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PREFÁCIO
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Josué A. Ribeiro
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Verdades e Crenças – Um contraponto a Olavo de Carvalho
Atenciosamente,
Josué de Almeida Ribeiro.
Outubro de 2021
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Josué A. Ribeiro
1ª Edição
Outono de 2020
FICHA CATALOGRÁFICA
ISBN: 978-65-990828-0-1
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Verdades e Crenças – Um contraponto a Olavo de Carvalho
SUMÁRIO
SUMÁRIO ...............................................................................6
AGRADECIMENTOS ................................................................... 7
INTRODUÇÃO ..........................................................................9
CAPÍTULO 1 ........................................................................... 17
CAPÍTULO 2 ......................................................................... 34
CAPÍTULO 3 ..........................................................................47
CAPÍTULO 4 ..........................................................................65
CAPÍTULO 5 .......................................................................... 91
CAPÍTULO 6 ........................................................................ 120
CAPÍTULO 7 ........................................................................ 146
CAPÍTULO 8 ........................................................................ 162
APÊNDICE .......................................................................... 169
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Josué A. Ribeiro
AGRADECIMENTOS
Josué A. Ribeiro
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Verdades e Crenças – Um contraponto a Olavo de Carvalho
- David Bowie
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INTRODUÇÃO
Ou: Por que escrever este livro?
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aqui são bastante contundentes, mas vocês estão livres para discordar.
Se quiserem aproveitar o que eu tenho a dizer, ótimo. Se não, descarte.
Porque não existe uma religião independente das pessoas, pois são as
pessoas que fazem a religião. A religião é exatamente aquilo que nós
fazemos dela. Portanto, se formos espertos, ficamos com o que há de
bom e descartamos o que há de ruim, e vivemos em paz. E assim
seguimos nossa vida.
Além disso, se você enxergar Jesus como um amigo íntimo, aquele
salvador bondoso, carinhoso, que vai te dar um abraço e te consolar
quando você estiver triste, que vai celebrar junto com você suas
conquistas, que vai te entender quando ninguém mais te entende, e que
vai estar do seu lado quando ninguém mais estiver, isso pode ser algo
bom. Pessoas que se apegam a essa imagem de Jesus costumam ser
pessoas de ótimo coração e muito boa índole, pessoas que você sempre
vai querer ter por perto, pois afinal, elas também seguem esse mesmo
modelo de conduta ao qual se apegam e tem como exemplo. Mas é claro
que não é bom exagerar, porque responder com bondade quando
outras pessoas abusam de você é apenas encorajá-las pra que
continuem com os abusos.
Mas quanto a mim, eu realmente decidi me afastar. Não digo que
nunca mais colocarei os pés em uma igreja, mas, quando isso
acontecer, eu terei que ter trabalhado mais essa parte do meu ser, que
por enquanto ainda está ferida e traumatizada, devido a eu ter me
envolvido demais com o lado mais tóxico da religião. Sim, eu
costumava ser um cristão, e não apenas isso, mas também aquele tipo
de cristão dos mais bitolados e fundamentalistas. Não digo que Olavo
de Carvalho tenha sido o único responsável por isso, mas certamente
ele exerceu grande influência para que eu tenha me tornado assim.
Em muitos testemunhos encontrados na internet, é possível ver que
quando a pessoa fazia parte de uma certa comunidade ou seita
religiosa, aquelas crenças exerciam sobre ela tamanha pressão e
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1 Como exemplo de um desses testemunhos, de uma mulher chamada Emma Swain, que ficou 27
anos no pentecostalismo, pesquise: “Emma Swain ex Christian” (conteúdo em inglês).
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verdades bíblicas, acreditando, com toda razão, que a vida já era pesada
e dura demais para eu me privar até mesmo de minhas mais caras
diversões e passatempos, e que Cristo não se importaria muito com
isso. Essa foi a fase em que eu me tornei um cristão liberal, dessa vez
mais liberal do que jamais havia sido antes. Pois esse pensamento que
passei a ter ia em clara oposição ao ensinamento que, no meu
entendimento, era a principal mensagem de Cristo: negar-se a si
mesmo, e fazer apenas a vontade de Deus.
Claro que, ao chegar a esse estágio, eu já estava com um pé fora da
religião. Mas até então nada de tão inusual, pois eu já havia passado
antes por fases mais liberais. E as fases liberais se alternavam com
outras em que eu era muito devoto, como um caranguejo que estivesse
prestes a sair do balde e depois fosse puxado de novo por outro
caranguejo até o fundo. Pois a crença religiosa tem seus mecanismos
de autodefesa intrínsecos, que são muito fortes, além da pressão de
uma comunidade de pessoas em volta que também têm essas crenças.
Porém, dessa vez, tomei coragem e decidi chutar o balde. E,
vencendo um temor e tremor inicial, me abri ao inquérito e escrutínio
de figuras sagradas, e comecei a pesquisar sobre a verdade envolvida
no relato bíblico sobre Jesus. E cheguei a conclusões surpreendentes.
Pois estudiosos como Kenneth Humphreys chegam até mesmo a
dizer que o Cristo foi uma mera invenção dos romanos para incutir nos
povos dominados a obediência perante as autoridades constituídas da
época, e dessa forma, evitar que houvessem revoluções e revoltas
contra Roma. Muitos ensinamentos de Jesus, na bíblia, parecem
apontar nessa direção. Afinal, por que ele ensinou a “dar a César o que
é de César”, e que seus seguidores, quando agredidos, deveriam “virar
a outra face”? Não seriam esses ensinamentos uma vil exploração da
bondade das pessoas?
Pelo fato de que, obviamente, eu nunca estive lá naquela época e
nunca vi com meus próprios olhos, não posso afirmar nada. Mas
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CAPÍTULO 1
A essa altura, tenho certeza que grande parte dos brasileiros com
alguma cultura já deve ter ouvido falar do filósofo Olavo de Carvalho.
Nem que seja, como a mídia o descreve, como o “ideólogo” do governo
Jair Bolsonaro. Através de suas ideias, ele se tornou muito influente e
poderoso, tendo inclusive influenciado na nomeação de ministros de
Bolsonaro através de simples comentários no perfil do Facebook.
Façamos um pequeno resumo de suas realizações, para dar a
dimensão do tamanho da mudança de paradigma que ele iniciou
dentro da sociedade, pelo menos no aspecto mais visível, mas
certamente também em outros aspectos. Afinal, o Olavo é muito mais
do que um simples influenciador político: ele também faz esforços para
restaurar uma alta cultura no Brasil e, claro, é responsável por um
grande número de conversões religiosas.
Em 2019, Jair Bolsonaro assume a presidência, depois de sua
improvável vitória nas eleições do ano anterior. Membros importantes
do governo recentemente eleito já admitem que, se não fosse por Olavo
de Carvalho, a reviravolta política que ocorreu no Brasil e culminou por
eleger o ex capitão do exército e deputado jamais teria acontecido.
Paulo Guedes, o ministro da economia, diz a Olavo: “Você é o líder da
revolução.” E o próprio Bolsonaro diz a respeito do filósofo: “Em grande
parte, devemos a ele a revolução que estamos vivendo.”
Mas todos que tem memória lembram que nem sempre foi assim.
Até relativamente pouco tempo atrás, Olavo e seus admiradores, que
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Digitando as palavras chave: “faxineiro Lula” no Google ou outro motor de buscas, o
leitor poderá conferir essa história.
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Para mais detalhes, pesquise: “Serra usa imagem de Lula no horário eleitoral”.
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Ele acabou sendo solto no dia 8 de novembro de 2019.
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mas admito que tais críticos têm alguma razão no que dizem.
Pois Olavo, de fato, formou e forma muitos intelectuais. Mas
imaginamos que um bom intelectual deve se abrir para todos os
pensamentos, e o próprio Olavo fez isso, pois estudou muitos
pensadores e bebeu das mais diversas fontes. Então, não seria normal
pensar que qualquer intelectual, mesmo um que seja formado por ele,
precisa se aventurar a possibilidade de estudar autores que ele nunca
indicou, e de chegar a conclusões diferentes das que ele chegou?
Quanto a pergunta: Olavo sempre tem razão? A minha resposta é
que, na minha opinião, ele tem razão em muitas coisas, mas está muito
longe de estar certo em tudo. Um homem com um dos intelectos mais
poderosos que eu já vi, mas também com uma inteligência emocional
que é, em muitos casos, minúscula. Muito inteligente, porém muito
distante do que eu considero ser uma pessoa sábia. Peço ao leitor que
me perdoe por meus sentimentos ambíguos em relação a ele. Pois de
minha parte, ele merece tanto grandes elogios quanto fortes críticas. E
talvez alguns vejam isso como uma incoerência. Mas é o que sinto
realmente, e estou sendo sincero.
Conforme já foi dito, meus questionamentos não são exatamente os
de um filósofo, mas somente os de uma pessoa comum exercendo sua
livre consciência, já que a atmosfera do olavismo cultural, com a qual
estou tão familiarizado, não deixa de ser, por vezes, enormemente
estafante.
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CAPÍTULO 2
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mundo aceita hoje a lenda setecentista que deprecia a Idade Média como
“Idade das Trevas”, mas ela continua firmemente arraigada no credo
universitário brasileiro.”
