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@acamila_rocha

A ELEVAÇÃO DE PETRÓPOLIS A CATEGORIA DE CIDADE

Uma movimentação política no Rio de Janeiro percebe o crescimento vertiginoso de


Petrópolis. Na sessão de 6 de agosto de 1856, o deputado Amaro Emílio da Veiga,
apresentou à Assembléia Legislativa Provincial o seguinte projeto, que foi enviado à
Comissão de Estatística:

1856 – N º 11 T. – A Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro decreta:


Art. 1 º – Fica desde já elevada à categoria de cidade a povoação de Petrópolis, ficando-lhe
anexa a freguesia de São José do Rio Preto.
Art. 2 º – Os limites deste novo município serão aqueles que forem designados pela
presidência da província.
Art. 3º – Ficam revogadas as leis em contrário.
Sala das Sessões, em 6 de agosto de 1856.
Amaro Emílio da Veiga

O projeto foi objeto de acalorados debates. O próprio Imperador era contrário a essa
concessão por julgá-la prejudicial a Petrópolis, já que, na condição de povoado, Petrópolis
pagava oito contos de réis como imposto à Estrela e recebia como ajuda da Província cem
contos de réis ao ano, para acudir às necessidades da povoação em obras de saneamento e
utilidade pública. Por outro lado, os representantes de Estrela não aceitavam perder um
povoado tão importante.

Faz-se então um projeto pelo qual Estrela receberia como compensação pela perda do
povoado de Petrópolis, a freguesia de São Nicolau do Suruí, que seria desmembrada do
município de Magé. Face aos protestos dos representantes de Magé, o projeto foi rejeitado
pelo Presidente da Província que alegou “não poder conciliar as partes na questão de uma
compensação à Estrela”. Em conseqüência o projeto volta à Assembléia e o deputado Luís de
Almeida Brandão propõe uma emenda ao mesmo, suprimindo a palavra Petrópolis. Diante
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deste fato o Ten. Cel. Veiga faz nova modificação no projeto: Petrópolis, Valença e
Vassouras seriam elevados à categoria de cidade, não recebendo Estrela nenhuma
compensação, já que os municípios a que pertenciam Valença e Vassouras, nada receberiam.

O projeto é aprovado e é encaminhado ao Presidente da Província, Antonio Nicolau


Tolentino, para que o mesmo se pronuncie. Passam-se os dez dias regulamentares e o
presidente não se pronuncia a respeito do mesmo, nem vetando, nem aprovando. Este fato
conferia à Assembléia Legislativa Provincial o direito de mandá-lo publicar, por seu
Presidente, o que foi feito através da promulgação da Lei N º 961, de 29 de setembro de
1857, cujo teor é o seguinte:

“O comendador Francisco José Cardoso, Presidente da Assembléia Legislativa Provincial


do Rio de Janeiro. Faço saber a todos os seus habitantes que a mesma Assembléia Legislativa
Provincial decretou o seguinte:

Art. 1 º – Ficam elevadas à categoria de cidade as vilas de Valença e Vassouras e a


povoação de Petrópolis.
Art. 2 º – Anexa-se o segundo distrito da freguesia de São José do Rio Preto ao novo
município de Petrópolis, de que o presidente da província designará os limites.
Art. 3 º – São revogadas as disposições em contrário.

E porque o presidente da Província recusou sancioná-la, em conformidade do artigo 19


da carta de lei constitucional de 12 de agosto de 1834, manda a Assembléia Legislativa
Provincial a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida lei
pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém.

O Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr.

Dada no paço da Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, aos 29 de


setembro de 1857, 36 º da Independência e do Império”.
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Foram necessárias três eleições para constituir a 1 ª Câmara Municipal de Petrópolis,


já que as duas primeiras foram anuladas pelos avisos do Ministério do Império, datados de 2
de junho de 1858 e 12 de janeiro de 1859, respectivamente.

Finalmente, a 13 de março de 1859, foi eleita a 1ª Câmara, cuja posse foi realizada a 17
de junho de 1859, num prédio da Rua Paulo Barbosa, onde hoje se localiza o Edifício Rocha,
sendo a sessão presidida pelo Dr. Bernardino Alves Machado, Presidente da Municipalidade
de Estrela.

