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Interfaces na Saúde Coletiva

Organizadores
Maria Lusia de Morais Belo Bezerra
Israel Gomes de Amorim Santos
Maria Betania Monteiro de Farias
Solma Lúcia Souto Maior de Araújo Baltar
Interfaces na Saúde Coletiva

Arapiraca/AL
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS COMITÊ CIENTIFICO
Reitor: Odilon Máximo de Morais Coordenadores do grupo de Trabalho
Vice-Reitor: Anderson de Almeida Barros Dra. Solma Lúcia Souto Maior de Araújo Baltar (UFAL)
Diretor da Eduneal: Renildo Ribeiro Dra. Maria Lusia de Morais Belo Bezerra (UFAL)
Ma. Maria Betania Monteiro de Farias (UFAL)
CONSELHO EDITORIAL DA EDUNEAL Dr. José Crisólogo de Sales Silva (UNEAL)
Presidente: Renildo Ribeiro Revisores Científicos
Titulares Dr. Acúrcio Catelo David (UFAL)
Professores: Dra. Cledja Soares de Amorim Castro (USJT-SP)
José Lidemberg de Sousa Lopes Dr. Ednaldo Almeida Gomes (UFAL)
João Ferreira da Silva Neto Dra. Francisca Maria Nunes da Silva (UFAL)
Luciano Henrique Gonçalves da Silva Dr. Israel Gomes de Amorim Santos (UNEAL)
Dra. Ivanise Brito da Silva (HC-UFPE)
Natan Messias de Almeida
Dr. José Crisólogo de Sales Silva (UNEAL)
Maria Francisca Oliveira Santos Dr. Kevan Guilherme Nóbrega Barbosa (CESMAC)
Márcia Janaína Lima de Souza - Sistema de Bibliotecas Ma. Mabel Alencar do Nascimento Rocha (UNEAL)
(SIBI) Ma. Maria Betania Monteiro de Farias (UFAL)
Dra. Maria Lusia de Morais Belo Bezerra (UFAL)
Suplentes Esp. Mônica Vanderlei dos Santos Bezerra (UFAL)
José Adelson Lopes Peixoto Dr. Rafael Rodrigues da Silva (UFAL)
Edel Guilherme Silva Pontes Dra. Solma Lúcia Souto Maior de Araújo Baltar (UFAL)
Maryny Dyellen Barbosa Alves Brandão Me. Victor Menezes Silva (UFAL)
Ariane Loudemila Silva de Albuquerque Revisão ortográfica e ABNT
Ahiranie Sales dos Santos Manzoni Thayná Fontan Duarte Ayres
Elisângela Dias de Carvalho Marques - Sistema de
Bibliotecas (SIBI) Capa
Marseille E. Lessa de Santana
Diagramação
Mariana Lessa

Catalogação na Fonte
I61 Interfaces na saúde coletiva / (Organizadores) Maria Lusia de Morais Belo Bezerra
... [et al.]. – Arapiraca : Eduneal, 2021.
169 p. : il. : color (e-book).

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-86680-31-7
DOI: 10.48016/GT4L1

1. Ciência da Saúde. 2. Saúde pública - doenças. 3. Epidemias. 4. Saúde coletiva.


I. Bezerra, Maria Lusia de Morais Belo, org. II. Santos, Israel Gomes de Amorim, org.
III. Farias, Maria Betania Monteiro de, org. IV. Baltar, Solma Lúcia Souto Maior de
Araújo, org. V. Encontro Científico Cultural.

CDU: 614(813.5)

Elaborada por Fernanda Lins de Lima – CRB – 4/1717

Direitos desta edição reservados à


Eduneal- Editora da Universidade Estadual de Alagoas
“Somente através das pesquisas científicas é possível conhecer as
interfaces das ciências, seus caminhos, benefícios em prol da saúde e
da humanidade.”

Solma Baltar
Sumário
Prefácio.................................................................................................... 8

Apresentação............................................................................................. 10

PARTE 1
Cenário epidemiológico de doenças e agravos em Alagoas

1. Epidemiologia e tendência temporal da esquistossomose mansoni em


municípios da 3ª Região de Saúde de Alagoas............................................ 12
Vitória Jordana Bezerra Alencar
Ádrian Cabral Silva
Andressa Cabral Silva
Dharliton Soares Gomes
Israel Gomes de Amorim Santos

2. Estruturas parasitárias em esgotos domésticos na cidade de Santana


do Ipanema........................................................................................................ 28
João Paulo Vieira Machado
Pedro Dantas Lima
Tatyane Martins Cirilo
Leticia Pereira Bezerra
Rosália Elen Santos Ramos
Israel Gomes de Amorim Santos

3. Casos de hepatites virais em Alagoas entre 2009 e 2018.........................38


Heleno Santos de Oliveira
Adenia Mirelly Santos e Silva
Lavínia Correia do Rozário Amorim
Luiza Daniely Rodrigues de Siqueira
Sthefanny Rayanna de Lima Maia
Ana Paula Rebelo Aquino Rodrigues
4. Doenças mais ocorrentes em dois Programas de Saúde da Família (PSF) em
Santana do Ipanema, Alagoas ...................................................................50
Dalton Ferreira Matos
Maria Lorena da Silva
Thaywisson Kennedy Pereira de Morais
Maria Lindenalva dos Santos Feitoza
Wandklebson Silva da Paz

5. Internações hospitalares de crianças com pneumonia no estado de Alagoas,


entre 2015 a 2019......................................................................................62

Suian Sávia Nunes Santos


Joyce Kelly da Silva
Sarah Cardoso de Albuquerque
Vanessa Mirtiany Freire dos Santos
Lucas Kayzan Barbosa da Silva
Ana Caroline Melo dos Santos

6. Perfil dos autores de violência sexual contra mulheres em Alagoas entre 2009
e 2017......................................................................................................... 72

Lázaro Heleno Santos de Oliveira


Joicielly França Bispo
Ellen Beatriz Moura Barbosa
Adenia Mirelly Santos e Silva
Maria Tereza Nascimento de Lima
Alba Maria Bonfim de França

7. Aspectos sociodemográficos, clínico-epidemiológicos e tendência temporal


(2001-2019) da coinfecção por tuberculose e HIV no estado de Alagoas,
Brasil.........................................................................................................83

Wandklebson Silva da Paz


Dalton Ferreira Matos

PARTE II
Revisão da literatura como caminho metodológico para investigação de doenças
recorrentes

8. Adesão ao tratamento da tuberculose pela população privada de liberdade:


uma revisão integrativa da literatura......................................................... 97
Lana Delly Vieira Leite do Nascimento
Willians Emanuel da Silva Melo
9. Polimorfismos de nucleotídeo simples no gene NRAMP1/SLC11A1 ao risco
de suscetibilidade para a tuberculose.......................................................113
Karolayne Silva Souza
Kátia Cilene da Silva Félix
Nelson Carvas Júnior
Rafaell Batista Pereira
Milena Roberta Freire da Silva
Flávia Steffany Leite Miranda

10. Atuação dos profissionais da saúde no combate à sífilis: uma revisão


integrativa de literatura........................................................................... 129
Neusa Loíse Nunes Albuquerque
Ana Esthefani da Silva
Maria Lusia de Morais Belo Bezerra

11. Lesões dermatológicas e orais decorrentes da COVID-19.................... 142


Williams Alexandre Dutra Filho
Leandro Alcantara

12. Aspectos históricos do vírus influenza: uma revisão literária............. 150


Ellen Beatriz Moura Barbosa
Lavínia Correia do Rozário Amorim
Lizandra Kelly Alves da Silva
Joicielly Franca Bispo
Joyce Nayara Duarte da Silva
Ana Paula Rebelo Aquino Rodrigues

13. A epidemiologia da AIDS e a infecção pelo HIV: uma revisão integrativa.158


Sthefanny Rayanna de Lima Maia
Lizandra Kelly Alves da Silva
Flavia Cristina Melo de Souza
Evylee Hadassa Barbosa Silva
Alice de Moraes Marinho
Alba Maria Bomfim de França
Prefácio

O
reconhecimento da realidade de doenças e agravos de uma população, considerando
os seus vários aspectos, não apenas para evitá-los, mas, sobretudo, para buscar
melhores condições para a manutenção e melhoria da qualidade da saúde, são alvos
constantes da saúde coletiva. Esse campo utiliza múltiplas ferramentas, como os estudos
epidemiológicos, e, na construção de seus conhecimentos, permeiam reflexões baseadas em
múltiplos olhares.
Para uma melhor compreensão e clareza na exposição dos capítulos do e-book
Interfaces na Saúde Coletiva, esta obra foi organizada em duas seções: a primeira
apresenta trabalhos epidemiológicos que foram realizados a partir do levantamento de dados
de situações de saúde no território alagoano, e a segunda seção, por trabalhos de revisão
sistematizada da literatura para investigação de problemas relacionados à saúde pública
brasileira. Para organização de cada seção, considerou-se a natureza do agente etiológico e/
ou a situação de saúde investigada.
Neste sentido, os capítulos 1, 2 e 3 tratam da epidemiologia de doenças provocadas
por parasitas e vírus. No capítulo 1, os leitores conhecerão a situação epidemiológica da
esquistossomose mansoni em municípios da 3ª região de saúde de Alagoas. No capítulo 2,
é apresentada a ocorrência de estruturas parasitárias em esgoto de uma cidade do sertão
alagoano, onde os autores discutem a relevância do saneamento na prevenção deste tipo de
contaminação. O capítulo 3, por sua vez, traz importante contribuição no entendimento da
situação epidemiológica das hepatites virais no estado de Alagoas.
Utilizando-se de um desenho de estudo baseado na prevalência de doenças e agravos,
os autores dos capítulos 4, 5, 6 e 7 discutem, respectivamente, doenças mais recorrentes em
Programas de Saúde da Família (PSFs) de uma cidade do interior de Alagoas, as internações
hospitalares de crianças com pneumonia, o perfil dos autores de violência sexual contra
mulheres, e aspectos relacionados com a coinfecção HIV e tuberculose. Esses três capítulos
abordam temas de muita relevância para a saúde pública alagoana e, juntamente com os três
primeiros capítulos, mostram que a coleta de dados secundários pode e deve ser incentivada
para que haja um planejamento de saúde baseado em evidências.
Saindo do campo do levantamento de dados, os capítulos de 8 a 13 trazem revisões
da literatura que seguem distintos caminhos metodológicos, abordando temas como adesão
ao tratamento da tuberculose em população privada de liberdade, estudo de polimorfismos
de alguns genes para a análise de medida de risco de susceptibilidade para a tuberculose,
a atuação de profissionais da saúde no combate à sífilis, lesões dermatológicas e orais
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decorrentes da Covid-19, aspectos históricos do vírus influenza, epidemiologia da AIDS e da


infecção pelo HIV.
Assim, os capítulos 8 e 9 fazem um apanhado de trabalhos que objetivaram entender
algum aspecto da infecção pelo Mycobaterium tuberculosis. O capítulo 10 traz uma grande
contribuição no entendimento do papel de profissionais da saúde no combate à sífilis. Os
autores apontam falhas que concorrem para uma oferta ineficiente de serviços de saúde
no combate a esta doença e discutem possibilidades de melhorias da prestação de tais
serviços. No capítulo 11, os autores trazem debates recentes de alterações dermatológicas e
orais no contexto atual de pandemia da Covid-19, sendo apresentados estudos de natureza
histopatológica que sustentam importantes achados para o entendimento e enfrentamento
dos casos de evolução grave devido à infecção pelo Sars-Cov-2.
Finalizando as obras deste e-book, os capítulos 12 e 13 abordam, respectivamente, os
aspectos históricos do vírus influenza e a epidemiologia da AIDS e a infecção pelo HIV. O
primeiro estudo faz um resgate histórico do surgimento dos vírus influenza, passando pelas
epidemias causadas por esses agentes e por sua biologia. Por sua vez, o último trabalho traz
uma brilhante abordagem da epidemiologia da AIDS, tratando de pontos como a transmissão
do vírus por sexo oral, o risco aumentado de infecção entre homens que fazem sexo com
homens e a elevação da prevalência da infecção pelo HIV na população idosa.
Esperamos que, ao consultar essa obra, os leitores possam apreciar os conhecimentos
produzidos pelos autores e disponibilizados à população, em geral, para enriquecer e
aprimorar os seus conhecimentos científicos. Boa leitura a todos!

Os Organizadores.

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Apresentação

E
ste e-book é fruto de diversas discussões que ocorreram durante as atividades de
um dos Grupos de Trabalho (GT 4 – Ciências Biológicas, Saúde e suas Interfaces)
do X ENCCULT - Encontro Científico e Cultural de Alagoas, sob a coordenação
geral do Prof. Dr, José Crisólogo de Sales Silva. O evento aconteceu no período de 1 a 4 de
Setembro de 2020, excepcionalmente, no formato online, marcando a sua 1ª década pela
ressignificação, inovação e ampliação do compartilhamento de saberes, sendo norteado pelo
tema “ENCCULT: 10 anos debatendo práticas e reflexões sobre ensino, pesquisa e extensão”.
Apesar das dissonâncias existentes entre as regiões geográficas em relação ao cuidado
com a saúde, o Brasil se destaca por apresentar um amplo território com potencial de
crescimento e desenvolvimento no campo da Ciência e Tecnologia. Mas, vale salientar que
a história da saúde brasileira é regada por desafios que nos ensinam sobre a importância
de estabelecer conexões firmes entre os conhecimentos científicos, buscando fortalecer as
ações de enfrentamento e mitigação das adversidades que afetam as condições de saúde
da população.
No cenário atual de pandemia provocada pelo SARS-Cov-2, que emergiu no Brasil no
início de 2020 e se espalhou rapidamente com altas taxas de infecção, agregado aos agravos
e doenças que persistem na população, é possível vislumbrar a importância da integração
entre as áreas das ciências. Logo, com um olhar fixo à saúde e bem-estar da coletividade, a
comunidade científica mergulha nas pesquisas buscando resoluções para problemas atuais
e antigos.
A proposta do GT-4 foi trabalhar as diversas nuances, dentro das linhas de trabalho
das Ciências Biológicas, das Ciências da Saúde e das interfaces, entre estas duas grandes
áreas do conhecimento humano, buscando agregar temas diversificados. Nesse contexto,
apresentamos o e-book Interfaces na Saúde Coletiva, que constitui o primeiro volume
que emerge de uma série de três livros digitais. Este e-book compila treze trabalhos de
autores de instituições de ensino superior de alguns estados do nordeste brasileiro, que
investigaram temas em saúde coletiva. Assim, esta obra busca contribuir com as reflexões,
discussões e ações neste campo da ciência no país.
PARTE 1
Cenário epidemiológico de doenças e
agravos em Alagoas
1

Epidemiologia e tendência temporal da esquistossomose


mansoni em municípios da 3ª Região de Saúde de Alagoas1

Epidemiology and temporal trend of schistosomiasis mansoni in


municipalities in the 3rd Health Region of Alagoas
Vitória Jordana Bezerra Alencar (1); Ádrian Cabral Silva (2); Andressa Cabral Silva (3);
Dharliton Soares Gomes (4); Israel Gomes de Amorim Santos(5)

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4220-6870, Graduanda do curso de ciências biológicas; Universidade
Estadual de Alagoas - UNEAL; Santana do Ipanema, AL; Brazil. E-mail: jordana.uneal@outlook.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8541-8187, Graduando do curso de ciências biológicas; Universidade
Estadual de Alagoas - UNEAL; Santana do Ipanema, AL; Brazil. E-mail: adr123Kbral@gmail.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6266-5997, Graduanda do curso de ciências biológicas; Universidade
Estadual de Alagoas - UNEAL; Santana do Ipanema, AL; Brazil. E-mail: cabral_andressa@outlook.com;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4181-2091, Mestrando em Biologia Parasitária; Universidade Federal
de Sergipe – UFS; São Cristóvão – SE; Brazil. E-mail: darligton@gmail.com;
(5)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5210-6697, Professor adjunto; UNEAL, Campus II, Santana do
Ipanema, Alagoas, Brazil. E-mail: israel.santos@uneal.edu.br.

ABSTRACT: Schistosomiasis mansoni is a parasitic disease caused by the trematode Schistosoma


mansoni. It is considered a serious public health problem and is endemic in the State of Alagoas. Thus, the
objective was to analyze the epidemiological situation of schistosomiasis mansoni in four municipalities in the
3rd Health Region of Alagoas, from 2007 to 2016. It is an ecological study, of time series, which analyzed the
epidemiological aspects of cases and deaths related to schistosomiasis mansoni, with data obtained through
the Schistosomiasis Program Control Information System (SISPCE). A time trend analysis was performed
using a Joinpoint regression model. 33,407 cases of schistosomiasis were reported in all municipalities in the
3rd Health Region, with 15,860 (47.5%) in the municipalities studied. About 2% (325 / 15,860) in the city of
Campestre, 29.7% (4,708 / 15,860) in the city of Branquinha, 25.9% (4,108 / 15,860) in the city of Santana do
Mundaú, and 42.4% ( 6,719 / 15,860) in the city of São José da Laje. The female sex had the highest mortality
rate due to schistosomiasis, 14.5%. The study also showed an increase in the number of cases and a fluctuation
in the annual percentages. Regarding malacology, there was an absence of these activities in three of the
four cities studied, with Branquinha being the only municipality to have snails captured. In the 3rd Health
Region, the presence of other helminths was also found, totaling 120,922 infections. In the temporal trend, the
indicators related to the control actions, either remained stable or improved for the four municipalities, the
worked population is within the average recommended by the PCE, that is, they present more than 20% for
the worked population, however, they are diagnosing below the recommended, respectively, less than 80% for
exams performed and treatment coverage. It is important to note that the municipalities had their percentages
of control and epidemiological actions below that indicated by national government agencies. Therefore, it is
necessary that control measures be intensified to promote the reduction of severe forms of schistosomiasis.

KEYWORDS: Public Health, Schistosomiasis, Temporal Analysis.

DOI: 10.48016/ GT4L1cap1


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Interfaces na Saúde Coletiva
Maria Lusia de Morais Belo Bezerra |Israel Gomes de Amorim Santos | Maria Betania Monteiro de Farias | Solma Lúcia Souto Maior de Araújo Baltar (Organizadores)

INTRODUÇÃO

As esquistossomíases são doenças parasitárias causadas por vermes trematódeos do


gênero Schistosoma, sendo que a espécie encontrada, no Brasil, é o Schistosoma mansoni.
Classificada como uma doença tropical negligenciada (DTN), essa morbidade é prevalente
em áreas tropicais e subtropicais, onde está intimamente associada à pobreza e às más
condições socioeconômicas, especialmente, em comunidades sem acesso à água potável e
saneamento básico adequado. A doença é adquirida quando pessoas entram em contato com
ambiente aquático que possuam caramujos do gênero Biomphalaria, liberando cercárias
do parasito, especialmente, quando o indivíduo utiliza essas águas para fins de lazer e/ou
laborais (WHO, 2020).
Estima-se que haja, atualmente, cerca de 240 milhões de pessoas infectadas por pelo
menos uma espécie de Schistosoma spp. no mundo (WHO, 2017) e, aproximadamente, 1,5
milhões de pessoas infectadas pelo S. mansoni no Brasil, sendo Sudeste e Nordeste as regiões
que apresentam as maiores prevalências. Os estados da região Nordeste que apresentam as
maiores positividades para o agravo são Sergipe (10,67%), Pernambuco (3,77%) e Alagoas
(3,35%) (KATZ, 2018).
Em Pernambuco, Barreto et al. (2015), avaliando a situação epidemiológica da
esquistossomose mansoni no estado, no ano de 2010, verificaram que o agravo está presente
em 102 (55,2%) de seus 185 municípios, principalmente, nas regiões da Zona da Mata e
Metropolitana do Recife. No período de 2005 a 2010, o número médio de óbitos anuais em
Pernambuco, chegou a 190, com redução na taxa de mortalidade por esquistossomose - por 100
mil habitantes - de 2,29, em 2005, para 2,05, em 2010. Entretanto, Pernambuco apresentou,
no mesmo período (2005-2010), a maior taxa de mortalidade por esquistossomose frente
à região Nordeste e ao Brasil. Em Sergipe, a média anual de internações hospitalares por
esquistossomose de 2005 a 2010 foi de 17, com redução na taxa de internações de 1,58 por
100.000 habitantes em 2005 para 0,44 por 100.000 habitantes em 2010. A média anual
de óbitos, no mesmo período, foi de 17, e a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes
manteve-se em 0,86 nesse intervalo de tempo (SANTOS et al., 2016).
Em Alagoas, por sua vez, sabe-se que das 10 regiões de saúde do estado apenas a 9ª
e a 10ª região são consideradas não endêmicas para esquistossomose mansoni, sendo 70
dos 102 municípios do estado considerados endêmicos para o agravo. A 3ª Região de Saúde
apresenta a maior positividade para esquistossomose (8,4%), enquanto a 8ª Região a menor
positividade (1,8%) (ALAGOAS, 2017; KATZ, 2018). A 3ª Região de Saúde é composta por
11 municípios, sendo Branquinha, Campestre, Santana do Mundaú e São José da Laje, os
municípios que apresentam as maiores positividades para a doenças e, portanto, aqueles
que mantêm essa região como a mais prevalente para a esquistossomose mansoni, sendo
necessário o conhecimento do perfil epidemiológico da morbidade nestes municípios para
que estratégias possam ser implementadas com vistas ao controle da doença e melhoria da
qualidade de vida das pessoas vivendo nestes municípios e em outros com perfil epidêmico
semelhante para a esquistossomose mansoni.
Assim, sabendo que um dos objetivos do Programa de Controle da Esquistossomose
(PCE) é a prevenção da ocorrência de formas graves e óbito, e que a elucidação da dinâmica
do agravo é essencial para o monitoramento e análise da efetividade das medidas de controle

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do agravo. O objetivo do estudo foi analisar a situação epidemiológica da esquistossomose


mansoni nos municípios de maior positividade da 3ª Região de Saúde de Alagoas, no período
de 2007 a 2016.

REFERENCIAL TEÓRICO

ASPECTOS GERAIS DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI

A esquistossomose é uma parasitose de veiculação hídrica, causada pelo trematódeo


sanguíneo Schistosoma mansoni, que possui, em seu ciclo biológico, dependência de
desenvolvimento assexuado em caramujos do gênero Biomphalaria, sendo esses os
únicos hospedeiros intermediários, e tendo o homem como hospedeiro definitivo. Essa
enfermidade é conhecida popularmente como “doença do caramujo”, “barriga d’água”, entre
outras denominações, e se apresenta, na evolução clínica, de forma aguda e/ou crônica,
sintomática ou assintomática, podendo, em sua forma mais grave, ocasionar o óbito do
indivíduo infectado (ROCHA et al., 2016).
A esquistossomose mansoni é transmitida por caramujos de água doce, hermafroditas e
pertencentes ao gênero Biomphalaria. Três espécies de Biomphalaria são responsáveis pela
transmissão da esquistossomose mansoni no Brasil: Biomphalaria glabrata, Biomphalaria
tenagophila e Biomphalaria straminea. A espécie B. glabrata é o principal hospedeiro
intermediário da esquistossomose no Brasil e é a espécie mais estudada devido a sua ampla
distribuição geográfica (MORGAN et al., 2001; RAPADO, 2011).
O ciclo de vida do S. mansoni é do tipo heteroxeno, apresentando uma fase no homem,
hospedeiro definitivo (fase sexuada), e outra no caramujo, hospedeiro intermediário (fase
assexuada). As formas de vida consistem no verme adulto (macho e fêmea), ovo, miracídio,
esporocisto, cercárias e esquistossômulos. Em condições favoráveis, o ciclo se completa em
torno de 80 dias, sendo que, no homem, o período entre a penetração das cercárias e o encontro
de ovos nas fezes leva cerca de 40 dias e no caramujo também dura, aproximadamente, 40
dias (KATZ; ALMEIDA, 2003; NEVES, 2016).
Logo após a penetração das cercárias, na pele do homem, é possível evidenciar
alterações dermatológicas, chamadas de dermatite cercariana. Além disso, também podem
provocar eritema, edema, pequenas papoulas e dor, sendo mais intensas nos indivíduos
hipersensíveis e nas reinfecções. A dermatite cercariana é um processo imunoinflamatório
muito importante, de forma que há grande destruição de cercárias nesta fase (NEVES, 2016;
BRASIL, 2014).
A patogenia da esquistossomose mansoni está ligada a diversos fatores, como cepa do
parasito, idade, estado nutricional, carga parasitária e resposta imunológica do hospedeiro
vertebrado, sendo os dois últimos considerados os mais importantes. A depender do estágio
de vida do verme, as reações, no hospedeiro definitivo, também podem variar. Clinicamente,
a doença pode ser classificada em fase inicial (aguda), podendo se apresentar de forma
sintomática ou assintomática e fase tardia (crônica) (NEVES, 2016; BRASIL, 2019).
A forma aguda, na maioria das vezes, é assintomática ou apresentando sinais clínicos
bem diversificados, como dermatite cercariana com erupção papular, eritema, edema e

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prurido. Outros sintomas comuns são febre, dor de cabeça, náuseas, anorexia, vômitos,
diarréias, perda de peso e nível de eosinofilia elevado (PORDEUS et al., 2008). Outros
sintomas vão surgindo devido à migração e posterior posicionamento dos vermes adultos,
tais como: dores abdominais, toxemia, esplenomegalia, hepatoesplenomegalia e exantema
generalizado (GRYSEELS et al., 2006).
A fase crônica da esquistossomose ocorre, com maior frequência, em áreas endêmicas,
onde os indivíduos, normalmente assintomáticos, passam a apresentar as formas clínicas.
A forma crônica tem início alguns meses após a infecção, podendo acometer vários órgãos
de forma grave e se manifestar nas formas intestinal, hepatointestinal, hepatoesplênica e/ou
ectópicas (PORDEUS et al., 2008).
O diagnóstico da infecção pelo S. mansoni ocorre quando há a identificação de ovos
nas fezes do paciente (PORDEUS et al., 2008). A rápida identificação da esquistossomose é
importante para a diminuição da taxa de transmissão e, principalmente, para o rastreamento
de áreas endêmicas (BECK et al., 2008).

EPIDEMIOLOGIA

As infecções, por espécies de Schistosoma, ocorrem em diversos países, prevalecendo


naqueles localizados em áreas tropicais e subtropicais. A morbidade é encontrada em 78
países distribuídos na América Latina, África e Ásia, na qual estima-se que, aproximadamente,
240 milhões de pessoas estejam infectadas no mundo. Esta morbimortalidade afeta,
principalmente, as comunidades pobres e rurais, principalmente, as populações agrícolas e
pesqueiras. As mulheres que realizam tarefas domésticas em águas infectadas, como lavar
roupas, também estão em risco e podem desenvolver esquistossomose genital feminina
(COLLEY et al., 2014; WHO, 2020).
A migração, para áreas urbanas e os movimentos populacionais, são responsáveis
pela introdução da doença em novas áreas. O aumento do tamanho da população e as
necessidades correspondentes de energia e água, geralmente, resultam em esquemas de
desenvolvimento, e as modificações ambientais facilitam a transmissão. Com o aumento
do ecoturismo, um número crescente de turistas contraem a esquistossomose. Às vezes, os
turistas apresentam infecção aguda grave e consequências devido às formas ectópicas, como
paralisia por exemplo. A esquistossomose urogenital também é considerada um fator de
risco para a infecção pelo HIV, principalmente, em mulheres (WHO, 2020).
Estima-se que pelo menos 90% das pessoas que necessitam de tratamento para
esquistossomose vivam na África. O controle da esquistossomose tem sido muito difícil
para boa parte dos países endêmicos, por esse motivo continua sendo uma das infecções
parasitárias mais prevalentes com inúmeras consequências econômicas e para a saúde
pública. O maior número de infecções ocorre em locais que ainda não possuem saneamento
básico ou dispõem de um saneamento falho, obrigando pessoas de baixo poder aquisitivo a
viverem em condições insalubres e favorecendo o aumento no número de casos (CHITSULO
et al., 2000). O S. mansoni é a única espécie presente nas Américas, sendo a doença endêmica
no Brasil, Venezuela, Suriname e Caribe, estimando que cerca de seis milhões de pessoas
estejam infectadas, a maioria residentes no Brasil, e 25 milhões de pessoas estão sob risco
de infecção (REY, 2001; WHO, 2020; COLLEY et al., 2014).

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No Brasil, estima-se que, aproximadamente, 1,5 milhões de pessoas estejam infectadas


pelo S. mansoni. Em ordem decrescente, os estados que apresentam os maiores níveis de
positividade são: Sergipe (8,19%), Minas Gerais (3,86%), Alagoas (2,31%), Bahia (2,19%),
Pernambuco (2,14%), Rio de Janeiro (1,65%), Espírito Santo (0,71%), Mato Grosso do Sul
(0,19%), Paraíba (0,18%), Maranhão (0,13%), São Paulo (0,04%), tendo Pará, Rio Grande
do Norte e Distrito Federal 0,02% de positividade cada. As principais áreas endêmicas
situam-se nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande
do Norte e Sergipe, enquanto as principais áreas focais se localizam no Pará, Espírito Santo,
Maranhão, Piauí, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do
Sul, Goiás e Distrito Federal (BRASIL, 2014; KATZ, 2018).
Entre os anos de 1977 e 2012, houve um decréscimo na positividade da esquistossomose
de 23,3% para 4,5%, como também na mortalidade, de 740 óbitos em 1977 para 426 em 2012
(BRASIL, 2014). Recentemente, Katz (2018) mostrou que a proporção de casos positivos foi
de 0,99%, analisando 197.564 escolares em todos os estados do Brasil. Para áreas endêmicas,
a positividade variou de 0,27 a 3,28%, enquanto nas áreas não endêmicas, a variação foi de
0,05 a 0,13%.
No último inquérito nacional para a doença, o Nordeste foi a segunda região brasileira
com maior taxa de positividade (1,27). Apesar disso, quando comparado aos dois inquéritos
nacionais realizados anteriormente, em 1949 e 1977, a prevalência para a infecção pelo S.
Mansoni, nesta região, diminuiu consideravelmente, pois, nos dois primeiros inquéritos,
foram de 14,16% e 9,14%, respectivamente (KATZ, 2018).
Das 10 Regiões de Saúde alagoanas, somente a 9º e 10º não são endêmicas para a
esquistossomose mansoni. Sendo assim, 70 municípios fazem parte das áreas endêmicas,
enquanto 32 se encontram em vigilância. A 3ª Região de Saúde apresenta a maior positividade
(8,4%), enquanto a 8ª Região a menor positividade (1,8%) (ALAGOAS, 2017).
O controle desta doença parasitária vem sendo realizado a passos lentos, mas está
apresentando êxito. Sendo assim, ainda se faz necessário a implantação de políticas públicas
totalmente eficazes, principalmente, saneamento básico para que se chegue à eliminação da
esquistossomose no estado (JORDÃO et al., 2014).

PROGRAMA DE CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE (PCE)

Uma série de ações, visando à correta realização das atividades do PCE, deve ser
realizada em âmbito municipal, como delimitação demográfica, inquéritos coproscópicos
censitários, tratamento de infectados, controle de planorbídeos, medidas de saneamento
ambiental, educação em saúde, vigilância epidemiológica e alimentação anual do Sistema de
Informação do PCE (SISPCE). Essas atividades devem ser incorporadas à rotina desenvolvida
pela Estratégia Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 2004; BRASIL, 2008).
O monitoramento é essencial para determinar o impacto das intervenções de controle.
O objetivo é reduzir a morbidade e a transmissão da doença: o tratamento periódico de
populações em risco curará sintomas leves e impedirá que as pessoas infectadas desenvolvam
doença crônica grave e em estágio avançado. O controle da esquistossomose foi implementado
com sucesso, nos últimos 40 anos, em vários países, incluindo Brasil, Camboja, China, Egito,
Maurício, República Islâmica do Irã, Omã, Jordânia, Arábia Saudita, Marrocos, Tunísia,

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entre outros. No Burundi, Burkina Faso, Gana, Níger, Ruanda, Serra Leoa, República Unida
da Tanzânia e Iêmen, foi possível ampliar o tratamento da esquistossomose para o nível
nacional e ter um impacto sobre a doença em alguns anos. É necessária uma avaliação do
status da transmissão em vários países. Nos últimos 10 anos, houve ampliação de campanhas
de tratamento em vários países da região subsaariana, onde vive a maioria dos que estão em
risco (WHO, 2020).

METODOLOGIA

Área de estudo
Alagoas é um estado brasileiro, pertencente a região do Nordeste, sendo o segundo
menor estado em extensão territorial, possuindo 3.322 milhões de habitantes distribuidos
em seus 102 municípios. Em termos sociais e de saúde, o estado possui IDH (índice de
desenvolvimento humano) de 0,68, e é dividido em 10 Regiões de Saúde, sendo oito dessas
endêmicas para a esquistossomose. A 3ª Região de Saúde é a mais prevalente para o agravo. Além disso,
é composta por 11 municípios e a quinta mais populosa do estado (226.286 habitantes), sendo
o seu IDH-Municipal um dos menores (0,539). A região possui apenas 66% dos domicílios
com abastecimento de água da rede pública e 47,5% com rede de esgoto adequada. Entre os
municípios que compõem essa regional de saúde, destacam-se, em termos de positividade
para a esquistossomose mansoni: Branquinha, Campestre, Santana do Mundaú e São José
da Laje (ALAGOAS, 2017).

Desenho do estudo e fontes de dados

Trata-se de um estudo ecológico, de série temporal, que analisou os aspectos


epidemiológicos dos casos e óbitos relacionados à esquistossomose mansoni, no período de
2007 a 2016, em quatro municípios da 3ª Região de Saúde do estado de Alagoas: Branquinha,
Campestre, Santana do Mundaú e São José da Laje. Os dados referentes aos casos de
esquistossomose mansoni e outros geohelmintos foram obtidos no Sistema de Informação
do Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose (SISPCE), enquanto os dados
de mortalidade foram obtidos no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), para a
causa básica do óbito definida como esquistossomose (CID 10: B65). Os dois sistemas de
informação são disponibilizados no site do Departamento de Informática do SUS (DATASUS
- http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php), seção Informações de Saúde, sub-
seções Epidemiológicas e Morbidade e Estatísticas Vitais, respectivamente.

Variáveis de estudo

Para este estudo, foram levantados dados sociodemográficos e clínico-epidemiológicos.


No SISPCE, foram obtidos os dados referentes à malacologia, positividade, intensidade da
infecção, tratamento (a tratar, tratados, recusa e ausência) e à infecção por outros helmintos
(Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura e ancilostomídeos). No Sistema de Informação de
Mortalidade (SIM), foram coletados os dados referentes à faixa etária, sexo e escolaridade.

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As variáveis do estudo foram usadas para a mensuração de dois parâmetros: perfil


epidemiológico e de mortalidade, como também análise de tendência temporal. Para
o primeiro parâmetro, foram trabalhados indicadores operacionais do PCE (Exames
realizados e tratamento), as características sociais dos indivíduos que morreram devido
à esquistossomose (idade, faixa etária e sexo), positividade para outros helmintos na
população trabalhada e coleta de caramujos vetores do parasito. Para o segundo parâmetro,
foram trabalhadas as variáveis positividade da infecção pelo S. mansoni, carga parasitária
e tratamento.

Análise dos dados

Perfil Epidemiológico

1. Indicadores Operacionais

Proporção de Exames Realizados: número de exames realizados em um ano dividido


pelo pela população trabalhada.

PER = Nº de exames realizados X 100


População trabalhada

Cobertura de Tratamento: número de indivíduos tratados em um ano dividido pela


população elegível para tratamento.

CT = Nº de indivíduos tratados
X 100
Nº de indivíduos a tratar

2. Características sociais dos indivíduos que morreram devido a esquistossomose

Para essa análise, os dados foram tabulados, utilizando-se o software Microsoft Excel
2019, onde foram calculadas as frequências absolutas e relativas das variáveis: idade, faixa
etária e sexo.

3. Positividade da infecção da população estudada por outros helmintos

Positividade para Outros Helmintos: número de exames positivos para cada helminto
dividido pelo número de exames realizados.

POH = Nº de exames positivos para cada helminto


X 100
Nº de exames realizados para cada helminto

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4. Vetores do S. mansoni

Buscou-se conhecer espécies de Biomphalaria de ocorrência nos municípios do


estudo, além da positividade destes caramujos coletados para a infecção pelo S. mansoni.

Análise de tendência temporal de aspectos relacionados a esquistossomose

Foi realizada uma análise de tendência temporal para as variáveis: positividade da


infecção pelo S. mansoni (número de indivíduos positivos dividido pelo número de exames
realizados), intensidade da infecção (definida a partir do número de ovos por grama de
fezes, estratificada nas categorias leve (1 a 99 OPG), moderada (100 a 399 OPG) e pesada
(A partir de 400 OPG), como também tratamento (proporção de indivíduos elegíveis para o
tratamento e que de fato o fizeram).
Essa análise foi realizada pelo modelo de regressão log-linear segmentada. Para
descrever e quantificar as tendências, foi calculada a variação percentual anual (APCs –
annual percent changes) e a variação percentual anual média (AAPC – average daily percent
change) e seus respectivos intervalos de confiança (IC95%). As tendências foram consideradas,
estatisticamente, significativas quando os valores de APC ou AAPC apresentaram p<0,05 e
seus IC95% não incluíram o valor zero. Um valor de APC/AAPC positivo e significativo indica
tendência crescente; negativo e significativo, decrescente e tendências não significativas são
descritas como estáveis, independentemente dos valores da APC/AAPC.

Aspectos éticos

Por se tratar de dados secundários e de domínio público, não foi preciso o envio de
projeto para um comitê de ética em pesquisa, envolvendo seres humanos, como preconiza a
resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS

No período de 2007 a 2016, foram notificados 33.407 casos de esquistossomose


mansoni na 3ª Região de Saúde, sendo 15.860 (47,5%) reportados para os municípios
estudados. Desses, cerca de 2% (325/15.860) foram de Campestre, 25,90% (4.108/15.860)
de Santana do Mundaú, 29,7% (4.708/15.860) de Branquinha e 42,36% (6.719/15.860)
de São José da Laje. A população elegível, para os inquéritos coproparasitológicos, nos
municípios estudados durante o período, foi de 133.446 indivíduos. Dentre os municípios, o
maior percentual de população trabalhada (54,1%) foi no município de Branquinha em 2011
e o menor percentual (1,9%), no município de Campestre em 2012.
Em relação aos indicadores de proporção de exames realizados, foram analisados
98.174 exames coproscópicos no período, onde São José da Laje apresentou o maior registro
(82,7%) em 2008, e Branquinha o menor (55,9%) em 2010. Quanto ao indicador cobertura
de tratamento, 8.077 indivíduos foram tratados no período, no qual o maior percentual foi
registrado por Branquinha (91.0%) em 2007, enquanto Santana do Mundaú apresentou o
menor percentual de tratamento (21.5%) no ano de 2012 (Tabela 1).

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Tabela 1. Percentuais de exames realizados e cobertura de tratamento por município, 2007-2016.


Santana do Mun- São José da
Ano Branquinha Campestre
daú Laje
% % % %
ER CT ER CT ER CT ER CT
2007 66,8 91,0 69,5 83,6 81,4 80,3 80,5 73,5
2008 64,4 83,5 0,0 0,0 77,1 87,7 82,7 84,9
2009 65,5 82,7 74,8 55,0 81,9 84,3 75,7 73,1
2010 55,9 75,9 0,0 0,0 0,0 0,0 74,1 53,9
2011 62,0 70,7 68,9 26,7 70,4 57,1 71,5 63,3
2012 75,3 65,6 71,4 0,0 72,7 21,5 69,2 69,8
2013 81,4 70,5 68,0 0,0 73,6 67,9 74,5 55,0
2014 78,6 66,9 59,7 0,0 76,4 63,0 75,1 73,1
2015 81,6 26,4 63,9 0,0 67,6 58,3 76,9 68,2
2016 75,0 40,5 75,5 39,3 68,3 45,0 78,9 67,7

ER: Exames Realizados. CT: Cobertura de Tratamento.

Durante o período estudado, foram registrados 17 óbitos nos quatro municípios. A


maior porcentagem de óbitos ocorreu em indivíduos do gênero feminino 59% (10/17), e no
município de São José da Laje (N=6). A faixa etária mais afetada foi a de 50 a 79 anos 71%
(12/17), também em residentes do município de São José da Laje (N=9). Também ocorreu
um maior número de óbitos em indivíduos sem escolaridade 41,17% (7/17), tabela 2.

Tabela 2. Características epidemiológicas da mortalidade por Esquistossomose em quatro


municípios da 3ª região de saúde do estado de Alagoas, 2007-2016.
Variáveis Branquinha Campestre Santana do Mundaú São José da Laje
Sexo N % N % N % N %
Masculino - - 3 75 1 50 3 33,3
Feminino 2 100 1 25 1 50 6 66,7
Faixa etária
30 a 39 anos - - 1 25 - - - -
40 a 49 anos 2 100 - - - - - -
50 a 59 anos - - - - - - 4 44,4
60 a 69 anos - - 1 25 2 100 1 11,1
70 a 79 anos - - - - - - 4 44,4
80 anos e
- - 2 50 - - - -
mais
Escolarida-
de
Nenhuma 1 50 2 50 - - 4 44,4
1 a 3 anos - - 1 25 1 50 2 22,2
4 a 7 anos - - 1 50 - - 1 11,1
Ignorado 1 50 0 0 1 50 2 22,2

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Quanto à infecção por outros helmintos, nos municípios estudados, foram reportadas
45.868 infecções. Destes registros, os ancilostomídeos foram responsáveis por 20.606
infecções, o Ascaris lumbricoides por 17.217 infecções e o Trichuris trichiura por 8.045
infecções. O município com maior ocorrência de outros helmintos foi Branquinha com cerca
de 53,83% (24.695/45.868), seguido de São José da Laje com 38,56% (17.689/45.868),
enquanto a menor ocorrência foi vista no município de Campestre com 0,90% (417/45.868)
apenas (gráfico 1).

Gráfico 1. Distribuição percentual da positividade relacionada a Outros Helmintos nos municípios


estudados, 2007-2016.

Com relação à malacologia, apenas o município de Branquinha registrou essa


atividade, onde houve a captura de 47 caramujos, sendo 37 destes caramujos da espécie
B. glabrata, sendo essa a única espécie vetora do S. mansoni encontrada no município
no período estudado. Em relação ao diagnóstico da infecção, os caramujos não foram
encontrados positivos para a infecção pelo S. mansoni.
Quanto à tendência temporal, durante o período estudado, a taxa de positividade pelo
agravo nos municípios estudados, Branquinha apresentou uma tendência crescente de 13,7*
(IC95%: 2,3; 26,3), enquanto São José da Laje teve tendência decrescente com AAPC de -5,8*
(IC95%: -10,2; -1,1). Santana do Mundaú e Campestre apresentaram tendência estável com
AAPC, respectivamente, de -1,0 (IC95%: 6,4; -0,3) e -3,0 (IC95%: -14,4; 10,0). Em relação à
intensidade da infecção, Branquinha registrou o maior AAPC na carga parasitária baixa, com
uma tendência crescente de 24,4* (IC95%: 15.3; 34.3), em contrapartida, São José da Laje
apresentou o maior AAPC com uma tendência decrescente de -22,5* (IC95%: -32,5; -10,9)
na porcentagem de indivíduos com carga parasitária alta. Com relação à porcentagem de
tratamento, Branquinha apresentou uma tendência decrescente de -7.0* (-11.1; -2.7) entre
2007-2016, e o município de Campestre apresentou a maior tendência decrescente, -14.1*
(IC95%: -22.4; -4.8), tabela 3.

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Tabela 3. Análise de regressão por Joinpoint da positividade, intensidade da infecção e tratados por
esquistossomose em quatro municípios da 3ª região de saúde do estado de Alagoas, 2007-2016.
MUNICÍPIOS VARIÁVEIS ANO AAPC (95%IC) p-valor TENDÊNCIA
Positividade 2007-2016 13.7* (2.3; 26.3) <0.001 Crescente
Intensidade de infecção
1a4 2007-2016 24.4* (15.3; 34.3) <0.001 Crescente
Branquinha
5 a 16 2007-2016 -6.7* (-12.4; -0.6) <0.001 Decrescente
Acima de 17 2007-2016 -19.0* (-33.6; -1.3) <0.001 Decrescente
Tratados 2007-2016 -7.0* (-11.1; -2.7) <0.001 Decrescente
Positividade 2007-2016 -3.0 (-14.4; 10.0) 0.6 Estável
Intensidade de infecção
1a4 2007-2016 -5.8* (-11.0; -0.3) <0.001 Decrescente
Campestre
5 a 16 2007-2016 -3.0 (-18.6; 15.6) 0.7 Estável
Acima de 17 2007-2016 -28.2 (-57.6; 21.4) 0.2 Estável
Tratados 2007-2016 -14.1* (-22.4; -4.8) <0.001 Decrescente
Positividade 2007-2016 -1.0 (-7.9; 6.4) 0.8 Estável
Intensidade de infecção
Santana do Mun- 1 a 4 2007-2016 -0.4 (-4.1; -3.4) 0.8 Estável
daú 5 a 16 2007-2016 -2.5 (-8.9; 4.3) 0.4 Estável
Acima de 17 2007-2016 -1.4 (-11.7; 10.0) 0.8 Estável
Tratados 2007-2016 -5.3* (-10.0; -0.4) <0.001 Decrescente
Positividade 2007-2016 -5.8* (-10.2; -1.1) <0.001 Decrescente
Intensidade de infecção
1a4 2007-2016 -6.7* (-11.0; -2.1) <0.001 Decrescente
São José da Laje
5 a 16 2007-2016 -1.6 (-9.0; 6.4) 0.6 Estável
Acima de 17 2007-2016 -22.5* (-32.5; -10.9) <0.001 Decrescente
Tratados 2007-2016 -5.2 (0.3; -2.1) 0.4 Estável

*APC =Variação Percentual Anual; APCC = Variação Percentual Anual Média; *Tendência significati-
va p-valor <0.001.

