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FACULDADE MACHADO SOBRINHO

TECNOLOGIA EM PRODUÇÃO CÊNICA

PATRICK DE OLIVEIRA PEREIRA

TOM NA FAZENDA, NO TEATRO E NO CINEMA.

USOS E RESULTADOS DE TÉCNICAS DO CINEMA NO TEATRO.

JUIZ DE FORA

2018
FACULDADE MACHADO SOBRINHO

TECNOLOGIA EM PRODUÇÃO CÊNICA

PATRICK DE OLIVEIRA PEREIRA

TOM NA FAZENDA, NO TEATRO E NO CINEMA.

Usos e resultados de técnicas do cinema no teatro.

Monografia apresentada à faculdade Machado Sobrinho - FMS ao curso de Produção Cênica, como

parte dos requisitos para o trabalho de conclusão de

curso e a obtenção do título de Produtor Cênico.

Orientador(a): Raissa Moraes

JUIZ DE FORA

2018

SUMÁRIO:

1
BANCA EXAMINADORA……………….……………………………….…………3

DEDICATÓRIA……...……….…………………………………………….…………4

AGRADECIMENTOS.………………………………………………………………..5

RESUMO…………………………………………………………………….………...6

1. POR ONDE COMEÇAMOS……………………………………....…………..7

2. RELAÇÕES FILOSÓFICAS…………………………………………………..8

3. SOBRE A RESSIGNIFICAÇÃO……………………………………………..9

4. OS OLHOS, AS CÂMERAS, O FUNDO E A TRANSFORMAÇÃO………..12

5. PLANOS E A CAIXA CÊNICA……………………………………………….13

6. PROFUNDIDADE DE CAMPO E A LUZ…………………………………….16

7. TROCANDO EM MIÚDOS……………………………………………………17

PATRICK DE OLIVEIRA PEREIRA

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TOM NA FAZENDA, NO TEATRO E NO CINEMA

O USO E RESULTADOS DE TÉCNICAS CINEMATOGRÁFICAS NO TEATRO

Monografia apresentada à faculdade Machado Sobrinho - FMS ao curso de Produção Cênica, como

parte dos requisitos para o trabalho de conclusão de

curso e a obtenção do título de Produtor Cênico.

Juiz de Fora, 03 de Julho de 2018

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

(Professora/orientadora - Raissa Moraes)

__________________________________________________________

(Coordenador - Alexandre Gutierrez)

3
Ao Luan, Thales, Rodrigo, Bruna, e a todos os envolvidos do Projeto “Curto Circuito” por

me apresentarem ao mundo de gratificantes

loucuras do teatro.

AGRADECIMENTOS

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Agradeço ao Luan pela sensibilidade

À Bruna pela energia

Ao Rodrigo pela simplicidade

Ao Ritcheli pela entrega

Ao Thales pela fé

À Verônica pela doçura

E principalmente, à Larissa, Marcia, Pablo, Alexandre e Márcio pelo amor que serviu de

combustível para chegar até aqui.

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RESUMO

Esta monografia propõe o estudo do uso de técnicas cinematográficas adaptadas para

o universo teatral e como estas atingem o público. Para nortear esta pesquisa usarei como

referência a montagem de Rodrigo Portella do espetáculo “Tom na Fazenda” escrito

originalmente pelo canadense Michel Marc Bouchard. Abordarei neste trabalho de forma

breve parte da construção filosófica do cinema e sua relação com o teatro, assim como as

técnicas que a sétima arte desenvolveu com o passar dos anos, para enfim chegar em uma

ponte entre as duas artes. O texto de Bouchard também recebe uma adaptação para o cinema,

mas é importante salientar que a montagem de Portella não sofre influência da versão

cinematográfica do espetáculo por opção do diretor. A montagem para os palcos e cinema

não serão comparadas para respeitar esta opção do diretor, mantendo o artigo focado na

construção do cinema em si.

ABSTRACT

This monograph proposes the study of the use of cinematographic techniques adapted

to the theatrical universe and how they reach the public. To guide this research I will use as a

reference the Rodrigo Portella montage of the show "Tom na Fazenda" written originally by

the Canadian Michel Marc Bouchard. I will briefly discuss in this work part of the

philosophical construction of the cinema and its relation with the theater, as well as the

techniques that the seventh art developed over the years, in order to finally arrive at a bridge

between the two arts. The text of Bouchard also receives an adaptation for the cinema, but it

is important to emphasize that the assembly of Portella does not suffer influence of the

cinematographic version of the spectacle by option of the director. The assembly for the

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stages and cinema will not be compared to respect this option of the director, keeping the

article focused on the construction of the cinema itself.

