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HERMES RODRIGUES NERY

UM RAIO NA BASÍLICA

PARTE I - A GAIVOTA E A POMBA

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PARTE I – UMA GAIVOTA NA CHAMINÉ

PARTE II – “COM PLENA LIBERDADE”

PARTE III – “AQUELA NÃO É A NOSSA IGREJA”

I - Apenas o padre Jorge, das periferias argentinas

Quando Jorge Mário Bergoglio apareceu no balcão na Basílica de


São Pedro, na quarta-feira, 13 de março de 2013, às 21 horas, estava
apenas com a batina branca, sem a cruz de ouro, sem o meio manto
eclesiástico forrado de arminho, que cobrem os ombros. Nenhuma
majestade para aquele momento solene. Outras recusas chocariam. Não
quis de modo algum residir no Palácio Apostólico, preferindo ficar na Casa
de Santa Marta, removendo ainda os selos dos apartamentos pontifícios.

3
Assim explicou mais tarde em sua entrevista com o Pe. Antonio Spadaro:
“...quando tomei posse do apartamento pontifício, dentro de mim senti
claramente um ‘não’”1.

O que mais teria chocado também, segundo contou o Messa in


Latino, é que Bergoglio teria dito a Guido Marini, quando lhe apresentou
as vestes pontificiais: “Aquela roupa vista o senhor, Monsenhor, o tempo
do carnaval acabou”2. Bergoglio decidiu aparecer no balcão somente com
a batina branca, dispensando os outros itens utilizados naquela especial
ocasião, que davam relevo à dignidade como Sumo Pontífice. O Fratres in
Unum ressaltou em uma de suas reportagens, que “Andrea Tornielli
desmentiu o episódio em que Bergoglio teria humilhado seu cerimoniário
Monsenhor Guido Marini”3, “embora o Messa in Latino continuou
assegurando a sua veracidade.

E mais: recusou a cruz peitoral dourada, mantendo a cruz de prata,


a mesma do tempo em que era Arcebispo de Buenos Aires. Recusou
também celebrar a Santa Eucaristia na sua paróquia romana dedicada a
São Roberto Belarmino, no domingo que antecedeu o conclave. Mudou
também o seu brasão, retirando o cacho de uva por uma flor de nardo, e
substituindo a estrela de cinco pontas por uma de oito, eliminando assim
o mal-entendido gerado pela primeira versão que o associava a um
símbolo pagão que, por sua vez, se reporta inclusive a divindades egípcias.
No dia seguinte à eleição, foi pessoalmente pagar a sua conta de
hospedagem na Casa Internacional do Clero, em Roma (rua Scrofa, nº 70),
aonde ficara antes do conclave, e recusou o carro oficial do Vaticano
(placa SCV1), optando por um veículo estilo sedan para ir à Basílica de
Santa Maria Maggiore. Deixou o secretário de Estado Tarcísio Bertone
sentar-se sozinho na limusine Mercedes Classe S4, preferindo ir de van,
4
junto com os outros cardeais até a Casa Santa Marta, aonde fez questão
de sentar-se ao lado do cardeal brasileiro Raymundo Damasceno Assis.
Recusou também que os cardeais lhe beijassem a mão, passando a
cumprimentá-los como um executivo, apenas com o aperto de mão, de
igual para igual, apesar de alguns ainda, durante os cumprimentos,
fazerem o gesto de reverência devido à Sua Santidade.

Mas dali para a frente, o papado não seria mais o mesmo, pois
Bergoglio queria sentir-se apenas o padre Jorge das periferias argentinas,
sem majestade alguma, sem solenidade, e de modo algum se sentir um
soberano monárquico, “sem querer usar os títulos pontifícios de Príncipe
dos bispos, Pai dos reis, Soberano do Estado do Vaticano, Patriarca do
Ocidente, Vigário de Cristo... apenas Francisco, sem a numeração ordinal
própria dos reis e, até agora, também dos papas” 5 Desde o primeiro
instante, quando se apresentou ao mundo como Francisco, logo após o
cardeal Jean Louis Tauran anunciar o “Habemus Papam” 6, Bergoglio
manifestou um certo voluntarismo, contrastando com a imagem de
humildade que procurava expressar, em ações de impacto midiático.

Dentre os Cardeais que o acompanharam quando se apresentou aos


milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, estavam ao seu lado, o
brasileiro Cláudio Hummes e o belga Gotfried Daneels). Bergoglio ficou
alguns minutos silente, olhando a multidão na praça, no começo da noite.
E então, logo após proferir as suas primeiras palavras, fez um gesto que
impactou o mundo inteiro pelo ineditismo: curvou-se ao povo, pediu que
o povo o abençoasse e rezasse por ele, dizendo que começava ali um novo
caminho. 

II – Um caminho e um programa de libertação

5
Ainda naqueles primeiros instantes, seu discurso e suas atitudes
traduziam uma disposição de ruptura, de novidade, de imposição de um
estilo muito diferente ao que se esperava. Pela primeira vez na história
bimilenar da Igreja, um sucessor de Pedro assumiu o nome de Francisco.
De imediato, recordei-me do livro de Leonardo Boff: “E a Igreja se fez
Povo”, de 1986. No capítulo XI daquele livro, Boff apresentava São
Francisco de Assis como “patrono da opção pelos pobres”7, cuja libertação
deveria ir “além das reformas sociais” 8, “em vista de uma sociedade mais
circular e igualitária”9.  Seria este o “caminho” que Bergoglio, na sacada,
indicou estar disposto a iniciar, ao se curvar ao povo?

Naquele mesmo momento, enquanto os jornais televisivos


comentavam o anúncio do novo papa, tomei o livro para reler o capítulo
XI, aonde Boff dizia: “Não bastam mais as soluções tradicionais, derivadas
da fé cristã”10. E mais: “Importa ir além das reformas sociais, embora estas
devam sempre ser cobradas; urge caminhar na direção da libertação deste
tipo de sociedade em vista de uma sociedade mais circular e igualitária” 11.
Boff reconhecia naquele capítulo, que “as comunidades eclesiais de base
ajudaram a grande Igreja e a vida religiosa, também franciscana, a
deslocar-se do centro para a periferia” 12. Disse ainda que foi Dom Hélder
Câmara quem considerou São Francisco “o patrono da opção preferencial
da Igreja pelos pobres”13. Estava lá todo o programa que Bergoglio, no
primeiro instante em que se apresentou ao mundo, manifestou a firme
decisão de executar. Não apenas em suas primeiras palavras e gestos, mas
em todas as ações de seu pontificado, passo a passo, mostrou sintonia
com o que Boff havia escrito naquele longínquo 1985 e publicado no ano
seguinte. O próprio teólogo da libertação, punido por Joseph Ratzinger,
6
chegou a declarar posteriormente que teria ajudado Bergoglio a escrever
sua encíclica ecológica Laudato Si.14

Para Boff, seria preciso mais do que uma revolução social, mas uma
mudança profunda de paradigma – ético e religioso –  expresso, por
exemplo, no ecologismo, difundido mais intensamente a partir das
grandes conferências internacionais promovidas pela ONU, nos anos 90.
Ecologismo este que emergiu escancaradamente na encíclica Laudato Si, e
que também passou a ser disseminado por Marcelo Sanchez Sorondo, na
Pontifícia Academia das Ciências, muito em sintonia com o que a ONU, há
muitos anos se empenhava em impor ao mundo. Isso me fez lembrar
também de um outro livro, “Poder Global e Religião Universal”, escrito por
monsenhor Juan Cláudio Sanahuja, em que dizia que o ecologismo de
Leonardo Boff, na verdade, oculta as intenções de “um projeto de poder
global, um projeto de poder totalitário”15.

Para Sanahuja, os projetos de reengenharia social, a partir das


conferências internacionais da ONU, “se põem em marcha na tentativa de
construir uma nova sociedade com bases totalmente diferentes das que
conhecemos, tratando de neutralizar e anular lenta e discretamente toda
visão transcendente do homem para substitui-la por um novo sistema de
valores”16. Nesse sentido, “se enquadram projetos como o da Carta da
Terra, o ‘novo paradigma ético da Nova Era’, e o da Ética Planetária de
Hans Kung, que visa ‘dar sustentação ética à Nova Ordem Mundial’” 17.
Para promover tal revolução, Mikhail Gorbatchev afirmou, “em 1997: ‘O
mecanismo que usaremos será a substituição dos Dez mandamentos pelos
princípios contidos na presente Carta ou Constituição da Terra” 18. Por isso,
muitos católicos ficaram chocados com a menção da Carta da Terra (do
qual Leonardo Boff foi um dos ardorosos defensores), na encíclica
7
Laudato Si. Sanahuja ressaltou que “a legítima preocupação com o meio
ambiente, que faz parte da doutrina católica – expressa, entre muitos
outros documentos, nas Encíclicas Sollicitudo Rei Socialis e Centesimus
Annus, nada tem a ver com o paradigma ecologista da nova ética ou
religião universal, no qual se entrelaçam o relativismo moral, o
sincretismo religioso e o panteísmo” 19, contidos na Carta da Terra. E que
“o disfarce espiritualista do ecologismo permite que aquilo que para
alguns pode parecer um espaço de diálogo inter-religioso responda, na
verdade, à tentativa de impor um dogma da nova religião sincrética
universal”20. Sabendo, portanto, que “os postulados agnósticos e
panteístas da Carta da Terra seriam a base da nova sociedade” 21, muitos
ficaram sem entender a menção da Carta da Terra na encíclica de
Francisco, tendo em vista que Sanahuja fora enfático em dizer que “a
visão cristã é inconciliável com o imanentismo panteísta da Carta”22.

O que estaria então acontecendo?

III – O anti-Ratzinger no conclave de 2005

Jorge Mário Bergoglio havia sido, em abril de 2005, “o único


adversário forte de Ratzinger”23, no conclave que elegeu Bento XVI.
Bergoglio havia obtido 40 votos naquela ocasião. Oito anos depois, o
mundo foi surpreendido com a renúncia de Bento XVI. Bergoglio, o anti-
Ratzinger em 2005, foi efusivamente festejado por Leonardo Boff, em
março de 2013.

8
No mesmo dia da renúncia de Bento XVI, Leonardo Boff foi
entrevistado por uma emissora de televisão24 e disse que o seu candidato
preferido a papa seria o cardeal hondurenho Óscar Andrés Rodríguez
Maradiaga, SDB, arcebispo de  Tegucigalpa. Este sim, segundo Boff, amigo
da “Teologia da Libertação” e seu próprio amigo. Maradiaga foi escolhido
pelo papa Francisco para ser o Coordenador do Conselho de Cardeais para
realizar a chamada “reforma da Cúria Romana”. Em entrevista divulgada
na Info Católica, o prelado declarou que as reflexões da comissão
encabeçada por ele conduzirão a “algo muito interessante”25 para a
Cúria.  Nas confidências, hoje pacificamente aceitas como autênticas, de
Francisco a um grupo de líderes religiosas latino-americanas podemos ler:
“A reforma da Cúria romana é algo que pedimos quase todos os cardeais
nas congregações anteriores ao Conclave. Eu também a pedi. A reforma
não posso fazer eu, estes assuntos de gestão… Eu sou muito
desorganizado, nunca fui bom nisso. Mas os cardeais da comissão a
levarão adiante. Aí estão Rodríguez Maradiaga, que é latino-americano,
que está na dianteira…”26

O amigo de Leonardo Boff, preferido por ele para ser o papa latino-
americano, foi escolhido por Francisco para coordenar a reforma da cúria
romana, mostrando assim o alto grau de confiança de Jorge Mário
Bergoglio em Rodriguez Maradiaga. A posição dessas personagens no
complexo tabuleiro político do Vaticano, após a renúncia de Bento XVI,
trouxe muitas interrogações sobre o que teria levado Ratzinger a abdicar,
e por que o grupo que havia feito oposição a ele no conclave de 2005,
emergiu com todo o poder em 2013?

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IV – Um plano anunciado doze meses antes da renúncia, um raio
na Basílica de São Pedro no dia da abdicação, e o pálio sobre a urna de
São Celestino V

Exatamente um ano antes da renúncia, na sexta-feira, dia 10 de


fevereiro de 2012, o jornal Il Fatto Cotidiano publicou uma reportagem
bombástica, de Marco Lillo, com o título: “Vaticano, tramas e venenos. O
papa morrerá dentro de doze meses” 27. O periódico italiano contou que o
cardeal colombiano Dario Castrillón Hoyos havia entregue ao papa Bento
XVI um relato por escrito, em alemão, revelando que havia um complô
para matar o Sumo Pontífice no prazo de doze meses. Hoyos havia
baseado seu documento a partir de conversas que tivera o cardeal e
arcebispo de Palermo, Paolo Romeo, durante uma estada na China, em
novembro de 2011. O fato denunciado por Hoyos cairia em total
descrédito, se não houvesse a renúncia, no dia seguinte ao primeiro
aniversário daquela publicação. O porta-voz do Vaticano, Federico
Lombardi achou tudo aquilo “tão fora da realidade” 28, e não quis “nem
comentar”29. O próprio Paolo Romeu negou tudo depois, mas um ano
exato depois Bento XVI anunciou ao mundo que deixaria o trono de São
Pedro.

Paolo Romeu confidenciara, em Pequim, que ele e o cardeal Angelo


Scola eram consultados por Bento XVI “para os assuntos mais
importantes”30, e que a transferência de Scola (de Veneza para Milão) era
um sinal inequívoco de que ele estava sendo preparado por Bento XVI
para ser seu sucessor. A convicção de sua eleição era tão certa, que o site
Avvenire (do episcopado italiano), havia anunciado a sua vitória no

10
conclave de 2013, pouco antes do mundo ser surpreendido com a
afirmação de Tauran de que Bergoglio havia sido eleito papa, com o nome
de Francisco.

O que impressionou naquela conversa que Paolo Romeu tivera na


China, em 2011, eram duas colocações: a de que Scola seria o novo papa
(mesmo tendo “inimigos importantes no Vaticano” 31, e de que Bento XVI
teria somente doze meses de vida. Nenhuma das duas se confirmaram
plenamente, mas impactaram pelo fato de que Scola foi um dos favoritos
no conclave de 2013, e precisamente um dia após a publicação da
reportagem do Il Fatto Cottidiano, Bento XVI renunciara.

Mesmo tendo afirmado em sua declaração de 11 de fevereiro de


2013, que decidiu pela renúncia, “com plena liberdade” 32, e ter reforçado
essa posição publicamente, posteriormente, em algumas ocasiões, muitas
interrogações foram suscitadas pela sucessão dos acontecimentos, pelo
contexto e desdobramentos dos fatos, que Bento XVI expressara em seu
pronunciamento estar “bem consciente da gravidade”33 daquele ato. No
mesmo dia da renúncia, o fotógrafo Filippo Monteforte (AFP) registrara o

11
momento exato em que a cúpula da Basílica de São Pedro fora atingida
por um impressionante raio34.

Somente 598 anos antes dele, o papa Gregório XII havia sido
forçado a renunciar, em 1415, em meio ao Grande Cisma do Ocidente. De
maneira que, desde aquele período de gravíssima crise na história da
Igreja, a renúncia papal estava associada a um tempo de cisma. Daí o
trauma causado. Ao ser convocado o Concílio de Constança (1414-1418),
havia três papas em litígio, até ser eleito Martinho V, em 11 de novembro
de 1417. Foi também naquela época, de muita conturbação, que Jan Huss
(precursor do protestantismo), fora condenado à fogueira, em 6 de julho
de 1415.

Tantos séculos decorridos, era quase que impossível para um


católico conceber a ideia de um papa renunciar. O valente São João Paulo
II comoveu o mundo com a sua última aparição pública, expressando dor e
sofrimento, enquanto pombas brancas sobrevoavam pela janela. De modo
algum o papa polonês, acometido por alguns anos pelo mal de Parkinson,
desceu da cruz35.

Antes de Gregório XII, a Igreja tivera outro papa renunciante: São


Celestino V. Quis Bento XVI, de modo muito especial, associar-se a ele,
visitando o seu túmulo, em abril de 2009. São Celestino V (canonizado em
3 de maio de 1313) renunciara após um curto pontificado de cinco meses,
em 13 de dezembro de 1294. Permaneceu quase dois anos em vida
reclusa, até a sua morte, em 19 de maio de 1296. Bento XVI estivera em
Áquila, aonde estão os restos mortais de São Celestino V, dias depois da
cidade ter sido atingida por um terremoto. Dirigiu-se à Basílica Santa
Maria di Collemaggio e, ao se aproximar do túmulo do papa abdicante,

12
tirou o pálio que estava em seus ombros e depositou em cima da urna de
vidro, num gesto de forte valor simbólico, que impactou ainda mais
quando fez o seu comunicado de renúncia.

V – “Este ministério deve ser cumprido igualmente sofrendo e


rezando!”36

Um ano depois da renúncia de Bento XVI, publiquei esse artigo no


Fratres in Unum:

[O vaticanista alemão Andreas Englisch ressalta episódios e fatos que reforçam


o sentimento de que Bento XVI teve um pontificado boicotado.] 

Foi numa segunda-feira de Carnaval, dia de Nossa Senhora de Lourdes. Marcelo


Novaes me ligou para dizer: “Bento XVI renunciou, acaba de renunciar”. Aquilo foi uma
bomba, parei tudo o que estava fazendo e liguei a tevê, na Globo News, ao vivo, em
que todos atônitos, anunciavam: “Bento XVI renunciou”. Pensei, de imediato, que se
tratasse de um boato. Não. Não acreditei mesmo, apesar de todos os canais não
falarem de outra coisa. Durante todo o dia repetiram as imagens do breve
pronunciamento:

13
“Caríssimos Irmãos, convoquei-vos para este Consistório não só por causa das
três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande
importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha
consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade
avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou
bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido
não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando.
Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de
grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o
Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este,
que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a
minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso,
bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao
ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos
Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às
20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser
convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo
Pontífice. Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o
amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão
por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor
Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que

14
assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo
Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o
coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus. Vaticano, 10 de
fevereiro de 2013”37.

Um ano depois, de tantos acontecimentos tão de acordo com as “rápidas


mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé” 38, ecoam as
palavras mais expressivas de seu pronunciamento de renúncia: “Estou bem consciente
de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as
obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando” 39.

Há um ano, de modo especial depois de 28 de fevereiro de 2013, sabemos que


Sua Santidade Bento XVI continua cumprindo seu ministério de essência espiritual,
“sofrendo e rezando”40. E ressaltou em sua última audiência geral, na Praça de São
Pedro: “Dei este passo na plena consciência de sua gravidade e também da sua
novidade, mas com uma profunda serenidade de espírito. Amar a Igreja significa
também ter a coragem de fazer escolhas difíceis, sofridas, tendo sempre diante de nós
o bem da Igreja e não de nós mesmos” 41 Não se trata de uma aposentadoria, ele
próprio enfatizou: “Sempre – quem assume o ministério petrino não tem mais
nenhuma privacy. Ele pertencerá sempre e totalmente a todos, a toda a Igreja” 42.

E mais: “O ‘sempre’ é também um ‘para sempre’: não haverá mais um regresso


à vida privada. E a minha decisão de renunciar ao exercício ativo do ministério não
revoga isto; não volto à vida privada, a uma vida de viagens, encontros, recepções,
conferências, etc. Não abandono a cruz, mas permaneço de forma nova junto do
Senhor Crucificado. Deixo de trazer a potestade do ofício em prol do governo da Igreja,
mas no serviço da oração permaneço, por assim dizer, no recinto de São Pedro. Nisto,
ser-me-á de grande exemplo São Bento, cujo nome adoptei como Papa. Ele mostrou-
nos o caminho para uma vida, que, ativa ou passiva, está votada totalmente à obra de
Deus”.43

O impacto da renúncia foi muito forte e agradou a muitos, mesmo entre os


católicos, de modo especial aos progressistas, que se sentiram aliviados, pois não
suportarem mais a sã doutrina católica e fazerem pressão por todos os lados, de todas

15
as formas, com todas as astúcias e ardilosidades, para que um número cada vez maior
de pessoas, inclusive os fiéis, leigos e religiosos, aceitem a necessidade de
transformação da Igreja, de alargamento ainda mais de aggiornamento, de
flexibilização da moral católica, de menos restrições e mais condescendência, pois
muitos até duvidam da eternidade e querem mesmo uma Igreja adaptada às
novidades do mundo, para aqui e agora, darem conta de uma felicidade possível,
apenas possível, com a mais ampla liberdade.

Bento XVI então recolheu-se ao silêncio e à oração, e muitos comemoraram o


alívio, e puderam se mover com mais desenvoltura para despojar ainda mais a Igreja
de sua rica Tradição. Ao contrário do que se pensa, enquanto Bento XVI sofre e reza no
Mosteiro Matter Ecclesiae, ainda de vestes brancas, acompanha e aguarda os
desdobramentos de mudanças anunciadas e tão almejadas principalmente por aqueles
que mais agiram contra o seu pontificado.

O vaticanista alemão Andreas Englisch – que não é pró-Bento XVI – em seu


volumoso livro “Benedikt XVI”, traduzido aqui por “O Homem que Não Queria Ser
Papa” (Ed. Universo dos Livros), ressalta muitos episódios e fatos que reforçam o
sentimento de que Bento XVI teve um pontificado boicotado. Ele chegou a esta
conclusão já logo no início de seus relatos, quando narra os dissabores enfrentados
por Ratzinger na Jornada Mundial da Juventude, em Colônia. “Começou-se a especular
que certos grupos, alguns dentro da própria Igreja, queriam prejudicar o papa e por
isso haviam boicotado a Jornada Mundial da Juventude” 44. Depois daquela Jornada,
“Bento XVI cancelou todas as viagens dos nove meses seguintes” 45. Ratzinger não era
um ator, nem um político, mas apenas um teólogo. E muitos se aproveitaram disso
para lhe criar vários embaraços durante seu pontificado, para desgastá-lo
principalmente junto a opinião pública, pessoas próximas a ele, que estavam lá para
ajudá-lo e preferiram humilhá-lo em público, para que ele, aos poucos, fosse se dando
conta de que era frágil demais. “Bento XVI nunca quis representar um papa, mas ser
um papa”46, afirma Englisch. E acrescenta: “Joseph Ratzinger queria escrever,
desenvolver conceitos teológicos que explicassem a religião, ele não queria ganhar a
simpatia das pessoas como um ator. Ele queria convencer as pessoas pelo que ele
pensava e escrevia, e não por como ele aparecia em cena. Ele se importava com o

16
conteúdo e não a aparência” 47. O caso de Regensburg foi um massacre midiático, do
qual Bento XVI se viu mais isolado ainda. “Os políticos experientes dos Estados Unidos
estão certos de que alguém preparou deliberadamente uma armadilha para o papa,
em Regensburg”48. A instrumentalização do caso pela mídia internacional foi
crudelíssima, e muitos, inclusive próximos dele, se deliciaram em ver como ele sofria
com tudo aquilo, e nada fizeram para lhe aliviar a dor. Pior ainda: usavam aqueles
dardos lançados contra ele, para justificar, entre muitos altos prelados, de que ele era
incompetente para o cargo. Disso sou testemunha in loco. Eu estava, em 2007,
durante um jantar na CNBB, em Brasília, quando alguns assessores da CNBB riam de
tudo aquilo, e disseram: “Coitado do Bentinho!” Aquilo doeu, fundo, em meu coração.
Naquela mesma noite, enquanto conversava com um amigo, no 1º andar, era possível
ver a recepção, de onde alguém me disse: “Veja! É o José Dirceu!” Ao que ele entrou,
abraçou um bispo e adentrou para as dependências da Casa.

“Joseph Ratzinger escreveu durante toda a sua vida, explicando sempre sobre a
doutrina da Igreja Católica”49, mas muitos não queriam mais saber de doutrina. Um
seminarista havia me procurado para dizer que estava deixando o seminário. Com
tristeza falei que ele era um talento promissor, e lhe indaguei; “Você chegou a ler, a
estudar, a fundo, o Catecismo da Igreja Católica?” Ao que ele me respondeu: “Não li,
acho muito complicado. A Igreja precisa de menos doutrina e ser mais povo!” Até hoje,
sinceramente, nunca entendi essa resposta. Semanas depois ele estava comissionado
no gabinete de um parlamentar do PT.

Não foram poucos também que se incomodaram com o brilhantismo


intelectual de Ratzinger, afinal não era ele o “Beckenbauer da teologia?” E a inveja
corroeu o coração de muitos, que se insurgiram em articulações para criar mais
situações de embaraço, e algumas de impasse, para eclipsar a luz de Bento XVI.
Ratzinger tinha uma profunda experiência de Deus, mas não da política dos homens.
Agiu de boa fé para com muitos, e muitos se aproveitaram disso para lhe causar
desgostos e contrariedades quase cotidianas. Michael Fitzgerald, por exemplo, não o
perdoou por ele não lhe ter feito cardeal. Conta Englisch: “Fitzgerald era um sujeito
mais prático, um homem de ação. Não me lembro de jamais ter visto Fitzgerald em
uma batina elegante de arcebispo, ele sempre usa uma camisa simples e um suéter

17
com o colarinho clerical, mesmo em ocasiões formais, como coletivas de imprensa” 50.
Simpatizante do new age, Fitzgerald não recebeu o barrete vermelho. Como também
Walter Kasper teve de recuar diante de posicionamentos muito liberais, por exigência
de Bento XVI. Esses e outros foram se avolumando até o ponto em que perceberam
que só havia um jeito de agirem mais livremente: aprisionando Bento XVI. Não
queriam um papa preocupado em escrever sobre “Jesus de Nazaré”, para que o cristão
possa voltar a ser compreendido, mas que o papa fosse mais espetacular para agradar
mais ao mundo. E então, Englisch, em seu livro, “Francisco – O Papa dos Humildes”,
reconhece que diante de toda pressão sofrida por Bento XVI, em seu pontificado, pelas
forças progressistas que tudo fizeram para debelar todo esforço pela Tradição, de que
“só havia uma possibilidade: Joseph Ratzinger tinha que se acostumar à ideia de que
seu pesadelo se cumpriria, ou seja, que seria obrigado a passar o resto de seus dias
numa, prisão, porque só assim, com a destruição de todas as suas esperanças, com o
abandono de todos os seus sonhos e abrindo mão do último resquício de consolo, ele
podia  garantir a seu sucessor que jamais se intrometeria. Ele tinha que se tornar um
prisioneiro”51.

Um ano depois, o que se sabe concretamente é que os progressistas se sentem


hoje mais a vontade para impor a Igreja que querem, como na resposta do ex-
seminarista: “A Igreja precisa de menos doutrina e ser mais povo!” Enquanto isso, Sua
Santidade Bento XVI, acompanhando tudo, vai cumprindo o seu ministério – como
disse em seu pronunciamento de renúncia – “sofrendo e rezando”52.

18
VI - Uma despedida em lágrimas - Não haveria mesmo outra forma
de ver um papa deixar o trono de São Pedro, senão subindo aos céus.

O impacto da renúncia de Bento XVI, em 11 de fevereiro, ainda


repercutia, sem fazer cessar os sentimentos de apreensão sobre o que
poderia vir pela frente, diante da situação inédita de dois “bispos vestidos
de branco” convivendo no Vaticano. O mais inusitado ainda é que nenhum
dos dois residiriam no Palácio Apostólico. 

No dia 28 de fevereiro, às 20h, Bento XVI já estava recolhido em


Castel Gandolfo, transportado de helicóptero no final daquela tarde,
enquanto o mundo acompanhada pelas televisões, ao vivo, sobrevoar
sobre Roma, até ouvir as suas palavras finais como papa reinante, nas

19
janelas de Castel Gandolfo. Ficou lá por três meses, retornando ao
Vaticano, para recolher-se no Mosteiro Matter Eclesiae, de onde
acompanharia o pontificado de Francisco, no silêncio e na oração.

E mesmo depois retornou somente mais uma vez mais a Castel


Gandolfo, porque Francisco o transformou em museu.

Nem poderia também voltar à sua Baviera, aonde tinha uma


residência própria (em Pentling), nem mesmo sair para fora da cidade
pontifícia.

Um dia antes da despedida de Ratzinger como papa, pude


acompanhar – pela tevê – a partir das seis da manhã, a sua última
audiência geral, na Praça de São Pedro. As imagens mostraram um céu
límpido, de um azul nostálgico, mas com um sol de inverno. Alguns
cardeais sentiam frio sentados na praça. E bandeiras de diversos países –
inclusive do Brasil – tremulavam, em meio a faixas com dizeres de
agradecimentos a Ratzinger. Enquanto o papamóvel percorria a praça, o
arcebispo Georg Ganswein tomava nos braços algumas crianças para
Bento XVI abençoar. E então o Sumo Pontífice pronunciou sua mensagem
de despedida, entre aplausos, choros, vivas e outras expressões de
20
emoção. O sentimento geral que pairou naquela manhã foi o de tristeza.
O papa ressaltou a gravidade e também a novidade da sua renúncia,
afirmando ter feito tudo em serenidade de espírito. Havia sobriedade e
simplicidade em seus gestos, e fez questão de dizer que não se recolheria
a um descanso alheado dos acontecimentos, mas sabia da situação de
inteira novidade da sua condição, dali por diante. Haveria um bispo
vestido de branco nos jardins do Vaticano, que era o único espaço por
onde ele poderia fazer ainda alguma caminhada. E do Mosteiro Matter
Eclesiae, ele poderia avistar a majestosa cúpula da Basílica de São Pedro.

Por que ele abdicou do seu direito legítimo de governar a Igreja até
o final de seus dias, como quase todos os seus antepassados fizeram,
ininterruptamente nos últimos 600 anos? Assim, como São Celestino V,
tornava-se um eremita, entregue à oração e ao sofrimento, também ele
decidiu se recolher. E para tranquilizar a todos os católicos, ele escrevera
em sua carta de renúncia que fizera tal ato “com plena liberdade” 53. Ele
como papa não poderia mentir aos católicos. Dissera de modo enfático,
não apenas no pronunciamento de renúncia, mas também a Peter
Seewald, que o entrevistara tantas vezes, e também em seu recolhimento
no Matter Eclesiae. Não deixou de aparecer publicamente ao lado de
Francisco, quando foi solicitada a sua presença, para tranquilizar os
católicos e evitar qualquer movimento que especulasse os motivos de sua
renúncia, se havia tido ou não alguma pressão.

No seu último dia como papa, antes de ir para Castel Gandolfo,


muitos dos que estavam na Praça de São Pedro, expressaram profunda
tristeza e perplexidade em seus olhares, sem entenderem o porquê
daquela decisão. Os argumentos de que precisava de alguém com vigor e
saúde para governar não pareciam convincentes, a exemplo inclusive do
21
grande testemunho deixado por São João Paulo II, que cumpriu, até o fim,
a sua missão, com heroísmo e magnanimidade.

O que teria realmente acontecido?

Ninguém saberia responder. Por que ele teria dito também naquela
carta, que continuaria o seu ministério, “sofrendo e rezando” 54. Em suas
mãos não haveria mais o anel do pescador, pois as chaves seriam
entregues no dia seguinte: “Não abandono a cruz, mas fico de uma forma
nova junto do Senhor Crucificado”55.

Palavras significativas estas, carregadas de simbolismo, deixando


implícito a sua nova condição do “servo sofredor”. Havia aí uma
identificação com o calvário do Senhor, com a traição, o escárnio sofrido,
a coroa de espinhos, as chicotadas, e o peso da cruz sobre os ombros, pois
ele permanecia ainda “no recinto de São Pedro” 56. Assim mostrava o
quanto estava extenuado, em sua expressão de rosto, na Missa de Quarta-
Feira de Cinzas, início da Quaresma de 2013, aonde ele foi longamente
22
aplaudido por todos.57 E quando falou que “amar a Igreja significa também
ter a coragem de fazer escolhas difíceis, dolorosas, tendo sempre diante
dos olhos o bem da Igreja e não a nós mesmos” 58, lembrou ainda as
palavras de sua homilia inaugural: “Apascentar significa amar, e amar quer
dizer também estar prontos para sofrer!”59

VII – Por que lhe faltou o vigor?

No Angelus do dia 23 de fevereiro, ele afirmou: “O Senhor me


chama a ‘subir o monte’, a dedicar-me ainda mais à oração e à
meditação”60. Ratzinger continuaria a ser chamado Sua Santidade Bento
XVI, e manteria as vestes brancas, sem o mantelete. O que esta novidade
poderia significar diante da mensagem de Fátima? “E vimos n’uma luz
emensa que é Deus: ‘algo semelhante a como se vêem as pessoas n’um
espelho, quando lhe passam por diante’, um bispo vestido de branco,
‘tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre’. Vários bispos,
sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo
da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos se fora de obreiro como
a casca”61.

Mais força e significado ainda tomam as palavras de despedida de


Bento XVI: “Não abandono a cruz, mas fico de uma forma nova, junto do
Senhor Crucificado”62. Com Jesus, depois de cear com os seus, veio a
Paixão, e depois a glória da Ressurreição.

Naquele domingo, passava do meio-dia, quando a multidão se


dispersou após orar o Pai Nosso, em latim, com Bento XVI. Da janela da
minha casa, podia avistar as montanhas da Mantiqueira, enquanto luzia

23
um sol levíssimo, pelas oito horas da manhã. Depois o tempo fechou,
choveu, e as nuvens se adensaram. As imagens do papa ficaram
impregnadas com seus acenos tímidos e um sorriso tocante e comovente.
O restante do dia ficou então interrogativo.

O argumento da renúncia por causa da debilidade física abriu o


precedente que condiciona o vigor físico às condições necessárias para
cumprir o ministério petrino. É certo que a grande maioria dos católicos
aceitaram a decisão do papa, rezaram e rezam por ele, mas de modo
algum, pode se esconder a tristeza no rosto e o apeto no coração, da
maioria dos quer estavam na Praça de São Pedro, naquele último
Angelus63.

E mais ainda no dia derradeiro do seu pontificado:

28 de fevereiro de 2013: a cena do chofer do Papa ajoelhando-se e


cumprimentando o Sumo Pontífice, às 16h57, na sua saída do Vaticano
rumo a Castel Gandolfo, expressou os sentimentos dos católicos, em todo
o mundo. Tristeza e perplexidade é o que se via nos olhares de freiras com
seus hábitos religiosos, e muitos que se espalhavam na Praça de São
Pedro, até mesmo no alto dos edifícios exibindo cartazes de apoio e de
afeto, também em língua alemã, para dizer Danke!

Às 17h04 o helicóptero branco da República Italiana começou a


acionar suas hélices (lembrando a estrela de Davi), e pouco depois
decolou ao som dos sinos de todas as igrejas de Roma. Não haveria
mesmo outra forma de ver um papa deixar o trono de São Pedro, senão
subindo aos céus. E foi assim que acompanhamos o vôo até Castel
Gandolfo, como uma pomba branca a pairar sobre a Cidade Eterna. É
certo que a cena comoveu, com lágrimas aos olhos. Vimos o helicóptero

24
sobrevoar o Coliseu, e fazer um percurso panorâmico sobre Roma, feita
“da harmonia de múltiplos séculos”64, no dizer de Afonso Arinos. E assim
Ratzinger chegou naquele dia histórico, ao entardecer, em Castel
Gandolfo, às 17h37. Houve quem disse que não chegava mais como um
pai, mas como um avô querido, da grande família do Ocidente. Ainda uma
nova despedida na sacada, para os agradecimentos, como “um peregrino
que inicia a última etapa da sua peregrinação nesta terra” 65. E após entrar
de volta para os aposentos, um vento fez tremular a bandeira escarlate
com o brasão pontifício. Mais tarde, às 16h (20 horas em Castel Gandolfo),
houve a troca da Guarda Suíça, ao som de sinos e de “Viva ao Papa!”

Bento XVI afirmou, por escrito, que o ato de renúncia foi feito “com
plena liberdade”66 (“huius actus plena libertate”), e nunca ninguém jamais
saberá, de fato, as razões que o levaram a isso, “bem consciente da
gravidade deste ato”67, ressaltou. “Ninguém tentou me chantagear. Eu
não teria ainda permitido [...]. Também não é verdade que fiquei
desapontado ou algo assim. Na verdade, graças a Deus, eu estava no
humor calmo das pessoas com mais dificuldade” 68, foi o que declarou a
Peter Seewald, em seu livro “Últimas Conversas”. No mesmo dia da
renúncia, o porta-voz do Vaticano, padre jesuíta Federico Lombardi,
corroborou as palavras da declaração do papa, dizendo que “nos últimos
meses ele tem observado um declínio em seu vigor tanto de corpo quanto
de espírito"69. E acrescentou: "Foi uma decisão pessoal dele, tomada com
total liberdade, que merece total respeito”70.

É certo que o ato decidido “com plena liberdade” 71, não foi privado
de sofrimento, pois na própria declaração de renúncia, Bento XVI afirmara

25
que o ministério petrino, “pela sua essência espiritual, deve ser cumprido
não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente
sofrendo e rezando”72 (“sed non minus patiendo et orando”). Os dois
verbos destacados não foram expressos no indicativo, mas no gerúndio; e
o verbo referido ao sofrimento veio antes da referência da oração, o que
significou que ele não somente estivesse realmente sofrendo, mas que
continuaria “sofrendo e rezando”73, no tempo futuro que ainda lhe
restava, sabendo que “o manancial é Cristo acreditado e amado, com
nossa débil mas sincera fé, apesar de nossa fragilidade” 74. Nesse sentido,
comoveram ainda mais as suas palavras de despedida, no balcão central
do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo: “Mas quero ainda, com o meu
coração, o meu amor, com a minha oração, a minha reflexão, com todas
as minhas forças interiores, trabalhar para o bem comum, o bem da Igreja
e da humanidade.”75

Mas muitos fatos no contexto dessa decisão, deixaram várias


interrogações sobre quais seriam realmente as motivações que o levaram
àquele ato de desistência. Também a Peter Seewald dissera: “O governo
prático não é meu ponto forte e este é certamente um ponto fraco. Mas
eu não consigo me ver como um fracasso” 76. Por que houve então aquela
capitulação? Por que lhe faltou o vigor? “Para governar a barca de São
Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo
quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal
modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para 
administrar bem o ministério que me foi confiado” 77, foi o que afirmou na
declaração de renúncia. Isso significa que ele estava exausto, o vigor “foi
diminuindo”78, até que ele entregasse os pontos e dissesse não ter mais
26
forças idôneas “para exercer adequadamente o ministério petrino” 79. Ele
não se sentiu mais apto, exigente de si mesmo como sempre fora, por isso
se referiu à força idônea, considerando que não convinha mais
perfeitamente àquele encargo. Não se tratava de debilidade no sentido de
grave enfermidade, mas de fadiga, de extenuação.

No dia da sua eleição como papa, em 19 de abril de 2005,


apresentara-se com um “simples e humilde trabalhador na vinha do
Senhor”80, mas também naquele dia manifestara a convicção de que era
consolado em “saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com
instrumentos insuficientes”81.

O que teria acontecido então para ele dizer: não posso, não dá
mais?

Três dias depois da sua eleição, ao agradecer aso cardeais que o


escolheram para suceder São João Paulo II, dissera:

“Venerados Irmãos, dirijo-vos o meu agradecimento mais pessoal


pela confiança que depusestes em mim elegendo-me Bispo de Roma e
Pastor da Igreja universal. É um ato de confiança que constitui um
encorajamento a empreender esta nova missão com mais serenidade,
porque estou persuadido de poder contar, além da ajuda indispensável de
Deus, também com a vossa generosa colaboração. Peço-vos que nunca me
deixeis faltar este vosso apoio!”82 Ele pediu para que os cardeais nunca
deixassem faltar o apoio. Ele sabia da sua “humana fragilidade” 83, daí o
apelo feito aos seus irmãos no episcopado.

