Você está na página 1de 19

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE HISTÓRIA

MARINA DA SILVA PEREIRA LIMA

DRE: 122044047

Identidade e cultura mexicana de uma perspectiva norte-americana: uma análise do


filme Viva – A Vida É Uma Festa

RIO DE JANEIRO

21 de Julho de 2022
INTRODUÇÃO

A meia-luz é fornecida pelas milhares de velas acendidas ao redor. No ar, o perfume


agradável dos buquês e decorações com cempasúchil. Há também muita comida e água, desde
frutas até pratos preparados especialmente para a ocasião. Mas mais do que tudo, centenas de
fotografias integram o ambiente, em porta retratos dos mais diversos tipos. Fotos em cores, em
preto e branco e sépia. O cenário? Um cemitério.
Parece improvável, mas é isso que qualquer um encontraria se fosse até qualquer cidade
na zona rural mexicana entre 31 de outubro e 3 de novembro. A festividade que chama todo
esse conjunto de decorações é o Día de los Muertos, uma celebração latino-americana presente
majoritariamente no México. O feriado baseia-se na crença de que os mortos são capazes de
caminhar pelo mundo dos vivos nesse período. Para honrar os falecidos e guiar seu caminho,
as famílias constroem ofrendas, que nada mais são do que altares contendo as fotos dos
falecidos com muita água, flores, velas, além de comida e objetos que gostavam em vida.
Não só a beleza da celebração, o feriado trás algo ainda mais importante: muda a forma
como todo um povo se relaciona com o conceito de morte. Segundo o falecido diplomata e
poeta mexicano Octavio Paz:

“Para o habitante de Nova York, Paris ou Londres, a morte é a palavra que


jamais se pronuncia, porque queima os lábios. O mexicano, ao contrário, frequenta a
morte, a engana, a acaricia, dorme com ela, a festeja, é um de seus brinquedos
favoritos e seu amor mais permanente” (FLORENCIO, 2014, p. 33)

Ou seja, mais do que uma mera celebração, o Dia dos Mortos é uma tradição que se relaciona
diretamente com a identidade mexicana.

A tradição que molda a identidade

A celebração do Dia dos Mortos tem sua origem num grande sincretismo religioso. Há
uma mistura tanto de rituais e crenças indígenas pré-Hispânicas, quanto de crenças católicas.
Sobretudo, a celebração do Dia de Todos os Santos e Dia de Todas as Almas, que ocorrem entre
1 e 2 de novembro, o ápice das festividades do Dia dos Mortos mexicano (BRANDES, 1998,
p. 362). Segundo Sergio Florencio em seu livro “Os Mexicanos”:

2
“Ao longo do período colonial, numerosos santos católicos passaram a ser
identificados com deuses pré-hispânicos. Estava aberto o caminho para o sincretismo
religioso, que também foi facilitado pela pompa das cerimônias, característica tanto
da religião cristã como da dos indígenas, e pelos preceitos de castigo e recompensa,
também comum aos dois universos culturais”. (FLORENCIO, 2014, p. 46)

Segundo a autora Regina Marchi1, no livro “Spontaneous Shrines and the Public
Memorialization of Death”, a diferença entre a tradição europeia frente à mexicana é a “relação
entre a vida e a morte”. Os europeus veriam os mortos como pessoas por quem devem pedir
clemência aos santos, já os mexicanos os veriam os familiares mortos como pessoas livres de
chagas e intercedem apenas para pedir que sejam assistidos pelos santos quanto às necessidades
básicas (MARCHI, 2006, p. 262). Apesar de qualquer semelhança com os costumes ritualísticos
do feriado católico ou as religiões pré-Hispânicas, o Día de Los Muertos tornou-se tão singular
porque remete a um povo específico. Isso porque mais recentemente, celebrar essa festividade
tornou-se um ato político, extremamente ligado à identidade nacional (BRANDES2, 1998, p.
359 e 365).
Como qualquer outro país colonizado, o México encontrou diante de si a dificuldade de
unir um povo extremamente plural sob um sentimento de pertencimento. Diversos autores
analisados para construção dessa pesquisa afirmam que a Revolução Mexicana foi o ponto de
ignição para que o Estado se esforçasse em criar esse sentimento, além de apontar também
como a proximidade com a superpotência norte-americana auxiliou nessa tentativa de que o
país não fosse engolido pela grandeza do vizinho. Para isso, a cultura popular foi extremamente
explorada com o intuito de criar algo propriamente mexicano. Há, entretanto, um desafio: como
achar algo propriamente mexicano que seja capaz de desafiar as influências da Espanha ‒ o
colonizador ‒ e dos Estados Unidos ‒ o imperialista ‒?
Pensando nessa pergunta, a resposta é algo não ocasionalmente já mencionado. A
herança indígena torna-se fator determinante da diferença entre as duas potências e o país em
questão, e essa escolha de usar o nativo para enfatizar sua singularidade é determinada pelo
Estado mexicano; o indígena é visto como o ponto de ruptura entre o povo mexicano e os povos
norte-americanos e espanhóis. O folclore também entra na lista, visto que ajuda na construção
de uma identidade baseada na cultura popular. (BRANDES, 1998, p. 361-362). Ao buscar o

