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Telecomunicações II Engenharia informática Ispoca 2020/2021

Capítulo 1: Introdução às redes de telecomunicações


1.1. Telecomunicações (Definição)
O prefixo tele é derivado do grego e significa “à distância”. Poder-se-á, assim, dizer que
as telecomunicações compreendem o conjunto de meios técnicos necessários
para transportar tão fielmente quanto possível a informação à distância. Pode-se
acrestar:
 Os principais meios técnicos são de natureza electromagnética;
 A informação a transmitir pode tomar diversas formas, nomeadamente, voz, música,
imagens fixas, vídeo, texto, dados, etc.;
 É necessário garantir um elevado grau de fidelidade de modo que a informação seja
transmitida sem perdas nem alterações;
 A fiabilidade é outra exigência primordial de modo que o serviço seja permanente e
sem falhas;
 A transmissão (ou transporte) da informação à distância é um ramo importante das
telecomunicações;
 Outro ramo importante é a comutação, que tem como objectivo o encaminhamento
da informação;
 A gestão e controlo das redes de telecomunicações é uma tarefa de grande
importância e claramente individualizada dos ramos anteriores. A sinalização
constitui o conjunto dos meios pelos quais a gestão da rede actua sobre esta.

1.2. Evolução das telecomunicações


A rede de telecomunicações que nos dias de hoje cobre o globo terrestre é sem dúvida a
mais complexa, extensiva e cara de todas as criações tecnológicas, e porventura a mais
útil de todas, na medida em que constitui o sistema nervoso essencial para o
desenvolvimento social e económico da civilização.
As telecomunicações são uma ciência exacta cujo desenvolvimento dependeu
fortemente das descobertas científicas e dos avanços na matemática ocorridos desde os
primórdios até, principalmente, o século XIX. Dstacam-se:

A invenção do telégrafo por Morse em 1844, nos Estados Unidos, um sistema de


transmissão digital (pulsos de corrente: um estreito, ponto, e outro mais longo, traço). De
notar que o telégrafo foi patenteado no Reino Unido por Cooke e Wheatstone, em 1837,
mas não era prático a sua implementação.

A primeira transmissão electrónica de voz (invenção do telefone) por Alexander Graham


Bell em 1876: “Mr. Watson, come here, I want to see you”.

A primeira central telefónica de comutação automática, por Strowger em 1891, para


resolver o problema da privacidade nas ligações telefónicas com o aumento das linhas e
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a impraticabilidade das centrais manuais: um braço se movia passo-a-passo num arco


semicircular com dez contactos para ligar uma linha através dos pulsos de corrente
enviados pelo assinante. Funcionaram até os anos 70.

A demonstração por Marconi em 1894 da telegrafia/telefonia sem fios (através de ondas


rádio) complementada com a invenção em 1907 por De Forest da válvula termoiónica,
tornou-se possível a geração e modulação de portadoras eléctricas e a radiotelefonia
começou a dar os primeiros passos: 1914 serviço transatlântico de telegrafia sem fios;
1926 ligação telefónica entre os Estados Unidos e a Inglaterra.

Outra contribuição é a invenção do PCM (Pulse Code Modulation) por Alec Reeves em
França em 1936. Como, porém, a transmissão de um sinal de voz digitalizado requeria
uma largura de banda mínima de 32 kHz, muito superior aos 3 kHz requeridos pelo
correspondente sinal analógico, a implementação dos primeiros sistemas experimentais
teve de esperar até que nos anos sessenta a tecnologia do estado sólido a permitisse
concretizar.

1.3. Normalização em Telecomunicações


Devido ao carácter internacional das telecomunicações é fundamental a normalização,
sobretudo, em certos aspectos mais relevantes tais como:

Plano internacional
 Aspectos técnicos: Qualidade de serviço, Tipos de interfaces (transmissão de sinais,
sinalização, etc.);
 Planificação geral da rede: Estrutura da rede, plano de transmissão, distribuição dos
números telefónicos, etc.)
 Exploração e gestão: Definição de preços das chamadas, análise do tráfego, etc.;

Plano nacional
 Garantir a compatibilidade dos sistemas provenientes de fabricantes diferentes;
 Assegurar a mesma qualidade de serviço mínima a todos os utilizadores;
 Respeitar as convenções internacionais.