Aos peregrinos de língua alemã, que vieram a Roma por ocasião da


sua eleição, reconhecera que não se sentia adequado para o cargo e que
esperava que os seus últimos dias fossem transcorridos em tranquilidade.
27
“Com profunda convicção disse ao Senhor: não me faças isto! Dispões de
pessoas mais jovens e melhores, que podem enfrentar esta grande tarefa
com outro impulso e vigor.”84 Mas aceitou o desafio, afirmando:

“Assim, no final mais não pude fazer do que dizer sim. Confio no
Senhor, e confio em vós, queridos amigos. Um cristão nunca está
sozinho”85.

VIII – O fator Daneels e o Clube St. Gallen

O fato é que muitos fatos ocorreram desde a sua posse, que o


contrariaram profundamente, causando-lhe grandes desgostos, que
vieram com uma avalanche, do qual ele não pôde mais suportar. Desde o
início a guilhotina parecia estar pronta a cair sobre a sua cabeça. No
mesmo dia da eleição, convidou os cardeais para jantar com ele. E o belga

28
Gottfried Daneels fez questão de não estar presente. “Seria isso um sinal
de revolta, tão logo após a eleição?” 86, indagou Andreas English. E
observou: “Por acaso, o novo papa tinha inimigos implacáveis no Colégio
dos Cardeais, homens que o odiassem? Mas de onde vinha esse ódio?
Ratzinger era apenas um teólogo, que sempre se manteve afastado das
brigas de poder. Quem estava contra ele e por qual motivo?”87

O que terá sentido Bento XVI, quando na mesma noite de sua


eleição, o cardeal belga Gottfried Daneels se recusou a ir cumprimentá-lo?

Godfried Daneels, “uma das principais vozes progressistas em toda


a Igreja”88, foi presidente da conferência episcpal da Bélgica por mais de
trinta anos ( de 1979 a 2010). Quando entregou a sua renúncia, em 2009,
por ter atingido a idade de 75 anos, a igreja belga estava em profundo
declínio, com seminários vazios e um número cada vez mais reduzido de
católicos com frequência habitual à igreja89.

Na ocasião, os progressistas na linha do cardeal Joseph Suenens


(que apoiavam Daneels) torceram para que o primaz da Bélgica fosse
sucedido pelo bispo Josef De Kesel, na Arquidicese de Malines-Bruxelas.
Mas Bento XVI, contrariando o grupo de Daneels, nomeou o conservador
André-Mutien Léonard de Namur. O Whispers in the Loggia o descreveu
como “‘um  entusiasmado’ defensor do Summorum Pontificum, o motu
proprio de Bento XVI, facilitando a ampla celebração do Missal de 1962”90.

A nomeação de Dom Léonard provocou a ira dos ultramodernistas,


aliados de Daneels, como o arcebispo emérito de Malines-Bruxelas, Karl-
Joseph Rauber. Numa entrevista a Il Regno, Rauber criticou raivosamente
Bento XVI, acusando o seu tradicionalismo. Para ele, Ratzinger era mais
liberal no tempo em que foi perito no Concílio Vaticano II, mas que foi se

29
tornando conservador cada vez mais, num crescente, desde os tempos de
professor na Universidade de Regensburg, especialmente no campo da
liturgia. E mais: Rauber havia sido denunciado quatro vezes por Ratzinger
à Secretaria de Estado (quando ele era prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, por Rauber defender abertamente o fim do celibato. O
vaticanista Sandro Magister contou em seu blog, que Rauber ficara muito
irado com a escolha de Dom Leonard, “que não estava na lista de três
nomes que ele, como núncio na Bélgica, enviara a Roma” 91. O fato é que
Bento XVI, tendo conhecimento dos graves problemas existentes em
Bruxelas, sob a administração de Daneels, nomeou Dom Léonard para
estancá-los, especialmente porque era uma das dioceses mais abaladas
por denúncias de pedofilia no clero. Em 2010, houve uma crise
diplomática entre Vaticano e governo da Bélgica, por conta de tais
denúncias. Policiais chegaram a revistar a casa do cardeal Daneels, em
busca de documentos relacionados a abusos sexuais. Chegaram inclusive a
procurar material a respeito dos crimes cometidos, em duas tumbas na
cripta da catedral Saint-Rombut, em Malines.

Em abril daquele ano, Bento XVI aceitara a renúncia do ex-bispo de


Bruges, Roger Joseph Vangheluwe, que lhe enviara uma carta assumindo
que, durante muitos anos, havia cometido abusos sexuais com uma
criança, seu próprio sobrinho, Kris Verduyn Vangheluwe, que teve
relações sexuais com menino, dos cinco aos dezoito anos. Confessou
publicamente tais fatos, dizendo que apenas masturbava a criança, mas
que nunca chegaram às vias de fato.92

Mais tais abusos ocorreram várias vezes, por vários anos, sem que
Daneels tivesse tomado providências. E também as dos outros casos que
chocaram a opinião publica. Mais de 500 pessoas testemunharam ter sido
30
vítimas de abusos sexuais na Bélgica, o que levou a Igreja, ao final das
contas, a ter de pagar pesadas indenizações às famílias das vítimas, num
total de aproximadamente 4,13 milhões de euros. As posições públicas d
primaz da Bélgica, sobre aborto, eutanásia e homossexualidade eram
ambíguas e controversas. Com isso, recaiu sobre Daneels também a
suspeita de que ele sabia e acobertara Vangheluwe. E então Bento XVI
recusou nomear Josef De Kesel, e ordenara, em novembro de 2010, que
fosse feita uma investigaçao sobre Vangheluwe, que obrigou-o a ter de
deixar a arquidiocese. Por isso, Rauber e Vangueluwe odiaram Bento XVI,
que passou a ser mais odiado ainda e mais ainda era odiado por Godfried
Daneels.

Há muitos anos, Daneels fazia “parte de um clube secreto de


cardeais que se opunham a Joseph Ratzinger” 93. Ele próprio contou a seus
biógrafos Jürgen Mettepenningen e Karim Schelkens, numa entrevista a
VTM Neuws94, que esse grupo seleto de prelados do alto escalão, atuou
como “um clube no estilo máfia que tinha o nome de St. Gallen” 95,
trabalhando por uma estratégia para eleger um papa que fosse capaz de
“uma reforma drástica da Igreja” 96, como desejava cardeal jesuíta Carlo
Maria Martini.

As reuniões em St. Gallen, na Suíça, começaram a ser realizadas por


Martini em 1996. Mas Daneels passou a integrar o grupo somente em
1999, junto com Adriaan Van Luyn, Walter Kasper, Karl Lehman, Basil
Hume, Achille Silvestrini, e outros. Tais encontros, em segredo, eram
considerados por eles como uma espécie de “férias espirituais” 97, aonde
não apenas discutiam a situação da Igreja pós Concílio Vaticano II, mas o
que deveriam fazer para efetuar as medidas revolucionárias que
desejavam para a Igreja. Em meio aos debates, indagavam: o que viria
31
depois de João Paulo II? Quem assumiria? Como eles poderiam influenciar
no conclave para garantir realmente a emergência de um modernista?
Martini chegou a ser cotado como um forte papável, em 1998. Mas no
conclave de 2005, o que conseguiram fazer foram 40 votos para outro
jesuíta: o latino-americano Jorge Mário Bergoglio.

IX – O fator Martini

Andreas English menciona que “havia surgido o plano usado de


escolher um homem do Novo Mundo”98. Quando viram que Martini
perdera as condições para ser eleito, mesmo sendo paparicado por muitos
políticos influentes, como George W. Bush e Helmut Kohl.

“Anos se passaram e o cardeal Carlo Maria Martini escreveu


diversos livros e deu entrevistas impecáveis .Várias obras foram escritas,
especulando como seria a Igreja Cat´lica, sob o comando do papa Carlo
Maria Martini. Karol Wojtila governou, sofreu e lutou, mas não saiu antes
do tempo. Foi assim que a época de Martini passou, aquela em que ele
seria o sucessor perfeito para o trono de Pedr. Agra, suas mãos trêmulas
já não conseguiam mais esconder que ele também sofria do mal de
Parkinson. Velho e fraco, ele evitava, cabisbaixo, os olhares
questionadores dirigidos a ele na capela. Mesmo assim muitos votaram
em seu nome na primeira eleição, mas seus ombros pareciam dizer: ‘Não
consigo mais fazer isso. Estou velho e doente demais.

Quando o cardeal Carlo Maria Martini saiu da disputa, começou o


questinamento se havia chegado o tempo da grande revolução. Seria

32
finalmente a vez do primeiro papa do continente americano? Nas últimas
décadas, havia surgido o plano ousado de escolher um homem do Novo
Mundo. (...) Um homem estava pronto para assumir essa empreitada: o
argentino Jorge Mário Bergoglio”99.

Martini faleceu em 31 de agosto de 2012, sete meses antes do


conclave que elegeria o sucessor de Bento XVI. O que mais chamou a
atenção, no momento do Habemus Papam, de 2013, foi Jorge Mário
Bergoglio se apresentar no balcão da Basílica de São Pedro, tendo a seu
lado, Cláudio Hummes e o membro do clube de St. Gallen, Godfried
Daneels.

Em abril de 2005, às vésperas do conclave que elegeu Ratzinger, o


Los Angeles Times destacou que os cardeais latino-americanos Cláudio
Hummes e Oscar Rodriguez Maradiaga “estariam se posicionando a favor
do italiano Carlo Maria Martini”100, porque divergiam da agenda
conservadora de Ratzinger, pois queriam uma Igreja que tivesse o ativismo
social (no “combate à pobreza e à injustiça” 101), como prioridade. Hummes
e Maradiaga se tornaram cardeais no mesmo consistório, em fevereiro de
2001, em que Bergoglio recebera também o barrete cardinalício.

A repórter do BBC Brasil, Assimina Vlahou, escreveu na ocasião do


conclave, que “o nome de Ratzinger foi citado pela imprensa italiana como
o único candidato certo, graças a cerca de 50 preferências entre os 115
cardeais eleitores. Em oposição à candidatura de Ratzinger, segundo os
vaticanistas, o nome mais cotado seria o do ex-arcebispo de Milão Carlo
Maria Martini”102.
33
Vlahou afirmou também que “Martini contaria com o consenso de
um grupo basicamente centro-europeu, formado pelos alemães Karl
Lehman e Walter Kasper, pelo francês Jean Louis Tauran, pelo tcheco
Miloslav Vlk, pelo belga Godfried Danneels e pelo norte-americano Francis
George”103. E ainda que “segundo o vaticanista Luigi Accattoli, do Corriere
della Sera, Ratzinger – que é decano do Colégio de Cardeais – teria o apoio
dos italianos Angelo Scola, Camillo Ruini, Tarcisio Bertone, Giacomo Biffi e
dos colombianos Afonso Lopes Trujillo e Dario Castrillon Hoyos”104. Além
de Cláudio Hummes e Godfried Daneels estarem ao lado de Jorge Mário
Bergoglio, em sua primeira aparição no balcão da basílica de São Pedro,
em 13 de março de 2013, foi o francês Jean Louis Tauran (como decano
dos Cardeais), que fizera o anúncio do Habemus Papam.

Ao falar sobre os bastidores do conclave de 2005, o padre Silvano


Fausti (que “era a pessoa mais próxima de Carlo Maria Martini. O cardeal
o escolhera como guia espiritual e confessor, confiava nele” 105, dissera que
Martini era o que tinha mais votos entre os cardeais progressistas, e
Ratzinger entre os conservadores. Fausti revelou também que “havia uma
manobra para ‘derrubar a ambos’ e eleger um cardeal ‘muito rastejante’
da Cúria. ‘Descoberto o truque, Martini foi à noite ao encontro de
Ratzinger e lhe disse: ‘Aceite amanhã se tornar papa com os meus votos’.
Tratava-se de fazer limpeza. ‘Ele lhe dissera: ‘Aceite você, que está na
Cúria há 30 anos e é inteligente e honesto: se conseguir reformar a Cúria,
bom, senão vá embora”106.

Que manobra teria sido esta para derrubar Martini e Ratzinger por
um cardeal mais rastejante da Cúria? 107 E por que o ultraprogressista
Martini teria votado e transferido votos para Ratinger? Se Martini era o
nome mais cotado entre os cardeais opositores a Ratzinger, por que
34
Bergoglio obtivera 40 votos no conclave, naquela ocasião? Se Fausti
afirmara que Martini “deslocou os seus consensos para Ratzinger” 108, por
que o também jesuíta Martini não teria apoiado Bergoglio no conclave de
2005? Teria sido por isso que Bergoglio recuara e desistira da sua
candidatura, tendo em vista que Martini deslocara votos para Ratzinger”?

No primeiro escrutínio Ratzinger havia alcançado 47 votos, faltando


ainda 30 votos para ser eleito. E a surpresa do primeiro escrutínio foram
os dez votos dados a Jorge Mário Bergoglio. E mais surpreendente ainda
foi Bergoglio ter obtido os 30 votos que faltaram a Ratzinger, logo após ele
ter obtido o apoio de Martini. O fato é que – reconhece Gelsomino Del
Guercio, em reportagem publicada no Aleteia italiano – que Bergoglio
emergiu naquele conclave como “il vero avversario di Ratzinger”109. E
mais: já contou, naquele momento, com um núcleo de apoiadores, dentre
eles o então presidente da Conferência Episcopal Alemã Karl Lehmann, e o
arcebispo de Bruxelas, Godfried Daneels.

O apoio ou não de Martini a Bergoglio, naquela ocasião, permanece


uma questão controversa, com opiniões divergentes, a suscitar
interrogações: Por que Martini, também jesuíta e ultraprogressista não
apoiaria Bergoglio?

Teria Bergoglio desistido ao atingir 40 votos (no terceiro escrutínio),


justamente pela falta de apoio de Martini? Naquele momento em que ele
desistira, Ratzinger ainda não havia alcançado 77 votos, mas apenas 72,
ultrapassando os cinco votos necessários, a mais, somente na quarta
votação, no dia 19 de abril. Del Guercio ressalta que algo falhou entre a
3ª e 4ª votação, pois “algumas preferências bergoglianas deslocaram-se

35
para Ratzinger”110, que alcançou 84 votos, ao todo, apenas oito a mais do
que precisava, e assim foi eleito o sucessor de São João Paulo II.

Andrea Tornieli, no entanto, refuta que Martini teria influído para


eleger Ratzinger, mas confirma que Bergoglio foi o principal adversário no
conclave de 2005, conforme o que escrevera um cardeal em um diário
secreto posteriormente revelado pelo canal de televisão italiano TG2 e
publicado pela revista Limes, dizendo que “são desmentidas as
reconstruções segundo as quais o cardeal Carlo Maria Martini, da mesma
idade do novo papa, antigo arcebispo de Milão, havia desempenhado um
papel determinante na eleição de Bento XVI. No entanto, confirma-se a
notícia publicada no periódico milanês ‘Il Giornale’ no dia seguinte ao
conclave: o único e verdadeiro adversário de Ratzinger que pôde contar
com um número consistente de votos, chegando até 40, foi o Arcebispo
de Buenos Aires, o jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio” 111. Apesar de
haver grande repercussão a publicação de trechos do diário secreto do
cardeal anônimo, nenhum cardeal fora punido pela Cúria Romana por
quebra do “voto de silêncio”112 exigido pelo Código de Direito Canônico.

X – Os votos do conclave de 2005

Segundo o referido diário secreto, Bergoglio apareceu em segundo


lugar em todos os escrutínios do conclave de 2005, com 26 votos na
votação final, que elegeu Ratzinger113.

Os apontamentos do diário secreto revelam os seguintes números


das votações dos quatro escrutínios:

36
“Primeira votação, 18 abril à tarde:

J. Ratzinger: 47 votos.

J. M. Bergoglio: 10.

C. M. Martini: 9.

C. Ruini: 6.

Angelo Sodano: 4.

O. R. Maradiaga: 3.

D. Tettamanzi: 2.

Segunda votação, 19 abril, 9:30 horas:

J. Ratzinger: 65 votos.

J. M. Bergoglio: 35.

C. M. Martini: 0.

C. Ruini: 0.

Angelo Sodano: 4.

D. Tettamanzi: 2..

Terceira votação, 19 abril, 11 horas:

J. Ratzinger: 72 votos.

J. M. Bergoglio: 40.

37
D. Castrillón: 1.

Quarta votação, 19 abril, 16:30 horas:

J. Ratzinger: 84 votos.

J. M. Bergoglio: 26.

C. Schönborn: 1.

G. Biffi: 1.

B. Law: 1.”114

Inicialmente, Martini era tido considerado o anti-Ratzinger, mas já


estava com a saúde debilitada e utilizando bengala, não causando uma
boa impressão aos cardeais, como conta Gerson Camarotti, em
reportagem publicada no jornal O Globo, de 25 de dezembro de 2005, e
em seu livro “Segredos do Conclave”, dizendo que “ ficou nítido para os
cardeais que ele estava muito doente”. E mais: “Na ocasião foi divulgado
que Martini estava com Parkinson”. E também Camarotti ressalta que
ainda “no primeiro escrutínio, o então arcebispo de São Paulo, cardeal
dom Cláudio Hummes, teria tido cinco votos. Segundo o relato feito pelo
cardeal brasileiro, ao mesmo tempo que os votos foram se concentrando
no alemão, Bergoglio passou a funcionar como um anti-Ratzinger” 115.
Hummes revelara a Camarotti detalhes do conclave, como diz na
reportagem. “Dessa conversa, Camarotti extraiu a conclusão de que o
caráter político da eleição do novo chefe da Igreja Católica foi mais forte
do que se havia divulgado até então”116. Dois anos depois do conclave que

38
elegera Bento XVI, Cláudio Hummes tornara-se mais cada vez mais
próximo de Bergoglio, que juntos redigiram o “Documento de
Aparecida”117, ao qual receberiam, no Brasil, Bento XVI, na histórica V
Assembleia do CELAM. Aproximação esta que foi se estreitando, ao ponto
do próprio Bergoglio reconhecer posteriormente que foi Cláudio Hummes
quem lhe indicara o nome de Francisco, assim que fora eleito papa, em
2013. Tanto Hummes quanto Daneels tiveram lugar de destaque, ao lado
de Bergoglio, quando Tauran anunciou o Habemus Papam.

Na biografia de Daneels, feita por Jürgen Mettepenningen e Karim


Schelkens, “além do cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, Danneels foi
imediatamente citado como um daqueles que tinham incentivado Jorge
Mario Bergoglio”118. Os biógrafos de Daneels contam também que Martini
acabara apoiando a candidatura de Bergoglio, “para bloquear a eleição de
Ratzinger”119, contradizendo o que dissera o padre Silvano Fausti. Mas
Martini não estava mais vivo em 2013. A sua presença no conclave de
2005, de algum modo, teria tido alguma influência para evitar o avanço da
candidatura de Bergoglio? Sobre o grupo de Saint-Gall, Mettepenningen e
Schelkens ainda contam que:

“A iniciativa do grupo criado contra o cardeal Joseph Ratzinger,


então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, foi tomada pelo
antigo arcebispo de Milão, o jesuíta Carlo Maria Martini, que se designou
a si mesmo como ‘anti-papa’. Martini convocou alguns encontros secretos
de bispos e cardeais em Saint-Gall, na Suíça, com o objetivo de 
modernizar a Igreja e reconciliá-la com o espírito do tempo, a fim de
superar o ‘atraso’ gerado, segundo Martini, por sua recusa da Revolução
francesa”120.

39
XI – Em 2005, “Bergoglio não era uma escolha segura”121

Jean-Marie Guénois, redator-chefe de Le Figaro, se sintoniza com a


posição de Fausti, em relação ao não apoio de Martini a Bergoglio, no
conclave de 2005, porque – segundo Guénois – “o Cardeal Martini, por
ocasião do Conclave que elegeu Bento XVI não apoiou seu confrade
jesuíta Bergoglio, que era, no entanto, o oponente do Cardeal Ratzinger.
Eles partilhavam o mesmo programa reformista, uma espécie de Concílio
Vaticano III, progressista em ato, mas o Arcebispo de Buenos Aires não
tinha boa reputação na Companhia de Jesus. Ele era conhecido por seu
caráter sombrio e autoritário que lhe tinha valido um longo afastamento
quando ele era encarregado do governo de uma província jesuíta” 122. Isso
corrobora o que a própria Elizabeta Piqué descreve em sua biografia de
Bergoglio, destacando que enquanto “na noite do Habemus Papam, 13 de
março de 2013, os sinos das igrejas de Roma repicam e os católicos
comemoram a eleição de Francisco”123, com entusiasmo, “na Casa
Generalícia da Companhia de Jesus, na via Borgo Santo Spirito, 4, reina um
silêncio sepulcral”124. E ressalta: “embora tenha sido eleito o primeiro
Papa jesuíta da história, não há festejo por detrás dos largos muros do
velho palazzo, erguido a poucos metros da Praça de São Pedro. O mesmo
acontece em muitas das casas que a Companhia tem mundo afora”125.

Sendo jesuíta, Martini sabia disso? E por que o padre jesuíta Jeffrey
Klaiber teria dito que “em toda a América Latina os jesuítas rosnaram
quando souberam quem tinha sido o eleito” 126, em 2013? Ainda ressalta
Piqué, por ocasião do Habemus Papam, que “entre muitos dos 20 mil

40
jesuítas que há no mundo reina o estupor, o espanto. O seu passado como
provincial da Argentina em tempos turbulentos faz com que muitos não
gostem dele”127.

O fato é que Bergoglio teve que recuar em 2005, pelas sombras que
pairavam em seu passado, especialmente à sua posição em relação à
ditadura argentina, ao tempo em que foi provincial jesuíta. Para Andreas
Englisch, “Bergoglio não era uma escolha segura” 128, no conclave de 2005,
justamente pelas suspeitas de que ele teria sido cúmplice da ditadura,
como afirmou, por exemplo, Graciela Yorio, irmã do sacerdote jesuíta
Orlando Yorio, que foi torturado na prisão, juntamente com o húngaro-
argentino Francisco Jalics. Para ela, Bergoglio entregou seu irmão aos
militares, como também Jalics, delatando-os. “Meu irmão não tinha
dúvidas sobre isso – declarou Graciela – E eu acredito em meu irmão”129.

Enquanto esteve preso na Esma (Escola de Mecânica da Marinha),


por durante cinco meses (de maio a setembro de 1976), Orlando Yorio
sofreu ameaças e privações (encapuzaram-no, amarraram-lhe na cama e o
deixaram sem comer e sem usar o banheiro), que lhe traumatizaram.
Yorio deixou escrito uma carta contando em detalhes os sofrimentos
vividos naquele período, afirmando que “o Provincial nada fazia para nos
defender, e nós começávamos a suspeitar de sua honestidade” 130. Yorio
não chegou a ver Bergoglio como papa, porque morreu em 2000, mas a
sua irmã Graciela chegou a gravar um vídeo, postado no youtube 131,
dizendo que Bergoglio foi cúmplice dos militares, e nada fez para evitar
que seu irmão fosse preso e torturado.

Dias depois do Habemus Papam de 2013, quando a imprensa


internacional trouxe à tona essa questão, o esquerdista Adolfo Perez

41
Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de 1980, veio a público defender Bergoglio
e negar que ele não fora responsável pela prisão de Yorio e Jalics. “Ele
preferiu uma diplomacia discreta, perguntar sobre os desaparecidos,
sobre os oprimidos. Não há provas de que ele foi um cúmplice porque ele
nunca foi um cúmplice. Disso tenho certeza” 132, afirmou Esquivel. O
episódio foi explorado por Horácio Verbitsky, em seu livro “O Silêncio”
(2005), aonde ele defende que houve cumplicidade da hierarquia
eclesiástica com a ditadura militar argentina, e aborda a participação de
Bergoglio no sequestro dos dois jesuítas 133. Jalics, no entanto, chegou a
tornar pública uma nota inocentando Bergoglio, dizendo que “ele não
denunciou a Orlando Yorio nem a mim”134.

Mas em 2005, durante o conclave, persistiam as dúvidas sobre a


posição de Bergoglio como Provincial jesuíta, naqueles anos, e tais fatos
teriam pesado para impedir que ele se tornasse papa, naquela ocasião.
Andreas Englisch conta que Bergoglio “estava pronto” 135, em 2005, “para
ser papa, mas o colégio de cardeais eleitores temeu escolher um papa que
pudesse ter depois revelada uma história de parceria com um dos regimes
mais violentos da América Latina. Acabaram optando pelo alemão
Ratzinger”136. Logo após o conclave, Bergoglio procurou meios para evitar
que aquele episódio pudesse trazer novos incômodos. Daí aceitou
conceder a entrevista aos jornalistas Sérgio Rubin e Francesca Ambrogetti,
dando a sua versão dos fatos, cujo relato se tornou um livro, publicado em
2010, com o titulo de “O Jesuíta” (Conversas com o cardeal Jorge
Bergoglio, S. J, Buenos Aires, Vergara, 2010, 192 ps.) 137.

Os 40 votos obtidos em 2005, fizeram Rubin exclamar: “ Nunca um


latino-americano havia tirado essa quantidade de votos para papa” 138. E
muito foi feito, nos oito anos seguintes, para Bergoglio marcar posição e
42
avançar na estratégia que o levaria ao triunfo de 2013. Ainda em outubro
de 2005, com poucos meses apenas do pontificado de Bento XVI,
Bergoglio foi eleito o representante latino-americano no Sínodo dos
Bispos, tendo obtido quase 80 votos entre “252 padres sinodais de 118
países”139. Ele também fora eleito representante da Conferência Episcopal
da Argentina, para o Sínodo, bem como Cláudio Hummes representante
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no mesmo Sínodo140.

Bergoglio e Hummes estariam juntos novamente (e também com


Oscar Rodriguez Maradiaga) trabalhando na redação do texto final da V
Assembleia da Conferência Episcopal Latinoamericana (CELAM), em maio
de 2007, realizada em Aparecida (São Paulo), com a presença do papa
Bento XVI no Brasil. Elizabeta Piqué destaca que, por meio do Documento
de Aparecida, Bergoglio “conclama a uma missão continental permanente
e ratifica a opção preferencial pelos pobres. E representará o programa de
ação do pontificado de Francisco”141. Diz ainda que desde o Grande Jubileu
do ano 2000, quando João Paulo II já estava a saúde debilitada, houve um
apelo de diversos cardeais latino-americanos para a realização de uma V
Conferência do CELAM. Parecia haver um movimento que desejasse
revolucionar a Igreja Católica, a partir da América Latina, “talvez intuindo
que desse episcopado diferente, próximo do povo, do Sul, pode vir uma
revolução que vai virar tudo de ponta cabeça” 142. Para conter os ímpetos
do episcopado latino-americano, o Vaticano acabou fazendo apenas um
Sínodo, postergando a realização da conferência requerida.

O fato é que, no contexto dessa pressão por mais voz e vez aos
latino-americanos, Jorge Mário Bergoglio, Cláudio Hummes e Oscar
Rodriguez Maradiaga receberam o barrete cardinalício no consistório de
2001, aonde foram nomeados cardeais o maior número até então de
43
latino-americanos. “Foi o momento em que a Europa perdeu o seu lugar
dominante no Colégio Cardinalício. Os europeus ainda eram o maior bloco
de eleitores (65), mas foram superados, pela primeira vez, pelo conjunto
dos membros não europeus. E entre estes os latino-americanos eram, de
longe, o maior bloco: 27 barretes vermelhos na sequência do consistório
de fevereiro de 2001, enquanto a América do Norte, a África e a Ásia
tinhas 13 cada, com a Oceania possuindo apenas 4” 143. No mesmo
consistório havia sido nomeado cardeal o argentino Jorge María Mejía,
grande amigo de Bergoglio (arquivista e bibliotecário dos Arquivos
Secretos do Vaticano e da Biblioteca Vaticana, secretário do
departamento de Ecumenismo do CELAM, desde 1967), que fora decisivo
para fazer dele bispo em 1992. Mejía sofreu um ataque cardíaco no
mesmo dia em que Bergoglio fora eleito papa, falecendo em dezembro do
ano seguinte. Bergoglio fez questão de visitá-lo, logo após assumir o
pontificado. E ainda, dentre os europeus, foram nomeados cardeais
Walter Kasper e Karl Lehman, aliados de Bergoglio não apenas no
conclave de 2013, mas também no controverso Sínodo das Famílias, em
2014-2015.

Ainda antes do conclave de 2005, o nome de Bergoglio já era


considerado uma possibilidade para a revolução que os latino-americanos
desejavam, e que após o consistório de 2001, começou a ganhar força,
ainda mais quando Martini também apresentou os sintomas do Parkinson.
Por isso Andreas Englisch foi categórico em dizer:

“Quando o cardeal Carlo Maria Martini saiu da disputa, começou o


questionamento se havia chegado o tempo da grande revolução. Seria
finalmente a vez do primeiro papa do continente americano? Nas últimas
décadas havia surgido o plano ousado de escolher um homem do Novo
44
mundo (...) Um homem estava pronto para assumir essa empreitada: o
argentino Jorge Mário Bergoglio”144.

Para Sandro Magister, Bergoglio era papabile desde 2002145.


Juntamente com Hummes, Maradiaga e o cardeal chileno Francisco Javier
Errázuriz Ossa, a pressão pela V conferência do CELAM fora de Roma,
continuou, até que São João Paulo II aceitou que ela fosse realizada. Mas
somente Bento XVI decidiu que a conferência fosse realizada no Santuário
de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no Brasil, em maio de 2007.

A V Conferência do CELAM, para mim, também foi muito


significativa, porque não somente estive pessoalmente em Aparecida
(depois falarei disso quando fizer alguns apontamentos pessoais sobre o
impacto do conclave de 2013), mas especialmente porque foi na Basílica
de Aparecida que recebi a comunhão das mãos de Sua Santidade, Papa
Bento XVI, no domingo, Dia das Mães, dia 13 de maio de 2007. Na fila da
comunhão, estava na minha frente, o amigo, Dr. Ives Gandra da Silva
Martins, que fez a apresentação da primeira lei orgânica pró-vida do
Brasil, quando fui presidente da Câmara Municipal da minha cidade e
promulguei o primeiro texto constitucional local, em defesa da vida e da
família. Naquele domingo era a segunda vez que recebia a Santa
Comunhão das mãos de um papa. Na primeira vez, havia sido na Basílica
de São Pedro, na tradicional Missa do Galo, na véspera de Natal, em 24 de
dezembro de 1993, quando também recebi a Santa Comunhão das mãos
do papa São João Paulo II. Tais acontecimentos, tomaram mais
importância, na minha caminhada de fé, como católico apostólico
romano, mesmo depois das provações da fé, vividas especialmente depois
do conclave de 2013.

45
XII – Das conversas com Frei Betto, no convento dos dominicanos

Quando Magister considerava Bergoglio papapile em 2002, logo


após o consistório de 2001, que também fizera Cláudio Hummes cardeal,
recordei-me de um fato que relatara num artigo ao Fratres in Unum:

Em 1996, enquanto percorria um dos corredores da PUC-SP, vi um cartaz que


anunciava um curso de grego, no convento dos dominicanos, na rua Atibaia, próximo
dali. Eu não tinha suficiente informação, na época, para saber a história daquele
convento (um reduto esquerdista, ninho dos TLs, onde residia Frei Betto), e inscrevi-
me no curso, tendo sido, por alguns meses, aluno da Ir. Sônia de Fátima Battagin, que
depois viajou como missionária para o Gabão.

46
Eram duas aulas no mesmo dia, uma no começo e outra no final da manhã,
ficando, portanto com um intervalo de quase uma hora e meia, em que eu ficava
aguardando na biblioteca do convento. Foi lá que tomei contato, mais profundamente,
com toda a literatura marxista que já grassava dentro da Igreja, nos seminários,
faculdades, etc., teses de doutorado e mestrado, as obras de Gustavo Gutierrez,
Joseph Comblin, Leonardo Boff et caterva.

Enquanto lia aquilo tudo, com uma certa tristeza, constatava que não tinha
nada a ver com o Catecismo da Igreja Católica, era um outro conteúdo, uma
deturpação, uma corrosão e um desvio de doutrina, com todos os reducionismos e
equívocos que fariam da ideologização da fé um dos piores efeitos da Teologia da
Libertação e do relativismo.

Como frequentei a biblioteca por alguns meses, nos intervalos das aulas de
grego, Frei Betto passava por lá, conversava com quem lá estava, trocava ideias, e, em
alguns momentos, conversamos sobre toda aquela literatura, a crise da Igreja pós
Vaticano II, sendo ele um ardoroso defensor da democratização da Igreja, do
sacerdócio feminino, do celibato opcional, etc. Ele então, de bom grado, aceitou que
gravássemos as conversas, que eu pretendia transcrevê-las para estudo e publicação,
com todos os questionamentos que eu desejava fazer, mesmo ainda sem ter grande
conhecimento do quanto tudo aquilo destoava da sã doutrina católica.

Somente agora, vinte anos depois, revendo aquelas fitas, pude entender o que
estava acontecendo, o que ocorreu nos anos 70-80-90 na vida da Igreja, especialmente
no Brasil e na América Latina. E o que conversei com Frei Betto, nas conversas
gravadas e informais, confirma que havia, sim, um projeto de poder regional (a Pátria
Grande), como expressão do internacionalismo de esquerda, especialmente após a
criação do Foro de São Paulo, em 1990. E o aparelhamento da Igreja foi fundamental
para a expansão desse projeto de poder, com Lula como uma das lideranças-chaves
desse projeto de poder, concebido para ser duradouro, um projeto totalitário, com a
retórica da democracia como método revolucionário. O biógrafo de Lula estava tão
convencido do sucesso desse projeto de poder pela capacidade de organização do PT e
de sua extraordinária eficácia na captação de recursos e da mobilização das bases (das
OnGs e movimentos criados para dar suporte ao PT), tudo isso possível pelo

47
aparelhamento das instituições, da imprensa, dos meios acadêmicos, especialmente
da Igreja. Disse-me que os movimentos populares (e também o PT) tinham muitos
bispos e até cardeais trabalhando, em silêncio, nos bastidores, para a concretização do
projeto de poder das esquerdas, dos movimentos populares, etc. E que esse
aparelhamento fazia a força do PT, e o tornava quase que imbatível. E chegando ao
poder (o que para ele era inevitável), fariam a revolução, dando poder aos conselhos
populares, etc.

Mas o que mais me impressionou daquelas conversas, já, naquela época, foram
duas convicções de Frei Betto, naquele distante ano de 1996:

1. Eles fariam Lula Presidente da República, sem dúvida alguma, ele estava
absolutamente convencido disso (estávamos ainda no primeiro mandato de
Fernando Henrique Cardoso);

2. Eles fariam um papa latino-americano.

E dentre os bispos que estavam trabalhando para isso, eles podiam contar com
D. Cláudio Hummes, na época, arcebispo de Fortaleza146.

XIII – Cláudio Hummes, o amigo de Lula

Uma reportagem da revista Veja, em 2002, dizia que Cláudio


Hummes estava na lista de papáveis147. Ao ser escolhido para dirigir os
Exercícios Espirituais ao papa João Paulo II, em 2002, Hummes mostrou
seu prestígio junto à Cúria Romana, meses depois de ter sido nomeado
cardeal. Em janeiro de 2003, ele assumiu o comando da Congregação para
o Clero, chefiando cerca de 400 mil sacerdotes, em todo o mundo.
Naquele mesmo ano, Frei Betto despachava no terceiro andar do Palácio
do Planalto, numa sala ao lado do amigo Luís Inácio Lula da Silva, que
iniciava seu primeiro mandato como Presidente da República. Na ocasião,

48
muitos bispos quiseram eleger Cláudio Hummes presidente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dada a sua proximidade com
Lula, que chegou a ir pessoalmente em Itaici para influenciar os bispos a
votarem em Cláudio Hummes. Mesmo sem ser candidato, Hummes
recebeu 64 votos, tendo sido eleito Geraldo Magella Agnelo, com 207
votos. Amaury Castanho, bispo de Jundiaí, enfatizou aos colegas que havia
“uma ponte excelente”148 entre Hummes e Lula. Dias antes da assembleia
da CNBB, Hummes celebrou a missa do Dia do Trabalho em São Bernardo
do Campo e “pediu aos presentes que saudassem a chegada de Lula com
‘vivas’”149. Foi Hummes quem conseguiu viabilizar o encontro de Lula com
o papa João Paulo II, no Brasil, aonde Lula esperou duas horas, sob chuva,
pelo encontro, antes do papa dar início à celebração no estádio do
Morumbi, em São Paulo.

Mesmo depois de eclodir o escândalo do mensalão, Hummes foi


enfático ao dizer no programa de televisão Roda Viva: “Eu continuo sendo
amigo dele, admiro ele muito e creio que foi um dos sinais maiores do
Brasil diante do mundo (...) mas eu gostaria de dizer que eu continuo
vendo o Lula como uma pessoa absolutamente honesta” 150. E ainda ao ser
indagado o que falaria para ele, assim que o reencontrasse, Hummes
afirmou: “Eu daria a ele um grande abraço, certamente daria a ele um
grande abraço e diria que eu espero que ele consiga dar a volta por cima e
reconstruir esse governo e levar em frente o governo e terminar, [é] isso
que eu diria a ele. E eu espero isso dele, que tem capacidade de fazer isso.
A estrutura moral interior ele tem, para isso” 151. A amizade de Cláudio
Hummes e Lula perdurou até depois de sua saída da Presidência da
República, tendo sido recebido pelo líder petista, no Instituto Lula, em São
Paulo, mesmo depois do surgimento da Operação Lava Jato152.

49
As conversas com Frei Betto impactaram não apenas pela convicção
de que eles fariam (o grupo deles) Lula presidente, mas também um papa
latino-americano, com Cláudio Hummes como uma peça chave para
chegarem a esse propósito, atuando e ocupando postos de decisão nos
discatérios romanos , com mais intensidade no período em que João Paulo
II estava cada vez mais doente, e com as forças físicas diminuídas . É claro
que Hummes estava integrado não apenas num grupo, mas num
movimento, que logo após o Grande Jubileu do ano 2000, estava
determinado a fazer um papa latino-americano e uma revolução profunda
na Igreja, como a que Leonardo Boff indicou nos capítulos VI e VII capítulo
de seu livro escrito em 1985: “E a Igreja se fez povo”. Não apenas o que
estava contido naqueles dois capítulos, mas também retomando as
conversas com Frei Betto, vinte anos depois, pude verificar que havia, si,
todo um programa, de uma “outra Igreja”, já pronto nos anos 80-90, e que
começou a ser implementado por Bergoglio, a partir do momento em que
surgiu na loggia da basílica de São Pedro, em 13 de março de 2013,
curvando-se ao povo, e dizendo que ali começava um novo caminho.

XIV – O fator Maradiaga

Além de Hummes, outra importante peça-chave dessa


movimentação (também nomeado cardeal no consistório de 2001) era o
hondurenho Oscar André Rodriguez Maradiaga, sobre quem escrevi um
breve artigo no Fratres in Unum:

50
“(...) Mas quem é Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, predileto de Boff e a
pessoa de confiança de Francisco?