1
Professora de jornalismo e estudos de mídia; formada em Literatura Inglesa na San Francisco State University e
com PhD em Comunicação pela University of California San Diego.
2
Professor de antropologia na University of California, Berkeley de 1971 até 2018.
3
que seria autenticamente mexicano, encontra-se o equilíbrio perfeito entre passado glorioso3 e
povo colonizado: o Dia de Los Muertos. Ele invoca justamente um conceito útil do que é
tradição: “[…] tradition is a conscious model of past lifeways that people use in the construction
of their identity”4 (HANDLER; LINNEKIN 1983, p. 241 apud BRANDES, 1988, p. 360),
portanto, para os mexicanos a prática dessa celebração torna-se inseparável de quem eles são,
porque remete à suas origens e aos seus costumes recém adquiridos com a vinda do colonizador.
Como satirizou em seu texto Sergio Florencio: “Importaram dos espanhóis o Dia de Finados e
misturaram com uma boa dose de rituais indígenas maias e de outras culturas e criaram o Día
de Muertos, algo tipicamente mexicano” (FLORENCIO, 2014, p.19).

Problemas com o vizinho

Apesar da eficiência da solução, os mexicanos encontram mais um problema: seu


autêntico feriado que o diferencia de qualquer outra cultura encontra um gêmeo bivitelino: o
Halloween. O constante hábito de exportar tradições tem deixado a nação mexicana muito
ofendida, pois a invasão dos costumes da festa de Halloween no país tornou-se mais um símbolo
do imperialismo americano. Além disso, uma crítica constante é a de que a comparação entre
os dois festivais é absurda porque o consumismo está enraizado no Halloween. Em suma, para
muitos mexicanos a exportação de tradições serve mais que tudo para ajudar a diplomacia norte-
americana a construir um sentimento pró-americano no México além de benefícios econômicos
e políticos (BRANDES, 1998, p. 359,376).
Mesmo com a hostilidade estabelecida entre os dois países, ainda é possível estimar
altas taxas de imigração dos mexicanos buscando melhores condições de vida. Isso criou uma
comunidade nessa discussão entre autêntico e importado: os Chicanos. Esse choque cultural
tem trazido boas notícias; “Um dos resultados disso parece ser certa afirmação cultural latina
que se consolida, cresce e ganha visível peso político nos EUA”. (FLORENCIO, 2014, p. 16).
Parece então que o objetivo do governo mexicano de estabelecimento de uma identidade foi
cumprido, os Chicanos enaltecem a cultura latina mesmo envoltos na massiva cultura norte-
americana.
Se a cultura latina ganha peso político no país, cabe analisar como os mexicanos-
americanos lidam com a comemoração que tem cara de México em qualquer lugar do mundo.

3
Povos pré-Hispânicos.
4
Tradução livre: “[...] tradição é um modelo consciente de um estilo de vida do passado que as pessoas usam na
construção de suas identidades”.
4
Marchi afirma que a comunidade latina nos EUA constrói o próprio festival de Dia dos Mortos
com base na tradição reverberante e incorporando elementos de suas respectivas culturas desde
os anos 70. Tal comemoração ganhou um peso próprio nos EUA; “[...] US celebrations are re-
inventions of traditions that become methods for honoring Latino cultural heritage”5.
(MARCHI, 2006, p. 264). Ou seja, com essa reinvenção, há então uma nova identidade para o
feriado, não mais Día de Los Muertos, podemos falar agora de um Day of The Dead.
Não apenas uma reinterpretação, essa nova identidade também agrega à forma de pensar
a festividade. Também segundo Regina Marchi, o Dia dos Mortos no México é “primeiro uma
forma de ritualização” e depois uma celebração. Já nos EUA, os papéis se invertem, tornando
a prática das tradições muito mais consciente, portanto, mais simbólicas — no sentido de
respeitar o passado e a história contidos na celebração dessa festividade. Isso porque a
ritualização traz uma mecanicidade para o processo, um fazer por costume. Tirando esse caráter,
é possível questionar as motivações de cada ritual e ressignificar isso para trazer várias pautas
importantes para dento do feriado, como por exemplo pensar nos diversos problemas sociais
que a América Latina enfrenta (MARCHI, 2006, p. 265-266).
Lembrar os ancestrais que já se foram é um ato político também, pois é uma
oportunidade de refletir sobre a forma como morreram, muitas vezes sobre a mão do
colonialismo. Ao “conectar comunidades ao seu passado”, esse povo explorado é capaz se
reconhecer resistência. Mais recentemente, existem diversas formas de manifestação dentro do
feriado que denunciam violência e repressão. Apesar de presente, essas representações são
minoria no México, porque o feriado é cercado por religiosidade e tradição familiar. Já nos
EUA, esse tipo de manifestação é bem mais comum, porque é um espaço que os Latinos têm
de expressar suas identidades e protestar. (MARCHI, 2006, p. 266-267)
Também é essencial para a identidade da comunidade Latina nos EUA denunciar as
condições de discriminação e exploração sofridas ao imigrar para o país. O Dia dos Mortos nos
EUA é uma forma de protesto embasada nas tradições de um povo, e que pela beleza da
celebração, acaba chamando mais público do que um protesto político comum. É muito
marcante porque a população Latina é pouco representada no país, e a exibição desta festividade
é uma forma de representatividade para essa comunidade (MARCHI, 2006, p. 276-268)
“This attention is particularly noteworthy in a society where thirteen percent
of the population is Latino but only one percent of national TV news focuses on

