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História

Nhá-história do arraiá: a origem das festas juninas


Desde antes de Cristo se saudava o verão europeu com fogueiras. O catolicismo juntou isso e o aniversário de São João, criando
assim as festas juninas
Por Marcelo A ni - Atualizado em 6 jun 2018, 14h52 - Publicado em 31 Maio 1995, 22h00

 Agecom Bahia/Creative Commons

Antes de Cristo já havia festa de São João… com outro nome. Eram as fogueiras que saudavam a chegada do
verão Europeu. Até que, no século VI, o catolicismo associou essas celebrações pagãs ao aniversário de São
João. No século XIII, os portugueses passaram a comemorar também as noites de São Pedro e Santo
Antonio. No Brasil, as festas são populares desde 1583.

A fogueira de São João nasceu antes de são João. Quando o Vaticano instituiu, no século VI, o dia 24 de
junho para a comemoração do nascimento daquele que batizou Cristo, os povos europeus já celebravam,
com grandes fogueiras, a chegada do sol e do calor. Em 58 a.C., quando o imperador romano César
conquistou a Gália (França), os bárbaros já comemoravam o solstício do verão, no dia 22 ou 23 de junho – o
momento em que o Sol pára de afastar-se (solstício vem do latim e signi ca sol estático ) e volta a incidir
em cheio sobre o hemisfério norte.

Os cultos pagãos eram rituais de abundância e fertilidade , diz a professora maria Montes, antropóloga da
Universidade de São Paulo. Havia sacrifícios de animais e oferendas de cereais para afastar os demônios
da esterilidade, das pestes agrícolas e da estiagem . O cristianismo, na verdade, apenas converteu uma
tradição pagã em festa católica.

Até hoje, as tradições pagãs e cristãs convivem. A seita uika, inspirada nos antigos celtas (povo que dominou
ooeste da Europa no primeiro milênio antes de Cristo) acende grandes fogueiras ao redor do mundo, no
solstício do verão europeu. no Brasil, a Uika promove comemorações místicas, com mais de 500 pessoas, no
dia de São João, em São Tomé das Letras (MG) e Mauá (RJ). Na Espanha, as Hogueras de San Juan são uma
das tradições mais cultivadas, especialmente na Catalunha.

Em portugal, as comemorações foram ampliadas no século XIII, incluindo o dia de nascimento de Santo
Antonio de Pádua (que nasceu em Portugal mas morreu na Itália, no dia 13 de junho de 1195), e o da morte
de São Pedro, em 29 de junho. Transportadas para o Brasil colonial, as festas pegaram entre índios e
escravos.

Descrevendo as celebrações católicas assimiladas pelos índigenas, o jesuítas Fernão Cardim escreveu em
1583, em seu Tratado da Terra e da Gente do Brasil: A mais alegre é a das fogueiras de São João, porque
suas aldeias ardem em fogo e, para saltarem as fogueiras, não os estorva a roupa, ainda que algumas vezes
chamusquem o couro .

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Com a chegada da família real portuguesa, que se transferiu para o Brasil fugindo de Napoleão, na Europa,

as festas juninas tomaram novo rumo. Junto com os 15 000 aristocratas que desembarcaram no Rio, em 
1808, veio a contradança (originada nas country-dances, bailes camponeses da Normandia e da Inglaterra)
que animava as festas da realeza. Era uma dança de casais que trocavam de pares. Não demorou muito, as
contradanças saíram dos salões nobres para as festas populares. Casamomentos, batizados, festas juninas,
festas de padroeira e muitas outras passaram a ser comemoradas com a dança francesa.

No nal do século XIX surgiram formas mais modernas e urbanas de dançar, como a polca, o maxime e
lundu, e as quadrilhas foram desbancadas. Entretanto, permaneceram na zona rural, onde a população é
mais conservadora. A partir de 1930, quando o nacionalismo de Vargas estimulou a busca de uma
identidade cultural brasileira, a vida rural foi revalorizada. Segundo o antropólogo Renato da Silva Queiroz,
da USP, junto com a temática do homem do campo surgiu a dança caipira que nada mais é do que a
quadrilha de origem aristocrática com andaptações .

Hoje, a evolução segue a direção do espetáculo. Segundo o antropólogo Ricardo Lima, da Funarte (Fundação
Nacional da Arte), no Rio de Janeiro, há mais de 750 quadrilhas monumentais no estado. São grupos de
encenação que vestem roupas caríssimas, imitam os trajes das contradanças franceses do século XVIII e
aproveitam as quadras de escola de samba para ensaios , conta Lima. As novas quadrilhas usam, cada vez
mais, temas como enredos de carnaval, adotam alegorias e dançam ao som de música sertaneja e música
funk. Dentro em pouco, teremos a techno-quadrilha.

