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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

Trabalho de Conclusão de Curso

A indústria têxtil e de vestuário A.J. Renner e seus trabalhadores no


acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul (1933-
1943)

Jéssica Bitencourt Lopes

Pelotas, 2018.
Jéssica Bitencourt Lopes

A indústria têxtil e de vestuário A.J. Renner e seus trabalhadores no


acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul (1933-
1943)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Instituto de Ciências Humanas da Universidade
Federal de Pelotas, como requisito parcial para
obtenção do título de Licenciatura em História.

Orientador: Profº. Dr. Aristeu Elisandro Machado Lopes

Pelotas, 2018.
RESUMO
LOPES, Jéssica Bitencourt. A indústria têxtil e de vestuário A.J. Renner e
seus trabalhadores no acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio
Grande do Sul (1933-1943). Pelotas: UFPel, 2018. Trabalho de Conclusão de
Curso, Licenciatura em História, Universidade Federal de Pelotas, 2018.
O acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul (DRT-RS),
atualmente salvaguardado no Núcleo de Documentação Histórica da
Universidade Federal de Pelotas (NDH-UFPEL), conta com aproximadamente
630 mil fichas, as quais eram necessárias para a confecção das carteiras
profissionais. Resguardando a memória de trabalhadores comuns, essas fichas
emergem a imagem, as informações profissionais e pessoais de homens e
mulheres até então anônimos, que solicitaram suas carteiras entre 1933-1968.
Utilizando como fonte o acervo e o seu banco de dados, por meio de uma
metodologia serial-quantitativa, a pesquisa apresentada neste trabalho de
conclusão de curso almeja tecer o perfil dos trabalhadores e
consequentemente analisar a organização do trabalho da indústria têxtil e de
vestuário A.J. Renner, que se apresenta como a mais demandada na primeira
década de criação da carteira profissional, entre 1933-1943. Dessa forma a
pesquisa pretende-se construir a história de uma das mais importantes
indústrias brasileiras do século XX a partir do perfil de seus trabalhadores.
ABSTRACT
LOPES, Jéssica Bitencourt. A.J. Renner’s textile and clothing industry and
his workers in the Regional Rio Grande do Sul Labor Office collection
(1933-1943). Pelotas: UFPel, 2018. Course completion work, Education degree
in History, Universidade Federal de Pelotas, 2018.
The Regional Rio Grande do Sul Labor Office collection (DRT-RS), currently
safeguarded at the Historical Documentation Center of the Universidade
Federal de Pelotas (NDH-UFPEL), has approximately 630 thousand files, which
were needed for the confection of professional cards. Sheltering the memory of
ordinary workers, these files emerge the image, the professional and personal
informations of men and women who were anonymous so far, that solicited their
cards between 1933-1968. Utilizing the collection and its database as source,
by means of a serial-quantitative methodology, the research presented in this
course completion work aims to build the workers’ profile and consequently
analyze the work organization of A.J. Renner’s textile and clothing industry, that
presents itself as the most demanded in the first decade of creation of the
professional card, between 1933-1943. Thus, this work intends to construct the
history of one of the most important brazilian industries from the 20th century
from its workers’ profile.
À minha mãe, Cristiane Lopes
Bitencourt, mulher trabalhadora que
não poupou esforços para que hoje eu
pudesse estar aqui.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Ficha de qualificação profissional número 04751 da alemã Gerda
Henzel, fiandeira da Renner. Fonte- Acervo da Delegacia Regional do Trabalho
do Rio Grande do sul. 2018.............................................................................. 30

Figura 2- Acervo da Delegacia Regional do Trabalho. 2018. ........................... 32

Figura 3: Carimbo Renner (1933). Fonte: Acervo da Delegacia Regional do


Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018. ............................................................. 36

Figura 4: Carimbo do Sindicato dos operários em Fábricas de Tecidos (1933).


Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018.
......................................................................................................................... 36

Figura 5: Mestre-fiandeiro Johannes Gerlach. Fonte: Acervo da Delegacia do


Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018. ............................................................. 44

Figura 6: Carlos Marques (Classificador de lã- misto); Lyra Silva (Fiandeira-


morena); Palmyra Lopes de Oliveira (cerzideira- morena); Cecilia Rosa
(Fiandeira- preta). Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho. 2018. . 45

Figura 7:Os menores trabalhadores da sapataria e alfaiataria: Adolpho Bilcher


(aprendiz de sapataria), Antenor Ramires (alfaiate) e Humberto Costa Milego
(auxiliar de sapateiro). Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do
Rio Grande do Sul. 2018. ................................................................................. 48

Figura 8: Da esquerda para a direita as duas primeiras fotografias são de Egon


Renner, que solicitou o documento em 1933 e uma segunda via em 1939, após
Kurt, Heini e Herbert Renner. ........................................................................... 49

Figura 9: Os irmãos Leopoldo Machado, Guilhermina Lampert e Luiza Duarte,


trabalhadores da fiação. Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do
Rio Grande do Sul. 2018. ................................................................................. 50

Figura 10: As irmãs Elma, Tusnelda e Erica Biehl, fiandeiras da fábrica Renner
e o irmão Eugênio Biehl, mecânico da mesma fábrica. Fonte: Acervo da
Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018. ........................ 50

Figura 11: Os irmãos Manoel e Oliveiros Ramos dos Reis, classificadores de lã


da Renner. Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande
do Sul. 2018. .................................................................................................... 50
Figura 12: As irmãs Talita e Edith Nadler, costureiras da Renner. Fonte: Acervo
da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018. ................... 51

Figura 13: A mãe Adelaide Fernandes Lima e a filha Maria Augusta Fernandes
Lima, ambas costureiras da Renner. Fonte: Acervo da Delegacia Regional do
Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018. ............................................................. 51
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Algumas das profissões dos trabalhadores da Renner. Fonte: Banco


de dados da DRT-RS. ...................................................................................... 35

Gráfico 2: Data de solicitação da carteira profissional dos trabalhadores da


Renner. Fonte: Banco de dados do acervo da DRT-RS. 2018......................... 37

Gráfico 3: Os trabalhadores da Renner em relação ao sexo e profissão. Fonte:


Banco de dados do acervo da DRT-RS. 2018. ................................................ 39

Gráfico 4: Relação entre estado civil e sexo dos trabalhadores da Renner.


Fonte: Banco de dados do acervo da DRT-RS. 2018. ..................................... 41

Gráfico 5: Os trabalhadores da Renner em relação a indecência de filhos por


sexo. Fonte: Banco de dados do acervo da DRT-RS. 2018. ............................ 42

Gráfico 6: Trabalhadores estrangeiros na Renner. Fonte: Acervo da DRT-RS.


2018. ................................................................................................................ 46

Gráfico 7: Trabalhadores estrangeiros da Renner por profissão. Fonte: Banco


de dados do acervo da DRT-RS. 2018. ........................................................... 47
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

CAPÍTULO I: “As indústrias A.J. Renner devem orgulhar o Brasil inteiro. ” ..... 14

1.1 A indústria têxtil no Rio Grande do Sul e a A.J. Renner .......................... 14

1.2 A legislação trabalhista na Era Vargas e o trabalho na Renner. ............. 22

CAPÍTULO II: “Cada casaco passa pelas mãos de mais de 60 operários”. ..... 29

2.1 O Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. .... 29

2.2. Quem eram os trabalhadores da Renner? ............................................. 35

CONCLUSÃO:.................................................................................................. 54

FONTES ........................................................................................................... 56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................. 56


10

INTRODUÇÃO

Diariamente brasileiros e também estrangeiros entram em uma das filiais


das Lojas Renner pelo Brasil e exterior, alguns para exercer suas funções
como trabalhador da rede, outros buscando um look a “seu estilo”1, porém
poucos conhecem a história e sabem que esse empreendimento que hoje
parece tão moderno e contemporâneo foi símbolo do desenvolvimento
industrial e das relações de trabalho no Rio Grande do Sul, e
consequentemente, no Brasil no começo do século XX. As Lojas Renner S/A2 é
uma das empresas subsidiárias do grupo Renner que iniciou suas atividades
em 1914 com uma pequena fábrica têxtil. A indústria têxtil e de vestuário A.J.
Renner3 tornou-se um dos maiores empreendimentos industriais do Brasil,
destacando-se com seus métodos de fabricação, de qualidade de produção e
também com suas políticas com os trabalhadores, tornando-se um exemplo de
desenvolvimento fabril. Ao longo desses 104 anos, muito se produziu e falou
sobre A.J. Renner, o fundador da fábrica, entretanto pouco se sabe sobre os
trabalhadores dessa indústria.

A partir de 1930 a Renner recebe o título de grande empresa,


estabelecendo-se como uma das maiores indústrias do setor de vestuário na
América Latina, desenvolvendo-se progressivamente nas próximas décadas.
Contando com centenas de operários nos mais diversos setores, foi a primeira
no Brasil a verticalizar sua produção, tendo o controle desde a seleção
genética de sementes para o plantio de linho, até os últimos ajustes e venda ao
consumidor. Além desenvolver tecnologias e métodos industriais, a Renner
teria antecipado as reivindicações dos trabalhadores e oferecido benefícios
antes mesmo de ser implantada a legislação social do trabalho.

1
Usa-se “seu estilo”, como referência a slogan das Lojas Renner S/A: “Você tem seu estilo. A
Renner tem todos. ”
2
A primeira Loja Renner foi inaugurada em 1922 e tinha como objetivo vender as confecções
fabricadas pela indústria Renner, em 1965 torna-se independente o grupo Renner e em 1967
torna-se uma empresa de capital aberto, porém a família Renner se manteve com o controle
acionário até 1998. Em 2005 a Renner foi a primeira empresa brasileira a ter seu capital
pulverizado, sendo que 100% de suas ações estão em circulação, já a indústria Renner acabou
por fragmentar-se (AXT; BUENO. 2013)
3
A partir desse trecho, usaremos Renner para se referira indústria A.J. Renner e Cia de
produção têxtil e confecções, A.J. Renner para se referir a Anton (Antônio) Jacob Renner,
diretor da fábrica e Grupo Renner para se referir ao conjunto de indústrias da família Renner.
11

No contexto de ascensão da fábrica Renner, a política trabalhista e a


legislação social de Getúlio Vargas vigoravam. A partir dessas, trabalhadores
conquistaram direitos, entre ele a carteira profissional de trabalho que vinha
com o objetivo de ressaltar a cidadania do trabalhador e seu mérito trabalhista.
O documento era a garantia dos direitos assegurados pelo Estado como o
direito a férias e o direito de reivindicar suas condições de trabalho nas
Comissões Mistas de Julgamento, que posteriormente viriam a formar a Justiça
do Trabalho4.

Percebendo as singularidades que cercam a indústria Renner e a


emergência em construir a história de trabalhadores comuns, notou-se as
possibilidades de pesquisar esse empreendimento e seus trabalhadores
através do Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul,
constituído pelas fichas que eram preenchidas com as informações dos
trabalhadores no momento da solicitação do documento profissional. O acervo
da DRT-RS compreende cerca de 627 mil fichas de trabalhadores do estado
que solicitaram a carteira de trabalho entre 1933 e 1968, sendo esse o único
conjunto desse material que se tem conhecimento no Brasil5.

Pesquisando por fichas de trabalhadores da indústria Renner no banco


de dados desse acervo, que atualmente compreende as fichas de 1933 e parte
das de 1944, percebeu-se que ela aparece como o estabelecimento mais
demandado, contando com cerca de 750 trabalhadores só na fábrica têxtil.
Logo se verificou que além de possibilitar uma reflexão em relação a busca
desses trabalhadores pelo documento profissional, o acervo possibilitaria traçar
e tecer um perfil dos trabalhadores da Renner e consequentemente
entendermos a organização do trabalho nesta fábrica.

A história de A.J. Renner foi biografada em dois momentos,


primeiramente em 19446 pelo jornalista Ernesto Pellanda em comemoração
aos 30 anos de funcionamento da Renner e novamente em 20137, ocasião em

4
A legislação social trabalhista e a carteira profissional serão discutidas na segunda parte do
capítulo 1.
5
O acervo da DRT-RS será abordado no primeiro subtítulo do capítulo 2.
6
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria. Porto Alegre: Livraria do Globo,
1944.
7
AXT, Gunter. BUENO, Eduardo. A.J Renner (1884-1966): Capitão das indústrias. Porto
Alegre: Editora Paiol, 2013.
12

que estava prestes a completar 100 anos da fábrica. As duas biografias nos
permitem entender a idealização e projeção da empresa, porém trazem um
caráter de valorização e exaltação ao trabalho do diretor e fundador do
empreendimento. Tais produções diferem da tese de Alexandre Fortes8que
escreveu um estudo historiográfico sobre os trabalhadores do quarto distrito
industrial de Porto Alegre, por conseguinte, da Renner, levantando questões
como a cultura, etnicidade e sociabilidade dos trabalhadores da região.

