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I O QUE É ADMINISTRAÇÃO ECLESIÁSTICA?

“Administração Eclesiástica... O que é isso?”

E ssa pode ser a pergunta que vem à mente de quem folheia este livro. Para muitas pessoas,
a palavra “administração” significa planeamento, reuniões, metas, mas a igreja deve ser
gerida pelo Espírito Santo, pois igreja não é uma empresa.

De facto, é Deus, através do Espírito Santo, quem dirige a sua Igreja. Diz a Bíblia que: “O Senhor
lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos.” (NAA). A Bíblia também diz que devemos
fazer todas as coisas com organização e de forma decente, conforme está escrito em 1 Coríntios
14.40. A Palavra de Deus igualmente diz que devemos ser o sal da terra, a luz do mundo (Mateus
5.13-16). Isso quer dizer testemunhar às pessoas e fazer as coisas da maneira correta.

Considerando que devemos mostrar a diferença com o nosso exemplo e não apenas com as nossas
palavras, é importante conhecer a realidade onde estamos inseridos e o que podemos fazer para
melhorar nossas actividades eclesiásticas.

A Igreja é uma instituição criada por Deus, que trata tanto de assuntos relacionados a Deus e ao
mundo espiritual, como também de assuntos terrenos. Em Filipenses 2.15 está escrito: “Para que
sejam pessoas retas e dignas, filhos de Deus irrepreensíveis no meio de gente corrompida e
perversa. Devem brilhar no meio dessa gente como estrelas no céu” (BPT). Diante dos homens
devemos ser íntegros e corretos, pois esta é também uma forma de testemunhar do amor de Deus.
A boa administração exalta o nome do Senhor.

O Pastor Nemuel Kessler1 afirma que a administração significa:


a) Prevenção – preparar-se para o futuro, ainda que os imprevistos possam acontecer;
b) Organização – fazer com que as pessoas disponíveis, e os recursos estejam a trabalhar
juntos e em harmonia;
c) Comando – delegar, fazer com que o trabalho seja realizado pelas pessoas responsáveis ou
competentes;
d) Coordenação – fazer com que todas as áreas estejam a trabalhar bem, tanto elas, como
também umas com as outras;
e) Controlo – avaliar e regular o trabalho em andamento e acabado.

1
KESSLER, Nemuel; CÂMARA, Samuel (2018). Administração Eclesiástica. Rio de Janeiro, RJ, pp. 17-19.
A administração eclesiástica é uma maneira de fazer com que o trabalho de Deus avance. Ela se
adapta a cada realidade, de acordo com as necessidades. Quanto mais a igreja se desenvolve, mais
desafios e mudanças devem acontecer para que ela se organize de forma conveniente. As
mudanças e adaptações não significam que o mundo está a entrar na igreja. Um exemplo
encontra-se em Actos 6.1-7:

1
Naquela altura, o número de pessoas que aceitavam a fé era cada vez maior.
Por isso houve um certo descontentamento por parte dos crentes de língua
grega contra os crentes de língua hebraica, porque as sua viúvas eram
esquecidas na distribuição diária de auxílios.
2
Então os doze apóstolos reuniram todos os crentes e disseram: «Não está
certo que deixemos de pregar a palavra de Deus para nos ocuparmos da
distribuição de auxílios. 3Por isso, irmãos, escolham dentre vós sete homens
de confiança, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, para os encarregarmos
desse serviço. 4E nós continuamos a dar o nosso tempo à oração e ao
ministério da palavra de Deus.» 5Todos concordaram com a proposta e
escolheram então Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe,
Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau, que era natural de Antioquia e
se tinha convertido à religião judaica. 6Apresentaram estes homens aos
apóstolos que oraram por eles e impuseram as mãos sobre as suas
cabeças. 7Assim se espalhava cada vez mais a palavra de Deus e o número de
crentes aumentava em Jerusalém. Também um grande número
de sacerdotes aceitava a fé cristã.

Observa que a igreja de Jerusalém crescia, mas surgiu um problema: as pessoas necessitadas não
estavam a ser atendidas. Por esse motivo, um novo grupo foi criado: os diáconos. Antes não havia,
mas os apóstolos perceberam que deveria haver alguém que atendesse a essa nova necessidade da
igreja. Eles ajustaram as actividades e a liderança para esta nova realidade.

Eles perceberam que o problema das irmãs que necessitavam ajuda não iria parar e por isso
providenciaram alguém para lhes ajudar naquele momento e no futuro. Esse ajuste permitiu que
a igreja continuassse a crescer, como se lê no verso seis. Como se percebe, os ajustes sa6o
necessários em uma igreja.

Existem boas e más formas de se trabalhar com os recursos humanos (pessoas) e financeiros
(dinheiro e património). Cada pessoa deve estar atenta para administrar bem. Pode-se definir
uma boa administração da seguinte maneira:

Administrar bem é alcançar os objectivos definidos com os recursos humanos e


financeiros disponíveis, da maneira mais eficiente e organizada possível.