DISCUSSÃO

No presente estudo, foi possível evidenciar que os dados referentes a alguns aspectos
operacionais do PCE, nos municípios estudados, assemelham-se aos dados de estudos de
regiões próximas, onde ficou demonstrado que os municípios não alcançaram a cobertura
de tratamento indicada. Por outro lado, a população trabalhada esteve dentro da média
preconizada para o PCE, ou seja, representou pelo menos 20% da população elegível para
os inquéritos nos municípios. Apesar disso, a realização de inquéritos coproscópicos esteve
abaixo do preconizado, pois as diretrizes preconizam pelo menos 80% dos indivíduos
elegíveis, tendo exame parasitológico de fezes realizado. É importante ressaltar que essa
redução, na realização dos inquéritos parasitológicos observados, compromete a pactuação
feita pelos municípios com o Minstério da Saúde (BRASIL, 2014), de forma que essa redução
no diagnóstico prejudica a cobertura de tratamento, uma vez que possíveis indivíduos

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positivos não serão diagnosticado como tal e, consequentemente, há uma ocultação da real
conjuntura epidemiológica desses municípios.
Com relação ao tratamento, os dados do estudo mostraram que esse indicador também
evidencia uma cobertura abaixo da recomendada, de modo que o não tratamento dessas
populações pode desencadear a manutenção da transmissão local da doença e das suas
consequências, como a emergência de formas graves da morbidade e casos de hospitalização,
como também óbito. Desse modo, essa problemática mostra que há déficit nas ações desses
programas de controle, desde a fase dos inquéritos coproscópicos até a fase de tratamento
da população, também retratando uma possível falha e dificuldade em desenvolver ações
específicas, como também integradas das políticas de atenção à saúde (SANTOS et al., 2016).
Com relação aos óbitos, diferentemente de estudos anteriores, observou-se que as
maiores taxas de mortalidade por esquistossomose ocorreram em indivíduos do sexo
feminino. Esses dados não refletem significância devido ao baixo número de casos referente
à quantidade de anos, além disso, a ligação entre sexo e mortalidade por esta morbidade,
por vezes, é motivo de discordância em diversos estudos, de modo que as atividades de
lazer, ocupacionais e econômicas seriam indicadores mais úteis (HUANG; MANDERSON,
1992). Em relação à faixa etária, a maior quantidade de óbitos, em grupos etários com idade
avançada, está relacionada a forma crônica da doença, uma vez que os danos da morbidade
ocorrem lentamente nos indivíduos infectados, associada ou não a outras comorbidades,
como doenças cardiovasculares e neoplasias que poderiam aumentar o risco de óbitos
relacionados à esquistossomose (AMARAL et al., 2006).
Em relação às atividades de malacologia, observou-se que houve que três dos quatro
municípios estudados não a realizaram em nenhum dos anos do estudo, tendo sido Branquinha
o único município a realizar essa atividade. Uma vez que, na maioria dos municípios
estudados, não há dados referentes à captura e diagnóstico da infecção de caramujos,
pode-se supor que os números apresentados, neste estudo, não refletem a realidade destes
municípios no que concerne a malacologia, e por essa atividade não ser obrigatória, para
execução pelas equipes locais do PCE, os municípios não as torna prioritárias e, assim, não
são efetivadas. Além disso, notou-se também a presença de outros helmintos, com maior
número nos ancilostomídeos, e essas infecções, geralmente, ocorrem mutuamente com a
esquistossomose, porém poucos estudos discutem a respeito desse fato, de forma a dificultar
comparações, dessa forma necessitando de maior investigação na associação do S. mansoni
com outras parasitoses intestinais.
Nas tendências temporais, os indicadores relacionados às ações de controle ou
se mantiveram estáveis ou melhoraram para os quatro municípios. O município de
Branquinha apresentou uma tendência crescente na positividade, o que pode ser explicado
por uma cobertura de diagnóstico. Por outro lado, o município de Campestre apresentou
uma tendência estável, porém, as coberturas de diagnóstico e tratamento não atingiram o
preconizado no referido município.
Os percentuais de cobertura de tratamento identificados, no estudo, sofreram
oscilações, e não atingiram, na maioria dos anos, o nível recomendado pelo Ministério
da Saúde. Isso reforça a necessidade de intensificar as medidas de controle em áreas de
transmissão existentes e emergentes, com o objetivo de promover a eliminação de formas

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graves e mortes pela doença (AMARAL et al., 2006). Como as áreas endêmicas
compartilham condições socioeconômicas semelhantes, a redução de contaminação
e do surgimento das formas graves de esquistossomose pode estar comprometidas de
acordo com as medidas atualmente adotadas, a menos que haja outras medidas para
controlar a transmissão, como saneamento básico adequado, educação e medidas de
saúde (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2014 ).
Por se tratar de um estudo utilizando dados secundários, o mesmo pode mostrar
algumas limitações. A subnotificação dos óbitos e a qualidade do preenchimento da
declaração de óbito são fatores a serem considerados, apesar de todo o avanço em termos
de cobertura do Sistema de Informações sobre Mortalidade. Limitações semelhantes foram
encontradas em outros estudos utilizando dados secundários, porém elas não invalidam os
mesmos (MARTINS-MELO et al., 2014; ALBUQUERQUE et al., 2017).

CONCLUSÃO

Dessa forma, através dos dados obtidos pela pesquisa, percebe-se uma fragilidade do
PCE em alguns municípios que apresentaram uma baixa cobertura nos exames e tratamento.
É importante ressaltar que houve tendência decrescente positiva da esquistossomose,
apesar do baixo número de exames e tratados. Dessa forma, é importante intensificar as
medidas de controle, focalizando nessas áreas prioritárias. Durante o período, os caramujos
encontrados nos municípios estudados foram da espécie B. glabrata, sendo que nenhum
destes caramujos foram encontrados positivos para a infecção pelo Schistosoma mansoni.

REFERÊNCIAS

1. ALAGOAS. Secretaria do Estado da Saúde de Alagoas. Saúde Alagoas: Análise da


Situação de Saúde. Maceió, 2017.

2. ALBUQUERQUE, Mariana Vercesi de et al . Desigualdades regionais na saúde:


mudanças observadas no Brasil de 2000 a 2016. Ciênc. Saúde Coletiva,  Rio de Janeiro,
v. 22, n. 4, p. 1055-1064,  Apr.  2017 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232017002401055&lng=en&nrm=iso>.

3. AMARAL, Ronaldo Santos do; TAUIL, Pedro Luiz; LIMA, David Duart; ENGELS,
Dirk. Uma análise do impacto do Programa de Controle de Esquistossomose no Brasil.
Mem. Inst. Oswaldo Cruz 101, 2006.

4. BARRETO, Ana Virgínia Matos Sá; MELO, Nobélia Duarte.; VENTURA, Jéssica Valença
Torres; SANTIAGO, Rosimery Tavares; SILVA, Maria Beatriz Araújo. Análise da positividade
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2010. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 24, n. 1, p. 87–96, mar. 2015.

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Oficial [da] União. Brasília, DF, 15 dez. 1999. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/
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2020.

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2

Estruturas parasitárias em esgotos domésticos na cidade de


Santana do Ipanema1

Parasitic structures in domestic sewage in the city of Santana do


Ipanema
João Paulo Vieira Machado (1); Pedro Dantas Lima (2); Tatyane Martins Cirilo (3); Leticia Pereira
Bezerra(4); Rosália Elen Santos Ramos(5) ; Israel Gomes de Amorim Santos(6).

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1693-1753, graduando em licenciatura em Ciências Biológicas;
UNEAL, Campus II; Santana do Ipanema, Alagoas; Brazil. E-mail: joao.p.v.machado@gmail.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9926-481X, graduando em licenciatura em Ciências Biológicas;
UNEAL, Campus II; Santana do Ipanema, Alagoas; Brazil. E-mail: pedrodantas714@gmail.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9681-4284, mestranda em Biologia Parasitária; UFS, Campus São
Cristóvão; São Cristóvão, Sergipe; Brazil. E-mail: tatyanemartins95@gmail.com;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6375-633X, mestranda em Biologia Parasitária; UFS, Campus São
Cristóvão; São Cristóvão, Sergipe; Brazil. E-mail: pleticia706@gmail.com;
(5)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9958-9331 , mestranda em Biologia Parasitária; Universidade
Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão; São Cristóvão, Sergipe; Brasil. E-mail: rosalia_elen@hotmail.
com;
(6)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5210-6697, professor adjunto; UNEAL, Campus II, Santana do
Ipanema, Alagoas, Brazil. E-mail: israel.santos@uneal.edu.br.

ABSTRACT: The lack of basic sanitation allows the transmission of diseases, directly impacting people’s
quality of life. Thus, the objective of this work was to analyze the occurrence of parasitic structures in open
sewers in the city of Santana do Ipanema, Alagoas. The study was carried out during the months of April
and May 2019 at 5 points of a street in that city. The points in the studied area were selected with the help of
Google Earth-Maps. The collection was carried out once a week, over a period of three weeks. The samples
were collected according to the specialized methodology with some modifications, being necessary the pre-
homogenization of the water by agitation, in order to cause the suspension of the particles. In the laboratory,
these samples were processed by the spontaneous sedimentation method. During the first two weeks of the
study of the 5 collection points, 3 distinct points presented Strongyloides stercoralis larvae. In the last week,
cysts of Giardia lamblia and Entamoeba histolytica were found in two of these points. The other points did
not present parasitic structures or did not have material at the time of collection. From the results found it
was possible to verify the presence of parasitic structures on a street with poor basic sanitation. Thus, it is
suggested that the population residing in the study area may be subject to infection, especially when there is an
abundance of liquid waste from peridomestic sewage.

KEYWORDS: Liquid waste, Sanitation, Strongyloides stercoralis.

1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap2
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INTRODUÇÃO

A Lei nº 11.445/07 estabelece a designação de saneamento básico como sendo um


conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água,
esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, como também drenagem
de águas pluviais urbanas (BRASIL, 2007). A ausência de saneamento básico possibilita a
transmissão de doenças, impactando, diretamente, na qualidade de vida das pessoas. Ao
contrário, a presença de saneamento proporciona a diminuição da contaminação das fontes
de água, controla e previne doenças, principalmente, aquelas associadas a vetores.
No Brasil, o serviço de saneamento básico encontra-se bastante deficiente tanto no
que diz respeito à coleta, quanto ao tratamento, sendo um fator que colabora nos casos de
doenças parasitárias, visto que a deficiência, nesse setor, tem íntima correlação com questões
de saúde pública, pois a carência de saneamento permite a disseminação de doenças de
veiculação hídrica, com impactos negativos em campos como educação, trabalho, economia,
biodiversidade, disponibilidade hídrica e outros (FERREIRA; GARCIA, 2017). De acordo
com dados da Conferência Nacional de Bispos do Brasil - CNBB (2015), a água potável chega
a 81,1% da população, enquanto a coleta de esgoto só atinge 46,2% dos brasileiros, dado
que se torna ainda mais precário quando se evidencia a região Nordeste do país, onde a
coleta de esgoto abrange somente 32,11% dos lares, o que pode criar um cenário ideal para a
transmissão de parasitos intestinais.
Dentre as principais espécies de parasitos que causam doenças, destacam-se o Ascaris
lumbricoides, os ancilostomídeos (Ancylostoma duodenale e Necator americanus), a
Giardia lamblia e o complexo Entamoeba histolytica/dispar, normalmente, proveniente das
fezes humanas ou de animais que podem ser veiculadas pela água (MUÑOZ; FERNANDES,
2010). As enfermidades provocadas por estes enteroparasitas estão associadas, muitas vezes,
à ingestão de água contaminada, o seu uso para lavagem de legumes e pelo contato com a
pele, esta última forma de transmissão associada, muitas vezes, com águas provenientes de
esgoto doméstico.
Assim, sabendo que a região Nordeste apresenta os piores indicadores de saneamento
básico, além da possibilidade de transmissão de diversas enfermidades, dentre elas, as de
ordem parasitária, sendo estas um relevante problema de saúde pública, o objetivo do estudo
foi analisar a ocorrência de estruturas parasitárias, em esgotos a céu aberto, na cidade de
Santana do Ipanema, Alagoas.

REFERENCIAL TEÓRICO

ASPECTOS GERAIS E EPIDEMOLOGIA DOS PARASITORES INTESTINAIS.


(BRASIL/ALAGOAS).

As parasitoses intestinais são doenças amplamente distribuídas e consideradas


um grande problema de saúde pública no mundo. Estas infecções estão diretamente
relacionadas a fatores biológicos, demográficos, socioeconômicos, políticos e culturais. As
altas prevalências se encontram em regiões tropicais e subtropicais, principalmente, em
populações de vulnerabilidade econômica e social, acarretando precárias condições de

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higiene, ausência de saneamento básico e ambiental e baixo nível educacional (BETHONY


et al., 2006; GAZZINELLI et al., 2012; HARHAY; HORTON; OLLIARO, 2010; LIMA, 2013;
VIDAL et al., 2012).
Os parasitos intestinais frequentemente encontrados, na população, são os geo-
helmintos, A. lumbricoides, Trichuris trichiura, os ancilostomídeos (A. duodenale e N.
americanus) e o Strongyloides stercoralis, como também os protozoários, G. lamblia e o
complexo E. histolytica/dispar (WHO, 2017)
Cerca de 513 milhões de pessoas estão infectadas pelos geo-helmintos no mundo, em
sua maioria, residindo na África subsaariana, nas Américas, na China e no Sudoeste Asiático
(WHO, 2017). No Brasil, segundo o Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose
mansoni e Geo-helmintos, a positividade para A. lumbricoides, T. trichiura e os
ancilostomídeos é de 6,0%, 5,4% e 2,7%, respectivamente (KATZ, 2018).
Para os protozoários, estima-se que o complexo E. histolytica/dispar infecte entre
40 e 50 milhões de pessoas e provoque, aproximadamente, 100.000 mortes anualmente
(WHO, 1997). Enquanto, para Giardia spp., a prevalência estimada para países em
desenvolvimento é de 20% a 30% (ESCOBEDO; CIMERMAN, 2007). No Brasil, até então
foram desenvolvidos somente trabalhos locais, onde demonstram altas prevalências para
estes parasitos (BARBOSA et al., 2018; CASAVECHIA et al., 2016; CURVAL et al., 2017;
MATOS ROCHA; BRAZ; LINS CALHEIROS, 2011; SANTOS et al., 2020; SEGUÍ et al., 2018).

FATORES SOCIOAMBIENTAIS EM SANTANA DO IPANEMA.

A carência, no serviço de saneamento básico, constitui um dos principais fatores em


relação à ocorrência e surgimento de doenças de veiculação hídrica na população mundial e
sua presença efetiva proporciona o bem-estar físico e mental da população, porém ainda há
um déficit na implementação ou atuação deste recurso em muitos países e continentes como
na América do Sul e Caribe, onde cerca de 20% (116 milhões) da população, não têm acesso
à água potável encanada nem a qualquer tipo de saneamento. Aproximadamente, 50% da
população está ligada a uma rede de esgoto, sendo que apenas 20% do esgoto coletado é
tratado (UNESCO, 2012).
No contexto mundial, o Brasil ocupa a 112.ª posição num ranking de saneamento
entre 200 países. A pontuação do Brasil, no Índice de Desenvolvimento do Saneamento, foi
de 0,581 em 2011 (DATASUS, 2014).
Em 2010, a cidade de Santana do Ipanema possuía 44.747 domicílios, sendo que
desse total, apenas 1.298 contavam com rede de esgoto e 7.951 domicílios não possuíam
nenhum tipo de instalação sanitária, destacando a grande carência do município com
relação ao saneamento básico. Um total de 31.112 domicílios possuíam fossa rudimentar,
1.296 possuíam fossa séptica, 729 domicílios descartavam seus resíduos através de valas,
707 os depositavam no rio e 1.654 utilizavam outros métodos não destacados pelo censo
(IBGE, 2010).
Como destacado, a carência, nos serviços de saneamento básico, constitui grande
entrave para o crescimento de países considerados em desenvolvimento, afetando a população,
principalmente, por provocarem os chamados problemas de saúde pública com uma vasta

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gama de doenças, dentre as quais destacam-se a disseminação de parasitoses, que estão


geralmente ligadas a fatores como condições de vida e moradia precária, comportamentos
influenciados pela educação e nível econômico da população.

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA E CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DE PONTOS


AMOSTRAIS.

Santana do Ipanema é um município brasileiro pertencente ao estado de Alagoas. É


a principal cidade do sertão alagoano e possui uma população de aproximadamente 47.654
mil habitantes, segundo a estimativa intercensitária do IBGE, em 2019. Possui extensão
territorial de 437,875 km².
O presente estudo ocorreu, entre os meses de abril e maio de 2019, o qual foi realizado
na rua Coronel Lucena Maranhão, cuja latitude e longitude é 9°22’31.4”S e 37°15’32.8”W,
respectivamente. Esta rua localiza-se na cidade de Santana do Ipanema que pertence à
mesorregião do médio Sertão alagoano, região Nordeste do Brasil (Figura 1).

Figura 1: Imagem via satélite da Rua Coronel Lucena Maranhão.

Fonte: Google Earth-Maps (2019).

Inicialmente, foi realizada a avaliação das características físicas das áreas da cidade
através do Google Earth-Maps para identificar as principais localidades que demonstraram
deficiência no saneamento básico, pavimentação das ruas e que apresentavam acúmulo
de resíduos líquidos ao ar livre. Foi estabelecido, dentre as regiões mapeadas, uma rua e
marcados 5 pontos amostrais para coleta de material ao longo da rua escolhida, com base
na quantidade de resíduos líquidos presentes no momento da primeira coleta, visualizados
abaixo na Figura 2.

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Figura 2: Pontos de coleta. Santana do Ipanema, 2019.

Fonte: Autoria própria.

COLETA E ACONDICIONAMENTO DE AMOSTRAS

Após estabelecimento dos pontos amostrais, a coleta foi realizada no período de três
semanas, sendo a coleta do material realizada uma única vez por semana a fim de monitorar
a variabilidade temporal associada à eventual presença de parasitas na água modificado de
Cordeiro et al. (2014).
As amostras foram coletadas, segundo a metodologia descrita por Ayres e Mara (1997),
com algumas modificações, sendo necessário a pré-homogeneização da água por agitação a
fim de causar a suspensão das partículas. Esse processo foi realizado com o auxílio de fuê.
O material homogeneizado foi acondicionado em coletores, previamente etiquetados, de
acordo com cada ponto de coleta e conservados em caixa térmica de isopor até o momento
da análise.

ANÁLISES DA ÁGUA

As análises foram realizadas no Laboratório de Parasitologia Humana e Malacologia


(LAPAHUM) da Universidade Estadual de Alagoas, Campus II – Santana do Ipanema. As
amostras foram preparadas, utilizando a técnica de Hoffmann, Pons e Janer (1934), indicada
para a identificação de larvas e cistos.
As amostras foram analisadas qualitativamente por meio de observação das estruturas
em microscópio óptico (CORDEIRO et al., 2014).

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ANÁLISE DE DADOS

A análise qualitativa foi realizada por um laboratologista treinado, com auxílio do


Manual de Parasitologia Humana e Atlas Didático de Parasitologia, para identificação de
larvas e cistos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante as duas primeiras semanas de realização do estudo dos 5 pontos de coleta,


3 pontos distintos apresentaram larvas de S. stercoralis. Na última semana, em dois destes
pontos foram encontrados cistos de Giardia lamblia e Entamoeba histolytica/dispar
(Quadro 1).

Quadro 1: Estruturas parasitárias encontradas em águas de esgotos da Rua Coronel Lucena


Maranhão por semana de coleta. Santana do Ipanema, 2019.
Ponto de coleta 1ª Semana - 25/04 2ª Semana – 02/05 3ª Semana – 09/05

1 S. stercoralis - G. lamblia

2 - Sem água -

3 - S. stercoralis -

4 - Sem água -

5 S. stercoralis Sem água E. histolytica/dispar

Legenda: - Ausência de estruturas parasitárias.


Fonte: Autoria própria.

O protozoário G. lamblia é um parasito unicelular de ciclo simples que causa infecção


no intestino delgado, ocorre em todo o mundo e é encontrado em água, como também
alimentos contaminados com o cisto, sendo frequente em crianças e em locais com condições
sanitárias deficientes. Da mesma forma, E. histolytica/dispar, parasito unicelular, causa
problemas no intestino grosso e sua disseminação está associada a ingestão de água e
alimentos contaminados com cistos, como também relacionada à precariedade de condições
de higiene e educação sanitária (MUÑOZ; FERNANDES, 2010).
No presente estudo, foram encontrados cistos de G. lamblia (Figura 3) e E.
histolytica/dispar (Figura 4) no ponto de coleta um e cinco, respectivamente (Tabela 1).
Estes resultados corroboram com os encontrados por Cordeiro et al. (2014) que, em seu
estudo sobre contaminantes parasitológicos, em poços artesianos, verificou a presença de
cistos de Giardia sp. e Entamoeba sp. em 2 pontos de coleta dos 17 estudados.

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Figura 3: Cisto de Giardia lamblia. Santana do Ipanema, 2019.

Fonte: Autoria própria.

Figura 4: Cisto de Entamoeba histolytica/dispar. Santana do Ipanema, 2019.

Fonte: Autoria própria.

A presença dos cistos de G. lamblia e E. histolytica/dispar ocorreu apenas durante


a terceira e última semana de realização do estudo, o que indica a variação no risco de
contaminação de moradores nesses pontos, influenciado pela quantidade de água circulando
na rua, como pode ser comprovado pela presença de estruturas detectadas na primeira e
terceira semana, período que possuía maior quantidade de resíduos líquidos, visto que, nas
semanas anteriores, não foram detectados cistos de protozoários, embora os respectivos pontos
tenham sido anteriormente positivos para larvas de S. stercoralis (Figura 5).

Figura 5: Larva de Strongyloides stercoralis. Santana do Ipanema, 2019.

Fonte: Autoria própria.

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Em contrapartida aos resultados obtidos por Cordeiro et al. (2014), que encontrou
helmintos da ordem Strongylida, o presente estudo detectou a presença de larvas de
S. stercoralis (Figura 5), nematódeo este que, segundo Neves et al. (2005), apresenta
distribuição mundial, especialmente, nas regiões tropicais e tem transmissão na forma
de larva infectante (filarióide) através da pele, principalmente, em pessoas que não usam
calçados onde a penetração ocorre, comumente, através dos membros inferiores como os
pés, particularmente, nos espaços interdigitais e lateralmente, uma vez que a superfície
plantar muito espessa pode constituir uma barreira. Aqui, as larvas de S. stercoralis foram
detectados, nas águas dos esgotos da rua em estudo, durante duas semanas, em três pontos
de coleta.

CONCLUSÃO

A partir dos resultados encontrados, existe o risco de infecção da população por cistos
de G. lamblia, E. histolytica/dispar e larvas de S. stercoralis na rua estudada, principalmente,
nos períodos de maior quantidade de água nesse local, o que pode ser intensificado durante
o período chuvoso. Sendo assim, faz-se necessário tomar medidas a priori de prevenção e
alerta da população local a fim de minimizar fatores de risco para a saúde e, posteriormente,
contatar as autoridades competentes para solucionar o problema com relação ao serviço de
saneamento.
O estudo contribui para constatar a presença de estruturas parasitárias em uma rua
com saneamento básico precário; este é o primeiro estudo, que demonstra a presença de
formas parasitárias de interesse médico, em águas residuais domésticas na cidade de Santana
do Ipanema. Diante do exposto, propomos ainda que novos estudos podem ser realizados
na área, avaliando não só os resíduos líquidos domésticos, como também a prevalência de
parasitos em humanos, através de levantamento parasitológico, associado à presença e/
ou ausência de estruturas parasitárias em águas residuais, como um fator de risco para a
ocorrência de doenças parasitárias.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos integrantes do Grupo de Pesquisa em Parasitologia e Malacologia


da Universidade Estadual de Alagoas Campus II, por seu auxílio na realização desta pesquisa
e ao técnico de laboratório Sérgio Luiz Queiroz da Silva, por sua ajuda prestada na realização
das análises deste estudo.

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37
3

Casos de hepatites virais em Alagoas entre 2009 e 20181

Cases of viral hepatitis in Alagoas between 2009 and 2018


Lázaro Heleno Santos de Oliveira(1); Adenia Mirelly Santos e Silva(2); Lavínia Correia do Rozário
Amorim(3); Luiza Daniely Rodrigues de Siqueira(4); Sthefanny Rayanna de Lima Maia(5);
Ana Paula Rebelo Aquino Rodrigues(6)

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8759-0872; Acadêmico de Enfermagem; Centro Universitário
Tiradentes (UNIT), Campus Maceió – AL, BRAZIL. E-mail: lazarooliveira99@hotmail.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8631-0293; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Acadêmica de
Enfermagem; BRAZIL. E-mail: adeniamirelly123@gmail.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1368-3790; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Acadêmica de
Enfermagem; BRAZIL. E-mail: laviniaamorim20@gmail.com;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9369-5379; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Acadêmica de
Enfermagem; BRAZIL. E-mail: luizadanielyrodrigues@hotmail.com ;
(5)
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-7332-8440; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Acadêmica de
Enfermagem; BRAZIL. E-mail: sthefanny.rayanna@hotmail.com.
(6)
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-5174-5238; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Docente de Enfermagem;
BRAZIL. E-mail: apaularebelo@hotmail.com;

ABSTRACT: Introduction: Viral hepatitis are systemic infectious conditions that cause inflammation
and hepatic necrosis, their etiological agents are named by letters of the alphabet in Virus A (HAV), B (HBV),
C (HCV), D (HDV) and E (HEV). From 1999 to 2018, 632,814 confirmed cases of viral hepatitis in Brazil were
reported in the Information System for Notifiable Diseases (SINAN), being characterized as a major public
health problem. Objective: To describe the notified cases of viral hepatitis A, B, C and D, in the state of Alagoas
between the years 2009 and 2018. Methodological Procedure: This is an ecological epidemiological study,
with a historical data series, with a quantitative approach, using data related to viral hepatitis in Alagoas,
available at SINAN, through the data reported between 2009 and 2018, made available by the Department of
Informatics of the Unified Health System (DATASUS) of the Ministry of Health. Results and Discussion:
According to data collected through SINAN, on viral hepatitis in Alagoas between 2009 and 2018, there were
a total of 3,545 notifications. Among these cases, the highest number was hepatitis A, with 43.39% (n = 1538);
followed by hepatitis B, with 36.33% (n = 1288); hepatitis C presented 20.06% of cases (n = 711) and the lowest
number of notifications was hepatitis D, with 0.23% of the total number of reported cases (n = 8). Regarding
notifications of hepatitis according to sex, men were the most infected, with 53.40% of cases, while women
had 46.60% of reported cases. The state of Alagoas had many confirmed cases, this may be related to the lack
of basic sanitation in some regions, the population’s lack of knowledge about the disease, the socioeconomic
status of individuals, the low vaccination coverage of Hepatitis B in adults, the absence of a vaccine against
Hepatitis C, among other factors. Conclusion: Therefore, Alagoas is a state with a considerable number of
cases of viral hepatitis, thus following the national and global trend that characterizes these infections as a
public health problem.

KEYWORDS: Epidemiology, Hepatitis Virus Infection, Hepatitis Virus.

1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap3
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INTRODUÇÃO

As hepatites virais são condições infecciosas sistêmicas, com alterações leves,


moderadas e, por vezes, graves que causam inflamação e necrose hepática. Possuem diferentes
agentes etiológicos que apresentam característica clínicas e laboratoriais, havendo, porém,
as epidemiológicas e prognósticas, tornando, assim, um significativo problema de saúde
pública ao redor do mundo, incluindo o Brasil (GOMES et al., 2012).
Os agentes etiológicos que causam as hepatites virais mais importantes, tendo em vista
os aspectos clínicos e epidemiológicos são denominados por letras do alfabeto em Vírus A
(HAV) e seu agente etiológico é um pequeno vírus RNA, membro da família Picornaviridae,
vírus B (HBV) membro da família Hepadnaviridae, vírus C (HCV) da Flaviviridae, D (HDV)
da Deltaviridae e E (HEV) do tipo RNA, que pertence a Caliciviridae (BRASIL, 2010).
Uma característica comum a esses vírus é a preferência por infectar as células hepáticas,
causadas por agentes hepatotrópicos primários que podem evoluir de forma assintomática
ou sintomática, podendo, também, evoluir na forma aguda ou crônica, no entanto,
eles se diferenciam em suas formas de transmissão, além das diferentes consequências
características de cada infecção (BRASIL, 2010).
Segundo Nunes e outros autores (2017), sobre a distribuição mundial, as hepatites
virais A, B, C e D variam de frequência de acordo com a etiologia e as regiões geográficas.
Conforme os dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais de 2019, foram notificados
entre 1999 e 2018, em todo Brasil, 632.814 casos confirmados de hepatites virais. Destes, os
casos de hepatite A representam 26,4%, os casos de hepatite B correspondem a 36,8%, os de
hepatite C são 36,1% e os de hepatite D são apenas 0,7%. Além disso, o boletim afirma que
nos indivíduos do sexo masculino, com idade entre 20 e 39 anos, os casos confirmados da
doença cresceram mais que o dobro (BRASIL, 2019).
Por se tratar de uma infecção que geralmente se apresenta com nenhum ou poucos
sintomas, a incidência da hepatite A acaba não sendo tão bem conhecida (NUNES et al.,
2017). A distribuição dos casos desse tipo de hepatite varia entre as regiões brasileiras, sendo
a região Nordeste a que concentra a maior proporção das infecções pelo vírus A, com 30,3%
dos casos (BRASIL, 2019).
No Brasil, a taxa de incidência de hepatite A vem apresentando propensão a queda,
visto que, passou de 6,2 casos em 2008 para 1,0 por 100 mil habitantes em 2018. No período
de 2008 a 2018, a proporção de casos de hepatite A foi, predominante, nos homens. O
coeficiente de mortalidade por hepatite A como causa básica mostra tendência de queda, em
todas as regiões brasileiras, nos últimos dez anos (BRASIL, 2019).
Já sobre a hepatite B, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem cerca
de 2 bilhões de indivíduos no mundo infectados pelo VHB. Entre os infectados, 350 milhões
de pessoas são portadoras crônicas da doença, contudo, a Hepatite B está em décimo lugar
dentre as causas de morte no mundo, sendo responsável por 1 a 2 milhões de mortes por
ano. Em relação a hepatite C, existem, aproximadamente, 150 a 170 milhões de pessoas
infectadas em todo mundo (NUNES et al., 2017).
No Brasil, houve 359.673 notificações de casos confirmados de infecção pelo HCV, no
período de 1999 a 2018. Em relação aos casos que apresentam os marcadores anti-HCV e

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HCV-RNA reagentes, o Brasil obteve 174.703 casos. Em 2018, tanto os homens, quanto as
mulheres, com idade entre 55 a 59 anos, tiveram as maiores taxas de detecção, chegando ao
total de 46,1 casos por 100 mil habitantes entre o sexo masculino e 28,5 entre sexo feminino
(BRASIL, 2019).
Dentre as hepatites virais, a que causa mais óbitos é a hepatite C. No período de 2000
a 2017, foram contabilizados 53.715 óbitos relacionados ao HCV. Na análise da divisão dos
casos por regiões, o sudeste obteve mais casos com 63,1%, seguido do Sul com 25,2%, e
as regiões que tiveram menos ocorrências foram o Nordeste com 6,1%, Centro-Oeste com
3,2% e o Norte com apenas 2,5% (BRASIL, 2019). Essa variação, na distribuição entre as
diferentes regiões, explica-se em razão do Brasil ser um país de dimensões continentais
(OLIVEIRA et al., 2018).
Por sua vez, a doença pelo HDV se concentra, principalmente, na região Norte do
país, com 74,9% das notificações. A maior parte se deu entre o sexo masculino que obteve
57,7% dos casos, porém é percebido que, ao longo dos últimos anos, essa divergência entre
os sexos vem diminuindo. Em relação à faixa etária, a população jovem é a que detém maior
número de notificações de infecção pelo vírus da hepatite D. Sobre a mortalidade, dos 781
óbitos associados à infecção pelo HDV, a maioria teve a hepatite D como causa básica do
óbito (67,7%) (BRASIL, 2019).
Segundo o Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde (MS),
no Brasil e no mundo, as hepatites virais são caracterizadas como um grande problema de
saúde pública (BRASIL, 2008). Diante disso, o presente estudo se justifica pela importância
da produção de mais evidências sobre esse problema que atinge grande parte da população
mundial, tendo em vista as estimativas que apontam que, no mundo inteiro, milhões de
indivíduos são portadores crônicos de algum tipo de hepatite e bilhões já tiveram contato
com um dos seus vírus causadores ao longo da vida (BRASIL, 2005a).
Dessa forma, este estudo apresenta como objetivo descrever os números de notificações
dos casos de hepatites virais A, B, C e D, no estado de Alagoas, entre os anos de 2009 e 2018.
Com isso, pretende-se levantar dados que possam contribuir com as pesquisas voltadas para
essa temática, identificando quais tipos de hepatites são mais comuns no estado de acordo
com os dados epidemiológicos notificados.

REFERENCIAL TEÓRICO

Existem diferentes meios para a transmissão das hepatites virais, alguns deles podem ser
por via fecal-oral, que se concentra, principalmente, em lugares com baixas condições sanitárias,
pode ocorrer por atividade sexual sem proteção, contato com sangue infectado e também
transmissão vertical. A transmissão através de transfusão sanguínea já foi algo frequente,
entretanto, na atualidade, não é uma situação comum, pelo fato de que, atualmente, existe uma
maior rigorosidade diante dos sistemas de controle e na triagem de doadores (BRASIL, 2020).
Assim, é possível classificar a transmissão dessas infecções em dois grupos distintos,
um composto pelos tipos A e E, como também o outro pelas hepatites B, C e D. O primeiro
grupo tem como principal forma de transmissão a via fecal-oral. Já no segundo, existem
várias formas de disseminação, como por exemplo, a via sexual, pelo sangue assim como
fluidos corporais e compartilhamento de objetos pessoais (BRASIL, 2014a).

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A hepatite pelo HAV apresenta como principais formas de transmissão a via fecal-oral,
o contato interpessoal ou através de água e alimentos infectados, pode acontecer durante os
quinze dias anteriores à aparição dos sintomas e até uma semana depois de ter iniciado a
icterícia, também pode ocorrer diante da atividade dígito-anal-oral e no sexo por via oral ,
como também anal, onde exista o contato da mucosa oral de um indivíduo com o ânus de
uma pessoa com infecção aguda pelo HAV (BRASIL, 2005b).
Sua disseminação está atrelada a diversos fatores, tais como: às condições de
saneamento, nível socioeconômico, grau de educação sanitária e nível de higiene da
população. O período de incubação representa o intervalo entre a exposição do indivíduo
suscetível ao vírus e o início dos sinais, como também sintomas da infecção como fadiga,
náuseas e vômitos, febre baixa e urina escura, podendo variar de 15 a 50 dias. O prognóstico
da hepatite A, geralmente, é excelente e sua evolução resulta em recuperação completa
(BRASIL, 2005b).
No caso da hepatite B crônica, o início da sintomatologia é notado pela persistência
do AgHBs, viremia em graus avançados e existência de AgHBe. Quando a infecção é obtida
durante o período perinatal, os indivíduos, geralmente, demonstram níveis normais de
transaminases, persistência de AgHBe e aumento do DNA do VHB, denominado como fase
imunotolerante (MOREIRA; AREAIS, 2009).
Sua transmissão pode acontecer pela realização de alguns procedimentos de saúde
sem a esterilização correta ou utilização de material descartável, transmissão vertical,
aleitamento materno e acidentes com perfurocortantes (BRASIL, 2005b). Também pode
ocorrer por meio de:

Relações sexuais desprotegidas, pois o vírus encontra-se no sêmen e secreções


vaginais. Há que se considerar que existe um gradiente de risco decrescente
desde o sexo anal receptivo, até o sexo oral insertivo sem ejaculação na boca
(BRASIL, 2005b, p.10).

Na infecção por hepatite C, o mecanismo de transmissão não é bem definido em cerca


de 10 a 30% dos casos (BRASIL, 2005b). Em contrapartida, mais recentemente, diversos
trabalhos apontaram, como principais mecanismos de transmissão, a transfusão de sangue e
hemoderivados de doadores não testados para anti-HCV, transplantes de órgãos de doadores
infectados, uso de drogas injetáveis, terapias injetáveis com equipamento contaminado,
hemodiálise, exposição ocupacional ao sangue, transmissão perinatal e transmissão sexual
(MARTINS; SCHIAVON; SCHIAVON; 2011).
Ademais, em decorrência da variedade de atividades que podem levar uma pessoa a
se expor ao sangue, existem várias outras formas possíveis de transmissão do HCV. Algumas
dessas formas englobam ações estéticas, além de atividades de aspectos culturais e também
religiosos como realização de tatuagens, circuncisão e rituais de escarificação (MARTINS;
SCHIAVON; SCHIAVON; 2011).
Assim como as demais hepatites, a infecção pelo HDV, além da forma sintomática,
pode se apresentar com a manifestação de poucos ou sem nenhum sintoma, o que pode
decorrer, parcialmente, pelo momento em que o vírus delta foi adquirido, podendo
acontecer em conjunto com a infecção pelo HBV, sendo considerada uma co-infecção ou

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em indivíduos portadores crônicos deste vírus, que dessa forma se configura como uma
superinfecção. Quando se trata da sua forma de transmissão, os mecanismos são iguais aos
do HBV (BRASIL, 2005b).
A hepatite pelo HEV ocorre tanto de forma epidêmica, como de forma esporádica,
em áreas endêmicas de países em desenvolvimento. A via de transmissão fecal-oral favorece
a disseminação da infecção nos países em desenvolvimento, onde a contaminação dos
reservatórios de água mantém a cadeia de transmissão da doença. A transmissão interpessoal
não é comum. Em alguns casos, os fatores de risco não são identificados (BRASIL, 2005b).
No que diz respeito aos índices de contaminação, é de suma importância que haja
medidas de prevenção, como também o controle de disseminação. Nesse sentido, a melhoria
das condições sanitárias contribui para esse controle, assim como a imunização. Sobre a
hepatite A, a vacinação universal em crianças é a ferramenta mais importante para controlar
a disseminação do HAV, diminuindo assim, a ocorrência da doença (BRITO; SOUTO, 2020).
Segundo Brito Souto (2020), desde os anos de 1990, os antígenos contra o HAV são
disponibilizados, tornando-se a vacina monovalente de vírus inativado mais usada. Diante
dos resultados na diminuição da incidência de hepatite A do programa público de vacinação
universal infantil contra o HAV, é possível considerá-lo como um plano bem-sucedido,
entretanto, ainda deve-se manter esforços para ampliar a cobertura vacinal, para dessa
forma diminuir ainda mais a disseminação do vírus e a incidência de infecções.
Assim como a hepatite A, a hepatite B é uma doença imunoprevenível, logo, pode
ser prevenida através da vacinação, a vacina contra o HBV encontra-se disponível no
calendário nacional de imunização do Sistema Único de Saúde (SUS) para todas as pessoas,
independentemente da idade ou condição social (BRASIL, 2014). Outra forma de prevenção
consiste em não compartilhar objetos de uso pessoal que tenham contato com fluidos
corporais, além de usar preservativo durante as relações sexuais (BRASIL, 2014b).
Por outro lado, não existe vacina contra as hepatites C e E. Assim, para evitar a evitar
a infecção pelo HCV, existem outras medidas preventivas, entre elas, as mais importantes
são: não compartilhar objetos de uso pessoal que possam ter contato com sangue e usar
preservativo durante as relações sexuais (BRASIL, 2014). Diante disso, a forma indispensável,
para a prevenção da hepatite C, é diminuir o risco de exposição ao vírus (FERREIRA;
PONTAROLO, 2017).
A hepatite D depende da presença do vírus B para se reproduzir, logo, as medidas
preventivas consistem nas mesmas utilizadas na hepatite B. Para a hepatite E, como sua
transmissão se dá pela contaminação dos reservatórios de água, a prevenção se baseia na
melhora das condições de higiene e saneamento básico, consumindo água tratada e evitando
contato com esgoto a céu aberto, além de realizar sempre a higienização das mãos e alimentos
(BRASIL, 2014b).

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, com série histórica de dados,


com abordagem quantitativa, utilizando dados referentes às hepatites virais em Alagoas,
disponibilizados pelo Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções

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Sexualmente Transmissíveis (DCCI), através do painel de Indicadores Epidemiológicos,


tendo como fontes de dados as notificações compulsórias do Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN), disponibilizados pelo Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde (DATASUS) do Ministério da Saúde.
A coleta de dados foi realizada em julho de 2020. A análise se deu a partir dos
dados absolutos e relativos sobre as notificações de hepatites virais em Alagoas, entre
os anos de 2009 a 2018, sendo executada através de estatísticas descritivas básicas. As
variáveis empregadas foram: Casos de hepatites virais por sexo, entre 2009 e 2018 no
estado de Alagoas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme dados coletados através do SINAN, sobre hepatites virais em Alagoas entre
2009 e 2018, houve um total de 3.545 notificações, considerando as hepatites A, B, C e D.
Entre esses casos, o maior número foi de hepatite A, com 43,39% (n= 1538); seguido da
hepatite B, com 36,33% (n= 1288) e a hepatite C 20,06% (n= 711), o menor número de
notificações foi referente a hepatite D, com 0,23% dos casos (n= 8) (Figura 1).

Figura 1: Casos notificados de hepatites virais A, B, C e D em Alagoas, para o período compreendido


entre 2009 e 2018.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS/DCCI – Julho/2020.

Ao analisar os casos de hepatite A, em Alagoas, por sexo, entre os anos de 2009 e


2018, evidenciou-se um maior número de casos no ano de 2011 (n= 337), sendo homens
(n= 184) e mulheres (n= 153). O menor número de casos notificados foi em 2018 (n= 8), em
que o número de casos foi igual entre os sexos (n= 4). Diante disso, nota-se uma diminuição
considerável dos casos de hepatite A ao longo dos anos (Tabela 1).

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Tabela 1: Casos de hepatite A em Alagoas por sexo e ano de notificação, 2009-2018.


Hepatite A 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Total de casos 292 230 337 148 203 143 109 45 25 8

Homens 177 121 184 81 97 75 57 19 15 4

Mulheres 115 109 153 67 106 68 52 26 10 4

Fonte: Ministério da Saúde/SVS/DCCI - Julho/2020.

A tabela 2 apresenta os casos de hepatite B em Alagoas, em que se evidenciou que,


entre 2009 e 2018, houve um maior número de casos no ano de 2009 (n= 257) e um menor
número de casos em 2012 (n= 8). Em relação ao sexo, foi verificado que, em 2009, teve
o maior número de casos em homens (n= 139) e o menor no ano de 2015 (n= 39). Já em
mulheres, o maior número de casos também foi em 2009 (n= 118), mas o menor número foi
em 2012 (n= 30).

Tabela 2: Casos de hepatite B por sexo e ano de notificação, 2009-2018.

Hepatite B 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Total de casos 257 117 88 78 107 121 85 121 175 175

Homens 139 58 43 48 51 57 39 70 83 89

Mulheres 118 59 45 30 56 64 46 51 92 86

Fonte: Ministério da Saúde/SVS/DCCI – Julho/2020.

Na tabela 3, conforme os dados notificados entre 2009 e 2018, é possível observar um


aumento dos casos de hepatite C ao longo dos anos, sendo o menor número em 2013 (n= 25)
e o maior em 2017 e 2018, ambos com 120 notificações. Entre os sexos, os anos com menos
notificações foram, 2014 para homens (n= 11) e 2013 para mulheres (n= 12), já os maiores
índices, foram em 2016 para os homens (n= 71) e 2017 para as mulheres (n= 58).

Tabela 3: Casos de hepatite C por sexo e ano de notificação, 2009-2018.

Hepatite C 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Total de casos 74 32 58 42 25 26 98 116 138 142

Homens 46 16 33 28 13 11 56 71 70 72

Mulheres 28 16 25 14 12 15 42 45 68 70

Fonte: Ministério da Saúde/SVS/DCCI – Julho/2020.

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Sobre os casos de hepatite D, é notável um número menor de notificações, quando


comparado aos dados das outras hepatites virais, no estado de Alagoas, entre 2009 e 2018,
havendo um total de 8 casos, sendo 4 em cada sexo. O ano com maior número de notifica-
ções foi 2014 (n= 3), sendo 1 caso do sexo masculino e 2 do sexo feminino, seguido do ano de
2017 (n= 2), em que houve 1 caso em cada sexo. Os outros casos foram 1 mulher em 2009 e
2 homens, 1 em 2011 e outro em 2015, conforme a tabela 4.

Tabela 4: Casos de hepatite D por sexo e ano de notificação, 2009-2018.

Hepatite D 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Total de casos 1 - 1 - - 3 1 - 2 -

Homens - - 1 - - 1 1 - 1 -

Mulheres 1 - - - - 2 - - 1 -

Fonte: Ministério da Saúde/SVS/DCCI – Julho/2020.

Em relação às notificações das hepatites, segundo o sexo, percebe-se que as infecções


por hepatites virais não apresentam uma proporção de notificações discrepante entre os
sexos, porém é notável que os homens foram os mais infectados pelas hepatites virais, em
Alagoas, ao longo desses dez anos (2009 - 2018), com 53,40% dos casos; já as mulheres,
apresentaram 46,60% dos casos notificados (Figura 2).

Figura 2: Casos de hepatites virais em alagoas, segundo o sexo por ano de notificação, 2009-2018.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS/DCCI – Julho/2020.

