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A PENSÃO

SÔNIA PONTES

MARÇO/2017
PERSONAGENS :

1- D. Matilde - Dona da pensão, cartomante


aposentada, em torno dos 55 anos
2- João Boy - Malandro, namorado de
D.Matilde, 40 anos
3- Cremilda - Empregada da pensão, 30 anos
4- Marcos Augusto - Afilhado de D.Matilde,
25 anos
5- Môsca - Morador da pensão, 35 anos
6- Zé Peter - Morador da pensão, 30 anos
7- Zilá - Filha do prefeito, bonita e
malandra, 25 anos
8- Marielza - Beata, professora, 50 anos
9- Missy - Funcionária pública municipal,
30 anos
10- Sr. Tonico - Tio de D.Matilde, 80 anos
11- Bernardina - Cuidadora do Sr. Tonico,
58 anos
12- Locutor

Local: Flor do Agreste (Cidade do interior)

Época: 2017
A PENSÃO

Nessa pensão, em Flor do Agreste, pequena cidade do


interior, vivem moradores de várias idades, raça e
classes sociais. A maior parte tem algum transtorno
mental, transtorno bipolar, esquizofrenia, hipocondria,
transtorno de personalidade, transtorno obsessivo
compulsivo, demência. Narrado com humor numa tentativa de
desmistificar a doença mental, tão comum na população,
mas também tão impregnada de preconceito, esse texto
busca mostrar que vários dos sintomas e comportamentos
dos moradores da pensão refletem comportamentos, atitudes
e pensamentos de várias pessoas ditas normais, que vão se
identificar com algum personagem, sua fala, procedimento
e conduta. O descrédito com o doente mental faz com que,
na maioria das vezes, não se acredite no que ele fala; D.
Matilde, dona da pensão, não confia na fala de um
esquizofrênico, ela paga para ver.
A Psicofobia é apenas uma entre tantas formas de
preconceito.
A pensão é a terra, os moradores, a humanidade, sejamos
personagens leves e nos aceitemos...aprendamos a nos
respeitar.
A PENSÃO

Dia muito agitado na Rádio Flor do Agreste, mesmo nome da


cidade, a nova ponte vai ser inaugurada, uma voz ecoa nos
rádios da cidade.

Locutor - Bom dia, moradores de Flor do Agreste! Dia de


festa na nossa cidade, chegou o grande dia! Não importa
quem reconstruiu a ponte, importa que ela está novamente
de pé. Vamos comemorar, pessoal!
Bom dia, amigos da Pensão da D. Matilde! Tem aniversário
por aí, hoje, né? Parabéns, D. Matilde! (música). Nosso
mundo interior, tão simples e tão confuso...sentimentos,
emoções, atitudes. Viver, sonhar, realizar...o que nos
faz tão diferentes, ou o que nos torna tão iguais?
Prepara o bolo, D.Matilde! (música)

Na pensão da D. Matilde, uma mesa, cadeiras, sofá e um


rádio. Estão na mesa, preparada para o café, Marcos
Augusto, Missy e João Boy; Seu Tonico, cochilando, em sua
cadeira de balanço. Entra Marielza.

Marielza - Bom dia, gente! Nem me lembrava, mas acabei de


ouvir no rádio, hoje é o aniversário de D. Matilde.

João Boy - (lendo jornal, jeito de malandro) É sim. Festa


e mais festa.

Marielza - Só pensa em festa! Vamos pra igreja, pessoal,


depois cantamos parabéns. Só um bolinho e refrigerante.

João Boy - (rindo) É bem capaz de Matilde aceitar.


Bolinho...(irônico) Quero é tomar uma!

Missy – (triste) Pra mim não vai dá, não estou me


sentindo nada bem.

Marcos Augusto, na mesa, olhando muito desconfiado

João Boy - Se anima, mulher! Hoje é dia de festa!

Missy – (desanimada) Eu do jeito que tô...


Marielza - Toma um chazinho, Missy. Depois vamos pra
igreja.

João Boy - Lá vem a beata! Tudo se resolve na igreja.


Melhor tomar uma. (sarcástico). Vamos pra inauguração da
ponte e depois pra balada. Comemoração dupla! Eita que
vai ser bom demais!

Marielza - Valha-me, Nossa Senhora!(se benze) Esse homem


só fala em beber. Cadê D. Matilde?

Entra Cremilda

Cremilda - D. Martide saiu logo cedo. E ocês vão ficar


nesse moído até que hora, hem? (tentando falar correto)
Preciso limpar o ambiente...

Seu Tonico - (acordando assustado) Quem é crente?

João Boy - (rindo) Falando difícil, Crem? Vai dormir,


Tonico!

Cremilda - Cremilda, Seu João Boy! Não lhe dou


cabimento...

Seu Tonico - (rindo)Comprimento nenhum...

João Boy - (rindo e chegando perto de Cremilda) Hoje, né?

Cremilda –(gostando) Para com isso, Seu João! Se D.


Martide escutá...

Marielza - Vou me retirar, porque esse ambiente tá muito


carregado (se benze)

Cremilda - Carregado? Vôte! (rindo) Deixa ela chegar que


descarrega

Marielza - Valha-me! (sai se benzendo)

Entram D. Matilde, que veio da rua, e Môsca, que acabou


de acordar e deita- se no sofá.