O acervo da DRT-RS serviu de fonte para diversas pesquisas, neste


momento citaremos os trabalhos à nível de graduação, como o de Kate
Schneider que em 2011 escreveu sobre as mulheres trabalhadoras de Porto
Alegre que solicitaram suas carteiras entre 1933 e 1941, o de Ângela Oliveira
que em 2014 trouxe um estudo sobre os trabalhadores negros no mercado de
trabalho Pelotense no período entre 1933-1942, a pesquisa de Biane Jaques
que em 2014 buscou pelos trabalhadores gráficos que solicitaram o
documento profissional entre 1933 e 1943, o trabalho de Gustavo Domingues
que em 2017 analisou as fichas dos trabalhadores mineiros que requereram o
documento no período de 1933 e 1943e por último em 2018 o trabalho de
Renan Alves que escreveu sobre os trabalhadores e o mercado de trabalho na
cidade de Pelotas de 1933 a 1943. Vê-se que cada um desses pesquisadores
apresentou questões diferentes a um grupo específico de trabalhadores. Assim
sendo, nota-se que pesquisar os trabalhadores da Renner no acervo da DRT-
RS contribui para a historiografia do Rio Grande do Sul, investigando uma
indústria que mesmo com sua relevância nacional ainda foi pouco investigada
pela historiografia e além disso, levanta novas questões e possibilidades para o
acervo, tendo como filtro base, como categoria de pesquisa, os trabalhadores
de um estabelecimento em específico, os trabalhadores da Renner.

Tendo os trabalhadores da indústria Renner que solicitaram suas


carteiras profissionais entre 1933-1943 como objeto de pesquisa percebeu-se a
essencialidade de se conhecer a história deste empreendimento têxtil, por
conseguinte entender como este estava inserido no processo de
industrialização do Rio Grande do Sul. Aliado a isso discutiremos as políticas

8
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas. Caxias do Sul: Educs; Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
13

trabalhistas do período e os discursos sobre o trabalho na Renner, que nos


permitiram vislumbrar de forma panorâmica o contexto em que esses operários
estavam inseridos no momento da solicitação do documento profissional.
Esses dois temas serão trabalhados no primeiro capítulo, que busca trazer um
estudo teórico e historiográfico. Já no segundo capítulo se apresentará o
acervo, refletindo sobre suas possibilidades e problemáticas, para em seguida
trazer uma análise sob os dados levantados, que nos permitiram refletir sobre a
organização do trabalho na Renner a partir da compreensão de quem eram os
operários e operários da Renner, construindo assim uma história social do
trabalho.
14

CAPÍTULO I: “As indústrias A.J. Renner devem orgulhar o Brasil inteiro. ”9

1.1 A indústria têxtil no Rio Grande do Sul e a A.J. Renner

A historiadora Maria Ferrarreto defendeu recentemente sua dissertação


intitulada “Sociedades nem tão anônimas: um estudo prosopográfico sobre a
elite empresarial de Rio Grande (1884-1913).”, na qual traz uma das mais
recentes revisões bibliográficas sobre o processo de industrialização nacional e
mais especificamente Rio-grandense. Ferraretto reitera que a discussão ainda
é controversa no meio acadêmico, que até então dedicou-se mais a entender e
conhecer quem iniciou a industrialização, do que necessariamente o
desenvolvimento do setor. Através da ampla revisão bibliográfica a autora
chega ao corolário de que a indústria brasileira teve início através de três
fatores que, mesmo distintos, andaram conjuntamente, sendo eles: as
condições econômicas e políticas favoráveis, o surgimento de uma nova elite
empresarial e urbana e a disponibilidade de mão de obra10.

A industrialização gaúcha teve um desenvolvimento peculiar, tendo em


vista que nas demais regiões do país os investimentos industriais vieram de um
acúmulo de capitais gerado pela exportação do café. Os trabalhos que se
debruçaram sobre o tema, dedicaram-se principalmente a entender a origem
do capital investido e quem seriam esses investidores industriais. Nesse
sentido, a historiografia sobre a industrialização rio-grandense toma, como
perspectiva geral, que a industrialização teria início na segunda metade do
século XIX, através do comércio colonial e urbano realizado por imigrantes, que
viram mercados para um artesanato produzido dentro das colônias, que
substituiria os produtos importados. Contudo, uma nova vertente
historiográfica, apresentada por Ferraretto, vem contrapondo essa ideia,
trazendo a industrialização como um processo de longa duração que teria
iniciado com a produção de manufaturados já no período colonial, visto que em

9
SEVERO, Clarindo. O inspetor do Ministério do Trabalho visitou, ontem, a Fabrica Renner-
Modelar Estabelecimento Industrial. Diário de Notícias. 09 de maio de 1936. Disponível em:
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Acesso em: 10 de outubro de 2018.
10
FERRARETTO, Maria Karina. Sociedades nem tão anônimas: um estudo prosopográfico
sobre a elite empresarial de Rio Grande (1884-1913). Dissertação (Mestrado em História) -
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2017, p. 24.
15

1809 Dom João VI coloca em vigor políticas para o incentivo à produção


industrial, isentando os impostos aduaneiros na importação de matérias-primas
e na exportação de manufaturados11.

Para essa pesquisa, não temos a intenção de discutir o início da


industrialização nacional e suas vertentes historiográficas, mas propõe-se
discutir o seu desenvolvimento no Rio Grande do Sul no século XX,
percebendo o lugar que a Renner ocupou neste contexto. Para esse fim,
entenderemos como industrialização um movimento de modernização e
urbanização, que abrange a inserção tecnológica, o emprego de mão de obra
assalariada, e por vezes especializada, e o ritmo industrial, fabril de trabalho e
produção, que levou a intensas mudanças sociais e econômicas12.

Há uma concordância entre os historiadores do processo13, que a


imigração, principalmente a alemã, teve papel primordial na industrialização rio-
grandense. Diferente daqueles imigrantes que ocuparam o restante do país
que substituíram a mão de obra nas lavouras de café, o imigrante no Rio
Grande do Sul, recebia um lote de terras onde desenvolveria a agricultura de
subsistência, o que acabava trazendo maior liberdade econômica para
investimentos e acúmulos de capitais. Esses imigrantes desenvolveram entre si
uma rede mercantil de produtos feitos através do aproveitamento de matérias-
primas que proviam da agricultura e pecuária, como o curtume, a banha e as
conservas, esses produtos vieram a substituir as importações estrangeiras,
abastecendo assim o mercado interno com artigos produzidos na própria
região14.

A historiadora Tatiana Bartmam busca em seu estudo historiográfico15


entender o posicionamento de diversos autores sobre a relevância do imigrante
no processo de industrialização do Rio Grande do Sul, salientando como cada

11
FERRARETTO, Maria Karina. Sociedades nem tão anônimas: um estudo prosopográfico
sobre a elite empresarial de Rio Grande (1884-1913), p. 21-22.
12
PESAVENTO, Sandra Jatary. História da Indústria Sul-Rio-Grandense, p. 17.
13
Além da Pesavento e Ferraretto referenciadas acima, podemos citar: LANGEMANN, Eugênio.
A Industrialização no Rio Grande do Sul (Um estudo Histórico). Porto Alegre: IEPE/UFRGS,
1978.ROCHE, Jean. A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1969.
14
COSTA, Achyles Barcelos da. Algumas características da industrialização gaúcha. Ensaios
FEE, Porto Alegre, v.10, n.1, p.24-46,1989.
15
BARTMAM, Tatiane. Industrialização e imigração no Rio Grande do Sul: Um estudo
historiográfico. Anais do XI Encontro Estadual de História da Anpuh: História, Patrimônio e
Memória. 2012.
16

um deles entende o início do processo. Além da importância das atividades,


coloniais tanto para a experiência nos negócios urbanos, como para o acúmulo
de capitais, é essencial notabilizar que o desenvolvimento da indústria deve
muito às políticas econômicas nacionais e estaduais. A industrialização
sobrevive do final do século XIX ao início da década de 1930 entre crises e
injeções cambiais16, somente na terceira década do século XX que a indústria
tornar-se-ia um empreendimento estável, ganhando espaço progressivo na
economia nacional por conta das impossibilidades de importação e exportação
que devido à crise que se instalará no fim da década de 1920 abriu espaço
para a economia industrial.

Conforme apontado por Heloisa Reichel17 o setor têxtil ocupa um lugar


de destaque na indústria rio-grandense, por conseguinte apresenta bom
desempenho na indústria nacional, fazendo do Rio Grande do Sul, em 1907, o
terceiro maior polo industrial do Brasil, no que tange o número de
estabelecimentos, capital empregado, mão de obra e valor de produção. Foi a
partir da indústria têxtil que o Rio Grande do Sul consolidou suas bases
industriais, tornando esses os maiores empreendimentos fabris do estado. A
fábrica Rheingantz18, fundada em 1873 no município de Rio Grande é a
primeira na fabricação de lã no Brasil e o empreendimento de maior destaque
no estado.
No caso das indústrias têxteis, entretanto, a existência de
capitais também era importante, já que este era o ramo que
exigia maior assimilação de tecnologia moderna. O Rio Grande
do Sul, dentre os Estados brasileiros, foi um dos que
apresentou estes fatores em bom nível de desenvolvimento,
sendo que, na sua origem, se encontram vinculados a uma
produção agrícola diversificada e a um comércio que se
desenvolvia no interior do Estado e no mercado nacional19.
Contudo, nem todas as indústrias têxteis funcionavam da mesma
maneira e desenvolviam-se no mesmo movimento. Diferente da maioria dos

16
REICHEL, Heloisa. A indústria têxtil do Rio Grande do Sul- 1910/1930.
17
REICHEL, Heloisa. A indústria têxtil do Rio Grande do Sul- 1910/1930, p.13.
18
Sobre Rheingantz ver: PAULISTSCH, Vivian da Silva. Rheingantz: Uma vila operária em Rio
Grande -RS. Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Estadual de Campinas, 2003.FERREIRA, M. L. M. Os três apitos: memória
coletiva e memória pública, Fábrica Rheingantz, Rio Grande, RS, 1950-1970. Tese (Doutorado
em História) –Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.
19
REICHEL, Heloisa. A indústria têxtil do Rio Grande do Sul- 1910/1930, p. 22-23.
17

ramos da indústria gaúcha que na primeira década do século XX caracterizou-


se pelo mercado interno, Heloisa Reichel20 nos evidencia que a indústria de
tecelagem e fiação foi uma exceção, exportando grandes quantidades para
outros estados do Brasil e para países vizinhos. Aquelas cidades que estavam
vinculadas aos centros de exportação, comercialização e produção como
Pelotas e Rio Grande, produziam principalmente para a exportação e
importavam sua matéria prima atendendo uma clientela nacional que preferira
investir na produção de peças em algodão e brim21. Enquanto isso, as
indústrias localizadas na zona colonial e na capital, investiram no mercado
interno e na produção de produtos com matérias primas do próprio estado,
estabelecendo indústrias menores22. Os dois modelos de empreendimentos
enfrentaram problemas, enquanto o primeiro sofria com a concorrência dos
produtos do Sudeste brasileiro e também com os custos da importação de
matérias primas, o segundo tinha problemas em relação ao capital que era
gerado exclusivamente no comércio interno levando a difícil acumulação e,
portanto, ao baixo desenvolvimento.