A partir da descrição dos dados, é possível afirmar que houve um maior número de
casos, em Alagoas, de hepatite A, seguido pelas hepatites B e C, que também tiveram um
número significante, quando comparado com a hepatite D, que teve um menor número de
casos notificados. Tal evidência pode ser compreendida, devido às hepatites virais mais

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comuns serem causadas pelos vírus A, B e C e com menor frequência, o vírus da hepatite D,
que é mais comum na região Norte do país (NUNES et al., 2017).
O perfil epidemiológico das hepatites A, B e C está relacionado, principalmente, pela
falta de saneamento básico e outros fatores. Devido à transmissão da hepatite A ser por
via fecal-oral e alimentos contaminados, a disseminação está relacionada às condições
de saneamento básico, nível socioeconômico da população, grau de educação sanitária e
condições de higiene da população. E a hepatite B e C, através de relação sexual desprotegida,
utilização inadequada de material descartáveis, uso de drogas com compartilhamento de
seringas, hemodiálise e contato com sangue contaminado (BRASIL, 2010).
Ao longo dos anos de 2009 a 2018, houve um decréscimo considerável nos casos
de hepatites A em Alagoas, diferente dos casos de hepatite B e C, que apresentaram um
crescimento das notificações durante esses anos, tornando Alagoas um estado com uma
grande prevalência de casos de hepatites virais entre 2009 e 2018. Acredita-se que a redução
de casos de hepatite A se deu em consequência da crescente urbanização da população e
das melhorias do saneamento básico que vem ocorrendo desde o fim do século XX (BRITO;
SOUTO, 2020).
Além disso, a vacinação das crianças é uma ferramenta importante para a prevenção
e redução da incidência da doença, o que pode explicar a diminuição dos casos de hepatite A
partir de 2014, pois, nesse ano, foi implantado, no Brasil, o programa de vacinação contra o
HAV, ofertando dose única da vacina, inicialmente, a todas as crianças com idade entre 15 e
24 meses, e em 2017, ampliando para menores de 5 anos (BRITO; SOUTO, 2020).
Em contrapartida, apesar da existência da vacina contra Hepatite B, ainda existem
muitos casos desta hepatite em Alagoas, isto pode estar relacionado com a baixa cobertura
desta vacina em adultos (VIVALDINI et al., 2019). Há, também, prevalência dos casos de
hepatite do tipo C, que pode ser atribuída a diversos fatores como virológico, demográfico,
clínico e até mesmo o estilo de vida (GOMIDE et al, 2019).
De acordo com os dados coletados, no presente estudo, do total de casos confirmados,
os homens (53,40%) foram mais afetados do que as mulheres (46,60%), seguindo, desta
forma, a tendência nacional apresentada no estudo epidemiológico, realizado de 1999 a
2017, que mostrou maior prevalência das Hepatites virais no sexo masculino. Tal como, na
Hepatite A, com uma taxa de incidência em homens maior que nas mulheres, sendo 1,5 e 0,5
casos para 100 mil habitantes, respectivamente. Como também, na Hepatite B, em que do
total de casos notificados 54,4% foram em homens, e nas Hepatites C e D, o sexo masculino
apresentou 58,0% e 57,7%, respectivamente (BRASIL, 2018b).
Os dados apresentados, neste estudo, mostram que, no período analisado, o estado
de Alagoas obteve muitos casos confirmados, podendo, desta forma, considerar as Hepatites
virais um importante problema de saúde pública. Isto pode estar relacionado com a ausência
de saneamento básico em algumas regiões, a falta de conhecimento da população a respeito
da doença, a condição socioeconômica dos indivíduos, a baixa cobertura da vacina de
Hepatite B em adultos, a ausência de vacina contra a Hepatite C, dentre outros fatores.

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CONCLUSÃO

Conclui-se que, no estado de Alagoas, entre os anos de 2009 e 2018, a maioria dos
casos das hepatites virais foi da hepatite A, com 43,39%, seguido das hepatites B e C, com
36,33% e 20,06% consecutivamente; já a hepatite D, apresentou-se como a menos frequente
nessa população, com apenas 8 casos notificados ao longo desses anos, o que representa
apenas 0,23%.
Além disso, foi possível notar um decréscimo nos casos de hepatite A ao longo dos
anos, o que não aconteceu com as hepatites do tipo B e C, em que o número de casos oscilou
durante esses anos, mas apresentaram um crescimento das notificações nesse período.
Portanto, Alagoas é um estado com um número considerável de casos de hepatites virais,
seguindo assim, a tendência nacional e mundial que caracteriza essas infecções como um
problema de saúde pública.

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arttext&tlng=pt. Acesso em: 30 jul. 2020.

49
4

Doenças mais ocorrentes em dois Programas de Saúde da


Família (PSF) em Santana do Ipanema, Alagoas1

Most common diseases in two family health programs in Santana


do Ipanema, Alagoas
Dalton Ferreira Matos(1); Maria Lorena Silva(2); Thaywisson Kennedy Pereira de Morais(3);
Maria Lindenalva dos Santos Feitoza(4); Wandklebson Silva da Paz(5).

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6188-7536, discente do Curso de Ciências Biológicas (Licenciatura)
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) Campus II. Santana do Ipanema, Alagoas, Brasil. E-mail:
Daltonmatosgn@gmail.com ;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7673-3871, discente do Curso de Ciências Biológicas (Licenciatura)
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) Campus II. Santana do Ipanema, Alagoas, Brasil. E-mail:
lorenasilvalore@gmail.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1618-5519, discente do curso de Fisioterapia (Bacharelado)
Universidade de Ciências da Saúde (UNCISAL). Maceió, Alagoas, Brasil. E-mail: thaywissontk11@gmail.
com;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2506-0152, discente do Curso de Ciências Biológicas (Licenciatura)
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) Campus II. Santana do Ipanema, Alagoas, Brasil. E-mail:
liindyf@gmail.com;
(5)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2898-2646, Mestrando em Biologia Parasitária, Universidade
Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, Sergipe Brasil. E-mail: wandklebson.paz@gmail.com.

ABSTRACT: With the crisis experienced in 1994, the Ministry of Health created the Family Health
Program (FHP) with the objective of improving primary care. The program deals with pregnant women, the
elderly, children, and patients with NCDs (Chronic Noncommunicable Diseases), whose mortality rate is
high. This study aimed to identify the most present diseases, link them with the socioeconomic conditions of
the communities and verify whether professionals have adequate means of education about combating these
diseases with families in two FHP units in deprived areas of Santana do Ipanema, Alagoas. For data collection,
a semi-structured questionnaire was used for health agents, and the Informed Consent Form was used.
According to the information collected at one point, most of the families served are low-income. The most
common diseases are: diarrhea, Upper Airway Infections, diabetes, hypertension, among others. Hypertension
and diabetes were more present, with 33,3% each. In the second point visited, the most frequent diseases were:
diarrhea, hypertension, Sexually Transmitted Infections (STIs), among others. Cases of diarrhea and STIs
were more cited by the agents as problems. No relationship was found between the most prevalent diseases in
the observed communities and the socioeconomic profile of the residents, as they are chronic diseases. On the
other hand, other diseases that have been reported have shown to be related to the profile of residents (worms
and infectious diseases. It Is concluded that in both FHPs the majority of diseases mentioned by the agents
were of chronic profile, therefore, it does not have a direct connection with the socioeconomic situation of the
community. In contrast, reports of some infectious diseases and worms were found in both communities, and
these do express a direct link with the socioeconomic situation of the families.

KEYWORDS: FHP, Health, Community.

1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap4
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INTRODUÇÃO

Frente à crise vivida no setor saúde, o Ministério da Saúde, em 1994, implantou o


Programa Saúde da Família (PSF) com o objetivo de proceder à reorganização da prática
assistencial a partir da atenção básica, em substituição ao modelo tradicional de assistência,
orientado para a cura de doenças (PAIVA; BERSUSA; ESCUDER, 2006).
Segundo Barreto e Carmo (2007), o Programa de saúde da Família (PSF) é a principal
estratégica básica do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim sendo, o PSF pretende promover
a saúde através de ações básicas que possibilitam a incorporação de ações programáticas de
forma mais abrangente. No qual a dinâmica proposta pelo PSF, centrada na promoção da
qualidade de vida e intervenção nos fatores que a colocam em risco, permite a identificação
mais acurada e um melhor acompanhamento dos indivíduos diabéticos e hipertensos
(PAIVA; BERSUSA; ESCUDER, 2006).
Adicionalmente, o treinamento dos profissionais de saúde é o primeiro componente
que envolve protocolos padronizados, e isso possibilita a identificação precoce das crianças
que possam ter uma determinada enfermidade. O segundo componente visa a uma melhoria
da organização do sistema de saúde, através do suporte adequado, voltado à disponibilidade
dos equipamentos medicamentosos, sendo eles vacinas, materiais educativos, envolvendo
saúde e entre outros. E por último, o componente que acaba incluindo atividade juntos a
família e a comunidade local (AMARAL et al., 2008).
O trabalho das equipes do PSF prioriza a assistência a alguns grupos populacionais
considerados de maior risco de agravos à saúde: crianças menores de dois anos, gestantes,
portadores de hipertensão, diabetes, tuberculose e hanseníase. Dentre as ações desenvolvidas
pelas equipes de saúde, destacam-se as de prevenção primária (redução e controle de fatores
de risco), possibilitando o controle sistêmico e permanente da hipertensão arterial sistêmica
e Diabetes Mellitus (TORRES; MONTEIRO, 2007).
Diante disto levantou-se os seguintes questionamentos: a) Quais as principais doenças
que ocorrem nos PSF selecionados para o trabalho? b) E quais as dificuldades que os agentes
de saúde sentem em relação a infraestrutura do posto de saúde que os mesmos trabalham?
Dessa forma, esse trabalho se justifica pela importância de se ter conhecimento sobre
as doenças mais frequentes ocorrentes, localmente, através dos agentes de saúde, pois os
mesmos têm contato direto com a comunidade local e sabe a realidade de cada pessoa que
frequenta o posto de Saúde, sendo que doenças como as Crônicas Não Transmissíveis (DCNT)
representam 70% de todas as mortes do mundo. Além disso, no município de Santana do
Ipanema, não se têm trabalhos acadêmicos, envolvendo o conhecimento de agentes de saúde
em relação a essas doenças, sendo esse inédito na cidade.
Com isso, objetivou-se identificar as doenças mais frequentes em dois PSF’s que
atendem a dois bairros carentes no município de Santana do Ipanema, Alagoas, e verificar
se os profissionais presentes, nos PSF’s, dispõem de trabalhos de educação, conscientização,
prevenção e combates de forma adequada às famílias.

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REFERENCIAL TEÓRICO

A preocupação relacionada à saúde aumentou a partir da Revolução Industrial, pois


os trabalhadores eram expostos a excessivas cargas de trabalho e condições de higiene
precárias, já que não existia a biossegurança para esses operários (AIRES, 2017).
Com a Segunda Guerra Mundial, de forma negativa, houve um avanço das más condições
em relação ao trabalhador e o seu ambiente de trabalho. Os empresários perceberam que as
doenças laboratoriais tinham custos elevados, com isto, foi criado o conceito de Medicina de
Trabalho, dando origem à promoção e preservação a saúde do trabalhador (AIRES, 2017).
O desemprego é um grande fator que expõe e priva o sujeito e sua família, gerando
efeitos nutricionais, aumentando o risco de exposição das doenças infecciosas, aumentando
a ocorrência das doenças mentais e cardiovasculares (BARRETO; CARMO, 2007).
Segundo Silva et al. (2017), o meio urbano acaba estabelecendo elementos
socioeconômicos e culturais, gerando diversas formas e relações ao meio natural. Em
decorrência disso, seu crescimento vem atingindo espaços inadequados em relação às
questões ambientais, gerando a perda da qualidade de vida da população, acarretando a
falta de infraestrutura urbana como o saneamento básico.
Os problemas enfrentados pelos indivíduos, em relação a suas enfermidades,
implicaram na busca das unidades básicas de saúde, mas a Organização Mundial de Saúde
(OMS) destaca que várias populações, em todo globo, têm dificuldade de acesso à utilização
dos serviços básicos de saúde, gerando uma barreira para o enfrentamento das doenças
como, por exemplo, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis - DCNT (AIRES, 2017; MALTA
et al., 2017).
Segundo Malta et al (2017), a importância das DCNT no perfil atual de saúde
é extremamente importante, pois se torna cada vez mais comum na sociedade,
consequentemente estando cada vez mais presente nos serviços de saúde, tendo uma atenção
dobrada dos profissionais (MONTEIRO et al., 2005; TADDEO, 2012).
Segundo Trad e Bastos (1998), o desafio crucial que se coloca, contemporaneamente,
para a saúde pública, no mundo ocidental, consiste em propor programas de intervenção.
O incentivo à autorresponsabilidade e à participação da comunidade, como também dos
cidadãos no planejamento, na organização, no funcionamento e no controle da atenção
primária à saúde são requisitos indispensáveis à otimização do atendimento e constitui
também as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Não se pode dizer que o modelo assistencial que vem predominando, no Brasil, nos
últimos anos contemple as diretrizes necessárias. Ao contrário: volta-se, prioritariamente,
para ações curativas, privilegiando uma medicina de alto custo, verticalizada, excludente e
de baixo impacto na melhoria da qualidade de vida da comunidade (TRAD; BASTOS, 1998).
Segundo Duncan et al (2012), em 2009, as DCNT’s tiveram uma diminuição
comparado a 2007, tendo uma porcentagem de 72,4% no número total de óbitos no
Brasil, no qual as doenças cardiovasculares, câncer, doença respiratória crônica e
diabetes foram as responsáveis pela maioria dos óbitos. Considerando que essa doença
é um problema de saúde global e uma ameaça ao desenvolvimento da humanidade
(SCHMIDT et al, 2011).

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Em particular, as cardiovasculares, o diabetes mellitus e o câncer, estima-se que, em


2020, 73% serão atribuídas a DCNT, sendo que os principais fatores de risco são a inatividade
física, o tabagismo e a dieta inadequada (TORRES; MONTEIRO, 2007).
Nos últimos anos, houve uma mudança no perfil da mortalidade da população,
caracterizada pelo aumento dos óbitos causados por DCNT’s, destacando as Doenças
Cardiovasculares e a hipertensão arterial, com uma prevalência estimada de 35% na população
que esteja acima de 40 anos. No Brasil, essas doenças vêm representando 69% dos gastos
em hospitais através do Sistema Único de Saúde - SUS (RIBEIRO; COTTA; RIBEIRO, 2012).
Com o envelhecimento da população, as doenças crônicas passaram a ter uma demanda
aos serviços básicos de saúde, tendo a necessidade de conhecer suas prevalências. Tais
doenças são classificadas como doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias
crônicas, diabetes e doenças musculoesqueléticas e entre outras (BARROS et al., 2006;
ISER et al., 2011).
Os programas de intervenção de base comunitária que vem sendo introduzidos
em diferentes régios, desde a década de 70, contendo o intuito de diminuir a morbidade
e a mortalidade das doenças cardiovasculares, através da redução dos fatores de risco
cardiovascular nas comunidades (RIBEIRO; COTTA; RIBEIRO, 2012).
O envolvimento da atenção primária de saúde na estratégia de CARMEM, que possui
o intuito de promover a prevenção e o manejo integrado das DCNT nas regiões, pretende
alcançar sua eficácia através do desenvolvimento, implantação e da avaliação de políticas
públicas. Mas deve, antes de tudo, conhecer o perfil do profissional da atenção de saúde junto
aos usuários a fim de planejarem estratégias contra as DCNT (CAPILHEIRA, SANTOS, 2011).
Para toda a sociedade, o número de mortes prematuras e de incapacidades faz com
que o enfretamento das “novas epidemias”, causadas por DCNT’s, demandem significativos
investimentos em pesquisa, vigilância, prevenção, promoção da saúde e defesa de uma vida
saudável (MALTA et al., 2006).
O cenário epidemiológico brasileiro é complexo. Em 1930, as doenças infecciosas
respondiam por cerca de 46% das mortes em capitais brasileiras. A partir de então, verificou-
se redução progressiva; em 2003, essas doenças já responderam por apenas 5% dessas
mortes, aproximadamente, as doenças cardiovasculares, contudo, representavam somente
12% das mortes na década de 30, sendo, atualmente, suas principais causas em todas as
regiões brasileiras, respondendo por quase um terço de nossos óbitos. Em segundo lugar,
estão os cânceres e, em terceiro, as mortes ocasionadas por acidentes e violências (MALTA
et al., 2006).
Boa parte da população doente são pessoas carentes, indivíduos com condições de
vidas precárias, que moram em bairros periféricos, localidades essas em que o índice de
doenças infecciosas e verminoses são mais incidentes (NEVES, 2016).
Vargas e Brito (2016) afirmam isso quando dizem que, embora as inovações, no
campo da saúde, apresentam uma forte interação na área médica, tendo em vista que
apresentam desafios na manutenção da saúde pública no país. Em especial, porque a
prevalência das mesmas é maior em regiões com elevado índice de “pobreza”, onde as
condições de saneamento básico e educação para disseminar o conhecimento, como também
disponibilidade de serviços de saúde são precárias (NEVES, 2016).

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Em Alagoas, esse quadro ainda se faz presente na maioria dos municípios. Entre as
doenças endêmicas em destaque, em Alagoas, estão a dengue, zika vírus, febre chikungunya,
hanseníase, esquistossomose, tuberculose e leishmaniose. Além das doenças crônicas. É de
suma importância a existência e prevalência dos PFS’s para a população alagoana, nesse
contexto, o Programa de Saúde da Família apresenta-se como um eixo articulador do sistema
de saúde no qual trabalha em conjunto com a porta de entrada do atendimento. A estratégia
adotada sugere que a reorganização do atendimento primário para as ações de promoção de
saúde, prevenção de riscos dos agravos, acaba sendo decisiva na assistência, recuperação e
cuidados aos doentes (PERREAULT et al., 2016).

METODOLOGIA

O município de Santana do Ipanema, de acordo com a estimativa intercensitário de


2019 do IBGE, possui população total residente de 47.486 habitantes. O município está
localizado na região centro-oeste do Estado de Alagoas, limitando-se a norte com Poço das
Trincheiras e o estado de Pernambuco, a sul com os municípios de Carneiros, Olho d’ Água
das Flores e Olivença, a Leste com Dois Riachos e a oeste com Senador Rui Palmeira e Poço
das Trincheiras. A área municipal ocupa 437,80 km2 (1,60% de AL).
A sede do município tem uma altitude aproximada de 250 m e coordenadas geográficas
de 9°22’42’’ de latitude sul e 37°14’43’’ de longitude oeste, o acesso, a partir de Maceió, é
feito através da rodovia pavimentada BR-316, com percurso total em torno de 207 km.
O município foi o foco central para este estudo, possuindo um total de 7 (sete) PSF’s
distribuídos em sua zona urbana, mas como espaço amostral desse estudo foram investigados
PSF’s dos bairros Santo Antônio e São Pedro, pois ambos apresentam características de
comunidades vulneráveis economicamente, consequentemente, possuem um índice de
saúde pública prejudicado.
Após a escolha dos PSF’s, foram realizadas visitas no período de outubro de 2019
para que os responsáveis e agentes de saúde conhecessem os objetivos desse projeto de
pesquisa e para adquirir a autorização necessária a partir do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE), aos responsáveis pelo PSF.
Com isso, no período de novembro de 2019, foram realizadas outras visitas para a
realização da etapa de preenchimento de formulários semiestruturados (ALBUQUERQUE
et al., 2014) com perguntas abertas voltadas a todos os agentes de saúde presentes, nos
PSF’s, nos momentos das visitas, para que fosse possível a construção das respostas para as
perguntas referentes os objetivos do trabalho.
Com isso, foram obtidos um total de onze formulários preenchidos, cinco no PSF do
bairro de Santo Antônio e seis no PSF do bairro São Pedro. As respostas obtidas com o
preenchimento dos formulários foram tabuladas no Excel e, assim, geradas as tabelas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Visitando o primeiro PSF, que se localiza no bairro Santo Antônio, foram respondidos
5 questionários, e, segundo os agentes, o posto abrange famílias com sua grande maioria de
baixa renda. A estrutura não apresenta comodidade para suportar ou até mesmo atender a

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comunidade participante. O mesmo possui saneamento básico, mas não desfruta de serviços
básicos como calçamento.
De acordo com as consultas ao local, foi observado que, diariamente, o atendimento
pode ser de até 40 pessoas, com média de 600 por mês. As doenças que ocorrem na
comunidade segundo os agentes são: diarreia, Infecção das Vias Aéreas Superiores (IVAS),
diabetes, depressão, tuberculose, dengue, gastrite, osteoporose, hipertensão, doenças
cardíacas e hanseníase.
As mais frequentes são as crônicas como a hipertensão (citadas por 33,3% dos
agentes) e diabetes, citadas por 33,3% dos agentes (Tabela 1). São causadas, normalmente,
por alimentação incorreta e sedentarismo, atingindo grande parte da população nacional e
é responsável por boa parte dos óbitos em todo país.

Tabela 1. Questionário feito aos agentes do PSF do bairro Santo Antônio, Santana do Ipanema,
Alagoas (N=5)

Respostas dos agentes Frequência Frequência


Perguntas
de saúde absoluta (N) (%)

Diabetes 3 33,3

Hipertensão 3 33,3
Quais as doenças mais ocorrentes no
PSF? Depressão 1 11,1

Doenças Cardíacas 2 22,2

Qual a renda das pessoas que frequentam


Baixa renda 5 100
o posto?

Como é a infraestrutura e recursos


Péssima 5 100
disponíveis no posto?

Como ressalta Lessa (1998), a hipertensão (HA) arterial e diabetes mellitus (DM) fazem
parte de uma classe de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), representando, de
forma mútua, uma das principais causas de óbitos em todo o país. Corroborando, também,
com os estudos de Torres e Monteiro (2007), no qual ele retrata que, em 2020, as doenças
cardiovasculares, diabetes e o câncer atingiriam a maior parte da população.
As DCNT’s vêm sendo investigadas, há bastante tempo, nos países desenvolvidos da
América do Norte e Europa, iniciando-se tais investigações em torno de 1923 e, com mais
ênfase, na década de setenta, por metodologias mais modernas.
Estas doenças deixaram de ocorrer, preferencialmente, em países desenvolvidos,
representando uma grave preocupação à saúde para populações residentes nos países
em desenvolvimento (REDDY; YUSUF, 1998). No caso do Brasil, existem fatores que
agravam e dificultam a implantação de programas de prevenção, como também combate
a estas enfermidades, como a desigualdade social, somada à dimensão continental do país
(MALFATTI; ASSUNÇÃO, 2011).

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No que se refere a doenças relacionadas às condições ambientais ocorrentes na


comunidade, são pouco frequentes, segundo os agentes, 100% dos mesmos afirmam
que a população é de baixa renda, mas que possuem água potável e saneamento básico.
Ainda declaram que a infraestrutura e recursos disponíveis, no PSF, são ruins (Tabela 2),
dificultando os atendimentos. O PSF sempre oferece ações como palestras e campanhas para
promover educação a saúde a população de acordo com as declarações passadas.

Tabela 2. Questionário feito aos agentes de saúde do bairro São Pedro, Santana do Ipanema, Alagoas.
Frequência
Respostas dos agentes Frequência
Perguntas absoluta (N)
de saúde (%)

Diabetes 4 19,06
Hipertensão 3 14,3
Diarreia 5 23,8
Doenças Sexualmente
Quais as doenças mais Transmissíveis (DST) 5 23,8
ocorrentes no PSF?
Hanseníase 1 4,76
Pneumonia 1 4,76
Cefaleia 1 4,76
Saúde Mental 1 4,76

Qual a renda das pessoas


Baixa 6 100
que frequentam o posto?

Como é a infraestrutura Péssima 3 50


e recursos disponíveis no
posto? Boa 3 50

Visitando, por último, o posto do bairro São Pedro contava com uma estrutura mais
adequada para o atendimento dos seus participantes, porém o atendimento ao paciente
ainda é insatisfatório por dificuldades enfrentadas devido à falta de recursos. Suporta
um atendimento diário de até 35 pacientes, em média 650 mensais, todas de famílias de
baixa renda. As doenças ocorrentes, na comunidade, são: diarreia, hipertensão, Doenças
Sexualmente Transmissíveis - DST, diabetes, verminoses, cefaleia, pneumonia, hanseníase,
astes, leishmaniose visceral, hanseníase, tuberculose e saúde mental.
Com relação às DSTs, no ano de 1999, a OMS estimou um total de 340 milhões de casos
novos por ano de doenças sexualmente transmissíveis, no qual seria possível o tratamento
destas doenças em todo o mundo, entre pessoas com idade de 15 a 40 anos, no qual 10 a 12
milhões destes casos são no Brasil (BELDA JUNIOR; SHIRATSU; PINTO, 2009).
O sexo feminino apresenta infecções não tratadas por gonorreia e clamídia, tendo em
vista que 10% a 40% acabam desenvolvendo doenças inflamatórias pélvicas (DIP). Além

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disso, mais de 25% acabam se tornando inférteis, visto que a taxa de infertilidade por causas
não infeciosas varia de 3% a 7% (BELDA JUNIOR; SHIRATSU; PINTO, 2009).
Como no PSF de Santo Antônio, as doenças mais frequentes do PSF de São Pedro,
citadas pelos agentes, são a hipertensão e a diabetes. Contudo, é importante ressaltar
doenças causadas pela situação socioeconômica e ambiental do bairro, como a diarreia,
que foi destaque de ocorrência na comunidade, normalmente causada através de infecção
por vírus, bactérias ou outros parasitas. A DST transmitida, principalmente, por falta de
proteção no ato sexual, traz observações sobre a falta de conhecimento sobre gravidade e
ocorrência das doenças sexualmente transmissíveis, principalmente, por pessoas carentes,
afetando diretamente os adolescentes. São consideradas doenças de alta transcendência,
com elevados índices de morbimortalidade e impacto psicológico, trazendo perdas do ponto
de vista econômico e social, principalmente, pelo fato de atingir uma grande parcela da
sociedade em idade produtiva e reprodutiva (DORETO; VIEIRA, 2007).
Outras doenças que se destacam, no bairro, são as verminoses, hanseníase e
leishmaniose visceral, comuns em bairros periféricos, em que a qualidade de vida da
população é precária, e os mesmos não são instruídos sobre as causas de tais doenças.
Em relação à saúde mental, citado pelos agentes de saúde, o adoecimento do psíquico
também é um dos grandes problemas enfrentados na sociedade, como a depressão, ansiedade,
entre outros transtornos. Tais fatores acabam comprometendo a saúde das populações,
afetando diferentes faixas etárias, causando sofrimento tanto para o indivíduo, mas também
para a família (ROCHA et al., 2010).
Apesar desses dados sobre a situação de saúde mental, em grupos populacionais,
eles ainda são bem escassos, gerando carência de informação sobre esses indicadores de
morbidade. No qual a ausência de informação sobre a situação de saúde mental é um dos
fatores que contribuem para a atenção precária ou inexistente em saúde mental, tanto nas
ofertas de serviços de saúde quanto na elaboração de políticas de promoção a saúde (ROCHA
et al., 2010).
Outra doença, citada pelos agentes de saúde, é a diarreia. Segundo Victora (2009),
todos os anos cerca de 2 milhões de crianças, no mundo, morrem de diarreia, as crises
diarreicas ainda são responsáveis por uma porção de mortes de (16%) em crianças menores
de 5 anos (ANDRADE; NETO, 2011). A doença diarreica aguda (DDA) é um problema de
saúde pública em várias regiões do planeta, em particular, aquelas onde a pobreza predomina
(RANDT; ANTUNES; SILVA, 2015).
Segundo a OMS, a diarreia aguda é caracterizada quando o número de evacuações
líquidas for igual ou maior que três, ou contendo muco e sangue, no período de 12 horas
ou quando a duração da mesma for menor que 15 dias (ALMEIDA et al., 1998). Muitas
vezes a diarreia é causada por alimentos contaminados. Doenças transmitidas por alimentos
(DTA) são consideradas um problema de Saúde Pública, acaba atingindo diversos países,
manifestando-se de diversas formas, desde ligeiras indisposições até situações mais graves
que podem precisar de cuidados hospitalares ou mesmo causar a morte do indivíduo
(MARCHI et al., 2011).
Com relação à população, em ambos os PSF, são de baixa renda. Segundo Barros (2017),
estudos relacionados à desigualdade de renda são feitos através de pesquisas domiciliares,

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no qual apresentam algumas limitações. Com a melhoria na renda e na saúde, estão ligadas,
diretamente, ao bem-estar social, tendo em vista que entender a relação entre doença e bem-
estar se trata de algo necessário para a compreensão de tal população (SANTOS; JACINTO;
TEJADA, 2012).
Segundo Santos, Jacinto e Tejada (2012), a saúde afeta a renda. Consoante isso, a
saúde tem impacto direto sobre a produtividade oferta de trabalho, afetando o crescimento
econômico da região, o que justifica a baixa renda mencionada pelos agentes de saúde.
Estudos mostram que as DCNT afetam mais populações de baixa renda, por serem
mais vulneráveis, estarem mais expostas aos riscos e terem um menor acesso aos serviços de
saúde (MALTA et al., 2017).
Os PSFs estudados apresentam estruturas e localidades inadequadas, atendimento
insatisfatório por problemas enfrentados, muitas vezes, negligenciados, segundos os
agentes. Além da estrutura física, enfrentam também a falta de profissionais qualificados e de
recursos mais específicos para os atendimentos. Ambos atendem população de baixa renda,
e se destacam com maior atendimento em pacientes com doenças crônicas. Em diversas
localidades do Brasil, populações são excluídas da infraestrutura urbana, como os serviços
de saneamento básico e dos equipamentos públicos (PAZ; ALMEIDA; GÜNTHER, 2012).
Ressaltando que as condições socioeconômicas e ambientais de uma população são
circunstâncias causadoras de grande parte de doenças e mortes em todo país. São tratamentos
de altos custos para o governo, mas que podem ser evitadas através da assistência básica, que
é um grande problema devido às dificuldades enfrentadas pelo SUS. Todavia, foi possível
reduzir os índices de mortalidade através dos serviços que são oferecidos pelo Programa de
Saúde da Família (PSF), criado em 1994, como aspecto alternativo de promoção da saúde
no país, por meio de equipes de Agentes Comunitários de Saúde - ACS (PAZ; ALMEIDA;
GÜNTHER, 2012).
A comunidade estudada que mais se destaca em doenças relacionadas ao perfil
socioeconômico e ambiental foi a de São Pedro, com um grande índice de diarreia, além de
casos de verminoses e doenças bacterianas.

CONCLUSÃO

Foi observado em ambos os PSF’s que a maioria das doenças, citadas pelos agentes,
foram diabetes e hipertensão, ou seja, eram doenças de perfil crônico, além disso, também
foram encontrados relatos de algumas doenças infecciosas e verminoses em ambas as
comunidades. Podendo haver relação com o perfil socioeconômico da população local.
Dessa forma, é necessário a otimização de políticas públicas de saúde para que o índice das
doenças diminua na região. Adicionalmente, são necessários estudos que avaliem a relação
entre a ocorrência dessas doenças e determinantes sociais de saúde.

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61
5

Internações hospitalares de crianças com pneumonia no estado


de Alagoas, entre 2015 a 20191

Hospitalization of children with pneumonia in the state of Alagoas,


between 2015 to 2019

Suian Sávia Nunes Santos(¹); Joyce Kelly da Silva(²); Sarah Cardoso de Albuquerque(³); Vanessa
Mirtiany Freire dos Santos(4); Lucas Kayzan Barbosa da Silva(5); Ana Caroline Melo dos Santos(6)

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4564-6601, Faculdade Unirb Arapiraca – UNIRB ARAPIRACA;
BRAZIL. Graduanda em Enfermagem. E-mail: suyan.savia@gmail.com;
(²)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1956-5816, Faculdade Unirb Arapiraca – UNIRB ARAPIRACA;
BRAZIL. Graduanda em Enfermagem. E-mail: joyskeller9@gmail.com;
(³)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5809-4837, Faculdade Unirb Arapiraca – UNIRB ARAPIRACA;
BRAZIL. Graduanda em Enfermagem. E-mail: Sarah-albuquerque12@hotmail.com;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8968-8037, Faculdade Unirb Arapiraca – UNIRB ARAPIRACA;
BRAZIL. Graduanda em Enfermagem E-mail: vanessamirtiny@gmail.com;
(5)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0081-1068, Universidade Federal de Alagoas – UFAL; BRAZIL.
Mestre em Enfermagem pela UFAL. E-mail: lucaskayzan@gmail.com;
(6)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0280-6107, Faculdade Unirb Arapiraca – UNIRB ARAPIRACA;
BRAZIL. Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Especialista em
Enfermagem em Genética e Genômica – SBEGG, Pós-graduanda em Cardiologia e Hemodinâmica, E-mail:
anacaroline12305@gmail.com.

ABSTRACT: Pneumonia is an acute respiratory infection (ARI), which consists of a syndromic condition
resulting from inflammation of the lung tissue, triggered by the penetration of an infectious or irritating agent.
This is a retrospective study of secondary basis by SIH / SUS, made available by DATASUS / TABNET, with the
purpose of collecting data on hospital admissions and the mortality rate of children between 0 and 14 years old
with pneumonia in the state of Alagoas. Inclusion criteria were assessed for the prevalence of: character of care,
regime, age group and sex; between 2015 and 2019. In the period described, 27128 cases of pneumonia were
reported in children from Alagoas.It was analyzed by service character, which as a matter of urgency obtained
6034 (66.28) cases notified in 2015.It was identified in Regime, that the private regime obtained 3910 (142.70)
notified in 2015.It was presented by age group that children between 5 to 9 years old obtained 878 (93.33) in
the year 2016.It was observed by sex, that the male sex had 3400 (24.64) in 2015. It is concluded that male
children were the most affected by pneumonia, and that the year 2015 presented high rates of notifications.
In order to combat the increase in the disease in children, it is necessary to intensify the prevention, diagnosis
and treatment of the disease. Another preventive measure of prevention in children is immunization through
vaccination, thus reducing the chances of contracting the disease. However, it is important to know the profile
of the affected children and to encourage the appropriate filling out of the notification forms so that strategy
planning is effective.

KEYWORDS: Pneumonia, Child Health, Health Services Research.

1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap5
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INTRODUÇÃO

A pneumonia é uma infecção respiratória aguda (IRA), que consiste em um quadro


sindrômico resultante da inflamação do tecido pulmonar, desencadeada pela penetração de
um agente infeccioso ou irritante (bactérias, vírus, fungos e por reações alérgicas) no espaço
alveolar, onde ocorre a hematose, e, mais raramente, nos espaços intersticiais (BRASIL,
2015).
A doença pode ser adquirida na comunidade (pneumonia comunitária) ou por infecção
hospitalar (pneumonia nosocomial) e se manifesta através de quadro de febre, dispneia, dor
torácica ventilatório-dependente e tosse, porém, a depender da faixa etária e comorbidades,
seus sinais e sintomas podem se diferenciar com o surgimento de alterações da pressão
arterial sistêmica, confusão mental, mal-estar generalizado, secreção de muco purulento
de cor amarelada ou esverdeada, toxemia e prostração (BRASIL, 2012)a selector valve, a
multi-port valve, a gas-liquid separator and a solenoid valve for the determination of arsenic
by hydride generation atomic absorption spectrometry using tetrahydroborate as reductant
was developed. The reduction time of sample with tetrahydoborate has increased by keeping
the reactant in gas-liquid separator by using the solenoid valve. Various parameters affecting
the performance of the sequential injection system were optimized, including reaction-time,
carrier gas flow, sample volume, tetrahydroborate volume and concentration. Established
sequential injection hydride generation technique was simple and automated operation. A
sample throughput of 112/h was achieved with 400 μL samples with a precision of 2.0% RSD
at 4 μg/L As (n = 10.
O presente estudo teve como objetivo determinar a incidência anual de internações
hospitalares por pneumonia em crianças menores de um ano a quatorze anos, no período de
2015 a 2019 no estado de Alagoas.

REFERENCIAL TEÓRICO

Desde a década de 70, foi visto que a pneumonia é de 5 a 10 vezes maior em países
em desenvolvimento, principalmente, entre crianças menores de 5 anos. Em 2016, dados
do Ministério da Saúde (MS) apontaram a doença como a principal causa de óbitos infantis
no Brasil e responsável por grande parcela das internações de crianças menores de um ano,
devido às questões de vulnerabilidade social, como a desnutrição, que acarreta suscetibilidade
às doenças, e do fator de risco da própria idade como função da fragilidade da população
infantil (NASCIMENTO-CARAVALHO et al., 2002).
O Ministério da Saúde (2013) enfatiza os fatores de risco para o agravamento da
pneumonia em crianças, responsáveis pelas internações hospitalares: idade < 2 meses;
tiragem subcostal; convulsões; sonolência; estridor em repouso; desnutrição grave;
impossibilidade de ingestão de líquidos; sinais de hipoxemia; doença de base debilitante
(ex.: cardiopatia, pneumopatia crônica, doença falcêmica); derrame pleural, abcesso
pulmonar, pneumatocele; falha de terapêutica ambulatória; apoio familiar não favorável
ao tratamento domiciliar da criança com quadro agudo. Assim, identificar o perfil das
notificações de casos de pneumonia promove a identificação de necessidades relacionadas
à saúde, epidemiologia e mortalidade infantil (BRASIL, 2012)a selector valve, a multi-port valve, a gas-liquid

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separator and a solenoid valve for the determination of arsenic by hydride generation atomic
absorption spectrometry using tetrahydroborate as reductant was developed. The reduction
time of sample with tetrahydoborate has increased by keeping the reactant in gas-liquid
separator by using the solenoid valve. Various parameters affecting the performance of the
sequential injection system were optimized, including reaction-time, carrier gas flow, sample
volume, tetrahydroborate volume and concentration. Established sequential injection
hydride generation technique was simple and automated operation. A sample throughput of
112/h was achieved with 400 μL samples with a precision of 2.0% RSD at 4 μg/L As (n = 10.
Devido a esta condição, a atenção à criança representa um campo prioritário que
necessita um olhar atencioso, pois tendo em vista a sua suscetibilidade ao adoecimento e
ao agravamento das enfermidades em função da fragilidade da própria idade (DIAS-DA-
COSTA et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2012).

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Trata-se de um estudo longitudinal retrospectivo de base secundária pelo Sistema de


Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), realizado através do acesso aos dados públicos,
disponibilizado pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil
(DATASUS/TABNET), com o propósito de estimar o número de internações hospitalares
e a taxa de mortalidade de pneumonia em crianças. Foi restringido, para estudo ao estado
de Alagoas, com crianças nas idades entre 0 e 14 anos, e espaço temporal entre os anos de
2015 a 2019, ademais, foram utilizados, também, como de critérios: sexo, regime, caráter de
atendimento e faixa etária, categorizando pelas incidências nas notificações de internações
hospitalares de pneumonia em crianças.
Os dados levantados foram organizados e tratados, utilizando a estatística descritiva,
plotados na planilha do programa Microsoft Office Excel, versão 2007, calculando a
prevalência da população através dos dados populacional do estado de Alagoas no ano de
2010, do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). A análise dos dados foi de acordo com
as caraterísticas individuais e sociodemográficas. Os coeficientes da prevalência foram
obtidos no SIH/SUS, dividindo o total de números de casos registrados no período do
tempo pelo total da população alagoana do ano de 2010 e multiplicando por 100.000.
Após os resultados, importou-se os dados organizados para o software GraphPadPrism
versão 7, e realizou-se o teste T de ANOVA em relação de sexo, encontrando diferença
significativa entre os sexos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período descrito foram notificados 27.128 (Tabela 1) casos de pneumonia em


crianças alagoanas.

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Tabela 1 - Casos notificados de crianças com pneumonia de ≤ 1 ano a 14 anos, no estado de Alagoas

Ano Total de casos notificados


2015 6061
2016 5615
2017 5325
2018 5299
2019 4828
Total 27128

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

Identificou-se que por caráter de atendimento (Tabela 2), que no ano de 2015 obteve
altas notificações por Urgência com 6034(66,28).

Tabela 2 –Casos notificados e prevalência por Caráter de Atendimento em crianças com pneumonia
de ≤ 1 ano a 14 anos, no estado de Alagoas
Eletivo Urgência
Ano Total de casos Prevalência Total de casos Prevalência Total
2015 27 2,96 6034 66,2 6061
2016 32 3,51 5583 61,3 5615
2017 62 6,81 5263 57,8 5325
2018 205 22,5 5094 55,9 5299
2019 346 38 4482 49,2 4828
Total 672 - 26456 - 27128

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

A taxa de mortalidade, por caráter de atendimento (Tabela 3), encontra-se alta por
eletivo, no ano 2018, com 2,23% dos dados notificados.

Tabela 3 – Taxa de Mortalidade doscasos notificados por Caráter de Atendimento em crianças com
pneumonia de ≤ 1 ano a 14 anos, no estado de Alagoas.
Ano atendimento Eletivo Urgência Total
2014 ... 0,47 0,47
2015 - 0,43 0,43
2016 - 0,52 0,52
2017 1,59 0,49 0,5
2018 2,23 0,62 0,69
2019 1,53 0,53 0,6
Total 1,64 0,51 0,54
Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

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Apontou-se que, por Regime (Tabela 4), no ano de 2015, o regime privado obteve
3910(142,70) notificados.

Tabela 4 – Número de casos notificados e prevalência por Regime em crianças com pneumonia de
≤ 1 ano a 14 anos, no estado de Alagoas.
Tipo de regime
Público Privado

Ano Total de casos Prevalência Total de casos Prevalência Ignorado Total

2015 1278 46,9 3910 143,7 873 6061


2016 - - - - 5615 5615
2017 - - - - 5325 5325
2018 - - - - 5299 5299
2019 - - - - 4828 4828
Total 1278 - 3910 - 21940 27128

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

A taxa de mortalidade que está alta se encontra no regime público (Tabela 5) com 1,1%
em 2014.

Tabela 5 – Taxa de Mortalidade dos casos notificados por Regime em crianças com pneumonia de
≤ 1 ano a 14 anos, no estado de Alagoas.

Tipo de serviço

Ano Público Privado Ignorado Total


2014 1,1 0,3 - 0,47
2015 0,84 0,34 0,29 0,43
2016 - - 0,52 0,52
2017 - - 0,5 0,5
2018 - - 0,69 0,69
2019 - - 0,6 0,6
Total 0,86 0,33 0,56 0,54

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

No que se diz por Faixa Etária (Tabela 6), em crianças de 5 a 9 anos, no ano de 2016,
obteve 878(93,33) de casos notificados.

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Tabela 6 – Número de casos notificados e prevalência por Faixa Etária em crianças com pneumonia
de ≤ 1 ano a 14 anos, no estado de Alagoas.
Faixa etária
≤ 1 ano 1 - 4 anos 5 -9 anos 10 - 14 anos
Ano Total Prevalência Total Prevalên- Total Prevalência Total Prevalência Total
cia
2015 2212 8,1 2952 10,8 699 23,2 198 5,8 6061
2016 1803 6,6 2801 10,2 878 93,3 133 3,9 5615
2017 1844 6,7 2563 9,4 741 85,4 177 5,2 5325
2018 1930 7 2634 9,6 542 87,7 193 5,7 5299
2019 1661 6,1 2457 9 551 81,8 159 4,7 4828
Total 9450 - 13407 - 3411 860 - 27128

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

Porém, a taxa de mortalidade (Tabela 7) alta se encontra em crianças de 10 a 14 anos


com notificações 2,79%.

Tabela 7 – Taxa de Mortalidade dos casos notificados por Faixa Etária em crianças com pneumonia
de ≤ 1 ano a 14 anos, no estado de Alagoas.
Faixa etária

Ano < 1 ano 1 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos Total

2014 1,61 - - - 0,47


2015 0,79 0,14 0,15 1,6 0,43
2016 1,12 0,29 - 0,76 0,52
2017 0,86 0,19 0,13 2,79 0,5
2018 0,99 0,35 0,76 2,04 0,69
2019 0,81 0,21 1,11 2,67 0,6
Total 0,92 0,23 0,35 1,98 0,54

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

Observou-se, no sexo (Tabela 8), que o sexo masculino obteve o maior número de
notificações, com 3400 (24,64) no ano de 2015.

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Tabela 8 – Número de casos notificados e prevalência por Sexo em crianças com pneumonia de ≤ 1
ano a 14 anos, no estado de Alagoas.
Masculino Feminino

Ano Total de casos Prevalência Total de casos Prevalência Total


2015 3400 24,6 2661 19,8 6061
2016 3167 22,9 2448 18,2 5615
2017 2862 20,7 2463 18,3 5325
2018 2882 20,8 2417 18 5299
2019 2611 18,9 2217 16,5 4828
Total 14922 - 12206 - 27128

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

No que se identificou, na taxa de mortalidade alta (Tabela 9), no critério por sexo, o
sexo masculino obteve notificações de 2,16% no ano de 2016.

Tabela 9 – Taxa de Mortalidade dos casos notificados no Sistema de Informações Hospitalares do


SUS (SIH/SUS) por Sexo em crianças com pneumonia de ≤ 1 ano a 14 anos, no estado de Alagoas.
Ano Masculino Feminino Total
2014 0,81 - 0,47
2015 0,49 0,35 0,43
2016 0,51 0,54 0,52
2017 0,45 0,56 0,5
2018 0,49 0,93 0,69
2019 0,43 0,78 0,6
Total 0,48 0,61 0,54

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

Analisou-se que utilizando o teste T (Figura 1), foi identificado diferença significativa
entre os sexos em 2015 a 2019 (p= 0,0021).

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Figura 1 – Análise realizada no programa PRISMA utilizando o teste T por Sexo em crianças com
pneumonia de ≤ 1 ano a 14 anos, no estado de Alagoas.

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

Este estudo retrospectivo tratou de identificar uma constante, nas prevalências


realizadas, nos casos notificados no SIH/SUS do estado de Alagoas para traçar um perfil das
internações em crianças com pneumonia, tendo como verificar o caráter de atendimento que
obteve, em 2015, a prevalência de 66,2% (6024 casos notificados no SIH/SUS), e podemos
analisar que, durante um tempo, houve pequena diminuição, pois, no ano de 2019, este
mesmo caráter obteve 49,2% (4482 casos notificados no SIH/SUS). No que analisou da taxa
de mortalidade por atendimento, a maior taxa se encontrou, no ano de 2018, com 2,23% dos
casos notificados, em comparação ao ano de 2019 que obteve 1,53%, tendo pouca diminuição
nos casos, mas, mesmo assim, sendo significante. No que se constatou em Regime, percebeu
que só foram notificados no SIH/SUS o ano de 2015, sendo assim, identificamos que a
prevalência de casos de pneumonia está alta no privado com 143,7% (3910 casos notificados
no SIH/SUS), percebendo que há má notificações de casos para poder traçar uma prevalência
mais digna nos outros anos à frente.
Por faixa etária, observou-se que a maior prevalência de casos se encontrou em
crianças entre 5 a 9 anos, com 93,3% (878 de casos notificados no SIH/SUS), em relação
ao ano de 2019, que essa prevalência ainda continua alta com 81,8% (551 casos notificados
no SIH/SUS), observando uma constante, nos casos notificados, nessas crianças que têm
essa faixa etária que, para 300.115 (IBGE, 2010) da população de crianças alagoanas, entre
5 a 9 anos, está taxa de prevalências e encontra bastante alta. Verificou-se, em taxa de
mortalidade, por faixa etária, crianças entre 10 a 14 anos obtiveram a maior taxa no ano
de 2017 com 2,79%, em comparação ao um estudo sobre a mortalidade em crianças com
pneumonia, que avaliou crianças entre 1 e 4 anos, obtiveram a taxa no Brasil todo de
56,3%, (RODRIGUES et al., 2011).
Durante o período de 1990- 2008, a taxa de mortalidade de crianças menores de 5
anos diminuiu 28% no mundo e 61% no Brasil (UNICEF, 2009), assim, podemos confirmar

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a diminuição de casos nessas crianças no que foi analisado, nesse estudo, em crianças
alagoanas, tendo sua menor taxa de mortalidade em crianças 5 a 9 anos, no ano de 2017,
com 0,13% e em crianças entre 1 a 4 anos com taxa de 0,14%. No que se verificamos sobre o
sexo, o sexo masculino obteve a maior prevalência, no ano de 2015, com 24,6% (3400 casos
notificados no SIH/SUS) em relação ao 461.489 (IBGE 2010) da população masculina de
crianças alagoana. No que se contribui na taxa de mortalidade por sexo, o sexo masculino
tem a sua taxa mais alta, no ano de 2016, com 2,16%, em alguns estudos, relacionam a taxa de
mortalidade alta em crianças devido ao risco de internação por pneumonia foram associados
à escolaridade, idade materna e condição socioeconômica (RICCETTO et al., 2003).

