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Tema – Financiamento e Instrumentos de Planejamento no SUS

Projeto Pós-graduação
Curso Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família
Disciplina Planejamento e Gestão em Saúde
Financiamento e instrumentos de Planejamento no
Tema
SUS
Professor Ivana Maria Saes Busato

Introdução
Neste tema, veremos as funções da gestão, a qual cria meios que
possibilitam concretizar os princípios da organização e da política de saúde,
sendo o financiamento um desses meios.
Vamos analisar, ainda, as formas de financiamento do Sistema Único de
Saúde (SUS), e abordar os instrumentos de planejamento no SUS,
organizados no seu Sistema de Planejamento, o qual é configurado em uma
atuação contínua, articulada, integrada, ascendente e solidária das áreas de
planejamento nas três esferas de gestão do SUS (municípios, Estados e
União).
No material digital, você encontrará o vídeo de introdução deste tema
com a professora Ivana.

Problematização
Vamos contar uma passagem muito interessante retirada do livro “Cem
dias entre céu e mar”, de Amyr Klink.
Estava finalmente a mais de duzentas milhas da costa mais próxima e já
começava a pensar no futuro, numa distante ilha chamada Santa Helena, pelo
menos um mês à minha frente. À medida que ganhava distância da África,
aumentava minha confiança no barco e a certeza de que um dia deixaria para
trás a ilha onde Napoleão perdeu sua última batalha.

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Numa faixa larga, traçada dois anos antes e pintada de vermelho, estava
a minha segurança – a certeza de que o projeto era viável. Passando em suave
curva entre ilhas oceânicas e ligando a costa da Namíbia ao litoral baiano, esta
faixa indicava os limites de navegação em que deveria manter-me. Apesar da
predominância de ventos de sul e da forte tendência de deriva para o norte, o
esforço que eu fazia para me manter dentro da rota prevista era menor do que
o trabalho que tivera, ainda em terra, para definir a trajetória ideal.
Dois anos de estudo foram consumidos nesta operação, em que não
faltaram discussões apimentadas e dúvidas perturbadoras. As intermináveis
investigações em bibliotecas e tratados de navegação também. Mas o maior
problema talvez tenha sido a escassez de dados e informações a respeito do
assunto. No mar, o menor caminho entre dois pontos não é necessariamente o
mais curto, mas aquele que conta com o máximo de condições favoráveis.
Assim, mesmo um poderoso superpetroleiro é obrigado, às vezes, a desviar do
seu caminho para ganhar, em tempo e segurança, o que perde em distância.
No meu caso, tendo como única propulsão um par de remos, o estudo
de regime de ventos e correntes passava a ser fundamental. É impossível
remar vinte e quatro horas por dia. Assim, enquanto estivesse dormindo e o
barco ficasse à deriva, era importante contar com correntes, se não favorável,
pelo menos que não roubasse durante a noite o que eu ganhava, com muito
esforço, de dia. A minha rota, longa, fria e tempestuosa, contava, no entanto,
com correntes favoráveis na quase totalidade do trajeto e com preciosa
regularidade dos alísios de sudeste que unem o sul da África ao nordeste
brasileiro. Caminho difícil e longo, mas o único possível para um barquinho a
remo.
Para atravessar o mau tempo e as depressões do caminho mais longo
bastaria um barco forte e bem estudado; mas, para vencer com os braços o
fluxo contrário do caminho mais curto, nem toda a disposição do mundo seria
suficiente. Como os antigos navegadores que, com suas velas quadradas, não
podiam vencer ventos e correntes contrários e era obrigado a aceitar os rumos

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ditados pelo vento, eu me valeria, não dá força para ir contra as correntes, mas
da astúcia em saber acompanhá-las. Por esta razão, seria necessário um
especial cuidado em respeitar os limites da faixa ideal de navegação que eu
traçara.
Como você pode identificar as características de gestor nessa passagem
de Almir Klink?