Foi nesse contexto que em 1911 um grupo de empresários23 da região


do Caí dedicados ao transporte fluvial e pequenos empreendimentos industriais
e comerciais, afetados pelo alongamento da estrada de ferro na primeira
década do século e a perda de mercados para produtos metropolitanos,
passou a investir em novas regiões e negócios, entre eles em um investimento
conjunto, uma tecelagem, inicialmente chamada Frederico Engel & Cia24. A
ideia inicial parecia promissora, porém dentro de um ano os teares de madeira
instalados em um galpão e as técnicas empregadas não se mostraram eficazes
para o desenvolvimento da fábrica, nisso diversos sócios acabaram retirando-
se do negócio, inclusive o titular, tornando necessária uma decisão sobre o

20
REICHEL, Heloisa. A indústria têxtil do Rio Grande do Sul- 1910/1930, p. 33.
21
Entre essas podemos citar a Rheingantz, que em 1891 passou a se chamar Companhia
União Fabril e Pastoril e a também de Rio Grande, Companhia de Tecelagem Ítalo- Brasileira
fundada em 1906 e a Companhia Fiação e Tecidos Pelotense fundada em 1910 no município
de Pelotas (REICHEL, 1978).
22
Entre essas podemos citar principalmente a Companhia Fiação e Tecidos Porto-Alegrense e
a Companhia Fabril Porto-Alegrense, ambas fundadas em 1891.
23
Entre eles: Cristian Trein, Frederico Mentz, Adolfo e Carlos Oderich, Frederico Engel,
Reinaldo Selbach, João Elias Nabinger, F.J. Michaelsen, Felipe Ritter, A.J. Renner, Frederico
Mueller e Rudolf Kallembach. AXT, Gunter;BUENO, Eduardo. A.J Renner (1884-1966): Capitão
das indústrias. Porto Alegre: Editora Paiol, 2013, p.40.
24
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria.
18

futuro da pequena fábrica, assim foi nomeado A.J. Renner para dirigir o
negócio que receberia investimento financeiro para adquirir um maquinário
mais moderno.
A.J. Renner tinha depositado ali suas esperanças e economias.
Por isso na reunião dos acionistas que decidiria o futuro da
tecelagem, propôs seu nome para direção. Interpelado por
Frederico Mentz, admitiu desconhecer os detalhes da
fabricação de tecidos, mas prometeu vencer os desafios se
merecesse confiança dos sócios. Renner tinha aprovação de
Mentz, pois chegará a ocupar um cargo de gerencia na
Christian J. Trein & Cia, sob os auspícios daquele. Nascia
assim, em 2 de fevereiro de 1912, a A.J. Renner e Cia25.

A trajetória de A.J. Renner26esteve intrinsecamente ligada à indústria


que leva seu nome e aos demais empreendimentos da família Renner. Neto da
primeira leva de imigrantes alemães, Anton Jacob Renner nasceu na região de
Santa Catarina no município de Feliz-RS, em 7 de maio de 1884 e foi batizado
com o nome do seu pai, Jacob Renner, um conhecido construtor de moinhos
que mais tarde fundou uma padaria e uma refinaria de banha. Seu avô
dedicava-se ao cultivo da terra, mas também estava envolvido em pequenos
empreendimentos industriais e com compra e venda de máquinas de costuras.
A família Renner, desde seu assentamento na região do Caí, demonstrou
atração pelos centros populosos e pelos trabalhos não ligados ao campo,
diferente da maioria dos imigrantes que se dedicaram exclusivamente para a
agricultura, a família buscou seu lugar no comércio e na indústria27.
Durante o tempo que trabalhou como caixeiro, Renner se incomodava
com a vestimenta ineficiente do viajante, o pala28, que além de não proteger o
cavalo e as mercadorias, absorvia água com facilidade. A partir da constatação
dessa dificuldade da vestimenta, ele idealizou um tecido impermeável afim de
criar uma capa, com corte redondo de abotoar na frente, que trouxesse para o
viajante, e também para o trabalhador rural, maior conforto. Após os 2 anos de
estudo e de experiências, A.J. Renner notou que “Fazer o que os outros
faziam, pôr no mercado apenas uma nova marca de tecidos seria tão só entrar

25
AXT, Gunter; BUENO, Eduardo. A.J Renner (1884-1966): Capitão das indústrias, p.45.
26
A trajetória de A.J. Renner foi biografada por (AXT; BUENO, 2014) e (PELLANDA, 1944).
27
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria, p. 14.
28
Vestimenta típica usada pelos caixeiros viajantes. Feita de lã ou com franja nas pontas a
peça é um quadrilátero com um corte no centro para pôr a cabeça.
19

em concorrência com fabricantes decerto melhor aparelhado”29e que para


ganhar seu lugar deveria lançar algo útil e original, nisso surgiu a Capa Ideal30
Pensando no transporte de matérias primas e no mercado consumidor
A.J. propõe aos investidores que mudassem a fiação para a capital do estado,
Porto Alegre, e assim é adquirido o terreno do antigo prado, no bairro
Navegantes que vinha se constituindo em uma zona industrial, recebendo
pequenas fábricas de imigrantes coloniais e trabalhadores interessados nas
atividades urbanas e fabris31.Durante dois anos Anton Renner dividiu-se entre a
capital e São Sebastião do Caí, enquanto na primeira cidade a matéria prima
passava pelo processo de fiação, na segunda o fio era tecido e a peça
confeccionada, voltando a Porto Alegre para o comércio. Com o sucesso da
Capa Ideal e o crescimento progressivo da fábrica, em 1916 viu-se a
necessidade de unir todos os processos de fabricação em uma mesma
localidade e assim foram adquiridos outros terrenos no Bairro Navegantes.
É, portanto, a localização dessa área, no encontro das vias que
ligavam Porto Alegre ao restante do estado e do País
(inicialmente o rio Guaíba, posteriormente as estradas de
rodagem e de ferro que davam acesso as colônias do interior e
finalmente o campo de pouso aéreo), que explica, tanto as
origens do bairro Navegantes/São João quanto o fato dessa
região vir a ter concentrado o crescimento acelerado da
indústria e da população da cidade, o que viria a se acentuar a
partir da terceira década do século XX32.

Porto Alegre, nos primeiros 40 anos do século XX, cresceu em ritmo


acelerado e isso se deve, especialmente, ao processo de industrialização que
passava o Bairro Navegantes. Alexandre Fortes, ao trabalhar o crescimento do
bairro33, associa este a instalação e desenvolvimento da indústria de A.J.
Renner, fazendo com que a história do bairro Navegantes estivesse
intrinsecamente ligada ao sucesso da Renner.

29
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria, p. 26.
30
A capa ideal foi confeccionada com tecido de alta impermeabilidade, possuindo abertura
lateral para os braços e botões na frente. A capa era quente e confortável, por conta disso foi
integrada ao vestuário dos soltados gaúchos nas revoluções de 1923, 1930 e 1932.
31
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas.
32
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas, p. 36.
33
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas, p. 32-33.
20

Heloisa Reichel, ao trabalhar a situação da indústria têxtil no período da


Primeira Guerra Mundial (1914-1918)34, percebe que ocorreu um aumento no
consumo do algodão nacional, pois na medida que a importação de produtos
estrangeiros ficou difícil, não ocorreu uma queda no número de exportações,
fazendo com que a demanda de produtos brasileiros aumentasse em solo
nacional e não diminuísse no exterior. As indústrias nacionais que receberam
investimentos financeiros antes do período de guerra conseguiram aumentar o
número de produção, sem grandes alterações em suas capacidades
produtivas, gerando um acúmulo de capitais.
Ao tempo que o número de empreendimentos têxteis crescia em Porto
Alegre, nos centros exportadores de Rio Grande e de Pelotas a quantidade de
fábricas permanecia a mesma. Sendo assim, o setor passou a ser mais notável
no mercado interno, fazendo que mesmo com o crescimento da demanda
regional, a participação do Rio Grande do Sul na economia nacional
decrescesse tendo em vista o ritmo acelerado que a indústria do Sudeste
alcançou nesse contexto35.
Ao fim do período de guerra, a indústria têxtil gaúcha continuava a
liderar o processo de industrialização do estado. O conflito trouxe expressiva
demanda de produtos, o que ocasionou, consequentemente, lucro as fábricas,
no entanto verificou-se a regionalização do setor, que perdeu espaço no
mercado nacional e ganhou no mercado estadual36. Foi nessa conjuntura que
as capas da Renner atingiram demasiado sucesso, provocando uma
multiplicação do valor das suas vendas em quinze vezes, no período de 1914 a
191937.
No ano de 1921, a Renner produzia três modelos de capas que tinham
excelente demanda de consumo. Entretanto, preocupado com a saturação do
mercado, em 1922, Renner começa a diversificar sua produção têxtil, iniciando
com modelos de ternos, que se estenderiam para confecção de tailleur38, peças
de malhas, seda e calçados, o que acabou por exigir novas técnicas e

34
REICHEL, Heloisa. A indústria têxtil do Rio Grande do Sul- 1910/1930, p. 46.
35
São Paulo foi o estado mais favorecido, tendo em vista a maior capacidade de acumulação
de capitais causada pela política de valorização do café.
36
REICHEL, Heloisa. A indústria têxtil do Rio Grande do Sul- 1910/1930, p. 65.
37
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas. Caxias do Sul: Educs; Rio de Janeiro: Garamond, 2004, p. 181.
38
Conjunto feminino de saia e paletó.
21

equipamentos. Neste mesmo ano é inaugurada a primeira loja na Rua Doutor


Flores, no centro de Porto Alegre, e uma rede de revendedores em todo o país,
que trazia um novo conceito para o mercado, a roupa de prova, que já vinha
pronta e permitia o ajuste no próprio local de compra. A partir disso A.J. Renner
investiu em outros negócios, como na cultura de linho, tornando a Renner
responsável por todo processo de sua produção, desde a seleção das
sementes para o cultivo do linho até o último procedimento de confecção de
suas peças e essa organização vertical fez da Renner um empreendimento
único39.
Assim podemos perceber que na década de 1920 a Renner foi marcada
por investimentos qualitativos e de capacidade produtiva, modernizando seus
prédios, inserindo novas técnicas, tecidos e voltando suas atividades para
novas peças que poderiam ser vendidas nacionalmente. Isto fez deste
empreendimento uma exceção no estado, considerando que a maior parte das
indústrias têxteis enfrentou problemas com a estagnação de mercado que se
iniciava em 1926 e pela saturação do mercado de lãs40.
Entre 1930 e 1940 o setor industrial cresce consideravelmente, enquanto
a agricultura acabou por estagnar-se, diante disso a economia brasileira passa
por uma reorganização e a indústria torna-se o setor mais dinâmico no
desenvolvimento capitalista. Durante a década de 1930 além de ampliar a
produção importando novos maquinários, a Renner diversifica ainda mais sua
produção, investindo em empresas subsidiárias, como uma fábrica de sabões,
uma fábrica de tintas e óleos, outra de latas, uma de máquinas de costura e
mais tarde uma fábrica de porcelanas41. Anton Renner construiria, juntamente
com sua família, um conglomerado industrial de importância significativa para o
desenvolvimento econômico regional e nacional.
A Renner, originária do circuito de comercialização entre as
colônias e capital, consolidar-se-ia em torno de 1930, como
principal grupo empresarial estadual e uma das maiores
empresas do ramo do vestuário na América Latina. A empresa
teve um papel absolutamente central na redefinição dos perfis
da indústria e da classe operária de Porto Alegre na primeira
metade do século (FORTES, 2004, p. 178).

39
AXT, Gunter. BUENO, Eduardo. A.J Renner (1884-1966): Capitão das indústrias.
40
REICHEL, Heloisa. A indústria têxtil do Rio Grande do Sul- 1910/1930, p. 79
41
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria, p. 26.
22

Analisando apenas sua indústria principal, a de têxtil e confecções, em


1930 a Renner empregava cerca de 600 funcionários e em 1953 chegaria a
2.50042, mostrando contínuo e intenso crescimento. A presença de mão de
obra considerável tornava a fábrica uma das maiores empregadoras do Rio
Grande do Sul, fazendo com que seja pertinente um estudo sobre as políticas
que circundavam esses trabalhadores e como se constituiria esse grupo.

1.2 A legislação trabalhista na Era Vargas e o trabalho na Renner.

No dia 09 de maio de 1936 o jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre,


publicará um texto que tratava da visita do inspetor do Ministério do Trabalho
Clarindo Severo, à Fábrica Renner, apontada pela matéria como um dos mais
importantes estabelecimentos industriais. A redação atribui a Renner aquilo
que há de mais moderno no que tange a administração e usos tecnológicos,
valorizando os produtos e os processos de produção, relatando a conquista de
mercados consumidores em todo país, mencionando as peculiaridades da
fábrica, igualando-a aos empreendimentos estrangeiros.

Nesta mesma matéria Anton Jacob Renner é referenciado por não


poupar esforços para o bem-estar de seus empregados, salientando que esses
“têm todas as regalias que a classe poderia almejar”43. Deste mesmo modo o
empreendedor A.J. Renner é descrito em suas duas biografias, ele teria
revolucionado o conceito da relação entre capital, trabalho e Estado44, pois
haveria posto em prática uma série de ações que regulavam o trabalho,
oferecendo ótimas condições para o operariado, antes mesmo de instituída a
legislação social do país, da qual foi um dos colaboradores quando em 1930,
na condição de presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul,

42
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas.
43
SEVERO, Clarindo. O inspetor do Ministério do Trabalho visitou, ontem, a Fabrica Renner-
Modelar Estabelecimento Industrial. Diário de Notícias. 09 de maio de 1936. Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional.
44
AXT, Gunter. BUENO, Eduardo. A.J Renner (1884-1966): Capitão das indústrias, p. 75.
23

foi convidado para contribuir na elaboração de uma legislação trabalhista


brasileira45.