De fato, a Idade Média, que foi um período que durou
aproximadamente mil anos, apesar de ter sido, a princípio, uma
ruptura traumática com a Antiguidade e toda sua cultura e
conhecimento, não foi totalmente carente de inovações técnicas. Houve
avanços importantes na tecnologia agrícola, artes, literatura,
arquitetura e outras áreas culturais. E também, é claro, não há motivos
para negar os méritos da filosofia medieval e considerá-la totalmente
superada.
Mas também, não é possível negar, e acredito também que nenhum
historiador profissional do mundo faça isso, que na Idade Média a
Igreja Católica era a instituição mais poderosa que existia. Numa época
em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, ela chegou a
ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa Ocidental. E
ela usava todo esse poder que tinha não apenas para construir belas
catedrais, mas também para perseguir, censurar, matar e praticar toda
sorte de atrocidades. E no Oriente, a Igreja Ortodoxa fez a mesma coisa.
Gostaria de ver Olavo falar algo mais profundo a respeito desse
assunto, já que muitas das pessoas influenciadas por ele assumem uma
perspectiva de total defesa da Igreja, como se ela nunca tivesse feito
nada de errado, e como se toda a historiografia oficial sobre esse tema
fosse absolutamente caluniosa, feita para colocar a Igreja em
descrédito. Quais são as provas de que existe realmente essa
conspiração?
Olavo se apoia em estudiosos que fazem essa defesa incondicional
da Igreja em todos os aspectos, inclusive os mais controversos. Como
Rodney Stark, um sociólogo da religião americano e professor
universitário. Mas quais são as provas de que esses estudiosos é que
estão corretos, e todos os demais mentem? Por que a mentira? Por que
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Esse vídeo em que o professor se manifesta sobre esse tema encontra-se no youtube e
é intitulado “Olavo de Carvalho faz alguns comentários sobre o livro negro do capitalismo, e
mais...”
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Confira no youtube, no vídeo “Olavo responde a um professor comunista.”
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outras vis e pouco nobres, mostrando que até entre eles existe uma
noção de bem e mal. Muitos cristãos conservadores, por outro lado,
dizem que os animais são governados apenas pelo instinto, que é,
portanto, impossível que tenham sentimentos de verdadeira amizade e
lealdade. E também defendem, é claro, que eles não possuem nenhuma
alma que sobreviva à morte de seus corpos físicos, sendo esse um
privilégio dado apenas aos seres humanos que foram feitos à imagem
e semelhança de Deus.
Sobre o tal apego a valores pré-modernos, vou contar uma história
que é sintomática. Há um tempo atrás, vi um grupo de defesa da
tradição em uma rede social defendendo nada menos do que a invasão
de Israel pelos exércitos cristãos para fazer os impiedosos judeus
aceitarem Jesus Cristo a força. Afinal, os lugares santos onde Jesus
nasceu, pregou seu ministério e morreu, estão todos localizados em
Israel; são propriedade dos cristãos, e não dos judeus. Deveriam então
invadir e conquistar a Terra Santa, bem como fizeram os valorosos
cruzados, eles sim que eram um perfeito modelo de correção, coragem,
virtude e fé, e não esses homens frouxos e afeminados de hoje.
A publicação tinha muitas reações, com vários comentários
apoiando o autor da postagem, e ninguém parecia se dar conta que
aquilo era uma insanidade completa. Como se alguém realmente em
seu íntimo acreditasse naquelas coisas. Como se a vida real fosse um
imenso jogo de RPG. Como se as vidas humanas e perdas materiais
nada importassem; o que importa é somente a glória de Cristo.
É claro que, na vida real, os exércitos cruzados praticaram
atrocidades inomináveis, mas existe hoje essa moda, em alguns círculos
conservadores, de achar que eles eram apenas valorosos guerreiros e
heróis da fé.
Também já testemunhei nas redes sociais alguns religiosos repletos
de uma ira absurda, desencadeada pelos motivos mais fúteis, xingando
e ofendendo pessoas das piores maneiras apenas porque elas fizeram
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Mas será que qualquer pessoa que defenda um ponto de vista com o
qual ele não está de acordo, é um vigarista? Será que ele, por mais que
tenha preparo e estudo, tem o direito de se considerar o dono da
verdade, e atacar com a fúria de um anjo vingador qualquer um que
tenha uma posição diferente? Ele deveria saber que é melhor tomar
cuidado, pois se você abusa muito do expediente de rotular todos os
seus rivais de vigaristas, as pessoas podem começar a desconfiar que o
vigarista é você.
E através de seu exemplo, Olavo parece ter estimulado uma nova
onda, em que algumas pessoas colocam a si mesmas como medida de
todas as coisas boas e justas, e passam a fazer denúncias moralistas,
em um tom de profunda ira e reprovação, contra aqueles que se
desviam do que, na cabeça deles, é a mais pura e autoevidente conduta
moral. E se existe outra pessoa que discorde, as brigas se tornam
terríveis, pois em toda sua indignação moral, elas não estão dispostas
a ceder nem um milímetro de razão para a outra pessoa, e então os
ataques verbais e os insultos, de parte a parte, descem ao nível do
esgoto.
O caso do youtuber Nando Moura, que foi conhecido (não sei se
ainda é) como o maior canal no youtube da direita conservadora no
mundo, que de uma hora para a outra, passou de apoiador
incondicional de Bolsonaro a crítico feroz, enxergando-o como um
grande traidor e parte de um sistema corrupto, e então passou a atacá-
lo com grande virulência e indignação moral, é um bom exemplo. E
claro que os apoiadores do presidente ficaram indignados, então surgiu
essa briga. E Nando Moura, acreditando ter mais razão que eles, passou
a falar em nome da mais pura e óbvia lógica matemática de que 2 + 2
= 4, e xingar inscritos que até ontem eram seus seguidores fiéis. (Eu
também costumava ser inscrito no canal de Nando, eu também
protestei em sua comunidade, e também fui xingado pelo próprio
Nando. Quanta honra!)
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Nesse caso específico, é claro que Nando Moura não tem razão, e os
apoiadores do presidente têm toda a razão ao ficarem indignados com
ele. Mas Nando Moura apenas assimilou o estilo de Olavo de fazer
acusações indignadas contra aqueles contra os quais tenha alguma
discordância. E a discordância dele com Bolsonaro, que deveria ser
apenas algo pequeno e pontual, acabou se tornando para ele algo
semelhante a uma imperdoável traição, da qual ele era o heroico e
destemido denunciante. E claro que, nesse caso, surgem suspeitas de
que ele tenha obtido algum favorecimento para mudar de lado.
Esse tipo de intolerância e intransigência para com o próximo
parece mesmo algo mais ligado a épocas passadas, em que a vida era
vivida com grande brutalidade. E se alguém fazia algo que o outro não
gostava, já era motivo para cortar-lhe a cabeça com um golpe de
espada. E parece que estamos retornando a uma certa intolerância. Não
mais damos golpes de espada, mas usamos nossas palavras como
armas destinadas a matar a dignidade e a reputação do outro. E no caso
de Nando Moura, tendo uma audiência tão grande, suas palavras são
armas bem poderosas.
Olavo de Carvalho, é claro, repudiou Nando Moura por sua nova
postura. Mas Nando Moura apenas aprendeu os métodos de Olavo, e
os usou de uma forma inesperada.
Claro que, hoje em dia, com os poucos filhos que são gerados pelas
famílias e tratados como se fossem reis e rainhas, esse tipo de atitude
intolerante e narcisista está aumentando entre os jovens. No caso de
Olavo, parece ter ensinado muitos adultos a se comportarem também
dessa maneira.
Em relação ao fato de as pessoas estarem tendo poucos filhos, não
as critico, afinal, todos sabem como o mundo está complicado e como
é complicado criar um filho. Talvez os pais pudessem ensinar a seus
filhos que, fora de seus lares, num mundo cheio de competição, malícia
e maldade, eles precisam se acostumar com a ideia de que serão
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CAPÍTULO 3
Contradições cristãs,
ou: As fragilidades da rocha
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Ele diz isso em seu artigo "Engenharia da Confusão", encontrado em seu site,
www.olavodecarvalho.org.
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passagem citada.
“Ora, existe ali, junto à Porta das Ovelhas, um tanque, chamado em
hebraico Betesda, o qual tem cinco pavilhões. Nestes, jazia uma
multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos esperando que se
movesse a água. Porquanto um anjo descia em certo tempo, agitando-
a; e o primeiro que entrava no tanque, uma vez agitada a água, sarava
de qualquer doença que tivesse. Estava ali um homem enfermo havia
trinta e oito anos. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim há
muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado? Respondeu-lhe o
enfermo: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando
a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
Então, lhe disse Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda.
Imediatamente, o homem se viu curado e, tomando o leito, pôs-se a
andar. E aquele dia era sábado. Por isso, disseram os judeus ao que fora
curado: Hoje é sábado e não te é lícito carregar o leito. Ao que ele lhes
respondeu: O mesmo que me curou me disse: Toma o teu leito e anda.
