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Contextos Clínicos
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permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados.
Maria Adélia Minghelli Pieta, William Barbosa Gomes
(1934) sugeriu que o paciente deveria se iden- Fromm (Safran e Muran, 2000). Nesta mesma
tificar com o analista para cumprir as tarefas linha, Brenner (1979) argumentava que a dis-
propostas na análise. Deveria ser ajudado a re- tinção entre aliança e transferência não faria
alizar uma divisão do ego, para que os elemen- sentido, já que todos os aspectos da relação do
tos voltados à realidade se aliassem ao analista paciente com o terapeuta eram determinados
na tarefa de auto-observação. Essa separação por experiências passadas.
do racional e do irracional, crucial à análise, No estudo seminal de Gelso e Carter (1985)
foi chamada por Otto Fenichel de transferência sobre os componentes e antecedentes teóricos
racional (Safran e Muran, 2000). da relação terapêutica, os autores reconhece-
Similarmente às posições de Freud e Ster- ram a transferência como fenômeno universal,
ba, a psicanalista Zetzel (1956) indicou que o presente em todas as relações terapêuticas.
sucesso da análise dependeria da capacidade Como esperado, os autores ressaltam que a
de o paciente estabelecer uma relação de con- aliança terapêutica e a transferência estariam
fiança com o analista. Tal relação teria como alinhadas com o pensamento psicanalítico. No
base as experiências anteriores do paciente. entanto, a novidade é a referência à relação
Quando esta capacidade não existisse no início real apontada por Greenson (1967), caracteri-
do tratamento, o analista deveria prover uma zada pela espontaneidade, autenticidade e as-
relação de apoio que facilitasse o desenvol- sertividade. Por outro lado, também indicam
vimento da aliança. Foi Zetzel quem utilizou que há tratamentos que não consideram a rela-
pela primeira fez o termo aliança terapêutica ção real como algo central ao processo. Assim,
(Safran e Muran, 2000). a diversidade ainda é grande entre as distintas
Inaugurando um novo modelo de compre- modalidades psicoterápicas.
ensão da relação terapêutica, o psicanalista Gelso e Carter (1985) continuam suas consi-
Greenson (1967) a descreveu como tripartida derações sobre a relação terapêutica, ressaltan-
em: aliança terapêutica, transferência, e rela- do variações na tradição psicanalítica. Nesta
ção real. A aliança terapêutica seria a habili- direção, destacam a tradição dos psicanalistas
dade de o paciente e o terapeuta trabalharem não ortodoxos que abandonaram a definição
juntos; a transferência, a repetição de conflitos freudiana de transferência como revivência
anteriores com outros significativos; e a rela- de conflitos edipianos, interpretando-a como
ção real, as mútuas respostas do paciente e a repetição de conflitos pregressos. A trans-
do terapeuta de percepções não distorcidas e ferência seria a manifestação de experiências
sentimentos autênticos de gostar, respeitar e anteriores que suscitaram reações apropriadas
confiar um no outro. Apesar de a transferência no passado – servindo para proteger a auto-
contribuir para a aliança, o cerne desta última estima da criança e para tornar situações do-
seria a relação real. Quanto mais forte e positi- lorosas suportáveis – mas que continuaram,
va a relação real, mais robusta a aliança. Desta embora não houvesse razão, pois a realidade
forma, a racionalidade e a objetividade seriam era outra. Esse processo de distorção deveria
importantes em terapia. ser explorado em terapia por trazer prejuízos
A ênfase na aliança poderia implicar em à pessoa. Em contrapartida à transferência, ha-
racionalidade e objetividade ao longo do tra- via a contratransferência do analista, que tam-
tamento o que foi criticado por psicanalistas bém conteria distorções.
ortodoxos (Safran e Muran, 2000). Para eles, a A relação real, por sua vez (Gelso e Carter,
prática levaria à supervalorização da razão, em 1985), assemelhar-se-ia à relação estabelecida
detrimento do inconsciente, correndo-se o ris- nas psicoterapias humanistas. As percepções
co de o terapeuta negligenciar aspectos trans- e interpretações mútuas do paciente e do te-
ferenciais, tomando-os como reais e deixando rapeuta seriam apropriadas e realistas, e seus
de explorá-los em profundidade. Também sentimentos e comportamentos genuínos.