Durante o governo provisório de Getúlio Vargas (1930-1934), várias


medidas que visavam regular as relações trabalhistas foram instauradas, essas
seriam ainda mais legitimadas em 1937, com o advento do Estado Novo. Em
1931 Vargas criará o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio que logo
mais se encarregará pelas Comissões Mistas de Conciliação e Julgamento,
encarregada pelos dissídios coletivos entre empregados e empregador e pelas
Juntas de Conciliação e Julgamento, responsáveis pelos dissídios individuais,
ambas que mais tarde viriam a ser substituídas pela Justiça do Trabalho46. A
carteira profissional foi instituída por meio de um decreto-lei em 1932, nesse
mesmo contexto emergia outros decretos que buscavam regular a jornada de
trabalho de diferentes categorias e coibir os abusos do trabalho feminino e
infantil47.

A posse interina de Getúlio Vargas na presidência em 1930 mudou os


rumos da política brasileira. Até então a política social não tinha sido uma
preocupação dos governantes, contudo durante a Primeira República a classe
trabalhadora esteve em constante luta pela regulamentação do mercado de
trabalho e pela conquista de direitos48, Vargas percebendo as pressões
ideológicas e a agitação dos operários nas reivindicações, reconheceu o social
como uma responsabilidade política e utilizou-se disso para criação e
institucionalização da legislação social, que através do projeto trabalhista
conquistaria a adesão das massas, em uma espécie de pacto que trocava
benefícios legislativos por obediência ao regime49.

Como a história trabalhista de nosso país se dividia em dois


tempos básicos- antes e depois de 1930 -, todas as

45
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria.
46
GOMES, Ângela de Castro; SILVA, Fernando Teixeira. Os direitos sociais e humanos dos
trabalhadores no Brasil: A título de apresentação. A Justiça do trabalho e sua história.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013, p. 12-45.
47
LONER, Beatriz Ana. Um perfil do trabalhador gaúcho na década de 30. In: Encontro
Estadual de História da Anpuh- RS, 9., 2008, Porto Alegre: Anais... Porto Alegre: Anpuh-RS;
UFRGS, p. 1-18.
48
Como exemplo de luta e organização dos trabalhadores, no final do século XIX e a partir do
início do século XX, ver: LONER, Beatriz Ana. Construção de Classe: operários de Pelotas e
Rio Grande (1888-1930). Pelotas: Ed. Universitária: Unitrabalho, 2001.
49
GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1988,
p.162.
24

providências tomadas desde a revolução envolvendo a


resolução da questão social eram atribuídas diretamente a
Vargas. Era dele que todas as instruções emanavam, era ele o
inspirador e o executor de toda a legislação elaborada50.
O alicerce da política trabalhista estava na valorização do trabalho, para
isso criou-se mecanismos que visavam reconhecer e enaltecer o trabalhador. O
rádio surge então como uma dessas ferramentas, através dele Alexandre
Marcondes Filho, ministro do trabalho desde 1941, e o próprio Getúlio Vargas,
em uma linguagem simples e acessível, levavam suas vozes e ideias para
dentro do ambiente operário, num intuito não só de veicular a legislação social,
atribuindo as conquistas ao governo vigente, mas também de construir uma
aproximação entre o povo e a autoridade política.

Assim como o rádio, o calendário festivo surgiu como uma forma de


aproximar o trabalhador do regime e da autoridade. O 1° de maio passou a ser
uma data esperada, pois era o momento que o presidente se reuniria para
festejar com o operariado, presenteando-os com mais uma iniciativa no campo
social. Além desse, o aniversário de Vargas e o aniversário do Estado Novo
eram datas significativas na comunicação entre o governante e a massa de
trabalhadores, auxiliando na propaganda trabalhista51.

O sentido principal e o núcleo da proposta de renovação e


humanização do Estado encontravam-se ligados a um esforço
consciente de atribuição de um valor positivo e intrínseco ao
trabalho. Ele deveria deixar de ser visto como um castigo ou
como um simples instrumento para atingir objetivos que se
definiam fora de seu universo. O trabalho deverá ser encarado
como uma atividade central na vida do homem e não como um
meio de “ganhar a vida”. Isto implicava que o homem
assumisse plenamente sua personalidade de trabalhador, pois
ela era central para a sua realização como pessoa e sua
relação com o Estado52.
Paternalismo, populismo e trabalhismo são conceitos intimamente
atrelados e essenciais para a compreensão da política do período Vargas e
para entendermos as lutas e conquistas da classe operária no Brasil. Durante
décadas estes conceitos foram relacionados a ideia de manipulação, trazendo
ainda hoje para o imaginário social a noção de submissão das massas, da
passividade do povo, do trabalhador perante aos sistemas políticos e aos

50
GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo, p. 204.
51
GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo, p. 201.
52
GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo, p. 185.
25

líderes carismáticos. Entretanto, a historiografia já nos mostra que esses


conceitos são rasos perante as relações existentes, sem perceber as
subjetividades de cada grupo, onde a ideia de manipulação de um grupo ativo
sob um passivo, já não é mais possível de ser pensada. Os trabalhadores
utilizavam das relações para benefício próprio, num sistema de dom e contra
dom, não sendo uma massa apática, derrotada e inativa politicamente, mas
uma massa presente, ativa e que através das relações conquistava aquilo que
era desejado. Portanto, o eleitorado estava atento as políticas partidárias, as
suas mudanças e participava ativamente nessas dinâmicas53.

Para que o projeto trabalhista tivesse êxito era necessário que se


conquistasse o operariado, nisso o populismo e paternalismo que, enquanto
sistema político prevê um líder carismático, que busca através do estreitamento
dos laços com a população, da aproximação das comunidades, da propaganda
e do assistencialismo, criar uma identificação com símbolos do povo,
construindo uma rede de contatos que disseminam suas ideias e seu nome.
Esses líderes levantavam a questão das desigualdades, buscando assim
representar a política do povo, criando todo um imaginário social de
honestidade e autoridade moral, afirmando a ideia de um político salvador dos
trabalhadores, dos pobres, tomando para si o ideal de justiceiro.

A.J. Renner, assim como Vargas, utilizou de mecanismos para se


aproximar de seu operariado. O Boletim Renner54 de tiragem mensal e
circulação interna, produzido pela diretoria da fábrica no período de 1945-1964,
além de divulgar os eventos e competições desportivas atreladas à indústria,
vinculavam matérias sobre comportamento, etiqueta, saúde, moda e política.
Nos textos A.J Renner dirigia-se diretamente a seus operários e a quem mais
pudesse lê-los, falava sobre sua vida profissional, pessoal, comentava casos
políticos e sociais, sempre trazendo sua opinião. A partir de 1964 a Renner
passa a financiar um importante noticiário na Rádio Guaíba, que passaria a se
chamar Correspondente Renner.

53
NEGRO, Antônio Luigi. Paternalismo, populismo e história social. Cadernos AEL, v.11, n.
20/21, 2014, p. 11-38.
54
O Núcleo de Pesquisa Histórica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul resguarda
exemplares dos boletins Renner do período de 1949-1947.
26

A legislação social e a política trabalhista funcionaram em uma dinâmica


de trocas entre Estado e povo, predispunha-se que o merecedor de direitos
seria aquele que poderia em troca disto oferecer seu trabalho, sua obediência,
na “lógica de quem tem oficio, tem benefício”55, de que a moral e a dignidade
só seriam alcançadas através do trabalho. Nesse sentido o cidadão, digno dos
benefícios e direitos concedidos pelo Estado, pelo governante, é aquele que
produz riquezas, ou seja, aquele que trabalha, portanto, que tem a carteira
profissional.

O povo tinha o direito de receber, e, portanto, o dever de


retribuir. Ao contrário, ele não tinha o direito de não receber,
pois isso significaria não ter o dever de retribuir. Daí porque
não retribuir – não pertencer, não trabalhar – era crime. Era o
reverso da cidadania. Era estar fora, recusando o vínculo, a
aliança56.
A carteira profissional, além de um documento de notável importância na
constituição e conquista dos direitos sociais do operariado, foi um documento
que na conjuntura de valorização do trabalho era sinônimo de cidadania.
Instituída pelo decreto nº 21.175, de 21 de março de 1932 e regulamentada
pelo decreto nº 22.035, de 29 de outubro de 1933, que assegurava o
documento para “pessoas maiores de 16 anos de idade, sem distinção de
sexo, que exerçam emprego ou prestem serviços remunerados”57. Inicialmente
o documento não era de caráter obrigatório, mas logo foi exigido a todos
aqueles que buscassem proteção nas relações trabalhistas, ou seja, apenas
aqueles que possuíssem o documento poderiam recorrer ao Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio, logo, “a carteira assinada se tornou a aspiração
de todo o trabalhador urbano, pois representava a garantia de direitos, como
estabilidade, salário regular, aposentadoria e inclusão em serviços
previdenciários58”.

No documento profissional estão assinaladas as características pessoais


e profissionais do indivíduo, nele temos um traçado sobre a vida do

55
GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo, p. 159.
56
GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo, p. 216.
57
DECRETO nº 22.035, de 29 de outubro de 1932. Disponível em: <
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-22035-29-outubro-1932-526776-
publicacaooriginal-1-pe.html> Acesso em: 31 de novembro de 2018.
58
LONER, Beatriz Ana. Um perfil do trabalhador gaúcho na década de 30. In: Encontro Estadual
de História da Anpuh- RS, 9., 2008, Porto Alegre: Anais... Porto Alegre: Anpuh-RS; UFRGS, p.
1-18.
27

trabalhador. Assim como nos confirma o texto do Ministro Marcondes Filho,


veiculado nas carteiras profissionais emitidas pelo governo, o documento oficial
mantém uma dupla função social, uma que resguarda os direitos dos
trabalhadores e outra que serve para comunicar o empregador sobre quem é
aquele trabalhador, onde já trabalhou e o tempo que esteve fixado em cada
local, refletindo assim uma possível índole do operário. O documento então
materializava a relação trabalhista, que envolvia o trabalhador, o Estado, os
sindicatos e os empregadores.

Por menos que pareça e por mais trabalho que dê ao


interessado, a carteira profissional é um documento
indispensável à proteção ao trabalhador.
Elemento de qualificação civil e de habilitação profissional, a
carteira representa também título obrigatório para a colocação,
para a inscrição sindical e, ainda, um instrumento prático do
contrato individual de trabalho.
A carteira, pelos lançamentos que recebe, configura a história
de uma vida. Quem a examinar, logo verá se o portador é um
temperamento adequado ou versátil; se ama a profissão
escolhida ou ainda não encontrou a própria vocação; se andou
de fábrica em fábrica, como uma abelha, ou permaneceu no
mesmo estabelecimento, subindo a escala profissional. Pode
ser um padrão de honra. Pode ser uma advertência59.
Nos primeiros anos de sua instalação no Bairro Navegantes os operários
da Renner já trabalhavam no regime de 8 horas, que era uma antiga
reivindicação da classe operária e que seria instituída no país apenas duas
décadas depois. A Renner teria sido à frente do seu tempo, ofertando direitos
para seus trabalhadores que só seriam legislados anos depois. O
assistencialismo social virou uma marca da Renner que possuía creches para
que as mulheres pudessem trabalhar, assistência médica e odontológica para o
trabalhador e sua família, amplo, moderno e acolhedores refeitórios e
vestiários, classes de cursos supletivos para que a operariado pudesse se
alfabetizar e adquirir os conhecimentos básicos e uma sessão bancária que
concebia créditos para aquisição de casa própria e bens moveis aos
trabalhadores. O lazer dos operários foi um dos investimentos da fábrica, que
contava com bibliotecas, grupos musicais, equipes de xadrez, tênis, voleibol e

59
ACERVO DA DELEGACIA REGIONAL DO TRABALHO DO RIO GRANDE DO SUL. Carteira
Profissional. 1946 (sem numeração/identificação). Núcleo de Documentação Histórica da
Universidade Federal de Pelotas.
28

futebol, essa última formava o Grêmio Esportivo Renner60, campeão do


campeonato gaúcho de futebol de 1954, indicando a importância sociocultural
do empreendimento Renner.

Podemos perceber que a Renner se utilizava de uma política


paternalista com seus funcionários, baseando-se nos princípios trabalhistas de
Vargas, a Renner conquistava a fidelidade de seu operariado. Na enchente que
abalou o bairro Navegantes em 1941 e no surto de ataques a
empreendimentos de origem alemã em 194261, os operários da Renner
revisaram turnos para proteger o estabelecimento, fosse da fúria da natureza
ou da humana.

