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CURITIBA
2011
Patrick Diener
CURITIBA
2011
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais que, cada um ao seu modo, compreendem a necessidade desta
etapa;
The French filmmaker Jean-Pierre Jeunet, director of films such as Le Fabuleux destin d'Amélie
Poulain and Un long dimanche fiançailles admitted in interviews to have been influenced by the
aesthetics of the Brazilian, settled in Paris, painter Juarez Machado. But the filmmaker does not
pinpoint where visual elements were used as inspiration for his scenes. This project aims at analyzing
Juarez Machado paintings and films of Jean-Pierre Jeunet to point out the mentioned determinant
features of this aesthetic influence. As its specific objective this paper propones to illustrate their
correlation and to raise art movements’ characteristics that can fit both arts, film and painting. The
problem lies in identifying the similarities between the works. At what points these two distinct forms of
art can show similarities and under what perspectives or nuances of art direction the film interacts with
Machado’s canvas? To raise such related data and draw relation between the paintings and the movie
this dissertation uses theoretical research literature and observation between the paintings and the
object. As corpus of study, Juarez Machado’s paintings and the 2001 film Amélie (Le Fabuleux destin
d'Amélie Poulain) will be used. This paper discusses image analysis, intertextuality and media, with
theoretical support in Gérard Genette and Gilles Deleuze.
RESUMO..................................................................................................................... 1
ABSTRACT................................................................................................................. 2
LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS .................................................................... 3
SUMÁRIO ................................................................................................................... 4
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6
2. A FANTASIA NOS MOVIMENTOS CINEMATOGRÁFICOS FRANCESES........... 9
2.2 MOVIMENTOS FRANCESES E AS OBRAS DE JEUNET.................................. 12
2.3 O CINEMA DE JEAN-PIERRE JEUNET ............................................................. 14
3. O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULIN ................................................... 16
4. JUAREZ MACHADO, ARTISTA E OBRA ............................................................ 25
4.1 VIDA PROFISSIONAL ........................................................................................ 25
4.2 GALERIA VIRTUAL, A FONTE DE PESQUISA .................................................. 28
5. INTERTEXTUALIDADE E O CINEMA .................................................................. 34
5.1 ONDE MACHADO E JEUNET SE ENCONTRAM ............................................... 41
6. CORRELAÇÕES ENTRE OS OBJETOS ............................................................. 42
6.1 PERSONAGENS PRINCIPAIS ........................................................................... 42
6.2 PLANOS E ENQUADRAMENTOS ...................................................................... 48
6.3 ILUMINAÇÃO E CORES ..................................................................................... 56
6.5 SITUAÇÕES........................................................................................................ 64
6.6 AMBIENTES E OBJETOS................................................................................... 71
6.7 MÚSICAS E SONS ............................................................................................. 78
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 81
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 84
GLOSSÁRIO ............................................................................................................. 87
ANEXOS ................................................................................................................... 89
6
1. INTRODUÇÃO
Films about paintings, at least those that use them to create some thing the
structure of which is cinematic, meet with an identical objection from painters
and art critics alike. (...) Their objection, and I myself have heard it from the
very lips of an Inspector General of Drawing of the Department of Education,
is that however you look at it the film is not true to the painting. Its dramatic
and logical unity establishes relationships that are chronologically false and
otherwise fictitious, between paintings often widely separated both in time
1
and spirit (BAZIN, 1967, p.164).
1
Filmes sobre pinturas, pelo menos aqueles que as utilizam para criar algo dentro da estrutura do
que é cinema, encontram uma objeção idêntica de pintores e também dos críticos de arte. (...) A
objeção, e eu mesmo ouvi-la da boca de um Inspetor-Geral de Desenho do Departamento de
Educação, no entanto é que você olha para o filme e ele não é fiel à pintura. Sua unidade dramática e
7
lógica estabelece relações que são cronologicamente falsas e fictícias, entre pinturas são muitas
vezes distantes no tempo e espírito. (Tradução do autor)
8
2
Durante este trabalho será utilizada a palavra frame ou fotograma para descrever cada imagem fixa
do produto audiovisual. Seu correlato: “quadro” pode levar a interpretações dúbias devido a natureza
deste trabalho também tratar de “quadros” enquanto telas, obras de pinturas.
9
3
Fedelhos do cinema como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola se apresentavam como
herdeiros da Nouvelle Vague francesa. De trás do balcão de locação de vídeos Quentin Tarantino
observava os filmes noir e os filmes de Jean-Luc Godard aclamados como inovadores estilísticos. A
historiografia do estilo do filme tornou-se uma parte importante da história do cinema. (Tradução do
autor).
4
Tal desenvolvimento amplo naturalmente incluiu tendências bastante diferentes, mas dois mais
importantes são cruciais. Um centra-se na Nouvelle Vague, ou "Nova Onda". A outra tendência,
muitas vezes identificada com a "Margem Esquerda", que envolve uma geração um pouco mais
velha, que mudou-se para grandes produções. (...) A Nova Onda francesa (Nouvelle Vague) é a
grande responsável pela imagem romântica do jovem diretor lutando para fazer filmes pessoais que
desafiam a indústria convencional. Ironicamente, a maioria dos diretores associados com a Nova
Onda rapidamente se tornou mainstream, mesmo cineastas mais simples. (Tradução do autor)
12
Parisian critics called this the cinema du look. The films decorate fairly
conventional plot lines with chic fashion, high-technology gadgetry, and
conventions drawn from advertising photography and television
commercials. The directors fill the shots with crisp edges and stark blocks of
color and mirrors and polished metal create dazzling reflections
5
(BORDWELL, 1994, p.743).
Biodrowski transcreve partes de uma entrevista com Jeunet que fala como se sente
sobre a relação com a Nouvelle Vague.
This became Jeunet’s first produced feature film, thanks to limited locations
and sets that made it affordable. ‘I had written two or three scripts together
with Marc Caro, and it was too expensive — impossible to make a short
feature. We lost ten years,’ he laments. ‘At this time, I thought, “Okay,
(Delicatessen) is only one small setting, not a lot of people. It was very
cheap, compared to The City Of Lost Children, for example. It was very
difficult to find the money. My producer took one year. Nobody wanted to do
Delicatessen. Because at this time, it was only the Nouvelle Vague.’ Jeunet
is referring to the famous French film movement of the ’60s (known as ‘New
Wave’ in the U.S.). With its emphasis on realism and ordinary life, often
filmed on real locations, the aesthetic of the New Wave movement stood in
opposition to what Jeunet and Caro wanted to achieve with Delicatessen.
7
‘Forget the French New Wave!’ Jeunet states (BIODROWSKI, 2008).
7
Este se tornou primeiro longa de Jeunet, graças às locações e cenários limitados que o tornou
viável. "Eu tinha escrito dois ou três roteiros, juntamente com Marc Caro, e eram muito caros -,
impossível fazer um curta metragem. Perdemos dez anos", lamenta. "Neste momento, eu pensei: "
Ok, (Delicatessen) é apenas uma pequena locação, e não um monte de gente. Foi muito barato,
comparado ao "Ladrão de Sonhos", por exemplo. Foi muito difícil encontrar o dinheiro. Meu produtor
levou um ano. Ninguém queria fazer Delicatessen. Porque neste momento, era apenas a Nouvelle
Vague. Jeunet está se referindo ao movimento cinematográfico francês famoso dos anos 60
(conhecido como "New Wave" em os EUA). Com sua ênfase no realismo e vida cotidiana, muitas
vezes filmados em locais reais, a estética do movimento Nouvelle Vague estava em oposição ao que
Jeunet e Caro queriam alcançar com Delicatessen. "Esqueçam a Nouvelle Vague francesa! afirma
Jeunet. (Tradução do autor)
8
Besson e particularmente Beineix propôs um cinema popular de alta tecnologia influenciado por
Hollywood, e atraente para o público jovem, que ficou conhecido como Cinema du Look. (...) Jeunet e
Caro têm sido associados com o Cinema du Look em diversas oportunidades. Ambos Delicatessen e
La Cité des Enfants Perdus foram influenciados estilisticamente pelos comerciais e a estética de tiras
em quadrinhos, e o estilo "du look". (Tradução do autor)
14
carne de seres humanos para os inquilinos do edifício, Julie tem de decidir se ela vai
permanecer leal aos negócios de seu pai ou expor a verdade, a fim de salvar o
palhaço de ser a próxima vítima. O filme mostra uma tubulação velha que percorre
todo o edifício como um canal de comunicação entre seus personagens. A estética
noir permeia grande parte da direção artística da película. Embora a intenção deste
trabalho não seja levantar as sinopses de cada filme de Jeunet; o tom dado pelo
diretor no seu primeiro longa-metragem é importante para a análise de sua relevante
posição dentro da história do cinema francês.
The City of Lost Children, ou Ladrões de Sonhos (1995) como conhecido no
Brasil, foi um filme tão inovador neste período que necessitou a criação de novos
softwares para os efeitos especiais. O filme conta a história de uma menina e de um
homem que juntam forças para salvar os sonhos de um menino que está nas mãos
de um louco. A produção contou com figurinos do estilista francês Jean-Paul
Gaultier. Enquanto o filme era para ser destinado para crianças, alguns o
consideraram demasiado dark. Estas considerações não impediram o filme de ser
bem sucedido. Assim, em 1997, Jeunet deixou a França para seguir uma carreira
temporária nos Estados Unidos, onde dirigiu o quarto episódio da série Alien: “Alien:
A Ressurreição” (1997).
Em 2000, Jeunet voltou à França para fazer um filme mais pessoal (pois se
passa no bairro onde reside). Filmou sua história principalmente no subúrbio
parisiense de Montmartre. O resultado foi O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
(2001), estrelado por Audrey Tautou e Mathieu Kassovitz. A montagem deste filme
une o passado e presente da personagem, desconstruindo a linearidade da
narrativa, mostrando situações às quais a personagem principal foi exposta para
construir sua personalidade. “Com este filme de Jeunet fez seu maior sucesso
mundial” (VANDERSCHELDEN, 2007). Jeunet decidiu então filmar a adaptação do
livro de Sébastien Japrisot Un long dimanche de fiançailles 9(em português: Eterno
Amor, lançado em 2004) para o qual ele chamou novamente Audrey Tautou e
Dominique Pinon. Como em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, este filme
possui uma narrativa não linear. O estilo deste último trabalho é por vezes um pouco
melancólico e poético.