poderia promover uma conformidade do pa- Nesta perspectiva, o desafio do psicoterapeuta
ciente com o desejo do próprio analista. Con- era alcançar a genuinidade ou autenticidade,
tudo, psicanalistas não ortodoxos entenderam posta como base real de referência ao paciente
de outro modo, não valorizando a divisão en- (cliente para os humanistas) e recurso seguro
tre aliança e transferência por não adotarem para o mergulho na intimidade e afirmação da
a regra de neutralidade e abstinência que os confiança no autocrescimento.
distanciaria do envolvimento com os pacien- Gelso e Carter (1985) concluem assinalan-
tes. São exemplos analistas interpessoais como do que transferência, aliança e relação real
Sullivan e Thompson, e o psicanalista Erich estariam presentes em todas as relações te-
rapêuticas, sendo que cada abordagem teria para promover um feedback empático. Diferen-
como foco um ou outro desses componentes, tes vínculos não seriam necessariamente mais
explorando-os a sua maneira. A psicanálise, fortes um do que o outro, quer dizer, um tipo
por exemplo, teria como centro a transferên- de vínculo, como o que se estabelece quando
cia, as terapias humanistas a relação real, e as o terapeuta solicita ao paciente que complete
terapias cognitivas a aliança terapêutica. Den- um questionário com informações suas, não é
tre os três elementos, a transferência é o mais necessariamente mais forte do que outro tipo
difícil de estudar empiricamente, ao passo que de vínculo, qual seja o que se forma quando o
a aliança, por sua operacionalidade, é a que terapeuta divide seus sentimentos para susci-
mais se presta a investigações. tar feedback empático.
Na verdade, Bordin (1979) já havia alerta- A abrangente conceituação de Bordin
do que o conceito psicanalítico de aliança tera- (1979) circunscreveu, no contexto da relação
pêutica ultrapassava o campo da psicanálise, terapêutica, as especificidades da aliança, ser-
estando presente nas mais distintas e diver- vindo de referência à preparação de escalas.
sas terapias, sendo a sua força e não os seus Discorreremos sobre instrumentos em aliança
tipos a condição determinante. Uma aliança a seguir.
forte seria caracterizada por um alto grau de
relação colaborativa entre terapeuta e pacien- Do conceito de relação
te e por um bom vínculo afetivo entre ambos, às medidas de aliança
com confiança e respeito mútuos, sentimen-
to de gostar e se preocupar um com o outro. O interesse em prover apoio empírico às
Também incluiria consenso sobre os objetivos implicações das variadas configurações pre-
do tratamento e meios para alcançá-lo, com sentes na aliança terapêutica levou à cons-
o compromisso ativo e responsabilidade por trução de escalas para medir esse fenômeno.
parte do paciente, e sentimento de que o tera- Baseadas em maior ou menor grau na con-
peuta envolve-se da mesma forma (Horvath e ceituação panteórica de Bordin, essas escalas,
Bedi, 2002). embora meçam diferentes construtos subja-
Para Bordin (1979), a mudança seria, ge- centes – entretanto, relacionados (Horvath
nericamente, a aliança entre uma pessoa que e Luborsky, 1993) – tendem a se equivaler,
busca essa mudança e alguém que se oferece conforme indicou metanálise de Martin e co-
como agente catalisador. Embora Bordin tenha laboradores (2000). Nesse estudo, as escalas
desenvolvido o conceito no campo terapêu- mostraram confiabilidade e consistência, não
tico, reconheceu que essa aliança se daria em havendo evidências de uma ser mais confiável
outras esferas além da psicoterapia, como en- do que outra. A escolha de qual escala utilizar
tre professor e aluno, líder e grupo, pai e filho. não deveria, portanto, ser pautada nos índices
No caso da psicoterapia, a aliança envolveria de confiabilidade, pois todas mostraram fortes
três partes. A primeira seriam os objetivos do indícios de adequação.
