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O cérebro e a espiritualidade

Espiritualidade, na definição de William James, médico e psicólogo norte-americano do século


XVIII, seria um “elevado sentimento que une a criatura ao criador”.
Na definição da Dra. Christina Puchalski, da Universidade George Washington, espiritualidade
seria “um aspecto da humanidade, que remete a forma como os indivíduos procuram e
expressam significado e propósito”.
Aumento dos casos de suicídio se deve, também, à perda da espiritualidade. As populações
mais ricas são as que apresentam maiores índices, uma vez que tendo suas necessidades
básicas materiais (alimento, abrigo e vestimenta) satisfeitas, falta-lhes propósito, não tendo
espiritualidade.
Assim, achando que tudo termina com a morte, a falta da espiritualidade torna-se insuportável
para o ser humano.
Viktor Frankl, psicólogo austríaco, fundador da logoterapia, sobrevivente de campos de
concentração nazistas, dizia que quando as pessoas tem um propósito, quando elas têm um
“porque”, elas conseguem suportar o “como”, as dificuldades. A espiritualidade oferece isso
para as pessoas.
As pessoas que têm espiritualidade, têm significado e propósito na vida, enfrentam com mais
facilidade as doenças, a dor e o processo do morrer.
Ainda na definição da Dra. Christina Puchalski sobre espiritualidade, ela complementa dizendo
que “é a maneira como as pessoas vivenciam sua conexão ao momento, aos outros, a
natureza, ao significante ou ao sagrado”, indicando, assim, não somente os religiosos, mas
qualquer pessoa.
Assim, devemos identificar a espiritualidade de cada paciente, identificando se ele possui uma
religião e, mesmo aqueles que são ateus ou céticos, buscar aquilo que lhes dê propósito de
vida e usar isso em seu favor.
Alguns estudiosos perceberam que pessoas que tinham uma religiosidade, uma religião, viviam
mais e adoeciam menos.
Gordon Allport fez alguns trabalhos indicando que existem dois tipos de religiosidade: a
religiosidade intrínseca e a extrínseca.
Religiosidade extrínseca seria quando as pessoas frequentam um serviço religioso
regularmente, mas aquilo não mudava suas vidas, não tinha nenhum impacto emocional,
social ou filosófico em suas vidas. Essas pessoas vão até esses serviços religiosos mais pela
convivência.
Religiosidade intrínseca seria quando as pessoas realmente são impactadas por aquilo que
vivenciam em suas religiões. Isso faz com que elas mudem a forma de ver sua vida, o mundo, a
relação delas com as pessoas.
Assim, somente o fato de frequentar um serviço religioso não diz muita coisa, mas sim isso
deve impactar de alguma maneira seu modo de ver as coisas. Se isso não impactar, terá mais
um sentido meramente social.
Deste modo, a religião é mais você com ou outros, uma questão social.
A fé pode ser definida como convicção íntima, ou seja, aquilo que você acredita; é você com
você mesmo. Tem a ver com sua cultura, com suas experiências, com aquilo que você
aprendeu, etc.
A espiritualidade seria a transcendência, aquilo que te leva além, do imediato, do material,
conforme disseram a Dra. Christina Puchalski e Willian James. As pessoas teriam a
espiritualidade como uma necessidade.
Segundo Dr. Décio, a religião é uma ferramenta, a fé uma condição e a espiritualidade uma
necessidade.
A religião sou eu com os outros, a fé sou eu comigo mesmo e a espiritualidade sou eu com
Deus.
Monismo: aqueles que acreditam que só existe a matéria, os materialistas. Sistema filosófico
segundo o qual a realidade (tudo o que existe) se reduz somente em um único princípio,
estando os seres condicionados a ele. Aquilo que atribui unidade ou singularidade a um
conceito, por exemplo, à existência. São também conhecidos como reducionistas, por
reduzirem tudo a um único princípio, que é a matéria. Para eles, a mente e a consciência
seriam um epifenômeno, um subproduto, do funcionamento do cérebro, ou seja, o cérebro
funciona, através das atividades eletroquímicas, e a mente e a consciência seriam fenômenos
colaterais a esse funcionamento.
Dr. Antônio Damásio, neurocientista português, radicado nos EUA, um dos maiores
especialista do mundo em fisiologia da memória, é um dos representantes desta linha. É dele o
livro “O erro de Descartes”.
Dualismo: é o paradigma espiritualista, que vê a mente como um metasistema (um sistema
que está ligado “a”, mas não faz parte “de”) e não como um efeito colateral do funcionamento
do cérebro. A mente estaria ligada ao cérebro, mas não faria parte do cérebro, ou seja,
funciona com ou sem o cérebro. Temos, então, a matéria (o cérebro) e a não matéria (a
inteligência, a mente, a vida, a alma, o espírito). A vida é sempre uma manifestação inteligente
sobre a matéria. Quando há vida cessa, a matéria se desorganiza. Assim, temos alguma coisa
não material que age sobre a matéria de forma inteligente, o que é conhecido com anentropia
ou entropismo negativo.
Entropia é o grau de desordem de um sistema e a vida organiza esse sistema. Já a morte,
desorganiza esse sistema.
Alguns consideram o dualismo como um paradigma pós materialista.

