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Paulo Cesar da Costa Gomes Espaços públicos como lugares de política

Leticia Parente Ribeiro Páginas 5 à 11

Paulo Cesar da Costa Gomes


Graduado (1980) e mestre (1988) em
ESPAÇOS PÚBLICOS COMO LUGARES Geografia pela Universidade Federal
DA POLÍTICA do Rio de Janeiro; Docteur en Géog-
raphie pela Sorbonne - Université de
Paris IV (1992). Professor Titular no
Espacios públicos como espacios de la política Deptº de Geografia da UFRJ.
pccgomes@yahoo.com.br
Public spaces as spaces of politics Leticia Parente Ribeiro
Graduada e mestre em Geografia pela
Universidade Federal do Rio de Ja-
neiro. Professora do Departamento de
Geografia da UFRJ.
leticiapr@ufrj.br
RESUMO
Artigo recebido em:
A ativação política dos espaços públicos é comumente associada Primeiro semestre de 2018
à sua mobilização extraordinária por grandes movimentos sociais. Artigo publicado em:
Ao seu uso cotidiano e ordinário, ao contrário, raramente é atribuí- 09/08/2018
do um significado político forte. A partir de uma discussão sobre
a estratégia de manifestação política conhecida como “ocupação”,
e de exemplos oriundos de pesquisas realizadas em espaços pú-
blicos da cidade do Rio de Janeiro, este artigo propõe uma nova
perspectiva sobre esta oposição, ainda dominante na bibliografia.
Palavras-chave: espaço público; ocupação; sociabilidade.

RESUMEN

La activación política de los espacios públicos es comúnmente aso-


ciada a su movilización extraordinaria por grandes movimientos
sociales. Al contrario, raramente se atribuye un significado políti-
co fuerte a su uso cotidiano y ordinario. A partir de una discusión
acerca de la estrategia de manifestación política conocida como
“ocupación” y presentando ejemplos oriundos de investigaciones
realizadas en espacios públicos de la ciudad de Río de Janeiro, este
artículo propone un nuevo enfoque para tal oposición, aún domi-
nante en la literatura académica.
Palabras-clave: espacio público; ocupación; sociabilidad.

ABSTRACT

The political activation of public spaces is commonly associated


with their extraordinary mobilization by large social movements.
On the contrary, a strong political significance is rarely attribut-
ed to the everyday and ordinary use of these spaces. Based on a
discussion about the strategy of political manifestation known as
“occupation” and presenting examples from research carried out
in public spaces in the city of Rio de Janeiro, this article proposes a Revista do Programa de Pós-Graduação
em Geografia e do Departamento de
new approach to this opposition, still dominant in academic literature. Geografia da UFES
Keywords: public space; occupy; sociability. Julho-Setembro, 2018
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ISSN 2175-3709
INTRODUÇÃO