Maradiaga teve um braço de ferro com Bento XVI, em maio de 2011, quando
este se opôs que Lesley-Anne Knight fosse reeleita secretária-geral da Cáritas
Internacional153. Maradiaga, então, presidia a instituição que, na visão de Bento XVI,
havia perdido sua identidade católica. Atesta este fato o que recordamos, de
passagem: a Caritas brasileira é financiada nada mais nada menos que pela abortista
Fundação Ford154.

Com o veto de Bento XVI, Lesley-Anne Knight foi acolhida para secretariar
o grupo “The Elders”155, que reúne 12 líderes mundiais anciãos, presidido por Nelson
Mandela e do qual faz parte Fernando Henrique Cardoso. A entidade propõe, entre
outras coisas, como explica Monsenhor argentino Juan Claudio Sanahuja, “o acesso
das mulheres ao ministério sagrado das denominações cristãs” 156. Seus membros são
financiados pela Open Society, de Georges Soros.  Poder-se-ia depreender, dessas
ligações, algumas das motivações pelas quais nossos pastores atualmente preferem
não se apresentar como “obcecados” por temas morais?

Ainda sobre “The Elders”, o meu professor de Bioética, Monsenhor Michel


Schooyans, assim explicou em uma de nossas aulas na PUC-RJ, em 2010: “Limitar-nos-
emos aqui a ressaltar a hostilidade desse grupo de ‘The Elders’ face às Igrejas cristãs
que se recusam a ordenar mulheres.  Eis como se argumenta: assim como os espaços
da atividade secular, anteriormente reservados aos homens, tornaram-se acessíveis às
mulheres, assim também os espaços da atividade religiosa, hoje reservados aos
homens, devem ser abertos às mulheres” 157 (Ver um resumo do pensamento dos
Anciãos na página da entidade158.

Além de delegar a Maradiaga a coordenação do grupo de Cardeais para estudar


a reforma da Cúria, Francisco sinalizou que ele terá força e aval no que proporá, pois,
na sua última e controversa entrevista, quando o padre Antonio Spadaro lhe lembrara
que “o estilo de governo da Companhia implica a decisão por parte do superior, mas
também o atender ao parecer dos seus ‘consultores'” 159, Francisco respondeu, com

51
precisão: “Sim, devo acrescentar, no entanto, uma coisa: quando entrego uma coisa a
uma pessoa, confio totalmente nessa pessoa”160.

Ocorre que Maradiaga, a quem Francisco confiou os estudos para a reforma da


Cúria, faz parte do “Religions for Peace”161, entidade que , junto com os “The Elders”,
vêm trabalhando para mudar os princípios morais e a disciplina da Igreja
Católica, entre outras medidas, como conta Sanahuja em “Poder Global e Religião
Universal”, “para impor uma nova ética ou religião universal que consinta, por um
lado, no relativismo moral e, por outro, na idolatria da lei positiva – a lei civil – o que é
fruto de consensos parlamentares ou políticos que vão mudando ao longo do tempo
para servir  aos interesses de quem esteja no poder. Obviamente, o grande inimigo
deste programa é a doutrina imutável de Jesus Cristo anunciada aos homens pela
Igreja Católica”162. Os “The Elders” e a “Religions for Peace” fazem parte das forças
globalistas para minar a moral católica. E então, diante disso, como explicar que um

Cardeal da Santa Igreja Romana faça parte dos quadros de similar organização? 163

XV – “Pátria Grande” latino-americana, a utopia

Em março de 2005, um sorridente Maradiaga, numa entrevista de


televisão dizia estar confiante de que um sopro do Espírito santo “no
momento oportuno”164, traria novamente uma abertura de janela, a
exemplo do que ocorreu em 1958, com João XXIII, do mesmo modo, pois
ele estava convicto de que haveria uma surpresa para a Igreja, na hora
adequada. Um papa latino-americano seria essa surpresa que Maradiaga
(como também Leonardo Boff e tantos outros) tanto ansiavam? O fato é
que Bergoglio teve 40 votos pouco mais de um mês depois daquela
entrevista. E no conclave de 2013 recebeu “mais votos do que Ratzinger,
em 2005. Ao fim são 88; só trinta cardeais não votaram nele” 165.

52
Na mesma entrevista, Maradiaga se diz um entusiasta defensor da
integração latino-americana, não somente econômica, mas política 166, e
tanto Maradiaga (candidato preferido de Leonardo Boff, como ele mesmo
expressou no programa de televisão, no dia da renúncia de Bento XVI),
quanto Bergoglio (eleito papa em 2013) eram defensores da integração
latino-americana, do bloco regional conhecido por “Pátria Grande”,
ideologicamente alinhado com o internacionalismo de esquerda. Sobre
essa questão, também escrevi o seguinte artigo:

Conta Carlos Peñalosa que Fidel Castro, desde jovem, ainda quando era
estudante de direito da Universidade de Havana, já tinha em mente retomar e colocar
em prática a ideia e o projeto de poder totalitário da “Pátria Grande”, conceito este
que veio não de Bolívar, mas de Francisco de Miranda, e que servia aos propósitos e
interesses do internacionalismo socialista (das forças de esquerda). Com o Foro de São
Paulo, a partir dos anos 90, Fidel Castro, Hugo Chávez, Lula e tantos outros tiranetes
sul-americanos se encantaram com o discurso sedutor de Fidel, que via no projeto da
“Pátria Grande” a forma de concretizar a extensão da revolução cubana para toda
América Latina. Mas, para que tal projeto se consolidasse, depois de um bem sucedido
processo gramscista de tomada de postos e aparelhamento das instituições, o próprio
Fidel se convenceu de que era preciso instrumentalizar a Igreja Católica para tais fins,
entendendo o fenômeno religioso como dado sociológico. E nesse sentido, a teologia
da libertação desempenhou um papel relevante no processo de ganhar padres e
bispos para a causa da “Pátria Grande” socialista. Como explica Miguel Ángel Barrios,

“…es la Teología de la Liberación post Concilio Vaticano II. Esta última, es la


primera estrictamente latinoamericana. Más allá, de las apasionantes polémicas y de
sus diferentes vertientes, la Teología de la Liberación unificó la opción preferencial por
los pobres y la justicia. Y dentro de ella, la variante de la Teología de la Cultura,
representada por figuras como el Padre Lucio Gera, Monseñor Gerardo Farrell y por el
teólogo y filósofo uruguayo, Alberto Methól Ferré. Esta Teología, variante de la oleada

53
de la Teología de la Liberación, acentúa el tema de la religiosidad popular, de los
pobres y la cultura, y la de la revalorización de la historia latinoamericana, de la Patria
Grande”167.

Foi em 1985 que Fidel Castro resolveu aproximar-se dos bispos cubanos para
atrai-los, aos poucos, em sua estratégia. E houve anuência e colaboração de muitos
nesse sentido. Fidel já havia realizado encontros com “os Cristãos pelo Socialismo”,
inclusive em outros países latinoamericanos, como no Chile, em 1972. Ele próprio dizia
que “esse movimento brotou em diversos lugares da América Latina após o triunfo da
Revolução Cubana”. Com a aproximação com o clero cubano, Fidel Castro buscou
intensificar sua aposta dos “cristãos pelo socialismo”.

Em 1986, foi realizado o Encontro Nacional Eclesial Cubano (ENEC), que o então
Cardeal Pirônio chamou de “um verdadeiro Pentecostes para a Igreja de Cuba” 168. No
mesmo ano, o Comitê Central do Partido Comunista de Cuba chamou François Houtart
para dar um curso acelerado de sociologia da religião, e como explica o próprio
Houtart:

“A razão foi que intelectuais marxistas de Cuba, que estavam em contato com
Nicarágua, El Salvador, Guatemala, e com muitos cristãos comprometidos com a ação
revolucionária e também com a Teologia da Libertação não podiam mais aceitar que a
religião era necessariamente o ópio do povo. E se vocês são realmente marxistas, não
podem ser dogmáticos”169.

Era preciso, portanto, aproximar os marxistas dos cristãos, e ainda mais,


disseminar a teologia da libertação no seio da Igreja (as várias vertentes da teologia da
libertação e também a chamada teologia do povo, dentre outras variantes da mesma
fé revolucionária). Francisco Mele entende a teologia do povo “como superação da
teologia da libertação, embora não renegando-a”170.

E a partir dessa tônica, padres e bispos foram sendo “catequizados” pela “nova
teologia” libertária, preparando assim uma ressignificação dos conteúdos da fé, para
que padres e até bispos se tornassem apóstolos dóceis da nova utopia da “Pátria
Grande”, ajudando a construir a nova realidade geopolítica e cultural no continente
54
latino-americano. Poucos anos depois, em 1993, os bispos cubanos publicaram uma
“Carta Pastoral”171, abertos ao diálogo, tratando o regime de Fidel Castro como se
fosse democrático e legitimamente constituído. Com a visita do Papa São João Paulo II
a Cuba, o terreno estava aplainado e o processo de cooptação de padres e bispos se
intensificou, por parte dos comunistas cubanos, sob o comando de Fidel Castro. O
próprio Mario Jorge Bergoglio, que coordenou a edição do livro “Diálogo entre João
Paulo II e Fidel Castro”172, destaca na obra que “Fidel propôs aliança entre marxistas e
cristãos”173. “A nossa presença no meio deles – escreveu Leonardo Boff – não deve ser
tanto como agentes que vêm da grande tradição” 174, reconhecendo que, naqueles
anos 80-90, já haviam “franciscanos cardeais, bispos, sacerdotes e leigos” 175 dispostos
à esta “liberdade para a utopia” 176, à utopia revolucionária, tão bem expressa no
projeto de poder da “Pátria Grande”. O próprio Lula reconheceu, em reunião do Foro
de São Paulo177, dever muito aos cubanos o esforço por viabilizar a integração latino-
americana da “Pátria Grande”, e fez o apelo para isso, para que as forças
revolucionárias estejam cada vez mais envolvidas neste projeto de poder, projeto
este convergente com interesses do internacionalismo de esquerda, favorecendo
inclusive potências de fora da América Latina, como a China, por exemplo, que tanto
tem se beneficiado ideológica e economicamente, com tal projeto de poder.

Mas o avanço da “Pátria Grande” não teria sido possível sem os setores da
Igreja imbuídos de teologia da libertação e movidos pelos interesses políticos do
internacionalismo de esquerda, setores esses que ocuparam postos de decisão dentro
da Igreja e estão hoje inclusive dentro do Vaticano, agindo para intensificar a
instrumentalização da Igreja para os fins políticos da “Pátria Grande”, fins estes que
contrariam os princípios e valores da sã doutrina católica. A Igreja vive, portanto, nesse
momento, uma tensão sem precedentes, tomada pelas forças revolucionárias — as
forças modernistas que São Pio X tão bem definiu como “síntese de todas as
heresias”178 –, e não se sabe como a verdadeira Igreja de Cristo conseguirá se libertar
de tais forças, alinhadas também com uma agenda globalista inumana e anticristã. O
fato é que tais forças estão minando, por dentro, a sagrada doutrina. Padres e bispos
(e também leigos) dispostos a defender a sã doutrina católica padecem o martírio
cotidiano das retaliações, perseguições, coações e pressões, para que ninguém fale

55
nada, e todos aceitem a ressignificação da “nova teologia” a sustentar
ideologicamente a panaceia da “Pátria Grande”.

“Pátria Grande”: ideólogos influentes

O problema é que a “Pátria Grande” tem ideólogos influentes [Manuel


Ugarte, Alberto Methól Ferré, Gusmán Carriquiry, entre outros] também na Igreja;
autores e mentores inclusive com poder de decisão nas altas esferas eclesiásticas,
como Carriquiry, por exemplo. Gusmán Carriquiry [o mais influente leigo na cúria
romana] está no Vaticano desde Paulo VI, e gosta de lembrar que “desde Puebla” tem
trabalhado lá como ponte com o CELAM. Em 13 de março de 2015, Carriquiry
palestrou na Universidade Católica Argentina, ocasião em que algumas lideranças de
esquerda [entre elas, Leonardo Boff] apresentaram o movimento social chamado “O
coletivo de Francisco”179. A relação de Jorge Mario Bergoglio com Carriquiry é de muita
proximidade e de apoio ao projeto da “Pátria Grande”, apoio este de longa data, como
comprova este vídeo de 2005180, quando o então arcebispo de Buenos Aires recebeu
Carriquiry na Universidade Católica Argentina. Bergoglio inclusive prefaciou a obra de
Carriquiry, intitulada “El Bicentenario de la Independencia de los Países
Latinoamericanos”181.

Marcello Gullo, ao escrever sobre “o pensamento geopolítico” 182 de Bergoglio,


diz claramente que “as raízes mais profundas” 183 de seu pensamento está no socialista
Manuel Ugarte. O próprio Gullo chama Bergoglio de “apóstolo da Pátria Grande”184:

“La sola lectura del pensamiento del Cardenal Bergoglio demuestra que
solamente desde el prejuicio, la ignorancia o la mala fe, puede afirmarse que el
Cardenal Bergoglio ha sido elegido Papa para obstaculizar el actual proceso de
integración política suramericano y para destruir el proyecto de construir la Gran
Patria Grande con que soñaron los libertadores Simón Bolívar y José de San Martín. El
ahora Papa Francisco será, muy por el contrario, el “apóstol de la unidad”, de la Patria
Grande”185. 

E muitos outros autores confirmam o quanto avançada está a


instrumentalização da Igreja no processo da integração latino-americana, sob o ideário
da “Pátria Grande”, alinhado ao internacionalismo socialista. É o que diz Miguel Ángel

56
Barrios, autor de “El Latinoamericanismo en el pensamiento político de Manuel
Ugarte”186, com ênfase:

“:…el Pueblo Católico Universal será potencializado por Nuestra América y la


Patria Grande potencializará al Papa a favor de los débiles del mundo” 187. 

E ainda:

“Pasamos ahora, al hecho histórico que trasciende al hombre, en un momento


singular de la Historia de la Iglesia como pueblo Universal y de América Latina en su
camino hacia la Patria Grande. El circulo cultural latinoamericano tiene su raíz en la
Iglesia católica, por eso, los Movimientos Nacionales Populares no cayeron en el
anticlericalismo oligárquico de la segunda mitad del siglo XIX de nuestras repúblicas
insulares”188. 

Movimentos populares estes que foram recebidos no Vaticano, com a presença


do próprio Evo Morales, defensor da “Pátria Grande”189.

Não só Evo Morales, mas Dilma Roussef190 e quase todas as lideranças de


esquerda latino-americanas, estão comprometidas com os propósitos do Foro de São
Paulo, na defesa da “Pátria Grande” socialista.

Miguel Ângel Barrios diz mais:

“El Mercosur, el Alba, la Unasur y la Celac potencia a la Iglesia como pueblo de


Dios y el Papa, únicamente se potencializará con nosotros. Es una interconexión mutua
y reciproca. Los pueblos sin misión, mueren y los hombres, sin visión, también mueren.
Aquí reside la necesidad de interpenetrarnos con el Papa desde nuestra identidad y
nuestra historia.

Como anécdota personal, muy simple, de las infinitas que se han contado en
estos días, contaré algo que me atañe, y tiene que ver, con este sentido de esperanza.
Mi tesis doctoral en Ciencia Política presentada en la USAL bajo la dirección de Alberto
Methol Ferré – al cual Bergoglio admiraba y presento su libro “La América Latina del
Siglo XXI – fue “El Latinoamericanismo en el Pensamiento Político de Manuel Ugarte”,
publicado en el 2007. Un día, me sorprendió una llamada breve del Cardenal Bergoglio,
diciéndome ‘ha llegado la hora de la Patria Grande’, en relación al libro” 191.

57
Não só Bergoglio, mas também o Cardeal Maradiaga [o chefe do Conselho de
Cardeais para a reforma da cúria romana – C8] também prefaciou o livro de Carriquiry,
“Uma Aposta pela América Latina”192. Cabe lembrar que Maradiaga presidiu por muitos
anos a Cáritas internacional, tendo então sérios problemas com Bento XVI, e
recentemente uma reportagem na Alemanha critica a ideologia marxista impregnada
na Cáritas193.

Francisco Mele, ao esboçar “um perfil geopolítico-teológico do Papa


Francisco”194 ao jornal La Repubblica, reconhece que:

“O projeto geopolítico ao qual se volta a simpatia do Papa Francisco é o


de Bolívar, mas também o de Artigas, de San Martín e de tantos outros patriotas
latino-americanos: a unidade da América do Sul como contrapeso aos Estados Unidos,
a superpotência que representa os interesses do Norte. Bergoglio disse e escreveu em
várias ocasiões sobre a unidade latino-americana. Por exemplo, referindo-se ao livro
do secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, Guzmán Carriquiry, sobre
a América Latina do século XXI, publicado em 2011 por ocasião do bicentenário das
independências dos países latino-americanos. Sobre a atualidade da integração latino-
americana, dentre outras coisas, a Conferência Episcopal Argentina também interveio
em 2008, inspirada pelo próprio bispo de Buenos Aires. Outro interlocutor
de Bergoglio nessa questão foi a filósofo e historiador uruguaio Alberto Methol
Ferré”195.

Nesse sentido, vemos, por toda a parte, em blogs, periódicos e mídias da


esquerda, ampliar cada vez mais a ação de Bergoglio na defesa da “Pátria Grande”,
confirmada em sua viagem à América Latina, em julho de 2015, especialmente no
pronunciamento que fez na Bolívia aos Movimentos Populares 196. “Papa Francisco pide
construir la Patria Grande de Bolívar y San Martín” 197, afirma a manchete do
“CubaDebate en Panamericanos”, ainda em novembro de 2013.  E na entrevista com
Fenando “Pino” Solanas, Bergoglio afirmou: “El sueño de la PATRIA GRANDE de San
Martín, Bolívar, es algo que hay que recuperar”, como é possível ver neste vídeo198, aos
07:54. 

58
Todos sabem que Bergoglio secretariou e influiu na redação final do
Documento de Aparecida. Foi então incluído no item 525, o conceito de “Pátria
Grande”:

“A dignidade de nos reconhecer como família de latino-americanos e


caribenhos implica uma experiência singular de proximidade, fraternidade e
solidariedade. Não somos mero continente, apenas um fato geográfico com mosaico
ininteligível de conteúdos. Muito menos somos uma soma de povos e de etnias que se
justapõem. Una e plural, a América Latina é a casa comum, a GRANDE PÁTRIA de
irmãos… (525) E ainda: “NOSSA PÁTRIA É GRANDE, mas será realmente “GRANDE”
quando o for para todos, com maior justiça… (527)” 199. 

 Trata-se de um novo idealismo político

A instrumentalização da Igreja para os fins utópicos da “Pátria Grande” é


certamente um dos problemas mais sérios da atualidade, com desdobramentos
imprevisíveis, sob todos os aspectos. Não se trata de um fenômeno irrelevante ou
algum modismo que deve passar facilmente. Trata-se de um projeto de poder
totalitário, que tem conseguido neutralizar a Igreja por dentro. O fato é que há uma
tensão de forças antípodas. Por exemplo, a “Pátria Grande” bolivarianista visa destruir
o que eles chamam de “eurocentrismo”200. E nos faz lembrar de Joseph Ratzinger, que
escolheu o nome de São Bento, padroeiro da Europa, quando assumiu o seu
pontificado, em 2005. É evidente que há uma tensão, dois olhares da realidade, e a
“Pátria Grande” parece não sinalizar para a verdadeira concepção católica. O fato é
que a “nova teologia” que visa a utopia da “Pátria Grande” tende ao grave equívoco e
desvio da verdade, não sendo nem mesmo teologia, mas ideologia anticatólica.

E o mais grave não são as consequências políticas, mas acima de tudo,
espirituais, pois está evidente que as forças de esquerda que agem no seio da Igreja
querem substituir a “teologia católica” de sempre pela “nova teologia”, que visa a
subversão da sã doutrina. O apoio à “Pátria Grande” por altos prelados da Igreja causa
grande apreensão. Os católicos sabem que só estarão seguros e salvos ancorados na sã
doutrina de sempre, ensinada e testemunhada por Nosso Senhor Jesus Cristo, que deu
vigor à Igreja, em sua história bimilenar. E dará o vigor até o final dos tempos.

59
A exemplo do que ocorreu com o arianismo, no séc. IV, poucos são os que
percebem a gravidade da situação no momento e muito menos ainda estão dispostos
a denunciar o erro, por amor à verdade e à Igreja. Temem as retaliações e
perseguições, inclusive dos próprios setores da Igreja comprometidos com os enganos
desse novo utopismo. A ideologia e o projeto de poder da “Pátria Grande”, de
interesse do internacionalismo de esquerda, ao ser defendido e irradiado pelo próprio
Vaticano, traz muitas apreensões. Não parece tratar-se de uma aposta com realismo. E
a doutrina social da Igreja é profundamente realista, por isso a Igreja é “perita em
humanidade”. A utopia da “Pátria Grande” trata-se de um novo idealismo político, com
os riscos já conhecidos de sombras totalitárias.

Carlos Peñalosa diz que Fidel Castro sempre foi mais que um líder político, mas
um homem de ideias e de sonhos, e justamente tal “idealismo”, como a história já
confirmou tantas vezes, conduz a soluções políticas perigosas por justamente faltar o
senso da realidade. A Igreja, na sua força sobrenatural de “comunhão dos santos”,
deve estar orante e vigilante, fiel à sã doutrina, com a convicção da promessa de Nosso
Senhor Jesus Cristo de que as portas do inferno não irão prevalecer201.

XVI - Descentralização da Igreja como estratégia

Vendo entrevistas de Maradiaga e de Bergoglio no youtube202 (antes


do conclave de 2013), percebe-se que o candidato a papa preferido por
Boff, tem muito mais envergadura intelectual e desenvoltura de
comunicação, e não se compreende por que Bergoglio acabou sendo
escolhido pelas forças progressistas dentro da Igreja, mesmo tendo sido
Maradiaga chamado a coordenar o grupo de cardeais comprometidos em
realizar a reforma da cúria romana. Como presidente da Cáritas
Internacional e membro do Religions for Peace, por que Maradiaga não
60
conseguira força política suficiente para obter os votos necessários no
conclave? Maradiaga não apoiara Zelaya, no golpe de 2009, em Honduras.
Mas Bergoglio também não estava tão à esquerda no período da ditadura
militar argentina, apesar dos jesuítas terem dado a guinada à esquerda
depois da gestão de Pedro Arrupe. Mesmo Bergoglio não ter sido um
explícito defensor da teologia da libertação, seu pensamento e ações
enquanto atuou na Argentina, estavam em sintonia com a teologia do
povo. Juan Carlos Scannone reconhece a influência da teologia do povo
em Bergoglio, como uma das “quatro correntes da teologia da
libertação”203, mas que – para ele - “de forma alguma, teve algo a ver com
a marxista”204, como a vertente defendida por Boff. Mas Bergoglio e
Maradiaga estiveram muito mais unidos depois do Habemus Papam de
2013, para que a agenda política do internacionalismo de esquerda e do
globalismo das fundações internacionais e da ONU se alargasse cada vez
mais, causando, em vários momentos, perplexidade entre muitos
católicos.

Um dos pontos fundamentais que une Maradiaga a Boff, é o projeto


de descentralização do governo da Igreja, defendido por Boff em artigo
publicado um dia depois do Habemus Papam de 2013, dizendo que
Bergoglio, “com uma nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá
reformar a Cúria, descentralizar a administração e conferir um rosto novo
e crível à Igreja”205. Maradiaga (o preferido de Boff a papa), foi nomeado
por Bergoglio como chefe do Conselho de Cardeais, coordenando assim a
chamada reforma da cúria romana, que, na verdade, seria a execução de
uma profunda reforma da Igreja.

“Papa Francisco irá descentralizar o governo da Igreja, diz Leonardo


Boff”206, foi a manchete do The Christian Post, uma semana após o início
61
do seu pontificado. “Ele dará peso decisório ao Sínodo dos Bispos (cada
três anos) e não apenas peso consultivo, criando mais autonomia às
igrejas continentais e nacionais em nome da colegialidade” 207, destacou
Boff. E ainda, na mesma reportagem, acrescentou: “Como o papa
Francisco enfatiza muito o tema dos pobres e da necessidade da justiça
social e não da filantropia vai, obviamente, reforçar as novas democracias
de cunho popular e que fazem políticas sociais voltadas para os pobres
como no Brasil, no Uruguai, na Venezuela e um pouco em todos os países
onde se está consolidando este tipo novo de democracia”208.

A descentralização do governo da Igreja, portanto, faz parte dessa


estratégia de “reforçar as novas democracias de cunho popular” 209,
também dentro dos organismos e estruturas da Igreja,
instrumentalizando-a Igreja para fins políticos, muitas vezes, contrários
aos princípios e valores da doutrina social da Igreja. Não apenas Boff como
ideólogo dessa subversão, mas também Maradiaga como executor de tão
esperada revolução na Igreja, com um papa latino-americano na condução
desse processo revolucionário.

O conceito da descentralização emergiu, desde o início, como


prioridade a ser alcançada no pontificado de Francisco, como se fosse a
missão principal, a partir do qual todas as demais ações revolucionárias
viriam posteriormente. Sem a descentralização o processo revolucionário
estaria comprometido, daí a sua relevância. Por isso, Bergoglio incluiu –
todas as vezes que pode – o conceito da descentralização, nos
documentos e pronunciamentos-chaves de seu pontificado: na exortação
apostólica Evangelii Gaudium, na exortação apostólica pós-sinodal (após o
controverso Sínodo da Família de 2014-2015), na decisão da XX reunião do
Conselho de Cardeais, em junho de 2017, etc.
62
Tratei desse assunto com o então presidente da CNBB, Dom
Raymundo Damasceno, amigo de Francisco e um dos presidentes do
Sínodo da Família, em uma entrevista concedida em Aparecida (SP)210.

Na ocasião, perguntei a ele: “...a Evangelii Gaudium que o sr. citou


agora há pouco, traz uma questão, que é a discussão sobre a reforma da
cúria romana, que traz em uma de suas partes o aceno à possibilidade de
dar autoridade doutrinal para as conferências episcopais. Como o sr. vê
este processo da reforma da cúria romana, como presidente de uma
conferência episcopal?”211 Ao que ele respondeu: “É uma questão que
também não foi discutida, que está acenada na Evangelii Gaudium mas
que não foi discutida, nem aprofundada” 212. E acrescentei: “A partir da sua
experiência, o que sr. tem a dizer sobre isso?” 213 Ao que ele afirmou:
“ Creio que muitas atribuições poderiam ser dadas às Conferências
Episcopais, sem necessidade de  recorrer à Santa Sé, para tomar
determinadas decisões de âmbito nacional. Situações que, realmente, não
são de grande importância, que poderiam ser resolvidas pelas
Conferências Episcopais. Há muitas questões para as quais devemos
recorrer à Santa Sé, e eu creio que muitas poderiam ser atribuições
próprias da Conferência porque é algo do conhecimento delas, da esfera
delas e que não entram em questões doutrinárias propriamente. São
questões muitas vezes administrativas, que poderiam ser resolvidas pelas
Conferências Episcopais”214 Dom Damasceno, portanto, estava
inteiramente alinhado à descentralização, comungando as mesmas ideias,
nesse sentido, com as de Leonardo Boff e Oscar Rodriguez Maradiaga.

XVII – Uma questão de método

63
A descentralização do governo da Igreja trouxe preocupações entre
os católicos, especialmente ao final do Sínodo da Família. Ainda em Roma,
em 2015, escrevi sobre estas apreensões, em meu artigo “Uma questão de
método”:

De volta a Roma, ainda uma semana antes de encerrar o Sínodo da Família, o


clima constatado era de apreensão, especialmente entre os bispos e cardeais, que se
empenharam na defesa da sã doutrina sobre matrimônio e família, conforme o
ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, coerentemente defendido pelo Magistério
da Igreja, ao longo dos séculos. Tendo estado com D. Robert Sarah, um dos signatários
da carta ao papa Francisco, sabíamos da necessidade de mais vozes se somarem em
favor da sã doutrina católica. Por mais que muitos dissessem que a doutrina não será
alterada, a preocupação era patente após o pronunciamento de Francisco, na Sala
Paulo VI, no sábado, 17 de outubro, quando explicitou categoricamente sua disposição
por uma “conversão do papado”215, dizendo sentir a necessidade da
“descentralização”216.

Caminhando com um prelado pelas colunas da Praça de São Pedro, à noite,


vimos a Basílica toda iluminada, cuja majestade encanta os olhos, especialmente com
as fontes também acesas, com águas em profusão.  Ao longe, avistamos a loggia de
onde Francisco apareceu pela primeira vez ao mundo, em 13 de março de 2013,
curvando-se ao povo, naquele gesto inusitado e impactante, indicando logo naquele

64
início todo o propósito do seu pontificado 217. “Começamos aqui um novo caminho”218,
proferiu à multidão de fiéis na Praça, naquela noite fria e chuvosa.

“Não se trata de alterar a doutrina” – explicou-me o prelado, enquanto avistava


o Palácio Apostólico desocupado, lembrando-me ainda antes que nem Bento XVI nem
Francisco ocupam os aposentos papais, pois o primeiro está recluso no Matter
Eclesiae, o segundo, ativíssimo na Casa de Santa Marta, junto aos demais bispos e
cardeais.

“Eles não teriam como alterar a doutrina”, repetiu, voltando-se em direção ao


outro lado, à Porta de S. Ufficio, pela entrada de acesso à Congregação para a Doutrina
da Fé. E continuou em sua análise, enquanto seguimos pela Via della Conciliazione.

“Mas poderão recorrer à retórica, às sutilezas semânticas e subterfúgios


sofisticados para dubiedades e ambigüidades que permitam afrouxar as exigências da
fé, e então o rebanho poderá ficar confuso, especialmente se os conteúdos da fé
forem diluídos pelo relativismo. Não irão alterar a doutrina, estamos todos certos
disso, mas os problemas começam quando os pastores passam a dizer meias-verdades,
a minimizar os efeitos do pecado, a olhar demais somente para a humanidade,
deixando de lado a dimensão soteriológica.”

Da Via della Conciliazione era possível ver, ao longe, o castelo de Santo Angelo,
com a imagem de São Miguel Arcanjo, no cume da histórica edificação.

“Eles não teriam como fazer isso, ao menos como muitos querem, há décadas.
Então, se utilizam de artifícios e estratégias, muito bem calculadas, como num jogo
político. Enquanto muitos dizem que não irão alterar a doutrina, abrem brechas para
flexibilizações e permissividades, muitas delas justificando aceitar o que era até então
inimaginável. ‘Mas os tempos mudaram, as coisas evoluem, e a Igreja não é museu’,
repetem com empolgação. Antes, o relativismo não tinha como avançar, quando o sim
era sim, e o não era não, com inteira clareza. Agora, os tempos são outros, mais leves,
com ‘o espírito e o método’ de um Igreja mais horizontal e igualitária.”

Passamos pela embaixada do Brasil, onde paramos e de onde podíamos ainda


avistar a Basílica de São Pedro, ao fundo, iluminada.

65
E prosseguiu o prelado com as suas considerações:

“O que se teme não é isso, mas a abordagem e a metodologia utilizada,


recorrendo também à retórica e ao eufemismo para que muitos desinformados não se
dêem conta das brechas que poderão abrir com a estratégia usada. Trata-se de uma
questão de método, de um método revolucionário. E Bergoglio confirmou, em sua fala,
estar mesmo disposto a fazer tal revolução”.

Lembrei-me do que Elizabetta Piqué conta o que disseram dele: “além de


pastor, é um homem de mando, muito capaz, tecnicamente, um animal político” 219. E
mais: “os dois aspectos fortes da sua personalidade são, por um lado, sua proximidade,
seu interesse pelos outros, e, ao mesmo tempo, é um homem de condução, de mando.
Isso percebe-se mesmo na sua relação com o clero” 220.  Aos sacerdotes de Buenos
Aires, Piqué ressalta o que diz Poirier sobre Bergoglio: ele “sempre deixava bem claro
quem mandava”221, mencionando ainda o que disse José Ignácio Lopez: “além de
despojado e de vida espiritual, o cardeal é um homem do poder, que sabia onde
colocar suas fichas”222.

As fichas agora foram colocadas em seu desejo de “descentralização”, que


havia sido acenado na exortação apostólica Evangelii Gaudium, mas afirmado com
veemência no pronunciamento de 17 de outubro, como que determinando o tom e a
saída política que parece pretender oferecer aos impasses que não pôde
resolver durante os dois Sínodos (tanto do ano passado, quanto deste ano). Então, a
solução seria mesmo política, bem ao gosto do estilo descrito por Piqué, delegando tão
graves decisões, num primeiro nível, às igrejas particulares e, num segundo nível, de
modo especial, às conferências episcopais.

Ainda próximo de mais algumas Pontifícias Academias, que ficam quase ao


início da Via della Conciliazione, prosseguimos na reflexão:

“É isso que tememos” – completou o prelado – “pois sabemos que muitos


organismos das igrejas particulares estão aparelhados, muitos deles ideologizados e
serão instrumentalizados para favorecer o relativismo. Com isso, a doutrina corre o
risco de ser interpretada ao gosto da base, na conveniência dos interesses locais, sem
que Roma possa intervir para salvaguardar os desvios.” E continuou: “Isso, de uma

66
certa forma, já ocorre, em muitos casos e em muitas regiões, mas não com o
beneplácito explícito de quem deve ser o primeiro e principal guardião da fé. Isso
realmente preocupa”.

Tendo chegado ao início da Via della Conciliazone, quase à esquina da Via S. Pio
X, entrando no lungotevere, com vista do rio Tibre, continuamos a conversar.

Lembrei a ele que no Brasil, por exemplo, isso já ocorre, tendo em vista que
muitos conselhos paroquiais e diocesanos estão aparelhados ideologicamente,
tendentes às muitas expressões da Teologia da Libertação, com padres que apoiam
descaradamente partidos políticos abortistas, etc., e, de fato, por estarem aparelhados
muitos desses conselhos223, a fé ideologizada passa a desconsiderar muitos aspectos
essenciais da sã doutrina.

“É preciso reconhecer que há um grave equívoco nesta questão de método,


pois trata-se de um método revolucionário, que se volta contra a sã doutrina, contra a
identidade católica, contra a própria instituição do papado, diluída e totalmente
enfraquecida e, portanto, destituída de suas prerrogativas no cumprimento da sua
missão na defesa da Igreja. A descentralização atinge em cheio as prerrogativas do
ministério petrino, que foram dadas pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo [Tú és
Pedro…224] , pois é o mandato que vem de Cristo, as incumbências e os deveres vêm de
Cristo, as chaves foram entregues por Cristo e não pelo povo. Aí está o engano, o
perigo, a ilusão da chamada ‘descentralização’. O caminho da Igreja começa por
escutar a Cristo e não o povo. A missão de Pedro vem de Cristo e não do povo. Cristo é
o que está ‘elevado, acima de todos’, pois ‘nada podereis fazer sem Mim’, Ele dissera,
como ainda sabemos por Ele, que os ramos que não estiverem enxertados na Videira
não produzirão bons frutos”225.

Na questão de método, na lógica das sutilezas semânticas e da retórica, um


“mas” torna-se bem perigoso, no desvio do que se diz inicialmente, a exemplo do que
foi afirmado no pronunciamento de 17 de outubro, quando se disse que “Jesus
constituiu a Igreja, colocando no seu vértice o Colégio Apostólico, no qual o apóstolo
Pedro é a ‘rocha’ (cf. Mt 16, 18), aquele que deve ‘confirmar’ os irmãos na fé (cf. Lc 22,
32). Mas nesta Igreja, como numa pirâmide invertida, o vértice encontra-se abaixo da

67
base”226. O prelado chamou-me a atenção sobre isso, de que aqui havia o problema, a
lógica da “pirâmide invertida”227 que coloca a instituição do papado “abaixo da
base”228, em que “só na medida em que estes organismos permanecerem ligados a
‘baixo’ e partirem do povo, dos problemas do dia-a-dia, é que pode começar a tomar
forma uma Igreja sinodal”229.

“É o próprio Rousseau que ressoa naquele discurso – continuou observando – e


sabemos no que deu Rousseau.” E acrescentou: “Mais enfático Francisco não poderia
ter sido quando afirmou: ‘não convém que o Papa substitua os episcopados locais no
discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste
sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar ‘descentralização’” 230. Agora, é
aguardar a exortação pós-sinodal, pois esta é a hora em que Francisco poderá usar sua
força de mando para impor a todos o que quer, o programa que deseja desde o
primeiro instante, quando propôs a todos um caminho novo, na loggia da Basílica de
São Pedro, ao lado de Cláudio Hummes e Godfried Daneels.

“Com a descentralização, estará desferindo assim um duro golpe à instituição


do papado, com consequências bastante imprevisíveis. É isso o que tememos, pois não
sabemos até que ponto ele está ou não disposto, e em que proporções. Ele próprio
disse sentir a necessidade disso. Portanto, agora é aguardar e rezar”.

No dia seguinte ao Habemus Papam de 2013231, Leonardo Boff


escrevia em seu blog pessoal, com entusiasmo, sobre a revolução que
Bergoglio seria capaz, especialmente a descentralização do governo da
Igreja, altamente estratégica: “Com sua experiência de pastor, com uma
nova visão das coisas, a partir de baixo, poderá reformar a Cúria,
descentralizar a administração e conferir um rosto novo e crível à
Igreja”232.

Quando o Conselho de Cardeais coordenado por Maradiaga propôs,


em junho de 2017, “transferir algumas competências da Cúria Romana

68
para os bispos locais ou para as conferências dos bispos” 233, sinalizou
assim a disposição efetiva de Jorge Mário Bergoglio pela descentralização
do governo da Igreja.

Além de chefe do Conselho de Cardeais, Maradiaga também ocupa


duas posições-chaves, comprometidas com a revolução bergogliana na
Igreja: como presidente da Cáritas Internacional e o Religions for Peace.
Em 31 de outubro de 2016, a Cáritas Internacional firmou uma carta de
intenções para trabalhar em conjunto com o Serviço Mundial da
Federação Luterana, no evento ecumênico de Malmö, na Suécia,
documento este assinado na presença do papa Francisco. “Já havíamos
nos encontrado, mas não de forma planejada. Desta vez, montamos uma
estratégia com um mesmo testemunho cristão” 234, afirmou Michel Roy,
Secretário-Geral da Cáritas Internacional. Sobre esta estratégia, tanto
Maradiaga quanto Boff estão não apenas sintonizados, mas cada um em
sua frente de ação, mobilizados para intensificar o processo de
descatolização da Igreja, acentuando cada vez mais a sua
protestantização.