Durante muito tempo, as indústrias Renner se constituíram


numa fortaleza inexpugnável, impenetrável pelo movimento
operário organizado, fosse pela eficácia da sua política social e
salarial, pelo trabalho doutrinário que desenvolvia por meio das
suas publicações, fosse pelo rigor do seu sistema de vigilância
e repressão62.
A Renner funciona então por meio de um sistema de troca de benefícios,
os trabalhadores que trabalhavam com excelência eram melhores
remunerados e aqueles que se aproveitando dos benefícios do
estabelecimento sentiam-se obrigados a recompensar com bom trabalho,
gratidão e disponibilidade. Por meio da política paternalista da Renner
podemos pensar na construção de uma identidade comum a esse operariado,
onde a cultura, o lazer e o trabalho são entrelaçados em um só espaço63, mas
para isso primeiramente precisamos saber quem eram os trabalhadores da
Renner.

60
STÉDILE, Miguel. Da fábrica a várzea: Clubes de futebol operário em Porto Alegre.
Dissertação (Mestrado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
61
Após a entrada do Brasil na II Guerra Mundial ao lado dos Aliados e o afundamento de um
navio brasileiro por um submarino alemão na noite do dia 18 de agosto de 1942, protestos
tomaram as ruas brasileiras e acabaram por depredar estabelecimentos teuto-brasileiros.
62
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas, p. 213.
63
O paternalismo Renner e a questão da cultura e identidade de classe do operariado Renner
não serão aprofundados nesse trabalho.
29

CAPÍTULO II: “Cada casaco passa pelas mãos de mais de 60 operários”64.

2.1 O Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul.


O acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul
(DRT-RS) é constituído por cerca de 627 mil fichas de qualificação profissional,
distribuídas em 12.736 livros, que abrangem o período de 1933-1968, além de
documentos diversos como carteiras profissionais, atestado de reservista, folha
de digitais e comprovantes de residência. Essas fichas, formulários, que
serviram de base para feitura da carteira profissional, eram preenchidas no ato
da solicitação do documento com os dados antropométricos (cor da pele, olhos,
cabelo, altura e sinais particulares) e antropológicos (filiação, naturalidade, data
de nascimento, estado civil, endereço e dados profissionais), junto a ela era
registrado as digitais e anexado uma fotografia 3x4 do trabalhador.

Em 1933 foram instaladas nas capitais Inspetorias Regionais,


subordinadas ao Ministério do Trabalho e que em 1940 viriam a se chamar
Delegacias Regionais. Durante a primeira década as outras regiões do Estado
dependiam da visita de um funcionário da Inspetoria para solicitar seu
documento profissional, este viajava pelos municípios e distritos do estado,
onde normalmente junto a sindicatos ou grandes empresas colhia os dados dos
trabalhadores. Apenas em 1945 o primeiro Posto de Atendimento e
Identificação foi criado em Passo Fundo e em 1948 em Pelotas, tornando
assim o requerimento mais acessível e consequentemente levando a uma
demanda maior65.

64
SEVERO, Clarindo. O inspetor do Ministério do Trabalho visitou, ontem, a Fabrica Renner-
Modelar Estabelecimento Industrial. Diário de Notícias. 09 de maio de 1936. Disponível em:
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Acesso em: 10 de outubro de 2018.
65
LONER, Beatriz Ana. Um perfil do trabalhador gaúcho na década de 30. In: Encontro Estadual
de História da Anpuh- RS, 9., 2008, Porto Alegre: Anais... Porto Alegre: Anpuh-RS; UFRGS, p.
1-18.
30

Figura 1- Ficha de qualificação profissional número 04751 da alemã Gerda Henzel, fiandeira da
Renner. Fonte- Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do sul. 2018

Cabe ressaltar que o acervo da DRT-RS não engloba todas as


solicitações da carteira profissional lavradas no Rio Grande do Sul, mas sim
uma amostra desse universo. Speranza em uma pesquisa aos anuários do
IBGE constata que o número de carteiras requisitadas entre 1933 e 1945
chega a 221.51866, portanto o conjunto de fichas que encontramos no acervo,
47.100, representa apenas 21,26% do montante de trabalhadores que
demandaram o documento profissional nesse período.

O Acervo recebeu uma primeira atenção como arquivo permanente67no


Núcleo de Pesquisas Históricas da Universidade Federal Do Rio Grande do Sul
(NPH-UFGRS), onde o mesmo foi acondicionado em caixas arquivos de
papelão etiquetadas com a referência da documentação. Foi em 2001 que o

66
SPERANZA, Clarice. Branco, preto, pardo, moreno ou escuro? Classificações raciais nas
carteiras dos trabalhadores gaúchos (1933-1945). Tempos Históricos, v.21, 2017/1, p. 100-
124.
67
Entende-se como arquivo permanente aquele que já não exerce mais as atividades para qual
foram produzidos, mas são preservados e arranjados tendo como fim a pesquisa. BELLOTTO,
Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. Cap. 5 Arquivos
permanentes. 2 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
31

acervo foi incorporado ao Núcleo de Documentação Histórica da Universidade


Federal de Pelotas (NDH-UFPel) onde atualmente está salvaguardado.

O NDH-UFPel surgiu em 1990 com a intenção de ser um local de


resguarda dos documentos da instituição de ensino superior, entretanto com o
recebimento do acervo da DRT-RS e de parte do acervo da 4º Região da
Justiça do Trabalho do Rio Grande do Sul, que compreendem processos
trabalhistas da cidade de Pelotas e região, abrangendo do período de 1936-
1995, fez com que o NDH-UFPel mudasse de orientação e voltasse seus
estudos para a história do trabalho integrando posteriormente novos acervos
como o da Fábrica de Lãs Laneira Brasileira S/A que funcionou em Pelotas
entre 1949 e 200368.

Além destes três grandes acervos voltados para a história do trabalho do


Rio Grande do Sul, outros arquivos que tratam da vida política, acadêmica e
social da cidade estão tutelados pelo NDH-UFPel. Alguns já catalogados como
o Acervo do Diretório Central dos Estudantes da UFPel69 e outros em processo
de higienização e catalogação como a documentação do Grêmio Estudantil Da
Escola Técnica CEFET-RS, o acervo da própria UFPel composto por
documentos administrativos, fotografias e um conjunto de slides da instituição,
além de um arquivo formado por documentação de diversos sindicatos da
cidade de Pelotas e outro com documentações administrativas, gráficas e de
propaganda eleitoral de partidos políticos da região.

Em 2008 o acervo da DRT-RS recebeu investimentos70 para criação de


um banco de dados, a fim de facilitar as pesquisas acadêmicas e preservar a
documentação. O banco de dados possui 50 campos para digitação das
informações das fichas e torna possível que possamos cruzar informações
diferentes, fazendo levantamentos estatísticos.

68
GILL, Lorena. Loner, Beatriz Ana. O Núcleo de documentação histórica da UFPel e seus
acervos sobre questões do trabalho. Revista Esboços, Florianópolis, v.21, n.31, p. 109-123,
ago. 2014.
69
Para consulta ao acervo, ver: KLEIN, Ana Inês; ESPIG, Márcia Janete; XAVIER, Melissa.
Catálogo do acervo do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de
Pelotas. Pelotas: Editora da UFPel, 2014.
70
O financiamento veio do concurso “Memória do Trabalho”, com o apoio do Ministério do
Trabalho e Emprego e coordenado pela Fundação Getúlio Vargas – CPDOC. A construção do
banco de dados contou com o apoio de professores e alunos dos cursos de informática da
UFPel.
32

Figura 2- Acervo da Delegacia Regional do Trabalho. 2018.

Benito Schmidt em seu texto A produção historiográfica sobre a classe


operária no Rio Grande do Sul: Balanço parcial e algumas perspectivas71
aponta que a historiografia do trabalho no estado não acompanhou as
mudanças historiográficas da década de 1980, quando a influência dos
marxistas britânicos Erick Hobsbawm e E.P. Thompson transformou a
tendência ao estudo dos movimentos operários e de trabalhadores envolvidos
politicamente para um olhar sobre a classe operária.

[...]de um interesse prioritário pelas manifestações organizadas


e pelas ideias políticas formalizadas teria se passado para uma
ênfase na cultura, na vida quotidiana e nas visões de mundo
difusas e informais; mudança essa acompanhada por outro
deslocamento: da estrutura para a experiência, do movimento
operário para a classe operária, do militante para o trabalhador
comum72.
Até pouco tempo os documentos e materiais de pessoas comuns eram
esquecidos, abandonados e na maioria das vezes descartados, portanto para
escrever a história de trabalhadores comuns o historiador teve e deve construir
novas fontes e nesse quesito o NDH-UFPel tem conquistado terrenos com
seus acervos. Os arquivos disponíveis no núcleo emergem a história do

71
SCHMIDT, Benito (Org.). Novas questões de teoria e metodologia da história e
historiografia: Homenagem a Silvia Petersen. São Leopoldo: Oikos, 2011.
72
SCHMIDT, Benito (Org.). Novas questões de teoria e metodologia da história e
historiografia: Homenagem a Silvia Petersen, p. 152.
33

trabalhador comum e as fichas da DRT-RS através dos dados e da fotografia,


faz com que possamos conhecer minimamente um trabalhador que em muitos
dos casos não teve outro registro preservado possível de notar, conceber e
validar sua existência.

Nessa acepção é relevante o artigo História e Memória dos


Trabalhadores do Rio Grande do Sul: O acervo da Delegacia Regional do
Trabalho, 1933-194373, do atual coordenador do acervo Aristeu Lopes, que a
partir das fichas dos trabalhadores da Livraria do Globo que solicitaram o
documento profissional no mesmo dia do escritor Erico Verissimo, aborda o
acervo como um local de salvaguarda da memória de homens e mulheres
comuns. O autor tem se dedicado ao estudo das fotografias 3x4 anexadas as
fichas e através desse olhar escreveu um estudo sobre os trabalhadores com
sinais de varíola74 e recentemente juntamente com Mônica Schmidt abordou as
fotografias dos trabalhadores no Frigorifico Anglo de Pelotas75. Além dessas, o
acervo foi fonte para diversos artigos, monografias e trabalhos de conclusão de
graduação e especialização, o que fez deste um acervo considerado e
estimado no estudo de trabalhadores comuns, contribuindo significativamente
na construção da história do trabalho no Rio Grande do Sul.

Ao rememorar a história de gente comum, não estamos


meramente tentando conferir-lhe um significado político
retrospectivo que nem sempre teve; estamos tentando, mais
genericamente, explorar uma dimensão desconhecida do
passado. E isso leva aos problemas técnicos dessa
exploração76.
Ao citar os problemas técnicos acima, Hobsbawm, alertará não apenas
sobre a dificuldade de se obter conjuntos de fontes, mas também de métodos
de estudos para esses conjuntos. Além da história oral, os registros são
documentos recorrentes e pertinentes para o estudo das populações de baixo,
das pessoas comuns e ambas as fontes são dotadas de tecnicismos, exigindo
73
LOPES, Aristeu. História e Memória dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul: O acervo da
Delegacia Regional do Trabalho, 1933-1943. Revista Memória em Rede. Pelotas, v.5,
n.12,2015.
74
LOPES, Aristeu. Trabalhadores com sinais de varíola no acervo da Delegacia Regional do
Trabalho do Rio Grande do Sul, 1933-1944. História, ciência e saúde- Manguinhos. Rio de
Janeiro, v.23, n.4, out-dez, 2016, p. 1209-1227.
75
LOPES, Aristeu; SCHIMIDT, Mônica. Os trabalhadores no frigorifico Anglo em Pelotas no
acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul: História, memória e
fotografia. Tempos Históricos, v.22, 2018/1, p. 398-423.
76
HOBSBAWM, Erick. Sobre a história. São Paulo: Companhia das letras, 2011, p. 284.
34

um tratamento elaborado, mas que rende um número de informações


surpreendentes. A partir disso podemos pensar a DRT-RS como um acervo de
registros profissionais, que através de um longo processo de organização,
levantamento e análise de dados faz emergir histórias.

Sendo assim, para pesquisa nos dados se utilizará uma metodologia


serial- quantitativa. Enquanto a história serial prevê um tratamento comum a
um conjunto de documentos homogêneos, buscando um padrão recorrente e
variações ao longo de uma série, a história quantitativa se preocupa com os
números, fazendo com que a quantificação pressuponha a serialização. Os
dados levantados devem trazer perguntas ao pesquisador, construindo uma
história problema, pois a questão não está nos números em si, mas sim naquilo
que eles podem nos dizer sobre os homens77.

