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Introdução à

comunicação sem fio


Juliane Adélia Soares

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Explicar o espectro eletromagnético e a transmissão de dados.


> Diferenciar os tipos de antenas.
> Discutir ganho e polarização em antenas.

Introdução
A comunicação sem fio é uma das áreas que mais apresenta crescimento com
a evolução tecnológica, já que a necessidade de se comunicar e transferir
informações a qualquer momento se intensificou muito. Neste capítulo, você
vai estudar os conceitos de comunicação sem fio, espectro eletromagnético
e transmissões de dados, além de conferir como se diferenciam os tipos de
antenas, seu ganhos e polarizações.

Comunicação sem fio:


espectro eletromagnético
A comunicação sem fio, geralmente, funciona por meio de sinais eletromag-
néticos transmitidos por dispositivos habilitados no ar, ambiente físico ou
atmosfera. Essa comunicação ocorre quando o destino ou dispositivo inter-
mediário receptor (que é capaz de propagar sinais sem fio) captura os sinais
e cria uma ponte de comunicação sem fio entre os dispositivos de origem e
destino. Alguns exemplos de sistemas de comunicação sem fio são o sistema
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de telefonia móvel, Bluetooth, WLAN (Wireless Local Area Network), sistema


de posicionamento global (GPS), entre outros.
Rochol (2018) apresenta no Quadro 1 o histórico da transmissão sem fio,
citando as principais etapas da sua evolução.

Quadro 1. Histórico da comunicação sem fio

Ano Cientista ou projeto Evento marcante

1873 James Clark Maxwell Publicação de A Treatise of Electricity and


Magnetism. Equações de Maxwell da teoria
eletromagnética.

1886 Heinrich Rudolf Hertz Demonstração da existência de ondas


eletromagnéticas. Velocidade da
propagação.

1893 Pe. Roberto Landell de Primeira radiotransmissão da voz humana,


Moura em Porto Alegre, entre o bairro Medianeira
e o morro Santa Teresa.

1899 Guglielmo Marconi Primeira transmissão de código Morse entre


Canal da Mancha, Inglaterra e França.

1907 Lee de Forest Primeira transmissão de radiodifusão


comercial utilizando válvula eletrônica tipo
tríodo, em Nova York.

1922 Edgard Primeira estação de radiodifusão brasileira,


Roquette-Pinto Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.

1927 Philo Taylor Primeiro sistema de televisão totalmente


Fornsworth eletrônico baseado em imagens
digitalizadas e feixe de elétrons.

1958 Projeto SCORE-NASA Primeiro satélite de comunicação —


Signal Communications by Orbital Relay
Equipment (SCORE).

1962 TELSTAR-NASA Satélite de retransmissão envia sinal de TV


da Olimpíada de Tóquio (1962).

1965 COMSAT-Early Bird Satélite comercial de comunicação —


Communications Satellite Corporation
(COMSAT).

1976 MARISAT Primeiro satélite de comunicação de


telefonia móvel marítima — Maritime
Telecommunication Satellites (MARISAT).
(Continua)
Introdução à comunicação sem fio 15

(Continuação)

Ano Cientista ou projeto Evento marcante

1978 American Mobile Sistema experimental de telefonia celular


Phone System (AMPS) de primeira geração (1G).

1991 Global System Mobile Sistema de telefonia europeu baseado


(GSM) em TDM, que se tornou padrão mundial.

1997 Padrão IEEE 802.11 Primeira rede local sem fio (WLAN) de
2 Mbits/s, também conhecida como
consórcio Wi-Fi.

1999 GSM 3G com WCDMA Padrão de telefonia celular mundial que


(UMTS) utiliza General Packet Radio Service (GPRS)
e transmissão CDMA.

2000 IMT 2000 International IMT-2000, padrão global para a terceira


Mobile Telecom geração (3G) de comunicação sem fio,
— 2000 definido pelo ITU-T.

2005 Padrão IEEE 802.16 Rede metropolitana sem fio móvel (WMAN),
também chamada WiMAX pelos fabricantes.

2008 Long Term Evolution Padrão de rede celular de banda larga móvel
(LTE) 3GPP de 4G com taxa > 100 Mbits/s e mobilidade
de 350 km/h.

