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Ver: Rocha, Carmo & Reis (2019).
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Ver: Mafra, 2000.
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Ver: Rocha, Carmo & Reis (2019).
“Esta vida, como você a está vivendo e já viveu, você terá de viver mais uma
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vez e por incontáveis vezes; e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada
prazer e cada suspiro e pensamento, e tudo o que é inefavelmente grande e
pequeno em sua vida, terão de lhe suceder novamente, tudo na mesma
sequência e ordem – e assim também essa aranha e esse luar entre as arvores,
e também esse instante e eu mesmo. A perene ampulheta do existir será
sempre virada novamente – e você com ela. Partícula de poeira!”
(NIETZSCHE, 2001, p. 341).
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“Tentar compreender linguisticamente o poder das manifestações linguísticas ou, então, buscar na linguagem o
princípio da lógica e da eficácia da linguagem institucional, é esquecer que a autoridade de que se reveste a
linguagem vem de fora, como bem o demonstra concretamente o cetro (skeptron) que se oferece ao orador que vai
tomar a palavra na obra de Homero. Pode-se dizer que a linguagem, na melhor das hipóteses, representa tal
autoridade, manifestando-a e simbolizando-a. Há uma retórica característica de todos os discursos institucionais,
quer dizer, da fala oficial do porta-voz autorizado que se exprime em situação solene, e que dispõe de uma
autoridade cujos limites coincidem com a delegação da instituição” (BOURDIEU, 1996, p. 87).
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Seria a formação de uma auto-observação e reflexividade, a construção de um sujeito laico e constante
(DUARTE, 2003)
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A palavra pentecostal vem de Pentecostes, evento marcado pela efusão do Espírito Santo, cinquenta dias após a
ascensão de Cristo. Pode-se considerar que a semente do pentecostalismo já estava plantada no protestantismo
norte-americano através dos movimentos avivalistas dos séculos XVIII e XIX. O pentecostalismo teve origem nas
doutrinas de John Wesley. O fundador do metodismo acreditava que o homem devia, após a justificação, dedicar-
se à santificação. Desta concepção se apropriaram os evangelistas e teólogos que faziam parte do movimento de
santificação, surgido nos EUA em meados do século XX. Esse movimento separou-se dos metodistas carismáticos,
distinguindo conversão de santificação e denominando esta última de “batismo do Espírito Santo”. (CF.:
Pentecostalismo, Sentidos da Palavra divina, de Luís de Castro Campos Jr. 1995).
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O surgimento da Congregação Cristã se dá juntamente com o AD, tendo como fundador Luigi Francescon.
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O pentecostalismo não ficou centrado apenas nos EUA, muitos missionários foram enviados a diversas partes do
mundo.
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No pentecostalismo, o batismo no Espírito é para todos que professam sua fé em Cristo; que nasceram de novo,
e, assim, receberam o Espírito Santo para neles habitar. O batismo no Espírito Santo é uma obra distinta e à parte
da regeneração, também por Ele efetuada. Assim como a obra santificadora do Espírito é distinta e completiva em
relação à obra regeneradora do mesmo Espírito, assim também o batismo no Espírito complementa a obra
regeneradora e santificadora do Espírito.
10 Glossolalia é um termo do Novo Testamento que faz referência ao “DOM” que os Apóstolos receberam através
da descida do Espírito Santo em Pentecostes, e eles, por sua vez, transmitiram a outros que também creram na
promessa, por imposição das mãos para poder falar fluentemente idiomas estrangeiros sem ter aprendido, como
no Pentecostes.
11 O autor se ocupa em demonstrar as origens norte-americanas do pentecostalismo, no qual analisa a lógica das
rupturas e continuidades incluindo a análise de seus desdobramentos em território brasileiro. (CF. As origens norte-
americanas do pentecostalismo brasileiro: observação sobre uma relação ainda pouco avaliada. In REVISTA USP,
São Paulo, n. 67, p. 100-115, setembro/novembro 2005).