Devido ao visual elaborado de seus filmes, Jeunet pode ser visto como um
diretor que valoriza mais o estilo do que o roteiro, mesmo tendo contribuído em
9
A tradução literal é “Um longo domingo de noivado”.
16
energética e que pode ser menos digna de atenção que o habitual, dentro deste
contexto. Uma cadeira vazia atrás dela lembraria a pessoa desaparecida (mãe) e
reforça a razão da tristeza.
Há então uma antecipação de quem será Amélie no futuro, uma justiceira
anônima. A vítima desta cena, o vizinho desonesto de Amélie, é mostrado em seu
apartamento assistindo tv. A sala inteira está envolta em sombras escuras,
aparentemente vindas de cortinas grossas e verdes. A fim de mostrá-lo no foco
central da sala, Jeunet veste-o em vermelho. Amélie, por outro lado, está sentada do
lado de fora, no telhado, vestindo verde. Como adversários na cena, é relevante
notar que os dois personagens usam cores opostas e complementares. Finalmente
Amélie corta o sinal da tv a cabo durante uma partida de futebol a qual o vizinho
assiste. Faz-se a vingança por outrora tê-la enganado.
Adulta, Amélie se torna uma garçonete em um pequeno café no bairro
parisiense de Montmartre, o “Café des 2 Moulins”, gerenciado por uma ex-artista.
Aos 23 anos, Amélie leva uma vida simples, tendo abandonado qualquer
relacionamento amoroso depois de tentativas frustradas, ela adquiriu um gosto pelos
prazeres simples, menciona o narrador em off do filme, como por exemplo quebrar o
Crème Brûlée com uma colher, jogar pedras no Canal Saint-Martin, ou fazer jogos
de adivinhação cujas respostas nunca lhe serão dadas.
É quase como se os dois principais personagens, Amélie e Nino fossem
prisioneiros da sua infância. Uma obsessão por maneirismos infantis que poderiam
ser tomados como doentios, os dois. De algum modo eles procuram se libertar
desses fantasmas da infantilidade que os ronda. Nino coleciona fotos, mas mascara
os traços de infantilidade desta rotina colocando um objetivo (mesmo que fútil) para
a sua coleção: descobrir de quem é um dos rostos fotografados através de suas
recomposições. Ele chama este personagem de "fantasma da foto". Nino pode estar
procurando sua própria identidade ao tentar, com papel e cola, juntar a identidade
rasgada nas fotos descartadas.
Amélie tem um papel fundamental no amadurecimento de Nino. Não
somente no amadurecimento sentimental devido a futura relação amorosa entre os
dois, mas também na sua transição para o Nino adulto. Amélie, ao marcar um
encontro com Nino na estação de metrô, o faz descobrir que o personagem
fantasma que ele procura é simplesmente um técnico da manutenção das máquinas
19
de fotografia automática. Por isso tantas fotos deles tiradas, rasgadas, e depois
jogadas fora. Nino não tem mais razão para continuar com sua coleção de fotos.
O primeiro ponto de virada do filme se dá quando Amélie assiste pela
televisão a notícia da morte da princesa Diana em 1997. A própria Amélie deve
identificar-se com Diana, talvez por achar que ela própria, a seu modo, é uma
“Diana”. Não somente por buscar um príncipe, se é que Diana realmente um dia o
buscou, mas por seu altruísmo, sua vontade de ajudar. Claro que no caso de
Amélie, em proporções muito menores.
(...) "Amélie sees herself on television, making the very history she is
watching. This melding of individual imagination, collective history, and
representation is characteristic of what Alison Landsberg has called
"prosthetic memory": Prostethic memories are neither purely individual nor
10
entirely collective (...) (EZRA, 2008, p.97).
10
(...) Amélie se vê na televisão fazendo a mesma história a qual está assisitndo. Esta fusão de
indivúduo, imaginação, história coletiva e representação é característica do que Alison Landsberg tem
chamado de "memória de prótese". Memória de prótese não são são puramente individuais, nem
puramente coletivas (...). (Tradução do autor).
20
Amélie segue-o até a um bar e o observa sem ser descoberta. Vendo os efeitos
positivos sobre ele, decide espalhar, o que considera, seus atos generosos na vida
dos outros. Amélie se torna uma espécie de anjo da guarda em segredo, uma “Lady
Di” invisível.
Amélie também, a sua maneira, tenta se libertar da remanescente infância.
Suas relações interpessoais são falhas. Ela passar a criar "provas" para si mesma.
Estas provas devem ser cumpridas para poder, aos poucos, desenvolver relações
com as pessoas. No caso da caixinha a ser devolvida ao antigo morador do seu
apartamento, Amélie alcança sua meta, entra em contato por telefone com o Sr.
Bretodeau, mas quando o encontra pessoalmente no balcão de um café não diz que
ela foi a responsável pela recuperação da caixinha. É como se ele tivesse cumprido
a prova, mas não retirasse o prêmio.
Mais adiante Amélie coloca-se em outra prova, também com intenção de
criar relação com outra pessoa. Com esta pessoa ela realmente tem um conversa
pessoalmente, inclusive chega a pegar no braço desse outro senhor, mas ele é
cego. Não pode vê-la. A relação também é incompleta. Amélie faz vez de "diretora"
em seu próprio filme, tornando-se diretora de sua própria vida. Ela passa a controlar
os acontecimentos. Quando este controle não lhe cabe mais, como por exemplo
quando Nino se atrasa a um encontro, Amélie escapa para sua segunda realidade.
O mundo imaginado por ela (aquele mesmo no qual ela se vê na televisão ou a faz
virar uma poça de água) a faz perder-se em devaneios onde Nino se atrasou por
tentar cometer atos heróicos nunca realizados.
Ela convence o pai a realizar seu grande sonho que é viajar o mundo. Para
isso pegou o anão de jardim que ficava sob o mausoléu de sua mãe e, com a ajuda
de uma amiga aeromoça, mandou para seu pai fotos deste mesmo anão em
diversas partes do mundo, fomentando em Raphaël a sua vontade de conhecer
outros países.
Ao fazer o anão de jardim viajar o mundo Amélie separa de seu pai este
símbolo. O gnomo era usado no mausoléu de sua falecida mãe. Uma vez que o
anão passa a viajar e enviar fotos de suas viagens para o pai de Amélie é como se o
viúvo passasse a descobrir o mundo, figurativamente. Quando o Sr. Poulain vê estas
fotos de lugares como Rússia ou Estados Unidos é como se ele passasse, aos
poucos, a se abrir do período pós-luto. Mais tarde ele mesmo parte para viajar.
22
11
Joseph é interpretado por Dominique Pinon, ator mais recorrente em filmes de Jeunet, aparecendo
em sete no total, sendo o primeiro em 1991 com Delicatessen e o mais recente Micmacs de 2009.
12
Fontes Wallace são fontes em ferro fundido em estilo francês colocadas em parques e praças
públicas. No Brasil há uma fonte Wallace no Passeio Público do Rio de Janeiro, por exemplo.
23
Funciona sempre"13. Esta receita Amélie emprega mais tarde ao tentar juntar um
casal de colegas. Amélie possui outra amiga, Gina, que também trabalha no bistrô.
Com sua mãe Gina aprendeu a relaxar músculos, ossos e juntas, técnica que aplica
em clientes do estabelecimento. Julga-se infeliz no amor. É branca, magra, loira e
possui um corte de cabelo parecido com o de Amélie.
Amélie também se vinga de um verdureiro arrogante, o senhor Collignon,
que humilha seu funcionário gago Lucien. Ele tem os cabelos curtos e escuros,
sobrancelhas espessas e quase juntas. Lucien apresenta uma afeição explícita
pelos vegetais que vende na tenda do senhor Collignon. Mais tarde torna-se
aprendiz de pintor com o Senhor Dufayel.
Enquanto ela lida com os outros, ninguém se importa com Amélie. Ao ajudar
os outros a obter a sua felicidade, ela continua sua vida solitária. Exagera na auto-
piedade e identifica-se, ao assistir televisão, com a Madre Teresa de Calcutá (que
morreu seis dias após Diana). Durante estas intervenções anônimas para ajudar
conhecidos e anônimos que Amélie conhece Nino Quincampoix, o rapaz que
coleciona fotos rasgadas em um álbum. A relação de Nino e as fotografias será
elaborada mais adiante durante a descrição do personagem. Apesar de sua
aproximação Nino ignora a existência de Amélie. Ao deixar cair seu álbum de
fotografias rasgadas, Amélie o recolhe e inicia um jogo de sedução que tem como
recompensa a devolução do pertence. Após recuperar o álbum, Nino passa a
procurar Amélie que, sob o disfarce de uma máscara, espalha cartazes pela cidade
para marcar o encontro.
O pintor Raymond Dufayel, um dos únicos amigos de Amélie, serve como
um catalisador para o amadurecimento da personagem, levando-a refletir sobre seus
atos, principalmente em relação a Nino. Finalmente Amélie e Nino ficam juntos
enquanto uma locução em off acompanha o casal a atravessar a cidade em sua
bicicleta elétrica.
Segundo o site Unifrance, no documento intitulado “Le Cinéma Français à
L’étranger, Résultats de l’année 2009 et de la Décennie”14 o filme, mesmo tendo sido
um sucesso de público, não foi selecionado em Cannes. A ausência de Amélie
Poulain despertou polêmica entre o entusiástico público francês. O então presidente
13
A frase foi retirada do filme pelo autor, mas também está no roteiro de diálogos anexo a este
trabalho.
14
Em tradução livre: "O cinema francês no estrangeiro, resultados do ano 2009 e da década".Este
documento com seus dados está disponível para consulta na sessão "anexos" deste trabalho.