Ação administrativa
A história de Lewis Carrol “Alice no País das Maravilhas”, publicada em
1865, tem maravilhado várias gerações e já foi contada de diversas maneiras
no cinema, nos quadrinhos e no teatro.
Agora, observe o diálogo a seguir, entre a Alice e o Gato, o qual aponta
uma característica essencial para o gestor em saúde: a direção estratégica,
que envolve rota, caminho e estratégias.
ALICE: Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora
daqui?
GATO: Depende bastante de onde você quer ir.
ALICE: Não me importa muito para onde.
GATO: Então não me importa que caminho tome.
ALICE: Contanto que eu chegue a algum lugar.
GATO: Oh, isso você certamente vai conseguir, desde que ande bastante.
A gestão ou ação administrativa pressupõe o desenvolvimento de um
processo que envolve as funções de planejamento, organização, direção e
controle (BRASIL, 2011 b). Os objetivos fixados para a organização mostram a
direção estratégica que se quer alcançar, e em saúde devem refletir as
necessidades da população.
O desenvolvimento da gestão em saúde exige essa direção estratégica,
necessidade da população, que é a rota (objetivo) que se quer alcançar,
traçando caminhos (meios) com elaboração de planos e planejamento, e
utilizando estratégias, pois em saúde devemos empregar o enfoque estratégico

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(análise de viabilidade).
Os gestores devem estabelecer uma postura coerente e responsável,
possibilitando a coordenação dos distintos processos de trabalho envolvidos na
atividade de prestação de serviços, além da gestão de recursos logísticos, que
são requerimentos indispensáveis para que todos os recursos sejam
direcionados ao alcance dos objetivos da organização. Nesse sentido, o gestor
deve conduzir a organização em uma rota, por meio de caminhos, utilizando as
diversas estratégias.
O planejamento ascendente tem sua base na atenção básica, que é a
porta de entrada prioritária do SUS, ou seja, a atenção básica, em especial, a
Estratégia de Saúde da Família, deve utilizar as ferramentas da vigilância em
saúde para a Análise da Situação de Saúde do território de sua
responsabilidade, priorizando as necessidades (problemas) da população para
que a equipe atue na busca de mudanças nessa realidade.
Embora o método do Planejamento Estratégico Situacional tenha sido
desenhado para ser utilizado no nível central, global, seu formato flexível
possibilita a aplicação nos níveis regionais, ou mesmo locais, sem, contudo,
deixar de situar os problemas em um contexto global mais amplo, o que
permite manter a qualidade da explicação situacional e a riqueza da análise de
viabilidade e de possibilidades de intervenção na realidade.

Financiamento do SUS
Até outubro de 1988, a saúde disputava recursos, na esfera federal, em
duas arenas distintas:

 A primeira é situada na órbita previdenciária (benefícios previdenciários,


assistência social e atenção médico-hospitalar);

 A segunda é situada no orçamento fiscal, nos programas a cargo do


Ministério da Saúde que concorriam com a educação, a justiça, os
transportes, a defesa nacional, a previdência do servidor público e
outras responsabilidades da União, inclusive os Poderes Legislativo e

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Judiciário.
Conheça a história do financiamento do SUS estudando o texto
“Financiamento público da saúde: uma história à procura de rumo”, o qual está
disponível no link: <http://cebes.com.br/site/wp-content/uploads/2014/03/
financiamento-publico-da-saude-uma-historia-a-procura-de-rumo.pdf>.
Com a Constituição Federal de 1988 foi criada a seguridade social, da
qual a saúde faz parte. A Constituição define que a seguridade social deve ser
financiada com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos municípios, e de contribuições sociais.
No artigo 194, da Constituição, a seguridade social é definida como um
“conjunto de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social”. O Plano Plurianual (PPA) e a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) – criados nessa Constituição – são, possivelmente, as
principais ferramentas introduzidas nas últimas seis décadas no campo das
finanças públicas e no planejamento governamental (BRASIL, 2011a).
A regulamentação da Constituição de 1988 para o setor de saúde é feita
por meio da Lei Orgânica de Saúde n. 8.080/90, que na parte de financiamento
do SUS afirma ser esse setor de responsabilidade das três esferas de gestão
(União, Estados e municípios), e na parte do planejamento reafirma a
necessidade de planejamento ascendente e integrado nas três esferas de
governo.
A Lei n. 8.142/90 dispõe sobre a participação da comunidade na gestão
do SUS e cria o fundo de saúde para as transferências intergovernamentais de
recursos financeiros. Essa lei também instituiu as Conferências e os Conselhos
de Saúde em cada esfera de governo para efetuar o controle social (BRASIL,
2011c).
Somente com a Emenda Constitucional (EC) n. 29, promulgada em
13 de setembro de 2000, foi possível assegurar o financiamento das ações e
dos serviços públicos de saúde, estabelecendo recursos mínimos para as três