O principal organismo de normalização na área das telecomunicações é a International


Telecommunication Union (ITU). Este organismo é uma agência da ONU e actua
fundamentalmente através dos seguintes orgãos:
 ITU-T (ITU Telecommunication Sector, antigo: “Comité Consultatif International
Télégraphique et Téléphonique”: CCITT”): Questões de operação de sistemas e
tarifas das comunicações telefónicas e de dados);

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 ITU-R (ITU Radiocommunications Sector, antigo “Comité Consultatif International des


Radiocommunications”: CCIR): Questões da radiocomunicações (gestão de
frequências)

Tanto a ITU-T como a ITU-R são compostos de delegados dos governos, operadores de
telecomunicações e organizações industriais cujos trabalhos (recomendações) são
ratificadas por assembleias plenárias realizadas de quatro em quatro anos e publicados
em volumes para cumprimento dos membros.

Além da ITU, existem um conjunto de outros organismos também com actividade na


área das telecomunicações: ISO (International Standards Organization: organização
para a padronização, por exemplo o modelo OSI); ANSI (American National Standards
Institute: organização para a padronização americana, por exemplo o ASCII: American
Standard Code for Information Interchange); ETSI (European Telecommunication
Standards Institute: Organização para a padronização europeia, por exemplo GSM:
Global Systems for Mobile Communications); IEEE (Institute of Electrical and Electronic
Engineers, uma ordem engenheiros, por exemplo a Ethernet IEEE 802.3); Consórcios de
fabricantes e operadores (Fórum DSL, Fórum ATM)

1.4. Conceitos fundamentais e topologias


Numa rede de telecomunicações podem-se identificar dois tipos básicos de
equipamentos: vias ou canais de transmissão e nós (dispositivos de rede).

As vias de transmissão asseguram a transmissão da informação entre os nós e podem


ser simples pares simétricos de condutores de cobre (linha telefónica), cabo coaxial
(televisão), radio (sistema celular), via satélite ou fibras ópticas.

Os nós englobam nomeadamente o equipamento de comutação para encaminhamento


da informação (centrais telefónicas, routers), o equipamento terminal para processar a
informação da rede para o utilizador (do telefone, Computador pessoal ao PPCA: Posto
Particular de Comutação Automática), os servidores para armazenarem informação
(servidores de Internet, de TV) e os sistemas de sinalização e de gestão para interacção,
detecção de falhas, configuração da rede, autorização de acesso, etc.

Uma rede de telecomunicações pode ser representada por um grafo, isto é, um conjunto
de pontos ou vertices (V) interligados por um conjunto de linhas (E): G=(V,E) (Figura 1).
A estratégia de interligação entre os nós designa-se por topologia física da rede e a
forma como a informação circula na rede constitui a topologia lógica (Figuras 2 e 3, o nó
1 funciona como distribuidor na topologia lógica).

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Figura 1: Exemplo de um grafo Figura 2: Ex. de rede e seu Figura 3: comparação


grafo equivalente entre topologias

Nas de redes de telecomunicações encontra-se uma grande variedade de topologias e a


sua escolha adequada é uma etapa importante no processo de planeamento da rede.
Destacam-se as topologias:
 Barramento (Bus): A mais simples, a via de transmissão é partilhada por todos os
elementos de rede com base num protocolo de comunicação CSMA/CD (Carrier
Sense Multiple Access with Collision Detection) que evita as colisões entre os sinais
enviados simultaneamente pelos diferentes nós, muito usada nas redes Ethernet;
 Anel: cada nó só está interligado aos nós vizinhos que envia a informação até o
destino de forma uni ou bidireccional (num sentido ou nos dois sentidos). Foi usada
nas redes token ring e FDDI (Fiber Distribuited Data Interface, mas agora em SDH
(Sinchronous Digital Hierarchy) ou redes RPR (Resilient Packet Ring), por ser
ecómica, fiável;
 Malha: Conexão total directa entre todos os pares de nós. Não é prático, por razões
económicas, pois exige muitas linhas de transmissão. Por exemplo, para N=10 4 nós
(número típico de uma rede telefónica) são necessários N(N-1)/2=50 milhões de
linhas telefónicas (pode ser viável para N<10, menos de 100 linhas). É usada para
interligar os nós principais das redes de telecomunicações;
 Estrela: Processo é centralizado através de um nó que controla as comunicações
entre todos os outros. É a solução usada para interligar um elevado número de nós
nas redes telefónicas (rede de acesso);
 Árvore: O sinal é distribuido a todos os nós, a partir do nó que o gerou. Solução
associada a serviços distributivos de televisão por cabo. Com a introdução de um
canal ascendente (garantindo a bidireccionalidade) é usada na telefonia e acesso à
Internet. O meio de transmissão também é partilhado por todos os utilizadores,
empregando algoritmos para evitar colisões.