tratamento, frutos de uma negociação entre Horvath et al. (2011) realizaram uma meta-
paciente e terapeuta, e variando conforme a nálise com 201 estudos sobre a associação entre
modalidade terapêutica. A segunda seriam as aliança terapêutica e resultados e encontraram
tarefas realizadas pelo paciente em colabora- mais de 30 diferentes medidas de aliança, sem
ção com o terapeuta, conforme as disposições contar suas versões reduzidas. Dois terços dos
do tratamento. Aí estariam incluídas trocas estudos utilizaram a California Psychotherapy
concretas, como o pagamento do serviço e Alliance Scale – CALPAS (Marmar et al., 1987),
trocas não concretas e até mesmo ambíguas, o Helping Alliance Questionnaire – Haq (Lu-
como manifestação ativa e passiva, compreen- borsky et al., 1983), a Vanderbilt Psychotherapy
são empática, modos de comunicação e ênfase Process Scale – VPPS (Hartley e Strupp, 1983)
na autoexploração. A terceira seria o vínculo e o Working Alliance Inventory – WAI (Horvath
emocional que se estabelece entre terapeuta e e Greenberg, 1989). Essas escalas são conside-
paciente na consecução dos objetivos da tera- radas as principais medidas em aliança (Hor-
pia, que poderia ser de diferentes tipos como vath et al., 2011). Dentre esses instrumentos,
o que se desenvolve quando um terapeuta dá o WAI se destaca por derivar exclusivamente
ao paciente um formulário para preencher dia- da conceituação de Bordin (1979), medindo
riamente com informações acerca de seu com- os três aspectos da aliança: objetivos, tarefas e
portamento, ou o que se estabelece quando vínculo (Martin et al., 2000). As propriedades
um terapeuta compartilha seus sentimentos psicométricas do WAI em amostra brasileira
que realizou psicoterapia online foram simila- “therapeutic relationship” - ambos com o filtro
res às descritas na literatura (Prado e Meyer, de que o descritor deveria aparecer no título
2006). Já a CALPAS, validada para o Brasil por – AND “outcome” OR “outcomes” AND “meta
Marcolino e Iacoponi (2001), inclui as teorias analysis” OR “meta analyses” - estes últimos
de Bordin (1979), Freud (1958 [1913]), Green- descritores sem filtro. Foram incluídos nessa
son (1967) e Luborsky (1976), bem como resul- busca todos os estudos indexados nas bases de
tados empíricos de outras medidas de alian- dados, entre artigos, capítulos de livro e teses,
ça. Esse instrumento mede quatro aspectos publicados até setembro de 2016. Foram ex-
do tratamento: a capacidade de trabalho do cluídos documentos que não se referissem ao
paciente; o comprometimento do paciente na tema de busca (e.g. metanálises sobre a aliança
psicoterapia; a compreensão e o envolvimento em psicoterapia de crianças, de adolescentes
do terapeuta; o acordo entre paciente e tera- ou de família), ou que estivessem apresenta-
peuta sobre tarefas e objetivos do tratamento. dos em duplicada entre as referidas bases,
A VPPS, por sua vez, combina as teorias de bem como entre diferentes formas de publica-
Bordin (1979), Greenson (1965) e Luborsky ção (i.e. capítulos de livro e teses que fossem
(1976) com a conceituação dinâmica e integra- duplicatas de artigos). A análise dos documen-
tiva da aliança de Strupp (e.g. Strupp e Binder, tos foi circunscrita aos achados sobre a relação
1984). Essa escala mede aspectos positivos e entre aliança e resultados de psicoterapia.
negativos de comportamentos e atitudes do Foram encontrados na revisão sistemáti-
paciente e do terapeuta, que facilitam ou difi- ca, inicialmente, 35 documentos. Destes, 13
cultam o progresso em terapia. Por fim, o Haq, foram excluídos por constituírem duplicata e
adaptado para o português brasileiro (Gomes onze por não se referirem ao tema de busca
et al., 2008), baseado na conceituação psicodi- (Figura 1 do Anexo A). Dessa forma, a revisão
nâmica de Luborsky (1976), mede dimensões final contemplou um total de 11 artigos (Ta-
do relacionamento paciente-terapeuta como bela 1 do Anexo B). Os resultados pertinentes
sentimentos de compreensão, confiança, inte- a essas considerações são apresentados e dis-
resse, objetivos comuns e desejo de progresso. cutidos a seguir.
A utilização dessas escalas em investiga- No que se refere ao impacto da aliança tera-
ções sobre a relação entre aliança e efetivida- pêutica nos resultados de terapia, este se mos-
de, em distintas abordagens psicoterápicas, trou onipresente em metanálise de Horvath et
sugere que essa associação não está mais al. (2011), sendo observado independentemen-
restrita à compreensão tácita do terapeuta, te de como a aliança foi medida, da perspecti-
mas evidenciada em estudos empíricos. Na va em que foi avaliada (se na perspectiva do
revisão que segue se destaca a importância terapeuta, do paciente ou de um observador),
da aliança terapêutica na predição de efetivi- de quando os resultados do tratamento foram
dade do tratamento. avaliados e do tipo de terapia em questão. Em
síntese, o resultado dessa metanálise aponta
Estudos de metanálise sobre para a importância da qualidade da aliança
aliança e resultados nos resultados de tratamentos.