Sobre o livro “O erro de Descartes”, Damásio escreveu que o pensamento de Descartes,


“penso, logo existo”, estaria errado e o correto seria “existo, logo penso”.
Descartes era teologista, acreditava em Deus, e tinha uma visão dualista, um espírito e um
corpo.
Para Damásio, os sentimentos resultam de uma organização fisiológica que transformou o
cérebro em público cativo das atividades teatrais do corpo. Para ele, o coração dispara quando
vemos uma pessoa de quem gostamos, daí concluímos que estamos apaixonados, mas, na
verdade, o coração dispara porque temos um sentimento primeiro, que leva a um efeito
fisiológico. Primeiro temos os pensamentos e a sensações, para depois termos as sensações
fisiológicas.

Ian Stevenson dizia que a ciência evolui na medida dos funerais, ou seja, somente com a morte
daqueles que hoje estão trabalhando a ciência é que teremos os novos pensadores chegando.
Ainda confundimos mente com processo mental. Caso tenhamos uma lesão no cérebro que
comprometa minha capacidade de comunicação, não era ali que se encontra a capacidade de
comunicar, mas sim ali está o veículo onde eu manifesto, fisicamente, essa capacidade.
O sistema límbico é um conjunto de estrutura cerebrais que manifestam as emoções. As
amígdalas cerebrais expressam raiva, nervosismo. Caso se estimule a amígdala, tem-se
nervosismo, agitação, raiva. Mas, a questão é quem ou o que ativa a amígdala?
Assim, o processo de manifestação do cérebro, não é a mente, ou seja, a consciência e a
mente existem, independente do cérebro, mas o cérebro é quem as manifesta.
Amit Goswami é um físico quântico norte-americano e representante do dualismo, diz que a
consciência produz o cérebro, ou seja, vai contra o que Damásio disse, voltando ao
pensamento socrático (penso, logo existo). Assim temos que o cérebro obedece a mente e não
o contrário.
Nubor Orlando Facure é neurocirurgião e neurologista brasileiro, autor de muitos livros como
“Muito além dos neurônios”, diz que não há como justificar, através dos circuitos neuronais, a
nossa capacidade de aprender e criar ideias novas. A neurofisiologia nos mostra isso. Sabemos
como reagimos aos estímulos do meio, sabemos como os receptores funcionam, como os
estímulos vão até a medula, como ocorre o processamento na medula, como chega ao
cérebro, como o tálamo identifica cada informação, separando-as para as áreas corticais
especificas. A partir daí, quando chega no córtex, como isso se transforma em imagem (no
córtex occipital), som (no córtex temporal), como decidimos o que é bom ou ruim? Isso não
tem uma explicação fisiológica. Nossas experiencias sensoriais, de maneira geral, são ligadas à
experiencia que são subjetivas.
No que se apoia a ciência para mostrar que a mente e a consciência existem independente do
cérebro? Nas EQMs.
Peter Fenwick trabalhou com formas geométricas em cima dos aparelhos que ficavam nas
salas de emergência e pacientes com EQM relataram terem visto estas formas.
Essas EQMs mostram a dualidade entre cérebro/mente.
O cardiologista holandês Pim van Lommel publicou na The Lancet, em dezembro de 2001, um
trabalho sobre EQM. Ele fez um trabalho prospectivo, estudando pacientes que tiveram EQM e
os seguiu estudando.
