Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Teoria Da Comunicação Social
Teoria Da Comunicação Social
NET
Introdução
Além de assentarem-se no centro da vida das pessoas, cada vez mais os temas
dos meios de comunicação são os assuntos sobre os quais discute a sociedade. E
discute também sobre a qualidade e os efeitos dos conteúdos que são veiculados.
Independentemente de gênero, posição social, idade ou nível cultural, o debate
envolve a todos e oscila entre a sedução e a rejeição. Incensada como bem supremo
ou tachada como usina de alienados, a televisão tem estado no centro desse debate,
não faltando especialistas para propor interpretações do fenômeno.
A preocupação com a comunicação não é fenômeno recente. Basta retroceder ao mundo grego
para ali encontrar reflexões que buscam desvendar as implicações das artes da oratória e da retórica.
Aristóteles, na sua Retórica, caracteriza o ato comunicativo como atividade composta de três
elementos: a pessoa que fala, o discurso que faz e a pessoa que ouve, ou seja, locutor, discurso e
ouvinte. Esse é, aliás, o chamado “modelo zero” da comunicação, por ser o primeiro a buscar uma
WWW.APOSTILADOS.NET
A reação instintiva foi um grito: parecia que o trem iria sair da tela e atropelá-
los. Entrando na estação, o trem fora filmado vindo na direção da câmera. Os
espectadores que estavam sentados num café do centro de Paris, assombrados,
levaram as mãos ao rosto para não ver, naqueles eternos segundos, essas imagens
aterradoras. Os irmãos Louis e Auguste Lumière se olharam, orgulhosos. Aqueles 33
pioneiros que se atreveram a participar daquele acontecimento não esqueceram jamais
esse novo mundo recheado de sensações.
A chegada do trem à estação de Ciotat, imagens que os irmãos Lumière
projetaram naquele dia de 1895, marcou o nascimento oficial do cinema, o invento que
revolucionou a sociedade do século XX e foi protagonista fundamental da história dos
meios de comunicação. Os irmãos Lumière procuravam captar o real, documentar e
mostrar cenas da vida tal como ela é. Novos passos dá o cinema com Georges Méliès:
“Se com os Lumière os cinema encontrou sua definição, com Georges Méliès ele
encontraria, logo a seguir, sua vocação”, afirma Inácio Araújo (1995, p. 11). Méliès
deu ao cinema uma nova dimensão: uma máquina capaz de criar sonhos, de
transformar em realidade visível as mirabolantes fantasias da mente humana,
modificando o tempo e o espaço.
Nos começos do século XX o mundo começava a acostumar-se às inovações
tecnológicas na área das comunicações. O telefone, patenteado por Graham Bell em
1876, começou a ser adotado nas casas aristocráticas e dependências oficiais.
Começavam a surgir os discos, rodados em gramofones. Nos primeiros anos do século
XX, os jornais, antes ao alcance apenas dos funcionários públicos, banqueiros e
homens de negócios, chegavam à crescente classe trabalhadora das cidades. Notícias
sobre esportes, crimes e variedades somavam informação, ao tempo em que
incorporavam fotografias e historietas. Nascia assim o jornalismo sensacionalista, cujo
benefício imediato foi um considerável aumento no número de leitores de jornais. A
comunicação se estendia por meio de filmes, telefones, discos e jornais e se tornava
cada vez mais complexa.
A comunicação de massa se impunha nas primeiras décadas do século. Com a
chegada do rádio, nos anos 20, a vida já não seria a mesma. O novo eletrodoméstico
ocupou um lugar central no lar. A família se congregava ao seu redor para ouvir os
seus programas favoritos ou para inteirar-se das últimas notícias. Informação,
entretenimento, poder: uma síntese do fenômeno que começava a ser motivo de
preocupação dos governos e objeto de estudo dos pesquisadores.