5
Tradução livre: Celebrações norte-americanas são reinvenções das tradições que se tornaram métodos de honrar
a herança cultural Latina.
5
Latinos and only one percent of all characters on entertainment TV are Latinos (down
from 3 percent in the 1950s)”6. (MARCHI, 2006, p.268)

Sendo assim, é relevante pensar que novas formas de leitura foram trazidas pelo meio
cinematográfico dos EUA por causa da comemoração do Día de Los Muertos, e como isso pode
contribuir para a identidade do povo mexicano ‒ considerando que esse país discrimina
historicamente essa população. Pensando nisso, cabe analisar a animação recentemente lançada
pelos estúdios Disney-Pixar, Viva – A Vida É Uma Festa (2017). Dessa análise, uma pergunta
precisa ser respondida: o quão relevante é esse filme para a comunidade internacional na
tentativa norte-americana de representar a identidade mexicana?

A PIXAR VAI À FESTA

Figura 1 - Título do filme em papel picado

Fonte: Viva – A Vida É Uma Festa (2017)

O filme Viva foi idealizado por Lee Unkrich em 2011 e finalizado apenas em 2017, isso
porque foram anos de pesquisa e produção para que a obra fosse capaz de contemplar uma visão
menos estereotipada dessa cultura tão bela e significativa. Para isso, foi disponibilizado um
orçamento em torno de US$ 200 milhões, um grande marco porque esse foi o primeiro filme
da história a ter seis dígitos de orçamento e um elenco inteiramente latino7. E os esforços não
foram em vão, o filme é a quinta maior bilheteria da Pixar, alcançando o valor de US$824
milhões e a maior animação da história nas bilheterias do México8. Além disso, o filme recebeu

6
Tradução Livre: Essa notoriedade é particularmente significativa em uma sociedade em que 13% da população
é Latina, mas apenas 1% das notícias em televisão nacional focam em Latinos e apenas 1% de todos os personagens
de entretenimento televisivo são latinos (menos que o percentual de 3% nos anos 50).
7
HOW PIXAR’S ‘COCO’ EMBRACED MEXICAN CULTURE TO BECOME A SMASH HIT. Sounds and
Colors, [S. l.], 4 dez. 2017. In: Disponível em: <https://soundsandcolours.com/subjects/film/pixars-coco-
embraced-mexican-culture-become-smash-hit-39292/>. Acesso em: 19 jul. 2022.
8
CANHISARES, Mariana. Viva - A Vida é uma Festa quebra recorde de bilheteria no México. Omelete, [S. l.],
16 nov. 2017. Disponível em: https://www.omelete.com.br/filmes/viva-a-vida-e-uma-festa-quebra-recorde-de-
bilheteria-no-mexico. Acesso em: 11 jul. 2022.
6
dois Oscar; um de melhor animação e outro de melhor música original por “Remember Me”, a
música principal do filme.
A narrativa conta a história de Miguel Riviera, um menino de 12 anos que mora na
cidade fictícia de Santa Cecília, no México. Já aqui vemos o trabalho de pesquisa da produção;
o nome escolhido não é por acaso, Santa Cecília é a padroeira dos músicos, profissão dos sonhos
de Miguel. Seria muito simples, isso se a família do protagonista não tivesse um passado
sombrio com a música e fosse uma família tradicionalmente composta por sapateiros, com o
ofício passando de geração em geração.
Na história, a tataravó de Miguel foi abandonada pelo seu tataravô para que esse
seguisse a aspiração de ser músico. Para superar o infortúnio, Mamá Imelda aprendeu a fazer
sapatos, tornando essa a tradição da família. No curto extra sobre o filme Mil Fotos por Dia a
equipe de produção cita como foi difícil criar as dinâmicas familiares baseado no que eles
conheciam sobre família, suas próprias experiências. Isso ocorre porque “Se compararmos a
família mexicana com a norte-americana, fica bastante claro que a primeira tem como
referencial a figura dos avós, tios e primos com uma intensidade muito maior do que a segunda”
(FLORENCIO, 2014, p. 196). Para romper essa barreira a produção visitou diversas famílias
mexicanas na cidade e na zona rural do México.
Figura 3- Matriarcas de uma família mexicana Figura 2- Família fotografada com equipe da Pixar