24
do festival chamou o filme de "desinteressante", mas depois admitiu que tinha visto
uma versão incompleta, que nem acompanhamento musical tinha. Ainda assim o
filme conquistou entre 2001 e 2002 dezenove prêmios ao redor do mundo, incluindo
o Prêmio César de melhor música escrita para um filme, melhor diretor e melhor
filme. Também recebeu 27 nomeações em diversas premiações.
Durante a cerimônia da entrega do César de 2002, o filme obteve quatro
prêmios:
- Melhor Filme
- Melhor Diretor: Jean-Pierre Jeunet
- Melhor música escrita para um filme: Yann Tiersen
- Melhor Direção de Arte: Aline Bonetto
durante a trilha sonora do filme composta por Yann Tiersen) ou dançando são
retratados em tantos quadros que Machado fez até uma série de pinturas intitulada
“Tango”.
A figura feminina é diversificada e periódica em seus quadros. Diversificada
porque apresenta diversos biótipos. Há mulheres voluptuosas, de seios fartos até
mulheres magras e sem curvas. A mesma diversidade aplica-se aos trajes destas
mulheres e seus humores. Podem vestir vestidos etéreos e flutuantes, discretos
vestidos longos ou aparecerem completamente nuas. Assim como algumas podem
estar esfuziantes, contentes e energéticas outras aparecem solitárias, cabisbaixas e
pensativas, mas em todos os casos são retratadas com extrema feminilidade. Há,
entretanto, uma semelhança entre todas estas mulheres não importando sua
aparência ou estado de espírito: todas parecem ter referências marcantes dos anos
20 e 30, principalmente quanto ao estilo do corte de cabelo à Chanel. As figuras
femininas de Machado são claramente mulheres, sem margem para segunda
interpretação. Já o mesmo não ocorre tão claramente com a retratação de alguns de
seus personagens masculinhos, que mesmo trajando calças poderiam, para alguns,
parecerem um tanto ambíguos. Não por suas vestimentas, mas talvez por seus
traços faciais nem sempre tão viris.
Na série “Veneza” Machado demonstra seu interesse pelas máscaras do
carnaval veneziano. O mesmo estilo de máscara aparece em quadros de outras
séries, mas não com tanta assiduidade. O artista parece ter tanto fascínio pelas
máscaras que em algumas fotos pessoais aparece usando-as. Enquanto na série
“Veneza” estas máscaras surgem como objetos corriqueiros para composição do
ambiente de carnaval na série “Le Libertin” elas aparecem como objeto relacionado
ou à fantasia sexual ou à tentativa de velar a identidade do personagem retratado
em cenas lascivas.
Cafés e pequenos bistrôs também povoam as telas do pintor. Estes
ambientes são recursivos em diferentes séries, mas podem ser mais bem
observados na série “La fête continue” (A festa continua). É interessante perceber
que todos estes ambientes parecem ser pequenos ou que, de onde estão sendo
vistos, estão quase totalmente preenchidos; sejam por corpos ou objetos que
compõe o ambiente. Talvez por isso a impressão de serem, na maioria dos casos,
café ou bistrôs e não grandes salões ou restaurantes. Isto acontece de tal maneira
28
que muitos personagens mal cabem no espaço da pintura tendo parte de seus
corpos ou cabeças deixados para além do espaço visível do quadro.
A paleta de cores utilizada por Machado pode ser considerada ampla. As
maiores variações estão separadas pelas séries. Temas como “Copacabana”, por
exemplo, apresentam cores mais vibrantes, amarelos quentes misturados com
violetas e vermelhos vivos. Quadros de série “La fête continue” oferecem quase
somente preto, vermelhos e verdes escuros e diversos tons de amarelos, deixando-
os mais pesados e austeros.
Segundo seu site oficial, Juarez Machado recebeu sua primeira premiação
no ano de 1961 em Curitiba quando ficou em segundo lugar no "Salão de Jovens
Talentos". No mesmo ano recebeu mais uma menção honrosa no “Salão da
Primavera”. De 1961 a 1965 recebeu pelo menos um prêmio por ano referente à sua
produção de pinturas ou esculturas. Em 1969 ganhou seu primeiro prêmio
internacional na Bienal de Arte no Humor na Itália. Durante a década de 70 recebeu
quatro grandes prêmios, três deles no Brasil e um no Japão. Durante os ano 80
auferiu, além de prêmios de arte, o título de cidadão honorário de Joinville, o mesmo
aconteceu na década de 90 em Curitiba. Entre outros também foi homenageado
com a Ordem do Mérito do Rio Branco pelo Ministério das Relações Exteriores do
Brasil. Em 2001 participou da inauguração de um teatro que leva seu nome na
cidade de Joinville, este mesmo teatro possui um portal com pinturas do artista.
Não é objetivo deste trabalho realizar qualquer julgamento de valor das
obras do artista. Se estas são comerciais, banais, superficiais ou não. As pinturas
servirão como referências para as análises já mencionadas e incluir tais
elucubrações sobre o “valor” destas obras seria contraproducente e não serviriam
para enriquecer o trabalho de qualquer forma.
suas cópias são de extrema qualidade. O hiperlink destas imagens leva à “boutique”
do site onde o visitante pode adquirir as reproduções. As imagens analisadas para a
pesquisa encontram-se, dentro do site, na página intitulada: “seu trabalho”.
Além das imagens que levam à loja, os demais comandos de navegação são
feitos, nesta primeira página, através de texto, e não imagens. Na versão em inglês,
os hiperlinks de textos em caracteres no formato fonte são: Biography, Exhibitions,
Art Publications, Workshop, Machado Theatre e Contact the Artist. Há ainda os
hiperlinks de textos em formato de imagens raster: Juarez Machado, His work,
Boutique, Français e Blog. Todos os hiperlinks levam a páginas abertas na mesma
janela. Uma vez na página “his work”, ou “seu trabalho”, em português, as
exposições individuais são classificadas por título, ano e local, técnica utilizada e
número de imagens disponíveis no acervo digital, a ver tabela abaixo.
Exposição Local de ano técnica imagens
La fête continue Paris, 1997-98 Pintura 34
Atelier d'artiste Paris, 1992-95 Pintura 44
O grande circo Paris, 1997 Pintura 15
Ilha de Sta. Catarina Sta. Catarina, 1997 Pintura 33
Chateaux Bordeaux Paris, 1998-99 Pintura 19
Copacabana Copacabana, 1992 Pintura 36
300 years of Curitiba Sem informação Pintura 24
Little exposition Sem informação Pintura 12
Le libertin Paris, 2002 Pintura 45
Mural Joinville Pintura 18
Veneza Veneza, 2003 Pintura 20
Tabela 01 – dados das exposições
Fonte: Site oficial Juarez Machado
15
No presente momento, a comunidade dos museus está gastando uma grande quantidade de
esforço simplesmente para digitalizar os seus recursos e torná-los cada vez mais acessível on-line. A
digitalização de seus bens não é incomum para a função histórica do museu quando quer preservar
seus artefatos. Enquanto este processo, no entanto, se torna mais e mais bem sucedido, haverá uma
crescente necessidade de encontrar formas de "filtrar " a vasta quantidade de informações que estão
disponíveis. A ênfase vai mudar simplesmente de "criar"o conteúdo para apresentar um contexto para
ele, um ponto de vista sobre o assunto - como uma das funções do curador é a de identificar,
contextualizar e apresentar um ponto de vista sobre as obras de arte. (Tradução do autor).
31
5. INTERTEXTUALIDADE E O CINEMA
pode ser "lido", incluindo livros, filmes, imagens e música) existe independente de
outros textos.
Uma das problemáticas da intertextualidade está em definir e separar o que
é intertexto ou cópia. Entretanto, para a aplicação da teoria nesta dissertação, este
questionamento pode ser preterido, uma vez que as mídias utilizadas são diferentes.
Acima disso o diretor de cinema estudado, Jean-Pierre Jeunet, afirmou que se
inspirou em telas de Juarez Machado para ambientar alguns de seus filmes,
descaracterizando o plágio ou cópia. Assim, o texto decorrente servirá para embasar
o conceito de intertextualidade, mas também apontar suas nuances e gamas.
Somos ensinados a ler palavras, mas ninguém nos ensina a “ler” imagens,
elas são decodificadas, mas nem sempre da forma desejada por quem as cria. O
inevitável é que esta leitura existe independente de sua interpretação. A
decodificação depende de uma linguagem, escrita, ou não. Este trabalho não tem
intenção em fazer um estudo semiótico entre imagens e o que estas podem
representar, para que então seja utilizada como base para o intertexto juntamente
com uma segunda obra. Mas, para a clareza do conceito de intertextualidade, e
adiante, para a compreensão de suas diferentes formas, uma breve introdução
sobre a teoria imagética é necessária, bem como a identificação entre cópia e
intertexto. O próprio Barthes coloca a raiz da palavra imagem como derivante de sua
correlata a “cópia”.
According to an ancient etymology, the word image should be linked to the
root imitari. Thus we find ourselves immediately at the heart of the most
important problem facing the semiology of images: can analogical
representation (the 'copy') produce true systems of signs and not merely
simple agglutinations of symbols? Is it possible to conceive of an analogical
'code' (as opposed to a digital one)? We know that linguists refuse the status
of language to all communication by analogy - from the 'language' of bees to
the 'language' of gesture - the moment such communications are not doubly
articulated, are not founded on a combinatory system of digital units as
17
phonemes are. (BARTHES, 1977, p.32)
17
De acordo com uma antiga etimologia, a palavra imagem deveria estar ligada a raiz imitari. Assim,
encontramo-nos imediatamente no centro do problema mais importante para a semiologia das
imagens: pode a representação analógica (o 'copiar') produzir verdadeiros sistemas de signos e não
apenas aglutinações simples de símbolos? É possível conceber um 'código' analógico (em oposição a
um digital)? Sabemos que os linguistas recusam o estatuto de língua de toda a comunicação, por
analogia - da "linguagem" das abelhas a "língua" do gesto - o momento em que tais comunicações
não são duplamente articuladas, não são fundadas em um sistema combinatório de unidades digitais
como os fonemas são. (Tradução do autor)
36
pode ir muito além do intertexto. O descolamento das obras que colaboram para a
interseção margeiam o que pode ser interpretado como cópia. Para tentar
sedimentar a ideia base das obras originais e então partir para a interpretação de
seus intertextos, Barthes introduziu o conceito de ancoragem (BARTHES 1977, p.
