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DESVENDANDO VIOLÃO EXPANDIDO com MARIO DA SILVA. Direção ANAÍ


BAGNOLIN
Exibição dia 17 de agosto, das 14h as 18h na cinemateca do MAM

AS REAFINAÇÕES DA EXPANSÃO CELESTIAL por Ricardo Bravo

Meu conhecimento de pintura é pouco mais que o básico, mesmo.


Nunca me interessou conhecer o DNA da pintura, apenas as sensações que elas me
produzem; das cavernas a hoje em dia — são viagens onde me reconheço. Mas meu
susto sobre o tema foi conhecer o Picasso - não esse seu cubismo mais popular - mas
sua obra acadêmica, seus estudos; aí tudo que eu lembrava ter visto dele ganhou um
novo contorno.

Foi assim também com o amigo Barnabé, de quem só conhecia sua música
dodecafônica, “crocodílica”, até o Arrigo fazer a trilha do nosso ORIUNDI – uma
desconcertante surpresa!

Com Mario da Silva - meu mais novíssimo amigo de infância! - não está sendo
diferente. Não conheço toda sua obra, ao contrário, mal comecei mas, cada vez mais
entendo suas composições; sua leitura sonora de nós - este primata sofisticado que
somos, todos - como quando lemos um quadro, uma pintura. Ao expandir o violão, ao
ouvi-lo nesse movimento, me sinto arremessado à infância, quando dedilhava ao
piano sem buscar músicas, mas o prazer de associar as notas. Essa expansão do
violão, a frouxidão de uma e outra corda, a parceria com uma caneta BIC e suas
novas frequências e tensões são um atrevimento embasado, como Picasso fez.

As “reafinações” e, particularmente, essa percussão, me remete à sofisticada


simplificação rítmica que assisti nos anos 1980 em Nova York com o querido Naná
Vasconcelos, que acordava a criançada latente nas suas plateias adultas, fazendo do
corpo e da voz – dele e da sua audiência! - instrumentos emocionantes. A erudição
musical de Mario vaza pelos poros dessas desconstruções, desse movimento — dessa
expansão celestial.

Ricardo Bravo
Cineasta, roteirista e ator bissexto, diretor do filme ORIUNDI (2000) estrelado por
Anthony Quinn.
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CRIANDO A FLORESTA por John Schneider

“Tantos ritmos visuais e sonoros... Desvendando o Violão Expandido é um


documentário que criou realmente um encontro emocionante. As entrevistas são
absolutamente essenciais para cada momento. Tão bom ver as imagens recentes de
Arthur Kampela e Chico Mello. Os episódios deles são excelentes. Percebemos que
quando Chico Mello pega seu violão, alguma coisa mágica acontece. É quase como
se o perfume no ar mudasse. As cores que surgem são extraordinárias. De alguma
forma, chego a pensar em drogas psicodélicas dos anos 1960 e 1970. Todos nós já
vimos filmes sobre isso, em que alguém toma uma pílula e de repente o mundo se
transforma. Cores começam a aparecer, pequenos animais ganham vida. É o que o
Chico está fazendo. Eu penso sobre Villa-Lobos que disse: “Eu aprendi com
os índios, eu estava na floresta”. Chico deu um passo a mais. Ele criou sua
floresta. Percebi que o documentário cria a 'floresta' de Chico Mello e fiquei
realmente emocionado com isso.
As performances de Mario no final de cada episódio também são maravilhosas -
ótima execução, e os níveis de produção são muito altos - o som absolutamente
cristalino e evocativo.”

John Schneider, violonista americano residente em Los Angeles que trabalha com
violão microtonal. Escreveu o livro “The Contemporary Guitar”, que além de
abordar o violão e seus compositores do mundo, na sua nova edição, inclui os
compositores brasileiros Arthur Kampela e Chico Mello.
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TRANSBORDA LIMITES INSTRUMENTAIS por Orlando Fraga

Desde seu primeiro registro em CD, Mario da Silva se preocupa com a expansão e
renovação do repertório brasileiro contemporâneo para violão. No documentário
audiovisual Desvendando o Violão Expandido vai além. A eleição de um corpo de
compositores brasileiros importantíssimos internacionalmente (Chico Mello, Arthur
Kampela, Edino Krieger), além do próprio Mario (um criador poderoso) para formar
esse trabalho não tem nada de empírico. O conceito de repertório expandido não é
novo, sequer exclusivo ao violão. Mas Mario da Silva, aqui, faz um registro
consistente desse repertório. Não tenho receio em afirmar que este é o trabalho mais
importante no cenário do violão, que transborda os limites instrumentais para se
tornar a maior contribuição à música brasileira recente.
Orlando fraga - Concertista e professor de violão. Estudou no Conservatório
Universitário de Música de Montevidéu (Uruguai). Mestre pela The University of
Western Ontario (Canadá) e Doutor em Performance (D.M.A) pela Eastman School
of Music da Universidade de Rochester, NY (USA).
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ESPIRALAR por Valéria Alencar

