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COLÉGIO EVARISTO DA VEIGA: TRABALHO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Professora: Miwa Ano: 2º Aluna: Louise

CANDOMBLÉ NA SOCIEDADE

Resumo:

Este trabalho teve o objetivo geral de considerar o significado do Candomblé


na sociedade. Com essa finalidade, foram consultados diversos trabalhos
sobre a história do Candomblé; sobre a relação do Candomblé com o meio
ambiente, com o feminismo e com o homossexualismo; sobre o sincretismo; e
sobre a intolerância religiosa. Com raízes nos vários países de origem das
pessoas escravizadas, o Candomblé se consolidou através da tradição oral.
Por afirmar fortemente a Natureza, o Candomblé se torna um elemento valioso
nos movimentos ambientalistas. Outras características são a importância do
papel feminino entro os orixás e entre as lideranças dos terreiros e uma atitude
mais aberta que outras religiões em relação a orientação sexual. Outros temas
considerados foram o sincretismo entre o Candomblé e o Catolicismo –
atualmente questionado, mas ainda forte – e os ataques sofridos de parte das
igrejas neopentecostais.

Palavras-chaves: Religião, afro-brasileira, candomblé, meio ambiente,


feminismo, homossexualismo, sincretismo, intolerância

Abstract:

This study was carried out with the general objective of considering the
significance of Candomblé in society. To this end, diverse studies were
consulted, about the history of Candomblé; about the relationship of Candomblé
with the environment, with feminism and with homosexuality; about syncretism;
and about religious intolerance. With roots in the various countries of origin of
enslaved people, Candomblé became consolidated through oral tradition.
Through its strong affirmation of Nature, Candomblé becomes a valuable
element in environmental movements. Other characteristics are the importance
of the feminine role among the divinities and among leaders of Candomblé
meeting places and a more open attitude than other religions in relation to
sexual orientation. Other topics considered were the syncretism between
Candomblé and Catholicism – currently being questioned, but still strong – and
the attacks suffered from neo-pentecostal churches.

Keywords: Religion, Afro-Brazilian, candomblé, environment, feminism,


homosexuality, syncretism, intolerance.
Introdução

O Candomblé é uma religião monoteísta que acredita na existência da alma e


na vida após a morte. Orixás intermediam entre os humanos e o Deus único. A
palavra “candomblé” significa “dança” ou “dança com atabaques” e cultua os
orixás, normalmente reverenciados por meio de danças, cantos e oferendas.
Cada Orixá representa uma força ou personificação da natureza e também de
um povo ou uma nação.

Normalmente, os rituais de Candomblé são praticados em casas, roças ou


terreiros, os quais podem ser de linhagem matriarcal, patriarcal ou mista. As
celebrações são dirigidas pelo pai ou mãe de santo ou babalorixá e iyalorixá
respectivamente. Em geral a sucessão desses líderes espirituais é hereditária.

O Candomblé, como prática religiosa, ganhou contornos nítidos na Bahia em


meados do século XVIII e tomou a forma atual durante o século XX.
Atualmente, estima-se que 1,5 da população nacional são praticantes e muitas
outras pessoas têm certa afinidade com o Candomblé.

Este artigo não pretende detalhar as crenças e os rituais do Candomblé senão


considerar o significado do Candomblé na sociedade. Para isso, estudamos
trabalhos sobre a história do Candomblé; sobre a relação do Candomblé com o
meio ambiente, com o feminismo e com o homossexualismo; sobre o
sincretismo; e sobre a intolerância religiosa.

História

O Candomblé não é uma religião africana e sim afro-brasileira. Evolui das


crenças africanas trazidas para o Brasil pelas pessoas escravizadas. Como
essas pessoas eram de várias partes da África, a religião brasileira sempre
teve uma mistura de orixás, de tradições e de práticas. Ademais, a história do
Candomblé se entrelaça com a do Catolicismo.

Gomes (2017) observou que o Candomblé, igual que as outras religiões afro-
brasileiras, floresceu baseada na tradição oral e na memória. Não possuía um
livro-base (como a Bíblia ou Alcorão) com textos proféticos e, por isso, apoiava-
se na tradição oral, e não na escrita, para a perpetuação e para a condução de
seus ensinamentos. Portanto, o Candomblé é uma religião que se estabeleceu
e se mantém na forma original, a oralidade, o que soma para uma maior
conservação de suas peculiaridades e de suas memórias.

