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Aula 4 - Ciência e espiritismo: sua relação e construção – 11/08/2022

Citações do livro: “Para entender Allan Kardec” – Dora Incontri.

1 - “Ninguém tão mal entendido quanto Kardec. Apesar de ter sido personalidade sem complicações
aparentes e ter escrito de forma clara e didática, sem ambiguidades. Mas parece que é próprio dos grandes
provocar controvérsia e incompreensão. Sócrates foi considerado por uns como cético, por outros como
espiritualista radical; o próprio Jesus rendeu trezentos anos de disputas sobre a sua verdadeira natureza e
sobre o sentido de sua mensagem. Disputas caladas pela Igreja a ferro e fogo, mas ainda hoje não
resolvidas para muita gente. Assim Kardec.”

2 - “Conhecido apenas pela rama, pouco refletido e estudado por aqueles que se dizem seus adeptos, é no
entanto tomado como fundamento, às vezes dogmático, do movimento espírita. Por uns, criticado como
superficial e inconsistente, por isso desabilitado a habitar o mundo acadêmico, como pensador
respeitável.”

3 - “Mais sabemos de Kardec pelo que ele nos oculta, do que por informações a respeito de si mesmo e de
sua vida pessoal. Nada comparável a um Agostinho ou a um Rousseau, que se expõem em confissões,
revelando os conflitos mais profundos. Não se trata, porém, de um disfarce, de uma intenção deliberada de
esconder algo que não poderia ser revelado. Talvez dois motivos faziam a discrição de Rivail: ele mostrava
não ter conflitos e era bastante modesto e circunspecto.”

4 - “O que se pode apreender de sua personalidade, através de alguns poucos testemunhos alheios e dele
próprio é que era um espírito sóbrio, austero, firme, determinado, com grande capacidade de trabalho,
pouco dado a arroubos místicos e sentimentais. Um homem centrado, equilibrado, seguro, ao mesmo tempo
benevolente, acolhedor, cordial...”

Breve contextualização do Espiritismo


“...” A comunicação com os espíritos se faz presente na sociedade desde as organizações mais
primitivas e de diversas formas, mas no século XIX ela se intensifica e ganha um caráter científico nas mãos
de diversos homens e principalmente na de Allan Kardec que constituiu a Filosofia Espírita:

Por volta de 1848, nos Estados Unidos da América, diversos fenômenos estranhos, como
ruídos, batidas e movimentação de objetos, sem causa conhecida, chamaram a atenção. Esses
fenômenos se realizaram amiúde espontaneamente, com singular intensidade e persistência. Mas
notou-se, também, que se produziam particularmente sob influência de certas pessoas designadas com
o nome de médiuns e que podiam, de certo modo, provocá-los à vontade, o que permitiu a repetição
das experiências. (KARDEC, 2013, p. 17)

Através da movimentação de mesas, cujo nome do fenômeno foi designado "Mesas Girantes", que
utiliza o fluído dos médiuns para movê-las se percebeu um princípio inteligente em seus movimentos e "se
todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente. Conclui-se que a causa
desse fenômeno devia ser alguma inteligência" (Kardec, 2013, p. 18).
Ainda nos diz Kardec sobre a natureza desta inteligência:
[...] A primeira ideia foi que poderia ser reflexo da inteligência do médium ou dos assistentes,
mas a experiência logo demonstrou a impossibilidade de tal hipótese, porque se conseguiam coisas
completamente estranhas ao pensamento e aos conhecimentos das pessoas presentes, e mesmo em
contradição com suas ideias, sua vontade e seu desejo. Ela só poderia, portanto, pertencer a um ser
invisível. O meio de se obter a prova era bem simples: tratava-se de entrar em conversação com esse
ser, o que foi feito usando-se um número convencional de pancadas para significar sim ou não, ou
para indicar as letras do alfabeto. (KARDEC, 2013, p. 18)

O fenômeno não se limita somente aos Estados Unidos da América e alcança a França, toda a Europa
e por um tempo as "mesas girantes" se tornam moda, atraindo curiosos e pesquisadores da época. Allan
Kardec, que é o pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869) um educador francês, nos
apresenta o fenômeno com um olhar de pesquisador, cientista que investiga, analisa, reflete sobre o ocorrido
e testa antes de criar uma hipótese.
Ele cria a Revista espírita em 1º de janeiro de 1858 sendo publicada até abril de 1869 deixando um
vasto campo de conhecimento sobre o espiritismo da época. Funda em 1º de abril 1858 a Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas. E até a sua morte publica as obras que constituem a Ciência e a Filosofia
Espírita: 1857 - O Livro dos Espíritos (Contém a base da Doutrina Espírita); 1861 - O Livro dos Médiuns
(manual para experimentação da mediunidade); 1864 - O Evangelho segundo o Espiritismo; 1865 - O Céu e
o Inferno; 1868 - A Gênese; e textos esparsos publicados pelos amigos após sua morte em 1869 - Obras
Póstumas.
Segundo Incontri (2014, p.56), Kardec nos propõe uma "ciência nova, em que o espírito (encarnado)
fosse o pesquisador e o espírito (desencarnado) fosse o interlocutor. Ambos, ao mesmo tempo, sujeito e
objeto do conhecimento."

Quando Kardec pretende ter evidenciado a existência do espírito pela observação empírica dos
fenômenos mediúnicos, ele o faz, não valendo-se dos moldes científicos de sua época, mas propondo
uma nova forma de ciência. Pesquisa as manifestações espirituais, compara diversos médiuns, os
conteúdos transmitidos e as formas de transmissão. Analisa e questiona os espíritos. Valoriza a
observação, mas também valoriza o pensamento racional, a dedução lógica e, ao mesmo tempo, a
intuição e a revelação espiritual. (INCONTRI, 2014, p. 56)

Ainda nos afirma Kardec sobre o método científico desenvolvido:

A Ciência Espírita contém duas partes: uma experimental, sobre as manifestações em geral,
outra filosófica, sobre as manifestações inteligentes. Quem não tiver observado senão a primeira
estará na posição daquele que só conhece a Física pelas experiências recreativas, sem haver penetrado
na Ciência. A verdadeira Doutrina Espírita está no ensinamento dado pelos Espíritos, e os
conhecimentos que esse ensinamento encerra são muito sérios para serem adquiridos por outro modo
que não por um estudo profundo e continuado, feito no silêncio e no recolhimento. Mesmo por que só
nestas condições pode ser observado um número infinito de fatos e suas nuanças, que escapam ao
observador e que permitem firmar-se uma opinião. (KARDEC, 2012, p. 51)

REFERÊNCIAS:

KARDEC, Allan. Iniciação Espírita: livros de introdução à teoria e à prática da Doutrina. 14. ed. Brasília:
Edicel, 2013.
za

KARDEC, Allan. Livro dos Espíritos. 69. ed. São Paulo: Lake, 2012.

INCONTRI, Dora. Para entender Allan Kardec. Bragança Paulista: Comenius, 2014.

INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita, um projeto brasileiro e suas raízes. Bragança Paulista: Comenius,
2014.
Texto retirado da Monografia da Pós Graduação em Pedagogia Espírita de Emerson C. B. Gianini – 2015.

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