CONCLUSÃO

Frente aos dados apresentados, observou que o sexo masculino foi o mais acometido
por pneumonia e o ano de 2015 apresentou um alto número de notificações. Para combater o
aumento da pneumonia em crianças ≤ 1 ano a 14 anos, há uma necessidade da intensificação
das ações de prevenção, como a educação em saúde para os pais, diagnóstico e tratamento da
doença, comprimento do caderno de vacinação da criança, com a vacina pneumocócica, que
ajuda na prevenção da pneumonia, e reduz a hospitalização por esta doença ou mortalidade
causada pela a mesma.
Neste contexto, o controle dos principais fatores de risco é necessário para que
ocorra redução significativa no número de hospitalizações, com enfoque nas populações
de maior risco, como crianças e idosos, dentro do cenário nacional. Todavia, é estimular o
preenchimento adequado das fichas de notificações para que os planejamentos de estratégias
sejam eficazes. Sendo assim, é importante conhecer o perfil das crianças acometidas com
está doença como ferramenta de estratégia para combater os números de internações
hospitalares por pneumonia.

REFERÊNCIAS

1. BRASIL. Pneumonia, Biblioteca Virtual da Saúde. 07 de Out. 2015. Disponível em:


http://bvsms.saude.gov.br/dicas-em-saude/2137-pneumonia. Acesso em: 20 de jul. 2020.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos atenção


básica.v.2, n. 28. Brasília.2012.

3. DIAS-DA-COSTA, J. S. et al. Hospitalization for primary care sensitive conditions


in municipalities with full local health management control in Rio Grande do Sul State,
Brazil. Cadernos de Saude Publica, v. 26, n. 2, p. 358–364, 2010.

4. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo


Demográfico: Alagoas. 2010. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/
index.php?uf=27. Acesso em: 20 de jul. de 2020.

5. NASCIMENTO-CARVALHO, C.M. et al. Recomendação da Sociedade Brasileira de


Pediatria para antibioticoterapia em crianças e adolescentes com pneumonia comunitária.
Rev Panam Salud Publica. 2004;15(6):380 87.

70
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Maria Lusia de Morais Belo Bezerra |Israel Gomes de Amorim Santos | Maria Betania Monteiro de Farias | Solma Lúcia Souto Maior de Araújo Baltar (Organizadores)

6. OLIVEIRA, B. R. et al. Profile of morbidity of children hospitalized in a public


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593, 2012.

7. RICCETTO, A. G. L. et al. Influence of socioeconomic and nutritional factors on


the evolution to complications in children hospitalized with pneumonia. Revista da
Associação Médica Brasileira, v. 49, n. 2, p. 191–195, 2003.

8. RODRIGUES, F. E. et al. Mortalidade por pneumonia em crianças brasileiras até 4


anos de idade. Jornal de Pediatria, v. 87, n. 2, p. 111–114, 2011.

9. UNICEF. The State of the World’s Children. Table 1: Basic Indicators. 2009. http://
www.unicef.org/rightsite/sowc/statistics. php. Acesso: 9 Jan 2011.

71
6

Perfil dos autores de violência sexual contra mulheres em


Alagoas entre 2009 e 20171

Profile of perpetrators of sexual violence against women in


Alagoas between 2009 and 2017
Lázaro Heleno Santos de Oliveira(1); Joicielly França Bispo(2); Ellen Beatriz Moura Barbosa(3); Adenia
Mirelly Santos e Silva(4); Maria Tereza Nascimento de Lima(5); Alba Maria Bonfim de França(6).

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8759-0872; Acadêmico de Enfermagem; Centro Universitário
Tiradentes (UNIT), Campus Maceió – AL, BRAZIL. E-mail: lazarooliveira99@hotmail.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9701-8968; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Acadêmica de
Enfermagem, BRAZIL. E-mail: joiciellybispo22@gmail.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0457-7996; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Acadêmica de
Enfermagem, BRAZIL. E-mail: ellen.beatriz26@outlook.com;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8631-0293; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Acadêmica de
Enfermagem; BRAZIL. E-mail: adeniamirelly123@gmail.com;
(5)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9478-5424; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Acadêmica de
Enfermagem; BRAZIL. E-mail: dearmariatereza@gmail.com;
(6)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9474-7137; UNIT/AL, Campus Maceió – AL, Docente de Enfermagem;
BRAZIL. E-mail: albambf@hotmail.com.

ABSTRACT: Violence originates from Latin violence and consists of the intentional use of physical force or
power, against oneself or others. One of the forms of violence is sexual, which according to the Pan American
Health Organization and the World Health Organization, is characterized as any attempt or consummation of a
sexual act without consent. Currently, violence affects all ages, ethnicities, social classes or gender, but the main
victims of this injury are women, at any stage or cycle of their life. The present study aims to characterize the
profile of the authors of violence against women in the state of Alagoas between the years 2009 and 2017. With
this, it is intended to raise data that can contribute to the recognition of those who present themselves as the
main agents offenders according to reported epidemiological data. This is a descriptive study with a quantitative
approach, using data referring to Sexual Violence in the period from 2009 to 2017 in Alagoas, found in the
Information System for Notifiable Diseases (SINAN), made available by the Information System of the Unified
Health System (DATASUS) of the Ministry of Health. This survey was conducted in July 2020, the analysis was
based on absolute and relative data on sexual violence against women in Alagoas and was carried out using basic
descriptive statistics. In view of the results, a large difference was evidenced in the number of cases of sexual
violence according to sex, where a greater number of women victims of this type of violence was observed, being
1,555 (93.39%) compared to men with 128 (7 , 61%). Among the known aggressors, friends/ acquaintances were
the ones who practiced sexual violence the most, representing 54.42% of the cases (n = 357). Among relatives,
stepfathers (n = 74) were the ones who practiced this type of aggression the most, representing 11.28% of the
cases, followed by parents (n = 57) in 8.69% and brother (sister) (n = 17). In relationships, most of the cases
had the boyfriend (girlfriend) (n = 47) as the aggressor, corresponding to 7.16% of the cases, followed by the
spouse (n = 24) in 3.66%, ex boyfriend (ex girlfriend) (n = 19) in 2.90%, ex spouse (n = 17) in 2.59% and unstable
relationship (n = 9) in 1.37%. From the description of the data, it is possible to state that there are a greater
number of reported cases of sexual violence against women compared to men. As a result, it is noticeable that
the lack of a link facilitates a shorter time for filing the complaint, while the existence of a relationship extends

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DOI: 10.48016/ GT4L1cap6
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this period. Therefore, it is concluded that the profile of the perpetrators of violence against women in the state of
Alagoas between the years 2009 and 2017, was predominantly composed of known people. In addition, according
to the epidemiological data reported in SINAN, most of these aggressors are composed of family members and
people with whom women have had some type of relationship during their life.

KEYWORDS: Sexual Assault, Epidemiology, Domestic Sexual Violence against Women.

INTRODUÇÃO

A violência origina-se do latim violentia e consiste no uso intencional de força ou


poder físico, contra si próprio, outras pessoas ou até mesmo a sociedade, com a possibilidade
de causar danos físicos, sexuais e psicológicos contra o sujeito, intervindo, assim, na sua
qualidade de vida (LAWRENZ et al., 2018). Uma das formas de violência é a sexual que,
segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a World Health Organization
(WHO), é caracterizada como qualquer tentativa ou consumação de ato sexual sem
consentimento (OPAS, 2018).
Além disso, também está relacionada com o uso da sexualidade de um indivíduo
através de repressão por outra pessoa, independentemente de sua relação com a vítima
(OPAS, 2018). Esse tipo de violência é cometido, em sua maior parte, por pessoas do próprio
ambiente familiar, como pai, padrasto, tios, primos e também por terceiros, esses são
responsáveis por causar agressão física, coerção sexual, abuso psicológico e comportamentos
de controle sobre as mulheres (BARUFALDI et al., 2017). Também é, muitas vezes, praticada
por seus próprios companheiros de vida, como maridos, noivos, namorados ou até mesmo
amigos, assim, exercendo relações de poder para decidirem quando querem ou não usar o
corpo da vítima (CRUZ et al., 2017).
Episódios de violência contra a mulher tendem a se tornar repetitivos e cada vez mais
agressivos. Desse modo, estima-se que, por ano, ao redor do mundo, mais de um 1 milhão
de pessoas perdem a vida em decorrência da violência (SILVA et al., 2018). De acordo com a
OPAS (2017), quanto à violência física e/ou sexual perpetrada contra mulheres, estimativas
globais mostram que, aproximadamente, uma em cada três mulheres (35%), em todo o
mundo, sofrem violência, seja ela cometida por seus parceiros íntimos ou por terceiros.
No Brasil, estimativas apontam que, a cada 15 segundos, uma mulher é espancada;
43% delas, revelando que já haviam sofrido algum tipo de violência sexista, sendo em
70% dos casos perpetradas por parceiros ou ex-parceiros conjugais e, em 80% dos casos,
são excetuadas as situações de assédio e violência sexual. Em relação ao número de
homicídios femininos, 68,8% ocorreram nas residências das vítimas e, para as mulheres
da faixa etária entre 20 e 49 anos, 65% deles foram cometidos por homens com os quais
elas mantinham ou mantiveram um relacionamento amoroso (GUIMARÃES et al., 2015).
Segundo Sousa et al. (2019), em todo o mundo, homens e mulheres são vítimas de
violência, entretanto, independente da fase ou ciclo de sua vida, as mulheres são as mais
acometidas por esse tipo de violação. Dessa forma, o presente estudo se justifica pela
importância da temática, tendo em vista a forma preocupante em que se apresenta essa
situação, considerada como uma violação dos direitos humanos das mulheres de acordo
com a OPAS (2017) que, além disso, estabeleceu a violência sexual e a violência contra as
mulheres como um grande problema de saúde pública mundial.

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Diante da relevância dos dados expostos, esse estudo apresenta como objetivo
caracterizar o perfil dos autores de violência contra a mulher, no estado de Alagoas, entre
os anos de 2009 e 2017. Com isso, pretende-se levantar dados que possam contribuir com
o reconhecimento daqueles que se apresentam como os principais agentes agressores de
acordo com os dados epidemiológicos notificados.

REFERENCIAL TEÓRICO

Compreende-se que os atos de violência podem ser praticados em ambiente público


ou privado, como também em diversos contextos do cotidiano, porém, é no ambiente
doméstico que persiste a maior frequência. É praticada, em sua maioria, por homens da
família que exercem relações de poder sobre as vítimas e, ao serem protegidos pelos laços
afetivos, podem levar ao extremo as relações de dominação, originadas na cultura patriarcal
que ainda se perpetua (MADUREIRA et al., 2014).
Uma pesquisa documental, na Delegacia Especial da Mulher de um município da
região central do estado do Paraná, analisa o perfil dos autores com muitas variantes, em
relação à idade perdura os de 18-66 anos, tendo uma representação maior a faixa de 19-20
anos, com baixa escolaridade, possuindo trabalho remunerado, grande parte na construção
civil, indústria e comércio, rural e serviços gerais. Observou-se que 70,8% dos agressores
detidos não possuíam registros policiais anteriores, enquanto 29,2%, já apresentavam fichas
ou relatos de outras passagens junto aos serviços da polícia (MADUREIRA et al., 2014).
A lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, garante pena sem acordo para o agressor
nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra
a mulher por razões da condição de sexo feminino (BRASIL, 2019). Os agressores se
manifestam com violência física, psicológica, sexual e moral dentro do seu próprio lar, como
companheiro que possui gesto extremamente egoísta ou machista durante o namoro, abuso
sexual no âmbito familiar pelo pai, tio, padrasto ou também por desconhecidos que tem a
necessidade de controlar e dominar a mulher (NÓBREGA et al., 2019).
Desde a agressão sofrida até a denúncia, muitas vezes, a mulher desiste de denunciar
contra seu companheiro, seja pelo sentimento de dor, vergonha ou revolta. Na maioria das
vezes, também pelo fato de se sentir insegura ou com medo do agressor, por ter sofrido
ameaças, como também a afetividade que sente por ele, o desejo de manter os valores
familiares ou até mesmo pela dependência econômica (NÓBREGA et al., 2019).
Para fortalecer as denúncias dessas violências, existem as DEAMs (Delegacias
Especializadas de Atendimento às Mulheres), que são unidades especializadas da Polícia
Civil para atendimento em situação de violência de gênero. O Boletim de Ocorrência deve
ser o mais completo possível, com a inserção de dados detalhados de forma a facilitar a
elucidação do crime, então os policiais envolvidos, no atendimento a essas mulheres, devem
ter escuta atenta, profissional e observadora de forma a propiciar o rompimento do silêncio
da vítima (BRASIL, 2010).
Em relação às legislações em âmbito mundial, no que diz respeito à violência contra
as mulheres, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), diversas leis, no
mundo, não se esforçam para impedir esse tipo de agressão, além disso, existem casos onde a
legislação encoraja ou até mesmo tolera diversos tipos de violência. Como em alguns países,

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onde persistem permissões legais para que estupradores não sejam acusados caso se casem
com a vítima (ONU, 2018).
Um marco, na luta contra a violência doméstica e familiar contra a mulher, foi a
adoção da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher, que aconteceu em Belém do Pará, em 1994, promovida pela Organização dos
Estados Americanos (OEA), onde houve a recomendação para que o Brasil desenvolvesse
ações para o fim desse tipo de violência. Com isso, foram planejados e propostos projetos de
lei voltados à solução dessa problemática (SOUZA; BARACHO, 2015).
Nesse sentido, em razão das recomendações da OEA, foi criada a Lei Maria da Penha
(Lei nº 11.340 de 2006), para que dessa forma, o Brasil efetuasse uma reforma legislativa
para combater, definitivamente, a violência doméstica contra mulheres no país, isto, após
ter sido responsabilizado por negligência e omissão na apuração do delito de violência
doméstica (SOUZA; BARACHO, 2015). Com isso, a Lei nº 11.340 de 2006:

Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher,


nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código
Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências (BRASIL, 2006).

Essa lei descreve, em seu Art. 9º, que a mulher, em situação de violência doméstica
e familiar, deve ter assistência garantida de acordo com o que rege a Lei Orgânica da
Assistência Social, sendo assistida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), juntamente, com o
Sistema Único de Segurança Pública, além de outros órgãos, quando necessário. Garante,
ainda, em seu parágrafo 3º, acesso aos recursos oriundos do desenvolvimento científico
e tecnológico, devendo ter acesso aos procedimentos que forem necessários em casos de
violência sexual (BRASIL, 2006).

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa, utilizando dados


referentes à Violência Sexual, em Alagoas, encontrados no Sistema de Informação de Agravos
de Notificação (SINAN), através dos dados de notificação sobre Violência Doméstica, Sexual
e/ou Outras Violências, no período de 2009 a 2017, disponibilizados pelo Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) do Ministério da Saúde.
Essa pesquisa foi realizada no período de julho de 2020, a análise se deu a partir
dos dados absolutos e relativos sobre a violência sexual contra a mulher em Alagoas e foi
executada através de estatísticas descritivas básicas. As variáveis analisadas foram: Violência
e Violência Sexual, segundo sexo; Violência Sexual - Sexo: feminino, segundo os autores da
violência (Pai, Mãe, Padrasto, Madrasta, Cônjuge, Ex-cônjuge, Namorado (a), Ex-namorado
(a), Filho (a), Irmão (ã), Amigos/ conhecido (a), Cuidador (a) Patrão/ chefe, Relacionamento
Instável, Própria Pessoa, Outros vínculos, Policial/ Agente da lei e Desconhecidos).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme dados coletados através do SINAN, entre 2009 e 2017, houve um total de
23.480 casos de violência notificados no estado de Alagoas. Entre as vítimas, 8.255 (35,16%)
eram homens e 15.224 (64,84%) eram mulheres e 1 dado foi ignorado quanto ao sexo. Entre
esses casos, 1.683 foram de violência sexual, 10.477 outros tipos de violência e 11.320 foram
dados ignorados ou em branco quanto ao tipo de violência, sendo o sexo feminino o que
apresenta maiores índices, com 6.965 (61,53%), enquanto o sexo masculino apresenta 4.355
(38,47%) (Tabela 1).
Foi observada uma grande diferença no número de casos de violência sexual, segundo
o sexo, onde observou-se um maior número de mulheres vítimas desse tipo de violência,
sendo 1.555 (93,39%) em comparação aos homens com 128 (7,61%). Além disso, 3.772
(36,0%) homens e 6.704 (63,99%) mulheres sofreram outros tipos, na qual foi possível notar
que as mulheres seguem sendo as mais acometidas diante dos números gerais de violência
(Tabela 1).

Tabela 1. Frequência de Violência e Violência Sexual, segundo sexo no estado de Alagoas, Período:
2009-2017.

Sexo Igno-
Violência Sexo Feminino Sexo Masculino Total
rado

Todos os Tipos 15.224 (64,84%) 8.255 (35,16%) - 23.480 (100%)

Violência Sexual 1.555 (93,39%) 128 (7,61%) - 1.683 (100%)

Outros Tipos 6.704 (63,99%) 3.772 (36,00%) 1 (0,01%) 10.477 (100%)

Ign/ Em branco 6.965 (61,53%) 4.355 (38,47%) - 11.320 (100%)

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net.


Julho/2020.

Ao analisar o perfil dos autores que cometeram violência sexual contra mulheres,
evidenciou-se que, entre os 1.555 casos notificados, 48,6% eram violentadores conhecidos (n=
756), enquanto 44% eram violentadores desconhecidos (n= 684). O número de ignorados/
em branco representaram 7,4% (n= 115) dos casos (Figura 1). Entre os agressores conhecidos,
os notificados como amigos/conhecidos foram os que mais praticaram a violência sexual,
representando 22,96% dos casos (n=357) (Tabela 2).

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Figura 1. Frequência de Violência Sexual contra Mulher considerando os violentadores conhecidos


e não conhecidos no estado de Alagoas (n=1.555), período: 2009-2017.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net.


Julho/2020.

Na Tabela 2, é possível observar a relação da violência sexual cometida por familiares e


parceiros das vítimas. Entre os familiares, os padrastos (n=74) foram os que mais praticaram
esse tipo de agressão, representando 4,76% dos casos, seguido dos pais (n=57) em 3,67%,
irmão(ã) (n=17) em 1,09%, mãe (n=6) em 0,39%, filho(a) (n=3) em 0,19% e madrasta (n=2)
em 0,13% dos casos.
Entre as pessoas com quem a vítima tinha algum tipo de relacionamento, a maioria
dos casos tinham o (a) namorado(a) (n=47) como agressor, correspondendo a 3,02% dos
casos, seguido do cônjuge (n=24) em 1,54%, ex-namorado(a) (n=19) em 1,22%, ex-cônjuge
(n=17) em 1,09% e relacionamento instável (n=9) em 0,58%. Outros vínculos totalizaram
95 casos (6,11%) e ainda foi observado 8 (0,51%) casos praticados pela própria pessoa, 8
(0,51%) praticados pelo cuidador (a), 8 (0,51%) pelo patrão/chefe e 5 (0,32%) pelo policial/
agente da lei (Tabela 2).

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Tabela 2. Frequência de Violência contra mulher segundo os autores da violência no estado de


Alagoas, período: 2009-2017.
Autores da violência sexual contra mulheres n %
Pai 57 3,67%
Mãe 6 0,39%
Padrasto 74 4,76%
Madrasta 2 0,13%
Cônjuge 24 1,54%
Ex-cônjuge 17 1,09%
Namorado (a) 47 3,02%
Ex-namorado (a) 19 1,22%
Filho (a) 3 0,19%
Irmão (ã) 17 1,09%
Amigos/ conhecido (a) 357 22,96%
Cuidador (a) 8 0,51%
Patrão/ chefe 8 0,51%
Relacionamento Instável 9 0,58%
Própria Pessoa 8 0,51%
Outros vínculos 95 6,11%
Policial/ Agente da lei 5 0,32%
Desconhecidos 684 43,99%
Ignorado/ em branco 115 7,40%
TOTAL 1555 100,00

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net.


Julho/2020.

A partir da descrição dos dados, foi possível afirmar que houve um maior número
de casos notificados de violência sexual contra as mulheres em relação aos homens. Tal
evidência pode ser devido a uma menor notificação de violência sexual contra homens
em decorrência de uma masculinidade tóxica que os impedem de procurar os serviços de
saúde após terem sofrido a agressão por medo de terem a sua virilidade refutada (GASPAR;
PEREIRA, 2018).
Ainda assim, as meninas são mais suscetíveis a sofrerem violência sexual. Sendo
que a prevalência de abuso sexual, na infância, é de 18% para meninas e 8% para meninos,
além disso, os autores de violência sexual contra meninas são, na grande maioria dos casos,
homens. Meninas, também, têm maiores chances de sofrer abuso físico ou sexual por
parceiros íntimos e estupro por conhecidos ou desconhecidos (WHO, 2016).
Além do mais, tais atos de violência acontecem em diferentes contextos,
principalmente, em ambientes que deveriam ser considerados locais seguros para as
meninas, como por exemplo: nos lares, a caminho para a escola, em suas comunidades,
entre outros (WHO, 2016). Isso foi abordado pelo Relatório de status global sobre
prevenção da violência, ao afirmar que uma em cada três mulheres sofreu violência

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física ou sexual praticada por seu parceiro íntimo em algum momento da sua vida
(WHO, 2014).
Moreira et al. (2015) e Chehab et al. (2017) observaram, em seus estudos, um grande
índice de violência sexual praticada por amigos/conhecidos. Este achado corrobora com o
encontrado no presente estudo. Ainda foi observado, no presente estudo, um alto número
de agressores desconhecidos, isto pode ser em decorrência do medo ou receio das mulheres
em realizar a denúncia ou identificar o violentador.
Este fato pode ser explicado pela existência de uma tolerância social da violência, seja da
vitimização de meninas como da perpetração por parte de meninos e homens. Isso vem sendo
visto como algo normal e além do domínio das comunidades, pois a vergonha e o medo geram
uma diminuição de denúncias às autoridades. Diversas vezes, as vítimas são julgadas culpadas
pela violência que sofreram, fato esse decorrente dessa tolerância social, principalmente,
aquela cometida por parceiros íntimos, onde as mulheres são vistas como inferiores, perante a
sociedade, devido a normas culturais ligadas ao gênero e a masculinidade (WHO, 2016).
Acosta et al. (2016) ao analisar, em seu estudo, o período de tempo entre a agressão e
o registro da ocorrência policial, verificou-se que 74,3% das mulheres denunciaram o ato em
até 72 horas após a agressão. 43,5% foram vitimadas por alguém desconhecido. Enquanto
que entre 20,5% das ocorrências registradas somente entre 4 dias e 2 meses, 12,9% dos
casos apresentavam o parceiro ou conhecidos como os acusados. Com isso, é perceptível que
a inexistência de um vínculo corrobora para um menor tempo de realização da denúncia,
enquanto que a existência de um parentesco prolonga esse período.
Entre os agressores familiares, o padrasto e o pai são os principais autores da
violência sexual. Isso condiz com um estudo publicado por Teixeira et al. (2019), referente
às características dos casos de violência sexual ocorridos em Alagoas, evidenciando-se que
12,1% correspondia a violência intrafamiliar, sendo que 4,0% possuía relação ao padrasto
e 3,2% ao pai. Já em outro estudo, com relação aos agressores que possuíam algum tipo
de vínculo com a vítima, prevaleceu o cônjuge/namorado, padrasto, pai biológico e irmão
(NUNES; LIMA; MORAIS, 2017).
A sociedade patriarcal é organizada com base nessa inferioridade dos homens sobre
as mulheres, que se submetem a sua autoridade, vontades e poder. Os homens dominam o
poder público, o ambiente doméstico e ainda possuem controle sobre as mulheres e seus
corpos. Mesmo com todos os avanços sociais dos últimos tempos, onde mulheres vêm
ganhando cada vez mais um espaço na sociedade, o comando patriarcal ainda se mantém
enraizado, sendo estimulado, diariamente, na depreciação de características ligadas ao
feminino, na violência doméstica e no acatamento da violência sexual (BRASIL, 2014).

CONCLUSÃO

Dessa forma, é possível notar que o perfil dos autores de violência contra a mulher,
no estado de Alagoas, entre os anos de 2009 e 2017, foi, predominantemente, composto por
pessoas conhecidas. A maior prevalência dentre esses agressores é composta por familiares
e pessoas com as quais as mulheres tiveram algum tipo de relacionamento durante sua
vida, entre esses, destacam-se os padrastos, pais e namorados (as), que se caracterizam,
consecutivamente, como os principais agressores diante dos dados.

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Os casos em que não houve registro do autor da violência (ignorado/branco) foram,


consideravelmente, elevados, demonstrando que as notificações, muitas vezes, podem não
ser realizadas de forma criteriosa. Conclui-se, com esses dados, que de fato existe uma
prevalência de mulheres acometidas por violência sexual em Alagoas e é possível reconhecer
que os principais agentes agressores são pessoas que fazem parte do convívio das vítimas.
Portanto, faz-se necessário maiores investigações e investimentos de saúde pública diante
dessa temática.

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agressor. Rev enferm UERJ, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, 518, 2016. Disponível em: https://
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as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo
Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:
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82
7

Aspectos sociodemográficos, clínico-epidemiológicos e


tendência temporal (2001-2019) da coinfecção por tuberculose e
HIV no estado de Alagoas, Brasil1

Sociodemographic, clinical-epidemiological aspects and temporal


trends (2001-2019) of tuberculosis and HIV co-infection in the state
of Alagoas, Brazil
Wandklebson Silva da Paz(1); Dalton Ferreira Matos(2)

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2898-2646, Mestrando em Biologia Parasitária, Universidade
Federal de Sergipe (UFS), Campus São Cristóvão, Sergipe Brasil. E-mail: wandklebson.paz@gmail.com.
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6188-7536, discente do Curso de Ciências Biológicas (Licenciatura)
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) Campus II. Santana do Ipanema, Alagoas, Brasil. E-mail:
daltonmatosgn@gmail.com

ABSTRACT: Tuberculosis (TB) and Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) are the infectious
diseases with the highest mortality in the world. The human immunodeficiency virus (HIV) compromises
the immune system and favors illness from TB and, in this perspective, TB-HIV co-infection is a potentially
fatal association. Even with this potential, there are shortcomings regarding the monitoring of cases under
treatment and the surveillance of contacts. In addition, little is known about the reasons that lead to cases
that evolve to death, abandonment. Thus, the objective was to analyze the epidemiological profile and the
temporal patterns of tuberculosis / HIV coinfection in the state of Alagoas from 2001 to 2019. An ecological
time series study was designed to assess the trends in the epidemiological indicators of tuberculosis/HIV co-
infection in the state of Alagoas. For this, all cases of TB/HIV co-infection in the period from 2001 to 2019
were selected through the Diseases Information and Notification System (SINAN). The categorization of cases
is carried out using sociodemographic and clinical variables. In addition, time trends were analyzed using
epidemiological indicators. During the study period, were observed 1,726 cases of TB/HIV co-infection, in
which higher proportions of cases were observed in males, aged 20 to 39 years, brown skin color, with no or
low education and residents in the urban area. In addition, there was a high percentage of patients with severe
clinical aspects, as well as a high percentage of patients who did not undergo supervised treatment or who
abandoned treatment. Not enough, there was an increasing pattern in most of the analyzed epidemiological
indicators, with emphasis on the mortality rate, with an annual increase of 7.9%, as well as an annual increase
of 7.7% in the proportion of municipalities that presented co-infection. Thus, it is perceived that it is extremely
important to optimize the diagnosis in primary care, such as monitoring by a multidisciplinary team of patients
and contacts. This work emphasizes the need for investments in basic public health programs, as this is the
only way we will have more attention to patient care and adherence to treatment.

KEYWORDS: Epidemiology, Comorbity, Time series.

1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap7
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INTRODUÇÃO

A tuberculose (TB) é um importante problema de saúde pública no Brasil, pois


embora a incidência e a mortalidade tenham diminuído, aproximadamente, 20% e a 30%,
respectivamente, ao longo das últimas décadas, cerca de 80.000 casos e 4.000 óbitos
são notificados, anualmente, no país. Mesmo nos estados brasileiros que apresentam as
menores incidências de TB e as maiores taxas de cura da doença, diagnóstico e tratamento
oportunos são grandes desafios (BIERRENBACH et al., 2007; BARRETO et al., 2011;
BRASIL, 2014; 2016a).
Muitos fatores contribuem para a persistência da TB, entre eles, o abandono do
tratamento pelos pacientes contribui para a manutenção da transmissão, uma vez que
permanecem como fonte de contaminação, aumentando as taxas de recidiva a resistência
medicamentosa prolongam a cura e ampliam tempo, como também custo de tratamento.
Esses fatores estão, geralmente, associados ao etilismo e à coinfecção com HIV, mais
frequente em populações vulneráveis (NAVA-AGUILERA et al., 2009; OROFINO et al.,
2012; DOMINGOS; CAIAFFA; COLOSIMO, 2008; BRASIL, 2017)
O Brasil figura entre os 22 países que, juntos, concentram 80% dos casos de TB no
mundo. No país, são notificados, aproximadamente, 67 mil novos casos e ocorrem 4,5 mil
mortes anuais em decorrência de TB (BRASIL, 2014). Em pacientes soropositivos para o
HIV, esses mesmos indicadores são crescentes e vêm se apresentando de forma exponencial
(WHO, 2016). O estado de Alagoas apresentou as maiores taxas de incidência de HIV/AIDS
no período de 2008-2017. Além disso, registrou-se um crescimento de quase 2000% no
número de pessoas diagnosticadas com vírus HIV em 10 anos (BRASIL, 2017).
Apesar do avanço no conhecimento, existem falhas relativas ao acompanhamento dos
casos em tratamento e à vigilância de contatos. Outrossim, pouco se sabe sobre os motivos
que levam aos casos que evoluem para óbito, abandono e, consequentemente, a recidiva,
aumentando, assim, os casos de coinfecção. Com isso, objetivou-se analisar os aspectos
epidemiológicos e os padrões temporais da coinfecção da tuberculose/HIV, no estado de
Alagoas, no período de 2001 a 2019.

REFERENCIAL TEÓRICO

Aspectos clínicos e epidemiológicos associados à coinfecção TB/HIV

Embora seja uma das doenças infecciosas mais antigas da história da humanidade,
a tuberculose (TB) ainda representa um grande desafio à saúde pública global. Segundo
estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), um terço da população mundial está
infectado pelo bacilo causador da TB e pode desenvolver a doença em algum momento
da vida. Em 2015, estimou-se que cerca de 10,4 milhões de pessoas adoeceram por TB e
1,4 milhões de mortes foram atribuídas à enfermidade, juntamente, com a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS). A TB é uma das mais importantes causas de mortalidade
por agentes infecciosos no mundo (WHO, 2016).
Devido à importante associação entre a TB e a infecção pelo HIV, desde 1997,
a testagem, para o HIV, é recomendada para todos os indivíduos com diagnóstico de

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TB. Todavia, somente 55,0% dos casos de TB notificados, no mundo, tinham testagem
documentada para o HIV no ano de 28 2015. No Brasil, onde a testagem é disponível em
todo o território nacional, somente 68,9% dos casos novos de TB foram testados para o HIV
no ano de 2014, sendo este um indicador operacional importante que reflete a qualidade do
diagnóstico da coinfecção TB-HIV no país. No estado de São Paulo, a testagem anti-HIV foi
realizada em 78,7% dos casos novos de TB no mesmo ano (BRASIL, 2016a; WHO, 2016).
Em relação ao diagnóstico da TB ativa em indivíduos infectados pelo HIV, a
investigação inicial é realizada de forma semelhante à avaliação de pessoas HIV negativas, ou
seja, por meio do questionamento da presença de sinais e sintomas sugestivos de TB (como
febre, tosse, perda de peso e sudorese noturna), e a coleta de escarro, sendo de fundamental
importância para a realização do diagnóstico bacteriológico (BRASIL, 2011).
Embora a TB ativa possa ser desenvolvida com qualquer contagem de linfócitos
T-CD4, o risco é maior conforme a imunodeficiência progressiva do indivíduo (MANDELL
et al., 2015). Em indivíduos com imunodeficiência avançada, as adenopatias e as formas
extrapulmonares são frequentemente encontradas, o que torna o diagnóstico laboratorial
ou bacteriológico mais complexo (MANDELL et al., 2015). Nesse sentido, outros métodos
diagnósticos devem também ser empregados, como os exames de imagem, biópsia, coleta de
líquor, dentre outros, como forma de potencializar o diagnóstico (BRASIL, 2011).
Na avaliação de indivíduos vivendo com HIV/AIDS, a TB ativa deve ser descartada, e a
infecção latente deve ser investigada tanto no momento do diagnóstico da infecção pelo HIV
(BRASIL, 2011; MANDELL et al., 2015). O diagnóstico e o tratamento da infecção latente
são estratégias fundamentais para o controle da TB nas pessoas que vivem com o HIV, já
que nesta população, quando infectada pelo bacilo, o risco de desenvolver a TB ativa é igual
a 10,0% ao ano, enquanto que, em indivíduos sem a infecção pelo HIV, o risco é de 10,0% ao
longo de toda a vida (MAHER et al., 2010).
O tratamento da TB ativa em casos coinfectados pelo HIV, em geral, é composto pelos
mesmos esquemas e período de duração do tratamento, na população, em geral (BRASIL,
2011). O uso da rifabutina, em substituição à rifampicina, deve ser considerado para pacientes
com esquemas de tratamento com antirretrovirais que incluam inibidores de protease ou
inibidores de transcriptase reversa (BRASIL, 2011).
O tratamento diretamente observado (TDO) deve ser preconizado, visto que,
inegavelmente, contribui à adesão ao tratamento, em especial, nos casos de coinfecção
que, em geral, são mais complexos do que os não coinfectados. A supervisão da tomada
da medicação e o vínculo estabelecido com a equipe de saúde, durante o TDO, contribuem
para a continuidade do tratamento da TB e podem facilitar o atendimento, como também
manejo de condutas específicas para esta população, como a introdução e acompanhamento
da adesão à TARV, o monitoramento de interações medicamentosas e reações adversas, e a
investigação de outros agravos associados ao HIV (BRASIL, 2017).
Em relação à magnitude da coinfecção TB-HIV, estima-se que, em 2015, cerca de
11,0% de todos os casos de TB, no mundo, eram HIV positivos, totalizando 1,2 milhões de
pessoas acometidas pela coinfecção. Em relação à mortalidade, cerca de 390 mil indivíduos
foram à óbito, devido à coinfecção TB-HIV, no mesmo ano (WHO, 2016).

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A coinfecção TB-HIV aflige, de forma contundente, as pessoas que vivem em condições


precárias de vida, que sofrem com a falta de recursos para a prevenção, o diagnóstico, o
tratamento e o controle, tanto da TB, quanto do HIV/AIDS. De acordo com a OMS, a maioria
dos casos de TB, coinfectados pelo HIV, no ano de 2014, encontrava-se na África, totalizando
74% de todos os casos de coinfecção no mundo (WHO, 2016).
Pode-se observar que a coinfecção TB-HIV afeta, sobretudo, regiões subdesenvolvidas
e populosas, como os continentes africano e americano, sendo a parcela dos casos de TB
com testagem positiva para o HIV, nestas localidades, iguais a 39% e 13%, respectivamente,
em 2014 (WHO, 2015). Entre 1998 e 2015, a OMS elencou 22 países com alta carga de TB
considerados prioritários para as ações de controle da doença (WHO, 2016).
A presente situação epidemiológica do Brasil o enquadra nos contextos tanto de alta
carga de TB, quanto de coinfecção TB-HIV, sendo, portanto, um dos países prioritários para
investimentos em ações de controle. Em 2015, o país apresentou 9,7% dos casos novos de TB
coinfectados pelo vírus HIV (BRASIL, 2016b)
Os estados brasileiros, em especial os da Região Nordeste, apresentam condições
propícias para manutenção dos elevados índices de prevalência da infecção pelo HIV
e da tuberculose, devido aos grandes contingentes populacionais empobrecidos e à
desestruturação dos serviços públicos nesses espaços geográficos.

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Tipo e Área de Estudo

Foi projetado um estudo epidemiológico do tipo série temporal (2001-2019) para


avaliar as tendências dos indicadores epidemiológicos da coinfecção por tuberculose/
HIV no estado de Alagoas. Esse estado é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está
situado no leste da região Nordeste e ocupa uma área de 27.778,506 km², sendo o segundo
menor estado do Brasil. A população do estado totaliza 3.337.357  habitantes e possui
densidade demográfica de 112,33 habitantes/km² e o crescimento demográfico é de 1% ao
ano. (IBGE, 2019).

Fonte de Dados

Os dados de morbidade foram obtidos do Departamento de Informática do Sistema


Único de Saúde (DATASUS) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde
(SVS/MS) a partir dos bancos de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN). Esses dados são de domínio público, dessa forma, não precisou de autorização para
acessá-los.
Os dados populacionais, para o período de 2001 a 2019, foram obtidos do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em dados oriundos do censo da
população nacional em 2000 e 2010 e estimativas oficiais para os anos intercensitários
(2001 a 2009; 2011 a 2019) (IBGE, 2019).

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Variáveis Coletadas e Construção do Perfil Epidemiológico dos Pacientes

A partir da seleção dos casos de coinfecção de Tuberculose/HIV, foi feita a categorização


das variáveis e quantificação dos casos a partir das seguintes variáveis sociodemográficas e
clínico-epidemiológicas: a) sociodemográficas: sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade e
área de residência; b) indicadores clínicos-epidemiológicos da coinfecção TB/HIV: tipo do
caso, forma clínica, desenvolvimento de aids, baciloscopia de escarro, cultura de escarro,
aplicação de teste rápido da TB, tratamento supervisionado (TDO), baciloscopias de
acompanhamento e desfecho clínico.

Análise de Tendência Temporal

Foi realizada uma análise temporal da tendência de coinfecção da TB/HIV, em Alagoas,


para algumas variáveis selecionadas no período de estudo (2001 a 2019). Com isso, foram
calculadas as taxas de prevalência bruta para a população geral, por sexo e por faixa etária;
porcentagem de casos de coinfecção de TB-HIV a partir dos casos gerais de TB; mortalidade
bruta e letalidade na população geral; e proporção de municípios que apresentação coinfecção.
Sendo essas considerados variáveis dependentes e o ano de ocorrência dos eventos, como
variável independente.
Para tanto, utilizou-se modelos de regressão joinpoint (regressão linear segmentada)
através do Programa de Regressão Joinpoint versão 4.7.0.0. Este método permite verificar
mudanças na tendência do indicador, ao longo do tempo, por meio do ajuste de dados de
uma série a partir do menor número de possíveis joinpoints (zero, que indica uma reta sem
pontos de inflexão) e testa se a inclusão de mais joinpoints é estatisticamente significativa.
Desta forma, séries temporais podem apresentar tendência crescente, decrescente ou estável
e até tendências diferentes em trechos sequenciais (ANTUNES; CARDOSO, 2015).
O teste de permutação de Monte Carlo foi utilizado para escolher o melhor segmento
de cada modelo, aplicando 9999 permutações e considerado o melhor modelo aquele que
apresentou maior coeficiente de determinação de resíduos (R2). Em seguida, foi calculada
a variação percentual anual (APC – annual percent change) e seu respectivo Intervalo de
Confiança (IC) 95% para cada segmento a fim de descrever e quantificar a tendência, além
de avaliar se é estatisticamente significativa.
A variação percentual anual média (AAPC – average annual percent change), para
o período completo, foi calculada a fim de simplificar a comparação das tendências para os
indicadores com mais de uma inclinação significativa no período. Sua estimativa é obtida pela
média geométrica ponderada da APC, com os pesos iguais ao comprimento de cada intervalo
de tempo do segmento. As tendências foram estatisticamente significativas, quando APC e
AAPC apresentarem valor de p ≤ 0,05 e seu IC95% incluir o valor zero.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Entre os anos de 2001 e 2019, um total de 1.726 casos de coinfecção por TB-HIV
ocorreram no estado de Alagoas. As características sociodemográficas predominantes dos
casos foram: sexo masculino (66,6%), faixa etária entre 20 a 39 anos (58,5%), pessoas pardas
(74,5%), pessoas que residem em área urbana (86,9%) e < 8 anos de escolaridade (42,5%),

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no entanto, esse último pode ter sido subestimado, pois cerca de 33,7% dos dados não foram
estabelecidos (Tabela 1).

Tabela 1. Características sociodemográficas da população com tuberculose/HIV no estado de


Alagoas, 2001 a 2019.
Variáveis Nº Absoluto de Casos Frequência (%)
Gênero
Masculino 1149 66,6
Feminino 577 33,4
Faixa etária  
0–4 10 0,6
5 – 19 63 3,7
20 – 39 1011 58,5
40 – 59 587 34
≥ 60 55 3,2
Raça/Cor  
Branco 144 8,3
Preto 150 8,7
Amarelo 5 0,3
Parda 1286 74,5
Indígena 2 0,1
Ignorado/Branco 139 8,1
Escolaridade  
Analfabeto 198 11,5
< 8 anos 734 42,5
≥ 8 anos 213 12,3
Ignorado/Branco 581 33,7
Área de residência  
Urbana 1500 86,9
Rural 119 6,9
Periurbana 26 1,5
Ignorado/Branco 81 4,7

Fonte: MS/SVS/SINAN – Elaboração própria

Em relação aos aspectos clínicos desses casos, foi relatado que cerca de 70,3% foram
casos novos (1.214 casos), porém, 18% dos casos (310) foram reingressos após abandono de
tratamento. A forma clínica mais prevalente foi a pulmonar (76,8%) e cerca de 87,4% dos
pacientes coinfectados por TB-HIV desenvolveram a AIDS.
Foi realizada a 1ª baciloscopia de escarro em cerca de 55,7% dos pacientes, sendo que,
em quase metade deles, foram positivos (27,4%). Quanto a 2ª baciloscopia, a maioria dos
dados não foram estabelecidos (55,4%) e, em cerca de 25%, não foi realizado o teste, sendo

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que, naqueles que foram realizados, 8,9% deram positivos e 10,6% negativos, como também,
na cultura de escarro, 6,3% foram positivos e 4,8% negativos, sendo a maioria não realizados
(80,7%). Por fim, quanto ao teste rápido da tuberculose, 7,5% dos casos foram detectados
através da sensibilidade por rifampicina (RIF) e 0,3% foram resistentes a RIF, sendo que a
maioria dos casos não foram estabelecidos pelo SINAN ou não realizados (86,4%) (Tabela 2).

Tabela 2. Aspectos clínicos e exames de diagnósticos da população com tuberculose/HIV no estado


de Alagoas, 2001 a 2019.
Variáveis Nº Absoluto de Casos Frequência (%)

Tipo do caso
Caso novo 1214 70,3
Recidiva 85 4,8
Reingresso após abandono 310 18
Transferência 89 5,2
Pós óbito 20 1,2
Ignorado/Branco 8 0,5
Forma clínica  
Pulmonar 1325 76,8
Extrapulmonar 313 18,1
Pulmonar + Extrapulmonar 88 5,1
AIDS  
Sim 1509 87,4
Não 128 7,4
Ignorado/Branco 139 5,2
1ª Baciloscopia de escarro  
Positivo 473 27,4
Negativo 489 28,3
Não realizado 718 41,6
Ignorado/Branco 46 2,7
2ª Baciloscopia de escarro  
Positivo 153 8,9
Negativo 183 10,6
Não realizado 433 25,1
Ignorado/Branco 957 55,4
Cultura de Escarro  
Positivo 109 6,3
Negativo 82 4,8
Em andamento 142 8,2
Não realizado 1393 80,7
Teste rápido TB  
Sensível a RIF 129 7,5
Resistente a RIF 5 0,3
Não detectável 87 5
Inconclusivo 14 0,8
Não realizado 483 28
Ignorado/Branco 1008 58,4
Fonte: MS/SVS/SINAN – Elaboração própria

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Em 51,8% das notificações, não foi informado o regime de tratamento supervisionado.


Porém, em cerca de 20,6%, foi realizado o TDO e, em 27,6% dos casos, não foi realizado. Na
maioria dos casos, não havia informação relativa à realização da baciloscopia do 2º mês de
acompanhamento (1.407), bem como em relação ao do 6º mês (1.492) sendo notificadas
1,2% baciloscopias positivas para o 2º mês e 0,3% para o 6º.
A alta por cura foi reportada em 37% do total de casos, porém, destaca-se, também,
alto percentual de abandono do tratamento (20,6%). Os óbitos por tuberculose e por
outras causas somaram 18% de todos os desfechos. A tuberculose multidroga resistente foi
registrada em 11 casos (Tabela 3).