38), dizendo que elementos linguísticos podem servir de "âncora" para a leitura de
uma imagem: "para fixar a cadeia flutuante de significados" (ibid., p. 39).
Barthes introduziu este conceito de ancoragem textual principalmente em
relação aos anúncios publicitários, mas aplica-se, também, para outros gêneros, tais
como fotografias, televisão, documentários, desenhos animados, histórias em
quadrinhos e, finalmente, ao cinema e artes plásticas.
Anchorage is the most frequent function of the linguistic message (…). Here
text (most often a snatch of dialogue) and image stand in a complementary
relationship; the words, in the same way as the images, are fragments of a
more general syntagm and the unity of the message is realized at a higher
level, that of the story, the anecdote, the diegesis (which is ample
confirmation that the diegesis must be treated as an autonomous system).
While rare in the fixed image, this relay-text becomes very important in film,
where dialogue functions not simply as elucidation but really does advance
the action by setting out, in the sequence of messages, meanings that are
18
not to be found in the image itself. (BARTHES, 1977, p.41)
18
A Ancoragem é a função mais freqüente da mensagem linguística (...). Aqui o texto (na maioria das
vezes um fragmento de diálogo) e a imagem se põe em uma relação de complementaridade; as
palavras, da mesma forma como as imagens, são fragmentos de um sintagma mais geral e a unidade
da mensagem se realiza em um nível superior, seja da história, da anedota, da diegese (o que é a
confirmação cabal de que a diegese deve ser tratada como um sistema autônomo). Embora raro na
imagem fixa, este texto retransmitido torna-se muito importante no filme, onde os diálogos funcionam
não apenas para o esclarecimento, mas realmente faz avançar a ação, estabelecendo, na seqüência
de mensagens, significados que não são encontrados na imagem em si. Tradução do autor.
19
A informação não tem nada a ver com a significação. É outra coisa, um modelo operacional de
outra ordem, fora do sentido e da circulação de um sentido estrito. Esta é a hipótese de Shannon: a
esfera da informação que é puramente funcional, um meio técnico que não implica qualquer
37
finalidade de significado e, portanto, também não deve ser envolvido em um julgamento de valor.
Uma espécie de código, (...). Neste caso, não haveria simplesmente nenhuma relação significativa
entre a inflação de informações e a deflação do sentido. Tradução do autor.
38
dentro da intertextualidade, é o que mais se encaixa dentro das teorias para explicar
a intenção e o tipo de intertexto procurado neste estudo. Segundo Eco:
(...) por alegoria se entenda um texto (visual ou verbal) que opere por
articulação de imagens que poderiam ser interpretadas em seu sentido
literal, a menos que a cada imagem ou ação tenha sido atribuído por um
código bastante preciso um sentido segundo: na medida em que é
codificada, a alegoria não é símbolo, não mais do que o é a transcrição de
uma mensagem verbal no código das bandeirinhas navais. (ECO, 1991,
p.214).
Some years ago I examined several senses of the word symbol. Among
them was the well-known distinction between symbol and allegory (...) the
classical world took symbol and allegory as synonymous expressions and
also called symbols certain coded images produced for educational
purposes. Under such a linguistic usage was the idea that symbols too were
rhetorical devices endowed with a precise meaning (...). (ECO 1994, p.08,
20
09)
20
Há alguns anos atrás eu examinei vários sentidos da palavra símbolo. Entre elas estava a
conhecida distinção entre símbolo e alegoria (...) o mundo clássico tomou símbolo e alegoria como
expressões sinônimas e também chamou certos símbolos de imagens codificadas produzidas para
39
fins educacionais. Sob tal uso lingüístico houve a idéia de que os símbolos também eram artifícios
retóricos dotados de um significado preciso. (Tradução do autor)
21
Se dizemos que o simulacro é a cópia de uma cópia, um ícone infinitamente degradado, uma
assemelhação infinitamente solta, nós então perdemos o essencial, isto é, uma diferença na natureza
entre simulacro e cópia, ou o aspecto pelo qual se formam duas metades de uma única divisão. A
cópia é uma imagem dotada de semelhança, o simulacro é uma imagem sem semelhança. (Tradução
do autor)
40
22
A noção de intertextualidade em si foi elaborada no âmbito de uma reflexão sobre a arte
considerada "alta". Não obstante, os exemplos dados acima foram retomadas provocativamente pelo
41
mundo da comunicação de massa, a fim de mostrar como, mesmo essas formas de diálogo
intertextual tem até agora sido transferidas para o campo da produção popular. (Tradução do autor).
42
A análise se dará sobre o filme como obra completa e não somente sobre
alguns poucos frames a serem comparados com as telas do pintor. Obviamente
devido às limitações do meio pelo qual este trabalho é transmitido a seleção de
imagens estáticas do filme e sua comparação com as pinturas faz-se obrigatória
para que o leitor consiga visualizar no meio impresso as características apontadas.
Para tanto as ilustrações que enriquecem este capítulo tem como objetivo servir de
referência para os trechos do filme aos quais se referem.
estilo Chanel23 bastante curto e por vezes com pontas assimétricas, corte
semelhante encontrado em personagens femininas das pinturas de Juarez Machado
em suas caricaturas da mulher parisiense.
Amélie Poulain é uma mulher solitária que trabalha como garçonete em um
café de Paris. Desde a infância, Amélie vive uma existência isolada, tendo sido
criada pelo pai emocionalmente frio e uma mãe perturbada psicologicamente. Por
causa de seus pais superprotetores Amélie, que foi escolarizada em casa, era
proibida de ter amigos. Amélie enclausurou-se então em sua própria imaginação,
criando mundos e amigos imaginários. Apesar de, mais tarde, ter se mudado para a
cidade grande, Amélie descobre que sua vida continua a mesma, uma existência
sem amor e sem rumo, mas enriquecida por uma imaginação ainda fértil. Todas as
imagens referentes ao filme foram extraídas da sua versão em DVD com captura do
autor, salvo quando indicado.
23
O corte de cabelo estilo Chanel é reto e, com pouca diferença de comprimento, nivela-se
aproximadamente pela linha da mandíbula.
44
Fisicamente Amélie possui pele alva, olhos grandes e escuros como seus
cabelos que tem o estilo popular dos anos 20 levemente acima da linha da
mandíbula e uma franja curta com aproximadamente dois dedos de distância das
sobrancelhas. Aparenta ter uma estatura mediana e frágil. Ri raramente, mas sorri
com freqüência. Sorrisos estes que podem, por vezes, ser acompanhados de
olhares diretos ao espectador, pela lente da câmera. Esta câmera subjetiva aumenta
a cumplicidade da personagem principal e que a assiste. Há uma sequencia (a ser
descrita mais minuciosamente adiante) onde Amélie acaba de devolver um álbum de
fotos a Nino. Após a devolução Nino sai sem saber quem fez tal ação. Amélie
acompanha-o com o olhar para então, abaixar os óculos e olhar, esboçando um leve
sorriso, diretamente para a câmera.
45
fisicamente limitada, mas seus enquadramentos são móveis. Aumont compara estes
enquadramentos entre o filme a borda de um quadro.
através de uma luneta; e só assim Nino pode, finalmente, ver quem está fazendo
aquele jogo de sedução com ele.
Parce qu'il y a, dans ce tableau, beaucoup de personnages qui ont tous des
interconnexions, des regards, et qu'il est facile d'imaginer des histoires entre
eux. C'est ce qui rend possible le fait que le peintre identifie Amélie au
personnage qui est au centre. Cette jeune fille du tableau, comme dit le
peintre, " est au centre, et pourtant elle est en dehors ". Elle a un regard
absent, elle est isolée dans l'image. Comme Amélie, qui est au centre de
25
l'histoire mais qui est seule (Revista Synopsis).
Aqui, neste ato de reproduzir o quadro já feito e ainda assim fazê-lo e refazê-
lo novamente há uma construção em abismo da história, o mise-en-abyme ou “o
olhar sobre o abismo” que segue ao ponto de fuga criando a sensação que as
laterais do mesmo se repetem vertiginosamente até o encontro das linhas de
perspectiva no ponto de fuga. A nomenclatura mise-en-abyme, também grafada
abîme, é utilizada para ilustrações heráldicas onde uma figura se repete dentro de si.
24
E revista online Synopsis está descontinuada e seu site não mais existe. A transcrição integral do
site em página salva pelo autor desta dissertação encontra-se na sessão “anexos”.
25
Porque há neste quadro muitos personagens que têm interconexões, de olhares, que deixa fácil
imaginar uma história entre eles. Isto torna possível a identificação do artista com o personagem de
Amélie que está ao centro. Esta menina no quadro, como disse o pintor: "está ao centro, e portanto
ela está alheia”. Ela tem um olhar ausente, está isolada da imagem. Como Amélie, que está isolada
da história mas está sozinha. (Tradução do autor)
52
26
O Abismo ou "fess-point" é o centro exato de um escudo. Colocar algo em "abyme" significa
simplesmente representá-lo no centro de um escudo. O termo fou comumente reservado para a
prática de colocar no ponto central um outro escudo menor com seu próprio conteúdo e de certas
forma, modificando o significado do escudo principal. (Tradução do autor).
53
pintando, no centro de todos estes quadros, a própria Amélie, tão distante está o
pintor do ponto de fuga criado por si próprio.
A sensação de se estar olhando para um abismo pode ocorrer também
visualmente dentro do filme. Não são poucas vezes que Jeunet coloca a câmera em
um ângulo alto e a movimenta para baixo. Tais movimentos de câmera certamente
contribuem para a atmosfera do filme. Pode-se claramente fazer referência aos
planos dos quadros e enquadramentos dos frames. Logo no início quando a mãe de
Amélie é apresentada, a imagem aparece equilibrada enfatizando sua busca por
correção e limpeza. O mesmo pode ser dito sobre os primeiros takes do pai de
Amélie. Ao falar sobre suas aversões, os enquadramentos aparecem
desequilibrados.