1. Por onde começamos ?

Ao assistir a montagem de Tom na Fazenda de Rodrigo Portella, me senti extasiado e

impressionado com o que tinha acabado de assistir. Porém, percebi que algo de extremamente

familiar na maneira como o espetáculo se construiu diante de meus olhos. Os atores, o

cenário, a iluminação tudo aquilo que se construía em cena me remetia a coisas que já havia

assistido. Ao me lembrar de uma das paixões de Rodrigo, logo percebi o que realmente me

remetia a peça. Não eram outros espetáculos, mas sim filmes.

A construção cinematográfica geralmente é lembrada por suas diferenças com as

teatrais,porém, através desta experiência que Tom na Fazenda me proporcionou pude

perceber que as duas linguagens são complementares através dos conceitos que as

caracterizam. Se a fotografia é definida pela luz, e o teatro depende da iluminação, se o uso

de som mecânico é comum das duas artes, se é preciso interpretar e transformar o texto, por

que não falar de seus pontos em comum ? Através dessa pergunta que começamos a ponte

que propõe este artigo.

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2. Sobre as relações filosóficas:

“Munsterberg sempre se preocupou mais com o espectador e


com o arco de comunicações do que com a feitura do​ ​filme.
É interessante o fato de Munsterberg nunca ter discutido com o
diretor ou o roteirista como força criativa. Evidentemente ele
achava que os poderes impessoais da tecnologia e da sociologia
trabalhavam através dos cineastas para dar origem
aos filmes.” (ANDREW, 1945)

O que é o cinema? A princípio poderia-se responder que o cinema é uma

sequência de fotografias reproduzidas de maneira a gerar a ilusão do movimento. Porém, isso

seria pouco para defini-lo como arte. Segundo Hegel, a beleza artística supera a beleza

natural por estar ligada aos ideais humanos de maneira a transmiti-los, sejam eles sensações

ou conceitos.

A arte está ligada ao belo, e o belo está representado nas ideias e significados

humanos. Portanto a arte é a materialização do belo para que se possa transmitir ao outro.

Seguindo este conceito podemos definir que o cinema como fotografia e movimento

não o define como arte, e sim como técnica. O cinema como arte reside no significado

atribuído à esse movimento por quem o organiza e recebido por quem o assiste. Nesse

aspecto, vemos que o cinema como arte existe não só como objeto, mas sim como fenômeno.

Para que este fenômeno realmente aconteça é necessário que haja alguém para receber a

mensagem transmitida.

Alguns teóricos diriam que a diferença entre o cinema e o teatro reside na presença de

espectadores no momento em que os atores estão em cena no teatro, e na ausência deste

público enquanto a ação ocorre no cinema. Porém, conforme vimos acima, essa afirmação

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pode se apresentar definitiva demais em alguns aspectos. O corpo do ator não está presente

em cena, mas seus gestos, movimentos, entonações e intenções estão presentes na maioria

dos filmes.

O espetáculo “Tom na Fazenda” é um exemplo prático de como esse conceito

também

está presente de maneira forte no Teatro. O diretor Rodrigo Portella deixa evidente isso em

seu texto “Tom e o Barro-O Complexo Primitivo”, onde conta de maneira resumida a origem

do conceito de sua montagem de Tom na Fazenda aqui no Brasil. Ele diz que o convite para

montar o espetáculo surge do ator Armando Babaioff no período pós impeachment da

presidente Dilma Rousseff, marcado socialmente por casos de agressões familiares, mortes de

homossexuais e transexuais, xenofobia, movimentos de limpeza étnica, crises econômica,

política e ética. Entendendo o contexto social em que estava inserido, as mensagens contidas

no texto e como isso reverbera em seu íntimo, Rodrigo logo entendeu o que gostaria de dizer

e a quem, deixando claro que isso nortearia todas as suas decisões alinhando esses fatores

com sua intuição.

“Todo o movimento que fizemos ao montar ​Tom na Fazenda foi o

de relativizar as verdades instituídas a partir dos nossos processos

de formação social e cultural. Para nós, sempre foi ponto de

convergência a ideia de provocar reconhecimento e identificação,

mas não só ao que é belo e bom.” (PORTELLA, 2017)

Percebemos nesse caso como a preocupação com a idéia a ser passada definiu todo o

processo de escolhas técnicas a serem utilizadas. Os atores em cena, a iluminação, cenário e

as imagens formadas em sequência durante o espetáculo formando movimento. Estas só se

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tornam objeto artístico quando uma idéia se materializa com o objetivo de atingir alguém, e

para que isso aconteça, um fenômeno parecido com o referido no cinema deve-se instaurar.