2008 WiMAX 4G — Padrão de banda larga de 4G baseado no


Comunicação móvel padrão IEEE 802.16.
de quarta geração

Fonte: Adaptado de Rochol (2018).

É possível observar que a primeira publicação sobre comunicação sem fio


iniciou no século XIX, em 1873 e, a partir disso, os estudos foram evoluindo e
seguem em evolução constante. Anusha (2017) apresenta algumas vantagens
e desvantagens desse tipo de comunicação.
A transmissão e a recepção dos sinais ocorrem com antenas. Essas an-
tenas são dispositivos elétricos que realizam a transformação dos sinais
elétricos em sinais de radiofrequência na forma de ondas eletromagnéticas
(EM), podendo ocorrer a transformação de modo inverso também. Essas
ondas eletromagnéticas são eficientes para transmissões de longa e curta
distância (ANUSHA, 2017).
16 Introdução à comunicação sem fio

Quadro 2. Vantagens e desvantagens da comunicação sem fio

Instalar toda a estrutura de cabos para uma rede com


fio é um trabalho difícil e demorado, além de ter um alto
Custo custo, principalmente para grandes redes. Dessa forma,
não existir a necessidade de utilizar cabos para uma
rede reduz o custo geral do sistema.
Vantagens

Essa é a principal vantagem de um sistema de


comunicação sem fio, pois oferece liberdade, sendo
Mobilidade
possível utilizar os dispositivos em qualquer local, desde
que possua conexão disponível.

Considerando o mesmo argumento do custo reduzido,


Facilidade de o fato de não necessitar de toda a instalação de cabos
instalação em uma rede sem fio torna sua configuração muito mais
simples e rápida, quando comparada a uma rede com fio.

Para uma comunicação sem fio, os sistemas utilizam


espaço aberto como meio de transmissão de sinais;
Interferência
Desvantagens

por isso, é possível que os sinais de rádio sofram


interferência ou interfiram em outros sinais.

A segurança de dados é uma das principais


preocupações da comunicação sem fio, pois pela
Segurança
utilização do espaço aberto as transmissões podem ficar
mais vulneráveis a ataques maliciosos.

Fonte: Adaptado de Anusha (2017).

Um sistema de comunicação sem fio é dividido em transmissor, canal e


receptor, conforme a Figura 1.

Informação Caminho de transmissão

Codificação Codificação
Criptografia Modulação Multiplexação
da fonte de canal

Canal sem fio

Decodificação Decodificação
da fonte Descriptografia Demodulação Desmultiplexação
de canal

Informação Caminho de recepção


estimada

Figura 1. Diagrama de blocos comunicação sem fio.


Fonte: Adaptada de Anusha (2017).
Introdução à comunicação sem fio 17

A Figura 1 mostra o caminho percorrido pelos dados transmitidos a partir


do envio pelo transmissor até a chegada ao receptor. A informação enviada
passa por um codificador de fonte, que realiza a conversão do sinal para
uma forma adequada para aplicação das técnicas de processamento de sinal.
O sinal, então, é criptografado, de modo a protegê-lo, evitando acessos não
autorizados. Após isso, é realizada a codificação do canal para reduzir ruídos
e interferências de sinais. Em seguida, o sinal é modulado com técnicas de
modulação adequadas, ou seja, a onda portadora é modificada de acordo com
a mensagem que está sendo transmitida para facilitar o envio do sinal. Esse
sinal modulado é multiplexado com outros sinais, o que permite o envio de
vários sinais simultaneamente, de modo a compartilhar a largura de banda,
utilizando multiplexação por divisão de tempo — Time Division Multiplexing
(TDM) — ou multiplexação por divisão de frequência — Frequency Division
Multiplexing (FDM).
O canal é o meio pelo qual ocorre a transmissão do sinal. Após o envio
do sinal pelo transmissor e todo o processo que ocorre durante o caminho,
o receptor, ao coletar o sinal do canal, realiza o processo inverso. O desmulti-
plexador separa o sinal recebido dos demais sinais. Após isso, o sinal é demo-
dulado, e o sinal de mensagem retorna ao original. O decodificador de canal
remove os bits redundantes da mensagem, o sinal passa pela descriptografia,
removendo a segurança que o transmissor impôs e, por fim, é decodificado e
recupera a mensagem original, chegando ao receptor (ANUSHA, 2017).
Rochol (2018, p. 44) afirma que:

[…] o canal físico de radiofrequência é definido como uma porção limitada do es-
pectro de frequências que, em sistemas sem fio, se situa em uma faixa do espectro
eletromagnético — conjunto de ondas formadas de diferentes comprimentos de
ondas e frequências — que vai desde alguns Hz até 300 GHz, denominada faixa
de radiofrequências.