Temos vários outros estudiosos de EQM, como Raymond Moody Jr que foi o primeiro a
descrever as EQMs; Melvin Morse, que descreveu EQMs em crianças.
Décio Iandoli Jr diz em seu livro A reencarnação como lei biológica, que quanto menor a
idade, maior a incidência de EQM, chegando a quase 80% nas crianças que apresentam morte
clínica.
Então, através dos estudos de EQM, temos que a consciência, a memória e a percepção não
estão no cérebro, uma vez que, mesmo sem o cérebro estando funcionando, os pacientes
tinham tudo isso.
Assim, se há consciência, há vida, o que nos remete ao dualismo.
Outra evidência dentro da neurociência é que a mente muda o cérebro, o que pode ser
visualizado com os aparelhos de neuroanatomia funcional, que permite ver áreas do cérebro
funcionando, conforme são ativadas.
Jeffrey Schwartz da Universidade da California, mostrou que indivíduos com TOC desenvolvem
um circuito neuronal, chamado de “circuito da teimosia”.
Deste modo, quando temos um distúrbio no circuito neuronal, o cérebro não funcionará
corretamente, não podendo se manifestar uma característica que existia antes, como falar,
lembrar, etc.
O Alzheimer provoca uma desorganização dos microtúbulos dos neurônios e isso, de algum
modo, acaba por desconectar o cérebro com a consciência, fazendo com que o paciente perca
a consciência de si mesmo.
A hipnose pode levar um paciente a produzir ferimentos espontâneos, mostrando que a mente
comanda o corpo. Outra grande evidência da mente comandando o corpo é o efeito placebo.
A epigenética também contribui com o dualismo e dois autores se destacam: Kazuo Murakami
e Bruce Lipton. Eles mostram como o meio ambiente influencia o gene dos animais.
Claude Bernard dizia que nossas células vivem dentro de um meio interno (ou mar interior) e,
ao mudar esse meio interno, as células mudam.
Kazuo Murakami no livro O código divino da vida fala que se você é otimista (positivo), você
gera alterações no meio interno que provoca a ativação de genes benéficos e a inativação de
genes maléficos. Temos, já identificados, mais de 88 oncogenes que podem ser ativados por
diversos fatores, incluindo nossa própria mente.
Candace Pert no livro Moléculas da Emoção, diz que os neurotransmissores, os
neuropeptídios e os hormônios, são mensageiros da mente para as células. Assim, aquilo que
sentimos e pensamos pode alterar nossas células e nossa economia celular e nossa fisiologia e
isso seria uma via de mão dupla, ou seja, nosso humor influencia as células bem como as
células influenciam nosso humor.
Hipócrates era dualista. Wilder Penfield, neurocientista, criador dos Homunculus sensoriais e
motores, também era dualista, assim como Charles Sherrington, médico e fisiologista; Richard
Gerber, autor do livro Medicina Vibracional; Michael Behe, autor de A caixa preta de Darwin;
Ian Stevenson, que estudou reencarnação; Jeffrey Satinover que fala sobre o cérebro
quântico; Mario Beauregard, neurocientista e autor de O cérebro espiritual; Jim Tucker,
psiquiatra, que estuda lembranças de vidas passadas, apesar de não acreditar nisso;

Nós temos que tratar o doente e não a doença, uma vez que o paradigma materialista veio
para tratar a doença e não o doente.

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