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esferas de governo aportarem anualmente. Esses recursos são provenientes
da aplicação de percentuais das receitas para Estados e munícipios orçados
por meio de uma base de cálculo predefinida.
Além desses avanços, a EC n. 29 possibilita a intervenção da União nos
Estados, no Distrito Federal e nos municípios; e do Estado em seus municípios,
no caso da não aplicação em ações e serviços públicos de saúde do mínimo
previsto de suas receitas (BRASIL, 2011a).
A Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 322, de 8 de maio de
2003, definiu todas as diretrizes acerca da aplicação da EC n. 29, sendo a
definição da base de cálculo para computar os recursos mínimos a serem
aplicados em saúde de 12% para Estados e 15% para municípios. A Resolução
n. 322 definiu também as despesas com ações e serviços públicos de saúde
(BRASIL, 2003).
Conheça a Resolução n. 322, do Conselho Nacional da Saúde,
acessando o link: <http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_03.htm>.
A partir dessas definições, foi possível realizar outra importante
mudança no financiamento: a alocação dos recursos federais em blocos de
financiamento, estabelecidos no Pacto pela Saúde. Dessa forma, Estados e
municípios puderam ter maior autonomia para a alocação dos recursos de
acordo com as metas e prioridades estabelecidas nos Planos de Saúde.
Inicialmente, quando foi publicada a Portaria/GM n. 204, em janeiro de
2007, os blocos de financiamento federal eram cinco. Em abril de 2009, foi
publicada a Portaria/GM n. 837/09 que inseriu o Bloco de Investimentos na
Rede de Serviços de Saúde na composição desses blocos de financiamento
relativos à transferência de recursos federais para as ações e os serviços de
saúde no âmbito do SUS (BRASIL, 2011a).
Os recursos de cada bloco de financiamento devem ser aplicados
exclusivamente nas ações e nos serviços de saúde relacionados ao bloco
(BRASIL, 2007). Dessa forma, os blocos de financiamento federal foram assim
estabelecidos:

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 Atenção Básica;

 Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar;

 Vigilância em Saúde;

 Assistência Farmacêutica;

 Gestão do SUS;

 Investimentos na Rede de Serviços de Saúde.

Bloco da Atenção Básica


O Bloco da Atenção Básica é constituído por dois componentes: o Piso
da Atenção Básica (PAB) Fixo e o Piso da Atenção Básica (PAB) Variável. O
componente PAB Fixo refere-se ao financiamento de ações de atenção básica
à saúde, cujos recursos são transferidos mensalmente, de forma regular e
automática; critérios populacionais. Já os recursos do Componente PAB
Variável são transferidos do Fundo Nacional de Saúde aos Fundos de Saúde
do Distrito Federal e dos municípios mediante adesão e implementação das
ações a que se destinam, desde que constantes no respectivo Plano de Saúde.
O PAB Variável é constituído por recursos financeiros destinados ao
financiamento de estratégias realizadas no âmbito da Atenção Básica em
Saúde, como: Saúde da Família; Agentes Comunitários de Saúde; Saúde
Bucal; Compensação de Especificidades Regionais; Fator de Incentivo de
Atenção Básica aos Povos Indígenas; Incentivo para a Atenção à Saúde no
Sistema Penitenciário; Incentivo para a Atenção Integral à Saúde do
Adolescente em conflito com a lei, em regime de internação e internação
provisória. Incluem-se também:

 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf);

 Inclusão do Microscopista na Atenção Primária;

 Implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do


Homem;

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 Programa de Saúde na Escola (PSE);

 Outros que venham a ser instituídos por meio de ato normativo


específico.
Você já sabe que os dois componentes do Bloco da Atenção Básica
compõem o componente federal para o financiamento da Atenção Básica, e
que o somatório dessas partes, fixa e variável, do Piso da Atenção Básica
compõe o Teto Financeiro do Bloco da Atenção Básica de cada município.
Então, agora, vamos analisar as exigências desses componentes com a
professora Ivana. Vá até o material digital e acompanhe o vídeo!

