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Título: Depressão

Subtítulo: Só quem já passou consegue entender quem está passando!


Autor: Judith Kemp

“Por que estás abatida, é minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?
Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.”

Salmo 12.5,11 e 43.5

Alma abatida e perturbada – essa é uma boa definição para depressão.


Lembro-me bem do que senti naquela fase de minha vida: isolamento, medo,
tristeza profunda, insegurança e por aí vai... Eu poderia unir minha voz e
fazer eco às palavras do salmista no salmo 42:
 As minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite (v. 3).
 Dentro de mim se me derrama a alma (v. 4).
 Um abismo chama outro abismo (v. 7).
E ele, como eu, também tinha de lidar com as pessoas que perguntavam:
“O teu Deus, onde está?”.
Existem muitas idéias falsas e preconceitos sobre a depressão. Há
pessoas que afirmam que:
 Cristão de verdade não fica deprimido.
 Depressão é um problema espiritual.
 Tomar remédio demonstra “falta de fé” de que Deus vai curar.
É interessante notar que a pessoa que escreveu os Salmos de números 42
e 43, com essas características de depressão, era um homem profundamente
dedicado ao Senhor – ele ia saltando à frente das paradas de sua época,
louvando a Deus com toda a força dos pulmões. A multidão se animava e ia
atrás dele, também cantando e bendizendo ao Deus Soberano.
Se olharmos no livro de Reis, também vamos ver que depois da grande
vitória que ocorreu no Monte Carmelo quando Deus fez cair fogo do céu, Elias
entrou em profunda depressão (1 Reis 18 e 19). Ele estava tão mal que pediu
a Deus para morrer. O Senhor, conhecendo a condição de sua alma, não o
repreendeu, mas deu-lhe água, comida, falou-lhe com voz suave e mostrou-
lhe que não estava sozinho e abandonado, a despeito de como se sentia. E ali,
deu-lhe também uma nova visão de ministério.

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Podemos tirar dessa passagem inúmeras lições e uma delas é a de que
somos corpo, alma e espírito e precisamos tratar de cada uma dessas três
áreas.

Motivos
Por que estás abatida, ó minh’alma?
Minha oração durante aquele tempo em que sofri com depressão era a
mesma do salmista:
- Por que, Senhor, por quê?
Às vezes o motivo é explicável, detectável e lógico. Por exemplo,
quando alguém passa por alguma perda significativa como a de um ente
querido, da saúde, do emprego, do casamento é praticamente esperado que
ocorra, por um período, algum tipo de depressão. Além disso, também
sabemos que o passar por traumas, abusos, rejeições durante a infância e a
adolescência podem, mais tarde, resultar em sérios problemas emocionais
(não significa que todos os terão, mas alguns sim). São conseqüências
digamos, até previsíveis de ocorrer em algum momento da vida.
No entanto, eu não tive nada desse tipo, nem no passado, nem no
presente. Minha infância foi muito feliz. Recebíamos muito amor em nosso
lar. E hoje, eu tenho a família que pedi a Deus. Naturalmente temos nossos
problemas como todos, mas nos amamos muito e corremos sempre ao Senhor
para resolver qualquer situação que nos ocorra.
Outra causa explicável é a saúde física. Sou enfermeira por profissão, e
reconheço que existem muitas causas físicas para a depressão. Há, para a
mulher, alguns momentos típicos na vida como após o nascimento de um filho,
ou durante a menopausa, em que é comum o desequilíbrio hormonal causar
algum tipo de abalo emocional, e entre eles está a depressão. Outras
possíveis causas podem ser: disfunção da tireóide, algum tipo de alergia, ou
até mesmo efeito colateral de algum remédio. A depressão em si é um
problema fisiológico, pois foi cientificamente comprovado que se trata de um
componente químico do cérebro que vai se desgastando e precisa ser
renovado.

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Pela terminologia da palavra pode-se também dizer que de-pressão
implica estar debaixo de algum tipo de pressão. E nem há como numerar a
lista de motivos que podem nos pressionar. Entre eles estão também culpa,
pecado ou fracasso.
Eu não estava sob nenhuma pressão externa, fosse do marido, das filhas,
da missão e nem de Deus. Mas eu mesma estava colocando um grande peso
sobre mim.
Fazendo um rápido retrospecto de minha vida, eu aceitei a Jesus como
meu Salvador com oito anos de idade. Aos 12 eu já queria ser missionária.
Deus me deu um marido com o mesmo desejo. Chegar ao Brasil era para mim
a realização de um sonho de muitos anos. Eu queria ser a melhor esposa, a
melhor mãe, e a melhor missionária possível. E era aí que estava o foco do
meu problema. Não que o alvo não fosse certo: o ponto é que eu não estava
conseguindo!

A descoberta da causa
“Espera em Deus, pois ainda o louvarei, meu auxílio e Deus meu” (Salmo
42.11).
Depois de um ano de sofrimento, minha depressão foi embora e, graças a
Deus, não voltou mais. Já faz 30 anos que tudo isso aconteceu. Sei que
algumas pessoas já sofrem a bem mais tempo do que eu sofri. Quero, porém,
dar esperança àqueles que talvez pensem que vão ficar doentes pelo resto de
suas vidas. Era como eu pensava em meio à minha depressão, e faz parte dos
sintomas da doença.
Durante aquele tempo em que tive depressão e buscava e esperava pela
cura, comecei a entender, pela primeira vez na vida, o significado da graça de
Deus. Ele não nos diz: “Amo você porque...”. Nem tampouco “Eu vou amar
você quando você fizer tal coisa, ou se fizer tal coisa”. Ele diz: “Eu amo
você.” Ponto final! E Ele vai além e acrescenta que nada pode nos separar do
amor que ele tem por nós (Romanos 8.38,39).
A vida cristã se inicia pela graça (Efésios 2.8-9: Porque pela graça sois
salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras
para que ninguém se glorie) e é dependente da graça que devemos continuar

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a viver. Ocorre que muitas vezes passamos a depender de nossa própria força
e a contar mais com nossas próprias habilidades do que com a graça de Deus.
Descobri, então, que é heresia dar mais ênfase naquilo que eu faço para Deus,
do que no que Deus faz por mim. Antes da minha depressão, eu servia ao
Senhor por obrigação. Agora faço por amor e posso dizer que as lições que
Deus me ensinou durante aquele período, apesar de difíceis e sofridas, foram
tão significativas que não as troco por nada deste mundo.
Eu poderia dizer muitas coisas, mas creio que o mais importante é deixar
registrado que seja qual for a causa da depressão: física, emocional ou
espiritual, uma grande dose da graça de Deus será sempre bem-vinda,
indicada e necessária.
Termino deixando aqui uma preciosa promessa que me acompanhou
durante aqueles atribulados meses:

“Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois
de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, solidificar
e fundamentar. A ele seja o domínio pelos séculos dos séculos.”
1 Pedro 5.10-11

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