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BRASILEIRA
COORDENAÇÃO EDITORIAL 21 INTRODUÇÃO DA EDIÇÃO
Karol Oliveira
PRIMEIRA EDIÇÃO EM ESPANHOL
DIREÇÃO DE ARTE 31 INTRODUÇÃO DA
Tiago Rabello
Karol Oliveira
4. QUE RELAÇÃO EXISTE ENTRE A
49
DIAGRAMAÇÃO PSICOPATOLOGIA EO DIAGNÓSTICo?
Luis Otávio Ferreira
Artes, 2021.
160p.: 21 cm. 61 6. 0 QUE Eo sOFRIMENTO PSICOPATOLÓGIC0
ISBN: 978-65-86140-50-7.
/artesaeditora
divo Íses onde
nme
encontrei
nos
a
Carmcn
Vi- ensino.
VAzquez Bandim Um
livro, masnao ape
quais cspecal
aa cserever cste
1.
gTadecinmento
escrev
stimulado
estimulado
por
ter
me
trabal rabalhos para o cspanhol tambem
mbe
meus c,
sobretu
nas mcus
aduzido
traduzido
ter cstima,
amizade
c
sua
do. por
GIANNI FRANCESETTI
0 QUE E A
PSICOPATOLOGIA?
36
Introdução da primeira edição em
espanhol
escolha; csse radical também dá origem a paixão, passivo,
todos termos que no movimento de algo
implicam
patologia,
nao provocado deliberadamente por nós e ao qual não pode-
mos resistir lacilmente. O segundo radical é psychein, o sopro
ivem
conviven
diversas e, às ve
perspectivas
STOE MUTO habita dentro e lora de nós. A partir dessa base etimologl|
ca, podemos considerar a psicopatologia como o estudo|
no qual
debatido,
999). Em geral,
1999). Em
(Civila,
demos das experiências nas quais não nos sentimos inteiramente|
dosotrimento psíquicodizedo
contrastantes
que
a
definiço que aparentasertão uma escolha e que dizem respeito a nos sentirmos vivos, ani1-
Mas essa
s, e três em particular: simples mados e em contato com o ambiente. Em uma experiência
humano.
ser t
onde
muitas
perguntas,
e
Oque éo somos, portanto, um pouco menos livres,
a psique? Como se estuda esse psicopatológica,
0 que e solri.
olri. "respirantes", menos
existentes,
sofrimento0:
de uma pstcopatologia
fenomen0 cocriad
fcn c a
2.
um
existência
pstcopatologiaminaoni.
sendo
a scr-com-0-0utro
ser-com
esta
o
duo,
humano
ma
do
toco o
indi maS O
como o
enconiraindivídua
ma 3
como
PARA QUE
uma
cntra
emerge
de
em contato com os outros. Ncste ponto. a psicopatolo-
" coma
psicon
fenomenológico-gestáltica. tanmbem bém oexistenci porque
basc do existencialismo, O e
gia
Sia
compartilha
a si
o
assunto
mcsnio
na ação
situaçào em que
ou
se seja,
encontra. Nao
SERVE ESTUDAR
homemfas natureza nào é
sua
definido a priori, a nem boa
c
como
um
dado
se vé em
Isscau, nem má, como se
Rousse:
através
vê em Hobbes,
limites e das
los limites.
através dos
PSICOPATOLOGIA?
Oser
humano emerge escolhas que
Neste sentido, a existência precede:
exercitar.
pode
Sartre. 1046).
40 1. O éa
que
psicopatologia
n segundo hugar permite reconhecer e distinguir s for
mas de sofrimento dos pacientes, o que e mportante para
valdar suas éxperiên ias "entende o que voce sente") para
encontrar os recursos necessarios para a terapta perceboo
que é necessarko nesta situaçao'). para avaliar os risCOs (sei
como que devo me preocupar) e para se orientaremn direção
RECONHECER,
nas e os nprocessos do sofrimDIS
o que é sofrer de um transtorno de pånico, de um transtorno
obsessivo-compulsivo ou de uma experiëncia psicotica, quais
te humano. O sofrimento apresenta diversas form elas são são os temas envolvidos no transtorno, quais såo os riscos e
as possibilidades, quais redes ativar para a cura. quais as dire-
em suas diferenças pessoais (polo idiográfico),
inhmtas
minguem sotre como o outro; c, aO mesmo tempo, são re pois çoes e os caminhos terapéuticos e - não por ultimo - quaisos
porque modos de
os pe limites c as reverberaçÕes pessoais do terapeuta, e um apo10
titivas (polo
nomotéti
sofrer do se indispensável para uma boa pratica clinica. Naturalmente.