Nasciam as grandes empresas jornalísticas. Junto com a consolidação da
radiodifusão, se estabelecia a indústria cinematográfica. O cinema, mudo de início, foi
um êxito e um excelente transmissor de ideologia, que se reforçaria mais tarde com a
chegada do cinema sonoro. Dois exemplos bastam para mostrar a relação entre
cinema e ideologia: O nascimento de uma nação (1915), de David Griffith e O
encouraçado Potemkim (1925), de Serguei Eisenstein. Com o surgimento do rádio, o
cinema foi perdendo adeptos e, por fim, a produção cinematográfica começou a
decrescer. Em 1920 se realizaram 796 longa-metragens nos EUA; em 1925 esta cifra
baixou a 579 e cinco anos depois se produziram somente 509. Na Alemanha a queda
foi ainda maior, restando como exceção apenas a França, onde a produção aumentou.
Teoria Hipodérmica
reprodução. Essa luminosidade, essa dimensão mística que emana das obras-primas
por serem objetos únicos já não se encontra nas produções modernas, sustenta
Benjamin.
Benjamin também se preocupou com a degradação da cultura nesse momento
histórico, dominado pela técnica, e se perguntou sobre as causas das preferências do
público por filmes de Chaplin em vez dos quadros de Pablo Picasso.
Analisando o cinema, Benjamin dizia que o ator não tinha aura, porque sua
máxima aspiração era converter-se em estrela, cuja luminosidade não era própria,
mas emprestada pela maquinaria cinematográfica, pela publicidade e pela difusão em
rádio, jornais e revistas. Essa “estrela” de cinema, que se converte em uma
mercadoria a mais de uma sociedade tecnificada, é comparável à figura do ditador.
Benjamin afirmava que o auge do fascismo e a sociedade de massas eram
sintomas de uma era degradada em que a arte só constituía uma fonte de gratificação
para ser consumida, mas que bem podia servir de veículo de difusão do comunismo,
para conscientizar as massas.
Perseguido pelo nazismo, Benjamin foi retido na fronteira espanhola e cometeu
suicídio no início dos anos 40.
A Indústria Cultural
negócio e o lucro dos donos das rádios e das produtoras cinematográficas. Exerce um
controle social (poder que se exerce sobre a população para manter o sistema)
buscando o conformismo dos cidadãos que são, por sua vez, empregados e clientes
dessa fábrica.
Nos filmes, a tragédia e o sexo, só para citar dois exemplos, estão banalizados
e se transformam no elemento primordial de evasão social. Segundo os pensadores
alemães, essa distração é incentivada “de cima”, desde o poder, para desviar a
atenção da sociedade de seus verdadeiros problemas.
Na Dialética do Esclarecimento, Horkheimer e Adorno analisam o uso que Hitler
fez do rádio para consolidar o regime nazista. Os discursos do Führer chegavam a cada
lar, a cada lugar de reunião, a cada povo longínquo da Alemanha cobertos de uma
aura mística. O jazz também é criticado com dureza porque, segundo os autores,
contribui para a vulgarização da música. Também questionam a difusão radiofônica da
música clássica porque ela perde seu valor de obra de arte: uma ópera não deve ser
reproduzida entre duas publicidades.
A hora da televisão
Em 1948, George Orwell escreve 1984, uma novela em que o autor imagina um
regime político, mescla de nazismo e estalinismo, que utiliza os meios de comunicação
para dominar a sociedade, controlada pelo olho do grande irmão, o big brother.
As primeiras emissões de televisão se desenvolvem de maneira experimental
nos EUA e Europa ao longo das décadas de 20 e 30, assumindo regularidade depois da
Segunda Guerra, quando as transmissões se intensificam, tomando um impulso
inusitado.
A distração massiva já não pertencia exclusivamente ao cinema e ao rádio: a
tela televisiva era o novo ímã que atraía toda a família. Um americano médio passava
aproximadamente três horas diante da tela, ao tempo em que se incrementava a
venda de aparelhos.