O ponto de visão de cima para baixo com uma inclinação sugere, devido a
perspectiva, uma diminuição de personagens e objetos que estejam mais distantes
do ponto de vista do observador. No caso do fotograma, a câmera. O quadro
intitulado "Bistrô" foi pintado mantendo este estilo de ponto de vista. Vêem-se longe
no chão as mesas, garçons e clientes sentados em um pequeno restaurante. A
iluminação do ambiente é pontual. Mesas e balcão aparecem iluminados. Duas
luminárias de parede apontam feixes de luz direcionais para cima criando duas
linhas verticais proeminentes aumentando a sensação de verticalidade do quadro.
Não somente as luzes auxiliam na sensação de altura do ambiente, como
também a disposição dos quadros pendurados em quase toda extensão da parece
do estabelecimento. A impressão de amplitude é ressaltada com a representação de
um espelho, pintado na parede lateral do bistrô mostrando uma área somente visível
através deste reflexo, além de duplicar alguns elementos já visíveis na cena. Neste
quadro aparecem dois copos de cerveja.
A presença de bebidas alcoólicas nos quadros de Machado não é rara, mas
a cerveja não é a bebida mais retratada. Os tons do quadro mantém-se
principalmente na paleta dos amarelos, terra, preto e vermelhos. Um ponto de vista
muito parecido é visto no frame selecionado. São ambientes diferentes, mas até
mesmo a linha de congruência das paredes se assemelham na pintura e no quadro
quanto seu ponto se intersecção. No fotograma do longa-metragem Amélie aparece
diminuta e sozinha em uma grande estação de metrô. As grandes portas e janelas
dispostas em sequência ampliam a impressão de um ambiente alto que, devido a
posição da câmera, deixa a personagem quase oprimida pelo peso do ambiente.
54
Mais uma vez o ângulo elevado com inclinação em plongée pode ser visto
quando a câmera alta mostra, por exemplo, a mãe da protagonista prestes a ser
esmagada por um turista suicida, ou enquanto Amélie atira pedras em um canal de
Paris. A câmera que, depois de alguns movimentos em plano sequência, fica quase
55
na linha de seus pés ao finalizar a cena (quando as pedras são lançadas quase que
em direção à câmera). O ângulo baixo, entretanto não é facilmente visto nas obras
de Machado. Este ângulo baixo pode ser revisto mais vezes durante o filme, como
quando Nino começa sua perseguição quase atingindo um carro27.
Como amostra da demonstração do uso de planos e enquadramentos
durante o filme expõe-se uma sequência de diversas cenas para incluir na descrição
deste trabalho. O mesmo método será utilizado para a relação de cores, situações,
ambientes e objetos extraídos de diferentes pontos do filme, para então relacioná-los
às pinturas. O número descrito refere-se ao minuto e segundo das cenas e
correspondem a minutagem apresentada na versão em DVD do filme. A seguinte
sequência se passa com início na hora 1 minuto 34 e segundo 45.
Amélie é mostrada sentada ao telefone com a câmera inclinada de cima
para baixo em um ângulo plongée. A câmera aproxima-se lentamente. O ponto de
vista muda e observa-se a câmera em posição subjetiva. Alguém observa Amélie
através de um binóculo. Vê-se a margem do binóculo no contorno da imagem. A
câmera volta a ser objetivo e apresenta o observador em plano geral sentado. O
vizinho pintor de Amélie a vê de sua sala de estar. Voltando para dentro do
apartamento de Amélie novamente a angulação em plongée está presente. Com um
movimento de câmera leve da esquerda para a direita há o enquadramento da
personagem sentada lendo uma carta.
O efeito de fusão leva ao quarto de Amélie, a câmera permanece na
inclinação de cima para baixo, mas o movimento agora é da direita para a esquerda
e Amélie lê uma carta deitada em sua cama. Outra fusão e a câmera permanece em
plongée. A personagem principal aparece com outras vestes, o que reforça a
passagem de tempo. A câmera em momento algum pára. Agora ela se move de
cima para baixo lentamente mostrando Amélie de bruços ainda lendo mais cartas.
Mais uma fusão e a cena seguinte mantém a câmera mostrando a imagem de cima
para baixo. Vê-se Amélie sentada no banheiro ainda lendo as cartas.
A câmera aproxima-se lentamente e aos poucos vai corrigindo sua
inclinação zenital a ponto de conseguirmos ver a feição de Amélie. Até então via-se
principalmente o topo da cabeça do personagem devido à posição alta da câmera.
Na próxima sequência o ambiente muda. A câmera ao nível do solo em ângulo reto
27
Na sessão “anexos” encontram-se algumas páginas do story board do filme que demonstra a
intenção inicial do diretor em utilizar estes ângulos mais baixos de câmera.
56
Por vezes, o diretor adiciona um pequeno ponto azul na imagem para definir
o contraste. Como quando há uma colisão entre carros, no começo da história e um
57
deles é azul royal. Amélie Poulain, como mencionado, usa vestidos vermelhos ou
verdes, bem como a governanta (Yolande Moreau como Madelaine Wallace), além
da própria mãe de Amélie (Lorella Cravotta como Amandine Poulin) no início do
filme.
A mera associação da cor com o valor estético, ou "agradável aos olhos" é
somente uma das possíveis perspectivas de análise da cor nos filmes. Há ainda a
possibilidade da cor afetar a quem assiste ao filme uma vez que esta pode causa
uma sensação de conforto ou desconforto e também pode estimular reações
psicológicas ou de relações. A tentativa de se catalogar as cores e as reações que
estas causam pode ser controversa uma vez que a interpretação destas impressões
são abstratas e pessoais. Mesmo assim há algumas convenções cinematográficas
que podem ser observadas também no objeto desta dissertação. Por exemplo, uma
iluminação quente pode conferir conforto, aconchego e segurança, enquanto uma
iluminação fria pode sugerir medo e perigo.
A constante busca pelo surreal, pelo fantástico permeia o trabalho de
Jeunet. Não somente nos seus temas, mas também em suas escolhas visuais. Esta
exacerbação das cores, (como já mencionado como característica do Cinema Du
Look) põe-se contra o que Modesto Farina diz sobre a busca da reprodução da
natureza das cores originais.
tendendo ao ocre (que pode ser considerado também como um intermediário entre o
marrom, tom terroso, e amarelo). O próprio Farina também relaciona o amarelo à
terra ou à argila. Esta luz é aparentemente criada pelo céu iluminado, mas nublado.
Este tipo de iluminação é recorrente em diferentes filmes de Jeunet, mas neste
especificamente a sua sensação de calor reflete a atitude geral de Amélie sobre a
vida, uma atitude nada fria, na verdade até otimista. A mesma coloração no que se
imagina ser a iluminação nas telas de Juarez pode ser observada, tanto em telas
que retratam cenas externas, mas de maneira mais proeminente nas telas que
retratam ambientes fechados.
Como feito no tópico anterior, passa-se a descrição de outra sequência com
ênfase nas cores e tons apresentados. A seguinte inicia-se no minuto 34 segundo
45. Em plano médio Amélie traja um vestido e batom vermelhos. Está na copa /
cozinha de seu apartamento sendo vista por uma janela. Os armários são também
vermelhos como suas cadeiras, mesa e tigela que carrega nas mãos. As paredes
externas de onde se vê a cena são ocre / amareladas. Há uma pequena vegetação
verde vibrante no parapeito da janela. Acessórios em cima da mesa como copo e na
cozinha, como jarra também são verdes. Amélie observa seu vizinho pintor que faz
uma refeição. Existem algumas associações cromáticas que podem ter relação com
o concreto. Segundo Eva Hellen a cor verde relaciona-se com a juventude e a falta
de experiência pela simples conexão que se faz com frutas que ainda não estão
maduras, por exemplo (HELLEN, 2000, p.109). A constância da cor verde durante o
filme pode talvez remeter a certa imaturidade dos personagens. Não somente
Amélie apresenta-se imatura (com seu medo de relacionamentos e seus jogos de
"pega-pega”), mas quase todos os personagens transmitem algum tipo de
insegurança quase juvenil.
62
6.5 SITUAÇÕES
Além disso, o “olhar pela janela” que remete, novamente, ao voyeurismo está
presente tanto em quadros como no filme. Neste caso que segue é pertinente
observar não é somente a semelhança física entre Amélie e a personagem feminina
67
Gaston Bachelard fala sobre a dialética do interior e do exterior que pode ser
aplicada neste exemplo das janelas e em outros que aparecem no decorrer do filme
onde há esta observação de dentro para fora ou vice-versa. Amélie não parece ser
agorafóbica, ela não espreita à janela (ou por binóculo, luneta, etc.) por medo do
exterior, mas sim por preferir manter a distância física (e possivelmente emocional)
do observado. Algo parecido também menciona a autora Angela Dalle Vacche, que
vai um tanto além, discorrendo não somente sobre o olhar pela janela, mas
diferenciando-o da “passagem pela porta”.
28
A atividade de olhar através das janelas - o que é encorporado em imagens baseadas na
perspectiva renascentista - implica ao espectador uma situação de segurança, de quem pode
dominar o mundo exterior, sem abrir mão do controle do espaço privado. (...) Por isso é apropriado
que uma porta, em vez de uma janela, marque a entrada de uma menina tola, um eco do Santo
Louco, uma santa e uma rebelde, tocada por ambos, insanidade e sabedoria. (Tradução do autor)
29
Na sessão “anexos” está disponível o roteiro integral das falas do filme, em inglês.
69
sua atenção batendo no vidro da sala onde é feita a performance. Ela, já sem sutiã
rodopia.