A relação positiva entre aliança terapêuti-
A aliança terapêutica é um dos conceitos ca e resultados, independentemente do tipo
mais investigados em pesquisa de processo de terapia envolvido, também foi encontrada
em psicoterapia e sua influência nos resulta- mais recentemente em revisão de metanálise
dos terapêuticos tem sido amplamente pesqui- de Flückiger et al. (2015). Os autores investiga-
sada (Flückiger et al., 2015). O extenso número ram a relação entre aliança e resultados em 200
de estudos publicados sobre a aliança permite estudos que incluíram 14.000 terapias e essa re-
a sintetização de dados na forma de metaná- lação se mostrou robusta através de várias tra-
lises, as quais proporcionam uma visão mais dições psicoterápicas. A relação positiva entre
abrangente do tema. aliança e resultados não apenas foi encontrada
Com o objetivo de conhecer o que dizem as através de diferentes modalidades de psicote-
metanálises sobre aliança terapêutica e resul- rapia, como também de distintos desenhos de
tados na psicoterapia individual de adultos, estudos (e.g. ensaios clínicos randomizados e
foi realizada, no presente estudo, uma revisão estudos não controlados) e de variados resul-
sistemática nas bases de dado Psycinfo e Pub- tados específicos de determinados transtornos.
med. A revisão foi realizada nas duas bases se- Nessa metanálise, a aliança foi preditora de
paradamente, com os descritores “alliance” OR uma porção moderada do total dos resultados
por distorções. (iv) Os terapeutas devem ter ta à compreensão tácita do terapeuta em rela-
empatia com as experiências do paciente e va- ção ao momento vivido no tratamento, à lem-
lidá-las quando forem abordar temas polêmi- brança do que foi a sessão, ou à impressão de
cos. Nas situações em que desacordos sobre como está indo aquele determinado caso. A re-
tarefas e objetivos do tratamento suscitarem lação tornou-se objeto de estudos controlados
rupturas na relação terapêutica, o terapeuta e comparados com outros estudos, dispondo,
pode, estrategicamente, modificar essas ta- para seu esclarecimento, de um corpo organi-
refas e objetivos de forma significativa para zado e especializado de informação referen-
o paciente, reparando falhas na aliança. Por cial. A vasta compilação de achados sobre a
exemplo, se o fato de o terapeuta desafiar um relação terapêutica e resultados de tratamento
pensamento disfuncional do paciente causar tem relevantes implicações clínicas, sendo fun-
ruptura na relação, o terapeuta pode, em vez damental sua disseminação entre profissionais
de seguir desafiando a percepção do pacien- da área, para uma prática apropriada e efetiva.
te, validar a experiência dele. (v) O terapeu- O desenvolvimento da aliança é uma habi-
ta poderá relacionar rupturas na aliança com lidade ou capacidade que pode ser treinada,
padrões interpessoais do paciente, e associar da mesma forma que são treinados outros as-
o que está ocorrendo na relação terapêutica pectos da terapia. Tanto é que a força tarefa da
com outras relações na vida do paciente. En- Division of Psychotherapy da APA recomendou,
tretanto, essas interpretações devem ser dosa- a partir de estudos comparativos rigorosos
das, pois em excesso, podem acarretar efeitos (Norcross e Wampold, 2011), atenção aos se-
negativos. A qualidade (em oposição à quan- guintes aspectos: (i) a criação e cultivo da re-
tidade) da interpretação e o significado dela lação terapêutica como o principal objetivo no
dentro da relação terapêutica determinam um tratamento; (ii) a adaptação da psicoterapia
efeito positivo ou negativo no paciente. às características do paciente; (iii) o monito-
O estudo de metanálise de Horvath et al. ramento das respostas do paciente à relação
(2011) mostrou que a aliança é parte ativa e terapêutica e ao tratamento, o que permite