O envio dos dados entre transmissor e receptor se dá pelo canal de radio-


frequência. Os sinais são aplicados em uma antena que faz a irradiação do
sinal segundo uma onda eletromagnética, que vai até a antena do receptor.
Antena de transmissão, antena de recepção e largura de banda do canal
formam o canal de radiofrequência.
O espectro diz respeito às frequências de rádio invisíveis responsáveis pela
passagem dos sinais sem fio. As frequências utilizadas pela comunicação sem
fio são apenas parte do espectro eletromagnético. Suas partes são agrupadas
em bandas de acordo com o comprimento de onda, que se refere à distância
em que a forma da onda se repete. A parte do espectro utilizada para sistemas
18 Introdução à comunicação sem fio

de comunicação sem fio varia de 1 KHz a 100 GHz. Frequência, velocidade de


propagação no espaço da onda eletromagnética e comprimento da onda são
inter-relacionadas (ROCHOL, 2018). A Figura 2 mostra a localização de um canal
de radiofrequência dentro de um espectro eletromagnético.

Designação (ITU) Frequência [Hz] Comprimento de onda


ULF Ultra Low Frequency 300 Hz a 3.000 Hz 1.000 km a 100 km
VLF Very Low Frequency 3 kHz a 30 kHz 100 km a 10 km
LF Low Frequency 30 kHz a 300 kHz 10 km a 1 km
MF Medium Frequency 300 kHz a 3.000 kHz 1 km a 100 m
HF High Frequency 3 MHz a 30 MHz 100 m a 10 m
VHF Very High Frequency 30 MHz a 300 MHz 10 m a 1 m
UHF Ultra High Frequency 300 MHz a 3.000 MHz 1 m a 10 cm
SHF Super High Frequency 3 GHz a 30 GHz 10 cm a 1 cm
EHF Extremely High Frequncy 30 GHz a 300 GHz 1 cm a 1 mm

Figura 2. Canal de radiofrequência no espectro eletromagnético.


Fonte: Adaptada de Rochol (2018).

Observe a Figura 2. As frequências são o número de oscilações por segundo


de uma onda eletromagnética e são medidas em Hz. A distância entre dois
pontos, máximos ou mínimos, consecutivos é o comprimento da onda. Todas
as ondas eletromagnéticas quando no vácuo viajam na mesma velocidade,
independentemente de sua frequência, na chamada velocidade da luz, sendo
cerca de 30 cm por nanossegundo (TANENBAUM; WETHERALL, 2011).
As bandas de frequência listadas são Ultra Baixa Frequência (ULF), Muito
Baixa Frequência (VLF), Baixa Frequência (LF), Média Frequência (MF), Alta
Frequência (HF), Muito Alta Frequência (VHF), Ultra Alta Frequência (UHF),
Super Alta Frequência (SHF), Extrema Alta Frequência (EHF). Elas se baseiam
pela frequência e pelo comprimento da onda. Observe que quanto mais alta
é a frequência, menor é a distância de transmissão percorrida.
O volume de informações que pode ser transportado depende da potência
que está sendo recebida, o que está ligado diretamente à largura de banda.
A largura de banda é o intervalo da frequência ocupado por um sinal no es-
pectro e pode ser calculada pela diferença entre a maior e a menor frequência
do sinal (conforme é possível observar na Figura 2).
Introdução à comunicação sem fio 19

Saiba mais sobre o início da história da comunicação sem fio buscando


em seu navegador o artigo “Como começou essa história de transmitir
informações sem fio”, de Adam Clark Estes.

Na próxima seção, você conhecerá os tipos de antenas utilizadas para


sistemas de comunicação sem fio.