A falta de um padrão, tanto na digitação quanto dos próprios


funcionários que preenchiam as fichas, por vezes torna difícil o cruzamento de
dados no sistema. Ao pesquisar no banco de dados fichas que contém o nome
Renner no campo estabelecimento, encontramos 81 estabelecimentos.
Excluindo desses a Fábrica de latas, a fábrica de tintas, uma fábrica de
máquinas de costura, entre outras, encontradas respectivamente nas variações
de Renner Hermann Cia LTD, Renner Koepk e Cia LTD e Waldemar Renner,
temos 44 registros de estabelecimentos diferentes, que se referem a variações
de A.J Renner Cia LTD, de têxteis e de vestuário. Apenas dessa indústria
temos 752 trabalhadores registrados, o que faz com que esta apareça como a
mais demandada até o momento. Entretanto, a falta de algumas informações
nos campos e os diferentes nomes com os quais a indústria é encontrada, faz
com que alguns cruzamentos sejam impossíveis de serem feitos na totalidade
dos trabalhadores registrados.

Percebendo que somente pelo campo estabelecimento não


conseguimos chegar a um número de registros da Renner e que o campo
profissão auxilia para que possamos classificar algumas fichas dentro de uma
das fábricas do Grupo Renner, com objetivo de resolver o problema da falta de

BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. Rio de


77

Janeiro: Vozes, 2008.


35

uniformidade dos registros e também de ter um recorte menor de


trabalhadores, a pesquisa irá se centrar nas categorias de profissões ligadas
diretamente a produção e confecção têxtil com o mínimo de 10 registros,
excluindo então profissões neutras como servente e auxiliar de comércio e
profissões com menos de 10 registros como secador de lã, tintureiro, modista e
químico. Dentro dessa categoria de análiseencontramos8 profissões:
classificador de lã, lavador de lã, fiandeira/o, costureira/o, tecelã/o, sapateiro,
cerzideira e alfaiate, registrando um total de 382 fichas, ou seja, 382
trabalhadores.

2.2. Quem eram os trabalhadores da Renner?

Para pensarmos quem seriam os trabalhadores da Renner que


solicitaram suas carteiras entre 1933-1943 utilizaremos como filtros bases no
banco de dados do acervo da DRT-RS o campo “Data de solicitação da
carteira” preenchidos com depois de 01/01/1933 e antes de 01/01/1944, o
campo “Estabelecimento” assinalado com contém Renner e o campo
“Profissão” marcado com contém e digitado as primeiras letras da profissão o
que facilita a busca, tendo em vista que algumas estão registradas com grafias
diferentes.

Gráfico 1- Algumas das profissões dos trabalhadores da Renner. Fonte: Banco de dados da
DRT-RS.
36

No acervo da DRT-RS, as primeiras carteiras profissionais solicitadas


foram no dia 05 de junho de 1933, todas de funcionários do Banco do Brasil.
Neste mês as solicitações foram feitas majoritariamente por trabalhadores do
setor bancário e em agosto desse mesmo ano os trabalhadores da Renner
foram maioria no requerimento do documento. Nisso podemos perceber que no
primeiro ano de instalação da Inspetoria do Trabalho em Porto Alegre, os
trabalhadores, possivelmente, eram convocados por ramo e empresa a
comparecerem para solicitação do documento, portanto a ida até a Inspetoria
não era voluntária, mas organizada pela própria, juntamente com o auxílio dos
sindicatos e das fábricas.

Figura 3: Carimbo Renner (1933). Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio
Grande do Sul. 2018.

Figura 4: Carimbo do Sindicato dos operários em Fábricas de Tecidos (1933). Fonte: Acervo da
Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018.

Cada livro contém 50 fichas organizadas de forma numérica e em muitos


estão registrados trabalhadores de um mesmo estabelecimento ouramo,
indicando a ida de operários de uma mesma fábrica no mesmo dia.
Possivelmente os sindicatos determinavam uma data junto a empresa e essa
37

encaminhava os trabalhadores até a inspetoria. Em agosto apenas nos dias


18,19 e 20 são registrados 150 trabalhadores da Renner, divididos em 3 livros.
As solicitações da Renner neste ano foram feitas entre o mês de agosto e
setembro, registrando 145 funcionários da categoria de profissões desta
pesquisa.

Gráfico 2: Data de solicitação da carteira profissional dos trabalhadores da Renner. Fonte:


Banco de dados do acervo da DRT-RS. 2018.

O gráfico acima indica a quantidade de carteiras solicitadas por ano,


mostrando a disparidade do ano de 1933 para os posteriores, sinalizando que
no ano da instituição do documento a totalidade dos operários da Renner teria
feito a solicitação e que nos anos seguintes apenas os novos trabalhadores
teriam se dirigido a Inspetoria Regional do Trabalho. Esses últimos em dias
distintos e em sua maioria individualmente, diferente do ocorrido em 1933 onde
diversos trabalhadores teriam solicitado em um mesmo momento. Já no ano de
1943 não temos nenhuma ficha registrada.

O Rio Grande do Sul apresenta uma tendência muito mais de


estabilização do que de crescimento da emissão das carteiras,
que permanece na faixa entre 15 mil e 20 mil, com altas mais
expressivas em 1935, 1939 e 1940, e quedas acentuadas em
1936 e, especialmente, 1943. Há, por certo, uma queda em
1934 em relação a 1933, mas ela não é expressiva, e em 1935,
o número de carteiras emitidas volta a crescer78.

78
SPERANZA, Clarice. Branco, preto, pardo, moreno ou escuro? Classificações raciais nas
carteiras dos trabalhadores gaúchos (1933-1945). Tempos Históricos, v.21, 2017/1, p. 112.
38

A partir de dados do censo de 1953, Alexandre Fortes revela um


aumento do operariado Renner, que neste ano empregava 2.500 trabalhadores
só na sua indústria principal, a de têxteis e vestuário, entretanto no acervo não
percebemos grande progressão no número de operários da fábrica. Entre o
período de 1934-1943 é provável que outros operários iniciaram seus trabalhos
na indústria Renner, porém diferente daqueles que fizeram o registro
profissional em 1933e tiveram atrelados seus nomes à fábrica, nos anos
posteriores os novos trabalhadores da Renner podem ter adentrado ao
empreendimento já com o registro profissional, fazendo com que seus nomes
não sejam vinculados a Renner no acervo da DRT-RS. Um exemplo disso é o
caso do trabalhador Orlando Dias Guerreiro, comentado por Lopes79, que de
acordo com matéria do Jornal A Federação teria sofrido um acidente com
caramelo fervendo na fábrica Ernestides Lopes, porém que no acervo da DRT-
RS seu nome está associado ao Cinema Rosário. Pellanda80 em 1944 comenta
que a Renner contava com trabalhadores com 25 anos de casa indicando certa
estabilidade do operariado, o que sugere que a parte dos funcionários que
requereram o documento no período de uma década de 1933-1943 tenham
permanecidos no estabelecimento nos anos seguintes.

Buscando no banco de dados percebemos que as profissões de


fiandeira/o e costureira/o empregam 67% dos trabalhadores da Renner,
atentando que a fiação e a confecção constituíam a força motriz do
empreendimento. Nesses dois setores o trabalho feminino era predominante,
sendo que a fiação é constituída principalmente por mulheres e a costura é
formada integralmente pela mão de obra feminina, assim como no cerzir81. Já o
trabalho masculino é visto como predominante na tecelagem, em setores
considerados especializados como a alfaiataria e a sapataria e também em
setores que exigem força como a classificação e lavagem de lá.

79
LOPES, Aristeu (no prelo). Os trabalhadores das fábricas de chocolates e caramelos em
3x4: história do trabalho e fotografia a partir da Delegacia Regional do Trabalho do Rio
Grande do Sul, 1933-1943. 2018.
80
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria.
81
Nas fichas e consequentemente no banco de dados cerzideira está registrado com “s”,
porém para este trabalho irá se utilizar a norma ortográfica atual.
39

Gráfico 3: Os trabalhadores da Renner em relação ao sexo e profissão. Fonte: Banco de dados


do acervo da DRT-RS. 2018.

Os trabalhos manuais, ligados a costura, aos tecidos, as linhas e


bordados sempre foram atividades atreladas ao feminino, pois defendia-se que
a mulher possuía predisposições biológicas para as práticas manuais,
diferentes dos homens que biologicamente possuíam aptidões para os
trabalhos especulativos e intelectuais82. As primeiras décadas do século XX
trouxeram transformações expressivas no papel e comportamento feminino83, a
costura que até então era um hobby para as mulheres de “boa família”, que
produziam seus enxovais, e um trabalho informal para as mulheres pobres que
precisavam completar a renda familiar, passa a ganhar um caráter industrial,
levando essas mulheres para dentro do ambiente fabril.

No Brasil algumas mulheres passaram a trabalhar para as fábricas


dentro de suas casas, onde podiam cuidar dos filhos e dedicar-se aos afazeres
domésticos. No interior da casa a mulher fragmenta ainda mais seu tempo,
exercendo além das tradicionais funções de mãe, esposa e dona de casa, a
função de trabalhadora. O espaço fabril surge como uma forma de controle,
onde o trabalhador se encontra sobre supervisão, dentro de um regime

82
PERROT, Michele. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 177.
83
Sobre as transformações dos papeis feminino e masculino nas primeiras três décadas do
século XX ver: MALUF, Marina; MOTT, Márcia Lúcia. Recônditos do mundo feminino.
SEVCENKO, Nicolau; NOVAIS, Fernando (Org.) História da vida privada no Brasil-
República: da belle époque à era do rádio. Vol3. São Paulo: Cia. das Letras, 1997-1998,
2005.
40

produtivista, e sob o método de racionalização do trabalho, onde a máquina


coordena o tempo, o ritmo, o corpo e assim o operário84.

A indústria têxtil inaugurou a industrialização no estado, no país e


também introduziu a mulher no setor de trabalho formal85. Entretanto, a
presença feminina nas fábricas não significou a igualdade entre os sexos, o
trabalho feminino era visto com desaprovação, pois tirava a mulher de casa, de
sua posição vista como natural dando a ela certa liberdade e independência. A
casa e a fábrica tornaram-se ambientes dicotômicos, enquanto a casa
representava a moralidade, o cuidado familiar e a educação, a fábrica
representava a luxuria, a ignorância e o desequilíbrio familiar. O sonho dos pais
era que as filhas arranjassem um bom casamento e não precisassem trabalhar,
pois isso desqualificaria o feminino.

No imaginário das elites, o trabalho braçal, antes realizado em


sua maior parte pelos escravos, era associado à incapacidade
pessoal para desenvolver qualquer habilidade intelectual ou
artística e à degeneração moral. Desde a famosa
“costureirinha”, a operária, a lavadeira, a doceira, a empregada
doméstica, até a florista e a artista, as várias profissões
femininas eram estigmatizadas e associadas a imagens de
perdição moral, de degradação e de prostituição.86
Após o casamento muitas mulheres saiam do mercado de trabalho,
tendo em vista que o ideal era que a renda familiar fosse gerada pelo trabalho
do marido e que a esposa pudesse dedicar seu tempo aos cuidados
domésticos e familiares.

Muitos acreditavam, ao lado dos teóricos e economistas


ingleses e franceses, que o trabalho da mulher fora de casa
destruiria a família, tornaria os laços familiares mais frouxos e
debilitaria a raça, pois as crianças cresceriam mais soltas, sem
a constante vigilância das mães. As mulheres deixariam de ser
mães dedicadas e esposas carinhosas, se trabalhassem fora
do lar; além do que um bom número delas deixaria de se
interessar pelo casamento e pela maternidade.87
Tendo em vista a preferência por mulheres no setor têxtil, percebemos
que na Renner além delas serem maioria, em relação ao estado civil, são

84
PERROT, Michele. Os excluídos da história.
85
Sobre a mulher na atividade têxtil ver: PENA, Maria Valéria. Mulheres e trabalhadoras.
Presença feminina na constituição do sistema fabril. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
86
RAGO, Margareth. Trabalho feminino e sexualidade. PRIORI, Mary Del (Org.). História das
mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.
87
PERROT, Michele. Os excluídos da história, p. 489.
41

predominantemente solteiras, nos indicando um afastamento das atividades


fabris após o casamento, diferente dos homens que em sua maioria são
casados.

Gráfico 4: Relação entre estado civil e sexo dos trabalhadores da Renner. Fonte: Banco de
dados do acervo da DRT-RS. 2018.