Perguntaram-lhe eles: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito
e anda? Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se
havia retirado, por haver muita gente naquele lugar. Mais tarde, Jesus
o encontrou no templo e lhe disse: Olha que já estás curado; não peques
mais, para que não te suceda coisa pior. O homem retirou-se e disse aos
judeus que fora Jesus quem o havia curado. E os judeus perseguiam
Jesus porque fazia essas coisas no sábado. Mas ele lhes disse: Meu Pai
trabalha até agora e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda
mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas
também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.”
Para efeito de argumentação, vamos aceitar a premissa que Jesus
realmente fez todos os milagres incríveis que foram descritos ao longo
de todo evangelho. Afinal, não parece tão inverossímil que houvesse
realmente uma pessoa que caminhou entre nós que tivesse todos esses
dons espetaculares. Mas, então, devemos aceitar todo o resto. Todas as
histórias – inclusive a descrita no parágrafo anterior – são factuais. Mas
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bilhões de anos, e não meros seis dias), que devemos viver nossas vidas
de maneira íntegra e que existe uma vida após a morte, eu estou de
acordo. Mas nesse caso, não sei porque seria necessário ler a bíblia, já
que interpretá-la num sentido mais literal e tentar viver sua vida
obedecendo a todos os seus confusos e arbitrários mandamentos, e
dando atenção a todas as suas inefáveis profecias, é algo que deixa o
indivíduo confuso, perdido e desorientado. E muito suscetível a ser
completamente controlado pelos líderes de sua igreja, afinal, eles se
apresentam como os decifradores dos enigmas bíblicos.
Também é fato reconhecido que o Deus do Antigo Testamento
mandava seu povo escolhido cometer massacres contra outros povos,
mesmo contra mulheres e crianças. E os pastores evangélicos até
mesmo defendem essas ações do Deus bíblico – estive presente em um
culto evangélico e vi isso com meus próprios olhos. Mas devemos
reconhecer que isso é algo que não é moral e justo de maneira
nenhuma. Poderia Deus ordenar ações imorais? Ou só porque Deus
ordenou que fosse feito, passa a ser moral? Qual a diferença disso para
os radicais islâmicos que explodem aviões em prédios? Eles só estavam
errados porque seguiam a Alá, e não a Jeová?
Mais uma passagem que revela o caráter psicótico do Deus bíblico é
uma em que ele manda uma ursa matar 42 jovens porque eles haviam
zombado do profeta Eliseu, chamando-o de calvo. É interessante notar
que há muitas semelhanças entre esse comportamento do Deus bíblico
e o comportamento dos atuais esquerdistas, que são igualmente
sensíveis e reativos, e acham que devem ser proibidas quaisquer
referências depreciativas a características físicas que não estejam de
acordo com os padrões de beleza ideais da sociedade. Teria sido Jeová
bíblico o primeiro esquerdista da história?
Esses são apenas alguns exemplos, colhidos a esmo, mas se alguém
quisesse escrever um livro apenas comentando sobre as contradições e
absurdos presentes na bíblia, seria um livro bastante volumoso. Em
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amoroso, bom, misericordioso, que deu a vida por nós. Nada contra, e
isso pode até mesmo ser algo bastante reconfortante para nós. Mas há
várias passagens bíblicas que revelam um personagem muito diferente.
Talvez, a bíblia esteja errada, e o verdadeiro Cristo tenha sido mesmo
esse que é idealizado, e não o que é descrito pelas escrituras. Tenho
consciência que, ao atacar esse símbolo tão forte de nossa civilização,
estou, de certa forma, alimentando controvérsia e desunião. Mas não
vejo porque, em nome de uma união em torno dos caros valores
civilizacionais, alguém deveria ter compromisso com o erro.
Por que Jesus, na bíblia, apesar de em alguns trechos parecer ser um
libertário que luta contra a opressão dos fariseus, noutros aparece
sempre como um profeta sisudo, sério, pudico, autoritário, sectário,
que nos ensina que quem olhar para uma mulher com intenção impura
já é um adúltero em seu coração? Ou que se levarmos uma bofetada
numa face devemos dar a outra? Ou que quem não crer que ele é o
messias já está condenado? Ou que quem não o amar mais do que ama
a si mesmo não é digno dele? Ou que os mortos deveriam enterrar seus
próprios mortos, chamando de mortos os parentes vivos do pai de um
de seus seguidores?
Por que o Deus feito homem nunca demonstra emoções tão
naturalmente humanas, como o riso e a descontração? Apesar de se
apresentar como boa notícia, o evangelho é, aparentemente, algo tão
alegre e cheio de vida como um túmulo de mármore.
Talvez, seja por isso que na Idade Média cristã a morte fosse algo tão
cultivado e celebrado, conforme podemos ver por muitas das
manifestações artísticas daquele período. E também que muitos
cristãos, mesmo nos dias de hoje, sejam tão obcecados com a ideia de
conquistar recompensas eternas na vida após a morte, que se esquecem
que a vida antes da morte também é digna de ser vivida.
Olavo de Carvalho, apesar de afirmar que seguir a moral católica a
risca é desnecessário, ainda assim a coloca como um ideal de virtude e
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correção que, apesar de ser inalcançável para todos nós, continua sendo
aquele padrão que é realmente o correto, e ao qual todos nós devemos
pedir perdão a Deus por não conseguir alcançar. Ele diz que a Igreja
existe exatamente para isso: para perdoar os pecados. Mas por que
Deus cria para nós padrões inalcançáveis e irreais, e depois exige que
nós peçamos perdão a Ele por não conseguirmos seguir? E esse perdão,
por acaso, só é concedido por intermédio da Igreja, que é constituída
por homens tão mortais e falhos como todos nós?
Pois, seguindo fielmente a religião católica, você não pode pedir
perdão diretamente a Deus, sozinho em seu quarto; precisa procurar
um padre e, sujeitando-se a um certo constrangimento, contar o que
quer que tenha feito de errado, e depois fazer sua penitência. E se o
pecado é recorrente, deve estar sempre se confessando, apesar de na
doutrina também constar que o fiel, após a confissão, deve ter a firme
determinação de não voltar a praticar o mesmo pecado.
Mas não é uma perda de tempo e energia o fiel estar sempre
procurando o padre pra confessar a ele coisas tão importantes como
que andou olhando imagens de mulheres nuas na internet? Será que o
padre tem tanto tempo livre assim? Ou será que ele agradece a Deus o
fato de seus paroquianos não serem tão zelosos com as regras do
catolicismo? Enquanto isso, outros católicos mais conservadores
reclamam que vivemos tempos de grande apostasia, e as pessoas não
frequentam mais as igrejas. Talvez o fato de até a grande maioria do
próprio clero não levar seu catecismo muito a sério tenha algo a ver
com isso?
A bíblia, com todas as suas fábulas e mitologias fantásticas, dá
margem a muitas formas de superstição, como a teologia da
prosperidade, em que pastores estelionatários extorquem
violentamente seus fiéis, sem a menor culpa ou constrangimento. Em
grande parte das vezes, pessoas humildes, trabalhadoras e que passam
por grandes dificuldades.
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CAPÍTULO 4
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e dons incríveis que são atribuídos a ele, que também tinha a presença
de estigmas em suas mãos, que até mesmo sangravam toda vez que ele
fazia as celebrações de suas missas, que chegavam a durar três horas.
Fiquei verdadeiramente intrigado com aquilo. Ainda mais quando
soube que o corpo do padre Pio, morto há tantos anos, encontrava-se
ainda intacto, incorrupto, não apresentando nenhum sinal dos
processos naturais que ocorrem quando todo ser humano morre, ou
seja, o processo de decomposição, em que o corpo é decomposto por
micro-organismos como fungos e bactérias, e torna-se um cadáver
putrefato, exalando um cheiro horrível, até que no final, o que resta são
apenas os ossos e, por fim, apenas o pó.
Recentemente, através de informações do famoso site católico O
Catequista, descobri que o corpo do padre Pio não estava realmente
intacto, mas apenas parcialmente decomposto8. Apesar do mal-
entendido que demorou algum tempo para ser desfeito, o site esclarece
que jamais nenhuma autoridade da Igreja declarou que o corpo do
padre Pio estivesse milagrosamente incorrupto, ainda que uma réplica
de silicone fosse mostrada como sendo verdadeiramente o corpo do
santo.
Segundo os médicos, quando foi aberto o caixão em que estava o
corpo do padre Pio não havia nenhum mal cheiro, apesar da grande
umidade. Bem, já é alguma coisa, mas muitos católicos ainda
acreditam, como eu acreditava até pouco tempo atrás, que estivesse
realmente completamente incorrupto, e que a tal réplica de silicone
fosse real.
Assim como o padre Pio, há diversos outros santos católicos que
estão totalmente ou parcialmente incorruptos como: Santa Bernadete
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Fonte: www.ocatequista.com.br, artigo "A polêmica sobre o corpo "incorrupto" de
Padre Pio."
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Buscando pelo termo “santos incorruptos da Igreja Católica” o leitor poderá conferir
essa informação.
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Essas histórias podem ser conferidas no vídeo “Proof of the supernatural and miracles
– Catholic Miracles” (em inglês).
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Dito isso, pergunto ao leitor: o que eles têm em comum? Todos eles?