Bloco da Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e


Hospitalar
Este bloco também é constituído por dois componentes: o Componente
Limite Financeiro MAC e o Fundo de Ações Estratégicas e Compensação
(Faec). Os recursos federais serão transferidos do Fundo Nacional de Saúde
aos Fundos de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios,
conforme a Programação Pactuada e Integrada, publicada em ato normativo
específico.
O Componente Limite Financeiro MAC servem para os procedimentos
ambulatoriais de média e alta complexidade enquanto o Componente Faec é
composto pelos recursos destinados ao financiamento dos seguintes itens:
procedimentos regulados pela Central Nacional de Regulação da Alta
Complexidade; transplantes e procedimentos vinculados; ações estratégicas ou
emergenciais de caráter temporário e implementadas com prazo predefinido;
novos procedimentos, não relacionados aos constantes da tabela vigente ou
que não possuam parâmetros para permitir a definição de limite de
financiamento, por um período de seis meses, com vistas a permitir a formação
de série histórica necessária a sua agregação ao Componente Limite
Financeiro da Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar
(BRASIL, 2007).

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Bloco da Vigilância em Saúde
O bloco de financiamento para a Vigilância em Saúde é constituído pelo
Componente da Vigilância e Promoção da Saúde e pelo Componente da
Vigilância Sanitária. Assim, os recursos de um componente podem ser
utilizados em ações do outro componente do bloco.
Os recursos desse bloco de financiamento devem ser utilizados
conforme a Programação Pactuada e Integrada e orientados pelo respectivo
Plano de Saúde. O Componente da Vigilância e Promoção da Saúde refere-se
aos recursos federais destinados às ações de vigilância, promoção, prevenção
e controle de doenças, constituído em: Piso Fixo de Vigilância e Promoção da
Saúde (PFVPS) e Piso Variável de Vigilância e Promoção da Saúde (PVVPS).

Bloco da Assistência Farmacêutica


O bloco de financiamento da Assistência Farmacêutica é constituído por
três componentes: o Básico da Assistência Farmacêutica, o Estratégico da
Assistência Farmacêutica e o Especializado da Assistência Farmacêutica.
O primeiro dos componentes destina-se à aquisição de medicamentos
do elenco de Referência Nacional de Medicamentos e Insumos
Complementares para a Assistência Farmacêutica na Atenção Básica.
O segundo destina-se ao financiamento de ações de assistência
farmacêutica dos seguintes programas de saúde estratégicos: controle de
endemias – tuberculose, hanseníase, malária, leishmaniose, chagas e outras
doenças endêmicas de abrangência nacional ou regional –, antirretrovirais do
programa DST/Aids; sangue e hemoderivados; imunobiológicos; combate ao
tabagismo; e alimentação e nutrição (BRASIL, 2007).
Já o terceiro deles é uma estratégia de acesso a medicamentos no
âmbito do SUS, caracterizada pela busca da garantia da integralidade do
tratamento medicamentoso, em nível ambulatorial, cujas linhas de cuidado
estão definidas em Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas publicados
pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2007).

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Bloco da Gestão do SUS
O bloco de financiamento para a Gestão do SUS é constituído do
componente para a Qualificação da Gestão do SUS e do componente para a
Implantação de Ações e Serviços de Saúde.