Figura 4: Topologias de redes

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1.5. Tipos de redes de serviço


1.5.1. Rede telefónica pública
A rede telefônica evoluiu a aprtir da rede telefónica básica para uma oferta variada de
serviços, tornando-se numa rede complexa e alta capilaridade. Ela é composta por redes
de longa distância (centrais internacionais e interurbanas), redes locais (centrais
urbanas) e o enlace do assinante (terminais e linhas de assinantes).

Os elementos essenciais de uma rede telefónica são o equipamento terminal (telefone),


o equipamento de transmissão (repetidores, cabos de pares simétricos, cabo coaxial,
fibra óptica, ondas hertzianas, etc.), o equipamento de comutação (comutação por
circuitos: recursos ocupados durante a conexão, mais usada; ou por pacotes: recursos
ocupados por uma fracção de tempo, mais em computadores).

a) Estrutura
A rede telefónica é uma rede com conexão total (Figura 9). Para n telefones são
necessários n-1 linhas, sendo o número total de ligações descrito pela equação:
1
N= n(n−1)
2
Quando n é pequeno e o comprimento das linhas é reduzido pode ter uma topologia
física em malha. Quando cresce (N~n 2) e o comprimento das linhas aumenta, por razões
práticas (custo proibitivo: para 10.000 assinantes é necessário 50.10 6 linhas, sem contar
com mais um computador para cada assinante) usa-se a topologia estrela, que
concentra toda a comutação numa central (central de comutação telefônica) que liga
cada assinante por meio de uma linha, requerendo unicamente N=n, ou seja, 10 000
linhas para o caso do exemplo anterior. (Figura 10).

Quando a área coberta pela central de comutação (rede em estrela) e o número de


assinantes cresce, o preço da linha telefónica aumenta. Então, torna-se mais económico
dividir essa rede em várias redes de pequenas dimensões, cada uma delas servida pela
sua própria central de comutação telefônica, diminuindo o comprimento médio da linha
de assinante e o custo total, mas, em contrapartida o custo associado à comutação
aumenta (Figura 11).
Figura 9: Rede telefónica Figura 10: Rede em estrela Figura 11: Custo da rede com
(conexão total) com comutação centralizada o número de centrais

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Havendo várias redes estrelas (várias centrais locais) é necessário estabelecer ligações
ou junções, formando assim uma rede com conexão total ou em malha. Estas junções
podem ser directas, quando se tem um grande fluxo de tráfego ou as distâncias são
curtas, ou indirectas, através de uma central tandem (centro de comutação central),
quando o tráfego é reduzido e as distâncias são grandes, Figura 12.

Havendo várias junções de redes em outras partes do país é necessária uma rede de
longa-distância ou rede de troncas que são interligados através de centros de trânsito
(não entre si, por razões económicas), fazendo com que uma rede nacional telefónica
apresente uma topologia em árvore não pura, já que, quando se sobe na hierarquia
aumenta o número de ligações entre centrais do mesmo nível hierárquico (Figura 13).

Figura 12: Área servida por Figura 13:Rede telefónica nacional


várias centrais de comutação

Os centros trânsito podem ser de várias camadas (primários, secundudários, etc.),


dependendo da dimensão do País. Na figura 13 temos um centro de trânsito de duas
camadas, estando a segunda (a mais elevada) em malha com o centro de comutação
telefónica internacional do país. O centro primário liga a rede de junção e a rede de
troncas. Cada central local está ligada a um centro primário, seja directamente, seja
através de uma central de junção tandem.