Resposta: eles não são a regra. Ao invés disso, são eventos
extraordinários e raríssimos, tanto que podem datar de muitos séculos
atrás.
De fato, eu conheço padres e religiosos que são muito piedosos e
seguem com bastante zelo toda a doutrina da Igreja e toda a sua moral,
e são grandes defensores da fé. Um dos exemplos que posso citar, de
um homem bastante conhecido, é o padre Paulo Ricardo. Acredito que,
caso houvesse a necessidade, esses homens estariam até mesmo
prontos para o martírio, como os virtuosos santos do passado. Então,
por que é que eles não exibem nenhum dom, carisma ou sinal
milagroso? De fato, a vida deles nesse quesito é tão ordinariamente
comum como a de qualquer um de nós.
Isso leva a outra pergunta: qual a porcentagem de pessoas
verdadeiramente santas e dispostas a morrer por Cristo são capazes de
emitir sinais milagrosos? Alguns diriam que esse é um cálculo
mesquinho, mas eu acho que é sim relevante. Afinal, Jesus chega a
dizer, nas escrituras, que todos aqueles que o seguissem seriam capazes
de fazer sinais ainda maiores do que ele fez.
O Brasil tem, no ano de 2019, uma população que chega quase aos
216 milhões de pessoas. Entre todas essas pessoas, quantas delas são
cristãs praticantes e fervorosas? E quantas delas são capazes de fazer
curas milagrosas, ou voar, ou terem estigmas que sangram
continuamente e mesmo assim não tem sua saúde afetada?
No mundo inteiro, são 2,3 bilhões de cristãos. A parte cristã da
população mundial representa cerca de 33% da humanidade nos
últimos cem anos, o que significa que uma em cada três pessoas no
mundo são cristãs. Isso significa realmente muita, muita gente. De
todas essas pessoas, quantas delas foram capazes de emitir sinais
milagrosos tão impressionantes como os do padre Pio? Ou mesmo
qualquer sinal sobrenatural que fosse digno de nota?
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Basta consultar o verbete “aparições marianas” em seu motor de buscas.
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Outra coisa que acho bastante estranha é que tenha sido a Virgem
Maria a escolhida para mandar mensagens aos cristãos. Pois, como
todos sabem, ela é considerada uma figura muito importante entre os
católicos, mas não entre os protestantes. Para os protestantes, Maria é
apenas uma mulher que foi considerada justa e digna por Deus, mas
era apenas um ser humano, não uma mediadora entre Deus e os
homens; esse papel só cabe ao próprio Jesus Cristo.
Refletindo essa crença de que Maria tenha sido apenas uma mulher
virtuosa, e não uma espécie de divindade (não que seja realmente no
dogma católico, mas na prática acaba sendo), os protestantes afirmam
que Maria e José tiveram filhos, que foram irmãos de Jesus; já os
católicos afirmam que ela permaneceu sempre virgem, mesmo tendo
sido casada com José. Maria era tão santa, e tão exemplar para todas as
mulheres, que não fazia sexo nem com o seu próprio marido. Quando
a bíblia menciona os irmãos de Jesus, é porque o idioma hebraico da
época não tinha uma palavra específica para designar primos. Assim,
primos eram chamados de irmãos, o que acabou gerando a confusão.
A importantíssima polêmica quanto a Jesus ter tido irmãos, ou
apenas primos, persiste até hoje. Mas, certamente, Jesus era a pessoa
mais adequada para mandar mensagens que fossem ouvidas por todos
os cristãos, e até por toda a humanidade, já que ele sim é considerado
a principal figura, tanto no protestantismo como no catolicismo.
Aliás, se ele tivesse aparecido no momento em que houve a confusão
com a reforma protestante e esclarecido aos fiéis se a religião certa era
o catolicismo ou o protestantismo, milhões de vidas teriam sido
poupadas. Por que ele não fez isso e, ao invés disso, permaneceu lá onde
quer que estivesse, alheio e indiferente a toda aquela destruição e
carnificina feitas em seu nome?
Mas os católicos acreditam nas aparições marianas, e o fato de ter
sido Maria quem apareceu de forma sobrenatural é uma prova de que
eles estão corretos a respeito de ela não ter sido uma simples mulher
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virtuosa, mas sim, de ter sido tão virtuosa que foi alçada (na prática,
não no dogma) por Deus a categoria de semidivindade, e as aparições
foram uma forma que Deus encontrou de humilhar os protestantes,
porque Deus está com os católicos e despreza os protestantes.
Além disso, nos seus terços do rosário, os católicos rezam dez Ave
Marias para cada Pai Nosso. Apesar de dizerem que não adoram Maria,
como acusam os protestantes, mas que apenas a veneram, os católicos,
na prática, passam a maior parte do tempo em que rezam, rezando
para ela.
Os protestantes, por sua vez, não negam que as aparições de Maria
sejam de fato um fenômeno sobrenatural. Mas, segundo eles, trata-se
de um fenômeno sobrenatural não pertencente ao Deus vivo, o Deus de
Abraão, Isaque e Jacó e sim, um truque do inimigo de Deus, Satanás,
para levar os pobres pecadores à perdição eterna. Nesse caso, Deus está
com os protestantes e odeia os católicos.
Pois, para os protestantes, os católicos são todos culpados de grave
pecado de idolatria com todas as suas imagens e culto aos santos, e
muitos deles chegam a dizer que os católicos não serão salvos. Santos
são apenas Deus e Jesus. Não está claro se acham que, durante todo
período de cerca de mil anos em que a Igreja Católica era a única igreja
cristã que havia no Ocidente, todas as pessoas iam para o inferno, até
que o salvador Martinho Lutero tenha aparecido e fundado a religião
verdadeira, que levava seus praticantes até o céu.
Os católicos mais tradicionais, por sua vez, também acham que o
protestantismo seja uma religião demoníaca que leva todos os seus
praticantes ao inferno. Afinal, eles se desviaram da tradição e da sã
doutrina, da única Igreja que foi verdadeiramente fundada por nosso
senhor e salvador Jesus Cristo, tendo o apóstolo Pedro como o primeiro
Papa da história.
Já os judeus, o povo que Deus escolheu para levar sua importante
doutrina para toda a humanidade, ou seja, foi através deles que tudo
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história.
Vamos falar dela então. Essas aparições foram vistas por três
crianças portuguesas, Lúcia dos Santos (10 anos), Francisco Marto (9
anos) e Jacinta Marto (7 anos) na localidade de Fátima. Lúcia via, ouvia
e falava com a aparição, Jacinta via e ouvia e Francisco apenas via-a,
mas não a ouvia12.
Antes da aparição da Virgem Maria, houve a aparição de um Anjo
(pelo menos, de acordo com o relato de Lúcia). Isso se deu no ano de
1916. Essas visões permaneceram inéditas até 1937, quando então,
Lúcia as divulga pela primeira vez. Segundo Lúcia, era uma luz mais
branca que a neve com a forma dum jovem, transparente, mais
brilhante que um cristal atravessado pelos raios do Sol. À medida que
se aproximava, iam distinguindo suas feições. O Anjo lhes dirige a
palavra e diz para não temerem, pois ele é o Anjo da paz. E lhes faz
repetir a seguinte oração: "Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-
Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não
esperam e não Vos amam."
Ainda segundo o relato, a atmosfera de sobrenatural que envolveu
as crianças logo que tiveram o primeiro contato e diálogo com o Anjo
era tão intensa que quase não se davam conta da própria existência,
por um grande espaço de tempo, e ficavam repetindo sempre a mesma
oração. A presença de Deus sentia-se tão intensa que nem mesmo se
atreviam a falar, e isso só foi muito lentamente desaparecendo. Essa foi
a primeira aparição.
A segunda aparição do Anjo deu-se no verão de 1916. Dessa vez, ele
recomendava às crianças orar muito e oferecer constantemente ao
Altíssimo orações e sacrifícios e, sobretudo, aceitar e suportar com
12
Consultei a wikipedia, verbete Aparições de Fátima, o portal Últimas e Derradeiras
Graças (www.derradeirasgracas.com), além de outras fontes.
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do Altíssimo? Eu enxergo as coisas melhor que Ele? Isso não seria cair
no pecado de soberba? E não é um pouco estranho Nossa Senhora
colocar sobre os ombros dessas pobres crianças do interior de Portugal
um peso e responsabilidade tão grandes, que nem adultos maduros
conseguiriam lidar?
Nossa Senhora realmente parece prever com exatidão que, anos
mais tarde, haveria outra guerra, ainda pior, ainda que esse segredo só
foi escrito por Lúcia em 1941, depois que a Segunda Guerra Mundial já
havia começado. Mas a culpa, aparentemente, é dos pecadores que não
param de ofender a Deus, sem que ela esclareça exatamente qual a
natureza dessas ofensas. Ela poderia ter dito para tomarem cuidado
com o nacionalismo exacerbado, com as pretensões militares
expansionistas e imperialistas ou com o racismo e antissemitismo, pois,
aí sim, faria algum sentido. Ou até mesmo, pedir para darem o recado
ao povo alemão para rejeitar de todas as maneiras Hitler e o Partido
Nazista e toda sua ideologia.
