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Stephen C. Perks
Copyright @ 2011, de Stephen C. Perks
Publicado originalmente em inglês sob o título
Baal Worship: ancient and modern
pela The Kuyper Foundation,
P. O. Box 2, Taunton, Somerset, TA1 4ZD, Inglaterra.
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PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da
Versão Almeida Revista e Atualizada (ARA),
salvo indicação em contrário.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Perks, Stephen C.
A adoração a Baal: antiga e moderna / Stephen C. Perks, tradução
Fabrício Tavares de Moraes — Brasília, DF: Editora Monergismo, 2016.
Título original: Baal Worship: ancient and modern 978-85-69980-13-1
1. Política 2. Teologia reformada I. Título CDD 201
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
INTRODUÇÃO
Quando lemos a história dos reis de Judá, narrada em
1 e 2 Reis, muitas vezes nos deparamos com uma afirmação
singular, uma expressão repetida, que caracteriza
determinado aspecto da atuação de certos reis descritos
como bons governantes. Todavia, essa fórmula singular
descreve um aspecto de seus reinados que fica sempre
aquém do elogio atribuído antes a esses reis, que “fizeram o
que era reto perante o Senhor”. O refrão se dá segundo a
ordem: após apresentar o nome do rei, o nome de sua mãe
e relatar seus atos justos perante o Senhor, nos é dito:
“Todavia, os altos não se tiraram”.
Essa sequência é visível quando lemos a respeito de Asa,
por exemplo: “No vigésimo ano de Jeroboão, rei de Israel,
começou Asa a reinar sobre Judá. Quarenta e um anos
reinou em Jerusalém. Era o nome de sua mãe Maaca, filha
de Absalão. Asa fez o que era reto perante o SENHOR, como
Davi, seu pai. Porque tirou da terra os prostitutos cultuais e
removeu todos os ídolos que seus pais fizeram; e até a
Maaca, sua mãe, depôs da dignidade de rainha-mãe,
porquanto ela havia feito ao poste-ídolo uma abominável
imagem; pois Asa destruiu essa imagem e a queimou no
vale de Cedrom; os altos, porém, não foram tirados;
todavia, o coração de Asa foi, todos os seus dias, totalmente
do SENHOR” (1Rs 15.9-14). De semelhante modo, lemos
acerca de Josafá: “E Josafá, filho de Asa, começou a reinar
sobre Judá no quarto ano de Acabe, rei de Israel. Era Josafá
da idade de trinta e cinco anos quando começou a reinar; e
vinte e cinco anos reinou em Jerusalém. Sua mãe se
chamava Azuba, filha de Sili. Ele andou em todos os
caminhos de Asa, seu pai; não se desviou deles e fez o que
era reto perante o SENHOR. Todavia, os altos não se tiraram;
neles, o povo ainda sacrificava e queimava incenso (1Rs
22.41-43).
Deparamo-nos com essa mesma sentença na descrição do
reino de Joás, que fez o que era reto perante o Senhor
enquanto esteve sob a instrução de Joiada, o sacerdote: “No
ano sétimo de Jeú, começou Joás a reinar e quarenta anos
reinou em Jerusalém. Era o nome de sua mãe Zíbia, de
Berseba. Fez Joás o que era reto perante o SENHOR, todos os
dias em que o sacerdote Joiada o dirigia. Tão somente os
altos não se tiraram; e o povo ainda sacrificava e queimava
incenso nos altos” (2Rs 12.1-3); também nas descrições do
reinado de Amazias (2Rs 14.1-4), que fez o que era reto
perante o Senhor, não, porém, com inteireza de coração
(2Cr 25.2), Azarias (Uzias) (2Rs 15.1-4), e Jotão (2Rs 15.32-
35). E, então, temos Acaz, que não fez o que era reto
perante o Senhor, seguindo os reis de Israel, e “até queimou
a seu filho como sacrifício, segundo as abominações dos
gentios, que o SENHOR lançara de diante dos filhos de Israel”
(2Rs 16.3). Após o reinado de Acaz, seguiu-se a reforma do
rei Ezequias, que, conforme nos é dito, não apenas fez “o
que era reto perante o SENHOR, segundo tudo o que fizera
Davi, seu pai”, mas também “removeu os altos, quebrou as
colunas e deitou abaixo o poste-ídolo; e fez em pedaços a
serpente de bronze que Moisés fizera, porque até àquele dia
os filhos de Israel lhe queimavam incenso” (2Rs 18.1-5). Em
seguida, apresenta-se um relato fervoroso sobre seu zelo
pelo Senhor.
Ora, o que temos perante nós? Seis reis de Judá serviram ao
Senhor, mas não removeram os altos, sendo sucedidos por
um rei (Acaz) que se desviou por completo do Senhor! Como
é possível que os reis descritos como governantes que
fizeram o que era reto perante o Senhor, tenham deixado
de condenar os falsos cultos e não removeram os altos em
que eles eram praticados? Como é possível que esses reis
tenham sido indulgentes, ou pelo menos tenham fingido não
perceber os rituais e sacrifícios contrários à verdadeira
religião revelada ao povo de Israel?
A resposta para essa indagação é que, naquele tempo,
praticava-se uma forma de religião sincrética em Judá e
Israel, um culto híbrido a Iavé-Baal. O povo cria que, ao
adorar nos altos e realizar os sacrifícios e as atividades
cultuais acima descritas, adoravam da forma correta o
verdadeiro Deus de Israel. Em suma, as pessoas não tinham
consciência de que sua adoração se encontrava de todo
corrompida. Praticavam uma forma cultual abominável ao
Senhor, mas criam que lhe era aceitável. O povo de Israel
estava envolvido em uma forma gravíssima de sincretismo
religioso em que os antigos cultos de fertilidade de Canaã
se fundiram ao culto a Iavé.