Para que se pense sobre a divisão sexual do trabalho na Renner é


necessário olharmos para além da predominância feminina e analisar o papel e
localização de cada gênero dentro da fábrica. A Renner possuía diversas
políticas voltadas para a família do trabalhador, entre elas uma voltada para
famílias numerosas, acima de 3 filhos, onde era oferecido Cr$ 200,00 por filho,
contudo a ressalva para o recebimento do benefício era que a esposa e mãe
não trabalhasse fora do lar, portanto o benefício era desfrutado apenas pelos
operários homens e suas esposas. A mulher operária era oferecida a creche,
porém a mesma dispunha de poucas vagas e a criança só poderia ficar até o
primeiro ano. Logo, através dessas políticas contraditórias podemos perceber a
intenção de manter o operariado masculino e experiente, enquanto as
mulheres eram interessantes manter no seu período de maior produtividade,
ainda jovem, com poucos ou nenhum filho88.

88
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas, p. 205-206
42

Gráfico 5: Os trabalhadores da Renner em relação a indecência de filhos por sexo. Fonte:


Banco de dados do acervo da DRT-RS. 2018.

O gráfico acima mostra que o número de pais e mães trabalhadores da


Renner é praticamente o mesmo, porém que relacionado ao número de
operários a incidência de filhos é maior entre os homens, não sendo
proporcional ao número de trabalhadores e trabalhadores sem filhos. Esses
dados atestam que mesmo o número de casadas/os estando em equilíbrio, as
mulheres acabam por se afastar do trabalho após a chegada dos filhos,
diferente dos homens que se estabelecem confirmando a proeminência e
preferência de homens mais velhos e experientes em contradição a presença
acentuada de mulheres jovens, que ainda não formaram família.

Podemos atrelar essa constatação a ideia de especialização das


profissões, enquanto o sapateiro e o alfaiate eram percebidos como atividades
especializadas a costura era definida como não especializada89.Desta forma,
os primeiros profissionais deveriam ser mantidos, ao tempo que a costureira
era facilmente substituída. Em contrapartida o processo de taylorização da
produção fragmentou as atividades nas mãos de vários operários, intervindo
mais de 130 profissionais para a fabricação de um terno90. A função do alfaiate
passou então a ser restringida a poucas tarefas e o trabalho concentrou-se nas
profissionais da costura. A costureira Renner não se encarregava apenas pelos

89
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas, p. 201.
90
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria, p. 38.
43

remendos, assim como o alfaiate não era o responsável pela confecção do


terno. O título de especialização, portanto, seria uma forma de desqualificar o
trabalho feminino e valorizar o trabalho masculino, pois ambos profissionais
trabalhavam juntos, tendo em sua maioria um mesmo grau de instrução.

O setor de fiação é composto por 89 mulheres e 43 homens, porém


mesmo com a predominância feminina no setor, aquele que exerce o papel de
chefe de fiação é um homem, o que evidência a dominação do masculino sob o
feminino, percebendo que mesmo elas sendo maioria, estão subordinadas a
eles91. Além disso, nos atenta para o fato do estrangeiro nas profissões de
chefia dentro da fábrica, visto que este chefe de fiação, o mestre-fiandeiro
Johannes Gerlach (figura 5), é alemão. Johannes chegou ao Brasil no dia 23
de fevereiro de 1923, com 24 anos de idade, em sua ficha de qualificação
profissional consta que sua esposa também é alemã, possivelmente o jovem
casal tenha embarcado para o Brasil em busca de novas oportunidades, assim
como tantos outros estrangeiros. Sendo assim na fábrica Renner, constituídas
principalmente por mulheres brasileiras e jovens o poder é representado pelo
masculino e estrangeiro92.

A Renner, entretanto, reproduziria no seu interior, a


segmentação étnica existente na cidade, que influenciava na
política de contratação de trabalhadores, na sua relação com
as chefias, assim como na sua distribuição por setores. Para
uma veterana operária, não havia dúvidas que “a firma era
alemã”, e o conhecimento da língua falada pelos proprietários
levava a um tratamento diferenciado no seu interior,
possibilitando “se dirigir ao chefe, se dirigir a um fiscal se
tivesse qualquer coisa” e obter proteção93.

91
O mestre-fiandeiro foi o único que encontramos registrado como mestre no banco de dados
do acervo. Exercendo posição de superioridade dentro da fábrica seja como administrador,
químico ou diretor, estão os membros da família Renner, todos homens.
92
Em entrevista concedida a Francisco Carvalho, Julieta Battistioli que foi operária na Renner e
posteriormente a primeira vereadora do Rio Grande do Sul eleita pelo PCB, fala sobre a
instalação da fita mecânica, os processos de controle e autoridade na fábrica, a mesma cita a
presença dos estrangeiros nos cargos de chefia e na relação estabelecida com esses.
CARVALHO, Francisco Júnior; GARCIA, Eliane Rosa. Adorável camarada: memórias de
Julieta Battistioli. Porto Alegre: Câmara Municipal de Porto Alegre, 2008.
93
FORTES, Alexandre. Nós do Quarto Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a
Era Vargas..
44

Figura 5: Mestre-fiandeiro Johannes Gerlach. Fonte: Acervo da Delegacia do Trabalho do Rio


Grande do Sul. 2018.

Entre as 382 fichas pesquisadas apenas 6 registram cor diferente de


branco/a, três desses estão assinalados como moreno, dois como pardo e um
como preto. Clarice Speranza estudou as diferentes formas de classificação
dos operários não-brancos nas fichas de qualificação profissional, a mesma
discute em seu artigo que as classificações “não são meramente
denominações “neutras” para a cor dos indivíduos, mas elaborações culturais
de um sistema de estratificação social vigente94”. A falta de um regulamento
para o preenchimento das fichas, deixava informações como a de cor por conta
da subjetividade do funcionário da DRT-RS, além disso é importante
atentarmos que em alguns casos a declaração podia vir do próprio trabalhador,
que assinalava o campo conforme suas construções sociais e interesses.

Mesmo sendo claro que cabia ao identificador a definição final


sobre a cor do trabalhador na ficha (pois era ele quem a
preenchia), pode-se aventar formas pelas quais estes últimos
tentavam interferir sobre estas classificações. Uma aparência
física mais “distinta”, um cargo mais elevado, poderia significar
uma elevação na classificação de cor, na perspectiva ainda do
branqueamento. A própria preocupação do operário em
mostrar-se elegante no momento da foto – perceptível em
vários retratos – pode ser encarada como uma estratégia de

94
SPERANZA, Clarice. Branco, preto, pardo, moreno ou escuro? Classificações raciais
nas carteiras dos trabalhadores gaúchos (1933-1945), p. 101.
45

busca de distinção social por parte dos trabalhadores, que


poderia (ou não) incluir a classificação de cor95.

Figura 6: Carlos Marques (Classificador de lã- misto); Lyra Silva (Fiandeira- morena); Palmyra
Lopes de Oliveira (cerzideira- morena); Cecilia Rosa (Fiandeira- preta). Fonte: Acervo da
Delegacia Regional do Trabalho. 2018.96

Os trabalhadores registrados nas fichas com opções de cor diferentes de


branco/a, apresentam profissões comuns a operários brancos. Nas 4
fotografias que pudemos ter acesso, os operários se apresentam de forma
simples, não se destacando entre os demais trabalhadores em sua
apresentação. Apenas a cerzideira Palmyra se diferencia em relação ao tom de
pele, contudo não é possível delimitarmos a cor desses trabalhadores, tendo
em vista as diferentes iluminações em que as fotografias foram registradas.
Assim concordamos com Speranza, sobre não existir um padrão e que as
fichas eram preenchidas levando em conta as percepções de diferentes
funcionários da DRT-RS.

Após a abolição, negros e negras colocaram-se no mercado informal de


trabalho exercendo profissões subalternas, ligadas ao trabalho braçal como
pedreiro e estivador e aos trabalhos domésticos como cozinheira, lavadeira e
por vezes a prostituição.

Dessa forma, as possibilidades de ascensão profissional eram


limitadas. O trabalhador negro que solicitava a sua carteira de
trabalho nos anos 1930 trazia consigo o jugo da escravidão,
que marcou sua história de vida e dos seus antecedentes
escravos ou ex-escravos. Essa condição acabava não
permitindo a ascensão desse trabalhador que, embora tivesse

95
SPERANZA, Clarice. Branco, preto, pardo, moreno ou escuro? Classificações raciais nas
carteiras dos trabalhadores gaúchos (1933-1945), p. 119.
96
Dois trabalhadores tiveram as fotografias perdidas/danificadas, não sendo possível a
reprodução.
46

os mesmos direitos dos trabalhadores brancos, nem sempre


desempenhava iguais funções97.
Enquanto os operários registrados como misto, moreno e preto
representam 1,57%, os estrangeiros constituem 18,32% dos operários Renner,
além desses, parte significativa dos trabalhadores apresenta sobrenome de
origem estrangeira, indicando descendência. Como vimos no primeiro capítulo
a imigração do Rio Grande do Sul teve como característica o povoamento e as
redes de comércios exercidas pelos imigrantes que foram primordiais no
acúmulo de capitais que deram início ao processo de industrialização. Esse
aspecto ascendeu solidariedades étnicas entre os donos dos estabelecimentos
e outros imigrantes e descendentes fazendo com que a mão de obra
estrangeira fosse preferência entre os industriários. Além disto, alguns desses
traziam de seu país conhecimentos técnicos das práticas industriais e por
vezes noções de maquinários e funções especificas.

Gráfico 6: Trabalhadores estrangeiros na Renner. Fonte: Acervo da DRT-RS. 2018.

Os alemães e poloneses98 são os mais presentes dentro da fábrica e


nos registros ocupam profissões comuns à de brasileiros. No entanto, as
declarações do campo profissão são subjetivas, pois está não demandava

97
LOPES, Aristeu. Os trabalhadores negros através das fichas de qualificação profissional da
Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul (1933-1943). Encontro escravidão e
liberdade no Brasil Meridional. 6, 2013. Florianópolis. Anais..., 2013.
98
Sobre a relação entre classe e etnicidade e a presença dos poloneses nos estabelecimentos
fabris em Porto Alegre ver: FORTES, Alexandre. Os polacos e os “outros”. Nós do Quarto
Distrito: A classe trabalhadora porto-alegrense e a Era Vargas. Caxias do Sul: Educs; Rio
de Janeiro: Garamond, 2004, p. 119-175.
47

nenhuma certificação podendo o operário registrar uma profissão e exercer


outra.

Gráfico 7: Trabalhadores estrangeiros da Renner por profissão. Fonte: Banco de dados do


acervo da DRT-RS. 2018.

Dos 70 imigrantes que solicitaram o documento profissional no momento


em que estavam empregados na Renner, 20 deles estão estabelecidos no
setor de tecelagem, constituindo 36% do setor que empregava 55
trabalhadores. Um dos motivos para a notável presença estrangeira na
tecelagem é a experiência dos imigrantes com a máquina de tecelagem, visto
que no Brasil a mecânica industrial era recente. Além disso era frequente que
ao adquirir maquinário do exterior, o mesmo viesse acompanhado de um
operador, que conhecia a montagem e funcionamento da máquina99.

Entre os alfaiates e sapateiros encontramos dois registros de


aprendizes, são os rapazes Adolpho Bilcher de 15 anos e Dário Norberto Motta
de 16100. Esses setores contavam cada um com 2 menores, no entanto apenas
os citados foram nomeados de aprendiz nas fichas de qualificação profissional.

99
PELLANDA, Ernesto. 40 Anos Renner- Indústria do Vestuário: uma organização vertical
sem similar no país ou no exterior. Porto Alegre: Renner, 1952.
100
Não foi possível localizar a fotografia de Dario Norberto Motta.
48

Além deles, dentro de nossas categorias de análise, entre os 382 registros,


encontramos 50 de jovens de 14 a 18 anos101.

Figura 7:Os menores trabalhadores da sapataria e alfaiataria: Adolpho Bilcher (aprendiz de


sapataria), Antenor Ramires (alfaiate) e Humberto Costa Milego (auxiliar de sapateiro). Fonte:
Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018.

Os homens da família Renner também requereram seu documento


profissional e assim tiveram seus nomes lavrados no acervo da DRT-RS.
Pellanda, ao analisar a transmissão de riquezas entre gerações, comenta a
preocupação de A.J. Renner em preparar seus filhos para assumir o negócio,
os colocando desde cedo para trabalhar e conhecer todos os setores da
fábrica, da oficina mecânica, a fiação e tecelagem, logo se especializando no
exterior102.A.J. Renner e seus filhos Egon, Kurt, Heini e Herbert Renner,
aparecem em posição de destaque nos registros, como químicos e técnicos
têxteis.