Mesmo que ela tivesse dito isso, e os videntes tivessem dado o
recado, duvido que os alemães teriam escutado. Mas quando ela diz
para não ofenderem a Deus, que é uma coisa completamente vaga e
subjetiva, como isso poderia ter ajudado pra alguma coisa? Novamente,
por que é que Nossa Senhora se dá ao trabalho de descer do Céu para
dar a humanidade avisos tão inócuos e irrelevantes, que não tem poder
nenhum de mudar nada ou de evitar que as tragédias e catástrofes
aconteçam?
Mais que isso: por que Deus é tão vingativo que quer punir o mundo
por meio de guerra, fome e perseguições? Quais são os crimes do
mundo que merecem essa punição tão horrenda? E todas as pessoas
são igualmente culpadas? Todos são, indistintamente, perversos
criminosos que devem sofrer amargamente? Não existe ninguém bom
ou inocente? Os judeus que foram perseguidos por Hitler, também se
encaixam nessa categoria? Eles também eram culpados de crime
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possuídas. E não fica muito claro até que ponto o ocultismo ainda é
seguro, e a partir de qual ponto passa a se tornar arriscado; alguns
veem ação diabólica até em vídeo games, livros, mangás, músicas
seculares, programas de televisão, board games ou jogos de RPG.
Para esses padres exorcistas, o meio mais eficiente de se proteger da
ação diabólica é através de um exercício de ascetismo espiritual,
participação nos ritos de sua religião (no caso, católica), afastar-se do
pecado e da descrença, e viver uma vida que seja correta, justa,
obediente e devota diante do Senhor. Mas, estranhamente, a maioria
dos ateus e céticos jamais teve qualquer problema com o fenômeno da
ação extraordinária do maligno, isso é, jamais foram vexados,
possuídos ou sofreram infestação.
Não estou negando que esses casos de possessão demoníaca são
reais, pois, ao que parece, estão muito bem documentados (apesar de
que os exorcismos praticados por pastores evangélicos nas suas igrejas
serem, na imensa maioria dos casos, pelo menos, puro teatro). O que
eu questiono é a necessidade de aderir a práticas religiosas específicas,
já que, conforme os próprios exorcistas admitem, esse é um fenômeno
extremamente raro. Tão raro que a quase totalidade das pessoas vivem
suas vidas cotidianas sem jamais se preocupar com ele.
Os mais afetados pelas ações dos demônios, ironicamente, são os
próprios cristãos, que, atribuindo-lhes tanta importância e tanto poder,
imaginam que eles estão sempre os rodeando no ar, mesmo quando
vão tomar banho, praticar sexo ou ir ao banheiro. E que, cedendo
mesmo ao menor e mais insignificante dos pecados, estão sendo
vítimas de ação demoníaca.
Amigos cristãos, convido-os a refletir um pouco. Pois viver sob o
peso de tanto medo e superstição é algo extremamente maléfico para
vocês ou para qualquer um que tenha essas crenças. Deus não é um
monstro para colocar a nós, seres humanos na Terra, e ao mesmo
tempo, enchê-la de espíritos maléficos invisíveis que ficam nos
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não acontecem, pois eu sei que acontecem e são mais comuns do que
se imagina.
Talvez algumas pessoas podem até ter sido, de fato, curadas.
Milagres podem acontecer, mas é Deus quem escolhe quando, com
quem e onde, e esses eventos em que as leis da natureza são desafiadas
são tão raros que é melhor descartar totalmente a hipótese de que eles
venham a acontecer. A não ser, talvez, se for absolutamente necessário
e não houver alternativa. Deus age quando quiser e como quiser, e não
obedecendo a expectativas humanas.
Quanto a expectativa sobre a volta de Cristo, a mais grandiosa e
incrível profecia do cristianismo que, supostamente, estaria muito
próxima, basta dizer que a primeira geração de cristãos já esperava
testemunhar sua segunda vinda ainda durante seu tempo de vida. Hoje,
os sinais que aparecem são: guerras, perseguições, terremotos, tempos
difíceis e outras coisas assim. Ou seja, todas as coisas que estiveram
presentes no mundo desde sempre.
Quem quiser apostar suas fichas nisso e esperar a volta de Cristo,
que espere sentado. Quanto a mim, vou seguir minha vida contando
com a hipótese muito mais realista de que isso nunca vai acontecer. Os
religiosos, ao encherem a cabeça de seus fiéis com essas histórias,
acabam gerando neles um monte de crenças e expectativas irreais que
atrapalham muito mais do que ajudam. E quanto ao Olavo, deveria
observar com mais cautela as coisas que diz, sob pena de ser levado a
sério apenas por um pequeno gueto, e ser visto pelas demais pessoas
mais como um excêntrico guru religioso do que como um filósofo sério.
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CAPÍTULO 5
Por volta dos anos de 2003 até 2006, mais ou menos, eu costumava
ter dois amigos muito especiais. Não que hoje não sejamos, mas como
acontece com todos, cada um segue o seu próprio caminho e se afasta
dos demais. Mas naquela época, éramos tão próximos que todo fim de
semana costumávamos sair juntos, conversar amenidades e também
assuntos importantes, paquerar as garotas, compartilhar nossas
vivências, rir, falar das nossas frustrações, já que nenhum de nós havia
ainda alcançado qualquer sucesso significativo, e também confessar
uns aos outros nossos sonhos, desejos e planos. E como morávamos no
mesmo bairro e bem próximos uns aos outros, mesmo durante a
semana costumávamos nos encontrar.
Foi um desses amigos que me apresentou às ideias da direita, eu
que, até então, era um esquerdista convicto. E claro, ao Olavo de
Carvalho. Rapidamente, ao ler o livro do filósofo, me convenci que ele
tinha razão em suas ideias. E assim, o fato que nós três éramos
olavistas, numa época em que os conservadores brasileiros não
enchiam uma kombi, era um fator a mais em nossa relação de
cumplicidade.
Um belo dia, um desses meus amigos veio até mim e ao nosso outro
amigo para contar, todo entusiasmado, uma grande novidade: havia se
convertido a Jesus e resolvido nascer de novo, e em breve seria
batizado. Nós, que não havíamos sido, apenas desejamos que ele fosse
feliz em sua nova fase.
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Mas esse amigo, depois dessa conversão, já não era mais a mesma
pessoa. Ele havia se tornado tão pudico, que até um mero beijo na boca
visto num filme já era motivo de escândalo, e de ele ou tapar os olhos,
ou sair da sala, ou pular a cena. É claro que aquilo não deixava de ser
cômico e até ridículo, provocando nas demais pessoas algumas risadas
involuntárias. Mas ele, resolutamente, ignorava todos os nossos apelos
e argumentações de que aquilo não era algo imoral e de que Deus não
estava preocupado com aquelas coisas.
Quando ele fazia proselitismo ou tentava argumentar a favor de suas
novas crenças, ele começava falando: “Quando Adão pecou, a
humanidade foi separada de Deus...” e continuava. Naquela ocasião, o
que me causava mais espanto não era nem aquela história totalmente
incoerente da serpente falante e do fruto proibido, que eu sempre havia
entendido como metáforas, mas o fato de ele se referir a essas coisas
como se fossem acontecimentos factuais, e referir-se a Adão, um
personagem totalmente mitológico, como se houvesse sido uma pessoa
real de carne e osso, como Hitler, Júlio César ou Napoleão Bonaparte.
Apesar de ter achado isso quando ainda era bastante jovem, anos
mais tarde estava eu enfrentando profundas dificuldades e aflições em
minha vida, e resolvi dar um crédito àquele misterioso Deus cristão. O
Deus das causas impossíveis e dos milagres. E resolvi, pela primeira
vez em minha vida, entrar numa igreja evangélica. Até então, desde
que eu havia conhecido Olavo, era apenas um simpatizante do
cristianismo e católico nominal.
Antes disso, já havia até participado, no ano de 2008, de um
seminário proferido pelo falecido historiador católico e professor
universitário Orlando Fedeli, em que ele defendia a Igreja Católica pré-
conciliar como sendo a única via que levava a salvação, e rejeitando não
apenas todas as demais religiões, como também a Igreja Católica pós
Concílio Vaticano II. Também aparecia a temática de total defesa da
história da Igreja em relação a perseguição a hereges, bruxas e guerras
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nobre como o doutor Afonso. E você jamais acreditará que ele será
capaz de mentir ou estar enganado. Ele é o seu guia. E se ele te disser
que dinossauros e humanos viveram juntos, que embalagens plásticas
são responsáveis por um aumento na quantidade de homossexuais no
mundo, que a Terra tem só 6 mil anos, que o mundo e o ser humano
foram criados dentro de um intervalo de 6 dias, e que todos os eventos
fantásticos narrados na bíblia aconteceram literalmente, você vai
acreditar.
Depois o doutor Afonso diz que, devido a inversão do campo
magnético da Terra, que está iminente, o domo que cobre todo o nosso
plano irá se romper, e a Terra será inundada por plasma, produzindo
uma catástrofe de proporções bíblicas, e você terá que estar preparado
para isso. Seja cauteloso! O mínimo que você pode fazer é comprar um
kit de sobrevivência. E mantenha-se informado, assistindo a mais
vídeos do doutor Afonso.