D. Matilde - Oi, pessoas!


Todos - Oi!

Marcos Augusto - Ainda bem, que você chegou! (assustado)


Eles não param de me perturbar.

Cremilda - Oxente, quem diacho tá te perturbando? Eita


menino doido da gôta...

D. Matilde - Vamos parar? Hoje estou muito feliz e,


portanto, nada de confusão.

João Boy - Parabéns, Matildinha! Você saiu logo cedo...

Seu Tonico - Queridinha...(irônico, insultando João)

Cremilda - Parabéns!

Missy - (sem muita disposição) Parabéns

D. Matilde - Obrigada, turma! Fui às compras, assim que a


loja abriu já estava lá fazendo a terceira melhor coisa
nessa vida. As outras duas vocês sabem, né? Botar cartas
e...(olha pra João toda melosa)

João chega perto, Cremilda que tá varrendo, para e fica


olhando para os dois, Marcos olha desconfiado, Bernardina
entra e chama Seu Tonico.

Bernardina - Seu Tonico! Seu Tonico!

Seu Tonico - Sai da minha sombra, alma penada!

Bernardina - Fui contratada para cuidar do senhor, Seu


Tonico! Será possível, todo dia a mesma coisa...fui con -
tra - ta- da!

Seu Tonico - Ainda bem que você reconhece que é uma alma
penada.

João Boy - Eita, que ele hoje hoje tá que tá!

Seu Tonico - Claro que tá tudo no lugar, seu


aproveitador! Diz pra ele Bernardina, o que o pastor
falou, ontem à noite...

Bernardina - Disse pra colocar a mão onde precisava ser


curado.
João Boy - E o senhor colocou a mão naquele canto? O
pastor vive dizendo que vai curar doentes e não
ressuscitar morto.

D. Matilde - Deixa ele, Joãozinho!

Seu Tonico - (Fala irritado, enquanto Bernardina sai da


sala) Manda esse cachorro embora, Mamá!

D.Matilde - Ele só tá brincando, tio! (Seu Tonico se cala


e volta a cochilar)

Missy se levanta, e se retira da sala.

Missy - Vou me deitar, porque do jeito que eu tô...

D. Matilde - Essa menina precisa se tratar, voltar pra


cidade dela por um tempo, já que tá de atestado do
trabalho.

Cremilda - É frescura, D. Martide!

João Boy - Ela vai lá querer voltar pra cidade dela nada,
aqui ela é bem cuidada. (se dirigindo a Matilde) Você
paparica ela demais!

Marcos Augusto - (gritando assustado) Madrinha! Madrinha!

Môsca dá um pulo do sofá, onde estava cochilando

Môsca - Não se pode nem dormir...

D. Matilde - (se dirigindo a Marcos) Que é isso, meu


filho! Estou pertinho de você, não precisa gritar!

Marcos Augusto – (assustado) Eles estão chegando,


Madrinha! Falam sempre as mesmas coisas...estão dizendo
que vão me matar.

Cremilda - Danou-se!

João Boy – (rindo) Cuidado com eles...

D. Matilde - Parem com isso! Nós não deixamos ninguém


pegar você, Marquinhos! Agora, venham ver o que
comprei.Tudo muito lindo.
Môsca - (passando álcool gel nas mãos) Não chegue perto,
Marcos Augusto! Deve tá tudo cheio de micróbios.

Cremilda - Comprou alguma coisa, pra mim?

D. Matilde - Deixa de ser enxerida, Cremilda! Tem muito


serviço pra terminar, viu?

Cremilda – (chateada) Ninguém pode nem brincar...

Môsca - Vou me deitar.

Cremilda sai, e logo em seguida Marcos Augusto e Môsca

João Boy - (chegando perto de D. Matilde) E aí,


Matildinha, vamos comemorar onde?

D.Matilde – (manhosa) Não chega perto, que fico toda


arrepiada...

João Boy - Então a comemoração vai ser melhor do que eu


pensava.

D. Matilde - Tomara que sim.

Bernardina volta e acorda Seu Tonico novamente.

Bernardina - Hora do banho!

Seu Tonico - Coruja! Você é uma ave de mau agouro.

Bernardina - Sou não! Eu cuido do senhor.

Seu Tonico - Vovô? Cuida do vovô? Sai daqui agourenta que


não preciso de nenhuma velhota perto de mim. Vou ficar
aqui, esperando as moças aparecerem.

Bernardina - Seu Tonico, Seu Tonico... Seu médico disse


que o senhor não deve nem pensar nessas coisas de sexo.
Presta atenção, hôme! Por causa do seu coração...o senhor
pode até morrer.

Seu Tonico - (rindo) Isso mesmo! Foi o que ele


disse...viver com muita ação!

Bernardina - Tá maluco, Seu Tonico?

Seu Tonico - Caduco, o quê...lembra aquela garota linda


que eu trouxe pra cá?
João Boy - Aquela loura, que só queria seu dinheiro?

Seu Tonico - Não tô falando com você...mas era mesmo, que


me chamava de beijoqueiro (ar sonhador). Fazíamos sexo
todo dia.

Bernardina - Deixa de graça!

Seu Tonico - Com muita raça, sim! Tá bom, era quase todo
dia...