Antenas para comunicação sem fio


As antenas são pontos primordiais para o funcionamento do sistema de
comunicação sem fio, já que por elas os sinais são propagados. Antena é
um condutor elétrico ou um sistema de condutores que têm como função
irradiar energia eletromagnética ou realizar a coleta dessa energia. Para
que os sinais sejam transmitidos, a energia elétrica de radiofrequência que
sai do transmissor é convertida em energia eletromagnética pela antena
e propagada para o ambiente, sendo atmosfera, espaço e água. Quando a
antena recebe o sinal, ocorre o processo inverso, a energia eletromagnética
é convertida em energia elétrica de radiofrequência e concedida ao receptor
(STALLINGS; BEARD, 2016).
Portanto, as antenas são dispositivos capazes de irradiar ondas eletromag-
néticas para o espaço seguindo uma direção e uma potência determinadas,
percorrendo a trajetória que apresentar a menor perda de potência, de modo
a propagar os sinais com as melhores condições possíveis até o receptor em
questão (ROCHOL, 2018).

Antena isotrópica
Stallings e Beard (2016) afirmam que uma antena irradia energia em todas
as direções, mas geralmente não apresenta de forma igualitária um bom
desempenho em todas elas. Dessa forma, para caracterizar o desempenho
de uma antena, é comum a utilização de um padrão de radiação. Tal padrão
é uma representação gráfica das propriedades de radiação de uma antena,
conforme as coordenadas espaciais. O padrão de radiação utilizado é virtual,
ou seja, não dispõe de existência física real, chamado antena isotrópica.
20 Introdução à comunicação sem fio

De acordo com o dicionário Michaelis, isotrópico significa “[…] dotado de


propriedades físicas iguais em todas as direções” (ISOTRÓPICO, 2021, docu-
mento on-line). Uma antena isotrópica é um ponto no espaço que possui a
capacidade de irradiar energia em todas as direções com a mesma potência.
A Figura 3 mostra o padrão para uma antena isotrópica.

Figura 3. Padrão de antena isotrópica.


Fonte: Rochol (2018, p. 47).

Observe como funciona o padrão de uma antena isotrópica, com a mesma


irradiação para todas as direções, horizontal e verticalmente. Stallings e Beard
(2016, p. 158) explicam que “[…] a distância da antena a cada ponto no padrão
de radiação é proporcional à potência irradiada da antena naquela direção”.
Rochol (2018) apresenta as equações utilizadas para definir o padrão de
radiação isotrópico. A Equação 1 mostra que, pelo princípio da conservação
da energia, P t se refere à potência total irradiada pela antena, densidade
de potência ϕ por unidade de área de uma esfera de raio d, que se encontra
centrada na origem do sistema de coordenadas, onde 4πd2 representa a
superfície da esfera de raio d:
Introdução à comunicação sem fio 21

= 2
4

A Equação 2 é utilizada para definir a quantidade de potência irradiada


que chega ao receptor; onde Pr (potência recebida pela antena receptora)
é calculada partindo do conceito de área efetiva de absorção Ae da antena,
que está relacionada ao tamanho físico da antena e ao seu formato:

= ∙ = 2
4

A Equação 3 é referente ao valor da eficiência da antena η que está relacio-


nada à sua área física A e à sua área efetiva Ae; η indica o valor de conversão
da radiação eletromagnética pela antena receptora:

A Equação 4 indica a área efetiva de uma antena isotrópica Aiso; onde λ é


o comprimento de onda da radiação:

2
= =
4

A Equação 5 mostra que a Equação 4 pode ser substituída na Equação 2,


gerando relação entre potência recebida Pr e potência transmitida P t em um
par de antenas isotrópicas:

2 2
=
4 2
=
4 2 4
= (4 ( =
22 Introdução à comunicação sem fio

Por fim, a Equação 6 define o valor de potência perdida em um percurso


de espaço livre:

2
4
= = ( (
Chen e Luk (2009) afirmam que fisicamente uma antena isotrópica não
pode existir, pois não é possível que seu campo de radiação seja consistente
em todas as direções simultaneamente. Dessa forma, a radiação isotrópica é
utilizada como base de comparação para calcular a diretividade das antenas
físicas.