Bloco de Investimentos na Rede de Serviços de Saúde


Este bloco é composto por recursos financeiros que serão transferidos –
mediante repasse regular e automático do Fundo Nacional de Saúde para os
Fundos de Saúde Estaduais, Municipais e do Distrito Federal – exclusivamente
para a realização de despesas de capital, por meio de apresentação de projeto
encaminhado pelo ente federativo interessado ao Ministério da Saúde.
Além disso, os projetos encaminhados ao Ministério da Saúde deverão
ser submetidos à Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para que seja avaliada
a conformidade desses projetos (BRASIL, 2007).
Leia a Portaria/GM n. 204/07 disponível neste link:
<http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2007/GM/GM-204.htm>.
A Lei Complementar n. 141/12 veio regulamentar a Constituição Federal,
estabelecendo critérios de rateio dos recursos de transferência para a saúde e
as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas
três esferas de governo. O Poder Legislativo – diretamente ou com o auxílio
dos Tribunais de Contas –, o Sistema de Auditoria do SUS, o Órgão de
Controle Interno e o Conselho de Saúde de cada ente da federação são órgãos
fiscalizadores do SUS (BRASIL, 2012).
Essa Lei Complementar também determina que o Ministério da Saúde
mantenha o Sistema de Registro Eletrônico centralizado nas informações de
saúde referentes aos orçamentos públicos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos municípios, incluindo sua execução e garantido o acesso público
às informações por meio do Sistema de Informação sobre Orçamento Público
em Saúde (Siops).
Novas posturas e obrigações são impostas aos gestores de saúde por

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meio da Lei Complementar n. 141/12. Por isso, cada órgão fiscalizador possui
uma responsabilidade no papel de fiscalizar o cumprimento das
responsabilidades de cada ente federado dentro do SUS, sendo importante à
sociedade o Sistema de Informação sobre Orçamento Público em Saúde.
Vamos conhecer melhor esses órgãos fiscalizadores e o Siops
assistindo ao vídeo da professora Ivana. O vídeo encontra-se no material
digital, não perca!

Instrumentos de planejamento
A Constituição Federal de 1988 trouxe inovações importantes no
planejamento da saúde materializado nas Leis do Orçamento Público:

 A Lei Orçamentária Anual (LOA): é o plano de trabalho para o


exercício a que se refere, expresso por um conjunto de ações a realizar,
a fim de atender às demandas da sociedade e indicar os recursos
necessários à sua execução;

 A Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO): é um instrumento


intermediário entre o PPA e a LOA, antecipando as diretrizes, as
prioridades de gastos, as normas e os parâmetros que devem orientar a
elaboração do Projeto de Lei Orçamentária para o exercício seguinte;

 O Plano Plurianual (PPA): é um instrumento de planejamento de amplo


alcance, cuja finalidade é estabelecer os programas e as metas
governamentais de longo prazo. Atualmente, sua vigência é de 4 anos e
uma das suas características é a regionalização, pois serve de
instrumento para diminuir as desigualdades entre as diferentes regiões.
O Decreto Presidencial n. 7.508/2011 regulamentou a Lei Federal
n. 8.080/90 colocando a importância de regular a estrutura organizativa do
SUS, o planejamento de saúde, a assistência à saúde e a articulação
interfederativa tão necessários à consolidação e melhoria permanente do SUS.
O processo de planejamento da saúde é ascendente e integrado, do nível local

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ao federal, ouvidos os respectivos Conselhos de Saúde, compatibilizando-se as
necessidades das políticas de saúde com a disponibilidade de recursos
financeiros (BRASIL, 2011d).
Importante: o princípio de territorialização do SUS é imprescindível para
o planejamento em saúde.
Alguns conceitos de regionalização foram recentemente atualizados pelo
Decreto Presidencial n. 7.508/2011, o qual regulamentou a Lei Federal
n. 8.080/90 dispondo sobre a organização do SUS nos aspectos da assistência
à saúde e à articulação interfederativa. Dessa maneira, definiu-se Região de
Saúde como espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de
municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e
sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes
compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a
execução de ações e serviços de saúde (BRASIL, 2011d).
Conheça o Decreto n. 7.508/11 na íntegra acessando este link:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7508.htm>.
O Decreto n. 7.508/11 instituiu o Contrato Organizativo da Ação Pública
da Saúde (Coap), substituindo o Termo de Compromisso de Gestão (Pacto
pela Saúde). Tal contrato é um instrumento de planejamento importante,
definido como um acordo de colaboração firmado entre entes federativos, com
a finalidade de organizar e integrar as ações e os serviços de saúde na rede
regionalizada e hierarquizada, com sentido de responsabilidades, indicadores e
metas de saúde, critérios de avaliação de desempenho, recursos financeiros
que serão disponibilizados, forma de controle e fiscalização de sua execução e
demais elementos necessários à implementação integrada das ações e dos
serviços de saúde (BRASIL, 2011d).
Nesse contexto, o planejamento e o financiamento do SUS integram-se
para o estabelecimento do Coap entre os entes federativos, o qual deve
abranger as prioridades e diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde,
bem como os respectivos Estados, e as prioridades de cada município,