central das intervenções do terapeuta e que o restabelecer a colaboração, melhorar a relação,
desenvolvimento de uma boa aliança no início modificar as estratégias e evitar o término pre-
do tratamento é vital para seu sucesso, evitan- maturo. Por outro lado, a APA não recomenda
do abandono de terapia. Os autores destaca- aos terapeutas: (i) confrontações; (ii) comentá-
ram que para estabelecer a aliança nos estágios rios e comportamentos hostis, pejorativos, bem
iniciais do tratamento é importante adaptar a como rejeição e culpabilização do paciente;
terapia às necessidades, expectativas e capa- (iii) supor ou intuir as percepções do paciente
cidades do paciente. Apesar disso, flutuações sobre a relação e o tratamento como positivas;
na força da aliança dentro das sessões ou entre ao contrário, a indagação acerca das percep-
elas são esperadas e, quando resolvidas, asso- ções do paciente melhora a aliança e evita o
ciadas a bons resultados. Essas oscilações po- término prematuro (além de a percepção do
dem ocorrer em resposta a uma variedade de paciente se mostrar melhor preditora de re-
fatores, como desafiar o paciente a lidar com sultados do que a do terapeuta); e (iv) rigidez
assuntos difíceis, como incompreensões com excessiva na estruturação do tratamento, que
relação a si mesmo e a outros, ou confusões pode impedir a empatia. Nota-se ainda um
de papéis na relação com o terapeuta. As re- grande esforço em levar aos terapeutas formas
postas não defensivas do terapeuta a atitudes recomendadas e apoiadas em evidências para
negativas e hostis do paciente são cruciais à se estabelecer uma boa aliança desde o início
manutenção de uma boa aliança. É recomen- do tratamento. Neste sentido estão sendo uti-
dável, no tratamento, monitorar a forma como lizados materiais didáticos audiovisuais (e.g.
o paciente percebe a aliança, sendo as contri- “Counseling 101: Talking Together” de Johansen,
buições do terapeuta essenciais para a afirma- Lumley e Cano (2011) e “Resolving Therapeutic
ção da aliança. Impasses” de Safran e Muran, (2006)) para au-
xiliar na formação continuada de terapeutas
Considerações finais (Smith-Hansen et al., 2011).
O estado da arte, como descrito, acena tan-
A importância da relação terapêutica para to para um acompanhamento mais cuidadoso
os resultados da psicoterapia tem aberto um dos tratamentos psicológicos, quanto para uma
amplo e diversificado campo de investigação visão mais integrada da prática psicoterápica.
na área. Sabe-se hoje que a relação não se limi- Contudo, no Brasil ainda são poucos os estu-
dos sobre a aliança terapêutica e resultados de nique of psychoanalysis. In: J. STRACHEY (ed.),
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https://doi.org/10.1590/S1413-73722006000200003 Aceito: 24/05/2017
Anexo A
140
Tabela 1. Informações referentes às metanálises analisadas.
Table 1. Information regarding the analyzed meta-analyses.
Artigo Referência Estudos incluídos Objetivos Análise dos dados Principais resultados
Investigar moderadores da
relação entre a aliança e re-
sultados. Foram incluídos 1)
Therapist effects o cálculo da relação entre te-
K=69 A contribuição do terapeuta para a
in the therapeutic rapeutas e pacientes em cada
Estudos primários Random effects aliança foi um preditor de resultados,
alliance–outcome estudo (divisão do número
Del Re et selecionados dentre (restricted maximum considerando diferentes tipos de avalia-
relationship: A de pacientes por terapeutas:
al. (2012) os 190 estudos da likelihood) meta-ana- dor da aliança, de medidas de aliança,
restricted-maxi- P/T), 2) tipo de avaliador da
metanálise de Hor- lytic estimator de desenho de estudo e de diagnósticos
mum likelihood aliança (se terapeuta, pacien-
vath et al. (2011) no Eixo II do DSM IV.
meta-analysis te ou observador), 3) medi-
da de aliança, 4) desenho de
estudo e 5) diagnóstico no
Eixo II do DSM IV.