Antena anisotrópica
As antenas físicas são anisotrópicas, ou seja, não irradiam de forma igualitária
em todas as direções. De acordo com Rochol (2018), elas são divididas em
antenas omnidirecionais e direcionais.
As antenas omnidirecionais são projetadas para irradiar sinais em todas
as direções. Como dito anteriormente, não é possível que uma antena física
irradie sinais em todas as direções com a mesma intensidade simultaneamente,
devido a restrições na eficácia da construção e do material. De acordo com
Chen et al. (2016), uma antena omnidirecional irradia energia de ondas de
rádio de maneira uniforme em todas as direções, mas a potência irradiada
vai diminuindo contra os ângulos de elevação acima ou abaixo do plano e
chegando a zero no eixo da antena. Cisco (2007) alega que essas antenas
fornecem padrão de radiação horizontal de 360 graus e são utilizadas quando
existe a necessidade de uma cobertura mais ampla para todas as direções.
Antenas dipolo são as antenas omnidirecionais mais simples e mais utiliza-
das. Possuem dois condutores de uma linha de transmissão, com alimentação
central de radiofrequência. São balanceadas, pois bilateralmente simétricas.
Dispositivos móveis necessitam de antenas dipolo, já que não é possível
saber onde estará o próximo ponto de acesso para conectividade durante
sua locomoção, podendo estar em qualquer direção. Entretanto, antenas
omnidirecionais podem sofrer maiores interferências e ruídos, além de ter
menor intensidade de sinal.
Elas podem ser orientadas de modo horizontal, vertical ou em inclinação.
Podem ser dipolos de meia onda ou dipolos de um quarto de onda. Dipolos
de meia onda (Figura 4) consistem em dois condutores colineares retos com
Introdução à comunicação sem fio 23

o mesmo comprimento, separados por uma lacuna, cada um deles medindo


um quarto de onda de radiofrequência. O comprimento total dessa antena
é a metade do comprimento de onda do sinal, podendo ser transmitido de
forma mais eficiente.
Uma antena dipolo de meia onda irradia 2,15 dBi (i indica que o ganho é
relativo à antena isotrópica), no máximo, perpendicular ao seu eixo, tendo
seu ângulo de elevação fora da borda da antena. Por possuir um design
simples, ele é adequado para uso como elemento em antenas complexas,
como parabólicas (DATA-ALLIANCE, c2021).

Figura 4. Antena dipolo meia onda.


Fonte: Stallings e Beard (2016, p. 159).

Uma antena dipolo de um quarto de onda (Figura 5) possui um único con-


dutor, medindo um quarto da onda de radiofrequência irradiada. Essa antena
é aterrada, podendo ser em terra real ou aterramento simulado, em casos
de antenas móveis ou com mastros altos. Dessa forma, causa reflexão no
solo, criando uma imagem espelhada. Isso faz com que essa antena produza
uma alimentação de baixa impedância (cerca de 20 ohms), ou seja, a corrente
elétrica atravessa com facilidade (DATA-ALLIANCE, c2021).

Figura 5. Antena dipolo um quarto de onda.


Fonte: Stallings e Beard (2016, p. 159).
24 Introdução à comunicação sem fio

Essas antenas irradiam frequências MF (média frequência), HF (alta fre-


quência) e VHF (muito alta frequência). Antenas direcionais, como o nome
já diz, direcionam a energia da radiofrequência em uma direção específica.
Concentrando a capacidade de transmissão ou recepção em determinada
direção, o uso dessas antenas em redes sem fio permite maior número de
transmissões simultâneas de um par de nós de comunicação. Desse modo,
há menos interferências de outras transmissões, além de um alcance de
transmissão mais longo, quando comparadas às antenas omnidirecionais
(DAI et al., 2013).
As antenas direcionais são utilizadas em sistemas de satélites e enla-
ces de rádio fixos, apresentando radiovisibilidade ou Linha de Visão (LOS).
A LOS se define por possuir uma visão clara entre transmissor e receptor, sem
obstruções. A antena parabólica é um destaque entre as antenas direcionais
(ROCHOL, 2018).
A Figura 6 apresenta a irradiação de potência elipsoide. A elipsoide de
Fresnel auxilia na propagação de sinal livre de interferência por reflexões e
multipercurso. A concepção de elipsoide foi dada por Ausgustin-Jean Fres-
nel, indicando que, para a propagação de frente de onda, vindas de uma
antena transmissora, considerando após determinado tempo ou distância
de propagação, ocorre um espalhamento esférico natural de raio r. Nesse
caso, cada ponto da esfera é um radiador infinitesimal, radiando em fase e
resultando na formação de uma onda espacial que atingirá um dado ponto
P em uma distância d.