No regresso, Egon passou a dirigiras seções de tinturaria e


acabamento da fábrica, cuja gerência geral assumiria depois:
Heini teve a direção das seções de lã penteada, da tecelagem
de linho e do escritório técnico; Kurt encarregou-se da seção
de confecções, cuja taylorização concluiu e do departamento
do pessoal cuja escolha se faz hoje segundo os ensinamentos
da psicotécnica e Herbert da seção de lãs, lavanderia e
tinturaria e da fiação de linho103.

101
LOPES, Aristeu. Os trabalhadores das fábricas de chocolates e caramelos em 3x4:
história do trabalho e fotografia a partir da Delegacia Regional do Trabalho do Rio
Grande do Sul, 1933-1943. 2018. (no prelo).
102
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria. Porto Alegre: Livraria do
Globo, 1944, p.37
103
PELLANDA, Ernesto. A.J. Renner: Um capitão da indústria. Porto Alegre: Livraria do
Globo, 1944, p.58.
49

Figura 8: Da esquerda para a direita as duas primeiras fotografias são de Egon Renner, que
solicitou o documento em 1933 e uma segunda via em 1939, após Kurt, Heini e Herbert
Renner.104

Percebemos que a presença familiar é constante na Renner, não apenas


da família do fundador, mas também da família operária. Michele Perrot, ao
tratar do papel disciplinador dos ambientes industriais, atenta que na política
paternalista a fábrica deve ser vista através do sistema doméstico, portanto que
seria comum o recrutamento de famílias inteiras, assim a lealdade ao
empreendimento seria associada a fidelidade familiar105.Essa organização
auxilia na criação de uma identidade ligada a fábrica106.

As relações sociais no trabalho são concebidas conforme o


modelo familiar: na linguagem da empresa familiar o patrão é o
pai, e os operários os filhos, na concepção do emprego o
patrão deve assegurar aos operários, na prática cotidiana do
patronato, visível até em certas festas, ligadas principalmente
aos acontecimentos da família do senhor (casamento dos
filhos...), enfim na existência de certas instituições de
previdência.[...]Os trabalhadores aceitam essa forma de
integração, e até a reivindicam. Eles têm a linguagem e o
espirito da “casa”; têm orgulho em pertencer a empresa com a
qual se identificam107.

104
Na ficha de A.J. Renner a fotografia não foi anexada.
105
PERROT, Michele. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros, p. 59-
60.
106
Um exemplo de proximidade entre a família do operário e do empregador na Renner é o fato
de muitos filhos de operários serem apadrinhados por Matilde Renner, esposa de A.J e
coordenadora da creche.
107
PERROT, Michele. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 62.
50

Figura 9: Os irmãos Leopoldo Machado, Guilhermina Lampert e Luiza Duarte, trabalhadores da


fiação. Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018.

Figura 10: As irmãs Elma, Tusnelda e Erica Biehl, fiandeiras da fábrica Renner e o irmão
Eugênio Biehl, mecânico da mesma fábrica. Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho
do Rio Grande do Sul. 2018.

Figura 11: Os irmãos Manoel e Oliveiros Ramos dos Reis, classificadores de lã da Renner.
Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018.
51

Figura 12: As irmãs Talita e Edith Nadler, costureiras da Renner. Fonte: Acervo da Delegacia
Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. 2018.

Figura 13: A mãe Adelaide Fernandes Lima e a filha Maria Augusta Fernandes Lima, ambas
costureiras da Renner. Fonte: Acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do
Sul. 2018.

Os trabalhadores apresentados nas fotografias acima foram encontrados


buscando sobrenomes e filiação em comum no banco de dados. Escolheu
apresentar esses levando em conta as categorias de profissão analisadas e
também a presença da fotografia na ficha de qualificação, entretanto outros
conjuntos familiares estiveram na Renner e solicitaram seus documentos
profissionais, alguns em funções distintas, outros em períodos distintos.

As duas irmãs e o irmão da figura 7 solicitaram suas carteiras em 1933,


mas em dias diferentes, enquanto Leopoldo e Luiza encaminharam-se a
Inspetoria Regional do Trabalho no dia 21 de agosto, Guilhermina foi no dia 23,
entretanto através da fotografia percebemos que Luiza e Leopoldo haviam sido
fotografados no dia 7 de agosto, enquanto Guilhermina no dia da solicitação.
Os irmãos Biehl passaram pelo registro fotográfico no mesmo dia 7 de agosto,
52

porém suas fichas foram preenchidas em dias variados, Ema e Tunelda no dia
21 de agosto, Erica no dia 20 e Eugenio no dia 19 do mesmo mês. Nesta
mesma leva os irmãos Ramos dos Reis que tiraram o retrato no dia 7 e
registraram seus dados no dia 21 de agosto. Interessante entre esses últimos o
colete de mesma cor, aparentemente igual, indicando um possível empréstimo
entre os irmãos no momento do registro. Nas imagens dos irmãos, assim como
nas fotografias 3x4 das irmãs Nadler tiradas em 1939, nota-se de forma mais
nítida uma preocupação com a apresentação. Talita e Edith se mostram bem
penteadas, a primeira inclusive com penteado trançadas e ambas com
acessórios no pescoço. Na última figura a mãe Adelaide e a filha Maria
Augusta, que requereram seus documentos em anos distintos, a primeira em
1934 e a última em 1939.

A existência de familiares em uma mesma função pode nos indicar que


os ofícios eram transmitidos no seio familiar, seja entre aqueles de uma mesma
geração como no caso dos irmãos, como para aqueles de gerações distintas
como o caso de mãe e filha. Também nos ajuda a vislumbrar a proximidade da
Renner com a família operária e a pensar o emprego de familiares como uma
solidariedade empresarial, mais um dos benefícios da indústria.

Aristeu Lopes e Mônica Schmidt ao analisarem as fotografias 3x4 do


acervo da DRT-RS, consideram que as fotografias neste formato são registros
úteis para políticas de controle social, pois uma imagem, o rosto do cidadão
ficaria sob posse do estado. Portanto, tendo em vista o contexto político da
instauração do documento profissional, o regime de valorização do trabalho e
controle social, as fotografias 3x4 anexadas às fichas de qualificação
profissional caracterizariam uma forma de controle estatal. Além disso, Lopes
considera que as fotografias da DRT-RS podem ser o único registro visual de
muitos trabalhadores, sendo, portanto, suporte de memória de homens e
mulheres comuns108.

Pensamos os registros fotográficos dos trabalhadores da Renner que


solicitaram suas carteiras entre 1933-1943, não apenas como uma ferramenta

108
LOPES, Aristeu; SCHIMIDT, Mônica. Os trabalhadores no frigorifico Anglo em Pelotas no
acervo da Delegacia Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul: História, memória e
fotografia. Tempos Históricos, v.22, 2018/1, p. 405-406.
53

para controle do estado sob os trabalhadores, mas também como um meio de


forjar identidades, onde o indivíduo pode se apresentar diferente da sua
realidade, buscando criar ideias de pertencimento, portanto que “As fotografias
3x4 dos trabalhadores não apresentam cenários, mas eles também se tornam
modelos, seus adereços lhes conferem uma identidade que poderia estar
dissociada da sua condição de trabalho.” 109.110

Atestamos através das fichas de qualificação, dos trabalhadores e


trabalhadoras que a Renner retratou sua época. A partir de uma organização
não apenas paternalista, mas patriarcal, percebemos que por mais que tenha
se sobressaído com sua preocupação social e suas políticas assistencialistas,
os trabalhadores dessa indústria eram operários comuns, em um arranjo
empresarial que soube se beneficiar da conjuntura política e crescer por meio
deste sistema. O contexto valorizava a expressão do trabalho e a Renner
trocava este o título de trabalhador pela fidelidade, mão de obra e produção do
operariado.

109
LOPES, Aristeu. Trabalhadores com sinais de varíola no acervo da Delegacia Regional do
Trabalho do Rio Grande do Sul, 1933-1944. História, ciência e saúde- Manguinhos. Rio de
Janeiro, v.23, n.4, out-dez, 2016, p. 1223.
110
Neste trabalho foi exposto apenas algumas das fotografias dos trabalhadores da Renner,
tendo em vista que não se tinha como objetivo uma intensa análise das representações
fotográficas. Todavia o conjunto de fotografias 3x4 desses trabalhadores traz questões
pertinentes para compreensão do perfil operário desta indústria.
54

CONCLUSÃO:

Os homens classificavam, lavavam e secavam a lã crua, que logo


passavam pelas mãos delicadas, suaves e habilidosas das fiandeiras. Saindo
da fiação, o fio já pronto era levado aos teares manuais, mais tarde
mecanizados, dos tecelões que lá tramavam e teciam os tecidos Renner, as
cerzideiras faziam parte desse processo, remendando e unidos os fios frouxos.
O tecido pronto findava nas bancadas dos alfaiates que após o corte era
conduzido às máquinas de costura onde alfaiates e costureiras trabalhavam na
costura, na prega de botões e nos ajustes finais. Entre esses profissionais,
dezenas de outros trabalhavam neste mesmo fio, tecido e terno. Serventes,
tintureiros, modistas e além desses os sapateiros e chapeleiros que
completavam o vestuário Renner que por último, nas mãos dos atendentes
comerciais da loja Renner, eram levados aos consumidores.

Trabalhar na Renner era um diferencial na sociedade industrial porto


alegrense, a empresa representava a solidariedade, a honestidade e o respeito
entre empregador e empregados. A fábrica trazia estabilidade e benefícios a
seus trabalhadores, contudo é possível que se problematize as práticas
paternalistas da indústria, que utilizava das regras de concessão de benefício e
do engajamento na vida do operário, para que esse recebendo o título de
trabalhador da Renner, se sentisse responsabilizado pelo sucesso do
empreendimento. O documento profissional foi a materialização da política
trabalhista e paternalista de Getúlio Vargas. Ele trazia garantias de direitos,
valorizava o trabalhador, sua jornada, sua história e ao mesmo tempo tornava-
o prisioneiro do sistema. Assim as políticas sociais da Renner, mesmo que
gerassem maiores gastos ao empregador, vinham sempre ao benefício deste,
que acabava tendo o controle sobre seu operariado, garantindo assim uma boa
produção. Portanto podemos pensar que a assistência social direcionada aos
trabalhadores não visava o bem-estar dos mesmos, mas sim o lucro originado
disso.

Por intermédio das carteiras profissionais podemos conhecer parte dos


trabalhadores da Renner, percebemos quem eram os contratados da fábrica, e
através disso entendemos um pouco sobre organização empresarial. Tecemos
55

assim a história do operariado comum de uma as maiores fábricas têxteis do


Brasil, que até então era pouco conhecida pela historiografia do trabalho.

A Renner, mesmo que tenha inovado e se adiantado em relação ao


desenvolvimento tecnológico e na concessão de benefícios trabalhistas, se
manteve por meio de uma política de contratação que manifesta a sociedade e
o contexto em que estava inserida. Á preferência por trabalhadores brancos e
estrangeiros, da mão de obra masculina dos “pais de família” e o trabalho de
moças jovens nas atividades que moviam o empreendimento têxtil, não fazem
da Renner uma indústria singular como apontada pela matéria do Diário de
Notícias e também pelos biógrafos de A.J. Renner. A organização do trabalho
na Renner retrata a organização social da década. As mulheres se encontram
em atividades subordinadas, ausentando-se do mundo do trabalho após o
casamento ou a chegada dos filhos, ao tempo que os homens experientes,
com família formada, compõem o quadro masculino fabril, no qual os
estrangeiros têm cargos de chefia e de confiança e os negros estão fora.

Finalmente considera-se importante apontar alguns aspectos verificados


na pesquisa e no seu desenvolvimento nos capítulos. No primeiro, através de
um estudo historiográfico, comentamos o desenvolvimento industrial no Rio
Grande do Sul, inserindo a Renner dentro deste contexto, falando sobre sua
instalação e crescimento, salientando as proporções, relevância nacional e
regional do empreendimento. Na segunda parte deste capítulo foi tratada a
legislação social trabalhista implantada por Getúlio Vargas e como esta era
efetivada dentro da Renner, além disso, foram apresentadas as bibliografias
disponíveis para estudar o empreendimento e assim como as ideias atribuídas
a fábrica.

No segundo capitulo salientamos as potencialidades do acervo da DRT-


RS e do NDH-UFPel como fonte e lugar de memória e história dos
trabalhadores comuns do estado, justificamos e expomos a metodologia
utilizada para esta pesquisa e por fim analisamos os dados já levantados,
desvendando informações relevantes e pertinentes que ainda não tinha se
chegado sobre esses trabalhadores.
56

FONTES:

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Grande do Sul, Núcleo de Documentação Histórica da Universidade Federal de
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