A irrupção da TV nos lares modificou os hábitos de vida da sociedade. Agora, a
tela passava a ser o centro das atenções. As séries televisivas surgiam em larga
escala. Adorno já então advertia sobre a mediocridade das mensagens televisivas, que
não faziam mais do que imobilizar a sociedade e neutralizar qualquer atitude crítica.
Essas mensagens – afirmava – estavam eivadas de estereótipos, que fomentavam
uma visão parcializada da realidade imediata do mundo (a mulher tinha que ser mãe e
dona de casa; os alemães, japoneses e comunistas eram maus; os negros não tinham
que ter os mesmos direitos dos brancos, etc.).
Isto ocorria num contexto marcado pela Guerra Fria, uma época em que os
combates diretos se transferiram para outros campos de batalha (espionagem,
conflitos em países periféricos, conflitos de informação, etc.). As emissoras de rádio de
ondas curtas, que tinham a particularidade de serem captadas a grandes distâncias, se
somaram a essa disputa ideológica. Os EUA criaram a estação “A Voz da América”,
encarregada de difundir programas que exaltavam o estilo de vida de seu país (o
american way of life). Por outro lado, a União Soviética instalou a Rádio Moscou,
difusora das políticas do Kremlin.
A associação de capitais norte-americanos com produtores locais imprimiu
grande desenvolvimento à televisão na América Latina (por exemplo, a Rede Globo,
associada ao grupo Time Life) o qual permitiu o apoio da nova tecnologia e sua
incorporação imediata por parte das classes mais privilegiadas da sociedade.
O novo jornalismo foi uma das tantas inovações que a cultura e os meios de
comunicação trouxeram e experimentaram durante a década de 60 nos Estados
Unidos.
Com o estilo baseado na inclusão de diálogos, pensamentos do autor e
subjetividades impróprias da “objetividade jornalística” tradicional, esta corrente de
jornalistas enamorados da literatura e da informação revolucionou os jornais e revistas
com suas crônicas e levou os meios de comunicação a revitalizar seus conteúdos.
A Sangue Frio, de Truman Capote, pode ser considerada a pioneira das novelas
de não-ficção. Nela, o autor reconstrói a história verídica de uma família de um vilarejo
WWW.APOSTILADOS.NET
do Texas que havia sido massacrada por dois jovens sem outras aspirações além de
conseguir dinheiro para viajar ao México.
Capote foi à vila em que se sucederam os fatos e entrevistou os protagonistas
com o propósito de escrever um artigo para a revista The New Yorker. Anos depois,
em 1965, publicou o livro com a investigação, num estilo sedutor. Essa tendência
dessacralizou a literatura, fundindo-a com o jornalismo, considerado por alguns
escritores como “um filho bastardo das letras”.
Da mesma forma, no campo das artes plásticas, a pop-art desmistificou a
produção artística incorporando-a à cultura de massas. Este movimento que se
desenvolveu nos anos 60 teve entre seus representantes mais criativos Roy
Lichtenstein e Andy Warhol. A irreverência e a apropriação de elementos da cultura de
massas foram duas características dessa corrente. A idéia era criar obras de arte por
meio de objetos de uso corrente e da publicidade. Esses objetos triviais dispostos
adequadamente atraíram a atenção do público, que viu neles uma “crítica do mundo
consumista”.
se mantêm em posições fixas”, escreveu. “O que se move e vai além dos limites é um
delinqüente e um belicoso”.
O meio é a mensagem?
Com a fama obtida graças a seus livros anteriores, McLuhan voltou a inquietar
os âmbitos acadêmicos e publicou O meio é a mensagem – um inventário de efeitos
(1967), em que advoga a sua teoria a partir da frase do título: “o meio é a
mensagem”.
McLuhan, um amante dos jogos de palavras e de aforismos, colocou em ação
nessa nova obra a sua imaginação. O termo inglês para “mensagem” é massage, que,
por sua vez, encerra outras duas palavras, mass (massivo) e age (idade).