Em síntese, uma rede telefónica nacional é baseada numa estrutura hierárquica


constituída pela interligação das seguintes redes:
1) Rede privada de assinante: Rede dentro das instalações do assinante (Telefone e a
central de comutação privada ou PABX: Private Automatic Branch Exchange).
2) Rede local ou de acesso: Liga os telefones ou PABX dos assinantes à central local.
3) Rede de junção: Interterliga as centrais locais aos centros de trânsito primários.
4) Rede de troncas ou rede dorsal: Interliga os centros primários através do país.

b) Rede digital integrada (RDI) Figura 17: Definição de uma RDI com a delimitação das
fronteiras (pontilhado)
Uma RDI é definida como sendo
uma rede na qual todas as centrais
de comutação são digitais e o
tráfego nas junções e nas troncas é
transportado em sistemas de
transmissão digital. Quando se leva
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a transmissão 6
assinante temos uma Rede Digital
com Integração de Serviços (RDIS).
A comutação é sempre feita a
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quatro fios e a qualidade de transmissão apresenta os seguintes atributos:

 As perdas de transmissão são independentes do número de troços e centrais


presentes numa ligação (são constantes, garantindo uniformidade no desempenho);
 As ligações apresentam um nível mais baixo de ruído do que as analógicas
correspondentes (um valor típico para essas perdas é, por exemplo, 6 dB);
 As ligações são mais estáveis, ao contrários das redes analógicas a dois fios.

O primeiro atributo é particularmente importante para um operador de telecomunicações,


pois garante que as perdas de transmissão nas fronteiras da RDI se mantêm constantes
para todos os tipos de ligações, garantindo a uniformidade no desempenho.

1.5.2. Rede Digital com Integração de Serviços


A Rede Digital com Integração de Serviços (RDIS) 1 surge para integrar todas as redes
públicas (telefone, dados, etc.) numa única rede digital, com a introdução de modems,
fazendo com que o utilizador através de uma única linha de assinante tivesse acesso a
uma grande diversidade de serviços, como voz, dados, imagem, texto, etc.

Uma rede RDIS pode oferecer dois tipos de acessos: acesso básico (dois canais de voz
a 64 kb/s e outro de dados a 16 kb/s: 144 kb/s) e acesso primário (30 canais de voz a 64
kb/s cada e outro de dados a 64 kb/s: ~2 Mb/s). Houve uma tentativa da ITU-T de se
criar uma RDIS de banda larga (várias dezenas de Mb/s) para incluir serviços de vídeo e
de dados a alta velocidade usando um novo paradigma de transferência de informação,
o ATM (Asynchronous Transfer Mode), tal que um só comutador fosse usado para todos
os serviços da rede, mas a ideia não avançou devido aos elevados custos. Contudo, a
tecnologia ATM foi adoptada pela indústria de telecomunicações como uma boa solução
para a comutação de dados a muito alta velocidade.

1.5.3. Rede pública de dados


Uma rede de dados é uma rede que permite a troca de informação digital entre
computadores e outros dispositivos processadores de informação, usando diferentes
ligações e nós. Pode ser segmentada em três grupos: LAN (rede localizada numa área
geográfica limitada); MAN (rede cujos pontos de acesso se localizam numa área
metropolitana) e WAN (se estende por várias cidades e mesmo países).

1
Em notação anglo-saxónica ISDN (Integrated Services Digital Network)
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Uma rede de dados usa a Figura 18: Princípio de operação de uma rede de
comutação de pacotes
tecnologia de comutação de
pacotes em que não precisa
estabelecer-se uma ligação
prévia entre os utilizadores
(connectionless), como na rede

telefónica (Figura 18). Na fonte, cada mensagem a ser transmitida na rede é dividida em
pequenas unidades (pacotes ou datagramas) contendo cada um cabeçalho com a
informação do endereço do destinatário, da fonte, o número do próprio datagrama e
outra informação de controlo, além da informação propriamente dita. Estes datagramas
são enviados de forma independente, podendo seguir percursos diferentes até ao seu
destino, onde são agregados de modo a originar a mensagem inicial. Cada nó, ao ler o
cabeçalho, está em condições de definir o trajecto a seguir.

Uma rede de dados garante um nível de segurança bastante elevado, na medida em


que qualquer intruso na rede somente consegue obter fragmentos da mensagem
transmitida. Além disso, não existe um ponto de falha único, porque se um nó, ou uma
ligação falham, ou são sabotados, existem sempre ligações e nós alternativos. Também,
o seu controlo é feito por nós, não havendo uma estrutura hierárquica como nas redes
telefónicas. Estas vantagens fizeram surgir o ARPANET2 e mais tarde a Internet.