XVIII – O pensamento de Boff sobre Lutero, e a práxis de Francisco

Nesse sentido, o capítulo XI da segunda parte do livro “E a Igreja se


fez Povo” (de 1986) é bastante elucidativo. Tanto a teologia da libertação
(a “opção preferencial pelos pobres”), quanto o ecumenismo, se
convergiram para uma mesma agenda revolucionária, tema esse
abordado no meu artigo: “O pensamento de Boff sobre Lutero, e a práxis
de Francisco”235:
69
Se o capítulo XI, da segunda Parte do livro “E a Igreja se fez Povo” (1986),
intitulado “São Francisco, patrono da opção pelos pobres”, de Leonardo Boff, já é
bastante problemático, pois apresenta, trinta anos atrás, todo o programa que
Bergoglio coloca hoje em execução, avidamente, o capítulo seguinte (“A significação
de Lutero para a libertação dos oprimidos”), é mais terrível ainda. Nele, antecipa-se o
que Francisco hoje cumpre à risca, na prática. E o ecumenismo solenemente celebrado
em Lund, na Suécia=236, tende a esquecer tudo o que Lutero fez de danoso à Igreja.
Para Boff, Lutero “apresenta-se como uma das maiores testemunhas do espírito
evangélico”237. Boff acredita piamente nisso, não se conforma com o que para ele é
uma injustiça, a Igreja não ter compreendido Lutero, assim até hoje nunca se
conformou de ter sido “injustiçado” pelo alemão Joseph Ratzinger. Boff nunca o
perdoou por isso, nem dom Paulo Evaristo Arns, que esteve junto de Boff
acompanhando-o quando foi a Roma para ser repreendido e depois punido por
Ratzinger. Boff nunca perdoou Ratzinger (hoje recolhido no Mater Ecclesiae), enquanto
Arns comemorou recentemente seus longevos 95 anos, com um boné do MST na
cabeça. Tanto Boff quanto Arns, satisfeitos por verem os movimentos populares (de
esquerda) sendo recebidos amigavelmente por Francisco, no Vaticano 238. Tudo fez
parte de um plano bem urdido, meticuloso, de se chegar ao Vaticano, e ocupar os altos
postos eclesiásticos, para que o programa apresentado por Boff, em 1986, naquele seu
famoso e controverso livro, pudesse ser executado.

Para Boff, a inspiração de Lutero (a quem ele sempre admirou e até se


identifica, algumas vezes), “em termos religiosos, mostrava-se ‘fé viva’ em
contraposição ‘a “fé morta’ do Catolicismo, religião de tradições e exterioridades” 239. É
assim que o pensamento de Boff se torna hoje, em certos aspectos, a ação de
Francisco. Boff mesmo reconhece naquele capítulo, “o papel subversivo” 240 do
protestantismo, papel esse fomentado por muitos anos pelo Conselho Mundial de
Igrejas (CMI), que hoje se favorece com o ecumenismo de Francisco, quando a Cáritas
e a Federação Luterana Mundial se juntam para projetos sociais, com financiamento
da Fundação Ford241.

70
Boff defendia, naquela época, “uma encarnação da Igreja e do Protestantismo
no mundo dos pobres, para ajudar em uma transformação profunda e global, uma
verdadeira “libertação dos oprimidos”242. E ainda destaca:

“Rubem Alves distingue a função ideológica que o protestantismo ocupou


diante do liberalismo e sua permanente função utópica como memória da forças
libertadora do Evangelho. Nessa perspectiva, ‘católicos e protestantes estão se
descobrindo como um só corpo, em função de uma esperança da América Latina
nova’”243.

E completa:

“Na verdade, existe uma frente libertadora prostestante de grande significação


no processo global da prática libertadora e da reflexão que se constrói a partir dessa
prática. Cabe agora perguntar em que medida Lutero pode colaborar nessa missão” 244.

E explica que:

“A Reforma do século XVI teve o duplo caráter de revolução social e revolução


religiosa. As classes populares não se sublevaram só contra a corrupção do dogma e os
abusos do clero. Também se levantaram contra a miséria e a injustiça. (…) Ante o
campo específico (religioso) dentro do qual se movia, Lutero efetuou um grandioso
processo libertador. Será ele para sempre uma referência obrigatória para todos os
que buscam a liberdade e sabem lutar e sofrer por ela”245.

Por isso Lutero “insurge-se contra o que ele – tantas vezes – chama de ‘tirania
do papa’”246, rebelde que era (“ele se sublevou, em nome do Evangelho, contra a
prepotência do poder sacro”247; e por isso Francisco recusou as insígnias papais,
quando eleito, apresentou-se no balcão da Basílica de São Pedro, curvando-se para o
povo, e dizendo: “começamos hoje um novo caminho”248.  

É de 1975 o primeiro artigo de Leonardo Boff escrito como precursor do que


será, mais tarde, o programa de Francisco: “A não-modernidade de São Francisco. A
atualidade do modo de ser de S. Francisco face ao problema ecológico” 249. O
pensamento e a práxis de Francisco ecoam as palavras de Boff:

71
“Para nós, que vivemos na América Latina, o Evangelho necessita ser vivido de
forma libertadora, a fé como produtora de um compromisso com os mais necessitados
a partir da experiência da misericórdia primeira de Deus e da renovação espiritual
como uma mística que uma fé e política e construa a comunidade a partir de baixo, dos
mais humildes”250.

O fato é que Boff acredita piamente nisso. E Francisco, a seu modo, também.
Ambos estão convencidos disso. Enquanto o primeiro é ideólogo, o segundo é
executor, alçado ao mais alto posto da Igreja, para cumprir esse programa libertador. E
com esse ímpeto, exortou os jovens na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de
Janeiro, com o apelo: “sejam revolucionários”251.

XIX – Que revolução quer Francisco?

Quando o papa Francisco fez o apelo aos jovens para serem


revolucionários, eu estava bem próximo ao altar, ao lado de bispos e
cardeais e demais convidados. Não somente eu, mas os que estavam
próximos de mim, e também tantos que acompanhavam pela televisão o
encontro do papa com os voluntários da jornada Mundial da Juventude, se
indagaram: “Que revolução quer Francisco?”252 O que motivou outro
artigo para refletir aquele momento, destacando que o afã de reforma
parece querer mais e deseja acentuar ainda mais um processo já iniciado,
mas até então contido, de protestantização da Igreja Católica.

Na manhã do domingo, 28 de julho, o casal Haroldo Lucena e Mariselma da


Silva participou do ofertório na Missa de envio, na praia de Copacabana, vestindo
camisetas com a frase estampada: “Pare o aborto!” 253. Eles foram, naquele instante, os
porta-vozes de todos nós que nos empenhamos tanto durante toda a semana da

72
Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, para que chegasse ao Papa, por
diversos meios, o apelo para que se posicionasse firmemente contra o aborto, como
fez Bento XVI, em sua visita de 2007, ou João Paulo II, em suas viagens apostólicas à
Terra de Santa Cruz. 

Crédito da foto: NESTOR J. BEREMBLUM – Estadão.

Mas, dessa vez, o que vimos foi uma quase unanimidade em evitar a todo custo
a pauta do aborto na JMJ. No sábado de manhã, no Teatro Municipal, esbarrei nos
corredores com o babalaô Ivani dos Santos, que dizia exultante: “Enfim,
conseguimos!”, após encontrar-se com o papa e receber afagos 254. 

Na tarde do domingo, Elba Ramalho nos levou para o encontro do Papa com os


voluntários da JMJ. A poucos metros do Papa, no palco montado no Riocentro, após a
filha de Elba Ramalho, de seis anos, correr para perto dele, enquanto deixava o
papamóvel, e ser abençoada por Francisco, ficamos ali, o grupo pro-vida próximo à
imagem de Nossa Senhora, muitos ajoelhados, bem ao lado do chefe de segurança do
Papa. Foi dali que ouvimos Francisco dizer enfático aos jovens:

“Sejam revolucionários!”

E em seguida os quase dez mil jovens presentes gritaram em uníssono:

“Somos a juventude do papa!”

Acompanhei Monique Cristina, com a camiseta amarela de voluntária da JMJ,


entregar a bandeira do Brasil ao Papa, em meio ao mar de gente em volta do

73
papamóvel, na saída, para a aflição dos seguranças. Enquanto isso, todo o Riocentro
ouvia: “Somos a juventude do papa!” Na entrevista com Gerson Camaroti, Bergoglio
voltou a dizer: “jovem que não protesta, não me agrada!” 255 E não apenas fez a
apologia de uma revolução, como associou-a com a felicidade, pois após pedir aos
jovens para serem revolucionários, completou: “Sejam felizes!”

O que tudo isto quer dizer? Ficou a indagação.

Que revolução quer Francisco?

O discurso mais contundente do Papa talvez tenha sido o que fez aos bispos do
CELAM256, ainda no domingo à tarde, antes de ir para o encontro com os voluntários.
Jamil Chade, no jornal O Estado de São Paulo afirma que “Bergoglio tornou-se
Francisco em Roma, mas virou Papa no Rio” 257. E acrescenta: “o ‘governo’ de Bento XVI
acabou e são as ideias de Francisco que vão marcar o ritmo agora da Santa Sé” 258. Com
a garantia da espetacular popularidade, Francisco se sentiu à vontade em suprimir a
menção que faria a Bento XVI, prevista no texto oficial distribuído à imprensa, em sua
fala no Teatro Municipal. Estive presente e testemunhei, no entanto, também o jornal
O Globo notou a omissão259. Tratou-se apenas de um lapso?

E por que lembrou aos jornalistas em sua entrevista, no avião, de que Bento
XVI, em 28 de fevereiro, dissera aos cardeais de que o novo Papa estava presente
entre eles e prometia obediência? 260 O fato é que enquanto Bento XVI, bem como João
Paulo II, se manifestavam publicamente com inteireza cristalina sobre a posição da
Igreja de modo especial em relação aos “valores inegociáveis”, Francisco opta pela
estratégia “do encontro”, que seria melhor qualificada como “da ambiguidade”, em
algumas vezes não de modo simples, como se parece numa primeira impressão, mas
sibilino. Foi o que fez, silenciando completamente sobre a questão do aborto na
Jornada Mundial da Juventude, e não se expressando tão precisamente como
esperado na resposta que deu sobre os gays261. De fato, Jesus não condenou a mulher
adúltera, porque naquele caso ela estava arrependida, e o Mestre exortou-a a não
mais pecar. Tem-se a impressão de que Bergoglio teme os inimigos que deve
enfrentar, ou crê que não deve haver enfrentamento algum, por isso recorre à retórica

74
do “diálogo, diálogo, diálogo”262, como ressaltou no Teatro Municipal, no Rio de
Janeiro.

Vale enfatizar ainda que nós, empenhados na causa pró-vida, esperávamos


apenas a expressão clara da moral da Igreja, cujos predecessores de Francisco
souberam fazer com exemplos memoráveis. Entendemos que esta ênfase, no contexto
do PLC 3/2013, se fazia necessária, pois ainda há muita desinformação sobre esta
questão, tendo em vista a ardilosidade do projeto de lei, em que somente o veto total
poderia evitar a brecha para a legalização do aborto no País.

A novidade de seu discurso aos bispos latino-americanos não foi destacar “a


ideologização da mensagem evangélica”263, principalmente as “categorizações
marxistas”264, já muitas vezes condenadas pelo Magistério da Igreja, mas considerar
relevante a “proposta das comunidades eclesiais de base (...) na linha de superação do
clericalismo e de um crescimento da responsabilidade laical” 264. O que assusta
Francisco, de fato, é o que ele chama de “restauracionismo” 265. E isso parece querer
atingir os mais conservadores. Foi o que afirmou aos cardeais e bispos do CELAM:
“Perante os males da Igreja, busca-se uma solução apenas na disciplina, na restauração
de condutas e formas superadas que, mesmo culturalmente, não possuem capacidade
significativa. Na América Latina, costuma verificar-se em pequenos grupos, em
algumas Novas Congregações Religiosas, em tendências para a ‘segurança’ doutrinal
ou disciplinar. Fundamentalmente é estática, embora possa prometer uma dinâmica
para dentro: regride. Procura ‘recuperar’ o passado perdido” 266. Destaca em certos
casos a tentação do pelagianismo. Nisso é preciso realmente estarmos atentos e não
se deixar sucumbir nos atalhos da heresia. Mas os fiéis católicos – especialmente
jovens – anseiam pela solidez doutrinal, porque a sã doutrina é a riqueza que buscam
na Igreja portadora da verdade salvífica. Quando Francisco refuta “tendências para a
‘segurança’ doutrinal”267 estará também tirando o dique que Bento XVI desejou pôr no
relativismo doutrinal vigente e cada vez mais crescente no seio da Igreja? É certo que a
Igreja oferece a salvação, e em meio aos tantos ataques (de forças anti-cristãs que
atuam de modo sofisticado e sistematizado), o Magistério da Igreja entendeu ser
necessário justamente isso: apresentar com segurança a solidez doutrinal, para evitar
as consequências já conhecidas do relativismo. De fato, a evasão dos fiéis (alguns

75
falam em hemorragia) vinha ocorrendo por conta do afrouxamento moral e doutrinal.
Por isso, a questão do aborto, por exemplo (ponta de iceberg explicitada com ênfase
na Evangelium Vitae) vinha agregando fiéis católicos com solidez doutrinal e, por isso,
com força para fazer frente a “conjura contra a vida” 268 denunciada corajosamente por
São João Paulo II na referida encíclica. Mas Bento XVI ficou cada vez mais isolado no
combate ao relativismo, até onde está hoje, abandonado. Pois foi o que me dissera um
dos peregrinos da JMJ: “O que mais entristeceu Bento XVI foram três coisas: 1. A
desobediência dos bispos; 2. A questão da pedofilia; e 3. A hipocrisia religiosa.”

É certo que não se deve nunca engessar o Espírito Santo, pois a história da
Igreja sempre foi dinâmica. Francisco sabe que a crise da Igreja é grave, gravíssima. E
como timoneiro da barca de São Pedro, reconhece que o “discipulado missionário”
“acontece em um ‘hoje’, mas “em tensão” 269. Reconhece ainda as pressões de todos os
lados, e sobre algumas até já foi categórico em dizer o que não fará, como a questão
da ordenação de mulheres, lembrando a posição definitiva tomada na Ordinatio
Sacerdotalis270, etc. E sabe também que o campo da fé de hoje está muitas vezes
tomado por espinhos e pedras, como bem acentuou em sua homilia na Missa de envio,
ressaltando que deve haver um cantinho bom por onde a semente haverá de
encontrar a boa terra e germinar para o bom fruto. Acreditamos, neste Ano da Fé, que
neste cantinho bom o Espírito Santo haverá de atuar para evitar novos enganos.

Mas o afã de reforma parece querer mais e deseja acentuar ainda mais um
processo já iniciado, mas até então contido, de protestantização da Igreja Católica. Na
contramão disso, quis Bento XVI reforçar a identidade católica da Igreja, daí seu zelo
litúrgico, o apreço pelo rito romano, até mesmo pelo latim — pois enganam-se os que
consideram tais aspectos como parte de “estruturas caducas” 271, já que o Evangelho
não teria chegado até o século XXI e a todas as nações sem tais contributos, de
fecunda “capacidade significativa”272.

Talvez Francisco queira mesmo ser o primeiro papa “moderno” da Igreja,


incorporando em si mesmo mais do que a novidade sempre perene da Igreja, que
transcende tudo o que é vão e provisório e se mantém como uma realidade sempre
viva? Mas — como leitor de Borges e Hölderlin que é — o Papa Bergoglio parece ele
mesmo querer dar o salto para o modo caleidoscópico de ser moderno, pois já não

76
encontra mais sentido e unidade no que parece estar arcaico. Há nisso uma voragem
pelo risco: daí deixar-se ficar vulnerável em meio ao trânsito de uma via pública, num
carro popular, de vidro aberto, numa cidade marcada pela violência urbana. E tudo no
contexto da sociedade midiática e da cultura do espetáculo.

Francisco reconhece, ainda em seu pronunciamento aos cardeais e bispos do


CELAM, que tanta gente “ficou pela metade do caminho, que se confundiu, que se
desiludiu”273 após o Vaticano II, e que a Igreja precisa “curar tantas feridas” 274. E indica
o caminho da missionariedade proposto por ele mesmo no Documento de Aparecida
(2007), e que agora, como Papa, quer fazer acontecer, nesse “tempo de mudança”. Por
isso recorre ao jovem, pede para que não tenha medo de ser revolucionário, advoga a
“revolução da ternura”275, para que “haja sol e luz nos corações” 276. Mas que revolução
quer Francisco? Como a fará? Ainda não sabemos.

PS: Acabo de receber a notícia de que a Presidente Dilma Roussef deve


sancionar, sem nenhum veto, o PLC3-2013 277, abrindo ainda mais as portas do Brasil ao
aborto. Faria isso com a mesma tranquilidade se há uma semana o Papa em nosso
país, tivesse se pronunciado firmemente em favor dos pobres e indefesos nascituros?
A palavra do sucessor de Pedro, aliada a uma atuação vigorosa da Conferência
Episcopal poderia ter influído e quem sabe evitado esta decisão 278. É possível que o
Santo Padre não tenha sido devidamente informado da situação brasileira, nesse
aspecto, como reconheceu na entrevista a Gerson Camaroti, em que disse que não
estava muito por dentro das questões nacionais. Conversei ainda no Teatro Municipal
com um deputado católico, solicitamos de muitas formas que chegasse ao Papa a
devida informação do que ocorria, mas a única visibilidade do tema foi o casal no
ofertório da missa de envio. Com a sanção, a Presidente Dilma Roussef expressa seu
desprezo à Igreja, desprezo também à população brasileira (a expressa maioria é
contra o aborto), e desprezo ao Congresso (que aprovou o referido Projeto de Lei sem
que os parlamentares soubessem exatamente do que se tratava, do “cavalo de Tróia”
que ele representava, sem que houvesse discussão da matéria, nem mesmo emendas,
etc). O fato é que não poderia ter havido o silêncio sobre esta questão na JMJ. Com
isso se confirma o que há muito sentimos: pesa cada vez mais a cruz na defesa da vida.

77
XX – Das declarações ambíguas e polêmicas

Em relação às declarações ambíguas e polêmicas de Francisco, em


seu pontificado, cada vez mais frequentes, encontrávamos muitos
(especialmente jovens) que nos procuravam para pedir uma palavra de
esclarecimento, sobre que exatamente significava aquilo, principalmente
depois de sua mais bombástica declaração, na entrevista concedida no
avião, quando retornava do Rio de Janeiro a Roma, dizendo: “Quem sou
para julgar?”279, quando indagado sobre a sua posição sobre a questão
homossexual. Tema esse abordado nesse artigo:

Uma das estratégias de manipulação midiática apresentadas por Noam


Chomsky é a da gradação, que “para fazer com que se aceite uma medida inaceitável,
basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas”280, pois as medidas para uma revolução
não podem ser “aplicadas de uma só vez” 281. De alguma forma, as declarações
informais do papa Francisco, a bordo do avião de volta de suas viagens, fazem lembrar
a estratégia de Chomksy. Nunca foi preciso sacerdotes e leigos comprometidos com a
Igreja terem de sair nas redes sociais explicando aos fiéis atônitos diante de uma
declaração ambígua e desconcertante, de que não era bem isso que o papa queria
dizer, que a mídia deturpou suas palavras, de que jamais ele contrariou a doutrina
católica, de que é preciso entender o contexto, etc. Desde o impacto da declaração
“quem sou eu para julgar?”282, quando indagado sobre o homossexualismo, essa
parece ser uma tônica, enquanto estratégia, não apenas em entrevistas informais a
bordo do avião, mas até nas concedidas para a imprensa, como, por exemplo, as que
ele deu para Antonio Spadaro, em La Cività Cattolica283.

As questões polêmicas não causaram inquietação nos que estão fora da Igreja,
pelo contrário, seus conhecidos adversários ficaram satisfeitíssimos com a abordagem
de tais declarações, comemoram até, e imediatamente publicaram em seus blogs,

78
jornais e demais periódicos, editoriais elogiosos. A devastação é causada dentro da
Igreja, em que, por durante dias consecutivos permanece a discussão sobre o que ele
quis dizer exatamente com isso ou aquilo, até que a maioria dos jornais e sites
católicos acomodam a situação, buscando de todas as formas dar razão ao que, em
certos casos, fica muito difícil defender, especialmente por nós, católicos apostólicos
romanos que amamos a Igreja. E então, foi doloroso ter visto a sua declaração, no
retorno do México à Itália, quando afirmou uma imprecisão histórica ao falar sobre
contraceptivos, dando a entender que Paulo VI havia aprovado o uso de
anticoncepcionais, no caso das freiras violentadas no Congo Belga, quando, na
verdade, o papa Montini jamais fizera aquilo e, pelo contrário, foi categórico em
condenar os contraceptivos na Humanae Vitae, alguns anos depois284. O engano
histórico, tantos dias depois, ainda não foi reparado pela sempre ágil (quando convém)
Sala de Imprensa da Santa Sé. E mais: de ter feito questão de se encontrar com o
Patriarca Ortodoxo Russo, em Cuba (dias depois, a presidente Dilma Roussef disse ter
se sentido honrada com a sua presença no Palácio do Planalto 285), em que, juntamente
com Kiril, reforçou a estratégia geopolítica de Putin (o eixo russo-chinês, do qual a
“Pátria Grande” está alinhada, com o internacionalismo de esquerda), isolando ainda
mais os greco-católicos ucranianos, e mesmo os católicos russos, afirmando ainda na
mesma entrevista que agora seu maior sonho é visitar a China.

Não foram poucas as mensagens recebidas in box do facebook, de muitas


pessoas indagando sobre o que dizer aos catequizandos sobre essa ou aquela
declaração, e como se defender daqueles que dizem que estamos querendo ser mais
católicos que o próprio papa, quando queremos apenas ensinar o que realmente está
no Catecismo da Igreja Católica. E então os rótulos de conservadores, restauracionistas
e tudo mais são atirados para todos os cantos, no intuito de frear ou neutralizar os que
apenas querem ser fiéis à sã doutrina católica, nesses tempos cada vez mais difíceis, de
muita provação. Outro dia, numa visita a uma paróquia, um padre pedindo uma
opinião minha sincera sobre determinadas declarações e até atitudes, como aquela de
ter aceitado o abominável presente de Evo Morales, com Cristo crucificado numa foice
e martelo, a resposta que podemos dizer é da nossa convicção da promessa de Nosso
Senhor Jesus Cristo de que a Igreja sempre terá a proteção do Espírito Santo, e de que

79
rezamos por Francisco e nos empenhamos em compreender tudo o que está
acontecendo. E mesmo assim vieram tantos outros questionamentos. O sacerdote
confidenciou que tem sido muito difícil explicar aos fiéis sobre tantas coisas, e que os
próprios fiéis, muitos deles bastante simples, sentem que alguma coisa não bate, não
encaixa, mas eles não sabem dizer o que afinal acontece. “O fato é – disse-me ele –
que a revolução em curso é inevitável, e não sabemos que efeitos terá”. E as
declarações dadas “em contas gotas” 286 vão diluindo toda e qualquer resistência,
porque esta e outras estratégias, como as apresentadas por Chomsky, dão “mais
tempo ao público para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-la com
resignação quando chegue o momento”287 E prosseguiu: “Pois mudanças estão sendo
preparadas, desde o primeiro dia, e muitos trabalhando com afoiteza, para que no
momento oportuno, os próprios católicos estejam prontos para aceitá-las. Por isso, as
declarações ambíguas não parecem ser tão espontâneas assim, mas calculadas, como
uma estratégia de gradação, a preparar a revolução, que ninguém sabe exatamente
para onde querem levar a Igreja.”

Enquanto isso, continuaremos rezando pelo papa Francisco, como ele nos
pediu, desde o primeiro instante.

No capítulo 2, de “Francisco, o Novo João XXIII – Jorge Mário


Bergoglio – o primeiro pontífice americano para uma nova primavera da
Igreja”, José Manuel Vidal e Jesús Bastante apresentam pontos do que
desejam ocorrer na Igreja, com a revolução bergogliana, afirmando que
80
“pelas veias do tecido eclesial circula, cada vez com mais força, a ideia de
uma Igreja mais comunitária, democrática, libertadora e ecumênica” 288,
destacando a descentralização do governo da Igreja como um dos pontos-
chaves dessa revolução, defendendo a tese de que (assim com deseja
Boff), “a comunidade local deve ser o primeiro lugar da tomada de
decisões”289. E vão mais longe ainda: “para chegar à proporção ideal
deveria haver o triplo ou o quádruplo de dioceses. E, sem dúvida, os
bispos devem ser eleitos pelos fiéis”290.

Mas a revolução bergogliana só poderia acontecer, com a tática da


gradação, de Chomsky. Conversando com vários bispos e até cardeais,
durante o Sínodo da Família, insistiram em dizer que nada mudaria nos
conteúdos, apenas no estilo, na dimensão pastoral. Mas os fatos foram
mostrando que as declarações de Francisco abririam brechas
hermenêuticas, com sutilezas sofisticadas, por exemplo, quando criticou
os casais que se procriam como coelhos, chegando mesmo a recomendar
dois ou três filhos, no máximo por casal, conseguindo naquela declaração
causar perplexidade entre muitos católicos.

Nesse sentido, é possível talvez compreender os paradoxos de


certas declarações e posicionamentos de Francisco no exercício de seu
controverso pontificado: gradação, política da sanfona, ora abre, ora
fecha, às vezes com passionalidade, imprevisibilidade, voluntarismo e
dureza para os que não se inclinam pela agenda que ele se dispôs a
defender; e solicitude e afabilidade aos que aderem docilmente seu
programa revolucionário. Por isso, o engajamento na política em defesa
dos refugiados, facilitando assim, ainda mais, o avanço da islamização
especialmente do continente europeu. Também, nesse aspecto, se
contrapõe ao olhar de Bento XVI, diante dessa realidade, sobre a
81
profundeza do problema e o modo de lidar com a situação
demasiadamente complexa.

Ecumenismo e ecologismo se convergiram para a agenda abraçada


por Francisco, com outras influências que intensificaram o relativismo,
abrandando cada vez mais o vigor com que a Igreja sempre defendeu a sã
doutrina católica. Desde o início, a pastoralidade de Bergoglio pareceu
favorecer aqueles que, há décadas, vinham desejando flexibilizar a moral
católica, sobre muitos aspectos, com menos rigidez doutrinal.

XXI – Sentimentos de apreensão

Assim que Jorge Mário Bergoglio apareceu no balcão da Basílica de


São Pedro, naquele dia frio e chuvoso, de 13 de março de 2013, não
somente eu, mas muitos que depois nos procurou para saber o que estava
acontecendo. Não havia tido o mesmo sentimento de júbilo quando , em
19 de abril de 2005, Ratzinger se apresentou como um humilde servo na
vinha do Senhor. Os sentimentos em 2013 foram de apreensão,
especialmente depois que ele se curvou ao povo, e pediu para que o povo
o abençoasse, quando eu esperava que olhasse para o céu e pedisse a
benção de Deus.

Outros fatos chamaram a atenção, naquele dia do conclave, em que


muito se aguardou a fumaça branca, que saiu somente no começo da
noite. Ainda bem cedo, havia chegado na Praça de São Pedro, Massimo
Goppo, um homem vestido com um hábito franciscano, com um saco de
estopa, com aparência de mendigo ou monge, tendo vindo de Assis,

82
aonde reside como leigo, com voto de pobreza, na Comunidade Família de
Belém, criada em Assis, nos anos 80 291. Coppo ficou o dia todo ajoelhado,
em alguns momentos debaixo de chuva, rezando pelo papa que seria
escolhido no conclave. Disse aos jornalistas, que viera a pé, de Assis, e
que rezava “por um novo pontífice para os pobres” 292. Também naquele
mesmo dia, outro polêmico franciscano, Leonardo Boff, se exultava
dizendo, numa reportagem do jornal O estado de São Paulo: “Eu já fiz a
profecia no twitter, há uma semana, que o futuro papa ia se chamar
Francisco”293. E acrescentado: “Porque Francisco não é um nome, é todo
um programa de Igreja, uma igreja simples, sem poder, ligada aos pobres,
com uma relação totalmente diferente com a natureza”294.

No mesmo alinhamento de Leonardo Boff, outro notável


franciscano ficou em evidência não apenas por estar ao lado Jorge Mário
Bergoglio no balcão da Basílica de São Pedro, após o Habemus Papam de
2013, mas também, dias depois, no sábado, 16 de março, o próprio
Bergoglio revelou aos jornalistas presentes na Sala Paulo VI, do Vaticano,
que fora Cláudio Hummes quem havia lhe sugerido o nome de Francisco,
assim que ficou confirmado que ele havia obtido o número de votos
suficientes para suceder Bento XVI. Assim ele se expressou:

“Alguns não sabiam por que o Bispo de Roma se quis chamar


Francisco. Alguns pensaram em Francisco Xavier, em Francisco de Sales, e
também em Francisco de Assis. Deixai que vos conte como se passaram as
coisas. Na eleição, tinha ao meu lado o Cardeal Cláudio Hummes, o
arcebispo emérito de São Paulo e também prefeito emérito da
Congregação para o Clero: um grande amigo, um grande amigo! Quando
o caso começava a tornar-se um pouco «perigoso», ele animava-me. E
quando os votos atingiram dois terços, surgiu o habitual aplauso, porque
83
foi eleito o Papa. Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me: «Não te esqueças
dos pobres!» E aquela palavra gravou-se me na cabeça: os pobres, os
pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de
Assis. Em seguida pensei nas guerras, enquanto continuava o escrutínio
até contar todos os votos. E Francisco é o homem da paz. E assim surgiu o
nome no meu coração: Francisco de Assis”295.

Outro célebre franciscano alinhado com o que Bergoglio estava


disposto a empreender foi Paulo Evaristo Arns, não apenas amigo de Boff,
mas seu defensor, quando Ratzinger o interrogou em 1981. Sobre Arns,
Boff escrevera, quando ele faleceu, com 95 anos, em 15 de dezembro de
2016: “O que sempre me impressionou nele foi seu amor e seu afeto
franciscano pelos pobres. Feito bispo auxiliar de São Paulo ocupou-se logo
com as periferias, fomentando as comunidades eclesiais de base e
empenhando pessoalmente Paulo Freire”296. No mesmo artigo Boff
homenageia Arns, dizendo: “Eu pessoalmente sou-lhe profundamente
grato por me ter acompanhado no processo doutrinário movido contra
mim pelo ex-Santo Ofício em 1982 em Roma sob a presidência do então
cardeal Joseph Ratzinger”297. Para Boff, Arns fora enfático em refutar a
posição de Ratzinger (que também era a do Papa São João Paulo II), em
relação à teologia da libertação. E Arns teria sido duro com Ratzinger,
como conta Boff:

“No diálogo que se seguiu ao meu interrogatório, ele corajosamente


deixou claro ao cardeal Ratzinger: ‘Esse documento que o Sr. publicou há
uma semana sobre a Teologia da Libertação não corresponde aos fatos
que nós bem conhecemos; essa teologia é boa para os fiéis e para as
comunidades; o Sr. assumiu a versão dos inimigos desta teologia que são
os militares latino-americanos e os grupos conservadores do episcopado,
84
insatisfeitos com as mudanças na pastoral e nos modos de viver a fé que
este tipo de teologia implica’.

E continuou: ‘Cobro do Sr. um novo documento, este positivo, que


valide esta forma de fazer teologia a partir do sofrimento dos pobres e em
função de sua libertação’. E assim ocorreu, três anos após.

Tudo isso já passou. Fica a memória de um cardeal que sempre


esteve do lado dos pobres e que jamais deixou que o grito do oprimido por
seus direitos violados ficasse sem ser ouvido. Ele é uma referência perene
do bom pastor que dá sua vida pelos pequenos e sofredores deste
mundo”298.

XXII – Movimentos de esquerda (que Dom Paulo Evaristo Arns


ajudou a organizar) queriam vê-lo Papa

Também escrevi um artigo sobre o cardeal Arns, na mesma


ocasião299:

Em agosto de 1978, aluno do Pe. Rosalvino, no Instituto Dom Bosco, em São


Paulo, percebi a grande torcida que houve por Dom Paulo Evaristo Arns para papa.
Queriam um papa brasileiro, o papa das periferias, como já diziam. Pe. Rosalvino
levava as crianças para passeios na periferia de São Paulo, também em Jandira,
pegando trem na Estação da Luz. “Era a hora de Dom Paulo papa”, diziam.
“Pensávamos que ele (Paulo Evaristo Arns) seria (deveria ser) o Papa da realização do
Concílio, a partir da Igreja da Grande Promessa que era, então, o Brasil (a mais rica e
criadora de todas as Igrejas do momento). Foi uma grande oportunidade, era um
momento de Evangelho”300, afirmou anos depois, o teólogo espanhol Xabier Pikaza.

85
A Igreja da América Latina estava pronta, as comunidades eclesiais de base
estimuladas por Dom Paulo, vivendo o carisma franciscano, como o “amigo do
povo”301, pois assim ele queria ser chamado por todos, com seu sorriso largo (inspirado
no amigo Dom Hélder Câmara), dentre tantos que lutavam por “uma Igreja pobre e
para os pobres”302. Estávamos no pátio do Instituto Dom Bosco, no Bom Retiro, quando
os sinos tocaram e fomos rezar na igreja Nossa Senhora Auxiliadora. Havia sido eleito o
italiano Albino Luciani, que adotou o nome composto de João Paulo I. Percebíamos as
movimentações de lideranças, indo e vindo, nas dependências dos salesianos, muitas
delas dizendo que era a hora de Dom Paulo. Apenas 33 dias depois, fomos todos
surpreendidos pelos sinos da Igreja, anunciando a precoce morte de Albino Luciani, e
novamente se voltaram para o novo conclave, e o que se ouvia pelos corredores
“agora, sim, seria eleito o primeiro papa da América Latina”, e dom Arns seria o
primeiro papa brasileiro. Não queriam mais italianos. E então, parte do desejo deles
havia sido atendido, e os cardeais elegeram, em 16 de outubro de 1978, o polonês
Karol Wojtila, com o nome de João Paulo II.

Xavier Pikaza lamentou-se profundamente: “Foram 35 anos de interregno, de


freio e medo. Ainda posso sentir isso na minha pele revivendo a primeira impressão
que tive, quando me disseram (em 1978), retornando para casa, da janela: ‘Não foi o
Arns, mas Wojtyla’. Foi o que muitos me disseram agora no Brasil” 303. E mais: “Paulo
Evaristo Arns foi marginalizado, sua linha de base eclesial foi rechaçada e seu trabalho
episcopal em São Paulo foi corroído (especialmente em 1980, com a divisão da sua
diocese e a nomeação de bispos de outra linha). Certamente, Paulo E. Arns seguiu
exemplarmente ativo até sua renúncia (1996), mas já não representava a linha oficial
da Igreja, que foi se escorando em outra direção” 304.

Na análise de Pikaza, o interregno de 35 anos dos reinados de São João Paulo II


e Bento XVI foi longo demais, por isso agora, todos eles, tem pressa, muita pressa para
que Bergoglio execute o programa sonhado por Dom Paulo Arns, mas reconhece que
as condições não são as mesmas que em 1978:

“Talvez em 1978 ainda não se podia fazer em todas as partes aquilo que Paulo
E. Arns queria, pois muitas Igrejas não haviam aceitado o espírito e a caminhada do
Vaticano II (1962-1965), apesar de que uma parte considerável da Igreja da América

86
Latina, a partir de Medellín (1968) e de Paulo VI (Evangelii Nuntiandi, 1975), havia
assumido um caminho de libertação e de transformação eclesial que parecia
impossível de ser detido, como sabia na Espanha o cardeal Tarancón. Muitos cristãos
queriam então que a Igreja promovesse verdadeiramente o surgimento de espaços de
libertação humana (inclusive econômica e social) para que os pobres e oprimidos do
continente pudessem viver e se desenvolver; muitos queriam uma Igreja libertada, em
sintonia radical com o Evangelho. Mas o conjunto da Igreja oficial sentiu medo.

— Esse medo expressou-se nos 35 longos e duros anos de João Paulo II e Bento
XVI (1978-2013). Certamente, esses anos tiveram muitas coisas boas, mas, com efeito,
em chave eclesial, o balanço foi negativo. Estamos pior que em 1978, com mais feridas
e receios, com mais medos e descréditos; os mais idosos perdemos parte da nossa
esperança e os jovens se sentem manipulados (muitos preferem ser manipulados!). Em
1978, era, talvez, muito cedo para a grande travessia. Agora (2013), com o Papa
Bergoglio pode ser muito tarde, a não ser que o Espírito sopre forte, pois temos
pressa”305.

O próprio Dom Paulo também reconheceu o exagero das homilias politizadas


dos teólogos da libertação como um dos fatores para o esvaziamento das igrejas. Mas
foi incansável em ajudar os movimentos populares a se organizarem, fato esse
confirmado pelas expressões de gratidão manifestadas por João Pedro Stédile:

“A maioria dos movimentos do campo que hoje existem – MST, MAB


[Movimento dos Atingidos por Barragens], Movimento dos Pequenos Agricultores,
Comissão Pastoral da Terra, Cimi [Conselho Indigenista Missionário] -, nascemos
orientados por vossa sabedoria, que pregava: Deus só ajuda quem se organiza. Então
fomos nos organizar. Queremos agradecer de coração por tudo, sobretudo porque o
senhor ajudou a acabar com a ditadura militar no Brasil”306.

O fato é que era altamente estratégica para os movimentos de esquerda, a


tática gramsciana de ocupação, por dentro da instituição, até chegar os mais elevados
postos de decisão, a Arquidiocese de São Paulo. E só com a chegada de Dom Paulo
Evaristo àquela importante Arquidiocese (e depois nomeado cardeal) é que as portas
foram abertas para a teologia da libertação se disseminar por toda parte, nas

87
paróquias, nos seminários, e tudo mais. Muito se lamentou dele não ter sido papa em
1978, porque, a partir de então o Vaticano se empenharia em colocar freio ao projeto
de poder dos padres e bispos de esquerda.

E então o próprio Dom Paulo Evaristo Arns fez questão de acompanhar


Leonardo Boff a Roma, para defende-lo, da punição recebida pelo então cardeal
Joseph Ratzinger. Não apenas ficaram insatisfeitos, mas tudo fariam para viabilizar o
plano de um papa latino-americano, alinhado com os ideais deles, da “Igreja pobre e
para os pobres”307. O franciscano Arns foi inteiramente solidário com o franciscano
Boff, e só teriam segurança garantindo que outro franciscano sucedesse Arns no
comando da Arquidiocese de São Paulo e, depois, assumisse postos na própria Cúria
Romana. E então o franciscano Dom Cláudio Hummes (que fez Lula emergir como líder
sindical no ABC) foi nomeado sucessor de Dom Paulo Arns na Arquidiocese de São
Paulo, e depois seguiu para Roma, tornando-se prefeito da Congregação para o Clero,
até aparecer, em 2013, na loggia da Basílica de São Pedro, ao lado de Jorge Mário
Bergoglio, que aceitou o conselho de D. Cláudio Hummes para assumir o programa da
Igreja sonhada por Dom Paulo Evaristo Arns, com o nome de Francisco.

No primeiro encontro que tive com Dom Paulo Evaristo Arns, em 1993, em sua
residência episcopal, para uma longa entrevista (publicada no meu livro “Encontros &
Idéias – que reúne as entrevistas feitas para Jornal da Tarde, no período de 1988 a
2002), dom Paulo contou-me do período em que viveu na França (de 1947 a 1952),
preparando a sua tese sobre São Jerônimo, disse que teve a oportunidade de conhecer
grandes intelectuais franceses (Claudel, Mauriac, Albert Camus e o próprio Jean Paul
Sartre, a quem ele assistiu suas conferências. Não só a Sorbonne o encantou, como
mais tarde o ecumenismo, dizendo-me, que teve “a oportunidade de participar duas
vezes na reunião das grandes religiões, num esforço de encontrar um novo
caminho”308. E disse: “As nações agora estão unindo suas culturas e encontrando
outras expressões para criar um tempo novo”309. E mais: “Lembro-me que um dos
temas dessas reuniões era a paz. Lá estavam cristãos, budistas, muçulmanos e judeus.
Estavam representantes de todas as grandes religiões do mundo, cada qual podia se
exprimir livremente, fazer orações em comum, em grupos. Debatíamos todos os
grandes problemas da Terra. (…) No caso de uma das reuniões o tema foi a paz, depois

88
o pensamento foi em torno da fome no mundo. É assim que eu penso que as coisas
funcionarão: em torno de ideias. Só um grande pensamento poderá unir a
humanidade e conduzi-la ao bem comum que todos desejamos”310.

