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24/08/2022 19:40 A insalubridade e os "álcalis cáusticos" - Jus.com.

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A insalubridade e os "álcalis cáusticos"


Fernando dos Santos Wilges 01/02/2001 às 03:00

Começou nesta terça (23), a 5ª edição


da Shell Eco-marathon Brasil, no Píer
Mauá, Centro do Rio. Na competição,…

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É
bastante comum, em laudos confeccionados na Justiça do Trabalho, verificar-se
conclusões
periciais, quando o assunto é o contato do trabalhador com produtos à base
de cloro
(clorofina, alvex, etc.), saponáceos (sapólio, etc.), hipoclorito e amoníacos,
utilização de soda cáustica e Detergente Amoniacal, que culminam na constatação de
condições insalubres de trabalho em grau médio, com apoio no Anexo 13, da NR 15 da
Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho, que prevê o adicional de insalubridade em
grau médio para a fabricação e manuseio de álcalis cáusticos.

A
CLT considera atividades insalubres as que por sua natureza, condições ou
métodos de
trabalho exponham os empregados a agentes nocivos à saúde acima dos
limites de
tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente, e do
tempo de
exposição aos seus efeitos (artigo 189). É da competência do Ministério do
Trabalho
aprovar quadro de atividades e operações insalubres. O artigo 190 preceitua
que o mesmo
Ministério deve adotar normas sobre os critérios de caracterização de
insalubridade,
os limites de tolerância aos agentes agressivos, meios de proteção e o
tempo máximo de
exposição do empregado a esses agentes.

De
posse dessas informações, chega-se à conclusão de que o legislador delegou a
competência ao Poder Executivo (Ministério do Trabalho e da Administração) para
aprovar o quadro das atividades e operações insalubres (artº 190, "caput",
CLT). Assim,
somente as atividades descritas no referido quadro podem ensejar o jus ao
adicional, não

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cabendo, inclusive, que se faça qualquer interpretação a respeito.


Chega-se à
conclusão, portanto, que as atividades não arroladas nos quadros do Anexo da
NR 15 não
podem ser consideradas como insalubres.

Observe-se,
nesse sentido, a seguinte jurisprudência, comprovante de que o Tribunal
Superior do
Trabalho já apresenta Precedente Jurisprudencial da Seção de Dissídios
Individuais
(Enunciado 333):

“"4. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE – NECESSIDADE DE


CLASSIFICAÇÃO DA
ATIVIDADE INSALUBRE NA RELAÇÃO OFICIAL ELABORADA PELO MINISTÉRIO DO
TRABALHO, NÃO BASTANTO A CONSTATAÇÃO POR LAUDO PERICIAL – CLT art. 190
APLICÁVEL".
E-EE 43338/92, Ac. 1521/96, DJ 28.6.96, Min. Francisco Fausto, Decisão
Unânime E-EE
1213/88, Ac. 2251/94, DJ 27.10.94, Min. Francisco Fausto, Decisão por
maioria E-EE
15118/90 Ac. 2324/93, DJ 29.10.93 Min. Ney Doyle, Decisão por maioria.

Tendo-se tal orientação jurisprudencial em mãos, note-se que


o ANEXO 13 da NR
15, com todo o respeito dos inúmeros profissionais da área, não
caracteriza o uso dos
produtos acima arrolados como atividades insalubres em grau médio.

Utilizo aqui as razões de estudo elaborado pelo Engenheiro


Gilberto Pons:

"Os produtos de limpeza empregados nas tarefas de limpeza


são sabão em barra
ou líquido, álcool, água sanitária, saponáceo e desinfetantes.

O álcool etílico é neutro, ou seja pH 7 e, a água


sanitária, cujo pH é 12 no estado
puro, na condição de diluição empregada
(proporção de 0,003%) fica, igualmente,
pH 7 (neutro).

Não existe alcalinidade nestas condições de emprego de água


sanitárias nas
condições de diluição empregado.