Nesse ponto, você acredita no doutor Afonso até se ele te disser que,
se você estiver passando por dificuldades financeiras, não precisa se
preocupar, basta rezar pra Jeová com muita fé, pedindo dinheiro, e você
vai virar a esquina da rua da sua casa e achar uma nota de cem reais
dando sopa no chão, bem na sua frente. Aleluia! Glória a Deus!
(Ele realmente conta, em um de seus vídeos, que certa vez um amigo
lhe ligou pois estava muito aflito e precisava de um dinheiro
emprestado. Mesmo tendo boas condições financeiras, o doutor Afonso
não emprestou, mas ao invés disso, deu um conselho valiosíssimo: ore
ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó pedindo esse dinheiro, e Ele irá lhe
dar. Sim, realmente muito cristão da parte do doutor Afonso!)
Levanto essas questões sobre ciência (sim, alguns chamam isso de
ciência, e até mesmo de ciência de verdade), porque muitas pessoas que
acreditam em Terra plana, e em outras teorias semelhantes, fazem isso
influenciadas por sua cosmovisão cristã, e sua grande disposição de
acreditar nas histórias bíblicas de forma literal. (Mas nem todas. Alguns
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nem estão interessadas. Afinal, o que nós devemos fazer, como nobres
soldados de Cristo, é lutar pela verdade. Mesmo não dispondo de
nenhum meio de comunicação em massa para levar essa informação
aos lares dos brasileiros, se todos nós fizermos nosso trabalho de
formiguinha, tudo vai dar certo!
E com qual objetivo? O que poderão fazer os pobres receptores
dessas mensagens a respeito de coisas como essas? Será que esse
trabalho de formiguinha, informando pessoas que muitas vezes nem
sabem quem é George Soros, realmente vai impedir George Soros de
fazer seja lá o que for que ele queira fazer? Não seria melhor lembrar a
essas pessoas que ficam fazendo essa militância tão obstinada que, por
acaso, elas também têm uma vida? E que, esforçando-se tanto para
lutar contra a alienação, acabam elas próprias se tornando fanáticas e
alienadas? Como são felizes as pessoas que vivem suas vidas com mais
leveza e menos preocupação!
E esses militantes costumam enxergar a realidade de forma bem
binária: bem ou mal, Cristo ou o demônio, branco ou preto. E não dão
atenção às diferentes tonalidades de cinza. Algumas vezes, você pode
concordar com eles em muitas coisas, mas se não concorda em tudo, já
passou para o lado do mal e só merece receber críticas e insultos. Afinal,
não é assim também que Olavo age?
Claro que também não podemos permanecer completamente
ignorantes e alienados, alheios a tudo que acontece. Realmente
precisamos saber de algumas coisas importantíssimas que não são
divulgadas na grande mídia, ou notícias que são muito distorcidas, e
buscar nos informar, e sim, compartilhar com nossos contatos o que
for mais relevante, de fácil entendimento, e que não seja fake news.
Outras vezes, porém, a ignorância é uma bênção. Eu confesso que,
mesmo tendo devotado tanto tempo pra estudar sobre os Illuminatti,
os reptilianos e a demonologia, ainda não achei nada de útil pra fazer
com esse conhecimento. E a essa altura, prefiro nem pensar mais a
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respeito disso.
E pra falar a verdade, em 99,9% do meu tempo eu não estou muito
preocupado com o assunto do formato da Terra. Ela é redonda, mas se
fosse plana, não mudaria minha vida em nada, nem provaria o
literalismo bíblico. Eu não chego a ser um aficionado por filmes e séries
de ficção científica e extraterrestres. Mas também, o fato de ela ser
redonda e o universo incrivelmente grande, não me coloca no mesmo
status ontológico de um vírus ou bactéria, como algumas vezes
sugerem os terraplanistas.
Conforme sugeri no título do capítulo, parece claro que a
espiritualidade de uma pessoa tem sim a ver com seu estado de
alienação. Pois se ela tem uma espiritualidade caótica e bagunçada, ela
acaba tendo comportamentos e crenças que a deixam muito alienadas
em relação às demais pessoas, e ainda acredita em qualquer coisa que
o seu guru ou líder espiritual diga a ela. Pode ser o pastor evangélico
falando que se ela vender seus bens e depositar o dinheiro na conta da
igreja Deus vai retribuí-la em dobro, pode ser o doutor Afonso fazendo
alarmismo a respeito da inversão do polo magnético da Terra, o
rompimento do domo e a queda do plasma em cima das nossas cabeças.
E a pessoa, se estiver confusa demais, irá acreditar.
Mas claro que não são apenas teóricos de conspiração que provocam
essa alienação em seus ouvintes. A grande mídia também faz
exatamente a mesma coisa. E no caso dela é pior, porque o público que
atinge é muito maior. E muitas vezes, é um público que se considera
esclarecido e elitizado, não como aqueles pobres ignorantes que dão
ouvidos a teóricos de conspiração. Mas aí também ocorre um
problema, porque nem toda teoria de conspiração é ruim e falsa; as
vezes, o que ela está falando é a mais pura verdade, enquanto a grande
mídia está enchendo a cabeça das pessoas com mentiras.
Como fazer essa distinção? É preciso ficar atento. Talvez seguir o
conselho bíblico: examinar todas as coisas, e ficar com o que é bom. E
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Satanás. Assim, para combater esse mal absoluto, seria necessário fazer
toda a Europa voltar a ser cristã, e expulsar os infiéis. Uma luta inglória,
em que eles precisam combater não apenas os muçulmanos, mas
também todo um consenso do mundo secular que já vem desde o século
XIX, ou talvez antes disso. E se não fizerem isso, toda a civilização estará
perdida.
Já que o Islã agora também é um problema do Ocidente, e não
apenas dos países muçulmanos, talvez uma solução para resolver esse
problema seria mover um combate intelectual e ideológico contra a
doutrina islâmica, e dinfundi-la nos principais meios de comunicação,
assim como iluministas como Voltaire combateram dessa maneira a
doutrina cristã no século XVIII. Mas claro, isso teria que ser feito com
muito cuidado, pois afrontas ao profeta Maomé e demais provocações
ostensivas são respondidas com outros atos terroristas.
O problema, na Europa, é o fato de o passado de intolerância racista
e totalitária ter legitimado um discurso multiculturalista e antirracista
tão forte, a ponto de os cidadãos europeus, muitas vezes, sentirem um
profundo ressentimento em relação à sua própria etnia e cultura. Isso
faz com que se tornem excessivamente tímidos em relação a criticar
culturas e doutrinas alheias, mesmo que seja algo que os esteja
afetando diretamente. Podem criticar a si mesmos, mas não podem
jamais criticar os outros; isso é visto como preconceito e intolerância.
Aliás, toda essa pregação contra o racismo assume que apenas os
brancos podem ser racistas, e que as outras raças não são racistas de
maneira alguma. É claro que isso não é verdade. E os supremacistas
negros, que abertamente hostilizam pessoas brancas, usando até
mesmo termos pejorativos para se referirem a elas? Estranhamente,
esses não são considerados supremacistas raciais ou racistas, e pelo
contrário, às vezes são até glamorizados pela mídia e por classes
universitárias, enquanto um branco já é considerado racista e culpado
só por ter vindo ao mundo.
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CAPÍTULO 6
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levaria mais a sério. Como bem lembra Olavo, não deveriam esperar
até o advento de uma sociedade perfeita e utópica para começarem a
ser generosos com seus irmãos menos favorecidos - até porque, na
sociedade humana, sempre haverá problemas.
Hoje em dia, o povo brasileiro (ou pelo menos, boa parte dele) está
bastante atento às contradições e aos absurdos dessas pessoas, mas
nem sempre foi assim. Durante muito tempo, estiveram adormecidos.
Vou tentar trazer aqui um pouco da minha própria perspectiva em
relação a esse assunto, tentando fazer uma análise equilibrada, apesar
de que, como qualquer ser humano, eu não consiga ser totalmente
isento.
Como todos sabem, a esquerda é herdeira do pensamento
humanista secular que fez parte do Iluminismo, ou seja, aquela
corrente que foi crítica em relação a autoridade da Igreja e questionou-
a de todas as formas possíveis. Diziam querer jogar “luz” sobre as
“trevas” medievais. Mas a ideologia esquerdista caminhou para muito
além disso, a ponto de que hoje, Voltaire, o célebre libertário dos
tempos do Iluminismo, muito provavelmente seria chamado de
“fascista” por certos esquerdistas, porque ele foi um defensor do livre
comércio e contra o controle do estado na economia.
É correto dizer que o pensamento da esquerda moderna se
aproxima muito mais com os de outro pensador iluminista, o suíço Jean
Jacques Rousseau, melhor conhecido por ter criado o mito do “bom
selvagem”. Isso também se reflete no pensamento esquerdista, em que
índios, imigrantes e desvalidos ocupam um espaço de destaque, bem
como qualquer pessoa que se identifique como parte de alguma
minoria supostamente perseguida ou discriminada.