João Boy - Quase na segunda...quase na terça...quase na


quarta...quinta, sexta...

Seu Tonico - Besta? É você, seu aproveitador! Vamos ,


coruja! (sai com Bernardina)

D.Matilde – (melosa) Ô, amor! Deixe de provocar tio


Tonico.

Marielza volta

Marielza - Parabéns, D. Matilde! Estávamos combinando


como será a comemoração do seu aniversário.

D. Matilde - E então?

João Boy - Não pergunte! Não pergunte! Ela vai te


oferecer bolinho e refrigerante.

Marielza - Não vou discutir com você, filho do capeta!

João Boy - De quebra, ainda tem a igreja. (rindo) Nós


vamos é tomar uma, e cair na farra!

Marielza - Vade reto! (fazendo uma cruz com os dedos e se


benzendo)

D.Matilde - Vocês não conseguem conversar, nunca?

João Boy - Conheço teu passado, Marielza!

D. Matilde - Menina, claro que quero bolo, mas depois


vamos sair. Hoje tem festa na cidade!

Marielza - Um bando de pecadores! (se benze e sai da sala


junto com D.Matilde)
João Boy liga o rádio e escuta voz do locutor, enquanto
Marcos Augusto entra e escuta.

Locutor - Daqui a pouco, povo de Flor do Agreste, estará


chegando, na nossa cidade, as autoridades. Até o
prefeito, que passa mais tempo na capital do que neste
município estará presente! Amigos, não importa quem é o
pai da criança, o importante é que a criança nasceu!
Vamos comemorar, não é todo dia que temos festa nesta
terra. (música)

Marcos Augusto - Eu te conheço, prefeito...sei muito bem


o que faz na prefeitura.

João Boy - Tu sabe de nada...só o que as vozes dizem (diz


isso rindo e sai da sala)

Entra Zé Peter, gritando

Zé Peter - Me ajudem, por favor! Acho que tô


morrendo...me levem para o hospital!

Os outros, entram em seguida

Missy - O que você tem, Zé Peter?

Zé Peter - Meu coração tá acelerado, tô suando frio, sem


fôlego...

João Boy - Não diga mais nada, senão daqui a pouco ela tá
do mesmo jeito. Toma uma que isso passa.

Môsca - Deve ser alguma virose (passa álcool gel nas mãos
e oferece a Zé Peter)

Cremilda - Arranja um trabai, num instante num tem tempo


pressas coisa.

Marielza - Gente ,parem com isso! Ele precisa de ajuda!


Vamos pra igreja?

Cremilda - Pro hospital, D. Marierza! Ele quer ir pro


hospital...
D. Matilde - Ele sempre tem isso, passa logo. Tente ficar
calmo, a turma tá brincando com você, pra relaxar.

Zé Peter - E se eu morrer?

Todos - Nós não deixamos!!

João Boy aumenta o rádio, enquanto vão saindo ajudando Zé


Peter, menos Marcos Augusto que permanece na sala.

Locutor - Vocês sabem o que é um amigo? Amigo é um bem


tão precioso, que poucos têm muito, alguns têm muito
pouco, e muitos não têm nenhum. Amigo está presente, faz
acontecer, acompanha. Amigo, é simplesmente...amigo! A
ponte tá de pé, amigos!

Marcos Augusto - E o prefeito daqui é inimigo de todos!


Agora se faz de bonzinho...

Seu Tonico volta pra sala, e pede pra Bernardina desligar


o rádio

Seu Tonico - Tadinho? Tadinho, por que, menino? E eu não


tava sózinho, não! Eu tava com aquela gostosa...essa
daí!

Zilá entra na sala e tira onda com Seu Tonico, enquanto


Marcos fica, de longe, prestando atenção

Zilá - Oi, Toniquinho! Não acha que sou muita areia pro
seu caminhãozinho?

Seu Tonico - Ladrãozinho?

Zilá - (gritando) Caminhãozinho!!

Seu Tonico - (carinhoso) Não precisa gritar, menina! Você


sabe o tamanho do meu caminhão? Olha que é um
caminhãozão!! (rindo muito)

Zilá - (irônica) Tô vendo, que hoje, tá bem gaiato...

Bernardina - E agora, Seu Tonico?

Seu Tonico - (baixinho) Ela disse, o quê?


Bernardina – (rindo) Que o senhor é gaiato...

Seu Tonico - Chato, não, moça bonita! Audacioso,


apimentado, astucioso, e pra rimar...gostoso!!

Zilá - Gostoso...veremos! Cadê o povo, dessa pensão?


(gritando) Oi, povo! Cadê vocês? Cremilda!!

Marcos tapa os ouvidos, Sr. Tonico faz sinal pra


Bernardina se retirar e volta a cochilar, enquanto
Cremilda entra na sala.

Cremilda - Diz, Zilá! Tá todo mundo ajudando Zé Peter, lá


na cozinha.

Zilá - Menina, a festa vai bombar!

Marcos Augusto - (diz isso em tom baixo como se estivesse


pensando) A festa do teu pai ladrão.

Zilá - Tá falando alguma coisa, Marcos? Cremilda, a festa


vai bombar! Tem cada gato...

Cremilda - Gato? De onde vei tanto? (pensativa) Acho que


não, senão não tinha tanto rato por aqui...

