxima.

Os trechos das barras em outras posições, e quando do uso de formas deslizantes,


devem ser considerados em má situação quanto à aderência.

regiões de má
aderência

Figura 8.2 – Regiões de boa e má aderência (NBR 6118)

8.2 ANCORAGEM

“Todas as barras das armaduras devem ser ancoradas de forma que as forças a que
estejam submetidas sejam integralmente transmitidas ao concreto, seja por meio de
aderência ou de dispositivos mecânicos ou combinação de ambos” (NBR 6118 9.4.1)

91
8.2.1 Ancoragem por Aderência

Nas regiões de ancoragem deve ser verificada a capacidade de transmissão dos


esforços entre concreto e armadura, feita através da resistência de aderência, no estado
limite último.
As barras tracionadas podem ser ancoradas por aderência com comprimento retilíneo
ou com grande raio de curvatura na sua extremidade, seguido ou não de ganchos.

A ancoragem deve se dar:


• obrigatoriamente com ganchos para barras lisas;
• sem ganchos nas barras com alternância de solicitação (tração e compressão);
• com ou sem gancho nos demais casos, não sendo recomendado gancho para
ϕ ¿ 32 mm ou feixe de barras.

8.2.1.1 Ganchos nas armaduras de tração:

Os ganchos das extremidades das barras de armadura longitudinal de tração podem ser
semicirculares, com ângulo de 45o, com ângulo reto.

Figura 8.3 – Ganchos armadura

Para barras lisas os ganchos devem ser semicirculares.

Tabela 8.1 - Diâmetro interno da curvatura dos ganchos


Bitola CA-25 CA-50 CA-60
< 20 mm 4φ 5φ 6φ
≥ 20 mm 5φ 8φ -

92
8.2.1.2 Comprimento de ancoragem básico - ℓ

O comprimento de ancoragem básico refere-se ao comprimento reto de uma barra de


armadura necessário para ancorar a força limite F = Asfyd, admitindo-se ao longo deste
comprimento resistência de aderência uniforme igual a fbd.

ϕ fhi
A{ fhi = ℓw π ϕ fwi ℓw ≥ 25ϕ
4 fwi

8.2.1.3 Comprimento de Ancoragem Necessário - ℓw,ª©]

O comprimento de ancoragem necessário leva em consideração a tensão atuante no


aço que não necessariamente atinge fyd dado que a armadura efetiva sempre é superior
à armadura necessária no cálculo.

A{,]‰ƒ]
ℓw,ª©] = α ℓw ≥ ℓw,_„ª
A{,©v

α = 1,0 para barras sem gancho;


α = 0,7 para barras tracionadas com gancho, com cobrimento ≥ 3× ;
As,calc – área de armadura calculada para resistir o esforço solicitante;
As,ef – área de armadura efetiva (existente);
ℓ , %& é o maior valor entre 0,3ℓ , 10φ e 10 cm

8.2.1.4 Ancoragem dos Estribos

Os ganchos dos estribos podem ser:


• semicirculares ou em ângulo de 45º (interno), com ponta reta de comprimento
5φt ≥ 5 cm
• em ângulo reto com ponta reta de comprimento ≥ 10φt, ≥ 7 cm

O diâmetro interno da curvatura dos estribos deve seguir as dimensões dada na Tabela
8.2, podendo ser dobrados a 90º ou a 45º.

93
Tabela 8.2 – Dimensões dos diâmetros interno de curvatura dos estribos
Bitola CA-25 CA-50 CA-60
≤ 10 mm 3 φt 3 φt 3 φt
10 < φ < 20 mm 4 φt 5 φt -
≥ 20 mm 5 φt 8 φt -

8.2.1.5 Emendas de Barras

Frequentemente é necessário emendar barras, já que estas veem em comprimentos


fixos geralmente 12 m. As emendas podem ser por traspasse, por luvas com
preenchimento metálico, rosqueadas ou prensadas, por solda ou por outro dispositivo
devidamente justificado.

a) Emenda por traspasse: permitido para φ ≤ 32 mm

Tabela 8.3 - Proporção máxima de barras tracionadas emendadas numa seção


transversal
Carregamento Carregamento
Tipo de barra Situação
estático dinâmico
Em uma camada 100% 100%
Alta aderência
Em mais de uma camada 50% 50%
φ < 16 mm 50% 25%
Lisa
φ ≥ 16 mm 25% 25%

Todas as barras comprimidas podem ser emendadas em uma mesma seção.

94
Consideram-se na mesma seção transversal as emendas que se superpõem ou cujas
extremidades mais próximas estejam afastadas de menos que 20% do comprimento do
trecho de traspasse.