Mas claro que não há como falar de esquerda sem mencionar o
socialismo. O socialismo foi uma ideologia política que surgiu dentro
do seio da esquerda humanista secular e materialista e, durante muito
tempo, ser socialista e ser de esquerda foram sinônimos. Mesmo
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mundo. Sim, esta pode ser uma visão extremamente simplória, mas
talvez, por isso mesmo, seja tão persuasiva: o que pode ser mais
cômodo do que, sem precisar fazer nenhum esforço, estar do lado do
“bem” e do progresso que luta contra as forças do “mal” e do atraso?
Além desses elementos psicológicos e da exposição à doutrinação
(cada vez mais precoce, ao ponto de, em alguns lugares, crianças de dez
anos já estarem discutindo temas como “direitos das mulheres”), há
também outros motivos puramente oportunistas, como ascender na
hierarquia universitária ou parecer virtuoso aos olhos da grande mídia.
Para criar um modelo econômico e social que atenda não apenas aos
ricos, mas também aos pobres e desfavorecidos, seria necessário
regular a economia. Criar imensas burocracias, leis e mais leis, que
supostamente protegem a população contra a ganância dos
empresários. Entre a esquerda, o empresário ou empreendedor é
geralmente visto como vilão, e o lucro é considerado algo grosseiro, vil
e egoísta, mas que pode até ser tolerado, contanto que o empresário
arque com suas responsabilidades sociais, pagando devidamente todos
os seus impostos e contribuições e respeitando toda a imensa
burocracia, e ainda tendo de lidar com uma justiça do trabalho bastante
tendenciosa.
Desnecessário dizer, essa foi a política que o Brasil seguiu durante
décadas: tratar o empresário como um espoliador do povo. Por isso, a
vida de muitos deles hoje é um martírio, pois precisam se desdobrar
para honrar todos os seus compromissos com impostos, leis e acertos
trabalhistas, e ainda entregar um bom produto para o seu cliente, que
seja superior ao da concorrência.
Durante os anos petistas, a economia esteve, durante um bom
tempo, indo bem, e ninguém questionava a capacidade dos
governantes de conseguir gerar prosperidade e bonança ao país. Além
do ambiente econômico externo favorável, com alta das commodities,
essa bonança se dava também devido ao governo conceder aos
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racistas.
Com isso, obviamente, eu não quero dizer que todas as pessoas da
África e do Oriente Médio são criminosas; eles são, em sua maioria,
pessoas ordeiras que querem apenas viver suas vidas em paz. Mas,
aparentemente, as pessoas que estão imigrando para a Suécia não estão
com as melhores das intenções.
Parte da esquerda no Brasil presta apoio e solidariedade a ditadores
como Maduro e Raul Castro, que foram responsáveis não apenas por
violência, mortes e repressão, como também por arruinar a economia
de seus países, chegando a provocar a miséria e a fome generalizadas.
E não custa lembrar que o governo petista concedeu empréstimos
bilionários e a fundo perdido para essas e outras ditaduras socialistas,
dinheiro suado do povo brasileiro que foi usado pelos governos petistas
para fazer politicagem e demagogia em outros países.
A Venezuela, antes de Chávez chegar ao poder, era um dos países
mais ricos e prósperos da América Latina. Também Cuba, antes de
Fidel Castro, era um país rico e próspero. Mas se na esquerda nacional
há quem louve governantes que fizeram isso a seus países, não seria
nenhuma surpresa que, se tivessem o poder aqui em nosso país, fariam
a mesma coisa.
Grandes cidades americanas e europeias governadas pela esquerda
socialista, já em grande parte, não lembram em nada as desenvolvidas
e ordeiras metrópoles de primeiro mundo que deveriam ser. Imensas
quantidades de mendigos ou imigrantes que usam as próprias ruas
como se fossem banheiros, grande quantidade de pessoas fazendo uso
de drogas pesadas, sem que haja das autoridades locais nenhuma
medida pra combater esse problema, transportes públicos lotados,
criminalidade altíssima em algumas áreas, desrespeito aos direitos
humanos, custo de vida elevado a ponto de obrigar o cidadão a gastar
grande parte de seus ganhos mensais pra morar numa simples
quitinete.
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Antes de eu ter escrito isso, a pandemia de corona vírus ainda não tinha assolado o
mundo, e no momento em que faço essa observação, suas implicações na política ainda são
difíceis de prever.
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não foi uma atitude muito sensata. Aquele não era o momento de
levantar o debate sobre se Ustra foi herói ou vilão. O que esse discurso
de Bolsonaro significou, na prática? Colocar mais lenha na fogueira.
E o ódio acaba se retroalimentando, pois as ações de uns acabam
provocando reações de outros, e isso parece não ter fim. Eu gostaria
sim de ver um cessar fogo nessa guerra. Cada lado faz alguma
concessão, e nos encontramos no meio do caminho. Claro que ainda
haverá divergências entre nós, mas seremos apenas rivais, não
inimigos mortais. Mas a essa altura, sei que isso deve ser uma utopia
maior do que ver a humanidade colonizar o planeta Marte.
Devo também fazer outras ressalvas. Conforme ficou claro para o
leitor, eu fui influenciado por Olavo de Carvalho, me identifico com a
direita e com o anticomunismo. Acredito sim que, sem a oposição dos
anticomunistas, o comunismo teria realmente dominado o mundo
inteiro, e produzido uma tragédia de proporções inimagináveis.
Mas também, não sou ingênuo. Pretender que no nosso lado só
existam heróis e mártires é falsificar a história. O que ditaduras de
direita fizeram em países como Argentina e Chile, não é algo que deva
ser defendido por ninguém. Sim, no Chile pelo menos, Pinochet
conseguiu criar uma sociedade capitalista e próspera. Mas as
atrocidades que ele cometeu contra os opositores políticos nunca serão
esquecidas, e a juventude atual do Chile talvez seja tão partidária da
esquerda justamente por causa do legado cruel de Pinochet.
Na Argentina, a ditadura militar de direita matou tanta gente, que é
difícil imaginar que um político com o mesmo perfil de Jair Bolsonaro
possa vir a ser eleito naquele país. (Para ser mais exato, o número de
mortos e desaparecidos pela ditadura argentina foi de
aproximadamente 30 mil pessoas). E Mauricio Macri acabou sendo um
presidente sem pulso, que não teve coragem de tomar medidas
impopulares mas necessárias para salvar a economia, o que acabou
fazendo com que os kirchneristas voltassem ao poder. A Argentina vive
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hoje uma tragédia digna de grande comoção, mas não pode ser negado
que os governantes de direita que estiveram no poder naquele país têm
grande parcela de culpa.
No Brasil, os nossos militares também cometeram muitos erros,
mas pelo menos, eles tiveram o bom senso de não endurecer demais o
regime. Claro que, ao combater os comunistas naquela época, não tinha
como não sujar as mãos, afinal eles promoviam luta armada e grande
subversão. Dizer que muitos dos que combateram os militares lutavam
por uma ditadura comunista, e não por democracia, é chover no
molhado; assim como pontuar que as polpudas indenizações que foram
concedidas a antigos opositores do regime são abusivas, pois afinal, não
havia mocinhos naquela história.
E enquanto escrevo essas linhas, a situação política no Brasil está
extremamente tensa, com o Congresso e o STF sabotando o Executivo
de todas as formas. Parece que vivemos um parlamentarismo branco,
e quem governa o Brasil de fato é Rodrigo Maia.
Na crise do corona vírus, depois de os governadores terem adotado
um sistema de quarentena horizontal, contra a quarentena vertical que
foi proposta por Bolsonaro, agora o Parlamento parece querer obrigar
Bolsonaro a pagar a conta dos governadores. Isso não prejudica apenas
a Bolsonaro, prejudica a todo o povo brasileiro. Mas para os
digníssimos parlamentares, isso é o que menos importa.
De acordo com Roberto Jefferson, em entrevista concedida a
Oswaldo Eustáquio no dia 20 de abril de 2020, o Parlamento está para
votar um projeto de lei de 2003 que permite ao presidente da Câmara
poder ser eleito quantas vezes quiser. Enquanto isso, as medidas
provisórias de Bolsonaro, de imediato interesse do Brasil, ficam
engavetadas.
Bolsonaro fica imobilizado, desempenhando um papel quase
figurativo, como se fosse a rainha da Inglaterra. Em meio a isso, vários
apoiadores do presidente pedem intervenção militar. Eu não sou a
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favor de intervenção militar, mas também não sou a favor disso que a
classe política corrupta está fazendo com o primeiro presidente
honesto desde a redemocratização.
Rodrigo Maia é quem decide o que vai ser votado ou não. Nesse
sistema atual, o presidente da Câmara tem muito mais poder do que o
presidente da república, porque a maioria dos parlamentares também
são corruptos como ele e estão com ele e contra o presidente honesto.
Mas nós, o povo brasileiro, não elegemos Rodrigo Maia; elegemos Jair
Bolsonaro. Rodrigo Maia, por sua vez, só aceita votar as pautas do
governo se o governo negociar, e a essa altura, acredito que todos nós
estamos bastante cientes sobre o que significa negociação para Rodrigo
Maia.