Cabe aqui uma pausa na descrição das situações para ressaltar que poucas
vezes durante o filme vê-se uma figura nua. Em outra ocasião, quando Amélie
imagina quantos orgasmos estão acontecendo naquele momento alguns poucos
segundos da tela são preenchidos com uma cena de um casal na cama. Outra cena
envolvendo sexo é a bem menos romântica onde Amélie aparece sob locução em off
dizendo que nunca foi satisfeita na cama. Dentre os quadros de Machado alguns
apresentam nudez feminina, outros menos cenas de sexo, com ressalva para os
quadros da série intitulada "Le Libertin" ou "O Libertino" onde casais aparecem em
cenas românticas e em diversos deles durante a cópula. Para ser mais preciso, dos
45 quadros desta série, em 22 deles há a retratação do ato sexual e em 33 a figura
de uma ou mais mulheres nuas ou seminuas aparecem. Em diversos destes
quadros a figura do voyeur também é retratada, caso recorrente também no filme
como já mencionado. A própria Amélie pode ser considerada uma voyeur uma vez
que para ajudar desconhecidos observa-os furtivamente sem ser vista.
grande plano geral, sozinha na estação vazia por completo. A cena seguinte retorna
para o café onde Amélie trabalha exibindo dois personagens envolvidos
romanticamente, Georgette e Joseph. Esta sequência descrita tem seu fim a hora 1,
minuto 40 e segundo 10 do filme.
Estes mesmo dois personagens (Joseph e Georgette) protagonizam outra
cena que faz referência ao ato sexual durante o filme. Na verdade não é uma
referência e sim uma inserção do ato em si, desta vez com certo apelo cômico.
Joseph e Georgette mantêm relações no banheiro do café "Deux Moulins". Todo o
café começa a tremer, copos e talheres tilintam com a vibração. Se, por várias
vezes, Jeunet coloca como a direção para a felicidade o compartilhamento do prazer
individual, este é o ápice deste compartilhamento durante o longa-metragem.
Como sua própria experiência sexual pregressa é falha, Amélie refugia-se
em outros prazeres. Poderia-se entender que o que é essencial para a felicidade são
as pequenas coisas, os pequenos prazeres sensoriais, como colocar a mão numa
tigela cheia de lentilhas. O mesmo princípio pode ser aplicado ao personagem do
pintor, que tem seu pequeno prazer anual quando conclui o seu quadro. A cópia do
(sempre mesmo) quadro de Renoir. Na verdade o pequeno prazer vem ainda antes
da conclusão do quadro. Ele se deleita na execução do mesmo, nas pinceladas.
Tanto que não importa ser sempre o mesmo quadro, o que importa é o ato de pintar.
Mas se por um lado Jeunet coloca que os pequenos detalhes podem levar
aos verdadeiros prazeres, os mesmos detalhes podem beirar a obsessão patológica.
Seja à atenção exagerada ao que a outra pessoa fala (no caso de Joseph e seu
gravador), à obsessão por doenças e consequentemente remédios (como no caso
de Georgette), a leitura das mesmas cartas ano após ano como feito pela Senhora
Wallace ou mesmo na mania de Nino de resgatar fotos descartadas.
O filme tem uma atmosfera de fantasia. Seja pela sua alteração de cores
feita digitalmente pela saturação ou pelos ambientes compostos por Jeunet; por
seus objetos meticulosamente inseridos, ou retirados das cenas. Conforme o site
IMBD, para as cenas feitas em locações reais o diretor e equipe limpavam
cuidadosamente a área, tirando inclusive pichações que poderiam dar um ar mais
sujo à imagem. Esta falta de conexão direta com o que é representado faz, por
72
plástico. Depara-se com uma estátua que aponta para um binóculo público. Ao olhar
pelo binóculo Nino avista uma moça, Amélie, acenando seu álbum de fotografias ao
lado da mesma bicicleta motorizada que Nino deixou lá em baixo. Amélie guarda o
álbum dentro de uma bolsa da bicicleta. Ao recuperar o álbum Nino vê fotos de
Amélie disfarçada, usando lenços e máscaras.
Em um de seus trabalhos (no trem fantasma) Nino também usa uma máscara.
Uma máscara representando uma caveira não tem relação direta com as máscaras
de Veneza pintadas por Machado, mas pode ser sim outro indício da dificuldade que
77
Nino tem em encontrar sua identidade (esta também aparece na capa do storyboard
do filme – que consta em Anexos). Ele consegue sussurrar no pescoço de Amélie
somente enquanto travestido de “esqueleto”. As máscaras que Machado mostra em
alguns de seus quadros da coleção “Le Libertin” podem ter o mesmo propósito desta
máscara que Nino usa no trem fantasma. Não só para se passar por alguém que
não é. Mas para dar a quem a usa uma confiança em realizar atos que sem ela não
teria coragem. Conforme Bachelar, as máscaras servem sempre para esta
dissimulação.
30
Você não tem ossos de vidro como eu (…) Se você deixar esta oportunidade passar, com o passar
do tempo é o seu coração que se tornará seco e frágil como meus ossos. (Tradução do autor). Na
sessão “anexos” está disponível o roteiro integral das falas do filme, em inglês.
78
Lista de músicas
“J’y suis jamais allé” – 1:34
“Les Jours tristes” (Instrumental) – 3:03
“La Valse d’Amélie” (Original version) – 2:15
“Comptine d’un autre été: L’après-midi” – 2:20
“La Noyée” – 2:03
“L’Autre valse d’Amélie” – 1:33
“Guilty” (Al Bowlly) – 3:13
“À quai” – 3:32
“Le Moulin” – 4:27
“Pas si simple” – 1:52
“La Valse d’Amélie” (Orchestral version) – 2:00
“La Valse des vieux os” – 2:20
“La Dispute” – 4:15
“Si tu n’étais pas là” (Fréhel) – 3:29
“Soir de fête” – 2:55
79
Faixas bônus
“L’Autre Valse d’Amélie (version quatuor à cordes et piano)” – 1:43
“Les Deux Pianos” – 2:00
“Comptine d’un autre été: la démarche” – 2:03
“La Maison” – 2:03
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
representação do real sem tentar retratá-lo fielmente. Bazin já fez menção sobre a
tentativa, por vezes frustrada, de se encontrar pinturas nos frames do cinema.
31
Em vez de reclamar que o cinema não pode nos dar pinturas como elas realmente são, não
deveríamos nos maravilhar por termos ao menos encontrado uma porta aberta para as massas verem
os tesouros do mundo da arte? Na verdade não pode haver virtualmente nenhuma apreciação ou
fruição estética de uma pintura sem alguma forma de iniciação prévia, sem alguma forma de
educação pictórica que permita ao espectador fazer esse esforço de abstração como um resultado do
qual ele pode distinguir claramente entre o modo de existência da superfície pintada e do mundo que
o rodeia. (Tradução do autor)
32
Precisamente porque a imagem fílmica é a intenção de fazer visível algo invisível, para liberar de
dentro para fora uma forma que é feita de nuances emocionais, ou uma energia de fora deste mundo,
o cinema não se assemelha a nenhuma outra forma de arte. Como a poesia, em que a língua se
desenrola para além de seu limite, o cinema é intraduzível. (Tradução do autor)
83
REFERÊNCIAS
Livros citados
BAUMGART, Fritz. Breve História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
BAZIN, André. What is Cinema - Vol. I. Los Angeles: University of California Press,
1967.
CLÜVER, Claus. Inter textus/ inter artes/ inter media. Aletria: revista de estudos de
literatura, Belo Horizonte, v. 6, p. 11-42, 2006.
DÄLLENBACH, Lucien. The Mirror in the Text. Chicago, IL: The University of
Chicago Press, 1989.
DELEUZE, Gilles. “Plato and the Simulacrum”. In: Logic of Sense. London: The
Athlone Press, 1990.
HELLER, Eva. Farbpsychologie: Wie Farben auf Gefühl und Verstand wirken.
München: Droemer, 2000.
LANZONI, Rémi Fournier. French Cinema: From Its Beginnings to the Present.
New York: Continuum,2004.
PHIL, Powerie & READER Keith. French Cinema - A Student's Guide. Great
Britain: Hodder & Stoughton Educational, 2002.
VACCHE, Angela Dalle. Cinema and Painting, how art is used in film. University
of Texas Press, 1996.
Livros consultados
HAYWARD, Susan. Cinema Studies - The key concepts. London: Routledge, 2000.
METZ, Christian. Cinema, Estudos de Semiótica. Tr. Luiz Felipe Baêta Neves.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1973
SANT´ANNA, Affonso Romano de. Paródia, Paráfrase e Cia. São Paulo: Ática,
1985.
Referências Sitiográficas
Referências Videográficas
GLOSSÁRIO
Art déco – Movimento das artes decorativas e visuais popular entre 1925 até 1939
Díptico - Pinturas dispostas em duas telas separadas que formam uma obra
conjunta. O mesmo aplica-se para a definição de tríptico, mas este utiliza-se de três
telas.
DPI - Abreviação de Dots per inch ou Pontos por Polegada é uma medida digital
relacionada a qualidade da imagem e sua resolução.
Imagem raster - São imagens digitais que possuem o pixel, menor unidade da
imagem digital, como formador de sua totalidade.
Música Folk – Pode ser traduzido como música típica ou folclórica de uma região.
Panorâmica - (pan) Câmara que se move de um lado para outro dentro do seu eixo.
Primeiro plano - Posição ocupada pelas pessoas ou objetos mais próximos à câmara
ANEXOS
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
100
101
102
103
104
Jean-Pierre Jeunet
le collectionneur
Pour son nouveau film, Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain, Jean-Pierre Jeunet
change de registre. Au revoir les méchants ravisseurs d'enfants, adieu les Aliens,
bonjour la gentille Amélie qui a vocation d'améliorer le sort des autres à leur insu.
Un film inventaire des petits bonheurs de son réalisateur… Immersion dans l'univers
étrange et merveilleux d'un nouveau poète.
Synopsis : Vous aviez déjà commencé à travailler sur Le Fabuleux Destin d'Amélie
Poulain lorsque Hollywood vous a contacté pour réaliser Alien IV. Où en étiez-vous
au moment de partir ?