Fonte: Mil Fotos Por Dia (2017)

Segundo os produtores no extra Minha Família, a essência de Viva é a tradição familiar


com base no que vivenciaram ao conhecer o país, as pessoas e a cultura. Disseram também que
esse foi um filme que os encorajou a trazer suas experiências familiares pessoais, o que agrega
muito valor visto que vários membros da equipe de produção são latinos ou descendentes. Tudo
isso trás vida aos personagens e à sua relação familiar. É interessante ver também a escolha de
representar a família de Miguel como artesã, pois no interior do México é comum em cidades
pequenas que famílias passem seus negócios de geração em geração. Esse costume é
representado no filme através da família dos Riviera (SMITH, 2020, f. 35)

7
Figura 4 - Imagens da família e casa dos Riviera

Fonte: Viva – A Vida É Uma Festa (2017)

Após alguns minutos de filme O Día de Los Muertos é apresentado na história com todo
seu encanto, pela nova matriarca da família, a abuelita de Miguel em uma cena tocante onde
ela explica a importância de guardar a memória dos que já se foram. Isso demonstra a
valorização das tradições passadas adiante através das gerações.
Outro tópico interessante para a análise são as imagens da cidade natal de Miguel, que
possui características das diversas cidades visitadas pela equipe de pesquisa. Sem dúvida, é um
dos trabalhos de arte mais belos da Pixar, e até mesmo a ambientação marcada pela baixa luz
que as velas fornecem foi estudada pelos artistas do estúdio para que ele fosse o mais fiel
possível. O resultado é inegável, a obra tem uma ambientação única e que foca bastante na
beleza dos cenários e paisagens.
Figura 5 - Santa Cecília

Fonte: Viva – A Vida É Uma Festa (2017)

Fonte: Viva – A Vida É Uma Festa (2017)


Por ser um filme norte-americano, um fator não poderia ter ficado fora da produção é
que a narrativa trouxe o desejo de conquistar um sonho distante, e que nesse caso entra em
contraste com as tradições familiares do Miguel. Ao fazer a descoberta inusitada de que seu
8
tataravô pode ser o ídolo de Miguel ‒ o músico mais famoso do México ‒, ele embarca numa
missão que o faz discutir com sua família e acabar sendo transportado para Mundo dos Mortos.
Esse outro local fictício da trama também foi fruto de muita pesquisa. A maior
inspiração para a paisagem segundo os produtores é a cidade de Guanajuato (MIL FOTOS POR
DIA, 2017), que possui muitas cores e uma distribuição geográfica muito interessante. Mais
uma vez o filme impressiona com a complexidade das paisagens que integra vários elementos
muito presentes nas cidades mexicanas de todo país.

Figura 6 - Paisagens do mundo dos Mortos

Fonte: Viva – A Vida É Uma Festa (2017)

Figura 7 - Arquitetura colonial no seu melhor


Guanajuato México Figura 8 - Palacio Postal

Fonte: Deposit Photos (2010) 9 Fonte: Flickr (2021)10


Além das paisagens marcantes, outro elemento muito forte no filme são as diversas
referências culturais adicionadas em meio à narrativa, personagens e objetos. Por mais raso que
pareça, a inserção dessas referências é justamente o que traz profundidade à produção, pois
“[...]los referentes culturales son características importantes de una sociedad y son la muestra

9
Disponível em: <https://br.depositphotos.com/2565157/stock-photo-guanajuato-mexico.html>
10
Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/time-to-look/51805968099>
9
de que una cultura está viva y perdura en el tiempo junto con el ser humano”11 (SMITH, 2020,
f. 64).

Personalidades marcantes

Uma das formas mais notórias de referência são as personalidades famosas do México
que foram encaixadas na obra. Não só personalidades específicas, o filme também conta com
referências aos ameríndios que habitaram a região do México.