Fogos espantam maus espíritos

Bombinha, rojão, morteiro, estalinho, cabeça-de-negro, estrelinha, puff e buscapé – vale tudo. O
fósforo de cor é um palito de 10 cm de comprimento revestido com massa de pólvora, óxido de ferro,
terra refratária e corantes que depois de aceso, provoca faíscas prateadas ou coloridas.
A trança do pau-de- tas

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Dança em que os pares procuram trançar as tas presas no alto de um mastro de 4 metros de altura.
Homens e mulheres ziguezagueiam em volta do mastro, segurando a ta com a mão direita (eles) e
com a esquerda (elas), ao som animado do sanfoneiro.

Jogo de argolas

A idéia é levar para casa os objetos encestados pelas argolas. Com o m da troca direta entre os
agricultores surgiram jogos e passatempos nas festas como a pescaria e o tiro ao alvo para o
entretenimento. E para arrecadar fundos para a Igreja Católica.

Comilança e bebedeira na roça

Milho cozido, pamonha, canjica, cocada, bolo de fubá, pipoca, amendoim torrado e pé-de-moleque
fazem a festa. O popular quentão, uma infusão quente e conservada no fogo, de cachaça e água,
temperada com gengibre e canela, faz a cabeça. Sai debaixo: a ressaca é braba.

A alma da festa

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Para pagãos, a fogueira espanta os maus espíritos; para os cristãos, é um bom presságio. Uma fogueira
com 22 metros de altura é feita todo ano em Osasco (SP), com 150 toras de eucalipto, e queima de cima
para baixo. Pode durar uma semana, mas os bombeiros apagam antes.

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O casório
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O casamento é o maior evento social da vida rural brasileira. Reúne as famílias, os amigos, os
compadres e os noivos, sob as bençãoes do padre e da igreja. O escritor carioca Martins Pena dedicou-
lhe duas peças clássicas: O Casamento na Roça (1840) e Festa de São João (1845).

O balão ia subindo

O Balão surgiu para levar pedidos de graça dos homens para São João. Mas virou crime, em todo o
Brasil, em 1965, segundo o artigo 26 do Código Florestal e o artigo 28 da Lei das Contravenções Penais
de 1941. Dá cadeia. Eles provocam graves incêndios.

Pau-de-sebo

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Tronco de árvore, de 3 a 6 metros de altura, lixado e untado com sebo animal. No topo, são colocadas
prendas. Quem conseguir escalar o mastro escorregadio, leva. Na escalada, o principal fator de
sucesso é a força das mãos, que desgasta o sebo.

O santos padroeiros

Três padroeiros inspiram a tradições portuguesa e brasileira


São João Batista

Nascido em 24 de junho, primo de Cristo e precursou do Messias.

O catolicismo associou sua tradição à festa pagã da fogueira. Assim, segundo a lenda, Isabel, a
mãe de São João, teria anunciado o nascimento do lho à irmã, Maria, mãe de Jesus, acendendo
uma fogueira em clima de um morro. A fogueira virou bom presságio. São João foi degolado por
ter denunciado o adultério de herodes com a cunhada, Salomé.

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São Pedro

Morto em 29 de junho. O primeiro dos apóstolos , segundo o Evangelho. Era considerado um


homem de temperamento impulsivo, mas leal, expansivo e generoso. Morreu cruci cado sete
anos depois de Cristo. Acredita-se que seu corpo foi enterrado exatamente onde hoje se segue a
basílica do Vaticano, em Roma. Foi o primeiro papa. É objeto de devoção em Portugal.

Santo Antônio de Pádua

Morreu em 13 de junho, em Pádua, Itália, aos 36 anos. Nasceu em Lisboa, Portugal, em 1195. A
tradição popular lhe atribui caráter brincalhão e a fama de ser um milagroso casamenteiro,
venerado pelas moças solteiras. É o santo a quem se recorre para achar objetos perdidos. Como
santo português, no século XIII foi incorporado às comemorações juninas em Portugal e trazido
pelos colonos para o Brasil.

CRISTIANISMO - CATÓLICOS DANÇA FESTAS E COMEMORAÇÕES ORIGEM DAS COISAS

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