3. Sobre ressignificação

“A maioria dos teóricos têm afirmado que até certo ponto

o cinema é veículo da realidade, mesmo sendo uma

substituição do real. Arnheim, no entanto, assegura que,

nesse caso, o filme não pode ser arte, a partir do momento

em que um artista não tem possibilidade real de manipular

tal veículo.”​ ​(ANDREW, 1945)

Embora a fotografia tenha o poder de, de certa forma, registrar o real, o que temos

em imagem não é algo que pertença a realidade. Mesmo o cinema documental não possui a

capacidade de trazer a realidade crua em cena. A realidade do cinema documental existe

apenas até o momento em que as imagens foram filmadas. depois disso existe apenas uma

representação do que ocorreu, um vislumbre do que realmente foi.

Como vimos anteriormente , o cinema como arte depende de uma transposição de

uma mensagem para a realidade. Na maioria das vezes essa mensagem vem a partir de algo

que pertenceu anteriormente ao plano real , que representado por imagens e sons se manifesta

de maneira física, onde virá a se transmitir. Porém nem mesmo o que vemos nessa

manifestação física é apenas uma ressignificação do real.

Para começar podemos pensar na projeção em si. As imagens que vemos não possuem

três dimensões e sim duas. Se tratam apenas de um registro de algo que anteriormente

possuiu três dimensões. Então para suprir essa falta, acabamos por, através de técnicas,

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ressignificar as qualidades de uma imagem bidimensional para que tenhamos a sensação de

estar vendo algo em três dimensões.

Arnheim, nesse aspecto, se aproxima muito do que Munsterberg afirma sobre a

necessidade da presença de uma mente humana para que o cinema aconteça como arte. A

imagem em si é apenas luz e só pode ser algo significativo ao passar pelas emoções humanas,

seus desejos, lembranças, medos e angústias é que transformarão o que se vê em arte.

Indo além dos aspectos “Físicos” do cinema podemos também destacar aspectos

narrativos, como por exemplo, ao retratar uma morte em um documentário ou em um filme

ficcional, retiramos essa morte do plano real. No caso do documentário podemos ter imagens

de uma morte real capturadas por uma câmera de segurança. No plano real esta morte pode

ter durado cerca de segundos e acontecer em um momento aleatório para a maioria da

população. Porém, ao ser incorporada ao documentário, contextos sociais, a maneira como

isso afetou parentes e amigos, momentos políticos, documentos, fotografias e outros artifícios

reais ressignificam aquele momento para transmitir esta mensagem.

Quando falamos de um filme ficcional essa ressignificação acontece de maneira mais

intensa. A morte ali retratada não pertence ao plano da realidade no momento em que é

retratada. Os atores, cinegrafistas, diretores e produtores já a ressignificam no momento de

sua captura em imagem. Porém isso não quer dizer que essa morte não venha de algo real. A

morte em si pertence a realidade, e mortes reais podem inspirar, o roteirista, o diretor, os

atores e a produção para tornar aquela morte, ferramenta da mensagem a ser transmitida pelo

filme.

Na peça “Tom na Fazenda” também vemos a ressignificação de mortes. Durante

o espetáculo logo de cara lidamos com a morte do namorado de Tom que irá nortear o

espetáculo. Porém, além desta morte que não acontece no tempo presente, temos outra morte

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de importância para a dramaturgia que acontece em cena, aos olhos do público: A morte de

Francis, o cunhado e amante de Tom, assassinado pelo próprio rapaz. Nesse momento se

torna de extrema importância a ressignificação da mesma maneira que no cinema. Não se

pode realmente cometer um homicídio em cena, e não se pode deixar de lado o fato de um

homicídio ser transmitido através da cena. Para isso, é necessário adequar a morte para a

“bidimensionalidade” da caixa cênica.

Na adaptação brasileira do espetáculo, a morte é ressignificada através de um

conjunto de técnicas somadas a simplicidade de uma narrativa. Os gestos se cessam nos

atores que se sentam na boca de cena. A iluminação os colocam bidimensionais como um

retrato reforçando as sombras em seus corpos e olhos vazios. O assassinato é descrito apenas

com palavras, somadas a essa imagem que possibilita ao espectador ter a sensação da morte

causada. Através disso somos capazes de perceber o quão próximos são o cinema e o teatro

nesse aspecto. Mesmo que imagens não sejam projetadas em uma tela, a cena teatral

apresenta a impossibilidade do real assim como o cinema. Deve-se trazer para a cena a

sensação do real apenas, deve-se resignificar a realidade.