Figura 9 - Personalidades importantes

Fonte: Viva – A Vida É Uma Festa (2017)

É possível citar El Santo e María Felix, lutador e ator mexicano muito importante para
a cultura popular, e ela atriz e cantora considerada musa do cinema mexicano. É visível também
Diego Rivera,artista plástico do século XX muito importante para o movimento do Muralismo
Mexicano e criador de um estilo de arte nacional. Estão presentes também Pedro Infante e Jorge
Negrete, ambos cantores e atores dos anos dourados do cinema mexicano. Ao longo das cenas
é possível perceber também a presença de personagens com trajes indígenas, caracterizando a
herança ameríndia vital para a identidade do México. Além disso, a presença de Frida Kahlo,
pintora mexicana e ícone feminista que marca presença na narrativa de Miguel. Outras
personalidades não ilustradas aqui também marcam participação na trama, até mesmo Emiliano
Zapata, importante líder da revolução mexicana, ganha sua versão na animação.
Como já citado, a cultura popular foi um fator muito importante para a construção da
identidade da nação mexicana, portanto, a exaltação dessas figuras demonstra a preocupação

11
Tradução livre: as referências culturais são características importantes de uma sociedade e são a prova de que
uma cultura está viva e perdura no tempo junto com o ser humano.
10
em dialogar com essa cultura de massas do México. Em suma, muitas personalidades marcam
essa obra e ficar buscando as suas representações em calaveras ‒ trabalhos artísticos feitos pelos
mexicanos retratando esqueletos humanos ‒ é um exercício interessante para contemplar o
trabalho de pesquisa da equipe Pixar.

Outras referências à cultura popular

Além da óbvia inserção de personalidades que construíram a identidade do México, cabe


também observar as referências mais mínimas e que dão ao filme um visual ainda mais
autêntico, trazendo realmente um aspecto mais mexicano e que traz familiaridade aos
espectadores do país.
Figura 11 - Referências culturais Figura 10 - Mais referências culturais

Fonte: Viva – A Vida É Uma Festa (2017)

A primeira ilustração da Figura 10 representa o cão da raça Xoloitzcuintle, um cão muito


culturalmente presente no México. Na lenda ele é o guia para que os mortos cruzem o rio que
é a última etapa para adentrar o mundo dos mortos (SMITH, 2020, f. 34). Na trama o cão é
muito importante para o desenrolar da narrativa, guiando Miguel para encontrar personagens
que o ajudarão em sua jornada. Há também a tequila, uma banda de música regional mexicana
e o Torito, boneco em formato de touro que armazena fogos de artifício.
Na figura 11 há referências ainda sutis, capturando a atenção de quem conhece a cultura
do México. Em uma das cenas iniciais do filme a avó de Miguel o chama de querido cielito,
uma referência à uma das músicas mais famosas da cultura popular no país, “Cielito Lindo”, de
Quirino Mendoza. Contempla-se também os Alebrijes, símbolos artísticos da cultura mexicana.
Foi uma escolha pautada no desejo adicionar um elemento — que não está ligado ao Dia dos

11
Mortos — para conseguir incorporar a arte ao filme. Apesar de os Alebrijes serem animais
protetores, guardiões espirituais, não fazem parte da tradição da festividade (MIL FOTOS POR
DIA, 2017). Há também a queima de fogos muito comum principalmente nos eventos nas
grandes cidades que realizam celebrações atraindo turistas de todos os lugares do mundo. Por
fim, a música La Llorona, cantada pela Mamá Imelda e por Ernesto De La Cruz numa das cenas
finais do filme. Essa é a maior referência ao folclore mexicano na obra, pois essa música
representa uma lenda muito famosa no país, popularizada no período da Revolução Mexicana.
Diante da análise disposta, percebe-se que houve uma grande tentativa de incorporar
vários elementos ao filme para torná-lo mais autêntico e familiar aos mexicanos, pois como
disse o diretor Lee Unkrich: “Coco was meant to be a love letter to Mexico”12. Ao todo foram
71 referências culturais encontradas na análise que serviu de base para a construção desse
trabalho, desde expressões verbais, históricas até ecológicas. Realizar a análise de obras como
Viva é um incentivo à pesquisadores para conhecer outras culturas, além de motivar o
pensamento sobre sua própria cultura (SMITH, 2020, f. 65,67).

Retomando a narrativa, já no Mundo dos Mortos, Miguel descobre que para voltar para
casa precisa da benção de alguém da sua família. Porém, a família não concorda em ajudar o
protagonista até que esse concorde em abandonar a aspiração pela música. Ele discorda e sai
em uma aventura em busca de seu ídolo Ernesto, tudo para no fim descobrir que ele é um
impostor e assassinou seu verdadeiro tataravô para roubar suas músicas. Com Hector, real
antepassado de Miguel, ele aprende que não há nada mais importante do que a família e a
memória que se deixa para ela, pois essa é a verdadeira forma de deixar uma marca no mundo.
Figura 12 - A família e a passagem de tradições