Foram empossados na ocasião os vereadores Albino José Siqueira, Francisco de Paula,


Manoel Cândido Nascimento, Augusto da Rocha Fragoso, João Batista da Silva e Ignácio
José da Silva.

Mais tarde, foram chamados os suplentes João Meyer e José Antonio da Rocha, por não
terem entrado em exercício os Drs. Thomaz José da Porciúncula e José Calazans.

O Ten. Cel. Amaro Emílio da Veiga por ter sido o candidato a vereador mais votado,
deveria ser o Presidente da Câmara, mas o ilustre militar não chegou a tomar posse porque
um aviso do Ministro da Guerra deu-o como incompatível para exercer função eletiva, por
ser um militar da ativa, sendo então empossado na presidência, como 2 º vereador mais
votado o Cel. Albino José Siqueira.

O Cel. Albino José Siqueira já havia ocupado este cargo na Vila da Estrela, onde era
comerciante e fazendeiro, sendo proprietário da Fazenda do Fragoso, na qual hospedou o
Imperador D. Pedro II e a Imperatriz D. Teresa Cristina.

POLÍTICA MUNICIPAL EM TEMPOS DE IMPÉRIO

Respaldado pela Constituição de 1824, o Poder Moderador era exercido aqui em


Petrópolis. Segundo a qual as Câmaras Municipais suas derradeiras funções judiciárias,
restringindo-as a atribuições puramente administrativas, favorecendo entretanto o
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desenvolvimento do orçamento local e das posturas municipais. Por outro lado passaram as
Câmaras a ter a seu cargo tudo que dissesse respeito à polícia e economia.

Durante o Império a Câmara Municipal de Petrópolis exerceu funções executivas e


legislativas, as primeiras por seus presidentes e as legislativas pelos demais vereadores.

Neste período, revezou-se na presidência da Câmara um grande número de vereadores,


alguns ocupando a presidência por vários mandatos (Ver relação dos presidentes da Câmara
de Petrópolis na Revista do Instituto Histórico de Petrópolis, Vol. I , 1950, p.161-16).

Organizando seu próprio Código de Posturas (1861), regulamentando serviços,


realizando atos de rotina administrativa, julgando concorrências públicas, “foi modelar, por
sua honestidade e desapego aos cargos públicos, a atuação desta Câmara, naqueles 30 anos
de regime monárquico”.

D. PEDRO II EM PETRÓPOLIS

D. Pedro II buscava em Petrópolis, o sossego e a plenitude da “serra”, o refúgio ideal


para se recuperar do desgaste de suas elevadas funções e se entregar aos estudos, à leitura,
enfim, aos trabalhos intelectuais de sua preferência. Isto fica patente nas inúmeras cartas que
escreveu a Gobineau:

“Aqui passeio a pé todas as manhãs”;


“A vida de Petrópolis agrada-me muito[…]; Aqui trabalho melhor que no Rio, apesar
dos dois passeios que faço todos os dias”;
“Devo ir, em dezembro a Petrópolis e lá ser-me-á permitido entregar-me um pouco mais
às ocupações do espírito […]”.

Sabemos que com o palácio imperial ainda em construção, D. Pedro II já frequentava