Ao afirmar que “o meio é a mensagem”, diz que não importa o que se diz, mas
de onde se faz o discurso. Sempre prevalecerá a forma sobre o conteúdo. Estabelece
que “meio” é qualquer uma das novas tecnologias comunicacionais. Considera que os
elementos técnicos constituem extensões do corpo humano – como se fossem
próteses. Assim, o telefone seria a extensão da orelha e da boca, os veículos
automotores seriam extensões das pernas e as telas televisivas a extensão dos olhos.
Além do mais, amplia o conceito de “mensagem”. Para ele, ela é mais do que a
informação propriamente dita; está vinculada à transformação que produz esse meio
na sociedade moderna, caracterizada pelo consumo de todo tipo de produtos. Eco, no
ensaio Para uma guerrilha semiológica (1967), questiona a afirmação de McLuhan e
critica que confunda o termo “meio” com outros componentes da comunicação como o
canal (o telefone) pelo qual circula a mensagem ou o código (idioma) que se emprega
entre os participantes.
Umberto Eco reivindica o poder das pessoas para “decodificar” de maneira
diferente as mensagens que recebem. Coloca o exemplo de um chefe canibal que
numa história em quadrinhos encontra um relógio de mesa e o coloca no colo. Assim
como o indígena dá ao relógio uma função que não é a habitual (não é melhor nem
pior), também as pessoas recebem as mensagens de diferentes maneiras. “O meio não
é a mensagem, mas a mensagem depende do código”, sustenta Eco.
Para alcançar uma “recepção crítica”, Eco propõe uma estratégia de “guerrilha”
que atue em relação aos meios massivos. Para o semiólogo italiano, a batalha não se
deve dar onde se origina a mensagem, mas no espaço dos receptores.
O império da imagem
mediação como a instância “desde onde” o público dos meios produz e se apropria do
significado e do sentido do processo comunicativo.
Segundo Barbero, é preciso levar em conta a realidade cultural complexa, a
“mestiçagem”, quando se analisam práticas e expressões culturais, inclusive estudos
de telenovelas. Sustenta que telenovelas podem ser recebidas diferentemente se a
recepção se dá na Dinamarca ou no Brasil, porque a competência de decodificação é
diferente nesses dois países.
Afirma ainda que devemos estender o estudo da comunicação para além dos
meios. O importante é deslocar-se para o cotidiano e aí estudar como as pessoas se
comunicam. Diz que é necessário estudar “os processos de comunicação que
acontecem na praça, no mercado, no cemitério, nas festas, nos ritos religiosos...”.
Defende a necessidade de uma teoria que não se restrinja ao problema da informação
(pois a informação já se tornou capital, mercadoria). Segundo ele, se analisarmos os
processos comunicativos numa festa, num baile, num sacramento religioso, fica difícil
explicitar o emissor, o receptor, a mensagem. O comunicacional nestas práticas vai
muito além das explicações da teoria da informação. “Falar de comunicação é falar de
práticas sociais e se quisermos responder a todas as perguntas devemos repensar a
comunicação desde estas práticas”. No pensar de Barbero, a cultura constitui-se no
lugar privilegiado desde o qual se pode interpretar os fenômenos e processos de
comunicação.
Para o francês Jean-François Lyotard, a idéia de realidade está no entrecruzar
das múltiplas imagens, interpretações e reconstruções que chegam aos meios e,
através deles, ao público. Isso gera o que ele denomina de “estranhamento”.
Estranhamento é, por exemplo, perceber que minha não é a única língua, mas um
dialeto entre outros. Viver nesse mundo múltiplo significa experimentar a liberdade
como oscilação contínua entre o “pertencer” e o “estranhamento”.