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“em redes de relações aumentaria a possibilidade de atenuação da vulnerabilidade da situação de pobreza [...]
pode-se afirmar que as redes evangélicas trabalham a favor da valorização da pessoa e das relações pessoais,
gerando ajuda mútua com o estabelecimento de laços de confiança, além do aumento de auto- estima e do
impulso empreendedor.” (ALMEIDA, 2011, p. 10)
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“As condições a serem preenchidas para que um enunciado performativo tenha êxito se reduzem à adequação
do locutor (ou melhor, de sua função social) e do discurso que ele pronuncia. Um enunciado performativo está
condenado ao fracasso quando pronunciado por alguém que não disponha do "poder" de pronunciá-lo ou, de
maneira mais geral, todas as vezes que "pessoas ou circunstâncias particulares" não sejam "as mais indicadas para
que se possa invocar o procedimento em questão"\ em suma, sempre que o locutor não tem autoridade para emitir
as palavras que enuncia. Contudo, cumpre ressaltar que o êxito destas operações de magia social que são os atos
de autoridade (ou então, o que dá no mesmo, os atos autorizados) está subordinado à confluência de um conjunto
sistemático de condições interdependentes que compõem os rituais sociais” (BOURDIEU, 1996, p. 89).
Quem era evangélico na minha família era a minha mãe, ela que orava por
mim, antes de eu ‘servir ao senhor’ passei por algumas dificuldades. Eu não
frequentava uma igreja evangélica, eu bebia muito, e chegava bêbado em casa.
E estando nessa situação passei por muitas dificuldades, mas tudo piorou
quando minha mulher ficou muito doente, e passamos por dificuldades no
hospital e os exames não apontavam o que ela tinha. Foram meses de angústia,
e naquele momento me direcionei ao senhor, dizendo que se minha mulher se
melhora eu iria servir ao senhor. Depois dessa promessa, minha mulher voltou
para casa ela não comia nada, até certo dia uns pastores foram lá em casa e
oraram sobre ela, e perguntaram se ela acreditava que poderia se curar, ela
disse que sim! Na mesma semana ela acordou com muita fome, eu não
acreditava naquilo, ela dizia que queria açaí com peixe então eu comprar para
minha sogra preparar. Desde então passei a servir ao senhor, fiquei seis meses
na igreja, contudo, infelizmente me desviei e fiquei um tempo sem está na
presença do senhor, foi quando tive alguns acidentes na minha moto, perde
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muitas coisas, contudo, depois reafirmei a aliança com o senhor e hoje estou
quase três anos. Interlocutor Flávio (DIÁRIO DE CAMPO, 27-11-2016).
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Deus - AD, no caso especificamente na Getsêmani? Eu já era evangélico, aí
como... pelo fato de... de eu ser evangélico NE, eu nunca saí assim da igreja,
desde criança sempre frequentei..é... igreja, sempre frequentei escola
dominical aos domingos, sabe? Tipo, é uma coisa assim meu mesmo, não é o
meu pai que me fala... com minha mãe que fala bem assim: filho vai pra igreja,
não! É eu mesmo, entendeu? Eu, pelo simples fato deu ter crescido na igreja,
deu ter aprendido e ter gostado, por exemplo, você cresce numa família, né?