Apesar disso, a comutação de pacotes não garante uma qualidade de serviço em termos
de atraso, erros ou débito, sendo chamados de serviços ao melhor esforço (best-
effort). Por isso, a rede pública de dados é baseada em circuitos virtuais
(estabelecimento de uma ligação lógica com o destinatário através do primeiro pacote e
todos os pacotes da mensagem seguem por essa ligação).

Existe uma diferença fundamental em relação à comutação de circuitos nas redes


telefónicas: a ligação não é dedicada (é partilhada por outros circuitos virtuais). Para
isso, usa-se um processo de armazenamento/expedição do pacote em cada nó (o
cabeçalho do pacote deve conter a identificação do circuito virtual). Este processo
permite às redes com circuitos virtuais escoar tráfego com débitos mais elevados e com
maior rapidez do que as redes com datagramas. Perde-se, no entanto, a segurança,
flexibilidade e fiabilidade associadas à tecnologia dos datagramas.

Em síntese, pode dizer-se que a comutação baseada em circuitos virtuais é mais


adequada para transmissões longas e com débitos elevados, enquanto a comutação
com datagramas é preferível para transmissão de dados de curta duração.
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Advanced Research Projects Agency NETwork (1967, USA, Agência de Projectos avançados em redes
de dados)
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O paradigma de comutação ATM é baseado em circuitos virtuais com pacotes (células)


de valor fixo e dimensão muito inferior em relação à comutação de pacotes onde os
pacotes têm dimensões variáveis. Uma célula é constituída por 53 octetos, sendo 5
usados para cabeçalho e os restantes para informação.

Com a massificação da Internet (uso de Voz e vídeo sobre IP) e a necessidade de se


garantir qualidades de serviço nas redes IP surgiu o protocolo MPLS3 cuja base consiste
em associar uma identificação (etiqueta ou label) a todos os pacotes com o mesmo
destino e canalizá-los através de uma espécie de túnel virtual. Isso permitiu aumentar
significativamente a rapidez de comutação e reduzir o atraso do pacote na rede.

1.5.4. Redes híbridas fibra-coaxial


São caracterizadas por usarem uma Figura 19: Estrutura de uma rede híbrida fibra
coaxial.
infraestrutura em fibra óptica para servir núcleos
e daí sair uma rede em cabo coaxial até às
instalações do utilizador. No princípio eram
usadas para a distribuição de televisão por cabo
(CATV, CAble TV), mas hoje é uma solução
para serviços distributivos digitais e serviços
interactivos como é o caso do acesso à Internet.
Na Figura 19 a ligação entre a cabeça de rede e o nó de acesso é realizada por uma
fibra óptica pela rede da camada de transporte (numa rede real é mais complexa e pode
conter vários níveis hierárquicos). A rede coaxial inicia-se no nó de acesso óptico onde
tem lugar a conversão do sinal óptico em eléctrico e no caso das redes com capacidade
para suportar serviços interactivos (bidireccionais) também do eléctrico para o óptico.

A rede coaxial tem uma topologia física em árvore. A repartição dos sinais de
radiofrequência pode ser feita através dos amplificadores de tronca ou a partir de
repartidores passivos. Para além desses amplificadores tem-se ainda os amplificadores
de linha que são usados para compensar a atenuação do cabo coaxial e dos
repartidores passivos. Será de notar que ambos os tipos de amplificadores terão de ser
bidireccionais, para assegurar serviços interactivos nessas redes.

1.5.5. Redes celulares


Figura 18: Estrutura de uma rede celular
O princípio básico da comunicação celular
consiste em dividir as regiões em várias
regiões de pequena dimensão e potência,
designadas por células. Cada célula tem
uma estação de base que a cobre via rádio
e que está ligada a uma central de
comutação
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Multiprotocolde móveis,
Label designada
Switching: protocolopor MSC
de comutação de pacotes rotulados (agrupados)
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(Mobile Switching Centre), Figura 18. Assim, os componentes básicos da rede são os
telefones móveis, as estações de base e as MSC. Cada MSC controla todas as
chamadas entre as células de uma determinada área e a central local. Cada célula tem
disponíveis vários radiocanais para tráfego de voz e um ou mais para sinalização de
controlo com largura de banda entre os 25 e os 30 kHz.