Marcos Augusto - (pensando alto) O pior rato é o prefeito

Zilá - Deixa de ser burra, Cremilda! Rato nessa cidade


tem de tudo quanto é jeito, mas o gato que eu tô falando
é homem, e bonito! (fazendo uma selfie, sempre com o
celular na mão) E uma gatinha como eu, tem que ficar
ligada...(

Cremilda - Sabia lá que tu tava falando de gente.

Zilá - Zé teve aquele negócio de novo, foi?

Cremilda - E num foi...acho que pior do que das outra


vez.

Zilá - Coitado! Desde que a ex mulher enfeitou sua testa,


ele ficou assim.

Cremilda - (ar inocente) Enfeitou, Zilá? De quê?

Zilá – (gritando) De chifre!! Um par de chifres!

Cremilda – (rindo) E quem já viu chifre ser enfeite?


Zilá - Você é inocente, ou se faz? E João, tá aí?

Cremilda - E D. Martide, também.

Zilá - Eu não perguntei por ela...

Cremilda - Vou pra cozinha, menina, que eu não tenho


tempo pra conversar bobage, não.

Zilá - (fazendo selfie) Vai-te embora, Cremilda babona!

Voltam a sala, João, D. Matilde, Missy e Môsca

D.Matilde - Quem é bonitona?

Zilá - Virou Seu Tonico, foi? Claro que sou eu, não é
meninos? (rindo e indo pra junto de Môsca, fazendo
selfie)

Môsca - É sim, Zilá. (se afasta um pouco e passa álcool


gel nas mãos)

D. Matilde - O que você faz aqui, Zilá?

Zilá – (rindo) Que eu saiba, moro aqui...

D. Matilde - Mora não, você tem um quarto aqui.

Zilá - E pago muito caro por ele.

Marcos Augusto - (falando baixo) Com dinheiro de roubo.

D. Matilde - Que não é do meu agrado.

Zilá - Mas como meu pai é prefeito, e a grana que lhe dou
é muito boa...

D. Matilde - O combinado foi que só viria quando brigasse


com ele, mas agora, só quer viver aqui.

Missy - Essa discussão...e eu já do jeito que estou.

Zilá - Acho que vou me mudar de vez, o véi tá cada dia


mais insuportável.

Marcos Augusto - Não queira, madrinha! Vai ser ruim pra


todo mundo, principalmente pra você. (falando baixo, só
com D.Matilde, que sorri como se ele estivesse dizendo
bobagens)

Zé Peter volta com Cremilda

Cremilda - Ele disse que já tá bem, D. Martide.

Zé Peter - Tô sim! Já melhorei.

Zilá - Que bom! Então vamos pra festa (se jogando pra
cima dele, fazendo selfie)

Zé Peter - (sem muita disposição) Vamos sim, garota!

João Boy - E não vai piorar?

Zilá - Comigo? Ele vai é ficar bom de vez. (se insinua


pra cima de Zé, quase beijando)

Marielza - Isso é uma pouca vergonha!

Cremilda - Eita! Desse jeito o coração dele bate ligeirim


de novo, o fôlego fica curto e...

Môsca - Cuidado! Boca é lugar de muitas bactérias... e


depois,depois.

Zilá - É o amor, Môsca!

João Boy - Amor? (liga o rádio)

Locutor - Amigos ouvintes, hoje é um dia histórico pra


nossa cidade. Faz muito tempo que ninguém inaugura nada
por aqui...vamos nos sentir amados, sei lá por quem e,
claro, com segundas intenções! Ser amado é muito bom,
amar é muito melhor! Ganhar um abraço é muito bom,
abraçar, é muito melhor! Realizar sonhos, é muito bom,
sonhar é muito melhor! Sonhem, sonhem muito e nunca
acreditem num amor que não aumente a cada dia. (música.
Black out).

Na sala, só João Boy, em pé, Zilá deitada no sofá,


fazendo selfie, e Seu Tonico, cochilando

João Boy – (irritado) O que você tá querendo, hem?


Zilá - Não estou entendendo...

João Boy - Não se faça de besta! Tá querendo o quê, com


aquele papangu?

Zilá - Que papangu? Tá falando do Zé, é?

João Boy - E de quem seria?

Zilá - Ele não tem nada de papangu. É um gatinho...

Tonico - O que é que é lindinho?

João Boy - Não me provoque!

Zilá - (irônica) Vai fazer, o quê? Tá com ciuminho, é?

Tonico - Tem biquinho? Vixe!

João Boy - Você não pode agir assim.

Zilá – (irritada) Não tenho compromisso com ninguém, meu


amigo! Não venha me cobrar o que não tem direito.
Entendeu? Desgruda!(fazendo selfie)

João Boy - Você sabe que vou resolver essa situação. Tá


muito perto.

Zilá - Sei...tô vendo que vai. Enquanto isso, desencana,


tá? (gritando)

Seu Tonico - (acordando assustado) Quem, quem foi em


cana?

Entra Marcos Augusto, assustado

Marcos Augusto - Gente, as vozes estão me perturbando de


novo!! Sei que eles estão vindo.

Seu Tonico - Pode ir, menino! Precisa dizer, que tá indo?

João Boy - Vou chamar tua madrinha, que é quem entende


dessas doidices. (saindo)

Zilá - Quem está vindo, Marcos?