sao univesais, apesar de e n c o
humano tambem tudo isso vai a fundo na singularidade irrepetivel do encon-
eSpecihcidades n0S individuos e nas diversas
fnitzs
decidiria ir ao dentista para tratar a cárie. O fato da utilização isso pareça clínica onde trabalhava,
este caso: na
Ihe contou
nelhora nao signilica que a que Jung uma mulher, já
anci , de
de um medicamento irazer uma muitos anos,
internada, havia
clinica e de
estava anamnese,
falta dessa substancia seja a causa do mal-estar (etiologia). toda a história
se tinha perdido
disso, que o medicamento interlere beneficamen- quem
mas, em vez é
a estelica
"sensação", potanto,
signihca
em grego antigo, 1750).
S Aisthesis, sentidos (Baumgarten,
estudo das causas de um transtomo dos
4 A etiologia é o ou uma doença, a
o
conhecimento
através
pateira", porque
o típico gesto
movia
dos sapateiros
Em um dado
uamente oo
continuamer
quando colocam
momento, a
direi braço
m o r r o o nos
paciente
reito, como
pregos
e um pa-
4.
sapatos.
rente distante
foi ao funeral. Jung
aquela
aproximou e lhena
se
pergur
mulher tinha sido internada
mui
QUE RELAÇÃO
sabia por que
tou se
to anos
atrás. Ele respondeu:
"NaO me lembro bem, mac
ISso, parece
EXISTE ENTRE A
uma desilusao
amorosa... ane
foi
logo depois de regiào". Mesmo que
Um sapateiro da
abandonada pelo noivo.
gesto,seu aparentemente esterea PSICOPATOLOGIA E
ninguém compreendesse
sentido, e mesmo que, depois de algum tempo
pado e sem
todos tivessem
deixado de procurar algum
significado Dara O DIAGNOSTICO?
e
um
comunicava iragmento fun.
ele, a "sapateira" guardava sotrimento naquele movimento
ede seu
damental de sua vida
do paciente, encontram-
incompreensibilidade
repetitivo. Na
do proprio paciente e -
-Se as
dificuldades de comunicação
a dihculdade
do clinico para compreender
simetricamente -
50 4. Que relação existe entre a psicopatologia e o diagnóstico 4. Que relação existe entre a psicopatologia e o diagnóstico 51
esse sentido, On.
clinico de apreender
incapacidade do
ansicdade c de pånico, mui
a nlo
transtorno de
lada (portanto, vivenc iada dissociada) da experiéncia
e
diagnostico de um modo de
c na adtlcscencia, pode es.
encontra emergir. Se algo no foi capaz de vir
frequcntes na pre-adolescenca uma
se trata de
cxpessåo individual atona, porque toi deixado de lado em
tar negligcnciando que
experiências passa
onde a superexposiÇaO
dos jOvcns ao das, só pode surgir com o tom
emocional daquilo que fot
de um campo social normalizada. Se a deixado ora de lugar. Essas ressonancias tém muito valor,
superexpo-
scm thltros e
mundo é invasiva, porquc como veremos mais adiante - frequentemente são o
esta normalizada, cntão o c
causa ansicdade
sição social quc nonto chave do processo
facilmente såo
como patológicos, com
cnquadrados terapéutico em curso
jovens a ina-
todas consequências que
as
isto comporta: a vergoha, pifercntemente do
diagnóstico, a psicopatologia fenome-
invalidaçåo das cxperiências cm um nologico-gcstallica e 0 estudo do sofrimento dá pëssoae de
dequação, a retração., a Ca lormação da sua história, cncarnada e contextual, da maneira como a vi-
momento crucial para o desenvovimento
vencia, das nuances especíticas e das diferenças de outras ex
personalidade.
periências semelhantes; dos temas e do sentido existencial
estético ou ntrinseco, é um
segundo tipo de diagnóstico.