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emanadas das necessidades e da análise situacional.
Para o triênio de 2013 a 2015, o Coap foi estabelecido na CIT, já as
diretrizes e prioridades da União são estabelecidas na Resolução n. 5, de 19
de junho de 2013.
Conheça as prioridades e diretrizes para 2013–2015 com relação ao
fortalecimento do planejamento do SUS e à implementação do Coap no link:
<http://portalweb04.saude.gov.br/sispacto/Resolucao_Indicadores_2013_2015.
pdf >.
A Portaria n. 2.135, de 25 de setembro de 2013, estabeleceu diretrizes
para o processo de planejamento no âmbito do SUS, e reafirmou a
compatibilização entre os instrumentos de planejamento da saúde (Plano de
Saúde e respectivas Programações Anuais, Relatório de Gestão) e os
instrumentos de planejamento e orçamento de governo, que são: o Plano
Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei
Orçamentária Anual (LOA), em cada esfera de gestão (BRASIL, 2013).
Atenção: o Plano de Saúde, as respectivas Programações Anuais e o
Relatório de Gestão interligam-se sequencialmente compondo um processo
cíclico de planejamento.
O Plano de Saúde norteia a elaboração do planejamento e orçamento do
governo no tocante à saúde, como instrumento central de planejamento para
definição e implementação de todas as iniciativas de cada esfera da gestão do
SUS para o período de 4 anos. Além disso, explicita os compromissos do
governo para o setor de saúde e reflete, a partir da análise situacional, as
necessidades de saúde da população e as peculiaridades próprias de cada
esfera (BRASIL, 2013).
Leia a Portaria n. 2.135/13, a qual está disponível no link: <http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2135_25_09_2013.html>.
Portanto, o Plano de Saúde é a base para a execução, o
acompanhamento, a avaliação da gestão do sistema de saúde e contempla
todas as áreas de atenção à saúde, de modo a garantir a integralidade dessa

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atenção, devendo, ainda, acompanhar os prazos do PPA, conforme definido
nas Leis Orgânicas dos entes federados.
O planejamento para elaboração do Plano de Saúde é orientado pelas
necessidades de saúde da população, por meio da análise situacional que
estão dentro do Mapa da Saúde, contendo:

 A estrutura do sistema de saúde;

 As redes de atenção à saúde;

 As condições sociosanitárias;

 Os fluxos de acesso;

 Os recursos financeiros;

 A gestão do trabalho e da educação na saúde;

 A ciência, tecnologia, produção e inovação em saúde e gestão;

 A definição das diretrizes, dos objetivos, das metas e dos indicadores;

 O processo de monitoramento e avaliação.


A transparência e a visibilidade devem ser asseguradas mediante
incentivo à participação popular e à realização de audiências públicas, durante
o processo de elaboração e discussão do Plano de Saúde. O Plano de Saúde
deverá considerar as diretrizes definidas pelos Conselhos e pelas Conferências
de Saúde e deve ser submetido à apreciação e aprovação do Conselho de
Saúde respectivo, além de ser disponibilizado em meio eletrônico no Sistema
de Apoio ao Relatório de Gestão (Sargsus).
Para conhecer o site do Sargsus, acesse o link:
<www.saude.gov.br/sargsus>.
A Programação Anual de Saúde (PAS) é o instrumento que
operacionaliza as intenções expressas no Plano de Saúde e tem por objetivo
anualizar as metas do Plano de Saúde e prever a alocação dos recursos
orçamentários a serem executados.
Para Estados e municípios, a PAS deverá conter:

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I. A definição das ações que, no ano específico, garantirão o alcance
dos objetivos e o cumprimento das metas do Plano de Saúde;
II. A identificação dos indicadores que serão utilizados para o
monitoramento da PAS;
III. A previsão da alocação dos recursos orçamentários necessários ao
cumprimento da PAS.
O Relatório de Gestão é o instrumento de gestão com elaboração anual
que permite ao gestor apresentar os resultados alcançados com a execução da
PAS e orientar eventuais redirecionamentos que se fizerem necessários no
Plano de Saúde. Esse relatório contemplará os seguintes itens:

 As diretrizes, os objetivos e os indicadores do plano de saúde;

 As metas da PAS previstas e executadas;

 A análise da execução orçamentária;

 As recomendações necessárias, incluindo eventuais redirecionamentos


do plano de saúde.
Observação: os entes federados que assinarem o Coap deverão inserir
seção específica relativa aos compromissos assumidos e executados.
O Relatório de Gestão deve ser enviado ao respectivo Conselho de
Saúde até o dia 30 de março do ano seguinte ao da execução financeira,
cabendo ao Conselho emitir parecer conclusivo, por meio do Sargsus. O
Relatório Detalhado do Quadrimestre Anterior é um instrumento de
monitoramento e acompanhamento da execução da PAS e deve ser
apresentado pelo gestor do SUS até o final dos meses de maio, setembro e
fevereiro, em audiência pública na Casa Legislativa do respectivo ente da
Federação (BRASIL, 2013).
Atenção: esse relatório observará o modelo padronizado previsto na
Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 459, de 2012.
Saiba mais acerca da Resolução do Conselho Nacional de Saúde
n. 459/12 acessando o link: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/

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2012/res0459_10_10_2012.html>.

Revendo a problematização
Você se lembra da passagem retirada do livro “Cem dias entre o céu e
mar”, de Amyr Klink, apresentada no início deste tema? E da pergunta que foi
feita com relação a esse texto?
Vamos, então, responder ao questionamento.
Opção 1: Tenho certeza de que Almir Klink fez um grande planejamento
para efetuar a travessia e chegar no objetivo (rota), viabilizando o caminho
(meios), mas não consegui analisar se ele utilizou o enfoque estratégico.
Feedback 1: Sua percepção é muito boa, pense como um gestor que
deve coordenar uma organização, de fato Almir Klink estabeleceu a rota
(objetivo) e traçou um caminho (meios). O enfoque estratégico deve-se ao fato
de considerar que ele não pode controlar todas as variáveis, e que seu
caminho pode ser alterado a qualquer corrente marítima, ou vento, ou a falta de
vento, portanto, o enfoque estratégico vem da aceitação de que as realidades
se alteram a qualquer momento.
Opção 2: Tenho dificuldade de identificar qualquer relação entre essa
passagem de Almir Klink e a atividade de gestor.
Feedback 2: Algumas vezes temos um texto para ler e prestamos mais
atenção no enredo da história do que no conteúdo que podemos extrair, releia
o texto prestando atenção nos seguintes pontos: como gestor, Almir Klink,
precisou realizar o plano de fazer a travessia do Atlântico em um barco a remo,
para isso, ele tinha uma rota (objetivo) e precisou realizar vários planejamentos
para traçar o caminho, contudo, sempre com o enfoque estratégico, visto que
não podia controlar todas as variáveis. Essa é a realidade de gestores, em
especial na área da saúde.
Opção 3: Percebo que Almir Klink elaborou um plano, pois como gestor
estabeleceu a rota e traçou o caminho, utilizando o enfoque estratégico.
Feedback 3: Sua análise sobre essa passagem foi excelente. Ao ser

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gestor de qualquer atividade, você necessita do conhecimento do objetivo da
organização ou da direção estratégica para coordenar a direção de uma rota
(aonde se quer chegar, objetivo), dentro de um caminho traçado (os meios
necessários para se chegar), utilizando estratégias e optando pelo enfoque
estratégico (análise de viabilidade).

Síntese
Vimos neste tema que o financiamento é um dos principais meios que o
gestor deve conhecer e administrar. O financiamento no SUS segue os
princípios da Constituição Brasileira, da Lei Orgânica da Saúde e demais
legislações, com critérios populacionais e por adesão de estratégias
prioritárias.
Estudamos, ainda, que os instrumentos de planejamento facilitam a
elaboração de forma ascendente, permitem a ampla participação, o
monitoramento e o controle de qualquer cidadão. Por fim, vimos que a gestão
em saúde envolve coordenação da gestão de trabalho e de recursos logísticos
de modo que a empresa alcance seus objetivos.
Portanto, o principal papel do gestor é conduzir a organização dentro da
rota, do caminho traçado pelo planejamento, utilizando o enfoque estratégico.
A professora Ivana fará a síntese deste tema no vídeo que se encontra
em seu material digital. Confira!