12
Tradução livre: “Viva – A Vida É Uma Festa foi feito para ser uma carta de amor ao México”.
12
É nesse momento que o filme passa a mensagem mais importante sobre o Día de Los
Muertos: lembrar é perpetuar a vida daqueles que se foram. Num arranjo emocionante, o filme
apresenta o real significado do Día de Los Muertos, através da música Lembre de Mim13 a obra
cinematográfica apresenta de forma fácil de compreender a importância da memória para o
povo mexicano.
Lembre de mim
Hoje eu tenho que partir
Lembre de mim
Se esforce pra sorrir

Não importa a distância


Nunca vou te esquecer
Cantando a nossa música
O amor só vai crescer

Lembre de mim
Não sei quando vou voltar
Lembre de mim
Se um violão você escutar

Ele, com seu triste canto


Te acompanhará
E até que eu possa te
abraçar
Lembre de mim

Através de uma analogia com a partida para uma jornada, o filme apresenta a música
que ensina sobre a herança cultural mexicana mais do que toda a narrativa. Composta por
Hector para sua filha, dentro da narrativa, os dois descobrem o vínculo familiar através da
música e a comum aspiração pelos palcos. Além disso, o tataravô de Miguel o ensina outra
lição: esquecer é perder.
Figura 13 - O que acontece quando os mortos são esquecidos

13
LOPEZ, Robert; LOPEZ, Kristen. Lembre de Mim. In: Viva – A Vida É Uma Festa (Tradução: LUNA,
Leandro; ELISABETSKY, Mia). Califórnia: Pixar, 2017. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=dp6hmJ4VKyM>
13
Fonte: Viva – A Vida É Uma Festa (2017)
O protagonista descobre que por não ter tido sua memória perpetuada, Hector está
sumindo. O filme mostra que esquecer é a verdadeira morte. Em um esforço desesperado e após
conseguir uma reconciliação com a família, Miguel volta para casa para falar com sua bisavó
com alzheimer, numa tentativa de que ela não esqueça seu pai e que ele não desapareça para
sempre.

Figura 14 - Cena final

Fonte: Viva – A Vida É Uma Festa (2017)

Cantando a música principal que ganhou um Oscar, Miguel consegue fazer sua bisavó
reviver a memória dele, contando suas histórias pela última vez antes de falecer um ano depois.

UMA LIÇÃO SOBRE A RIQUEZA CULTURAL DE UM POVO

O filme aqui analisado nos permite chegar a uma conclusão, as representações sobre a
cultura latina precisam mudar. Além de trazer uma riqueza baseada na identidade mexicana,
feita através do uso de representações diversas da cultura, Viva também é uma bela
interpretação de como essa cultura pode nos ensinar sobre a vida e sobre a perpetuação da
memória. Mais do que uma “love letter”14, a obra é uma releitura das tradições mexicanas que
produziu um tributo internacional à família e às tradições próprias de cada povo. Entretanto,
levar em conta só as afirmações dessa análise não seria justo para dar conta do objetivo principal
dela: entender como o povo mexicano sente sua identidade representa através desse filme.

14
Carta de amor, como se refere Lee Unkrich ao falar do filme
14
Portanto, para dar conta de responder essa questão, é interessante observar o que os
críticos de cinema latino-americanos têm a dizer sobre essa obra e sua qualidade. A editora
digital Remezcla, que publica conteúdo de cultura latina, fez um apanhado de críticas latino-
americanas15, em protesto às avaliações positivas exclusivas de homens brancos que estavam
circulando amplamente. Destacam-se algumas críticas interessantes sobre o filme:

“The vibrantly colorful animated feature that draws on Día de Muertos celebrations
could easily have gone askew, and Latino audiences are unforgiving. But with Coco,
there is absolutely no cause for concern. With nods to the tres raizes (three roots) of
Latino culture – indigenous, Spanish, and African – Pixar crafted a gorgeously drawn
homage that rings true.[…] there may never be a more important production than
Pixar’s Coco. It’s a blissful hug of acceptance in a time when the very existence of
Latinos in this country is criminalized. Just like a freshly made tamale on Christmas
Eve or a loud mariachi song waking you up on Sunday morning, Coco feels like
home”16. (ERAZO, Vanessa).

Vanessa é ex-editora do setor de Cinema & TV da Remezcla. Duas coisas chamam atenção em
sua análise para salientar o sucesso de Viva como um filme que transcreve uma identidade: a
primeira é quando ela salienta que ele está apoiado sobre as três raízes da cultura latina, ou seja,
apoiado sobre uma versão autêntica do que é “propriamente mexicano”. A segunda é quando
ela encerra dizendo que o filme “é como estar em casa”, provando que a equipe teve êxito no
trabalho de tornar o filme familiar para o povo mexicano.