Revista do Programa de Pós-Graduação Há uma leitura corrente na de então esse nome passaria a
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES bibliografia especializada se- designar um conjunto bastante
Julho-Setembro, 2018 gundo a qual os espaços públi- heterogêneo de manifestações.
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cos só funcionam politicamente Também no Brasil, sobre-
quando são investidos por gran- tudo a partir de 2013, diversas
des movimentos sociais que manifestações dessa natureza
os ocupam e, por meio de sua têm sido observadas. Entretan-
mobilização, ganham publici- to, neste caso, a palavra ocu-
dade e reconhecimento. Recen- pação já esteve anteriormente
temente, a eclosão de grandes associada a processos de mobi-
manifestações políticas, em lização política que se utilizam
diversas partes do mundo, veio da permanência em um lugar
apenas reforçar esta aborda- como estratégia de luta e con-
gem. Também nos últimos anos testação. Os lugares ocupados
observou-se uma rápida difusão eram, em geral, edificações, pú-
de um modelo de mobilização blicas ou privadas e, até os dias
dos espaços públicos que ficou atuais, essa modalidade de ocu-
globalmente conhecido como pação é a que possui maior re-
“ocupação” (Castells, 2013). percussão e visibilidade, como
Trata-se de uma estratégia de no exemplo dos movimentos
reivindicação empregada por que, no final do ano de 2015,
alguns movimentos sociais que ocuparam as escolas da rede
se caracteriza pela permanência pública do estado de São Pau-
de um grupo de pessoas em es- lo, e que obtiveram amplo êxito
paços públicos como modo de em suas reivindicações.
comunicar o desacordo ao po- Os movimentos de ocupa-
der constituído. ção ao redor do mundo apre-
Em sua forma mais recente sentam a seguinte estrutura em
o fenômeno parece ter tido ori- comum: a contestação de algu-
gem, ou pelo menos ter ganha- ma proposição advinda do po-
do grande repercussão quando der constituído, a permanência
da ocupação da praça de paz ce- continuada e a gestão coletiva
lestial (Tiananmen), em Beijng, de espaços públicos ou institu-
por estudantes e outros grupos cionais. Durante a permanência
que reivindicavam reformas há uma intenção explícita de
no regime político, com maior demonstrar a possibilidade de
democratização da vida social se criar uma forma de organi-
na China. Desde então, movi- zação social e política diversa
mentos similares ocorreram em daquela que constitui a socie-
diferentes contextos e países, dade dominante. Esta forma de
como por exemplo, na conheci- organização alternativa estaria
da primavera árabe, entre 2010 baseada na solidariedade, na
e 2015, em 2011 na Espanha, horizontalidade e na inexistên-
com os indignados e, também cia de uma liderança clara. A
em 2011, no Occupy Wall Street prática destes movimentos pre-
que fez da própria ação, de ocu- tende demonstrar a viabilidade
par, sua denominação. A partir de se construir uma democracia
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direta, contestando o modelo outras pessoas. Essa experiência permite 1 - Cotejar com a noção de
a conexão com coisas da vida concreta,
da democracia representativa. do cotidiano, e acaba com essa lógica genoespaço, desenvolvida
Harmonia, vontade coletiva, burguesa das universidades, porque os por Paulo Cesar da Costa
alunos do ensino superior são pessoas Gomes, em A condição ur-
forte solidariedade são os va- que foram selecionadas, de uma certa
lores mais amplamente veicu- forma. Não devemos fazer oposição ao bana: ensaios de geopolíti-
projeto de lei, por princípio, mas a uma ca da cidade (2001: 60-80).
lados, aproximando-se assim ordem social (O Globo, 13/04/2018)
da ideia de uma comunidade¹
(Castells, 2013).
OCUPANDO OS ESPAÇOS
Em termos de estratégias es-
PÚBLICOS
paciais, destaca-se, nas ocupa-
ções, o controle progressivo do A palavra ocupar em sua
acesso aos recursos e do ingres- acepção mais básica designa
so e circulação de pessoas, dada o ato de preencher um espaço.
a alegada ameaça representada Este ato pode traduzir tanto o
pela própria ordem social cons- sentido de simples permanência
tituída. O perfil demográfi- como aquele no qual a perma-
co dos ocupantes é, em geral, nência constitui uma forma de
formado majoritariamente por reivindicação, ou ainda de esta-
extratos mais jovens da popu- belecer a autoridade, o controle
lação, usuários intensivos das sobre um território.
redes sociais que difundem ra- Embora a “ocupação” seja
pidamente suas pautas e estabe- um dos modelos mais recentes
lecem canais de comunicação de manifestação política que
internos e externos para estes se vale dos espaços públicos, é
grupos. Em um primeiro mo- preciso reconhecer, no entanto,
mento, essas ocupações dura- toda uma gama de tipos de mo-
