Você está na página 1de 3

Miranda tinha resolvido ficar em casa.

Era “aniversário”(25 anos) de morte do Elvis


e ela soube pelo Marvel (um amigo com quem rolava muita erotização e sexo nenhum),
que os caras da tv estavam prometendo o “Aloha from Hawaii via satellite”!!!!!,
pr’aquela noite.
Pra quem aprecia, esse foi ‘O show!’ do Elvis. Ele estava numa puta forma, exibia
umas armas, uns óculos, aquelas costeletas enormes (na época, não n’ O show!)...
enfim, umas coisas de cara macho pacas. E não tinha começado a empapuçar ainda, como
aconteceu logo depois.
Era dia 16 de agosto (claro!) e fazia um certo friozinho...
Ela sacou um português, que pra ocasião estava ótimo, pegou um baseado, vestiu um
pijaminha flanelado - tipo coelhinho da páscoa -, a pantufa malhadinha, seu casaco de
pelúcia branca, pra trazer um pouco de glamour a ‘O show do Rei!’e postou-se na
frente da tv.
Como a programação sempre embaça um pouco, Miranda foi bebendo e fumando, de forma
que, quando ‘O show!’começou, ela já estava um pouco bêbada e mais louca ainda e
entrou numa sintonia direta com aquela mulherada toda que assistia ‘O show!’ao vivo
em 1973, se levantou e começou a gritar quando o Rei entrou.
“Also sprach Zarathustra”(!!!!!!!)!
...
Quando ele cantou “My way” ela começou a dançar... aquele violino ... cantou
baixinho pra não atrapalhar, chorou–puta merda! - e deixou de fora a pelúcia, jogada
de qualquer forma numa das pontas do tapete peludo.
Sangue e vinho já começando a ferver.
Ela ia dançando conforme a música, come se fosse Shiva, braços pra todo lado
… Up
and up
and up …
“Thank you! You are a fantastic audience”
Oh my god! – ela soprou – love me tender, please! – ela desejou forte.
“... blue ...
... lonely ...
... love me ...”
!!! Meu deus!
Em “Johnny B. Goode” ela já latia em vez de cantar–pequenos latidinhos curtos e
agudos–uma poodle. Ela era uma poodle.
“It’s over”. It’s totally over.
Tudo isso ía acontecendo e ela cada vez mais naquela parada d’O show!”, dançando os
roquinhos “pesados” do Rei, lançou longe suas pantufinhas malhadas, seus pés a,
pelo menos, 50º, estavam livres agora–“I can’t stop loving you” too, my love –
fios de seus cabelos grudando na nuca, no pescoço e, aproveitando a ‘drum’ de
“Fever”, foi tirando seu macaquinho de flanela - tipo coelhinho da páscoa - ela de
cá “fever”, ele de lá “fever”, o suor dela escorrendo pela barriga, debaixo da
bunda, atrás da perna e ele - aaaaaahhhhhhhhhhhhh! Gostoooooooosooooooooooooo!!!!! -
se enxugando com aquele lencinho branco do pescoço, sem vergonha, e olhando e rindo
tortinho pra ela “Welcome to my world”, rebolando muito e se exibindo muito
–que vedete, meu deus que vedete!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Que tesão!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Tirou sua calcinha, molhada de suor e tesão, enxugou o próprio rosto e a lançou em
direção a sua tv mono.
De repente ele começou a falar ...
ela não sabia o que...
mas era com ela que ele falava...
... agradecia ...
... se apresentava ...
You don’t look nothing, sweet heart, ela disse, se deitou no tapete peludo, abriu
suas pernas pra ele e começou a trepar–com ela mesma, ela sabia, não estava tão
louca assim -, enquanto ele entoava aquela “American trilogy”.
Aquela marcha era ótima pra ela–freqüente, forte, crescente.
A coisa toda foi acontecendo muito rápido.
Quando ele começou a cantar baixinho, ela teve as primeiras contrações
...
Na subida épica da música ela começou a gozar e de repente todos aqueles aplausos...
Ela continuou gozando e continuou se masturbando e um gozo se encavalou no outro e
aquela onda que não terminava mais.
O Elvis, putz, o Elvis foi cantar um bis super animado, nada a ver com ela, nada a
ver com aquilo...
mas ela... unplugged dele, plugged nela mesma, já meio anestesiada na boceta, plugged
ainda, não conseguia parar e quando ele–graças a deus!–terminou aquela música
animadíssima e voltou a sorrir meio tortinho pra ela e voltou com aquele rebolado
pélvico ““I can’t help falling in love” with you ... ôôôô
IIIIII caaaaaaaaan’t heeeeeeeelp falling in love wiiiiiiith youuuuuuuuu …
yeeeeehhhhhhhh … ôôôôôôô”, ela começou a jorrar!!!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!
Jorrar!!!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!
Jorrar!!!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!
Jorrar forte. Jorrar longe. Jorrar muito.
Jorrou na tela da tv, jorrou no Elvis, jorrou nas paredes, jorrou no tapete, jorrou
nos dedões de seus pés e, quando o instrumental de“Zarathustra”começou, ela morreu
- ela morrendo em 2002, 25 anos depois dele, morrendo e ele lá, cantando pra ela em
73 (que loucura essa coisa do tempo!).
Morreu a morte do orgasmo!!!
Morreu e nem teve tempo de ver quando o Rei também se foi.
Sua tv mono ficou gritando a noite toda. Uns pastores excomungando todos os diabos
alheios... Algum filme bem babaca do Charles Bronson...
...
O que a trouxe de volta à vida, foi um refrão “ilariê” da missa do padre Marcelo.
Putz
Olhou ao redor e viu o cinzeiro com um baseado pela metade, a taça de vinho caída com
o sangue de cristo derramado, achou que era isso aí.
Ponderou se batizaria aquele padre pop pentelho e decidiu que sim.
Uma vez, numa madrugada dessas da vida, tinha um pastor tv que falava tanta merda,
que ela decidiu se masturbar pra ele. Se masturbou na frente dele, do pastor tv
(definitivamente, em algumas ocasiões, a Miranda não sabe distinguir ficção e
realidade...). Mas achou que aquela não era a hora certa, afinal, tinha ainda a
memória física do Rei, e dos jatos – meu deus! Aquilo tinha sido inédito pra
ela!!!!!
Abriu todas as janelas do apartamento, deixou entrar o ar frio da manhã daquele
domingo liiiiiiiinnnnnndooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Foi indo pro quarto, cantando “My way–ela estava apaixonada! – deixou também todas
aquelas pistas maravilhosas pra quando acordasse depois e foi dormir em sua king
size.
Sonhou com o Marvel. De alguma maneira, ele tinha a ver com isso...

FIM

2003

Miranda Ricarda

Você também pode gostar