O que pode ser maior que a ousadia, quando esta levanta a neblina densa da floresta e
revela paisagens tão concretas quanto divinas? O que pode ser maior do que o desejo
de expandir? O desejo pressupõe paixão por algo latejante que atiça os cinco sentidos
e as nove consciências, faz tremer as emoções carregadas de afetos, numa intensidade
alucinante, quebra todas as regras, sobrepondo-se a razão. O manejo dos corpos
Homem-Violão, provoca arrebatamentos! Há de afrouxar as cordas rasgadas pela luz
veloz do tempo, de sons coloridos com timbres poéticos, peitorais, viscerais, entre
dentes compondo pausas com as mãos. Quase uma prece, um rito, a evocar Deuses
adormecidos pela mesmice. Aqui, neste lugar, documentar é voltar a ser criança,
brincar seriamente com ofício de tocar a alma, o espírito.O peito sobre as ancas do
violão, viola regras e nada é em vão, como o delirante apaixonado se arrepia ao
toque, vibra staccato, transpira legato com os punhos enquanto apalpa com os dedos
e unhas o invisível. É pura leveza ouvir os sussurros e gemidos a beber de colher a
falta de ar. O amor é sinônimo de liberdade, tons imemoriais, é o Éter, a essência
perambulante, pés flutuantes em água doce. Nana neném, escuta o tilintar do artista,
faz-me nascer - acordais em acordes-ais - acorde em mim os sonhos de vagarezas,
pais, mães, tias e Terezas da minha infância. Rezo neste palco, altares uterinos, daí-
me à Luz de um parto sem dor. O artista diz “Rir de si próprio”, pois então rir é trans-
gredir, dançar o drama da vida entre o sagrado e o profano e descobrir-se em
movimento, bailar com todos os corpos para aguçar o homem antes do artista.Ping
Pong, Ping Pong, um jogo, um mito a orquestrar, florestas, aromas e lagartos!

Valéria Alencar atriz e escritora, com diversos trabalhos para cinema, teatro e tv,
participou do filme Bicho de Sete Cabeças de Laís Bodanzky, além de inúmeras
participações em telenovelas. Participou do espetáculo Residue (Pares no Lixo e no
Luxo) dirigido por Lu Grimaldi, com Mario da Silva, Rocio Infante e João Vitti.
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IMPRESSÕES DE UM LEIGO EM EXPANSÃO por João Vitti

Olhos feiticeiros desnudam o violão.


As cordas gemem, sibilam, estridam.
O corpo pensa enquanto as māos dançam gesticulando coreografias que
esculpem sons.
Nāo satisfeito, o desregrado violonista, introduz objetos em seu violão:
molas, canetas Bic, bolas de pingue-pongue e delira, por quê não?
Atrevido e irreverente, vocifera ruídos e estremece silêncios com
provocações atonais.
Mexe e remexe nas cravelhas e viola a afinaçāo das cordas na cabeça do
violão.
Ora as estica, ora as afrouxa, vislumbra timbres novos e um novo som aflora.
Inebria-se com imagens melodiosas,
evoca a memória de ancestrais instrumentos
e fixa vertigens exalando estados de ser pra atiçar a sublime e onírica
composiçāo.
Assanhado, arranha a silhueta de madeira como quem coça uma emoçāo
e batuca em tempos no tampo convicto que o movimento tem som.
Pausa.
COF-COF-COF…PESTEOU O LAGARTO
O violonista, se dá conta de que é uma extensão do seu violāo.
Violāonista é o que ele é.
Violāonistas é o que eles sāo.
.

“Desvendando o Violāo Expandido” nos aproxima de um universo mais


amplo e ilimitado, liberto, inteiro e integrado às matizes do som universal ou
da natural e destemida espontaneidade de uma criança no processo de
descoberta do novo ao mergulhar curioso no desconhecido.
Parabenizo o meu genial amigo Mario da Silva por esse registro raro,
significativo, de profundo aprendizado e, agradeço pela preciosa
oportunidade de poder desfrutar do seu conhecimento, talento e afeto pela
música e amor pelo violāo.
Evoé

João Vitti é ator formado em Artes Cênicas pela UNICAMP. Dentre inúmeros
trabalhos para TV e Teatro, também trabalhou no cinema destacando Cães
Famintos dirigido por Beto Oliveira.
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DESVENDANDO O VIOLÃO EXPANDIDO  por Ricardo Tacuchian
 