Tabela 3. Tratamento supervisionado, baciloscopias de acompanhamento e desfecho clínico dos
casos de tuberculose/HIV no estado de Alagoas entre 2001 a 2019.
Variáveis Nº Absoluto de Casos Frequência (%)
Tratamento supervisionado (TDO)
Sim 356 20,6
Não 476 27,6
Ignorado/Branco 894 51,8
Baciloscopia 2º mês  
Positivo 21 1,2
Negativo 92 5,4
Não realizado 206 11,9
Ignorado/Branco 1407 81,5
Baciloscopia 6º mês  
Positivo 5 0,3
Negativo 76 4,4
Não realizado 153 8,9
Ignorado/Branco 1492 86,4
Desfecho clínico  
Cura 639 37
Abandono 355 20,6
Óbito por tuberculose 172 10
Óbito por outras causas 138 8
Transferência 226 13,1
TB-DR 11 0,6
Mudança de tratamento 2 0,1
Falência 2 0,1
Ignorado/Branco 181 10,5

Fonte: MS/SVS/SINAN – Elaboração própria

Em relação à tendência temporal, 9 das 12 tendências analisadas apresentaram


tendências crescentes, sendo as outras 3 estáveis.
Dessa forma, observou-se que a prevalência bruta, na população geral, variou de 0,56
em 2001 a 5,24 casos/100,000 habitantes em 2019, com um acréscimo anual médio de

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9.4 (APC IC95%: 6,4 a 12,5; p <0,05). As tendências das taxas de prevalência revelaram-se
crescentes entre homens (APC: 12.8; IC95%: 8,6 a 17,2) e mulheres (APC: 8,8; IC95%: 5,4
a 12,3) e nas faixas etárias de 0-9 anos (APC: 6,9; IC95%: 2,7 a 11,2), 20-39 anos (APC: 8,0;
IC95%:4,9 a 11,3) e 40-59 (APC: 8,6; IC95%: 5,2 a 12,1).
A porcentagem de casos de coinfecção TB-HIV (APC: 11,2; IC95%: 8,4 a 14,1), taxa de
mortalidade bruta na população geral (APC: 7,9; IC95%: 1,7 a 14,5) e Proporção de municípios
com transmissão (APC: 7,7; IC95%: 3,4 a 12,1) também apresentaram tendências crescentes
com incrementos estatisticamente significativos.
Em relação as outras duas faixas etárias, elas apresentaram tendências estáveis,
porém com valores crescentes não positivos. Apenas a taxa de letalidade apresentou valor
decrescente não significativo (Tabela 4).

Tabela 4. Tendência temporal dos indicadores epidemiológicos da coinfecção TB-HIV.

Indicador/Variável Período APC (95%IC) Tendência

Prevalência bruta (por


100,000 hab,)
2001 - 2019 9,4* (6,4 a 12,5) Crescente
Sexo
Masculino 2001 - 2019 9,3* (6,2 a 12,5) Crescente
Feminino 2001 - 2019 8,8* (5,4 a 12,3) Crescente
Idade
0-9 anos 2001 - 2019 6,9* (2,7 a 11,2) Crescente
10-19 anos 2001 - 2019 0,8 (-7,6 a 9,9) Estável
20-39 anos 2001 - 2019 8,0* (4,9 a 11,3) Crescente
40-59 anos 2001 - 2019 8,6* (5,2 a 12,1) Crescente
≥ 60 anos 2001 - 2019 4,4 (-1,6 a 10,7) Estável
Porcentagem de casos de
coinfecção TB-HIV
2001 - 2019 11,2* (8,4 a 14,1) Crescente
Mortalidade bruta da TB-HIV
(por 100,000 hab,)
2001 - 2019 7,9* (1,7 a 14,5) Crescente
Taxa de letalidade
2001 - 2019 -1,5 (-6,1 a 3,2) Estável
Proporção de municípios com
transmissão
2001 - 2019 7,7* (3,4 a 12,1) Crescente

Fonte: MS/SVS/SINAN – Elaboração própria

A Organização Mundial de Saúde começou a monitorar a integração de serviços de


TB/HIV, em 2004, como forma de diminuir o impacto do HIV entre indivíduos com TB,
recomendando, entre outras estratégias, a realização do teste de HIV de rotina a todos os
pacientes com TB, àqueles com sinais e sintomas de TB e, também, aos parceiros de pacientes

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com TB/HIV positivos. Isso permitiu a redução de, provavelmente, 5,8 milhões de óbitos no
mundo (WHO, 2016).
Neste estudo, a porcentagem de pessoas diagnosticadas com a coinfecção TB/HIV,
em Alagoas, variou entre 1,26% em 2001 a 14,2% em 2019, demonstrando um crescimento
significativo, sendo que, no Brasil, em 2015, foi constatado cerca de 9,7% de pessoas
diagnosticadas com TB-HIV (BRASIL, 2016). Isso mostra o quanto está elevado o número
de casos de coinfecção dessas doenças no estado, evidenciado, também, pelas tendências
crescentes de quase todos os indicadores nesse trabalho.
A porcentagem de coinfecção TB/HIV, no Estado, é superior a alguns países da
Europa, como Espanha (6,2%), Inglaterra (7,4%), Áustria (1,7%), França (5,6%) e Bélgica
(5,6%); no entanto, é um pouco inferior a Portugal (14,6%) (PIMPIN et al., 2011).
Quando se faz um comparativo com outros estados do Brasil, a porcentagem de casos
de Alagoas é maior que em Minas Gerais (8,3%) e em Pernambuco (10,5%) (AUGUSTO et
al., 2013; BARBOSA; COSTA, 2014). Entretanto, as variações, nesses resultados, podem
ocorrer devido a diferenças no cálculo adotado em cada estudo, assim como por variação
real no número de casos de coinfecção TB/HIV.
Houve predomínio da coinfecção em homens adultos, de baixa escolaridade e de cor
da pele parda. Tal perfil é conclusão semelhante à de diversos outros estudos realizados,
no Brasil, para a coinfecção TB-HIV, além de compatível com o perfil dos pacientes
soropositivos para o HIV/Aids no país (PINHEIRO et al., 2002; GASPAR et al., 2016;
BALDAN; FERRAUDO; ANDRADE, 2017; CASTRIGHIN et al., 2017).
Estudando as características clínicas associadas à TB, é conclusivo dizer que existe
falhas no sistema de saúde pública brasileiro, pelo fato de ser observado evidente falta de
exames de diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com TB.
Isso é evidenciado, também, pelo fato de a taxa de mortalidade ter se mantido
crescente, pois, por serem evitáveis, os óbitos podem ser considerados eventos sentinelas
capazes de identificar falhas nos sistemas de saúde, assim como avaliar as estratégias de
controle empregadas.  A mortalidade por TB está associada à quimioterapia irregular ou
inadequada, à demora no diagnóstico, à multirresistência às drogas, à coinfecção com HIV e
à presença de outras comorbidades, sobretudo em idosos (OLIVEIRA et al., 2018; SANTOS
et al., 2018).
A interpretação desses resultados deve levar em consideração que esse estudo tem
algumas limitações decorrentes do sistema de notificação e armazenamento dos dados de
morbidade. Dentre elas, cabe destacar a utilização de dados secundários que, muitas vezes,
apresentam inconsistência em relação à quantidade e à qualidade de suas informações.
A limitação mais importante desse estudo se refere às variáreis sociodemográficas e
clínicas-epidemiológicas da coinfecção TB/HIV que não foram preenchidas corretamente
e, consequentemente, não foram disponibilizadas de maneira correta, sendo demonstrado
altos valores ignorados e/ou em brancos. Esse fato pode influenciar na interpretação desses
dados, podendo os mesmos serem subestimados.
Apesar das limitações ou problemas mencionados, os resultados do presente estudo
mostram consistência e coerência com conhecimentos existentes sobre essa comorbidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desse estudo, foi verificado que os maiores percentuais, em relação às


variáveis sociodemográficas, concentraram-se no sexo masculino, faixa etária de 20 a
39 anos, pessoas com cor de pele não branca, baixa escolaridade e que residem na zona
urbana. Ademais, foi verificado que a maioria dos casos foram novos e foi demonstrado alto
percentual de pessoas que não estavam em tratamento supervisionado, como também que
não realizaram a baciloscopia, resultando em baixo percentual de cura (37%). Ressalta-se,
ainda, que houve alto percentual de casos ignorados e/ou em branco, podendo esses dados
serem subestimados.
É de extrema importância uma otimização do diagnóstico na atenção básica, como um
acompanhamento por uma equipe multiprofissional aos pacientes e aos contatos, devido à
possibilidade do agravamento da doença e coinfecções. Isso evita o sobrecarga dos hospitais
e das unidades básicas de urgências, além de possibilitar um diagnóstico precoce.
Além disso, recomenda-se aos gestores e profissionais da vigilância que desenvolvam
métodos sistemáticos que sejam capazes de aprimorar a eficiência dos instrumentos
notificadores da vigilância epidemiológica, aprimorando a qualidade da informação para o
planejamento, avaliação, controle e auditoria em Saúde Pública.
Dessa forma, esse trabalho enfatiza a necessidade de investimentos nos programas
básicos de saúde pública, pois, só assim, teremos mais atenção ao atendimento e adesão
do paciente ao tratamento, com menor taxa de abandono, que é, na verdade, a grande
responsável pelo aparecimento da multirresistência em nosso país.

REFERÊNCIAS

1. ANTUNES, J. L. F.; CARDOSO, M. R. A. Uso da análise de séries temporais em


estudos epidemiológicos. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 24, n. 3, p. 565–576, 2015.

2. AUGUSTO, C.J. et al. Características da tuberculose no estado de Minas Gerais entre


2002 e 2009. J Bras Pneumol, v. 39, n. 3. P. 357-364, 2013.

3. BALDAN, S.S.; FERRAUDO, A.S.; ANDRADE, M. Clinical and epidemiological


characteristics of tuberculosis and HIV coinfection and the association with the Human
Development Index in Mato Grosso do Sul State, Brazil. Rev Pan-Amaz Saude, v. 8, n.3,
p.59-67, 2017.

4. BARBOSA, I.F.; COSTA, I.C.C. Estudo epidemiológico da coinfecção tuberculose-HIV


no Nordeste do Brasil. Rev Patol Trop, v. 43, n. 1, p. 27-38, 2014.

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in Brazil: social and environmental context, policies, interventions, and research
needs. Lancet, v. 28, n. 9780, p.1877-1889, 2011.

6. BIERRENBACH, A.L. et al. Tendência da mortalidade por tuberculose no Brasil, 1980


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7. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento


de Doenças Transmissíveis. Panorama da tuberculose no Brasil: indicadores
epidemiológicos e operacionais. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2014.

8. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Perspectivas


brasileiras para o fim da tuberculose como problema de saúde pública. Boletim
Epidemiológico. 2016a.

9. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Detectar, tratar e


curar: desafios e estratégias brasileiras frente à tuberculose. Boletim Epidemiológico,
2016b.

10. BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico HIV/Aids. Brasília (DF):


Ministério da Saúde, 2017.

11. CASTRIGHINI, C.C. et al. Prevalence and epidemiological aspects of HIV/tuberculosis


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12. DATASUS. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Sistema de


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Casos confirmados (2001-2019). Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/
deftohtm.exe?sim/cnv/obt09br.def. Acesso em: 20 de julho, 2020.

13. DOMINGOS, M.P.; CAIAFFA, W.T.; COLOSIMO, E.A. Mortality, TB/ HIV co-
infection, and treatment dropout: predictors of tuberculosis prognosis in Recife,
Pernambuco State, Brazil. Cad Saúde Publica, v. 24, n. 4, p. 887-896, 2008.

14. GASPAR, R.S. et al. Temporal analysis of reported cases of tuberculosis and of
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15. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasil. 2019. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao.html. Acesso em: 20 jul. 2020.

16. MAHER, D. et al. Health transition in Africa: practical policy proposals for primary
care. Bull World Health Organ. v. 82, n. 12. P. 943-948, 2010.

17. MANDELL, G. L et al. Mandell’s principles and practice of infectious diseases. 8th ed.
Philadelphia: Elsevier Saunders, 2015.

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tuberculosis: systematic review and meta-analysis. Int J Tuberc Lung Dis, v. 13, n. 1, p. 17-
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21. PIMPIN, L.N. et al. Tuberculosis and HIV co-infection in European Union and
European Economic Area countries. Eur Respir J, v. 38, n. 6, p. 1382-1392, 2011.

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Brazil. Ciênc. Saúde Coletiva. v.7, n.4, p. 687-707, 2002.

23. SANTOS, J.N. et al. Factors associated with cure when treating tuberculosis in the
state of Rio de Janeiro, Brazil, 2011-2014. Epidemiol Serv Saúde, 27, n. 3, e2017464, p.
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24. WHO. World Health Organization. Global tuberculosis report 2016. Geneva: WHO;
2016.

95
PARTE 2
Revisão da literatura como caminho
metodológico para investigação de
doenças recorrentes
8

Adesão ao tratamento da tuberculose pela população privada de


liberdade: uma revisão integrativa da literatura1

Adherence to tuberculosis treatment by the population deprived


of liberty: a integrative literature review
Lana Delly Vieira Leite do Nascimento(1); Willians Emanuel da Silva Melo(2).

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9310-4164, estudante de Farmácia; Autarquia de Ensino Superior
de Arcoverde-AESA/Escola Superior de Saúde de Arcoverde-ESSA; Arcoverde, Pernambuco; Brasil. E-mail:
lanadellyvln@outlook.com.
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9215-4231, mestre em Saúde Pública – FIOCRUZ-PE, docente do
bacharelado em Farmácia; Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde-AESA/Escola Superior de Saúde de
Arcoverde-ESSA; Arcoverde, Pernambuco; Brasil. E-mail: williansmelo1@gmail.com.

ABSTRACT: The lack of adherence to the treatment of tuberculosis can lead to therapeutic failure both by
promoting multidrug-resistant bacilli or relapse of the disease, which is not only a concern for the population
deprived of liberty, but also for extramural populations. This integrative literature review aimed to analyze
how the scientific literature has discussed adherence to tuberculosis treatment by the person deprived of
liberty - PPL, verifying in the studies factors that hinder adherence to tuberculosis treatment by the general
population and by PPL. The research was carried out in the SCIELO database, where 868 articles were found,
at the end of which 13 articles were selected for analysis. Male individuals, young, with low education, of
black / brown color / race, are part of the group most frequently associated with tuberculosis cases in the
population, a pattern seen in the PPL in Brazil and as a component associated with the abandonment of drug
treatment of tuberculosis, in addition to other factors such as the use of alcohol and other drugs. The prison
environment favors the illness of the PPL and the difficulty in accessing health in the prison service, makes it
difficult to treat the patient, who fights the disease, often without any support. PPL’s ​​health care structure does
not meet the real needs of the Brazilian prison system; overcrowding hinders a good performance of health
professionals, so that they can monitor and guarantee the therapy and the bond with the patient, establishing
the need to implement truly multiprofessional strategies, such as the effective integration of the pharmacist in
the monitoring of the patient with tuberculosis.

KEYWORDS: Prison system, Pharmaceutical assistance, Abandonment of treatment.

INTRODUÇÃO

A tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa de notificação compulsória


no Brasil, é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, além de ser um dos
principais problemas de saúde mundiais (TORTORA; FUNKE; CASE, 2010) que causa
morbimortalidade, principalmente, nos países em desenvolvimento.

1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap8
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Sua incidência está associada às desigualdades sociais (BAUMGARTEN et al.,


2019), o que explica sua ativa prevalência em aglomerações urbanas, principalmente, as
que possuem vulnerabilidade social e econômica, alta densidade demográfica, precárias
infraestruturas de saneamento e moradia, insegurança alimentar, abuso de drogas e
dificuldade de acesso aos serviços de saúde (MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2017).
As características relativas aos indivíduos com maior incidência de TB são serem do
sexo masculino, jovens entre 20 e 39 anos, com baixa escolaridade, de cor/raça preta ou
parda, etilista e usuário de droga (MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2020; SOARES
et al., 2017).
O quadro apresentado, na população privada de liberdade do Brasil, evidencia
extrema insalubridade dos presídios, com superlotação, más condições higiênico-
sanitárias, selas mal ventiladas e com pouca iluminação, má alimentação, além das
condições de fragilidade física e mental que o isolamento impõe e a dificuldade no acesso
à informação e serviços de saúde (MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2020). Além de
ser um ambiente propício para o desenvolvimento da tuberculose por relações intrínsecas
e extrínsecas relativas à pessoa privada de liberdade, o Programa Nacional de Controle da
Tuberculose (PNCT) elegeu, como populações mais vulneráveis à infecção, os indivíduos
em situação de rua, a PPL, indígenas e pessoas vivendo com o vírus da imunodeficiência
humana (HIV) (BRASIL, 2018; VALENÇA et al., 2016b).
O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, feito no período de julho
a dezembro de 2019, apresentou um total de 748.009 apenados em unidades prisionais no
Brasil, com 755.274 unidades prisionais e outras prisões, as quais apresentam um total de
vagas de 442.349 e um déficit de vagas de 312.925, caracterizando a superpopulação das
unidades prisionais. A PPL do Brasil é formada em 95,06% por homens, 62,11% têm idade
entre 18 e 34 anos, de cor/raça preta, em sua maioria (BRASIL, 2020a).
No período de 2010 a 2019, observou-se um aumento na proporção de casos novos
de TB diagnosticados na PPL; Só em 2019, foram notificados 8.154 casos novos entre os
privados de liberdade (BRASIL, 2020c).
Ainda no mesmo levantamento feito pelo Departamento Penitenciário Nacional
(DEPEN), o total de casos de tuberculose na PPL, no ano de 2019, é de 9.113, correspondendo
a 28,7% das patologias do sistema prisional (BRASIL, 2020a).
O tratamento para a TB é oferecido, gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), o qual apresenta um esquema básico que consiste de uma fase intensiva de 2 meses
com o esquema RHZE (Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol), sob a forma de
dose fixa combinada (DFC), seguido por uma fase de manutenção de 4 meses com esquema
RH-DFC, para adultos, salve exceções no tratamento que podem prolongar este por mais
de 6 meses, elevando seu custo e dificultando a aderência ao tratamento (VIEIRA; GOMES,
2008), ou alterar a terapêutica (RABAHI et al., 2017).
A PPL do Brasil recebe o mesmo esquema de tratamento que a população, em geral, o
qual foi estabelecido em 2014 pelo Ministério da Saúde (MS) na Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), com o
objetivo de ampliar as ações de saúde do SUS para a PPL, incluindo as medidas relativas ao
tratamento da TB (BRASIL, 2014).

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Para efetividade no tratamento do paciente com TB, garantindo a cura deste e que o
indivíduo não seja mais um vetor de transmissão para a doença, é indispensável a adesão
dos pacientes a no mínimo seis meses de antibioticoterapia (TORTORA; FUNKE; CASE,
2010). Embora a eficácia do esquema antituberculose seja de até 95% (RABAHI et al., 2017),
a efetividade do tratamento varia muito de acordo com o local em que vive, as condições de
atendimento, a educação em saúde oferecida, o vínculo da equipe de saúde com o paciente e a
assistência que o enfermo recebe da sociedade e familiares (SANTOS; SÁ, 2014). Assim, com
a falta de estrutura e deficiência enfrentadas pelo sistema prisional brasileiro já qualificam a
PPL ao risco de não adesão ao tratamento (RABAHI et al., 2017).
A falta de adesão, que pode ocorrer pelo abandono do tratamento, uso errado dos
medicamentos e uso irregular dos medicamentos, pode levar à falência terapêutica tanto pela
seleção de germes resistentes ou recidiva da doença (RABAHI et al., 2017), sendo não só
uma preocupação para PPL, mas também para população extramuros, pois as pessoas com
TB que não aderem a terapêutica continuam doentes e permanecem como fonte de contagio,
evidenciando a necessidade de atenção para com a adesão ao tratamento da TB na PPL.
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura com o objetivo
de analisar como e o que a literatura científica aborda sobre a adesão ao tratamento da
tuberculose pela PPL, verificando, em estudos, fatores que dificultam a adesão ao tratamento
da tuberculose pela população em geral e pela PPL.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, norteada pela seguinte questão: “O


que a literatura científica apresenta sobre a adesão da PPL ao tratamento da tuberculose?”.
A revisão percorreu etapas de elaboração, contemplando a definição da pergunta de
revisão, as estratégias para a busca e a seleção de artigos, a avaliação crítica dos estudos, a
coleta, a interpretação e a síntese de dados.
A pesquisa foi realizada na base de dados Scientific Electronic Library Online
(SCIELO), utilizando os descritores “PPL”, “ADESÃO”, “PRESÍDIO” e “TRATAMENTO”
associados à “TUBERCULOSE” pela expressão booleana “AND”. Utilizando os descritores
citados, foram encontrados 868 artigos, excluindo da contagem os estudos repetidos que
foram 99 artigos.
Partindo da pergunta norteadora, o estudo foi devolvido em três fases: 1) seleção de
artigos na base de dados SCIELO, através dos títulos, totalizando 27 artigos selecionados; 2)
exclusão por leitura do resumo, totalizando 13 artigos selecionados e 3) leitura íntegra dos
artigos selecionados na segunda fase.
Não houve restrição quanto à data de publicação e, como critérios de inclusão,
consideraram-se artigos originais e revisões publicadas em português, disponíveis na
íntegra, em open acess, realizados no Brasil, que abordassem “a adesão ao tratamento da
TB” como tema central, na perspectiva dos pacientes acometidos pela doença.
Foram critérios de exclusão na segunda fase: artigos que focavam no ponto de vista
dos profissionais de saúde sobre o tratamento da TB e que não abordavam sobre a adesão ao
tratamento da tuberculose.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os 13 artigos, que foram selecionados para inclusão e análise íntegra no presente


estudo, apresentaram estudos metodológicos variados, sendo estes quantitativos (2
artigos), qualitativos (5 artigos), qualiquantitativo (1 artigo), caso controle (1 artigo),
estudos transversais (2 artigos) e revisões integrativas (2 artigos). Em relação aos idiomas
de publicação disponibilizados para leitura, 9 foram publicados em português e inglês, e 4
foram publicados apenas em português. A maioria dos estudos foram publicados no ano de
2017 (3 artigos), seguido pelos anos de 2011, 2016 e 2020 (2 artigos em cada ano) e 2013,
2014, 2015 e 2019 (1 artigo em cada ano).
A PPL foi o grupo central de estudo em 9 artigos, 2 estudos abordaram a população, em
geral, como grupo central de estudo, mas citaram a PPL na pesquisa e 2 estudos abordaram
apenas a população em geral.
Diferentes áreas geográficas do Brasil foram exploradas nos estudos integrados,
1 foi realizado no Norte do país, 3 no Nordeste, 2 no Sudeste, 3 no Sul e 4 levaram, em
consideração, o território brasileiro.
A população acometida pela tuberculose, em sua maioria, é constituída por homens
adultos em idade produtiva, como mostrado em Campani, Moreira e Tiebohel (2011),
através de um estudo de caso controle realizado em seis Unidades Básicas de Saúde (UBS)
de referência para o tratamento da TB na cidade de Porto Alegre, por meio da revisão dos
prontuários médicos e as fichas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)
de todos os casos de abandono por parte de pacientes bacilíferos (WINTER; GARRIDO,
2017), entre 2004 e 2006, obteve uma população de estudo de 436 pacientes, a qual,
constituiu-se em 95,4% de indivíduos adultos, com maioridade civil e em idade produtiva
(ALVES et al., 2020). Demais características relacionadas aos indivíduos acometidos pela
TB, no Brasil, são a baixa escolaridade (< 8 anos), ter entre 35 e 64 anos de idade e a cor/
raça preta ou parda (BRASIL, 2018). O abuso de álcool, drogas ilícitas, também fazem parte
das características intrínsecas da população mais acometida pela TB (MACEDO; MACIEL;
STRUCHINER, 2017; JÚNIOR; OLIVEIRA; LÉON, 2013).
Um fator determinante para incidência da tuberculose, na população, é a desigualdade
socioeconômica apresentada nas aglomerações urbanas (WINTER; GARRIDO, 2017), as
quais são constituídas de precariedade no saneamento básico (CHIRINOS; MEIRELLES,
2011) e na assistência à saúde (MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2017), situação comum
nos países em desenvolvimento (WINTER; GARRIDO, 2017).
O ambiente prisional favorece o adoecimento da PPL, devido ao confinamento e à
dificuldade de acesso aos serviços de saúde, o qual é dever do Estado (BRASIL, 2020b), ou
ainda aos fatores relacionados ao encarceramento, como a nutrição precária (VALENÇA et
al., 2016a; SANTOS; SÁ, 2014), celas superpopulosas, mal ventiladas (SANTOS; SÁ, 2014)
e com pouca iluminação solar, como abordado no estudo quantitativo realizado no estado
do Espírito Santo (ES) (MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2020), apontando a grande
frequência de dermatoses, transtornos mentais, traumas, diarreias infecciosas, doenças
sexualmente transmissíveis e ainda doenças respiratórias como pneumonia, como também
tuberculose nessa população. Os fatores que contribuem para incidência da tuberculose, na
PPL, podem ser atribuídos aos indivíduos e sua condição de vida antes do encarceramento,

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como ser do sexo masculino, jovem, com baixa escolaridade (JÚNIOR; OLIVEIRA; LÉON,
2013), fazer uso de drogas (MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2017), apresentar agravos
associados (VALENÇA et al., 2016a), ter feito tratamento anterior para TB e ter antecedente
de encarceramento.
A alta taxa de incidência e prevalência de TB, nos presídios, é ainda aumentada pela
grande mobilidade dos apenados entre as unidades prisionais, favorecendo a transmissão
da doença, sem o devido monitoramento e rastreio em saúde, para TB, diante do fluxo da
PPL (WINTER; GARRIDO, 2017). Em 2017, a taxa de incidência de TB, na PPL do Brasil, foi
de 1087,2, representando 10,5% dos casos da TB no país (BRASIL, 2018).
A população total do estudo realizado, no estado do Espírito Santo, foi constituída dos
casos de tuberculose registrados na PPL de 2014 a 2016, incluindo casos novos, recidivas,
reingressos após abandono, transferência ou método de entrada desconhecido. O estudo
apontou que as unidades que não contabilizaram casos de TB eram, em sua maioria,
localizadas em cidades do interior do estado e tinham taxa de ocupação inferior a 100%,
enquanto o Centro de Triagem de Viana, localizado em uma região metropolitana, apresentou
a maior incidência de diagnóstico, e sua taxa de ocupação estava acima de 200%, 17,3 por
mil privados de liberdade foram diagnosticados com TB nesse local, tais resultados de
superlotação são vistos como um retrato nacional. O Brasil, em 2019, apresentou um déficit
de 312.925 vagas nas unidades prisionais, o que vai em desacordo com a Lei de Execução
Penal (LEP) (BRASIL, 2020b). O estudo apresentou uma faixa etária de 18 a 29 anos para
os casos de TB registrados, o que engloba a PPL que, em 2019, 44,79% das pessoas privadas
de liberdade tinham de 18 a 29 anos (BRASIL, 2020a; BRASIL, 2020b; MACEDO, 2020).
Macedo, Maciel e Struchiner (2017), por meio de estudo descritivo, com dados do
SINAN sobre casos de TB na PPL, avaliaram uma população de estudo composta por 55,07%
de jovens até 29 anos de idade, 61,67% pretos e indivíduos com baixa escolaridade. Entre
2007 e 2013, foram notificados 39.083 casos de TB na PPL, com prevalência superior em
mulheres, ao contrário do quadro de outros estudos (ALVES et al., 2020) e do panorama do
país, em 2017, no Plano Nacional de Combate à Tuberculose (PNCT) (BRASIL, 2018), onde
69% dos casos da TB foram em indivíduos do sexo masculino, e no Levantamento Nacional
de Informações Penitenciarias (BRASIL, 2020a), onde 8.975 casos de TB registrados, em
2019, foram em homens e apenas 138 em mulheres na PPL. Tal trabalho apresenta dados
divergentes aos demais aplicados nesta revisão, pois a prevalência mais elevada de TB foi em
indivíduos da cor/raça indígena, com idade acima de 60 anos. O resultado que se equiparou
aos outros estudos foi a prevalência acentuada de TB em privados de liberdade que possuíam
1 a 4 anos de escolaridade, mostrando a correlação entre os fatores socioeconômicos e a
infecção por TB. A baixa escolaridade dificulta o acesso da população as informações
(SOARES et al., 2017; RODRIGUES et al., 2017; JÚNIOR; OLIVEIRA; LÉON, 2013, ALVES
et al., 2020; SANTOS; SÁ, 2014) relativas ao adoecimento por TB e afins, como sobre o
tratamento, gravidade e a transmissão da doença, sendo a informação considerada como
fator relevante para a adesão ao tratamento (JÚNIOR; OLIVEIRA; LÉON, 2013), uma vez
que o desconhecimento quanto a possibilidade de cura pode influenciar no abandono do
tratamento pelo paciente (SOUZA et al., 2009).
Valença et al. (2016a), através de uma revisão integrativa de 21 artigos, apresentou
um estudo que caracterizou a presença de cepas agrupadas nos presídios do Rio de Janeiro e

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Rio Grande do Sul, como uma reflexão sobre as condições de risco de infecção em indivíduos
no sistema prisional, além de ser um claro indicativo de transmissão intramuros do bacilo. A
TB pulmonar é a mais frequente adquira, sua transmissão ocorre por inalação de partículas
muito finas contendo de 1 a 3 bacilos, que alcançam os pulmões, gerando sintomas de tosse,
que corroboram com propagação da TB por aerossóis (TORTORA; FUNKE; CASE, 2010;
ALVES et al., 2020).
Um estudo qualiquantitativo, realizado em um presídio no sul do Brasil (VALENÇA
et al., 2016b), que abrigava 764 apenados entre 2012 e 2013, desenvolveu ações de busca
ativa e passiva para detecção de casos de TB pulmonar na PPL do local, o que resultou em
36 pessoas privadas de liberdades diagnosticadas com TB, além das 14 pessoas privadas de
liberdade que já estavam em tratamento da infecção.
A busca ativa obteve participação da PPL, que foram estimulados a divulgar que
todos com tosse e escarro poderiam solicitar uma avaliação para TB junto à equipe de saúde
prisional. O estudo (VALENÇA et al., 2016b) apontou uma particularidade das unidades
prisionais relativa ao acesso à saúde, verificou-se que os líderes/chefes das galerias/
blocos avaliavam a condição de saúde dos demais, pois tinham a responsabilidade de
repassar uma lista sobre os apenados que precisavam de atendimento de saúde, podendo
priorizar ou não a inclusão de alguns, esse papel regulador também era exercido pelos
próprios agentes de segurança, estes relacionavam o acesso aos serviços de saúde ao bom
comportamento do indivíduo privado de liberdade, com uma percepção de que o acesso
aos serviços de saúde era um privilégio (OLIVEIRA; NATAL; CAMACHO, 2015). Essa
é uma estrutura de poder específica do sistema prisional (SANTOS; SÁ, 2014), a qual
é inerente ao planejamento de saúde que venha ser implantado na unidade prisional
(VALENÇA et al., 2016b).
Não se pode esquecer que há uma ligação direta entre a tuberculose no sistema prisional
e a tuberculose na sociedade externa ao cárcere, a transmissão de TB não se dá apenas entre
as PPL, como também para os funcionários, familiares dos apenados e, como consequência,
para a população externa ao cárcere (WINTER; GARRIDO, 2017). Uma epidemia de TB não
controlada no interior do presídio pode representar um grave risco para estes contatos e para
sociedade como um todo, assim como, uma TB contraída na comunidade pode desencadear
uma epidemia na população penitenciaria (JÚNIOR; OLIVEIRA; LÉON, 2013), criando um
ciclo de contaminação.
A TB pode ser completamente curável (JÚNIOR, 2013; RABAHI et al., 2017), mas
para que isso ocorra, o paciente deve seguir com a terapia pelo tempo necessário e obter
resposta diante da abordagem medicamentosa escolhida (WINTER; GARRIDO, 2017). A
falta de adesão ao tratamento é um dos motivos para o alto índice de mortalidade por TB,
estudos apontam a visível semelhança entre as características demográficas dos casos de
abandono e óbito associados a TB, relacionados ao perfil da população acometida pela doença,
evidenciando a correlação entre abandono do tratamento e óbito (SOARES et al., 2017). A
falta de adesão também aumenta a taxa de bacilos multirresistentes aos medicamentos e
casos de recidiva da doença (WINTER; GARRIDO, 2017).
A adesão é um processo dinâmico, multifatorial, que envolve aspectos comportamentais,
psíquicos e sociais e que requer decisões compartilhadas entre o paciente, a equipe de

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saúde e a sociedade, deve ter uma abordagem que atenda as singularidades socioculturais e
subjetivas, objetivando uma melhor qualidade de vida (SOUZA et al., 2009).
Soares et al. (2017), um estudo qualitativo ecológico descritivo, realizado no estado
Pernambuco, com dados do SINAN da população em geral, em relação a casos novos, com
encerramento ou abandono entre 2001 e 2014, verificou que foram registrados 57.015 casos
novos de todas as formas de tuberculose no território de Pernambuco, 6.473 desses casos
obtiveram encerramento classificado como ‘abandono’ do tratamento, o que equivale a
uma proporção de abandono total de 11,3%. Os fatores intrínsecos ao usuário, associados a
interrupção do tratamento da TB na população pernambucana do estudo (SOARES et al.,
2017), foram: o uso de álcool (RODRIGUES et al., 2017; CAMPANI; MOREIRA; TIEBOHEL,
2011) e outras drogas (RODRIGUES et al., 2017; CAMPANI; MOREIRA; TIEBOHEL, 2011;
CHIRINOS; MEIRELLES, 2011), a falsa impressão de cura, pois após 15 dias de tratamento o
paciente passa a ser considerado não infectante começando a sentir a melhora dos sintomas
(SOUZA et al., 2009) e o desconforto causado pela falta de alimento. A modalidade de
tratamento aplicado e a operacionalização dos serviços de saúde, foram os fatores extrínsecos
apontados como relevantes para o abandono da terapia. Percebeu-se que o indicador de
abandono foi maior entre indivíduos do sexo masculino (11,9%) (CHIRINOS; MEIRELLES,
2011), na faixa etária de 20 a 39 anos (12,7%), etilistas (15,4%), com o Ensino Fundamental
incompleto (12,1%) e de cor/raça preta (13,3%). A idade apresentada nesse estudo coincidiu
com os resultados de Campani, Moreira e Tiebohel (2011) e Chirinos e Meirelles (2011).
A idade de 20 a 39 anos relatada como fator relevante para o abandono do tratamento da
TB está intimamente ligada a fatores sociais, a população encontrada nessa fase da vida
manifesta maior predisposição ao consumo de outras drogas e ao etilismo, sendo esta a
primeira causa de ruptura do vínculo do paciente com o serviço de saúde, como observado
no resultado de outros estudos (VALENÇA et al., 2016b).
A pesquisa, desenvolvida por Campani, Moreira e Tiebohel (2011), ilustrou que o
grupo de abandono do tratamento apresentou um nível de escolaridade inferior ao grupo
de cura, e o maior número de casos de abandono ocorreu entre indivíduos com menos de
sete anos de escolaridade, o que é observado no PNCT, onde a taxa de abandono é maior
em indivíduos com menos de 8 anos de escolaridade (BRASIL, 2018). A média da taxa de
abandono foi de 10,4%, o abandono do tratamento ocorreu aos 3,7 a 2,7 meses, resultado
observado também em outros estudos (CHIRINOS; MEIRELLES, 2011). Constatou-se uma
frequência significativamente maior de indivíduos não brancos no grupo abandono, embora
pacientes brancos tenham predominado em ambos os grupos estudados, de curados e de
insucesso no tratamento, a infecção por HIV, mostrou-se frequente no grupo de abandono,
o HIV e a TB são quase inseparáveis, a TB é a doença que lidera, diretamente, as causas de
morte na maioria da população mundial infectada pelo HIV (TORTORA; FUNKE; CASE,
2010; BRASIL, 2018).
Os efeitos adversos à medicação, sem a necessidade de modificação do esquema
terapêutico, ocorreram em maior número nos casos de abandono, os efeitos adversos
são considerados como preditores ao abandono do tratamento (VIEIRA; GOMES, 2008;
SANTOS; SÁ, 2014), as reações adversas a RHZE, mais frequentemente relatadas, são dores
articulares, reações gástricas e reações de pele (RABAHI et al., 2017; VIEIRA; GOMES,
2008). Os efeitos adversos costumam aparecer nos dois/três primeiros meses de tratamento,

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o que explica uma incidência de abandono relevante nesse período (VIEIRA; GOMES,
2008; CHIRINOS; MEIRELLES, 2011). Os fatores relacionados às reações adversas, no
tratamento da TB, são múltiplos, mas os principais determinantes destas reações são a
dose administrada, horários de administração da medicação, idade, estado nutricional,
alcoolismo, condições da função hepática e renal e coinfecção pelo HIV (VIEIRA; GOMES,
2008), a qual inclui mais medicamentos a serem tomados pelo paciente, podendo resultar
em interações medicamentas significativas (RABAHI et al., 2017; BRASIL, 2019; ARBEX
et al., 2010a; ARBEX et al., 2010b), trazendo riscos ao paciente e mais efeitos indesejáveis.
Rodrigues et al. (2017), por meio de uma pesquisa qualitativa que utiliza como
referencial teórico-analítico a análise do discurso, realizado por 8 pessoas que foram
acometidas por TB pulmonar e que iniciaram e concluíram o tratamento em Unidades de
Saúde da Família (USFs) do município de João Pessoa e obtiveram a cura como desfecho
terapêutico, traz resultados de como o tratamento autoadministrado (CAMPANI; MOREIRA;
TIEBOHEL, 2011), a falta de suporte familiar, a fragilidade no vínculo entre doente e
profissional e a ausência de trabalho em equipe, nos serviços de saúde, contribuem para a falta
de adesão ao tratamento da TB (ALVES et al., 2020; SANTOS; SÁ, 2014). A família consegue
identificar necessidades, sofrimentos, sentimentos e dar apoio; o afeto familiar permite que
o sujeito doente tenha estabilidade para lutar contra a doença, ajuda-o a conseguir suprir
suas carências emocionais e a aceitar a situação de encontrar-se adoecido, contribuindo na
adesão e continuidade nos tratamentos. Os discursos, feitos pelos entrevistados, revelaram
que a forma como a pessoa com tuberculose é cuidada por profissionais de saúde e familiares
é determinante para a adesão e continuidade do tratamento, como constatado em Campani
(2017), onde os pacientes que não residiam com familiares apresentaram uma maior taxa
de abandono.
Outro fator relevante ao abandono do tratamento é o fato de as pessoas acometidas
pela TB sofrerem preconceito (JÚNIOR; OLIVEIRA; LÉON, 2013) e serem excluídos do
simples convívio social e das atividades diárias como compartilhar utensílios, sentimento
presente na fala dos entrevistados (RODRIGUES et al., 2017) e retratado em muitos estudos
como a forma de transmissão da TB elucidada para os pacientes de forma errônea (JÚNIOR;
OLIVEIRA; LÉON, 2013; ALLGAYER et al., 2019).
Chirinos e Meirelles (2011), trata-se de uma revisão integrativa da literatura, onde
foram analisados 9 estudos, foram correlacionados com a não adesão ao tratamento
cinco fatores principais: aspectos sociodemográficos, uso de drogas, aspectos
relacionados aos serviços de saúde e ao tratamento da doença, ocorrência de outras
doenças, principalmente, crônicas, e o cuidado em saúde. Horários inadequados,
estabelecidos pela equipe de saúde para receber a medicação, falha na orientação, falha
de agendamento dos retornos, retirada precoce do medicamento pelo profissional, dose
inferior a indicada, foram observados nos casos de abandono revisados em Chirinos
e Meirelles (2011). O tratamento diretamente observado (TDO) foi um fator positivo
no aumento a adesão ao tratamento, como observado em Macedo, Maciel e Struchiner
(2020), que o TDO aumentou em 20% a chance de sucesso no tratamento da TB. O TDO
é preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde
(MS) para o tratamento da tuberculose, tanto na população, em geral, como para PPL,
destacando como benefício o fortalecimento do vínculo com o profissional de saúde,

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a garantia de acesso rápido ao serviço em caso de efeitos adversos pelo tratamento


(MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2020).
Aqueles registrados como moradores de rua, albergados ou apenados são
significativamente associados com o desfecho de abandono, definindo essa variável como um
fator preditor, afirmando que o encarceramento se apresenta como um fator de risco para o
abandono da terapia medicamentosa da TB (CAMPANI; MOREIRA; TIEBOHEL, 2011).
Em Macedo, Maciel; Struchiner (2020), o grupo de estudo composto por 34 unidades
prisionais com 16.234 pessoas privadas de liberdade no total, entre 2012 e 2016, apresentou
300 casos de TB na PPL do ES, estes foram notificados no SINAN. Do total de casos, na
PPL, 72,6% se curaram, 7,0% abandonaram o tratamento. Os casos apresentaram um grupo
composto, em sua maioria, por homens, da raça/cor parda e que tinham de cinco a oito
anos de estudo. Observou-se mais insucesso no tratamento entre as mulheres, diferente
do apresentado em outros estudos abordados nesta revisão integrativa (ALLGAYER et al.,
2019; ALVES et al., 2020), o insucesso, no tratamento, também foi relacionado a indivíduos
com a faixa etária de 30 a 39 anos, com um a quatro anos de estudo, portadores da Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e com doenças mentais.
Nos resultados de Macedo, Maciel e Struchiner (2017), 68,6% dos casos obtiveram
cura com o tratamento, 10,7% o abandonaram. Tais resultados se compararam com a taxa
de não adesão do tratamento vista em estudos realizados na população em geral (SOARES
et al., 2017; CAMPANI; MOREIRA; TIEBOHEL, 2011) e dados do PNCT (BRASIL, 2018).
Valença et al. (2016a) associou o abandono do tratamento da TB a privados de
liberdade jovens, com menor escolaridade, uso de álcool, recidivas e sem TDO. As recidivas,
abandono e mudanças de centros de tratamento, pela alta mobilidade que ocorre na PPL
entre as unidades de prisão, favorecem o surgimento de cepas multirresistentes. A presença
de outras doenças, fatores fisiológicos e ambientais como a desnutrição, aglomerações
e o estresse (TORTORA; FUNKE; CASE, 2010; RABAHI et al., 2017) também estão
correlacionados com a aquisição de resistência a múltiplas drogas por parte dos bacilos.
Aglomeração e desnutrição são pontos característicos das unidades prisionais (SANTOS;
SÁ, 2014).
Júnior, Oliveira e Léon (2013) realizaram um estudo transversal com a PPL e
funcionários da unidade prisional Penitenciária P-III, como também funcionários da rede
pública de saúde do município de Hortolândia-SP foram entrevistados 141 privados de
liberdade. Os apenados relataram que vir a adoecer, ou estar com TB lhes traziam tristeza
e preocupação, principalmente, em relação ao acesso à cura, apenas 24,1% da PPL do local
sabia que o tratamento para TB é gratuito. Estar doente no sistema prisional, em relação
à estrutura hierárquica própria do local, representa fraqueza, sendo a aparência e a força
fundamentais, considerando a importância da proteção adquirida pelo pertencimento a um
grupo (MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2020). Tais sentimentos e desconhecimento
sobre as possibilidades de tratamento e cura levam a uma maior estigmatização sobre a
doença (VALENÇA et al., 2016b). Uma característica divergente dos outros estudos
(MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2020; MACEDO; MACIEL; STRUCHINER, 2017;
VALENÇA, 2016a; VALENÇA, 2016b) é que PPL de Hortolândia é composta, em maioria,
por homens brancos com percentagem baixa de pouca escolaridade.

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Alves et al. (2020), estudo quantitativo observacional e analítico, realizado com base
de dados secundários do SINAN e da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba, teve como
população de estudo os casos notificados de TB na PPL entre 2007 e 2016. Foram notificados
614 casos novos de TB na PPL, onde a proporção de abandono mais elevada em indivíduos
com AIDS, menor ou igual a 29 anos de idade, com diabetes, HIV positivo e sem TDO.
Em Allgayer et al. (2019), um estudo transversal de carácter quantitativo exploratório
e descritivo realizado em Unidades de Saúde Prisional do Rio Grande do Sul, entre agosto
e outubro de 2015, foi observado que seu grupo de estudo foi composto apenas por prisões
masculinas de regime fechado ou semiaberto, 76,9% das unidades estavam superlotadas
e com a composição sociodemográfica característica da PPL brasileira (BRASIL, 2020a).
Nesse estudo, observou-se que 23,1% das unidades optaram por isolamento do apenado
com TB, o isolamento é um fator de discussão entre os profissionais da saúde, pois não há
necessidade de isolamento para aqueles doentes já inseridos no sistema prisional, pois a PPL
do local já foi largamente exposta ao risco de infecção e a contagiosidade tende a diminuir
rapidamente após o início do tratamento (SOUZA et al., 2009).
Oliveira, Natal e Camacho (2015) realizaram estudo de casos múltiplos com abordagem
qualitativa constatou a forte presença da realidade hierárquica de poder apresentada
em Valença et al. (2016b), argumentou que a baixa proporção de recursos destinados às
necessidades sanitárias, pequena participação dos gerentes e profissionais de saúde nas
decisões sobre a aplicação dos recursos, o crescimento contínuo do número de privados de
liberdade e a implantação parcial ou baixa do plano de controle da tuberculose nas unidades
prisionais podem influenciar as taxas de cura e de abandono nas prisões.
No estudo qualitativo de Santos e Sá (2014) foi realizada uma pesquisa em cinco prisões
da Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará, localizadas nos municípios de Santa
Isabel e Marituba, entre 2011 e 2012. Foram feitas entrevistas fenomenológicas com 22
pessoas privadas de liberdade do sexo masculino, que se encontravam em tratamento para
TB no sistema prisional, não foi especificado quanto tempo cada um tinha de tratamento,
mas os discursos foram muito pertinentes, pois, muitas vezes, os pacientes não são escutados,
seus receios não são levados em consideração pela equipe de saúde.
O tratamento se mostrou um desafio para outros entrevistados que confessaram
pensar em abandonar a terapia medicamentosa, que se sentiam prejudicados pelos
medicamentos. Utilizar o medicamento, em jejum, foi tido como uma grande dificuldade,
mas a administração, em jejum, é necessária pois a biodisponibilidade dos fármacos usados
no tratamento da tuberculose, exceto rifampicina, é maior quando tomados com o estômago
vazio (RABAHI et al., 2017), garantindo o efeito terapêutico da antibioticoterapia para TB.
Os entrevistados relataram também coceira (RABAHI, 2017; VIEIRA; GOMES, 2008),
fraqueza e fome. Diante desses problemas relacionados à terapêutica, a equipe de saúde não
oferecia assistência, mesmo que o manejo para tais casos seja orientado pelas diretrizes
do MS para o tratamento da TB (BRASIL, 2019). O apoio da família e colegas do bloco
carcerário se mostrou essencial para adesão ao tratamento, mas, muitas vezes, o doente não
tem esse apoio da família, ou das pessoas próximas a ele, dependendo totalmente de si e
do vínculo estabelecido com a equipe de saúde do presídio, o apoio é dificultado devido ao
estigma histórico criado em torno da TB (JÚNIOR, OLIVEIRA; LÉON, 2013).