Dom Paulo nutria admiração por Fidel Castro, a quem chegou a escrever uma
carta publicada no jornal Granma: “Querido Fidel (…) A fé cristã descobre nas
conquistas da Revolução os sinais do Reino de Deus (…) Tenho-o presente diariamente
em minhas orações, e peço ao Pai que lhe conceda sempre a graça de conduzir o
destino de sua pátria. (…) Fraternalmente, Paulo Evaristo, cardeal Arns” 311.

Havia entre ambos muitas afinidades, também biográficas. Fidel Castro contou
a Frei Betto (descrito em seu livro “Fidel e a Revolução”): “Através das reuniões com os
futuros combatentes, com quem eu partilhava ideias e instruções, fomos criando uma
organização, disciplinada e decidida, com gente jovem e saudável e com ideias
patrísticas e progressistas. Organizávamo-nos para lutar contra a ditadura” 312.
Derrubado Fulgêncio Batista, o que se viu foi a instalação de outra ditadura, que até
hoje penaliza o povo cubano.

Mas as palavras de Fidel Castro poderiam ser ditas também por dom Paulo,
preservando o mesmo espírito de preparar e organizar os movimentos populares.
Contou-me também, nas entrevistas que tivemos, que participou em Paris (no tempo
em que frequentou também a Sorbonne), de “Semana de Intelectuais Católicos” 313,
nem tanto para debater e refletir sobre o catolicismo, mas para buscar um
pensamento capaz de unir a todos, um novo caminho. Seria esse “novo caminho” 314
anunciado por Bergoglio, ao curvar-se ao povo, em sua primeira aparição como papa?

Assim como Fidel Castro, Dom Paulo Evaristo Arns teve também uma vida
longeva. Poucos dias após a morte de Fidel Castro, os movimentos populares de
esquerda perdem Dom Paulo, que fez questão de colocar o boné do MST nas
comemorações de seus 95 anos, no teatro da PUC-SP, tendo sido saudado por João
Pedro Stédile.

89
No encontro de 1993, Dom Paulo fez um bilhete me apresentando a Dom
Geraldo Majella Agnelo, que, na época trabalhava como Secretário-Geral da
Congregação do Culto Divino e dos Sacramentos. Assim que cheguei a Roma pude
constatar que o preferido dos progressistas, que queriam papa, em 1978, ainda exercia
influência, fazendo aqui e ali indicações, contatos, etc. E somente hoje pude
compreender as palavras de Xavier Pikaza: “Em 1978, era, talvez, muito cedo para a
grande travessia. Agora (2013), com o Papa Bergoglio pode ser muito tarde, a não ser
que o Espírito sopre forte, pois temos pressa”315.

A História mostrará, a longo prazo, qual o legado que deixará efetivamente a


sua marca. O momento requer de nós a oração. O Espírito Santo faz os ajustes
necessários. “Pelos frutos, conhecereis a árvore!” 316

XXIII – O prefácio de Joseph Ratzinger ao livro de Michel


Schooyans

90
Além de Boff, o cardeal Arns também contava com uma estima
muito profunda de Frei Betto, e das conversas que tive com Frei Betto, na
biblioteca do convento dos dominicanos, em 1996, pude perceber o
quanto essa afeição era realmente grande, e como Arns exercia uma
liderança efetiva entre leigos e religiosos, que trabalhavam
incansavelmente por uma “outra Igreja” 317, que não aquela que Joseph
Ratzinger quis preservar em seu pontificado. Essa tensão de
posicionamentos foi muito patente no Concílio Vaticano II, como bem
descreve Roberto de Mattei, em seu livro sobre o tema318.

Durante o Concílio Vaticano II, Joseph Ratzinher tivera uma posição


mais liberal, mas a sua trajetória intelectual, de teólogo brilhante, vai
tomando distância do que o jovem Ratzinger chegara a defender 319, e, aos
poucos, percebemos o seu amadurecimento e a sua disposição para
conter os abusos e desvios que vieram principalmente de muitos
movimentos, dentre eles a teologia da libertação. Na verdade, o
documento que havia produzido320, em 1984, não havia sido suficiente
para debelar o ímpeto revolucionário da teologia da libertação, que havia
se alargado, em convergência com outras correntes subversivas, buscando
minar a sã doutrina católica. Ratzinger tratou disso em seu livro “O Sal da
Terra”, na entrevista concedida a Peter Sewaald:

“... mas quando essa ideia é aproveitada num sentido unilateral,


procura, em geral, ver no cristianismo o instrumento de uma
transformação política do mundo. A partir desse ponto tomou forma a
ideia de que todas as religiões seriam apenas instrumentos para a defesa
da liberdade, da paz e da preservação da criação; teriam, pois de se
justificar através de um sucesso político e de um objetivo político”321.

91
A teologia da libertação (dentre outros movimentos que passaram a
atuar dentro da Igreja) convergiria também com outras correntes de
pensamento e estratégias de grupos e organismos internacionais que
visavam, há muito tempo, instrumentalizar as religiões para um poder
com objetivos políticos de domínio global. Não se tratava de uma
“teologia da libertação”, mas uma variedade de movimentos, como
destacou Ratzinger:

“...à tentação de reduzir o Evangelho da salvação a um evangelho


terrestre, de outro lado, que se situam as diversas teologias da
libertação”322.

Na realidade, a teologia da libertação não havia sido contida nos


anos 80, e foi alargada, com outras expressões, inclusive com influência do
feminismo radical.

Juan Cláudio Sanahuja explica que o projeto de poder global


gestado pela ONU, nas suas conferências internacionais, dos anos 90 (com
origens no Relatório Kissinger, de 1974), só poderia ser eficaz, se fosse
possível transformar ideologias em um credo religioso. Para isso, o
aparelhamento de setores progressistas da Igreja Católica tornou-se
imprescindível, e de modo crescente, com tática gramsciana, para – por
dentro da instituição –, aos poucos, viabilizar que religiosos e leigos
ocupassem postos de decisão, alinhados politicamente com a agenda do
internacionalismo de esquerda e do globalismo das fundações
internacionais. Nesse sentido, de modo especial o ecumenismo e o
ecologismo foram muito úteis para o processo de descatolização da Igreja.

Por ser um teólogo de elevado nível intelectual, Joseph Ratzinger


(ainda no longo pontificado de São João Paulo II) foi tomando consciência

92
disso, e como pode (e quando pode) se empenhou em preservar a
identidade católica da Igreja.

Ao refletir sobre isso, lembrei-me então das aulas de bioética na


PUC-RJ, em 2009-2010, como aluno do professor Michel Schooyans, em
que ele chamou a atenção para a agenda global de reengenharia social
anticristã, explicitada em seu livro “O Evangelho perante a Desordem
Mundial”, prefaciado em 1997, pelo então Cardeal Joseph Ratzinger,
Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé.

“Desde o início do Iluminismo, a fé no Progresso pôs sempre de


parte a escatologia cristã e, finalmente, acabou por substituí-la
completamente. A felicidade já não é esperada no Além, mas neste
mundo. A atitude de Albert Camus, que, á palavra de Cristo ‘o meu reino
não é deste mundo’, opõe resolutamente a afirmação ‘o meu reino é deste
mundo’, é simbólica da disposição do homem moderno. Se, no século XIX,
a fé no Progresso era ainda um otimismo genérico que esperava, da
marcha triunfal das ciências, o progressivo melhoramento da condição do
mundo e a aproximação cada vez mais acelerada de uma espécie de
paraíso, já no nosso século assumiu uma forma política. Por um lado,
houve os sistemas de orientação de marxista que prometiam que o
desejado reino do homem seria alcançado por via da política traçada pela
sua ideologia marxista – tentativa que manifestamente fracassou. Por
outro lado, vemos, para construir o futuro, as tentativas que mergulham,
de modo mais ou menos profundo, nas fontes das tradições liberais. Sob o
título de Nova Ordem Mundial, tais tentativas tomam uma configuração
cada vez mais definida; referem-se cada vez mais caracterizadamente à
ONU e suas Conferências internacionais, em particular às do Cairo e de

93
Pequim, que deixam transparecer uma filosofia do homem novo e do
mundo novo, ao quererem traçar os caminhos que aí conduzam.

Tal filosofia deixou de ser utópica, no sentido em que o era o sonho


marxista. Pelo contrário, é muito realista: determina os limites do
procurado bem-estar a partir dos limites dos meios próprios para o
alcançar, e recomenda, por exemplo, sem tentar justificar-se, que não
deve haver o cuidado de tratar aqueles que já não têm produtividade nem
podem esperar qualidade de vida. Além disso, deixou de esperar que as
pessoas que se habituaram à riqueza e ao bem-estar estejam prontas aos
sacrifícios necessários, mas, ao invés, recomenda processos de redução do
número de convivas à mesa da humanidade, a fim de que, pelo menos,
não seja ferida a pretensa felicidade já por alguns conseguida. O caráter
típico desta nova antropologia, concebida para fundamento da Nova
Ordem Mundial, manifesta-se sobretudo na imagem da mulher, na
ideologia do ‘Women’s empowerment’, proposta por Pequim” 323.

94
Em 2010, com o Monsenhor Michel Schoooyans,
professor de bioética, no curso de pós-graduação da PUC-RJ.

No prefácio a esta importante obra de Michel Schooyans, Ratzinger


havia se posicionado claramente em desacordo com a agenda das forças e
organismos que atuariam intensamente contra o seu pontificado. A partir
de 2005, essa agenda estaria sendo executada em vários países do
mundo, sob a supervisão das agências da ONU, entre outros. Em O Sal da
Terra, Ratzinger havia também explicado que a “ideia de libertação” 324
(que tanto seduziu especialmente os teólogos da teologia da libertação),
“se fundiu fortemente com a ideologia feminista” 325, na medida em que
“a mulher é considerada o ser oprimido por excelência; por essa razão, a
libertação da mulher é o núcleo de toda atividade de libertação”326.

Nesse sentido, continuou Ratzinger, no prefácio da obra de Michel


Schooyans:

“O fim em vista é a auto-realização da mulher, que encontra os seus


principais obstáculos na família e na maternidade. Assim, a mulher deve
ser libertada sobretudo do que a caracteriza e lhe dá nada mais que a sua
especificidade: esta é chamada a desaparecer diante de uma “Gender
equity and equality”, diante de um ser humano indistinto e uniforme, em
cuja vida a sexualidade não tem outro sentido senão o de uma droga
voluptuosa, de que a gente se pode servir seja lá como for.

No medo da maternidade que se apoderou de grande parte dos


nossos contemporâneos, entra decerto, também, alguma coisa de ainda
mais profundo: o outro é sempre, afinal, o concorrente que me leva uma
parte da minha vida, ameaça para o meu eu e para o meu livre
95
desenvolvimento. Deixou de haver, hoje, uma ‘filosofia do amor’; o que há
é somente uma ‘filosofia do egoísmo’. Que eu possa enriquecer-me
simplesmente com o dom; que eu possa encontrar-me justamente a partir
do outro e através do meu ser-para-outrem – eis o que é recusado como
ilusão idealista. Mas é precisamente aí que o homem se engana. Na
verdade, na medida em que o desaconselham de amar, nessa medida o
desaconselham de ser homem”327.

Várias encíclicas papais, especialmente na primeira metade do


século XX, fizeram advertências aos muitos perigos de uma sociedade que
eclipsava o sentido de Deus e a doutrina moral e social da Igreja. Ao final
do século XX, Ratzinger reconhecia que “já não há um ambiente geral
cristão”328, e as forças hostis ao cristianismo se intensificaram de tal modo,
não apenas atacando a fé cristã, mais ainda a fé católica, buscando
impregnar na sociedade, novas interpretações a conceitos e valores. Já
não se aceitavam mais os dogmas, declarados solenemente por vários
Concílios, ao longo da história bimilenar da Igreja. O triunfo do relativismo
fez alargar, dentro de setores progressistas da Igreja, uma “nova imagem”
do homem (uma nova antropologia), visando um “novo mundo”, com uma
cultura cada vez mais descristianizada. Por isso, no prefácio ao
“Evangelho perante a Nova Desordem Mundial”, Ratzinger acentuou:

Deste modo, no estádio de desenvolvimento de uma nova imagem e


de um novo mundo, chegou o momento em que o Cristão – não apenas
ele, mas pelo menos ele – tem obrigação de protestar. Devemos agradecer
a Michel Schooyans que neste livro tenha dado voz, e voz cheia de energia,
ao protesto necessário. Mostra-nos ele como a ideia dos direitos do

96
homem que caracteriza a época moderna e que é tão importante e tão
positiva em numerosos aspectos, sofre desde o princípio por estar
fundamentada apenas no homem e, portanto, na sua capacidade e na
vontade que tem de concretizar o reconhecimento geral desses direitos. Se
é certo que, a princípio, o reflexo da luminosa imagem cristã do homem
ainda protegeu a universalidade dos direitos, à medida que essa imagem
empalidece novas questões vão surgindo. Como haviam de ser respeitados
e promovidos os direitos dos mais humildes, quando a nossa concepção do
homem tantas vezes tem por fundo, como diz o Autor, ‘a inveja, a
angústia, o medo, e até o ódio? Como é que uma ideologia lúgubre, que
recomenda, como preço de um pan-sexualismo desenfreado, a
esterilização, o aborto, a contracepção sistemática, e a própria eutanásia,
havia de poder dar aos homens a alegria de viver e de amar?’ (cap. VI)

É aqui que claramente se descobre o que tem o Cristão a oferecer


de positivo na luta pela História futura. Porque, na verdade, não basta que
o Cristão oponha a escatologia à ideologia das construções ‘pós-
modernas’ do futuro. Com certeza que o deve também fazer, e
decididamente. Nesse campo. Certamente que a nossa voz se tem
tornado, nas últimas décadas, demasiado fraca e tímida. Porque o
homem, na sua vida terrena, é uma palhinha sem significado se o olhar se
afasta da vida eterna. O mesmo se diga da História no seu todo. Neste
sentido, a chamada para a vida eterna, desde que feita corretamente,
nunca terá o caráter de uma fuga. O que propriamente dá à vida terrena é
responsabilidade, grandeza e dignidade. Mas, precisamente, estas
repercussões no ‘intramundano’ têm de ser articuladas. É certo que a
História nunca deve ser simplesmente reduzida ao silêncio: não podemos,
não é lícito, reduzir ao silêncio a liberdade. É essa a ilusão das utopias”329.

97
Quando se pensou, num primeiro momento, após a queda do muro
de Berlim (1989) e da URSS (Natal de 1991), na débâcle das ideologias, na
verdade o que houve foi um breve interregno, em meio a nevoeiro do
relativismo. A nova imagem do homem e o novo mundo da agenda
gestada nas conferências internacionais da ONU, nos anos 90, prepararam
as condições para a perversão e a subversão dos direitos humanos, em
nome de tais direitos transmutados, uma nova imagem do homem foi
sendo imposta, por meio sutil e sofisticado, através de eufemismos, numa
revolução que começou pela dimensão semântica, visando atingir o
âmago dos conceitos civilizacionais. Refazer as religiões fez parte desse
projeto de poder global, com a ideologização da fé, buscando ressignificar
as religiões, e transformar as ideologias em credo religioso,
instrumentalizando igrejas (a partir dos setores progressistas da Igreja
Católica), para os fins de um globalismo, que tornou mais intensa a
dificuldade de viver, numa sociedade em que foi se deteriorando cada vez
mais os valores cristãos, tornando assim mais difícil compreender e viver a
fé católica, pois “o objetivo do cristianismo é a vida eterna e não a
integração num grupo no qual se pode exercer poder” 330, ainda mais grave
se quando se trata de um poder global totalitário.

Daí a importância do trabalho de Michel Schooyans, prefaciado por


Joseph Ratzinger:

Não podemos impor ao amanhã modelos de hoje, que amanhã hão-


de ser os modelos de ontem. Mas devemos, no entanto, traçar as
propostas de um caminho para o futuro, de uma ultrapassagem em
comum dos novos desafios históricos. É o que faz Michel Schooyans nas
partes II e III do seu livro. O que sobretudo ele propõe, em contraste com a
nova antropologia, são os traços essenciais da imagem cristã do homem,
98
aplicando-os em seguida, bem concretamente, aos grandes problemas da
futura ordem mundial (especialmente nos capítulos X a XII). E deste modo
confere à ideia, tão frequentemente expressa pelo Papa, de uma
‘civilização do amor’, um conteúdo concreto, politicamente realista e
realizável.

O livro de Michel Schooyans entra, assim, no âmago dos grandes


desafios da nossa hora histórica, com vivacidade e grande competência.
Esperamos que ele seja lido por pessoas de orientações muito diversas,
que suscite vivo debate e assim contribua para preparar o futuro com
modelos que sejam dignos da grandeza do homem, e que assegurem
também a dignidade daqueles que se não podem defender por si próprios.

Joseph, Cardeal Ratzinger

Roma, 25 de Abril de 1997”331.

XXIV – A influência de Boff na encíclica ecológica de Francisco

Durante a sua longa permanência à frente da Congregação para a


Doutrina da Fé (de 1981 a 2005), Joseph Ratzinger granjeou muitos
inimigos. Certamente o mais célebre deles, Leonardo Boff, um dos
expoentes máximos da Teologia da Libertação, tornaria também um dos
intelectuais mais engajados na agenda do globalismo, tendo se ufanado,
por exemplo, de ter ajudado o papa Francisco a redigir a também
controversa encíclica ecológica Laudato Si332. Boff enveredou-se, de corpo
e alma, no ecologismo e no ecumenimo. E não somente ele, mas outros
inimigos de Ratzinger também influenciariam para o Vaticano (durante e
depois do pontificado de Bento XVI), abrir suas portas para a agenda

99
denunciada e condenada por Michel Schooyans e Sanahuja, com o apoio
de Ratzinger. Nesse sentido, Sanahuja muito bem sintetizara: “O disfarce
espiritualista do ecologismo permite que aquilo que para alguns pode
parecer um espaço de diálogo inter-religioso responda, na verdade, à
tentativa de impor um dogma da nova religião sincrética universal. Com o
afã de encontrar pontos de interesse comum chega-se a uma mixórdia na
qual se perde a própria identidade das religiões”333.

Quando li a Laudato Si’, fiquei chocado com a citação explícita da


Carta da Terra na encíclica, e não consegui sequer fazer um artigo com
uma análise geral sobre o documento, apenas fiz um breve apontamento,
publicado em 18 de junho de 2015:

Carta da Terra é mencionada em Laudato Si’334

Sabendo que “os postulados agnósticos e panteístas da Carta da Terra seriam a


base da nova sociedade”335 reengenheirada, causa realmente preocupação o fato da
própria menção da Carta da Terra na encíclica ecológica de Francisco.

Por que Laudato Sii se tornou uma encíclica tão aguardada, causando também
apreensão? Talvez só mesmo, no passado recente, a Humanae Vitae tenha suscitado
tanta expectativa. E evidentemente se decepcionaram os que esperavam na encíclica
de Paulo VI uma flexbilização da moral católica, para atender os que queriam
mudanças.

Mas “no mundo de hoje, sujeito a rápidas transformações e sacudido por


questões de grande relevo para a vida da fé” 336, como escreveu Bento XVI em sua carta
de renúncia, os católicos são desafiados pelo estilo Francisco, até o momento
inclassificável, sem que se saiba, exatamente, que revolução espera fazer Mário Jorge
Bergoglio. A jornalista argentina Elizabetta Piqué, biografa do Papa, diz em seu
“Francisco, Vida e Revolução”, que, “apesar dos ínfimos grupelhos que resistem” 337,
Francisco está determinado a “consolidar e aprofundar essa revolução de forma e de
conteúdo em andamento para reformar a Igreja” 338; Francisco parece ansioso por

100
“uma nova fase na recepção e atualização do Concílio Vaticano II até agora não
cumpridas”339.

Muitos católicos continuam apreensivos em meio a algumas de suas


declarações, ambíguas às vezes, e algumas até desconcertantes, como quando
insinuou ou deu a entender como ideal o número de três filhos apenas por casal, para
que não precisem procriar como coelhos340.

Com o seu hiperativismo incomum, o Papa chega a comover em ocasiões


quando, por exemplo, desejoso de repetir o gesto de São Francisco beijando o leproso,
abraçou o homem desfigurado, com neurofibromatose 341. Mas, muitas vezes  traz um
balde de água fria nos setores mais conservadores. Parece não se incomodar em
receber João Pedro Stédile, Jeffrey Sachs, o próprio Gustavo Gutierrez, sem parecer se
preocupar com o que significam essas presenças no Vaticano, sabendo das ideologias e
forças que representam. Foi direto em declarar ao Padre Spadaro, da La Civiltà
Cattolica: “nunca fui de direita!” 342 E como afirmou Piqué: “Não é uma pessoa que
negocie. Ele vai levar até o fim no que enxerga e sente ser o que Deus lhe pede!” 343, a
começar pelo nome que escolheu: “Francisco, uma revolução” 344.

Um programa de Boff exposto em 1986

No capítulo XI do livro de Leonardo Boff, “E a Igreja se fez Povo” (1986),


intitulado “São Francisco, patrono da opção pelos pobres” 345, emerge todo o programa
colocado hoje em execução pelo grupo capitaneado pelo Cardeal Maradiaga,
estimulado por Francisco. “Não bastam mais as soluções tradicionais, derivadas da fé
cristã – diz Boff – socorrer paternalisticamente o pobre Lázaro e fazer do rico epulão
um bom rico. Importa ir além das reformas sociais, embora estas devam sempre ser
cobradas; urge caminhar na direção da libertação deste tipo de sociedade em vista de
uma sociedade mais circular e igualitária” 346. Boff reconhece naquele capítulo XI que
“as comunidades eclesiais de base ajudaram a grande Igreja e a vida religiosa, também
franciscana, a deslocar-se do centro para a periferia“ 347. Diz que foi Dom Hélder
Câmara quem considerou São Francisco “o patrono da opção preferencial da Igreja
pelos pobres”348. O programa de Boff, exposto naquele texto, parece ressurgir em

101
Bergoglio que “denuncia o capitalismo selvagem” 349 – como ressalta Piqué –  tom esse
que reaparece agora em sua encíclica ecológica.

Para executar o programa de Francisco, já delineado por Boff em 1986, seria


preciso mais do que uma revolução social, mas uma mudança profunda de paradigma
– ético e religioso –  expresso, por exemplo, no ecologismo, que o próprio Boff passou
a difundir, com o eufemismo da “ética do cuidado” 350, principalmente a partir das
grandes conferências internacionais promovidas pela ONU, nos anos 90.

É evidente que tudo isso preocupa, porque o Papa Bergoglio parece mesmo
disposto a permitir a execução daquele programa. A mesma “ética do cuidado”, que
aparece no subtítulo da Encíclica, é mencionada sutilmente em sua homilia
inaugural351. Seriam suas palavras e gestos, manifestadas até agora em seu pontificado,
uma simpatia pela utopia revolucionária de Leonardo Boff? A encíclica ecológica tem a
ver com essa simpatia? Até que ponto Bergoglio está comprometido – consciente ou
inconscientemente – com o que Boff, Stédile, Sachs ou Gutierrez desejam? Certamente
a encíclica sinaliza o grau desse comprometimento.

O paradigma da Carta da Terra

A “ética do cuidado” de Boff, na verdade, oculta as intenções de “um projeto de


poder global, um projeto de poder totalitário”352 elaborado pela ONU, como tão bem
explica monsenhor Juan Cláudio Sanahuja, dizendo que os projetos de reengenharia
social, a partir das conferências internacionais, “se põem em marcha na tentativa de
construir uma nova sociedade com bases totalmente diferentes das que conhecemos,
tratando de neutralizar e anular lenta e discretamente toda visão transcendente do
homem para substitui-la por um novo sistema de valores” 353. Nesta tentativa, “se
enquadram projetos como o da Carta da Terra, o ‘novo paradigma ético da Nova Era’,
e o da Ética Planetária de Hans Kung, que visa ‘dar sustentação ética à Nova Ordem
Mundial’”354.

102
Sanahuja ainda ressalta que “a legítima preocupação com o meio ambiente,
que faz parte da doutrina católica – expressa, entre muitos outros documentos, nas
Encíclicas Sollicitudo Rei Socialis e Centesimus Annus, nada tem a ver com o paradigma
ecologista da nova ética ou religião universal, no qual se entrelaçam o relativismo
moral, o sincretismo religioso e o panteísmo” 355, contidos na Carta da Terra. E que “o
disfarce espiritualista do ecologismo permite que aquilo que para alguns pode parecer
um espaço de diálogo inter-religioso responda, na verdade, à tentativa de impor um
dogma da nova religião sincrética universal”356.

Em relação ao aquecimento global, por exemplo, Sanahuja afirma que “a


maneira como está posta a questão do aquecimento global é uma desculpa para
limitar a população mundial, bem como exigir que os países pobres, em vias de
desenvolvimento, implementem arrecadações altíssimas para impedir a contaminação
ambiental – isto é – para condená-los ao subdesenvolvimento” 357. Sabendo, portanto,
que “os postulados agnósticos e panteístas da Carta da Terra seriam a base da nova
sociedade”358, causa realmente muita preocupação o fato da própria menção da Carta
da Terra na encíclica ecológica de Francisco. Sanahuja é enfático em dizer que “a visão
cristã é inconciliável com o imanentismo panteísta da Carta” 359.

Mas, Boff – um dos mais ardorosos defensores da Carta da Terra [ver vídeo
abaixo360] chegando inclusive a defendê-la na assembleia geral da ONU 361 — está
convencido de que a encíclica ecológica reforça a disposição de Bergoglio em permitir
aspectos do que vislumbrou em seu programa de 1986, exposto em “E a Igreja se fez
Povo”.

XXV – A ética planetária de Hans Kung

Hans Kung (outro famoso inimigo de Ratzinger, que foi proibido de


ensinar teologia), não apenas defende uma outra concepção de Igreja
Católica, como também (assim como Boff) apresentou, em 1993, no

103
Parlamento das Religiões do Mundo, a sua ética planetária, definida por
ele como “uma síntese de superação de todas as religiões do mundo” 362.

Em seu livro “Igreja Católica”, Hans Kung, preconiza “uma reforma


radical dessa instituição”363, que ele tanto se empenhou por realizar, e que
encontrou, enfim, em seu projeto da ética planetária (“cheio de
ambiguidades”364), a expressão da “outra Igreja”365 que ele acredita ser
possível ver implantada, como tão bem explicou Juan Cláudio Sanahuja:

“Aparentemente, a Ética Planetária encontra um público favorável


no mundo das finanças internacionais e a Carta da Terra no campo
internacional socialista. Mas esta é apenas uma impressão, pois os nomes
de Hans Kung e Leonardo Boff e outros aparecem nas mesmas redes e nos
mesmos fóruns. Na verdade, ambos os projetos têm as mesmas intenções:
a subersão da ordem natural e a destruição das raízes cristãs da cultura
através do relativismo moral e do igualitarismo religioso. É o homem que
constrói o seu código ético em guerra aberta contra Deus – o antigo
projeto das lojas maçônicas.

A Carta da Terra e a Ética Planetária não são projetos que


concorram entre si, são, na verdade, alternativos ou complementares.
Têm o memso objetivo: a demolição da Igreja Católica e a reconstrução de
uma outra igreja, uma caricatura a serviço da nova ordem mundial” 366.

Sobre esta “ética planetária”367, Joseph Ratzinger (como papa Bento


XVI) aceitou conversar com Hans Kung, em 24 de setembro de 2006, em
Castelgandolfo, apesar de suas tantas divergências 368. Kung havia sido
suspenso por São João Paulo II, da missio canonica, em dezembro de
1979, por sua visão a respeito da Igreja.
104
Foram os acontecimentos de maio de 1968 que fizeram Ratzinger
entender que a sua posição liberal como perito no Concílio Vaticano II
precisava ser revista. Ele retirou a sua assinatura em documento que
propunha uma liberalização que ele compreendeu ser equivocada. Então
passou a percorrer um caminho divergente ao de Hans Kung. E mesmo
tendo recebido-o em Castel Gandolfo, ficaram acentuadas essas distinções
sobre o modo de viver a Igreja.

Além de “o crítico mais atroz do ‘sistema romano” 369, defensor de


“reformas estruturais intra-eclesiásticas”370, Kung escreveu uma carta
aberta aos cardeais, em 14 de abril de 2005 (dias antes do Habemus
Papam que colocaria Ratzinger no trono de São Pedro), com “um projeto
abrangente e concreto de reformas para a Igreja Católica” 371, indicando
várias ações por uma Igreja que estaria mais em sintonia com o que
Bergoglio pareceu disposto (em alguns pontos) em começar a
empreender, oito anos depois372. Nesse sentido, tanto Boff quanto Kung
(em relação à Ratzinger) tinham uma história com muitos pontos em
comum. E ambos manifestaram grande entusiasmo com Jorge Mário
Bergoglio, o anti-Ratzinger no conclave de 2005.

Quatro anos depois do encontro de Castel Gandolfo, Kans Kung


voltou a escrever uma carta aos bispos do mundo inteiro, fazendo duras
críticas a Bento XVI, dizendo que ele perdera a oportunidade de enfrentar
os grandes desafios do seu tempo, mas Ratzinger, o “antigo colega da
Universidade de Tubingen poderia encontrar o seu caminho e promover
uma contínua renovação da Igreja e uma aproximação ecumênica dentro
do espírito do Concílio Vaticano II”373. Mas para Kung, não havia
esperanças dele avançar o programa libertário e revolucionário, que tanto

105
ele, quanto Boff sonhavam, no pontificado de Bento XVI. E Kung elencou
as oportunidades perdidas por Ratzinger:

“Perdeu a oportunidade de aproximação às Igrejas protestantes. Em


vez disso, tem-lhes sido negado o estatuto de Igrejas no verdadeiro
sentido da palavra e, por essa razão, os seus ministros não são
reconhecidos e a intercomunhão não é possível.

- Perdeu a oportunidade de uma reconciliação duradoura com os


judeus. Em vez disso, o Papa reintroduziu na liturgia uma oração pré-
conciliar pela iluminação dos judeus, recebeu de novo em comunhão com
a Igreja bispos notoriamente anti-semitas e cismáticos, e está activamente
a promover a beatificação do Papa Pio XII, que tem sido acusado de não
ter oferecido suficiente protecção aos judeus na Alemanha nazi.

A verdade é que Bento vê no judaísmo apenas a raiz histórica do


cristianismo; não a toma a sério como uma comunidade religiosa que
continua a oferecer o seu próprio caminho em direcção à salvação. A
recente comparação entre as actuais críticas que o Papa enfrenta e as
campanhas de ódio anti-semita - feita pelo reverendo Raniero
Cantalamessa durante uma cerimónia religiosa oficial na sexta-feira de
Páscoa no Vaticano - desencadeou uma tempestade de indignação no seio
de judeus um pouco por todo o mundo.

- Perdeu a oportunidade de dialogar com os muçulmanos numa


atmosfera de respeito mútuo. Em vez disso, na sua impensada mas
sintomática palestra de 2006 em Regensburg, Bento caricaturizou o islão
como uma religião de violência e desumanidade, assim atraindo a
continuação da desconfiança muçulmana.
106
- Perdeu a oportunidade de reconciliação com os povos indígenas
colonizados da América Latina. Em vez disso, o Papa afirmou com toda a
seriedade que eles estavam "à espera e desejosos" da religião dos seus
conquistadores europeus.

- Perdeu a oportunidade de ajudar o povo africano, não permitindo


o controlo de natalidade para combater o excesso de população, nem os
preservativos para combater a propagação da sida.

- Perdeu a oportunidade de fazer as pazes com ciência moderna,


não reconhecendo claramente a teoria da evolução, nem aceitando as
investigações de células estaminais.

- Perdeu a oportunidade de fazer do espírito do Concílio Vaticano II


a bússola para toda a Igreja Católica, incluindo o próprio Vaticano, e assim
promover as necessárias reformas no interior da Igreja”374.

E Kung ressaltou ainda mais, falando de Ratzinger:

“Vezes sem conta, este Papa acrescentou qualificações aos textos


conciliares e interpretou-os de forma contrária ao espírito dos pais da
assembleia. Vezes sem conta, tomou expressamente posições contra o
Concílio Ecuménico, que, de acordo com a lei canónica, representa a mais
alta autoridade na Igreja Católica:

- Recebeu de regresso à Igreja, sem quaisquer condições, os bispos


da tradicionalista Sociedade Pio X - bispos que foram ilegalmente
consagrados fora da Igreja Católica e que rejeitam os pontos centrais do
Concílio Vaticano II (incluindo a reforma litúrgica, a liberdade religiosa e a
aproximação ao judaísmo).

107
- Promove por todos os meios a medieval massa tridentina e
ocasionalmente celebra a eucaristia em latim de costas para a
congregação.

- Recusa colocar em prática a aproximação à Igreja Anglicana, que


foi inscrita em documentos ecuménicos oficiais pela Comissão
Internacional Anglicana-Católica Romana, e em vez disso tem tentado
atrair à Igreja Católica Romana clérigos anglicanos casados, libertando-os
da mesma regra de celibato que tem forçado dezenas de milhares de
padres católicos romanos a abandonarem os seus lugares.

- Tem ativamente reforçado as correntes anticonciliares na Igreja,


nomeando elementos reaccionários para lugares-chaves na Cúria
(incluindo a Secretaria de Estado e posições na comissão litúrgica) e
nomeando bispos reaccionários em todo o mundo.

O Papa Bento XVI parece estar cada vez mais afastado da grande
maioria dos membros da Igreja, que cada vez têm menos consideração
por Roma e, na melhor das hipóteses, apenas se identificam com a sua
paróquia e o seu bispo”375.

A carta de Hans Kung aos bispos do mundo inteiro, expressava o


pensamento de um clero cada vez mais desobediente, insurgente contra a
instituição do papado, e com afã de medidas libertárias. Por isso, Kung
(assim como Cláudio Hummes havia também se manifestado), pleiteava
também o fim do celibato:

“Vós os bispos, em particular, tendes razões para estar muito


pesarosos. Dezenas de milhares de padres têm abandonado o sacerdócio
desde o Concílio Vaticano II, a maior parte devido à regra do celibato” 376.

108
E acusa Ratzinger, ao tempo em que foi Prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé, pela proliferação dos escândalos de crimes sexuais
que atingiu a Igreja:

“E agora, para além de todas estas crises, chega um escândalo de


bradar aos céus - a revelação do abuso por parte de clérigos de milhares
de crianças e adolescentes, primeiro nos Estados Unidos, depois na
Irlanda, e agora na Alemanha e noutros países. E para piorar a situação, a
maneira como estes casos têm sido tratados tem levado a uma crise de
liderança sem precedentes e a um colapso na confiança na liderança da
Igreja.

Não se pode negar o fato de que o esquema a nível mundial de


cobertura de casos de crimes sexuais cometidos por clérigos foi idealizado
pela Congregação para a Doutrina da Fé sob a direção do cardeal
Ratzinger (1981-2005). Durante o reinado do Papa João Paulo II, essa
congregação já tinha tomado conta de todos esses casos, debaixo de
juramento do mais estrito silêncio. O próprio Ratzinger, a 18 de maio de
2001, enviou a todos os bispos um documento solene em que tratava de
crimes severos (epistula de delictis gravioribus, no qual os casos de abuso
eram selados sob o secretum pontificium), cuja violação poderia originar
graves penalidades eclesiásticas. Assim, muitas pessoas, e com razão,
esperaram um mea culpa pessoal da parte do antigo prefeito e atual
Papa. Em vez disso, o Papa desperdiçou a oportunidade dada pela Semana
Santa: no Domingo de Páscoa, teve a sua inocência proclamada urbi et
orbi pelo reitor do Colégio Cardinalício.

As consequências de todos estes escândalos para a reputação da


Igreja Católica são desastrosas. Importantes líderes religiosos já o

109
admitiram. Numerosos pastores e educadores inocentes e empenhados
estão a sofrer debaixo do estigma de suspeição que agora cobre a Igreja.
Vós, reverendos bispos, deveis enfrentar a questão: o que acontecerá à
nossa Igreja e à vossa diocese no futuro?”377.

Não apenas antes do conclave de 2005, mas especialmente depois,


as críticas de Boff e Kung (e tantos outros) continuaram mais
intensamente, por toda a parte, e sem tréguas. O próprio Andreas
Englisch, contando dos dissabores que Bento XVI tivera na Jornada
Mundial da Juventude em 2005, em Colônia (Alemanha), dissera:
“começou-se a especular que certos grupos, alguns dentro da própria
Igreja, queriam prejudicar o papa e por isso haviam boicotado...” 378.

XXVI - A posição de Lefébvre sobre Ratzinger e a crise da Igreja

Não só dos liberais e progressistas Ratzinger receberia duros


ataques, mas também dos tradicionalistas, sedevcantistas e outros
grupos, que não perdoariam sua atuação como perito do Concílio Vaticano
II, responsabilizando-o ainda pelas brechas abertas para um
aggionarmento cujos efeitos foram danosos para a Igreja.

Monsenhor Marcel Lefébvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal


São Pio X (FSSPX), assim se expressou, em 4 de outubro de 1987:

“Eu resumi ao Cardeal Ratzinger: que mesmo se você conceder-nos


um Bispo, mesmo se conceder-nos uma certa autonomia para os Bispos,
mesmo se conceder-nos a Liturgia de 1962 em sua plenitude, mesmo que
você permita-nos continuar com o Seminário e a Fraternidade da forma

110
que ela funciona no momento; nós não colaboraremos! Isto é impossível!
Impossível! Porque nós trabalhamos em direções diametralmente opostas.
Você trabalha para a descristianização da sociedade, do ser humano e da
Igreja. E nós trabalhamos para a Cristianização! Isto é lógico: Roma
perdeu a Fé meus senhores amigos! Roma se encontra em Apostasia. Isso
não são palavras vãs, apenas digo-lhes a verdade. Roma está em
apostasia! Já não se pode confiar neles! Eles abandonaram a Igreja! Eles
abandonaram a Igreja! Eles abandonaram a Igreja! Isso é absolutamente
certo”379. Mas Ratzinger, mesmo assim, empenhou-se por uma
reconciliação com a FSSPX, tendo revogado, em 2009, as excomunhões de
quatro bispos consagrados pelo Arcebispo Marcelo Lefébvre, e também
dois anos antes, com o Summorum Pontificum, houve um crescente
interesse (especialmente por jovens) pela missa de rito romano . “Poderá
deixar-nos totalmente indiferentes uma comunidade onde se encontram
491 sacerdotes, 215 seminaristas, 6 seminários, 88 escolas, 2 institutos
universitários, 117 irmãos, 164 irmãs e milhares de fiéis?
Verdadeiramente devemos com toda a tranquilidade deixá-los andar à
deriva longe da Igreja?”380, escreveu Bento XVI, em 10 de março de 2009,
aos bispos de toda a Igreja, para explicar a remissão da excomunhão dos
bispos lefebvrianos. Mas o pomo da discórdia continuaria sendo ainda a
questão do ecumenismo e o da liberdade religiosa, que não apenas
suscitou muitas controvérsias após o Concílio Vaticano II, como ainda por
essa via, permitiu que os progressistas alargassem a agenda do Religions
for Peace, com os efeitos denunciados pelo monsenhor Juan Cláudio
Sanahuja.