David Harvey fala, nesse contexto de pós-modernidade, na transformação de
conceitos. Cita como exemplo as atuais formas imateriais de dinheiro. Aplica-se na
bolsa de valores de Nova Iorque e, utilizando da rapidez e da imaterialização das
novas tecnologias, esse mesmo dinheiro pode ser transferido para o Japão – sem ir
para lá. É dinheiro virtual. É a passagem do ouro ao papel, do papel ao magnético, do
magnético ao imaterial - que representa uma mudança no conceito de tempo-espaço-
materialidade.
Nestor Garcia Canclini, antropólogo mexicano, fala do nosso tempo como o
tempo das culturas híbridas: são culturas que trazem a noção de tradição, do nativo,
do que nasceu no local, e também a noção do colonizador, aquele que veio de fora.
São culturas que trabalham nas fronteiras das diferenças, pois não possuem mais a
tradição e tampouco têm a cultura do colonizador. Está presente o mercado global de
estilos, lugares e imagens, viagens internacionais, imagens de mídia e sistemas de
comunicação globalmente interligados. Migrações, mudanças nas forças de trabalho,
adaptação do imigrante ao processo de produção urbano tecem um novo cotidiano.
Assim, as identidades se tornam desvinculadas – ou desalojadas – de tempos, lugares,
histórias e tradições e parecem flutuar livremente (Stuart Hall). Valores, desejos estão
em permanente mudança - pela velocidade – criando instabilidade de sentidos. É uma
nova complexidade.
Há, nos estudos recentes, uma revalorização do receptor. Reafirma-se a
capacidade de ouvintes, telespectadores e leitores analisarem as mensagens que
recebem dos meios massivos de comunicação e criar suas próprias idéias. Sepulta-se,
definitivamente, a Teoria Hipodérmica, que defendia a onipotência dos meios e sua
capacidade para “injetar” qualquer discurso na sociedade.
Da paleotelevisão à neotelevisão
WWW.APOSTILADOS.NET
No início dos anos 80, Umberto Eco advertiu que a televisão em seu país e, em
geral, na Europa, estava mudando. O surgimento das cadeias privadas foi um fator
determinante neste novo rumo que tomou o meio. A prolixidade, a moderação e até a
calma dos programas começou a sumir das telas para dar lugar a uma outra vida
dentro dos estúdios: desordenada, desmedida e provocativa.
Com talento criativo, Eco usa o prefixo “paleo”, que significa “velho”, “antigo”,
para dar idéia de uma TV fora de moda, da era paleolítica, ou seja, da idade da pedra.
Caracteriza-a de “paleotelevisão”. Esta, segundo ele, deu lugar à “neotelevisão”.
Num artigo sob o título “TV: a transparência perdida”, Eco analisa em
profundidade as transformações produzidas no meio, seu alcance e o papel dos
telespectadores, cujas vidas se transformam devido ao novo modo de relacionar-se
com as emissões e seus conteúdos.
A paleotelevisão se caracteriza por sua inocência e pela cobertura formal de
uma notícia. Não há palavrões e poucos escândalos, porque as mensagens sofrem o
rigor da censura. Está pensada para um público ideal, feliz, que depois de sua jornada
de trabalho encontra distração na tela. Os personagens que desfilam pela “janela
mágica” são poucos e conhecidos: apresentadores, animadores, atores, jornalistas.
A neotelevisão, ao contrário, é produto das novas tecnologias e da privatização
dos canais. É auto-referencial, a saber, fala de si mesma e não do exterior. O
espectador se reconhece nela e perde a “transparência” do contato com o mundo. Os
personagens que participam deste novo estilo são muitos, mas sua transcendência é
efêmera. Irrompem na tela vencedores de concursos que têm uma imagem televisiva,
vizinhos de um bairro que buscam a câmara para aparecer no noticiário de maior
audiência, comentaristas que se exaltam para falar de temas que desconhecem. A
neotelevisão os reúne e os faz participar da festa. Nela se atua como se a censura não
existisse. Os apresentadores abandonam a linguagem bonita e buscam “falar como o
povo”.