Marcos Augusto - Os extraterrestres...dessa vez eles me


pegam, só não sei se vão me levar pra colocar um chip, e
me controlar, ou vão me matar. Cada vez eles dizem uma
coisa.

Zilá – (irônica) Faz o seguinte, chama eles pra festa.


Vão adorar!

Seu Tonico - Quer me amar?

Marcos Augusto - Você sempre me aperreia, sua bruxa Você


é pior que seu pai! (gritando) Vai embora!!!

Seu Tonico - Tá sim... tá na hora.

Zilá se retira rindo, enquanto D. Matilde volta

D.Matilde - O que houve, Marquinhos?

Seu Tonico - Bonitinho? Doidinho, você quer dizer...

Marcos Augusto - Aquela bruxa, quer levar os


extraterrestres para a festa, madrinha! Eles vão me
matar!

Seu Tonico - Quem vai pegar, quem?

D. Matilde - Vão nada! Eles nem gostam de festa, e vão


ficar onde moram.

Marcos Augusto - Tem certeza?

João Boy, volta

João Boy - (sarcástico) Absoluta! Eles não foram nem


convidados...

Marcos Augusto - Você também não me deixa em paz, cão, um


dia eu digo tudo...(fala e sai)

Seu Tonico - É melhor ficar mudo mesmo!

D. Matilde - Por que vocês fazem isso, com ele? Qual o


sentido?

João Boy - Nada. Só pra mexer com ele. Não sei como você
consegue ser tão paciente, se nem a família aguentou.

D. Matilde - É verdade, eles não têm paciência com ele.


João Boy - Bom é o dinheiro que pagam, pra ele ficar
aqui.

D. Matilde - (amorosa) Você não toma jeito!

João Boy - Vem cá, gostosa!

D.Matilde - Mais tarde, mais tarde... fique aí sonhando,


agora tenho muita coisa pra fazer.

Seu Tonico – (rindo) Vai, fica chamando ela de idosa...

João não responde, e aumenta o volume do rádio

Locutor - Tá chegando a hora, pessoal! Não é mais sonho!


Se tornou realidade! Sonhemos o que de bom queremos,
realizemos o que de bom precisamos. Sonhos reais,
realização de sonhos...isso é viver (música). (Black out)

Na sala estão Marcos, João, Missy , Môsca e Seu Tonico.


Entra Marielza

Marielza - Vocês vão, pra inauguraçaõ?

Marcos Augusto -Vou não... a festa daquele ladrão

João Boy - Você só diz besteiras , Marcos! (espantado) E


você, Marielza, vai pra festa?

Marielza - Eu vou pra inauguração e benção, da ponte. Pra


parte profana, nem pensar!

Missy - Vou não...do jeito que eu tô.

Seu Tonico - Amor?

João Boy - Que diacho tu tem?

Missy - É assim...não sei, dói tudo.

Môsca - Dói?

Seu Tonico - Como rói?

Missy - Assim...tudo me incomoda.


Môsca - Deve ser quase como eu.

Marielza - Eu vou indo,que já vai começar. Rezo por


vocês.

João Boy - Aja reza!!! (fica olhando pra um e pra outro,


com ar irônico).

Missy - Sinto uma moleza!

Môsca - Sente medo?

Seu Tonico - Cruz credo! Segredo na profundeza? Que raio


de segredo é esse??

Seu Tonico olha de um para o outro.

Missy - Muito!!

Môsca - De micróbios?

Missy - Também. E uma tristeza...

Môsca - Angústia?

João Boy - Isso é um papo bom! Dá vontade de tomar uma.

Seu Tonico - Tomar, onde?

Missy - Sinto tristeza, angústia, impaciência.

João Boy - Pergunta o que ela não sente...

Seu Tonico - É...tente!

Môsca - Eu não! Só sinto medo de micróbios (passando


álcool gel nas mãos)

João Boy - Tá bom de vocês casarem, dá certinho.

Seu Tonico - Pertinho de mim? Vôte!(gritando) Bernardina!

Môsca - Vamos conversar lá dentro, Missy, que o ambiente


tá contaminado. (saem os dois)

João Boy - Engraçadinho!


Entra Cremilda e Bernardina, assustada. Marcos permanece
num canto da sala.

Cremilda - Seu João, leve logo D. Martide pra festa! Ela


não para de arranjar o que eu fazer. Quero ir pro pagode,
hoje é dia de festa...

João Boy - Eita! Cheia de razão, né?

Cremilda - Tenho meus direito! Escutei na rádia.

João da Silva - Que rádia, mulher! E tu sabe lá o que é


direito!

Seu Tonico - Perfeito?

Cremilda - Sei sim...direito é direito.

João Boy - Crem, Crem! Abre teu olho!

Cremilda - Cremilda, Seu João Boy! Não lhe dou cabimento.

Seu Tonico - (falando com Bernardina) Mal agouro, ela


quer saber o comprimento!

João Boy – (rindo) E direito, você dá? Ou não é direito?

Cremilda - O senhor me hurmilha só porque sou pobre.


(triste) Isso num tá direito.