“With Coco, Pixar Animation Studios’ take on the traditional Mexican celebration
Día de Muertos, audiences are given a film that will become the standard-bearer of a
positive example of what the Latino experience can look like on the big screen for
years to come. Don’t think Coco is a film that was created merely to placate Latino
moviegoers. These smartly written, emotionally driven characters are what Latino
audiences should expect going forward. Salsa-dancing, nacho-eating, lucha libre
mask-wearing stereotypes never cut it before, and Coco proves why that
representation should never be an option again if studios hope to capture authenticity
in its storytelling. […] is a cinematic gift to Latinos worldwide and easily the best
animated film of the year. Gracias, Pixar”17. (MARTINEZ, Kiko)

15
This Is What Latino Film Critics Are Saying About Pixar’s ‘Coco’. Remezcla, 2017. Disponível em:
<https://remezcla.com/lists/film/latino-film-critics-review-pixar-coco/>. Acesso em: 19 jul e 2022.
16
Tradução livre: “O recurso de animação vibrantemente colorido que se baseia nas comemorações do Día de
Muertos poderia facilmente ter dado errado, e o público latino é implacável. Mas com Viva, não há absolutamente
nenhum motivo para preocupação. Com acenos para as tres raizes (três raízes) da cultura latina – indígena,
espanhola e africana – a Pixar criou uma homenagem lindamente desenhada que soa verdadeira. [...] pode nunca
haver uma produção mais importante que Viva da Pixar. É um abraço feliz de aceitação em um momento em que
a própria existência de latinos neste país é criminalizada. Assim como um tamale acabado de fazer na véspera de
Natal ou uma música alta de mariachi acordando você no domingo de manhã, Viva soa como estar em casa”.
17
Tradução livre: “Com Viva, a versão da Pixar Animation Studios sobre a tradicional celebração mexicana Día
de Muertos, o público recebe um filme que se tornará o porta-estandarte de um exemplo positivo de como a
experiência latina pode ser na tela grande nos próximos anos. Não pense que Viva é um filme que foi criado apenas
para aplacar os cinéfilos latinos. Esses personagens inteligentemente escritos e motivados emocionalmente são o
que o público latino deve esperar daqui para frente. Os estereótipos de dançar salsa, comer nacho e usar máscara
15
Kiko é formado em jornalismo crítico de cinema de 2001. De sua análise é importante destacar
algo já mencionado, o filme abre portas para a necessidade de um novo tipo de representação
da cultura latina no cinema, sendo essencial para demonstrar como é possível criar obras que
não sejam uma mera apropriação cultural. Esse tipo de obra tem o poder de movimentar o
mundo para a riqueza das nações latinas e abrir voz para essa parte do mundo.

“Coco is a bridge between those who are gone and those who remain, whether that
means they’ve departed forever or just find themselves apart. It’s a bridge made of
bright cempasúchil, centuries of hardship, economic migration, reconnections,
newfound appreciation for the past, and culture depicted through animation”18.
(AGUIAR, Carlos)

Por fim, entra a análise de Carlos, estudante de crítica de cinema com diversos trabalhos
publicados em revistas de conteúdo cinematográfico. Sua visão parece fechar perfeitamente o
ciclo de argumentação que essa análise trouxe; Viva é um filme que constrói uma ponte entre
presente e memória.

MAIS QUE UMA CONCLUSÃO

Depois de passar pela importância do Dia de Los Muertos para a identidade mexicana,
pelo dilema entre Estados Unidos e cultura latina, pela idealização e produção do filme que
ilustra essa dinâmica, e por fim pela avaliação da crítica sobre o assunto, está aberto para
responder a pergunta estabelecida como referencial dessa análise: o quão relevante é esse filme
para a comunidade internacional na tentativa norte-americana de representar a identidade
mexicana?
Para os mexicanos, o filme significa um pouco de casa exposto para o público. Significa
um pedaço do que constrói sua identidade sendo finalmente reproduzido de forma digna pelos
conflitantes vizinhos norte-americanos. Além disso, demonstra também como a riqueza de sua
cultura pode ser pano de fundo para contar muitas histórias que apreciam o que há de belo em
toda essa identidade. Para os outros latinos, o filme significa que há espaço para suas culturas
no meio cinematográfico. Demonstra de que maneira deve ser feita uma pesquisa genuína que