Operação
O telefone móvel ao ligar-se faz a auto-localização dos diferentes canais de controlo de
MSC e sintoniza o que tem o nível mais elevado, estabelecendo um lacete com a
estação de base. Este processo continua periodicamente para estabelecer lacetes com
outras estações base, caso se deslocar para outras células. Outra operação é o registo
de presença no início da ligação e em intervalos regulares envia informação da sua
presença para a MSC mais próxima que a armazena e terá uma ideia aproximada da
sua localização.

Quando o móvel pretende realizar uma chamada, transmite o número do destinatário


para a estação base, usando o canal de controlo. A estação base envia então essa
informação para a MSC, juntamente com seu número de identificação que localiza o
destinatário. Imediatamente, a MSC atribui um radiocanal de voz bidireccional para o
estabelecimento da ligação entre o telefone móvel e a estação base. Depois de receber
esta informação, o telefone móvel ajusta para emitir e receber nas frequências
atribuídas. Logo que o MSC detecta a presença da portadora da unidade móvel no canal
desejado, a chamada ou é processada pela própria MSC, ou é enviada para a central
local para aí ser processada.

Quando a estação base de uma determinada célula detecta que a potência do sinal
emitido por uma determinada unidade móvel desce abaixo de um determinado nível,
sugere à MSC para atribuir o comando dessa unidade a outra estação base. A MSC,
para localizar o móvel, pede às células vizinhas informação sobre a potência do sinal por
ele emitido, sendo atribuído o comando do móvel à estação base que reportar um nível
de sinal mais elevado. Um novo canal de voz é atribuído a essa unidade móvel pelo
MSC, sendo a chamada transferida automaticamente para esse novo canal. Este
processo designa-se por handover e dura cerca de 200 ms, o que não é suficiente
para afectar uma comunicação de voz.

1.5.6. Redes do Século XXI


Não é possível definir com rigor como vão ser as redes de telecomunicações que vão
ser construídas no futuro. Há contudo uma certeza: estas redes vão ser concebidas num
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ambiente e num tempo em que as características dominantes são o tráfego de dados e


não o de voz, que foi a base de concepção das redes telefónicas públicas comutadas.

Esse novo cenário impõe novas exigências: banda larga (débitos superiores a 2 Mbit/s)
e convergência. Os serviços de banda larga irão reflectir-se na tecnologia de
transmissão usada no acesso, tal que os pares simétricos (cobre) e o cabo coaxial irão
perdendo progressivamente importância e o seu lugar será ocupado pela fibra óptica.

A convergência irá reflectir-se em termos da rede de serviços, unindo as redes


telefónica pública e à de dados e, mais tarde à de distribuição de televisão por cabo; e
em termos da rede de transporte, reduzindo o número de tecnologias usadas,
simplificar a operação das redes e por conseguinte reduzir o seu custo de exploração.

Um bom exemplo é o caso do programa Figura 20: Visão esquemática da rede BT 21st
“BT 21st Century Network”, baseada na Century Network.

tecnologia IP/MPLS para convergir quatro


redes: PSTN, DPCN, ATM e IP. A rede de
transporte é baseada na tecnologia OTN
(convergência das tecnologias PDH, SDH e

WDM). A plataforma de acesso multiserviço actua como interface entre o mundo


IP/MPLS e os diferentes serviços (central local para o serviço telefónico, comutador
Ethernet para serviço Ethernet, DSLAM no caso do ADSL, etc.).

Fica ainda uma outra certeza: essas mudanças requerem investimentos colossais que
colocarão grandes desafios e ao mesmo tempo oportunidades na engenharia das
telecomunicações.

1.6. Tipos de Serviços em Telecomunicações


O objectivo de uma rede de telecomunicações é fornecer serviços tais como voz, vídeo,
e dados aos clientes. Em geral, esses clientes estão sobretudo interessados no tipo, na
qualidade e no custo dos serviços (incluindo a tarifa da rede e os custo dos terminais),
sendo-lhes indiferente a arquitectura da rede que os suporta. No entanto, os serviços e
as redes constituem um todo, não sendo concebíveis os primeiros sem as segundas e
vice-versa.