O saponáceo, que é empregado na remoção de manchas em


paredes, tampos
de mesas e panelas, tem pH de 10,5 em condição de diluição nágua. Sua
forma de
aplicação é restrita à colocação do produto numa extremidade do pano de
limpeza
ou sobre a superfície a ser limpa e, com o pano, esfrega-se a área que se deseja
limpar. Assim, não existe o contato direto do sapólio com as mãos. A verificação de
A insalubridade e os "álcalis cáusticos"
alcalinidade encontrada no emprego do saponáceo, colocando-se a fita de medição
entre a
mão e o pano de limpeza umedecido, foi de pH 8 (neutro), ou seja, não
encontramos
alcalinidade.

Na situação de limpeza de pisos, onde é empregado sabão


líquido, em pó ou em
barra, existe a alcalinidade em torno de 10,5, ou seja, tais
produtos são elementos de
baixa alcalinidade.

Para a alcalinidade encontrada, somente existe risco de danos


na hipótese destes
produtos atingirem os olhos, o que provocará ardência, como ocorre
quando se lava

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o cabelo e o shampoo atinge os olhos.

Cabe salientar que o termo alcalinidade refere-se ao número de


íons (OH)
disponíveis para reação e, causticidade é o fato relativo ao efeito causado
pela
corrosão. Assim sendo, o termo álcali cáustico aplica-se aos produtos que tem
efeito
imediato sobre a pele pelo processo de corrosão, como é o caso do hidróxido de
amônia, hidróxido e óxido de cálcio, potássio, sódio, peróxido e silicatos sódicos
e
fosfato trisódico em soluções concentradas, onde o pH situa-se acima de 13.

A manipulação direta com estes produtos, sem as medidas de


proteção causam
queimaduras gelatinosas na pele. Apesar de denominar-se como produtos
alcalinos
os elementos que tem pH superior a 8, não é correto rotular-se os mesmos como
cáustico por conter-se hidróxidos livres.

A título de exemplo, cabe relatar que a Resolução nº 12 da


Comissão Nacional de
Normas e Padrões para Alimentos – Ministério da Saúde,
aprova como norma técnica
sobre águas de consumo alimentar (água potável) à
característica de faixa de
tolerância permitida entre 5 e 10 de pH. Assim, se uma água
de poço apresentar pH 10
é plenamente, pelos padrões de potabilidade destinada ao
consumo humano e,
evidentemente, não se trata de substância "cáustica", termo
restrito a indicar
produtos que ocasionem "o que queima" ou "que carboniza
os tecidos".”

Analogia similar deve ser efetuada para os produtos de limpeza em geral, assim
como o
sabão não provoca queimaduras, não é correto classificá-lo como elemento
álcalis
cáustico.

Tem solução para evoluir na


circularidade?
Cazoolo Lab

Ressalte-se, ainda, que o hipoclorito de sódio (NaClO) é uma substância obtida pelo
borbulhamento de Cloro em solução de Hidróxido de Sódio, apresentando-se sob o
aspecto
de solução aquosa alcalina e integrando a composição dos tradicionais
produtos de
limpeza doméstica vendidos nos supermercados.

Segundo informações do fabricante Carbocloro, seu pH varia entre 9 e 11, não se


caracterizando, portando, como um "álcalis cáustico". (in
www.carbocloro.com.br/produtos/hipo.html, 14.09.1999).

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Diante do exposto, não se pode considerar como gerador de insalubridade o


trabalho de
limpeza com o emprego de clorofina, sapólio, ALVEX, hipoclorito de sódio e
detergente
amoniacal, pois não se tratam de produtos caracterizados como "álcalis
cáusticos". Corrobora com este entendimento, inclusive, as próprias donas de casa
que,
habitualmente, fazem uso deste produtos sem que se tenha notícia dos efeitos danosos
daí advindos.

Começou nesta terça (23), a 5ª edição da


Shell Eco-marathon Brasil, no Píer Mauá,…

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Dessa forma, chega-se à conclusão de que em inúmeros processos verificam-se


condenações demasiadamente benéficas aos trabalhadores, em detrimento da
necessária
observância ao sistema legal vigente.

Webstories

Pensão alimentícia para grávidas

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Sobre o autor
Fernando dos Santos Wilges
analista judiciário em Porto Alegre (RS)

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)


WILGES, Fernando dos Santos
.
A insalubridade e os "álcalis cáusticos".
Revista Jus Navigandi,
ISSN 1518-4862, Teresina, ano 6
, n. 49, 1 fev. 2001
. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/1161. Acesso em: 24 ago. 2022.

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