com sua família a então povoação de Petrópolis, hospedando-se na Fazenda do Córrego
Seco, então arrendada ao Major Julio Frederico Koeler.
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Já no palácio, D. Pedro II, pai extremoso, sempre preocupado com a educação de suas
filhas, encontrava tempo para assistir as lições de inglês e alemão, ministradas às princesas,
pelo Visconde de Sapucaí, Cândido José de Araujo Viana e ainda ocupar-se, ele próprio, das
explicações de física e latim às filhas.
Em seus passeios pela manhã e à tarde, comenta Fróes,
[…] o Imperador percorria a pé as ruas principais de Petrópolis, quando não penetrava
nos bairros, parando, conversando com os moradores, seus velhos conhecidos, alguns
colonos aos quais interrogava da situação e condições de vida.
É necessário enfatizar, que nosso segundo imperador sempre acompanhava com grande
interesse a evolução de Petrópolis, preocupando-se com seus problemas e fazendo tudo ao
seu alcance para ajudá-la a crescer.
Em conseqüência, visitava com freqüência alguns estabelecimentos públicos como o
hospital público, “achando-o mal situado e recomendando a transferência do mesmo para
novo edifício”. O hospital público localizava-se à Rua Bragança, hoje Roberto Silveira.
Também a Câmara Municipal, na ocasião funcionando em sua segunda sede, localizada à
Rua do Imperador, onde se demorou por cerca de uma hora, percorrendo o edifício,
examinando a biblioteca, anotando na ocasião em seu Diário: “Fui à Câmara Municipal que
infelizmente tem pouca renda”. Em 3 de fevereiro de 1849, D. Pedro II dirigiu-se a pé ao
velho cemitério para visitar o túmulo do Major Koeler. “Tocante homenagem do Monarca
aos restos mortais de um de seus mais fiéis e leais servidores”, comenta Luiz Afonso
d’Escragnolle.
Outra grande preocupação do Imperador em suas estadas na serra, dizia respeito ao
desenvolvimento da indústria da seda, tendo anotado em seu Diário “Recomendei ao
superintendente Marques Lisboa que estudasse a questão da introdução da cultura da
amoreira e a criação do bicho da seda em Petrópolis”, voltando ao assunto em outras
oportunidades. Também o Matadouro Municipal foi alvo das preocupações do Imperador,
sobre o qual escreveu: “Tem a sua verba, mas acha-se em mau estado”.
Revelando um extraordinário interesse pelas coisas do espírito, de um modo particular
pela ciência e pela educação, visitava com freqüência as escolas, com a finalidade de
conhecer o adiantamento dos alunos e prestigiar os professores. A respeito das presenças
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inesperadas do Imperador em nossas escolas, encontramos duas notícias na Tribuna de


Petrópolis, de 16 de outubro de 1927, que são realmente dignas de referência. Uma delas
refere-se a uma visita que o Imperador fez a uma escola feminina no Retiro e ao
aborrecimento do mesmo por não ter encontrado a professora, apesar de ser dia útil. A outra
refere-se ao encontro do monarca, por ocasião de sua presença em outra escola pública, com
o jovem estudante petropolitano Augusto Guilherme Meschick. Descobrindo nele, informa o
citado órgão de imprensa “especiais dotes de inteligência, encaminhou-o mais tarde aos
estudos superiores. A este ato de magnanimidade do grande monarca brasileiro deveu
Meschick, que então era tipógrafo do “Mercantil”, o seu brilhante futuro, que o levou ao
corpo docente do Colégio Pedro II, figurando nesse e em outros estabelecimentos de ensino
como uma das maiores notabilidades do magistério nacional”. nesse e em outros
estabelecimentos de ensino como uma das maiores notabilidades do magistério nacional
Preocupado com a situação das crianças órfãs ou abandonadas, procurou ampará-las com
fundações como a colônia de Santa Isabel, fundada em 1885, na Província do Rio de Janeiro.
Do mesmo modo, a Escola Doméstica de Nossa Senhora do Amparo, fundada em nossa
cidade pelo Padre Siqueira, destinada à educação de moças desamparadas, sempre mereceu
sua proteção e ajuda.
O Imperador governou o Brasil por 49 anos. Foram tempos de grandes transformações
para o nosso país. Ao todo, ele passou quarenta verões em Petrópolis e, com o fim da
Monarquia, teve que partir imediatamente para a Europa sem nunca mais poder retornar.
A ligação entre D.Pedro II e Petrópolis foi tão significativa, que o historiador Wanderley
Pinho assim se pronunciou a respeito da mesma: “Petrópolis é o Imperador. Vaga por aqui o
seu fantasma”.
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Referências Bibliográficas

LACOMBE, Américo Jacobina. A Colonização Alemã. Geopolítica dos Municípios. Rio


de Janeiro, 1957.

DORNAS FILHO, João. Figuras da Província. Vol I. Belo Horizonte: Movimento


Editorial Panorama, 1949,

NETTO, Jeronymo Ferreira Alves, História de Petrópolis. Módulo II.

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