O que traz à luz; da maneira pela qual o sofrimento emerge no
do que acontece no
conhecimento sensorial e pré-rctlexivo encontro, o que implica que também é o estudo da maneira
na capacidade de discri-
contato com o pacicntc. Bascia-se pela qual o clinico contribui para seu surgimento; do sentido,
acontece a partir das qualidades
minar sensorialmente o que do chamado relacional que contém e preserva, da intencio-
estéticas descritas pela psicologia
da Gestalt, sem necessidade
natidadedo contato que transmite ao terapeuta.A psicopa-
de controntá-lo com parâmetros e
classicações externas. E tologia requer cada vez uma nova viagem, nunca resumida
uma avaliação imediata,
sensorial, atmostérica, pré-reflexiva
em um rótulo, semprea se reinventar, que não cessa de se
pré-verbal. O terapeuta se orienta percebendo que
o emer-
e questionar, nunca acabada. Em psicopatologia, somos sem-
a valorizar qualquer coisa que
ge na situação e está disposto pre iniciantes(Callieri, 2001). A psicopatologia é. portanto,
sentir, isso emerge como um suporte fundamental para o diagnóstico extrínseco, e a
possa sentir. Ele não escolhe o que
pathos (Waldenfels. 2011; Francesetti, 2019a; 20196), ou psicopatologia fenomenológico-gestáltica é um suporte para
como sofrido, de uma dimensão que é pré-dualista, ali
seja, o diagnóstico intrínseco, pois treina o terapeuta para sentir e
onde os polos de subjetividade e objetividade ainda não se reconhecer as paisagens nas quais ele se encontra gradativa-
definiram nem se diferenciaram. A partir dai, podenm emergir mente com os pacientes.
experiências sintonizadas e empâticas vividas com o pacien-
te. Mas também podem emergir ressonâncias discordantes,
inesperadas, imprevistas, divergentes, incômodas, fora de lu-
gar. O terapeuta pode sentir algo que preferiria não sentir;
por exemplo, o paciente relata um fato doloroso e ele se irrita
ou fica entediado. O que foi sentido como fora de lugar, em
grego, atopòn, é uma ressonncia muito importante, porque,
frequentemente, éa maneira pela qual uma parte não formu-
consequência do modo, mais ou menos disluncional, de inte- já está inclinado (Roubal & Francesetti, 2020).
Tagir dos sujeitos. Na psicoterapia, o psicoterapeuta está mais
Esse paradigma é baseado na lenomenologia, que nos ensi-
comprometido do que no modelo monopessoal. Ele entra em na que o sujeito e - mutuamente - o objeto, o mundo, emer
jogo, pois é da interação com o paciente que pode emergir
um novo modo distuncional de se encontrar (e, portanto, gem de um fundo indilerenciado pré-dualista,pático, atmos-
lérico, encarnado (Francesetti, 2019a; 2019b), algo que
de
lo risco de se traumatizar novamente) ou uma maneira
que Os precede e os move. E precisamente nesse "ser movido",
56 5. Quais são as
especificidades da psicopatologia fenomenológico-gestáltica 5. Quais são as especificidades da psicopatologia fenomenológico-gestáltica
57
encontrado: um sofrimenta
sotrimento é nao como um
nesse pathòs, que o
isto é, possui aqui c agora, dentro do paciente. A teo-(
evento
uma nova
torma - é
intencionado,
a sicanalítica dos enactments (Jacobs, 1986) se aproxima,
quetende a lendéncia direciona as
transforma.
lorma, dessa
intrnnsecas-eessa da Gestalh
de certa concepçào, porém, ela permanece mais
tensoes na psicologia
Também se baseia limitada aos ienomenos comportamentais e a uma espécie de
çoes em terapia. esta demonstrou que.
