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CONSTRUÇÃO

(1971)
Chico Buarque de Holanda Guto Leite
(Literatura Brasileira – UFRGS)
Chico Buarque (1944) [78 anos]
• Para boa parte da crítica, o maior CANCIONISTA brasileiro
de todos os tempos;
• Autor também de SETE ROMANCES (Fazenda modelo,
1974; Estorvo, 1991; Benjamin, 1995; Budapeste, 2003;
Leite derramado, 2009; Irmão alemão, 2014; e Essa gente,
2019) e QUATRO PEÇAS DE TEATRO (Roda Viva,
1967; Calabar, 1973; Gota d’água, 1975; e Ópera do
Malandro, 1978); além de outras produções mais pontuais.
• Sua produção mais recente é o LIVRO DE CONTOS Anos
de chumbo e outros contos (2021).
• Politicamente, trata-se de um ARTISTA CRÍTICO À
MODERNIZAÇÃO CONTRADITÓRIA BRASILEIRA e
de ESQUERDA.
CONTEXTO POLÍTICO
(Roberto Schwarz: “Cultura e política 1964-1969”)
1964 (março/abril): golpe militar
1965: os festivais de música retomam o vigor
1966: Chico divide o primeiro prêmio do festival de 1966
da Record.
1967: Chico na TV, no teatro, nos festivais, nos
compactos.
1968 (dezembro): AI-5 [prisão de Gil e Caetano]
1969: autoexílio na Itália.
1970: retorno ao Brasil e compacto “Apesar de você /
Desalento”, recolhem os discos.
1971: LP de Construção.
O DISCO COMO FORMA
1. Um LP é como um livro de contos em que cada
canção é autônoma, mas faz parte de um conjunto.
2. Dito isso, é bem audível a diferença entre o lado A e o
lado B do disco.
3. O disco tem um produtor, Roberto Menescal, e um
diretor musical, Magro, que também escreveu boa
parte dos arranjos (salvo os dois feitos por Duprat).
4. As canções são todas do Chico, a não ser, “Olha,
Maria”, parceria com Tom e Vinícius, “Samba de
Orly”, parceria com Vinícius e Toquinho, e “Minha
história”, que é uma versão do Chico da canção “Gesu
Bambino”, de Dalla e Pallotino.
5. O Chico já tinha 4 LPs, 3 Compactos, 4 coletâneas,
mas não era um dos maiores artistas do país, como é
hoje, com 30 discos, 7 romances, 4 peças e um livro
de contos.
“DEUS LHE PAGUE”
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Por me deixar respirar, por me deixar existir Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí" Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague Deus lhe pague

Entoação repetitiva! Uso criativo de expressão popular!

O papel do arranjo na construção do sentido!

Eu cancional coletivo? Abre o disco!


“COTIDIANO”
Todo dia ela faz tudo sempre igual E me calo com a boca de feijão
Me sacode às seis horas da manhã Seis da tarde como era de se esperar
Me sorri um sorriso pontual Ela pega e me espera no portão
E me beija com a boca de hortelã Diz que está muito louca pra beijar
Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar E me beija com a boca de paixão
E essas coisas que diz toda mulher Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Diz que está me esperando pro jantar Meia-noite ela jura eterno amor
E me beija com a boca de café E me aperta pra eu quase sufocar
Todo dia eu só penso em poder parar E me morde com a boca de pavor
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar O que a canção conta?

De novo temos o cotidiano sugerido Quem conta?


pela repetição da letra e da melodia!

E o arranjo?
“CONSTRUÇÃO”
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E cada filho seu como se fosse o único E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E atravessou a rua com seu passo tímido E se acabou no chão feito um pacote flácido
Subiu a construção como se fosse máquina Agonizou no meio do passeio público
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
[mais duas repetições]
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

Tem rima ou não tem? Recursos poéticos

O que as repetições sugerem?

Medley!
Como pode cair? (conjecturas)
• Análises poéticas das principais canções

CONSTRUÇÃO
(muito difícil haver menção a algum
aspecto musical), como a história de
“Valsinha”;
• Relação entre as músicas e o contexto
(“Samba de Orly”);
• “Minha história” como versão de uma
canção italiana;
• Relação entre duas canções, como o caso
do medley de “Deus lhe pague” e
“Construção”;
• Relação de uma canção com textos dele
mesmo ou de outro autor – intérprete do
Brasil.
• OUÇA O DISCO!!!!!!!!
CONSTRUÇÃO

OBRIGADO
Guto Leite
guto.leite82@gmail.com
@gutoleiteoficial

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