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O impacto da TB, na PPL, é subestimado na carga geral da doença quando


consideradas as situações em que os indivíduos a desenvolvem após cumprimento de
pena, embora tenham adquirido o bacilo durante o encarceramento. Em Macedo, Maciel e
Struchiner (2020), não foi possível afirmar que a unidade prisional foi o local de contágio da
TB, mas que o ambiente prisional teria contribuído para a evolução da doença (MACEDO,
MACIEL; STRUCHINER, 2020; ALLGAYER et al., 2019). Em Valença et al. (2016b), o
discurso apresentado pelos apenados evidenciou a insalubridade do ambiente prisional,
onde declaram ter espaços sujos, superlotados, mal iluminados e ventilados, tido como
um ambiente inóspito.
Uma vez, em liberdade, a pessoa privada de liberdade que estava em tratamento da
TB deve procurar, imediatamente, o PNCT de seu município (WINTER; GARRIDO, 2017). O
fato de adquirir a liberdade, em meio ao tratamento, dificulta uma abordagem para orientar
sobre o seguimento clínico fora do presídio (VALENÇA, 2016b; JÚNIOR, OLIVEIRA; LÉON
2013), mostrando a falta de educação em saúde e rastreabilidade, na saúde pública, para
com esses casos.
Valença et al. (2016b) relatou um caso com história de tratamento irregular dentro
do presídio e abandono de tratamentos anteriores foi novamente perdido para o seguimento
clínico terapêutico, uma vez que, após receber liberdade, houve descontinuidade do
tratamento e não foi possível localizar o doente.
Outro paciente, no mesmo estudo, embora orientado acerca do tratamento fora do
presídio, por ser usuário de crack, o próprio doente previa não seguir a tomada de medicação
após liberdade. Esses casos não podem, unicamente, serem atribuído à fragilidade do presídio
em questão, mas do contexto onde a unidade penal se insere (VALENÇA et al., 2016b).
Ainda, nesse estudo, verifica-se que, em apenas 24,4% dos casos de TB, ocorreu o
tratamento; 4 relataram receber, irregularmente, a medicação no presídio; 2 interromperam
tratamento após liberdade; 2 não iniciaram o tratamento por terem tido liberdade e 2
interromperam o tratamento dentro do presídio (VALENÇA et al., 2016b).
Outro fato relacionado a não adesão ao tratamento, na PPL, é o caso mostrado em
Campani, Moreira e Tiebohel (2011), onde o grupo de abandono estudado incluía apenados
que abandonaram o tratamento por fuga da prisão.
Os estudos abordados, nessa revisão integrativa, mostraram que a população
acometida pela TB, no Brasil, é o quadro da maioria das unidades prisionais do país, que,
apesar da taxa de abandono parecer pequena na PPL, isso representa um grande risco, pois
um paciente não tratado é um transmissor da doença (TORTORA; FUNKE; CASE, 2010),
que tem sua propagação favorecida pela situação de insalubridade e superlotação dos
presídios brasileiros. A alta taxa de abandono associado à falta de cuidado pela equipe de
saúde é preocupante, já que as pessoas doentes de tuberculose, ao receberem algum cuidado,
avaliam, positivamente, o atendimento e o reconhecem como um importante apoio recebido
dos profissionais de saúde (SANTOS; SÁ, 2014).
A pessoa privada de liberdade enfrenta muitos desafios à realização do tratamento
para tuberculose, mas como mostrado, nos discursos da PPL em Santos e Sá (2014), eles
buscam superar essas dificuldades por compreender que sem o tratamento não vão poder
voltar à normalidade de suas vidas antes do adoecimento pela TB.

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Os estudos estabeleceram uma extrema carência pelo cuidado multiprofissional da


PPL acometida pela TB, há uma necessidade da socialização das informações sobre TB para
os demais profissionais da saúde e das unidades prisionais, como uma forma de promover
uma abordagem multidisciplinar e intersetorial (JÚNIOR, OLIVEIRA; LÉON, 2013).
Os estudos apresentaram uma sobrecarga de trabalho e a pouca disponibilidade
de trabalhadores da saúde (VALENÇA et al., 2016b; ALVES et al., 2020), que dificultou
a implantação do TDO nas unidades prisionais, conforme recomendações do PNCT
(BRASIL, 2018). A responsabilidade sanitária sobre menos pessoas apresenta maior êxito
na manutenção do vínculo da equipe de saúde com o paciente, o que não é a realidade do
sistema penitenciário do Brasil (BRASIL, 2020a).
Ao considerar-se a existência da equipe de saúde prisional (ESP) para a assistência
a PPL, esperava-se uma maior realização de TDO, o que, de fato, não ocorreu nos estudos
revisados, levantando questionamentos sobre a assistência prestada pelas equipes para
viabilizar a adesão ao tratamento e a obtenção da cura (ALVES et al., 2020), mostrando
a tamanha fragilidade que a assistência à saúde para o tratamento da TB enfrenta no país
(BAUMGASTEN, 2019; SOUZA et al., 2009).
O sistema tem a necessidade de implantação de novas estratégias inerentes a
operacionalização do plano estratégico, como o direcionamento da atenção às determinações
intermediarias e distais do abandono, inserção rotineira de ações da educação popular,
instituição de redes intersetoriais articuladas à assistência social, educação e cultura e, até
mesmo, procura por um atendimento mais humanizado, na busca pela manutenção do
vínculo, o qual é essencial para manutenção do tratamento da TB (RODRIGUES et al., 2017;
ALLGAYER et al., 2019).
A Lei de Execução Penal (nº 7.210/1984) garante que a assistência à pessoa privada
de liberdade é dever do Estado, nos âmbitos material, da saúde, jurídico, educacional,
social e religioso. Na Seção III (Da Assistência à Saúde), no art. 14, determina que a
assistência à saúde do privado de liberdade deve incluir atendimento médico, farmacêutico
e odontológico (BRASIL, 2020b). Nenhum dos estudos abordados, nesta revisão,
abordou a participação do farmacêutico, de forma efetiva, na adesão ao tratamento da
TB. O profissional farmacêutico deve estar inserido na equipe multidisciplinar de saúde,
comprometendo-se não só com as atividades relacionadas com o processo de programação
e aquisição de medicamentos, como também com a utilização adequada dos mesmos
(RODRIGUES; AQUINO; MEDINA, 2018).
Destaca-se que o farmacêutico é capaz de conhecer as atividades que compõem a
Assistência Farmacêutica (AF), de deter e de disponibilizar informações técnicas sobre os
medicamentos, de aconselhar pacientes, além de constituir a interface entre a prescrição e a
dispensação dos medicamentos (RODRIGUES; AQUINO; MEDINA, 2018), garantindo uma
terapêutica individualizada para cada paciente, o que constitui também como uma forma de
construir vínculo com esse paciente, apoiando-o na adesão ao tratamento da TB.
A prática da farmácia clínica vem crescendo no Brasil, garantindo qualidade de vida
aos pacientes que têm acesso a uma equipe multiprofissional que inclui um farmacêutico
clínico. A PPL e o ambiente prisional são complexos e delicados, o doente por TB, no sistema
prisional, não enfrenta apenas a doença, mas todo o contexto psicológico em relação ao

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isolamento social, exigindo uma atenção e tratamento humanizado, que leve em consideração
os fatores que predispõem ao abandono da terapia medicamentosa nessa população.
O farmacêutico, como agente de saúde, só tem a agregar na assistência prestada
apenado com TB, pois este tem um papel fundamental na garantia da farmacoterapia
adequada, buscando resultados terapêuticos seguros e minimizando os resultados
desfavoráveis (RODRIGUES; AQUINO; MEDINA, 2018), além de trazer sugestões diante
do enfrentamento aos efeitos adversos provocados pela antibioticoterapia da TB, como
estratégias de aprazamento, administração da terapia com alimentos pobres em glicose
e lactose (RABAHI et al., 2017), como também medidas não farmacológicas para tais
adversidades do tratamento.
A implementação de programas, que coloquem o farmacêutico diretamente ligado
ao TODO, garantem mais um ponto de apoio e incentivo ao tratamento junto aos outros
profissionais de saúde que fazem parte das ESP. Portanto, por meio de serviços farmacêuticos
consolidados, é possível promover o efetivo cuidado ao paciente com TB na PPL, diante
da utilização adequada dos medicamentos, estabelecendo-se o fortalecimento da relação
farmacêutico paciente, trazendo apoio para as ESP e, consequentemente, ampliando a
adesão terapêutica (RODRIGUES; AQUINO; MEDINA, 2018).

CONCLUSÃO

A análise dos estudos integrados, nesta revisão, elucidou as dificuldades associadas à


adesão ao tratamento da TB pela população, em geral, e pela PPL, sendo somado, à segunda,
os fatores particulares do cárcere. Evidenciou-se que as condições socioeconômicas, como
a baixa escolaridade, ser indivíduo de cor/raça preta, jovem e do sexo masculino, não é
só correlacionado com o grupo de maior taxa de casos de TB na população, em geral, mas
também é o grupo com maior incidência de abandono e o quadro nacional da PPL brasileira.
O ambiente prisional e sua insalubridade também são fatores positivos para
propagação, e negativos à efetividade do tratamento do enfermo com tuberculose, mostrando
a precariedade imposta a PPL do país.
Os estudos, aqui integrados, não esgotam o assunto questionado nesta revisão,
salientando que é de extrema importância buscar conhecer mais sobre os componentes que
influenciam no desfecho do tratamento da TB na PPL, com intuito de garantir uma taxa de
adesão segura.
Conhecer tais características que levam, principalmente, ao abandono do tratamento
contribui para interromper o ciclo de transmissão da doença e para sua prevenção no âmbito
carcerário e na população, em geral, que através dos funcionários e visitantes dos presídios
tem contato com a situação da TB no sistema prisional, além de poderem levar a infecção
para dentro do presídio.
Há uma grande dificuldade no quantitativo de trabalhadores de saúde que atendam
à situação real dos presídios, impedindo que medidas simples como o TDO sejam
implementadas na assistência ao paciente com TB na PPL. Tal quadro mostra a fragilidade
da saúde pública, que tem estratégias feitas para o controle da enfermidade numa população
carcerária bem menor do que a encontrada nas unidades prisionais e outras prisões do país.

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Faz-se necessária a implementação de novas medidas, com adição de estratégias


realmente multidisciplinares, com a finalidade de criar um vínculo e confiança real do
privado de liberdade com a equipe de saúde. É necessário escutar, aconselhar e promover
educação em saúde para PPL do Brasil, tornando esta população, também, uma rede de
busca ativa por casos de TB no sistema prisional.
Os estudos abordados apresentaram limitações pelo uso de base de dados secundários,
como o SINAN e das secretarias de saúde dos locais onde foram realizados os estudos, o que
implica nas limitações diante da garantia do controle por parte dos órgãos fiscalizadores
sobre a real situação da TB no Brasil.
O pequeno quantitativo de estudos encontrados, durante a fase de pesquisa, que
tivessem como tema central a adesão do tratamento da tuberculose pela PPL, mostra a
carência de assuntos relativos à temática.
Estudos com a implementação da clínica farmacêutica, no cuidado em saúde da PPL,
devem ser efetuados, possibilitando uma análise científica da abordagem do farmacêutico
diante da adesão ao tratamento da TB nessa população.
Assim, através do cuidado em saúde na PPL, benefícios serão agregados ao controle
da TB no país, atingindo as recomendações e perspectivas em saúde para a doença.

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112
9

Polimorfismos de nucleotídeo simples no gene NRAMP1/SLC11A1


ao risco de suscetibilidade para a tuberculose1

Simple nucleotide polymorphisms in the NRAMP1 / SLC11A1


gene to the risk of susceptibility to tuberculosis
Karolayne Silva Souza(1); Kátia Cilene da Silva Félix(2); Nelson Carvas Júnior(3), Rafaell Batista
Pereira(4); Milena Roberta Freire da Silva(5), Flávia Steffany Leite Miranda(6)

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2627-7385, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas; Universidade Federal de Pernambuco-UFPE; Recife, Pernambuco; Brasil. karolayne.silvasouza@
ufpe.br;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4791-7177, Doutora em Fitopatologia e professor de Biomedicina
e Enfermagem; Centro Universitário do Rio São Francisco-UNIRIOS; Paulo Afonso, Bahia, Brasil. katia.
felix@fasete.edu.br;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2168-8927, Cochrane Brasil, Programa de Saúde Baseado em
Evidências, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil. nelson.carvas96@gmail.com;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4358-4029, Mestre em Nutrição e Professor do Curso de
Biomedicina; Centro Universitário do Rio São Francisco-UNIRIOS; Paulo Afonso, Bahia, Brasil.
rafaell_85@hotmail.com;
(5)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0203-4506, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas; Universidade Federal de Pernambuco-UFPE; Recife, Pernambubo; Brasil. milena.freire@ufpe.
br;
(6)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6402-531X, Graduada em Biomedicina, Centro Universitário do Rio
São Francisco-UNIRIOS; Paulo Afonso, Bahia, Brasil. flaviasteffany@hotmail.com.

ABSTRACT: Tuberculosis is an infectious disease that has Mycobacterium tuberculosis (M. tuberculosis)
as its main etiological agent, which is a worldwide public health problem. Errors in the individual’s immune
response to the pathogen can trigger susceptibility to the infectious agent, thus, studies with SNPs in the
NRAMP1 / SLC11A1 gene, have been widely carried out in investigations of susceptibility to infectious diseases,
especially tuberculosis. Considering the impact that this disease can have on human health, the main objective
of this study was to relate the simple nucleotide polymorphisms in the 5´Promotor, D543N, INT4 and 3´UTR
variants of the NRAMP1/ SLC11A1 gene in the individual’s susceptibility to M. tuberculosis through a meta-
analysis. This work was carried out following the methodological guidelines of a Systematic Review according
to the PRISMA protocol, of which searches were carried out in the main Medline electronic databases via
Pubmed, Science Direct and Lilacs. The studies were selected according to the eligibility criteria, with a total
of 39 scientific articles chosen for data collection, without language or year restriction. The results of this work
showed a possible association between the SNPs of the NRAMP1/SLC11A1 gene with the risk of susceptibility
to tuberculosis. The subgroup analysis suggested that of the 5 ethnicities and / or continents analyzed
(Africa, South America, North America, Caucasian and Asians), only Caucasians did not obtain statistically
significant results of any variant at a higher risk of susceptibility to tuberculosis. Studies like this, help in a
better understanding of the disease, as well as in its prevention and early diagnosis, which can also influence
tuberculosis control.

KEYWORDS: SNP, Gene, Mycobacterium tuberculosis.


1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap9
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INTRODUÇÃO

As doenças infecciosas são uma das principais causas de óbitos no mundo, sendo que,
nos últimos anos, os avanços da genética e da biologia molecular têm permitido uma maior
compreensão acerca dessas doenças, contribuindo, assim, para o benefício da saúde humana
(FERRIS; HOOD, 2018).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a tuberculose está entre as dez
principais doenças que mais causam óbitos globalmente. Estima-se que, em 2017, obteve-
se 1,3 milhões de óbitos no mundo e, aproximadamente, 10 milhões de pessoas tenham
desenvolvido a doença. Neste mesmo ano, estimou-se 5,1 mil óbitos e cerca de 86.858 casos
notificados por tuberculose no Brasil, inserindo, assim, o país entre os 20 países com maiores
números de casos absolutos incidentes por tuberculose (WHO, 2018).
Uma das principais características da tuberculose é que apenas o contato com seu
principal agente etiológico, a M. tuberculosis, não é suficiente para o desenvolvimento da
tuberculose, visto que, o perfil genético do indivíduo é um relavante determinante para a
suscetibilidade a esta doença (CHAPMAN; HILL, 2012). A compreensão da genética do
hospedeiro é uma perspectiva de ferramenta na medicina clínica, principalmente, para a
elucidação da expressão genética do hospedeiro. Os erros, na resposta imune, reduzem o
combate ao patógeno e, com isso, podem desencadear a suscetibilidade ao agente infeccioso
(PACHECO; MORAES, 2009).
A suscetibilidade e/ou resistência do hospedeiro às doenças podem estar associadas,
principalmente, aos polimorfismos de nucleotídeos simples (SNPs). Estudos de polimorfismos,
no gene NRAMP1/SLC11A1, têm sido associados a suscetibilidade à tuberculose, os quais
buscam a elucidação de sítios polimórficos no DNA que propiciem a redução da resposta
imune do indivíduo e, com isto, predispõem o hospedeiro à infecção pela M. tuberculosis
(HARISHANKAR; SELVARAJ; BETHUNAICKAN, 2018).
Considerando a extensão e o potencial do impacto na saúde, causado por esta doença,
os objetivos dessa pesquisa foram relacionar os polimorfismos de nucleotídeo simples nas
variantes 5´Promotor, D543N, INT4 e 3´UTR do gene NRAMP1/SLC11A1 na suscetibilidade
do indivíduo ser acometido pela tuberculose, testando a seguinte hipótese por meio de
revisão sistemática com metanálise.

REFERENCIAL TEÓRICO

A tuberculose é uma das principais doenças infecciosas milenares conhecida, sendo


relatada desde a antiga Roma e Grécia, tendo, também, indícios da doença em múmias
encontradas por pesquisadores no Egito, dos quais, apresentavam lesões condizentes com a
tuberculose (NOGUEIRA et al., 2012).
A M. tuberculosis é uma das principais espécies de micobactérias conhecidas por
infectar seres humanos no mundo (FORRELLAD et al., 2013). A ação mútua entre a M.
tuberculosis e as células do indivíduo caracteriza-se, principalmente, por sua complexidade,
sendo esta estipulada pela resistência ou não do hospedeiro a micobactéria e seu fator
de virulência. A infecção, pelo agente etiológico da tuberculose, ocorre pela transmissão
de bacilos da M. tuberculosis por gotículas liberadas, principalmente, através da tosse

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de um paciente já infectado, dos quais, são inaladas por pessoas sadias e, assim, podem
ser contaminadas. A maior parte das infecções causadas por estes bacilos se restringem,
principalmente, aos pulmões, denominando-se de tuberculose pulmonar, podendo, também,
comprometer outros órgãos como gânglios, ossos, articulações, peritônio, pleura, sistema
urinário e meninges, na qual é denominada de tuberculose extrapulmonar (NOGUEIRA et
al., 2012).
A entrada dos bacilos de M. tuberculosis, no trato respiratório do indivíduo, são
internalizadas por fagocitose pelos macrófagos alveolares através do reconhecimento de seus
receptores para os bacilos e, assim, pela formação de um fagossomo buscam a eliminação da
bactéria. No entanto, essa linha de defesa pode não conseguir sua eliminação e, assim, estes
bacilos invadem o tecido intersticial do pulmão e se deslocam para o parênquima pulmonar.
Posteriormente, as células inflamatórias e/ou dendríticas transportam os bacilos para os
linfonodos, ocasionando o recrutamento de células B e T para a formação de um granuloma
no parênquima pulmonar, denominando-se de tuberculose latente (PAI et al., 2016).
O diagnóstico primário da tuberculose se dá pela suspeita clínica, na qual o paciente
apresenta quadro de febre baixa, sudorese, adinamia, indisposição e perda de peso. Assim,
de acordo com a localização da doença no indivíduo, este pode ter sinais e sintomas como
tosse produtiva e sangramento respiratório, estando esses sintomas associados a forma
pulmonar da tuberculose, já os sinais e sintomas da tuberculose extrapulmonar se apresenta
de acordo com o órgão afetado pela doença. Sua confirmação diagnóstica ocorre pela
identificação de bacilos do M. tuberculosis no material coletado da lesão. Mundialmente, os
métodos utilizados no diagnóstico da tuberculose são os bacteriológicos, histopatológicos,
imunológicos, além de métodos complementares como os exames moleculares e de imagem
(CAMPOS et al., 2006).
Todavia, o contato do hospedeiro com o patógeno é essencial para o desenvolvimento
da tuberculose, no entanto, este contato não é suficiente para desencadear uma infecção e a
doença clínica no hospedeiro. Além dos fatores ambientais necessários para o desenvolvimento
da doença clínica, a base genética do hospedeiro contribui para a exposição do mesmo ao
patógeno. Assim, a variabilidade genética tem sido discutida na literatura como um fator
que confere a suscetibilidade ou a resistência do hospedeiro às doenças infecciosas, inclusive
a tuberculose (DALLMANN-SAUER; CORREA-MACEDO; SCHURR, 2018).
O principal tipo de polimorfismo relacionado às doenças são os SNPs (Polimorfismos
de nucleotídeos simples), dos quais, são grandemente pesquisados na genética de
populações humanas por estarem associados à suscetibilidade genética do indivíduo
a doenças (GRIFFITHS et al., 2016). O SNP é a variação de uma base nucleotídica em
determinada posição específica no DNA, sendo a maioria dessas variações genéticas do
tipo benignas, no entanto, alguns podem conduzir a suscetibilidade do indivíduo a doenças
(HAWKINS et al., 2017).
Os SNPs são os tipos de polimorfismos mais encontrados em um DNA, onde
denominan-se de SNPs comuns quando o alelo comum ocorre em uma frequência de 5% ou
mais em uma determinada população e, ocorrendo em uma frequência menor que 5%, são
denominados de SNPs raros. Estes SNPs estão localizados no interior dos genes, em regiões
como éxons, íntrons e regiões reguladoras do gene. Para o estudo dos SNPs em populações,

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é preciso a determinação de sítios nucleotídicos variantes do DNA, em que é descoberta pelo


sequenciamento do genoma em uma amostra de indivíduos e, posteriormente, a comparação
dessas sequências entre os indivíduos (GRIFFITHS et al., 2016).
Diversos genes estão associados com a suscetibilidade do indivíduo para a
tuberculose, principalmente, os genes codificadores de moléculas e proteínas que possuem
um papel importante no sistema imunológico contra os bacilos de M. tuberculosis, como por
exemplo, genes de citocinas anti e pró inflamatórias, receptores de membrana macrofágicas
e interleucinas, sendo que, estudos voltados a estes genes possuem uma relevante evidência
de SNPs envolvidos na progressão da tuberculose (AZAD; SADEE; SCHLESINGER, 2012).
O gene NRAMP1/SLC11A1 codifica uma proteína macrofágica conhecida como
NRAMP1 (Proteína 1 de macrófago associado à resistência natural) ou SLC11A1
(Transportador de soluto 11A1) relacionada com a resistência inata do indivíduo no
combate aos patógenos, contribuindo na defesa fagocitária autônoma contra a infecção
de microrganismos. Esta proteína é expressa em células de linhagem mielocítica, como:
macrófagos, células dendríticas, neutrófilos e monócitos (CELLIER, 2017; XU et al., 2018).
A localização citogenética do gene NRAMP1/SLC11A1 está no braço longo do cromossomo
2 (2q35), e abrange cerca de 13kb de pares de bases nitrogenadas (OMIM, 2019). Este gene
codifica a proteína que é expressa no compartimento do lisossomo de macrófagos, na qual,
exerce sua função como transportadora de íons de metal nas membranas macrofágicas
lisossomais como: Zn2+, Mn2+ e Fe2+, assim, esta proteína exerce múltiplos efeitos na
ativação dos macrófagos, sendo de suma importância na resposta imunológica contra as
infecções (FOL et al., 2015; XU et al., 2018).
Estudos com o gene NRAMP1/SLC11A1 apontam seu envolvimento na ativação
de macrófagos contra o M. tuberculosis e, com isso, polimorfismos, nesse gene, têm
sido associados com a suscetibilidade à tuberculose, sendo, quatro SNPs mais estudados
globalmente e de forma extensiva: 3 ‘UTR (1729 + 55del4) (rs17235416), D543N (Asp543Asn)
(rs17235409), INT4 (469 + 14G / C) (rs3731865) e 5’ promotor (GT) (rs34448891) (AZAD;
SADEE; SCHLESINGER, 2012; FOL et al., 2015).
Os principais SNPs desse gene possuem um significado à parte, na região 3’UTR, o
polimorfismo é na variante 1729 + 55del4, na qual, ocorre uma deleção de nucleotídeos
TGTG na região 3’ não traduzida do gene. O polimorfismo, na variante D543N (Asp543Asn),
é uma substituição da base nitrogenada Guanina por Adenina, que resulta na alteração do
aminoácido ácido aspártico para asparagina no éxon 15 do gene. Já a variante INT4 (469 +
14G / C) é um polimorfismo que envolve uma mudança de uma base nitrogenada Guanina
por Citosina no intrão 4 do gene e o polimorfismo, na variante 5’ promotor (GT), ocorre com
a repetição de dois nucleotídeos: Guanina e Timina na região promotora do gene (POON et
al., 2005).
Estes quatros polimorfismos foram estudados em várias populações diferentes, tendo
em vista que, apesar da associação desses polimorfismos com a suscetibilidade à tuberculose,
nem todos os estudos encontram essa evidência de predisposição à doença. É importante,
também, ressaltar que o gene NRAMP1/SLC11A1 não é o único envolvido no resultado de
infecção pela M. tuberculosis, no entanto, este gene pode contribuir com uma certa parte
para a suscetibilidade do indivíduo à tuberculose (FOL et al., 2015).

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PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

A presente pesquisa seguiu as recomendações de uma revisão sistemática com meta-


análise, com diretrizes metodológicas do protocolo PRISMA (Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta-analyses). Considerou-se incluídos estudos observacionais
de caso controle ou coorte, na qual, relacionou polimorfismos no gene NRAMP1/SLC11A1
para a suscetibilidade a tuberculose. Além de serem selecionados estudos com pacientes que
atendam aos critérios de confirmação diagnóstica mundial por tuberculose (bacteriológico,
cultura, histológico, molecular, exames de imagem), que apresentasse a forma de tuberculose
pulmonar e/ou extrapulmonar, e estudos que abordassem a frequência genotípica, sem
restrições de ano, idioma ou status de publicação. A exclusão se deu para estudos in vitro
ou com animais, estudos de pacientes com HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana),
estudos de revisões bibliográficas, artigos duplicados, artigos de opinião, artigos com dados
incompletos ou insuficientes, artigos indisponíveis na íntegra.
Realizou-se a busca por estudos nas bases eletrônicas PUBMED via MEDLINE, LILACS,
e SCIENCE DIRECT, com os principais descritores: “Tuberculoses” OR “Mycobacterium
tuberculosis” AND “Genetic Susceptibility” OR “Genetic Predisposition” OR”Nucleotide
Polymorphism, Single” AND “Nramp1 protein” OR “SLC11A1 protein”. A seleção de estudos
consistiu-se em duas etapas: A 1ª etapa foi composta pela análise em todos os títulos dos estudos
de forma individual, assim, nessa fase, estudos havendo duplicação foram eliminados. A 2ª
etapa consistiu na discussão dos critérios de elegibilidade, sendo estes aplicados por um revisor,
resumindo-se na eliminação de estudos pelo título, não estando relacionados a proposta do
presente trabalho. Por último, foram eliminados estudos após leitura completa dos mesmos,
na qual, não continham informações sobre dados de frequência genotípica para a realização da
meta-análise, e assim considerados elegíveis os estudos que passaram pelos critérios acima.
Após a seleção dos estudos, extraiu-se informações dos mesmos, utilizando um
protocolo definido com: Identificação do estudo (autor, ano, localidade de continente e/
ou etnia dos pacientes), características da amostra (número de pacientes em cada estudo),
características da coleta de dados (confirmação diagnóstica por tuberculose e frequência
genotípica). Realizou-se a análise de subgrupos para as variantes 5´Promotor, INT4, D543N
e 3´UTR do gene por etnia e/ou continente, assim como a análise de modelos de genótipos
mutantes heterozigóticos e homozigóticos.
Os resultados foram relatados em OR (Odds ratio) e Intervalos de Confiança
(IC) de 95% para cada região do gene NRAMP1/SLC11A1. Analisou-se a existência de
heterogeneidade entre os estudos científicos pela estatística I² de Higgins e Thompson
(sugerem uma escala em que próximo a 0% indica não heterogeneidade, próximo a 25%
indica baixa heterogeneidade, próximo a 50% indica heterogeneidade moderada e próximo
a 75% indica alta heterogeneidade), e para sumarizar as informações dos resustados dos
estudos incluídos, apresentou-se os dados em gráficos Forest plot, em modelo de Mantel-
Haenszel e DerSimonian e Laird. As análises foram realizadas no programa R (Versão
1.1.463). Os riscos de viés de forma individual dos estudos selecionados foram analisados
utilizando a lista de verificação de avaliação crítica do JBI (Instituto Joanna Briggs), já o
risco de viés entre os estudos fora avaliado pelo teste de Egger (recomendadas em Meta-
análises que apresentam >10 estudos).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A busca inicial identificou uma totalidade de 1.390 estudos, sendo eliminados 180
duplicatas, levando a 1.210 estudos a serem analisados pelo título e leitura completa das
mesmas, na qual, 1.171 estudos foram excluídos. Assim, 39 estudos preencheram os critérios
de elegibilidade e foram incluídos nessa revisão sistemática com meta-análise. A Figura
1 demonstra o fluxograma segundo a recomendação PRISMA, abordando a totalidade de
inclusão e exclusão de estudos buscados.

Figura 1.  Diagrama de fluxo descrevendo o processo de inclusão dos estudos pesquisados de
acordo com o protocolo PRISMA.

De acordo com as bases eletrônicas consultadas, uma totalidade de 39 estudos


foram elegíveis para a elaboração deste trabalho. Com isso, verificou-se um total de 27.839
indivíduos participantes nos estudos, dos quais, 12.400 correspondiam a pacientes com
tuberculose e 15.439 participantes controles sem a doença. Os estudos incluídos, tiveram
participantes de diferentes localidades e etnias, como norte-americanos, sul-americanos,
caucasianos e africanos. A Tabela 1 reporta as principais características dos estudos elegíveis
para esta metanálise.

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Tabela 1. Principais características dos estudos incluídos nessa Meta-análise.


Estudos Tipo de TB Diagnóstico da Tuberculose Etnia e/ou Continente
Ryu et al., 2000 N Radio., Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Gao et al., 2001 N Bacil. de escarro Ásia
Awomoyi et al., 2002 N Radio., Bacil. de escarro África
Ma et al., 2002 Pul./Extr. Bacil. de escarro, Histo. A. Norte
Delgado et al., 2002 Pulmonar Cult. Ásia
Liaw et al., 2002 Pulmonar Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Selvaraj et al., 2002 Pul./Extr. Radio., Bacil. de escarro Ásia
Søborg et al., 2002 Pul./Extr. Radio., Bacil. de escarro, Cult. Etnias Dist.
Solgun et al., 2002 N Prontuários médicos Caucasiano
Abe et al., 2003 N Histo., Cult., PCR Ásia
Kim et al., 2003 Pulmonar Radio., Histo. Ásia
Fitness et al., 2004 N Bacil. de escarro, Cult., Histo. Ásia
Liu et al., 2004 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Zhang et al., 2005 Pulmonar Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Druszczynska et al., 2006 Pulmonar Bacil. de escarro, Cult. Caucasiano
Hsu et al., 2006 N Bacil. de escarro e Histo. Ásia
Taype et al., 2006 Pul./Extr. Bacil. de escarro, Cult., Histo. A. Sul
Leung et al., 2007 Pulmonar Bacil. de escarro, Cult., Histo., PCR Ásia
Niño-Moreno et al., 2007 Pulmonar Radio., Cult. A. Sul
Qu et al., 2007 Pulmonar Radio., Cult. Ásia
Sahiratmadja et al., 2007 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro. Ásia
Vejbaesya et al., 2007 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Asai et al., 2008 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Farnia et al., 2008 N Prontuários médicos Ásia
Ates et al., 2009 Pul./Extr. Bacil. de escarro, Cult., Histo., Radio. Caucasiano
Jin et al., 2009 N Radio., Bacil. de escarro. Ásia
Merza et al., 2009 N Radio., Bacil. de escarro. Ásia
Hatta et al., 2010 N Bacil. de escarro, Cult. Ásia
De Wit et al., 2010 N Cult. África
Singh et al., 2011 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Stagas et al., 2011 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro, Cult. Caucasiano
Ben-Selma et al., 2012 Pul./Extr. Bacil. de escarro, Cult., Histo. África
Tiksnadi et al., 2013 Pul./Extr. Prontuários médicos Ásia
Wu F et al., 2013 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Fernández-Mestre et al., 2015 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro A. Sul
Salinas-Delgado et al., 2015 Pulmonar Bacil. de escarro, Cult., Histo. A. Norte
Wu L et al., 2015 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Jafari et al., 2016 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro, Cult. Ásia
Medapati et al., 2017 Pulmonar Radio., Bacil. de escarro Ásia

Legendas: TB = Tuberculose, N = Tipo de tuberculose não especificado, América N. = América do Norte, América S. = América
do Sul, Etnias Dist. = Etnias Distintas (branco, africano, asiático e povo inuit), Pul./Extr. = Pulmonar e Extrapulmonar, Radio. =
Radiografia, Bacil. de escarro = Baciloscopia de escarro, Cult. = Cultura, Histo. = Histopatologia, PCR = Reação de Cadeia Polim-
erase.

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Realizou-se a análise dos resultados do presente trabalho por dois modelos: Modelo
SNP de genótipo heterozigoto e homozigoto em conjunto e Modelo SNP de genótipo
heterozigoto e homozigoto individuais. Os resultados abordaram que o modelo SNP de
genótipo heterozigoto e homozigoto em conjunto na região 5´Promotor (GT)n tiveram
resultados com OR de 1.09 (IC 95%, 0.95 -1.26), o SNP na região INT4 (G/C) obteve-se
resultado com OR de 1.17 (IC 95%, 1.04 - 1.30), o SNP na região D543N (G/A) tiveram
resultados com OR de 1.22 (IC 95%, 1.10 - 1.37), e por último o SNP 3´UTR (+/del) obteve
um resultado de OR de 1.32 (IC 95%, 1.21 - 1.45), Q= p>0.01. A heterogeneidade entre os
estudos variou de moderada a alta heterogeneidade (I2 de 53% a 74%). Estes resultados
podem ser observados nas Figuras 2, 3, e 4 e 5.

Figura 2.  Modelo de SNP (GTn) da região 5´Promotor.

Figura 3.  Modelo de SNP (G/C) da região INT4.

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Figura 4.  Modelo de SNP (G/A) da região D543N.

Figura 5. Modelo de SNP (+/del) da região 3´UTR.

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O segundo modelo analisado consistiu no genótipo heterozigoto individual e


homozigoto individual, onde observou-se que o SNP heterozigoto (GTHt) com OR de 1.15
(IC 95%, 0,99 - 1.35) e SNP homozigoto (GTHg) com OR de 1.74 (IC 95%, 1.27 - 2.38) da
variante 5´promotor obteve resultado estatisticamente significativo. O SNP da variante
INT4 do modelo SNP de genótipo heterozigoto individual e homozigoto individual
não se obteve resultado estatisticamente significativo para o risco de tuberculose para o
SNP G/C (Heterozigoto), já o modelo de SNP C/C (Homozigoto) observou-se resultados
estatisticamente significativo (OR= 1.76 e IC 95%= 1.37 - 2.24), demonstrando uma possível
associação de risco a suscetibilidade para a tuberculose. O modelo de genótipo heterozigoto
e homozigoto individual para a variante D543N não apresentou resultados estatisticamente
significativo para a suscetibilidade a tuberculose para o SNP heterozigoto (G/A) e o SNP
homozigoto (A/A). Já a variante 3´UTR apresentou resultado estatisticamente significativo
(OR=1.29 e IC 95%= 1.18 – 1.42), para o modelo de genótipo heterozigoto (+/del) para
uma possível associação ao risco de tuberculose, sendo que, o modelo homozigoto (del/del)
obteve resultados não significativo ao risco de tuberculose. A heterogeneidade I2 entre os
estudos variou de baixa a moderada heterogeneidade (de 21% a 64%)
Para as análises adcionais de etnias e/ou continente, os resultados mostraram que
para o SNP na variante 5´Promotor, os africanos tiveram significância estatística de risco
para a tuberculose com OR= 1.45 e IC 95%= 1.16 – 1.80, quando comparados aos norte-
americanos, sul-americanos, caucasianos e asiáticos. Para o SNP INT4 somente os asiáticos
tiveram uma associação significativa para a suscetibilidade a tuberculose com (OR = 1.24
e IC 95% =1.06 – 1.45). O SNP D543N teve associação estaticamente significativa para os
norte-americanos (OR = 1.79 e IC 95%= 1.08 – 2.97), sul-americanos (OR = 1.33 e IC 95%=
1.04 – 1.69) e africanos (OR = 1.84 e IC 95%= 1.15 – 2.93). Por fim, o SNP 3´UTR obteve
resultados significativos para as etnias sul-americanas (OR = 1.35 e IC 95%= 1.08 – 1.69) e
asiáticas (OR = 1.34 e IC 95%= 1.20 – 1.49).
A avaliação de risco de viés entre os estudos pelo teste de Egger apresentou risco
baixo de viés de publicação para o modelo SNP de genótipo heterozigoto e homozigoto em
conjunto. O teste estatístico de Egger para esse modelo foi: INT4 = 0.48, D543N = 0.90 e
3´UTR = 0.38. O modelo SNP de genótipo heterozigoto obteve pelo teste de Egger: INT4 =
0.22, D543N = 0.72 e 3´UTR = 0.42, caracterizando um risco de viés baixo entre os estudos
desse modelo. Já para o modelo homozigótico obteve-se um resultado com teste de Egger:
INT4: 0.23, D543N = 0.00, e 3´UTR = 0.05, havendo assim, apenas a variante da região
INT4 apresentando risco de viés baixo para esse modelo. Com isso, apenas para a variante
5´Promotor não foi realizado a avaliação estatística em nenhum dos modelos acima, por
conter um número de estudos abaixo do ideal para a realização do teste (<10).
Diante dos 39 estudos analisados por meta-análise nos SNPs variantes 5´Promotor,
INT4, D543N e 3´UTR do gene NRAMP1/SLC11A1, foi observado associações significativas
de suscetibilidade a tuberculose em diferentes regiões e etnias e/ou continentes (África,
América do Norte, América do Sul, Ásia e Caucasiano) distintas. O estudo de Bellamy et al.
(1998) analisou pela primeira vez SNPs no gene NRAMP1/SLC11A1 com associação ao risco
de um indivíduo ser acometido por tuberculose, posteriormente, pesquisadores exploraram
polimorfismos nas variantes desse gene (LI et al., 2011).

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O estudo de Li et al. (2011) sugeriu uma observação quanto a suscetibilidade a


tuberculose em etnias, na qual observou-se que as populações europeias não estavam
associadas estatisticamente a tuberculose, pela qual, nesse trabalho baseado nos 39 estudos
elegíveis corroboraram com este feito, em que, somente a etnia caucasiana não obteve
resultados associando significativamente os SNPs no gene NRAMP1/SLC11A1 ao risco de
tuberculose. Este estudo também aborda que pode haver inconsistências de resultados
relacionados a outros trabalhos, podendo ser explicado pelo número baixo de estudos
e a análise da heterogeneidade entre os estudos. Nessa revisão sistemática com meta-
análise a heterogeneidade variou de moderada para alta, visto que, segundo os autores
Dos Santos e Cunha (2013), quando há a identificação de alta heterogeneidade entre os
estudos pode-se realizar várias abordagens, como: ignorar a heterogeneidade, considerar
a heterogeneidade ou explorar a heterogeneidade. Diante disso, na presente meta-análise
realizou-se a exploração da heterogeneidade, optando-se pela análise de subgrupos de
participantes por etnia.
Pode ser observado que a frequência genotípica de indivíduos no modelo homozigoto
individual é menor que o heterozigoto individual. Segundo Strachan e Read (2010) é mais
comum que se tenha um maior número de indivíduos apresentando SNPs com alelos
heterozigotos comparado aos homozigotos, visto que, é mais beneficiente um indivíduo
com SNP heterozigoto (multação incompleto) em comparação a um SNP homozigoto, já
que o heterozigoto tem maior estabilidade por possuir apenas um dos alelos danoso. Ainda
segundo o autor supracitado, esses alelos podem transmitir um grande efeito no fenótipo
do indivíduo.
Os vieses apresentados nas variantes 3´UTR e D543N no modelo de análise de
genótipo homozigoto individual podem ser explicados pela quantidade pequena de amostras
nos estudos, visto que, segundo Pereira e Galvão (2014) um número baixo de participantes
em estudos pode apresentar resultados com vieses por mera influência do acaso. Limitações
também devem ser reconhecidas, visto que, informações de idade e sexo dos participantes
não foi controlado em mais da metade dos estudos incluídos, assim como a divisão grosseira
de etnias e/ou continentes em: África, América do Sul, América do Norte, Caucasiano e
Asiáticos, ocasiona em uma análise propensa a prejulgamentos, com isso, estudos adicionais
de diferentes populações são necessários para comparar os achados atuais.

CONCLUSÃO

Os estudos de revisão sistemática com Meta-análise são relevantes na comunidade


científica, visto que, fornecem melhores evidências disponíveis para a prática clínica, sendo
o ponto alto da prática baseada em evidências. O estudo de associação de suscetibilidade
à tuberculose vem sendo amplamente estudada, inclusive na prática baseada e evidências,
já que a tuberculose é uma doença de agravo de saúde pública mundial, e estudos como
esse, auxiliam em uma melhor compreensão sobre a doença, assim como na prevenção e
diagnóstico precoce da mesma, podendo influenciar também no controle da tuberculose.
Este trabalho evidenciou uma possível associação entre os polimorfismos nos
SNPs variantes 5´Promotor, INT4, D543N e 3´UTR do gene NRAMP1/SLC11A1 ao risco
de suscetibilidade a tuberculose de acordo com os resultados apresentados. A análise de

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subgrupo sugeriu que das 5 etnias e/ou continentes analisados (África, América do Sul,
América do Norte, Caucasiano e Asiáticos), apenas os caucasianos não obtiveram resultados
estatisticamente significativos de nenhuma variante a um maior risco de suscetibilidade a
tuberculose. Contudo, sugere-se que mais estudos epidemiológicos com dados de amostragem
maiores sejam realizados, para a atualização e verificação das hipóteses do presente estudo.

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10

Atuação dos profissionais da saúde no combate à sífilis: uma


revisão integrativa de literatura1

Performance of health professionals in combating syphilis: an


integrative literature review
Neusa Loíse Nunes Albuquerque (¹); Ana Esthefani da Silva (²); Maria Lusia de Morais Belo Bezerra (³).

(¹)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1579-0976, estudante; Universidade Federal de Alagoas - UFAL;
Arapiraca, Alagoas; Brazil. E-mail: neusaloise9@gmail.com;
(²)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1619-9299, estudante; Universidade Federal de Alagoas - UFAL,
Brazil. E-mail: aninhaesthefani@gmail.com;
(³)
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0377-8793, professora; Universidade Federal de Alagoas- UFAL,
Brazil. E-mail: lusia.bezerra@gmail.com.

ABSTRACT: Syphilis is a sexually transmitted infection (STI), which has Treponema pallidum as its
etiological agent, affects thousands of people worldwide, including Brazil, bringing complications to public
health. Even though it is an old disease, with well-defined handling information, there are still barriers to its
control. In this context, the objective of the research was to identify scientific studies that designate the reality
of the engagement of health professionals in Brazil in relation to the fight against syphilis. An integrative
literature review was carried out, based on the following guiding question: “what do Brazilian scientific research
in the health field show in relation to professional engagement in fighting syphilis?”. From this perspective,
data were collected in the LILACS, BDENF and SCIELO databases, considering the years 2010 to 2019
respecting the inclusion criteria that were: publications available online and free, with full text, Portuguese
language, Brazilian authorship, as well as such as documents of the type: original and review articles, thesis
and dissertation. The exclusion criteria were: studies that could not identify a relationship with a theme, after
reading the title and abstract, with English, Spanish, German and French, a study that did not have Brazilian
authorship and duplicate publications. The following terms were used as descriptors: syphilis, prevention,
“health professionals”, “primary care”. Thus, 23 studies were selected to compose this integrative review. The
analyzed documents revealed the importance of health professionals in controlling syphilis. Health education
is a strategy that encourages the prevention and promotion of the population’s health. However, it has become
evident that the class of health professionals who is most engaged is nurses. Their engagement with a focus on
syphilis control was revealed in prenatal care, in the use of educational technologies, counseling, prevention
and other health promotion strategies. In view of the studies analyzed, most health professionals have
several difficulties to act in prevention, with knowledge deficiency in the management of syphilis, reflecting a
performance below expectations, which is a major problem in Brazilian public health. Therefore, training for
health professionals is necessary, especially for professionals involved in Primary Health Care, to favor early
intervention, preventing the spread of the disease.

KEYWORDS: Primary care, Prevention, Treponema pallidum.

1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap10
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INTRODUÇÃO

A sífilis é uma doença bacteriana sistêmica e crônica, porém curável, exclusiva do ser
humano, conhecida há séculos, que tem como agente etiológico, o Treponema pallidum,
sendo considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST) (BRASIL, 2020). Diz-se
que a sífilis chegou ao Brasil através dos portugueses e acomete os órgãos, como também
sistemas do corpo humano. É transmitida, principalmente, por via sexual (sífilis adquirida) e
vertical (sífilis congênita), mas também de maneira rara, pode ocorrer transmissão indireta
(objetos contaminados, tatuagens) e por transfusão sanguínea (MELLO, 2016). De acordo
com os dados epidemiológicos atuais, pode-se observar o número elevado de casos no ano
de 2018, onde a sífilis adquirida apresentou 75,8 casos por 100.000 habitantes. A taxa de
detecção de sífilis, em gestantes, foi de 21,4/1.000 nascidos vivos, a taxa de incidência de
sífilis congênita foi de 9,0/1.000 nascidos vivos e a taxa de mortalidade por sífilis congênita
foi de 8,2/100.000 nascidos vivos (BRASIL, 2019).
Os sinais e sintomas da sífilis dependem do seu estágio e pode colocar em risco não
só a saúde adulta, como também ser transmitida durante a gestação e prejudicar o bebê,
logo, é fundamental o acompanhamento de gestantes e de seus parceiros sexuais durante o
pré-natal, para prevenir essa doença (MS, 2019). A necessidade de treinar os profissionais
de saúde acerca do diagnóstico, tratamento e acompanhamento, ampliar o cuidado pré-
natal, aumentar a cobertura dos testes rápidos e os medicamentos para o tratamento
é imprescindível (SILVEIRA et al., 2019). O cenário atual da sífilis está intrinsecamente
ligado à educação em saúde, ao desempenho e comprometimento dos profissionais da saúde
para combater essa doença que tem acometido uma grande parcela da população brasileira.
Considerando este contexto, o estudo de revisão é essencial para ter conhecimento sobre
estudos que abordam essa temática.
Logo, para conduzir o presente estudo, desenvolveu-se a seguinte questão: “o que
mostram as pesquisas científicas brasileiras, na área da saúde, em relação ao engajamento
profissional no combate à sífilis?” Nesse sentido, o objetivo da pesquisa foi identificar estudos
científicos que designam a realidade do engajamento dos profissionais da saúde no Brasil
com relação ao combate à sífilis.