1995), em como
re do psicoterapeuta ao paciente, enquanto no conceito
(Metzger,1941; Ash, de um sujeito separado de
perceptivos, a hgura de atualização existe o esperado e bem-vindo "emergir"
processos a partir de uma ori
nos
elaboração através da experiencia de amboS quando houve sofrimento
o fruto de
uma
u m objeto é
se defhne com base
e contusa, que e agora há um chamado à transformação.
indiferenciada, vaga
gem estéticos. Baseia-se,
enhm, em uma
intrínsecos e
em critérios homem se taz pela si
o
existencialista, na qual
antropologia
encontra (Sartre,
1946), não há uma natu-
se
tuação em que
e a priori
boa ou má, predeterminada,
reza humana essencial,
os limites, as potencia-
com
no aqui e agora,
mas que emerge de vida. E, ent o, uma
momento
lidades e as escolhas
deste
situacional, encarnada, intencio-
psicopatologia de campo, Essa concepção de si
estética, experiencial, existencial.
nal, recentes pesquisas
na área neu-
as
está alinhada também
com
atualizá-lo e
sessão, empurra terapeuta e o paciente para
colocá-lo em ação. Essa concepção da teoria de campo le fe-
nomenos psicopatológicos emergentes como atualizações no
fenomenológico-gestáltica 59
5. Quais são as especificidades da psicopatologia
58 5. Quais são as especificidades da psicopatologia femomenológico-gestáltica
6
0 QUE EO
SOFRIMENTO
PSICOPATOLÓGICO?
colocada no coração) sem que ela volte a estar presente (ou
sem ser um Jlashback). Esse processo é tào importante
seja,
estalt-terapia que loi escolhido como subtitulo do texto
na Gest.
pessoa que
leva alguma
coisa ao terapeuta,
periencias passadas
começar com o
uma
que ele
leva, é
necessäri0
Posner Perls (1992), são necessárias funções de apoio ao
Para entender o
é um processo comple. processo de contato. Se estas não torem suficientes, a expe-
«ter uma experiência»:
que signifhica de uma conclusão. não pode ser atravessada. Quando esta não pode ser
a t r a v e s s a r até
a chegada riencia
xo de iniciar e
vem da raiz indo-europeia atravessadae, em seguida, concluída e assimilada, permanece
etimologicamente,
Experimentar
latim empeiria), que signifi- como algo aberto, espera
à de uma concluso (os famosos as-
o
per- (da qual grego
peira e o
além.
Especialista é aquele que
passou através, suntosinacabados da Gestalt-terapia). Particularmente, quan-
ca atravessar. foca-
A Gestal-terapia analisou
o processo da experiência, do não temos apoi0 suhciente para entrentar uma situação0,
contat0. Experimentar exige necessitamos de alguém que ofereça esse apoio; mas se esse
uma
lizando a sequência de
alguém não pode dá-lo, ou se for ele mesmo a causa para que
encontrado e uma nova re-
desestruturaçãodaquilo que é
o qual integra a novi- não possa ocorrer o enfrentamento da situação, não podemos
conhguração daquele que experiencia,
dade encontrada, deixando-se
transformar por ela. No final, experiência, nem mesmo assimilá-la. Permanece
atravessar a
parte do self), um quebra-cabeça de
é assimilada (isto é, tornou-se uma memória aberta, não concluída,
a experiência
torna-se parte da memória que pode
ser recuperada quando impressóessensoriais que não tëm torma nem tormulação,
ser desconstruída Podemos cha-
relevante e pertinente, ou porque deve e
nãosãonarráveis, integráveis ou acessíveis.
modihcada, posteriormente. pela "nova novidade" encontra- má-la dé protoexperiencia. Ela permanece separada da função
da, ou porque pode ser o apoio para conhecer uma nova ex- de personalidade do sel (ou seja, não é totalmente uma parte
periência. Quando assimilada, a experiência tem uma forma integrante de mim, os tragmentos permanecem não-integra-
clara e pode ser mentalizada e suficientemente verbalizada; dos) e permanece no fundo do corpo. A função é, como
uma
a vida aproxima
a pcssoa
Ncsligaçao, é intencional: tende a tornar-se
que. quando Se desscnsibilizará presente com
prescntc, ponquc mOvimento departida. Necsse emprestar a carne para fa-
pode estar totalmente
m
Ausência é, portanto, a presença de algo que ainda não tem Darte dos limites existenciais e, mais uma vez,não é psico-
se abstém de entrar
em contato porque está dis- patologia. Não são só as experiências dolorosas que podem
forma, que aBastá-lo do presente. não ser passiveis de uma travessia: a alegria, a raiva ou o pra-
chegar, poderá
sociada do contato e, se
E
E um passado que, não sendo passado. sepresentifica. zer, se näo lorem sustentadas em um relacionamento que
um os