Falando sobre a crise na Igreja, afirmou Marcelo Lefébvre:

111
“Acho que não precisamos de provas. É claramente evidente! A
maçonaria quer introduzir a noção falsa de Liberdade Religiosa na Igreja
para destruir a Verdade da Igreja. Por que razão foram perseguidos Pedro,
Paulo e todos os mártires? Porque eram cristãos, porque eram chamados
cristãos. Ou seja, eram discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo. E por que
estes discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo e esta religião afirmam ter a
única verdade. Eles tinham como objetivo converter todos os ‘discípulos’
das ‘religiões’ falsas, das ‘divindades’ pagãs e de todos os cultos falsos.
Tinham como objetivo converte-los para a única religião verdadeira, a
religião de Nosso Senhor Jesus Cristo. E por isso eram chamados cristãos
os discípulos desta verdadeira religião. E os protetores destas ‘religiões’
falsas, perseguiam todos os cristãos que exclamavam: ‘nós somos a única
verdadeira religião!’ e se ‘querem ir para o céu e salvar as vossas almas,
terão de se converter para Nosso Senhor Jesus Cristo!’ Esta é a primeira
verdade elementar que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou... e porque Jesus
Cristo é Deus. Eis a nossa religião! Eis a nossa verdade! Eis o que cria as
nossas dificuldades com Roma, meus queridos irmãos... E vocês
perguntam: ‘Por que? Por que continuam estas dificuldades com Roma?
Porque recusamos o ecumenismo, porque recusamos a liberdade de todas
as ‘religiões’, pois que temos um Deus, um só Deus, Nosso Senhor Jesus
Cristo!”381

Ainda sobre a grave crise na Igreja, durante e após o Concílio


Vaticano II, Lefebvre resumiu toda a situação, que ele já sentia, ao seu
tempo, e cujos sintomas persistiram e se agravaram, decorridos cinquenta
anos depois.

“Por outro lado, acho que no próximo encontro, ou antes do


próximo encontro, aliás, se eles realmente me solicitarem este colóquio,
112
sou eu que lhes farei umas perguntas. Sou que vou interrogá-los, para lhes
dizer: - Qual Igreja é de vocês? Com qual Igreja estamos tratando? Eu
quero saber – se eu estou tratando com a Igreja Católica ou se eu estou
tratando com outra Igreja, com uma contra-Igreja, com uma falsificação
da Igreja. Ora, eu acredito sinceramente que estamos tratando com uma
falsificação da Igreja, e não com a Igreja Católica. Por que? Por que eles
não ensinam mais a fé católica. Eles não defendem mais a fé católica. E
não somente eles não ensinam mais a fé católica e não defendem mais a
fé católica, mas eles ensinam outra coisa, eles arrastam a Igreja para algo
diferente da Igreja Católica. Essa não é mais a Igreja Católica. Eles estão
instalados sobre a sé de seus predecessores, todos esses cardeais que
estão nessas Congregações, e todos esses secretários que estão nessas
Congregações, eles estão na Secretaria de Estado. Eles estão bem
instalados onde estavam seus predecessores, mas eles não dão sequência
aos seus predecessores. Eles não têm a mesma fé, nem a mesma doutrina,
nem a mesma moral, tal como seus predecessores. Então isso não é
possível! E, principalmente, seu grande erro é o ecumenismo. Eles ensinam
um ecumenismo que é contrário á fé católica. E direi: o que vocês acham
dos anátemas do Concílio de Trento? O que vocês acham dos anátemas da
encíclica Auctorem Fidei, sobre o Concílio de Pistoia? O que vocês acham
do Syllabus? O que vocês acham enfim da encíclica immortale Dei, do
papa Leão XIII? O que vocês acham da carta sobre o Sillon, do papa São
Pio X? Da encíclica Quas Primas, do papa Pio XI, da Mortalium Animus, do
papa Pio XI, justamente contra o ecumenismo, contra esse falso
ecumenismo. E assim sucessivamente...”382

Sobre a polêmica em torno da expressão “subsist in”, inclusa no nº


8 da Lumen Gentium (que Ratzinger apoiara como perito no Concílio

113
Vaticano II), tradicionalistas acusam Ratzinger de ter favorecido o
ecumenismo383, com os efeitos posteriores de crescente descatolização da
Igreja. Roberto de Mattei explica que “o pastor Wilhelm Schmidt,
observador protestante ao Concílio, afirma em carta ao Padre Mathias
Gaudron, de 3 de agosto de 2000, ter sugerido a fórmula ao Padre
Ratzinger, que a terá transmitido ao Card. Frings (Le Sel de la terre, 49
(2004), p. 40)”384. E também lembra que “com maior autoridade se
exprimiu a Congregação para a Doutrina da Fé sobre o tema na declaração
Dominus Iesu, onde esclareceu que o Concílio Vaticano II tinha usado a
expressão ‘subsistit in’ para afirmar que ‘existe portanto uma única Igreja
de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de
Pedro e pelos bispos em comunhão com ele, ainda que existam elementos
de santificação e de verdade fora da sua composição” 385. De Mattei
ressalta ainda o que disse Mons. Fernando Ocáriz na apresentação
documento: “A única Igreja susiste [subsistit] na Igreja Católica, presidida
pelo sucessor de Pedro e pelos outros bispos’. Com esta afirmação, o
Vaticano II pretende dizer que a única Igreja de Jesus Cristo continua a
existir, mau grado as divisões entre os cristãos; e, mais precisamente, que
apenas na Igreja Católica subsiste a Igreja de Cristo em toda a sua
plenitude, enquanto fora da sua composição visível existem ‘elementos de
santificação e de verdade’ próprios da mesma Igreja (cf. 17)” 386. Para
esclarecer esta e algumas outras questões relacionadas 387, no pontificado
de Bento XVI, a Congregação para a Doutrina da Fé, deu a seguinte
resposta em relação à controvérsia do nº 8, da Lumen Gentium,
especialmente às questões 2 e 3: “Cristo "constituiu sobre a terra" uma
única Igreja e instituiu-a como "grupo visível e comunidade espiritual", que
desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá, e na

114
qual só permaneceram e permanecerão todos os elementos por Ele
instituídos. "Esta é a única Igreja de Cristo, que no Símbolo professamos
como sendo una, santa, católica e apostólica […]. Esta Igreja, como
sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja
Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão
com ele".

Na Constituição dogmática Lumen Gentium 8, subsistência é esta


perene continuidade histórica e a permanência de todos os elementos
instituídos por Cristo na Igreja católica, na qual concretamente se
encontra a Igreja de Cristo sobre esta terra.

Enquanto, segundo a doutrina católica, é correto afirmar que, nas


Igrejas e nas comunidades eclesiais ainda não em plena comunhão com a
Igreja católica, a Igreja de Cristo é presente e operante através dos
elementos de santificação e de verdade nelas existentes, já a palavra
"subsiste" só pode ser atribuída exclusivamente à única Igreja católica,
uma vez que precisamente se refere à nota da unidade professada nos
símbolos da fé (Creio… na Igreja "una"), subsistindo esta Igreja "una" na
Igreja católica”. E sobre o “porque se usa a expressão "subsiste na", e não
simplesmente a forma verbal "é"”, respondeu: “o uso desta expressão, que
indica a plena identidade da Igreja de Cristo com a Igreja católica, não
altera a doutrina sobre Igreja; encontra, todavia, a sua razão de verdade
no facto de exprimir mais claramente como, fora do seu corpo, se
encontram "diversos elementos de santificação e de verdade", "que, sendo
dons próprios da Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica". Por
isso, as próprias Igrejas e Comunidades separadas, embora pensemos que
têm faltas, não se pode dizer que não tenham peso ou sejam vazias de
significado no mistério da salvação, já que o Espírito se não recusa a
115
servir-se delas como de instrumentos de salvação, cujo valor deriva da
mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja
Católica”388.

Mas não foi este o entendimento de Marcel Lefébvre e outros, que


continuaram a fazer críticas sobre a posição de Ratzinger, especialmente
em relação ao ecumenismo favorecido pelo Concílio Vaticano II. O fato é
que ele manterá uma visão positiva sobre o ecumenismo, em seu
pontificado, como expressou em sua visita ao Brasil, na Catedral da Sé, em
São Paulo, em 11 de maio de 2007, dizendo:

“O ecumenismo, ou seja, a busca da unidade dos cristãos torna-se


nesse nosso tempo, no qual se verifica o encontro das culturas e o desafio
do secularismo, uma tarefa sempre mais urgente da Igreja católica. Com a
multiplicação, porém, de sempre novas denominações cristãs e, sobretudo
diante de certas formas de proselitismo, frequentemente agressivo, o
empenho ecumênico torna-se uma tarefa complexa. Em tal contexto é
indispensável uma boa formação histórica e doutrinal, que habilite ao
necessário discernimento e ajude a entender a identidade específica de
cada uma das comunidades, os elementos que dividem e aqueles que
ajudam no caminho de construção da unidade. O grande campo comum
de colaboração deveria ser a defesa dos fundamentais valores morais,
transmitidos pela tradição bíblica, contra a sua destruição numa cultura
relativística e consumista; mais ainda, a fé em Deus criador e em Jesus
Cristo, seu Filho encarnado. Além do mais vale sempre o princípio do amor
fraterno e da busca de compreensão e de proximidade mútuas; mas
também a defesa da fé do nosso povo, confirmando-o na feliz certeza, que
a ‘unica Christi Ecclesia... subsistit in Ecclesia catholica, a successore Petri
et Episcopis in eius communione gubernata’ (‘a única Igreja de Cristo...
116
subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos
Bispos em comunhão com ele’) (Lumen gentium  8).”389 Para Lefebvre, o
problema todo estava no ecumenismo. Para Leonardo Boff e Hans Kung,
Ratzinger comprometera o ecumenismo, em seu pontificado. Não apenas
em relação ao ecumenismo, mas como Kung ressalta: “perdeu a
oportunidade de fazer do espírito do Concílio Vaticano II a bússola para
toda a Igreja Católica, incluindo o próprio Vaticano, e assim promover as
necessárias reformas no interior da Igreja”390.

XXVII – A visão de Bento XVI sobre o Concílio Vaticano II

As controvérsias e dilemas do Concílio Vaticano II permaneceriam


por muito mais de cinquenta anos, e foi o tema do pronunciamento de
Ratzinger como papa, três dias depois de sua renúncia, um depoimento
que fez para o clero de Roma, em 14 de fevereiro de 2013, dizendo que
havia prevalecido “uma hermenêutica política” 391 que não correspondia
exatamente ao que se esperava, no início, os Padres conciliares, para “que
tudo se renovasse, que viesse verdadeiramente um novo Pentecostes,
uma nova era da Igreja”392. No entanto, Bento XVI reconhecia, em seu
encontro com o clero romano, a pressão que já havia, no Concílio, pela
descentralização da Igreja:

“...enquanto todo o Concílio – como disse – se movia no âmbito da


fé, como fides quaerens intellectum, o Concílio dos jornalistas,
naturalmente, não se realizou no âmbito da fé, mas dentro das categorias

117
dos meios de comunicação atuais, isto é, fora da fé, com uma
hermenêutica diferente. Era uma hermenêuticos política: para os mass
media, o Concílio era uma luta política, uma luta de poder entre diversas
correntes da Igreja. Era óbvio que os meios de comunicação tomariam
posição por aquela parte que se lhes apresentava mais condizente com o
seu mundo. Havia aqueles que pretendiam a descentralização da Igreja, o
poder para os Bispos e depois, valendo-se da expressão ‘Povo de Deus’, o
poder do povo, dos leigos. Existia esta tripla questão: o poder do Papa, em
seguida transferido para o poder dos bispos e para o poder de todos, a
soberania popular. Para eles, naturalmente, esta era a parte que devia ser
aprovada, promulgada, apoiada. E o mesmo se passava com a liturgia:
não interessava a liturgia como ato da fé, mas como algo onde se fazem
coisas compreensíveis, algo de atividade da comunidade, algo profano. E
sabemos que havia uma tendência – invocava mesmo um fundamento na
história – para se dizer: A sacralidade é uma coisa pagã, eventualmente
do próprio Antigo Testamento. No Novo, conta apenas que Cristo morreu
fora: fora das portas, isto é, no mundo profano. Portanto há que acabar
com a sacralidade, o próprio culto deve ser profano: o culto não é culto,
mas um ato do todo, da participação comum, e deste modo a participação
vista como atividade. Estas traduções, banalizações da ideia do Concílio,
foram virulentas na prática da aplicação da reforma litúrgica; nasceram
numa visão do Concílio fora da sua chave própria de interpretação, da
fé”393.

Vinte anos após o encerramento do Concílio Vaticano II, o papa S.


João Paulo II entendeu que era preciso “demonstrar os limites da
recepção do Vaticano II”394. Já se sentia que os efeitos não eram os
esperados, ao menos conforme o próprio Ratzinger sentira, tendo ele

118
participado, juntamente com João Paulo II dos debates conciliares. O papa
Wojtila então exortou um debate mais aprofundado sobre tais efeitos, no
Sínodo dos Bispos, de 1985. No entanto, um novo embate de posições
havia feito emergir céticos e otimistas, e o desejo de revisão de certas
questões. Naquele momento, coube o direcionamento dos trabalhos do
Sínodo aos futuros oponentes de Bento XVI: os cardeais Gotfried Daneels
e Walter Kasper (o secretário do Sínodo), que redigiram o documento
final. Mesmo assim, prevaleceu “um claro desenvolvimento na questão ad
extra (ensino social, ecumenismo, diálogo inter-religioso) e uma
abordagem mais conservadora às questões ad intra”395.

Nesse sentido, cabe lembrar as palavras de Dom Athanasius


Schneider:

“Quanto à atitude diante do Concílio Vaticano II, devemos evitar os


dois extremos: uma rejeição completa (como o fazem os sedevacantistas e
uma parte da FSSPX) ou uma “infalibilização” de tudo o que o Concílio
falou. 

O Concílio Vaticano II foi uma legítima assembleia presidida pelos


Papas e devemos manter para com este concílio uma atitude de respeito.
Contudo, isso não significa que não podemos exprimir dúvidas bem
argumentadas e respeitosas propostas de melhoria, apoiando-se na
Tradição integral da Igreja e no Magistério constante396.

Apesar de todas as controvérsias e os efeitos concretos após o


Concílio Vaticano II, Bento XVI foi inequívoco em manifestar a sua
convicção, em sua mensagem de Natal à Cúria romana, em 22 de
dezembro de 2005:

119
“A Igreja, quer antes quer depois do Concílio, é a mesma Igreja una,
santa, católica e apostólica...”397

Mesmo assim, não deixou de ressaltar as inquietações dos anos


posteriores, e as indagações sobre o que poderia ter ocorrido para haver
tantas apreensões e incompreensões:

“Surge a pergunta: por que a recepção do Concílio, em grandes


partes da Igreja, até agora teve lugar de modo tão difícil? Pois bem, tudo
depende da justa interpretação do Concílio ou como diríamos hoje da sua
correta hermenêutica, da justa chave de leitura e de aplicação. Os
problemas da recepção derivaram do fato de que duas hermenêuticas
contrárias se embateram e disputaram entre si. Uma causou confusão, a
outra, silenciosamente mas de modo cada vez mais visível, produziu e
produz frutos. Por um lado, existe uma interpretação que gostaria de
definir "hermenêutica da descontinuidade e da ruptura"; não raro, ela
pôde valer-se da simpatia dos mass media e também de uma parte da
teologia moderna. Por outro lado, há a "hermenêutica da reforma", da
renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos
concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve,
permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a
caminho. A hermenêutica da descontinuidade corre o risco de terminar
numa ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Ela
afirma que os textos do Concílio como tais ainda não seriam a verdadeira
expressão do espírito do Concílio”398.

120
Tanto na Mensagem de Natal à Cúria romana (2005), quanto à
exposição que fez ao clero romano (em 14 de fevereiro de 2013), Bento
XVI permaneceu convicto de que as incompreensões do Concílio Vaticano
II se deram pelo modo como os mass media estimularam e se
simpatizaram por “uma hermenêutica da descontinuidade e da
ruptura”399, causando confusão, “e também de uma parte da teologia
moderna”400. Talvez esteja aqui, nessa colocação, o que aproxima e o que
distancia Ratzinger do grupo que elegeu Bergoglio, em 2013. Isso porque
certos tradicionalistas dizem que tanto Ratzinger, quanto Bergoglio estão
em sintonia com a mesma visão modernista de Igreja, a diferença está
apenas no grau, sendo que Bergoglio mostrou-se disposto, desde o início a
pisar no acelerador, por uma revolução sem precedentes, como um novo
João XXIII.

XXVIII – Joseph Ratzinger e as “teologias da libertação”

Na sua exposição ao clero romano, Bento XVI associou a


“hermenêutica da descontinuidade e da ruptura” 401 estimulada pelos

121
mass media e também por “uma parte da teologia moderna” 402. Desse
modo, retomou o que já havia escrito em 1984, em sua “Instrução sobre
alguns aspectos da teologia da libertação” 403, pontuando os seus
equívocos, dentre outros fatores, da concepção que “deriva
inevitavelmente uma politização radical das afirmações da fé e dos juízos
teológicos”404, equívocos não somente “das teologias da libertação” 405,
mas das demais correntes do pensamento modernista (somadas às
teologias da libertação) se impregnaram no seio da Igreja, em diversas
expressões, causando assim tantas “divisões no corpo eclesial” 406,
especialmente depois do Concílio Vaticano II. Com isso deixou evidente de
que a sua posição (principalmente em seu pontificado) não correspondia
inteiramente a esta “teologia moderna”407 que ele destacou como parte
da causa de tantas dissensões internas, ad intra.

Nesse sentido, na “Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da


Libertação”, Ratzinger, enquanto Cardeal Prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, afirmou que “como todo movimento de ideias, as
‘teologias da libertação’ englobam posições teológicas diversificadas” 408 e
“suas fronteiras doutrinais são mal definidas” 409, pois que cedem, muitas
vezes, “à tentação de reduzir o Evangelho da salvação a um evangelho
terrestre”409. E explica que “sob um ponto de vista descritivo, convém falar
das teologias da libertação, pois a expressão abrange posições teológicas,
ou até mesmo ideológicas, não apenas diferentes, mas até, muitas vezes,
incompatíveis entre si”410, com “erros que ameaçam diretamente as
verdades de fé sobre o destino eterno das pessoas”411, pois “propõem
uma interpretação inovadora do conteúdo da fé e da existência cristã,
interpretação que se afasta gravemente da fé da Igreja, mais ainda,
constitui uma negação prática dessa fé”412.

122
Desse modo, as teologias da libertação contribuíram para acentuar
cada vez mais uma ideologização da fé413, instrumentalizando setores
progressistas da Igreja para fins políticos, muitas vezes em dissonância
com os princípios e valores da sã doutrina moral e social católica. Isso
porque “os a priori ideológicos”414 tornaram-se “pressupostos para a
leitura da realidade social”415, com reducionismos e simplificações, e
consequências danosas, em vários aspectos.

Ao se posicionar oficialmente, enquanto Prefeito da Congregação


para a Doutrina da Fé, sobre a controversa obra de Leonardo Boff, “Igreja,
Carisma e Poder”, em 11 de março de 1985, o então Cardeal Joseph
Ratzinger afirmou que “certas opções do livro de L. Boff manifestam-se
insustentáveis”416, concluindo que tais opções “são de tal natureza que
põem em perigo a sã doutrina da fé”417.

Não apenas a sua obra intelectual, mas também a sua vida pessoal
foi marcada por rebeldia, incoerência e soberba. O próprio Boff
reconheceu a importância de Lutero no seu pensamento como teólogo da
libertação e também na sua atitude como revolucionário. Para Boff,
Lutero “é um dos pais do espírito emancipatório moderno e um dos
doutores comuns do cristianismo. Nele há inegavelmente uma aura
libertária e uma coragem para o protesto que têm a ver diretamente com
a teologia latino-americana de libertação”418.

123
XXIX – Quando Leonardo Boff foi punido por Ratzinger

Quando foi recebido na Congregação para a Doutrina da Fé, em 7 de


setembro de 1984, para falar sobre “alguns problemas eclesiológicos
surgidos da leitura do livro ‘Igreja: Carisma e Poder’” 419, no histórico
colóquio com Ratzinger, um dos problemas encontrados na obra, era
justamente “a perspectiva protestante” 420, como explica Antonio Carlos
Ribeiro, em “Boff: diálogo com Lutero”:

“A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé tinha encontrado


duas dificuldades consideradas sérias na obra ‘Igreja: carisma e poder’,
que gerou a notificação, o processo em Roma e a condenação. A primeira
era a perspectiva protestante. Segundo Boff, no interrogatório sobre sua
teologia, lhe foi dito: ‘O teu livro é protestante, quem fala assim são os
protestantes, eles não são como os católicos’. Ele reagiu: ‘Absolutamente,
é o lado evangélico do protestantismo, e temos muito o que aprender com
Lutero. Então, não aceito que seja o lado protestante, é o lado são da
teologia, que percebe o excesso, o abuso de poder da Igreja, a soberba, e
pertence à teologia ter uma palavra crítica sobre isso. E há uma tradição
profética. A gente, quando é batizado, é batizado para ser profeta, além
de sacerdote. Ninguém lembra de ser profeta na Igreja. Os profetas se
confrontam com o poder’”421.

E certamente Leonardo Boff obteve mais admiração por Lutero,


após aquele dia em que saiu da Congregação para a Doutrina da Fé,

124
apoiado pelos amigos e defensores Paulo Evaristo Arns e Ivo Lorscheiter
(na época, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Meses depois de Ratzinger ter afirmado que as suas opções colocavam
“em perigo a sã doutrina da fé” 422, Boff publicou “E a Igreja se Fez povo”,
dedicando um capítulo inteiro a Martinho Lutero, que exigiu “conversão e
Reforma de toda a Igreja”423.

Quinze anos antes, quando Leonardo Boff esteve na Alemanha de


Lutero (entre 1965 a 1970), aonde doutorou-se em Filosofia e Teologia, na
Universidade de Munique, conhecera Ratzinger, que orientou a sua tese
“A Igreja como sacramento no horizonte da experiência do mundo.
Tentativa de uma fundamentação estrutural-funcional da eclesiologia” 424.
E o próprio Boff relatou a generosidade de Ratzinger, que havia ajudado a
publicar a sua tese:

“Como jovem teólogo recém formado em Munique tinha dificuldade


em publicar minha tese de 600 páginas. Ele se mostrou tão entusiasmado
que por sua conta procurou uma editora e me deu um montante
considerável de dinheiro para facilitar a publicação, coisa que agradeço no
prefácio do livro. Era sobre como a Igreja pode ser sinal e instrumento do
divino no mundo moderno, especialmente, em épocas de revolução.
Ficamos amigos e trocávamos tudo o que escrevíamos. Outra vez quando
estava na fila para cumprimentar João Paulo II em Roma, ele me tirou da
fila e me apresentou pessoalmente ao papa com palavras elogiosas” 425.

125
XXX – Boff: o mais implacável inimigo de Ratzinger

Mas depois que saiu da sala da Congregação para a Doutrina da Fé,


aonde havia sido interrogado por Ratzinger sobre o seu livro “Igreja,
Carisma e Poder”, já não havia mais o sentimento de estima e gratidão
pelo professor de Teologia que tanto se empenhou em publicar a sua tese.
Houve ali uma cisão, uma ruptura pessoal, uma confirmação de que ele
estava do outro lado da margem do rio, que não havia mais como ele
aceitar as determinações vindas de cima para baixo, numa lógica que para
ele era inquisitorial. Além do rancor e do ódio que sentira, não apenas
naquele dia, mas que carregou consigo, dali para a frente, tornou-se o
mais implacável inimigo de Ratzinger e tudo o que ele representava
enquanto Igreja. Para Boff, era preciso resistir. Ele já estava engajado na
resistência contra a hierarquia, contra a instituição do papado como
estava constituída, desde quando voltou ao Brasil, após seus estudos na
Alemanha. Havia decidido ser o intelectual orgânico e utilizar a própria
estrutura da Igreja para subvertê-la, por dentro, aparelhando-a
ideologicamente, como ele mesmo conta:

“Eu chego em 1970 e encontro a CNBB numa linha, quer dizer, a


Igreja no Brasil era plenamente uma igreja de resistência e falando de
libertação. Logo que cheguei assumi a direção da Revista Eclesiástica
Brasileira e da Revista Concilium, fui feito diretor do editorial religioso.
Praticamente eu decidia tudo o que era publicado na área religiosa e me
metia também na área leiga. E eu utilizei aquela máquina ideológica,
utilizei mesmo, de forma consciente. Eu dizia: ‘nós temos que – era um

126
velho sonho meu quando fui estudar na Europa – conquistar a igreja para
o povo, a libertação vai entrar por aqui, no Brasil’. E incentivava tudo o
que ia nesta linha de libertação, inclusive levando diretamente para as
máquinas meus textos”426.

Leonardo Boff passou a apoiar e difundir a teologia da libertação,


tornando-se ele mesmo um dos seus mais expressivos expoentes, agindo
como o intelectual orgânico proposto por Gramsci, para, por dentro da
Igreja, alargar uma rede de subversão. A punição do Vaticano por suas
ideias libertárias lhe traumatizou, mas de modo algum o silenciou, e muito
menos o inibiu em seu engajamento. Não foram poucas as oportunidades
em que ele se vitimizou (especialmente à imprensa), pelo silêncio que
Ratzinger lhe impôs, e pelas demais sanções sofridas por causa das suas
ideias e da sua visão de Igreja: “foi proibido de dar aulas, fazer
conferências e escrever – destino semelhante ao de Barth na 2ª Guerra,
que sofreu a mesma punição, recorreu, venceu na justiça trabalhista, mas
foi demitido pelo ministro da cultura da Prússia, do Terceiro Reich – e,
sete anos depois, da censura prévia a cada escrito, dos novos embates, da
deposição da cátedra, da chefia editorial da Vozes e da função de redator,
até desligar-se da Ordem dos Frades Menores e do sacerdócio 427.

A resposta de Leonardo Boff à sua punição, foi dada com a


publicação do seu livro “E a Igreja se Fez povo”, não apenas aprofundando
mais ainda o seu pensamento revolucionário, como também um
verdadeiro programa de Igreja libertária, ancorada no carisma de São
Francisco de Assis, “patrono da opção pelos pobres” (capítulo XI) e
também a rebeldia de Lutero (capítulo XII).

127
“A escolha desta obra como representativa da recepção de Lutero
em Leonardo Boff se deve a algumas razões. A primeira é que é
representativa do período seguinte à condenação. No livro, ele está
soerguendo-se, exausto e desgastado do processo jurídico-teológico, em
moldes romanos e com a força institucional à mostra na sumariedade do
rito, com a mesma instância na acusação, na defesa de um advocatus
proautore – com o qual não pode ter contato – e na sentença, executada
pela instituição, com a pompa e circunstância da época em que detinha os
poderes espiritual e temporal”428.

Dom Mauro Morelli não apenas autorizou a publicação do livro “E a


Igreja se Fez Povo”, como fez questão de prefaciar a obra, em 6 de janeiro
de 1986, animando-o a prosseguir na causa da libertação, chamando-o de
“profeta da mudança e evangelista de um tempo novo”. E ressaltou:

“Não estás sozinho (...) Enquanto grandes e fariseus se perturbam,


vamos crescer em esperança, com os pobres do mundo”429.

XXXI – Impressões das minhas duas primeiras viagens a Roma, em


1993 e 1998

128
Alguns anos depois, em dezembro de 1993, fiz a minha primeira
viagem à Roma, e ainda sem informações maiores sobre a grave crise que
havia dentro da Igreja, já percebia os efeitos da teologia da libertação,
especialmente nos grupos de jovens, na catequese, na preparação para a
crisma, etc., e também no relativismo que já grassava principalmente no
meio acadêmico.

O papa São João Paulo II havia publicado a sua encíclica Veritatis


Splendor, no começo do semestre daquele ano (como no ano anterior
publicara também o Catecismo da Igreja Católica), confirmando a doutrina
moral e social da Igreja, ressaltando na Veritatis Splendor que “modelada
sobre a de Deus, a liberdade do homem não só não é negada pela sua

129
obediência à lei divina, mas apenas mediante essa obediência, ela
permanece na verdade e é conforme à dignidade do homem” 430. E numa
das conversas, naquela época, haviam me chamado a atenção à
desobediência e à soberba de Leonardo Boff, e o quanto ele odiava Joseph
Ratzinger, pelo que fizera com ele, exigindo o “silêncio obsequioso” depois
que escreveu “Igreja, Carisma e Poder”.

Na redação do L’Osservatore Romano, eu estivera com Mons.


Expedito Marcondes, e também passei pelos dicastérios romanos, aonde
conversara com os cardeais Lucas Moreira Neves e Geraldo Majella
Agnello. Não era tão unânime assim (como eu pensei que poderia ser) a
afeição do clero para com João Paulo II, que Dom Geraldo reconhecia ser
um “gigante da fé”431. Já se discutia, nos bastidores, a sucessão do papa
Wojtila, que a cada mês parecia mais abatido, especialmente pelo
Parkinson. “O papa já não tem a mesma força, mas esperava chegar a
celebrar o Grande Jubileu, em 2000, que era um grande sonho seu”, me
falou Dom Geraldo, ao me entregar o convite para receber a Sagrada
Comunhão de suas mãos, na Missa do Galo, na véspera de Natal, na
Basílica de São Pedro. “Sim, ele chegará ao Grande Jubileu, se Deus quiser,
ele é forte”, respondi, agradecendo a solicitude de Dom Geraldo, que me
recebeu muito cordialmente.

Conversando ainda com prelados de meia idade e até seminaristas,


percebi o ressentimento de alguns pelo modo firme e claro como São João
Paulo II se posicionara em relação à teologia da libertação. Mais ojeriza
ainda tinham para com o Cardeal Ratzinger, que considerava “inconciliável
a politização da Igreja com a fé” 432. As hostilizações sofridas pelo papa
João Paulo II, especialmente em suas primeiras viagens à América Latina
(como, por exemplo, na Nicarágua, em 1983), sinalizavam que a teologia
130
da libertação parecia fazer emergir uma “outra igreja” 433 no seio da Igreja
Católica, e que as correções que Ratzinger se propusera a fazer não foram
suficientes para debelar a força de um movimento que se tornava cada
vez mais insurgente contra a sã doutrina católica.

Com a queda do muro de Berlim (1989) e o fim da URSS (Natal de


1991), organismos políticos do internacionalismo de esquerda buscaram
se reorganizar, priorizando a estratégia de viabilizar governos de esquerda
na América Latina, através do Foro de São Paulo e outros grupos, nesse
sentido. Padres e bispos alinhados com a teologia da libertação foram
fundamentais para favorecer o projeto de poder dos governos de
esquerda que foram se constituindo nos anos 90. Cláudio Hummes
desempenhou um papel relevante para a ascensão política de Lula, a
partir da Pastoral Operária, que ele fundou, assessorado por Frei Betto 434.
Hummes também sucedeu ao cardeal Paulo Evaristo Arns na Arquidiocese
de São Paulo, alargando ainda o trabalho iniciado por Arns de fomento de
pastorais sociais progressistas, muitas delas servindo de base política para
partidos de esquerda, dentre os quais o PT. Mesmo punido por Ratzinger,
Boff continuou exercendo forte liderança, com apoio não apenas de leigos
e padres, mas também bispos e cardeais.

Durante a minha segunda estada em Roma, em 1998, para a


celebração da beatificação de Frei Galvão, a saúde do Papa São João Paulo
II já estava bastante debilitada, e quanto mais se acentuava a sua
fragilidade física, mais avançava o clero progressista, inclusive
conseguindo nomeações em dicastérios romanos, numa estratégia de
gradativa ocupação de postos de decisão.

131
Logo de manhã, bem cedo, no domingo, 25 de outubro, ao chegar
na Praça de São Pedro, vi muitas bandeirinhas brasileiras erguidas por
fiéis, especialmente jovens. No dia seguinte, eu havia visitado novamente
Dom Geraldo, que me presentara com um exemplar da encíclica Fides et
Ratio. Na época, eu era editor de uma revista católica, em São Paulo, e
havia programado entrevistar alguns religiosos, numa casa que ficava a
algumas quadras dos discatérios romanos. Antes, havia passado pelo
Museu do Purgatório, pois também estava estudando aquele tema.
Chegando na casa dos MSC, depois de esperar um bom tempo no jardim,
aonde haviam belíssimas imagens sacras, fiquei chocado quando um dos
religiosos me disse que aguardava com ansiedade já um novo pontificado,
pois – para ele – João Paulo II dificilmente chegaria ao Grande Jubileu.
Voltei a dizer que, sim, que o grande papa polonês teria força para

132
celebrar o ano 2000. E então, ficou evidente na fala deles, e também na
expressão de seus rostos, o ressentimento que tinham pelo papa (que eles
consideravam retrógrado), principalmente por ele ter combatido a
teologia da libertação, pelo que Ratzinger fizera com Leonardo Boff. “A
esperança da Igreja está na América Latina”, afirmaram. O mesmo me
haviam dito em Paris, em 1989, o que comprovou como Boff tinha
influência no exterior. Do mesmo modo que Frei Betto, eles tinham
também a convicção de que a Igreja de Helder Câmara, Paulo Evaristo
Arns e Leonardo Boff teria ainda um dia (e muito brevemente) espaço nas
instâncias decisórias do Vaticano. Mas isso – para eles – só seria possível
depois do pontificado de João Paulo II.

Sinceramente não entendi o porque de tanto ressentimento, de


modo especial, contra Ratzinger. A maneira hostil como eles falavam, me
parecia faltar com a caridade. Ao sair da casa dos religiosos, fiquei
caminhando por um bom tempo á margem do rio Tibre, até chegar ao
Castelo de Santo Ângelo, aonde pude avistar a imagem de São Miguel
Arcanjo. Para mim, Ratzinger havia apenas cumprido o seu dever. Mais
tarde, pude compreender também as palavras de seu irmão Georg:

“O bode expiatório era sempre Ratzinger, a quem a imprensa


batizou de ‘cão de guarda de Deus’, ‘cardeal blindado’ e ‘Grande
Inquisidor’. ‘Há também cães de guarda de boa índole’, ele comentou com
bom humor cordial.

Na verdade, ele nunca foi uma pessoa de caráter opressivo. ‘Sempre


falou em um tom baixo e suave. Nunca levantou a voze nunca demonstrou
raiva ou aborrecimento’, contou um de seus assessores mais próximos. ‘É

133
um homem sem preconceitos e, em princípio, disposto a falar com todo
mundo. Ele respeita a todos e nunca ataca pessoas, apenas ideias que
considere erradas. Evita brigas; prefere convidar um adversário para
comer com ele para explicar, com calma e em detalhes, onde reside o erro
em sua opinião. Isso tudo acontece de uma forma tranquila, amigável e
modesta, sem que ninguém se sinta ferido ou agredido.

No entanto, surgiu, especialmente na Alemanha e até mesmo nos


círculos religiosos, uma certa distorção da imagem de Ratzinger. Quem
não ousava atacar diretamente o popular e carismático João Paulo II, fazia
de Ratzinger sua sombra. ‘O papa teria gostado de fazer isso’, diziam
então, ‘mas Ratzinger não deixou’. Puras bobagens, como sempre
souberam os que faziam parte das atividades internas. ‘João Paulo II tinha
a cabeça dura de um polonês, ele nunca teria deixado que alguém
conduzisse seus atos’, disse um colaborador, ‘e muito menos Ratzinger
teria se atrevido a ditar qualquer regra ao papa. Ele o respeitava muito e
estava longe de se julgar importante o suficiente para uma intromissão’.

Ratzinger nunca foi um homem de política ou de intriga. Ele sempre


evitou a constituição de uma base de poder individual, nunca formou
redes pessoais, e sempre rejeitou, por princípio, a conspiração de grupos
individuais que se veem como uma nova elite. Poder, carreira e influência
nunca o interessaram. Seu mundo são os livros, seu objetivo é explorar a
verdade, seu propósito de vida é a fé. Quem teve a oportunidade de vê-lo
uma vez em seus trajes litúrgicos entre os outros cardeais, com certeza
percebeu a inocência em seus traços quase infantis, sua ingenuidade e sua
devoção refletidas nas mãos cruzadas em oração. ‘Ele é um homem de
oração, um dos poucos que merecem ser chamados de ‘temente a Deus’;

134
ele celebra a missa com um fervor real – é um verdadeiro padre’, confiou-
me o mesmo colaborador”435.

Ao contrário de Ratzinger, Leonardo Boff era extremamente


político, de redes pessoais e de muita influência, e que esperava por um
papa mais político, e mais sintonizado com as demandas do mundo
globalizado, capaz de dialogar num mundo cada mais plural. Nesse
sentido, Boff se exultou com a eleição de Jorge Mário Bergoglio, tendo
afirmado inclusive, em entrevista no mesmo dia do Habemus Papam de
2013: “Eu já fiz a profecia no twitter, há uma semana, que o futuro papa
ia se chamar Francisco. Porque Francisco não é um nome, é todo um
programa de Igreja, uma igreja simples, sem poder, ligada aos pobres,
com uma relação totalmente diferente com a natureza”436.

Como Boff sabia, há uma semana do Habemus Papam, “que o


futuro papa ia se chamar Francisco”437, cuja inspiração pelo nome do
“Poverello de Assis”, teria sido sugestão do também franciscano Cláudio
Hummes? Se Francisco é mais que um nome, mas “todo um programa de
Igreja”, por que Bergoglio esteve, desde o primeiro instante em que
apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, tão sem sintonia com o
programa exposto por Boff, em seu livro “E a Igreja se fez Povo”, escrito
em 1985, como resposta de Boff à punição que sofrera por Ratzinger?

135
XXXII – A gaivota e a pomba

No domingo, 27 de janeiro de 2013, ao final do Angelus, na Praça de


São Pedro, ocorreu um fato inusitado, que chamou a atenção de muitos:
duas pombas foram soltas pelo papa Bento XVI, e uma delas foi atacada
por uma gaivota (cuja cena foi capturada pelo fotógrafo Gregório
Borgia/AP439). O jornal New York Daily News descreveu a situação,
destacando que “as aves saíram voando, mas logo depois uma gaivota
tentou atacá-las, e praticamente encurralou a menor delas contra uma
janela. A pomba conseguiu escapar”440. Em outra ocasião, alguns meses

136
antes, Bento XVI, juntamente com também soltou duas pombas, que se
recusaram a voar, uma delas voltando para os seu quarto, aonde o papa
estava com duas crianças. Mas a cena de 27 de janeiro, da pomba atacada
pela gaivota, quinze dias antes da sua renúncia, foi bastante impactante.