Jean-Pierre Jeunet : Nulle part, justement. J'avais des tas d'idées, des tas de
personnages et de situations. Mais je cherchais le dénominateur commun qui me
permettrait d'utiliser toutes ces histoires éparpillées et accumulées depuis des années
dans une boîte, sous forme de listes et de collections diverses. Amélie est le genre de film
que j'ai envie de faire depuis toujours, un film qui fait du bien, qui rend heureux, qui
mélange humour et émotion. Parce que, pour moi, le cinéma c'est ça. Finalement, les
105
Vous parliez d'une boîte qui contenait toutes vos idées pour Amélie. C'est-à-dire ?
C'était une vraie boîte. J'y rangeais des anecdotes, des idées de films, des bouts de
dialogue, des choses vues dans la vie, des articles de journaux, des listes de " J'aime,
j'aime pas ", parce que j'adore ce jeu-là… Maintenant, j'ai un ordinateur.
Les " J'aime, j'aime pas " sont très présents puisque c'est avec cela que vous
caractérisez tous les personnages. Où les prenez-vous ? Est-ce que ce sont les
vôtres ?
Oui, ce sont les miens. Les " J'aime, j'aime pas ", il faut les avoir ressentis à un moment ou
à un autre. C'est un jeu particulier. Il faut qu'ils soient très personnels et qu'en même temps
ils touchent tout le monde. Si vous dites : " J'aime pas les cacahuètes ", c'est nul. Plein de
gens adorent ça. Si vous dites : " J'aime bien crever les pustules des emballages en
plastique ", tout le monde fait aaaaahhh ! Ça évoque le bruit qui claque, la sensation,
l'odeur… Ça fait appel aux sens. J'avais déjà utilisé ce jeu dans mon court métrage
Foutaises. Les collections, qui sont très présentes dans le film, c'est un peu la même
chose. L'obsession de ramasser les photos ratées autour des Photomaton et d'en faire un
album, c'est une histoire vraie. C'est un copain qui faisait cela dans tous les Photomaton
de Paris. La collection d'empreintes de pas dans le ciment est vraie. J'adore aussi
collectionner les idées bizarres. Les rumeurs, par exemple… Je suis sûr qu'il y a un type,
quelque part, enfermé dans un cachot, qu'on fouette pour qu'il invente des rumeurs ! et des
histoires drôles ! Comment naissent les rumeurs et les histoires drôles ? Ça c'est une
question ! L'histoire du nain de jardin qui se promène à travers le monde procède du même
état d'esprit. J'aime tellement les collections que je collectionne… les idées de collections !
Comment vous est venu le personnage d'Amélie, qui se promène au milieu de ces
collections d'histoires et de personnages ?
Je ne sais pas. J'ai cherché longtemps, et un jour c'était là. Il y a longtemps, au métro
Réaumur-Sébastopol, j'avais vu un cul-de-jatte qui était dans une caisse à roulettes et qui
avançait avec des fers à repasser. On voit cela dans les westerns, mais pas en plein Paris
! J'ai commencé à me dire que, si ça se trouve, il y en a plein, qui vivent dans des
chambres de bonnes, qui sont organisés en réseau et communiquent entre eux, et, comme
c'est foutu pour eux, ils passent leur temps à enjoliver la vie des autres de manière
anonyme. J'ai pensé qu'il y aurait là un personnage de plus pour le film. En fait, ça
contenait les ramifications qui reliaient tous les autres éléments entre eux. Et le cul-de-jatte
est devenu Amélie, parce que je ne voulais pas refaire Freaks. Le jour où j'ai eu cette idée,
c'est devenu facile.
Comment avez-vous procédé pour construire tous ces personnages qui traversent le
film ?
On a d'abord fait une liste - encore une ! - des événements qui allaient améliorer la vie des
personnages grâce à Amélie. Par exemple, cette idée d'une petite boîte de jouets
retrouvée trente ans plus tard, elle m'est venue grâce à une anecdote incroyable sur
Delicatessen : Marie-Laure Dougnac, l'actrice qui jouait la petite myope, était venue
essayer des costumes qu'on avait dénichés aux Puces. Elle s'est retrouvée avec, entre les
mains, un pull qu'elle avait tricoté elle-même et dont elle s'était débarrassée chez Emmaüs
dix ans plus tôt ! Ou l'idée de manipulation amoureuse qui consiste à dire à deux
personnes que l'une s'intéresse à l'autre, j'en ai été victime deux fois dans ma vie !
L'histoire du sac postal, retrouvé après quarante ans dans l'épave d'un avion sur un
glacier, est aussi une histoire vraie. Chaque lettre a été acheminée jusqu'à son destinataire
ou à ses héritiers. J'étais tombé sur cette anecdote en lisant un magazine scientifique. Des
petits événements extraordinaires, il y en a plein dans les brèves des journaux. Il m'en
reste deux ou trois en réserve. Un cambrioleur qu'on a retrouvé coincé dans un conduit de
cheminée : il était mort parce qu'il n'a jamais réussi à bouger ! Une femme restée bloquée
deux jours dans sa table à repasser !… Ensuite, on a pris les personnages un par un pour
les caractériser. Certains sont venus lentement, par couches successives. La buraliste
n'est devenue hypocondriaque que très tard. Son personnage était faible, on y est revenu
plusieurs fois. En revanche, le peintre a été tout de suite tel qu'il est.
Pourquoi avoir choisi de lui faire reproduire la toile de Renoir, Le Déjeuner des
canotiers ?
Parce qu'il y a, dans ce tableau, beaucoup de personnages qui ont tous des
interconnexions, des regards, et qu'il est facile d'imaginer des histoires entre eux. C'est ce
qui rend possible le fait que le peintre identifie Amélie au personnage qui est au centre.
Cette jeune fille du tableau, comme dit le peintre, " est au centre, et pourtant elle est en
dehors ". Elle a un regard absent, elle est isolée dans l'image. Comme Amélie, qui est au
centre de l'histoire mais qui est seule. Dans une première version du scénario, on avait
même imaginé la vie de chacun. Mais cela devenait trop présent, donc on y a renoncé.
Il y a plusieurs acteurs que l'on retrouve dans tous vos films. Créez-vous des
personnages spécialement pour eux ?
Non, il ne faut surtout pas faire ça. Les personnages naissent naturellement du désir de
l'histoire. Après, en revanche, je me dis : Alors, le père d'Amélie ? Rufus, Dreyfus ou Pinon
107
? (Rires)
Vos personnages sont des personnages qui agissent plus que des personnages qui
pensent…
Je crois que j'ai des références plus visuelles que littéraires. Je viens du cinéma
d'animation et de la bande dessinée, de la danse contemporaine. Alors que le cinéma
français, par tradition, s'inspire plus de la littérature.
-
108
Roteiro de falas
-M. Collignon.
Your keys . -Just a minute!
No rush!
Look at Lucien.
At work, there's no chance he'll exceed the speed limits. Is
there?
-You shouldn't, M. Collignon.
It's not his fault.
-You're right.
It's not his fault, it's Lady Di's fault !
Do you know what I found this morning?
The Suisses catalogue open at the page with the nighties.
He'd stuck the picture of Lady Di on the bodies of the models.
So, this time, a bunch of asparagus,
or the neighbourhood records?
-Nothing.
"KEYS WHILE YOU WAIT"
-Thanks. Well, looks like those migraines are gone.
-Yes, but I haven't slept all night because of my sciatic nerve.
-You're looking good !
-Really ?
-A woman without love, it's like a flower without sun. It dies.
-Strange weather today!
Did I say something wrong?
-No. Everyone gives me the weather forecast.
-Talking about the weather to forget that time goes by.
-No, to avoid talking nonsense.
-You can write nonsense, but not publish it .
-Still nothing? - th rejection.
-What about your cousin, the critic? -What do you think?
They're like the cactus
they live to sting . -And your book ?
Is it a love-story ?
-No, it's about a guy who keeps a diary.
But instead of writing it as things happen,
he writes the worst-case scenario beforehand.
As a result, he's depressed, and he doesn't do anything.
-It's the story of a guy who doesn't do anything.
-Look, Mme Suzanne,
I'll sign you the manuscript.
-Yes, and you forget about his bill.
-I exchange his masterpieces for my "pièces-de-résistance!"
-Here you are. -Thanks.
-Thanks, Mme Suzanne.
-How long did it take you?
Have you seen the time? Jesus, this one,
they never got him finished!
"Without you, my feelings of the present ."
-"Without you, my feelings of the present .
" would only be like the dead skin
" of the des feelings of the past." -Excuse me?
-Without you, the feelings of the present would only be the dead
skin
of the feelings of the past.
-Ticket, please.
-And .
Your job then? -You already asked.
-Yes, yes .
You're well, right now? -Rather well.
Something's changing.
And I had heart-attacks, I had to get an abortion,
119
-You're a magician !
-All on M. Collignon !
-Who ?
M. Collignon ?Lucien !!
-I wasn't thinking, M. Dufayel.
-Exercise, Lucien my boy!
-No . -Exercise !!
-Repeat after me. Collignon, you little rascal.
-Collignon, you little rascal. -Yes, that's it!
Your turn now.Collignon .
-Collignon, shit-face. -Well, good!
You see, when you set your mind to it. Come on, Collignon .
-Collignon, dog-face !
-Very good !Collignon .
-Collignon, shit-face !Collignon, dog-face !
Collignon, shit-face !!Collignon, dog-face !!
No, no !
-Lucien !! -Collignon eats dirt!
Enough for today !!
That's enough for today.
It's very good.
-M. Dufayel. I found this under your doormat.
Collignon, dog-face!
-Still nothing.
-Still nothing here too.
-Do you mind ?you have something, there.
you're beautiful, Georgette,
when you blush.
You look like a wild flower.
-It's my allergy .
-Good morning everybody.
Nice weather today.
-A packet of Gitane .
-Bravo! Well done! Look at me now!
Straight A!! Perfect shot!
It's Améliewho .
-You know, when they climbed the Mont-Blanc,
with the cold, the silicone froze .
-A little glass of hot wine with some ginger bread.
-Thanks.
-I think I was a bit rude with the girl with the glass.
Tell me, the boy she met did she see him again?
-No.