Essa nova televisão fala de si mesma e de sua relação com o público. O
surgimento do controle remoto instaurou um novo hábito que espanta os produtores: o
zapping.
A antiga televisão buscava alimentar e manter o mito. Não se podiam ver os
microfones “girafa”, as câmeras e os operadores e cinegrafistas. Na neotelevisão, é
tudo ao contrário.
Antes, os aplausos eram estimulados por meio de cartazes que os
colaboradores do programa mostravam ao público sentado na platéia. Tudo devia
parecer natural, ainda que os espectadores soubessem dos truques. Agora, as salvas
de palmas e os gritos são pedidos pelo próprio apresentador.
Realidade, fantasia e ficção já não são claramente distinguidos na programação.
Segundo Eco, essa interrelação dos gêneros é parte da neotelevisão. Nos programas
de entretenimento já não há somente concursos, mas também se debate a situação do
país. A verdade se mescla com a ficção. O que na paleotelevisão era um sacrilégio, na
neotelevisão se converte em hábito.
sendo antes resultado da própria natureza da comunicação social. Os seus efeitos não
são imediatos e controlados, mas algo imprevisíveis e a longo prazo.
A Espiral do Silêncio
Mudando de país, podemos viajar para a terra dos lordes e descobrir ali um
centro de estudos revolucionário – no bom sentido. Em 1957 alguns teóricos britânicos
juntaram-se em torno do Centro para Estudos Culturais Contemporâneos da
Universidade de Birmingham, na Inglaterra, para fundar uma nova corrente crítica
denominada Cultural Studies. Tinha como principais nomes Richard Hoggart, Stuart
Hall, E.P. Thompson e, sobretudo, Raymond Williams.
Seus estudos, na década de 60, vão em duas direções: 1. Análise do papel dos
meios de comunicação (sobretudo a televisão) como lugar de produção da cultura
contemporânea; 2. Análise da audiência e dos contextos de recepção (marcados pelas
relações familiares, de gênero, etc.).
No centro de Birmingham, a comunicação emergiu como um processo primordial,
porque é através dela que, segundo os intelectuais ingleses, se torna possível
interpretar a sociedade. Williams sublinhava a importância da cultura no estudo das
comunicações e que a teoria das comunicações era uma evolução necessária para
poder compreender as relações entre os indivíduos e a sociedade.
Rompem com o senso comum de que o telespectador é passivo diante do poder
“diabólico” dos meios massivos. Substituem esse conceito por audiências plurais,
consideram a recepção como o lugar onde ocorrem a negociação e a produção de
sentido.
Com Stuart Hall surge a idéia da “recepção negociada”. A “recepção negociada”
supõe que os receptores decodificam as mensagens, modificando os significados
preferenciais de acordo com seus interesses e práticas culturais. Alguns autores
afirmam que a negociação se tornou a categoria principal da análise da recepção dos
meios de comunicação, porque esse modelo leva em conta as práticas mais
freqüentes, entre a recusa e a aceitação completa. Segundo essa visão, um grupo
social negocia sua recepção a partir de sua cultura própria, com o que ela tem de
memória social específica, de conhecimentos armazenados, de grandes expectativas,
WWW.APOSTILADOS.NET
Foco na Cultura
Estudos Culturais são uma crítica especificamente britânica da cultura
contemporânea dentro do marxismo ocidental. Após o fim da Segunda Guerra, havia
um olhar, tanto nos EUA quanto entre os britânicos, sobre a volta de uma economia de
paz e a conseqüente expansão da sociedade. Um ativo e diverso contexto político
ajudou a criar as condições para um amplo debate público na Inglaterra. Naquela
época, o socialismo não era apenas historicamente fundamentado e aceito como
forma de olhar o mundo, mas também exercia uma forte influência nos debates sobre
o futuro da sociedade, especialmente entre aqueles cujos interesses políticos e buscas
acadêmicas convergiam para questões que tratavam da vida das pessoas, suas
condições sociais ou suas aspirações econômicas.