Para os negros escravizados, o Candomblé foi elemento essencial da cultura e


uma maneira de aliviarem os sofrimentos a que eram submetidos. No Brasil
republicano, se incorporou às lutas políticas do incipiente Movimento Negro.
Meio Ambiente

Martins (2015) afirmou que a consciência ambiental é primordial para os


seguidores e seguidoras dos Orixás. Cada Ilê se torna um polo de resistência
aos descuidos com o Meio Ambiente no qual cada habitat ou elemento natural
está relacionado a um Orixá, que por sua vez, tem como uma de suas
características preservar o planeta com as riquezas de sua natureza.

Van de Port (2012) destacou o fato de o Candomblé ser reconhecido como


parte da luta ambiental, observando que essa reformulação dos orixás como
ativistas ambientais não é por acaso. Elementos icônicos do culto servem a
interpretação ecológica: a adoração de árvores, a associação de cada orixá
com determinados elementos naturais – como florestas, cachoeiras, mares,
tempestades e fogo – e o conhecimento de medicina natural, amplamente
aclamado. Isso não deveria ser novidade. Ele cita uma afirmação de 1902:
“Não se tira uma folha seca de uma árvore se não for necessário: isso é como
matar uma pessoa. Alguém gostaria de perder um braço, um olho ou um pé?
Por que arrancar uma flor e jogá-la fora? Candomblé é natureza viva. Não se
pode haver adoração ao orixá se não houver terra, floresta, rio, céu,
relâmpagos, trovões, vento, mar... Agredir a natureza é agredir ao orixá.”

Feminismo

Souza (2015) destacou a “individuação do feminino no Candomblé: as imagens


arquetípicas da guerreira, da amante e da mãe”. Entre os orixás, Iansã é
relâmpagos, ventos e tempestades, culturalmente ela é a deusa guerreira, do
arquétipo da tempestuosidade, da mulher indomável. Oxum é o arquétipo da
mulher que ama e que se dedica ao ser amada por meio da arte de seduzir ou
por atitudes de carinho. Iemanjá tem diversas e diferenciadas versões
enquanto mãe universal, criadora e mãe de dez orixás; está entre os orixás
mais reverenciados no Brasil. Iemanjá e Nanã representam o arquétipo das
grandes mães dentro do candomblé, sendo Nanã mais velha.

No Candomblé, diferentemente da maioria das outras religiões, e de outros


campos sociais, as mulheres têm lugar destacada. A maioria dos terreiros são
regidos por mulheres. A Bahia teve importantes lideranças femininas como
Mãe Stella de Oxóssi, mãe de santo do Ilê Axé Opô Afonjá; Menininha do
Gantois; Olga do Alaketu: e Mãe Tatá da Casa Branca.
Homossexualidade

Um dos artigos no livro editado por Vagner da Silva (2007) comparou as formas
em que diferentes religiões (pentecostais, católica e afro-brasileiras) reagem às
práticas homossexuais de seus adeptos, constando que os afro-brasileiros são
mais flexíveis diante da homossexualidade.

Van de Port (2012) foi além, citando diversos exemplos de convivência entre
homossexuais e Candomblé, sendo um deles os ensaios do afoxé Korin Efan:
“Canções e ritmos sagrados são apresentados para reavivar o espírito da
plateia quase que exclusivamente homossexual, muitos dos quais são adeptos
ao culto ou até mesmo sacerdotes (um deles sempre aparece no clube em
trajes de sacerdote). Há bastante paquera e, na pista de dança, todos
divertem-se muito, imitando possessões, zombando do comportamento
autoritário de sacerdotes e exagerando nas danças de espíritos orixás e
caboclo.”

Sincretismo

Como foi observado acima, na seção sobre a história, o Candomblé se


desenvolveu no Brasil através da mistura de diversas crenças trazidas de
diferentes partes da África, o que pode ser considerado um processo de
sincretismo.

Mais estudado é o sincretismo do Candomblé com o Catolicismo, que surgiu


coma uma “cobertura sobre a qual os escravos clandestinamente se
habilitavam a praticar seu próprio culto religioso, reprimido de tantas formas”
Flaksman (2017), citando Abdias do Nascimento.

Já há décadas vem ganhando força, em alguns terreiros de Salvador, um


movimento contra o sincretismo, que alguns autores identificam com uma
suposta “reafricanização” do candomblé. Em 1983 Mãe Stella, com outras
mães de santo, tornou público um documento cujo objetivo principal era propor
o abandono do sincretismo por parte do povo de santo. Como o sincretismo
não é mais necessário como cobertura, recomenda-se voltar às raízes
africanas do Candomblé e resistir a tendência à folclorização.

Outros, no entanto, defendem a plasticidade e a capacidade de incorporar as


alteridades como características constitutivas do próprio candomblé. E o
sincretismo está muito assimilado. Flaksman relata uma conversa com uma
filha de santo. “O sincretismo foi uma ideia soprada por um orixá no ouvido de
seu filho”, ela me disse. “Mas então o que você acha do movimento de Mãe
Stella?”, perguntei. “Uma maluquice”, ela me respondeu: “como eu posso abrir
mão de uma coisa que o orixá deu? Além do mais, foi assim que a minha mãe
me ensinou”.