Aí essa família te ensina, oh, embora pra festa? Isso, aquilo e aquilo mais. Aí,
tu... vai ter aquela percepção. Poxa, olha eu vou crescer eu vou querer ir pra
festa, e eu a mesma coisa, pelo fato de eu ter nascido num evangelho a minha
mãe com meu pai sempre me ensinavam: olha tu vai pra igreja e tal, e eu
cresci... cresci nesse ambiente, entendeu? Então, tipo, é uma coisa assim que
eu gosto. Ninguém me obriga. Eu venho por vontade... por livre e espontânea
vontade – Joaquim (ENTREVISTA CONCEDIDA DIA 17 07 2017)
Dessa forma, na narrativa do Joaquim seu processo de conversão religiosa, passou pela
rede de socialidade familiar, seu testemunho está interligado nesse ambiente, seu testemunho
ou narrativa do processo de conversão religiosa, tem como meio legitimador da sua fala, a inter-
relação do sagrado pentecostal com o “eu” e com a família. Todavia, sua vontade individual no
processo constitutivo para continuar no movimento religioso pentecostal, constrói uma
narrativa de retirar dessa autoridade familiar, e passar ou deslocá-la para si mesmo “ninguém
Eu sempre fui católica, desde pequena. É... Nossos pais eram católicos
praticantes, levavam a gente pra igreja, igreja católica, eu e minha família todo
domingo, novena. Eu sempre fui ativa na igreja, primeira comunhão, batismo,
crisma, casamento católico, todos os ritos sagrados da igreja católica, eu
participei. Eu participava fazendo a obra também, eu amava fazer a obra. É...
Quando eu casei, eu casei com 17 anos. 18 pra 19, eu fui pra São Paulo, morar
lá. E aí, ele foi transferido pra, pra... luiz horauto quando eu cheguei lá, eu me
sentia muito sozinha porque não tinha nenhuma igreja católica por perto e eu
gostava demais da igreja. Demais. E aí, eu fiquei com uma vida muito vazia
durante alguns anos. Depois a gente comprou um apartamento, bem em uma
área central, bem bacana, perto da praia, e aí, lá eu procurei uma igreja
católica. E aí eu fui migrando, mas eu achei muito chato a igreja, era um pouco
diferente da casa do meu deus, entendeu? Aí depois eu só vim à busca, [risos]
que deus ouve algumas coisas né. Aí alguém me convidou pra ir à igreja
evangélica, eu fui na igreja e gostei demais. Aí uma vizinha disse: olha aqui
tem uma igreja aqui pertinho, e era pertíssimo mesmo, tipo... daqui ali pra
esquina, assim. Lá pra esquina da... lá pra universal, suponhamos. Né, dava
pra ir andando tranquilo, muito gostoso. E quando cheguei lá, foi a minha 165
primeira experiência com o pentecoste. Nunca tinha visto isso na minha vida,
algo sensacional. Uma energia totalmente diferente. Algo parece assim, era
extraordinário o que eu sentia. Os corais cantavam, e eu era apaixonada, eu
sempre era apaixonada por coral. Então eu fiquei 2 meses visitando essa
igreja, e eu era apaixonada. Porque eu não aceitava jesus, por causa das, dá...
dá..., por que, era uma pessoa muito masculina, eu sempre gostei de coisas
masculinas, e tal. E... ô.... aí, eu ainda tinha essa resistência por causa dessas
áreas, né. Mas lá, eu não desistir não, eu.... vi que era o momento, e eu aceitei
a jesus nessa igreja que era uma Assembleia de Deus. Eu não sou de mudar
de igreja, eu não sou uma pessoa que fica ficando de igreja a igreja, eu gosto
de uma, eu fico em uma há muito tempo, muito, muito tempo, eu só vou sair
daqui quando... Eu estou morando, eu moro muito longe daqui, entendeu? Só
que o Miguel ele é meu, meu amigo. Por isso que eu estou aqui, porque eu
gosto dele. E aí, eu aceitei jesus lá, fiquei... isso foi com dez anos de casada,
dez anos depois dessa minha busca. Muitos problemas, ainda no
relacionamento – Fernanda. (ENTREVISTA CONCEDIDA DIA 10 06 2017)
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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2001, v. 15, n. 3, p. 92-100. ISSN 0102-8839.
______________. Pobreza e redes sociais em uma favela paulistana. Novos estudos CEBRAP
n° 68, março 2004, p. 94-106.
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qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009, p, 79-96.
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Paulo. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2009.
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Labirinto, Porto Velho (RO), Vol. 30 (Jan-Jun), N. 1, 2019, p. 333-354.