Seu Tonico - Ela pegou o prefeito...danou - se! Depois


dessa vou dormir de novo. Sai daqui, Bernardina! (fecha
os olhos, enquanto Bernardina sai)

João Boy - Direito, direito! Agora sim! Arranjou palavra


nova e não para de repetir. Desse jeito, vou ter que
tomar uma.

Cremilda - Tomá uma, tomá uma...só fala isso.

João Boy - Venha cá, Crem, pra tu ver direitinho uma!


(gargalhando)

Cremilda - O sinhô num toma jeito, quando eu contar pra


D. Martide. (João sai rindo)

Marcos Augusto - Tudo o que eu falo não acreditam...nem


madrinha!
Cremilda - Eu acredito, menino, acredito! (sem muita
convicção)

Marcos Augusto - (muito seguro e triste) Digo que o


prefeito é ladrão, ninguém acredita. Eu já trabalhei com
ele e sei tudo o que ele fazia...quando disse que ia
denunciar, me ameaçou.

Cremilda - (ar de fofoqueira) Eita! Não sabia disso... o


que mais?

Marcos Augusto - (olhando pra cima, como se estivesse


falando com outra pessoa) Posso provar, viu? Tenho
documentos guardados, e gravações.

Cremilda - Pronto...pirou de novo.

Marcos Augusto - Você também não acredita em mim.

Marcos sai correndo e Cremilda vai atrás, gritando

Cremilda - O que mais, menino? Eu acredito..

D. Matilde retorna com João

D. Matilde - Essa Cremilda é muito cheia de gosto.

João Boy - O que foi, Matildinha? Venha cá, chegue! Vamos


aproveitar...

D. Matilde - Ô amor, fico toda dengosa quando você fala


assim.

João Boy - Pois chegue cá, que eu digo no seu ouvidinho.

D. Matilde - Diga,diga! De longe, senão...sei lá!

João Boy - Eita, que ela hoje tá do jeito que eu gosto!

D. Matilde - Fervendo!!

João Boy - Vixe, gostosa! Mais tarde dou seu presente.

D. Matilde -(rindo) Em dose dupla

João Boy - Enxeridinha! Tenho outro presente.


D. Matilde – (misteriosa) Tão bom quanto aquele?

João Boy - Pra mim, também é muito bom.

D. Matilde - Diga logo, homem!

João Boy - Com suspense, ou sem suspense? Com emoção, ou


sem emoção?

D. Matilde - Daqui a pouco vou ter um troço.

João Boy - Tenha não! Me dê! Esse troço! Tá bom...quer


casar comigo?

D. Matilde - Vixe, Maria! Casar? Claro que quero! Vou


dizer aos outros, melhor presente de aniversário que já
ganhei... te amo! (sai correndo, gritando) Vou casar!!!

Zilá entra, logo em seguida

Zilá - Ouvi tudo, seu cachorro! (partindo pra cima de


João)

João Boy - Para com isso, morzinho! Posso explicar!

Zilá - Sem vergonha! Explicar, o quê? Vou te matar!

João Boy - Matar? E perder seu parquinho de diversões?

Zilá - Safado!

João Boy - Deixe eu falar, avantajada! Já disse que posso


explicar.

Zilá - Fala! Quero mesmo ver o que tu tem pra dizer.

João Boy - Você sabe quem é o amor da minha vida, o ar


que eu respiro, o chão que eu piso...

Zilá – (interrompendo) Deixe de enrolação, João Boy!

João Boy - Não fale assim, que eu me lasco todo...

Zilá - João!

João Boy - Tá bom! Veja bem... eu tinha que pedir essa


bruaca em casamento, é uma árvore que dá sombra.
Zilá - Sempre soube que você é o maior interesseiro que
existe por aqui, e nem gosto dessa Matilde, mas é muito
pior do que imaginava.

João Boy - Ela é o nosso futuro, coração!

Zilá - Meu futuro?

João Boy - Claro! O nosso!

Zilá - Eu já tenho meu futuro, só se for de um pé rapado


e malandro como você. Meu mesmo não.

João Boy - Lindinha bobinha...

Seu Tonico - (abrindo o olho devagar) Quem é gatinha?

Zilá – (gritando) Não me chame de bôba!

Seu Tonico - (acordando) Loura?

João Boy - Minha bobinha, boazuda! Qual o seu futuro?

Zilá - Meu pai, claro!

Seu Tonico - Chamando nome feio, menina bonita?

João Boy - Quando não ameaça te deserdar, né?

Zilá - Não é assim.

Seu Tonico olha de um para outro, com a mão no ouvido,


querendo escutar.

João Boy - Só dia sim e o outro também. E tem mais o


seguinte, mesmo que ele não te deserde, pode não ter
herança nenhuma.

Zilá - Como assim?

Seu Tonico - Comer, o quê? Ou será quem?

João Boy - Basta que a justiça mande ele devolver tudo o


que vem roubando, nesses anos todos, como político.

Zilá - Aí o véi ficava lascado...

Seu Tonico - Eu? Acabado?


João Boy - Se esse fosse um país sério, ele já estava.

Zilá - E tu preso, pelas malandragens que já fez nessa


vida.

João Boy - Mas agora, vou bamburrar! Ou melhor, vamos,


minha malandrinha! Vamos! Chegue cá, chegue!

Zilá - (mais calma) Ainda não me convenceu

Seu Tonico - Deu?