Intolerância religiosa

Oro (2012) resumiu a história de intolerância. Muitos intelectuais reforçaram


estigmas e preconceitos contra o negro em geral e contra as religiões afro-
brasileiras em particular. A Igreja Católica condenou as práticas religiosas dos
negros e desencadeou, na década de 1950, uma luta contra as religiões não-
cristãs. O Estado, com suas exigências burocráticas e legais para o
funcionamento dos terreiros, produziu uma forma de repressão e
desqualificação.

No entanto, a situação empiorou nas últimas décadas com o crescimento do


universo evangélico que inclui forte poder midiático e político. Essa expansão
evangélica no Brasil também fez eclodir atos de intolerância religiosa
praticados contra as religiões afro-brasileiras, principalmente partindo de
neopentecostais. Desde que o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus
(IURD), o bispo Edir Macedo, declarou guerra aos "orixás, caboclos e guias",
numa clara alusão aos elementos dos rituais do candomblé, da umbanda e do
espiritismo, jornais, revistas e a mídia em geral têm noticiado os constantes
ataques sofridos pelas religiões de matriz africana.

Felizmente, também existe repúdio de tais ataques e muitas expressões de


solidariedade com os terreiros afetados. Tem cristãos de igrejas mais abertas
que fazem questão de manter diálogo e colaboração com gente do Candomblé.

Conclusão

A leitura das observações de diversos autores revela claramente que o


Candomblé já construiu um lugar respeitável e valorizado na sociedade
brasileira, especialmente na Bahia. Até os ataques sofridos mostram isso,
pelas reações de apoio provocadas. O sincretismo continuará provendo pontos
de contato entre as religiões.

O elemento mais notável se relaciona com o meio ambiente. Vivemos num


período no qual as preocupações ambientais crescem cada vez mais devido ao
desmatamento, à destruição e à poluição e, agora, à ameaça de mudanças
climáticas drásticas. Pela estreita relação que tem com os fenômenos da
natureza, o Candomblé oferece inspiração e discernimento nas alianças que se
formam em torno de essa problemática.
Vimos, ainda, outros elementos importantes. Com suas lideranças femininas
fortes, o Candomblé proporciona um contrapeso ao machismo que marca
nossa sociedade. E com sua atitude aberta em relação à comunidade LGBT,
nos ajuda a celebrar a diversidade.

Adotando uma imagem bem apropriada, o Candomblé aparece com uma


semente da nova sociedade que tanto desejamos.

Referências

da Silva, Vagner Gonçalves, ed. Intolerância religiosa: impactos do


neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. Edusp, 2007.

de Araujo, Victor Antônio Bispo. "INTOLERÂNCIA AFRO-RELIGIOSA:


CONHECENDO O CANDOMBLÉ DENTRO DA SALA DE AULA." XVII
Encontro Estadual de História. 2016.

Flaksman, Clara. "Enredo de santo e sincretismos no candomblé de Salvador,


Bahia." Revista de Antropologia da UFSCar 9.2 (2017): 153-169.

Gomes, Bruno Ferreira. "A HISTÓRIA DO CANDOMBLÉ." IN TOTUM-


Periódico de Cadernos de Resumos e Anais da Faculdade Unida de Vitória 4.2
(2017).

Lui, Janayna de Alencar. "Os rumos da intolerância religiosa no Brasil." (2008):


211-214. RESENHA

Martins, Felipe Rodrigues. "Educação ambiental e Candomblé: afro-


religiosidade como consciência ambiental." PARALELLUS Revista de Estudos
de Religião-UNICAP, Recife-PE 6.12 (2015): 265-278.

Matory, J. Lorand. "Feminismo, nacionalismo, e a luta pelo significado do adé


no Candomblé: ou, como Edison Carneiro e Ruth Landes inverteram o curso da
história." Revista de Antropologia (2008): 107-121.

Oro, Ari Pedro. "O candomblé colorido." Debates do NER. Porto Alegre. Vol.
13, n. 22 (jul./dez. 2012), p. 167-175 (2012).

Souza, Larissa Fernandes Caldas. "Mito, história e individuação do feminino no


candomblé: as imagens arquetípicas da guerreira, da amante e da mãe."
(2015).

Van de Port, Mattijs. "Candomblé em rosa, verde e preto. Recriando a herança


religiosa afro-brasileira na esfera pública de Salvador, na Bahia." Debates do
NER 2.22 (2012): 123-164.

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