riam, em princípio, até o recuo bilização da população, como
da proposição que gerou o pró- as barricadas, passeatas e co-
prio movimento. Mais recen- mícios que, almejando alcançar
temente, no entanto, a duração objetivos claramente políticos,
tende a não ser mais delimitada se valem também da visibili-
já que o objetivo promulgado dade, propriedade inerente aos
seria a implantação de um mo- espaços públicos, para veicular
delo alternativo exemplar de suas demandas. A própria es-
uma nova sociedade fundada colha dos lugares atua no grau
em novos valores. de visibilidade alcançado pe-
Em abril de 2018, durante las manifestações. Além disso,
a ocupação do centro Pierre- essa escolha agrega às deman-
-Mendès-France – um anexo da das certos significados que são
Universidade de Paris 1, tam- conotados pelos espaços sele-
bém conhecido como “Tolbiac” cionados, potencializando as-
–, iniciada como reação ao pro- sim as ações.
jeto de lei do governo francês Desde o final do século
que visava alterar as condições XVIII, movimentos políticos
de ingresso às universidades, têm nas ruas uma arena pri-
um dos manifestantes assim se vilegiada de reivindicação e
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expressou: empoderamento. Para muitos em Geografia e do Departamento de
Aqui na ocupação as pessoas aprendem, a revolução francesa de 1789 Geografia da UFES
leem livros, produzem. É a primeira vez
que alguns fizeram as tarefas de casa para teria constituído o exemplo Julho-Setembro, 2018
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paradigmático, tomado como menos organizadas, nas quais
referência por inúmeros outros predominam menores densida-
Revista do Programa de Pós-Graduação movimentos políticos ocorridos des, um aspecto mais “carna-
em Geografia e do Departamento de a partir do século XIX (Ozouf, valesco” (iniciativas pessoais
Geografia da UFES
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1988). Este é o caso das revo- de apresentação pública, cria-
ISSN 2175-3709 luções de 1848 até a socieda- tividade e menor controle dos
de contemporânea, que tem no sentidos evocados e das formas
movimento de maio de 1968 de fazê-lo), percursos pouco
na França, com seus paralelepí- orientados, e concentrações em
pedos, suas barricadas e seus grandes logradouros. Contudo,
slogans gritados e escritos nos a despeito desta gradação, a
muros da cidade, uma revisão força destas manifestações está
do modelo revolucionário. Em vinculada, em grande medida,
todos esses casos, o domínio a sua capacidade de produzir
das ruas significa a possibilida- uma voz, a “voz das ruas”² que,
de de transformação das estru- em uníssono, apresenta seus
turas sociais. pleitos.
Essas manifestações têm a Via de regra, manifestações
sua eclosão associada, comu- desta natureza são consideradas
mente, a um evento catalizador. o fundamento da ação política
Como estratégia global, tal as- nos espaços públicos. E, tam-
sociação contribui para ampliar bém por isso, sua ausência é
a mobilização e alargar a ade- comumente interpretada como
são ao movimento, mas, simul- um dos principais sintomas da
taneamente, implica uma dimi- chamada morte do caráter polí-
nuição da expressão individual tico dos espaços públicos. Por
dos manifestantes, bem como outro lado, a bibliografia espe-
uma limitação da possibilidade cializada raramente atribui um
de aparecimento de dissenso, significado político forte ao uso
de hesitações. A uniformização ordinário dos espaços públicos.
dos participantes com cores e Por não produzir uma voz unifi-
adereços identificadores é um cada ou explicitamente orienta-
dos elementos que simbolica- da, a ocupação cotidiana destes
mente homogeneíza a manifes- espaços não constituiria um ato
tação. político. É justamente esta in-
Considerando apenas os ca- terpretação que gostaríamos de
sos mais recentes de manifes- colocar em questão.
tações políticas nas ruas brasi-
leiras, seria possível reconhecer VIVENDO OS ESPAÇOS
uma variedade no grau de orga- PÚBLICOS: EXEMPLOS
nização, coesão e controle da DO RIO DE JANEIRO
participação e da expressão.
Nesta gradação há manifesta- Aquilo que denominamos
ções mais organizadas, que se de “vida pública” na cidade,
caracterizam pela centralidade, ou seja, o conjunto de rituais
palavras de ordem, oradores que regulam a co-presença de
2 - O mecanismo do “micro- pessoas com expectativas, inte-
fone humano” é a expressão previamente definidos, roteiros
físicos e narrativos, aglomera- resses e valores muito diversos
mais clara desta veleidade
de produzir uma voz única. ções finais e clímax; até versões sob o mesmo espaço, não é o
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resultado de uma ação espontâ- tendem, no longo prazo, a alte-