Tamanhos de efei-
Dropout and ther- Foi encontrada uma relação moderada-
K=11 to foram somados
apeutic alliance: a Investigar a relação entre mente forte entre abandono de terapia
Sharf et al. Estudos seleciona- através dos estudos,
meta-analysis of abandono de terapia e e aliança. Pacientes com uma aliança
(2010) dos da pesquisa de seguindo procedi-
adult individual aliança. mais fraca têm maior probabilidade de
Sharf (2008) mentos de efeitos
psychotherapy abandonar a terapia.
randômicos
A primer on me-
Cálculo de tamanho
ta-analysis of cor-
de efeito, de signifi- Os resultados mostraram uma relação
relation coefficients:
Investigar a relação entre a cância estatística des- positiva que sugere que um apego mais
The relationship
Diener et aliança terapêutica referida se tamanho de efeito, seguro associa-se com alianças tera-
between patient-re- K=12
al. (2009) pelo paciente e estilo de teste de homogenei- pêuticas mais fortes, ao passo que um
ported therapeutic
apego. dade, intervalos de apego mais inseguro associa-se com
alliance and adult
confiança e análise alianças mais fracas.
attachment style as
de file drawer.
an illustration
Artigo Referência Estudos incluídos Objetivos Análise dos dados Principais resultados
The relationship
Tamanhos de efeito
between adult at- Os resultados mostraram que um apego
foram somados atra-
tachment style and Diener e Investigar a relação entre a mais seguro associou-se com alianças
vés dos estudos com
therapeutic alliance Monroe K=17 aliança terapêutica e estilo terapêuticas mais fortes, ao passo que
utilização do método
in individual psy- (2011) de apego. um apego mais inseguro associou-se
de efeitos randômi-
chotherapy: A meta com alianças mais fracas.
cos de Hedges et al.
-analytic review
Foi encontrada uma relação positiva
Bedeutung der entre aliança e resultados, através de
Arbeitsallianz in diferentes modalidades de psicotera-
der Psychotherapie: pia, de distintos desenhos de estudos
141
étnicas
Tabela 1. Continuação.
142
Table 1. Continuation.
Artigo Referência Estudos incluídos Objetivos Análise dos dados Principais resultados
Correlações entre estágios iniciais de
aliança e resultados foram ligeiramente
mais altas em estudos realizados por
Investigar se desenho de investigadores com interesse específico
How central is the
estudo, tipo de tratamento, na aliança do que em estudos realizados
alliance in psycho-
Flückiger ou variáveis de fidelidade Metanálise longitu- por pesquisadores sem tal interesse.
therapy? A multi- K=201
et al. (2012) do autor, sozinhos ou com- dinal multinível. Essa diferença inicial desapareceu ao
level longitudinal
binados, moderam a relação longo da terapia. Nenhuma das variá-
meta-analysis
entre aliança e resultados. veis propostas como moderadoras ou
mediadoras da relação entre aliança e
resultados, sozinhas ou combinadas,
mediaram o impacto.
Examinar a relação entre
aliança e resultados, con-
siderando (i) medida de
aliança, (ii) avaliador da
aliança (paciente, terapeuta Restricted maximum Todas as correlações entre aliança e
Alliance in individ- Horvath et
K=201 ou observador), (iii) tempo likelihood (random-ef- resultados em cada categoria foram
ual psychotherapy al. (2011)
em que as medidas foram fects) model significativas.
coletadas, (iv) resultados
do tratamento, (v) tipo de
tratamento, e (vi) tipo de
publicação
Investigar a associação
entre presença de episódios
Cálculos de tamanho
de reparo de rupturas e
de efeito no pré e A reparação de rupturas na aliança te-
Repairing alliance Safran et al. resultados de tratamento.
K=11 pós-tratamento, bem rapêutica relacionou-se com resultados
ruptures (2011) Examinar o impacto de
como em contraste positivos no tratamento.
treinamento para resolução
entre grupos.
de ruptura nos resultados
do paciente.
Artigo Referência Estudos incluídos Objetivos Análise dos dados Principais resultados
A qualidade da aliança foi mais predito-
Coeficiente de
ra de resultados de tratamento quando
correlação r do tipo
Relation between medida na perspectiva do paciente.
product-moment como
working alliance Horvath e Investigar a relação entre A relação entre aliança e resultados
estimativa de tama-
and outcome in Symonds K=24 qualidade da aliança e não parece ser uma função do tipo de
nho de efeito; foram
psychotherapy: A (1991) resultados terapia praticado, da duração do tra-
utilizados tamanhos
meta-analysis tamento, do fato de a pesquisa ter sido
de efeito ponderados
publicada ou não, ou do número de
e não poderados
participantes no estudo.
other variables: al. (2000) cados e 21 estudos nho de efeito; foram das diferentes variáveis que vinham
aliança.
a meta-analytic não publicados utilizados tamanhos sendo postuladas como influenciando a
review de efeito ponderados relação terapêutica.
143