Vamos estudar a definição anterior analisando cada uma das frases:

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“Administrar bem é alcançar os objectivos definidos”: Os objectivos serão alcançados apenas se
houver uma boa administração. A Igreja de Jesus já tem esses objectivos bem claros, não é
necessário inventar ou criar propósitos para ela.2

“... com os recursos humanos e financeiros disponíveis”: Há pessoas que ficam a lamentar o facto
de não terem mais recursos financeiros para trabalhar. Há também aqueles que lamentam porque
não há muita gente na sua igreja para se envolver em novos ministérios. Mas esse comportamento
é o mesmo que o mordomo infiel teve quando recebeu apenas um talento do seu senhor, enquanto
os outros dois receberam mais que ele (Mateus 25.14-30). Lamentar o que não se tem é
característica de uma administração ruim e desastrosa.

O bom administrador olha aqueles que pertencem à sua igreja, observa quais são os recursos que
ele tem à sua disposição e põe-se a trabalhar para alcançar seus objectivos com as pessoas e
possibilidades que ele tem naquele momento.

“... da maneira mais eficiente e organizada possível.”: Há muitas formas de se alcançar um


objectivo. Mas quando se chega ao objectivo de uma maneira competente e de maneira
organizada, há menos desgaste e menos perdas.

Devemos também considerar que nesse processo de alcançar os objectivos, mudanças e ajustes
precisam ser feitos para termos os melhores resultados. Administrar também é ser flexível.

Em Moçambique é muito comum ver pessoas a gerir. De uma maneira ou outra, estamos sempre
a administrar. Por exemplo:

Quando é necessário reconstruir uma casa que veio abaixo pela acção de fortes ventos e chuva,
normalmente a pessoa recorre aos recursos que dispõe no momento e mais perto de si. Quem
pretende reconstruir procura ver o que há na sua rua, o que é mais fácil de fazer no momento e
quanto tem. Se há dinheiro para comprar os blocos, compra-se; se não há, o melhor é fazê-los.
Este é um exemplo simples de como a administração é comum em nosso país. Nessa hora, é
importante pensar no seguinte:

a) Eu tenho dinheiro para construir a minha casa com pedra, matope, madeira, palha ou
blocos?
b) O que eu vou usar para essa construção vai durar quanto tempo? Em alguns meses, eu vou
precisar construir novamente?
c) Perto da minha casa há algum rio que poderá encher e destruir todo o meu trabalho? É
possível construir uma casa que resista à água da chuva e do rio?

2
Sobre isso trataremos no capítulo seis.

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Como se pode ver, a definição de boa administração apresentada anteriormente pode ser aplicada
em diversos momentos e circunstâncias.

Existe o curso de gestão em diversas faculdades e universidades. Trata-se de um estudo


aprofundado e muito valioso de administração. Não se pode comparar a gestão de empresas com
a construção de uma casa. Mas o exemplo ajuda a compreender que sempre na nossa vida
devemos saber administrar.

O Antigo Testamento apresenta histórias de pessoas que administraram grandes


empreendimentos com competência e sabedoria: José, o governador do Egipto, soube recolher
no momento da prosperidade para ter como sobreviver quando o país passou por necessidade
(Gn. 41). Além dele, o Antigo Testamento fala de bons administradores como reis e o governador
Neemias em sua gestão na reconstrução dos muros.

O Novo Testamento também fala sobre administração. Já foi falado de Actos 6.1-7, quando os
apóstolos precisaram da ajuda dos diáconos. Nesse caso, a administração envolveu pessoas para
servir em determinada necessidade. Mas Lucas 14.31, 32 também apresenta uma situação em que
Jesus fala que necessitamos saber administrar os recursos que temos:

31
Ou, se um rei tiver que fazer guerra a outro rei, não começará por se sentar para
pensar bem e ver se com dez mil homens pode fazer frente ao exército de vinte mil que
vem contra ele? 32Se vir que não, manda embaixadores a esse rei, que ainda está longe,
e pergunta-lhe as condições para fazerem a paz.

Nesta passagem o Senhor fala de planeamento envolvendo pessoas. Um rei pensava em lutar
contra o outro, mas quando percebeu que o seu exército estava em menor número, logo mudou
a sua estratégia e procurou fazer a paz. Isso é administrar bem, percebendo a sua realidade e
como a situação poderá ser resolvida.

Cabe agora refletir sobre a palavra “eclesiástica”. Essa palavra vem do grego que significa
“convocar para uma reunião”. 3 Era uma expressão que se referia a reuniões públicas, era a
aglomeração de pessoas com o propósito de tomar decisões. A expressão passou também a ser
uma referência às reuniões dos crentes. A palavra “Eclésia” em grego foi adaptada para o
português e hoje usamos a palavra “igreja”. Por isso mesmo, quando nos referimos a assuntos
relacionados à igreja, estamos a tratar de questões “eclesiásticas”.

3
ROBINSON, Edward. (2012) Léxico Grego do Novo Testamento. Trad. Paulo Sérgio Gomes. Rio de Janeiro, CPAD,
p. 286.

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