nea. Trata-se de um longo pro- rá-las significativamente. Nes-
cesso de conquista de direitos te sentido, o uso cotidiano dos
que define um tipo de espaço, espaços públicos de fato enseja
o espaço público, no qual a iso- formas opositivas de política,
nomia é um valor central. Des- mas uma política “polida”, na
de a modernidade essa ideia de qual as transgressões, embora
público não cessa de se alargar sutis, são, ainda assim, profun-
e de tomar um sentido mais e das.
mais universal. O espaço públi- É de se notar ainda que para
co garante a convivência, sobre que a convivência nos espaços
um terreno comum, de pessoas públicos seja garantida cotidia-
com interesses diferentes me- namente, não há uma contra-
diante a discussão e a constru- partida de renúncia à diferença,
ção de acordos que se expres- ou seja, trata-se de um espaço
sam na sociabilidade pública que abriga a heterogeneidade.
(Gomes, 2012). Assegurar a livre expressão da
De tão generalizados, os ri- heterogeneidade nestes espaços
tuais da vida pública podem constitui um dos fundamentos
parecer naturais, embora não o da vida social democrática.
sejam. Permanecer nos espaços Três exemplos na cidade do
públicos, com todos os direitos Rio de Janeiro podem nos aju-
que eles asseguram, é um ato dar a refletir sobre esta questão.
que constitui, de fato, um exer- Como é reconhecido, a praia
cício político da vida social. É goza de uma centralidade ab-
neste sentido que a palavra “po- soluta no imaginário associado
lítico” se religa com suas raízes à cidade do Rio de Janeiro. O
históricas da pólis. encontro de diferentes segmen-
Como sugeriu a geógrafa tos da sociedade nas praias li-
Mona Domosh (1998), toman- torâneas, ao mesmo tempo que
do como base fontes históricas gera conflitos, produz as condi-
que retratavam o uso das ruas ções para que sejam estabeleci-
na cidade de Nova Iorque no dos acordos e delimitações que
século XIX, os mesmos có- possibilitam a convivência nes-
digos que regiam os compor- ses lugares (Gomes, 2001). Não
tamentos considerados “ade- à toa, a praia carioca é identi-
quados” ou “respeitáveis” nos ficada, pelo público em geral,
espaços públicos davam ensejo como o lugar privilegiado da
e, de fato, criavam as condições vivência democrática. Mesmo
para a emergência daquilo que durante o período do regime
ela denominou de “transgres- militar (1964-1985), a praia era
sões táticas”, especialmente por tida como um lugar de resistên-
parte de mulheres e de negros. cia pelas práticas de convivên-
Nos termos propostos por Do- cia que aí vigoravam.
mosh, “transgressões táticas” Os lugares de intensa vida
representam os “atos triviais pública da cidade do Rio de
de polidez” que, sem desafiar Janeiro não estão, entretanto, Revista do Programa de Pós-Graduação
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ostensivamente as normas de exclusivamente circunscritos Geografia da UFES
comportamento dominantes aos espaços associados à sua Julho-Setembro, 2018
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função balneária. No período mos anos, para uma pequena
noturno, se ativa um outro lu- praça de um bairro residencial
Revista do Programa de Pós-Graduação gar central da sociabilidade pú- na zona mais nobre da cidade –
em Geografia e do Departamento de blica carioca. O bairro da Lapa, Praça São Salvador, no bairro
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que durante algumas décadas do Flamengo. O perfil dos fre-
ISSN 2175-3709 permaneceu como uma zona de quentadores da praça é bastante
obsolescência da área central da homogêneo (jovens, universitá-