Mas nos anos 50 e princípio dos 60, a Grã-Bretanha também experimentou o
surgimento do radicalismo, agravado pela imigração e tensões raciais, inúmeros
problemas sociais, incluindo-se aí reações à ameaça de uma guerra nuclear e os
efeitos centralizadores da indústria midiática. Diante disso, a redescoberta do cidadão
comum como consumidor numa indústria cultural pós-guerra se fazia acompanhar de
uma crescente literatura crítica que buscava resgatar a vida cotidiana de indivíduos em
suas condições locais e regionais. Na tentativa de compreender e identificar esse
período histórico, surgiram muitos textos que representavam e sintetizavam as
preocupações intelectuais dessa era, entre os quais encontra Richard Hoggart com The
Uses of Literacy em 1957, Raymond Williams com The Long Revolution em 1961 e E.
P. Thompson com The Making of the English Working Class, em 1963.
A matriz de literatura, crítica literária e marxismo produziram um necessário e
conveniente contexto para se questionar atividades culturais, incluindo-se aí a
comunicação social. Tal contextualização e a localização da problemática no processo
cultural, especificamente entre os fenômenos culturais, políticos e econômicos
restabelecia a complexidade teórica e o poder descritivo à análise da comunicação e
práticas da mídia. Esses estudos literários, com sua curiosidade sobre os processos de
comunicação social – incluindo o papel da mídia - moveu-se livremente entre as
correntes intelectuais de peso, criando toda uma reflexão britânica que viria a
contribuir muito para os posteriores debates modernos e pós-modernos.
Autores como Williams, Hoggart e Thompson compartilharam um compromisso
intelectual ao estudarem a cultura britânica de forma concreta e forneceram um foco
ideológico para um debate sobre a necessidade de uma análise cultural. Introduziram
igualmente compreensão preliminar do que é cultura. Thompson, por exemplo,
procurou demonstrar como a “consciência transformada” das pessoas era resultado de
um processo cultural. O principal conceito nesses debates culturais era o de “cultura da
classe trabalhadora” (working-class culture), que entendiam como idéia coletiva
básica de onde procediam condutas, hábitos de pensamento e intenções, em contraste
com a cultura burguesa, de caráter individualista.
- Tecnologia
Para começar, o cotidiano foi invadido pela tecnologia eletrônica de massa e individual,
visando à saturação com informações, diversões e serviços. Na Era da Informática
lidamos mais com signos do que com coisas. É a ascensão do simulacro, da visão
espetacular. Satélite, antena parabólica, videocassete, fibra ótica, celular, fax, controle
remoto, PC, disc-laser, etc. possibilitam divulgar, armazenar, copiar, captar e produzir
elevado número de informações, facultando a cada indivíduo uma atuação mais ampla
do que a de mero receptor; pode tornar-se emissor, criar novos códigos e interferir na
mensagem.
- Consumismo e hedonismo
Economicamente, vivemos a fase do consumo personalizado, que busca a sedução do
indivíduo isolado, até arrebanhá-lo para sua moral hedonista – valores calcados no
prazer de usar bens e serviços. O consumo passa a ser o espaço da diferenciação. A
compulsão consumista gera o fenômeno do hedonismo, do individualismo exacerbado.
- Tempo
Antigüidade e Idade Média orientavam-se para o passado. A modernidade para o
futuro. O Pós-Modernismo tem como referência o presente, falta a crença do que pode
ser aprendido com o passado e do que pode acontecer no futuro.
WWW.APOSTILADOS.NET
- Niilismo
Dando adeus aos ideais do passado, o homem pós-moderno não vê sentido na História
e se entrega ao presente e ao prazer, ao consumo e ao individualismo. Com tanta
informação e discussão, não há mais temas relevantes, as ideologias ficaram obsoletas
e perderam o sentido, os discursos repetem o que já foi dito e ouvido. O vazio e a
redundância tomam conta das manifestações artísticas e intelectuais. Cria-se uma
expectativa pessimista, que se evidencia pela supremacia da forma sobre o conteúdo.