REFERENCIAL TEÓRICO

A sífilis adquirida acontece com o contato com pessoas infectadas através de sexo
desprotegido, contato com a mucosa, saliva e sangue. Essa doença pode ser classificada em
diversos estágios. Na sífilis primária, os sintomas acontecem, geralmente, três semanas
após a infecção, com aparecimento de cancro duro na região anogenital, como também na
boca, língua e região mamária. Na mulher, quando é localizada no interior do trato genital,
passa despercebido, em seguida, há o desaparecimento dessas lesões, evoluindo para a sífilis
secundária, com aparecimento de erupções cutâneas A sífilis secundária começa em quatro a
dez semanas, após o aparecimento do cancro, onde o agente etiológico se dissemina no corpo,
com lesões cutâneas, geralmente, nas palmas das mãos e planta dos pés. Quando não há
tratamento, a sífilis entra no estágio de latência, onde o infectado é assintomático e pode ter
a duração entre um a trinta anos. Após esse estágio de latência, ocorrerá o estágio mais grave
que é a sífilis terciária, onde advirão lesões internas que leva a destruição tecidual, atingindo

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órgãos internos, pele, tecidos moles e, quando transcorre a localidade oral, normalmente,
afeta a língua e o palato (COSTA et al., 2010; KALININ; PASSARELLI NETO; PASSARELLI,
2016). Nos países em desenvolvimento, ocorrem cerca de 12 mil novos casos, ao ano, em
pessoas adultas acometidas com esta doença. No Brasil, estima-se, aproximadamente, 1,4%
e 2,8% de pessoas acometidas com sífilis adquirida (AZEVEDO DANTAS et al., 2017).
A transmissão vertical é acometida pelo contato do recém-nascido com lesões
maternas, pela amamentação ou parto, mas, também por via transplacentária do T.
pallidum para o concepto. A sífilis congênita apresenta quadro clínico variável. Esta forma
da doença é classificada por recente e tardia, uma vez que o diagnóstico é feito até dois
anos de idade. Quando os sinais da doença são similares à sífilis secundária, com erupções
cutâneas, é denominada sífilis congênita recente. Depois do segundo ano de vida, com sinais
como surdez, ceratite intersticial, tíbia em “Lâmina de Sabre”, nariz “em sela”, mandíbula
curta, resultantes da cicatrização da doença sistêmica precoce, são características da sífilis
tardia (COSTA et al., 2010; GUERRA et al., 2017). No Brasil, a taxa de transmissão vertical
é, aproximadamente, de 25% (AZEVEDO DANTAS et al., 2017).
A incidência de taxas de sífilis congênita aumentou, progressivamente, em crianças
menores de um ano, dentre os anos 2010 a 2015. Nesse sentido, também, houve aumento
nas taxas de mortalidade infantil, natimorto, aborto espontâneo nas mais variadas regiões
do Brasil, sendo que as regiões Nordeste e Sudeste apresentaram as maiores taxas de sífilis
congênita entre 2,7 e 6,9 ​​/ 1.000 nascidos vivos (BEZERRA et al., 2019).
A sífilis é conhecida, há séculos, de forma que as informações necessárias sobre a
doença são bem definidas, mas, uma grande parcela de gestantes infectadas não tem
o atendimento necessário para o controle e a prevenção. Ademais, a sífilis, no período
gestacional, ocorre entre mulheres jovens (cerca de 28 anos), relacionada ao baixo nível
socioeconômico, com pouca escolaridade, com qual, um pré-natal inadequado reflete na
contribuição da persistência da transmissão vertical (MAGALHÃES et al., 2013).
Nessa perspectiva, é importante destacar que a sífilis, nos indivíduos de sexo
masculino, pode contribuir, agravando a problemática para a saúde pública, uma vez que os
homens têm menos aproximação com os serviços de saúde e busca tratamento alternativo
para seus estados de adoecimento. Isso sobrepõe aos estados de complicações, em longo
prazo, para a saúde masculina, além de contribuir para a transmissão da bactéria. A infecção
transmitida sexualmente é tratada com muito preconceito entre os homens, por ser uma
doença ligada ao sexo, causa preocupação e sensação de vulnerabilidade frente às relações
sexuais. Complementarmente, a desinformação é outro fator que promove a manutenção da
doença (PEREIRA et al., 2020).
A persistência da sífilis está, também, ligada a situações de fragilidade na atuação dos
serviços de saúde e baixa qualidade na assistência pré-natal, no qual compromete o controle
da doença. Alguns estudos demonstram que, mesmo as mulheres recebendo o diagnóstico
referente à sífilis, não recebem o tratamento adequado (SILVA et al., 2014).

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Realizou-se um estudo de revisão integrativa, considerando publicações brasileiras


acerca da atuação dos profissionais da saúde, no combate à sífilis, no período de 2010 a

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2019. Uma das melhores formas, para iniciar um estudo, é com a pesquisa bibliográfica,
evidenciando semelhanças e diferenças entre artigos e outros tipos de estudos, como também
a revisão integrativa tem esse propósito (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). O percurso
percorrido, para a construção da revisão, foi apresentado na figura 1.

Figura 1. Passos para construção da revisão integrativa.

Fonte: Das autoras.

Para a seleção dos artigos, foram utilizadas as seguintes bases de dados: LILACS
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BDENF (Base de Dados
de Enfermagem) e SCIELO (Scientific Electronic Library Online). Os critérios de inclusão
utilizados foram os seguintes: publicações disponíveis on-line e gratuitas, com texto completo;
idioma português; autoria brasileira, com intervalo de tempo compreendido entre 2010 e
2019; documentos do tipo artigos originais e de revisão, como também tese e dissertação.
Os critérios de exclusão foram: estudos que não fossem identificados relação com tema, após
leitura de título e resumo; com idioma inglês, espanhol, alemão e francês; estudo que não
tivesse autoria brasileira, como também publicações duplicadas. Os descritores utilizados
foram: sífilis, prevenção, “profissionais da saúde” e “atenção primária”. Para a busca, foram
consideradas as seguintes estratégias: sífilis AND “profissionais da saúde”; sífilis AND
prevenção AND “profissionais da saúde”; sífilis AND prevenção e sífilis AND “profissionais
da saúde” AND “atenção primária”.
A partir da busca padronizada, nas bases de dados realizadas em junho de 2020,
foram encontrados 966 artigos, sendo considerados apenas os que atendessem aos critérios
de inclusão, sendo assim, obtidos 329 artigos. Foi realizada a leitura de título e resumo,
respeitando-se os critérios de inclusão, no qual se conservaram 23 artigos para análise
detalhada. O processo de seleção dos artigos seguiu de acordo com a figura 2.

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Figura 2. Processo de seleção dos artigos para revisão integrativa da literatura.

Fonte: Das autoras.

A distribuição dos 23 estudos selecionados, para a construção da revisão integrativa


coletados nas três bases de dados, ocorreu conforme a tabela 1, com a maioria destes da base
Lilacs (43,47%).

Tabela 1. Artigos selecionados para a revisão integrativa de literatura, distribuídos por base de dados.
Bases de dados n (%)
LILACS 10 (43,47)
BDENF 07 (30,43)
SCIELO 06 (26,08)
Total 23 (100)

Fonte: Dados da pesquisa.

Para análise dos estudos selecionados, foram lidos os documentos na íntegra, com a
atenção voltada para o foco da temática e se respondia a questão norteadora. Uma vez que
atendiam essas exigências, foram extraídas informações e organizadas em dois quadros. O

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primeiro, contendo identificação dos estudos como: identificação (ID), autor (es)/ano de
publicação, título tipo de documento, como também o tipo de estudo. E, o outro quadro,
contendo o engajamento profissional e os estudos relacionados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 23 documentos selecionados para análise em profundidade, de acordo com o


quadro 1, foram obtidos estudos de diversos anos de publicação, tipo de documento, tipos
de estudo e abordagens temáticas. Quanto ao ano de publicação, obteve-se a seguinte
distribuição: 2019 (1), 2018 (5), 2017 (3), 2016 (2), 2015 (1), 2014 (3), 2013 (2), 2012 (3),
2011 (2) e 2010 (1).
Com relação aos tipos de documentos, observou-se que foram 18 artigos, 4 dissertações
e 1 tese. Todos os estudos com temática relacionada à atuação dos profissionais da saúde
no combate à sífilis. Acerca dos tipos de estudos denominados nos documentos, foram
identificados os seguintes: nove estudos do tipo transversal, um descritivo qualitativo,
dois estudos de caso, dois relatos de experiência, uma pesquisa avaliativa, um qualitativo
e exploratória, um qualitativo descritivo-exploratório, uma revisão bibliográfica, três
qualitativos, um estratégico e uma revisão narrativa de literatura, como pode ser observado
no quadro 1.
Quadro 1. Características dos trabalhos selecionados para análise.

AUTOR(ES)/ TIPO DE DO- TIPO DE


ID TÍTULO
ANO CUMENTO ESTUDO
Avaliação da implementação das ações de Pre-
LOPES, 2010 Dissertação
venção da Transmissão Vertical de Sífilis no
A1 Transversal
Pré-Natal em Unidades de saúde da Família de
Cuiabá.
Avaliação da implantação da assistência de pré-
DOMINGUES, -natal na rede SUS do município do Rio de Janei-
A2 Tese Transversal
ro com ênfase nas ações de controle da sífilis e do
2011
HIV.
ANDRADE et Conhecimento dos enfermeiros acerca do manejo Descritivo
A3 Artigo
al., 2011 da gestante com exame de VDRL reagente. quantitativo
Estudo de
Avaliação da qualidade da assistência pré-natal Dissertação
caso
A4 BECKER, 2012 na atenção primária no município de Rio Branco-
Acre.

Sífilis e pré-natal na rede pública de saúde, como


SCHMEING,
A5 também na área indígena de Amambai/MS: co- Dissertação Transversal
2012
nhecimento e prática de profissão
DOMINGUES; Avaliação das ações de controle da sífilis e do HIV
A6 HARTZ; LEAL, na assistência pré-natal da rede pública do muni- Artigo Transversal
2012 cípio do Rio de Janeiro, Brasil.
Manejo da sífilis na gestação: conhecimentos,
DOMINGUES
A7 práticas e atitudes dos profissionais pré-natalis- Artigo Transversal
et al., 2013a
tas da rede SUS do município do Rio de Janeiro.
DOMINGUES Sífilis congênita: evento sentinela da qualidade
A8 Artigo Transversal
et al., 2013b da assistência pré-natal.

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OLIVEIRA, Vozes em sintonia: Educação Popular sobre DST Relato de


A9 Artigo
2014 via rádio comunitária. experiência
ARAUJO et al., Prevenção da sífilis congênita em Fortaleza, Cea- Pesquisa
A10 Artigo
2014 rá: uma avaliação de estrutura e processo. avaliativa
CARVALHO
Ação educativa para agentes comunitários de Relato de
A11 MARTINS et Artigo
saúde na prevenção e controle da sífilis. experiência
al., 2014
Conhecimentos, atitudes e práticas dos profissio-
RODRIGUES,
A12 nais da Estratégia Saúde da família de Teresina Dissertação Transversal
2015
para o controle de sífilis em gestante.
Transversalizando a rede: o matriciamento na Qualitativo
ROCHA et al.,
A13 descentralização do aconselhamento e teste rápi- Artigo e explora-
2016
do para HIV, sífilis e hepatites. tório
SUTO et al., Assistência pré-natal à gestante com diagnóstico
A14 Artigo Transversal
2016 da sífilis.
Acesso de gestantes às tecnologias para preven-
GUANABARA Estudo de
A15 ção e controle da sífilis congênita em Fortaleza- Artigo
et al., 2017 caso
-Ceará, Brasil.
Qualitativo
NUNES et al., Sífilis na gestação: perspectivas e condutas do descritivo-
A16 Artigo
2017 enfermeiro. -explorató-
rio
HORTA et al., Pré-natal do parceiro na prevenção da sífilis con- Revisão bi-
A17 Artigo
2017 gênita. bliográfica
NOBRE et al., Sistema de saúde no controle da sífilis na pers-
A18 Artigo Qualitativo
2018 pectiva das enfermeiras.
Conhecimento dos profissionais que realizam
COSTA et al.,
A19 pré- natal na atenção básica sobre o manejo da Artigo Transversal
2018
sífilis.
SILVA et al., Aconselhamento em HIV/AIDS e sífilis às gestan-
A20 Artigo Qualitativo
2018 tes na atenção primária.
FERRE et al., Estratégias para o controle da Sífilis Congênita
A21 Artigo Estratégico
2018 no município de Diadema- SP.
Revisão
BECK; SOUZA, Práticas da enfermagem acerca do controle da
A22 Artigo narrativa de
2018 sífilis congênita.
literatura
ARAÚJO et al., Linha de cuidados para gestantes com sífilis ba-
A23 Artigo Qualitativo
2019 seada na visão de enfermeiros.

Fonte: Dados da pesquisa.

De acordo com os estudos, tornou-se evidente que a maioria dos profissionais engajados
são os/as enfermeiros/as. Os profissionais de enfermagem têm um papel fundamental para
o combate à sífilis, sendo cinco dos estudos, exclusivamente, voltados a esse engajamento
(ANDRADE et al., 2011; ARAÚJO et al., 2019; BECK; SOUZA, 2018; NUNES et al.,
2017; NOBRE et al., 2018). Os estudos, também, mencionam outros profissionais como
médicos que, juntos com os enfermeiros, auxiliam no diagnóstico e tratamento (COSTA et
al., 2018; DOMINGUES et al., 2013a; DOMINGUES; HARTZ; LEAL, 2012; SILVA et al.,

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2018), psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos e agentes comunitários de saúde, que


possibilitam um atendimento ampliado entre os pacientes, promovendo aconselhamentos
e atendimento pré-natal (CARVALHO MARTINS et al., 2014; GUANABARA et al., 2017;
ROCHA et al., 2016).
O engajamento dos profissionais da saúde, no cuidado pré-natal das gestantes como
um meio importante para a prevenção da doença, foi destacado por nove dos estudos
selecionados (ARAÚJO et al., 2019; BECKER, 2012; DOMINGUES, 2011; DOMINGUES;
HARTZ; LEAL, 2012; DOMINGUES et al., 2013a; DOMINGUES et al., 2013b; HORTA et
al., 2017; LOPES, 2010; SCHMEING, 2012; SUTO et al., 2016). Esse acompanhamento,
no período de pré-natal com qualidade, configura-se como uma ferramenta na prevenção,
detecção precoce, tratamento e diminuição de mortalidade, tornando possível a redução
dos casos de sífilis (SUTO et al., 2016). O cuidado à gestante, por meio do processo de
enfermagem e a sistematização do cuidado, é desenvolvida por meio da consulta pré-natal,
traçando diagnósticos e implementando intervenções (ARAÚJO et al., 2019), porém, a
persistência da sífilis congênita pode, também, está relacionada à falta de percepção dos
profissionais de saúde, em especial, dos enfermeiros, pois apresentam dificuldades em
relação ao manejo clínico da sífilis por desconhecerem alguns documentos necessários para a
notificação do agravo, o que revela a necessidade de se promover capacitação continuamente
(BECK; SOUZA, 2018).
A participação do profissional da saúde é primordial e singular na assistência pré-
natal e a necessidade de capacitação é evidente para suprir as necessidades de dúvidas e
dificuldades no diagnóstico, como também no tratamento da sífilis. Estes profissionais têm
fundamental importância no quesito de assumir o papel de educador, em saúde, e promover
com relevância ações de controle dessa doença. Neste sentido, a educação, em saúde, é uma
ferramenta indeclinável para o auxílio dos indivíduos e uma estratégia para contribuir com
a redução da sífilis.
Identificou-se, ainda, que os profissionais demonstram engajamento na construção
de tecnologias educativas com ênfase no acolhimento e aconselhamento, observando como
pacientes se adaptariam sob as condições de acesso às tecnologias, mostrando, também,
a importância do acompanhamento dos parceiros sexuais (GUANABARA et al., 2017).
A transmissão no rádio é outro meio educativo que é explorado. No estudo de Oliveira
(2014), os profissionais da saúde e radialistas se dividiram em grupos e, utilizando recursos
alternativos, como gravadores de celulares, desenvolveram o programa para abordar
aspectos sobre a doença e, assim, alcançar os ouvintes.
Observou-se que sete dos estudos apresentavam conteúdos voltados aos profissionais
de saúde, ao aconselhamento, prevenção e estratégias de promoção à saúde que visam, por
meio de promoção de conversas, à conscientização dos pacientes para cuidados básicos. As
intervenções educativas são propostas para o desenvolvimento de estratégias em privilégio
à saúde, e trabalham, integradamente, na atenção à saúde. Com isso, todas as estratégias
funcionam como meio de melhorar o serviço de saúde em prol da redução de casos de sífilis
(ARAUJO et al., 2014; CARVALHO MARTINS et al., 2014; COSTA et al., 2018; FERRE et al.,
2018; ROCHA et al., 2016; RODRIGUES, 2015; SILVA et al., 2018). Intervenções estratégicas,
como a inclusão do parceiro para acompanhamento no pré-natal, é considerado um fator
favorável para a prevenção da sífilis (COSTA et al., 2018). Estratégias, para padronizar a

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assistência ofertada à Atenção Básica, com arranjos de baixo custo nas ações de prevenção,
tratamento, monitoramento, são aspectos positivos no combate à sífilis adquirida (FERRE
et al., 2018).
Os aspectos mencionados buscam responder à questão norteadora da pesquisa, sendo
o engajamento profissional no controle da sífilis na atenção primária à saúde, organizado no
quadro 2.

Quadro 2. Identificação do engajamento profissional e seus respectivos trabalhos relacionados.


Engajamento profissional Estudos relacionados

Profissionais de enfermagem A3, A16, A18, A22 e A23

Cuidados no pré-natal A1, A2, A4, A5, A6, A7, A8, A14 e A17

Tecnologias educativas A9 e A15

Aconselhamento, prevenção e outras estratégias


A10, A11, A12, A13, A19, A20 e A21
de promoção à saúde

Fonte: Dados da pesquisa.

A maioria dos artigos tinha como objetivo avaliar o desempenho dos profissionais de
saúde acerca da temática sífilis, destacando-se a transcendência da atuação deles no controle
da doença (ANDRADE et al., 2011; ARAUJO et al., 2014; ARAÚJO et al., 2019; BECK;
SOUZA, 2018; BECKER, 2012; CARVALHO MARTINS et al., 2014; COSTA et al., 2018;
DOMINGUES, 2011; DOMINGUES; HARTZ; LEAL, 2012; DOMINGUES et al., 2013a;
DOMINGUES et al., 2013b; FERRE et al., 2018; GUANABARA et al., 2017; HORTA et al.,
2017; LOPES, 2010; NOBRE et al., 2018; NUNES et al., 2017; OLIVEIRA, 2014; ROCHA et
al., 2016; RODRIGUES, 2015; SCHMEING, 2012; SUTO et al., 2016)
Ao investigar os estudos, foi possível ver a fragilidade dos profissionais ao deparar-
se com casos de sífilis. A carência de conhecimento e especialização adequada fragilizam
a assistência prestada aos pacientes e, muitas vezes, o processo de enfermagem não é
devidamente implementado, causando diversas falhas no atendimento, pois há uma
deficiência na formação acadêmica, o que precarizam os conhecimentos e como agir
corretamente (ARAÚJO et al., 2019; SUTO et al., 2016).
Quando não se encontra dificuldade entre os profissionais, há uma grande
problematização nas unidades primárias de saúde que não se encontram em condições
estruturais, processuais, além da falta de medicamentos para contribuir para o combate da
sífilis congênita (ARAUJO et al., 2014; NUNES et al., 2017).
Com base nos estudos analisados, o maior engajamento dos profissionais da saúde,
no controle da sífilis, tem como prioridade a forma gestacional e congênita, envolvendo o
cuidado pré-natal e o acompanhamento frequente das gestantes, com o monitoramento
contínuo como forma de prevenção.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados do presente estudo reforçam a importância dos profissionais da saúde,


principalmente, os/as enfermeiros/as, no controle da sífilis, um problema pertinente à
população mundial. A infecção por T. pallidum persiste na sociedade brasileira e trata-se
de uma temática abrangente e relevante que necessita de engajamento profissional, mas
também da comunidade nas ações de proteção às pessoas contra a sífilis. No entanto, a
atuação dos profissionais de saúde se mostra deficiente, apresentando diversas dificuldades
relacionadas ao manejo da sífilis, como o baixo conhecimento e capacitação sobre o
assunto. Atrelado a isso, outros desafios persistem como os relacionados à comunicação
com população, a exemplo dos parceiros sexuais, além disso, as unidades básicas de saúde
parecem não ter estrutura adequada para o atendimento e manejo dos casos, refletindo num
desempenho abaixo das expectativas, o que constitui uma grande problemática na saúde
pública brasileira.
A qualificação dos profissionais da saúde é essencial para o manejo correto da sífilis,
uma vez que eles estão intrinsecamente ligados ao suporte dado às pessoas infectadas
com a doença, independentemente de seu estágio, principalmente, da equipe inserida
na Atenção Primária à Saúde, que tem possibilidade de intervir, de forma precoce, na
história da doença, evitando a propagação. Reconhecendo que os profissionais de saúde
representam uma categoria profissional relevante no processo de minimização dos casos de
sífilis é imprescindível que haja investimento em capacitações e melhorias das condições de
trabalho que garantam o desenvolvimento de ações para que metas de saúde, em relação à
sífilis, sejam alcançadas.

REFERÊNCIAS

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gestante com exame de VDRL reagente. DST - Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente
Transmissíveis, v.23, n.4 p. 188-193, 2011.

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uma avaliação de estrutura e processo. Cadernos Saúde Coletiva, v. 22, n. 3, p. 300-306,
set. 2014.

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sífilis baseada na visão de enfermeiros. Revista Rene, v. 20. Out. 2019.

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diagnosticada y notificada en hospital universitario materno infantil. Enfermería Global, v.
16, n. 46, p. 217-245, abr. 2017.

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Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2012.

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8. Maternal and Child Healthcare, Brazil. Emerging Infectious Diseases, v. 25, n. 8, p.


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Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções
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10. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para


Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Secretaria
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comunitários de saúde na prevenção e controle da sífilis. Revista Brasileira de Promoção
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vida e contribuições para a prática profissional. 2016. Dissertação -- Faculdade de
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27. NOBRE, Caroline Soares et al. Sistema de saúde no controle da sífilis na perspectiva
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descentralização do aconselhamento e teste rápido para HIV, sífilis e hepatites. Saúde em
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32. RODRIGUES, Danielle Carvalho. Conhecimentos, atitudes e práticas dos profissionais


da Estratégia Saúde da Família de Teresina para o controle da sífilis em gestante. 2015.
Dissertação – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2015.

33. SCHMEING, Lilian Mara Basilio. Sífilis e pré-natal na rede pública de saúde e
na área indígena de Amambai/MS: conhecimento e prática de profissionais. 2012.
Dissertação -- Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2012.

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atenção primária. Revista de Enfermagem da UFPE on line, v. 12, n. 7, p. 1962-1969, jul.
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v. 23, n. 2, p. 278-285, jun. 2014.

36. SILVEIRA, Mariangela F et al. Evolution towards the elimination of congenital syphilis
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Salud Pública. v. 43, mar. 2019.

37. SOUZA, Marcela Tavares de; SILVA, Michelly Dias da; CARVALHO, Rachel de.
Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo), v. 8, n. 1, p. 102-106, 2010.

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sífilis. Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde, v. 5, n. 2, p. 18-33, ago/dez. 2016.

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Lesões dermatológicas e orais decorrentes da COVID-191

Dermatological and oral lesions resulting from COVID-19


Williams Alexandre Dutra Filho(1); Leandro Alcantara(2)

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6865-6685 Graduando em Odontologia; Centro Universitário
Maurício de Nassau (UNINASSAU); Recife, Pernambuco; Brazil. williamsdutra98@gmail.com
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4316-0242 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife,
Pernambuco; Brazil. la.aguiar67@gmail.com

ABSTRACT: Hyperinflammation is a process that can occur in severe cases of COVID-19. This conditon can
generate vascular pathologies and, how consequence of that, the dermatological and oral lesions. The present
study is an integrative literature review. The search for data collection was carried out in July 2020 using PubMed
and Google Search looking for original and review articles, which were used as search words: “COVID-19”,
“cytokine cloud”, “Inflammation”, “SARS-cov-2” were used with the combination of “dermatology”, “lesions”,
“oral”, “ulcers” and “dermatitis”, “leukocyte vasculitis”, “chronic diseases”. In the articles found, a correlation
between leukocyte vasculitis (LCV) lesions and children in patients positive for COVID-19 was identified.
In addition, biochemical analyzes were also correlated with a high level of lymphopenia, neutrophilia and
fibrinoid necrosis. However, oral lesions would not be the cause of cell infection by the virus, as it shows a high
concentration of ACE2 receptors in the oral epithelium. The cause would be the hyperinflammatory state of
the organism and its microvascular reflexes, noteworthy: ulcers (especially on the tongue) and erythematous
lesions, where a masticatory mucosa represents 75% of the lesion site. These microvascular reflexes are the
result of lymphopenia induced by the cytokine cloud in the pulmonary alveoli, and by high levels of TNF,
IL-1β, IL-6, IL-8, G-CSF and GM-CSF and cytokine IL-17. These biomolecules, found in the cytokine cloud,
coincide with the histopathological findings of an oral ulcer showing signs of lymphopenia and thrombotic
tendencies. In relation to vascular issues, such as thrombotic tendencies, they can be explained by the meeting
point between dermatological and oral lesions, which may have symptomatic emission together, being an
inflammatory consequence such as erythematous lesions. This coincides with the dermatological literature
on the inflammation of blood vessels, in which it shows the biochemical relationships with the inflammatory
state induced by SARS-cov-2 in histopathological analyzes. Being dermatological and oral changes, therefore,
indirect consequence of the cytokine cloud mediated by LCV.

KEYWORDS: Cytokine, Vasculitis, Dermatilis.

INTRODUÇÃO

A inflamação é essencial para a eliminação do agente agressor na célula, e seus


processos bioquímicos buscam reestabelecer a homeostasia do organismo. Porém, se o
processo inflamatório for duradouro, ela pode levar a complicações sistêmicas e a doenças
crônicas (PANARO et al., 2020). A SARS-cov-2 induz a um processo inflamatório que tem
como os sintomas mais comumente relatados pelos infectados: fraqueza e tosse (37,5%);
Mialgia e tosse (32%); Fraqueza e mialgia (30,5%). Grande parte dos pacientes com

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DOI: 10.48016/ GT4L1cap11
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COVID-19 têm manifestações da doença com sintomas médios a moderados, porém apenas
15% progride para a doença severa, sendo caracterizado pela pneumonia, apenas 5% podem
desenvolver a síndrome de aflição respiratória aguda (ARDS) ou a falha em múltiplos órgãos
(MUYAYALO, 2020).
A resposta inflamatória pode ser resumida de acordo com a sequência: 1) estímulo
inicial dos padrões moleculares associados a patógenos (PMAP) e padrões moleculares
associados a danos (DAMP) nos receptores celulares TRL’s (do inglês, Toll like receptors); 2)
A ativação das rotas inflamatórias intracelulares; 3) Substâncias inflamatórias são produzidas
no núcleo celular; 4) As células da inflamação são recrutadas ao local lesado. Essa resposta
é produzida pelas células do tecido lesado e das inflamatórias circuladas pelo sangue. Esse
processo é essencial para a cura do estímulo danoso ao tecido, e induz a homeostase do
organismo, fazendo com que o patógeno seja eliminado, porém uma incontrolada resposta
pode levar ao dano a diversos órgão do corpo e a doenças crônicas (CHEN et al., 2018).
Pacientes, portadores de doenças pré-existentes, que induzem processos inflamatórios
crônicos, podem ser um fator de risco para o agravamento da COVID-19. Doenças como
hipertensão, diabetes, doenças na artéria coronária e problemas cérebro-vasculares,
possuem taxas de mortalidade de 58,8%, 42,3%, 19,2% e 15,4%, respectivamente. Além
disso, foi reportado que indivíduos do sexo masculino possuem uma taxa de mortalidade de
2,8%, enquanto que o sexo feminino é em torno de 1,7%. (KATULANDA et al., 2020).
Nos processos inflamatórios sistêmicos, ocorre uma resposta inflamatória incontrolada
iniciada nos pulmões, mais especificamente, em células AT2. A alta concentração de citocinas
induz a chamada “nuvem de citocinas”, que atinge vários tecidos celulares e provocam falhas
nos órgãos cardíacos, hepáticos e renal. Ao provocar falhas, induzem a síndrome respiratória
aguda e alterações vasculares, podendo ocasionar eventos trombóticos (SONG et al., 2020).
A causa dessa nuvem de citocinas e dos sintomas de sépsis são responsáveis por 28% dos
casos fatais da COVID-19 (TAY et al., 2020).
Vários autores (CHAUX-BODARD; DENEUVE; DESOUTTER, 2020; RECALCATI
et al., 2020; SANTOS et al., 2020; SOARES, 2020) mostraram pacientes positivos para o
SARS-cov-2 e com manifestações cutâneas, levando a uma dúvida se o surgimento de tais
lesões são consequências das reações medicamentosas ou do processo inflamatório pelo
vírus. Além disso, a alta expressão de receptores ACE2, na mucosa oral, poderia ser um
caminho para a penetrabilidade dos vírus nesses tecidos (XU et al., 2020).
Esse trabalho tem como objetivo realizar uma revisão de literatura e identificar uma
possível associação das lesões dermato-patológicas e orais encontradas em pacientes com a
COVID-19.

REFERENCIAL TEÓRICO

Em condições normais, a inflamação desencadeia uma eliminação do patógeno por


meio das células da imunidade adaptativa, porém, quando há um descontrole da produção de
citocinas, há a formação da nuvem de citocinas, a qual é originada nos alvéolos pulmonares.
Células AT2, mais velhas, irão receber um maior estímulo para produção de desses
mediadores inflamatórios pela sua desregulação na atividade de transcrição em seu núcleo,
isso permite a alta liberação dessas proteínas (SCHETT et al., 2020). Em decorrência desses

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fatores, o organismo não consegue controlar a inflamação e há uma produção excessiva de


proteínas da inflamação.
Os macrófagos possuem um processo-chave no processo inflamatório. Eles promovem,
por meio de uma cascata reacional intracelular, produção de IFN, IL-1B e IL-6. Esses
produtos são citocinas pró-inflamatórias que atuam, no recrutamento de novas células da
imunidade, por meio de receptores células como IL6R, TRAF6, desencadeando a cascata
reacional intracelular (PANARO et al., 2020).
O dano ao tecido pulmonar e o comprometimento dos outros órgãos corporais,
provocado pela nuvem de citocinas, induz a Síndrome da Angústia Respiratória do Adulto
(ARDS). A ARDS é caracterizada por mudanças no pulmão com edema alveolar, exultados
proteicos, descamação dos pneumócitos, uma formação de membrana de hialiana e
espessamento das paredes alveolares. Essa severidade está ligada aos danos ao músculo
do coração e aos vasos sanguíneos pela circulação de proteínas, como também células
inflamatórias no plasma sanguíneo (SONG et al., 2020). Ainda, a concentração plasmática
de mediadores inflamatórios é uma consequência genética individual, o que explica as
diferentes resistências entre os indivíduos (HILLARY et al., 2020).
Análises bioquímicas de pacientes que apresentaram a forma severa da COVID-19
revelaram altos níveis de linfócitos e eventos trombóticos. Esses achados bioquímicos revelam
que estes eventos foram consequência da nuvem de citocinas. Ainda, foram encontrados
uma grande concentração plasmática das citocinas TNF, IL-1β, IL-6, IL-8, G-CSF (fator
de estimulação de colônias de granulócitos), GM-CSF (fator de estimulação de colônia de
macrófagos), citocina IL-17 derivada de linfócitos e quimiocitocinas (KATULANDA, 2020;
SONG et al., 2020).
A imunidade inata merece destaque quanto à atividade pró-inflamatória do IL-
6, que é uma citocina responsável pela alta desregulação na produção de outras citocinas
alveolares (CALABRESE et al., 2020). Esse mediador também pode ser produzido pelo
fator de transcrição NF-kb, ao qual a indução da sua alta atividade, para a produção dessas
proteínas, está relacionada com um processo inflamatório severo, estando associado com
doenças crônicas e câncer (LIU et al., 2020).
O aumento no número de leucócitos é relacionado com a incontrolada reação
inflamatória, a qual induz a produção de mais citocinas pró-inflamatórias. A condição
severa é induzida pela nuvem de citocinas. Nela, há uma presença de células da imunidade
adaptativa, merecendo destaque as células T. A linfocenia é caracterizada pelo aumento
significativo de células T, células B e NK (MUYAYALO, 2020).
Além do mais, a expressão das células ACE2, nos cromossomos X, a resistência de
alelos à doença e as diferenças da atuação hormonal do estrogênio e testosterona em mulheres
e homens, respectivamente, podem explicar o porquê de o homem ter menos resistência ao
vírus do que as mulheres (TAY et al., 2020).
Sobre as questões vasculares, as hipóteses levam para existência de um ponto
de encontro entre as lesões dermatológicas e as lesões orais, sendo uma consequência
inflamatória, como as lesões eritematosas e ulcerativas (ROCHA et al., 2020).
Sobre a análise microvascular, os danos em células endoteliais podem causar ativação
da coagulação e hiperfibrinólise, determinada pelo processo inflamatório generalizado, ao

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qual causa trombose em pequenos vasos sanguíneos (SONG et al., 2020). Pacientes com
ARDS apresentaram um valor médio de coagulação elevado (RANUCCI et al., 2020).
Também foi reportado uma maior ativação parcial do tempo de tromboplastina e altos
níveis de produtos de fibrina e D-dímero, tanto em pacientes que não sobreviveram, quanto
em relação a pacientes que sobreviveram (TANG et al., 2020).
Achados histopatológicos mostraram trombos evidentes em pequenos vasos
sanguíneos (SOARES et al., 2020). A análise histopatológica também mostrou uma necrose
fibrinóide, tendo produtos de fibrina na amostra (GOTA; CALABRESE, 2013). Seguindo
a metodologia proposta por Einhorn e Levis (2015), esses achados são suficientes para
caracterizar o diagnóstico da LCV.
As vasculites cutâneas referem-se à inflamação de vasos sanguíneos a nível da derme
e no tecido subcutâneo (GOTA; CALABRESE, 2013). A vasculite leucocitária, também
conhecida como vasculite hipersensitiva, é uma vasculite de vasos pequenos (MICHELLETTI,
2015), sendo que as lesões decorrentes mais frequentes encontradas pela LCV são: púrpura
palpável, bolhas, pápulas, placas, úlceras, livedo reticular e nódulos. Ela tem uma etiologia
multidirecional, podendo ser consequência de alimentos, medicamentos, infecções, doenças
autoimunes, doenças no colágeno vascular e malignidades (EINHORN; LEVIS, 2015). A
maioria das lesões da vasculite leucocitária ocorrem na pele e menos de 30% dos casos em
outros sítios anatômicos (BAIGRIE et al., 2020).
Os complexos de imunoglobinas se concentram nos vasos sanguíneos e atraem
leucócitos, como também moléculas de adesão ao local. As lesões teciduais dos vasos
sanguíneos ocorrem com a liberação de enzimas e espécies reativas de oxigênio (ROS)
para eliminar os antígenos acumulados na área. Esse processo aumenta a destruição
tecidual nas paredes dos vasos, causando uma maior permeabilidade para os fluidos e as
células vermelhas do sangue podendo extravasar na derme (BEZERRA et al., 2020). Os
danos causados nas células podem ser demonstrados por técnicas histológicas na biopsia
da lesão oral decorrente do processo inflamatório pela infecção pela COVID-19 (SOARES
et al., 2020).
Amostras histológicas ainda mostraram alto nível de células da imunidade, exibindo
uma infiltração de granulócitos, sendo o alto nível de linfócitos um sensor de infecção viral,
nesse caso, o SARS-cov-2, e o desenvolvimento da LCV (GOTA; CALABRESE, 2013).

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, em Julho de 2020, usando o PubMed, Scielo
e Google Search, procurando artigos originais e de revisão de literatura, os quais foram
usados como palavras de busca : “covid-19”, “nuvem de citocinas”, “inflamação” , “SARS-
cov-2”, foram usados com a combinação de “ dermatologia”, “lesões”, “oral”, “úlceras” e
“dermatite”, “ vasculite leucocitária”, “ doenças crônicas”. Os artigos selecionados foram
situados numa faixa temporal de 10 anos (2010-2020), tendo linguagem a inglesa e de
fontes de diversos países. Os artigos que não abordavam sobre o processo de inflamação da
COVID-19 e manifestações orais, como também dermatológicas foram excluídos.
Foram extraídos da bibliografia: autores, ano da publicação, país desenvolvido,
pacientes com manifestações cutâneas e/ou orais, doenças pré-existentes, severidade da

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doença, processo de infamação, explicação das dermatites e a análises histopatológicas. Ao


final, foram reunidas as informações, comparando os casos clínicos reportados em artigos
originais com a literatura sobre a COVID-19, o processo de inflamação e a dermatológica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 27 artigos analisados, 65,8% eram sobre as lesões dermatológicas e orais


causadas pela COVID-19, 18,4% abordavam sobre o processo de inflamação e 15,8% eram
relacionados à etiologia de manifestações orais e dermatológicas. Do total, somente um
artigo abordou sobre o novo coronavírus e correlacionou a vasculite leucocitária como
consequência do processo inflamatório induzido pela COVID-19, mostrando ser uma porta
para o entendimento desses tipos de manifestações.
Além disso, 32% dos artigos abordavam sobre o comprometimento sistêmico causado
pela infecção ao vírus, tendo interação com diferentes tecidos do corpo humano e atingindo-
os, sendo o tecido vascular um alvo nesse processo inflamatório. Eles mostravam um alto
recrutamento de neutrófilos e linfócitos induzidos por esse estado inflamatório. Alguns
artigos, cerca de 32%, expuseram sobre a alta taxa de coagulação no processo inflamatório,
mostrando ter uma tendência para eventos trombóticos.
Dos artigos relacionados à etiologia das lesões dermatológicas e orais, 5 abordavam
sobre a vasculite leucocitária, afirmando ser uma doença multifatorial e ter relação com o
processo inflamatório induzido por infecção de diversos patógenos.
Analisando os artigos encontrados podemos encontrar um ponto central que é a
vasculite leucocitária (GOTA; CALABRESE, 2013; MILLS, 2013; MICHELLITE et al., 2015;
RONCATI, 2020).
Pacientes hospitalizados na Itália, estudados por Recalcati (2020), apresentaram
lesões dermatológicas do tipo maculopapulares generalizados (36,1%), papulovesiculares
(34,7%), urticária (9,7%) e pápulas púrpuras vermelho-acral com ou sem vesículas e sem
sintomatologia dolorosa, livedo reticular (2,8%) e 1,4% petéquias, o sítio anatômico mais
atingido foi no tronco representando 69,4% dos pacientes e 19,4% ocorreu nas mãos e pés.
(SACHDEVA et al., 2020).
Riad, Klugar e Krsek (2020) mostraram que os tecidos mais acometidos são a mucosa
mastigatória com 75% (dorso da língua, palato dura e mucosa gengival), 25 % ocorreram
na mucosa de revestimento (mucosa labial, mucosa bucal). Nesses, 50% revelaram úlceras,
38% apresentaram lesões eritematosas e 12% tiveram bolhas.
Um fato que intrigou os pesquisadores é se as causas das lesões são provocadas por
ação direta dos vírus nas células do tecido oral, isso por possuir uma alta expressão dos
receptores ACE2 nas células do epitélio oral. Os pesquisadores determinaram a expressão de
ACE2 em: células epiteliais estratificadas e superiores do esôfago, colangiostomias, células
do miocárdio, células uroteliais da bexiga, células do tubo proximal do rim, enterócitos
absortivos do miocárdio, mucosa oral, enterócitos absortivos do íleo e Cólon e no endotélio
(XU et al., 2020).
Todavia as manifestações dermatológicas e orais seriam consequências não da infecção
celular pelo vírus, e sim por pelo estado hiperinflamatório do organismo induzido por ele

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em casos severos e suas consequências microvasculares, visto que muitos pacientes tinham
doenças pré-existentes e estavam no estado severo da doença (RIAD; KLUGAR; KRSEK,
2020; SANTOS et al., 2020; SAKAIDA et al., 2020).

CONCLUSÃO

As lesões dermatológicas e orais são consequências do estado inflamatório induzido


no organismo de pessoas com fatores pré-existentes. Em geral, as lesões que mais estão
presentes são as eritematosas e as úlceras. Na pele, o sítio anatômico mais atingido é o tronco
e, no ambiente oral, é a mucosa mastigatória. Essas alterações patológicas são causadas
pela inflamação nos pequenos vasos sanguíneos, decorrente do alto nível plasmático de
mediadores inflamatórios e células da imunidade oriundos da nuvem de citocinas originadas
no pulmão e da formação de pequenos trombos nos pequenos vasos, isso desenvolve a
Vasculite Leucocitária que tem como característica essas lesões orais e dermatológicas.
O conhecimento dessas alterações pode fazer parte do diagnóstico pelo médico e pelo
odontólogo, dizendo sobre a própria evolução da doença, em geral, e sendo um caminho
para a busca de um tratamento urgente, necessitando de cuidados médicos mais intensos,
como, por exemplo, o uso de ventiladores mecânicos, administração de antibióticos para a
pneumonia e cuidados em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

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Aspectos históricos do vírus influenza: uma revisão literária1

Historical aspects of the influenza virus: a literary review

Ellen Beatriz Moura Barbosa(1); Lavínia Correia do Rozário Amorim(2); Lizandra Kelly Alves da Silva(3);
Joicielly Franca Bispo(4); Joyce Nayara Duarte da Silva(5); Ana Paula Rebelo Aquino Rodrigues(6).

(1)
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-0457-7996 Graduanda em Enfermagem; Centro Universitário
Tiradentes; Maceió, Alagoas; Brazil. ellen.beatriz26@outlook.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1368-3790, Graduanda em Enfermagem; UNIT; Maceió, Alagoas;
Brazil. laviniamorim20@gmail.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9451-1244, Graduanda em Enfermagem; UNIT; Maceió, Alagoas;
Brazil. lizandraks@hotmail.com;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9701-8968, Graduanda em Enfermagem; UNIT; Maceió, Alagoas;
Brazil. joiciellybispo22@gmail.com;
(5)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8728-5648, Graduanda em Enfermagem; UNIT; Maceió, Alagoas;
Brazil. joyceeduarte.96@gmail.com;
(6)
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-5174-5238, Mestra em Enfermagem; UNIT; Maceió, Alagoas; Brazil.
apaularebelo@hotmail.com.

ABSTRACT: Introduction: Influenza is considered an acute viral infection of the respiratory system
that has a large global distribution. Objective: To carry out a review of the literature regarding the historical
aspects of the influenza virus. Methodology: Study elaborated through a narrative review of the literature,
being used as source for data collection the databases Scientific Electronic Library Online (Scielo), Medical
Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), Pubmed, books and manuals of the Ministry of
Health (MS). Results and Discussion: Influenza is an ancient disease, it is believed that its name was
due to the customs of the time to associate physical phenomena with astrological influence. It was named
in this way in the 15th century, after an outbreak of respiratory disease in Italy, where people associated its
development with the influence of the stars, hence: Influenza. It seems that, due to its extreme virulence, the
H1N1 virus has stimulated the production and release of a considerable amount of inflammatory substances,
causing systemic inflammation and a more aggravating clinical picture when compared to those typical of
an influenza epidemic that occurs annually. The Spanish flu pandemic is considered to have spread in three
waves: The first, considered moderate, occurred in the spring of 1918; the second wave was the most serious
and destructive, in the fall of 1918; the last wave occurred in the spring of 1919, it was more severe than the
first, but not as severe when compared to the second wave. In 1957 a new strain of Influenza A was discovered,
H2N2, which caused a pandemic called the Asian flu. Conclusion: Influenza is an old virus that was already
the cause of a pandemic in 2009, reaching Brazil. Therefore, it is a matter of concern for vaccination coverage,
as they are chances of preventing new outbreaks and worsening of other respiratory diseases.

KEYWORDS: Influenza Virus, H1N1 Virus, Immunization.

1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap12
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INTRODUÇÃO

A Influenza é considerada uma infecção viral aguda do sistema respiratório que


dispõe de uma grande distribuição global além de um alto índice de transmissibilidade, na
qual uma mesma pessoa pode adquirir diversas vezes ao longo da vida. No geral, possui
uma evolução autolimitada, mas que pode se apresentar de forma grave. Além disso, é
considerada uma doença sazonal que ocorre anualmente, na qual em regiões com clima
temperado as epidemias, geralmente, acontecem nos meses de inverno (BRASIL, 2019).
Para a Saúde Pública, a influenza é composta por diferentes problemas relacionados
entre si que necessitam de abordagens específicas de vigilância e controle baseadas na
magnitude das manifestações clínicas e na potencialidade epidemiológica. Visto que se trata
de um vírus capaz de causar epidemias periódicas, podendo evoluir para pandemias caso um
novo vírus se disperse em uma população que não possui imunidade para o mesmo. Sendo
que a gravidade da doença irá depender do grau de virulência e transmissibilidade do vírus,
das ações preventivas e da efetividade dos tratamentos (BRASIL, 2018a).
Em 2018, o mundo observou o centenário da pandemia de influenza de 1918-1919,
conhecida como gripe espanhola. Com um número aproximado de mais de 50 milhões de
mortes, ultrapassando as mortes da Primeira Guerra Mundial, causou diversos impactos,
como a diminuição na expectativa de vida, em muitos países, na época da pandemia, além
de ter repercutido para a efetivação de mudanças necessárias nos sistemas de saúde pública
e de saúde em todos os níveis, seja ele nacional ou global (WHO, 2019).
Desde então, a ciência médica evoluiu, de maneira significativa, em relação ao vírus
influenza, desenvolvendo vacinas, medicamentos antivirais e melhorando o diagnóstico. Após
a pandemia de 1918 a 1919, as próximas pandemias aconteceram em 1957-1958, causando
1-4 milhões de mortes, em 1968-1969 com 1-4 milhões de mortes e a última ocorreu em
2009-2010, causando 100.000 a 400.000 mortes (WHO, 2019).
Apesar disso, a morbimortalidade causada pela influenza em uma pandemia, vem
sendo subestimada, anualmente, no contexto da influenza sazonal, mesmo que os vírus
sazonais da influenza venham evoluindo constantemente, sendo responsáveis por causar
doenças graves anualmente, principalmente, em grupos de risco, como idosos, crianças,
mulheres grávidas e pessoas portadoras de doenças crônicas. Estima-se, anualmente,
em todo o mundo, 1 bilhão de casos de influenza, sendo 3-5 milhões de casos graves,
na qual 290.000-650.000 evoluem para mortes respiratórias relacionadas à influenza
(WHO, 2019).
Com isso, a Organização Mundial da Saúde formulou a Estratégia Global de Gripe para
2019-2030, objetivando aprimorar a preparação para uma pandemia mundial e nacional,
minimizar a ameaça contínua da gripe zoonótica e melhorar a prevenção, como também
controle do impacto da influenza sazonal em todos os países (WHO, 2019).
No Brasil, o Ministério da Saúde vem adotando medidas de prevenção com o objetivo
de controlar a influenza no país, sendo a principal delas, a campanha de vacinação da
influenza sazonal anualmente. Aditivamente, o Ministério da Saúde dispõe o tratamento
antiviral (fosfato de oseltamivir), e Zanamivir através do Sistema Único de Saúde (SUS) e
incrementa um serviço de vigilância da influenza (BRASIL, 2018a).