cidade, a partir dos anos 1990 rios, oriundos majoritariamente
testemunhou um forte afluxo das imediações). Essa dinâmica
de pessoas variadas, oriundas também pode ser observada
de bairros muito distantes e nas praias da cidade. Em certos
com perfis sociodemográficos momentos é possível identifi-
muito distintos. No início fo- car uma frequência que busca
ram atraídas pela variedade de maior exclusividade identifi-
gêneros musicais aí presentes. cando a um perfil específico de
Hoje, além das casas noturnas, banhista e a um trecho determi-
dos bares e restaurantes, são as nado da faixa de areia.
ruas do bairro que concentram Essa busca de exclusivi-
o maior número de pessoas. É dade que resulta em certa ho-
propriamente neste espaço pú- mogeneidade é uma tendência
blico que se apresenta o leque recorrente na vida pública nas
maior de diversidade dos fre- cidades e, neste sentido, remete
quentadores do bairro da Lapa. muito mais a um ideal comuni-
Assim como na praia, também tário do que propriamente pú-
aí surgiram variados conflitos blico.
e discussões importantes que
dizem respeito à toda socieda-
de urbana – o uso de drogas, POLÍTICO E ESPAÇO
a ocupação das calçadas pelo PÚBLICO: VISÕES DI-
comércio, a presença de ambu- COTÔMICAS
lantes e de pessoas em situação Nesta breve exposição pro-
de rua, o barulho, a segurança. curamos demonstrar que exis-
Essas questões não se limitam a tem, pelo menos, dois eixos que
este logradouro, mas são aí in- nos permitem analisar a rela-
tensificadas em virtude da forte ção entre a política e espaços
densidade de pessoas e de sua públicos. Trata-se, na verdade,
heterogenei­dade. Os debates de duas formas divergentes de
adquirem, assim, maior visibi- pensar a vida em comum, que
lidade uma vez que sur­gem em se associam a dois tipos de es-
um lugar que goza de grande pacialidade antagônicos.
centralidade no tecido urbano No primeiro eixo há uma ra-
(Souza, 2015). zão que estabelece que quanto
A frequência heterogênea maior a homogeneidade maior
nos espaços públicos, entre- a força do movimento político.
tanto, nem sempre é vivida por Segundo este critério, as mani-
todos como um valor positivo. festações de rua e, sobretudo,
Uma parcela reduzida do pú- as ocupações representariam o
blico que frequentava as ruas ápice desta escala que concede
da Lapa se deslocou, nos últi- maior força quanto mais unís-
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sono, mais consensual forem as o motor de transformações que


reivindicações e mais homogê- integram a diversidade e com-
neo o perfil dos manifestantes. plexidade da vida social.
Já no segundo a razão se Todos os dias, os espaços
inverte, e quanto maior a he- públicos abrigam ações que po-
terogeneidade das ocupações deriam ser vistas como verda-
dos espaços maior seria sua deiras manifestações políticas:
capacidade de transformação formas de apresentação, com-
social. Concebendo a política portamentos, atitudes que tem
desta forma, a vida cotidiana potencial reivindicativo, trans-
nos espaços públicos, sobretu- gressor e de questionamento de
do nesses que possuem gran- valores e de regras. Ao se mani-
de visibilidade e centralidade, festar produzem formas de ade-
constituem o horizonte básico são e de conflito, ou seja, um
daquilo que é visto como a vida diálogo a respeito da possibi-
política em sociedades demo- lidade de se incorporar ou não
cráticas. Não há necessidade essas ações. Em outros termos,
de se suprimir as diferenças e o um diálogo político.
dissenso, ao contrário, estes são

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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