4. Os olhos, as câmeras, o fundo e a transformação

“Nossos olhos, nossos ouvidos, as pontas de nossos dedos dão


forma, cor, contorno e finalmente significado ao mundo
que os estimula. Este processo é chamado transformação e
ocorre em todos os seres humanos (…)” ( de quem é?)

Entender a maneira como nosso corpo reconhece o mundo é de extrema importância

para que possamos entender como se relacionam conosco o cinema e o teatro. A ideia de

realidade que temos é definida principalmente pelos sentidos humanos. O contato que temos

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com o mundo através da visão, audição, olfato,tato e paladar informa para nossas mentes tudo

o que existe dentro e fora de nossos corpos e fornece dados de como reconhecê-los. Nossas

mentes transformam esses dados fornecendo significado a eles através de sensações e

memórias.

Falando a grosso modo podemos separar esse processo em quatro estágios, são eles,

recepção de estímulo físico bruto, conversão em sinapses, transmissão da sinapses pelo

corpo, conversão e significação das sinapses na mente. Sabemos que no momento que chega

à mente humana esses estímulos passam por um processo que nos define como seres

humanos e que até hoje não possui uma explicação exata , mas para nós como artistas é

necessário saber também o processo frio e físico que ocorre fora dela.

Já que falamos de cinema, é inevitável não pensarmos a um primeiro momento nos

dois principais sentidos utilizados por essa arte. A visão e a audição. Porém o que nos

interessa agora é como esses sentidos são estimulados por essa arte. Como seria possível

transmitir a sensação de imagens e sons que aconteceram longe de nossos olhos e ouvidos? A

resposta é simples , com “olhos” e “ouvidos” artificiais.

A câmera de vídeo usada no cinema funciona da mesma maneira que o olho humano.

Ela captura a luz refletida que passa por uma íris, é invertida e filtrada por uma lente e

registrada em uma “retina” da mesma maneira que o olho humano. A captação de áudio feita

por microfones, também acontece pela conversão de vibrações em sinais elétricos assim

como nossos ouvidos. Lógico que esses aparelhos não atingem a mesma qualidade e

definição sensorial que nossos corpos, porém, se considerarmos que a maneira de se captar o

mundo no cinema é a mesma que um corpo humano usa ao sentar para assistir um espetáculo

de teatro, não seria possível utilizar as mesmas maneiras de se manipular essas informações a

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fim de transferir uma mensagem ? Para mim a resposta é sim, mas para isso precisamos

entender técnicas básicas do cinema além dos conceitos aqui já apresentados.

5. Planos e a Caixa Cênica

Quando examinamos uma fotografia, nossa mente não


consegue compensar esse efeito, pois a fotografia é um
objeto bidimensional. É isso que torna a composição
fotográfica diferente da mera arrumação de figuras.
(ANDREW,1945)

Um dos conceitos básicos da fotografia é o de enquadramento. Através dele

transformamos o que é captado e projetado na tela para transformar a imagem em produto

artístico e dominar as sensações causadas pela imagem. O enquadramento é a decisão quanto

ao que será ou não mostrado na imagem, para isso são usadas uma série de técnicas e

artifícios. Algumas das principais técnicas são, plano e profundidade de campo. Falaremos de

delas no decorrer deste artigo começando neste tópico pela idéia de plano. Plano, no cinema é

uma das palavras mais utilizadas e com maior número de significados .

Abordaremos em primeiro momento a idéia de plano fotográfico. O plano dentro de

uma fotografia é o que passa a idéia de tridimensionalidade na imagem, ou seja, as

sobreposições de imagens que dão a idéia de profundidade. Peguemos, por exemplo a obra de

Leonardo Da Vinci “Monalisa”. Temos ao mesmo tempo a imagem da mulher e de estradas,

um vilarejo, campos compondo a imagem. A mulher que está mais a frente ganhando

destaque na imagem está no que se chama na fotografia de primeiro plano. Já as estradas e

campos que aparecem logo atrás dela dando uma idéia de proximidade, porém em distância

maior que a da mulher em relação ao espectador, estão no que se chama segundo plano. A

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cidade, céu e imagens com idéia de grande distância estão localizadas no terceiro plano da

imagem.

Essa sobreposição de imagens permite ao espectador manter-se focado e interessado

na imagem, causando a impressão de não se tratar de uma imagem bidimensional. Mesmo se

colocássemos um quadro pintado de maneira uniforme, em sem traços e sem textura em uma

parede, sua moldura nos daria essa impressão de outro plano, pois a propria moldura possui

outros traços cores e texturas, causando sobreposição de imagens. A própria moldura é uma

imagem.