Aquela cena diz muito também como me senti depois do dia 11 de


fevereiro de 2013, porque a renúncia de Bento XVI foi um desabamento,
como que se o chão estivesse saído dos pés. E já estávamos tão
fragilizados, ficamos mais ainda, como que suspensos numa pós-
modernidade (representado pela gaivota), uma pós-modernidade
agressiva, de violências incontáveis, intensificando demais a dificuldade de
viver, reduzindo as condições de vida à mera sobrevivência, em que ficou
cada vez mais difícil ser sujeito, reduzido a apenas a objeto, numa
sociedade de simulacros e perversas ilusões, uma sociedade
desumanizada, descristianizada, despessoalizada, numa sociedade de
pecados tão mortais.

Aquela imagem havia sido captada depois do pronunciamento do


Angelus441, aonde Bento XVI rezou pelas vítimas do nazismo, pelos
leprosos e hansenianos.

Dias depois veio a renúncia, e depois durante o conclave, na tarde


do dia 13 de março de 2013, umas outra gaivota da mesma espécie da que
havia atacado a pomba, pousou sobre a chaminé, antes de sair a fumaça
branca, e ficou lá por um bom tempo, tendo sido noticiada pelas redes
sociais, filmada e fotografada, com a indagação: o que poderia
representar aquela gaivota na chaminé? E ela ficou lá, enquanto
chuviscava, fazia frio, e o povo na Praça de São Pedro aguardava pela
fumaça branca.

137
Foi então que me recordei da cena de 27 de janeiro, da pomba
atacada pela gaivota. O que poderia significar aquilo? Como o raio que
atingiu a Basílica de São Pedro, no dia da renúncia de Bento XVI. O fato é
que me identifiquei profundamente com a pomba, cada vez mais frágil eu
me sentia.

E o que já estava tão debilitado, ficou como que enfermo, destituído


de elan, de vigor, de entusiasmo. E os sentimentos de apreensão se
tornaram do não saber o que fazer, em meio aos estilhaços. Penso que a
pomba como está naquela imagem retrata cada cristão nessa sociedade
de tão grandes ataques (o ataque à família, à fé católica, etc.), uma pomba
que fica paralisada, querendo recuar, não sabendo avançar, sob a mira da
gaivota. Uma imagem com a qual me identifiquei, de imediato, talvez
qualquer cristão se identifique, nesses tempos convulsivos. O que me
conforta é que a pomba sobreviveu ao ataque, sobreviveu e conseguiu
evitar tão grande perigo. Sobreviveu.

***

Os títulos dos 32 capítulos da PRIMEIRA PARTE do livro “UM RAIO NA


BASÍLICA”

Parte I – Uma gaivota na chaminé

1 - Apenas o padre Jorge, das periferias argentinas

2 – Um caminho e um programa de libertação

138
3 – O anti-Ratzinger no conclave de 2005

4 – Um plano anunciado doze meses antes


da renúncia, um raio na Basílica de São Pedro no dia da abdicação, e o
pálio sobre a urna de São Celestino V

5 - “Este ministério deve ser cumprido igualmente sofrendo e rezando!”

6 – Uma despedida em lágrimas - Não haveria mesmo outra forma de ver


um papa deixar o trono de São Pedro, senão subindo aos céus.

7 – Por que lhe faltou o vigor?

8 - O fator Daneels e o clube St. Gallen

9 – O fator Martini

10 – Os votos do conclave de 2005

11 – Em 2005, “Bergoglio não era uma escolha segura”


12 – Das conversas com Frei Betto, no convento dos dominicanos

13 – Cláudio Hummes, o amigo de Lula

14 – O fator Maradiaga

15 – “Pátria Grande” latino-americana, a utopia

16 –Descentralização da Igreja como estratégia

17 – Uma questão de método

18 – O pensamento de Boff sobre Lutero, e a práxis de Francisco

19 – Que revolução quer Francisco?

20 – Das declarações ambíguas e polêmicas

21 – Sentimentos de apreensão

139
22 – Movimentos de esquerda (que Dom Paulo Evaristo Arns ajudou a
organizar) queriam vê-lo Papa

23 – O prefácio de Joseph Ratzinger ao livro de Michel Schooyans

24 – A influência de Boff na encíclica ecológica de Francisco

25 – A ética planetária de Hans Kung

26 – A posição de Lefébvre sobre Ratzinger e a crise da Igreja

27 – A visão de Bento XVI sobre o Concílio Vaticano II

28 – Joseph Ratzinger e as “teologias da libertação”

29 – Quando Leonardo Boff foi punido por Joseph Ratzinger

30 – Boff: o mais implacável inimigo de Ratzinger

31 – Impressões das minhas duas primeiras viagens a Roma, em 1993 e


1998

32 – A gaivota e a pomba

NOTAS:

1. SPADARO, Pe. Antonio, íntegra da entrevista com Francisco à ‘CiviltàCattolica’, 19 de


setembro de 2013.https://fratresinunum.com/2013/09/19/integra-da-entrevista-de-
francisco-a-civilta-cattolica/
2. Maleducazione al Sogliodi Pietro, Mil – Messainlatino.it, sabato, 16 marzo 2013.
http://blog.messainlatino.it/2013/03/maleducazione-al-soglio-di-pietro.html
3. Francisco e Marini. FratresinUnum.com.
https://fratresinunum.com/2013/03/25/francisco-e-marini/; “Aquela roupa vista o
senhor, Monsenhor, o tempo do carnaval acabou”. Nosso muito obrigado pelo seu
precioso trabalho, Monsenhor Marini. FratresinUnum.com
https://fratresinunum.com/2013/03/16/aquela-roupa-vista-o-senhor-monsenhor-o-
tempo-do-carnaval-acabou-nosso-muito-obrigado-pelo-seu-precioso-trabalho-
monsenhor-marini/

140
4. ENGLISCH, Andreas, Francisco, O Papa dos Humildes, p. 22, Universo dos Livros, 2013,
São Paulo.
5. VIDAL, José Manuel e Jesus Bastante, Francisco, O Novo João XXIII – Jorge Mário
Bergoglio, o primeiro pontífice americano para uma nova primavera da Igreja, p. 15,
Editora Vozes, 2013, Petrópolis – Rio de Janeiro.
6. L'ANNUNCIO: "HABEMUS PAPAM" 2013. Publicado em 13 de março de 2013.
https://www.youtube.com/watch?v=M0rCMd8S5nY
7. BOFF, Leonardo, E a Igreja se fez Povo – Eclesiogênese: a Igreja que nasce da fé do
povo, p. 165, Círculo do Livro S.A., 1986, São Paulo.
8. Ibidem.
9. Ibidem.
10. Ibidem.
11. Ibidem.
12. Ib. p. 169.
13. Ib. p. 170.
14. TOSATTI, Marco, “Boff: Ajudei o papa a escrever a ‘Laudato Si’. Haverá uma grande
surpresa. Talvez padres casados ou mulheres diáconos. 27 de dezembro de 2016.
Tradução: André Sampaio. https://fratresinunum.com/2017/01/02/boff-ajudei-o-
papa-a-escrever-a-laudato-si-havera-uma-grande-surpresa-talvez-padres-casados-ou-
mulheres-diaconos/
15. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 27, Editora Ecclesiae,
2012, Campinas – São Paulo.
16. Ib. p. 30.
17. Ib. p. 49.
18. Ib. p. 56.
19. Ib. pp. 52-53.
20. Ib. 53.
21. Ib. p. 57.
22. Ib. p. 58.
23. ENGLISCH, Andreas, Francisco, O Papa dos Humildes, p. 194, Universo dos Livros, 2013,
São Paulo.
24. Leonardo Boff comenta renúncia de Bento XVI - Repórter Brasil (noite), TV Brasil,
publicado em 11 de fevereiro de 2013.https://www.youtube.com/watch?
v=QAJVh1vnYek
25. CardenalMaradiaga: “hay um deseomuy grande de agilizar La Curia”, Declaracionesdel
purpurado a ACIPRENSA, Infocatólica, 26 de setembro de 2013.
http://infocatolica.com/?t=noticia&cod=18601

141
26. Reflexión y Liberación, “As confidências de Francisco à CLAR: grupos
‘restauracionistas’, vida religiosa e comunhão, reforma da Cúria, ‘lobby gay’ no
Vaticano. Tradução: Fratres in Unum. 11 de junho de 2013.
https://fratresinunum.com/2013/06/11/as-confidencias-de-francisco-a-clar-grupos-
restauracionistas-vida-religisoa-e-comunhao-reforma-da-curia/
27. LILLO, Marco, “Complottocontro Benedetto XVI
entro 12 mesimorirà”, IlFattoCotidiano.it/Cronaca, 10 de fevereiro de
2012.http://www.ilfattoquotidiano.it/2012/02/10/complotto-di-morte-benedetto-
xvi/190221/ [imagem do jornal Il Fatto Cotidiano, pdf] - Cardeal revela conspiração
para matar papa Bento XVI, Jornal de Notícias, Mundo, 10 de fevereiro de 2012.
http://www.jn.pt/mundo/interior/cardeal-revela-conspiracao-para-matar-papa-bento-
xvi-2296684.htmlhttp://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/02/jornal-italiano-revela-
suposto-complo-para-matar-o-papa-bento-xvi.html
28. Ibidem.
29. “Complô contra o Papa? O documento na íntegra e alguns comentários.”
FratresinUnum.com, 10 de fevereiro de 2012.
https://fratresinunum.com/2012/02/10/complo-contra-o-papa-o-documento-na-
integra-e-alguns-comentarios/
30. Ibidem.
31. Bento XVI, Declaratio,11 de fevereiro de 2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2013/february/documents/hf_ben-
xvi_spe_20130211_declaratio.html
32. Ibidem.
33. “Raio atinge Basílica de São Pedro no dia em que Papa anuncia a renúncia", Do G1, em
São Paulo, 11 de fevereiro de 2013. http://g1.globo.com/mundo/renuncia-sucessao-
papa-bento-xvi/noticia/2013/02/raio-atinge-basilica-de-sao-pedro-apos-papa-
anunciar-que-vai-renunciar.html
34. “João Paulo II ‘não desceu da cruz’, diz ex-assistente”, ANSA, UOL notícias, 11 de
fevereiro de 2013.https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2013/02/11/joao-
paulo-ii-nao-desceu-da-cruz-diz-ex-assistente.htm
35. NERY, Hermes Rodrigues, “Este ministério deve ser cumprido igualmente sofrendo e
rezando”, Fratres in Unum, 12 de fevereiro de 2014.
https://fratresinunum.com/2014/02/12/este-ministerio-deve-ser-cumprido-
igualmente-sofrendo-e-rezando/
36. Bento XVI, Declaratio, 11 de fevereiro de 2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2013/february/documents/hf_ben-
xvi_spe_20130211_declaratio.html
37. Ibidem.
38. Ibidem.
39. Ibidem.
40. BENTO XVI, Audiência Geral, 27 de fevereiro de
2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2013/documents/
hf_ben-xvi_aud_20130227.html

142
41. Ibidem.
42. Ibidem.
43. ENGLISCH, Andreas, Francisco, O Homem Que Não Queria Ser Papa, p. 132, Universo
dos Livros, 2013, São Paulo.
44. Ib. p .133.
45. Ib. p. 111.
46. Ibidem.
47. Ib. p. 223.
48. Ib. p. 143.
49. Ib. pp. 147-148.
50. ENGLISCH, Andreas, Francisco, O Papa dos Humildes, p. 99, Universo dos Livros, 2013,
São Paulo.
51. Bento XVI, Declaratio, 11 de fevereiro de 2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2013/february/documents/hf_ben-
xvi_spe_20130211_declaratio.html
52. Ibidem.
53. Ibidem.
54. BENTO XVI, Audiência Geral, 27 de fevereiro de
2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2013/documents/
hf_ben-xvi_aud_20130227.html
55. Ibidem.
56. Emoção na despedida do papa Bento XVI, Canal “Lançai as Redes”, 28 de setembro de
2013. https://www.youtube.com/watch?v=kpD1S-TXGQk
57. BENTO XVI, Audiência Geral, 27 de fevereiro de
2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2013/documents/
hf_ben-xvi_aud_20130227.html
58. BENTO XVI, Homilia, Santa Missa de Imposição do Pálio e entrega do anel, para o início
do ministério petrino do Bispo de Roma, 24 de abril de
2005.http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2005/documents/
hf_ben-xvi_hom_20050424_inizio-pontificato.html
59. BENTO XVI, Angelus, 24 de fevereiro de 2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/angelus/2013/documents/hf_ben-xvi_ang_20130224.html
60. RATZINGER, Joseph , A Mensagem de Fátima, Congregação para a Doutrina da Fé, 26
de junho de
2000.http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/
rc_con_cfaith_doc_20000626_message-fatima_po.html, Terceiro Parte do Segredo
(texto original), transcrição 8.
61. BENTO XVI, Audiência Geral, 27 de fevereiro de
2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2013/documents/
hf_ben-xvi_aud_20130227.html

143
62. https://www.youtube.com/watch?v=bQ6E6Yzzjpc
63. FRANCO, Afonso Arinos de Mello Franco, Amor a Roma,
64. BENTO XVI, Breve saudação aos fiéis da Diocese de Albano, no balcão central do
Palácio Apostólico de CastelGandolfo, 28 de fevereiro de
2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2013/february/
documents/hf_ben-xvi_spe_20130228_fedeli-albano.html
65. BENTO XVI, Declaratio, 11 de fevereiro de 2013.
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2013/february/documents/
hf_ben-xvi_spe_20130211_declaratio.html
66. Ibidem.
67. Ibidem.
68. “Conheça cinco curiosidades que o Papa Emérito conta no livro “Bento XVI: últimas
conversas”, Redação A12, em 19 de setembro de 2016.http://www.a12.com/santo-
padre/noticias/detalhes/conheca-5-curiosidades-que-o-papa-emerito-conta-no-livro-
bento-xvi-ultimas-conversas
69. “Vaticano nega doença diz que Bento XVI não sofreu pressão para renunciar, UOL São
Paulo, 11 de fevereiro de 2013. https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-
noticias/2013/02/11/vaticano-nega-que-doenca-e-diz-que-bento-16-nao-sofreu-
pressao-para-renunciar.htm
70. Ibidem.
71. BENTO XVI, Declaratio, 11 de fevereiro de
2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2013/february/
documents/hf_ben-xvi_spe_20130211_declaratio.html
72. Ibidem.
73. Ibidem.
74. (Os apóstolos, p. 51)
75. BENTO XVI, Breve saudação aos fiéis da Diocese de Albano, no balcão central do
Palácio Apostólico de CastelGandolfo, 28 de fevereiro de
2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2013/february/
documents/hf_ben-xvi_spe_20130228_fedeli-albano.html
76. “Conheça cinco curiosidades que o Papa Emérito conta no livro “Bento XVI: últimas
conversas”, Redação A12, em 19 de setembro de 2016.http://www.a12.com/santo-
padre/noticias/detalhes/conheca-5-curiosidades-que-o-papa-emerito-conta-no-livro-
bento-xvi-ultimas-conversas
77. BENTO XVI, Declaratio, 11 de fevereiro de
2013.http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2013/february/
documents/hf_ben-xvi_spe_20130211_declaratio.html
78. Ibidem.
79. Ibidem.

144
80. BENTO XVI, Benção Apostólica “Urbi et Orbi”, Primeira Saudação, 19 de abril de 2005.
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2005/april/documents/
hf_ben-xvi_spe_20050419_first-speech.html
81. Ibidem.
82. BENTO XVI, Discurso aos membros do Colégio Cardinalício, no encontro na Sala
Clementina, 22 de abril de 2005.
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2005/april/documents/
hf_ben-xvi_spe_20050422_cardinals.html
83. Ibidem.
84. BENTO XVI, Discurso às Delegações e Peregrinos de língua alemã, que vieram à Roma,
por ocasião da eleição, 25 de abril de 2005. http://w2.vatican.va/content/benedict-
xvi/pt/speeches/2005/april/documents/hf_ben-xvi_spe_20050425_german-
pilgrims.html
85. Ibidem.
86. ENGLISCH, Andreas, O Homem que Não Queria Ser Papa”, p. 33, Universo dos Livros,
2013, São Paulo.
87. Ibidem.
88. PALMO, Rocco, Whispers in the Loggia, “Um novo primaz para a Bélgica”, 13 de janeiro
de 2010. https://fratresinunum.com/2010/01/13/um-novo-primaz-para-a-belgica/
89. Anna Arco’s Diary, In the depths of decline, who will lead the Belgian  Church, 7 de
dezembro de 2009. https://annaarcosdiary.wordpress.com/2009/12/07/in-the-depth-
of-decline-who-will-lead-the-belgian-church/
90. “Après Danneels, Muscle for Brussels”, Whispers in the Loggia, 13 de janeiro de 2010.
http://whispersintheloggia.blogspot.com.br/2010/01/after-daneels-muscle-for-
brussels.html
91. MAGISTER, Sandro, “De BelloGermanico”, Ex núncio tedescovuotailsaccocontroil papa,
SettimoCielo, 2 de março de 2010.
http://magister.blogautore.espresso.repubblica.it/2010/03/02/de-bello-germanico-ex-
nunzio-tedesco-vuota-il-sacco-contro-il-papa/
92. DELEPELEIRE, Yves, “Hijkonhetnietlaten in hunbroek te zitten”, De Standaard, 16 de
abril de 2011.http://www.standaard.be/cnt/gf38vm56
93. TOSATTI, Marco, “Máfia Eclesiástica”, La Stampa – Tradução: Gercione Lima –
FratresinUnum.com, 24 de setembro de 2015.
https://fratresinunum.com/2015/09/25/mafia-eclesiastica/
94. VTM NIEUWS, “Daneels: ‘Zat in SoortMaffiaclub’”, 23 de setembro de 2015.
https://nieuws.vtm.be/binnenland/159605-danneels-zat-soort-maffiaclub
95. TOSATTI, Marco, “Máfia Eclesiástica”, La Stampa – Tradução: Gercione Lima –
FratresinUnum.com, 24 de setembro de 2015.
https://fratresinunum.com/2015/09/25/mafia-eclesiastica/
96. Ibidem.

145
97. PAULI, Walter, "GodfriedDanneels a oeuvré pendant desannées à l'électiondu pape
François", Le Vif Magazine, 23 de setembro de 2015.
http://www.levif.be/actualite/belgique/godfried-danneels-a-oeuvre-pendant-des-
annees-a-l-election-du-pape-francois/article-normal-420243.html
98. ENGLISCH, Andreas, O Homem que Não Queria Ser Papa”, p. 9, Universo dos Livros,
2013, São Paulo.
99. Ib. pp. 8-9.
100. BBC Brasil.com, “Cardeais latinos chegam divididos ao conclave, diz LA Times”,
18 de abril de 2005.
http://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2005/04/050418_pressreviewms
.shtml
101. Ibidem.
102. VLAHOU, Assimina, “Vaticanistas prevêem conclave rápido e com resultado
incerto”, BBC Brasil.com, 18 de abril de 2005.
http://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2005/04/050418_eleicaomla.sht
ml
103. Ibidem.
104. ibidem.
105. VECCHI, Gian Guido, “Quando Martini disse a Ratzinger: “A Cúria não muda.
Você tem que sair”, Corriere Della Sera, tradução de Moisés Sbardelotto, 16 de maio
de 2015. https://fratresinunum.com/2015/07/17/quando-martini-disse-ratzinger-a-
curia-nao-muda-voce-tem-que-sair/
106. Ibidem.
107. Ibidem.
108. Ibidem.
109. DEL GUÉRCIO, Gelsomino, “Quelcardinale ‘strisciante’
chevolevafarcadereRatzinger e Martini”, Aleteia, 18 de junho de 2015.
http://it.aleteia.org/2015/07/18/quel-cardinale-strisciante-che-voleva-far-cadere-
ratzinger-e-martini/
110. Ibidem.
111. TORNIELLI, Andrea, “O diário secreto do último conclave”, Tradução:
FratresinUnum.com, 29 de julho de 2011. https://fratresinunum.com/2011/07/29/o-
diario-secreto-do-ultimo-conclave/
112. ROSSI Clóvis, “Cardeais fazem voto de silêncio até eleição”, Folha de São Paulo,
10 de abril de 2005. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1004200501.htm
113. “Na eleição do Papa, Argentino ficou em 2º”, Portal Região dos Vales, 23 de
setembro de 2005. http://www.regiaodosvales.com.br/historico/noticia/noticia.php?
id=174
114. DOMINGUEZ, Iñigo, “Undiario secreto delcónclave revela que Bergoglio
fueelgran rival de Ratzinger”, Canarias7, 25 de setembro de 2005.

146
115. https://www.canarias7.es/hemeroteca/
un_diario_secreto_del_conclave_revela_que_bergoglio_fue_el_gran_rival_de_ratzing
er-KLCSN10749
116. CAMAROTTI, Gerson, Segredos do Conclave, 2013.
https://books.google.com.br/books?id=eQglAAAAQBAJ&pg=PT132&lpg=PT132&dq=di
%C3%A1rio+secreto+conclave+2005&source=bl&ots=vmo2OPdkqn&sig=tAPwFjRSy24
BW6jWrXsqlH1WCDI&hl=pt-
BR&sa=X&ved=0ahUKEwjosZrY9P7TAhUCGJAKHejHCNg4ChDoAQhEMAU#v=onepage&
q=di%C3%A1rio%20secreto%20conclave%202005&f=false
117. TARTAGLIA, César, Segredos do Vaticano, O Globo, 25 de dezembro de 2005.
http://memoria.oglobo.globo.com/jornalismo/reportagens/segredos-do-vaticano-
10206657
118. V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, de 13 a 31
de maio de 2007, Documento Final:
http://www.dhnet.org.br/direitos/cjp/a_pdf/cnbb_2007_documento_de_aparecida.p
df
119. Katholisches.Info via Benoît et Moi, Tradução: Cidade Católica, “Qual o papel
desempenhado pela rede de Saint-Gall?”, 29 de setembro de 2015.
https://fratresinunum.com/2015/09/29/qual-o-papel-desempenhado-pela-rede-de-
saint-gall/
120. Ibidem.
121. Ibidem.
122. ENGLISCH, Andreas, O Homem que Não Queria Ser Papa”, p. 9, Universo dos
Livros, 2013, São Paulo.
123. VILLERS, Vincent Tremolet, Entrevista com Jean MarieGuénois: “Papa Francisco
é autoritário, genioso e não tem medo de ninguém”, Catolicismo Romano.
http://www.catolicismoromano.com.br/content/view/5417/34/ . Reportagem
publicada no leFigaro, em 2 de janeiro de 2015.
http://www.lefigaro.fr/vox/religion/2015/01/02/31004-20150102ARTFIG00236-jean-
marie-guenois-du-fait-de-sa-popularite-le-pape-francois-n-a-peur-de-personne-22.php
124. PIQUÉ, Elisabetta, Papa Francisco – Vida e Revolução, p. 62, Editora Leya, 2014,
São Paulo.
125. Ibidem.
126. Ibidem.
127. Ibidem.
128. Ibidem.
129. ENGLISCH, Andreas, O Homem que Não Queria Ser Papa”, p. 9, Universo dos
Livros, 2013, São Paulo.
130. ARANTES, Silvana, “Argentina vê Francisco como delator do irmão torturado”,
Folha de São Paulo, 16 de março de 2013.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/03/1247402-argentina-ve-francisco-
como-delator-de-irmao-torturado.shtml

147
131. “Carta de sacerdote Orlando Yorio, destapa possible doble cara del _Papa
Francisco”, 23 de maio de 2014. https://despierten.wordpress.com/2014/05/23/carta-
sacerdote-orlando-yorio-destapa-posible-doble-cara-papa-francisco/ - Carta original:
https://pt.scribd.com/document/207146280/Carta-de-Sacerdote-Destapa-La-Doble-
Cara-de-Papa-Francisco?
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pactradius
132. “Graciela Yorio involucra al Papa Francisco enelsecuestro de suhermano cura”,
Delbuenaire Radio, 21 de março de 2013. https://www.youtube.com/watch?
v=oudGSuogICw
133. REUTERS, “Nobel da Paz argentino diz que papa não foi cúmplice da ditadura”,
21 de março de 2013. http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-03-21/nobel-da-
paz-argentino-diz-que-papa-nao-foi-cumplice-da-ditadura.html
134. GINZBERG, Victoria, La Iglesia es elcerebro que arma elbrazo militar”, Radar, 24
de abril de 2005. https://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/radar/9-2184-
2005-04-24.html
135. ORDAZ, Pablo, Carlos E. Cué, “Igreja Católica abre seus arquivos sobre a
ditadura militar argentina”, El País, 25 de outubro de 2016.
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/25/internacional/1477397403_091562.html
136. ENGLISCH, Andreas, O Homem que Não Queria Ser Papa”, p. 9, Universo dos
Livros, 2013, São Paulo.
137. GOMIDE, Rafael, “Dúvidas sobre passado minaram chances de Bergoglio ser
papa em 2005, diz livro”, iG Rio de Janeiro, 14 de março de 2013.
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-03-14/duvidas-sobre-passado-minaram-
chances-de-bergoglio-ser-papa-em-2005-diz-livro.html
138. MARTINS, Rui Jorge, “‘O Jesuíta’: livro de entrevistas com cardeal Jorge
Bergoglio, hoje papa Francisco, vai ser editado em Portugal”, Secretaria Nacional da
Pastoral da Cultura, 2 de abril de 2013.
http://www.snpcultura.org/papa_francisco_conversas_com_jorge_bergoglio.html
139. JONAS, “‘Bergoglio é um retorno às essências do Evangelho’, afirma Sérgio
Rubín, biógrafo do Papa”, Instituto Humanas Unisinos, 24 de abril de 2014.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/530553-bergoglio-e-um-retorno-as-essencias-do-
evangelho-afirma-sergio-rubin-biografo-do-papa%20
140. PIQUÉ, Elisabetta, Papa Francisco – Vida e Revolução, p. 121, Editora Leya,
2014, São Paulo.
141. SynodusEpiscoporumBoletín, XI Asamblea General OrdinARIA DEL Sínodo de
los Bispos, 2-3 de octubre 2005.
http://www.vatican.va/news_services/press/sinodo/documents/bollettino_21_xi-
ordinaria-2005/04_spagnolo/b01_04.html
142. PIQUÉ, Elisabetta, Papa Francisco – Vida e Revolução, p. 127, Editora Leya,
2014, São Paulo.
143. Ib. p. 128.

148
144. IVEREIGH, Austen, “Cardeal Bergoglio marca o início da era Francisco”,
reportagem publicada por Crux, em 20 de fevereiro de 2017, tradução de Isaque
Gomes Correa.http://www.ihu.unisinos.br/565135-cardeal-de-bergoglio-marca-o-
inicio-da-era-francisco
145. ENGLISCH, Andreas, O Homem que Não Queria Ser Papa”, pp. 8-9, Universo
dos Livros, 2013, São Paulo.
146. MAGISTER, Sandro, Jorge Mário Bergoglio, professione servo dei servi di Dio,
SettimoCielo, da L’Expresso, n.49 del 28 novembre – 5 dicembre 2002, titolooriginale
“Bergoglio in pole position”. http://chiesa.espresso.repubblica.it/articolo/6893.html?
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147. NERY, Hermes Rodrigues, Das Conversas com Frei Betto, FratesinUnum.com,
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betto/
148. SABINO, Mário, “Um papa brasileiro?”, Veja online, Geral Religião, Edição
1746, 10 de abril de 2002. http://origin.veja.abril.com.br/100402/p_080.html
149. CARIELLO, Rafael, “CNBB elege d. Geraldo Majella, Folha de São Paulo, 6 de
maio de 2003. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0605200316.htm
150. Ibidem.
151. HUMMES, D. Cláudio, Memória Roda Viva, 11 de julho de 2005.
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/400/entrevistados/dom_claudio_humes_200
5.htm
152. Ibidem.
153. “Lula encontra Dom Cláudio Hummes”, Instituto Lula, 11 de agosto de 2014.
http://www.institutolula.org/lula-encontra-dom-claudio-hummes
154. THAVIS, John, “Vaticano pressiona Cáritas em sua ‘identidade católica’”,
Instituto Humanas Unisinos, 09 de maio de 2011.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/43102-vaticano-pressiona-caritas-em-sua-
identidade-catolica
155. Wikipédia, Lista de organizações parceiras da Fundação Ford.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_organiza
%C3%A7%C3%B5es_parceiras_da_Funda%C3%A7%C3%A3o_Ford
156. The Elders, “Lesley-Anne Knight appointedChiefExecutive Officer of The
Elders”, 6 de dezembro de 2012.http://theelders.org/article/lesley-anne-knight-
appointed-chief-executive-officer-elders
157. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 75, Editora
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158. Michel Schooyans, The Elders
159. The Elders, Independent global leadersworkingtogether for
paceandhumanrighhts. http://www.theelders.org/
160. SPADARO, Pe. Antonio, íntegra da entrevista com Francisco à ‘CiviltàCattolica’,
19 de setembro de 2013. https://fratresinunum.com/2013/09/19/integra-da-
entrevista-de-francisco-a-civilta-cattolica/

149
161. Ibidem.
162. Religions for Peace, site. http://religionsforpeace.org/?lang=en
163. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 76, Editora
Ecclesiae, 2012, Campinas – São Paulo.
164. NERY, Hermes Rodrigues, “O Fator Maradiaga”, FratresinUnum.com, 26 de
setembro de 2013. https://fratresinunum.com/2013/09/26/o-fator-maradiaga/
165. Entrevista al Cardenal Rodríguez Maradiaga,, 2005.
https://www.youtube.com/watch?v=84C7wVrjHvg, aos 5:00
166. ENGLISCH, Andreas, O Homem que Não Queria Ser Papa”, p. 19, Universo dos
Livros, 2013, São Paulo.
167. Entrevista al Cardenal Rodríguez Maradiaga, 2005.
https://www.youtube.com/watch?v=84C7wVrjHvg, aos 11:10
168. BARRIOS, Miguel Ángel, “La Iglesia, el Papa, y lanación latino-americana”,
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http://www.alainet.org/es/active/62518
169. LOCALIZAR
170. HOUTART, François, Programa 167 – Teología de laLiberación, Escuela de
Cuadros, publicado em 4 de fevereiro de 2015. https://www.youtube.com/watch?
v=zvdpH9b1JIc#t=214, trecho de 13:28 a 14:07.
171. CARACCIOLLO, Lucio, “Bergoglio, herdeiro de Símon Bolívar. Entrevista com
Francisco Mele”, Instituto Humanas Unisinos, 23 de agosto de 2013.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/522993-bergoglio-herdeiro-de-simon-bolivar-
entrevista-com-francisco-mele
172. CUBAENCUENTROS documentos, “Carta Pastoral ‘El amor todo lo espera’,
Mensaje de la Conferencia de Obispos Católicos de Cuba, dado a conocerenseptiembre
de 1993”. http://www.cubaencuentro.com/documentos/carta-pastoral-el-amor-todo-
lo-espera-117949
173. Livraria da Folha, “Fidel propôs aliança entre marxistas e cristãos, diz livro do
novo papa”, 13 de março de 2013.
http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/1245791-fidel-propos-alianca-entre-
marxistas-e-cristaos-diz-livro-de-novo-papa.shtml
174. Ibidem.
175. BOFF, Leonardo, E a Igreja se fez Povo – Eclesiogênese: a Igreja que nasce da fé
do povo, p. 180, Círculo do Livro S.A., 1986, São Paulo.
176. Ib. p. 179.
177. Ib. p. 177.
178. “Lula defende a unidade latino-americana ‘Pátria Grande’, no Foro de São
Paulo”, canal do youtube de Percival Puggina, publicado em 14 de novembro de 2014.
https://www.youtube.com/watch?v=LHyvJFtG7k0
179. São Pio X, Carta Encíclica PascendiDominiciGregis
[http://w2.vatican.va/content/pius-x/pt/encyclicals/documents/hf_p-

150
x_enc_19070908_pascendi-dominici-gregis.html, Iª parte, Exposição do sistema e sua
divisão; crítica geral do sistema).
180. LOCALIZAR [Carriquiry, coletivo de Francisco]
181. LifeSize, UVC Video Center, Conferencia Magistral del Dr. GusmánCarriquiry,
Lecour, 29 de março de 2012. http://190.210.75.139/videos/video/140/
182. CARRIQUIRY, Gusman, El Bicentenario de laIndependencia de Los Países
Latinoamericanos, Prólogo delCardenal Jorge Mário Bergoglio, BolsilloEncuentro,
2011. https://books.google.com.br/books?id=daU2JJzkIKsC&pg=PP1&lpg=PP1&dq=pr
%C3%B3logo+de+Bergoglio+carriquiry+bicenten
%C3%A1rio&source=bl&ots=wbTd_OkH3P&sig=NRFKKVDwjql41OrTn7NNFMsF9Ns&hl
=pt-
BR&sa=X&ei=ImyMVOKjAsWYgwSxhoHgDg&ved=0CEIQ6AEwBQ#v=onepage&q=pr
%C3%B3logo%20de%20Bergoglio%20carriquiry%20bicenten%C3%A1rio&f=false
183. GULLO, Marcelo, “El pensamiento geopolítico del Papa Francisco”, Revista
Mundorama, 18 de março de 2013. https://www.mundorama.net/?p=11010 /
http://www.dossiergeopolitico.com/2013/03/el-papa-francisco-y-el-destino-de-la-
patria-grande.html
184. Ibidem.
185. Ibidem.
186. Ibidem.
187. BARRIOS, Miguel Ángel, El latinoamericanismo em elpensamiento político de
Manuel Ugarte, Editorial Biblos, 2007. https://books.google.com.br/books?
id=hzLr768tRuwC&pg=PA23&lpg=PA23&dq=Miguel+Angel+Barrios+
%C3%89+o+que+diz+Miguel+%C3%81ngel+Barrios,+autor+de+
%E2%80%9CEl+Latinoamericanismo+en+el+pensamiento+pol
%C3%ADtico+de+Manuel+Ugarte&source=bl&ots=9qnRcAR-
lL&sig=U3YQCHXEgdrW9RSJbLFj5VX0gHM&hl=pt-
BR&sa=X&ved=0ahUKEwiLjdjV7fDVAhVGhpAKHeD1AgcQ6AEIMDAB#v=onepage&q=M
iguel%20Angel%20Barrios%20%C3%89%20o%20que%20diz%20Miguel
%20%C3%81ngel%20Barrios%2C%20autor%20de%20%E2%80%9CEl
%20Latinoamericanismo%20en%20el%20pensamiento%20pol%C3%ADtico%20de
%20Manuel%20Ugarte&f=false
188. BARRIOS, Miguel Ángel, La Iglesia, el Papa y lanación latino-americana, 18 de
março de 2013. https://www.alainet.org/es/active/62518
189. Ibidem.
190. “La unidad, clave entransformacionessociales: Evo Morales”, TeleSUR TV,
publicado em 28 de outubro de 2014.https://www.youtube.com/watch?
v=siSOUbsoHMc
191. Epoch Times em português, “Pátria Grande: Unasul cria a unidade para
cooperação eleitoral e militar”, publicado em 7 de dezembro de 2014.
https://www.youtube.com/watch?v=AGsNYAtDFXU
192. BARRIOS, Miguel Ángel, La Iglesia, el Papa y lanación latino-americana, 18 de
março de 2013. https://www.alainet.org/es/active/62518

151
193. MARADIAGA, Oscar Rodríguez, “A Nossa Aposta”, apresentação do livro de
Guzmán Carriquiry, 30 Dias, Na Igreja e no mundo, Amperica Latina, número 05, 2003.
http://www.30giorni.it/articoli_id_970_l6.htm
194. KATHOLISCHES, Die Caritas und das marxisticheWeltsozialforum, 15 de
outubro de 2014. http://www.katholisches.info/2014/10/die-caritas-und-das-
marxistische-weltsozialforum/
195. CARACCIOLLO, Lucio, “Bergoglio, herdeiro de Símon Bolívar. Entrevista com
Francisco Mele”, Instituto Humanas Unisinos, 23 de agosto de 2013.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/522993-bergoglio-herdeiro-de-simon-bolivar-
entrevista-com-francisco-mele
196. Ibidem.
197. Rádio Vaticano, “Discurso do papa aos movimentos populares (texto integral),
Bolívia, Santa Cruz, Expo Feira, 9 de julho de 2015.
http://pt.radiovaticana.va/news/2015/07/10/discurso_do_papa_aos_movimentos_po
pulares_(texto_integral)/1157336
198. CUBADEBATE, “Papa Francisco pide construir laPatria Grande de Bolívar y San
Martín, 29 de novembro de 2013.
http://www.cubadebate.cu/noticias/2013/11/29/papa-francisco-pide-construir-la-
patria-grande-se-bolivar-y-san-martin/#.VJw6h14DA
199. Entrevista al Papa Francisco, por Pino Solanas, Cinesur SA., publicado em 27 de
novembro de 2013. https://www.youtube.com/embed/k1DyLbmOBSU
200. V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Aparecida,
13-31 de maio de 2007, Documento Final.
http://www.dhnet.org.br/direitos/cjp/a_pdf/cnbb_2007_documento_de_aparecida.p
df
201. BAUER, Francisco, “Aportes para Descolonizar el Saber Eurocentrista”.
http://www.manuelugarte.org/modulos/biblioteca/b/bauer/aportes_para_descoloniz
ar_el_saber_eurocentrista.html
202. NERY, Hermes Rodrigues, “Internacionalismo de esquerda instrumentaliza
Igreja para a utopia da Pátria Grande”, FratresinUnum.com, 24 de julho de 2015.
https://fratresinunum.com/2015/07/24/internacionalismo-de-esquerda-
instrumentaliza-igreja-para-utopia-da-patria-grande/
203. Entrevista al Cardenal Rodríguez Maradiaga, 02/03/2005, Canal SurTelevisión:
https://www.youtube.com/watch?v=84C7wVrjHvg; Cardinal Óscar Rodríguez
Maradiaga – Witness:  https://www.youtube.com/watch?v=qOoRp7meNPk; Cardinal
Oscar Rodriguez (Spanish): https://www.youtube.com/watch?v=hfI0Hv-q2r4; Cardinal
Oscar Rodriguez (English):  https://www.youtube.com/watch?v=LWLtY2tKxSM; Conel
papa Francisco entra aire fresco enel Vaticano: este vídeo no te dejarán
indiferente: https://www.youtube.com/watch?v=9oE0X-
XcT5M&index=8&list=RDbGqQX_SqgGs; Entrevista exclusiva delCardenal Bergoglio,
hoy Papa Francisco, con EWTN:  https://www.youtube.com/watch?v=NZ1ZczyyKwM;
Jorge Bergoglio, Papa Francisco declara ante lajusticia argentina por secuestro
sacerdotes: https://www.youtube.com/watch?v=u8EoFlIbDPw

152
204. Pittaro, Esteban, Aleteia, “A ‘Teologia do Povo’ no Papa Francisco, 29 de
janeiro de 2014: https://pt.aleteia.org/2014/01/29/a-teologia-do-povo-no-papa-
francisco/
205. Ibidem.
206. Boff, Leonardo, “O Papa Francisco, chamado a restaurar a Igreja”, site pessoal,
14 de março de 2013: https://leonardoboff.wordpress.com/2013/03/14/o-papa-
francisco-chamado-a-restaurar-a-igreja/
207. Gigliotti, Amanda, Papa Francisco irá descentralizar o governo da igreja, diz
Leonardo Boff, The Christian Post, 20 de março de 2013:
http://portugues.christianpost.com/news/papa-francisco-ira-descentralizar-o-
governo-da-igreja-diz-leonardo-boff-15269/
208. Ibidem.
209. Ibidem.
210. Ibidem.
211. Igreja e Sociedade segundo Dom Damasceno, Fratres in Unum, 4 de março de
2015: https://fratresinunum.com/2015/03/06/igreja-e-sociedade-atual-segundo-dom-
damasceno/
212. Ibidem.
213. Ibidem.
214. Ibidem.
215. Ibidem.
216. FRANCISCO, Exort. ap. Evangelii gaudium, 32 [
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-
francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html ];
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/october/documents/papa-
francesco_20151017_50-anniversario-sinodo.html
217. Ibidem [ “Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar
“descentralização””.[25] ]
218. NERY, Hermes Rodrigues, “Gaivota e a Pomba”, FratresinUnum.com, 13 de
abril de 2013. https://fratresinunum.com/2013/04/13/a-gaivota-e-a-pomba/
219. VATICAN_ARCHIVE, Habemus Papam, Franciscus, publicado em 13 de março
de 2013. https://www.youtube.com/watch?v=fd5kNiBp1Lg
220. PIQUÉ, Elisabetta, Papa Francisco – Vida e Revolução, p. 107, Editora Leya,
2014, São Paulo.
221. Ibidem.
222. Ibidem.
223. Ib. p. 132.
224. NERY, Hermes Rodrigues, “Ouviremos os Conselhos”, Midia Sem Máscara, 29
de junho de 2014. http://midiasemmascara.org/arquivos/qouviremos-os-conselhosq/

153
225. Mt 16, 18
226. Jo 15, 1-5
227. FRANCISCO, Discurso de Comemoração do Cinquentenário da Instituição do
Sínodo dos Bispos, 17 de outubro de 2015.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2015/october/documents/papa-
francesco_20151017_50-anniversario-sinodo.html
228. Ibidem.
229. Ibidem
230. Ibidem.
231. Ibidem.
232. EWTNespanol, Habemus Papam 2013 completo, publicado em 18 de março de
2013. https://www.youtube.com/watch?v=Mc7s9mKipSk
233. BOFF, O Papa Francisco chamado a restaurar a Igreja, 14 de março de 2013.
https://leonardoboff.wordpress.com/2013/03/14/o-papa-francisco-chamado-a-
restaurar-a-igreja/
234. Cardeais propõem descentralização de alguns aspectos do governo da Igreja,
Canção Nova, com Agência Ecclesia, 14 de junho de 2017,
https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/cardeais-propoe-
descentralizacao-de-alguns-aspectos-governo-da-igreja/
235. Caritas Internacional: em conjunto com os luteranos, Radio Vaticano, Rádio
Vaticano, 4 de novembro de
2016:http://br.radiovaticana.va/news/2016/11/04/caritas_internacional_em_conjunt
o_com_os_luteranos/1270083
236. https://fratresinunum.com/2016/11/10/o-pensamento-de-boff-sobre-lutero-
e-a-praxis-de-francisco/
237. 2016.10.31 Papa Francisco na Suécia - Encontro Ecumênico com a Federação
Luterana Mundial, The Vatican – Português, transmitido ao vivo em 31 de outubro de
2016. https://www.youtube.com/watch?v=aycxMOvpdTs
238. BOFF, Leonardo, E a Igreja se fez Povo – Eclesiogênese: a Igreja que nasce da fé
do povo, p. 183, Círculo do Livro S.A., 1986, São Paulo.
239. “Movimentos Populares se reúnem no Vaticano para terceira edição”, Rádio
Vaticano, 29 de outubro de 2016.
http://br.radiovaticana.va/news/2016/10/29/iii_encontro_mundial_dos_movimentos_
populares/1268651
240. BOFF, Leonardo, E a Igreja se fez Povo – Eclesiogênese: a Igreja que nasce da fé
do povo, p. 185, Círculo do Livro S.A., 1986, São Paulo.
241. Ib. p. 186 [Boff destaca: “José MíguelBonino formula de modo consciente a
seguinte tese: ‘poderá o protestantismo superar a sua crise de identidade e missão se
– e na medida em que conseguir recuperar o papel subversivo que realizou no
passado, mas na situação radicalmente distinta em que hoje nos encontramos”.