"MARIO DA SILVA é reconhecido como um dos mais importantes violonistas
brasileiros da atualidade. Sua técnica, sua audácia na escolha do repertório, e sua
integração do complexo VIOLÂO-VIOLONISTA, numa visão coreográfica e
comunicativa com o público, são únicas no panorama musical de nosso país. Sempre
irrequieto, MARIO DA SILVA lançou, em 2018 o precioso CD “Violão
Expandido”. 
A partir daí começou a gerar a ideia da produção de um vídeo, sobre o tema, ao
mesmo tempo artístico e documental. Agora, nasce a Série DESVENDANDO O
VIOLÃO EXPANDIDO, em quatro episódios, cada um com duração aproximada de
30 minutos. Portanto, trata-se de uma produção de vulto, com um mínimo de
recursos, mas com uma equipe de produção altamente criativa. E, naturalmente, com
a arte do grande violonista MARIO DA SILVA.
Os episódios apresentam o violonista expondo suas ideias sobre o violão expandido e
interpretando peças de importantes compositores brasileiros que seguiram este
caminho. A Série foi produzida por ALVARO COLLAÇO e criativamente dirigida
por ANAI BAGNOLIN, numa realização da ALVARO COLLAÇO PRODUÇÕES.
Os episódios apresentam importantes depoimentos de músicos estrangeiros e
brasileiros, como ALESSANDRO FERREIRA, CHICO MELLO, ARTHUR
KAMPELA, EDINO KRIEGER, DENISE GARCIA, FABIO ZANON, TIM
RESCALA, entre outros, e da bailarina e coreógrafa ROCIO INFANTE. Além das
incomparáveis interpretações de MARIO DA SILVA, os episódios também lançam
mão de farto material documentário, coreografias e gravações relativas ao tema. O
visual do filme, intercalando as entrevistas e as execuções, é belíssimo.
O Primeiro Episódio é um PANORAMA, onde vários violonistas discorrem sobre o
que são as técnicas expandidas e porque o violão pode ser um instrumento ideal para
elas:
O Segundo Episódio é dedicado a EDINO KRIEGER, com ênfase na obra “Ritmata”:
O Terceiro Episódio é dedicado a ARTHUR KAMPELA, com ênfase na série “Per-
cussion Study”:
O Quarto Episódio é dedicado a CHICO MELLO, com ênfase na obra “Do lado do
dedo”:
Trata-se de um Documentário que mostra um aspecto do rico panorama do violão no
Brasil, especialmente no que concerne às PRÁTICAS EXPANDIDAS. Não é uma
superprodução, mas um superdocumento, que interessa além dos violonistas, a
compositores e ao público em geral".

Ricardo Tacuchian, compositor, Doutor em Composição, foi responsável pela


implantação do Bacharelado em violão da Escola de Música da UFRJ. Possui um
vasto catálogo de obras para violão
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A NATURALIDADE DAS TÉCNICAS EXPANDIDAS por Sergio Albach

“Muito complexo comentar o documentário “Desvendando o violão expandido” sem


se emocionar e não enfatizar a grande qualidade e importância que tem esta obra,
sendo que sou amigo pessoal do Mario e de outras pessoas que participam deste
trabalho.

Aqui estão reveladas as paixões que estes artistas têm por este instrumento, o afeto, a
dedicação pela música e arte em diversos níveis: dos compositores aos intérpretes;
das coreografias as edições de imagem.

Uma das coisas que chamam a atenção, é a naturalidade com que o Mario da Silva
transita pelas ditas “técnicas expandidas”, as quais, nas mãos dele, se transformam
em música - objetivo final do artista. Esse termo cada vez mais tem perdido o sentido
pelas novas necessidades sonoras, já sendo técnicas obrigatórias de estudo para
qualquer intérprete.

Enfim, toda a concepção do trabalho tem uma coerência incrível, que além de
contextualizar as obras historicamente, mostra a experiência viva da relação
intérprete-compositor, embasando o espectador para apreciar profundamente o
resultado sonoro e visual.”

Sergio Albach, Instrumentista, arranjador e compositor curitibano, autor dos álbuns


"Clarineteando" (2010) e "Clarone no Choro" (2018). Realizou pesquisa de obras
contemporâneas para Clarone solo e também trabalhou com Chico Mello e diversas
formações. Diretor artístico da Orquestra à Base de Sopro de Curitiba e clarinetista
do grupo instrumental Mano a Mano trio.
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Por Harry Crowl

”A série de 4 programas sobre técnicas expandidas do violão transcende, em


muito, a sua proposta original. Com ênfase na obra de 3 compositores
brasileiros fundamentais para o violão, Mário da Silva apresenta os desafios
dissecados pelos próprios compositores, intérpretes musicais e/ou
performáticos de um universo tão característico do final do Séc. XX e
primeiras décadas do Séc. XXI. Além disso, mostra o quanto a contribuição
da música brasileira experimental é fundamental para o avanço da linguagem
violonística. É uma série imperdível para todos profissionais, estudantes e
amadores que tenham interesse na música para violão.”

Harry Crowl Compositor, musicólogo e professor da Escola de Música e


Belas Artes do Paraná. Desenvolveu um estilo muito pessoal de composição
com obras concebidas como um painel musical em que a maior parte das
idéias nunca é repetida. Dentre suas obras destacam-se os Concertos para
oboé e cordas e para piano e orquestra, Sicut erat in principio, para
orquestra sinfônica, Assimetrias para violão solo.

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