No espetáculo “Tom na Fazenda de Portella, vemos esse conceito aplicado de maneira

prática no teatro, mesmo que essa associação não seja feita conscientemente. Em uma das

cenas, o personagem Francis leva Tom para a vala das vaca da fazenda com o intuito de

ameaçá-lo. Para construir essa cena rodrigo coloca os dois atores em planos diferentes, Tom

está mais a frente com uma luz intensa o fazendo parecer maior, enquanto Francis caminha

do centro do palco para o fundo e volta até o centro em uma luz difusa e mais fraca. Essa

limitação de movimentação somada a luz, dava ao olho do espectador uma sensação de

distância entre os personagens e atraia por passar a sensação de imagens complementares.

Imediatamente a plateia cria naquele momento uma aproximação com o que se vê em cena.

6. Profundidade de campo e a luz.

Profundidade de campo no cinema é o nome dado a capacidade de foco de uma

câmera de vídeo. quanto maior a profundidade de campo, maior a área focal e maior a

quantidade de elementos que tomam importância na cena. Quando desejamos manter o foco

de quem vê em apenas um detalhe, usando os outros planos apenas como uma composição

visual, utilizamos uma profundidade de campo menor. Exemplificando isso de maneira mais

fácil, podemos pegar cenas em close no cinema. O rosto que se encontra com maior definição

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está em foco e dentro da profundidade de campo da lente. Já o fundo borrado da cena com

luzes e objetos embaçados está fora da área de profundidade da lente. Essa técnica cria efeitos

visuais incríveis no cinema, além de manter o foco da platéia no que se deseja, mas como

realizar essa tarefa no Teatro ?

Na cena de Tom na Fazenda em que Francis leva Tom para a vala das vacas, temos outro

elemento que ajuda a prender o espectador além dos planos. A iluminação usada confunde a

profundidade de campo de nossos olhos. em geral a profundidade de campo do olho humano

é bem grande. Mas algumas situações fazem essa profundidade diminuir, nos permitindo

focar em algumas coisas e diminuir o foco em outras. Um desses fatores é a diferença de

iluminação de objetos.

Pense assim, se temos dois objetos, um iluminado com uma luz mais intensa e direcionada,

enquanto o outro está com uma luz mais fraca e dispersa, automaticamente focaremos na

imagem mais iluminada. Na cena de Tom na Fazenda, Francis está com uma iluminação mais

difusa e menos intensa, enquanto Tom tem um Elipsoidal direcionado para ele em uma

potência maior. Isso nos faz focar mais nas ações de Tom. Porém nos momentos que a

intensidade das luzes trocavam, passamos a dividir essa atenção também com Francis. Ao

pensar nisso podemos pôr em evidência pequenos detalhes como um close, ou por uma

imagem composta por vários elementos em cena.

7. Trocando em miúdos

A utilização de técnicas do cinema no Teatro não é algo novo ou extraordinário. Os

poucos exemplos aqui citados são costumes e hábitos já utilizados há décadas, porém, a

consciência de que são pontos em comum e da possibilidade de utilização destes como

complementares é algo que de longe passa em nossas cabeças no dia a dia de nossa profissão.

Pelo contrário, na maior parte do tempo nos vemos como antagonistas.

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Ao pensarmos nos objetivos do cinema e do teatro, levando em consideração suas

semelhanças como complementos de suas dificuldades, poderemos alcançar o publico de uma

maneira mais sensível e completa. O costume do espectador com a linguagem

cinematográfica atual talvez o tenha afastado das salas de teatro. Porém, a nossa negação em

aceitar essa linguagem como complementar a nossa arte, também contribui para esse

afastamento. O teatro em sua história sempre agregou de maneira criativa outras artes. Fazer

isso com o cinema também, indo além do uso da projeção em si e atingindo os aspectos

filosóficos e técnicos de sua feitura, são capazes de enriquecer ainda mais a nossa já tão nobre

arte.

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Bibliografia:

- Livro: Tom na fazenda. ​BOUCHARD, Michel ; PORTELLA, Rodrigo e

BABAIOFF, Armando. Rio de Janeiro. Ed: cobogó, 2017.

- Livro: As principais teorias do cinema. ​ANDREW, Dudley. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar. Ed, 2002.

- Artigo: Revista Brasileira de Ensino de Física. HELENEL, Otaviano e FRAZÃO,

André. São Paulo: 2011. v. 33

- Livro: Estética. A Idéia e o Ideal / Estética. O Belo Artístico ou o Ideal. ​HEGEL,

Georg. Ed. Novacultural 1991.

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