As redes de telecomunicações foram moldadas para os serviços telefónicos ao longo de


várias décadas. No entanto, com a expansão da Internet e o aparecimento de novos e
tecnologias (xDSL19, VoIP e Fibra óptica) surgiram uma miríade de novos serviços cujos
limites entre si não são fáceis de distinguir.

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Os serviços fornecidos por uma rede de telecomunicações podem ser classificados


segundo diferentes parâmetros: direcção do fluxo de informação, modo de
representação da informação, requisitos impostos à rede, etc.

1.6.1. Em função da direcção do fluxo de informação


a) Serviços distributivos: Caracterizados pelo fluxo unidireccional de informação de um
ponto central da rede para múltiplos utilizadores (utilizador sem controlo da
apresentação: televisão, vídeo a pedido, teletexto, etc.).

b) Serviços interactivos: Caracterizados pelo fluxo bidireccional de informação. Podem


ser de conversação (troca de informação extremo-a-extremo em tempo real,
telefonia ou vídeo-conferência), de consulta (consulta da informação armazenada
noutros pontos da rede, acesso a documentos e vídeos) ou de mensagem (não
operarem em tempo real, correio electrónico ou telefónico).

1.6.2. Em função do modo de representação da informação


a) Monomédia: Usam um único modo de representar a informação (telefonia, telecópia
e televisão)
b) Multimédia: Usam diferentes modos (Internet, texto, gráficos, áudio, imagens e
vídeo).

1.6.3. Em função dos parâmetros da rede (débito e simetria)


a) Em função do débito binário: valor instantâneo de fluxo de informação
1) De débito constante (voz e vídeo digital)
2) De débito variável (voz sobre IP, vídeo sobre IP e outros serviços de Internet. Os
valores podem ser 2 ou mais Mbit/s para banda larga: TV digital, Internet de alta
velocidade, videoconferência, interligação de centros de computação, tele-
medicina, etc; e abaixo de 2 Mbit/s para banda estreita: telefónico analógico,
RDIS, acesso normal à Internet e comunicações de móveis).

b) Em função da simetria: relação entre as larguras de banda ascendente (utilizador-


rede) e descendente (rede-utilizador)
1) de classe simétrica (larguras de bandas idênticas, telefonia e a videoconferência)
2) de classe assimétrica (larguras de bandas diferentes, Internet).

1.6.4. Em função do tipo de ligação: transferência de informação entre os utilizadores.


a) Não orientados à ligação (connectionless): não é necessário uma ligação prévia
(dados: datagramas)
b) Orientados à ligação (connection-oriented): é necessária uma ligação prévia,
intervenção do plano de controlo (voz, vídeo e dados/crcuitos dedicados).
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1.6.5. Em função da sensibilidade: atrasos e erross de transmissão.


Os mais sensíveis (Voz ou conversação: tolerantes a erros e não a atrasos). Tem sido
uma das principais barreiras do serviço de voz sobre IP. O atraso depende da
propagação do sinal no meio (distância e velocidade, não dependem do débito binário) e
do processamento de sinal no equipamento (memorização, codificação de fonte,
correcção de erros, multiplexagem, segmentação em pacotes, etc. e são inversamente
proporcionais ao débito binário).

Problemas
1. Qual é a principal limitação das topologias em barramento e em árvore? Como é que
essa limitação pode ser ultrapassada?

2. Explique se o plano de controlo intervém no processo de estabelecimento de uma


chamada telefónica.

3. Indique quais são as diferenças essencias entre uma rede de transporte e uma rede
de serviços. Dê exemplos de redes de serviço.

4. Faça uma representação esquemática de uma rede híbrida fibra-coaxial (camadas de


serviço e transporte) com uma topologia física em anel com quatro nós.

5. Na sua perspectiva, quais foram as principais modificações que foi necessário fazer
nas redes híbridas, para que estas pudessem evoluir de redes com capacidades
meramente distributivas (televisão) para redes capazes de proporcionar serviços
interactivos, como é o caso do acesso à Internet.

6. a) Exprima as potências a seguir em dBm e dBW: 50 μW, 1 mW e 100 mW; b) Calcule


em dBV e dBμV as tensões que essas potências produzem numa resistência de 600
Ω e 50 Ω.

Obs. Bibliografia: João Pires, Sistemas e Redes de Telecomunicações, IST/2006

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Henrique Belo,Msc 13

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