Parece que a classe política corrupta tem uma estratégia: Rodrigo
Maia, Davi Alcolumbre, e os juízes corruptos do STF mandam soltar os
criminosos, votar leis que deem a classe política todos os tipos de
privilégios, e aprovam todos os tipos de leis que vão contra o programa
político que elegeu Bolsonaro. E Bolsonaro leva a culpa, pois o povo
vive na ilusão de que vivemos, de fato, num sistema presidencialista. O
fato de não estarem havendo debates no Parlamento nesses tempos de
pandemia fazem as votações penderem ainda mais de acordo com os
interesses dos políticos corruptos.
Agindo dessa forma, esperam se livrar de Bolsonaro, e colocar em
seu lugar um político tradicional, ou seja, um político corrupto que
participe das negociatas, como sempre vinha sendo feito até Bolsonaro
aparecer. Ou talvez, instalar um sistema parlamentarista de fato,
mesmo o povo brasileiro jamais tendo concordado com isso.
A minha opinião é que deveria ser tomada alguma medida para
aumentar as prerrogativas do poder Executivo, e limitar um pouco os
poderes do presidente da Câmara dos Deputados. Como isso poderia
ser feito? Plebiscito, reforma política... Não sei. Pois afinal, temos ou
não temos um sistema presidencialista? Que sistema presidencialista é
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Broz Tito.
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está certa quando nos diz que o adultério é um pecado grave. Mas se
não tivesse dito, ninguém saberia? Pois ao que parece, qualquer pessoa
que tenha bom senso sabe disso, sendo católico ou não. E todos sabem
também que nada é mais brutal e rancoroso do que a vingança de
alguém que foi vítima de adultério. As mulheres, principalmente, às
vezes são vingativas até por capricho; talvez o seu companheiro não
tenha feito nada de tão errado, mas elas têm que se vingar porque
ficaram com o orgulho ferido.
Quanto à fornicação, certamente é moralmente errado se envolve
promiscuidade; se o indivíduo troca de parceiras sexuais como quem
tira uma meia usada, fazendo uso de subterfúgios e mentiras para
convencê-las a deitarem-se com ele. Novamente, não é necessário a
Igreja Católica nos informar que isso é errado, pois todos sabemos. Mas
para um casal que está junto, numa relação onde há respeito e amor,
não faz sentido dizer que se eles estiverem tendo relações sem estarem
casados estão fazendo uma coisa errada. Errado e anormal é o
contrário disso, ou seja, se estão juntos, mas não estão desfrutando dos
momentos de intimidade que são normais e naturais para qualquer
casal, que esteja casado ou não.
Aliás, num país como o nosso em que o desemprego é tão alto e o
salário mínimo mal dá pra comer, deveriam sim ser tomadas medidas
para que as pessoas mais pobres possam casar-se e relacionar-se tendo
acesso a meios de contracepção, caso sejam completamente desvalidas
e não tenham como fazer um planejamento familiar. É algo muito
contraditório o fato de haverem famílias extremamente pobres que
sejam tão numerosas, enquanto casais que têm todas as condições não
têm filho nenhum. E na maioria das vezes não é por motivo de
infertilidade; simplesmente, não querem se dar ao trabalho de criar um
filho, ou acham que o mundo já tem seres humanos demais.
Quanto aos casamentos religiosos, são coisas bastante desejadas por
certas pessoas que possuem uma boa condição socioeconômica. Pois
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Fonte: http://www.oprincipedoscruzados.com.br, tema: Romantismo.
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que, cada relação sexual que tivessem, poderia estar sujeita a resultar
numa gravidez?
Em outros momentos, ele não é muito enfático contra a
masturbação e nem contra a fornicação, e mesmo na questão do
adultério ele tem uma postura liberal, pois, numa série de postagens
no Facebook, recomendou aos maridos traídos perdoarem suas esposas
adúlteras. Mas existe, sim, uma prática sexual que o filósofo não vê com
bons olhos, e essa é a prática da sodomia, ou sexo anal (ou também o
oral). Ele é um detrator e crítico desse tipo de sexo, já o tendo
condenado diversas vezes como algo que é contra a moral e a dignidade
humana, e além disso, provoca câncer. Mas, como todos sabem, ele é
também um fumante inveterado, e ardente defensor do tabagismo.
(Nisso concordo com ele, pois eu também fumo.)
Essa condenação à sodomia também está presente na tradição
católica, que não apenas a descreve como um pecado grave, mas como
um pecado tão grave que é um dos quatro pecados que clama aos céus
por vingança. Os outros três são: assassinato de inocentes, oprimir as
viúvas e os órfãos e defraudar o trabalhador de seu salário. O que para
muitas pessoas é apenas um gosto, para a Igreja Católica se trata de um
crime tão cruel e desumano como assassinar um inocente. Não é de
admirar que, durante a Idade Média, ser acusado de sodomia era
motivo para morrer na fogueira.
O precedente bíblico para uma condenação tão forte à sodomia é a
destruição de Sodoma e Gomorra, por Deus, pela prática desse pecado.
O engraçado é que nem mesmo a pedofilia entra no rol dos pecados
que clamam aos céus por vingança. Não é estranho que duas pessoas
adultas com mútuo consentimento praticarem sodomia seja mais grave
do que um adulto abusar de uma criança?
Olavo também afirmou, em alguma de suas apresentações, que os
homens ou mulheres que pratiquem atos libidinosos com pessoas do
mesmo sexo e não se arrependerem, irão para o inferno. A Igreja
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torna quase como culpada pelo fato de ela própria ter sofrido uma
violência.
Nada contra os conservadores religiosos quererem viver suas vidas
da maneira que desejarem, submetendo-se às regras morais e crenças
que quiserem se submeter. Mas não devem achar que as demais
pessoas devam fazer isso também. O estado religioso não existe mais,
graças a Deus. E a vida já é dura e pesada o bastante para que nós ainda
tenhamos que carregar sobre nossos ombros esses fardos
desnecessários, frutos de dogmatismo religioso, e que nada tem a ver
com a razão – apesar de os religiosos, às vezes, dizerem que a não
aceitação da religião deles tem a ver com rebelião das paixões
desordenadas contra a razão.
Cristãos conservadores veem seus próprios símbolos, ritos e dogmas
como sacrossantos, e exigem que todos respeitem. Mas o respeito que
exigem para si, não oferecem aos outros. Crenças alheias são
desrespeitadas rotineiramente, como quando afirmam
categoricamente que Iemanjá é um demônio. Eles podem aviltar, mas
não podem ser aviltados.
Olavo, por sua vez, faz muitas piadas com os homossexuais e com o
homossexualismo. Claro que piadas com gays não tem que ser
censuradas, e claro que Olavo tem direito de falar o que ele quiser. Mas,
quando as piadas são com Jesus, ele diz que se trata de genocídio
cultural. Estranho isso. Eu penso que ou você é uma pessoa irreverente
que faz e aceita piadas sem o menor problema, ou você é uma pessoa
grave, sisuda e sem senso de humor, que não faz piadas nem as aceita
de jeito nenhum. Mas Olavo quer ser as duas coisas ao mesmo tempo,
cada uma delas quando convém a ele. Sim, cristãos são mortos em
países muçulmanos apenas por serem cristãos. Mas gays também são,
apenas por serem gays.
As piadas podem ser criticadas, pois eu achei que o especial de Natal
de 2019 feito pelo canal Porta dos Fundos não foi algo tão engraçado.
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CAPÍTULO 8
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comentários que ele faz em suas redes sociais e ver isso com seus
próprios olhos, e tirar suas próprias conclusões.
Então, não é necessário segui-lo e dar ouvidos a tudo que ele diz,
como se ele fosse a perfeição em pessoa. Ele diz coisas importantes sim,
mas também diz muitas bobagens. Aliás, foi ele mesmo quem disse a
seus ouvintes que ninguém deve ser apenas elogiado ou criticado
unilateralmente, pois afinal, é impossível para qualquer pessoa ou
figura pública estar totalmente certa em tudo, ou totalmente errada em
tudo. Então, por que essa mesma regra não se aplica a ele? 15
Algumas críticas que ele fez foram realmente certeiras. Vou citar
essa: a detestável característica do brasileiro de, ao contemplar alguém
com alguma qualidade digna de louvor ou admiração, ao invés de
admirá-lo, sente-se invejoso. E, ao invés de dar as devidas honras a
quem as merece, esforça-se ao máximo para destruir ou ocultar os
feitos ou qualidades da pessoa invejada, porque se sente humilhado
demais por não possuir as mesmas qualidades.
(Claro, nem todos os brasileiros são assim. Mas, dentro da minha
experiência, não é muito comum mesmo as pessoas reconhecerem os
méritos de outra, a não ser que essa pessoa já seja uma figura
consagrada e com uma boa reputação pública).
E preferem dar visibilidade e honrarias a pessoas medíocres e
vulgares, pois assim se sentem mais confortáveis pensando que mesmo
as pessoas que alcançaram os pícaros da glória não são melhores do
que eles. Dessa forma, estabelece-se um terrível e sufocante culto à
mediocridade, que ajuda a fazer a vida tornar-se vazia, angustiante e
sem sentido para aqueles que tem aspirações mais elevadas. A eleição
de Lula e o declínio da alta cultura tem a ver com isso, conforme ensina
o filósofo. Ou, acrescento eu, o impressionante sucesso alcançado por
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Confira ele dizer isso no vídeo "Olavo responde a um professor comunista" no youtube.
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