João Boy - Claro que sim! Essa D. Matilde tem muito


dinheiro guardado, ganhou muito com essa história de
cartas. Enganando mulheres traídas e políticos idiotas.

Zilá - Será?

João Boy - Claro que sim! Venha cá, minha princesa,


chegue para o teu boyzinho, chegue! (se aproxima de
Zilá,quase a beijando)

Marcos Augusto entra na sala, se assusta com o que vê, já


ia gritar quando João coloca a mão na sua bôca.

João Boy – (irônico) Cuidado com o que vai fazer,


Marquinhos! (irritado) Preste atenção, rapaz! Mando todos
os extraterrestres aqui. Vou tirar a mão da sua bôca, e
trate de não gritar.

Marcos Augusto - Vou dizer a madrinha!

Seu Tonico - Que malinha? Essa menina tem uma malona!

Zilá - Os extraterrestres estão chegando! (fazendo Marcos


se assustar)

Marcos Augusto – (assustado) Sai daqui, bruxa!

João Boy - Para com isso, Marcos Augusto! Escuta bem, o


que vou dizer pra você. Matilde e eu vamos nos casar e se
você disser pra ela o que acabou de ver aqui, já sabe,
meus amigos vão te pegar.

Marcos Augusto - (com muito medo) Que amigos?

Seu Tonico - Umbigo? Esse menino é maluco, mesmo!


Zilá - Aqueles!!

João Boy - Os extraterrestres, claro!

Marcos Augusto - (tremendo) Eu não vou dizer nada, não!

Zilá - Lá vem os extraterrestres!

Marcos Augusto - Bruxa! Bruxa! (sai correndo)

Locutor - A banda da prefeitura já está tocando, amigos!


A fita vai ser cortada! Viva! Hoje é só alegria, nada de
sofrimento! Sofrimento? Sofrimento é sua reação a um
acontecimento, e não o acontecimento em si. (Música.
Black out).

Na sala estão Cremilda, sempre com a vassoura na mão e


Seu Tonico discutindo com Bernardina

Seu Tonico - Diga como lhe ensinei, Coruja! 79 anos,11


meses e 29 dias... e que sou um homem de posses.

Bernardina - Tá bom, eu digo!

Cremilda - De posses...quer dizer que tem as coisa é,


Benardina?

Bernardina - Ele diz que tem...

Seu Tonico - Vocês tão falando, o quê? Falem mais alto!

Cremilda - Sobre sua vida...

Bernadina - Ela está bem curiosa.

Seu Tonico - Gostosa? (olhando pra Cremilda de cima a


baixo) Acho que dá pro gasto...

Cremilda - O senhor apronta, né?

Seu Tonico - (audacioso) Se o danado, levanta? Claro que


sim!

Cremilda - (manhosa) Mentiroso!

Seu Tonico - Claro que sou gostoso! Quer experimentar,


gatinha?
Bernardina - Pare de contar vantagem, Seu Tonico! Essa
sua ratoeira não pega nem ratazana, quanto mais gatinha!

Cremilda - (pensando alto) E a gatinha, sou eu?

Seu Tonico - (falando com Bernardina) Se a ratazana é


você, não armo minha ratoeita de jeito nenhum, alma
penada.

Marielza volta da inauguração

Marielza - Oi, gente! Cadê todo mundo? Cremilda, a ponte


tá linda, o padre benzeu e eu vim embora. Você não vai?

Cremilda - (chateada) Cuma, se toda hora tenho que limpá,


limpá, limpá...pareço gatinha, né? Mas sou escrava...
Tenho meus direito.

Marielza - Claro que tem! Tá é sabida! E os moradores,


dessa casa, onde estão?

Cremilda - Deve de tá tudo se arrumando. Menos eu, mas


tenho meus direito, viu?

Marielza - (corrigindo) Direitos! Direitos!

Cremilda - Isso! A senhora também sabe, né? Só D. Martide


que não sabe. (triste) E agora que vai casar, aí sim!

Marielza - Casar? Com aquele traste?

Seu Tonico - Só consegue levantar com guindaste?

D. Matilde entra

D. Matilde - Tô muito feliz pra dá atenção a esse


comentário, viu?

Marielza - E eu triste, por você entrar nessa fria.

Seu Tonico - Ela é lá tua tia...

D. Matilde - Fique não! E você, Cremilda, quando terminar


pode ir se arrumar.

Cremilda - Ainda bem que a senhora viu meus direito.


Matilde - E você tá enchendo, com essa história de
direitos.

Seu Tonico - (rindo) Ela agora só fala em peito

Cremilda - Que peito! Que eu tenho meus direito, eu


tenho. (saindo)

Marielza - (fala olhando para Matilde e saindo) Vou rezar


pra que você não se dê mal, com aquele filho do
encardido.

Entra Zilá

Zilá - D. Matilde, bota cartas pra mim?

Seu Tonico - Olá, moça bonita!

D. Matilde - Agora? Na hora de irmos pra festa? Hoje


tenho muito o que comemorar.

Zilá - (quase suplicando) Sei disso. Parabéns! Mas tô


precisando muito

D. Matilde - Certo. Você tá bem agoniada. Vamos lá! (pega


o baralho e sentam-se na mesa) Pode cortar o baralho.

Zilá - Legal.