de lucha libre nunca foram suficientes antes, e Viva prova porque essa representação nunca deve ser uma opção
novamente se os estúdios esperam capturar autenticidade em sua narrativa. [...] Viva é um presente
cinematográfico para os latinos em todo o mundo e facilmente o melhor filme de animação do ano. Gracias, Pixar”.
18
Tradução livre: “Viva é uma ponte entre aqueles que se foram e aqueles que permanecem, quer isso signifique
que eles partiram para sempre ou apenas se encontram separados. É uma ponte feita de cempasúchil brilhante,
séculos de dificuldades, migração econômica, reconexões, nova apreciação pelo passado e cultura retratada através
de animação”.
16
contemple a riqueza de cada identidade, para que essas manifestações culturais sejam honradas
e devidamente retratadas. Portanto, Viva significa que cada um merece um filme com gosto de
casa. Para os outros países, a obra traz uma nova visão dessa parte do mundo tão desprezada.
Além de toda discriminação, Viva mostra que existe riqueza cultural e harmonia na América
Latina. É um incentivo para abandonar o preconceito e entender a complexidade desse conjunto
tão impressionante de países que vão muito além de quintal norte-americano.
Por fim, para a comunidade internacional, o filme diz que ainda há muito o que fazer, e
mesmo que o próprio filme aclamado da Pixar não é capaz de ser livre de conceitos
estereotipados e cenas aptas à problematização. Mas muito mais do que isso, ele serve é um
propósito que vale mais do que todos os milhões de dólares arrecadados em sua bilheteria: abre
espaço para uma discussão. Uma discussão que agora depois de iniciada, nunca mais poderá
ser revogada. O filme trouxe orgulho para um povo que não acreditava mais em uma forma
justa de uso da sua riqueza cultural. Muito mais que um filme: Viva é um marco zero.

17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FLORENCIO, Sergio. Os Mexicanos. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2014. 240 p. ISBN
9788572448727.

BRANDES, Stanley. The Day of the Dead, Halloween, and the Quest for Mexican National
Identity. The Journal of American Folklore, [s. l.], v. 111, n. 442, p. 359-380, 1998.

MARCHI, Regina. El Dia de los Muertos in the USA: Cultural Ritual as Political
Communication. In: SANTINO, Jack. Spontaneous Shrines and the Public Memorialization
of Death. [S. l.]: Palgrave MacMillan, 2006. cap. 12, p. 261–283.

VIVA ‒ A Vida É Uma Festa. Direção: Lee Unkrich. Estados Unidos: Pixar, 2017. Disponível
em: <https://www.disneyplus.com/pt-br/movies/viva-a-vida-e-uma-festa/db9orsI5O4gC>.
Acesso em: 12 maio 2022.

SMITH, Mariadominique Dupuy. Referentes culturales en la subtitulación de la película


animada Coco – 2017. Orientador: Norka Tatiana Zuazo Olaya. 111 f. Tese (Graduação em
Traducción e Interpretación) - Universidad César Vallejo, Peru, 2020.

QIN, Jianbo. The Music Aesthetic Analysis of the Animated Film “Coco”. Proceedings of the
5th International Conference on Arts, Design and Contemporary Education (ICADCE
2019), [s. l.], v. 341, p. 343-345, August 2019.

SHANGGUAN, Jinhong. Analysis on the Reasons for the Intensive Resonance Among
Mexican of the Film Coco. Proceedings of the 2020 4th International Seminar on
Education, Management and Social Sciences (ISEMSS 2020), [s. l.], v. 466, p. 558-561, 28
ago. 2020.

Seal, Sarah. "Recuérdame": Un Análisis De La Memoria, Las Fronteras, Y La Busqueda


De La Identidad En "COCO". Master's thesis, Bowling Green State University, 2019. In:
<http://rave.ohiolink.edu/etdc/view?acc_num=bgsu1555692913161845>

BACKSTAGE with COCO Creators Lee Unkrich & Adrian Molina. Estados Unidos:
Youtube, 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=F-ryPJZskto>. Acesso
em: 16 jun. 2022.

18
A THOUSAND Pictures A Day. Estados Unidos: Disney, 2017. Disponível em:
<https://www.disneyplus.com/pt-br/video/0e29790d-6f17-467f-a1fc-3985fd271c0e>. Acesso
em: 13 jun. 2022.

CENA Inédita: Día de Los Muertos. Estados Unidos: Disney, 2017. Disponível em:
<https://www.disneyplus.com/pt-br/video/a739e928-7699-4379-8532-6cfbca48ced8>. Acesso
em: 13 jun. 2022.

CENA Inédita: The Family Fix. Estados Unidos: Disney, 2017. Disponível em:
<https://www.disneyplus.com/pt-br/video/0f2c9986-8867-482f-a630-109b4de3423c>. Acesso
em: 13 jun. 2022.

MY Family. Direção: Tony Kaplan e Erica Milsom. Estados Unidos: Disney, 2017. Disponível
em: <https://www.disneyplus.com/pt-br/video/30844c00-3c5e-4984-a6a7-77d5034d6b10>.
Acesso em: 13 jun. 2022.

THE MUSIC of Coco. Estados Unidos: Disney, 2017. Disponível em:


<https://www.disneyplus.com/pt-br/video/99300c39-7e47-49a7-908c-046c093bf973>. Acesso
em: 13 jun. 2022.

19

Você também pode gostar