Figura 6. Padrão de irradiação em antena parabólica.


Fonte: Rochol (2018, p. 49).
Introdução à comunicação sem fio 25

Na Figura 6, a largura do feixe da antena é o ângulo ψ formado pelas duas


linhas que saem do foco e cortam a elipsoide, onde a potência caiu 3dB em
relação à potência máxima correspondente ao eixo do lóbulo principal.
As antenas físicas nem sempre possuem alinhamento perfeito na direção
do ganho máximo situado sobre o eixo da antena, porém, para que uma
antena atinja sua potência máxima, é preciso que os eixos das duas antenas
(transmissora e receptora) estejam sobre a mesma reta (ROCHOL, 2018).

Antenas: ganho e polarização


Uma antena fornece ao sistema de comunicação sem fio três propriedades:
ganho, direção e polarização. O ganho se refere à medida do aumento da
potência, ou seja, é a quantidade de aumento na energia que uma antena
adiciona a um sinal de radiofrequência. A direção “[…] é a forma do padrão de
transmissão. Enquanto o ganho de uma antena direcional aumenta, o ângulo
da radiação normalmente diminui. Isso fornece cobertura maior, mas em um
ângulo de cobertura reduzido” (CISCO, 2007, documento on-line). A polarização,
por sua vez, é a orientação física do elemento na antena, responsável pela
emissão da energia de radiofrequência (CISCO, 2007).
Definem-se a relação entre a potência de saída de uma antena em uma
direção estipulada e a potência que uma radiação isotrópica equivalente
irradia. Rochol (2018) afirma que o ganho de uma antena é uma relação de
potências, podendo ser expresso em dBi (i para indicar que são decibéis
relativos a uma antena isotrópica). Então, define-se o ganho de potência da
antena de transmissão Gt (ϕ, θ), conforme Equação 7:

Densidade de potência na direção ( , )


( , )=
Densidade de potência de uma antena isotrópica

Define-se também o ganho de potência da antena de recepção Gr (ϕ, θ)


seguindo a Equação 8:

Área efetiva na direção ( , )


( , )=
Área efetiva de uma antena isotrópica
26 Introdução à comunicação sem fio

O aumento da potência irradiada em uma direção, consequentemente,


diminui a potência irradiada nas demais direções. Stallings e Beard (2016)
observam que o ganho de uma antena não está relacionado à obtenção de uma
maior potência de saída do que potência de entrada, mas à direcionalidade
da antena. O ganho da antena está diretamente ligado à sua área efetiva.
A área efetiva está relacionada ao tamanho físico e ao formato da antena.
Rochol (2018, p. 51) afirma que, na maioria das aplicações, é possível
considerar “[…] as antenas de transmissão e recepção idênticas e perfeita-
mente alinhadas segundo os seus eixos de radiação e recepção máxima”.
Com isso, pode-se reduzir as Equações 7 e 8 em uma equação genérica G,
sendo a função da área efetiva da antena relacionada com a área da antena
isotrópica, conforme Equação 9:

2
4 4
= = 2
= 2

onde:

„ G é a razão de ganho da antena, não sendo em dBi ;


„ Ae é a área efetiva da antena de recepção;
„ Aiso é a área do radiador isotrópico em qualquer das direções;
„ f é a frequência da portadora;
„ c é a velocidade da luz (299.345,72 km/s);
„ λ é o comprimento de onda da portadora.

Para expressar o ganho da antena em dBi, indica-se que esse ganho é


relativo ao radiador isotrópico a partir da Equação 10:

G(dBi) = 10 log G[dBi]

Considere, conforme Rochol (2018), uma antena parabólica com diâ-


metro de 4 m, eficiência η = 0,56 e frequência de 6,45 GHz. Diante
dessas informações, é possível calcular a área efetiva e o ganho dessa antena.
Considere que a área da parabólica é A = πd2 ou A = 4π. Sabemos que A = ηA,
ou A = 0,56 · 4π = 7,03 m². A razão do ganho, não sendo em dBi , é apresentada
na equação:
Introdução à comunicação sem fio 27

= = 7,03 (4 ( = 88,34
2 0,002
= 4.4148

E, sendo o ganho em dBi, temos a equação:

G(dBi) = 10 log (44148) = 46,45 dBi

Já a polarização pode ser definida como a direção em que o campo elétrico


de uma onda de radiofrequência oscila enquanto se propaga. A polarização
deve ser observada a partir do transmissor de sinal, para que ele seja o
ponto de referência. Ela é quem determina a eficiência com que a radiação
eletromagnética é transmitida ou recebida pela antena (MIMOSA, c2021).
Os planos de propagação dependem do formato físico da antena. A onda
irradiada pode ser polarizada de dois modos: linear e circular. A polarização
linear pode ser vertical ou horizontal. Todos os campos oscilam em uma
direção em um lugar fixo no espaço ao longo do tempo, ou em um tempo fixo
na distância. A maioria das antenas produz ou recebe apenas uma polarização
(ROCHOL, 2018). Observe na Figura 7 uma polarização linear vertical de onda
gerada a partir de um dipolo de meia onda alinhada segundo o eixo z.

Figura 7. Polarização linear vertical.


Fonte: Rochol (2018, p. 52).
28 Introdução à comunicação sem fio

Na polarização circular, ondas eletromagnéticas podem ser decompostas


em duas ondas, cada uma a 45 graus em relação ao vetor original, e ambas
separadas por 90 graus, ortogonais. Caso um dos componentes ortogonais
se desloque, o vetor parecerá girar em um tempo ou distância fixa. A po-
larização circular pode girar à esquerda (sentido anti-horário) ou à direita
(sentido horário) (MICROWAVES101, c2021). A Figura 8 mostra um exemplo de
antena parabólica com polarização circular, onde o vetor do campo elétrico
propaga-se segundo o eixo x, no sentido anti-horário.

Figura 8. Polarização circular.


Fonte: Rochol (2018, p. 53).

Referências
ANUSHA. Wireless communication: introduction, types and applications. [S. l.]: Elec-
tronics Hub, 2017. Disponível em: https://www.electronicshub.org/wireless-commu-
nication-introduction-types-applications. Acesso em: 6 dez. 2020.
CHEN, Z. N. et al. Handbook of antenna technologies. Singapore: Springer, 2016.
CHEN, Z. N.; LUK, K.-M. Antennas for base stations in wireless communications. New
York: McGraw-Hill, 2009.
CISCO. Antena omni vs. antena direcional. [S. l.]: Cisco, 2007. Disponível em: https://
www.cisco.com/c/pt_br/support/docs/wireless-mobility/wireless-lan-wlan/82068-
-omni-vs-direct.html. Acesso em: 10 dez. 2020.
Introdução à comunicação sem fio 29

DAI, H.-N. et al. An overview of using directional antennas in wireless networks. Int.
J. Commun. Syst., v. 26, p. 413-448, 2013.
DATA-ALLIANCE. Omni-directional antennas: dipole / rubber duck. Nogales: Data Alliance,
c2021. Disponível em: https://www.data-alliance.net/omni-directional-antennas-
-dipole/. Acesso em: 8 dez. 2020.
ISOTRÓPICO. In: MICHAELIS: dicionário brasileiro da língua portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 2021. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&
t=0&palavra=isotr%C3%B3pico. Acesso em: 13 jan. 2021.
MICROWAVES101. Polarization. Tucson: Microwaves101, c2021. Disponível em: https://
www.microwaves101.com/encyclopedias/polarization. Acesso em: 11 jan. 2021.
MIMOSA. Antenna polarization basics. [S. l.]: Mimosa, c2021. Disponível em: https://
mimosa.co/white-papers/antenna-polarization. Acesso em: 11 jan. 2021.
ROCHOL, J. Sistemas de comunicação sem fio: conceitos e aplicações. Porto Alegre:
Bookman, 2018.
STALLINGS, W.; BEARD, C. Wireless communication networks and systems. Hoboken:
Pearson, 2016.
TANENBAUM, A. S.; WETHERALL, D. Redes de computadores. 5. ed. São Paulo: Pearson,
2011.

Leitura recomendada
ESTES, A. C. Como começou essa história de transmitir informações sem fio. New York:
Gizmodo, 2018. Disponível em: https://gizmodo.uol.com.br/como-comecou-essa-
-historia-de-transmitir-informacoes-sem-fio/. Acesso em: 13 jan. 2021.

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