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Em decorrência de todos esses fatores e levando em consideração a repercussão que o


vírus influenza causa na saúde de forma global, é perceptível a importância de conhecer todo
o seu processo histórico, clínico e epidemiológico, para que seja possível formular novas
medidas estratégicas de controle e prevenção. Desta forma, o objetivo do estudo foi realizar
uma revisão da literatura a respeito dos aspectos históricos do vírus influenza.

METODOLOGIA

Estudo elaborado através de uma revisão narrativa da literatura, sendo utilizada como
fonte para coleta de dados as bases: Scientific Electronic Library Online (Scielo), Medical
Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), Pubmed, livros e manuais do
Ministério da Saúde (MS) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram empregados,
como descritores, as palavras Vírus da Influenza, Vírus H1N1 e Imunização, segundo os
Descritores em Ciências da Saúde (Decs).
A coleta dos dados foi realizada em julho de 2020. Para a seleção dos estudos, foi
estabelecido, como critérios de inclusão, artigos publicados nos últimos dez anos, nas
línguas portuguesa e inglesa. Como critérios de exclusão, foram descartados artigos que não
atendiam o objetivo da questão de pesquisa. Inicialmente, foram encontrados 106 artigos,
após a utilização dos critérios de exclusão, foram utilizados 4 artigos.

ORIGEM DO VÍRUS

A influenza é uma doença antiga, acredita-se que seu nome se deu devido aos
costumes da época de associar os fenômenos físicos à influência astrológica. Foi nomeada,
desta forma, no século XV, depois de um surto de doença respiratória na Itália, onde as
pessoas associaram o seu desenvolvimento à influência das estrelas, logo: Influenza. Devido
ao seu potencial pandêmico, a influenza se destaca dentre as doenças infecciosas, estudos
mencionam episódios de possíveis e comprovadas pandemias de influenza ao longo da
história (COSTA; MERCHAN-HAMANN, 2016; GOERING et al., 2020)
É chamada de Pandemia toda epidemia que possui base em propagação mundial,
que ocasiona um número elevado de doenças e mortes em todo o mundo, como também
que leva a um abalo na situação econômica dos países afetados. No decorrer da história
da humanidade, ocorreram diversas pandemias de muitas doenças, como por exemplo da
praga, varíola, cólera e da gripe espanhola, que é considerada a mais duradoura, repetitiva e
responsável por uma quantidade significativa de mortes (AKIN; GÖZEL, 2020).
A pandemia da gripe espanhola, que ocorreu em 1918, causou de 20 a 50 milhões
de mortes em todo o mundo. Ao que tudo indica, devido a sua extrema virulência, o vírus
H1N1 causou um estímulo na produção e liberação de uma quantidade considerável
de substâncias inflamatórias, causando inflamação sistêmica e um quadro clínico mais
agravante quando comparado aos típicos de uma epidemia de gripe que ocorre anualmente
(MADIGAN et al., 2016).
Considera-se que a pandemia da gripe espanhola se espalhou em três ondas: A
primeira, considerada moderada, ocorreu na primavera de 1918; a segunda onda foi a mais
grave e destrutiva, no outono de 1918; a última onda ocorreu na primavera de 1919, foi

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mais severa que a primeira, porém não tão grave quando comparada a segunda onda. Em
1957, foi descoberto uma nova cepa de Influenza A, a H2N2, que causou uma pandemia da
chamada gripe asiática. Iniciou na China e se espalhou para os Estados Unidos, de onde
se disseminou para Europa e América do Sul, levando apenas 6 meses para se espalhar
pelo mundo e causando, aproximadamente, 2 milhões de mortes (AKIN; GÖZEL, 2020;
MADIGAN et al., 2016).
Em Hong Kong, foi encontrada, em julho de 1968, outra cepa da influenza A,H3N2,
que foi a responsável pela pandemia da gripe de Hong Kong. Acredita-se que o vírus se
disseminou, por meio de veteranos da guerra do Vietnã, que retornavam para os Estados
Unidos. Estima-se que esta gripe causou o óbito de cerca de um milhão de pessoas (COSTA;
MERCHAN-HAMANN, 2016; AKIN; GÖZEL, 2020).
Em 2009, ocorreu mais uma pandemia de Influenza (H1N1pdm09), que teve início no
México e se propagou muito rápido devido à alta mobilidade da atualidade. Em 27 de abril a
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou uma pandemia de fase 4 (transmissão entre
humanos com localização limitada, porém com potencial de causar pandemia); em 29 de
abril, anunciou fase 5 (transmissão sustentada em dois ou mais países) e, em 11 de junho,
declarou a fase 6 (disseminação internacional), já obtendo 30 mil casos notificados em mais
de 70 países (COSTA; MERCHAN-HAMANN, 2016; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
O H1N1 foi um rearranjo genômico em suínos, desta forma, os suínos eram o
reservatório deste vírus de alta virulência e que emergiu para infectar os humanos, ficando
conhecido como gripe suína. Os indivíduos mais afetados possuíam idade entre 5 e 21 anos,
em contrapartida, pessoas que possuíam 65 anos ou mais foram os menos infectados, o que
não era comum. A OMS declarou o fim da pandemia por H1N1 em 10 de agosto de 2010,
durou 472 dias (MADIGAN et al., 2016; GOERING et al., 2020).

O VÍRUS INFLUENZA

Os vírus da influenza são considerados os vírus respiratórios mais antigos, além de


causarem epidemias periodicamente, por isso, é de extrema importância o conhecimento
a respeito das suas propriedades estruturais. As informações genéticas deste vírus estão
codificadas em um RNA de fita simples, de sentido negativo, envolto por um envelope
contendo proteínas, uma bicamada lipídica e glicoproteínas externas. A influenza é
composta por três tipos diferentes de vírus: A, B e C, na qual os vírus da influenza A e B
são responsáveis por doenças epidêmicas, sendo que o vírus da influenza A causa doenças
mais graves, enquanto o da influenza C, infecções mais leves do trato respiratório superior
(MURRAY, 2018; MADIGAN et al., 2016).
Em relação aos subtipos do vírus influenza A, eles podem ser reconhecidos por um
conjunto único de glicoproteínas de superfície, sendo estas, a hemaglutinina (HA ou antígeno
H) e a neuraminidase (NA ou antígeno N). Cada vírus possui um tipo de HA e um tipo de
NA em seu capsídeo. Sendo o antígeno HA, o responsável por ancorar o vírus influenza nas
células hospedeiras, enquanto o antígeno NA libera o vírus da célula hospedeira, sendo que
cada um deles é constituído por várias proteínas individuais (MADIGAN et al., 2016).
Além disso, os ácidos nucleicos de fita simples são mais sujeitos a sofrerem mutações
durante a replicação, de forma que os produtos destes genes, como as proteínas de superfície

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HA e NA, possam se alterar. Essas mutações acabam produzindo vírus desconhecidos, ou


seja, novos vírus na qual há pouca ou nenhuma imunidade (MURRAY, 2018).
Devido ao fato de que os vírus da influenza apresentam RNAs dispostos em segmentos
diferentes, caso a célula seja infectada por dois vírus da influenza distintos, pode haver uma
recombinação de seus materiais genéticos, ocasionando a formação de um terceiro vírus
diferente. Por este motivo, podem aparecer novos vírus responsáveis por causar epidemias.
Uma pandemia poderá ser causada, se o vírus for único e contagioso, e dependendo da carga
viral, poderá ocorrer um alto índice de mortalidade (MURRAY, 2018).
Apesar disso, a pandemia do vírus do H1N1, em 2009, mostrou que uma mutação
antigênica única pode não ser necessária para uma epidemia mundial. De acordo com dados
epidemiológicos, uma faixa etária <35 anos apresentava mais predisposição à infecção do que
pessoas na faixa etária de 65 anos. Sendo assim, isso mostra que a imunidade antecedente e
as modificações dos fatores dos hospedeiros podem influenciar no potencial patológico das
infecções por vírus da influenza A (GOERING et al., 2020).
A transmissão do vírus da influenza ocorre de uma pessoa a outra através do ar, por
gotículas expelidas pela tosse e pelo espirro. O vírus vai infectando as membranas mucosas
do trato respiratório superior até invadir os pulmões. Os sintomas, geralmente, duram até
uma semana, causando febre baixa, calafrios, fadiga, cefaleia e dor muscular generalizada,
tosse e/ou dores de garganta e mal-estar. Os casos mais graves, na maioria das vezes, ocorrem
por infeccões secundárias bacterianas em pessoas com uma resistência comprometida pela
infecção da gripe (MADIGAN et al., 2016).
As complicações mais comuns da influenza são: pneumonia bacteriana, sinusite,
otite, desidratação, agravamento de doenças crônicas como insuficiência cardíaca, asma ou
diabetes e pneumonia primária por influenza (BRASIL, 2018b).
O diagnóstico é feito através da coleta de amostras do trato respiratório, bem como
suabes da garganta, que são testados por PCR em tempo real, para o RNA viral da influenza.
A PCR e a análise sequencial também podem ser utilizadas para identificar a resistência
antiviral. Como alternativa, existem as técnicas de imunofluorescência e o isolamento do
vírus. A elevação no nível de anticorpos específicos é detectada por meio do teste de fixação
do complemento ou ELISA em amostras pareadas de soro, que devem ser coletadas alguns
dias após o início da doença e sete a dez dias mais tarde (GOERING et al., 2020).
A imunidade da influenza ocorre através de uma resposta imune mediada por
anticorpos e células. Essa imunidade é direcionada pelas glicoproteínas HA e NA. As
epidemias de gripe, geralmente, são controladas por imunização vacinal, onde todos
os anos, antes do início das epidemias sazonais, ocorre a vacinação anual, na qual vem
trazendo respostas positivas com uma imunização adequada, evitando o surgimento de
novas epidemias (MADIGAN et al., 2016).
O tratamento da influenza é feito através de fármacos antivirais, como por exemplo: os
adamantanos (amantadina e rimantadina), que são aminas sintéticas que atuam na inibição
da replicação viral; e o oseltamivir (Tamiflu) e o zanamivir (Relenza), que são inibidores de
neuraminidase, como também bloqueadores da liberação de vírions recém-produzidos. Estes
fármacos são utilizados, no início da infecção, como uma forma de prevenir agravamentos,
principalmente, em indivíduos imunossuprimidos ou idosos (MADIGAN et al., 2016).

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A VACINA

A imunidade, aos vírus influenza, é adquirida a partir da infecção natural ou pela


vacinação, sendo que esta garante imunidade apenas em relação aos vírus homólogos da
sua composição. Assim, um hospedeiro que tenha tido uma infecção com determinada cepa
terá pouca ou nenhuma imunidade contra uma nova infecção por uma cepa variante do
mesmo vírus. Isso explica, em parte, a grande capacidade deste vírus em causar frequentes
epidemias e a necessidade de atualização constante da composição da vacina com as cepas
circulantes. (BRASIL, 2018a)
A alta capacidade de adaptação e mutação do vírus da influenza estão relacionadas,
principalmente, à variação antigênica das duas glicoproteínas da superfície viral, que são as
proteínas presente no envelope do vírus: espícula HA (hemaglutinina) e NA (neuraminidase).
A variação antigênica ocorre por dois mecanismos. Um, o drift antigênico, variação menor,
que ocorre devido a mutações pontuais do genoma viral, causando erros na transcrição,
durante a replicação do vírus, com alterações moleculares. Essa alteração gera variantes
virais capazes de escapar da imunidade estimulada por infecção prévia ou vacinação (COSTA;
MERCHAN-HAMANN, 2016).
O segundo mecanismo de variação, o shift antigênico, ocorre apenas entre os vírus
Influenza do tipo A, por um reagrupamento entre vírus humano e vírus que infectam outras
espécies animais, originando uma nova cepa viral. A recombinação genética resulta em
alterações importantes na antigenicidade e patogenicidade. A variação antigênica viral torna
um indivíduo suscetível a novas cepas, apesar de infecção anterior pelo vírus da gripe ou por
vacinação (COSTA; MERCHAN-HAMANN, 2016).
Em relação à eficácia da vacinação, quando existe coincidência entre as variantes da
influenza em circulação na comunidade e aquelas contidas na vacina, a imunização previne
a infecção em até 90% dos indivíduos. Além dos benefícios médicos relacionados à vacina,
como a prevenção da doença e de seus agravos, a imunização contra influenza também tem
demonstrado benefícios econômicos, quando utilizada em trabalhadores sadios, na medida
em que evita a queda da produtividade e a ocorrência de absenteísmo relacionados aos
surtos anuais de influenza (FORLEO-NETO, 2003).
Em 2019, o Ministério da Saúde, por meio da Coordenação-Geral do Programa Nacional
de Imunizações (CGPNI), do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis, da
Secretaria de Vigilância em Saúde, lança a 21ª Campanha Nacional de Vacinação contra
a Influenza, no período de 10 de abril a 31 de maio de 2019, sendo 04 de maio, o dia de
mobilização nacional (BRASIL, 2019).
No Brasil, a Estratégia Nacional de Vacinação contra o vírus Influenza Pandêmico
A (H1N1), teve início em 2010, alcançando mais de 88% de cobertura. A partir de 2011, a
imunização contra esse subtipo passou a compor o calendário nacional de vacinação, sob a
forma de imunobiológico trivalente (associado a dois outros subtipos virais), e as pessoas,
com idade igual ou superior a 60 anos, são dos grupos-alvo. A OMS indica a vacinação
como estratégia preventiva primordial para redução de infecções, hospitalizações e óbitos
(BRASIL, 2010).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Influenza é um vírus antigo que já foi causa de pandemia em 2009, chegando até o
Brasil. Sendo assim, é pauta de preocupação para a cobertura vacinal, pois, são chances de
evitar novos surtos e agravos de outras doenças respiratórias. Suas codificações genéticas
são de suma importância para estudos futuros, sendo já encontrados três subtipos: A, B e C,
além de trazer informações para possíveis atualizações de antígenos.

REFERÊNCIAS

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J Med Sci, v. 50, p. 515-519, 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/
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2. BRASIL. Ministério da Saúde; Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional


de Imunizações. Estratégia Nacional de Vacinação Contra o Vírus Influenza Pandêmico A
(H1N1) 2009. Brasília; 2010. Disponível em: https://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/
pdf/informe_tecnico_vacina_18_03_internet.pdf. Acesso em: 13 jul. 2020.

3. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância Epidemiológica. Plano Brasileiro de Preparação para Enfrentamento de uma
Pandemia de Influenza. 1. ed. Brasília/DF, 2010. Disponível em: https://bvsms.saude.
gov.br/bvs/publicacoes/plano_brasileiro_pandemia_influenza_IV.pdf. Acesso em: 13 jul.
2020.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento


de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Plano de Contingência para Resposta às
Emergências de Saúde Pública: Influenza – Preparação para a Sazonalidade e Epidemias.
Brasília: Ministério da Saúde, 2018a. Disponível em: http://www.saude.gov.br/images/
pdf/2019/marco/20/Plano-de-Conting--ncia-para-Sazonalidade-e-Epidemias-de-
Influenza---Final-enviado-19.03.2019.pdf. Acesso em: 06 jul. 2020.

5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento


de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Protocolo de tratamento de Influenza: 2017
[recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2018b. Disponível em: https://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_tratamento_influenza_2017.pdf. Acesso em: 11
jul. 2020.

6. BRASIL. Informe Técnico: 21ª Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza.


Brasília: Coren, 2019. Disponível em: Informe Técnico 21ª Campanha Nacional de
Vacinação contra a Influenza Brasília, abril de 2019. Acesso em: 11 jul. 2020.

7. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral


de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume
único [recurso eletrônico]. 3 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em:

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https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/junho/25/guia-vigilancia-saude-
volume-unico-3ed.pdf. Acesso em: 06 jul. 2020.

8. COSTA, Lígia Maria Cantarino da; MERCHAN-HAMANN, Edgar. Pandemias de


influenza e a estrutura sanitária brasileira: breve histórico e caracterização dos cenários.
Rev Pan-Amaz Saude, v. 7, n. 1, p. 11-25, 2016. Disponível em: http://scielo.iec.gov.br/
pdf/rpas/v7n1/v7n1a02.pdf. Acesso em: 12 jul. 2020.

9. FORLEO-NETO, Eduardo et al. Influenza. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 36,
n. 2, p. 267-274, abr. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0037-86822003000200011&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 13 jul. 2020.

10. GOERING, Richard V. et al. Microbiologia Médica e Imunologia [recurso eletrônico].


6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020.

11. MADIGAN, Michael T. et al. Microbiologia de Brock [recurso eletrônico]. 14. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2016.

12. MURRAY, Patrick R. Microbiologia Médica Básica [recurso eletrônico]. 1. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2018.

13. WHO. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global influenza strategy 2019-2030.


Geneva: World Health Organization, 2019. Disponível em: https://apps.who.int/iris/
bitstream/handle/10665/311184/9789241515320-eng.pdf?sequence=18&isAllowed=y.
Acesso em: 06 jul. 2020.

157
13

A epidemiologia da AIDS e a infecção pelo HIV: uma revisão


integrativa1

The epidemiology of AIDS and HIV infection: an integrative review


Sthefanny Rayanna de Lima Maia(1); Lizandra Kelly Alves da Silva(2); Flávia Cristina Melo de Souza(3);
Evylee Hadassa Barbosa Silva(4); Alice de Moraes Marinho(5); Alba Maria Bomfim de França(6).

(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7332-8440, Graduanda em Enfermagem; Centro Universitário
Tiradentes; Maceió, Alagoas; Brazil. sthefanny.rayanna@hotmail.com.br;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9451-1244, Graduanda em Enfermagem; UNIT; Maceió, Alagoas;
Brazil. lizandraks@hotmail.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8753-8326, Graduanda em Enfermagem; UNIT; Maceió, Alagoas;
Brazil. flavia.cristina00@souunit.com.br;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6374-8815, Graduanda em Enfermagem; UNIT; Maceió, Alagoas;
Brazil. evylee.hadassa@souunit.com.br;
(5)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3016-863, Graduanda em Enfermagem; UNIT; Maceió, Alagoas;
Brazil. mmarinhoalice@outlook.com;
(6)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9474-7137, Enfermeira Obstétrica, Mestra em Enfermagem,
Doutoranda em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas e Docente do Centro Universitário Tiradentes e
da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas; Maceió, Alagoas; Brazil. albambf@hotmail.com.

ABSTRACT: Introduction: Acquired Immuno Deficiency Syndrome (AIDS) is the advanced clinical
manifestation of Human Immunodeficiency Virus (HIV) infection. Objective: To present and discuss the
factors that are involved with the high rate of HIV infections and the AIDS epidemiology. Methodology: An
integrative review study was carried out, with articles published in Portuguese and Spanish, in the MEDLINE
and LILACS databases, available in full, addressing the theme “The HIV / AIDS epidemic”, the descriptors
for selecting the articles were, “HIV”, “Acquired Immunodeficiency Syndrome”, “Etiology” and “Indexes”,
in the period of July 2020, selecting 10 articles according to the inclusion and exclusion criteria. Results
and Discussion: Data related to the detection of AIDS cases do not allow us to accurately understand the
dynamics of the HIV infection epidemic, noting that, in specific groups, there is little epidemiological data
showing the profile and trend of the epidemic. The authors agreed that when it comes to contracting HIV
and transmitting it, vulnerable people have higher risk behaviors, so an increase in the rate of infection was
observed among people with mental disorders compared to the general population. Still about this, other
authors agree that, when it comes to contracting HIV and transmitting it, the indexes point to significant
data of ignorance regarding the transmission, prevention and treatment of AIDS in the young population. In
addition, research indicates that this population is unaware of the possibility of spreading the disease through
oral sex, vertical transmission and breast milk, in addition to the likelihood that a healthy-looking person may
be infected with HIV. Still, it became evident that prejudice, discrimination, social exclusion and homophobia
have contributed to making Men who have Sex with Men (MSM), transgender and transvestites one of the
groups most prone to HIV / AIDS contamination. Conclusion: It was found from the scientific publications
found that the factors involved with the high rate of the HIV epidemic are: people with more than one partner,
non-use of condoms, inadequate knowledge about the virus and ways of transmission , the early onset of sexual
activity and transfusion of contaminated blood. In addition, treatment with antiretroviral drugs (ARV) has
been highly effective and one of the greatest allies in controlling the progress and chronicity of the disease.

KEYWORDS: Acquired Immunodeficiency Syndrome, Epidemiology, Indexes.

1
DOI: 10.48016/ GT4L1cap13
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INTRODUÇÃO

A epidemia do Human immunodeficiency virus (HIV) e a Acquired Immuno Deficiency


Syndrome (AIDS) surgiram no início dos anos 1980, de forma grave e mortal, envolvendo
diversos aspectos das relações humanas. A disseminação global da infecção pelo HIV e o
envolvimento da sociedade civil gerou a oportunidade de expandir a discussão sobre temas
complexos como por exemplo, sexualidade, morte, uso de drogas ilícitas, e confidencialidade
(GRECO, 2008).
Os primeiros relatos da AIDS foram publicados em 1981, nos Estados Unidos, ao
serem notificados aos Centers For Disease Control and Prevention (CDC) vários casos de
pacientes homossexuais masculinos, previamente saudáveis, que apresentaram doença de
baixa imunidade (Pneumonia por Pneumocystis jirovecii e de Sarcoma de Kaposi). Em
contrapartida, o vírus do HIV, agente etiológico da síndrome, foi identificado em 1983,
pertencente a subfamília lentivírus dos retrovírus humanos (RACHID; SCHECHTER, 2017).

De acordo com estudos realizados através da 10º edição do Manual de


HIV/AIDs, é um vírus RNA que se caracteriza pela presença da enzima
transcriptase reversa, que permite a transcrição do RNA viral em DNA,
que pode, então, se integrar ao genoma da célula do hospedeiro, passando
a ser chamado provírus. O DNA viral é copiado em RNA mensageiro, que
é transcrito em proteínas virais. Ocorrendo então a montagem do vírus e,
posteriormente, a gemulação. As principais células infectadas são aquelas
que apresentam a molécula CD4 em sua superfície, predominante linfócitos
CD4+ (linfócitos T4 ou T-helper) e macrófogos. A molécula CD4 age como
receptor do vírus mediando a invasão celular. Em 1996, foram identificados
outras moléculas (receptor de quimiocinas, entre elas CCR5, CXCR4, CCR2),
presentes na superfície de células, que também são essenciais para que a
infecção ocorra. (RACHID; SCHECHTER, 2017, p.14).

Segundo as estatísticas do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS


(UNAIDS), o número de pessoas infectadas pelo HIV, passou dos 40 milhões em todo o
mundo. O último levantamento feito revelou também que o número de mortes, relacionadas
com a doença, é o maior de todos os tempos. De acordo com os dados, no último ano, 3,1
milhões de pessoas morreram em consequência da infecção pelo vírus. O epicentro do
problema no mundo é o sul da África, que concentra quase 30 milhões do total de infectados
(UNAIDS, 2019).
O Brasil, de modo inusitado, em comparação a outros programas de controle de
doenças, tem enfrentado, corajosamente, a epidemia, com a distribuição de preservativos
e medicamentos antirretrovirais e com a implantação da rede pública de laboratórios para
diagnóstico e acompanhamento de pacientes, como também suporte para pesquisas. Essas
medidas, se não são suficientes para interromper a disseminação da epidemia, têm sido
capazes de aumentar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida dos doentes (BRASIL, 2018).
Ainda acerca disso, o Brasil deu um passo à frente na política de prevenção do HIV,
com a adoção da chamada PrEP (Profilaxia pré-Exposição), visto que, desde dezembro
de 2017, está presente em 36 centros de tratamento de 11 estados brasileiros. É indicada
pela Organização Mundial de Saúde, desde 2012, a populações mais expostas à infecção,
como homens que fazem sexo com homens, população trans e profissionais do sexo. A PrEP

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baseia-se no uso de medicamento antirretroviral por pessoas não infectadas que compõem
os segmentos mencionados (SILVA; CUETO, 2018).

O HIV pode ser transmitido durante as relações sexuais, por meio da inoculação
de sangue e derivados, e da mãe infectada para o concepto. O risco de transmissão
sexual aumenta com a prática do intercurso anal, na presença de úlceras genitais e
quando o estado de imunodeficiência do transmissor é mais avançado. A presença
de doenças sexualmente transmissíveis, a ausência de circuncisão e relações sexuais
durante o período menstrual também aumentam o risco de transmissão (RACHID;
SCHECHTER, 2017, p.16).

Vale ressaltar que, uma pessoa, após ter sido infectada pelo vírus HIV, pode
permanecer muitos anos sem desenvolver nenhum sintoma. Nesse caso, dizemos que a
pessoa está vivendo com HIV. A AIDS é o estágio mais avançado da infecção pelo HIV e
surge quando a pessoa apresenta infecções oportunistas (que se aproveitam da fraqueza
do organismo, como tuberculose e pneumonia), devido à baixa imunidade ocasionada pelo
vírus (BRASIL, 2018.).
Quando falamos do aumento da incidência do HIV/AIDS, destaca-se a população
idosa, com dados significativos que vem emergindo como desafio para o Brasil no
sentido do estabelecimento de políticas públicas e estratégias que garantam o alcance
das medidas preventivas e a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas (SANTOS,
2011). Pesquisas apontam que os idosos mantêm a vida sexual ativa e estão expostos às
infecções sexualmente transmissíveis (IST), em especial, ao vírus da imunodeficiência
humana - HIV (ALENCAR, 2016).
As pesquisam apontam que os profissionais de saúde, principalmente, os médicos
e enfermeiros que atendem a população idosa, não estão preparados para identificar a
vulnerabilidade dessas pessoas em relação ao HIV/AIDS e não têm solicitado exames
sorológicos, o que pode estar relacionado à falta de investigação sobre a atividade sexual dos
idosos, remetendo, consequentemente, ao diagnóstico tardio do HIV/aids nessa população
(ALENCAR, 2016).
Ainda acerca disso, muitos idosos procuram os serviços de saúde, apresentando
sinais e sintomas sugestivos de infecções oportunistas que ocorrem na AIDS e os mesmos
são negligenciados pelos profissionais de saúde, que acabam por atribuir a sintomatologia
a outras morbidades mais prevalentes na população idosa (ALENCAR, 2016). Por isso
que o aconselhamento e o reconhecimento da vulnerabilidade são etapas fundamentais
na interação e na relação de confiança que se estabelece entre o profissional e o paciente
(SANTOS, 2011).
Conforme as recomendações do Ministério da Saúde sobre o diagnóstico laboratorial,
inicia-se, com triagem sorológica, realizando um imunoensaio, chamado teste de Elisa,
através de amostras de soro ou plasma, os resultados não-reagentes são denominados como
“amostra negativa para HIV”, concluindo o diagnóstico, e não havendo necessidade de realizar
um teste adicional, os resultados reagentes ou inconclusivo devem ser submetidos a uma
segunda confirmação sorológica (constituição antigênica diferente) e testes confirmatórios
(imunofluorescência indireta, imunoblot ou western blot (BRASIL, 2008).
Após um resultado positivo, mediante a confirmação sorológica, deve ser solicitado
uma nova amostra do paciente, no intuito de conferir seu estado sorológico, sendo necessário

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realizar a coleta, preferencialmente, 30 dias após a comprovação dos resultados da primeira


amostra, ao haver resultados discordantes entre os métodos, é de extrema importância a
realização do Western blot (BRASIL, 2008).

REFERENCIAL TEÓRICO

O Brasil se consolidou, como referência internacional em políticas públicas de


enfrentamento à epidemia de HIV/AIDS, ao longo dos anos 1990 e 2000. Segundo Cueto,
o Brasil foi um modelo importante pela parceria entre diferentes atores, a luta contra a
homofobia, a articulação entre prevenção e tratamento, a promoção de medicamentos
genéricos e a redução de preços dos medicamentos de marca (ALBUQUERQUE, 2019).
No início, a epidemia se concentrava, principalmente, em indivíduos homossexuais
e bissexuais masculinos. Progressivamente, homens heterossexuais, mulheres, crianças
e idosos de todas as classes sociais foram atingidos (RACHID; SCHECHTER, 2017).
Atualmente, de acordo com os estudos realizados através UNAIDS, o risco de infecção por
HIV é de 22 vezes maior entre homens que fazem sexo com homens, 22 vezes maior entre
pessoas que usam drogas injetáveis, 21 vezes maior para trabalhadoras do sexo e 12 vezes
maior para pessoas transexuais (UNAIDS, 2019).
Além disso, a pesquisa aponta que, até o fim de 2018, 37,9 milhões de pessoas, em todo
o mundo, estão vivendo com HIV e estima-se que 24,5 milhões dessas pessoas possuíam
acesso à terapia antirretroviral até o final de junho de 2019. Vale destacar que, segundo os
dados da UNAIDS, as mortes relacionadas à AIDS foram reduzidas em mais de 55% desde
o pico em 2004. Em 2018, cerca de 770.000 pessoas morreram de doenças relacionadas
à AIDS em todo o mundo. A mortalidade relacionada à AIDS diminuiu 33% desde 2010
(UNAIDS, 2019).
De acordo com estudos realizados através do Boletim Epidemiológico feito pelo
Ministério da Saúde, do ano de 1980 até junho de 2017, foi observado que, no Brasil, existem
882.810 casos de AIDS, distribuídos em 65,3% dos homens e 34,7% das mulheres. O país
tem registrado, anualmente, uma média de 40 mil novos casos de AIDS nos últimos cinco
anos. Desde o início da epidemia até 2016, foram notificados, no Brasil, 316.088 óbitos,
tendo a HIV/AIDS como causa básica (BRASIL, 2017).
Se no início da epidemia, a descoberta de uma sorologia positiva para o HIV era
sinônimo de sentença de morte, o surgimento dos antirretrovirais possibilitou que as pessoas,
vivendo com HIV/AIDS, tivessem uma melhor qualidade de vida e maior expectativa de vida.
A intransmissibilidade do vírus por pessoas, vivendo com HIV em tratamento e com carga
viral indetectável, também compõe esse novo cenário provocado pelas novas tecnologias de
saúde, retratado nas atuais produções culturais. Portanto, se antes a arte falava sobre um
morrer de AIDS, hoje é o viver com HIV que se faz presente (FONSECA, 2019).
Mesmo a doença tendo passado por modificações significativas em sua “configuração”
na curta trajetória histórica – de sentença de morte à doença crônica –, ainda permanece
responsável por alto índice de óbitos em nível global, por razões como políticas públicas
insuficientes, fatores culturais, instabilidade política e pobreza em áreas nas quais a

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infecção grassa em grandes proporções (ABIA, 2018). A sustentabilidade dos programas


de prevenção e a retomada das alianças, com a sociedade civil, são pontos que merecem
atenção em momento de defesa do contingenciamento de recursos e de alinhamento com
pautas conservadoras (SILVA; CUETO, 2018). Pelo exposto, questiona-se: Quais fatores
estão envolvidos com o alto índice da epidemia do HIV/AIDS? Nesse contexto, o presente
estudo tem como objetivo apresentar e discutir os fatores que estão envolvidos com o alto
índice de infecções pelo HIV e epidemia da AIDS.

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Concretizou-se um estudo do tipo revisão integrativa, seguindo seis etapas, sendo


elas, identificação do tema e questão de pesquisa, busca na literatura, categorização dos
estudos, avaliação dos estudos, interpretação dos resultados e apresentação da revisão.
As bases de dados utilizadas, neste estudo, foram MEDLINE, LILACS, através de uma
busca na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Para a realização da pesquisa, foram utilizados
os seguintes descritores: HIV, Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, Etiologia e
Índices; E como estratégia de busca: HIV AND Etiologia, HIV AND indices e Síndrome de
Imunodeficiência Adquirida AND Etiologia.
Para seleção dos estudos, foi estabelecido como critérios de inclusão artigos publicados
na língua portuguesa e espanhol, visto que encontramos uma limitação de artigos na língua
inglesa, indexados nas bases de dados MEDLINE e LILACS e que abordem o tema “A
epidemiologia da AIDS e a infecção pelo HIV”, como também critério de exclusão livros e
artigos de revisão narrativas. A coleta de dados foi realizada no período de julho de 2020,
extraindo dos artigos a identificação (título do artigo, título da revista, autores, país, idioma,
ano de publicação), características metodológicas (tipo de pesquisa e objetivo), resultados
principais e conclusões. A seleção dos artigos encontra-se disposta na tabela 1.

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Tabela 1: Fluxo de seleção dos artigos.

APÓS A APÓS A APÓS A


TOTAL DE
BASE DE LEITURA LEITURA LEITURA DO
ESTRATÉGIA ARTIGOS TOTAL
DADOS DO DO ARTIGO NA
ENCONTRADOS
TÍTULO RESUMO ÍNTEGRA

MEDLINE 111 15 7 3 3
HIV AND Etio-
logia
LILACS 51 5 4 3 3

MEDLINE 7 2 2 1 1
HIV AND Indices
LILACS 33 8 7 4 4

Síndrome de MEDLINE 20 8 3 1 1
Imunodeficiência
Adquirida AND
Etiologia LILACS 11 3 2 0 0

Síndrome de MEDLINE 1 0 0 0 0
Imunodeficiência
Adquirida AND
Índices LILACS 18 10 6 1 1

TOTAL DE ARTIGOS REPETIDOS 3

TOTAL DE ARTIGOS INSERIDOS NA REVISÃO INTEGRATIVA (SEM REPETIÇÕES) 10

Fonte: elaborado pelos autores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A busca resultou em 10 (dez) artigos, distribuídos nas áreas de Medicina, Enfermagem


e Psicologia, acesso via base de dados online. Houve maior frequência de artigos, destacando-
se na base de dados da MEDLINE 1 (um) artigo, 6 (seis) na da LILACS e 3 (três) em ambas,
onde 7 (sete) foram feitos em português e 3 (três) em espanhol, sendo 4 (quatro) publicados
em 2013, 1 (um) em 2014, 2 (dois) em 2015, 2 (dois) em 2016 e 1 (um) em 2017, logo 7 (sete)
desenvolvidos no Brasil, 1 (um) na Espanha, 1 (um) no Chile e 1 (um) no México, quanto ao
tipo de pesquisa, evidenciou-se 2 (dois) estudos caso controle, 3 (três) estudos descritivos,
2 (duas) revisões sistemáticas, 1 (um) estudo quantitativo, 1 (uma) meta-análise e 1 (uma)
revisão integrativa.
Foi realizado uma síntese da revisão integrativa, onde as informações mais relevantes
dos artigos selecionados foram organizadas no quadro sinóptico 2.

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Quadro 2: Síntese dos estudos primários relacionados ao tema.


AUTOR(ES) OBJETIVO METODOLOGIA RESULTADOS PRINCIPAIS

Luciana Ferreira Car- Identificar os fatores rela- O tratamento com medicação ARV tem sido o
cionados à perda auditi-
doso Assuiti; Gabriela mais importante fator para controlar a evolução
va em pessoas com HIV/ Revisão Integrativa
Marcellino de Melo da AIDS, sua cronicidade e garantir a sobrevida
AIDS na literatura cientí-
Lanzoni; 2013 fica mundial. das pessoas infectadas

A prevalência do HIV (vírus da imunodeficiência


Verificar a prevalência da humana) entre pacientes psiquiátricos varia de 0
infecção pelo HIV em pa- a 23,8% em países desenvolvidos e de 0 a 29% em
Matheus Viana Braz;
cientes psiquiátricos que Estudo caso controle países em desenvolvimento. A variabilidade dos
Nelson Silva Filho, 2015
fazem uso de um serviço índices de prevalência é discrepante, sugerindo au-
público de saúde. mento da taxa de infecção entre pessoas com trans-
tornos mentais em relação à população geral.

O objetivo do estudo foi O número de parceiros sexuais ou uso inconsis-


determinar os principais tente de preservativo, entre outros, são fatores
María Ángeles Pérez- fatores de risco associados associados. Pesquisas recentes sobre fatores de
Morente; César Hueso ao comportamento sexual Estudo descritivo risco no desenvolvimento de DSTs mostram ado-
Montoro, 2017 em uma população de in- lescentes, homossexuais e grupos vulneráveis,
divíduos tratados em um como imigrantes ou profissionais do sexo, como
centro de controle de IST. grupos-alvo.
Em vários estudos, o herpes zoster (HZ) aparece
Estude as manifestações
Cristián Navarrete; como uma das principais e primeiras manifesta-
cutâneas da infecção pelo Revisão sistemática
Marcela Concha, 2015 ções em pacientes soropositivos para o HIV, atin-
HIV/AIDS.
gindo 28%.

A terapia antirretroviral altamente eficaz (ARV)


Revisar os casos de mor-
melhorou a sobrevida de pacientes com vírus da
José Luis Sandoval-Gu- talidade por hipertensão
imunodeficiência humana (HIV). As doenças car-
tiérrez; Francisco Javier pulmonar associada ao Revisão sistemática
diovasculares surgiram neste grupo devido aos
Flores-Murrieta, 2015 HIV e terapia e evite esses
anos de vida adquiridos com esta modalidade de
casos.
tratamento.
Aluisio Cotrim Segura- Discussão da incidência Os dados relativos à detecção de casos de AIDS
do; Alex Jones Casse- de doenças infecciosas e não nos permitem entender com precisão a di-
Meta-análise
note; Expedito de Albu- na mortalidade a elas re- nâmica da epidemia da infecção por HIV no mo-
querque Luna, 2016 lacionadas. mento da análise.
Avaliar o conhecimento
de adolescentes, estudan-
Richardson Augusto O estudo apontou índices significativos de desco-
tes de uma escola pública
Rosendo da Silva; nhecimento em relação à transmissão, prevenção
na cidade de Natal/RN,
Danyella Augusto Ro- Estudo descritivo e tratamento da AIDS e elucidou alguns compor-
sobre transmissão, pre-
sendo da Silva Costa, tamentos de risco que tornam a população jovem
venção e comportamen-
2016 vulnerável às DST/AIDS.
tos de risco em relação às
DST/HIV/AIDS.
O estudo buscou conhe-
A utilização do quadro conceitual da vulnerabi-
Patricia Juliana de Sou- cer as vulnerabilidades ao
lidade no campo da saúde é recente e vislumbra
sa; Janilson Barros de HIV/AIDS das travestis Estudo descritivo
superar práticas preventivas apoiadas no concei-
Sá, 2013 da Região Metropolitana
to de risco.
do Recife.
Investigar a associa-
ção entre indicativos de
Luiza Azem Camargo;
transtornos mentais, A adesão dos pacientes ao tratamento antirretro-
Cláudio Garcia Capitão;
percepção de suporte fa- Estudo Quantitativo viral tem sido um dos maiores desafios no con-
Elvira Maria Ventura
miliar e adesão à TARV texto HIV/AIDS.
Filipe, 2014
em pacientes com HIV e
AIDS.
Avaliar a implementação No período inicial – em especial na primeira
da investigação dos ca- década da epidemia -, grande número de indiví-
Walkiria Gentil Almeida sos de AIDS associados a duos, receptores habituais de transfusões, como
Estudo caso controle
Andréev, 2010 transfusão sanguínea em as pessoas que viviam com hemofilia, foram in-
3 unidades federadas do fectados pelo vírus da imunodeficiência humana
Brasil. (HIV) e desenvolveram a AIDS..
Fonte: elaborado pelos autores.

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Os autores citados afirmaram que, de acordo com os dados relativos à detecção de


casos de AIDS, não foi possível compreender, com precisão, a dinâmica da epidemia da
infecção por HIV (SEGURADO; CASSENOTE; LUNA, 2016). Além disso, foi observado
que, em grupos específicos, são poucos os dados epidemiológicos que mostram o perfil
e a tendência da epidemia, tendo em vista que pessoas que vivem com HIV (PVH) não
submetidas a tratamento antirretroviral, o aparecimento dos sintomas da AIDS ocorre,
em média, até 7 a 10 anos após a aquisição da infecção (SOUSA; FERREIRA; SÁ, 2013).
Sousa, Ferreira e Sá (2013) concordaram que, quando se trata de contrair HIV e
transmiti-la, pessoas vulneráveis têm maior comportamentos de risco. Ainda, acerca disso,
mais adiante, Camargo, Capitão e Filipe (2014) afirmaram, também, que o preconceito,
discriminação, a exclusão social e a homofobia têm contribuído para que Homens que
fazem Sexos com Homens (HSH), transgêneros e travestis sejam um dos mais frágeis ao
HIV/AIDS. É importante enfatizar que está sendo falado fatores que levam pessoas a se
tornarem vulneráveis, e não de determinados grupos, como destacaram os autores citados.
(SEGURADO; CASSENOTE; LUNA, 2016).
Os autores Braz e Filho (2015) destacaram um aumento na taxa de infecção entre
pessoas com transtornos mentais em relação à população geral. Nesse mesmo contexto,
Camargo, Capitão e Felipe (2014) já haviam evidenciado a existência de uma maior
prevalência desses transtornos na população infectada. Algumas síndromes psiquiátricas
clássicas, como os transtornos de humor, de adaptação ou ajustamento, transtornos bipolares
(podendo ter hiperssexualidade, impulsividade e outros sintomas maníacos), esquizofrenia,
insônia e a depressão, sendo a principal e transtornos psicóticos, em menor número, são
frequentemente associadas ao HIV.
O número de pessoas com mais de um parceiro e o não-uso de preservativos, demonstra
um risco significativo de infecção por HIV. O conhecimento inadequado sobre o vírus e as
formas de transmissão, condições sociais, econômicas e de saúde desfavoráveis, ressaltando
que muitas pessoas usam a prostituição como um meio para obter dinheiro, ou fazem uso
de drogas para fugir de suas reais condições sociais, são fatores de risco para a infecção por
HIV (PÉREZ-MORENTE et al., 2017; BRAZ; FILHO, 2015).
Como afirmam Silva e Costa (2016), os adolescentes costumam ser mais vulneráveis
a comportamentos de risco para aquisição de HIV. O início precoce da atividade sexual,
a variedade de parceiros, o uso irregular de preservativo, o consumo de bebida alcoólica
e drogas ilícitas têm sido considerados preceptores para as DST. Destacou-se que eles
desconhecem a possibilidade do contágio da AIDS por meio do sexo oral, transmissão
vertical e do leite materno, além da probabilidade de que uma pessoa de aparência saudável
pode estar contaminada com o HIV (SILVA; COSTA, 2016).
Outros autores destacaram pontos importantes, como um grande número de
indivíduos, receptores habituais de transfusões sanguíneas, infectados pelo HIV e
desenvolveram a AIDS. Pacientes com infecção pelo HIV podem apresentar uma série de
manifestações dermatológicas com diversas etiologias, o herpes zoster (HZ) aparece como
uma das principais e primeiras manifestações em pacientes soropositivos. A taxa de detecção
de AIDS, em menores de cinco anos, pode ser empregada como marcador da transmissão

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materno-infantil da infecção pelo HIV (ANDRÉEV, 2010; NAVARRETE-DECHENT et al.,


2015; SEGURADO; CASSENOTE; LUNA, 2016).
O tratamento com medicamentos antirretrovirais (ARV) tem sido de alta eficácia e
um dos maiores aliados no controle do avanço e na cronicidade da doença, melhorando a
sobrevivência de pacientes com HIV, sendo obrigatória a distribuição gratuita da Terapia
Antirretroviral (TARV). A colaboração dos pacientes TARV é um dos maiores desafios,
tomar, corretamente, os medicamentos antirretrovirais e seguir as doses corretas pelo tempo
preestabelecido são uma boa adesão ao tratamento, visando fortalecer a autonomia para o
autocuidado, tendo o suporte familiar como um fator importante (ASSUITI et al., 2013;
CAMARGO; CAPITÃO; FILIPE, 2014; SANDOVAL-GUTIÉRREZ et al., 2015).

CONCLUSÃO

Dado o exposto, remeta-se que o desenvolvimento do presente estudo possibilitou


compreender a epidemiologia e o aumento do número de casos do HIV/AIDS, permitindo
um aprofundamento através de artigos, para obtenção de dados mais consistentes sobre
quais aspectos contribuem para o aumento e/ou diminuição. Oportunizando, assim, atender
ao objetivo supracitado, visto que, foram apresentados e discutidos os fatores que estão
envolvidos com o alto índice da epidemiologia do HIV/AIDS.
Logo, conclui-se que pessoas vulneráveis, com transtornos mentais, com mais de
um parceiro, o não-uso de preservativos, o conhecimento inadequado sobre o vírus e as
formas de transmissão, condições sociais, econômicas e de saúde desfavoráveis, consumo de
bebida alcoólica e drogas ilícitas, início precoce da atividade sexual e transfusão de sangue
contaminado são fatores de risco para a infecção por HIV.
Dada à importância do assunto, torna-se necessário despertar o interesse em mais
pesquisas que abordem os fatores que interferem na infecção por HIV para que sejam sanadas
as lacunas existentes em relação à pesquisa, tais como, artigos que discutam estratégias para
o controle da infecção e, consequentemente, epidemia; De maneira que, com a disseminação
do conhecimento, haja diminuição do preconceito que os portadores de HIV/AIDS sofrem,
sendo fundamental a educação em saúde, através de profissionais da saúde em escolas e/ou
locais em que os fatores de risco tem maior incidência.

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