In fact, they're not interested in the same things.
-You know, opportunities are like the Tour de France,
you wait a long time for it and it goes by quickly.
When the right time comes, you have to jump the fence without
hesitation.
-Hi, Can I help you? -Excuse me.
I found this on the pavement . -My god!
Nino's gonna be so happy.
I almost went to church to burn a candle to Saint Anthony
-Is Nino there?
-Never on Wednesdays. He works at the Trône Fair.
-Oh, right. And has he been collecting these for a long time?
-For a year now. I found him a job here.
Before, he collected footprints.
He used to be a nigh watchman.
He took pictures of footprints in fresh cement.
He's an odd sort.
He also acted as
121
-Sam !
Samantha !
Samantha !
-Can you take over from .
"Can you ."
"Can you take over from me this afternoon?"
"Be at the lounge of the Lost Steps
Gare de l'EstTuesday pm"
-Just a second, I've finished.
-The mystery man of the photo machines wasn't a ghost,
nor somebody obsessed by the fear of ageing, but the repairman.
Just a technician doing his job. That's all.
-Excuse me .
-He's watching me like a dog. It drives me crazy.
- . pm, public show of feminine conspiracy.
-Ow, you look tense, Georgette, you look tense.
Courage, it's not easy.
-Excuse me.
Is this yours? -Yes, but it's not me who .
-I know it's not you. Where can I find her ?
-She's at her father's.
It bothers me, I'd like to talk to you. I finish at .
Can you drop by ? -Sure.
-See you later.
-There you are, .pm. The trap is set.
-And the blond guy, with the camelhair jacket?
He's absent-minded too ? -What do you mean ?
-He also came back times.
. pm .
"Camelhair". . pm .
"Camelhair".
. pm . "Camelhair" . -Stop it!!!
My red patches are appearing, again. Look!
Mrs Suzanne, It starts again!! He's gonna drive me crazy!
-Don't start again!
-If she had a clear conscience she wouldn't be upset.
-I'm going home!
A psycho !! That's the limit!
-Georgette !
Are you done, suffocating them like that?
A woman needs space to breathe.
-Yes, and then, she goes elsewhere.
-It can be good sometimes!
-Oh you, the writing failure!
-Yes .writing failure, a failure .
I like this word: "failure".
That's human destiny. -He's getting pedantic!
Failure after failure, you make drafts and nothing more.
Life's only an endless repetition.
-Yeah, right! He didn't even come up with that himself!
-I do have ideas on my own, you know.
People always steal them from me. A bit like you with women.
-What does that mean?
-Maybe you should resign yourself.
-Mind your own business, you .
-Yes, what, eh ?!? -Stop it!
-What's going on here?
-Georgette wanted to go for a walk and Joseph makes a fuss.
-A walk, right!
Yes, like Gina and the guy with the plastic bag .
Hold on, I saw the whole process.
126
__
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Posters do Filme
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Partitura
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The success of the French film Amelie goes on and on. The film from director Jean-Pierre
Jeunet was last year's most popular cinematic release in France but it was also well-
received elsewhere. It was nominated for a Golden Globe in this year's best foreign
language film category and in the UK, it earned seven nods for the Bafta Awards. They
included a nomination for the film's soundtrack album, composed by multi-
instrumentalist Yann Tiersen.
Yann Tiersen's soundtrack has garnered the French composer new fans as well as critical
acclaim. A mix of chansons, specially written tracks and material culled from four of
Tiersen's previous albums, the completed work has brought Tiersen comparisons with
Michael Nyman at his best.
"For me it is like a game. Sometimes I can have a period where I have a favourite
instrument. I like vibes just now, for example. It is a bit of instinct. I try to see what
fits."
The success of Amelie was a surprise to Tiersen. He says: "Even in France we are
surprised when our work becomes successful. When you work on a project you just think
about it rather than commercial success."
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Divine
The Amelie soundtrack missed out on a Golden Globe nomination, but he is clearly not
bothered.
"I don't like this kind of ceremony," he says. "People from the same universe deciding to
congratulate themselves is not such a good idea. It reminds me
of being in school."
"I like the early works of Michael Nyman," he says, "and the way
to approach classical matter with another energy, closer to a rock
band. But I don't think our music is very close."His name check of
musical influences features some rather more surprising artists.
In the early 1980s as a teenager he was influenced by the post- Neil Hannon: Considers
Tiersen as his collaborator of
punk culture of bands like The Stooges and Joy Division."I like
choice
the energy of their recordings and their approach to music," he
says. "It is very instinctive. They played music without care for
technique and gleaned pleasure from it."
Most of the locations for Amelie can be found around Montmartre,Paris (Metro: Abbesses)
If you're in Montmartre, you can see the steep flight of steps and the bar from Ronin.
Amélie film location: the bluebottle: rue Saint Vincent, Montmartre, Paris
Jean-Pierre Jeunet, who made the studio-bound Delicatessen and City of Lost Children, films
on locations around the city of Paris, and risks jettisoning the darkness of those films to tread
the fine line between charmingly whimsical and the wincingly twee.
Jeunet just about manages to stay on the right side, setting the tone when Amélie’s mother is
killed by a tourist plummeting from the tower of Cathedral Notre Dame de Paris. He
turns Paris, and particularly Montmartre – the director’s home turf – into a brightly-coloured
fantasy (though you might be surprised to know that the interiors were shot in the studio
in Germany, in Cologne).
136
Amélie film location: Amelie's apartment: rue des Trois Freres, Montmartre, Paris
The film opens with a bluebottle buzzing along the charming, cobbled rue Saint Vincent,
running behind Sacre Coeur in Montmartre. Amélie's apartment and the grocery store can
also be found in Montmartre (close to the bar where Robert de Niro and crew meet up
in John Frankenheimer's Ronin).
Amélie film location: the greengrocer store: Au Marche de la Butte, Passage des Abbesses,
Montmartre, Paris And not far away is Métro Lamarck-Caulaincourt, the beautiful Metro
station with the double staircase, where the blind man experiences a moment of
transcendence as Amélie describes the mouthwatering sights of the bustling market on rue
Lamarck.
Amélie film location: Amélie describes the market to the blind man: Lamarck-Caulaincourt
Metro Station, Paris
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Amélie (Audrey Tautou) searches for ‘Bretodeau’, to return his box of precious mementoes,
in a phone booth at the northern end of rue Mouffetard at rue Clovis, down in the Left Bank's
cosmopolitan Latin Quarter, not far from the Pantheon.
Amélie film location: Amélie returns the box of mementoes: La Verre a Pied, Rue Mouffetard,
Paris. The bar in which she overhears the result of her good deed is just to the south, Le
Verre a Pied, 118 bis rue Mouffetard.
Amélie film location: a sudden surge of love: Pont des Arts, Paris. She's imbued with a surge
of love and the desire to help mankind while crossing the wooden Pont des Arts, by
the Louvre (scene of the failed suicide attempt in Boudu Sauvé des Eaux, Jean Renoir's
1932 classic, remade by Hollywood as Down and Out in Beverly Hills). It’s also the spot
where Jason Bourne (Matt Damon) disappears at the end of The Bourne Identity.
Amélie film location: Amélie sees Nino's “Ou et quand?” posters: Line 6 Station of La Motte-
Picqet-Grenelle, Paris
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Amélie sees Nino's “Ou et quand?” posters on the Line 6 Station of La Motte-Picqet-
Grenelle. She sets up a complicated assignation, involving following blue arrows, on the
steps in front of Sacre Coeur, dominating Montmartre, and solves the riddle of the mystery
man, who’s been leaving his photo everywhere, in the ticket hall of Gare de l’Est.
Amélie film location: the video store in which Nino works: Palace Video, Boulevard de Clichy,
Pigalle, Paris. Nino (Mathieu Kassovitz) works in Palace Video, 37 boulevard de Clichy, a
sex shop in the raunchy Pigalle district (where you’ll find the original, though rather
touristified, Moulin Rouge nightclub is still operating).
Amélie film location: Crème brulée: Café les Deux Moulins, Montmartre, Paris
But, of course, the location you really want to see is the lovely art deco cafe where Amélie
works, which is, surprisingly, real. It’s Café des Deux Moulins, 15 rue Lepicat rue Cauchois. It
can be a bit tricky to find. Rue Lepic winds down from Place du Tertre then seems to merge
into rue des Abbesses. In fact, the street turns sharply south, and the cafe is south of rue des
Abbesses. And, yes, you can sample the crème brulée here, which is now named after
Amélie
http://www.movie-locations.com/movies/a/amelie.html
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Caro Patrick, acabo de chegar ao Brasil, vim para passar minha temporada Brasileira.
Em paris não deixe de passar em minha galeria, 22 Rue de Seine, em Saint German Des
Pres, GALERIE VALMAY estou expondo uma bela mostra, " Autour de la table".
Va' ate' Montmartre, desça na estação BLANCHE, ao sair na rua olhe a sua direita e veja
o Moulin Rouge, ao lado tem a Rue Leppic, suba ate' encontrar o bistro e bar "Les deux Moulin". Esta
no lado esquerdo da rua. E' o bar onde foi filmado Amélie Poulin, entre no bar peça "un verre de
Boujollais Noveau" Olhe no fundo do bar e vera' o cartaz original do filme
ao lado o anão de jardim que viajava o mundo do pai da Amélie. Tire fotos,se emocione,
chore, termine o vinho e sai do bar continuando a subir a rua. No final da rua Leppic, vire a direita,
voce estara' na Rue des Abbesses, ande pela calçada da esquerda ate' a Rue Burq,
pare, olhe para sua direita, um predio todo de grandes janelas N°55 e' meu atelier e residencia, tire
mais fotos e se emocione mais ainda. Continue andando pela calçada da esquerda ate'
a proxima esquina, suba, suba, suba, meio em diagonal ( em direção a 1 hora do relógio)
ate' chegar no topo da colina de Montmartre onde esta a Basilica de Sacre Couer, entao voce tera'
Paris aos seus pés... mais fotos e chore para valer.
Abraço e boa viagem, depois você me conta.
Juarez Machado
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