Embora os filhos de Israel tenham se voltado para o culto
dos deuses canaanitas não muito tempo depois da
conquista da terra no tempo dos Juízes, o problema com o
qual nos deparamos nos livros de 1 e 2 Reis aparentemente
teve origem na apostasia de Salomão (1Rs 11.1ss.), que
“seguiu a Astarote, a deusa dos sidônios, e a Milcom,
abominação dos amonitas” (v. 5), e que, de semelhante
modo, edificou “um santuário a Quemos, abominação de
Moabe, […] e a Moloque, abominação dos filhos de Amom”
(v. 7), destruído apenas no reinado de Josias (2Rs 22.13ss.).
Astarote,[1] a principal divindade feminina dos canaanitas,
era a deusa da fertilidade e morte/guerra, associada a Baal
(Jz 2.13; 3.7; 6.28), a principal divindade masculina de
Canaã,[2] embora o plural do termo, baalim, fosse
geralmente usado para se referir a falsos deuses.[3] Por sua
vez, Quemos era o deus dos moabitas (Nm 21.29; Jz 11.24),
cujo rito provavelmente incluía sacrifícios humanos (2Rs
2.27).[4] Ora, os altos eram locais de ritos religiosos pagãos
dos canaanitas, normalmente construídos em colinas perto
de árvores frondosas, consistindo em altares em
plataformas elevadas para o oferecimento de sacrifícios,
incenso etc., ao ar livre ou no interior de edifícios.[5]
Após a morte de Salomão, seu filho Roboão reinou em Judá,
ao passo que Jeroboão reinou em Israel. Os dois reis foram
ímpios. Jeroboão erigiu ídolos, bezerros de ouro, em Betel e
Dã, na tentativa de substituir o templo de Jerusalém por
outros locais de adoração para as dez tribos (1Rs 12.28,29).
Mas sob o governo de Roboão, o povo de Judá também se
desviou do Senhor e seguiu o caminho legado por Salomão
em sua idolatria: Roboão, filho de Salomão, reinou em Judá; de quarenta e
um anos de idade era Roboão quando começou a reinar e reinou dezessete anos
em Jerusalém, na cidade que o SENHOR escolhera de todas as tribos de Israel,
para estabelecer ali o seu nome. Naamá era o nome de sua mãe, amonita. Fez
Judá o que era mau perante o SENHOR; e, com os pecados que cometeu, o
provocou a zelo, mais do que fizeram os seus pais. Porque também os de Judá
edificaram altos, estátuas, colunas e postes-ídolos no alto de todos os elevados
outeiros e debaixo de todas as árvores verdes. Havia também na terra
prostitutos cultuais; fizeram segundo todas as coisas abomináveis das nações
Por fim,
que o SENHOR expulsara de diante dos filhos de Israel. (1Rs 14.21-24)
o exemplo de Salomão se entranhou em Judá no reinado de
Roboão, seu filho. O resultado disto foi que o culto de Iavé
se confundiu, ou, antes, se fundiu, com a religião dos
canaanitas praticadas nos altos; de maneira que essa
religião sincrética se tornou a tal ponto dominante que
mesmo mais tarde, quando outros reis se voltaram ao
Senhor e buscaram servi-lo com fidelidade, eles se tornaram
incapazes de reconhecer a corrupção da adoração nos altos
— ou, pelo menos, se compreendiam isso, a corrupção havia
se arraigado de modo tão profundo nas pessoas, que os reis
fiéis se viram incapazes de extirpá-la da terra.[6]
O termo baal significa “mestre” ou “senhor”.[7]
Aparentemente, na atmosfera gerada pela apostasia de
Salomão e a de seu filho, Roboão, o povo mais uma vez se
equivocou ao identificar Iavé, seu Deus, como seu Baal,
confundindo, portanto, o culto dele com o culto dos baalins
canaanitas, como fizera na época dos Juízes. Ora, no clima
de religião popular dominante em sua vida, era improvável
que o povo distinguisse com nitidez Iavé e Baal. Para eles, o
culto a Baal era o culto a Iavé, e vice-versa. A forma
sincrética da religião tornou-se, então, predominante.
Os profetas repreenderam o povo por causa da
idolatria. Oséias, por exemplo, após denunciar o povo pela
idolatria aos baalins, proclamou a salvação provida pelo
Senhor e disse: “Naquele dia, diz o SENHOR, ela me chamará:
Meu marido [ishi] e já não me chamará: Meu Baal [isto é,
“meu senhor”]. Da sua boca tirarei os nomes dos baalins, e
não mais se lembrará desses nomes” (Os 2.16,17). Não
obstante, a despeito das repreensões dos profetas, os filhos
de Israel persistiam nas práticas religiosas sincréticas e,
devido a elas, Deus os entregou a seus inimigos. No fim do
século VIII a.C., as dez tribos do Reino do Norte de Israel
foram levadas cativas para a Assíria, e suas terras,
ocupadas por povos estrangeiros (2Rs 17.9-24). Mais tarde,
no princípio do século VI a.C., o povo de Judá também foi
levado cativo pelos caldeus e exilado na Babilônia, como o
profeta Jeremias havia advertido (Jr 32.26-44; esp., v.
29,30,35). A cidade de Jerusalém e o templo foram, por fim,
destruídos em 586 a.C., pelo exército de Nabucodonosor.
1. A COSMOVISÃO SINCRETISTA