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Referências
BRASIL. Decreto n. 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei n.
8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do
Sistema Único de Saúde (SUS), o planejamento da saúde, a assistência à
saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 2011.
_____. Lei Complementar n. 141, de 13 de janeiro de 2012. Regulamenta o
parágrafo 3º do artigo 198 da Constituição Federal para dispor sobre os valores
mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e
municípios em ações e serviços públicos de saúde; estabelece os critérios de
rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de
fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas três esferas de
governo; revoga dispositivos das Leis n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, e
8.689, de 27 de julho de 1993; e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, 2012.
_____. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 322, de 8 de maio de 2003.
Aprovar diretrizes acerca da aplicação da Emenda Constitucional n. 29, de 13
de setembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2013.
BRASIL b. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. A Gestão
Administrativa e Financeira no SUS. Brasília: Conass, 2011. 132 p. (Coleção
para Entender a Gestão do SUS, v. 8).
BRASIL c. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Sistema Único de
Saúde. Brasília: Conass, 2011. 291 p. (Coleção para Entender a Gestão do
SUS, v. 1).
BRASIL a. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. O Financiamento da
Saúde/Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília: Conass, 2011.
124 p. (Coleção para Entender a Gestão do SUS, v. 2).
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.
Departamento de Articulação Interfederativa. Caderno de Diretrizes,
Objetivos, Metas e Indicadores: 2013–2015. Brasília: Ministério da Saúde,

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2013. 156 p. (Serie Articulação Interfederativa, v. 1).
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n. 204, de 29 de janeiro de
2007. Regulamenta o financiamento e a transferência dos recursos federais
para as ações e os serviços de saúde, na forma de blocos de financiamento,
com o respectivo monitoramento e controle. Diário Oficial da União. Brasília,
DF, 2007.
KLINK, Almyr. Cem dias entre céu e mar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975,
188 p.

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Atividades
1. O papel de gestor envolve a tomada de decisão. Identifique algumas
ferramentas importantes para o desempenho de gestores e assinale a
opção correta.

a. Estabelecer uma rota, planejar o caminho (meios) e utilizar um


enfoque estratégico.

b. Fazer tudo de maneira intuitiva e por demanda.

c. Estabelecer uma rota e seguir em frente vencendo os obstáculos.

d. Enfoque estratégico somente.

2. A respeito da forma de financiamento do SUS, assinale a alternativa


certa.

a. A Vigilância em Saúde é um procedimento ambulatorial de média e


alta complexidade.

b. A Assistência Farmacêutica é um componente estratégico para o


combate ao tabagismo, à alimentação e nutrição.

c. O Faec é um financiamento das estratégias de Saúde da Família,


Agentes Comunitários de Saúde e Saúde Bucal.

d. O PAB Variável é um procedimento regulado pela Central Nacional


de Regulação da Alta Complexidade.

3. Analise as proposições a seguir que descrevem o Coap, e depois


marque a alternativa correta.

I. Substitui o Termo de Compromisso de Gestão (Pacto pela Saúde).

II. Instrumento de planejamento importante, definido como um acordo de

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colaboração firmado entre entes federativos.

III. Não tem nenhuma definição de responsabilidades na rede regionalizada


e hierarquizada.

a. Todas as proposições estão corretas.

b. Somente a proposição I está correta.

c. As proposições I e II estão corretas.

d. As proposições II e III estão corretas.

4. Acerca dos instrumentos de planejamento, assinale a alternativa


incorreta.

a. O Planejamento Anual é um planejamento para 4 anos.

b. O Plano de Saúde deve considerar o PPA e o Coap.

c. A LOA é anual e mostra a execução financeira da LDO.

d. O PPA foi instituído na Lei Orgânica de Saúde.

5. Instrumento de gestão com elaboração anual que permite ao gestor em


saúde apresentar os resultados alcançados, contendo as diretrizes, os
objetivos e os indicadores do Plano de Saúde. Esta é a definição de:

a. Relatório de Gestão.

b. Plano Plurianual.

c. LDO.

d. Coap.

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