Os outros chegam, fazendo barulho, já prontos para irem a


festa, e ficam próximos a mesa

Môsca - (passa álcool gel nas mãos) Faz tempo, que a


senhora não bota cartas, cuidado que tem muitos micróbios
no baralho.

Missy - D. Matilde, até eu vou pra festa. Mesmo estando


desse jeito.

D. Matilde - Que bom, Missy! Agora, fiquem afastados da


mesa para eu poder me concentrar. Zé Peter, você
melhorou?

Zé Peter - Estou bem!

D. Matilde - Ótimo! Vamos lá, Zilá?


Seu Tonico - Vai mandar ela pra cá, Mamá?

Zilá - Vamos, sim!

D.Matilde - Tô vendo um homem, em sua vida!

Seu Tonico - Com passagem, só de ida?

Zilá - (rindo) Que bom! Só um?

D. Matilde - (cara de preocupada) Não é do bem, não!

Zilá - Não?

João Boy entra, encrencando com Marcos Augusto

João Boy - Cuidado com os extraterrestres!

Marcos Augusto - (colocando as mãos nos ouvidos) Para!

João Boy - (olhando para a mesa) O que diacho, é isso?

D. Matilde - Oi, amor! Fiquem quietinhos que estou


botando cartas pra essa garota. Não, Zilá! Esse homem que
estou vendo nas cartas não é do bem.

Zilá - Eita! O que mais, as cartas estão dizendo?

D. Matilde - Não tá nada bom! Ele tá te enganando, menina!

Seu Tonico - Ela vai vim logo, me agarrando?

Zilá - Como assim?

D. Matilde - Ele é casado, ou tem um rolo... tem outra


mulher na vida dele.

Zilá - E vai deixar ela?

João Boy – (atrapalhando) Já tá na hora da festa...vamos


embora, Matildinha!

Cremilda entra, toda arrumada

Cremilda - Ainda tão aí? Vixe! Botando cartas, pra Zilá,


D. Martide? Vou ficá pra vê no que vai dá...
João Boy - Pode ir andando, moça! O espetáculo já acabou.

D. Matilde - Vamos ficar em silêncio, gente! Aguarda só


um pouquinho, amor! Continuando...esse homem não vale
nada, Zilá!

Zilá - Mas eu tô apaixonada!

Seu Tonico - Tá aperriada, moça? Chegue que eu lhe


acalmo...

Marcos Augusto - Bruxa!!

D. Matilde - E ele não! Ele não gosta de ninguém! Tá


enganando as duas.

Zilá - Que absurdo!

Marcos Augusto - Os extraterrestres tão falando,


madrinha!

Seu Tonico - Varinha? Não escute ele, bonitona! Varão!

D. Matilde - Fique calmo, Marquinhos!

Marcos Augusto - (olhando para João e Zilá) Eles tão


dizendo que não conhecem você, coisa ruim e nem você, sua
bruxa!

João Boy - Conhecem sim! São meus amigos!

D. Matilde - Esse homem, é um Malandro!

Marcos Augusto - É malandro, sim! Essa coisa ruim!

D. Matilde - Por favor, Marcos! Eu estou lendo as cartas!

João Boy - Você não tá ouvindo, seu maluco?

Marcos Augusto – (respondendo as vozes) Vou dizer, vou


dizer!

João Boy - Esse maluco já tá ouvindo vozes, de novo!


Vamos pra festa, Matildinha! Só tomando uma...

Marcos Augusto - Madrinha! Madrinha!

D. Matilde - O que é, meu filho? Se acalme!


Marcos Augusto - A bruxa e o coisa ruim, eu vi! Tavam se
agarrando aqui na sala! Eu vi! Quase se beijando. Eu vi!

João Boy - Deixa de dizer besteira, maluco!

Silêncio geral. D. Matilde se levanta, junta as cartas, e


senta-se novamente

D. Matilde - Gente, por favor, vão pra festa. Preciso


conversar com João.

Todos se retiram, menos Seu Tonico. Os noivos ficam em


silêncio um bom tempo.

João Boy - Matildinha, olha pra mim! Você vai acreditar


num maluco que vê e escuta extraterrestres? Vida, ele não
sabe o que tá dizendo, deve ter sonhado...é pinel, você
sabe! Devem ter sido as vozes, os extraterrestres, que
ele diz ouvir, ele tá só repetindo. É coisa da cabeça
dele. Olha pra mim, amor!

Tonico - Tá dizendo, que Mamá é um horror?

E. Matildenada diz, fica mexendo com o baralho, como se


estivesse botando cartas. Nada diz e nem olha para João.
Levanta-se e sai.
F.

João Boy - (gritando, indo atrás de D. Matilde) Volta


aqui, benzinho! Vamos conversar! Aquilo é doido! Vai dá
ouvidos a doido?

Locutor - A festa foi boa demais, gente! Esta cidade


nunca viu tanta comemoração. Que venham outras! Viva o
respeito! Mais amor e menos preconceito! (música)

Seu Tonico - Pegar nos peito? Ela num tá aqui...

Black out
Todos no palco, sem nenhum móvel, música tocando e todos
dançando, entra por fim, João Boy e D. Matilde,vestidos
de noivos.

Todos - (música animada, todos dançam, menos Marcos


Augusto) Viva os noivos!!

FIM

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