O comprimento de traspasse de barras isoladas - ℓÜ é calculado por:

• Para barras tracionadas:

Quando a distância livre entre barras emendadas estiver entre 0 e 4 φ

ℓ£^ α£^ ℓw,ª©] ≥ ℓ£^,_„ª


α£^ - coeficiente em função da % de barras emendas na mesma seção, dado por:
Barras emendadas na
≤ 20 25 33 50 > 50
mesma seção %
Valores de α£^ 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0

0,3 α£^ ℓw
ℓ£^,_„ª ≥ Ç 15 ϕ
20 cm

Quando a distância livre entre barras emendadas for maior que 4φ, ao
comprimento calculado deve ser acrescida a distância livre entre as barras
emendadas.

• Barras comprimidas:

0,6 ℓw
ℓ£] ℓw,ª©] ≥ ℓ£],_„ª , ℓ£],_„ª ≥ Ç 15 ϕ
20 cm

95
Com exceção das regiões situadas sobre apoios diretos, as ancoragens por
aderência devem ser confinadas por armaduras transversais ou pelo próprio
concreto, desde que o cobrimento da barra tracionada ≥ 3 φ e a distância entre
barras ancoradas ≥ 3 φ

b) Emendas por Luvas Rosqueadas ou Prensadas

A resistência da emenda deve ser no mínimo 15% maior que a resistência de


escoamento da barra a ser emendada.

c) Emendas por solda

96
8.3 DESLOCAMENTO DO DIAGRAMA DE MOMENTOS FLETORES (DECALAGEM)

Segundo a treliça generalizada

¨r
representa a resultante das forças que atuam nas barras inclinadas cortadas pela
{©ª t
seção A – B

Equilíbrio de Momentos Σ Mb = 0

97
No cálculo a flexão considerou-se:

Verifica-se, portanto que na realidade o esforço de tração na distância K do apoio é


ŽÝ
acrescido da parcela Èℓ .
˜

Para levar em conta este acréscimo de força na armadura, basta deslocar o diagrama
de momentos fletores do valor Èℓ no sentido mais desfavorável.

98
Deslocamento do Diagrama de Momentos – NBR 6118

• Modelo I

• Modelo II

Retirada de Barras de Serviço:

Divide-se o diagrama Md deslocado em partes iguais de acordo com o número de barras


escolhido para o momento máximo. O trecho da extremidade da barra de tração,
considerado como de ancoragem tem início na seção teórica onde sua tensão σs
começa a diminuir (o esforço da armadura começa a ser transferido para o concreto). A
barra deve se prolongar pelo menos 10φ além do ponto teórico de tensão σs nula, não
podendo ser inferior a ℓ ,&R .

Pode-se retirar a barra de serviço na posição A, ancorando-a a partir desta seção (a


barra começa com σs = fyd caindo até 0 ao fim do comprimento ℓ ,&R .

Como o esforço é zero somente em B, segundo a norma deve-se garantir pelo menos
10φ após o ponto B.
99
8.4 ANCORAGEM NO APOIO

Os esforços de tração junto aos apoios de vigas simples ou contínuas devem ser
resistidos por armaduras longitudinais que satisfaçam a mais severa das seguintes
condições:

a) No caso de ocorrência de momentos positivos, as armaduras obtidas através do


dimensionamento da seção;

b) Em apoios extremos, para garantir a ancoragem da diagonal de compressão,


armaduras capazes de resistir a uma força de tração Fsd = (Èℓ /d) Vd + Nd, onde
Vd é a força cortante no apoio e Nd a força de tração eventualmente resistente;

c) Em apoios extremos e intermediários, por prolongamento de uma parte da


armadura de tração do vão (As,vão), correspondente ao momento máximo positivo
do tramo (Mvão), de modo que:
• As,apoio ≥ 1/3 As,vão, se Mapoio for nulo ou negativo e de valor absoluto
ÞM‰ß£„£ Þ ≤ 0,5 Mvão;
• As,apoio ≥ 1/4 As,vão, se Mapoio for negativo e de valor absoluto
ÞM‰ß£„£ Þ > 0,5 Mvão;

100
Comprimento de ancoragem nos apoios extremos:

ℓw,ª©]
ℓw©,_„ª ≥ Çr + 5,5ϕ
6 cm

onde r = raio de curvatura interno do gancho


Sendo assim o comprimento mínimo do apoio b = ℓ R, %& +c

A NBR 6118 estabelece que quando houver cobrimento da barra no trecho do gancho,
medido normalmente ao plano do gancho, de pelo menos 70 mm, e as ações acidentais
não ocorrerem com grande frequência com seu valor máximo, o primeiro dos três valores
anteriores pode ser desconsiderado.

Comprimento de ancoragem em apoios intermediários

Se houver possibilidade de momento positivo as barras devem ser contínuas ou


emendadas sobre apoio (vento, recalque de apoio)

101

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