154
242. “O Projeto Esfera – Carta Humanitária e Normas Mínimas de Resposta
Humanitária em Situação de Desastre”. https://books.google.com.br/books?id=V-
8m9p-77GYC&pg=RA1-PT222&dq=Servi%C3%A7o+Mundial+Luterano+Funda
%C3%A7%C3%A3o+Ford&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwirirHDpIbQAhVKi5AKHQ-
YCDcQ6AEIJzAA#v=onepage&q=Servi%C3%A7o%20Mundial%20Luterano%20Funda
%C3%A7%C3%A3o%20Ford&f=false
243. Ib. p. 186 [Boff destaca: “Júlio de Santa Ana, ex-membro do Conselho Mundial
de Igrejas (CMI) e secretário geral do CESEP (São Paulo), postula uma encarnação da
Igreja e do Protestantismo no mundo dos pobres, para ajudar em uma transformação
profunda e global, uma verdadeira libertação dos oprimidos”.
244. Ib. pp. 186-187.
245. Ib. p. 187.
246. Ib. p. 188.
247. Ib. p. 190.
248. Ib. p. 198.
249. Habemus Papam 2013 completo:https://www.youtube.com/watch?
v=Mc7s9mKipSk
250. http://www.leonardoboff.com/site/biblio_pesq.pdf
251. BOFF, Leonardo, E a Igreja se fez Povo – Eclesiogênese: a Igreja que nasce da fé
do povo, pp. 199-200, Círculo do Livro S.A., 1986, São Paulo.
252. FRANCISCO, Discurso no Encontro com os Voluntários da XXVIII Jornada
Mundial da Juventude, Rio de Janeiro, 28 de julho de 2013.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130728_gmg-rio-volontari.html
253. NERY, Hermes Rodrigues, “Que Revolução Quer Francisco?”,
FratresinUnum.com, 1° de agosto de 2013.
https://fratresinunum.com/2013/08/01/que-revolucao-quer-francisco/
254. BRASIL, Cristina Índio do, “EBC, Agência Brasil, “Casal pede interferência do
papa contra lei que permite aborto de fetos com má-formação”, 27 de julho de 2013.
http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2013/07/casal-pede-interferencia-do-papa-
contra-lei-que-permite-aborto-de-fetos-com
255. “Papa Francisco recebe representante do candomblé babalaô Ivani dos Santos,
no Teatro Municipal do Rio, 29 de julho de 2013.
http://gatpiaui.blogspot.com.br/2013/07/papa-francisco-recebe-representante-
do.html
256. “Globo News exibe versão completa da entrevista com o Papa Francisco”.
InterMirifica.net, publicado em 30 de julho de 2013.
https://www.youtube.com/watch?v=DO9HnYLYVqE
257. FRANCISCO, Discurso aos Bispos responsáveis do Conselho Episcopal Latino-
Americano (C.E.L.A.M.), por ocasião da reunião geral de coordenação, durante a XXVIII
Jornada Mundial da Juventude, no Auditório do Centro de Estudos do Sumaré, Rio de
Janeiro, 28 de julho de 2013.

155
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130728_gmg-celam-rio.html
258. CHADE, Jamil, “Bergoglio tornou-se Francisco em Roma, mas virou papa no
Rio”, O Estado de São Paulo, 28 de julho de 2013.
http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,bergoglio-tornou-se-francisco-em-roma-
mas-virou-papa-no-rio,1058309
259. Ibidem.
260. “Um ponto curioso sobre o discurso do Pontífice foi a exclusão da frase em que
ele citaria seu antecessor. Na versão do pronunciamento enviada à imprensa na
manhã de ontem, constava uma citação ao "amado Papa Bento XVI". Seria uma
referência ao discurso que o Papa emérito fez em 2007 em Aparecida (SP), mas o
comentário não foi ouvido no Municipal. Francisco, porém, citou o pensador católico
progressista Alceu Amoroso Lima”. [http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2013/07/papa-
prega-dialogo-contra-protestos.html#access]
261. “Há uma coisa que não sei se vocês a sabem, eu acho que sim, mas não tenho
a certeza: quando ele nos falou, no discurso de despedida, em 28 de fevereiro, disse-
nos: ‘Entre vós, está o próximo Papa: eu lhe prometo obediência’”
[http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130728_gmg-conferenza-stampa.html]
262. Ibidem. [“Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem
sou eu para a julgar?”, resposta do papa Francisco à jornalista IlzeScamparini sobre “a
questão da lobby gay”.]
263. “Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha
resposta é sempre é a mesma: diálogo, diálogo, diálogo”.
[http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130727_gmg-classe-dirigente-rio.html]
264. FRANCISCO, Discurso aos Bispos responsáveis do Conselho Episcopal Latino-
Americano (C.E.L.A.M.), por ocasião da reunião geral de coordenação, durante a XXVIII
Jornada Mundial da Juventude, no Auditório do Centro de Estudos do Sumaré, Rio de
Janeiro, 28 de julho de 2013.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130728_gmg-celam-rio.html.
265. Ibidem [ “A proposta dos grupos bíblicos, das comunidades eclesiais de base e
dos Conselhos pastorais se colocam na linha de superação do clericalismo e de um
crescimento da responsabilidade laical”.]
266. Ibidem. [“A proposta pelagiana. Aparece fundamentalmente sob a forma de
restauração. Perante os males da Igreja, busca-se uma solução apenas disciplinar, na
restauração de condutas e formas superadas que nem mesmo culturalmente tem
capacidade de ser significativas. Na América Latina, verifica-se em pequenos grupos,
em algumas novas Congregações Religiosas, em tendências exageradas para a
‘segurança’ doutrinal ou disciplinar. Fundamentalmente é estática, embora possa
prometer uma dinâmica ad intra: regride. Procura “recuperar” o passado perdido.”]
267. Ibidem.
268. Ibidem.

156
269. JOÃO PAULO II, Encíclica Evangelium Vitae, 25 de março de
1995[http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-
ii_enc_25031995_evangelium-vitae.html]
270. FRANCISCO, Discurso aos Bispos responsáveis do Conselho Episcopal Latino-
Americano (C.E.L.A.M.), por ocasião da reunião geral de coordenação, durante a XXVIII
Jornada Mundial da Juventude, no Auditório do Centro de Estudos do Sumaré, Rio de
Janeiro, 28 de julho de 2013.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130728_gmg-celam-rio.html
271. JOÃO PAULO II, Carta Apostólica OrdinatioSacerdotalis, sobre a ordenação
sacerdotal reservada somente para homens, Vaticano, 22 de maio de 1994.
https://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1994/documents/hf_jp-
ii_apl_19940522_ordinatio-sacerdotalis.html
272. FRANCISCO, Discurso aos Bispos responsáveis do Conselho Episcopal Latino-
Americano (C.E.L.A.M.), por ocasião da reunião geral de coordenação, durante a XXVIII
Jornada Mundial da Juventude, no Auditório do Centro de Estudos do Sumaré, Rio de
Janeiro, 28 de julho de 2013.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130728_gmg-celam-rio.html [“O que derruba as estruturas caducas, o
que leva a mudar os corações dos cristãos é justamente a missionariedade. Daqui a
importância da missão paradigmática.”]
273. Ibidem.
274. LOCALIZAR (Celam RJ)
275. LOCALIZAR (Celam RJ)
276. FRANCISCO, Discurso aos Bispos responsáveis do Conselho Episcopal Latino-
Americano (C.E.L.A.M.), por ocasião da reunião geral de coordenação, durante a XXVIII
Jornada Mundial da Juventude, no Auditório do Centro de Estudos do Sumaré, Rio de
Janeiro, 28 de julho de 2013.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130728_gmg-celam-rio.html
277. Ibidem.
278. NERY, Natuza, “Dilma vai sancionar lei que garante atendimento a vítimas de
estupro”, Folha de São Paulo, 01 de agosto de 2013.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/08/1320029-dilma-vai-sancionar-lei-
que-garante-atendimento-a-vitimas-de-estupro.shtml
279. NERY, Hermes Rodrigues, “Apelo a Dom Raymundo Damasceno Assis,
Presidente da CNBB”, Presidente da CNBB, 15 de julho de 2013.
https://fratresinunum.com/2013/07/15/apelo-a-dom-raymundo-damasceno-assis-
presidente-da-cnbb/
280. FRANCISCO, “Encontro com os jornalistas durante o vôo de regresso”, por
ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, 28 de julho de 2013.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130728_gmg-conferenza-stampa.html

157
281. CHOMSKY, Noam, “As dez estratégias da mídia para manipular as massas”,
Portal Vermelho, 14 de outubro de 2012. http://vermelho.org.br/noticia/195907-6
282. Ibidem.
283. FRANCISCO, “Encontro com os jornalistas durante o vôo de regresso”, por
ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, 28 de julho de 2013.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/july/documents/papa-
francesco_20130728_gmg-conferenza-stampa.html
284. SPADARO, Pe. Antonio, Entrevista ao Papa Francisco, Casa Santa Marta, 19 de
agosto de
2013.https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/september/
documents/papa-francesco_20130921_intervista-spadaro.html
285. PETERS, Dr. Edward, “A confusão sobre os (supostos) casos de contracepção no
Congo, tradução de Gercione Lima. fratresinUnum.com, 2 de março de 2016.
https://fratresinunum.com/2016/03/02/a-confusao-sobre-os-supostos-casos-de-
contracepcao-no-congo/
286. “Presidente Dilma Roussef recebe o Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa,
Pensador Independente, publicado em 20 de fevereiro de 2016.
https://www.youtube.com/watch?v=NDijIMLp_ak
287. CHOMSKY, Noam, “As dez estratégias da mídia para manipular as massas”,
Portal Vermelho, 14 de outubro de 2012. http://vermelho.org.br/noticia/195907-6
288. VIDAL, José Manuel e Jesus Bastante, Francisco, O Novo João XXIII – Jorge
Mário Bergoglio, o primeiro pontífice americano para uma nova primavera da Igreja, p.
39, Editora Vozes, 2013, Petrópolis – Rio de Janeiro.
289. Ibidem.
290. Ibidem.
291. BERDEJO, Eduardo, “Vídeo: Massimo, o ‘mendigo misterioso’ do Conclave,
reapareceu na Praça de São Pedro”, ACIDigital, 5 de novembro de 2015.
http://www.acidigital.com/noticias/video-massimo-o-mendigo-misterioso-do-
conclave-reapareceu-na-praca-de-sao-pedro-39773/
292. GINÉS, Pablo J., “Era ésteelmismíssimo San Francisco que rezaba em San Pedro
esperando al Papa Francisco?”, ReligiónenLibertad, 14 de março de 2013.
http://www.religionenlibertad.com/era-este-el-mismisimo-san-francisco-que-rezaba-
en-san-pedro-28190.htm
293. STURN, Heloisa Aruth, “Francisco não é um nome, é todo um programa de
Igreja, diz teólogo”, O Estado de São Paulo, 13 de março de 2013.
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,francisco-nao-e-um-nome-e-todo-um-
programa-de-igreja-diz-teologo,1008313
294. Ibidem.
295. FRANCISCO, “Discurso no encontro com os representantes dos meios de
comunicação social”, Vaticano, Sala Paulo VI, 16 de março de 2013.
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/march/documents/papa-
francesco_20130316_rappresentanti-media.html

158
296. BOFF, Leonardo, “Dom Paulo Evaristo Arns, por Leonardo Boff”, Pragmatismo
Político, 15 de dezembro de 2016.
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/12/dom-paulo-evaristo-arns-
leonardo-boff.html
297. Ibidem.
298. Ibidem.
299. NERY, Hermes Rodrigues, “Movimentos de Esquerda (que Dom Paulo Evaristo
Arns ajudou a organizar) queriam vê-lo papa”, FratresinUnum, 15 de dezembro de
2016. https://fratresinunum.com/2016/12/15/o-paulo-que-nao-foi-pedro/
300. PIKAZA, Xavier, “Com Paulo Evaristo Arns, uma grande esperança”, Instituto
HumanitasUnisinos, tradução de André Langer, 13 de agosto de 2013.
http://www.ihu.unisinos.br/522694-com-paulo-evaristo-arns-uma-grande-esperanca
301. Twiter de Eduardo MattarazzoSuplicy, em 14 de dezembro de 2016, referindo-
se a Dom Paulo Evaristo como ele gostava de ser chamado: “o amigo do povo”.
https://twitter.com/esuplicy/status/809090654513037313.
302. FRANCISCO, “Quero uma Igreja pobre e para os pobres”, Rádio Vaticano, 16 de
março de 2013.
http://br.radiovaticana.va/storico/2013/03/16/francisco_quero_uma_igreja_pobre_e_
para_os%20pobres/bra-673943 [“E assim surgiu o nome no meu coração: Francisco de
Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e
preserva a criação; neste tempo, também a nossa relação com a criação não é muito
boa, pois não? [Francisco] é o homem que nos dá este espírito de paz, o homem
pobre... Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os
pobres!”http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/march/
documents/papa-francesco_20130316_rappresentanti-media.html].
303. PIKAZA, Xavier, “Com Paulo Evaristo Arns, uma grande esperança”, Instituto
HumanitasUnisinos, tradução de André Langer, 13 de agosto de 2013.
http://www.ihu.unisinos.br/522694-com-paulo-evaristo-arns-uma-grande-esperanca
304. Ibidem.
305. Ibidem.
306. BRASIL DE FATO, “95 anos: vida de Dom Paulo Evaristo Arns é celebrada em
São Paulo”, Instituto HumanitasUnisinos, 26 de outubro de 2016.
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/561615-95-anos-vida-de-dom-paulo-evaristo-
arns-e-celebrada-em-sao-paulo
307. FRANCISCO, “Quero uma Igreja pobre e para os pobres”, Rádio Vaticano, 16 de
março de 2013.
http://br.radiovaticana.va/storico/2013/03/16/francisco_quero_uma_igreja_pobre_e_
para_os%20pobres/bra-673943
308. NERY, Hermes Rodrigues Nery, Encontros & Ideias – entrevistas publicadas no
Jornal da Tarde e O Estado de São Paulo, de 1988 a 2002.
309. Ibidem.
310. Ibidem.

159
311. http://radiovox.org/2016/12/12/a-amizade-de-dois-comunistas-paulo-
evaristo-arns-e-fidel-castro/
312. BETTO, Frei, Fidel e a Revolução, Ed. Círculo do Livro, 1986, p. 132.
313. NERY, Hermes Rodrigues Nery, Encontros & Ideias – entrevistas publicadas no
Jornal da Tarde e O Estado de São Paulo, de 1988 a 2002.
314. Habemus Papam 2013 completo: https://www.youtube.com/watch?
v=Mc7s9mKipSk
315. PIKAZA, Xavier, “Com Paulo Evaristo Arns, uma grande esperança”, Instituto
HumanitasUnisinos, tradução de André Langer, 13 de agosto de 2013.
http://www.ihu.unisinos.br/522694-com-paulo-evaristo-arns-uma-grande-esperanca
316. Mt 7,16.
317. https://fratresinunum.com/2013/11/14/aquela-nao-e-a-nossa-igreja/
318. MATTEI, Roberto de, OConcílio Vaticano II – Uma história nunca Escrita”,
Roberto de Mattei, Caminhos Romanos, Porto, 2012.
319. http://www.ihu.unisinos.br/532411-ratzinger-a-biblia-e-eu-artigo-de-hans-
kueng [“Ratzinger, a Bíblia e eu”. Artigo de Hans Küng: “No fim de julho ou início de
agosto de 1969, Floss fez uma visita a Joseph Ratzinger em Tübingen, que o acolheu
com cordialidade, mas logo lhe confiou ao seu assistente Martin Trimpe, que passou a
noite com ele. Pouco depois da meia-noite, em um mirante sobre a Tübingen noturna,
segundo o relato de Floss, ocorreu uma conversa enigmática na qual Trimpe lhe
comunicou que a cooperação entre Ratzinger e Küng tinha acabado. Tinham que se
separar por motivos salutares para ambos. Dado que não se podia continuar
trabalhando com um homem como Küng, Ratzinger e os seus colaboradores não
deviam se enfurecer totalmente. Küng se fazia notar cada vez mais como um hábil
jornalista do que, dali a 20 ou 30 anos, ninguém mais saberia de nada. Floss perguntou
a Trimpe onde ele queria chegar, e este respondeu que Ratzinger iria para Regensburg,
onde o bispo Graber pretendia lhe fornecer todo o necessário para continuar
trabalhando em total tranquilidade. Para Floss, é o segundo choque da noite, porque
ele sabia que, junto de Graber, procurariam asilo todas aquelas forças conservadoras
que, também na Tchecoslováquia, estavam assustadas com as consequências do
Concílio e que se opunham particularmente à renúncia do tomismo rigoroso”.]
320. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/
rc_con_cfaith_doc_19840806_theology-liberation_po.html
321. RATZINGER, Joseph, O Sal da Terra, pp. 107-108, Ed. Imago, 1997.
322. RATZINGER, Joseph, Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução
sobre alguns aspectos da “Teologia da Libertação”, Vaticano, 6 de agosto de 1984.
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_
doc_19840806_theology-liberation_po.html, 5; “As 'teologias da libertação', a que
aqui nos referimos, porém, entendem por Igreja do povo a Igreja da luta libertadora
organizada. O povo assim entendido chega mesmo a tornar-se, para alguns, objeto de
fé. A partir de semelhante concepção da Igreja do povo, elabora-se uma crítica das
próprias estruturas da Igreja. Não se trata apenas de uma correção fraterna dirigida
aos pastores da Igreja, cujo comportamento não reflita o espírito evangélico de serviço
e se apegue a sinais anacrônicos de autoridade que escandalizam os pobres. Trata-se,

160
sim, de pôr em xeque a estrutura sacramental e hierárquica da Igreja, tal como a quis o
próprio Senhor”. [12, 13]
323. SCHOOYANS, Michel, “O Evangelho perante a Desordem Mundial”, prefácio do
Cardeal Joseph Ratzinger, Editora Grifo, Lisboa,
2000.http://michel-schooyans.org/images/publications/LivrosPT/2000EvangelhoPeran
teDesordemMundial.pdf
324. RATZINGER, Joseph, O Sal da Terra, p. 108. Ed. Imago, 1997.
325. Ibidem.
326. Ibidem.
327. SCHOOYANS, Michel, “O Evangelho perante a Desordem Mundial”, prefácio do
Cardeal Joseph Ratzinger, Editora Grifo, Lisboa, 2000.
http://michel-schooyans.org/images/publications/LivrosPT/2000EvangelhoPeranteDes
ordemMundial.pdf
328. RATZINGER, Joseph, O Sal da Terra, p. 209, Ed. Imago, 1997.
329. SCHOOYANS, Michel, “O Evangelho perante a Desordem Mundial”, prefácio do
Cardeal Joseph Ratzinger, Editora Grifo, Lisboa,
2000.http://michel-schooyans.org/images/publications/LivrosPT/2000EvangelhoPeran
teDesordemMundial.pdf
330. Ratzinger, Joseph, O Sal da Terra, p. 169, Ed. Imago, 1997.
331. SCHOOYANS, Michel, “O Evangelho perante a Desordem Mundial”, prefácio do
Cardeal Joseph Ratzinger, Editora Grifo, Lisboa, 2000.
http://michel-schooyans.org/images/publications/LivrosPT/2000EvangelhoPeranteDes
ordemMundial.pdf
332. TOSATTI, Marco, “Boff: Ajudei o papa a escrever a Laudato Si. Haverá uma
grande surpresa. Talvez padres casados ou mulheres diáconos.”, FratresinUnum.com,
tradução de André Sampaio, 27 de dezembro de 2016.
https://fratresinunum.com/2017/01/02/boff-ajudei-o-papa-a-escrever-a-laudato-si-
havera-uma-grande-surpresa-talvez-padres-casados-ou-mulheres-diaconos/
333. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 53, Editora
Ecclesiae, 2012, Campinas – São Paulo.
334. NERY, Hermes Rodrigues, “Carta da Terra é mencionada na Laudato Si’”,
FratresinUnum.com, 18 de junho de 2015.
https://fratresinunum.com/2015/06/18/carta-da-terra-e-mencionada-em-laudato-si/
335. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 57, Editora
Ecclesiae, 2012, Campinas – São Paulo.
336. BENTO XVI, Declaratio, Vaticano, 11 de fevereiro de 2013.
https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2013/february/documents/
hf_ben-xvi_spe_20130211_declaratio.html
337. ELIZABETA PIQUÉ LOCALIZAR
338. ELIZABETA PIQUÉ LOCALIZAR
339. Ibidem.

161
340. “De Francisco, coelhos e irresponsabilidades. A íntegra do que disse o Papa”,
FratresinUnum.com, 20 de janeiro de 2015.
https://fratresinunum.com/2015/01/20/de-francisco-coelhos-e-irresponsabilidades-a-
integra-do-que-disse-o-papa/
341. TVI24, “Papa Francisco volta a comover o mundo com abraço a homem
desfigurado”, 7 de novembro de 2013.
http://www.tvi24.iol.pt/internacional/neurofibromatose/papa-francisco-volta-a-
comover-o-mundo-com-abraco-a-homem-desfigurado
342. SPADARO, Pe. Antonio, Entrevista ao Papa Francisco, Casa Santa Marta, 19 de
agosto de 2013.
https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2013/september/documents/
papa-francesco_20130921_intervista-spadaro.html
343. ELIZABETA PIQUÉ LOCALIZAR
344. Ibidem.
345. BOFF, E a Igreja se fez Povo, LOCALIZAR
346. BOFF, LOCALIZAR
347. BOFF, LOCALIZAR
348. BOFF, LOCALIZAR
349. PIQUÉ LOCALIZAR
350. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 52, Editora
Ecclesiae, 2012, Campinas – São Paulo.
351. FRANCISCO, Homilia na Santa Missa de Imposição do Pálio e Entrega do Anel
do Pescador para o Início do Ministério Petrino do Bispo de Roma”, Praça de São
Pedro, 19 de março de 2013.
https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2013/documents/papa-
francesco_20130319_omelia-inizio-pontificato.html: “Mas, para ‘guardar’, devemos
também cuidar de nós mesmos”. Santa Missa, imposição do Pálio e entrega do anel do
pescador para o início do ministério petrino do bispo de Roma, homilia do papa
Francisco, Praça de São Pedro, terça-feira, 19 de março de 2013, Solenidade de São
José.
352. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 27, Editora
Ecclesiae, 2012, Campinas – São Paulo.
353. Ib. p. 30.
354. Ib. p. 49.
355. Ib. pp. 52-53.
356. Ib. p. 53.
357. Ib. p. 55.
358. Ib. p. 57.
359. Ib. p. 58.

162
360. BOFF, Leonardo, “Carta da Terra”, Instituto Akatu, publicado em 5 de outubro
de 2011. https://www.youtube.com/watch?v=EJ6NVNGxuMc
361. BOFF, Leonardo, Discurso na Assembleia Geral da ONU, 22 de abril de 2009.
http://www.hortaviva.com.br/midiateca/bg_polenizando/msg_ler.asp?ID_MSG=163;
[Ib. p. 63]
362. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 68, Editora
Ecclesiae, 2012, Campinas – São Paulo.
363. KUNG, Hans, Igreja Católica, p. 16.
364. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 69, Editora
Ecclesiae, 2012, Campinas – São Paulo.
365. NERY, Hermes Rodrigues, “Aquela não é a nossa Igreja”, FratresinUnum.com,
14 de novembro de 2013. https://fratresinunum.com/2013/11/14/aquela-nao-e-a-
nossa-igreja/
366. SANAHUJA, Juan Cláudio, Poder Global e Religião Universal, p. 70, Editora
Ecclesiae, 2012, Campinas – São Paulo.
367. Ib. p. 68.
368. KUSCHE, Karl-Josef, “BentoXVI e Hans Kung – Contexto e perspectivas do
encontro em CastelGandolfo”, Cadernos de Teologia Pública, Ano III, Nº 21,
Universidade do Vale do Rio do Rio dos Sinos, Instituto HumanitasUnisinos, 2006.
http://www.ihu.unisinos.br/images/stories/cadernos/teopublica/021cadernosteologia
publica.pdf.
369. Ibidem.
370. Ibidem.
371. Ibidem.
372. KUNG, Hans, “Carta aberta aos cardeais na eleição de um novo papa”,
Paróquias de Portugal, 19 de abril de 2005. http://www.paroquias.org/noticias.php?
n=5119
373. https://www.publico.pt/temas/jornal/carta-aberta-de-hans-kung-aos-bispos-
de-todo-o-mundo-19259609
374. Ibidem.
375. Ibidem.
376. Ibidem.
377. Ibidem.
378. ENGLISCH, Andreas, O Homem que Não Queria Ser Papa”, p. 132, Universo
dos Livros, 2013, São Paulo.
379. “Monsenhor Lefebvre: resumo ao Cardeal Ratzinger”, Missão Cristo Rei,
publicado em 29 de outubro de 2015. https://www.youtube.com/watch?
v=y_6smG5cWuU
380. BENTO XVI, Carta aos Bispos da Igreja Católica, a Propósito da Remissão da
Excomunhão aos Quatro Bispos Consagrados pelo Arcebispo Lefebvre”, Vaticano, 10

163
de março de 2009.
https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/letters/2009/documents/hf_ben-
xvi_let_20090310_remissione-scomunica.html
381. LEFBVRE, Marcel, “Mons Lefebvre Sobre a Crise na Igreja”, Dalve00, publicado
em 20 de novembro de 2015. https://www.youtube.com/watch?v=9EHeSjoDTU8
382. LEFEBVRE, Marcel, “A Contra-Igreja Conciliar”, Pedro Henrique, publicado em
12 de julho de 2017. https://www.youtube.com/watch?v=it45rA1SBDY
383. QUEIROZ, Rafael, “A verdade sobre o papa Francisco e o ecumenismo com os
protestantes”, Via Romana, publicado em 1 de novembro de 2016.
https://www.youtube.com/watch?v=dFqivBnzRYo
384. MATTEI, Roberto de, O Concílio Vaticano II – Uma História nunca escrita”, p.
384, Caminhos Romanos, Porto, 2012.
385. Ib. p. 385.
386. p. 385
387. LEVADA, Cardeal William, “Respostas a Questões Relativas a Alguns Aspectos
da Doutrina sobre a Igreja”, Congregação para a Doutrina da Fé, Vaticano, 29 de junho
de 2007.
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_
doc_20070629_responsa-quaestiones_po.html
388. Ibidem.
389. BENTO XVI, “Discurso no Encontro e Celebração das Vésperas com os Bispos do
Brasil”, na viagem apostólica ao Brasil, por ocasião da V Conferência Geral do
Episcopado da América Latina e do Caribe”, Catedral da Sé, São Paulo, 11 de maio de
2007.
https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2007/may/documents/
hf_ben-xvi_spe_20070511_bishops-brazil.html
390. KUNG, Hans, “Carta aberta de Hans Kung aos bispos de todo o mundo”,
Público/The New York Times. Tradução de: Eurico Monchique, 24 de abril de
2010.https://www.publico.pt/temas/jornal/carta-aberta-de-hans-kung-aos-bispos-de-
todo-o-mundo-19259609
391. BENTO XVI, “Encontro com o Clero de Roma”, Vaticano, Sala Paulo VI, 14 de
fevereiro de 2013.
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2013/february/documents/
hf_ben-xvi_spe_20130214_clero-roma.html
392. Ibidem.
393. Ibidem.
394. LOCALIZAR - Vinte anos após o encerramento do Concílio Vaticano II, o papa S.
João Paulo II entendeu que era preciso “demonstrar os limites da recepção do
Vaticano II”394
395. CALDEIRA, Rodrigo Coppe, “Vaticano II: a batalha pelo significado. Uma análise
de Rodrigo Coppe Caldeira” sobre a obra de Massimo Faggioli, Instituto
HumanitasUnisinos, 7 de julho de 2012. http://www.ihu.unisinos.br/511178-vaticano-
ii-a-batalha-pelo-significado-uma-analise-de-rodrigo-coppe-caldeira

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396. SCHNEIDER, Dom Athanasius, “A Interpretação do Concílio Vaticano II e a sua
relação com a crise atual da Igreja”, FratresinUnum.com, 23 de julho de 2017.
https://fratresinunum.com/2017/07/23/a-interpretacao-do-concilio-vaticano-ii-e-a-
sua-relacao-com-a-crise-atual-da-igreja/
397. BENTO XVI, “Discurso aos Cardeais, Arcebispos e Prelados da Cúria Romana, na
apresentação dos votos de Natal”, Vaticano, 22 de dezembro de 2005.
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2005/december/documents/
hf_ben_xvi_spe_20051222_roman-curia.html
398. Ibidem.
399. Ibidem.
400. Ibidem.
401. Ibidem.
402. Ibidem.
403. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/
rc_con_cfaith_doc_19840806_theology-liberation_po.html
404. RATZINGER, Cardeal Joseph, “Instrução sobre alguns aspectos da ‘Teologia da
Libertação’”, Vaticano, Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 6 de agosto de
1984.
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_
doc_19840806_theology-liberation_po.html, IX - TRADUÇÃO « TEOLÓGICA » DESTE
NÚCLEO IDEOLÓGICO, 6.
405. Ibidem.
406. BENTO XVI, “Homilia na Santa Missa, Benção e Imposição das Cinzas”, Basílica
de São Pedro, 13 de fevereiro de 2013.
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2013/documents/hf_ben-
xvi_hom_20130213_ceneri.html
407. BENTO XVI, “Discurso aos Cardeais, Arcebispos e Prelados da Cúria Romana, na
apresentação dos votos de Natal”, Vaticano, 22 de dezembro de 2005.
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2005/december/documents/
hf_ben_xvi_spe_20051222_roman-curia.html
408. RATZINGER, Cardeal Joseph, “Instrução sobre alguns aspectos da ‘Teologia da
Libertação’”, Vaticano, Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 6 de agosto de
1984.
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_
doc_19840806_theology-liberation_po.html
409. Ibidem.
410. Ibidem. [ VI –Uma nova interpretação do Cristianismo, 8]
411. Ibidem. [VII, A análise marxista, 9]
412. Ibidem. [VI – uma nova interpretação do Cristianismo, 9]
413. NERY, Hermes Rodrigues, Ideologização da fé, Revista Verbum.

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414. RATZINGER, Cardeal Joseph, “Instrução sobre alguns aspectos da ‘Teologia da
Libertação’”, Vaticano, Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 6 de agosto de
1984.http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/
rc_con_cfaith_doc_19840806_theology-liberation_po.html[VII, A análise marxista, 6]
415. Ibidem.
416. RATZINGER, Cardeal Joseph, “Notificação sobre o livro ‘Igreja, Carisma e Poder.
Ensaios de Eclesiologia Militante’, de Frei Leonardo Boff, O.F.M.”, Vaticano,
Congregação para a Doutrina da Fé, 11 de março de 1985.
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_
doc_19850311_notif-boff_po.html
417. Ibidem.
418. SINNER, Rudolf von, “Leonardo Boff – um católico protestante”, Estudos
Teológicos, v. 46, n. 1, p. 152-173, 2006.
http://www3.est.edu.br/publicacoes/estudos_teologicos/vol4601_2006/et2006-
1jrvsinner.pdf
419. RATZINGER, Cardeal Joseph, “Notificação sobre o livro ‘Igreja, Carisma e Poder.
Ensaios de Eclesiologia Militante’, de Frei Leonardo Boff, O.F.M.”, Vaticano,
Congregação para a Doutrina da Fé, 11 de março de 1985.
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_
doc_19850311_notif-boff_po.html
420. RIBEIRO, Antonio Carlos, “Boff: Diálogo com Lutero”, Horizonte, v. 7, n. 13, p.
183-215, Belo Horizonte, 2008. https://pt.scribd.com/document/318431902/Boff-
dialogo-com-Lutero
421. Ibidem.
422. RATZINGER, Cardeal Joseph, “Notificação sobre o livro ‘Igreja, Carisma e Poder.
Ensaios de Eclesiologia Militante’, de Frei Leonardo Boff, O.F.M.”, Vaticano,
Congregação para a Doutrina da Fé, 11 de março de 1985.
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_
doc_19850311_notif-boff_po.html
423. BOFF, Leonardo, E a Igreja se fez Povo – Eclesiogênese: a Igreja que nasce da
fé do povo, p. 194, Círculo do Livro S.A., 1986, São Paulo.
424. BOFF, Leonardo, currículo acadêmico e de publicações, 2010.
http://leonardoboff.eco.br/site/bio/cv.htm[verificar pdf da tese]
425. SILVA, Bruno Marques, Fé, razão e conflito. A trajetória intelectual de Leonardo
Boff, http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Dissert-2007_SILVA_Bruno_Marques-
S.pdf
426. Entrevista de Leonardo Boff a Revista Memória e Caminhada. Op. cit., p. 24.
http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Dissert-2007_SILVA_Bruno_Marques-S.pdf.
427. RIBEIRO, Antonio Carlos, “Boff: Diálogo com Lutero”, Horizonte, v. 7, n. 13, p.
183-215, Belo Horizonte, 2008. https://pt.scribd.com/document/318431902/Boff-
dialogo-com-Lutero
428. Ibidem.

166
429. MORELLI, Mauro, prefácio ao livro “E a Igreja se Fez povo – Eclesiogênese: a
Igreja que nasce da fé do povo”, Círculo do Livro S.A., 1986, São Paulo.
430. VeritatisSplendor, 42 [
http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-
ii_enc_06081993_veritatis-splendor.html]
431. MAJELLA, GERALDO AGNELO, João Paulo II, O Gigante da Fé, 30 Dias, na Igreja
e no Mundo, Recordando João Paulo II, as recordações de 20 Cardeais, n°. 4, 2005.
http://www.30giorni.it/articoli_id_8498_l6.htm
432. “A luta de São João Paulo II e Bento XVI contra a Teologia da Libertação”,
Sanctus Angele Domini II, publicado em 28 de setembro de 2016.
https://www.youtube.com/watch?v=fzKNY2FXZAE
433. NERY, Hermes Rodrigues, “Aquela não é a nossa Igreja”, FratresinUnum.com,
14 de novembro de 2013. https://fratresinunum.com/2013/11/14/aquela-nao-e-a-
nossa-igreja/
434. BETTO, Frei, “O amigo Lula: Frei Betto narra a transformação do líder sindical
do ABC em presidente”, O Globo, 4 de novembro de 2011, artigo publicado em 2002.
https://oglobo.globo.com/politica/o-amigo-lula-frei-betto-narra-transformacao-do-
lider-sindical-do-abc-em-presidente-2910790
435. RATZINGER, Georg Ratzinger, “Meu Irmão, o Papa, Ed. Europa, pp. 216-217.
436. STURM, Heloísa Aruth, “Francisco não é um nome, é todo um programa de
Igreja, diz teólogo”, O Estado de São Paulo, 13 de março de 2013.
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,francisco-nao-e-um-nome-e-todo-um-
programa-de-igreja-diz-teologo,1008313
437. Ibidem.
438. Ibidem.
439. “Gaivota ataca pomba da paz do papa Bento XVI”, G1, em São Paulo, 30 de
janeiro de 2013. http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/01/gaivota-ataca-pomba-
da-paz-do-papa-bento-xvi.html
440. Ibidem.
441. BENTO XVI, Angelus, Vaticano, 27 de janeiro de 2013.
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2013/documents/hf_ben-
xvi_ang_20130127.html

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