Não se espera mais nenhuma criação original, pois já se esgotaram todas as
possibilidades teóricas, estéticas e ideológicas.
- Perda da essência
Trata-se da destruição completa das substancialidades, o abandono do pensamento
que afirma e busca idoneidade estáveis e demarcadas.
- Simulacro
É a prevalência da imagem ao objeto, a cópia ao original, o simulacro (a reprodução
técnica) ao real. O simulacro apaga a diferença entre o real e o imaginário, ficando só
a aparência. O simulacro apresenta um mundo falso mais atraente que o verdadeiro.
- Fragmentação
O mundo não é mais um todo, com um centro. Estamos na era dos micro-espaços,
micro-poderes. O homem pós-moderno dedica-se às minorias – sexuais, raciais,
culturais – atuando nos pequenos mundos cotidianos.
- Pastiche
Na escassez de originalidade, a cultura pós-moderna busca retrabalhar velhos temas,
dar nova roupagem a antigos produtos, misturar estilos (pastiche), fazer citações. A
nostalgia – olhar saudosista que revela um passado ideal – é uma fórmula bastante
usada na moda, TV, cinema, publicidade e música.
- Tautologia
Em relação à comunicação, ela entra numa espiral delirante e tautológica, a saber,
“tautista” (neologismo criado por Sfez, formado pela contração de “tautologia” – o
“repito, logo provo”, tão atuante nos media – e “autismo”, o sistema de comunicação
surdo-mudo, isolado dos outros, à imagem do autismo patológico) [Sfez, 1988, p.13],
na qual o excesso produz exatamente a perda da informação. A comunicação –
referindo-se só a si mesma, recriando o mundo nos seus estúdios e vendendo-o como
único mundo – diz “eu sou a sociedade”. A realidade representada passa a ser a
realidade diretamente expressa. Os meios de comunicação fabricam os dados
exteriores e os eventos, até mesmo os reais nascem falsos, pois são pré-encenados
em estúdios. O tautismo que, segundo Sfez, é aquilo pelo qual uma nova realidade
chega a nós, sem distância entre o sujeito e o objeto.
- Circularidade
Os meios de comunicação funcionam como alto-falantes gerais da sociedade. As
coisas só existem quando são veiculadas pelos meios de comunicação, caso contrário
jamais teriam de fato existido. Não só retratam a realidade: criam a realidade. Não
existe mais a troca pessoal de informações e, quando há troca, o que é intercambiado
WWW.APOSTILADOS.NET
- Hipertelia
A hipertelia ocorre quando a comunicação se torna inviável por causa do excesso
de informação. Ela reproduz eternamente um único mundo, havendo uma manutenção
regular do mesmo e provocando uma indiferença em relação a ele. A abundância da
informação torna-se oposto ao estar informado. A hipertelia é a negação, o excesso, o
fim da comunicação mas não pela escassez. O jornalismo é um exemplo claro disso,
pois, embora tenha a obsessão de tudo devassar, implode os movimentos sociais pela
repetida, viciada, desgastada informação sobre o mesmo, esvaziando seu potencial
explosivo. Neutraliza tudo pela indiferença.
- Comutação
Na nova teoria da comunicação, as lógicas que se impõe são marcadas pelo
movimento, velocidade, crescimento, expansão, divisão, multiplicação. É a era do
móvel, dinâmico, do que está em permanente mutação, subdivisão, clonagem,
fractalização, espectralização e sideralização. Vive-se a relatividade total, a comutação,
a aleatoriedade e a simulação. Os acontecimentos são precedidos pelos modelos, que
compõem o quadro das cenas e dispensam a existência do original.